Gestão de empreitadas em empreendimentos de construção de … · Neles estará o meu pensamento...
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Gestão de empreitadas em empreendimentos de
construção de grande dimensão
Um sistema colaborativo numa abordagem Lean
Filipe André Pais da Costa Vasques Osório
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Civil
Júri
Presidente: Professor Doutor António Heleno Domingues Moret Rodrigues
Orientador: Professor Doutor Francisco José Loforte Teixeira Ribeiro
Co-Orientador: Doutor Serafim Martins da Costa Castro
Vogal: Professor Doutor Nuno Manuel Pereira Migueis Cachadinha
Outubro 2010
i
RESUMO
Com a recente crise no sector da construção, motivada em grande parte pela quebra do
investimento público e pela crise no sector imobiliário, as empresas de construção procuram
novas formas de optimizar os seus processos para manter margens industriais positivas. Por
outro lado, a globalização da indústria leva a que sejam necessárias ferramentas que atribuam
sólida vantagem competitiva às construtoras portuguesas para a entrada e permanência com
sucesso em novos mercados. Propõe-se nesta dissertação a introdução da filosofia Lean na
construção, a partir do sistema de controlo de produção Last Planner, como forma de conferir
valor acrescido aos processos de produção dos empreiteiros. É apresentada uma descrição
pragmática do estado-da-arte na temática do Last Planner System, criando-se as bases para a
investigação. São também investigados casos de estudo a partir de inquéritos com vista a
conhecer a opinião dos intervenientes quanto à utilização de processos de planeamento e
controlo, desperdício na produção e inovação no sector da construção. Procede-se também a
uma análise parcialmente mensurada num caso de estudo quanto ao nível do desempenho do
planeamento, coordenação de subempreitadas e execução dos trabalhos.
Utilizando não só mas também como base os pontos de melhoria distinguidos na fase inicial
da investigação é desenvolvido um sistema de gestão de empreitadas dividido em dois
módulos: monitorização do desempenho numa abordagem Lean e controlo de actividades a
partir da gestão de prazos e pré-requisitos. Este sistema, de utilização expedita em obra, é
apoiado por uma plataforma electrónica em rede, potenciadora do conceito de “produção
protegida” num ambiente colaborativo, a partir da partilha de conhecimento e organização dos
fluxos de informação. Pretende-se com a implementação deste sistema numa empresa,
transmitir as “boas práticas” associadas ao Last Planner System, para uma reengenharia de
processos, rumo a uma cultura organizacional de carácter Lean.
Palavras-chave: Lean Construction, Last Planner System, Shielded Production, gestão de
empreitadas, monitorização de desempenho, plataformas colaborativas.
iii
ABSTRACT
Recent years of construction industry recession, caused by decreased state funded investments
and crisis in general real-estate business, pushed construction companies to fetch better ways
to optimize their processes in order to maintain profits. On the other hand, the effects of
industry's increasing globalization leads to the need for creating tools which gives a solid
competitive edge to the Portuguese construction companies so that these may enter and
succeed in new markets. It is proposed in this dissertation the introduction of Lean
philosophy in the construction industry from the production control system Last Planner as a
way to impute added value to general contractors’ production processes. A pragmatic
description of the state-of-the-art on the Last Planner System thematic is presented, creating
the basis needed for the upcoming research. Case studies are inquired as from surveys to
better know the opinion of stakeholders on the use of planning processes and control, waste
in production and innovation in construction. Moreover, a partially measured analysis is taken
in one of the case studies regarding to performance in planning, coordination and execution
of subcontract work.
Taking advantage of previously identified key points for improvement in earlier stages of
investigation, it is developed a contract management system divided in two different modules:
performance measuring in a Lean approach and activities control based in deadlines and
prerequisites management. This system is intended to be used on worksites in an express way,
supported trough an electronic network platform, potentiating the concept of “shielded
production” in a collaborative environment, with both knowledge sharing and organized
information flow. By implementing this system in a company, is intended to transmit the “best
practices” associated with Last Planner System, engaging a reengineering of processes, towards
an organizational culture of Lean nature.
Key words: Lean Construction, Last Planner System, Shielded Production, contract
management, performance measuring, collaborative platforms.
vii
AGRADECIMENTOS
Aos meus Pais, a quem tudo devo. Nunca conseguirei exprimir por palavras o quão
importantes foram durante toda a minha vida. Os valores e a educação que me deram serão
sempre o que de mais valioso terei. À minha Mãe, que estará sempre no meu coração e que
tanto me motivou para este trabalho. Ao meu Pai, que tanto admiro e que me transmitiu toda
a confiança durante estes anos. Neles estará o meu pensamento em cada nova etapa da minha
vida. Ao meu Irmão, de quem tanto me orgulho. A sua companhia, ao longo destes anos, fez com
que a minha vida se tornasse infinitamente mais rica. A sua incondicional amizade e apoio
foram, em todo o meu caminho, essenciais. Que a vida nos mantenha unidos e que possamos
conviver por muitos mais anos.
Aos meus Avós, tantas vezes meu apoio e inspiração. O seu carinho e preocupação tornaram
a minha estadia longe de casa mais fácil de levar. Apesar da distância, em nenhum momento
os tive longe do pensamento.
À Vera, que mesmo longe, sempre esteve ao meu lado, partilhando da minha dor como se
fosse sua. Ajudou-me a acreditar e a continuar a cada dificuldade encontrada. A ela muito se
deve este trabalho.
*
Ao Professor Loforte Ribeiro, pela oportunidade que me proporcionou para mudar o meu
percurso como aluno e como pessoa. Apenas com a liberdade e motivação dadas foi possível
terminar este trabalho considerando-o meu. O que me ensinou, para além da engenharia, bem
como o que aprendi com esta experiência acompanhar-me-ão pela minha vida.
Ao Doutor Serafim Castro, pela confiança e entusiasmo transmitidos desde, literalmente, o
primeiro momento. Agradeço também a cordialidade que sempre manteve e a disponibilização
dos meios necessários, apesar de todas as dificuldades.
Ao Hugo Reis e ao Rui Coelho, pela amizade e companheirismo. A sua constante
disponibilidade para ajudar merece todo o meu apreço.
Aos meus colegas do IST, em especial ao Gonçalo Rosmaninho, Diogo Dores e Susana
Duarte, amigos de todas as horas. Foi para mim uma honra e um orgulho poder passar estes
anos de estudo na sua companhia.
A todas as pessoas que contribuíram para este trabalho, mas não me é possível mencionar
individualmente, o meu obrigado.
ix
LISTA DE ABREVIATURAS
CPM - Critical Path Method
ID - Indicador de Desempenho
IDP - Indicador de Desempenho de Parceria
IGLC - International Group for Lean Construction
IP - Índice de Produtividade
KPI - Key Performance Indicator
LCI - Lean Construction Institute
LOB - Line Of Balance
LPDS - Lean Project Delivery System
LPS - Last Planner System
MFV - Mapeamento do Fluxo de Valor
PAC - Processamento de Actividades Complexo
PAS - Processamento de Actividades Simples
PERT - Program Evaluation and Review Technique
PDCA - Plan-Do-Check-Act
PMBOK - Project Management Book of Knowledge
PPC - Percentagem de Plano Concluído
PPCr - Percentagem de Plano Concluído relativa
PPI - Partenering Performance Indicator
PRI - Pré-requisitos e incompatibilidades
PWR - Planned Work Ready
SMART - Specific purpose, Measurable, Achievable objectives, Relevant to measure, Time phased
SMD - Sistema de Monitorização de Desempenho
VE - Value Engineering
VBM - Value-Based Management
TFV - Transformação-Fluxo-Valor
TPS - Toyota Production System
WBS - Work Breakdown Structure
xi
ÍNDICE GERAL
RESUMO ................................................................................................................................................. I
ABSTRACT ........................................................................................................................................... III
AGRADECIMENTOS ...................................................................................................................... VII
LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................................ IX
ÍNDICE GERAL .................................................................................................................................. XI
ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................................... XVI
ÍNDICE DE QUADROS .................................................................................................................. XX
1.INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1
1.1 JUSTIFICAÇÃO E MOTIVAÇÃO ........................................................................................................ 2
1.2 CAMPO DE APLICAÇÃO DO TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO .................................................... 3
1.3 OBJECTIVOS DE INVESTIGAÇÃO .................................................................................................. 3
1.4 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO ............................................................................................ 4
1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ................................................................................................ 5
2. ESTADO DO CONHECIMENTO ........................................................................ 7
2.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 8
2.2 PROCESSO DE PESQUISA IMPLEMENTADO ................................................................................ 8
2.3 LEAN PRODUCTION ....................................................................................................................... 9
2.3.1 Pensamento Lean ................................................................................................................ 9
2.3.1.1 Produção em massa e manufacturação ................................................................................................ 10
2.3.1.2 Princípios e conceitos do Lean ............................................................................................................... 11
2.3.2 Desperdício na produção ................................................................................................ 13
2.4 EVOLUÇÃO NA FILOSOFIA DE CONSTRUÇÃO .......................................................................... 15
2.4.1 Importância do planeamento na construção ................................................................ 17
2.4.2 Controlo de produção e de empreendimento .............................................................. 18
xii
2.4.3 Outras metodologias Lean .............................................................................................. 19
2.4.3.1 Mapeamento de fluxo de valor .............................................................................................................. 19
2.4.3.2 Gestão Ágil Lean....................................................................................................................................... 20
2.4.3.3 Gestão Visual ............................................................................................................................................ 20
2.5 LEAN CONSTRUCTION ................................................................................................................ 20
2.5.1 Filosofia e conceitos da Lean Construction ...................................................................... 22
2.5.1.1 Princípios da Lean Construction ................................................................................................................ 22
2.5.1.2 Características principais ......................................................................................................................... 24
2.5.1.3 Lean Project Delivery System (LPDS) ......................................................................................................... 24
2.5.2 Lean na indústria da construção em Portugal ............................................................. 26
2.5.3 Aplicabilidade da Lean Construction ................................................................................. 27
2.5.3.1 Envolvente social ..................................................................................................................................... 27
2.5.3.2 Organização interna ................................................................................................................................. 28
2.6 APLICAÇÃO DA LEAN CONSTRUCTION: LAST PLANNER SYSTEM (LPS)......................... 29
2.6.1 Objectivos do Last Planner System ................................................................................... 29
2.6.2 Início das actividades ....................................................................................................... 31
2.6.2.1 Pacotes de trabalho .................................................................................................................................. 32
2.6.2.2 Requisitos................................................................................................................................................... 33
2.6.2.3 Comprometimento .................................................................................................................................. 34
2.6.3 Estrutura de planeamento do LPS ................................................................................ 36
2.6.3.1 Phase Schedule (ou Plano de Fase) ........................................................................................................... 37
2.6.3.2 Lookahead Plan (ou Plano de Antevisão) ............................................................................................... 37
2.6.3.3Weekly Work Plan (ou Plano Semanal de Trabalhos) ........................................................................... 38
2.6.4 Desempenho do sistema ................................................................................................. 38
2.6.5 Fiabilidade do planeamento ............................................................................................ 39
2.6.6 Desenvolvimentos do LPS ............................................................................................. 41
2.6.6.1 Implementação experimental do LPS .................................................................................................. 41
2.6.6.2 LPS na gestão de custos dos empreendimentos ................................................................................. 43
2.6.6.3 CPM vs LPS .............................................................................................................................................. 44
2.7 CONCLUSÕES ................................................................................................................................. 47
3. ESTUDO DE CASOS ...................................................................................................... 49
3.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 50
3.2 METODOLOGIA DE ESTUDO ....................................................................................................... 50
3.2.1 Casos de estudo ................................................................................................................ 51
xiii
3.2.2 Inquéritos .......................................................................................................................... 51
3.4 CARACTERIZAÇÃO DOS CASOS DE ESTUDO ............................................................................. 52
3.4.1 Caso de estudo “A” ......................................................................................................... 53
3.4.2 Casos de estudo “Bi” ....................................................................................................... 54
3.5 ANÁLISE DO RESULTADO DOS INQUÉRITOS ........................................................................... 56
3.5.1 Caracterização da amostra inquirida .............................................................................. 56
3.5.2 Análise e interpretação da informação .......................................................................... 57
3.5.2.1 Planeamento e Controlo ......................................................................................................................... 58
3.5.2.2 Desperdício na Produção ....................................................................................................................... 59
3.5.2.3 Inovação na Construção ......................................................................................................................... 61
3.5.3 Comparação com estudos anteriores ............................................................................ 62
3.5.3.1 Caracterização da amostra ...................................................................................................................... 63
3.5.3.2 Planeamento .............................................................................................................................................. 64
3.5.3.3 Desperdício ............................................................................................................................................... 64
3.6 ANÁLISE DE PROCESSOS: CASO DE ESTUDO A ........................................................................ 65
3.6.1 Processos de planeamento de trabalhos ....................................................................... 65
3.6.1.1 Identificação de desperdício ................................................................................................................... 65
3.6.1.2 Oportunidades de melhoria .................................................................................................................... 66
3.6.2 Processos de controlo de produção .............................................................................. 68
3.6.3 Reuniões de planeamento e controlo ............................................................................ 69
3.6.3.1 Participantes .............................................................................................................................................. 69
3.6.3.2 Âmbito e acesso à informação ............................................................................................................... 69
3.6.3.3 Duração ...................................................................................................................................................... 70
3.7 CONCLUSÕES ................................................................................................................................. 71
4. SISTEMA PROPOSTO .................................................................................................. 75
4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 76
4.2 OBJECTIVOS DO SISTEMA ............................................................................................................ 77
4.2.1 Objectivos genéricos........................................................................................................ 78
4.2.2 Objectivos particulares .................................................................................................... 78
4.3 BASE TEÓRICA DO SISTEMA ........................................................................................................ 79
4.3.1 Integração no LPS ........................................................................................................... 79
4.3.2 Monitorização da produção ............................................................................................ 80
xiv
4.4 ARQUITECTURA DO SISTEMA ..................................................................................................... 81
4.5 MÓDULO 1: MONITORIZAÇÃO DE DESEMPENHO ................................................................ 84
4.5.1 Indicadores de desempenho ........................................................................................... 85
4.5.1.1 Definição dos indicadores ...................................................................................................................... 85
4.5.1.2 Adaptabilidade de um SMD ................................................................................................................... 87
4.5.1.3 Valores e tendências de referência ........................................................................................................ 88
4.5.2 Sistema de monitorização ............................................................................................... 89
4.5.2.1 Recursos humanos ................................................................................................................................... 91
4.5.2.2 Verificações e medições .......................................................................................................................... 91
4.5.2.3 Modelo matemático ................................................................................................................................. 92
4.5.3 Manutenção do sistema ................................................................................................... 93
4.5.3.1 Alimentação do sistema .......................................................................................................................... 93
4.5.3.2 Actualização .............................................................................................................................................. 95
4.5.3.3 Gestão do conhecimento ........................................................................................................................ 97
4.5.4 Estrutura dos relatórios ................................................................................................... 98
4.5.4.1 Subempreiteiros ........................................................................................................................................ 99
4.5.4.2 Empreiteiro geral .................................................................................................................................... 101
4.6 MÓDULO 2: CONTROLO DE ACTIVIDADES ........................................................................... 102
4.6.1 Gestão de pré-requisitos e incompatibilidades .......................................................... 104
4.6.2 Gestão de prazos do plano de trabalhos .................................................................... 107
4.7 CAMPO DE APLICAÇÃO ............................................................................................................... 109
4.8 CONCLUSÕES ............................................................................................................................... 110
5. IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA ...... 111
5.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 112
5.2 DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DA PLATAFORMA COLABORATIVA ............. 113
5.2.1 Introdução de ferramentas informáticas ..................................................................... 113
5.2.2 Ligação à arquitectura do sistema ................................................................................ 114
5.2.3 Concepção tecnológica da plataforma ........................................................................ 116
5.2.4 Tecnologia informática existente ................................................................................. 118
5.2.5 Aplicação no escritório de obra ................................................................................... 119
5.2.5.1 Utilização de suportes físicos de informação .................................................................................... 119
5.2.5.2 Reuniões de obra com subempreiteiros ............................................................................................. 119
5.2.5.3 Preparação de trabalhos ........................................................................................................................ 120
xv
5.2.5.4 Processos de controlo da produção .................................................................................................... 121
5.3 TESTE E APLICAÇÃO DA PLATAFORMA COLABORATIVA ..................................................... 121
5.3.1 Gestão de actividades .................................................................................................... 123
5.3.1.1 Estrutura da aplicação ........................................................................................................................... 123
5.3.1.2 Introdução de uma nova entrada ........................................................................................................ 126
5.3.1.3 Resposta a uma entrada ......................................................................................................................... 131
5.3.1.4 Notificações ............................................................................................................................................ 133
5.3.1.5 Outras funcionalidades .......................................................................................................................... 134
5.3.2 Gestão de prazos ............................................................................................................ 135
5.3.2.1 Estrutura da aplicação ........................................................................................................................... 135
5.3.2.2 Projectos .................................................................................................................................................. 136
5.3.2.3 Tarefas e milestones .................................................................................................................................. 139
5.3.2.4 Utilizadores e permissões...................................................................................................................... 144
5.3.3 Monitorização de desempenho .................................................................................... 145
5.3.3.1 Publicação de relatórios ........................................................................................................................ 145
5.3.3.2 Análise de resultados ............................................................................................................................. 146
5.3.4 Gestão Documental ....................................................................................................... 146
5.3.4.1 Carregamento de ficheiros .................................................................................................................... 147
5.3.4.2 Permissões de acesso ............................................................................................................................. 148
5.4.4 Monitorização da implementação ................................................................................ 150
5.4.5 Propostas de melhoria ................................................................................................... 152
5.5 CONCLUSÕES ............................................................................................................................... 152
6. CONCLUSÕES ................................................................................................................. 155
6.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 156
6.2 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS ................................................................................................. 156
6.3 CONTRIBUIÇÕES PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E PARA A INDÚSTRIA ............ 157
6.4 LIMITAÇÕES DA INVESTIGAÇÃO .............................................................................................. 158
6.5 TRABALHOS FUTUROS ............................................................................................................... 159
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 161
ANEXOS ............................................................................................................................................... 171
xvi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1.1 - Metodologia de investigação ........................................................................................................... 5
Figura 2.1 - Esquematização da filosofia push ................................................................................................. 11
Figura 2.2 - Esquematização da filosofia pull .................................................................................................. 12
Figura 2.3 - Ciclo fechado de processos na gestão de empreendimentos (Duncan, 1996) ..................... 18
Figura 2.4 - Esquematização do Lean Project Delivery System (Ballard, 2003) ............................................... 25
Figura 2.5 - Áreas de desenvolvimento do Last Planner System – “Five big ideas” (Lichtig, 2005) ............. 29
Figura 2.6 - Objectivos do Last Planner System: controlo de fluxo de trabalho e de equipas de produção
.................................................................................................................................................................................. 31
Figura 2.7 - Last Planner System: generalização do método de funcionamento (Ballard, 2000a) ............... 32
Figura 2.8 - Modelo de definição de actividade (Ballard, 1999) ................................................................... 34
Figura 2.9 - Sistema push convencional (Ballard, 2000a) ................................................................................ 34
Figura 2.10 - Last Planner: um sistema pull (Ballard, 2000a) ........................................................................... 35
Figura 2.11 - Ciclo de compromisso no Last Planner System (Mossman, 2007) .......................................... 35
Figura 2.12 - Estrutura e caracterização de planeamento do Last Planner System ....................................... 36
Figura 2.13 - Matriz de avaliação da fiabilidade do planeamento com o LPS (Mitropoulos, 2005) ....... 40
Figura 2.14 - Sobreposição do Plano de Antevisão para replaneamento: (a)1 semana, (b) 4 semanas .. 41
Figura 2.15 - Relação do LPS com a gestão de custos (Ballard et al., 2004b) ............................................. 43
Figura 2.16 - Relação de complementaridade entre CPM e LPS ................................................................. 45
Figura 3.1 - Estrutura dos inquéritos ................................................................................................................ 51
Figura 3.2 - Localização do caso de estudo A, via Google Earth ................................................................... 53
Figura 3.3 - Localização do caso de estudo B1, via Google Earth .................................................................. 54
Figura 3.4 - Localização do caso de estudo B2, via Google Earth .................................................................. 55
Figura 3.5 - Localização do caso de estudo B3, via Google Earth .................................................................. 55
Figura 3.6 - Localização do caso de estudo B4, via Google Earth .................................................................. 56
Figura 3.7 - Lista ordenada de factores condicionantes para a inovação na construção.......................... 62
Figura 3.8 - Causas de insucesso do planeamento ......................................................................................... 66
Figura 3.9 - Monitorização do indicador PPC ................................................................................................ 67
Figura 3.10 - Monitorização do indicador PPCr ............................................................................................. 67
Figura 3.11 - Monitorização do indicador PWR ............................................................................................. 68
Figura 3.12 - Monitorização do indicador IP .................................................................................................. 69
Figura 4.1 - Condições iniciais para definição do sistema ............................................................................. 76
Figura 4.2 - Inclusão do sistema no LPS ......................................................................................................... 79
Figura 4.3 - Estrutura do sistema ...................................................................................................................... 81
Figura 4.4 - Ciclo PDCA no sistema proposto ............................................................................................... 82
Figura 4.5 - Estrutura do plano de antevisão .................................................................................................. 83
xvii
Figura 4.6 - Exemplo de plano de antevisão a 4 semanas ............................................................................. 83
Figura 4.7 - Estrutura do plano semanal de execução ................................................................................... 84
Figura 4.8 - Exemplo do plano semanal de execução.................................................................................... 84
Figura 4.9 - Sistema de monitorização ............................................................................................................. 90
Figura 4.10 - Exemplo de ficha de manutenção do sistema ......................................................................... 93
Figura 4.11 - Interface de preenchimento da ficha de manutenção do sistema. (a)Identificação de
actividade, (b)Causas de insucesso, (c)Subempreiteiro responsável .............................................................. 94
Figura 4.12 - Rotina semanal de medições e verificações .............................................................................. 96
Figura 4.13 - Estruturação do planeamento de antevisão ............................................................................. 96
Figura 4.14 - Modelo para a gestão do conhecimento no sistema ............................................................... 97
Figura 4.15 - Estrutura do relatório de subempreiteiros ............................................................................ 100
Figura 4.16 - Exemplo de relatório de subempreiteiros ............................................................................. 100
Figura 4.17 - Estrutura do relatório complementar de subempreiteiros .................................................. 101
Figura 4.18 - Exemplo de relatório complementar de subempreiteiros ................................................... 101
Figura 4.19 - Estrutura de relatório do empreiteiro geral ........................................................................... 102
Figura 4.20 - Exemplo de relatório do empreiteiro geral ........................................................................... 102
Figura 4.21 - Conceptualização do controlo de actividades ....................................................................... 103
Figura 4.22 - Fluxos de informação no sistema (i) ...................................................................................... 104
Figura 4.23 - Fluxos de informação no sistema (ii) ..................................................................................... 105
Figura 4.24 - Dinâmica de partilha de conhecimento no sistema ............................................................. 106
Figura 4.25 - Fluxograma de funcionamento do modelo........................................................................... 106
Figura 4.26 - Plano de antevisão com recurso à gestão visual ................................................................... 108
Figura 4.27 - Código de cores utilizado no planeamento ........................................................................... 108
Figura 4.28 - Algoritmo de gestão de prazos por PAS ............................................................................... 109
Figura 5.1 - Menu inicial do Portal de Obra ................................................................................................. 112
Figura 5.2 - Implementação do LPS rumo a uma “organização Lean” (Gehbauer, 2008) ...................... 113
Figura 5.3 - Estrutura funcional do Portal de Obra .................................................................................... 115
Figura 5.4 - Esquematização do funcionamento do “front office” e “back office” ...................................... 117
Figura 5.5 - Menu inicial do “back office” do Portal de Obra ...................................................................... 117
Figura 5.6 - Organização de áreas funcionais de trabalho do Portal de Obra ........................................ 121
Figura 5.7 - Interface de gestão de utilizadores do sistema no “back-office” ............................................. 122
Figura 5.8 - Menu de introdução de dados de novo utilizador a partir do “back office” (a) e do “front
office” (b) ................................................................................................................................................................ 122
Figura 5.9 - Estrutura funcional da aplicação de Gestão de Actividades ................................................ 124
Figura 5.10 - Menu inicial da aplicação de Gestão de Actividades ........................................................... 124
Figura 5.11 - Barra de acesso rápido às secções da aplicação de Gestão de Actividades ...................... 125
Figura 5.12 - Menu de gestão de secções da aplicação de Gestão de Actividades ................................. 125
xviii
Figura 5.13 - Formulário de introdução de nova entrada ........................................................................... 126
Figura 5.14 - Secção de PRI para a última semana do plano de antevisão .............................................. 127
Figura 5.15 - Secção de PRI para subempreiteiros na última semana do plano de antevisão .............. 127
Figura 5.16 - Formulário de novo PRI com exemplo de preenchimento ............................................... 128
Figura 5.17 - Resultado de uma entrada de pré-requisito no sistema ....................................................... 129
Figura 5.18 - Resultado de uma entrada de incompatibilidade no sistema .............................................. 129
Figura 5.19 - Secção de PRI da última semana do plano de antevisão após submissão de duas entradas
............................................................................................................................................................................... 130
Figura 5.20 - Resultado de uma entrada de requisição no sistema ........................................................... 130
Figura 5.21 - Secção de requisições após submissão de uma entrada ...................................................... 131
Figura 5.22 - Resultado de uma entrada de resposta a um pré-requisito no sistema ............................. 131
Figura 5.23 - Secção de PRI da última semana do plano de antevisão após resposta ........................... 131
Figura 5.24 - Resposta directa a uma entrada .............................................................................................. 132
Figura 5.25 - Resultado de uma entrada de resposta a uma requisição .................................................... 132
Figura 5.26 - Secção de requisições após resposta ...................................................................................... 133
Figura 5.27 - Funcionalidade de subscrição de actualizações do sistema para uma entrada (a) ou secção
(b) .......................................................................................................................................................................... 133
Figura 5.28 - Lista de selecção de tipo de notificação ................................................................................ 134
Figura 5.29 - Lista de gestão de entradas no sistema .................................................................................. 134
Figura 5.30 - Menu inicial da aplicação de Gestão de Prazos .................................................................... 135
Figura 5.31 - Estrutura organizacional das entradas do sistema ................................................................ 136
Figura 5.32 - Menu de “projectos” do sistema ............................................................................................ 137
Figura 5.33 - Formulário de novo “projecto” - informação geral ............................................................ 138
Figura 5.34 - Formulário de novo “projecto” - convidar utilizadores ..................................................... 138
Figura 5.35 - Formulário de novo “projecto” - data limite ........................................................................ 139
Figura 5.36 - Formulário de novo “projecto” - outras configurações ..................................................... 139
Figura 5.37 - Barra de procura detalhada no menu “tarefas” .................................................................... 140
Figura 5.38 - Formulário de nova “milestone” ............................................................................................... 141
Figura 5.39 - Formulário de nova “tarefa” - informação geral .................................................................. 141
Figura 5.40 - Formulário de nova “tarefa” - data limite, progresso e prioridade ................................... 142
Figura 5.41 - Formulário de nova “tarefa” - membros do projecto ......................................................... 142
Figura 5.42 - Exemplo de notificação por e-mail de uma “tarefa” ............................................................ 143
Figura 5.43 - Actualização de progresso a partir de menu de “tarefas” e “milestones” ........................... 143
Figura 5.44 - Lista de utilizadores .................................................................................................................. 144
Figura 5.45 - Definição de privilégios de acesso .......................................................................................... 144
Figura 5.46 - Publicação de relatório de desempenho do empreiteiro geral ........................................... 145
Figura 5.47 - Menu inicial da aplicação de gestão de Documentação de Obra ...................................... 147
xix
Figura 5.48 - Lista de opções na submissão de documento ...................................................................... 147
Figura 5.49 - Formulário de submissão de documento .............................................................................. 148
Figura 5.50 - Definições de acesso à documentação .................................................................................. 148
Figura 5.51 - Documento submetido antes de aprovação .......................................................................... 149
Figura 5.52 - Documento pronto a ser descarregado após aprovação e publicação ............................. 149
Figura 5.53 - Funcionalidade de procura de documento ........................................................................... 150
Figura 5.54 - Implementação localizada e concentrada (Arbulu et al., 2006) ......................................... 150
Figura 5.55 - Implementação abrangente e superficial (Arbulu et al., 2006) ........................................... 151
Figura 5.56 - Funcionalidade de monitorização de acessos à aplicação de gestão de actividades (a) e ao
portal (b) .............................................................................................................................................................. 152
xx
ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 2.1 - Comparação entre tipos de produção (Taguchi, 1997) .......................................................... 10
Quadro 2.2 - Comparação entre o modelo de Transformação e a Nova filosofia de produção............. 16
Quadro 2.3 - Comparação entre a Gestão “Convencional” da Construção e a nova filosofia Lean
Construction (Abdelhamid et al., 2005 referenciado por Peneirol, 2007) ........................................................ 21
Quadro 2.4 - Lista de casos de estudo com implementação experimental do LPS .................................. 42
Quadro 2.5 - Comparação de características básicas entre o CPM e o Last Planner System ...................... 45
Quadro 2.6 - Tipos de empreendimento e métodos de gestão recomendados, adaptado de Henrich
(2005) e Peneirol (2007) ....................................................................................................................................... 46
Quadro 3.1 - Metodologia de estudo ................................................................................................................ 50
Quadro 3.2 - Caracterização do caso de estudo A .......................................................................................... 53
Quadro 3.3 - Caracterização do caso de estudo B1 ......................................................................................... 54
Quadro 3.4 - Caracterização do caso de estudo B2 ......................................................................................... 54
Quadro 3.5 - Caracterização do caso de estudo B3 ......................................................................................... 55
Quadro 3.6 - Caracterização do caso de estudo B4 ......................................................................................... 55
Quadro 3.7 - Divisão a amostra inquirida por funções desempenhadas..................................................... 57
Quadro 3.8 - Importância e frequência relativa dos desperdícios ................................................................ 59
Quadro 3.9 - Dimensão da amostra alargada .................................................................................................. 63
Quadro 3.10 - Divisão da amostra alargada por funções desempenhadas .................................................. 63
Quadro 3.11 - Importância e satisfação com eficácia e informação sobre o planeamento ...................... 64
Quadro 3.12 - Comparação de tipos e causas de desperdício ....................................................................... 64
Quadro 3.13 - Comparação de factores de impacto e sucesso ..................................................................... 65
Quadro 3.14 - Variação e comparação de indicadores ................................................................................... 74
Quadro 4.1 - Valores de referência de PPC para implementações em Portugal ........................................ 88
Quadro 4.2 -Valores de referência de PPC de Ballard (2000) ....................................................................... 89
Quadro 4.3 - Valores de PPC para diferentes tipos de empreendimento (adaptado de Bortolazza et al.,
2006) ........................................................................................................................................................................ 89
Quadro 5.1 - Software utilizado na concepção do Portal de Obra .............................................................. 116
Quadro 5.2 - Separadores funcionais da aplicação de Gestão de Actividades ........................................ 125
Quadro 5.3 - Ícones funcionais para preenchimento do formulário de nova entrada ........................... 127
Quadro 5.4 - Secções funcionais da aplicação de Gestão de Prazos ........................................................ 136
Quadro 5.5 - Ícones funcionais do sistema ................................................................................................... 137
Quadro 5.6 - Ícones funcionais da secção de “tarefas” .............................................................................. 140
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
2
1.1 JUSTIFICAÇÃO E MOTIVAÇÃO
Após uma década de prosperidade e crescimento, a indústria da construção portuguesa tem
atravessado nos últimos anos dificuldades motivadas pela quebra do investimento público e
crise no sector imobiliário. A crise económica e financeira instalada a nível mundial não
mostra sinais indeléveis de resolução, sendo cada vez mais clara a necessidade de inovar nas
soluções que as empresas utilizam para manter a sua actividade.
A indústria da construção portuguesa, perante um mercado interno cada vez mais rarefeito,
expande-se para o estrangeiro, sendo obrigada a mostrar argumentos de competitividade
acrescidos perante ambientes de negócio mais exigentes. As empresas de construção
encontram-se assim num ponto de mudança de paradigmas, em que se decide quem
conseguirá prosperar a alto nível e quem sairá profundamente afectado pela actual conjuntura.
Posto isto, a indústria necessita de optimizar os seus processos, reduzindo o desperdício ao
mínimo para que se consigam maiores produtividades e consequentemente argumentos
competitivos para a adjudicação de obras com margens de lucro satisfatórias. A nível nacional
e internacional os próprios donos de obra, quer públicos, quer privados, começam
gradualmente a aperceber-se da necessidade de mudar, estando iminente a exigência de novos
processos de gestão nos empreendimentos de construção.
Nesta dissertação é proposta uma visão pragmática quanto à introdução da filosofia de
produção Lean quando aplicada à indústria da construção portuguesa. Pretende-se definir e
gerar valor para as construtoras, inovando sustentadamente com um sistema robusto que leve
a uma maior coordenação e produtividade nos processos de produção em empreendimentos
de grande dimensão.
O sistema apresentado baseia-se em metodologias que já deram provas de sucesso ao longo da
última década, sendo ainda pouco difundidas na indústria nacional, existindo por esse motivo
uma oportunidade de obter vantagem competitiva. São também contempladas as
subempreitadas, que facilmente constituem mais de 80% do valor de trabalhos de uma obra,
propondo-se uma perspectiva de integração de empreiteiro geral e subempreiteiros
colaborando como se de uma só equipa se tratasse, com expectáveis sinergias.
A crescente abertura das empresas à utilização de ferramentas informáticas constitui uma
oportunidade de aliar a introdução de uma nova filosofia de produção às boas práticas
CAPÍTULO 1-INTRODUÇÃO
3
conferidas pela matriz de funcionamento de um sistema de informação que leve a mudanças
na cultura organizacional enraizada e mantenha o conhecimento gerado dentro das empresas.
1.2 CAMPO DE APLICAÇÃO DO TRABALHO DE
INVESTIGAÇÃO
Este trabalho de investigação aplica-se a empreendimentos da indústria da construção do
ponto de vista do empreiteiro geral, focando-se no funcionamento dos processos de
planeamento, controlo e gestão da informação dentro dos escritórios de obra. O trabalho
pretende conferir vantagem competitiva por optimização dos processos referidos, em direcção
à criação de valor para o empreiteiro geral e subempreiteiros, promovendo o seu trabalho em
equipa.
O sistema apresentado baseia-se numa ferramenta informática desenvolvida
propositadamente, não se considerando esse facto limitativo à sua utilização no contexto
actual da indústria da construção portuguesa. A utilização do software, e consequentemente do
sistema proposto, é especialmente vocacionada para a direcção técnica de obra de
empreendimentos de construção. Não obstante, poderá ser alvo de atenção por parte de níveis
decisórios superiores como a direcção de produção. Este sistema, ainda que influenciado pela
informação recolhida nos casos de estudo presentes nesta dissertação, é aplicável a qualquer
tipo de obra, não sendo previsíveis alterações de monta.
1.3 OBJECTIVOS DE INVESTIGAÇÃO
Esta dissertação de mestrado tem como objectivo geral a concepção de um sistema de gestão
de empreitadas para empreendimentos de construção. Para o desenvolvimento deste foram
delineados objectivos particulares:
▪ Pesquisa bibliográfica do estado do conhecimento no âmbito do tema Lean Construction com
foco no sistema de controlo de produção Last Planner.
▪ Recolha e análise da opinião de intervenientes na gestão de empreendimentos de construção
acerca da sua visão sobre planeamento, controlo, desperdício e inovação no sector.
▪ Recolha e análise de dados acerca do desempenho dos processos de planeamento e execução
na construção, identificando desperdícios e oportunidades de melhoria.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
4
▪ Concepção de sistema de controlo de produção baseado em princípios da filosofia Lean,
nomeadamente a partir do Last Planner System (LPS). Deverá ser fácil de manter e
disponibilizar informação que permita a monitorização do desempenho e a tomada de
medidas correctivas para obtenção de melhores produtividades.
▪ Desenvolvimento de uma aplicação informática robusta e pronta a utilizar em
empreendimentos de construção baseada na arquitectura do sistema proposto. Deverá
constituir uma ferramenta para intervir activamente junto dos processos de planeamento e
controlo da produção em obra, numa perspectiva Lean.
1.4 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
A investigação que serve de base a esta dissertação iniciou-se com a integração num
empreendimento de construção de uma empresa da indústria. Seguidamente foram
estabelecidos objectivos iniciais que tivessem em conta os interesses da indústria e ao mesmo
tempo que proporcionassem um objecto de estudo com interesse científico.
Elaborou-se uma revisão bibliográfica sobre os temas Lean Construction e Last Planner System, a
partir de teses, dissertações e especialmente artigos provenientes de organizações que se
dedicam ao estudo e desenvolvimento destes temas como são o International Group of Lean
Construction (IGLC) e o Lean Construction Institute (LCI). Este estudo do tema serviu para, além
do enquadramento teórico da temática, fornecer também as bases necessárias ao autor para a
aplicação de conceitos na prática ao longo do resto da investigação.
Seguidamente foram seleccionados cinco casos de estudo de empreendimentos de construção
da responsabilidade de uma só empresa. Nestes procedeu-se ao estudo de opiniões dos
intervenientes quanto a questões relacionadas com planeamento, controlo, desperdício na
produção e inovação na construção. Num dos casos de estudo foi realizada uma análise
numérica do desempenho da produção e planeamento bem como a observação de processos
de trabalho no escritório de obra ao longo de cerca de seis meses.
Realizada a revisão bibliográfica para suporte teórico da investigação e feito o estudo de casos
para obtenção de dados acerca das práticas reais da indústria, procedeu-se à reapreciação dos
objectivos iniciais, sendo aprofundados. Feito isto, prosseguiu-se para a concepção de um
sistema de controlo de produção e gestão de subempreitadas com o objectivo de solucionar
diversos problemas e aproveitar oportunidades de melhoria detectadas. Este sistema baseia-se
numa metodologia derivada da filosofia Lean, denominada Last Planner System. O sistema
CAPÍTULO 1-INTRODUÇÃO
5
afirma-se como Lean ao basear-se numa metodologia desta filosofia, utilizar conceitos
normalmente associados a outras indústrias e por conter um mínimo de desperdício no
processo de manutenção, como será explicado em detalhe mais à frente neste documento.
Terminada a concepção da arquitectura do sistema, procedeu-se ao desenvolvimento de uma
ferramenta informática baseada em aplicações de código aberto, que apoia a comunicação
interna e a organização de fluxos de informação para suporte à principal fase de planeamento
do LPS. O software desenvolvido, denominado Portal de Obra, tem funcionamento em rede
promovendo a colaboração entre empreiteiro e subempreiteiros.
Por fim procedeu-se ao desenvolvimento de conclusões acerca da investigação elaborada,
destacando-se o contributo no panorama industrial e científico, bem como limitações e
evolução da investigação. Na figura 1.1 esquematiza-se a sequência lógica da investigação
levada a cabo nesta dissertação:
Figura 1.1 - Metodologia de investigação
1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
Este documento está organizado em seis capítulos distintos, correspondendo cada a uma fase
da investigação:
1º Capítulo: Introdução ao documento e trabalho de investigação realizado.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
6
2ºCapítulo: Fundamentação teórica do tema a partir da análise do estado-da-arte do
conhecimento no campo da Lean Construction aplicada com o LPS. Apresentam-se os conceitos
básicos bem como características detalhadas do LPS que virão a servir de base ao
desenvolvimento dos capítulos seguintes.
3ºCapítulo: Estudo de casos a partir de inquéritos e análise de processo de gestão da obra.
São inquiridos empreiteiro e subempreiteiros acerca do planeamento e controlo, desperdício
na construção e inovação na construção. Os processos de gestão são analisados de forma
mensurada e a partir de observações empíricas do funcionamento do espaço de trabalho do
escritório de obra de um caso de estudo. Em conjunto com o segundo capítulo virá a servir de
ponto de partida para a concepção do sistema proposto no quarto capítulo.
4ºCapítulo: Proposta de um sistema de controlo de produção baseado no LPS. Apresenta-se
a fundamentação teórica do sistema, objectivos e modelos que o compõem. O sistema divide-
se em dois módulos, um de monitorização do desempenho da produção numa perspectiva
Lean e outro de controlo de actividades por intermédio da gestão de pré-requisitos,
incompatibilidades e prazos de actividades. Este sistema, de índole colaborativa, foca
separadamente a gestão do empreendimento na sua globalidade e a gestão das subempreitadas
que nele se desenvolvem.
5ºCapítulo: Desenvolvimento, implementação e teste de uma aplicação informática sobre a
qual funcionará o sistema proposto, potenciando as suas capacidades. São validadas todas as
ferramentas informáticas que compõem o software e são descritos os benefícios e factores de
sucesso para uma implementação. Adicionalmente são feitas sugestões de melhoria e evolução
do sistema em âmbito e nível decisório.
6ºCapítulo: Avaliação do grau de cumprimento dos objectivos delineados para a investigação
e exposição das principais conclusões. Apresentam-se as contribuições ao conhecimento e
aspectos inovadores, tanto de um ponto de vista académico, como para a indústria da
construção. São por fim referidas as limitações à investigação bem como propostas de
trabalhos a executar no futuro para desenvolvimento da temática desta dissertação.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
8
2.1 INTRODUÇÃO
No presente capítulo pretende-se apresentar o estado do conhecimento quanto à filosofia de
produção Lean, nomeadamente na aplicação dos seus conceitos à indústria da construção. A
filosofia Lean, com origem na década de 1950 por intermédio da indústria automóvel, foi
amplamente aplicada pela primeira vez no Toyota Production System (TPS).
Esta filosofia tem como objectivos fundamentais a eliminação de desperdício ao longo do
processo de produção de forma a incrementar o valor do produto simultaneamente com um
aumento de produtividade. Desta forma, o Lean prevê a utilização de menos recursos com
obtenção de maior valor. Devido ao objectivo de eliminação de desperdício, na sociedade
ocidental popularizou-se esta filosofia sob a designação de produção “magra”1.
A filosofia Lean, na sua aplicação à indústria da construção, tem originado por si só uma nova
área do conhecimento, designada por Lean Construction. Esta nova filosofia de produção, agora
aplicada à construção, tem vindo a difundir-se crescentemente desde o início da década de 90,
contrapondo-se à gestão “não-Lean” que actualmente domina o panorama industrial mundial.
A Lean Construction tem vindo a afirmar-se como um paradigma de produção do sector ao
representar uma mudança de mentalidade na gestão de empreendimentos com resultados
promissores (Ballard et al., 2003). Neste capítulo aborda-se não só o tema da Lean Construction
mas também a metodologia de controlo de produção Last Planner System, construída à luz da
referida filosofia. Por fim apresenta-se uma breve análise comparativa entre o planeamento
usual na indústria da construção e nesta nova abordagem Lean.
2.2 PROCESSO DE PESQUISA IMPLEMENTADO
Foi realizada uma análise da evolução histórica e do estado-da-arte do tema em questão,
construindo-se uma base da teoria fundamental. Efectuou-se uma recensão da evolução do
conhecimento, métodos e técnicas aplicadas. Foram também pesquisados exemplos de
aplicação e casos de estudo realizados sobre o tema. Desta forma, possibilitou-se a definição
da área de estudo e seu desenvolvimento.
A revisão bibliográfica foi realizada essencialmente nos temas Lean Construction e Last Planner
System, sendo este último, alvo de maior atenção.
1 Por tradução literal do termo inglês “lean”
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
9
A informação foi maioritariamente recolhida a partir de teses, dissertações e artigos sobre Lean
Construction, especialmente os publicados nas conferências anuais do International Group for Lean
Construction (IGLC) e pelo Lean Construction Institute (LCI). Posteriormente procedeu-se a uma
análise mais detalhada de uma metodologia aplicada, o Last Planner System (LPS).
2.3 LEAN PRODUCTION
2.3.1 PENSAMENTO LEAN
A filosofia Lean surgiu na indústria automóvel nipónica dos anos 50, tendo constituído a base
de um sistema de produção inédito: o Toyota Production System (TPS). A concepção deste novo
sistema foi motivada pela situação económica na qual o Japão se encontrava, com falta de
recursos e baixa produtividade. Este sistema foi aplicado formalmente nas linhas de produção
de automóveis a partir de 1977 com coordenação dos engenheiros Taiicho Ohno e Eiji
Toyoda, seus criadores.
Este sistema foi popularizado na sociedade ocidental nos anos 90 por autores como Koskela,
Womack e Ballard. A sua superior eficiência, competitividade e flexibilidade levaram a que até
aos dias de hoje seja objecto de estudo, tanto na sua forma de filosofia, como nas várias
metodologias que originou.
Devido aos seus princípios de minimização de desperdício e maximização de valor, foi
denominada “Lean”, isto é, produção “magra”. Como será exposto mais à frente, esta nova
filosofia de produção notabilizou-se por contrastar com a produção manual e a produção em
massa, criando um novo conceito. Também na eliminação de inventário residiu uma das suas
grandes prioridades, levando à criação do conceito Just-in-Time2.
Segundo esta filosofia, um sistema de produção deve ser projectado com o intuito de
maximizar o valor e minimizar os desperdícios (Ballard et al., 2001). A par com o conceito de
desperdício, o conceito de valor é essencial ao entendimento desta filosofia, sendo ambos
apresentados em detalhe mais à frente. Resumidamente pode-se afirmar que a filosofia Lean
pretende fornecer um produto suficientemente personalizado, com optimização de recursos,
maximização de valor para o cliente e tudo isto num prazo reduzido (Womack, 1990). Mais
2 A técnica Just-in-Time (JIT) consiste em que nada deve ser produzido, transportado ou adquirido até ao momento em que é requerido a jusante no sistema produtivo, por um cliente.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
10
tarde, Ballard (2000a) sintetiza o conceito de produção Lean com a seguinte frase: “dar ao
cliente o que quer, instantaneamente e sem desperdício”.
2.3.1.1 Produção em massa e manufacturação
Genericamente é possível dividir os tipos de produção presentes na indústria em dois: a
produção manual e a produção em massa. Em seguida apresentam-se algumas características
de cada uma delas:
Produção manual - trabalhadores altamente qualificados, capazes de criar produtos
únicos e personalizados, embora a um preço elevado.
Produção em massa - mão-de-obra não especializada, com produções automatizadas
de grandes quantidades, a preços reduzidos.
Simplificadamente pode-se afirmar que a filosofia Lean se apresenta como um tipo de
produção que combina características dos dois anteriores, acrescentando ainda outras
particularidades. É possível descrever o Lean como um sistema que consegue produzir uma
grande variedade de produtos, em grande volume, fazendo-o com recurso a uma equipa de
trabalhadores multi-especializados que utilizam maquinaria flexível e autonomação (Peneirol,
2007). Segue-se o quadro 2.1, que sintetiza as principais diferenças entre os três tipos de
produção tratados neste capítulo:
Quadro 2.1 - Comparação entre tipos de produção (Taguchi, 1997)
Manufacturação Produção em massa Filosofia Lean Objecto de análise Tarefa Produto Cliente
Operações item único Linha de produção Fluxo sincronizado e
filosofia “pull”
Objectivo estratégico Excelência da manufactura Reduzir custos e
incrementar a eficiência Eliminar desperdício e
adicionar valor
Qualidade Integração (parte da
manufacturação) Inspecção (a 2ª fase, depois
da produção)
Prevenção (construir a partir de projecto e
métodos)
Estratégia de negócio Personalização Economia de escala e
autonomação Flexibilidade e adaptabilidade
Melhorias Melhoria contínua
orientada pelo artesão Melhoria periódica
orientada pelo especialista
Melhoria contínua orientada pelas equipas de
trabalho
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
11
Acrescente-se ainda que na obra que ajudou a filosofia Lean a afirmar-se na sociedade
ocidental - “The Machine that Changed the World”, Womack et al. (1990) - é afirmado que em
relação à produção em massa o Lean requer:
▪ Metade dos esforços dos operários em fábrica;
▪ Metade do espaço de fabricação;
▪ Metade do investimento em ferramentas;
▪ Metade das horas de planeamento para desenvolver novos produtos;
▪ Muito menos de metade do inventário.
Como resultado da implementação desta filosofia é expectável que se obtenha a produção de
uma maior variedade de produtos com substancial menor quantidade de defeitos.
2.3.1.2 Princípios e conceitos do Lean
Como exposto atrás, o Pensamento Lean, também conhecido por Lean Thinking, foi
popularizado na indústria ocidental a partir da obra de Womack et al. (1990). Esta nova
filosofia contrasta com a que é correntemente utilizada na maioria dos empreendimentos
relativamente a dois conceitos: push e pull. Na teoria de gestão da manufactura estas duas
formas de gerir o fluxo de trabalho distinguem-se da seguinte forma:
Push – Trabalho é libertado para produção com base em datas e durações pré-
estabelecidas. Não sendo consideradas constrangimentos, pré-requisitos ou actividades
que tenham interdependência a fim de assegurar um fluxo contínuo de trabalho. Este
conceito é esquematizado na figura 2.1:
Figura 2.1 - Esquematização da filosofia push
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
12
Pull – O trabalho é libertado quando o cliente3 o requerer, libertando mais trabalho ao
ser concluído. É pretendido criar um fluxo de trabalho contínuo, pelo qual devem ser
criadas as condições para que este ocorra, antes de avançar uma nova actividade, como
se esquematiza na figura 2.2:
Figura 2.2 - Esquematização da filosofia pull
A par com os conceitos de “push” e “pull”, existem outros dois que são essenciais ao bom
entendimento dos princípios Lean:
Fluxo de produção – este fluxo é dividido em sete sub-fluxos necessários à boa
execução dos trabalhos (Koskela, 2000): trabalhos precedentes, espaço, equipa de mão-
de-obra, equipamento, informação (projectos), materiais e condições externas.
Valor – é obtido valor para o produto final e, consequentemente, para o cliente,
quando este define e são respeitadas as suas necessidades, requisitos e especificações a
nível de prazos, custos, qualidade e âmbito.
Na supracitada obra de Womack et al. (1990) procurou-se interpretar e analisar a metodologia
do TPS, tendo-se conseguido identificar cinco princípios fundamentais ao desenvolvimento da
filosofia em questão:
Especificar Valor - é o mais importante dos princípios, sendo nele que se baseiam
todos os outros. O conceito de valor deve ser especificado em cada caso pelo cliente
3 O termo “cliente” não é usado apenas na acepção comercial da palavra, sendo sim aquele que recebe um determinado produto, dentro ou fora do sistema de produção.
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
13
final, indo ao encontro das suas necessidades dentro de factores bem definidos como
prazos e custos.
Identificar Cadeia de Valor - consiste em identificar, de entre o conjunto de
actividades necessárias à produção, aquelas que levam à criação de valor para o
produto. Pode não ser possível obter uma produção livre de actividades que não
agregam valor. Para definir este princípio é usual utilizar-se uma metodologia Lean de
mapeamento desta cadeia.
Conseguir um Fluxo de Valor contínuo - pretende-se obter uma sequência fluida de
processos e actividades que tenham sido seleccionadas na cadeia de valor. Será assim
possível reduzir tempos de ciclo, tornando o trabalho mais eficiente.
Deixar o cliente “puxar”4 o Valor do produto - assenta na premissa de que nada
deve ser produzido sem que o cliente o solicite. Evita-se assim a acumulação de stocks e
conseguem-se diminuições de tempo entre a concepção, lançamento e entrega ou
venda do produto. Por outro lado, só é possível manter esta prática quando o cliente
tem confiança na entrega do produto (Gonçalves, 2009).
Procurar a perfeição - após a aplicação dos quatro princípios atrás mencionados,
parte-se para a procura da perfeição num processo de melhoria contínua. Os referidos
princípios devem constituir um ciclo fechado que se aproxima cada vez mais do ideal
de produto feito por medida, instantaneamente entregue sem necessidade de stocks.
Saliente-se que estes princípios não são, segundo Koskela (2004a), suficientes para sistematizar
a geração de valor, objectivo primordial da filosofia Lean. É afirmado que servem
essencialmente para apresentação e difusão da teoria de produção em causa.
2.3.2 DESPERDÍCIO NA PRODUÇÃO
A filosofia Lean, tem no desperdício um dos seus conceitos chave, na medida em que é
essencial a sua minimização para a concretização dos seus princípios. A identificação e
quantificação das fontes de desperdício apresentam-se como uma oportunidade para
introduzir melhoria no sistema de produção, rumo à perfeição em ciclo contínuo. Note-se
que, à luz do Lean, o desperdício é oriundo das actividades que não adicionam valor ao
4 O termo “puxar” provém da tradução literal do termo inglês “pull”, conceito apresentado em §2.3.1
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
14
produto final. Do desenvolvimento do TPS, formalizaram-se sete tipos distintos de
desperdício, como referido em Ohno (1988):
Sobreprodução - consiste na produção antes do pedido pelo cliente ou numa
quantidade superior à necessária. Este tipo de desperdício é típico dos sistemas “push”.
A produção não requisitada pelo cliente dirige mão-de-obra e recursos para produtos
que não vão ser escoados imediatamente, causando desperdício. Este tipo de
desperdício leva à necessidade de manter inventários, algo considerado negativo pelo
TPS (Peneirol, 2007).
Espera - pode existir espera por material, informação, equipamento, entre outros.
Ocorre normalmente como consequência da interrupção de um fluxo de produção
devido à não conclusão de uma actividade a montante de outra que se pretende
concluída. O princípio Lean subjacente à eliminação deste desperdício denomina-se
Just- in-Time (Gonçalves, 2009).
Transporte – o movimento excessivo de materiais apresenta-se como uma actividade
que não acrescenta valor, devendo ser minimizada. Pretende-se que o material seja
entregue no ponto de utilização, directamente para o local de montagem.
Processamento que não acrescenta valor - necessidade de refazer trabalho, por
manifesta deficiência da execução inicial, bem como reparações e inspecções de
materiais são exemplos deste tipo de processamento. Também excesso de etapas de
processamento, utilização de equipamentos pouco versáteis e outras operações extra
são descritas como este tipo de desperdício. O Mapeamento de Fluxo de Valor
apresenta-se como a melhor ferramenta para a diminuição deste desperdício
(Gonçalves, 2009).
Defeitos - sucedem durante o processo produtivo e provocam quatro tipos distintos
de desperdício: materiais consumidos, mão-de-obra utilizada não recuperável, mão-de-
obra requisitada para refazer trabalho e uso de recursos humanos para lidar com as
reclamações por parte do cliente.
Excesso de inventário - contempla todo o inventário não solicitado pelo cliente.
Tem como consequências nefastas a ocupação de espaço (normalmente escasso), bem
como a mobilização de capital financeiro desnecessária como as respectivas
consequências.
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
15
Excesso de movimento - qualquer movimento desnecessário ao processo de
produção revela-se desperdício. Pode estar relacionado com a organização e
aproveitamento do espaço disponível.
Recentemente outros autores identificaram novas formas de desperdício, por
desenvolvimento da teoria iniciada com o TPS:
Subutilização de Potencial humano - inclui subutilização de índole mental, criativa
ou física de faculdades e habilitações. Numa perspectiva “não-Lean”, não se reconhece
a subutilização de atributos mentais. Como causas deste desperdício pode ter-se um
fraco fluxo de trabalho, cultura organizacional e práticas de contratação inadequadas,
bem como fraca formação dos trabalhadores (Macomber et al., 2004).
Making-do – oriundo da filosofia Lean Construction é inerente às actividades que são
iniciadas sem a disponibilização de todos os inputs necessários para a sua conclusão,
como o material, ferramentas, mão-de-obra, condições externas, instruções ou
projectos. A filosofia Lean desenvolveu uma ferramenta directamente vocacionada
para a minimização deste tipo de desperdício que será amplamente descrita mais à
frente nesta dissertação: Last Planner System (Koskela, 2004b).
2.4 EVOLUÇÃO NA FILOSOFIA DE CONSTRUÇÃO
À medida que aumenta a competitividade na indústria, tenta-se diminuir custos e prazos
mesmo com obras mais difíceis. Também ao longo do tempo se têm vindo a experimentar
diversas formas de gestão, conseguindo-se melhorias, mas não um padrão ou teoria sólida
aplicável à construção, como pretende Koskela (1992). O crescente ambiente competitivo na
indústria impele-a a avançar no sentido de obter novas teorias e formas de pensar. A razão
parcial pela qual o “convencional” modelo de transformação de inputs em outputs é inadequado
assenta na premissa de que o que falha na produção é o comportamento em equipa e não os
bens adquiridos. A lei regula a compra de bens, mas não a aquisição de comportamentos.
Outra razão apontada é a aparente eficiência de um número limitado de ferramentas para um
conjunto de funções (Howell et al., 1994).
A persistência do modelo de transformação é justificada pela inexistência de alternativas
adequadas e da crescente agressividade do ambiente competitivo que tem afastado a inovação
pelo risco associado. O pensamento corrente, baseado numa envolvente do passado, é incapaz
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
16
de suprir as necessidades actuais e os danos que provoca têm sido negligenciados (Howell et
al., 1994). Noutro ponto de vista Howell et al. (2000) apontaram razões distintas para a
insuficiência da gestão de empreendimento corrente:
1. A incerteza inerente à realização de um empreendimento é desconsiderada;
2. Simplifica-se a relação entre actividades, não se tendo em conta a
interdisciplinaridade entre estas, o que as torna mais complexas do que considerado;
3. Conceito rígido das actividades, não compreendendo a dimensão da variabilidade;
4. Atenção individual em cada actividade, não contabilizando o empreendimento
como um todo e por sua vez não avaliando o impacto em actividades adjacentes;
5. Gestão de empreendimento não pressupõe uma gestão de produção agregada.
Como resposta ao modelo de transformação surgiu uma nova filosofia de produção que
pretende colmatar as lacunas do modelo de transformação, incluindo novos conceitos,
métodos de controlo e uma nova atitude perante a necessidade de melhoria, como se
apresenta no quadro 2.2:
Quadro 2.2 - Comparação entre o modelo de Transformação e a Nova filosofia de produção
Modelo de Transformação Nova filosofia de produção
Conceito de produção Produção consiste em transformações (actividades); todas as actividades adicionam valor
Produção consiste em transformações e fluxos; existem actividades que adicionam valor e outra que não o fazem
Tipo de controlo Custo das actividades Custo, prazo e valor dos fluxos
Tipo de melhoria Aumento de eficiência por implementação de novas tecnologias
Eliminação ou supressão de actividades que não adicionam valor, aumento da eficiência de actividades que adicionam valor por melhoria contínua e novas tecnologias.
Esta mudança de filosofia levou a que se evoluí-se para um terceiro tipo de produção, como
referido em §2.3.1. Observe-se que a clara diferença que distingue a construção da
manufacturação é a incerteza associada. Pode comparar-se a vida de uma construção ao
processo de desenvolvimento de um produto na manufacturação. O desafio do Lean é reduzir
o desperdício ao mesmo tempo que se leva estabilidade ao planeamento definindo, “o quê” e
“como” cada vez com mais detalhe sendo a estabilidade um factor-chave na aplicação do Lean,
de tal forma que processos que não adicionem valor ao produto devem ser eliminados.
Controlar os fluxos produtivos na construção é mais difícil do que na fase de produção da
manufacturação dado que existe incerteza tanto em saber o que fazer como em conseguir os
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
17
recursos para o conseguir (Howell et al., 1994). Enquanto na construção se tenta verificar o
cumprimento das obrigações e apontar falhas, na manufacturação e no Lean é pretendido
aumentar progressivamente o grau de detalhe, em busca da melhoria (Ballard et al., 1998b).
Com a teoria TFV (Transformação-Fluxo-Valor), Koskela (2000) formaliza uma nova teoria
de produção, baseando-a nestes três conceitos. Pretende-se com esta teoria gerar um sistema
colaborativo que aplica os três referidos conceitos desde a fase de projecto, à produção
incluindo controlo da mesma. Esta teoria está subdivida em três áreas de gestão distintas:
Gestão da transformação: não sendo suficiente para dominar toda a complexidade
do empreendimento, é essencial à gestão dos contratos, estabelecendo parâmetros e
processos de qualidade e segurança.
Gestão do fluxo: permite fomentar a existência de um sistema colaborativo entre
empreiteiro, subempreiteiros, produtores e fornecedores, sendo este formalmente
gerido.
Gestão de valor: remete para a gestão da definição de valor, definição essa que está
intrinsecamente ligada aos requisitos e necessidades do cliente, tal como consta em
§2.3.1b.
2.4.1 IMPORTÂNCIA DO PLANEAMENTO NA CONSTRUÇÃO
O planeamento assume-se como uma etapa essencial a qualquer empreendimento de
construção, na medida em que é a partir deste que o gestor do empreendimento o dirige,
controla e monitoriza os processos em curso. Contém informação acerca do âmbito do
trabalho, processos construtivos, tarefas a executar, duração de actividades, calendarização,
recursos humanos e materiais mobilizados, entre outros. Segundo Ballard (1994) o sucesso do
planeamento reflecte-se em factores como:
▪ Melhoria de produtividade através de redução de atrasos;
▪ Optimização da sequência construtiva;
▪ Melhoria da gestão de recursos humanos;
▪ Melhoria na coordenação de múltiplas actividades interdependentes.
Koskela et al. (2002) afirmaram com base no PMBOK (Duncan, 1996) que o planeamento se
apresenta como uma área crucial na gestão da construção na forma em como se relaciona
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
18
directamente com os processos de controlo e execução, sendo o factor-chave da teoria da
gestão dos empreendimentos5. Esta relação de interdependência apresenta-se esquematizada
na figura 2.3:
Figura 2.3 - Ciclo fechado de processos na gestão de empreendimentos (Duncan, 1996)
É também pertinente diferenciar objectivamente três conceitos que usualmente são empregues
nesta temática: controlo, planeamento e calendarização:
Controlo – É causador de acontecimentos que levam ao cumprimento dos planos, ao
mesmo tempo que promove a aprendizagem e o replaneamento (AlSehaimi, 2009);
Planeamento - Define critérios para o sucesso e produz estratégias para alcançar
objectivos (Ballard, 2000a). Decide e define as actividades, a sua sequência e a sua
calendarização (Duncan, 1996).
Calendarização – Determina a duração das actividades, bem como as datas de início
e, consequentemente, de fim (Ballard, 2000a). Está normalmente integrado no
planeamento.
2.4.2 CONTROLO DE PRODUÇÃO E DE EMPREENDIMENTO
Na indústria da construção é usual a inexistência de um controlo de produção mas sim de um
controlo de empreendimento (Ballard, 2000ª). Neste segundo caso, não é avaliada a forma
como se processa a produção, apenas que se cubram os contratos celebrados, inclusivamente a
maior parte do esforço de planeamento é executada na fase de concurso e não de produção
5 “Theory of project management”, no original.
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
19
(Winch et al., 2005). Um pensamento errado é o de que será possível controlar empreiteiros
pelos prazos iniciais e orçamentos, definindo e reforçando os comprometimentos. Acreditar
que as ordens dadas são cumpridas sem coordenação adicional apenas seria válido para o caso
dos trabalhos serem independentes entre si, o que não é verdade. Assim, a estabilidade e
previsibilidade, que são consequências do controlo de produção, apresentam-se como factores
críticos pela sua escassez no quotidiano da construção (Ballard et al., 1998b). Desta forma é
possível identificar dois conceitos distintos:
Controlo de empreendimento - consiste em monitorizar a um nível estratégico o
progresso perante objectivos e tomar medidas correctivas quando existem desvios
(Ballard, 2000ª).
Controlo de produção - pretende dirigir acções de forma a seguir o planeamento,
procedendo a replaneamento em caso de insucesso. Segundo Ballard (2000a), o
controlo de produção consiste no controlo de um fluxo de materiais e informação por
entre especialistas em cooperação, gerando valor para o cliente e outras partes
interessadas (stakeholders). Está normalmente associado a uma atitude pró-activa.
Também os conceitos de produção e de produtividade, normalmente ligados, são distintos.
Sobre estes têm sido elaborados alguns estudos, nomeadamente na relação entre eles sob a
aplicação de metodologias derivadas da filosofia Lean. Enquanto a produtividade remete
directamente para um uso eficiente de recursos, e é um factor típico do controlo reactivo da
gestão de empreendimentos num modelo de transformação, a produção consiste num sistema
de fluxos de trabalho que são alvo de um controlo interventivo, segundo a perspectiva Lean.
2.4.3 OUTRAS METODOLOGIAS LEAN
A par com Last Planner System, certas metodologias têm vindo a ser experimentadas na
construção. Segue-se abaixo uma breve descrição de algumas técnicas de apoio à gestão e
controlo que se baseiam ou estão relacionadas com os princípios da filosofia Lean:
2.4.3.1 Mapeamento de fluxo de valor
O Mapeamento de Fluxo de Valor (MFV) pretende reduzir sistematicamente as tarefas que
não agregam valor a um qualquer processo na produção. Baseia-se no princípio central do
pensamento Lean: a procura da eliminação do desperdício. Esta ferramenta pretende também
melhorar as ligações entre actividades, numa optimização global, levando à criação de valor
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
20
por obtenção de um fluxo livre de desperdício desde os fornecedores até ao cliente final
(Gonçalves, 2009).
2.4.3.2 Gestão Ágil Lean
Consiste numa metodologia de gestão da produção, utilizando-se preferencialmente em
ambientes em constante mudança e incutindo um sentido de adaptação proactiva no sistema
de produção. Baseia-se na construção de equipas multidisciplinares, trabalhando num contexto
de protecção de um fluxo de trabalho fiável, sendo as decisões adiadas até ao último momento
em que é possível agir (Owen et al., 2006). Desde o final da década de 90 têm sido
desenvolvidos estudos no sentido de unir a Gestão Ágil com a filosofia Lean, originando o
conceito de Leagility.
2.4.3.3 Gestão Visual
A gestão visual constitui uma ferramenta que tem vindo a ser utilizada juntamente como Lean
com cada vez mais frequência. Procura ajudar à condução de processos por meio de melhoria
da comunicação entre pessoas, transportando informação tipicamente relacionada com
métricas. Esta informação é disponibilizada graficamente sendo a sua interpretação intuitiva e
em tempo real (Parry, 2006).
2.5 LEAN CONSTRUCTION
A aplicação da filosofia de produção Lean à indústria da construção originou uma nova área
do conhecimento que tem vindo a ser aplicada globalmente e que se denomina Lean
Construction. Em Koskela (2000), Womack (1990) e Alarcón (1997) constam as bases da
interpretação e desenvolvimento destes autores em relação à teoria original de Ohno (1988).
Ao longo deste período diversas empresas por todo o mundo têm vindo a desenvolver esta
filosofia, construindo e aperfeiçoando metodologias de aplicação, nomeadamente para a
indústria da construção. Como descrito em §2.3.1a, surgiu com base no TPS uma nova forma
de idealizar a produção, tendo esses novos conceitos servido de base para esta nova forma de
dirigir a produção na construção. Apresenta-se no quadro 2.3 uma comparação entre a
abordagem “convencional” da gestão na construção com esta nova filosofia de Lean
Construction.
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
21
Quadro 2.3 - Comparação entre a Gestão “Convencional” da Construção e a nova filosofia Lean Construction (Abdelhamid et al., 2005 referenciado por Peneirol, 2007)
Gestão “Convencional” da Construção Lean Construction Sabe-se como transformar materiais em estruturas
fixas. Sabe-se (também) como transformar materiais em
estruturas fixas. É expectável que aconteçam mudanças de definições
e erros de desenho durante a construção, que serão
resolvidos e novamente preparados pela equipa de
construção.
Desenham-se produto e processo de construção em
conjunto para evitar erros/omissões de desenho e
dimensionamento que levantam questões de
possibilidade de execução.
O gestor é o único responsável pelo planeamento.
Os gestores são os primeiros responsáveis pelo
planeamento, o dos processos e das fases, e os
encarregados e trabalhadores são os últimos
responsáveis pelo planeamento, o das operações. Assume-se que reduzindo o custo de uma peça irá se
reduzir o custo de todo o projecto – o todo é a soma
das partes.
Trata-se todo o projecto como um sistema e faz-se uso
do Target Costing para alcançar as reduções do custo de
projecto – o todo é mais que a soma das suas partes. Empurra-se a produção ao nível local pensando
erradamente que será a forma de alcançar eficiência
global.
Empurra-se a produção para maior processamento do
sistema considerando ser a única forma de alcançar
eficiência global. Gere-se o processo utilizando os elementos que
referem a evolução de custos – os quais estão na base
dos pagamentos.
Utiliza-se os elementos de evolução de custos como um
input para o planeamento e controlo das operações no
estaleiro.
É-se guiado pelo paradigma de retornos em termos
de prazo/custo/qualidade.
Desafia-se o paradigma de retorno em termos de
tempo/custo/qualidade ao remover as fontes de
desperdício nos processos de desenho/produção de
forma a promover um melhor e mais fiável fluxo de
trabalho. Não se planeia ou controla as operações de produção
em estaleiro a não ser que se verifique desvios de
custo e de prazo – espera-se até que os problemas
aconteçam para se reagir no sentido de voltar a ter o
projecto no rumo definido.
Planeia-se e controla-se as operações de produção em
estaleiro de forma a prevenir que os indicadores de
evolução do projecto não de desviem dos prazos e
custos definidos.
Considera-se fornecer valor ao cliente quando se
maximize a performance em relação ao custo –
perspectiva Value Engineering (VE).
Considera-se fornecer valor ao cliente quando o valor do
produto é aumentado (a infra-estrutura efectivamente
corresponde às necessidades do cliente) através da
gestão do processo de valor da construção – perspectiva
Value-based Management (VBM).
De acordo com Koskela (1992) as limitações e deficiências do modelo de transformação em
relação à filosofia Lean são várias, tendo sido estas a motivar os seus estudos na Lean
Contruction:
1. Não são considerados os fluxos físicos entre actividades de conversão (fluxos de
materiais e de mão de obra);
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
22
2. O esforço de melhoria foca os sub-processos individuais e não o sistema
produtivo como um todo, não considerando a integração entre as diferentes
partes do processo;
3. Não são considerados os requisitos dos clientes.
2.5.1 FILOSOFIA E CONCEITOS DA LEAN CONSTRUCTION
Nesta secção será feita uma apresentação caracterizadora da filosofia Lean Construction,
descrevendo-se os seus princípios, explicando-se conceitos e características básicas.
Apresentar-se-á também o Lean Project Delivery System, devido à sua importância como sistema
com uma visão abrangente do processo de construção, conseguindo compilar as bases para o
desenvolvimento de diversas metodologias Lean.
2.5.1.1 Princípios da Lean Construction
Do desenvolvimento do Pensamento Lean e consequente aplicação à produção na indústria da
construção, Koskela (1992) propôs 11 princípios aplicáveis à Lean Construction:
1. Aumentar o valor do produto por redução das actividades que geram
desperdício: rumo à minimização do desperdício do sistema, devem ser minimizadas
as actividades que não geram valor para o produto final. À semelhança do que foi
descrito em §2.3.2 pode não ser possível criar um sistema livre de actividades que
representam desperdício, já que podem ser criadoras de valor apenas para clientes
internos e não para o cliente final.
2. Aumentar o valor final através de uma consideração sistemática dos
requisitos do cliente: devem ser procurados os requisitos e necessidades do cliente
para cada fase de forma reflectindo-se esse conhecimento na gestão da produção por
intermédio de um mapeamento do processo
3. Reduzir a variabilidade: é conveniente manter a estabilidade dos processos
criando assim um produto uniforme. É possível atingir este objectivo a partir de uma
padronização de método de construção, mantendo-se sempre o mesmo processo
construtivo, com uma determinada sequência e duração (Gonçalves, 2009)
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
23
4. Reduzir tempo de ciclo: pretende-se minimizar o tempo necessário a que uma
peça possa atravessar o fluxo de produção, isto é, passar as fases de processamento,
espera, transporte e inspecção o mais rapidamente possível.
5. Simplificar através da minimização do número de passos, partes e ligações:
além da minimização das actividades que não geram valor, é possível eliminar
desperdício a partir de uma melhor gestão do processo de produção repensando
passos ou partes do processo.
6. Aumentar a flexibilidade do resultado final: pretende-se que seja possível uma
adaptação do produto final aos requisitos e necessidades do cliente sem que isso leve a
um aumento de prazos e custos. É atingível por intermédio de uma modularização dos
produtos ou utilização de mão-de-obra polivalente, facilitando os processos de
redefinição do produto ao longo do fluxo.
7. Aumentar a transparência do processo: incrementa a possibilidade de ser
executado controlo pelos trabalhadores, pela qualidade da informação que recebem
acerca do processo de produção, levando a melhoria do mesmo.
8. Focar o controlo de todo o processo: é possível optimizar o fluxo global do
processo a partir de uma atribuição de controlo do mesmo a equipas de trabalho e
cooperação a longo prazo com os fornecedores (Peneirol, 2007);
9. Introduzir melhoria contínua no processo: deve haver uma permanente atenção
na eliminação do desperdício e maximização do valor, com envolvimento de toda a
organização, trabalhando em equipa.
10. Manter equilíbrio entre as melhorias de fluxo com as melhorias no processo
de conversão: é necessário que ambos os factores se desenvolvam equitativamente
para o sucesso e eficiência do processo.
11. Fazer Benchmarking: a organização deve-se manter atenta às organizações de
topo na sua área industrial, quer no seu todo, quer em características específicas,
aprendendo com elas e introduzindo melhorias no seu sistema.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
24
2.5.1.2 Características principais
Esta nova filosofia de gestão da construção, Lean Construction, contém uma série de
características que a diferenciam do modelo de conversão. Encontram-se em seguida
enumeradas essas características, segundo Ballard (1999) citado por Peneirol (2007):
1. Visão clara dos objectivos a estabelecer no processo de entrega do produto e bom
entendimento das necessidades e requisitos do cliente;
2. Equipa de carácter multifuncional que desenvolve e desenha o produto e o processo
de forma concorrencial, este trabalho em paralelo fomenta a interacção positiva dentro
do processo;
3. Alteração do alinhamento dos trabalhos ao longo da cadeia de fornecimento de
forma a reduzir a variação e optimizar a quantidade e conteúdo de trabalho em
execução;
4. Estruturação do trabalho em termos de processo global para aumentar o valor e
reduzir o desperdício. Uma melhor performance ao nível do planeamento faz
aumentar o desempenho do projecto.
2.5.1.3 Lean Project Delivery System (LPDS)
O LPDS é um sistema integrado de aplicação de Lean Construction com vista a cobrir todas as
fases do empreendimento, do projecto à entrega, aplicando os conceitos Lean e apresentando-
se como uma das suas mais completas aplicações. Este sistema é desenvolvido como filosofia,
num conjunto interdependente de funções, regras para orientar decisões, procedimentos para
execução de funções e ferramentas de ajuda à implementação. O LPDS, constituído por cinco
fases de três módulos cada, juntamente com dois módulos comuns a todas as fases, encontra-
se representado na figura 2.4, e é caracterizado pelas seguintes particularidades (Ballard,
2000c):
▪ Empreendimento estruturado e gerido como um processo gerador de valor;
▪ Stakeholders a jusante do fluxo de produção estão envolvidos no planeamento
das frentes de trabalho e projecto por intermédio de equipas multidisciplinares;
▪ Controlo de empreendimento tem a função de controlar antagonizando com
verificações após as acções;
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
25
▪ Esforços de optimização estão centrados na fiabilidade do fluxo de trabalho
em oposição a uma melhoria de produtividade;
▪ Técnicas pull são usadas para governar o fluxo de materiais e informação ao
longo de uma rede de especialistas em cooperação;
▪ Capacidade e inventários usados para absorver variabilidade;
▪ Ciclos de feedback incorporados em cada fase, dedicados a permitir ajustes
rápidos do sistema e aprendizagem.
Figura 2.4 - Esquematização do Lean Project Delivery System (Ballard, 2003)
Este modelo apresentado em Ballard (2000c) veio a ser actualizado em Ballard (2003), com a
adição da 5ª fase - utilização. Saliente-se que é no módulo de controlo de produção que se
encaixa a metodologia do sistema de controlo de produção Last Planner, apresentado em
detalhe mais à frente. A existência desde sistema não é também alheia a uma das conclusões
comum a diversos autores como Womack (1990), Ballard (2000a) ou Alsehaimi (2009): os
princípios do Lean são consistentemente potenciados quando aplicados de uma forma
transversal a toda a organização e de forma extensiva a todas as fases do projecto.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
26
2.5.2 LEAN NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO EM PORTUGAL
Com o fenómeno de globalização da economia no final do século XX, a indústria da
construção portuguesa tem vindo a desenvolver-se num ambiente de crescente
competitividade. A preferência das entidades privadas ou a legislação sobre obras públicas
levam a que concorram empresas de diversas nacionalidades a empreendimentos localizados
em território nacional.
Por outro lado, a indústria portuguesa da construção têm-se expandido para América do Sul,
África, Europa do Leste e Médio Oriente (entre outras localizações), sendo aí necessário
apresentar argumentos competitivos que permitam rivalizar com a indústria local e não só.
Na procura de melhor desempenho para os seus processos e confrontadas com as limitações
dos métodos “convencionais”, as empresas portuguesas têm recorrido a novas teorias e sua
aplicação prática. No campo da inovação na construção tem vindo a popularizar-se uma
filosofia: a Lean Construction - temática desta dissertação.
Em Portugal, a aplicação desta filosofia, ainda com uma expressão reduzida no panorama
global da indústria, tem vindo a crescer. Por iniciativa própria ou por colaboração com
entidades exteriores como Instituições de Ensino Superior6 ou empresas especializadas, o Lean
Construction tem tido aplicação em obras públicas de engenharia e de construção habitacional.
Recentemente, o desenvolvimento de grupos de trabalho de composição mista entre indústria
e academias, tendo como função a dinamização da relação entre estes bem como o
aprofundamento e gestão do conhecimento na área do Lean, tem vindo a crescer.
Quer em implementações generalizadas, quer em casos pontuais, a introdução do Lean na
indústria mostrou resultados que impelem as empresas a prosseguir na sua utilização, existindo
actualmente novas experiências de implementação a decorrer.
6 Universidade Técnica de Lisboa: i) Marques, Susana. 2007. Lean Construction and Just in Time - Introdução na
construção portuguesa. Dissertação de mestrado, Instituto Superior Técnico, Portugal. ii) Peneirol, Nelson. 2007. Lean Construction em Portugal – Caso de estudo de implementação do sistema de controlo da produção Last Planner, Dissertação de mestrado, Instituto Superior Técnico, Portugal. iii) Gonçalves, Wilma. 2009.Utilização de Técnicas Lean e Just in Time na Gestão de Empreendimentos e Obras, Dissertação de mestrado, Instituto Superior Técnico, Portugal
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
27
2.5.3 APLICABILIDADE DA LEAN CONSTRUCTION
Não obstante de todos os benefícios associados à inovação na construção, nomeadamente na
adopção da filosofia Lean, existem algumas limitações ou condições na sua aplicação. O facto
de o Lean ter vindo a ser implementado lentamente na construção foi explicado por Koskela
(1992) com os seguintes factores:
▪ Resposta tardia por parte das instituições académicas;
▪ Falta de competição internacional nesta indústria;
▪ Aplicações experimentais executadas em indústrias substancialmente diferentes
da construção.
Alarcón et al. (2005) identificaram diversas dificuldades típicas na implementação do Lean em
empreendimentos de construção:
1. Falta de tempo para aplicar novos métodos;
2. Falta de treino de todos os intervenientes nos novos métodos;
3. Organização interna não disponível para responder a novos desafios;
4. Aprendizagem pelo erro limitada por falta de crítica pessoal.
Além destas limitações, existem também detractores de uma cultura Lean que tem sido
difundida no meio académico, como Green (1999). Como exemplo têm-se a crítica à aceitação
imediata de que os princípios do Lean são objectivamente positivos, sendo também criticado o
encorajamento a se seguir o Lean sem que sejam inicialmente percebidos os seus princípios, tal
como consta em Womack et al. (1990)7. Tendo o Lean nascido de uma atitude de
questionamento do sistema implementado e aceite nos anos 50, esta pretensão tem gerado
controvérsia. Apresentam-se em seguida o desenvolvimento de dois factores que têm
influenciado fortemente a aplicabilidade do Lean:
2.5.3.1 Envolvente social
Na maioria das pesquisas associadas à introdução dos conceitos Lean na indústria da
construção é frequente afirmar-se que o factor determinante na mudança é a mentalidade dos
7 No final do prefácio desta obra, referida por vários autores como sendo uma referência, consta a seguinte frase: “Nas páginas seguintes vamos explicar o que fazer e porquê. Antes de mais, a sua missão é simples: limite-se a fazê-lo” (tradução livre)
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
28
intervenientes. Todavia, a pretensão a introduzir na sociedade ocidental conceitos oriundos do
Japão não é formalmente avaliada (Green, 1999). As dificuldades de implementação tendem a
agravar-se do Norte para o Sul da Europa, dada a atitude distinta com que os povos destes
países encaram os processos de mudança e as suas consequências. Também a cultura laboral
dos povos interfere com este tipo de iniciativa: as exigências possíveis aos trabalhadores são
diferentes em cada país, não sendo espectáveis resultados iguais por aplicação dos mesmos
métodos em locais distintos (Green, 1999).
Mesmo na sociedade oriental, onde surgiram estes novos conceitos, estão relatadas
consequências nefastas, alegadamente provenientes da adopção de novos padrões de trabalho,
que não são normalmente tidas em conta na ponderação entre custo e benefício da aplicação
do Lean.
2.5.3.2 Organização interna
É de grande importância a existência de uma cultura dentro da organização que permita a
entrada e desenvolvimento real de novas métodos de idealizar a construção. Para que seja
possível actuar a partir de um nível estratégico num nível operacional é necessário que a gestão
tenha um ascendente efectivo sobre o trabalho de campo. Sem esta condição não é possível
introduzir mudanças profundas, nem conseguir resultados satisfatórios (Green, 1999).
Também a iniciativa por parte da gestão de topo é essencial, já que ao promover a mudança se
geram riscos. Para introdução de inovação é assim necessário o apoio da direcção da
organização para que possíveis resultados negativos sejam controlados e mitigados. Mostra-se
mais uma vez que a integração de toda a organização no pensamento Lean é essencial ao seu
sucesso, tal como explicado em §2.5.1c.
Na indústria da construção, a contratação de subempreiteiros, por parte de um empreiteiro
geral, pressupõe a existência de um contrato onde são especificadas em detalhe as condições
de colaboração, e por dedução, as condições que não têm de ser cumpridas. Em muitos dos
contratos estão previstas penalizações para possíveis incumprimentos por parte do
subempreiteiro, limitando a disponibilidade de estes poderem inovar nos seus métodos dentro
de limites razoáveis. Desta forma a confrontação com as penosas consequências derivadas de
um incumprimento da sua parte faz com que a possibilidade de participar num sistema
colaborativo se afaste, dando lugar ao comportamento do tipo “cada um por si”. Idealmente
ter-se-ia o conjunto dos subempreiteiros integrado no empreiteiro e funcionando como um só
a nível de metas e objectivos (Owen, 2005).
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
29
2.6 APLICAÇÃO DA LEAN CONSTRUCTION: LAST
PLANNER SYSTEM (LPS)
2.6.1 OBJECTIVOS DO LAST PLANNER SYSTEM
O Last Planner System constitui uma ferramenta baseada nos princípios da filosofia Lean
Construction, que têm como intuito guiar a produção até aos objectivos do planeamento
(Ballard, 2000a). Este sistema de controlo de produção pretende organizar o processo
produtivo em pacotes de trabalho atribuídos às equipas de produção, seguindo um
planeamento decomposto e organizado em vários horizontes temporais, com finalidades
distintas. Este processo é promovido tendo em atenção os requisitos necessários ao
desenvolvimento de um fluxo de produção contínuo e baseado num ciclo de
comprometimento dos intervenientes que o pretende proteger de problemas associados à
variabilidade.
Esta estrutura de controlo pressupõe uma criação de valor intrínseca dada a origem deste
sistema no Lean. Assim sendo, segundo Ballard (2000a), o LPS foca em conseguir colaboração
efectiva, gerir como uma rede de compromissos, promover o relacionamento entre os
intervenientes do projecto, desenvolver a ligação entre aprendizagem e acção e optimizar o
empreendimento como um todo. Este conjunto de ideais é conhecido como “Five Big Ideas”
(Lichtig, 2005) que são apresentadas em seguida após a sua esquematização na figura 2.5:
Figura 2.5 - Áreas de desenvolvimento do Last Planner System – “Five big ideas” (Lichtig, 2005)
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
30
1. Colaboração: colaboração efectiva por intermédio do projecto, planeamento
e execução:
Desde a separação da fase de projecto da execução, tem-se assistido a uma pioria de
qualidade prática proveniente do projecto. A fase de projecto não pode
desenvolver-se independentemente das áreas de engenharia e construção. O
projecto deve assentar numa base de conversação iterativa na medida em que a
escolha dos fins condiciona os meios. Assim, a maximização de iterações positivas é
atingível por meio de uma relação colaborativa entre projecto e planeamento.
2. Incrementar relacionamento entre participantes:
Normalmente os participantes num empreendimento iniciam-no como estranhos
entre si, podendo acabá-lo como inimigos. O maior impedimento à transformação
do projecto e produção de empreendimentos de grande dimensão é o
relacionamento insuficiente entre os participantes. É necessário desenvolver
relações baseadas na confiança de forma a ser possível partilhar erros e
oportunidades de aprendizagem. Esta colaboração não acontece espontaneamente,
sendo possível desenvolve-la intencionalmente.
3. Empreendimentos como rede de compromissos:
Os empreendimentos não são processos ou correntes de valor. O trabalho do
gestor de um empreendimento é criar, activar e coordenar uma rede de
comprometimento. A função de um líder é manter coesão na rede de
comprometimentos perante a incerteza. Este conceito contrasta com o
entendimento do planeamento como acto de previsão, gestão, controlo e liderança.
4. Optimização do empreendimento como um todo:
Os empreendimentos, naturalmente confusos, saem fora de controlo quando se
forçam os subempreiteiros a diminuir custos e prazos. Forçar um aumento de
produtividade de determinadas actividades pode levar a uma melhoria local mas leva
a uma diminuição do trabalho expectável de ser iniciado a jusante, aumenta a
duração do empreendimento, complica a coordenação e reduz a confiança entre as
partes. Enquanto na fase de projecto se incorre em atrasos e repetição de trabalho,
na produção existem consequências mais gravosas. É possível com este princípio
reduzir para metade os riscos à segurança dos trabalhadores. Resumidamente, a
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
31
forma como encaramos o trabalho e gerimos o seu planeamento pode contribuir
para uma diminuição ou aumento da desordem.
5. Estreitar ligação entre aprendizagem e acção:
É possível conseguir uma melhoria contínua de custos, prazos e valor geral do
empreendimento quando os participantes aprendem com a acção. É possível
também executar os trabalhos de forma a que o executante tenha uma percepção
imediata de quão próximo ficou de atingir as condições de satisfação para esse
trabalho. Uma separação entre planeamento, execução e controlo contribui para um
desempenho pobre do empreendimento e um declínio nas expectativas do que é
possível executar.
Como objectivos concretos a atingir, o LPS pretende manter um controlo do fluxo de
trabalho e das unidades de produção (Ballard, 2000a). Enquanto o primeiro objectivo se
resume a conseguir que o trabalho circule entre equipas de produção numa determinada
sequência e ritmo, o segundo coordena a execução do trabalho interiormente às equipas.
Apresenta-se em seguida na figura 2.6 uma esquematização da estrutura de objectivos do
sistema em causa.
Figura 2.6 - Objectivos do Last Planner System: controlo de fluxo de trabalho e de equipas de produção
2.6.2 INÍCIO DAS ACTIVIDADES
O início das actividades no Last Planner System é uma fase crucial ao seu sucesso. Nos vários
níveis de planeamento que o integram, como apresentado mais à frente, existem diversas
etapas caracterizadas pelo que deve acontecer, pode acontecer e o que irá efectivamente
acontecer, como ilustrado na figura 2.7:
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
32
Figura 2.7 - Last Planner System: generalização do método de funcionamento (Ballard, 2000a)
Como será explicado em detalhe mais à frente, cada uma destas fases tem na sua base um tipo
de planeamento específico, com objectivos específicos perante o controlo de produção.
2.6.2.1 Pacotes de trabalho
O planeamento centralizado, dentro de uma organização, tende a focar-se em objectivos
globais, dirigindo o empreendimento como um todo. Os objectivos provenientes da gestão
global levam à definição de processos de planeamento a uma escala inferior dentro do
empreendimento. Por sua vez, este planeamento permite especificar quais os meios para
atingir os objectivos definidos inicialmente. Por fim, a um nível de decisão operacional as
equipas de trabalho decidem especificamente qual o trabalho que é feito diariamente. É este
último tipo de planos que se designam por adjudicações de pacotes de trabalho, sendo o seu
executante denominado como Last Planner (Ballard, 2000a).
Na adjudicação de pacotes de trabalho às equipas de produção, é sempre necessário ter em
conta a sua capacidade, isto é, a quantidade de trabalho que a equipa pode produzir num
determinado período de tempo, com estabelecidos métodos e condições. Outro conceito
importante é o de carga laboral, sendo esta a quantidade de trabalho realizado expectável de
cada equipa. Pode-se mostrar vantajoso atribuir a uma equipa uma carga laboral inferior a
100% da sua capacidade, dado que a “folga” existente aumenta a probabilidade de se
conseguir um fluxo de trabalho mais fiável.
Também entendendo um processo de construção como um fluxo de actividades, se pode
perceber que diminuindo a carga laboral a montante, irá originar-se maior capacidade a
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
33
jusante, dado que se obtém um fluxo quase livre de perturbações em toda a produção (Ballard,
1998c).
2.6.2.2 Requisitos
Para que o planeamento semanal seja eficaz há que fazer uma adjudicação de pacotes de
trabalho com qualidade às equipas de produção. Esta qualidade está dependente de uma série
de requisitos que tornam possível proteger o fluxo de produção contra a incerteza. Seguem-se
abaixo os requisitos identificados por Ballard et al. (1998b):
Definição - As adjudicações devem ser suficientemente específicas para que o tipo e
quantidade de materiais correctos possam ser aprovisionados, o trabalho possa ser
coordenado com os agentes envolvidos e para que seja possível averiguar no final de
uma semana se o trabalho foi efectivamente concluído.
Verificação – Todas as adjudicações devem ser verificadas em pontos como a
disponibilidade imediata de materiais, peças desenhadas, pré-requisitos bem como
qualquer tipo de trabalho de preparação necessários ao seu início.
Sequência – As adjudicações devem ser seleccionadas a partir do conjunto de pacotes
de trabalho pré-verificado tanto na ordem de construção necessária como na ordem
pertinente aos processos do cliente.
Dimensão – Cada pacote de trabalho adjudicado deve ser dimensionado tendo em
conta a capacidade das equipas de produção, tanto em quantidade como em termos de
duração. Adicionalmente, a adjudicação deve produzir trabalho na dimensão e espécie
correctos para a equipa de produção que se segue.
Aprendizagem – Deve ser executada uma análise das razões de insucesso dos pacotes
de trabalho não concluídos ou em atraso.
Os dois primeiros critérios são determinantes na obtenção de um fluxo de trabalho satisfatório
e de um planeamento fiável, segundo Ballard (1998c). Assim que os pacotes de trabalho são
escolhidos, é necessário proceder a uma análise de constrangimentos à sua conclusão de forma
a proteger a produção da incerteza associada. Pretende-se assim que nenhuma actividade se
inicie até que seja assegurado o seu desenvolvimento sem qualquer tipo de perturbação
(Ballard et al., 1998b).
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
34
Esta protecção contra a incerteza, designada originalmente por “shielding production”, assenta na
procura pela satisfação dos requisitos ou critérios levando a um modelo de definição de
actividades como esquematizado na figura 2.8:
Figura 2.8 - Modelo de definição de actividade (Ballard, 1999)
2.6.2.3 Comprometimento
O comprometimento dos executantes, os Last Planners, é essencial ao funcionamento do
sistema, sendo-lhe dedicada uma fase do planeamento. Enquanto num sistema de
transformação push apenas se atenta no que deve acontecer e se assume que irá acontecer, num
sistema pull, como o LPS, é necessário providenciar se é possível fazer (Ballard, 2000a). Ilustra-
se em seguida a lógica de funcionamento de cada um dos sistemas referidos, nas figuras 2.9 e
2.10:
Figura 2.9 - Sistema push convencional (Ballard, 2000a)
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
35
Figura 2.10 - Last Planner: um sistema pull (Ballard, 2000a)
O LPS pretende criar uma prática de conversação entre as partes que leva ao compromisso da
execução, motivando os executantes à colaboração pela protecção que este sistema confere ao
fluxo de produção. Este comprometimento deverá ser feito à luz determinados requisitos,
como já apontado, garantindo-se que a conversação e compromisso levam a um efectivo
progresso do empreendimento.
Na figura 2.11, ilustra-se como existe um ciclo de comprometimento que contempla as
diversas fases descritas e que deve iterativamente aumentar a confiança nas equipas e aumentar
a eficácia e eficiência do LPS.
Figura 2.11 - Ciclo de compromisso no Last Planner System (Mossman, 2007)
Além dos requisitos é necessária a monitorização e controlo de forma a avaliar se os princípios
do LPS estão a ser bem entendidos por parte de empreiteiro e subempreiteiros. Um erro
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
36
comum é a incapacidade de dizer “não” por parte de quem executa, levando a estimativas e
comprometimentos irrealistas que desvirtuam os princípios do LPS levando a resultados
negativos.
2.6.3 ESTRUTURA DE PLANEAMENTO DO LPS
Excepto nos trabalhos mais simples e de pequena dimensão, a construção necessita de
planeamento e controlo executado por diferentes pessoas, em posições diferentes dentro da
organização e em alturas diferentes dentro do período de desenvolvimento do
empreendimento (Ballard, 2000a). Neste sentido o LPS contém várias fases de planeamento
dos trabalhos envolvidas para manter um controlo de produção. É executado planeamento de
longo, médio e curto prazo, aplicando-se nos dois últimos níveis práticas Lean. Encontra-se
esquematizado na figura 2.12 esta divisão hierárquica:
Figura 2.12 - Estrutura e caracterização de planeamento do Last Planner System
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
37
2.6.3.1 Phase Schedule (ou Plano de Fase)
O Phase Schedule consiste em cada uma das unidades provenientes da decomposição do Master
Schedule (ou Plano Geral), representando uma Fase do empreendimento, tipicamente
demarcada no Plano Geral com metas chave (milestones). Note-se que o Plano Geral é
usualmente construído com recurso a técnicas convencionais como o CPM e o PERT e deve
manter um nível de detalhe não muito elevado. Já o Plano de Fase deve ser elaborado de
acordo com a filosofia pull, sendo feita a sua calendarização do fim da Fase para o inicio com
uma atitude estratégica perante o controlo do empreendimento.
Pretende-se assim produzir um plano para completar uma fase do empreendimento em que
todas as pessoas envolvidas o compreendem e apoiam, dando origem a uma calendarização
utilizável pelos planeamentos sucessivamente mais abaixo hierarquicamente (Ballard, 2000b).
2.6.3.2 Lookahead Plan (ou Plano de Antevisão)
Constitui a principal ferramenta para o controlo do fluxo de trabalho dada a sua função de
protecção da produção contra a variabilidade e incerteza (Ballard, 2000a). As actividades
provenientes do Plano de Fase devem ser decompostas num nível de detalhe apropriado para
constar do Plano Semana de Trabalhos antes de entrarem no Plano de Antevisão. As funções
deste tipo de planeamento são as seguintes:
1. Definição da sequência e ritmo do fluxo de trabalho;
2. Compatibilização do fluxo de trabalho e da capacidade de produção;
3. Decomposição das actividades em pacotes de trabalho e operações;
4. Desenvolvimento de métodos detalhados para execução dos trabalhos;
5. Desenvolvimento de um stock de pacotes de trabalho para serem executados
quando os originalmente planeados não poderem ser executados;
6. Actualização e revisão dos programas dos níveis mais elevados.
Este planeamento deve ser feito em conjunto por chefes de equipa e encarregados,
determinando-se que pacotes de trabalho devem entrar a partir do Plano de Fase, estudando-
se as interdependências existentes. Neste Plano de Antevisão, de índole táctica, que ocupa
uma janela temporal de 3 a 12 semanas, deverão constar actividades ou pacotes de trabalho
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
38
definidos em §2.5.2a que adicionam valor ou que libertam trabalho, devendo ser resolvidos
quaisquer pré-requisitos e constrangimentos às mesmas. Assim, deve ser possível constituir
um stock de actividades prontas a realizar, que figurarão no Plano Semanal de Trabalhos.
Saliente-se que as actividades ou pacotes de trabalho que podem constar do Plano de
Antevisão como prontas a iniciar, devem respeitar os requisitos referidos em §2.5.2b. Espera-
se assim incrementar a produtividade das equipas a quem são adjudicados os pacotes de
trabalho bem como aumentar a fiabilidade do fluxo de trabalho das equipas de produção
seguintes (Ballard, 2000a).
2.6.3.3Weekly Work Plan (ou Plano Semanal de Trabalhos)
Este planeamento, da responsabilidade dos Last Planners (tipicamente chefes de equipa e
encarregados), consiste na lista de trabalhos a ser desenvolvidos durante o período de uma
semana. Neste planeamento constam os pacotes de trabalho escolhidos pelos Last Planners a
partir do Plano de Antevisão, estando assim garantida a sua exequibilidade. Neste nível deve
existir um compromisso entre as partes acerca dos trabalhos a ser executados ao longo da
semana, sendo crucial evitar o facilitismo. Reforce-se que, segundo Ballard (2000a), os pacotes
de trabalho presentes nesta fase devem respeitar os requisitos apresentados em §2.5.2b.
2.6.4 DESEMPENHO DO SISTEMA
Para que se possa aplicar um sistema de melhoria contínua é indispensável executar uma
avaliação dos resultados obtidos. Para tal, recorre-se a técnicas de controlo que são,
tipicamente, orientadas por monitorização de indicadores numéricos.
Originalmente no Last Planner System (Ballard, 1994) é referido o indicador PPC (Percentagem
de Plano Concluído), como sendo um indicador representativo da eficácia do planeamento,
dando informações sobre a qualidade do fluxo de produção. O PPC consiste no quociente
entre o número de actividades concluídas e o número de actividades planeadas para um
determinado período de tempo, sendo usualmente apresentado sob forma de percentagem,
como se apresenta na equação (1):
(1)
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
39
Este indicador deve ser acompanhado de uma análise às razões de não conclusão das
actividades que o levam a ter um valor inferior a 100%. Com esta análise é possível determinar
causas de instabilidade, para que sejam desenvolvidas acções preventivas e correctivas no
sentido de se obter uma melhoria contínua do processo de produção.
Como exemplo de medidas a tomar tem-se a alocação de recursos, definição de pacotes de
trabalho às equipas de produção ou alteração de precedências em actividades no planeamento
(Peneirol, 2007). É com a investigação destas causas e respectivas medidas reactivas que se
pretende determinar as origens de desperdício e repor o fluxo de produção.
Apesar de se poder acompanhar a análise qualitativa com um juízo crítico dos resultados, esta
pode não ser suficiente para se ter uma visão global do progresso do empreendimento. Em
concreto, um baixo PPC pode ser obtido de uma produção com um planeamento bem
sucedido e um empreendimento com atrasos pode revelar um PPC satisfatório, não revelando
a eficiência produtiva do processo. Até aos dias de hoje, apenas num reduzido número de
casos de estudo foi efectuada uma análise quantitativa do desempenho do LPS (Formoso,
2009).
Alguns autores como Bortolazza (2005) e Kalsaas (2009) defendem a necessidade de
contemplar no LPS indicadores quantitativos do desempenho do sistema. Pretende-se assim
obter um meio de monitorizar efectivamente o progresso do empreendimento. A avaliação da
fiabilidade do planeamento é também objecto de interesse de investigações sobre o LPS,
como é apresentado mais à frente nesta dissertação. Também é proposta a utilização de
métodos de controlo integrado de prazos e custos como o Earned Value Management8 por
Mitroupoulos (2005).
2.6.5 FIABILIDADE DO PLANEAMENTO
A fiabilidade do planeamento executado tem vindo a ser alvo de diversos estudos dada a sua
importância no Last Planner System. A necessidade de executar diversos tipos de planeamento
com objectivos distintos, funcionando como um sistema único, mostra como é importante
assegurar que cada um deles mantenha um grau de fiabilidade elevado para sucesso do sistema
como um todo (Ballard, 1999).
8 A metodologia do Valor Ganho (Earned Value Management) propõe uma gestão integrada de prazos e custos a partir de medições periódicas de custos. Estas medições devem ser comparadas com o planeamento de base (Baseline) sendo possível calcular diversos indicadores de desvio de prazos, custos, esforço financeiro para atingir metas, custos à data de conclusão, entre outros.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
40
Uma abordagem à monitorização da fiabilidade do planeamento centra-se no Plano de
Antevisão, nomeadamente na avaliação do trabalho planeado que é disponibilizado para ser
feito: “planned work ready”. Ao estarem prontas para execução, as actividades planeadas deverão
ter todos os pré-requisitos resolvidos.
Ao contrário da monitorização de desempenho de um empreendimento de construção que é
tipicamente executada, esta não se centra sobre os trabalhos executado, mas sim nos trabalhos
que deveriam ter sido ser lançado para execução sem qualquer condicionamento em termos de
materiais, equipamentos, mão-de-obra, especificações de projecto entre outros factores. Mede-
-se assim a quantidade de trabalho que seria expectável que estivesse pronto a começar com
um elevado grau de confiança (Mitropoulos, 2005).
Neste tipo de análise é possível executar uma avaliação acerca da previsão feita quanto ao
trabalho que se estimou que estivesse pronto a começar num determinado período de tempo.
A elaboração desta análise é praticável por intermédio da construção de uma matriz de
previsão, tal como ilustrado na figura 2.13, num exemplo de comparação entre o trabalho
realizado e o previsto para a 6ª semana
Figura 2.13 - Matriz de avaliação da fiabilidade do planeamento com o LPS (Mitropoulos, 2005)
Também a sobreposição das actualizações do Plano de Antevisão é alvo de estudo em Kalsaas
(2009). Note-se que nas 3 a 12 semanas que este planeamento pode conter, é
consideravelmente diferente executar-se um replaneamento à 2ª semana ou à 5ª semana,
quando o planeamento está prestes a esgotar-se, dadas as alterações de planos que podem
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
41
surgir nesse espaço de tempo e a perda de fiabilidade acumulada. A figura 2.14 ilustra dois
exemplos deste tipo de análise:
a)
b)
Figura 2.14 - Sobreposição do Plano de Antevisão para replaneamento: (a)1 semana, (b) 4 semanas
Numa outra abordagem à fiabilidade do planeamento é possível mostrar como este influencia
o comportamento dos subempreiteiros num empreendimento. Existe uma tendência por parte
dos subempreiteiros em disponibilizar menos recursos do que o requisitado quando existe
uma grande incerteza acerca do volume de trabalho que vai poder ser executado num
determinado período de tempo. Uma aplicação da Teoria de Jogos a este caso conclui que só
pode ser esperada cooperação quando os planos são fiáveis e os subempreiteiros têm
confiança em que lhes é transmitida toda a informação essencial sobre a estratégia de gestão
na construção (Sacks, 2006).
2.6.6 DESENVOLVIMENTOS DO LPS
2.6.6.1 Implementação experimental do LPS
O Last Planner System tem vindo a ser alvo de diversas investigações académicas por todo o
Mundo, sendo a maioria destas realizadas em sistema de “Action Research”9. Analisando apenas
a proveniência dos estudos é possível identificar um padrão que mostra uma apetência clara
dos países mais desenvolvidos para a aplicação de novas formas de pensar na indústria da
construção. Note-se que em países em vias de desenvolvimento existem também
empreendimentos de construção de grande dimensões, residindo neles um grande potencial
para a aplicação da filosofia Lean.
9 Action Research é o termo inglês que designa um método de pesquisa onde a comunidade académica, ou um indivíduo, integra o processo de mudança conjuntamente com os profissionais da área de estudo onde se insere a investigação.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
42
Os casos de estudo apontados, realizados em empresas de construção, não representam a
totalidade das abordagens possíveis ao Last Planner System. Também na fase de projecto tem
sido tentada a implementação deste sistema como investigou Hamzeh et. Al (2009) e Kemmer
et. al (2009). Refira-se que, tal como exposto em §2.4.3, os princípios do Lean são potenciados
se aplicados transversalmente dentro de uma organização. Segue-se no quadro 2.4 uma lista de
casos recentemente publicados em artigos acerca da temática em questão:
Quadro 2.4 - Lista de casos de estudo com implementação experimental do LPS
Local Data Intervenientes Objecto de estudo
no LPS
Arábia Saudita 2009 Abdullah Alsehaimi (Univ. Salford), Patricia Tzortzopoulos (idem), Lauri Koskela (idem)
Simples10
Brasil 2009 Carlos T. Formoso (Univ. Federal Rio Grande do Sul), Camile B. Moura (idem)
Análise estatística de resultados
Suécia 2008 Fredrik Friblick (Univ. Lund), Veronica Olsson (Prolog Bygglogistik), Joakim Reslow (idem)
Simples
E.U.A 2008 Farook R. Hamzeh (Univ. Berkeley), Glenn Ballard (idem), Iris D. Tommelein (idem)
Aplicado ao projecto
Noruega 2008 Bo Terje Kalsaas(Univ. Agder), Rein Terje Thorstensen(idem), John Skaar(Skansa)
Simples com estudo dos planos a 2 semanas
Alemanha 2008 Fritz Gehbauer (Univ. Karlsruhe) Simples
Portugal 2007 Nelson Peneirol (Univ. Técnica de Lisboa – Instituto Superior Técnico)
Simples
Portugal 2007 Susana Marques (Univ. Técnica de Lisboa – Instituto Superior Técnico)
Simples
Noruega 2007 Sigmund Aslesen (Fafo Inst. For labour and social research), Sven Bertelsen (Univ. Técnica Dinamarquesa)
Sob uma perspectiva social
Israel 2006 Rafael Sacks (Instituto de Tecnologia de Israel), Michael Harel (idem)
À luz da teoria de jogos
E.U.A 2005 Panagioteis Mitropoulos (Univ. Estadual do Arizona)
Controlo quantitativo e estudo da fiabilidade das
previsões
Coreia do Sul 2005 Yong-Woo Kim (Univ. Nova York), Jin-Woo Jang (idem)
Simples
E.U.A 2005 Hal Macomber (Lean Project Consulting), Gregory Howell (Lean Construction Institute), Dean Reed (DPR Construction)
Estudo do fluxo de produção
Brasil 2005 Rodrigo Cremonesi Bortolazza (Univ. Federal Rio Grande do Sul), Dayana Bastos Costa (idem), Carlos Torres Formoso (idem)
Análise quantitativa de resultados
Chile 2003 Luis F. Alarcón (Univ. Católica do Chile), Sven Diethelmand (idem), Oscar Rojo (idem)
Integração num sistema colaborativo
E.U.A 2003 Bob Huber (Boldt Company), Paul Reiser (idem) Integração na gestão
“convencional”
E.U.A 2002 Glenn Ballard (Univ. Berkeley), Nigel Harper (idem) Aplicação à pré-
fabricação pesada em betão
Equador 2002 Mario Fiallo (Univ. Central do Equador), Victor Hugo Revelo (Univ. Federal do Rio Grande do Sul)
Simples
10 Comparativamente com Ballard (2000ª)
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
43
2.6.6.2 LPS na gestão de custos dos empreendimentos
Além do controlo de produção pelo planeamento, é também possível utilizar o LPS como
ferramenta auxiliar na gestão de custos de um empreendimento. Como exemplo dessa
utilização tem-se a ligação entre o LPS e os mecanismos financeiros internos da organização,
como esquematizado na figura 2.15:
Figura 2.15 - Relação do LPS com a gestão de custos (Ballard et al., 2004b)
Tal como já referido em §2.4.3 os conceitos de produção e produtividade, ainda que bem
distintos, têm uma ligação estreita. Ballard (2000a) concluiu após aplicação do LPS, que um
PPC acima de 70% está na maioria das vezes associado a aumentos significativos de
produtividade, o que por sua vez revela uma utilização eficiente de recursos, com os proveitos
decorrentes. Em casos de estudo como o de Moura (2008) é apontada uma relação entre o
desvio de custos de um empreendimento e os valores de PPC, sendo determinada uma relação
de variação inversa após um estudo estatístico dos resultados. Também a relação entre
produtividade e PPC foi estudada por Ballard (2000a), obtendo-se resultados que indicam a
existência de uma variação directa destes dois factores.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
44
2.6.6.3 CPM11 vs LPS
Apesar das diferentes vocações técnicas do CPM e do LPS, ambos são utilizados na gestão da
produção. Como referido em §2.4.2, existem diferenças substanciais entre controlo de
produção e controlo de empreendimento, estando o primeiro a um nível táctico e operacional,
e o segundo a um nível estratégico. Apesar da sua popularidade na indústria, cada vez mais se
observa que o CPM é apropriado para empreendimentos lentos, simples e com poucas
incertezas (Howell et al., 2004). As dificuldades de utilização do CPM para controlo de
produção não são alheias às suas especificidades, manifestando-se as suas lacunas em
características como:
Controlo por verificação – A visão tradicional concebe controlo com um verificação
de factos após a acção, enquanto a visão Lean pretende guiar a produção activamente
em direcção a um objectivo (Ballard et al., 2003). Esta característica revela como o
CPM assenta numa atitude reactiva, contrastando com a pro-actividade do LPS.
Subdivisão para obter detalhe – As WBS12 são construídas tipicamente de forma
empírica, recorrendo também à experiência passada, não estando difundidos critérios
inequívocos para sua elaboração. Não é garantido que a subdivisão leve ao detalhe de
forma eficaz, estando a ligação entre produtos e processos nas relações entre
especialistas e não nas subdivisões (Ballard et al., 2004)
Modelação do empreendimento - A necessidade de estimar a duração das
actividades e a dificuldade de modelar a gestão do empreendimento de forma realista
são duas necessidades em que a utilização do CPM se mostra pouco robusta, devido à
incerteza associada a estes processos (Winch et al., 2005). Em geral neste método é
dado um ênfase demasiado grande ao factor “quando” em detrimento de outros
factores.
No quadro 2.5 apresentam-se sumarizadas as diferenças básicas entre o CPM e o LPS numa
utilização em controlo de produção:
11 O CPM representa o encadeamento lógico e cronológico das actividades do empreendimento por meio de uma
representação gráfica em rede. Esta técnica permite identificar uma sequência de actividades que é denominada “caminho crítico” e que contém as actividades com folga nula, ou seja, cuja duração influencia directamente a duração total do empreendimento. O CPM assenta na condição de que a duração das actividades é determinística, sendo assim reforçada a importância da sua estimação. Pela sua simplicidade, este método tem vindo a ser adoptado em larga escala, tendo sido informatizado e difundido na indústria da construção.
12 WBS (Work Breakdown Structure) consiste numa estrutura de repartição dos trabalhos que organiza e define o seu âmbito.
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
45
Quadro 2.5 - Comparação de características básicas entre o CPM e o Last Planner System
CPM Last Planner System Lógica de funcionamento embebida em software Senso comum aplicado formalmente
Grande necessidade de manutenção Baixa necessidade de manutenção
Gestão do caminho crítico Gestão da variabilidade
Preocupação em gerir data das actividades Preocupação em gerir fluxo de produção
Planeamento baseado em contratos Planeamento baseado em interdependências
Por outro lado, o CPM consegue apresentar argumentos positivos para a sua utilização no
controlo de produção. Os maiores benefícios da utilização do CPM advêm da possibilidade de
se trabalhar com um sistema disciplinado de planeamento, que mostra as dependências entre
actividades críticas e não críticas e avaliar o impacto da variação de recursos no
empreendimento (Henrich et al., 2005).
Muitas vezes as limitações da gestão de produção e gestão de empreendimento com o CPM
são atenuadas pelas competências do responsável pelo planeamento. Huber et al. (2003)
afirmaram que o planeamento com CPM aproxima-se de uma arte com grande variabilidade
em metodologia e utilização.
Apesar de todas as restrições ao uso do CPM, conjugando-o com o Last Planner System é
possível uma relação de complementaridade. Aplicar o LPS sem o enquadramento de fundo
do CPM, leva a que não exista uma referência que demonstre uma falha de desempenho na
produção (Huber et al., 2003). Esta relação de complementaridade encontra-se esquematizada
na figura 2.16:
Figura 2.16 - Relação de complementaridade entre CPM e LPS
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
46
Apesar de tendencialmente utilizáveis em qualquer tipo de empreendimento, estas duas formas
de gerir a produção têm vindo a ser sugeridas como apropriadas a determinados tipos de
construção. Apresenta-se em seguida o quadro 2.6, com propostas de aplicação juntamente
com uma caracterização global da metodologia.
Quadro 2.6 - Tipos de empreendimento e métodos de gestão recomendados, adaptado de Henrich (2005) e Peneirol (2007)
Tipo de empreendimento
Características principais
Métodos de gestão
recomendados
Nível decisor
Horizonte no tempo
Filosofia de gestão
Linear e contínuo (Pipelines, caminhos de ferro, túneis, auto-estradas)
-Poucas actividades -Executados num espaço linear -Sequência lógica rígida -Continuidade de produção essencial para um bom desempenho
LOB13 T MP
Push
Diagrama de Gantt
T / E MP/LP
Multi-unidade repetitiva (complexos habitacionais, edifícios)
-Produto final é um grupo de unidades similares -Actividades iguais durante todo o empreendimento -Equilíbrio entre diferentes actividades alcançadas de forma a alcançar os objectivos da produção
LOB T MP
CPM E LP
Edifícios de elevada altura
-Actividades repetitivas -Grande quantidade de actividades -Sequência lógica rígida para algumas actividades e flexível para outras -Cada piso considerado uma unidade de produção
CPM E LP LOB T MP
LPS T / O CP/MP Pull
Empreendimentos de especificidade única (industriais, pontes, projectos complexos)
-Número de actividades extremamente grande -Projecto complexo -Actividades diferentes na sua natureza -Crucial manter o empreendimento no caminho crítico
CPM E LP Push
LPS
T / O CP/MP Pull
Empreendimentos Simples (de qualquer tipo)
-Relativamente poucas actividades -Gestão focada na dimensão temporal
Diagrama de Gantt
E / T MP/LP Push
LEGENDA: T- Táctico, E- Estratégico, O- Operacional, CP- Curto Prazo, MP- Médio prazo, LP- Longo Prazo
13 LOB: “Line of balance”, consiste numa representação visual para calendarização de actividades.
CAPÍTULO 2-ESTADO DO CONHECIMENTO
47
2.7 CONCLUSÕES
A filosofia Lean é relativamente recente ao conhecimento e tem entrado na indústria ocidental
dando origem a resultados promissores. Afirma-se como uma filosofia que recebe influências
da manufacturação e produção em massa, adicionando particularidades únicas. Conceptualiza
a produção de forma inédita consistindo esta num fluxo com valor e desperdício associados.
Esta filosofia rege-se por princípios bem definidos, tendo dado origem a metodologias
dedicadas. Pretende-se com este sistema reduzir o desperdício, sendo este de diversos tipos, ao
mesmo tempo que se maximiza o valor do produto final – definido pelo cliente.
O planeamento assume-se como uma fase crucial no processo de construir, residindo nele
potencialidades que, dependendo da forma como é encarado, podem levar os
empreendimentos a atingir o sucesso ou o fracasso. Assim sendo, a aplicação do Lean ao
planeamento e controlo na construção pretende contribuir para a resolução de diversos
problemas de que esta indústria enferma, esperando-se da sua aplicação o surgimento de
evidentes melhorias.
A Lean Contruction veio assim fornecer ferramentas para colmatar uma lacuna do conhecimento
que reside na inexistência de uma teoria de base na gestão da construção. A sua entrada é
potenciada pela necessidade de dar resposta a empreendimentos cada vez mais complexos, em
prazos e custos cada vez mais reduzidos, o que por sua vez tem levado à procura de novas
formas de pensar a construção. Tem também originado bons resultados por ser afirmar como
uma filosofia de produção suficientemente ágil para se adaptar às vicissitudes desta indústria.
Apesar de não ser uma filosofia livre de imperfeições, o facto de se basear em conceitos do
senso comum leva a que a sua aplicação seja clara e eficaz, adaptando-se facilmente à
construção. Tem também vindo a desenvolver-se em diversas fases dos empreendimentos,
desde o projecto à execução, sendo os seus resultados amplificados quando aplicada a filosofia
transversalmente a toda a organização.
O LPS mostra como é possível aplicar concretamente a filosofia Lean no controlo de
produção. Fá-lo de uma forma expedita sem aumentar a entropia dos processos ou implicar
grandes mudanças a nível tecnológico, apenas necessitando de uma mudança de mentalidade
dos participantes.
Este sistema tem como principais objectivos o controlo do fluxo de produção e das equipas
de trabalho, fazendo-o a partir de princípios como a colaboração efectiva entre participantes,
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
48
encorajando o comprometimento entre estes, numa lógica de optimização global dos
processos do empreendimento num sistema de aprendizagem contínua.
Nesta metodologia pretende-se obter um fluxo contínuo de produção, eliminando-se os
constrangimentos e dando-se resposta aos pré-requisitos que impedem as actividades de
decorrer continuamente. Apresenta-se pela primeira vez com o LPS o conceito de produção
protegida. Desta forma, este sistema constitui uma metodologia dedicada ao controlo de
produção de uma forma interventiva, não se limitando à monitorização reactiva típica do
controlo de empreendimento.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
50
3.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo pretende-se analisar práticas na indústria da construção com vista à
determinação de fontes de desperdício e oportunidades de melhoria nos métodos de gestão
em utilização. Para tal, recorreu-se a uma série de casos de estudo disponibilizados por uma
empresa da indústria portuguesa.
Nestes casos de estudo foi seguida uma metodologia que assenta na recolha de informações
por intermédio de inquéritos aos intervenientes e também por medições de parâmetros
relacionados com o desempenho do planeamento e produção numa das obras em observação.
Nas secções seguintes irão ser apresentados em detalhe os casos de estudo utilizados, bem
como os métodos de investigação e seus propósitos, seguindo-se os resultados obtidos em
cada um destes. Por fim, apontam-se as conclusões obtidas a partir da investigação realizada
ao longo deste capítulo.
3.2 METODOLOGIA DE ESTUDO
Esta investigação baseou-se no estudo de casos reais de empreendimentos de construção em
duas vertentes distintas: a recolha e análise de dados numéricos e a inquirição de
intervenientes. Com estes dois métodos pretendeu-se identificar oportunidades de melhoria e
novas necessidades no que toca ao planeamento de trabalhos, controlo da produção e gestão
das subempreitadas, bem como apontar fontes de desperdício nos processos correntemente
utilizados. O quadro 3.1, apresentado em seguida, resume a metodologia de estudo utilizada
para esta fase da investigação:
Quadro 3.1 - Metodologia de estudo
Métodos de investigação PARTICULARES
Métodos de investigação COMPLEMENTARES
Análise de procedimentos internos em obra →
Análise e estudo de actas de reunião em obra com subempreiteiros e chefias internas
↓
Identificação de fontes de desperdício e oportunidades de melhoria à luz do Lean →
Quantificação de causas de insucesso do planeamento e medição de desempenho por
intermédio de indicadores numéricos ↓
Recolha de opiniões aos intervenientes no processo construtivo
→ Inquéritos a empreiteiro geral e
subempreiteiros
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
51
3.2.1 CASOS DE ESTUDO
Como referido, foram estudadas várias obras pertencendo estas ao distrito de Lisboa e sendo
todas elas executadas pelo mesmo empreiteiro geral. Segue-se uma listagem das obras em
estudo, que serão descritas mais à frente:
▪ A: Edifício de escritórios “Báltico Office Center”;
▪ B1: Torre “Colombo” Ocidente;
▪ B2: Manutenção/expansão do Aeroporto de Lisboa;
▪ B3: Fundação Champalimaud “Center for the unknown”;
▪ B4: Novo hospital de Loures.
Numa das obras (o caso de estudo A) foram utilizados inquéritos e também analisados
processos internos relacionados com a gestão da obra. Nas restantes obras (casos de estudo
B1,2,3,4) foi utilizado apenas o primeiro método.
3.2.2 INQUÉRITOS
Com o objectivo de conhecer a percepção da realidade quotidiana no mundo da construção
em Portugal, recorreu-se à inquirição de intervenientes no processo construtivo a fim de se
formular uma visão global acerca de questões como o desperdício na construção, o controlo
de produção e até a atitude perante a inovação.
Neste método de investigação foram elaboradas duas versões de inquéritos: uma direccionada
ao empreiteiro geral e outra aos subempreiteiros, apresentadas na íntegra no Anexo I e II. Esta
divisão é motivada pelos diferentes papéis que estes dois tipos de empreiteiro desempenham
num empreendimento relativamente ao planeamento e controlo de produção. Ambas as
versões são compostas por três grupos de perguntas, como consta na figura 3.1:
Figura 3.1 - Estrutura dos inquéritos
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
52
No primeiro grupo pretendeu-se conhecer a importância dada ao planeamento numa obra,
bem como o que se espera deste e suas limitações. Pretendeu-se também sondar os inquiridos
quanto às potencialidades que encontram no planeamento e no controlo de produção perante
a problemática da gestão de subempreitadas, assunto essencial hoje em dia devido a uma
indústria da construção nelas baseada.
No segundo grupo abordou-se a questão do desperdício na construção, tema eminentemente
ligado à filosofia Lean. Em cinco perguntas procurou-se caracterizar a presença do
desperdício, segundo o conceito Lean, na indústria portuguesa.
Por fim, num terceiro, grupo os inquiridos foram sondados quanto à sua visão acerca das
possibilidades de introdução de inovação no sector da construção, a partir das necessidades ou
potencialidades identificadas por estes.
Nos inquéritos foram utilizados dois tipos de resposta fechada, com cinco opções ou com
uma única, quando não se justificava a divisão em graus de concordância. Quando pertinente
surge uma opção de resposta livre, para o inquirido expressar uma opinião que não conste das
opções.
3.4 CARACTERIZAÇÃO DOS CASOS DE ESTUDO
Para esta investigação foram utilizadas as cinco obras já referidas em §3.2.1 sendo quatro
destas de natureza relativamente semelhante (edifícios para escritórios ou para utilização
hospitalar/investigação científica) e apenas uma de infra-estruturas e dispositivos mecânicos
(caso de estudo B2).
O caso de estudo A estará caracterizado de forma mais completa dado que será aquele que irá
fornecer mais informações adiante, sendo os restantes casos de estudo Bi caracterizados de
forma semelhante e mais resumida.
A totalidade das obras em questão corresponde a um valor acumulado de trabalhos na ordem
dos 200 milhões de Euros, sendo todas elas privadas à excepção de uma que consiste numa
parceria público-privada. A taxa de subcontratação é semelhante em todas elas, sendo sempre
superior a 90% do valor dos trabalhos.
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
53
Nas duas secções que se seguem serão apresentados os casos de estudo com as informações
suficientes à sua caracterização para o fim a que se destinam, contendo informação acerca da
sua localização, prazos, tipo e valor de contrato bem como percentagem de subcontratação.
3.4.1 CASO DE ESTUDO “A”
Este caso de estudo apresenta-se como sendo a principal das cinco obras estudadas, na
medida em que foi a partir desta que mais informação se obteve. Tendo sido estudado por
meio de inquéritos e análise de processos relacionados com a gestão da obra este caso de
estudo está directamente relacionado com a formulação do sistema apresentado no quarto
capítulo desta dissertação. Segue-se no quadro 3.2 e na figura 3.2, respectivamente uma
caracterização alargada desta obra e a sua localização, constando o organograma funcional do
Anexo IX:
Quadro 3.2 - Caracterização do caso de estudo A
A- Edifício de escritórios “Báltico Office Center” Data de consignação Julho 2008 Prazo de execução 21 Meses Valor de contrato 25.059.659€ Nível de subcontratação ≈95% Tipo de contrato Preço Global Tipo de obra Edifício de escritórios (5 pisos enterrados, 16 pisos elevados) Tipo de cliente Privado Principais trabalhos Movimentação de terras, estrutura de betão em pórtico com pré-
esforço, instalações especiais de AVAC e domótica, acabamentos e compartimentação interior.
Área de implantação 2.494 m2 Área de estacionamento 16.495 m2 Área de escritórios 15.650 m2
Principais quantidades na construção
Movimentação de terras: 46.000 m3 Aço em armaduras: 2.600 ton Cofragem: 69.770 m2
Figura 3.2- Localização do caso de estudo A, via Google Earth
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
54
Além dos dados obtidos de acordo com a metodologia estipulada, a presença assídua do autor
nesta obra ao longo de cerca de seis meses levou a que fossem observadas detalhadamente as
rotinas dentro do escritório do empreiteiro geral, estudando-se os processos de controlo,
planeamento e gestão das subempreitadas. Esta experiência virá a ser utilizada na definição e
aperfeiçoamento do sistema proposto no capítulo seguinte.
3.4.2 CASOS DE ESTUDO “BI”
Os casos de estudo B1, B2, B3 e B4 constituem o conjunto de obras seleccionadas para serem
estudadas exclusivamente a partir de inquéritos. Segue-se nos quadros 3.3 a 3.6 uma breve
descrição das obras em causa e a sua localização, respectivamente nas figuras 3.3 a 3.6:
Quadro 3.3 - Caracterização do caso de estudo B1
B1- Torre Colombo Ocidente Prazo de execução 9 Meses Valor de contrato 6.060.000€ Nível de subcontratação ≈90% Tipo de cliente Privado
Principais trabalhos Construção da estrutura metálica, núcleo de betão armado e caixilharia nas fachadas.
Área de implantação 2.030m2
Figura 3.3 - Localização do caso de estudo B1, via Google Earth
Quadro 3.4 - Caracterização do caso de estudo B2
B2- Manutenção/expansão do Aeroporto de Lisboa Prazo de execução 12 Meses Valor de contrato 30.696.598€ Nível de subcontratação ≈90 % Tipo de cliente Privado Principais trabalhos Reabilitação e expansão de poço de combustível e mecânica
associada. Área de implantação 58.600m2
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
55
Figura 3.4 - Localização do caso de estudo B2, via Google Earth
Quadro 3.5 - Caracterização do caso de estudo B3
B3- Fundação Champalimaud “Center for the unknown” Prazo de execução 24 Meses Valor de contrato 77.500.000€ Nível de subcontratação ≈95% Tipo de cliente Privado
Principais trabalhos Construção da fundação por estacas, estrutura de betão armado, acabamentos e instalações especiais.
Área de implantação 38.000m2
Figura 3.5 - Localização do caso de estudo B3, via Google Earth
Quadro 3.6 - Caracterização do caso de estudo B4
B4- Novo Hospital de Loures Prazo de execução 30 Meses Valor de contrato 76.600.000€ Nível de subcontratação ≈95% Tipo de cliente Público-privado (PPP14)
Principais trabalhos
Estrutura de betão armado, acabamentos, redes de água e esgotos, instalações eléctricas, gás, AVAC, segurança e intrusão, equipamento de cozinha e hotelaria, instalações médicas específicas, sinalização, mobiliário, infra-estruturas e arranjos exteriores
Área de implantação 62.515m2
14 PPP (Parceria Público-Privada)
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
56
Figura 3.6 - Localização do caso de estudo B4, via Google Earth
3.5 ANÁLISE DO RESULTADO DOS INQUÉRITOS
3.5.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA INQUIRIDA
A amostra inquirida para esta investigação proveio dos casos de estudo já apresentados
anteriormente. Num total de trinta e sete inquiridos, obtiveram-se diferentes graus de
formação escolar/académica bem como diversas faixas etárias e anos de experiência na
indústria da construção, apresentando-se em seguida um resumo dos dados que se encontram
na totalidade no Anexo III:
▪ Faixa etária: maior parcela da amostra entre os 31 e os 40 anos (35%),
existindo 30% entre os 20 e os 30 anos.
▪ Formação: maioria dos inquiridos tem formação superior (54%), sendo que
24% do total possui um curso profissionalizante.
▪ Experiência profissional: maior parcela está na indústria da construção há
menos de 5 anos (35%), estando a faixa entre os 15-20 anos e mais de 20 anos
homogeneamente distribuída em intervalos da ordem de 15 % da amostra.
Neste estudo conseguiu-se obter uma amostra que contém a maioria dos intervenientes no
processo construtivo por parte do empreiteiro tendo-se obtido também uma pequena amostra
de directores de especialidade dos subempreiteiros, tal como consta do quadro 3.7:
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
57
Quadro 3.7 - Divisão a amostra inquirida por funções desempenhadas
Divisão da amostra por funções desempenhadas (nº/% de inquiridos)
Directores de obra15 (empreiteiro) 8 21,6% Engenheiros de frente/adjuntos 8 21,6% Encarregados/Encarregados Gerais 7 18,9% Preparadores 6 16,2% Medidores 3 8,1% Directores de especialidade (subempreiteiros) 3 8,1% Responsáveis de Q/S/A16 2 5,4% TOTAL DE INQUIRIDOS 37
À luz da teoria subjacente ao LPS, foi de grande importância inquirir não só os intervenientes
a um nível decisor estratégico dentro da obra, mas também a um nível táctico, como são
exemplo os encarregados do empreiteiro. O alargamento do inquérito aos subempreiteiros foi
também decidido dada a importância da sua intervenção dentro do LPS. Segundo Matthews
(2005) existe um grande potencial na possibilidade de fazer trabalhar o empreiteiro e
subempreiteiros como de uma só equipa se tratasse.
Já no segundo capítulo desta dissertação, em §2.6.1, tivera sido abordada a questão da
necessidade de existir uma colaboração efectiva entre participantes (Lichtig, 2005), sendo
assim clara a relevância da opinião dos subempreiteiros – deverão ser também eles Last
Planners.
3.5.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Nesta secção procura-se analisar os resultados obtidos estando dividida nos três grupos
constituintes do inquérito. Primeiramente a temática do planeamento e controlo, seguida das
causas de desperdício, gravidade e frequência do mesmo, terminando com a inovação na
construção e suas vicissitudes de introdução. É apresentada em seguida uma análise de
resultados resumida, estando os dados disponíveis na íntegra em anexo identificado em cada
uma das alíneas que se seguem.
15Por simplificação inclui-se um Director de Produção e um Director de Obra com funções de Director do agrupamento complementar de empresas (ACE)
16 (Qualidade/ Segurança/ Ambiente)
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
58
Para além da caracterização da amostra atrás apresentada acrescentam-se os seguintes dados
provenientes de uma análise dos inquéritos não directamente relacionada com a temática da
dissertação, mas que servem como complemento:
▪ 29,7 % dos inquiridos mostrou interesse em conhecer os resultados do
inquérito;
▪ 21,6 % dos inquiridos sugeriu uma opção no campo de resposta livre quando
existente;
▪ 71,0% das respostas foram na opção (4) ou (5).
▪ 79,0% dos inquéritos distribuídos foram devolvidos respondidos (informação
completa no Anexo IV).
3.5.2.1 Planeamento e Controlo
Nesta secção, e como referido atrás, abordam-se os temas de planeamento e controlo na
produção, estando os resultados completos dos inquéritos apresentados no Anexo V.
Questionados os inquiridos da parte do empreiteiro geral quanto à possibilidade de permitir a
intervenção activa dos subempreiteiros no planeamento da obra, a sua opinião foi algo
dispersa tendo-se obtido:
▪ 20% de opiniões desfavoráveis ▪ 52% de opiniões favoráveis
Ainda no que toca à interacção entre empreiteiro geral e subempreiteiros, foi possível sondar
os primeiros quanto à hipótese de haver um comprometimento sistemático dos segundos no
planeamento semanal de uma obra, tendo-se obtido 72% de respostas muito favoráveis por
parte do empreiteiro geral.
Por outro lado, 100% dos subempreiteiros questionados tem opinião favorável no que
concerne a uma participação activa no planeamento da obra e também quanto à possibilidade
de lhes ser requerido o fornecimento de um planeamento regularmente actualizado para as
suas actividades.
Quanto à gestão das subempreitadas, 65% dos inquiridos afirma que a falta de um
planeamento actualizado influencia muito a forma como são geridas as mesmas na
construção. Também no que concerne ao controlo da produção dos subempreiteiros se
obtiveram outros resultados:
▪ 97% Acreditam ser pelo menos significativamente importante conhecer o
desempenho dos subempreiteiros com dados regularmente actualizados;
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
59
▪ 91% Afirmam que a importância de ter um planeamento actualizado para resolver problemas na
compatibilização de especialidades é pelo menos significativa;
▪ 85% Declaram ser muito importante compatibilizar as especialidades no
espaço e no tempo;
▪ 65% Dizem que a falta de um planeamento actualizado influencia muito a
forma como são geridas as subempreitadas.
Abordou-se também a questão da necessidade de ter uma visão global do empreendimento
como forma de controlar o sistema de produção e gerir as subempreitadas, tendo-se apurado
que 97% dos inquiridos sentem que a falta de visão global da obra prejudica
significativamente o desenvolvimento do seu trabalho e que em 71% dos casos também
causa significativa dificuldade em gerir o planeamento.
Por fim acrescente-se que, em média, 27% dos inquiridos em cada obra tem uma noção errada
da periodicidade com que é actualizado o planeamento de trabalhos.
3.5.2.2 Desperdício na Produção
Nesta 2ª parte do inquérito pretendeu-se determinar que desperdícios mais afectam
actualmente a indústria nacional, bem como a sua frequência no quotidiano e os factores em
que estes se repercutem, estando a totalidade dos resultados no Anexo V. No quadro 3.8
apresenta-se um ranking dos desperdícios no que toca à sua frequência e importância, segundo
a opinião dos inquiridos:
Quadro 3.8 - Importância e frequência relativa dos desperdícios
Importância e frequência relativa dos desperdícios Mais
importante/ frequente
1º Falta de mão-de-obra existindo frente de trabalho 56% (i) 38% (f)
2º Correcção de erros de execução 56% (i) 18% (f)
3º Mão-de-obra à espera de material/equipamento de trabalho 50% (i) 18% (f)
…
Menos importante/
frequente
(n-2)º Mão-de-obra à espera de material/equipamento de trabalho 3% (i) 41% (f)
(n-1)º Transporte/movimento desnecessário de materiais 18% (i) 56% (f)
nº Aprovisionamento desnecessário de materiais 24% (i) 76% (f)
Obs.:
▪ Percentagens para casos mais e menos importantes, respectivamente nas respostas “muito importante” e “indiferente”
▪ Percentagens para frequências mais comuns e mais raras, respectivamente nas respostas “frequentemente” e “raramente”
▪ (i)= importância ; (f)= frequência
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
60
Note-se que existe uma sobreposição no 3º e no (n-2)º lugar tanto no que toca à frequência
como à importância dos desperdícios. Esta sucede já que foram previstos 6 tipos diferentes de
desperdício no inquérito, chegando-se a uma sobreposição devido à escassez de respostas na
opção de resposta aberta tendo-se na prática apenas 5 opções. No caso da importância, o
valor do desperdício “Mão-de-obra à espera de material/equipamento de trabalho” é de 3% para a
opinião “indiferente” perante 50% na opinião “muito importante”, devendo-se por isso valorizar a
segunda em detrimento da primeira opção referida. Quanto ao caso da frequência, os valores
não são tão expressivos, devendo-se, porém, seguir um raciocínio análogo.
Atendendo à comum definição de risco, pode-se obter uma estimativa de valores de risco de
desperdício, entendendo os valores de frequência como probabilidades e os valores de
importância como se de gravidade se tratassem. Obtém-se assim também a mesma ordenação
dos tipos de desperdício quando analisado o risco da sua ocorrência.
Quanto às razões apontadas para a existência dos vários tipos de desperdício obtiveram-se os
seguintes resultados:
■ 91% Alterações de projecto;
■ 79% Incompatibilidade entre projectos;
■ 50% Erros na execução.
Tendo-se como principal reflexo do desperdício no sistema de produção os seguintes factores,
subentendendo-se custo, como um custo financeiro:
■ 97% Custos;
■ 71% Prazos;
■ 38% Qualidade.
Um dos conceitos principais associados à filosofia de produção Lean e concretamente ao LPS
é o de fluxo de produção, como descrito no segundo capítulo deste documento. Questionados
acerca da importância da existência deste, 68% dos inquiridos revelou considerar a sua
existência muito importante em obra.
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
61
3.5.2.3 Inovação na Construção
Nesta 3ª parte do inquérito pretendeu-se avaliar a qual a atitude dos inquiridos quando
confrontados com questões relativas à inovação na indústria em que trabalham. Quando
sondadas acerca da importância de introduzir processos inovadores na gestão da construção,
68% dos inquiridos admite ser importante e 32% muito importante.
Respondida a questão acerca da importância de inovar, os inquiridos mostraram que os três
factores mais promissores para a melhoria na gestão da construção (e respectivas percentagens
de resposta) serão:
■ 74% Comunicação entre empreiteiro geral e dono de obra;
■ 65% Comunicação entre empreiteiro geral e subempreiteiros;
■ 54% Inovação na preparação dos trabalhos.
Questionada acerca do conhecimento da filosofia Lean de produção que serve de base à
investigação nesta dissertação, a amostra mostrou uma dispersão de resultados significativa:
■ 41% Nunca ouviu falar;
■ 35% Conhece pouco e não domina;
■ 21% Conhece os princípios básicos;
■ 3% Conhece bem.
Não existindo ninguém que conhecesse bem e soubesse aplicar metodologias ou sistemas Lean
nas suas funções. É de salientar a diferença para os resultados de Marques (2007) em que 83%
dos 16 inquiridos mostrava absoluto desconhecimento desta filosofia de produção. A
existência de acções de formação para os seus funcionários na empresa em estudo nesta
dissertação explica em parte este resultado. Já na pequena amostra de directores de obra da
parte dos subempreiteiros o resultado foi de 66% de inquiridos a desconhecer este tema por
completo.
Por fim tentou-se perceber quais as razões que podem justificar possíveis dificuldades em
implementar soluções inovadoras especificamente na indústria da construção, tendo-se obtido
o ranking de respostas apresentado na figura 3.7:
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
62
1º Sector tradicionalista, naturalmente muito resistente
à mudança 68%
2º Grande imprevisibilidade na construção, o que
dificulta a sistematização de procedimentos 41%
3º Falta de formação nas
tecnologias de informação
35%
4º Risco da actividade não comporta possíveis
consequências nefastas da inovação 29%
5º Falta de investigação que demonstre onde é
necessário intervir 29%
Figura 3.7 - Lista ordenada de factores condicionantes para a inovação na construção
3.5.3 COMPARAÇÃO COM ESTUDOS ANTERIORES
A aplicação da filosofia Lean à construção tem vindo a ser difundida pelo globo, como visto
no capítulo anterior, existindo dados acerca de casos no estrangeiro. Contudo, em Portugal, a
experiência no Lean está ainda relativamente inexplorada. Assim, as particularidades culturais
nesta indústria levam a que seja importante obter o máximo de dados acerca desta temática
junto da indústria nacional. Todavia, neste tipo de estudo a recolha de um número de
respostas representativo é um factor crítico. Ir-se-á então aproveitar uma linha de investigação
do Instituto Superior Técnico, baseada em dissertações de mestrado anteriores, na qual este
documento se insere, que permitirá generalizar algumas conclusões e elaborar uma análise
comparativa.
Para tal, além dos dados obtidos com esta investigação, foram utilizados dados de três
dissertações de mestrado: Gonçalves (2009), Peneirol (2007) e Marques (2007) num total de 15
casos de estudo e 101 inquiridos, um número de uma ordem de grandeza superior ao habitual
neste tipo de trabalhos académicos. No quadro 3.9 apresenta-se detalhadamente a dimensão
da amostra conseguida com esta abordagem, constando a totalidade dos dados do Anexo VII:
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
63
Quadro 3.9 - Dimensão da amostra alargada
Casos de estudo
Nº de inquiridos por caso de
estudo
Nº de inquiridos por autor
Marques (2007)
CE1 8
16 CE2 3
CE3 5
Peneirol (2007)
CE1 11 11
Gonçalves (2009)
CE1 8
37
CE2 10
CE3 4
CE4 5
CE5 4
CE6 6
Presente dissertação
CE1 (A) 16
37
CE2 (B1) 9
CE3 (B2) 1
CE4 (B3) 10
CE5 (B4) 1
TOTAL DE INQUIRIDOS 101
3.5.3.1 Caracterização da amostra
Tal como na amostra recolhida e descrita em §3.5.1 também esta contém a maioria dos
intervenientes no processo construtivo para que seja representativa, se possa efectuar uma
comparação entre estes e também uma generalização de possíveis conclusões. Apresenta-se
em seguida no quadro 3.10 a divisão da amostra por funções desempenhadas em obra:
Quadro 3.10 - Divisão da amostra alargada por funções desempenhadas
Divisão da amostra alargada por funções desempenhadas (nº/% de inquiridos)
Engenheiros de frente/adjuntos 27 26,7%
Directores de obra (empreiteiro) 18 17,8% Preparadores 16 15,8% Encarregados/Encarregados Gerais 14 13,9% Responsáveis de Q/S/A 9 8,9% Directores de especialidade (subempreiteiros) 7 6,9% Medidores 5 5,0% Administrativos 5 5,0% TOTAL DE INQUIRIDOS 101
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
64
3.5.3.2 Planeamento
Foram analisadas três questões relativas ao planeamento na construção, sendo uma delas
comum a todos os trabalhos e as restantes duas comuns a pelo menos dois trabalhos.
Abordou-se a questão da importância, satisfação e retorno de informação no que toca ao
planeamento, tendo-se obtido os resultados apresentados no quadro 3.11:
Quadro 3.11 - Importância e satisfação com eficácia e informação sobre o planeamento
Presente dissertação
Gonçalves (2009) Peneirol (2007) Marques (2007)
Importância do planeamento para o processo produtivo
Muito importante Muito importante Muito importante Muito importante
62% 89% 64% 73%
Satisfação com a eficácia do planeamento elaborado
Pouco satisfeito - Pouco satisfeito Pouco satisfeito
26% - 50% 44%
Satisfação com o retorno de informação sobre o planeamento
- - Satisfeito Satisfeito
- - 60% 62%
Comparativamente com estudos anteriores apenas se identifica uma ligeira discrepância no
que toca à satisfação com a eficácia do planeamento, sendo cerca de 20-25% menor no caso
desta investigação.
3.5.3.3 Desperdício
Para a compilação e comparação de dados dos inquéritos de todas as investigações citadas,
elaborou-se uma lista ordenada de tipos e causas de desperdício mais relevantes em cada caso,
apresentada no quadro 3.12. Devido a ligeiras diferenças na estrutura do inquérito os valores
obtidos não têm exactamente a mesma forma, sendo no entanto comparáveis.
Quadro 3.12 - Comparação de tipos e causas de desperdício
Presente dissertação
Gonçalves (2009) Peneirol (2007) Marques (2007)
Tipos de desperdício considerados muito importantes
Erros de execução Trabalho à espera de
mão-de-obra Trabalho à espera de
mão-de-obra
Mão-de-obra à espera de
material/equipamento
56% 100% 80% 72%
Falta de mão-de-obra existindo frente de
trabalho
Mão-de-obra à espera de
material/equipamento
Mão-de-obra à espera de
material/equipamento Erros de execução
56% 90% 80% 65%
Causas de desperdício consideradas importantes ou muito importantes
Alterações de projecto Alterações de projecto Alterações de projecto Alterações de projecto
91% 32% / 46% 64% / 36% 37% / 60 %
Incompatibilidade entre projectos
Deficiente preparação dos trabalhos
Falhas de comunicação interna
Erros de planeamento/execução
79% 45% / 45% 55% / 36% 20% / 56%
Erros na execução Erros de execução Deficiente preparação dos trabalhos a iniciar
Falhas de comunicação interna/externa
50% 44% / 45% 73% / 18% 35% / 52%
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
65
Além dos tipos e causas revelou-se importante analisar os factores em que o referido
desperdício que reflecte dentro do sistema de produção, apurando-se também qual o conceito
de projecto bem sucedido no entendimento dos intervenientes inquiridos, como consta do
quadro 3.13:
Quadro 3.13 - Comparação de factores de impacto e sucesso
Presente dissertação
Gonçalves (2009) Peneirol (2007) Marques (2007)
Factores nos quais se reflecte muito o impacto dos desperdícios na produção
Custos Custos Custos Prazos
97% 73% 70% 80%
Prazos Prazos Prazos Custos
71% 45% 65% 75%
Qualidade Satisfação do cliente Qualidade Satisfação do cliente
38% 30% 50% 40%
Factores caracterizadores de um projecto muito bem sucedido
Satisfação do Cliente Prazos Custos Prazos
85% 80% 94% 90%
Prazos Satisfação do cliente Prazos Custos
71% 78% 94% 85%
Custos Custos Qualidade Satisfação do cliente
68% 75% 86% 70%
3.6 ANÁLISE DE PROCESSOS: CASO DE ESTUDO A
Nesta secção proceder-se-á a uma análise de processos no que toca ao planeamento de
trabalhos e também a nível do controlo de produção utilizando-se o caso de estudo A.
Pretende-se com esta análise identificar oportunidades de melhoria a partir de indicadores
numéricos (apresentados mais à frente) bem como fontes de desperdício identificáveis por
análise de causas de insucesso do planeamento. Esta análise é feita a partir de medições e
verificações semanais em obra ao longo de 5 semanas, sendo referentes a todos os trabalhos
em curso. Acrescente-se que estes trabalhos eram responsabilidade de um único
subempreiteiro que por sua vez mantinha um planeamento detalhado e actualizado com uma
periodicidade aproximadamente mensal.
3.6.1 PROCESSOS DE PLANEAMENTO DE TRABALHOS
3.6.1.1 Identificação de desperdício
Apresenta-se em seguida na figura 3.8 uma análise da evolução no tempo de causas de
insucesso do planeamento no caso de estudo A. Entende-se como sendo reflexo do insucesso
do planeamento, as actividades que planeadas num plano de médio prazo17, não chegaram à
17 Este plano de médio prazo corresponde em forma e conteúdo aos planos de antevisão descritos no segundo capítulo desta dissertação, tendo sido executado num horizonte de 4 semanas e com uma actualização semanal,
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
66
produção, isto é, tiveram constrangimentos de um ou vários tipos que impediram a sua
passagem a um plano semanal de execução. Resumiram-se as causas de insucesso a sete tipos
diferentes, seguindo-se a sua descrição:
▪ Actividades precedentes: actividade precedente não terminada à data de início da
semana planeada;
▪ Materiais: falha pontual ou continuada no aprovisionamento de materiais;
▪ Mão-de-obra: inexistência ou indisponibilidade da mão-de-obra necessária;
▪ Equipamento: inexistência ou indisponibilidade do equipamento necessário;
▪ Projecto: indefinições de projecto ou indisponibilidade de elementos desenhados;
▪ Espaço: indisponibilidade do espaço destinado aos trabalhos;
▪ Condicionalismos externos: todas as outras razões não enquadráveis nos tipos
atrás enunciados.
Figura 3.8 - Causas de insucesso do planeamento
3.6.1.2 Oportunidades de melhoria
Além do levantamento das causas de insucesso do planeamento foram também monitorizados
alguns indicadores relacionados com a execução dos trabalhos, como é exemplo o PPC, já
dado que se tratara de um método de diagnóstico. A escolha de 4 semanas para horizonte de planeamento deve-se ao facto de que desta forma se conseguiu ter uma visão global do planeamento satisfatória.
6 7 8 9 10
Act. precedentes 52,9 37,5 10,0 23,1 10,0
Materiais 5,9 0,0 10,0 19,2 10,0
Mão-de-obra 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Equipamento 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Projecto 35,3 50,0 80,0 38,5 70,0
Espaço 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
Cond. Externos 5,9 12,5 0,0 19,2 10,0
0,0
20,0
40,0
60,0
80,0
100,0
Causas de insucesso do planeamento (%)
Semana
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
67
apresentado no capítulo anterior e que, simplificadamente, pretende medir a fiabilidade do
planeamento executado, estando os valores medidos na sua totalidade no Anexo VIII (bem
como dos outros indicadores utilizados) e a evolução semanal do mesmo apresentada na
figura 3.9:
(2)
Figura 3.9 - Monitorização do indicador PPC
Foi também utilizado um indicador de controlo do PPC, cuja evolução está representada na
figura 3.10, com o propósito de averiguar se não existiria um valor inflacionado desse
indicador devido a um planeamento de actividades com pequena duração levando a valores
mais elevados do que no caso de uma só actividade de maior duração, já que esta, não
terminando a tempo, levaria a um valor nulo ao contrário do primeiro caso em que se iria
acumulando PPC ao longo da semana. Esta análise virá a revelar maior utilidade aquando da
hipótese de comparação de valores entre subempreiteiros no capítulo seguinte desta
dissertação.
(3)
Figura 3.10 - Monitorização do indicador PPCr
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
68
Por último, apresenta-se o indicador PWR18 na figura 3.11, estudado originalmente por
Mitropoulos (2005) pretendendo-se com este medir a percentagem de pré-requisitos
resolvidos num plano de médio prazo19, para que as actividades possam passar a um plano
semanal de execução. Simplificadamente, este indicador mede a capacidade de serem
resolvidas as causas que levam ao insucesso do planeamento e que foram apresentadas atrás.
Os valores absolutos destas medições constam do Anexo VIII.
(4)
Figura 3.11 - Monitorização do indicador PWR
3.6.2 PROCESSOS DE CONTROLO DE PRODUÇÃO
Nesta secção são apresentados os resultados obtidos no caso de estudo já referido, mas no
que concerne ao controlo de produção, sendo identificadas oportunidades de melhoria a partir
da monitorização de um indicador ao longo do tempo, como se apresenta em seguida. Este
indicador, o Índice de Produtividade (IP), baseia-se na verificação semanal do quão avançados
ficaram os trabalhos em cada actividade, ao fim de uma semana, baseando-se na produtividade
planeada para cada um deles. A sua evolução é representada na figura 3.12.
Note-se que o indicador PPC é uma simplificação do IP, sendo igual ao IP quando este é
unitário e igual a zero quando o IP é inferior à unidade, apesar do significado de cada um ser
bem distinto.
18 Planned Work Ready – Trabalho planeado pronto, por tradução livre. Mantém-se neste documento a designação em língua inglesa para que seja identificável pela sua designação original.
19 Num sistema LPS corresponde, em forma, a um plano de antevisão.
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
69
(5)
Figura 3.12 - Monitorização do indicador IP
3.6.3 REUNIÕES DE PLANEAMENTO E CONTROLO
Além da análise numérica já apresentada, foram analisados procedimentos internos no
escritório de obra, com vista à identificação de oportunidades de melhoria nos processos de
planeamento e controlo. O desenvolvimento destes era sistematicamente elaborado em
reuniões semanais com a seguinte estrutura:
3.6.3.1 Participantes
Como participantes regulares encontravam-se o Director de obra (empreiteiro geral), Adjunto
do Director de obra, Encarregado Geral (empreiteiro) e Director de Especialidade
(subempreiteiro). Como participantes esporádicos tinham-se a Preparadora (empreiteiro geral)
e Encarregados do empreiteiro geral e subempreiteiro.
▪ Desperdício: Ao longo da reunião os participantes intervinham sequencialmente na
discussão. Desta forma a sua presença era desnecessária numa grande parte da reunião,
dado que raramente era elaborada uma análise das situações em conjunto.
▪ Oportunidades de melhoria: Ao existirem em média quatro reuniões semanais, e
considerando contactos telefónicos e via e-mail com fornecedores, o número de
pessoas com quem o Director de obra contactava semanalmente em reuniões
facilmente ascendia a três dezenas.
3.6.3.2 Âmbito e acesso à informação
Ao longo da reunião era feita uma análise de mão-de-obra, condições de segurança nos
trabalhos, levantamento dos trabalhos executados, calendarização de actividades, desvios e
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
70
problemas na execução dos trabalhos bem como o levantamento de actividades a executar
pela equipa de preparação. Periodicamente era organizada uma visita conjunta à obra com
todos os participantes das reuniões para controlo das actividades e sondagem de possíveis
incompatibilidades. A informação disponibilizada pelo empreiteiro geral e subempreiteiros nas
reuniões era baseada em papel, independentemente da sua origem ter sido electrónica e
tipicamente disponibilizada apenas nas reuniões.
▪ Desperdício: Grande parte da reunião era ocupada com descrição e recolha de
informação e não na discussão de problemas ou hipóteses de planeamento.
O facto de se inquirir cada subempreiteiro individualmente com o apoio de
documentos impressos levava a que outros subempreiteiros não pudessem
acompanhar a reunião, ficando por analisar relações críticas na informação que
pudessem ser identificada por estes. A informação recolhida e criada ao longo da
reunião era registada numa acta organizada em diversos pontos. A calendarização de
actividades, registada por texto e não em qualquer forma esquemática ou gráfica,
levava a que a que a leitura e visão global do planeamento seja dificultada.
▪ Oportunidade de melhoria: Parte da informação recolhida durante as reuniões
poderia ser fornecida ao empreiteiro geral ao longo da semana, logo que disponível,
como é o caso das incompatibilidades e progresso nas actividades dos subempreiteiros.
A informação utilizada, com origem electrónica ou não, originava muita documentação
em papel que promovia a entropia na sala de reuniões, tornando a informação de
difícil acesso.
3.6.3.3 Duração
As reuniões com subempreiteiros duravam tipicamente entre duas até seis horas. Ao longo
destas nem todos os presentes intervinham, sendo sequencialmente abordados todos os
subempreiteiros existentes. As visitas à obra tinham uma duração semelhante às reuniões
sendo normalmente executadas no período da tarde.
▪ Desperdício: Grande parte do tempo dispendido nas reuniões era utilizada para
actividades relacionadas com a partilha de informação, quer para planeamento, quer
para controlo, que poderia ser feita ao longo da semana sem necessidade das reuniões,
diminuindo a sua duração e libertando disponibilidade para discussão de hipóteses de
planeamento, por exemplo.
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
71
3.7 CONCLUSÕES
A iniciativa de recolher informação acerca da visão de quem trabalha na indústria da
construção, a partir de inquéritos, foi consideravelmente bem sucedida dado o interesse
manifestado pelos inquiridos na resposta, bem como na dimensão e composição da amostra,
ligeiramente superior à média deste tipo de trabalhos e contendo os intervenientes mais
importantes para o tema em questão.
A amostra de casos de estudo confirmou uma realidade já dificilmente questionável na
construção: a produção baseada em subempreitadas. A semelhança entre as diversas obras
contribui para solidificar conclusões, não permitindo, no entanto, generalização para outro
tipo de construção.
Quanto à possibilidade de se ter numa obra um funcionamento em equipa entre empreiteiro
geral e subempreiteiros, a opinião dos segundos é claramente mais favorável que a dos
primeiros, indicando a existência de uma oportunidade para melhorar. Contudo, esta
possibilidade deve ser estudada tendo em conta as responsabilidades directas que o
empreiteiro geral tem perante o dono de obra e o subempreiteiro não tem.
O controlo e monitorização das subempreitadas mostraram-se como áreas de grande interesse
para o empreiteiro geral, estando interessado em conhecer dados actualizados para resolução
de problemas em obra. Por sua vez os subempreiteiros mostraram-se disponíveis para um
comprometimento sistemático no que toca a planeamento, sendo esta outra oportunidade de
melhoria apoiada por Sacks (2006) ao afirmar que a livre circulação de informação e partilha
de poder de decisão levam a um incremento da motivação dos subempreiteiros e
consequentemente melhoria de produtividade.
Também a gestão e compatibilização das diferentes subempreitadas foi um assunto em que o
empreiteiro geral se mostrou preocupado, acusando a falta de meios para a resolução de
problemas e a gravidade destes quando existentes. Posto isto identificou-se uma falha a nível
de sistema de controlo de produção.
Quanto ao desperdício na construção, de acordo com a amostra inquirida, concluiu-se que os
tipos de desperdício que apresentam maior risco são a falta de mão-de-obra existindo frente
de trabalho e a correcção de erros de execução. Por outro lado, raramente sucede um
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
72
aprovisionamento desnecessário de materiais, bem como o seu transporte ou movimentação
desnecessários.
Como razões para a existência de desperdícios apontam-se as alterações de projecto, a
incompatibilidade entre projectos e erros na execução, com ênfase nos dois primeiros. As
consequências destes desperdícios revelam-se essencialmente em custos e prazos, havendo
também repercussões a nível da qualidade.
Note-se que ao longo dos inquéritos se notou uma maior frequência de respostas na existência
de determinados factores, sendo raramente declaradas falhas ou inexistências, algo que leva a
concluir que existe desconhecimento de algumas necessidades por parte do empreiteiro geral.
A inovação na construção é tida como importante pelo empreiteiro geral, apontando como
oportunidades do seu desenvolvimento a comunicação entre os vários intervenientes no
mundo da construção, seguindo-se a inovação na preparação dos trabalhos. Note-se que
ambas as oportunidades referidas constam dos princípios da filosofia Lean e da metodologia
LPS, respectivamente. Por sua vez, esta filosofia tem vindo a ter divulgação não desprezável
ao se ter menos de metade dos inquiridos a desconhece-la na totalidade.
Finalmente, como factores condicionantes à introdução de inovação na indústria, foi apontado
o tradicionalismo do sector, a imprevisibilidade na produção e também a falta de investigação.
A primeira causa referida, de ordem cultural é de resolução não trivial, embora, se resolvida,
abra caminho à entrada da filosofia Lean, que por sua vez assenta numa mudança de
mentalidade. Quanto à imprevisibilidade na construção, há que referir que a utilização de
sistemas tipicamente ágeis, como o LPS, pode contribuir para a resolução deste entrave.
A falta de investigação é um problema para o qual este e outros trabalhos académicos
pretendem contribuir na sua resolução, estando também as próprias empresas a apostar
internamente em investigação. Por fim acrescente-se que a amostra se revelou relativamente
jovem, havendo por isso potencial para mudar mentalidade e implementar inovação nos
processos
Utilizando a amostra alargada proveniente de trabalhos anteriores é possível afirmar que a
opinião é consensual no que toca à importância do planeamento, bem como à relativa
insatisfação com a sua eficácia e respectivo retorno de informação, dificultando a
aprendizagem dos intervenientes no que toca a este assunto.
CAPÍTULO 3-ESTUDO DE CASOS
73
Quanto aos tipos de desperdício mais importantes, a mão-de-obra é um factor constante,
acompanhado de longe pelos erros de execução. Como causas de desperdício têm-se
principalmente as alterações de projecto seguidas de outras relacionadas com comunicação
interna e preparação de trabalhos. Já Ballard (2000) e Formoso (2009), entre outros estudos
académicos, identificaram claramente as questões relacionadas com o projecto como sendo a
principal fonte de desperdício.
Observando esta amostra alargada, e ponderando os resultados relativamente às dimensões de
cada amostra que a compõe, concluí-se que o principal reflexo do desperdício, segundo o
conceito Lean, são os custos, seguidos de perto pelos prazos. À satisfação do cliente, conceito
importante para a filosofia Lean, não é dada grande relevância no que toca ao impacto do
desperdício, embora se tenha vindo a ganhar consciência da sua importância para um
empreendimento muito bem sucedido ao longo dos anos, chegando a ser o principal factor no
estudo realizado para esta dissertação.
Quanto à análise de processos foi possível concluir que as principais causas de insucesso do
planeamento se centram na existência de indefinições de projecto e actividades precedentes a
condicionar as planeadas. Atente-se também no facto de existir uma série de outros factores
com pouca expressividade, mas que podem tomar proporções importantes rapidamente.
Quanto aos valores de fiabilidade do planeamento, medidos pelo indicador PPC, revelaram-se
acima da média, dado que se deveriam encontrar na ordem dos 30% (Ballard, 2000), mas
existindo oportunidade e melhoria se introduzidos sistemas como o Last Planner, atingindo-se
valores na ordem dos 60-80%. Note-se que a existência e actualização de um planeamento
actualizado não bastou para que existisse um controlo efectivo por parte do empreiteiro sobre
o seu subempreiteiro, como mostra o relativo insucesso no resultado do PPC.
Atendendo ao quadro 3.14 pode-se observar que os valores de PPC não foram inflacionados
pela motivo descrito atrás, obtendo-se um PPCr em concordância, na maioria das semanas.
Refira-se que o pequeno desfasamento existente se pode dever a actividades mal divididas,
questão abordada pela metodologia LPS em §2.6.2. Por outro lado, o índice de produtividade
teve um desfasamento do PPC muito considerável. Esta observação era esperada dada a
diferença de significado destes dois indicadores. Já Peneirol (2007) tinha identificado o
entendimento do PPC como se de uma medida de desempenho da produtividade se tratasse
como um erro cometido frequentemente. Mostra-se assim mais uma vez que não devem ser
confundidos estes conceitos.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
74
Quadro 3.14 - Variação e comparação de indicadores
Indicador de desempenho
Valor médio (%)
Variação em relação ao PPC (%) Desvio Padrão
(%) Semana 6
Semana 7
Semana 8
Semana 9
Semana 10
PPC 51,4 - - - - - -
PPCr 52,4 42,0 -8,0 -6,8 -3,9 -11,3 22,3
IP 51,8 -48,0 28,0 56,8 -7,8 -14,5 40,5
Já a capacidade de resolver problemas num plano a médio prazo para que as actividades
possam efectivamente seguir para produção está a um nível baixo, conseguindo-se apenas
resolver aproximadamente metade dos problemas em cada semana, segundo o indicador
PWR, devendo este ser um ponto de melhoria. No capítulo seguinte desta dissertação serão
apresentadas soluções para vários destes problemas, baseando-se em conceitos Lean e na
metodologia de controlo de produção LPS.
Por fim foi possível concluir que as reuniões em obra para planeamento e controlo dos
trabalhos apresentam desperdício especialmente associado aos fluxos e análise de informação.
A sua disponibilização tardia, desorganizada ou demasiadamente concentrada prejudica a
produtividade da equipa de produção afastando-a de tarefas como a discussão de hipóteses de
planeamento e análise de relações críticas entre informações. Também as visitas à obra para
controlo e averiguação de pré-requisitos e incompatibilidades revelaram oportunidades de
melhoria em factores semelhantes aos indicados para as reuniões no escritório de obra.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
76
4.1 INTRODUÇÃO
O sistema colaborativo proposto nesta dissertação pretende constituir uma ferramenta para o
controlo de produção e gestão de empreitadas em empreendimentos de construção. Existe
uma lacuna no que toca à existência de uma teoria consensual para a gestão da construção
(Koskela, 1992) contribuindo a Lean Construction e seu desenvolvimento no meio científico
para a sua redução. Também a definição de valor enferma do mesmo problema na sua
vertente de valor interno (Rooke et al., 2010) que quando vocacionado para os processos é de
total interesse para uma empresa de construção, âmbito desta dissertação. Concretamente na
indústria da construção é notória a falta de uma forma sistematizada de abordar temáticas
como a monitorização de desempenho (Nudurupati et al., 2007 e Cokins, 2006) sendo
também um tema muito pouco investigado (Nudurupati et al., 2007). Este modelo pretende
contribuir também para colmatar as lacunas de conhecimento atrás referidas.
O sistema apresentado, cuja arquitectura é apresentada neste capítulo, está vocacionado para
as empresas de construção de grande dimensão, tendo como génese a definição de
oportunidades de melhoria e identificação de fontes de desperdício apresentadas no terceiro
capítulo, bem como problemas que afectam toda a indústria da construção genericamente. A
concepção do sistema baseou-se no sistema de controlo de produção Last Planner e no
conceito de Sistema de Monitorização de Desempenho20 (SMD) conforme representado na
figura 4.1:
Figura 4.1 - Condições iniciais para definição do sistema
20 Performance Measurement Systems (PMS) na designação em língua inglesa.
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
77
O estudo de casos nesta dissertação conteve não só a recolha e análise de dados, mas também
uma componente de observação da equipa de trabalho do empreiteiro geral, sendo assim
possível conhecer o funcionamento de um escritório de obra, como descrito no terceiro
capítulo. Esta experiência contribuiu para definição do sistema proposto, revestindo-o de um
cariz pragmático perante a realidade do quotidiano num empreendimento de construção.
Ao longo da definição do modelo proposto foram utilizados conceitos provenientes de outras
indústrias, nomeadamente da manufacturação, como se mostrará mais adiante. É não só pelo
facto deste sistema conter e utilizar o LPS mas também pela iniciativa de transpor
conhecimento e metodologias já testadas noutras indústrias para a da construção que se afirma
como contendo uma abordagem Lean do tema. Note-se que, tal como explicado no segundo
capítulo deste documento, a origem da Lean Construction teve como base um raciocínio análogo
por parte de Lauri Koskela na década de 1990. O pensamento Lean está também presente ao
ser evitado o desperdício do conhecimento gerado aproveitando-se de forma optimizada
todos os dados recolhidos, para a manutenção do sistema.
Propõe-se também uma alternativa ao conhecido conceito de “iron triangle”21, como contendo
os principais factores relevantes numa avaliação de desempenho de um empreendimento de
construção. O SMD sugerido assenta em indicadores de desempenho criados a partir de
conceitos relacionados com o LPS, como se verá à frente neste capítulo, não sendo a sua
utilização na indústria do conhecimento público nem o seu estudo conhecido a nível da
comunidade científica.
4.2 OBJECTIVOS DO SISTEMA
Para o desenvolvimento do sistema de controlo de produção e gestão de empreitadas
proposto nesta dissertação, foram definidos objectivos tendo em conta a resolução dos
problemas mencionados atrás e também das necessidades reveladas pelos inquiridos aquando
do estudo de casos. Os objectivos para o sistema foram divididos em objectivos genéricos e
particulares, correspondendo os genéricos à totalidade do sistema e os particulares
especificamente às duas partes que o compõem e que serão apresentadas mais à frente.
21 O iron triangle é constituído pelos Custos, Prazos e Qualidade.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
78
4.2.1 OBJECTIVOS GENÉRICOS
Como objectivos que serão tidos em vista ao longo de todo o sistema de forma transversal,
ter-se-á a resolução dos problemas identificados que afectam globalmente a indústria da
construção, como é o desperdício na produção e a gestão das empreitadas. Atende-se com este
objectivo à resolução dos problemas relacionados com a entropia normalmente associada a
esses processos. A procura pela solução destes problemas leva à introdução de soluções Lean
comuns a todo o sistema, que por sua vez introduzem os seguintes objectivos:
▪ Obter valor para o empreiteiro geral a partir da obtenção de um fluxo contínuo
de produção, com espectável incremento da produtividade;
▪ Controlar as equipas de produção através da qualidade dos planos e
comprometimento;
▪ Controlar o fluxo de produção por análise sistemática dos constrangimentos e
gestão da capacidade produtiva;
▪ Contribuir para uma melhoria na gestão do conhecimento dentro de obra,
privilegiando a aprendizagem em todos os processos.
4.2.2 OBJECTIVOS PARTICULARES
Atendendo à especificidade dos problemas detectados, mostra-se necessário definir objectivos
detalhados, para obter uma solução particular. Desta forma os objectivos traçados para a
primeira parte do sistema, denominada mais à frente como Módulo 1, serão:
▪ Organizar um sistema fácil de manter do ponto de vista dos recursos
necessários e que contenha dados actualizados em tempo real;
▪ Obter dados actualizados sobre o desempenho e os problemas que afectam as
actividades dos subempreiteiros, bem como do empreendimento de uma forma
global;
O sistema é também composto por um segundo módulo, cujas características e funções serão
apresentadas em detalhe mais à frente neste documento. Seguem-se os objectivos propostos
para o desenvolvimento dessa parte do sistema:
▪ Melhorar o fluxo de informação dentro da obra no que diz respeito à
preparação dos trabalhos, segundo o LPS;
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
79
▪ Dinamizar e simplificar o processo de compatibilização das subempreitadas no
que concerne à resolução de problemas relacionados com o planeamento e
execução de trabalhos, segundo o LPS.
4.3 BASE TEÓRICA DO SISTEMA
A base teórica deste sistema é composta por três elementos distintos, nomeadamente um
sistema de controlo de produção, o Last Planner System, originalmente apresentado por Ballard
(2000) e pelos conceitos de “controlo” e “monitorização”. No desenvolvimento do sistema
estes três elementos surgem sempre conjugados, sendo explicada ao longo do texto a forma
como interagem.
4.3.1 INTEGRAÇÃO NO LPS
Dentro do sistema LPS destacam-se dois conceitos essenciais à definição deste sistema: o
conceito de produção protegida22 e a aprendizagem por análise das causas de insucesso da
produção. Ambos os conceitos serão explorados de forma sistemática na vertente da
resolução de pré-requisitos e na perspectiva de identificação de causas de insucesso do
planeamento e da execução dos trabalhos. Na figura 4.2 ilustra-se como este sistema, nos seus
dois módulos, se integra de forma global no sistema de planeamento do LPS:
Figura 4.2 - Inclusão do sistema no LPS
22 Vide conceito de “shielded production”.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
80
Tendo em consideração a figura 4.2, pode-se afirmar que o Módulo 1 é, dentro da lógica do
LPS, preferencialmente vocacionado para os processos de replaneamento e aprendizagem e o
Módulo 2 para o desenvolvimento activo dos planos de antevisão e consequente passagem aos
planos de execução semanais. Todos estes procedimentos serão detalhadamente descritos e
justificados nas próximas secções, apresentando-se também a correspondência entre os
objectivos do sistema e respectivos meios de concretização.
Há a destacar que ao longo de todo o sistema são utilizadas soluções de Gestão Visual,
potenciadora dos conceitos base, bem como se irá recorrer numa ao conceito de benchmarking,
um dos princípios da Lean Construction segundo Koskela (1992).
Por fim, no último segmento do sistema proposto neste trabalho, utilizou-se também, mas
não só, o conceito de Processamento de Actividades Simples23 (PAS), com a finalidade
desenvolver um método de controlo do progresso dos trabalhos em curso num
empreendimento, por intermédio de prazos.
4.3.2 MONITORIZAÇÃO DA PRODUÇÃO
Os conceitos de “controlo” e “monitorização” fundamentam a utilização de indicadores de
desempenho relacionados com o sistema LPS, que, juntamente com a análise de causas de
insucesso já referida, dão origem a um conjunto de informações direccionadas para gestão das
subempreitadas e do empreendimento numa perspectiva global.
O sistema, na sua vertente de monitorização da produção, baseia-se num conceito já utilizado
com sucesso noutras indústrias, o de Sistema de Monitorização de Desempenho (Nudurupati,
2007). Dentro do modelo de monitorização da produção, serão utilizados indicadores que
pretendem representar numericamente o desempenho de um determinado processo, sendo
por esse motivo considerados indicadores de desempenho24. Num dos casos, a introdução de
um indicador que avalia a capacidade do empreiteiro geral interagir com os subempreiteiros (o
PWR, já apresentado no capítulo 3) chega a conter influência do conceito de Indicador de
Desempenho de Parceria25 (IDP) (Yeung, 2009), entendendo a relação entre os referidos
23 Na designação em língua inglesa Simple Event Processing (SEP). É obtido por simplificação do conceito de Complex Event Processing (CEP). Um CEP pretende identificar padrões utilizando os dados de actividades e datas fornecidas por intermédio de um algoritmo complexo (Rodriguez, 2009), funcionalidade essa que o sistema proposto não contém, sendo por isso uma interpretação simplificativa deste conceito.
24 Usualmente denominados na literatura por Performance Indicators (PI).
25 Partenering Performance Indicator (PPI) na designação em língua inglesa.
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
81
elementos como se de uma pareceria se tratasse, funcionando em equipa, como defendido por
Mathews et al. (2005).
Ao longo deste documento serão usados diversos termos que nem sempre são utilizados na
literatura com o mesmo significado em todos os casos. Dentro desta temática do controlo de
produção, entenda-se como “produção” o conjunto do planeamento e execução dos trabalhos
definidos, excluindo-se nesta abordagem os processos de concepção de projecto. Ao longo da
primeira parte de apresentação do sistema o termo “gestão” será utilizado como designando o
controlo e monitorização do empreendimento e consequentemente de todas as actividades
que nele decorrem, bem como a tomada de medidas correctivas. Entende-se a designação de
”gestor do empreendimento” no sentido lato dos termos, podendo ser representado pelo
director de obra ou por uma entidade exterior ao empreiteiro geral que tenha poder decisor no
que toca à gestão da produção no empreendimento.
4.4 ARQUITECTURA DO SISTEMA
O sistema proposto divide-se em dois módulos que constituem ferramentas para atingir
objectivos distintos, já atrás descritos. Enquanto um dos módulos constitui um sistema de
monitorização de desempenho, o outro apresenta-se como um sistema de controlo de
actividades, tal como representado na figura 4.3, partilhando ambas de processos referentes ao
LPS:
Figura 4.3 - Estrutura do sistema
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
82
No seu conjunto pretende-se que os módulos proporcionem as ferramentas necessárias à
definição de um sistema de controlo de produção e gestão das subempreitadas. Enquanto o
controlo de produção se irá fazer principalmente por utilização de ferramentas que permitem
intervenção directa na produção, a gestão das subempreitadas irá ser apoiada pelo
acompanhamento do seu desempenho e dificuldades.
No entanto, ambos os módulos servem os objectivos definidos de forma transversal, embora
com mais ênfase nas situações descritas. Saliente-se a importância do seu funcionamento em
conjunto, dada a necessidade de estreitar a ligação entre aprendizagem e acção (Lichtig, 2005).
Na figura 4.4 representa-se a relação entre os dois módulos do sistema, fazendo-se menção à
existência de uma lógica PDCA26 que reforça a sua índole de melhoria contínua.
Figura 4.4 - Ciclo PDCA no sistema proposto
Note-se que também à luz do PMBOK, tomado neste trabalho como referência, a gestão de
um empreendimento deve ser executada num ciclo de planeamento, execução e controlo, tal
como o apresentado neste capítulo. Este sistema de índole Lean partilha diversos processos
com o LPS, nomeadamente a estrutura de planeamento que prevê e que já foi apresentada no
segundo capítulo desta dissertação. O planeamento será assim estruturado em:
26 PDCA: Plan, Do, Check, Act. Também conhecido como Ciclo de Deming, consiste num ciclo de desenvolvimento organizacional que tem como objectivo a melhoria contínua dos processos.
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
83
▪ Planeamento Geral;
▪ Planeamento de Antevisão;
▪ Planeamento de Execução Semanal.
Para a execução dos dois últimos planeamentos foram criados modelos de apresentação
potenciadores das funcionalidades de cada um, tornando-os expeditos de elaborar e claros na
consulta. O planeamento geral existe normalmente num empreendimento de construção (não
sendo por isso sugerido um modelo de apresentação) sendo de especial interesse as milestones
nele definidas e as fases de construção em que está dividido.
Para o planeamento de antevisão foram preconizados os seguintes campos, esquematicamente
apresentados na figura 4.5 e ilustrados na figura 4.6:
Figura 4.5 - Estrutura do plano de antevisão
Figura 4.6 - Exemplo de plano de antevisão a 4 semanas
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
84
Para o planeamento de execução semanal foi criado outro modelo, cuja estrutura se encontra
apresentada na figura 4.7, encontrando-se um exemplo concreto do planeamento na figura 4.8:
Figura 4.7 - Estrutura do plano semanal de execução
Figura 4.8 - Exemplo do plano semanal de execução
4.5 MÓDULO 1: MONITORIZAÇÃO DE DESEMPENHO
O primeiro módulo do sistema proposto constitui uma ferramenta de monitorização de
desempenho da produção. Com esta parte do sistema é possível executar uma análise do
desempenho das subempreitadas e também do empreiteiro geral, segundo um processo
descrito mais à frente nesta secção. Neste sistema de monitorização de desempenho incluem-
se indicadores e causas de insucesso na produção.
É abordada a questão da manutenção do sistema, tanto na vertente da sua alimentação com
dados, como no tratamento dado a estes numa perspectiva de aprendizagem contínua,
propondo-se soluções para agilizar a sua utilização. Por fim, serão apresentados os relatórios
de desempenho que constituem o output deste módulo e constituem o meio de comunicação
interna que permitirá avaliar a estratégia de produção e tomar medidas correctivas.
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
85
Em suma, este modelo pretende que se atinja o sucesso27 na gestão do empreendimento a um
nível micro28 apresentando-se uma alternativa de influência Lean aos habituais parâmetros pelos
quais se guiam os actuais gestores de empreendimento.
Segundo Rooke et al. (2010) a gestão do conhecimento numa abordagem Lean será ao longo
de todo o sistema uma constante na medida em que existirá o cuidado de obter a informação
certa, da forma certa, para as pessoas certas e no tempo certo, rumo à obtenção de valor.
4.5.1 INDICADORES DE DESEMPENHO
4.5.1.1 Definição dos indicadores
A crescente consciencialização dos vários partes interessadas29 de um empreendimento acerca
do conceito de “valor“ leva ao aparecimento de novos desafios para uma empresa de
construção. No capítulo anterior desta dissertação fora já documentada uma crescente
preocupação por parte do empreiteiro geral com a satisfação do cliente final (observe-se a
estreita ligação com os princípios da filosofia Lean no que toca aos conceitos de “cliente” e
“valor”). Numa indústria em mudança, já não se deverá expectar a existência de muito bons
resultados utilizando apenas os três factores correspondentes ao iron triangle (Atkinson, 1999).
As métricas actuais, definidas na década de 1950 (Oisen, 1971 referenciado por Atkinson,
1999), mostram-se insuficientes perante os desafios da construção moderna, de tal forma que
continuam a existir grandes quantidades de empreendimentos mal sucedidos, mesmo dizendo-
se conhecidos os factores de sucesso. Além disso nos dias de hoje são raros os relatórios
dirigidos à gestão de empreendimentos que contêm informação além do campo financeiro
(Nudurupati, 2007). Já na secção §2.6.4 desta dissertação tinha sido abordada a questão da
importância da definição de novos indicadores para a evolução da filosofia Lean, conduzindo à
sua aceitação na indústria.
Numa perspectiva de inovação de processos, com fim à obtenção de novas ferramentas que
possam levar um empreendimento a níveis de sucesso não alcançados frequentemente nos
dias de hoje, propõe-se neste sistema um conjunto de indicadores de influência Lean. Estes
27 Cookie-Davis (2002) distingue sucesso na gestão de empreendimentos e sucesso do empreendimento, baseando-se as diferenças nos factores que caracterizam cada um destes tipos, respectivamente na obtenção dos objectivos gerais em termos de i) funcionalidade e exigências dos utilizadores, ii) metas de custos, prazos e qualidade.
28 Segundo Toor (2010) enquanto que o micro sucesso está conotado com rentabilidade e ganhos a curto prazo (de maior interesse para um empreiteiro ou consultor do empreendimento), o macro sucesso tem a ver com questões de operação/funcionalidade ou ganhos a longo prazo (de maior interesse para o dono de obra ou cliente final).
29 Tipicamente denominadas stakeholders na literatura.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
86
pretendem ter em vista factores exteriores ao iron triangle, devendo complementar essa
informação já recolhida em termos de prazos, custos e qualidade. Acrescente-se que
actualmente a avaliação do desempenho das subempreitadas, em particular, é normalmente
executada de forma subjectiva, ainda que numericamente, por parte do empreiteiro geral. Este
sistema pretende também contribuir para a introdução de uma forma objectiva de avaliar os
subempreiteiros em empreendimentos de construção (Yeung, 2009). Sinteticamente são
sugeridos quatro indicadores de desempenho, orientados para a medição do fluxo de
produção. Estes foram já definidos no capítulo 3 e funcionam segundo o modelo descrito em
§4.1.2:
▪ PPC (Percentagem de Plano Concluído) (Ballard, 2000);
▪ PPCr (Percentagem de Plano Concluído relativa);
▪ IP (Índice de Produtividade);
▪ PWR (Planned Work Ready) (Mitropoulos, 2005).
Saliente-se que estes indicadores não se podem entender como Key Performance Indicators (KPI)
da produção, mas sim como Indicadores de Desempenho (ID) (Takim, 2002), na medida em
dão informação ao gestor de empreendimento sobre o que fazer, e não como incrementar
drasticamente o desempenho e consequentemente os próprios ID, como os KPI (Parmenter,
2009). Todavia, os ID utilizados partilham das características dos KPI segundo Fitz-Gibbon
(1990):
a) Devem ser aceitáveis, entendíveis, com sentido e mensuráveis. Não devem ser
definidos de forma que o seu sucesso seja influenciado por factores não controláveis
pelas organizações e os seus elementos;
b) Devem ter sentido na medida em que alcançar os níveis pretendidos contribui
objectivamente para o desenvolvimento organizacional.
c) Existe variabilidade nas medições dos indicadores devido às diferenças de produto
ou segmento, ambiente de negócio, mercados, tecnologia, disparidades regionais, entre
outros factores.
Os KPI pretendem reflectir o posicionamento estratégico de uma organização, representando
a ponte entre objectivos e tomada de decisões. Posto isto e reconhecendo um
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
87
empreendimento de construção como uma sub-organização autónoma em vários aspectos, é
possível fazer com que a escolha dos indicadores de desempenho reflicta a estratégia de
produção idealizado pelo gestor de empreendimento. Outros indicadores foram já propostos
na literatura, como por exemplo em Formoso et al. (2009), abordando os custos e prazos
dentro de uma lógica Lean, mas não o fluxo de produção.
4.5.1.2 Adaptabilidade de um SMD
Além da utilização dos indicadores sugeridos, é de todo o interesse que durante a execução de
um empreendimento se realizem análises periódicas aos interesses dos diversos intervenientes,
numa lógica de melhoria contínua, tentando encontrar novos indicadores, especificamente
para aquele tipo de empreendimento. Actualmente na construção não existem indicadores de
desempenho consensuais, sendo a adaptação destes um ponto-chave (Toor, 2010). A
existência de um SMD moldado às necessidades do empreendimento será desta forma
essencial ao seu sucesso (Nudurupati, 2007). Segundo Atkinson (1999), para encontrar novos
indicadores, há a ter em atenção que:
i) O erro que se comete ao usar apenas o iron triangle não consiste em se estar a utilizar
um princípio errado, mas sim de não se estar a utilizar todos os meios necessários à
identificação do caminho para o sucesso;
ii) É inevitável a existência de erros na busca de novos indicadores, dado que se
procura testar soluções em possibilidades desconhecidas. Em todo o caso o pior que
deve acontecer é serem rejeitadas no início de uma implementação;
iii) A medição de custos como processo de monitorização traduz-se tipicamente em
medir progresso e não na medição de sucesso. Kalsaas et al. (2009) afirmam ainda que
o controlo de prazos na construção é na verdade também controlo do progresso e não
da produtividade;
iv) A escolha de indicadores deve ser uma decisão partilhada por vários elementos da
organização, tendo diferentes funções e responsabilidades, nomeadamente o gestor de
projecto, a administração, o cliente e os membros da equipa de construção (direcção
de obra, tipicamente);
v) A existência de uma tradição de décadas na escolha dos factores de sucesso para um
empreendimento, leva a que possa, em muitos casos, haver uma visão da questão tão
consolidada que o esforço para a mudança seja colossal. O próprio ensino desta
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
88
temática nas instituições de ensino é maioritariamente orientado para o iron triangle
(Atkinson, 1999).
Em suma, pode-se afirmar que os ID a ser escolhidos devem respeitar os critérios SMART30,
isto é, a sua medição deve um propósito específico, devem ser mensuráveis, os objectivos que
medem devem ser atingíveis e a sua medição deverá ser relevante e faseada no tempo.
4.5.1.3 Valores e tendências de referência
Num sistema de monitorização de desempenho é essencial ter disponíveis valores de
referência para se poder elaborar uma análise crítica aos resultados obtidos ao longo do
tempo. Estes valores podem ser de diversos tipos, por exemplo, limites, médios ou até gamas
de valores. Dada a diversidade de resultados possíveis de obter neste tipo de indicadores, facto
já referido atrás, neste modelo sugere-se não apenas a comparação dos valores dos indicadores
mas também a análise da sua variação.
A partir de três implementações experimentais, cujos valores de PPC se encontram no quadro
4.1, foi possível obter os seguintes dados, destacando-se o facto de terem sido executadas em
Portugal. Para os outros indicadores deste modelo não existem valores de referência à luz de
implementações Lean, dado o seu carácter inédito no meio científico.
Quadro 4.1 - Valores de referência de PPC para implementações em Portugal
Valor médio
Valor máximo
Valor mínimo
Período de implementação
Gonçalves (2009) 59% 89% 25% 6 semanas
Peneirol (2007) 61% 81% 29% 13 semanas
Marques (2007) 65% 71% 56% 5 semanas
Segundo Ballard (2000), existem dois patamares importantes nas medições de PPC. Aos 70%
e aos 90% obtêm-se normalmente incrementos de produtividade superiores ao aumento de
PPC. Segue-se uma lista dos resultados dos casos de estudo presentes em Ballard (2000), no
quadro 4.2, que poderão servir de referência pelo facto de ter sido Glenn Ballard a apresentar
originalmente o sistema LPS:
30 SMART: Specific purpose, Measurable, Achievable objectives, Relevant to measure, Time phased.
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
89
Quadro 4.2 - Valores de referência de PPC de Ballard (2000)
Tipo de obra Valor médio
Valor máximo
Valor mínimo
Período de implementação
Edifício de laboratórios 64% 86% 44% 11 semanas
Edifício de anfiteatros 57% 71% 46% 10 semanas
Coberturas de edifícios 75% 100% 25% 41 semanas
Edifício de utilização escolar 77% 95% 52% 29 semanas
Edifício de escritórios 81% 100% 60% 19 semanas
Num estudo que englobou 133 empreendimentos de construção no Brasil, onde a indústria da
construção não é distinta da portuguesa quando comparada com a Europa Central e Europa
do Norte, Bortolazza et al. (2006) identificaram valores de PPC para quatro tipos específicos
de construção, como se apresenta em seguida no quadro 4.3:
Quadro 4.3 - Valores de PPC para diferentes tipos de empreendimento (adaptado de Bortolazza et al., 2006)
Tipo de obra Número de casos
Valor médio
Valor máximo
Valor mínimo
Desvio padrão
Edifício industrial 67 74% 93% 47% 14,26%
Edifício habitação/Comercial 36 71% 90% 30% 18,67%
Edifício de habitação de baixo custo 21 70% 91% 46% 19,48%
Sector público 9 72% 92% 43% 23,97%
Total 133 72% 83% 39% 17,03%
Desde a apresentação deste sistema à comunidade académica e à indústria foram já executadas
numerosas implementações experimentais por todo o mundo, como descrito no segundo
capítulo. Existe assim know-how acumulado ao longo destes anos na implementação do LPS
em diversos tipos de empreendimentos, sendo aconselhável a consulta de dados históricos
para obtenção de valores de referência. Sugere-se que se tome também em consideração,
aquando da comparação de resultados, factores que caracterizem a cultura organizacional
subjacente, como por exemplo o país em que se procedeu à implementação do sistema.
4.5.2 SISTEMA DE MONITORIZAÇÃO
Segundo Tavares et al. (1996), a monitorização de um empreendimento por observação e
controlo dos trabalhos deve ser singularizado por quatro propriedades:
i) Relevância da informação a recolher: não deverão ser recolhidas observações que
nunca venham a ser usadas, algo que contribui para o consumo desnecessário de
esforço e dispersão da atenção dos intervenientes para factores não relevantes.
ii) Adequado rigor e precisão das medições de controlo: para trabalhos de maior
importância, tipicamente críticos numa lógica CPM, dever-se-á adoptar uma
monitorização intensiva, ao contrário de em actividades menos críticas. Note-se que
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
90
quanto mais rigoroso for o método de monitorização, maiores serão as possibilidades
de intervir com sucesso no curso dos acontecimentos.
iii) Adequada frequência das observações: deve-se adaptar a periodicidade das
observações à duração total do empreendimento, e à frequência com que existam
milestones. Num empreendimento, poder-se-á adoptar uma periodicidade 1/52 da
duração total na elaboração de um ponto de situação.
iv) Racionalização dos circuitos e dos instrumentos de processamento da
informação: é importante que a informação chegue aos agentes decisores actualizada
e a tempo de serem tomadas acções correctivas. Para isso a informação deve ser
recolhida e processada de forma rápida e eficiente.
Tendo em conta estas propriedades foi elaborado um modelo de monitorização que se insere
na estrutura humana e funcional de um empreendimento sem que seja necessário um esforço
considerável para a sua implementação. Segue-se a sua descrição dos pontos de vista de
recursos humanos, verificações e medições necessárias e por fim do modelo matemático no
qual se baseia. Na figura 4.9 esquematiza-se o seu funcionamento:
Figura 4.9 - Sistema de monitorização
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
91
4.5.2.1 Recursos humanos
O sistema proposto apenas utiliza os recursos humanos usualmente disponíveis numa obra,
aproveitando as funções e rotinas já existentes, como representado na figura 4.9, sendo por
isso de carácter Lean. Porém este sistema necessita que dois dos elementos da equipa do
empreiteiro geral acrescentem às suas funções determinados procedimentos. Um desses
elementos é o medidor que por sua vez deverá executar as medições em obra tendo em conta
o plano de execução semanal fornecido. Estas medições poderão ser feitas no decorrer das
suas funções habituais, sem entropia acrescida. Note-se que a utilização de dados relacionados
com pagamento de trabalhos aos subempreiteiros irá investir este sistema de credibilidade
acrescida, já que as questões financeiras são acompanhadas intensivamente por todos os
intervenientes na produção, indo-se assim ao encontro daquilo defendido no segundo ponto
das propriedades do modelo.
O outro elemento necessário é o adjunto do director de obra. A sua função será organizar o
planeamento semanal para que o medidor possa dar seguimento ao trabalho atrás referido.
Será também das funções do adjunto do director de obra a análise do plano de antevisão,
como será explicado no ponto seguinte. Excepcionalmente, em empreendimentos de muito
grande dimensão que o justifiquem, poderá ser necessária a intervenção de um medidor
adjunto ou de um segundo adjunto do director de obra. No final das medições e verificações
executadas, o adjunto do director de obra apenas necessita de inserir os dados no sistema
(apresentado em §4.1.4a) e dar seguimento aos relatórios que daí advêm segundo a quarta
propriedade mencionada.
4.5.2.2 Verificações e medições
Segundo uma determinada calendarização (definida mais à frente em §4.1.4b) o medidor
deverá proceder à medição da percentagem de progresso comparativamente com o objectivo
definido no plano de execução. Com esta medição é possível apurar a produtividade média
que efectivamente teve lugar em cada actividade, podendo comparar-se com a produtividade
média planeada e obter-se assim o indicador de índice de produtividade (IP). Como explicado
mais à frente, bastará a determinação das produtividades médias planeada e verificada para
obter os indicadores IP, PPC e PPCr.
Será necessária também uma medição por parte do adjunto do director de obra analisando o
plano de antevisão com vista a determinar o indicador PWR. Ambos os elementos deverão
apurar as causas de insucesso dos planeamentos que monitorizam. No caso da execução, o
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
92
apuramento das causas de insucesso será tipicamente efectuado com a ajuda dos encarregados
(que estão em permanência no local dos trabalhos e acompanharam as dificuldades e
limitações na execução dos trabalhos) quando se verificarem actividades a não ser concluídas
(PPC≠1). No caso do planeamento, ao não estarem reunidas as condições para a passagem do
planeamento para a execução ter-se-á PWR≠1.
4.5.2.3 Modelo matemático
Como apresentado, o modelo de monitorização prevê a existência de dois tipos de relatórios,
sendo um destinado ao desempenho das subempreitadas e outro do empreiteiro geral, pelas
motivações já descritas atrás. Concebe-se o desempenho deste último como a avaliação global
de todas as subempreitadas dada a sua função gestora, organizadora e dinamizadora no
empreendimento.
Para ter em conta a diferente importância que cada subempreitada tem no empreendimento
utilizou-se um modelo de ponderação baseado no valor dos trabalhos executados. Esta
ponderação foi motivada pela conclusão obtida no terceiro capítulo acerca da idealização de
um empreendimento bem sucedido. Para maioria dos inquiridos seriam os custos o mais
importante factor caracterizador de um empreendimento bem sucedido. Assim consegue-se
com esta ponderação incluir os conceitos de progresso e sucesso na produção. As expressões
(1) e (2) representam o modelo matemático de ponderação utilizado para obter os indicadores
de desempenho relativos ao empreiteiro geral.
(6)
(7)
Sendo ID um indicador de desempenho genérico de um dos subempreiteiros e IDT um
indicador de desempenho da totalidade do empreendimento. Saliente-se que apesar de ser
discutível a ponderação de indicadores como o PPC, que não contemplam a dimensão ou
importância das actividades, apenas se foram terminadas ou não, este modelo serve para ter
uma visão global e não para analisar detalhadamente as subempreitadas. Para esse fim é
sugerido neste sistema um modelo próprio. Um raciocínio análogo deve ser seguido para as
causas de insucesso do planeamento e na execução, para que se obtenha uma visão global das
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
93
dificuldades que a produção no empreendimento atravessa em cada período de actualização
do sistema.
4.5.3 MANUTENÇÃO DO SISTEMA
A manutenção de um sistema é um factor crucial no que diz respeito ao seu sucesso como
ferramenta e forma como se irá desenvolver a implementação num caso real. Uma das
directivas principais na concepção do sistema foi a facilidade de alimentação de dados, já que
um sistema muito exigente desse ponto de vista necessitaria de um consumo de recursos
extraordinário, algo que iria dificultar a sua utilização e implementação. Em seguida serão
abordadas as questões do esforço e periodicidade na alimentação do sistema e também da
gestão dos dados obtidos ao longo do tempo.
4.5.3.1 Alimentação do sistema
O sistema de controlo de produção proposto necessita apenas da medição semanal dos
indicadores referidos atrás. Pretende-se assim obter o máximo de informação acerca da
produção com o mínimo possível de esforço na obtenção de dados. Note-se que os três
primeiros indicadores sugeridos são obteníveis apenas das medições semanais no terreno
sendo o terceiro facilmente calculável com recurso ao plano de antevisão, como descrito em
§4.1.2. Desta forma o tempo e esforço despendidos na manutenção do sistema são reduzidos,
como defendido por Tavares et al. (1996), sendo tendencialmente mais curtos à medida que é
acumulada experiência. Com o objectivo de centralizar o esforço empregue na alimentação do
sistema e também de simplificar o próprio procedimento, foi criado um algoritmo
implementado em Microsoft Excel designando por “Ficha de manutenção do sistema”, estando
representado na figura 4.10:
Figura 4.10 - Exemplo de ficha de manutenção do sistema
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
94
Mediante este algoritmo apenas é necessário conhecer os valores da produtividade verificada,
comparando-se com a planeada e obtendo-se automaticamente31 o IP, PPC e PPCr. Já o
indicador PWR pode ser determinado no decorrer das habituais funções de um adjunto de
direcção de obra no que toca ao planeamento, como descrito atrás.
Foi escolhido este software dada a sua banalização na indústria da construção e também pela
sua robustez e capacidade de adaptação. Choo et al. (2001) concluíram que quanto mais
parecido fosse um software com os habitualmente usados (como é o caso do MS Excel) maior
seria a facilidade de os implementar. Afirma-se igualmente que algo semelhante sucederia no
que toca aos outputs desses sistemas, como por exemplo os relatórios.
Reforce-se que bastará o preenchimento dos campos desta ficha nas divisões de
produtividades e nas causas de insucesso da produção, para que sejam automaticamente
gerados os relatórios de desempenho apresentados na secção seguinte deste documento.
Apresenta-se em seguida na figura 4.11 alguns campos da ficha de manutenção do sistema,
destacando-se a automatização do preenchimento.
a) b) c)
Figura 4.11 - Interface de preenchimento da ficha de manutenção do sistema. (a)Identificação de actividade, (b)Causas de insucesso, (c)Subempreiteiro responsável
31 Tendo o valor destas duas produtividades é possível obter o indicador IP por intermédio do quociente destas. Apenas para um IP=1, será contabilizado o PPC para essa actividade. Caso seja contabilizado o PPC, será calculado o PPCr com recurso à coluna de”duração”. Para as actividades com PPC≠1, é activada a secção de causas de insucesso para que sejam registadas. A existência da coluna “subempreiteiro” é justificada pela necessidade de ser ter relatórios de desempenho das subempreitadas. Também para o relatório do empreiteiro geral esta divisão é necessária, dado o modelo de monitorização.
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
95
Este sistema funciona sobre uma lista de actividades padronizadas baseada na WBS32que
permite ao gestor do sistema atribuir as actividades que constam do plano de execução a uma
das actividades padronizadas com uma simplificação máxima que não prejudique o rigor do
sistema. Esta lista de actividades (E1, E2…, Ei) deverá ser revista periodicamente para se
conseguir uma análise de resultados o mais precisa possível. Este procedimento servirá apenas
para elaborar um relatório de produtividade das subempreitadas, sem prejuízo para a
monitorização de desempenho. Para as actividades que constam do planeamento (P1, P2…, Pi),
ao contrário da execução, não será necessária padronização. Nesta ficha de manutenção
apenas foram preconizados sete tipos de causas de insucesso. Estas causas poderão
naturalmente variar de caso para caso, sendo necessário padronizar uma nova lista de causas
de insucesso se os resultados assim o justificarem.
Existe, no entanto, uma particularidade que se traduz na impossibilidade de contabilizar
trabalhos que não estejam previstos no plano de execução, dado que não serão procurados
aquando das verificações semanais de LPS. Estes trabalhos poderiam levar a valores de IP
superiores a 100%, ficando desta forma o subempreiteiro impossibilitado de lhe ser
reconhecido esse mérito. Por outro lado, tendo em conta esta hipótese de serem executados
trabalhos não previstos no planeamento, sugere-se que estes não sejam contabilizados caso o
previsto no plano de execução não seja integralmente cumprido, contribuindo-se assim para a
disciplina nas subempreitadas, algo essencial a um sistema baseado na fiabilidade do
planeamento.
4.5.3.2 Actualização
A periodicidade de actualização é outro factor de grande relevância já que quanto mais
actualizada for a informação que chega a um gestor do empreendimento, melhores serão as
condições para se poderem identificar problemas ou oportunidades de melhoria e se proceder
à respectiva intervenção, segundo a terceira das quatro propriedades nas quais este modelo de
monitorização se baseia.
Actualmente os relatórios de desempenho na construção, tipicamente de índole financeira,
podem chegar a demorar meses a ser elaborados, não contribuindo para as tomadas de decisão
a curto e médio prazo. Esta periodicidade deverá ser estudada ao longo do período de
construção, podendo variar se as condições o permitirem ou obrigarem. Contudo, sugere-se
que esta seja semanal no início da implementação até que fiquem claras as necessidades do
32 WBS: Work Breakdown Structure
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
96
sistema de produção. Segue-se na figura 4.12 o calendário semanal a ser seguido na rotina de
controlo do sistema:
Figura 4.12 - Rotina semanal de medições e verificações
A sobreposição dos dados no plano de antevisão, abordada em §2.6.5, é outro ponto de
interesse do modelo, sendo necessário adaptar essa medida ao longo da implementação,
dependendo da rapidez com que o planeamento pode ficar desactualizado. Sugere-se que esta
seja feita semanalmente de forma a que se parta do cenário mais conservativo possível. A
duração da janela temporal do plano de antevisão deverá também ser calibrada ao longo do
tempo de execução do empreendimento. Para a calibração deste período sugere-se um
procedimento baseado na proposta de Kalsaas et al. (2009), e que representa na figura 4.13:
Figura 4.13 - Estruturação do planeamento de antevisão
Na situação a) o planeamento de antevisão consegue ser equilibrado entre a disponibilização
de pacotes de trabalho prontos a seguir para execução e o tempo em semanas necessário para
resolver todos os PRI das actividades. Na situação b) apresenta-se o caso da existência de PRI
que necessitam de um maior esforço na sua resolução, levando mais tempo do plano de
antevisão – três semanas que funcionam como ”almofada”. Já no caso c) a capacidade de
resolução é elevada, levando a maior quantidade de trabalho pronto a cada momento,
necessitando-se apenas de uma semana de antecedência no que toca à resolução de PRI. Em
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
97
qualquer momento a realidade da produção pode necessitar de uma alteração profunda, como
se exemplifica no caso d) onde se redimensiona toda a estrutura do planeamento de antevisão.
4.5.3.3 Gestão do conhecimento
A utilização de um sistema deste tipo só estará a ser aproveitada em todas as suas
potencialidades se a experiência e conhecimento adquiridos se mantiver na organização e
puder ser utilizado no futuro. Alarcon et al. (2005) apontaram como principal barreira à
implementação de sistemas LPS o fraco uso da informação recolhida. O sistema proposto
pelo autor, em concreto, tem uma forte componente de aprendizagem, sendo de grande
interesse conceber uma forma de recolher, organizar e potenciar o know-how adquirido ao
longo dos períodos de implementação.
Desta forma contribuir-se-á para enriquecer a experiência da organização tendo em vista a
preparação de outros empreendimentos no futuro. A existência de uma base de dados
permitirá uma definição cada vez mais satisfatória dos objectivos internos, já que será possível
prever os resultados esperados da aplicação do sistema cada vez com maior exactidão (Tavares
et al., 1996). Na figura 4.14 apresenta-se o sistema de base de dados que deverá ser utilizado
em conjunto com o restante:
Figura 4.14 - Modelo para a gestão do conhecimento no sistema
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
98
Assim a existência deste processo para a gestão do conhecimento deverá ter como objectivos
concretos a recolha de um histórico de dados ao longo do tempo, permitindo criar um
comportamento de referência para que o processo de monitorização tenha a base de
comparação de que tanto depende. No geral pretende-se cultivar uma metodologia de
benchmarking interno, tanto no que toca ao sucesso do empreendimento, como no que toca à
avaliação do desempenho dos vários intervenientes, desde os subempreiteiros à própria equipa
de direcção de obra. Numa perspectiva da organização, a gestão do conhecimento deverá
contemplar o máximo número de casos. Segundo Yim et al. (2006), uma gestão do
conhecimento efectiva deverá estar preparada para apoiar as tarefas principais da gestão de
empreendimentos, inclusivamente na tomada de decisões, planeamento, controlo e produção.
Como apresentado ao longo deste capítulo, os factores referidos constituem o cerne do
sistema apresentado, tomando assim a gestão do conhecimento uma posição preponderante
no sucesso do sistema ao consolidar as suas potencialidades e tornando-o competitivo perante
as constantes mudanças na realidade da indústria.
4.5.4 ESTRUTURA DOS RELATÓRIOS
A forma como a informação recolhida e trabalhada pelo sistema é apresentada ao elemento
decisor dentro de um empreendimento é crucial no sucesso do mesmo (Tavares et al., 1996).
Segundo as five big ideas (Lichtig, 2005) o estreitamento entre acção e aprendizagem (finalidade
dos relatórios) leva à melhoria contínua nos processos. A leitura dos relatórios terá de ser
expedita, podendo consultar-se rapidamente os resultados mais importantes do sistema, sob
pena de estes deixarem de ser tidos em conta, tal o esforço necessário à sua interpretação.
Como concretização do interface entre os resultados e a sua apresentação ao gestor do
empreendimento foram criados concretamente dois relatórios de desempenho que se inserem
neste modelo como exemplificado atrás na figura 8. Em ambos os relatórios o horizonte de
tempo de análise são 10 semanas. Tal como a periodicidade de actualização, também este
espaço de tempo dependerá do tipo de obra e poderá sofrer alterações ao longo da
implementação.
Dadas as necessidades referidas para esta fase do modelo, a estrutura do relatório foi
conceptualizada tendo em vista o mínimo de desperdício, isto é, apenas as informações
essenciais estão disponíveis, sendo a sua apresentação estudada para potenciar a leitura dos
dados contidos. Para isso foram utilizadas algumas soluções de inspiração nas metodologias de
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
99
gestão visual, usualmente ligadas a sistemas Lean. Em seguida são apresentados os dois
relatórios gerados pelo sistema:
4.5.4.1 Subempreiteiros
Para as subempreitadas foi conceptualizado um modelo de relatório contendo informação
acerca dos indicadores de desempenho para cada subempreiteiro bem como da principal causa
de insucesso na execução e no planeamento, como representado na figura 4.15.
Adicionalmente apresenta-se um relatório complementar com as produtividades dos diferentes
trabalhos das subempreitadas.
Os indicadores de desempenho são apresentados por cada semana, sendo a sua evolução
representada graficamente. Em cada semana, o subempreiteiro com melhor desempenho em
cada indicador terá a correspondente célula do quadro em cor verde, tendo o subempreiteiro
com pior desempenho a célula em cor vermelha, permitindo uma gestão visual do
desempenho. Assim, pretende-se cultivar princípios de benchmarking interno com espectáveis
melhorias (Luu, 2008), promovendo o envolvimento e competitividade entre os
subempreiteiros. Note-se que também segundo este autor o benchmarking leva à aprendizagem
e melhoria contínua mesmo quando aplicado apenas internamente. A importância deste
relacionamento entre os intervenientes fora já referida no segundo capítulo, fazendo mais uma
vez parte das five big ideas de Lichtig (2005).
O tratamento dos dados relativos às causas de insucesso na produção é feito por intermédio
de dois quadros. Enquanto um dos quadros contém a principal causa de insucesso por semana
e por subempreiteiro (figura 4.15, zona 4) o outro compreende um ranking de causas de
insucesso acumuladas, que permitirá ter uma visão global das dificuldades de cada
subempreiteiro. Este segundo quadro tem como principal objectivo a detecção de problemas
crónicos na produção dos subempreiteiros.
Neste relatório é apenas disponibilizada esta quantidade propositadamente limitada de
informação dado que a existência de mais dados, como as diversas causas de insucesso por
cada semana, no relatório iria traduzir-se em informação não utilizada, que contribuiria para
criar inércia na intenção de consulta do relatório. Na figura 4.16 apresenta-se um relatório
exemplificativo do seu preenchimento.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
100
LEGENDA:
1- Cabeçalho com identificação do
empreendimento, data de actualização ou
outras referências necessárias;
2- Valores dos indicadores em percentagem, ao
longo do tempo;
3-Representação gráfica da evolução dos
indicadores;
4-Principal causa de insucesso do planeamento
e da execução em cada semana, por cada
subempreiteiro;
5-Ranking das três causas acumuladas mais
frequentes de insucesso do planeamento e
execução (com legenda na parte superior).
Figura 4.15 - Estrutura do relatório de subempreiteiros
Figura 4.16 - Exemplo de relatório de subempreiteiros
No que toca ao relatório complementar de produtividade das actividades, são utilizados
princípios de benchmarking semelhantes, como se ilustra na figura 4.17 e 4.18. O controlo de
valores de produtividade de actividades desenvolvidas por subempreiteiros permitirá ao
empreiteiro geral planear mais correctamente, bem como manter-se informado acerca do
desempenho dos mesmos em valor absoluto.
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
101
LEGENDA:
1- Cabeçalho com identificação do
empreendimento, data de actualização ou outras
referências necessárias;
2-Identificação das actividades padronizadas,
subempreiteiro responsável e unidades de
medida;
3- Valores máximos, médios e mínimos na
produtividade de cada actividade padronizada;
4- Valores da produtividade verificada para cada
actividade padronizada, por cada semana de
análise.
Figura 4.17 - Estrutura do relatório complementar de subempreiteiros
Figura 4.18 - Exemplo de relatório complementar de subempreiteiros
4.5.4.2 Empreiteiro geral
Além do modelo matemático de cálculo dos indicadores IP, PPC e PPCr surge neste relatório
um outro indicador, o PWR, que mede a capacidade de resolver problemas ao nível do
planeamento, como já referido atrás. Esta função é da responsabilidade do empreiteiro geral e
de subempreiteiros, embora seja especialmente relacionada com o primeiro, dado que este
deverá funcionar como pivô na resolução dos problemas da obra. O relatório é constituído
por todos os indicadores de desempenho, seguidos de uma representação gráfica da sua
evolução e das causas de insucesso da produção, por cada semana e também auxiliadas por
uma representação gráfica, como representado esquematicamente na figura 4.19 e
integralmente na figura 4.20:
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
102
LEGENDA:
1- Cabeçalho com identificação do empreendimento ou outras referências necessárias;
2- Valores médios acumulados dos indicadores e data de actualização do relatório;
3- Valores dos indicadores em percentagem, ao longo do tempo;
4-Representação gráfica da evolução dos indicadores;
5-Principal causa de insucesso do planeamento em cada semana, na globalidade do empreendimento;
6-Representação gráfica da evolução das causas de insucesso do planeamento;
7-Principal causa de insucesso da execução em cada semana, na globalidade do empreendimento;
8-Representação gráfica da evolução das causas de insucesso da execução.
Figura 4.19 - Estrutura de relatório do empreiteiro geral
Figura 4.20 - Exemplo de relatório do empreiteiro geral
4.6 MÓDULO 2: CONTROLO DE ACTIVIDADES
Neste segundo módulo do sistema ir-se-á abordar o tema do controlo de actividades, que
complementado com o sistema de monitorização de desempenho do primeiro módulo irá
originar o sistema de controlo de produção e gestão de subempreitadas. Este sistema foca
principalmente em dois factores do âmbito do controlo de actividades: os prazos e a
preparação dos trabalhos.
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
103
O controlo dos prazos pretende contribuir para a resolução dos problemas relacionados com
as actividades precedentes, problema detectado no terceiro capítulo aquando do estudo de
casos. Já a preparação das actividades, segundo o LPS, consiste num meio de promover a
existência de uma produção protegida da imprevisibilidade, com o objectivo de se obter um
fluxo de produção contínuo. Não serão abordadas as questões de gestão de espaço, de mão-
de-obra ou até aprovisionamento de materiais dado que a problemática relacionada com estas
não foi alvo de análise nos casos de estudo, e o âmbito deste documento não se procura tão
abrangente.
Genericamente e para fins de definição deste sistema, idealiza-se o conceito de controlo das
actividades como a existência de informação no que concerne ao tempo, espaço, âmbito e
condições em que as actividades são levadas a cabo, conduzindo à tomada de medidas
interventivas no processo de produção. Na figura 4.21 esquematiza-se este conceito, estando a
representação acrescida dos meios que permitirão obter estas informações.
Figura 4.21 - Conceptualização do controlo de actividades
Apesar de não ser explícito, a questão da responsabilidade das actividades (factor “quem”) está
implícita no planeamento e é constantemente abordada nos dois sub-sistemas apresentados
mais à frente. Já o factor “porquê” está implícito no planeamento de fase contendo uma WBS
que define o âmbito e sequência lógica da produção. Será sempre importante manter esta
informação actualizada dados os princípios de responsabilização e comprometimento em que
assenta o LPS. Também a questão da gestão de espaço em obra, embora não abordada
directamente, tem lugar nesta definição de controlo, por intermédio do plano de antevisão,
acabando esta informação por ser importante na organização das subempreitadas.
Em seguida apresentam-se em detalhe os sub-sistemas propostos para esta parte do sistema
geral, numa abordagem conceptual, sendo a sua concretização apresentada em detalhe no
capítulo seguinte.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
104
4.6.1 GESTÃO DE PRÉ-REQUISITOS E INCOMPATIBILIDADES
A resolução de pré-requisitos e incompatibilidades presentes no plano de antevisão é uma das
etapas-chave na implementação do LPS (Ballard et al., 1998). Para a agilização deste processo
foi elaborado um modelo de apoio à resolução dos referidos pré-requisitos e
incompatibilidades baseado em fluxos de comunicação interna. Este pretende funcionar como
uma plataforma de partilha de conhecimento e comunicação em tempo real assente numa base
de dados interactiva e acessível ao empreiteiro e subempreiteiros. Neste modelo, os
intervenientes possuem distintas funções e possibilidades de interacção com os restantes tal
como se apresenta no diagrama explicativo da figura 4.22:
Figura 4.22 - Fluxos de informação no sistema (i)
Os fluxos de informação entre direcção de obra, chefias e subempreiteiros devem resultar na
resolução dos pré-requisitos e incompatibilidades (PRI) detectados pelos dois últimos
elementos, sendo transpostos para o plano de antevisão e resolvidos da forma mais eficaz e
eficiente. A resolução dos PRI corresponde à questão de “como” executar os trabalhos sendo
dinamizada e gerida pela direcção de obra, existindo intervenção activa das chefias no terreno
e dos subempreiteiros. Este modelo pressupõe que entre os intervenientes exista a submissão
de PRI e respectiva resolução, como a legenda da figura 4.22 esclarece, sendo este
procedimento abordado em detalhe no capítulo seguinte.
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
105
Em obras semelhantes à maioria dos casos de estudo apresentados no capítulo anterior, a
gestão das questões relacionadas com o projecto depara-se com dificuldades a nível da
organização documental e gestão dos fluxos de informação com ela relacionados.
Tipicamente, muitos dos pré-requisitos existentes nos planos de antevisão estão relacionados
com estes problemas, sendo sugerido que se estenda o âmbito da gestão dos fluxos de
informação aos preparadores da obra33, como ilustrado na figura 4.23:
Figura 4.23 - Fluxos de informação no sistema (ii)
Sintetizando, pretende-se contribuir para que este sistema funcione em melhoria contínua,
dirigido pela constante partilha de conhecimento entre os participantes que por sua vez é
baseada nos fluxos de informação já referidos. Esta metodologia é completamente apoiada
por Lichtig (2005), com as five big ideas, sendo possível resumir esquematicamente esta vertente
do sistema proposto com a figura 4.24:
33 Entenda-se “preparadores” num contexto não relacionado com o Last Planner System.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
106
Figura 4.24 - Dinâmica de partilha de conhecimento no sistema
Saliente-se ainda que, segundo Ribeiro (2008), a gestão do conhecimento na construção deve
promover a aprendizagem individual, do grupo e da organização, fomentando a circulação de
informação e até apoiando a inovação dessa forma, representando-se também na figura 4.24 a
aplicação destes princípios no sistema proposto.
Este sistema será apoiado por uma ferramenta informática, como se apresentará no capítulo
seguinte, podendo o seu funcionamento ser esquematizado com um fluxograma, como
representado na figura 4.25:
Figura 4.25 - Fluxograma de funcionamento do modelo
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
107
Em suma, a passagem do planeamento para a execução é intermediada pela resolução de PRI
mas também por dois conceitos fortemente ligados à gestão dos prazos de um plano de
trabalhos: pulling e a calendarização CPM. A introdução do CPM neste modelo consiste no
processo de fazer entrar no sistema primeiramente as actividades com menor folga para que se
contribua eficazmente para o progresso da produção (Huber, 2003). Segundo Tavares et al.
(1996) o controlo do empreendimento deve ser dirigido para as actividades críticas, visto que
são estas que condicionam a duração total do empreendimento. Para as actividades folgadas, o
controlo poderá ser tão menos apertado quanto maiores forem as respectivas folgas. A
filosofia de pulling foi já descrita no segundo capítulo, sendo os seus princípios conhecidos e
devendo ser utilizada como uma técnica auxiliar ao CPM. Relembra-se que o pulling não
necessita de cálculos auxiliares ou utilização de software próprio, sendo expedito de aplicar.
4.6.2 GESTÃO DE PRAZOS DO PLANO DE TRABALHOS
Este modelo de controlo de prazos das actividades que compõem o plano de trabalhos
constitui uma ferramenta para a resolução de problemas relacionados com as precedências de
actividades que levam aos atrasos dos subempreiteiros. Segundo Ballard (2000), a coordenação
eficaz de múltiplas actividades leva a uma optimização da produção, nomeadamente pela
redução de atrasos. Alarcon et al (2005), apontaram como principais causas de insucesso da
produção os atrasos dos subempreiteiros em implementações do LPS com valores de PPC
superiores a 65%. Este modelo está também fortemente interligado com o anterior modelo de
gestão de pré-requisitos e incompatibilidades, apresentado em §3.2.2.
Na produção existe constantemente a necessidade de identificar de forma expedita as
actividades críticas34 para direccionar esforços na resolução de pré-requisitos. Posto isto,
mostrou-se necessário preconizar um modelo que contribuísse para a optimização deste
processo de controlo de prioridades seguido de intervenção a nível de PRI. Este sistema é na
sua globalidade um potenciador do processo de protecção da produção concretizando-se com
o auxílio de uma abordagem de gestão visual ao plano de antevisão do LPS, como ilustrado na
figura 4.26, bem como de um algoritmo simples de notificações aos envolvidos.
34 Críticas na medida em que o são numa calendarização CPM ou fora desta. Por exemplo, numa filosofia Pull, serão críticas (no sentido de importantes) as actividades que quando terminadas irão libertar mais trabalho.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
108
Figura 4.26 - Plano de antevisão com recurso à gestão visual
Esta ferramenta de monitorização de prazos será apoiada por uma ferramenta informática
apresentada no ponto seguinte, como se verá. Este tipo de planos de antevisão obedece a um
código de cores relacionado com a fase de progresso de cada actividade, como ilustrado na
figura 4.27.
Quando uma actividade não terminar na janela temporal definida (no caso deste exemplo é de
quatro semanas) é utilizada a notação de “►” seguida da data de término para que também se
facilite o processo de actualização do período seguinte.
LEGENDA:
■ – 1/4 da duração
■ – 2/4 da duração
■ – 3/4 da duração
■ – 4/4 da duração
Figura 4.27 - Código de cores utilizado no planeamento
Pretende-se que tanto o empreiteiro geral como os subempreiteiros possam consultar o
planeamento de antevisão tendo uma visão global da quantidade de actividades prestes a
acabar, e que necessitam de maior atenção, bem como um controlo detalhado dos prazos
parcelares de cada uma delas. Assim, deverá existir um conhecimento por parte de todos os
elementos relacionados com a produção quanto aos prazos estipulados e progresso das
actividades calendarizadas no plano de antevisão. Para tal, o plano de antevisão poderá ser
informatizado de forma a que as datas parcelares do progresso de cada actividade sejam
conhecidas, sendo também associada informação acerca da prioridade na execução dos
trabalhos, dependendo da interferência que estes tenha nas actividades precedentes, como se
esquematiza na figura 4.28:
CAPÍTULO 4-SISTEMA PROPOSTO
109
Figura 4.28 - Algoritmo de gestão de prazos por PAS
Como já introduzido atrás, este sistema não prevê a análise de padrões de acontecimentos ou
datas (Rodriguez, 2008), não sendo por isso um modelo de Processamento de Actividades
Complexo (PAC), podendo sim afirmar-se como um modelo de Processamento de
Actividades Simples (PAS).
4.7 CAMPO DE APLICAÇÃO
Este sistema é aplicável por parte do emprenteiro geral de um empreendimentos de
construção. Para que se tire partido das capacidades do sistema deverão existir grandes
quantidades de trabalhos executados por subempreitadas para que se tire maior partido das
capacidades do sistema. Os seus resultados são direccionados ao gestor do empreendimento,
segundo o significado que lhe vem sendo atribuido nesta dissertação.
No capítulo seguinte será apresentada uma plataforma informática de funcionamento em rede
na qual se integrará este sistema, havendo por esse motivo uma limitação quanto ao tipo de
empreiteiros gerais a que se destina. Caso estes não tenham as competências informáticas
necessárias, a sua implementação ficará limitada.
Contudo, este sistema destina-se a empresas de grande dimensão que em Portugal já têm
enraizadas na sua cultura a utilização das tecnologias de informação. O tipo de obra a que se
aplica não será limitativo, sendo possível aplicar o sistema LPS em obras de diversos tipo,
como referido no segundo capítulo deste documento, embora o sistema proposto no seu todo
tenha tido uma grande influência na observação de processos num caso de estudo de um
edifício de escritórios de grande dimensão.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
110
4.8 CONCLUSÕES
Partindo apenas do LPS e de conceitos já testados e enraizados noutras indústrias, como a
monitorização de desempenho e o benchmarking, foi possível idealizar um sistema de controlo
de produção e gestão de subempreitadas inovador de um ponto de vista Lean.
O sistema criado optimiza a recolha de informação, aproveitando tanto os processos do LPS
como os procedimentos habituais nos escritórios de empreendimentos construção
contemporânea. Disponibiliza as informações de forma completa, sintetizada e explícita,
potenciando o acesso e a utilização da mesma.
Conseguiram-se preconizar rotinas de manutenção com recurso à automatização, tornando o
sistema fácil de manter e pouco exigente em termos de recursos necessários. Os processos
definidos têm elevada capacidade de adaptação às diferentes realidades de produção na
indústria da construção, reforçando a versatilidade do sistema.
O conjunto de indicadores criado permite avaliar o fluxo de produção, rumo à definição e
obtenção de valor interno ao nível dos processos, privilegiando o empreiteiro geral e
subempreiteiros. Este sistema apresenta-se como um complemento ao iron triangle dentro de
uma perspectiva Lean.
A monitorização da produtividade de determinadas actividades permite a comparação com o
comportamento dos indicadores de estabilidade de fluxo, sendo esta funcionalidade do
sistema uma resposta cabal à determinação da existência de uma relação entre um fluxo de
produção contínuo e um aumento da produtividade, premissa do Last Planner System.
Num ponto de vista global, o sistema proposto pelo autor fomenta a aprendizagem por meio
da partilha do conhecimento, levando a aplicação de melhoria contínua por todo o sistema de
gestão da produção.
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
111
CAPÍTULO 5
IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO
SISTEMA
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
112
5.1 INTRODUÇÃO
Apresenta-se neste capítulo o desenvolvimento do sistema proposto na vertente informática,
como forma de potenciar os conceitos envolvidos e promover a fixação de metodologias. Esta
ferramenta informática, designada como ”Portal de Obra”, possui funcionando em rede
permitindo aos cinco elementos chave do sistema (direcção de obra, chefias, preparadores,
medidores e subempreiteiros) partilhar informações comunicando a partir dos canais criados
para o efeito no portal. A plataforma informática, cuja visualização inicial se apresenta na
figura 5.1, não pretende substituir a comunicação inter-pessoal dos elementos da equipa de
produção, mas sim sistematizar procedimentos e organizar o fluxo de informação associado ao
funcionamento do sistema proposto.
Figura 5.1 - Menu inicial do Portal de Obra
É importante salientar que a filosofia Lean, na qual se baseia o sistema, quando implementada
numa organização, tem potencial para modificar, à excepção de valores e pessoas, diversas
características fundamentais, nomeadamente cultura, processos, estrutura, competências e
conhecimentos bem como sistemas em utilização. Assim sendo, chegar a uma “organização
Lean” é um processo gradual com implicações em praticamente toda a organização. Esta
transformação depende de mudanças a nível organizacional e de cultura da empresa que
devem ser apoiadas por ferramentas (Gehbauer, 2008), como é o caso do Portal de Obra. O
início deste processo de transformação tem vindo a ser feito regularmente com recurso à
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
113
introdução do LPS (Gehbauer, 2008), funcionando a introdução gradual desta ferramenta
como um acelerador da evolução da organização rumo ao Lean, como se ilustra na figura 5.2:
Figura 5.2 - Implementação do LPS rumo a uma “organização Lean” (Gehbauer, 2008)
Note-se que o LPS, contendo um conjunto de procedimentos pré-definidos por Ballard
(2000), não necessita obrigatoriamente de conhecimentos profundos dos utilizadores acerca da
filosofia Lean para uma implementação básica. Assim sendo, com o apoio de uma ferramenta
informática que auxilia a manutenção do conhecimento dentro da organização, como o Portal
de Obra, a introdução do LPS sairá facilitada vencendo-se alguma da inércia inicial ao se
tornarem os conceitos deste sistema virtualmente tangíveis.
Nas secções seguintes será descrita a concepção e o âmbito de aplicação do sistema
informático bem como executado um teste às suas funcionalidades quando aplicado a casos
genéricos de um empreendimento de construção. Por fim são apresentadas funcionalidades de
monitorização da implementação bem como indicados pontos de melhoria no sistema.
5.2 DESENVOLVIMENTO DA PLATAFORMA
COLABORATIVA
5.2.1 INTRODUÇÃO DE FERRAMENTAS INFORMÁTICAS
O sistema proposto está proximamente relacionado com as tecnologias de informação na
medida em os seus módulos necessitam, ainda que em diferentes graus de profundidade, de
uma implementação em suporte informático para que sejam potenciados os seus conceitos de
base. A integração das metodologias propostas em software tem como objectivo a substituição
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
114
gradual das práticas organizacionais correntes pelas “boas práticas” que estão na base do
sistema informático (Stijn, 2005). Esta substituição, por vezes indesejada por afectar a cultura
organizacional corrente, constitui uma possibilidade para se introduzirem princípios Lean
dentro de uma organização em todos os horizontes temporais, promovendo a reengenharia
dos processos.
Com o Portal de Obra pretende-se disponibilizar ferramentas que apoiam a implementação de
um sistema baseado no LPS, contribuindo para a diminuição de inércia na adopção de novos
processos de controlo da produção. Tem-se como objectivo a reengenharia dos processos,
sendo promovida pela introdução de um sistema informático que por sua vez se integra no
quotidiano de trabalho dentro um empreendimento (Dillard et al. 2005).
As funções da aplicação informática limitam-se à sistematização de procedimentos e à
organização da informação por intermédio da colaboração dos intervenientes. Apesar de ter
uma forte componente como facilitadora de comunicação interna, não deverá em caso algum
substituir as relações humanas directas, sob pena de prejudicar os princípios de
comprometimento, envolvimento e colaboração efectiva, essenciais ao Lean e ao LPS. O
Portal de Obra pretende também contribuir para a clareza de definição de responsabilidades
de todos os membros envolvidos, potenciando mais uma vez o comprometimento.
Este tipo de sistemas informáticos pode ser entendido como a concretização física e elemento
facilitador de uma racionalidade instrumental dentro de uma estrutura de controlo hierárquico.
Existe a possibilidade destes sistemas constituírem o clima organizacional, estrutura e papéis
dentro de uma empresa. Desta forma a consciência pode ser vista como inferior à lógica. Há
que ter em consideração na sua aplicação que o sentido de responsabilidade individual diminui
à medida que a distância entre objectos e acção aumenta, sendo por isso necessário ponderar
cuidadosamente a introdução de um sistema informático nos processos de trabalho de uma
organização (Dillard et al. 2005). Como será abordado mais à frente, a personalização de um
sistema e a integração com os já existentes podem ser a chave para uma transformação bem
sucedida, afastando as consequências nefastas que estão associadas a mudanças pronunciadas
na cultura de uma organização.
5.2.2 LIGAÇÃO À ARQUITECTURA DO SISTEMA
O Portal de Obra integra os dois módulos que compõem o sistema proposto, necessitando o
segundo módulo do sistema para o seu funcionamento, enquanto o primeiro apenas
necessitará para a divulgação e análise dos resultados. Este portal, notoriamente vocacionado
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
115
para o apoio à elaboração de planeamento de antevisão e protecção da produção possui
diversas aplicações que correspondem aos modelos apresentados no sistema da seguinte
forma (Quadro 5.1):
Quadro 5.1 - Correspondência de aplicações informáticas com a arquitectura do sistema
Software de aplicação do Modelo Modelo proposto
(Fórum de) Gestão de actividades Gestão de pré-requisitos e incompatibilidades
(PAS de) Gestão de prazos Gestão de prazos do Plano de Trabalhos
(Publicação de resultados da) Monitorização de
desempenho
Monitorização de desempenho de empreendimento e
subempreitadas
Documentação de obra (Todos os referidos acima)
Enquanto que a gestão de actividades e prazos origina aplicações directamente interactivas no
portal, a monitorização de desempenho é apoiada pela divulgação de resultados.
Adicionalmente existe uma quarta aplicação que consiste num repositório de ficheiros de
todos os tipos que apoia as restantes funcionalidades do portal. Existe também uma secção
denominada “Informações” que contém dados acerca dos conteúdos do sistema, rotinas e
objectivos, para que os utilizadores possam em qualquer momento clarificar dúvidas
relacionadas com funcionamento do portal. A estrutura do portal será dessa forma a seguinte
(figura 5.3):
Figura 5.3 - Estrutura funcional do Portal de Obra
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
116
5.2.3 CONCEPÇÃO TECNOLÓGICA DA PLATAFORMA
A plataforma informática de apoio ao sistema proposto, o Portal de Obra, é composta por
diversas aplicações de menor dimensão funcionando sobre uma base agregadora que lhes
serve de suporte. A concepção do sistema passou por três fases, desde a sua concepção em
termos de agregação de aplicações, até edição destas de forma a que se adaptassem o melhor
possível ao fim a que se destinam. Em todo o processo foram utilizadas nove ferramentas de
software diferentes para que o sistema se encontrasse em pleno funcionamento. No quadro 5.2
representam-se as fases de evolução do sistema relacionando-se-lhes o software utilizado na
formulação de cada uma.
Quadro 5.2 - Software utilizado na concepção do Portal de Obra
Versão do Portal
Tipo de utilização
Software utilizado Função no
Portal
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
v1.0
Concepção
Joomla! Núcleo do
sistema
v2.0
Agora Fórum Project Fork DOCman
Extensão funcional
Comunicação interna
Gestão de prazos Gestão documental
v2.1
Edição e Adaptação
Microsoft Visual Studio
Microsoft Notepad Adobe Photoshop
(Não fazem parte do portal)
Funcionalidade Tradução Estética
Manutenção e
Alimentação
Microsoft Excel Microsoft Project
Planos de Antevisão e de Execução;
Monitorização de desempenho Planeamento Geral
O software utilizado para a concepção do portal é todo ele de utilização livre e de código aberto.
Está assim isento de pagamento de licenças para utilização podendo também ser alterado por
qualquer pessoa com conhecimentos em bases de dados “mySQL” e programação em código
“php”, dado que é essa a sua base. A utilização do sistema é feita a partir de um interface que
normalmente se denomina por “front office”, sendo o acesso feito directamente a este por parte
dos utilizadores. Já a administração do sistema é feita por intermédio do “back office”, ambos de
acesso em rede. Esquematiza-se simplificadamente a relação destes conceitos com o sistema
na figura 5.4:
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
117
Figura 5.4 - Esquematização do funcionamento do “front office” e “back office”
A administração do sistema resume-se a configurações das aplicações que o compõem (não
disponíveis a partir do “front office”) e à gestão dos conteúdos em geral. Apresenta-se na figura
5.5 o menu inicial do “back office”, composto por botões interactivos e outros elementos.
Figura 5.5 - Menu inicial do “back office” do Portal de Obra
O funcionamento destes menus é tão intuitivo como o do “front office” sendo possível a
qualquer pessoa administrar o sistema desde que tenha competências básicas no domínio
informático e um período de adaptação de algumas horas. Ao nível tecnológico existem
condições determinantes no sucesso da implementação do portal, nomeadamente:
▪ Existência de software para manutenção do sistema: essa condição é garantida na
medida em que o sistema funciona autonomamente, apenas sendo utilizadas para a
manutenção do sistema duas ferramentas informáticas de comum utilização na indústria da
construção, o Microsoft Excel e o Microsoft Project. Não estando integradas no sistema, serão os
seus ficheiros de “output” que irão constar da base de dados por introdução manual, sem
hipótese de incompatibilidade.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
118
▪ Robustez na concepção: o portal é composto por aplicações já testadas e estáveis, apenas
sendo ligeiramente configuradas e personalizadas no seu código. Desta forma não se prevê a
existência de falhas, por parte deste, que levariam à desmotivação na sua utilização (Choo et
al., 2001)
▪ Facilidade de utilização: os menus funcionam à base de botões interactivos, tanto no
“front office” como no “back office” sendo a lógica de funcionamento semelhante à da maioria
das aplicações em uso nos dias de hoje, sendo de grande acessibilidade.
▪ Personalização: A esmagadora maioria das aplicações disponíveis no mercado é elaborada
para se poder adaptar ao máximo de casos possível, facilitando assim a sua comercialização.
Ao ser o mais versátil possível, este tipo de sistema perde em optimização das funcionalidades
e facilidade de implementação. Pelo contrário, o Portal de Obra foi desenvolvido a partir de
observação de pontos de melhoria e novas necessidades concretas num empreendimento de
construção, não sendo uma solução genérica.
Não sendo a implementação um processo meramente determinístico que impõe a sua lógica,
há que ter em conta que a cultura organizacional existente influencia a forma como o sistema
irá ser utilizado (Kayas et al., 2008). Por esse motivo a personalização do software é
determinante no seu sucesso. No entanto, o sistema dificilmente se adaptará completamente à
organização, devendo por isso existir um processo dinâmico mútuo de adaptação entre o
software e os mecanismos organizacionais (Chou et al., 2008).
5.2.4 TECNOLOGIA INFORMÁTICA EXISTENTE
Ao introduzir-se um novo sistema informático numa empresa é essencial garantir a sua
compatibilidade técnica e funcional em relação aos sistemas já existentes (Choo, 2001). Na
empresa em que foram analisados os casos de estudo, o software de utilização interna tem vindo
a crescer em quantidade e dimensão. Contudo, nenhuma das aplicações em utilização se
debruça sobre a questão da comunicação interna entre empreiteiro e subempreiteiros para
incremento da sua produtividade em colaboração. Os sistemas existentes estão vocacionados
para o depósito e gestão de informação online, não promovendo a interactividade dentro da
equipa de produção, como no caso do Portal de Obra.
Fora do âmbito da empresa são do conhecimento público apenas três aplicações a nível
mundial dedicadas à aplicação do LPS: o DePlan (Hammond et al. 2000), WorkPlan (Choo et
al., 1999) e o WorkMovePlan (Choo et al., 2000). O DePlan tem como funções a organização do
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
119
âmbito dos trabalhos, elaboração de matrizes de dependência e elaboração de diagramas de
planeamento. Já o WorkPlan elabora matrizes de constrangimentos e organiza planeamentos
de antevisão e execução. Por fim o WorkMovePlan acrescenta à última aplicação referida a
capacidade de fazer alocação de espaços da obra. Nenhum destes pretende auxiliar
proactivamente a resolução dos pré-requisitos e organizar fluxos de informação, como o
Portal de Obra concebido pelo autor.
5.2.5 APLICAÇÃO NO ESCRITÓRIO DE OBRA
Com a utilização do sistema proposto e em especial da plataforma electrónica de apoio é
possível optimizar alguns dos procedimentos de gestão do empreendimento que foram
descritos no terceiro capítulo como contendo desperdício de tempo e esforço por parte da
equipa de produção. Podendo os espaços de trabalho ser físicos ou virtuais e servindo estes
para que as pessoas trabalhem e partilhem informação (Fischer et al., 2000), podem ser
utilizadas ferramentas online que lhes sirvam de suporte para fins de coordenação de trabalho.
Esta abordagem colaborativa pode conduzir à partilha eficiente de informação acrescentando
valor aos processos. Nos pontos seguintes descrevem-se as alterações de processos de gestão
espectáveis derivadas da utilização do Portal de Obra.
5.2.5.1 Utilização de suportes físicos de informação
Na actualidade a utilização de papel, ficheiros ou quadros em suporte físico é habitual nos
escritórios de um empreendimento de construção. A utilização dada a estes elementos pode
ser igualmente conseguida com tecnologia informática, conseguindo-se visualizações
interactivas com maior potencial do que nos formatos físicos baseados em papel. O Portal de
Obra pretende constituir um espaço de trabalho que contribui para a organização da
informação, reduzindo a quantidade de papel em circulação e a entropia associada. Note-se
que grande parte da informação é gerida electronicamente e não é analisada da mesma forma,
com consequente perda de eficácia e eficiência. Existe, no entanto, muita informação que não
está disponível electronicamente mas que tem valor, não devendo o sistema funcionar
radicalmente sem que seja avaliada a adequabilidade às diferentes situações.
5.2.5.2 Reuniões de obra com subempreiteiros
As reuniões de obra com os vários intervenientes são praticamente insubstituíveis na medida
em que servem para que as pessoas se conheçam, estabeleçam bases de comunicação e
resolvam conflitos. Especialmente numa abordagem Lean da produção esta faceta de
envolvimento, compromisso e colaboração interpessoal é essencial. Todavia, se ferramentas
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
120
electrónicas forem utilizadas, as reuniões podem ser reformuladas na sua duração e âmbito
com vista a maior produtividade e eficácia.
O objectivo da utilização destes sistemas, como o Portal de Obra é exemplo, é permitir que se
discuta em reunião mais tarefas preditivas, em detrimento das tarefas descritivas ou avaliativas
reduzindo também a sua duração por uma utilização mais eficaz do tempo. Como já referido
no terceiro capítulo os processos de gestão em alguns empreendimentos ignoram as relações
críticas entre informação e não dá o devido relevo à informação crítica/importante. Por isso
os membros da equipa gastam muito tempo a descrever informações entre eles, sobrando
pouco tempo para trabalhar a informação tendo em vista a tomada de decisões. Por outras
palavras, pretende-se que se incida cada vez mais sobre a questão de “o que acontece se” e
menos nas questões de “quem”, “onde” e ”como”, por exemplo. A maior parte do tempo das
reuniões é passado a obter informação sobre o passado e futuro (Ballard, 2000) em vez de se
identificar potenciais conflitos e discutir planeamento.
Acrescente-se que dada a dificuldade em aceder à informação de forma eficaz e eficiente
durante o processo de planeamento em reunião, as tarefas dependentes de uma série de
informações têm menor probabilidade de serem preparadas e completadas com sucesso
(Fischer et al., 2000).
Por outro lado, a utilização de ferramentas electrónicas associada a equipamentos de projecção
de imagem permite que se mostre a informação a todos os membros de uma reunião,
promovendo a discussão de ideias, identificação de relações críticas entre informação e
participação na elaboração de planeamento. Desta forma diminui-se também a alheação dos
participantes nas reuniões devido à falta de interactividade com estes.
5.2.5.3 Preparação de trabalhos
Quanto à preparação das actividades, num sistema LPS, o Portal de Obra pode alterar os
processos de trabalho. O sistema pode ser utilizado durante as reuniões, mas principalmente
ao longo da semana a partir dos escritórios de obra dos subempreiteiros. Será desta forma
possível aceder à informação e contribuir para a resolução de problemas independentemente
do local onde se encontra o utilizador, bem como do seu horário de trabalho ou
disponibilidade de outras pessoas do empreendimento para dialogar ou reunir.
Também as visitas semanais aos locais da obra onde decorrem os trabalhos terão a sua
duração encurtada e o seu âmbito direccionado para as questões mais importantes, na medida
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
121
em que será possível a cada empreiteiro identificar os problemas ao longo da semana,
comunicando-os por texto e imagem com vista à sua discussão e resolução.
5.2.5.4 Processos de controlo da produção
O controlo da produção, nomeadamente a partir da monitorização do progresso das
actividades, foi identificado como sendo um processo passível de melhoria no terceiro
capítulo. A descrição exaustiva de actividades durante as reuniões e visitas à obra pode ser
evitada ou reduzida. Bastará para o efeito utilizar os processos de planeamento e controlo
sistemáticos propostos no capítulo anterior fazendo a sua comunicação por intermédio do
portal. Assim, existirá mais tempo para discutir os resultados e planear soluções. Note-se que a
inexistência de divulgação da informação (relativa ao controlo de produção e não só) leva à
falta de transparência e ao desenvolvimento de relações adversas entre os participantes (Choo,
2001).
5.3 TESTE DA PLATAFORMA COLABORATIVA
A plataforma electrónica de apoio ao sistema é composta pelas quatro ferramentas já
apresentadas atrás. Nesta secção irão ser apresentadas em detalhe, bem como o seu método de
utilização. O acesso ao sistema é feito a partir do menu inicial que se apresenta na figura 5.6
dividido em áreas funcionais de trabalho:
LEGENDA:
1- Cabeçalho da aplicação identificativo da entidade utilizadora
2- Menu principal das aplicações
3- Menu de informações do sistema
4- Área de registo e autenticação dos utilizadores
5- Área de utilização das aplicações
Figura 5.6 - Organização de áreas funcionais de trabalho do Portal de Obra
Os utilizadores podem fazer o registo no sistema por livre iniciativa, sendo depois a sua conta
aprovada pelo administrador, ou podem ter a sua conta criada directamente no “back office”.
Existirá assim uma lista que ser torna numa base de dados com informação sobre os
utilizadores, como se ilustra na figura 5.7.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
122
O registo a partir do “back office” (figura 5.8-a) permite atribuir um grupo ao utilizador que está
relacionado com permissões de acesso a diversas funcionalidades dentro do sistema. Já o
registo a partir do “front office” não permite que o próprio utilizador defina os seus privilégios
de acesso (figura 5.8-b).
Figura 5.7 - Interface de gestão de utilizadores do sistema no “back-office”
a) b)
Figura 5.8 - Menu de introdução de dados de novo utilizador a partir do “back office” (a) e do “front office” (b)
A base de dados de utilizadores do sistema pode ser importada automaticamente para a base
de dados de utilizadores de cada aplicação individualmente, sendo aí também possível definir
privilégios de acesso a conteúdos e funcionalidades.
Em seguida serão apresentadas as quatro aplicações que compõem o sistema, além da sua base
agregadora. Serão apenas descritas as funcionalidades de cada aplicação relevantes para o
funcionamento do sistema.
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
123
5.3.1 GESTÃO DE ACTIVIDADES
Esta aplicação, em conjunto com a ferramenta de gestão de prazos apresentada mais à frente,
constitui a base tecnológica do segundo módulo do sistema proposto. A gestão de actividades
será feita na vertente da identificação, comunicação e resolução de pré-requisitos e
incompatibilidades de actividades planeadas no plano de antevisão.
Este processo de comunicação será feito online centralizando-se a informação neste sistema.
Saliente-se que a gestão de empreendimento pode claramente ser melhorada quando os seus
participantes comunicam e partilham as boas práticas, lições aprendidas, experiências e visões
(Krogh, 2002). Também a melhoria na comunicação interna fora já identificada no terceiro
capítulo desta dissertação como uma necessidade premente em empreendimentos de
construção.
Será também possível com esta aplicação executar requisições de informação, tipicamente
elementos desenhados, entre os elementos da equipa de produção do empreendimento (tanto
empreiteiro geral como subempreiteiros).
5.3.1.1 Estrutura da aplicação
A aplicação está dividida em diversas secções que têm como função organizar as entradas no
sistema por tipo, data e utilizador, como se representa na figura 5.9. Existe uma secção para
pré-requisitos e incompatibilidades, estando dividida nas últimas duas semanas do plano de
antevisão (considerando o exemplo de quatro semanas de duração, como as duas primeiras
com trabalho pronto a iniciar). Por sua vez existe para cada uma dessas semanas uma secção
para utilizadores da parte do empreiteiro geral e outra para os subempreiteiros, decorrendo os
fluxos de informação como descrito no capítulo anterior.
No que concerne às requisições, a divisão é feita somente no tipo de utilizadores, sendo estes
do empreiteiro geral ou de cada um dos subempreiteiros. Apresenta-se em seguida na figura
5.10 o menu inicial da aplicação de gestão de actividades com secções mencionadas atrás.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
124
Figura 5.9 - Estrutura funcional da aplicação de Gestão de Actividades
Figura 5.10 - Menu inicial da aplicação de Gestão de Actividades
No topo da zona de trabalho existem cinco separadores funcionais que têm diversas
funcionalidades, como se explica no quadro 5.3.
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
125
Quadro 5.3 - Separadores funcionais da aplicação de Gestão de Actividades
Ícone / Função
Descrição
Índice da aplicação, isto é, a raiz das duas categorias que a compõe: “Pré-requisitos e incompatibilidades” e “Requisições”.
Lista completa de todos as entradas submetidas ao sistema, designadas por tópicos.
Lista de utilizadores onde é possível executar uma pesquisa por nome ou grupo.
Sistema de mensagens privadas entre utilizadores integrado na aplicação.
Lista de regras de utilização do sistema definidas pela administração do mesmo.
Sistema de procura de entradas por palavra, autor ou secção.
Está também disponível uma barra de acesso rápido (Figura 5.11) a todas as secções da
aplicação, não sendo necessário percorrer individualmente cada um dos níveis até chegar à
localização desejada.
Figura 5.11 - Barra de acesso rápido às secções da aplicação de Gestão de Actividades
A partir do “back office” é possível editar as secções ou definir novas, hierarquicamente
organizadas sem limite de níveis ao inserir-se secções dentro de outras secções. Na figura 5.12
apresenta-se o menu de gestão das secções:
Figura 5.12 - Menu de gestão de secções da aplicação de Gestão de Actividades
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
126
5.3.1.2 Introdução de uma nova entrada
Ao ser localizada a secção pretendida poderá ser criada uma nova entrada, de qualquer tipo,
bastando para isso clicar no botão “Novo tópico” (Figura 5.11) e preencher o formulário que
se apresenta em na figura 5.13. Neste formulário é possível inserir um “assunto”, bem como
uma “descrição” que permitem uma breve caracterização da entrada. Existe também um
campo de maior dimensão para uma descrição completa da entrada, dispondo-se de
ferramentas de edição de texto e de uma funcionalidade que permite anexar todo o tipo de
ficheiros. No preenchimento deste formulário devem ser utilizados os ícones presentes no
quadro 5.4 para que numa posterior consulta das secções se identifique mais facilmente o cariz
de uma entrada bem com da evolução do processo de discussão e resolução.
Figura 5.13 - Formulário de introdução de nova entrada
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
127
Quadro 5.4 - Ícones funcionais para preenchimento do formulário de nova entrada
Ícone Significado
Entrada relativa a uma ou várias incompatibilidades entre actividades
Entrada relativa à resolução de um pré-requisito ou reposta a uma requisição
Entrada relativa a um ou vários pré-requisitos associados a uma actividade
Entrada relativa à requisição de elemento desenhado ou esclarecimento de qualquer ordem
a)Pré-requisitos e incompatibilidades
Para se criar uma entrada de PRI podem-se percorrer as diferentes secções já referidas, ou
aceder directamente a partir da lista de acesso rápido. Escolhendo, por exemplo, a última
semana do plano de antevisão para inserir uma entrada é apresentada a seguinte visualização
(figura 5.14):
Figura 5.14 - Secção de PRI para a última semana do plano de antevisão
Assumindo que é um subempreiteiro a criar a entrada do PRI, a visualização apresentada é a
que consta em seguida na figura 5.15. Em todas as secções é apresentado o “caminho”
percorrido até se chegar à actual, para que o utilizador se saiba situar exactamente.
Figura 5.15 - Secção de PRI para subempreiteiros na última semana do plano de antevisão
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
128
Após clicar no botão verde de “Novo tópico”, acede-se ao formulário com o mesmo nome, já
apresentado atrás. Sugere-se um preenchimento padrão da entrada de forma a que sistematize
o processo de submissão de PRI, para uma melhor consulta dos dados.
Na figura 5.16 apresenta-se o formulário de “Novo tópico” para um caso genérico de um pré-
requisito, estando todos os campos preenchidos com o modelo de informação a incluir. Após
o preenchimento do formulário basta clicar no botão verde de “ Submeter” para que seja
criada a entrada. Pode também ser feita uma pré-visualização do conteúdo por meio do botão
respectivo. Em seguida apresenta-se na figura 5.17 o resultado da entrada como poderá ser
visualizado no sistema por um utilizador.
Figura 5.16 - Formulário de novo PRI com exemplo de preenchimento
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
129
Figura 5.17 - Resultado de uma entrada de pré-requisito no sistema
O resultado para a submissão de uma incompatibilidade será a visualização da figura 5.18:
Figura 5.18 - Resultado de uma entrada de incompatibilidade no sistema
Neste tipo de entradas será de grande interesse proceder à anexação de fotografias de modo a
agilizar a passagem de informação acerca da incompatibilidade, muitas vezes de difícil
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
130
descrição por texto. Retrocedendo à secção das semanas do plano de antevisão é possível
observar na figura 5.19 como são apresentadas e organizadas as entradas de PRI criadas atrás:
Figura 5.19 - Secção de PRI da última semana do plano de antevisão após submissão de duas entradas
b) Requisições
No caso de se tratar de uma requisição de elementos desenhados, esclarecimentos ou outras
informações, o preenchimento do formulário de entrada deverá originar a seguinte
visualização (figura 5.20):
Figura 5.20 - Resultado de uma entrada de requisição no sistema
Neste caso utilizou-se um exemplo concreto de uma fachada de um edifício dado o número
de possibilidades de preenchimento possíveis neste tipo de entrada. Na secção de raiz deverá
ser visível a entrada da seguinte forma (figura 5.21):
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
131
Figura 5.21 - Secção de requisições após submissão de uma entrada
5.3.1.3 Resposta a uma entrada
a) Resposta a pré-requisitos e incompatibilidades
Ao ser resolvido um pré-requisito deve ser feita uma resposta à entrada original cujo modelo
de preenchimento se apresenta em seguida na figura 5.22:
Figura 5.22 - Resultado de uma entrada de resposta a um pré-requisito no sistema
Após a resposta do utilizador responsável pela resolução do pré-requisito a organização das
entradas é a que se apresenta em seguida na figura 5.23:
Figura 5.23 - Secção de PRI da última semana do plano de antevisão após resposta
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
132
Dado o número considerável de entradas a ser criadas a cada semana poderá não ser prático
criar novas entradas apenas de resposta, devendo esta ser feita directamente nas entradas de
origem, a partir do botão “responder” como se representa na figura 5.24:
Figura 5.24 - Resposta directa a uma entrada
b) Resposta a requisições
Em resposta, as informações poderão ser dada a partir do campo de descrição ou por
anexação de ficheiros, resultado a visualização da figura 5.25:
Figura 5.25 - Resultado de uma entrada de resposta a uma requisição
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
133
Resultará assim na raiz da secção a seguinte visualização, com a requisição e a resposta a esta,
como consta da figura 5.26:
Figura 5.26 - Secção de requisições após resposta
5.3.1.4 Notificações
Para que todos os utilizadores do sistema possam ter conhecimento em tempo real das
entradas criadas no Portal, é necessário que o sistema os notifique da existência de novos
conteúdos. Para tal, o sistema dispõe de uma funcionalidade baseada em “RSS feeds”. Este
sistema funciona basicamente a partir da ordem dada por cada utilizador ao sistema para que
este fique referenciado pelo seu browser de internet ou pelo seu servidor de e-mail, notificando-o
acerca da secção (ou secções) que subscreveu, não sendo necessário consultar regularmente o
portal para estar informado.
A opção de subscrição está presente em diversos pontos desta aplicação de gestão de
actividades. Na figura 5.27 mostra-se a opção de se ser notificado de respostas a um entrada
criada (figura a) ou ser notificado de actualizações de uma secção inteira (figura b) bastando
aceder ao menu de subscrição pelo ícone que se apresenta.
a) b)
Figura 5.27 - Funcionalidade de subscrição de actualizações do sistema para uma entrada (a) ou secção (b)
Após a selecção da opção de notificação por “RSS feeds” surgirá uma visualização que contém
uma lista de opções, permitindo assim ao utilizador escolher a forma como deseja ser
notificado, como se ilustra em seguida na figura 5.28:
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
134
Figura 5.28 - Lista de selecção de tipo de notificação
5.3.1.5 Outras funcionalidades
Esta aplicação possui ainda outras funcionalidades como é exemplo a possibilidade de tornar
fixas, fechar, fundir, mover, classificar ou cancelar a subscrição de determinadas entradas
(figura 5.29). O acesso a algumas destas funções poderá estar limitado, não tendo todos os
utilizadores acesso.
Figura 5.29 - Lista de gestão de entradas no sistema
É também possível personalizar as contas de utilizador com diversas informações acerca
destes a partir do separador de “utilizadores”. A introdução de fotografia do utilizador para
acompanhar as suas entradas no sistema é aconselhável de forma a mais rápida identificação e
compreensão do contexto da informação. No referido separador de configuração é possível
definir, entre outras características da conta:
▪ Contactos do utilizador (contas de e-mail, telemóvel, telefone da empresa ou outros);
▪ Definições de visualização de entradas no sistema;
▪ Lista de entradas do utilizador;
▪ Gestão de entradas ou secções subscritas para notificação.
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
135
5.3.2 GESTÃO DE PRAZOS
Esta aplicação vocacionada para a gestão dos prazos do plano de antevisão tem como
principal função manter os utilizadores informados das datas críticas de actividades bem como
do seu progresso. A partir da elaboração do plano de antevisão, será possível determinar as
datas de conclusão parcelares apresentadas no capítulo anterior que se encontravam associadas
à gestão visual do planeamento. O sistema deverá notificar determinados utilizadores destas
datas para que se mantenha uma visão global mas ao mesmo tempo detalhada do progresso de
cada plano de fase.
5.3.2.1 Estrutura da aplicação
Na figura 5.30 apresenta-se o menu inicial da ferramenta que se denomina “painel de
controlo”. Neste consta um quadro com todas as entradas criadas no sistema sendo a lista
aberta referente às “áreas de trabalho”, que correspondem aos “projectos” dentro deste
sistema. Estes elementos serão apresentados detalhadamente mais à frente neste documento.
Além do “painel de controlo” a aplicação está dividida em mais duas secções funcionais e duas
relacionadas com configurações do sistema. No quadro 5.5 apresentam-se as secções que
compõem esta parte do portal, bem como uma breve descrição das suas funcionalidades.
Figura 5.30 - Menu inicial da aplicação de Gestão de Prazos
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
136
Quadro 5.5 - Secções funcionais da aplicação de Gestão de Prazos
Ícone / Função
Descrição
Remete para o menu inicial da aplicação onde são apresentadas todas as entradas criadas bem parte dos seus atributos.
Remete para a secção de “projectos”.
Remete para a secção de “tarefas”, pertencentes a “projectos”.
Remete para a secção de administração de utilizadores desta aplicação.
Remete para a secção de configurações diversas desta aplicação.
Será assim possível criar entradas de “projecto”, “milestones” e “tarefas” numa lógica de WBS
de actividades em três níveis como se ilustra na figura 5.31:
Figura 5.31 - Estrutura organizacional das entradas do sistema
5.3.2.2 Projectos
A primeira divisão hierárquica na organização das actividades é denominada por “projecto” e
numa utilização LPS deveria corresponder aos planos de fase provenientes do planeamento
geral. Em seguida apenas seriam utilizadas as “tarefas” depois de seleccionados os pacotes de
trabalho do plano de antevisão, como explicado no segundo capítulo.
Todavia, pode ser feita outro tipo de organização para agilizar a utilização desta ferramenta.
Sugere-se que para cada plano de antevisão se elabore um “projecto”, inserindo-se aí as
“tarefas” utilizando-se as “milestones” para dividir as actividades por zonas, subempreiteiros,
tipos de trabalho ou outra forma conveniente. O plano de fase estará subentendido e aquando
da sua mudança o sistema será reiniciado, arquivando-se as entradas antigas em base de dados.
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
137
Nas visualizações que se seguem são apresentados exemplos em que foi feita uma divisão por
três zonas de trabalho.
Ao aceder-se ao submenu de “projectos” é possível visualizar uma lista das entradas criadas,
bem como uma lista de acesso rápidos aos “projectos” criados e uma funcionalidade de
procura e filtragem de resultados, como se ilustra na figura 5.32:
Figura 5.32 - Menu de “projectos” do sistema
Neste menu existem seis ícones com funcionalidades que permitem executar distintas acções
na gestão das entradas, como consta do quadro 5.6:
Quadro 5.6 - Ícones funcionais do sistema
Ícone / Função Descrição
Cria novo “projecto”, abrindo o submenu de opções para definição do mesmo
Copia “projecto” já criado para alteração de características
Arquiva “projecto”, não apagando da base de dados, mas retirando-o da lista principal
Apaga definitivamente um “projecto” criado
Dá acesso ao submenu de configurações (permissões de acesso, secções, painéis, processos, linguagem e temas da aplicação)
Dá acesso ao submenu de edição de entradas de “projecto”
▪ Criar um “projecto”
Para criar um novo “projecto” deve clicar-se no ícone de “novo”, abrindo automaticamente o
seguinte formulário (figura 5.33):
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
138
Figura 5.33 - Formulário de novo “projecto” - informação geral
Após a inserção de informações gerais sobre o projecto com o auxílio de uma ferramenta de
edição simples de texto é possível configurar o “projecto” no que toca a utilizadores (figura
5.34):
Figura 5.34 - Formulário de novo “projecto” - convidar utilizadores
Após a definição de utilizadores afectos ao “projecto” dever-se-á definir uma data limite para
este, caso aplicável. Dado que se trata de um plano de antevisão cujas datas de término das
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
139
actividades podem variar muito, sugere-se que não se use essa funcionalidade. Contudo, caso
se utilize, é apresentado um calendário auxiliar para determinação desta, como se mostra na
figura 5.35:
Figura 5.35 - Formulário de novo “projecto” - data limite
Deverão também ser determinadas as condições de acesso ao “projecto”, bem como definir o
aspecto de visualização deste (algo que poderá ser útil para o caso de haver um grande número
de entradas) e contactos do responsável caso se justifique, como se apresenta na figura 5.35:
Figura 5.36 - Formulário de novo “projecto” - outras configurações
O “projecto” poderá ser “público” na medida em que será visível por utilizadores não afectos
a este. Poderá ser permitido o registo autónomo de utilizadores no “projecto” ou não,
dependendo da intenção do criador da entrada.
5.3.2.3 Tarefas e milestones
Cada plano de antevisão é composto de múltiplas actividades, tendo estas uma localização
específica na estrutura desta aplicação. Dento de cada “projecto” criado poderão existir
diversas “milestones” e “tarefas”, correspondendo as últimas às actividades do plano de
antevisão. Enquanto que a definição de “milestone” remete para um marco temporal no
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
140
progresso do empreendimento, por uma questão prática irão ser utilizadas neste sistema como
um mecanismo de organização da informação, agrupando actividades. O menu de “tarefas” e
também de “milestones” é acessível a partir do menu inicial da aplicação pelo ícone de “tarefas”
apresentando-se a sua visualização na figura 5.36:
Figura 5.37 - Barra de procura detalhada no menu “tarefas”
Segue-se no quadro 5.7 a descrição resumida das funcionalidades associadas aos vários ícones
interactivos deste menu:
Quadro 5.7 - Ícones funcionais da secção de “tarefas”
Ícone / Função Descrição
Cria uma nova tarefa.
Cria uma nova milestone.
Reordena a lista de tarefas e milestones.
Copia uma tarefa ou milestone já criada.
Apaga uma tarefa ou milestone.
Configura a secção de tarefas em diversos parâmetros.
a) Criar uma “milestone”
Para criar uma “milestone” basta aceder ao formulário próprio por intermédio do ícone “nova
milestone”. Em seguida apresenta-se na figura 5.38 uma visualização do formulário já
preenchido com um exemplo de utilização de uma “milestone” para divisão espacial num
empreendimento de construção.
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
141
Figura 5.38 - Formulário de nova “milestone”
As funcionalidades de data limite e definição de prioridade poderão não ser utilizadas nesta
parte do sistema, dependendo da utilização dada às “milestones”, sendo possível fazê-lo mais à
frente na criação de tarefas como ser verá em seguida.
b) Criar uma “tarefa”
Para criar uma entrada de “tarefa” basta aceder ao formulário próprio por intermédio do ícone
de “nova tarefa”. Estes formulários são idênticos aos de “milestones”, como se poderá ver em
seguida. Primeiramente é necessário inserir um título, a “milestone” de raiz e uma breve
descrição se necessário, como se exemplifica na figura 5.39:
Figura 5.39 - Formulário de nova “tarefa” - informação geral
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
142
Em seguida deverá ser inserida a data limite, dado disponível no plano de antevisão, bem
como o progresso da actividade (tipicamente nulo ao ser inserida a tarefa) e por fim a
prioridade desta. Como explicado no capítulo anterior, uma actividade poderá ter mais
importância dependendo do quão crítica será, de acordo com a conceptualização sugerida. De
acordo com essa classificação a actividade poderá ser classificada como mais ou menos
prioritária. Em seguida ilustra-se o segmento do formulário relativo a estas configurações
(figura 5.40):
Figura 5.40 - Formulário de nova “tarefa” - data limite, progresso e prioridade
Por fim será necessário adicionar membros da actividade dentro da lista de membros do
projecto (figura 5.41). Estes irão ser notificados da criação da actividade bem como de
actualizações feitas ao progresso desta, de acordo com o preconizado no sistema apresentado
no capítulo anterior.
Figura 5.41 - Formulário de nova “tarefa” - membros do projecto
Na figura 5.42 apresenta-se um exemplo de notificação via e-mail para a criação da “tarefa”.
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
143
Figura 5.42 - Exemplo de notificação por e-mail de uma “tarefa”
Finda a inserção de entradas de “tarefas” e “milestones” o menu inicial de “tarefas” apresenta-se
como uma WBS de dois níveis com diversos atributos (figura 5.44). O campo de progresso é
actualizável por intermédio de uma lista de selecção graduada em percentagem (figura 5.45)
sendo enviadas novas notificações via e-mail aos membros da tarefa cada vez que este
parâmetro for alterado.
Figura 5.43 - Actualização de progresso a partir de menu de “tarefas” e “milestones”
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
144
5.3.2.4 Utilizadores e permissões
O acesso à aplicação está limitado aos utilizadores nela registados, podendo ser o seu registo
importado da lista de utilizadores do portal, ou geridos autonomamente nesta aplicação. Na
figura 5.44 apresenta-se uma visualização da lista de utilizadores própria da aplicação.
Figura 5.44 - Lista de utilizadores
Quanto às permissões de acesso, estas são definidas por intermédio de pontuações atribuídas a
cada utilizador, perante uma pontuação mínima necessária para aceder a diversas secções da
aplicação. Na figura 5.45 apresenta-se uma visualização da funcionalidade de gestão de
permissões de acesso para esta aplicação.
Figura 5.45 - Definição de privilégios de acesso
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
145
5.3.3 MONITORIZAÇÃO DE DESEMPENHO
5.3.3.1 Publicação de relatórios
A publicação dos relatórios de desempenho deverá ser feita por via electrónica no portal e por
afixação em papel num local da obra com visibilidade para todas as equipas, tipicamente a sala
de reuniões, por razões distintas, como será explicado no ponto seguinte. Segue-se na figura
5.46 uma visualização do portal na secção “Monitorização de desempenho” com parte do
relatório do empreiteiro geral, seguindo-se o dos subempreiteiros, que não é visível neste
exemplo.
Figura 5.46 - Publicação de relatório de desempenho do empreiteiro geral
Adicionalmente todos os relatórios estarão disponíveis como ficheiro na secção de Gestão
Documental para que seja possível a todos os elementos a sua consulta mesmo depois de
decorrida a semana à qual reportam os relatórios. Nudurupati et al. (2007) concluíram que um
SMD bem concebido e implementado só atingirá maior sucesso se for auxiliado por um
Measurement Information System35 (MIS) conseguindo-se uma gestão da produção dinâmica e
crescentemente proactiva. A divulgação dos resultados no portal pretende assim contribuir
para esse fim.
35 Um MIS deverá apoiar a recolha, análise, interpretação e divulgação dos resultados do SMD.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
146
5.3.3.2 Análise de resultados
Fornecer apenas a informação não é suficiente para melhorar os resultados da produção. O
sucesso provém do comportamento dos intervenientes ao utilizar estes dados (Nudurupati et
al., 2007). Enquanto na publicação pela via electrónica se pretende que esta informação esteja
constantemente disponível para todos os utilizadores à distância, a afixação em papel deverá
ter como objectivo o diálogo dos intervenientes acerca dos resultados obtidos.
Promovendo desta forma a competitividade a partir de benchmarking interno no
empreendimento, será expectável que os subempreiteiros pior classificados observem os
valores de referência e activamente procurem a melhoria do seu trabalho. Note-se que
segundo Koskela (1992), os princípios do Lean numa fase avançada de implementação se
focam no bechmarking e transparência dos processos para melhoria contínua do fluxo de
produção. Numa fase mais avançada poderá surgir um espírito colaborativo que promova a
aprendizagem entre os próprios subempreiteiros rumo a uma uniformização de desempenho a
nível elevado.
5.3.4 GESTÃO DOCUMENTAL
Esta aplicação vocacionada para a gestão documental serve de apoio às restantes, contendo
documentação em formatos passíveis de impressão ou qualquer outro tipo de ficheiros que
necessitem de ser disponibilizados aos utilizadores e que não possam ser obtidos nas outras
aplicações.
O sistema proposto leva a que existam fluxos de informação para os quais os usuais servidores
de e-mail não têm capacidade e caso tivessem levariam a que as contas dos utilizadores
estivessem permanentemente a receber informações, com expectável aumento de entropia
para o sistema.
Esta aplicação contribui assim para maior organização da documentação da equipa de
produção, diminuído os ficheiros dispersos e permitindo ter a informação mais acessível,
criando-se um histórico documental da obra. Além do apoio ao sistema baseado no LPS que é
proposto poderá também ser utilizada esta ferramenta para outros. Como exemplo são dados
sistemas da qualidade, segurança, ambiente ou até documentação acerca de materiais ou
equipamentos que possam ser alvo de análise pelo empreiteiro ou subempreiteiros, como se
apresenta na figura 5.47:
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
147
Figura 5.47 - Menu inicial da aplicação de gestão de Documentação de Obra
5.3.4.1 Carregamento de ficheiros
O carregamento de ficheiros para o sistema é feito a partir de formulários de preenchimento
expedito, acessível a partir do ícone “submeter documento”. Em primeiro lugar é necessário
escolher a forma de carregamento, estando disponíveis três formas, como representado na
figura 5.48:
Figura 5.48 - Lista de opções na submissão de documento
Após a selecção do método de carregamento e escolha do ficheiro a partir da localização
escolhida, surge o formulário de submissão de documento (figura 5.49) onde é escolhida a
pasta (ou categoria) onde será disponibilizado, bem como uma descrição e outros parâmetros:
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
148
Figura 5.49 - Formulário de submissão de documento
Após o preenchimento do formulário o ficheiro ficará disponível para aprovação do autor,
sendo depois publicado para que fique disponível como se explicará em seguida:
5.3.4.2 Permissões de acesso
Com a definição de permissões de acesso, incrementa-se a segurança de utilização alargando-
se por isso a quantidade de possíveis utilizadores da aplicação. Desta forma é possível definir
permissões como se ilustra na figura 5.50:
a) b)
Figura 5.50 - Definições de acesso à documentação
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
149
Os documentos podem ser carregados para o sistema, sem que sejam publicados
imediatamente. Pode também ser actualizados, sendo essa informação dada pelo sistema por
intermédio da data de última actualização. Garante-se assim a utilização das versões mais
actualizadas para evitar, por exemplo, custos de duplicação e evitar erros decorrentes de
utilização de versões obsoletas.
Ao se submeter um documento, este aparecerá numa lista, acompanhado de um ícone
identificativo do tipo de ficheiro. Após a aprovação a partir do botão de cor verde “aprovar”
no fundo da visualização apresentada na figura 5.52, seguida de publicação por intermédio do
mesmo botão, agora com o termo “publicar” o nome do ficheiro passará a ter um fundo
vermelho seguido de branco, como se mostra na figura 5.53. Após estas duas etapas é então
possível aos utilizadores com permissão descarregar o ficheiro.
Figura 5.51 - Documento submetido antes de aprovação
Figura 5.52 - Documento pronto a ser descarregado após aprovação e publicação
Esta aplicação contém também uma funcionalidade de pesquisa de ficheiros. Esta é acessível
por intermédio do ícone “procurar documento” podendo a pesquisa ser executada por
palavra-chave, categoria, entre outras formas, como se apresenta na figura 5.53:
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
150
Figura 5.53 - Funcionalidade de procura de documento
5.4.4 MONITORIZAÇÃO DA IMPLEMENTAÇÃO
Como primeiro contacto com o LPS e rumo à concretização de uma organização Lean podem
ser executados dois tipos de implementação piloto: abrangente e superficial ou localizada e
concentrada (Arbulu et al., 2006). Na figura 5.54 apresenta-se uma esquematização da segunda
opção.
Figura 5.54 - Implementação localizada e concentrada (Arbulu et al., 2006)
. Sugere-se que seja executada da última forma referida pelos seguintes motivos:
▪ Na construção, a existência de diversos empreendimentos com relativa autonomia
decisória e financeira permite que cada um deles possa ser um laboratório de ensaio
de novos métodos, não pondo em causa a estabilidade de toda a organização.
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
151
▪ A inovação deve ser posta em prática separadamente num caso piloto
criteriosamente escolhido, já que apesar do seu potencial, poderá não suportar numa
primeira fase as cargas de exigência aleatórias que a indústria apresenta.
▪ Uma implementação isolada e profunda permite avaliar com maior exactidão a
reacção da organização, sendo possível analisar mudanças críticas na estrutura,
processos e sistemas de suporte.
Acrescente-se que já em §5.1 fora referido que, segundo Gehbauer (2008) a aceleração do
processo de transformação seria facilitada a partir de implementações piloto do LPS, em
detrimento de iniciativa abrangente e superficial a partir da gestão de topo, como se
esquematiza na figura 5.55.
Figura 5.55 - Implementação abrangente e superficial (Arbulu et al., 2006)
É possível avaliar o sucesso da implementação da aplicação informática que apoia o sistema
por intermédio da análise da sua utilização. Esta pode ser estudada, por exemplo, quanto à
frequência por determinados utilizadores, horários de utilização, quantidade e tipo de dados
descarregados. A aplicação de gestão de actividades possui uma funcionalidade que permite
identificar os utilizadores mais activos (figura 5.56-a) enquanto a ferramenta de gestão
documental mantém um registo do número de acessos a cada documento e o sistema no seu
todo permite controlar horários, datas, quantidade de dados entre outros no que concerne ao
acesso ao Portal de Obra (figura 5.56-b). Desta forma é possível monitorizar o sucesso na
adesão ao sistema por parte dos utilizadores.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
152
a) b)
Figura 3 - Funcionalidade de monitorização de acessos à aplicação de gestão de actividades (a) e ao portal (b)
O sistema informático pode também ser útil avaliação do sucesso do sistema no seu todo na
medida em que é possível disponibilizar questionários (por meio de votações), podendo ser
recolhido retorno de opinião dos utilizadores com regularidade para uma melhoria constante
do sistema. Não obstante, a recolha de opiniões e análise de resultados periódica junto de
vários elementos ligados à gestão dos empreendimentos nos diversos níveis decisores é
essencial ao sucesso da implementação.
5.4.5 PROPOSTAS DE MELHORIA
Propõem-se as seguintes melhorias ao sistema proposto, pressupondo que não exista alteração
de âmbito ou complexidade, tema abordado no capítulo seguinte:
▪ Tradução integral em língua portuguesa para eliminar qualquer ambiguidade na utilização das
aplicações. Actualmente o Portal de Obra está apenas parcialmente traduzido. Deverão ser
também solucionados os problemas de codificação que impedem a utilização de alguns
caracteres.
▪ Integração das aplicações numa só, juntando-as à rede interna da empresa eliminando
também redundância de funcionalidades
▪ Eliminação de todas as funcionalidades que não acrescentem valor ao funcionamento de
cada aplicação dentro do sistema, tornando-o mais simples, rápido e eficaz.
5.5 CONCLUSÕES
Com o desenvolvimento do Portal de Obra foi possível passar à prática os conceitos teóricos
e arquitectura do sistema apresentados. Esta concretização num sistema informático em rede
foi possível a partir da utilização de software de código aberto e livre utilização. Desta forma,
CAPÍTULO 5-IMPLEMENTAÇÃO, TESTE E APLICAÇÃO DO SISTEMA
153
um dos entraves à utilização destes sistemas, o seu custo, foi eliminado por completo. Já a
personalização do sistema, outro factor crítico de sucesso, foi também foi conseguida, ainda
que com pequenas simplificações. Dada a diversidade de potenciais utilizadores uma
plataforma deste tipo necessita de ser fácil de utilizar36 e de manter, sendo este outro objectivo
relevante atingido com sucesso. Por fim, no que concerne à concepção do software, há a
acrescentar que também foi possível assegurar a robustez da aplicação, factor importantíssimo
para o sucesso de implementação, na medida em que se teve como base a utilização de
aplicações já testadas, conseguindo-se no geral um sistema informático pronto a utilizar.
No que toca ao contributo para a mudança organizacional, foi possível estruturar a aplicação
para que as suas funções se centrem no apoio a execução de tarefas, influenciando fortemente
os processos de trabalho, mas não interferindo com o relacionamento entre os utilizadores,
prejudicando o comprometimento ou contribuindo para uma desumanização dos processos.
36“User friendly”, como é frequentemente denominado na literatura.
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
156
6.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo final apresenta-se uma súmula das conclusões obtidas a partir da investigação
executada. Será feita uma avaliação dos resultados obtidos, tendo em conta os objectivos
definidos inicialmente, concluindo-se acerca do sucesso da investigação. Seguidamente serão
apresentadas as contribuições que esta dissertação oferece ao nível de inovação e
enriquecimento do conhecimento no horizonte científico e industrial. Por fim são enunciadas
as limitações existentes nesta investigação bem como são recomendados trabalhos futuros a
desenvolver nesta temática, em diversos âmbitos e complexidade.
6.2 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS
Os objectivos delineados para a investigação foram integralmente atingidos, tendo em alguns
deles sido excedida a expectativa inicial. Segue-se uma análise a cada um dos objectivos:
▪ A pesquisa bibliográfica elaborada permitiu ter uma visão abrangente do estado-da-
arte na aplicação do Last Planner System, permitindo também elaborar um juízo crítico
quanto às suas possibilidades de aplicação. Posto isto foi possível prosseguir a
investigação com uma atitude suficientemente pragmática perante este campo da
inovação na indústria da construção.
▪ O estudo de casos a partir de inquéritos, baseado numa amostra de tamanho
considerável para um trabalho deste tipo, permitiu obter conclusões acerca da
percepção do desperdício em obra, tendo-se obtido resultados claros que se
mostraram úteis no desenvolvimento do sistema proposto. A utilização de resultados
de uma linha de investigação no tema permitiu generalizar conclusões bem como
observar a evolução de opiniões, que revelam nitidamente uma vontade de evoluir em
direcção a um ambiente colaborativo. Foi também possível perceber como a existência
de planeamentos actualizados e detalhados não garante por si só maior produtividade
ou fiabilidade do planeamento, mas pode contribuir para tal. Também os processos de
trabalho no gabinete de obra se revelaram plenos de oportunidades de melhoria, tendo
estas tido influência na definição do sistema proposto.
▪ O sistema proposto permitirá ter uma intervenção activa junto das actividades do
empreendimento, permitindo avaliar oportunidades de melhoria nos processos de
planeamento e execução bem como na coordenação de subempreitadas. De índole
CAPÍTULO 6-CONCLUSÕES
157
marcadamente Lean, o sistema permite promover a protecção da produção e levar à
optimização dos processos apenas utilizando recursos já existentes em obra (quer
humanos, quer materiais), necessitando de reduzida manutenção, elementos essenciais
ao seu sucesso. Desta forma os processos de planeamento, monitorização e controlo
assentam num método estruturado que conduzirá a um incremento de produtividade
passível de ser monitorizado em detalhe, contribuindo-se assim para a gestão das
subempreitadas. A monitorização do desempenho é feita a partir de um sistema de
indicadores parcialmente inédito, constituindo uma ferramenta de apoio à decisão, algo
útil para o campo de aplicação a que se destina.
▪ A aplicação informática criada, não é redundante e potencia os conceitos nos quais
assenta a arquitectura do sistema. O funcionamento em rede facilita uma atitude
colaborativa entre os empreiteiros, reduzindo desperdício de vários tipos na
coordenação dos seus trabalhos. O software apresentado, tal como pretendido,
encontra-se pronto a usar, sendo extremamente robusto e acessível, características
determinantes na implementação do mesmo. No seu todo é um catalisador da partilha
de conhecimento e gestão dos fluxos de informação, algo que levará à aprendizagem e
melhoria contínua nos processos.
6.3 CONTRIBUIÇÕES O CONHECIMENTO CIENTÍFICO
E PARA A INDÚSTRIA
Com a investigação elaborada foi possível contribuir para o conhecimento científico em
diversos aspectos, designadamente com:
▪ Concepção de indicadores inéditos para a avaliação de desempenho de um sistema de
produção baseado no LPS, rumo a uma definição mensurável do conceito de valor
pela parte de um empreiteiro geral;
▪ Concepção de software colaborativo com estrutura inédita para apoio aos processos de
preparação, planeamento e controlo da produção, potenciando o conceito de
protecção da produção numa perspectiva Lean. Constitui ainda um canal privilegiado
para a gestão dos fluxos de informação num empreendimento com elevado grau de
complexidade;
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
158
▪ Integração de benchmarking, gestão visual e monitorização de desempenho no
controlo de produção em empreendimentos de construção, à luz dos princípios da
filosofia Lean;
▪ Concepção de sistema que consegue com eficácia e reduzido esforço a obtenção e
análise de conhecimento acerca de TFV dentro de um empreendimento de construção.
Do ponto de vista do desenvolvimento de conhecimento para a indústria da construção,
foram conseguidos resultados a partir de uma visão pragmática do tema, sendo apresentados
neste documento as seguintes contribuições:
▪ Concepção de software colaborativo robusto, adaptado às necessidades de um
empreendimento de construção, sem qualquer custo e passível de expansão ou
adaptação a novas necessidades. Constitui um novo espaço de trabalho para uma
empresa, sendo ágil, organizado e eficiente no apoio aos processos com vista a um
funcionamento optimizado do escritório de obra.
▪ Concepção de sistema que permite controlo quantitativo de produtividades nas
actividades dentro de cada subempreitadas, permitindo a gestão dos resultados de cada
subempreiteiro;
▪ Concepção de sistema de monitorização de desempenho que permite, com reduzido
esforço, ter uma visão detalhada e também global das causas de insucesso que afectam
o planeamento e a execução de actividades.
6.4 LIMITAÇÕES DA INVESTIGAÇÃO
A investigação desenvolvida nesta dissertação foi limitada em vários factores que afectaram o
seu curso e resultados finais obtidos, nomeadamente:
▪ Escassez de tempo e competências informáticas do autor limitaram o
desenvolvimento do software tendo sido necessário proceder a simplificações de
conceitos para assegurar a sua conclusão;
▪ Necessidade de desenvolver o modelo e software de apoio em tempo útil para ser
executada uma implementação piloto, levou a simplificações do modelo que o limitam
em automatização e integração;
CAPÍTULO 6-CONCLUSÕES
159
▪ Implementação do sistema e do portal electrónico não foi possível por
indisponibilidade de caso de estudo, ficando por investigar as suas potencialidades
quando confrontado com a realidade da indústria, rumo ao aperfeiçoamento;
▪ Inquirição de trabalhadores da empresa que forneceu os casos de estudo não é
representativa do total, sendo necessária uma ordem de grandeza bastante superior no
número de inquiridos para que as conclusões obtidas sejam generalizáveis à indústria;
▪ Sistema baseado em grande parte na observação de procedimentos num caso de
estudo único, estando por esse motivo vocacionado para obras desse tipo, perdendo
assim alguma versatilidade. O estudo de vários casos em distintas empresas seria o
ideal para a valorização do conhecimento obtido;
▪ Dificuldades com a empresa envolvida, a nível de recolha de informação por
inquéritos, cepticismo em relação à investigação, desconhecimento do conceito e
benefícios decorrentes de uma iniciativa de action research e negação na cooperação em
pontos fulcrais levaram a que se dispendesse um esforço acrescido em diversas etapas
da investigação.
6.5 TRABALHOS FUTUROS
Como trabalhos futuros a desenvolver dentro da temática desta dissertação sugerem-se os
seguintes, ordenados crescentemente por dimensão, complexidade, e meios necessários à sua
execução:
▪ Implementação do Portal de Obra num empreendimento de construção com vista à
determinação de factores críticos de sucesso e barreiras à mudança. A validação
completa do sistema num empreendimento de construção durante um período de
tempo considerável será essencial à sua evolução;
▪ Desenvolvimento e calibração de novos Indicadores de Desempenho e Key
Performance Indicators para diferentes empreendimentos de construção, com vista à
definição de valor de referência para empreiteiro e outras partes interessadas;
▪ Desenvolvimento de sub-sistema que permita medir o desperdício ocorrido,
elaborando-se uma reorçamentação paralela, juntando-se assim à monitorização de
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
160
produtividades proposta nesta dissertação. Será assim possível averiguar qual a relação
entre a utilização do LPS e as melhorias ao nível destes factores;
▪ Gestão de risco no planeamento, a partir de técnicas computacionais de simulação,
partindo do conhecimento obtido com a implentação do sistema proposto.
▪ Desenvolvimento do Portal de Obra para a gestão integrada de prazos, custos e
qualidade juntamente com o sistema de controlo da produção proposto nesta
dissertação promovendo sinergias;
▪ Investigação exaustiva acerca da percepção de valor para o empreiteiro geral,
subempreiteiros e especialmente o cliente, para que se obtenha uma meta mensurável a
atingir com um sistema Lean. A via de inquéritos generalizados na indústria deverá ser
uma via preferencial, sendo importante explorar a informação recolhida tanto por
preferência declaradas como por preferências reveladas dos inquiridos;
▪ Utilização da tecnologia de Building Information Modeling (BIM) como apoio ao sistema
de controlo de produção, com destaque para a definição de actividades, determinação
de PRI e medições de progresso automatizadas;
▪ Evolução da componente de gestão do conhecimento adquirido para um conceito de
Business Intelligence.
▪ Extensão do sistema colaborativo para o exterior do empreendimento,
nomeadamente para os donos de obra, projectistas, gestores de projecto e
fornecedores.
ANEXOS
161
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CAPÍTULO 2
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ANEXOS
171
ANEXOS
I- Inquérito dirigido ao Empreiteiro Geral
II- Inquérito dirigido aos Subempreiteiros
III- Caracterização da amostra
IV- Frequência de sucesso na resposta aos inquéritos
V- Resultado completo dos inquéritos ao Empreiteiro Geral
VI- Resultado completo dos inquéritos aos Subempreiteiros
VII- Dados relativos à comparação de estudos anteriores
VIII- Resultados da análise de processos do caso de estudo “A”
IX- Organograma do caso de estudo “A”
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
172
I- Inquérito dirigido ao Empreiteiro Geral
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
178
III- Caracterização da amostra inquirida
IV- Frequência de sucesso na resposta aos inquéritos
Frequência de sucesso na resposta aos inquéritos
Caso de estudo A B1* B2 B3 B4*
Distribuídos 16 1 9 10 1
Recebidos 17 1 15 13 1
% De sucesso 94% 100% 60% 77% 100%
* Só foi possível a inquirição do director de obra/director de ACE
20-3030%
31-4035%
41-5019%
51-6011%
Não responde5%
Faixa etária (anos)
Instrução primária
3%
Ensino secundário
8%
Curso profissionaliza
nte24%
Ensino superior
54%
Não responde11%
Formação escolar/académica
0-535%
6-108%
11-1516%
16-2014%
>2022%
Não responde5%
Experiência profissional (anos)
ANEXOS
179
V- Resultado completo dos inquéritos ao Empreiteiro Geral
Grupo 1 – Planeamento e Controlo
Pergunta 1 2 3 4 5
Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel.
1 0 0% 0 0% 0 0% 13 38% 21 62%
2 24 71% 2 6% 8 24% 0 0% 0 0%
3 0 0% 0 0% 0 0% 12 35% 22 65%
4 1 3% 4 12% 0 0% 24 71% 5 15%
5 0 0% 0 0% 3 9% 15 44% 16 47%
6
6a) 30 88%
6b) 25 74%
6c) 21 62%
6d) 10 29%
6e) 24 71%
6f) 9 26%
6g) 0 0%
7 0 0% 1 3% 0 0% 15 44% 18 53%
8 1 3% 9 26% 8 24% 14 41% 2 6%
9 0 0% 0 0% 0 0% 5 15% 29 85%
10 0 0% 0 0% 1 3% 9 26% 24 71%
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
180
V- Resultado completo dos inquéritos ao Empreiteiro Geral (continuação)
Grupo 2 – Desperdício na Construção
Pergunta 1 2 3 4 5
Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel.
1
1a) 0 0% 0 0% 1 3% 16 47% 17 50%
1b) 0 0% 0 0% 1 3% 14 41% 19 56%
1c) 0 0% 0 0% 1 3% 14 41% 19 56%
1d) 0 0% 2 6% 6 18% 22 65% 4 12%
1e) 0 0% 2 6% 8 24% 18 53% 6 18%
1f) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
2
2a) 0 0% 14 41% 14 41% 6 18% 0 0%
2b) 1 3% 6 18% 11 32% 13 38% 3 9%
2c) 1 3% 11 32% 16 47% 6 18% 0 0%
2d) 1 3% 19 56% 12 35% 2 6% 0 0%
2e) 1 3% 25 74% 6 18% 2 6% 0 0%
2f) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
3
3a) 31 91%
3b) 27 79%
3c) 5 15%
3d) 17 50%
3e) 11 32%
3f) 6 18%
3g) 0 0%
4
4a) 33 97%
4b) 24 71%
4c) 13 38%
4d) 6 18%
4e) 9 26%
4f) 6 18%
4g) 0 0%
5 0 0% 0 0% 0 0% 11 32% 23 68%
ANEXOS
181
V- Resultado completo dos inquéritos ao Empreiteiro Geral (continuação)
Grupo 3 – Inovação na Construção
Pergunta 1 2 3 4 5
Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel.
1 0 0% 0 0% 0 0% 23 68% 11 32%
2
2a) 0 0% 0 0% 1 3% 10 29% 23 68%
2b) 0 0% 0 0% 0 0% 10 29% 24 71%
2c) 0 0% 0 0% 0 0% 14 41% 20 59%
2d) 5 15% 0 0% 0 0% 17 50% 12 35%
2e) 5 15% 0 0% 1 3% 17 50% 11 32%
2f) 1 3% 0 0% 0 0% 4 12% 29 85%
2g) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
3
3a) 22 65%
3b) 25 74%
3c) 15 44%
3d) 18 53%
3e) 11 32%
3f) 0 0%
4 14 41% 12 35% 7 21% 1 3% 0 0%
5 1 4% 5 20% 2 8% 13 52% 4 16%
6 0 0% 0 0% 0 0% 7 28% 18 72%
7
7a) 10 29%
7b) 23 68%
7c) 14 41%
7d) 12 35%
7e) 10 29%
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
182
VI- Resultado completo dos inquéritos aos Subempreiteiros
Grupo 1 – Planeamento e Controlo
Pergunta 1 2 3 4 5
Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel.
1
1a) 0 0% 0 0% 0 0% 1 33% 2 67%
1b) 0 0% 0 0% 0 0% 2 67% 1 33%
1c) 0 0% 0 0% 0 0% 1 33% 2 67%
1d) 0 0% 0 0% 0 0% 3 100% 0 0%
2 2a) 0 0% 2 67% 1 33% 0 0% 0 0%
2b) 0 0% 1 33% 1 33% 1 33% 0 0%
3 3a) 0 0% 0 0% 0 0% 1 33% 2 67%
3b) 0 0% 0 0% 0 0% 1 33% 2 67%
Grupo 2 - Desperdício na Produção
Pergunta 1 2 3 4 5
Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel.
1
1a) 0 0% 0 0% 0 0% 1 33% 2 67%
1b) 0 0% 0 0% 0 0% 3 100% 0 0%
1c) 0 0% 0 0% 0 0% 1 33% 2 67%
1d) 0 0% 1 33% 0 0% 2 67% 0 0%
1e) 0 0% 0 0% 0 0% 1 33% 2 67%
1f) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
2
2a) 0 0% 1 33% 2 67% 0 0% 0 0%
2b) 0 0% 2 67% 0 0% 1 33% 0 0%
2c) 0 0% 1 33% 1 33% 1 33% 0 0%
2d) 0 0% 3 100% 0 0% 0 0% 0 0%
2e) 0 0% 3 100% 0 0% 0 0% 0 0%
2f) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
3
3a) 3 100%
3b) 3 100%
3c) 0 0%
3d) 1 33%
3e) 1 33%
3f) 1 33%
3g) 0 0%
4
4a) 3 100%
4b) 2 67%
4c) 1 33%
4d) 1 33%
4e) 1 33%
4f) 1 33%
4g) 0 0%
5 0 0% 0 0% 0 0% 1 33% 2 67%
ANEXOS
183
VI- Resultado completo dos inquéritos aos Subempreiteiros (continuação)
Grupo 3 - Inovação na Construção
Pergunta 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel. Abs. Rel.
1 0 0% 0 0% 0 0% 2 67% 1 33%
2
2a) 0 0% 0 0% 0 0% 1 33% 2 67%
2b) 0 0% 0 0% 0 0% 2 67% 1 33%
2c) 0 0% 0 0% 0 0% 2 67% 1 33%
2d) 1 33% 0 0% 0 0% 2 67% 0 0%
2e) 1 33% 0 0% 0 0% 1 33% 1 33%
2f) 0 0% 0 0% 0 0% 1 33% 2 67%
2g) 0 0% 0 0% 0 0% 0 0% 0 0%
3
3a) 3 100%
3b) 1 33%
3c) 2 67%
3d) 3 100%
3e) 3 100%
3f) 0 0%
4 2 67% 1 33% 0 0% 0 0% 0 0%
5 0 0% 0 0% 0 0% 2 67% 1 33%
6 0 0% 0 0% 0 0% 2 67% 1 33%
VII- Dados relativos à comparação de estudos anteriores
EMPREITEIRO GERAL
Casos de
estudo
Director de obra
Eng.º de frente Resp. Qualidade e
Ambiente Resp. Segurança Medidor
Marques (2007)
CE1 1 3 1 1 1
CE2 1 0 0 1 0
CE3 1 3 1 0 0
Peneirol (2007)
CE1 1 2 0 1 0
Gonçalves (2009)
CE1 1 4 1 0 0
CE2 1 3 0 0 0
CE3 1 1 0 1 0
CE4 1 1 0 0 0
CE5 1 1 0 0 0
CE6 1 1 0 0 1
Presente dissertação
CE1 1 1 0 1 3
CE2 1 3 0 1 0
CE3 1 0 0 0 0
CE4 4 4 0 0 0
CE5 1 0 0 0 0
TOTAL POR FUNÇÕES
18 27 3 6 5
PERCENTAGEM POR FUNÇÕES
17,8% 26,7% 3,0% 5,9% 5,0%
GESTÃO DE EMPREITADAS EM EMPREENDIMENTOS DE CONSTRUÇÃO DE GRANDE DIMENSÃO
184
VII- Dados relativos à comparação de estudos anteriores (continuação)
EMPREITEIRO GERAL (continuação) SUBEMPREITEIROS
Casos de
estudo
Encarregado Encarregado
Geral Preparador Administrativo Director de especialidade
Marques (2007)
CE1 1 0 0 0 0
CE2 0 0 0 1 0
CE3 0 0 0 0 0
Peneirol (2007)
CE1 3 1 1 1 1
Gonçalves (2009)
CE1 0 0 1 0 1
CE2 0 0 4 1 1
CE3 0 0 1 0 0
CE4 0 0 2 0 1
CE5 1 0 0 1 0
CE6 0 1 1 1 0
Presente dissertação
CE1 4 1 2 0 3
CE2 0 1 3 0 0
CE3 0 0 0 0 0
CE4 0 1 1 0 0
CE5 0 0 0 0 0
TOTAL POR FUNÇÕES
9 5 16 5 7
PERCENTAGEM POR
FUNÇÕES 8,9% 5,0% 8,9% 5,0% 6,9%
VIII- Resultados da análise de processos do caso de estudo A
Causas de insucesso do planeamento (-)
Semana 6 7 8 9 10 Desvio padrão
Data 1-5FEV 8-12FEV 15-19FEV 22-26FEV 1-5MAR
Actividades precedentes 9 3 1 6 1 3
Materiais 1 0 1 5 1 2
Mão-de-obra 0 0 0 0 0 0
Equipamento 0 0 0 0 0 0
Projecto 6 4 8 10 7 2
Espaço 0 0 0 0 0 0
Condicionalismos externos 1 1 0 5 1 2
Total 17 8 10 26 10 -
Total de actividades 42 18 19 37 16 12
ANEXOS
185
VIII- Resultados da análise de processos do caso de estudo A (continuação) Medições para manutenção dos indicadores de desempenho
Semana 6 7 8 9 10
Data 1-5FEV 8-12FEV 15-19FEV 22-26FEV 1-5MAR
PPC 3/6
(50%) 3/6
(50%) 4/9
(44%) 6/11
(55%) 5/8
(63%)
PPCr 4*5/(5*5+3)
(71%) (3+5+5)/(5*5+3)
(46%) (5*3+1)/(5*7+3+1)
(41%) (2*5+6)/(6*5+3)
(49%) (5*2+1)/(4*5)
(55%)
IP (0,05+0,7+0,4)/(0,87+1+2,6)
(26%)
(1+1+0,5+0,3+1)/(6)
(64%)
(1+0,5+0+0+2+1+0,7+0+1)/9
(69%)
(1+0,7+0,5+0,25+1+0,6+1+0,3+0,9
+1+1)/11 (42%)
(0,05+0,7+0,4+0,6+1+0,2+0,5+0,9)/8
(53%)
PWR 25/(17+25)
(60%) 10/(10+12)
(45%) 9/(10+9)
(47%) 10/(10+14)
(42%) 11/(11+18)
(50%)
IX- Organograma do caso de estudo “A”