Dicionário técnico-bilíngue Inglês-Português da subárea do Check-list
GERENCIAMENTO DE TEXTURAS PARA …...Considerando a classificação CAPES, o presente trabalho de...
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola Politécnica
MBA em Governança, Projetos e Serviços de Tecnologia da
Informação (MGPS)
Gestão de Riscos: Uma Análise Comparativa de Normas,
Boas Práticas e Modelos de Maturidade
Autor:
_________________________________________________
Pedro Paulo Dayrell Rossi
Orientador:
_________________________________________________
Edilberto Strauss, Ph.D.
Examinador:
_________________________________________________
Flavio Luis de Mello, D.Sc.
Examinador:
_________________________________________________
Manoel Villas Bôas Junior, MSc.
MGPS
Janeiro de 2017
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Escola Politécnica – Departamento de Eletrônica e de Computação
Centro de Tecnologia, bloco H, sala H-212B, Cidade Universitária
Rio de Janeiro – RJ CEP 21949-900
Este exemplar é de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que
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finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es).
iii
AGRADECIMENTO
Agradeço aos meus pais, Paulo e Silvana, que tiveram a generosidade de me
apoiar em mais uma das minhas jornadas, tanto do ponto de vista moral quanto pelo
também importante ponto de vista financeiro. Sou eternamente grato também a minha
melhor amiga, esposa e companheira, Vera Ruffato, que não só me incentivou a fazer
esta pós-graduação, mas também tirou o carro da garagem todas as segundas e quartas
do ano com a única finalidade de me buscar na estação de metrô. Agradeço aos meus
antigos gestores e colegas da Oi por ter sempre respeitado meu horário de saída em dias
de aula. Por fim, agradeço aos professores e colegas do curso pelo conhecimento e pelas
experiências que foram compartilhadas ao longo destes meses.
iv
RESUMO
Normas técnicas e modelos de referência vêm nas últimas décadas procurando
sintetizar e colocar no papel as melhores práticas de gestão de riscos, seja abordando
esse conhecimento de forma independente ou de forma associada a outra prática, por
exemplo a gestão de projetos. Explorar essa multiplicidade de documentos e abordagens
permite identificar pontos divergentes e convergentes, esclarecendo as variáveis das
escolhas feitas pelas organizações acerca do tema.
Através da revisão bibliográfica das guias de referência e materiais relacionados,
considerando a adoção da ISO 31.000 como referência genérica, o presente trabalho
busca identificar as relações existentes entre os processos de gestão de riscos teorizados
por seis modelos de grande notoriedade no mercado (ISO 27.005, Risk IT, PRAM,
PMBOK, CMMI e MPS.BR). Esta análise resultou, entre outras coisas, na confirmação
de uma estrutura genérica persistente entre as diversas fontes e na discussão de
vantagens e desvantagens aparentes de cada um dos modelos estudados.
Palavras-Chave: Riscos, Gestão de Riscos, ISO 31.000, ISO 27.005, IT Risk, PRAM,
PMBOK, CMMI, MPS-BR.
v
ABSTRACT
Technical standards and reference models have come in the last decades trying
to synthesize and put on paper the best practices of risk management, either
approaching this knowledge independently or in a way associated with another practice,
for example project management. Exploring this multiplicity of documents and
approaches allows us to identify divergent and convergent points, clarifying the
variables of the choices made by organizations about the theme.
Through the bibliographic review of reference guides and related materials,
considering the adoption of ISO 31,000 as a generic reference, the present work seeks to
identify the existing relationships among risk management processes theorized by six
notorious models in the market (ISO 27.005, Risk IT, PRAM, PMBOK, CMMI and
MPS.BR). This analysis resulted, among other things, in the confirmation of a generic
structure persisting over different sources and in the discussion of apparent advantages
and disadvantages of each of the models studied.
Key-words: Risk, Risk Management, ISO 31.000, ISO 27.005, IT Risk, PRAM,
PMBOK, CMMI, MPS-BR.
vi
SIGLAS
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
APM – Association for Project Management
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
COBIT – Control Objectives for Information and related Technology
CMMI – Capability Maturity Model – Integration
ERM – Enterprise Risk Management
GTZ – Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit
ISACA – Information Systems Audit and Control Association
ISO – International Organization for Standardization
ITIL – Information Technology Infrastructure Library
MPS.BR – Melhoria do Processo de Software Brasileiro
NBR – Norma Brasileira
PMBOK – Project Management Body of Knowledge
PMI – Project Management Institute
PRAM – Project Risk Analysis and Management
SEI – Software Engineering Institute
TI – Tecnologia da Informação
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
vii
Sumário
1 Introdução 1
1.1 - Tema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 - Delimitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.3 - Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.4 - Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.5 - Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.6 - Descrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2 Embasamento Teórico 5
2.1 - Definição de Risco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 - Definição de Gestão de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.3 - ISO 31000:2009. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.4 - ISO/IEC 27005:2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.5 - RISK IT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.6 - PRAM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.7 - PMBOK . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.8 - CMMI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.9 - MPS.BR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3 Discussões 38
3.1 - Considerações Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.2 - Planejamento da Gestão de Riscos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
viii
3.3 - Identificação de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.4 - Análise de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.5 - Avaliação de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.6 - Tratamento de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.7 - Monitoramento e Controle de Riscos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.8 - Comunicação de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4 Conclusões 49
Bibliografia 51
ix
Lista de Figuras
2.1 – ISO 31000 Gestão de Riscos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2 – Componentes da estrutura de gestão de riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3 – Processo de gestão de risco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.4 – Equação de risco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.5 – Processo de gestão de risco de segurança da informação. . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.6 – A atividade de tratamento do risco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.7 – Frameworks internacionais de gestão de riscos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.8 – Categorias de riscos de TI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.9 – Framework do Risk IT. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.10 – Fases do PRAM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.11 – Processo do PRAM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.12 – Grupos de processo PMBOK . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.13 – Fases do PMBOK. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.14 – Componentes do CMMI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.15 – Metas e Objetivos Específicos de Riscos no CMMI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.16 – Níveis de Maturidade MPS.BR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
x
Lista de Tabelas
1.1 – Modelos de referência de gestão de riscos revisados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.1 – Processos do PMBOK Guide 2013. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2 – Objetivos Específicos da Gestão de Riscos no CMMI . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.1 – Análise Comparativa – Planejamento da Gestão de Riscos . . . . . . . . . . . . . . 39
3.2 – Análise Comparativa – Identificação de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.3 – Análise Comparativa – Análise de Riscos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.4 – Análise Comparativa – Avaliação de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.5 – Análise Comparativa – Tratamento de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.6 – Análise Comparativa – Monitoramento e Controle de Riscos . . . . . . . . . . . . 47
3.7 – Análise Comparativa – Comunicação de Riscos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1
Capítulo 1
Introdução
1.1 – Tema
Considerando a classificação CAPES, o presente trabalho de conclusão de curso
enquadra-se na área Multidisciplinar, subárea de avaliação Interdisciplinar na
especialização Engenharia/Tecnologia/Gestão.
Possui como tema principal a Gestão de Riscos, tanto no sentido amplo desta
área de conhecimento quanto em suas diversas implementações no contexto da
tecnologia da informação. O tema Gestão de Riscos relaciona-se com a Governança de
TI, sendo considerado inclusive uma de suas principais dimensões.
1.2 – Delimitação
Esta pesquisa considera por universo amostral um número limitado de normas,
frameworks, boas práticas e modelos de maturidade, considerando a disponibilidade de
acesso aos documentos de referência. Desta forma, faz parte do escopo da pesquisa o
processo de Gestão de Riscos conforme prescrito nas normas ISO 31.000 e ISO 27.005,
no framework Risk IT (ICASA), nas guias PRAM e PMBOK, e nos modelos de
maturidade CMMI-SW e NPS.BR-SW.
Apesar da pesquisa tangenciar os temas de Gestão de Projetos e Governança,
tais assuntos não serão foco da discussão. Da mesma forma que, exceto as supracitadas,
não fazem parte do escopo a grande biblioteca de normas, padrões, frameworks, guias
de referência, boas práticas e modelos de maturidade que abordam a Gestão de Riscos.
2
1.3 – Justificativa
Durante as últimas duas décadas tem crescido o interesse em melhorar a
capacidade humana de lidar com a incerteza, e especialmente, prevenir seu impacto
negativo a nível da organização. Isto levou ao desenvolvimento de ferramentas,
técnicas, processos e metodologias tipicamente classificadas sob o rótulo de "gestão de
risco". Pesquisas em ferramentas de busca sobre gestão de risco, particularmente gestão
de risco empresarial, resultam em mais de 20 milhões de referências [1].
Considerando o crescimento da importância de projetos como método de
planejamento e execução de trabalho nas organizações [2] era um movimento natural
que as boas práticas de gestão de projetos eventualmente incluíssem também a gestão de
riscos em suas prerrogativas. Assim de fato ocorreu, sendo atualmente recomendado
que os gerentes de projeto reconheçam as ameaças e oportunidades em tempo e
respondam com rapidez suficiente para capturá-las, explorando os benefícios e
diminuindo ou atenuando as ameaças associadas [3].
Paralelamente, a tecnologia da informação tem assumido papel central em
muitos negócios [2] e, ao mesmo tempo que elimina riscos antigos, introduz riscos
completamente novos nas organizações. Desta forma, foram desenvolvidas práticas de
gestão especializadas nos riscos de TI, sendo algumas que abordam toda a TI de forma
holística e outras que se especializam ainda mais. O desenvolvimento de software é uma
das áreas que receberam atenção da gestão de riscos, justamente por ser uma atividade
complexa, envolvendo um grande número de fatores imprevisíveis e de difícil controle,
como inovações tecnológicas e mudanças nos requisitos do cliente. Outro campo que
adotou práticas da gestão de riscos é a segurança da informação.
A evolução da gestão de riscos trouxe com ela um grande número de livros,
artigos e conferências dedicadas ao assunto. Levou também ao desenvolvimento de uma
série de normas e frameworks que prescrevem e aconselham as organizações sobre a
melhor forma de gerir seus riscos. Considerando a importância do assunto, faz-se
necessário que as organizações adotem a metodologia de gestão de riscos mais
adequada para seu negócio e para seus objetivos organizacionais. No entanto, estas
informações encontram-se difusas e, como explicitado, distribuídas em diversas áreas
de conhecimento. Desta forma, qualquer esforço que atue no sentido de compilar,
explorar e analisar diferentes abordagens sobre o assunto, tal como o presente trabalho,
pode fornecer informações valiosas para tomada de decisão.
3
1.4 – Objetivos
O objetivo central deste trabalho é apresentar e comparar alguns dos principais
padrões para Gestão de Riscos de TI e Projetos disponíveis na literatura, identificando
os pontos de semelhança e divergência entre eles. Como objetivo específico, espera-se
identificar em cada um dos modelos estudados as fases correspondentes ao modelo de
processo genérico da norma ISO 31000 de gestão de riscos.
1.5 – Metodologia
O trabalho utiliza-se da revisão bibliográfica para estudar as normas, padrões,
frameworks e modelos de referência selecionados. Foram escolhidas duas referências
relacionadas à Gestão de Riscos em TI (ISO 27.005 e Risk IT), duas relacionadas com à
Gestão de Riscos em Projetos (PRAM e PMBOK) e dois modelos de maturidade
também relacionados à TI (CMMI e NPS.BR). O processo genérico de Gestão de
Riscos descrito na norma ISO 31.000 foi adotado como referencial comparativo e será
usado como parâmetro na avaliação dos demais.
Tabela 1.1. Modelos de referência de gestão de riscos revisados
Modelo/Padrão Autor Ano Foco
Norma ISO 31000 de Gestão de Riscos International Organization for
Standardization
2009 Geral
1. Norma ISO 27005 de Segurança da
Informação
International Organization for
Standardization
2011 TI
2. Risk IT ISACA 2009 TI
3. Project Risk Analysis & Management
(PRAM) Guide, 2nd edition
Association for Project
Management (APM)
2004 Projetos
4. Project Management Body of Knowledge
(PMBoK®): Capítulo 11, 5ed.
Project Management Institute
(PMI)
2013 Projetos
5. CMMI-SW SEI (Software Engineering
Institute) da Universidade
Carnegie Mellon
2010 TI
6. MR-MPS-SW:2016 do MPS.BR Softex 2016 TI
4
A parte principal deste documento consiste de uma série de tabelas que
organizam o conteúdo dos diferentes padrões de forma a facilitar a comparação entre os
mesmos. As tabelas foram divididas de acordo com as diferentes fases do processo de
Gestão de Riscos, conforme prescrito no modelo de referência. Através da análise
comparativa serão extraídas informações necessárias para discussão e posterior
atingimento dos objetivos desta pesquisa.
1.6 – Descrição
No capítulo 2 serão apresentadas definições importantes acerca do tema da
gestão de riscos, bem como serão detalhadas as normas, padrões e frameworks que
fazem parte do escopo deste estudo com o objetivo de balizar a posterior análise
comparativa entre as mesmas.
O capítulo 3 apresenta os resultados desta análise em questão. Para melhor
organização, este capítulo está dividido em subitens de acordo com a fase do processo
ou aspecto da gestão de riscos que está sendo comparado.
Finalmente no capítulo 4 as conclusões são apresentadas, complementadas pelas
considerações sobre possíveis desdobramentos do presente trabalho e as necessidades
identificadas de futuros trabalhos na área.
5
Capítulo 2
Embasamento Teórico
2.1 – Definição de Risco
A literatura disponível sobre riscos é bastante variada e percorre várias áreas do
conhecimento, resultando igualmente em diversas definições para risco. Nem mesmo o
estudo etimológico da palavra parece chegar a um consenso. Alguns autores acreditam
que se origina do latim risicare (ou resicare) e significa ousar [4]. Neste sentido, nota-
se que risco é uma opção ativa e não um destino. Conforme Bernstein [5], correr riscos
faz parte da história antiga.
Outros estudos sugerem que ela tenha sua origem no latim resecum, “o que
corta”, sendo utilizada para descrever situações relacionadas às viagens marinhas, como
“perigo oculto no mar” [6]. Esta última corrente parece corroborar a tese de Lieber &
Lieber [7] de que a palavra risco tem raízes nas transações comerciais marítimas, sendo
adaptada ao longo do tempo até chegar a atual denotação, geralmente negativa, sendo
sinônimo de perigo. Nascimento [8] diferencia perigo de risco, definindo o primeiro
como uma circunstância que pode causar dano, perda ou prejuízo e o segundo como a
probabilidade ou frequência esperada de dano, perda ou prejuízo diante da consumação
do perigo. A GTZ [9], na mesma linha, define que risco é a probabilidade de perdas e
danos em decorrência da interação de um perigo com uma situação de vulnerabilidade.
Destaca-se que, até então, risco assume um caráter de ameaça em todas as definições
apresentadas.
No entanto, a literatura moderna aceita também uma possibilidade de resultado
positivo dentro da definição de risco. Segundo D’Andrea (APUD Oliveira 2006) o risco
pode ser visto como uma oportunidade, quando centrada no investimento e tendo por
base iniciativas estratégicas [10]. Na visão deste autor, quanto maior o risco, maior é o
potencial de retorno, e, de forma não excludente, o potencial de perda. Dagnino e Carpi
Jr (2007) consideram risco como a probabilidade de que um evento – esperado ou não –
se concretize, sem fazer considerações sobre a natureza de seus efeitos [11].
6
Essa visão de risco como condição ou circunstância futura que poderá
proporcionar um impacto positivo ou negativo é praticamente unânime em todos os
modelos de referência e frameworks para Gestão de Riscos. Essa realidade pode ser
observada, por exemplo, na Gestão de Projetos. Apesar da Associação Brasileira de
Gestão de Projetos (ABGP) ter definido que “riscos são acontecimentos com impacto
negativo (prejuízos ou danos) ao sucesso geral do projeto” [12], a principal referência
em Gestão de Projetos, o Project Management Institute (PMI), desde 2004 já define
risco como “evento ou condição incerta que, se ocorrer, tem um efeito positivo ou
negativo sobre ao menos um dos objetivos do projeto, como tempo, custo, escopo ou
qualidade” [13].
A norma ISO 31.000, apoiada pela Guia 73:2009, define risco como “efeito da
incerteza nos objetivos” [14]. Se não houvesse complementação, a definição manteria
em aberto a natureza deste efeito, assumindo aspecto de neutralidade. No entanto, há no
Guia 73:2009 uma nota definindo efeito como qualquer desvio em relação ao esperado,
seja positivo ou negativo. No restante deste trabalho vamos assumir, assim como
classificou Raz e Hillson, a existência de três formas de definir risco [2]: 1. Definição
exclusivamente negativa, comparando risco à ameaça; 2. Definição ampla, que engloba
os conceitos de ameaça (negativo) e oportunidade (positivo); e 3. Definição neutra, que
não especifica a natureza das consequências.
2.2 – Definição de Gestão de Riscos
Gestão de Riscos é o nome dado para o conjunto de atividades coordenadas para
direcionar e controlar o ambiente da organização em relação aos riscos, incluindo
análise, avaliação, tratamento, aceitação e comunicação dos mesmos [15]. A gestão de
riscos é implementada com o objetivo de aumentar a eficiência operacional, reduzindo
assim, perdas e prejuízos decorrentes de fraudes, falhas, sinistros e acidentes,
conduzindo a uma melhoria dos processos organizacionais [16].
Gerenciamento e gestão possuem exatamente o mesmo significado, mas parece
haver uma preferência na literatura de projetos pelo nome gerenciamento, talvez por
compartilhar o mesmo radical da palavra gerente, papel exaltado neste âmbito. O PMI
define gerenciamento de risco como um processo sistemático que objetiva identificar,
analisar e responder aos riscos de um projeto. Atividade que procura ao mesmo tempo
7
reduzir ou eliminar a probabilidade e/ou impacto de um evento adverso ao projeto e
aumentar a probabilidade e/ou impacto de um evento positivo [13]. Segundo a APM,
trata-se de processo no qual decisões são tomadas para aceitar riscos conhecidos e
avaliados e/ou para implementar ações que reduzam as consequências (impactos) ou a
probabilidade de ocorrência destes riscos [17]. Com base em conceitos como os
expostos acima, Fabra conclui que gerenciamento de riscos é justamente um conjunto
de processos proativos que buscam aumentar a probabilidade de sucesso dos projetos,
através da identificação e análise de riscos bem como a execução de ações para eliminar
ou minimizar os problemas antes que estes venham a ocorrer [4].
Fazendo uma análise mais focada na Tecnologia da Informação (TI) pode ser
observado que a maior parte das instituições entende que a análise de riscos é um
caminho para cumprir com requisitos impostos em leis e marcos regulatórios
relacionados de alguma forma com a segurança da informação, como é o caso do
Acordo da Basiléia II e a Lei Sarbanes-Oxley (Janice). A ISACA define gestão de riscos
no contexto de TI como “processo de identificar as vulnerabilidades e ameaças aos
recursos de informação utilizados por uma organização para atingir os objetivos de
negócios e decidir quais as contramedidas, se houver, para reduzir o risco para um nível
aceitável, com base no valor do recurso de informação para a organização” [18].
Grande parte das definições já mencionam em si próprias a existência de fases
ou atividades que fazem parte do escopo da gestão de riscos. Por isto é importante a
existência de metodologias que organizem estas etapas com o objetivo de se alcançar
um efetivo controle dos riscos na organização. A adoção de “frameworks” de processo é
resultado desta demanda e tem sido uma das abordagens mais frequentes adotadas pelas
organizações [19], não só no cenário de risco. A palavra “framework”, cuja tradução
mais apropriada neste caso seria “estrutura lógica”, vem sendo usada há muitos anos no
mundo dos negócios, mas ainda assim carece de uma definição única, sendo comum a
confusão de significado e finalidade entre framework, norma, padrão, processo, guia de
boas práticas, modelo de referência, entre outros nomes.
A norma AS/NZS 4360, oriunda da Austrália e Nova Zelândia, não é o primeiro
esforço normativo para o processo de gestão de riscos, mas inegavelmente é uma das
principais referências na área. Por esse motivo, serve de base para o desenvolvimento da
norma internacional ISO 31000, cuja finalidade é ser um conjunto único de diretrizes e
um modelo genérico de gestão de riscos, que possa ser utilizado por organizações de
qualquer tamanho ou natureza [20].
8
A necessidade do tratamento específico de determinados assuntos, seja por conta
da complexidade dos mesmos ou pela busca por eficiência através da especialização,
estimulou o desenvolvimento de novos frameworks de processos para a gestão de riscos.
A gestão de riscos é uma disciplina em constante evolução. Padrões, frameworks e
diretrizes são modificados periodicamente à luz de novas pesquisas ou práticas
inovadoras, tornando difícil para os gerentes de risco se manterem atualizados [1].
2.3 – ISO 31000:2009
A International Organization for Standardization, amplamente conhecida como
ISO, é um organismo que estabelece padrões internacionais que "forma uma ponte entre
os setores público e privado". Embora muitos de seus institutos membros façam parte da
estrutura governamental de seus países, outros membros têm suas raízes no setor
privado. A ISO promulga padrões industriais e comerciais de propriedade industrial em
todo o mundo. A organização define-se como uma organização não governamental,
constituída por uma rede de institutos nacionais de normalização de 163 países, com um
secretariado central em Genebra, Suíça, que coordena o sistema.
Os Princípios e Diretrizes de Gestão de Riscos da ISO 31000 têm seu núcleo no
AS / NZS 4360 com contribuições da França, Suíça e Brasil [1]. Publicada em 2009, foi
desenvolvida por um grupo de trabalho multidisciplinar com integrantes de 35 países e
representantes de diferentes setores, tais como finanças, saúde, defesa, tecnologia,
seguros, projetos, etc. [21]. A terminologia foi atualizada no documento ISO 73: 2009
de Gestão de Risco. Estas duas normas devem ser consideradas em conjunto para fins
de implementação.
Como definiu Veloso, esta norma tem como objetivo ser uma norma genérica,
que possa ser utilizada por organizações de qualquer natureza tamanho, em todas as
suas áreas de negócio e níveis organizacionais, incluindo funções, atividades e projetos
específicos, através de uma abordagem que fornece os princípios e diretrizes para gerir
todas as formas de risco de maneira sistemática, transparente e confiável [21].
Desta forma, a ISO 31000 não trata apenas de um processo. O padrão é
estruturado em princípios (onze características de gestão de risco), um quadro de cinco
partes (mandato, concepção, implementação, monitoramento e melhoria) e um modelo
processo (comunicação e consulta, contexto, avaliação de risco, tratamento e
monitoramento). Vide abaixo Figura 2.1.
9
Figura 2.1 – ISO 31000 Gestão de Riscos. Fonte: RISK AND INSURANCE MANAGEMENT SOCIETY, INC. (RIMS) [1].
Os princípios, apesar de elementos fundamentais para estabelecer uma cultura de
gestão de riscos nas organizações, não fazem parte do escopo deste trabalho e, portanto,
não serão discutidos neste tópico. Já a estrutura (tradução ABNT para o framework da
norma original em inglês) precisa ser aqui abordada, pois através dela transmite-se a
orientação de que o processo de implantação e manutenção da gestão de riscos deve ser
iterativo, buscando a melhoria contínua. Na Figura 2.2, é possível identificar que o
framework segue o ciclo PDCA (PLAN - DO - CHECK - ACT) de Shewhart.
Figura 2.2 – Componentes da estrutura de gestão de riscos. Fonte: ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS [14].
10
Voltando a Figura 2.1, fica nítido que este framework é distinto do processo e
gestão de riscos propriamente dito. À grosso modo, pode ser dito que esta estrutura
suporta e orienta o ciclo de vida do processo de gestão de riscos na organização, dando
as fundações e arranjos necessários para o sucesso deste. O processo é descrito
posteriormente na seção cinco do manual e é dividido em fases, conforme Figura 2.3.
Figura 2.3 – Processo de gestão de risco.
Fonte: ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS [14].
Comunicação e consulta (5.2)
A comunicação e consulta com as partes interessadas externas e internas devem
ter lugar durante todas as fases do processo de gestão de riscos.
Estabelecimento do contexto (5.3)
Ao estabelecer o contexto, a organização articula os seus objectivos, define os
parâmetros externos e internos a ter em conta na gestão do risco e define o âmbito e os
critérios de risco para o processo restante. Alguns parâmetros serão similares aos
estabelecidos na fase de concepção da estrutura, mas aqui será necessário fazer um
maior detalhamento dos mesmos a fim de torna-los operacionais.
11
Avaliação de riscos (5.4)
A avaliação de riscos é a fase que engloba de identificação de riscos, análise de
riscos e avaliação de riscos. No documento da norma fica pouco claro o motivo que
levou a ISO a escolher esta forma de organizar as fases. Ao contrário das subfases, que
são descritas no detalhe, o item 5.4 carece de caracterização. A confusão taxonômica
agrava-se ao considerar o resultado da tradução da ABNT. No original em inglês, foram
adotadas palavras distintas para diferenciar a fase 5.4 – risk assessment – de sua subfase
5.4.4 – risk evaluation. No português, ambas são descritas como “avaliação” de riscos.
Identificação de riscos (5.4.2)
A organização deve identificar fontes de risco, áreas de impactos, eventos suas
causas e suas consequências potenciais. A finalidade desta etapa é gerar uma lista
abrangente de riscos com base nesses eventos que possam criar, melhorar, prevenir,
degradar, acelerar ou atrasar a realização dos objetivos. A identificação deve incluir
riscos, independentemente de sua fonte estar ou não sob o controle da organização,
mesmo que a fonte ou causa de risco não seja evidente.
Análise de riscos (5.4.3)
A análise de risco envolve o desenvolvimento de um entendimento completo
acerca do risco. A análise de riscos fornece uma contribuição para a avaliação de riscos
e para as decisões sobre se os riscos precisam ser tratados e sobre as estratégias e
métodos de tratamento de risco mais apropriados. Análise de risco também pode
fornecer um insumo para tomada de decisões onde escolhas devem ser feitas e as
opções envolvem diferentes tipos e níveis de risco.
Avaliação de riscos (5.4.4)
A avaliação do risco envolve a comparação do nível de risco encontrado durante
o processo de análise (5.4.3) com os critérios de risco estabelecidos quando o contexto
foi considerado (5.2). Com base nessa comparação, a necessidade de tratamento pode
ser considerada. O objetivo da avaliação de risco é auxiliar na tomada de decisão, com
base nos resultados da análise de risco, sobre quais riscos precisam de tratamento e
quais são as prioridades para a implementação do tratamento.
12
Tratamento de riscos (5.5)
O tratamento de risco envolve a seleção de uma ou mais opções para modificar
os riscos e implementar essas opções. Uma vez implementados, os tratamentos
fornecem ou modificam os controles. Envolve a seleção de opções de tratamento de
risco mais adequadas comparando os custos e esforços de implementação contra os
benefícios obtidos. Envolve também a preparação e implementação de planos de
tratamento de riscos, que devem estar devidamente documentados na organização.
Monitoramento e análise crítica (5.3)
Tanto o monitoramento como a revisão devem ser uma parte planejada do
processo de gestão de riscos e precisam garantir verificação ou vigilância regulares.
Podem ser feitos de forma periódica ou ad hoc. As responsabilidades de monitoramento
e revisão devem ser claramente definidas na organização. Os resultados devem ser
registados e reportados externamente e internamente, conforme apropriado, e devem
também ser utilizados como insumo para a revisão do framework de gestão de riscos.
2.4 – ISO/IEC 27005:2011
A norma ISO/IEC 27005, lançada em 2008, fornece diretrizes e descreve um
processo genérico para a Gestão de Riscos de Segurança da Informação de uma
organização. Segundo Veloso, a norma surge a partir da revisão dos padrões ISO/IEC
TR 13335-3:1998 e ISO/IEC TR 13335-4:2000 [21]. É parte integrante da família
ISO/IEC 27000 para a gestão da segurança da informação, sendo intencional a
exclusividade de uma norma somente para tratar do processo de gestão de riscos,
distinta das normas ISO/IEC 27001 e 27002. A segunda edição da ISO/IEC 27005 foi
publicada em 2011, refletindo a norma geral de gestão de riscos corporativos ISO
31000:2009 "Gestão de riscos - Princípios e diretrizes" no contexto específico dos riscos
envolvendo informação.
Segundo avalia Silva, o processo descrito pela norma, assim como na ISO
31000, é harmonicamente sincronizado com o ciclo PDCA [22]. O processo foi
construído de forma a permitir seu uso de forma independente, como por exemplo, para
avaliação de risco em projeto. A norma pode ser aplicada a todos os tipos de
organização, independentemente da natureza ou dimensão.
13
A norma entende que a Gestão de Riscos de Segurança da Informação é parte
integrante da Gestão de Riscos Corporativos. Justamente pelo esforço de especialização,
a definição de risco da 27005 distancia da usada na 31000. A norma de Segurança da
Informação define risco como a possibilidade de uma determinada ameaça explorar
vulnerabilidades de um ou mais ativos, prejudicando a organização. Esta definição está
na mesma linha do que Sêmola chamou de “equação do risco” [23].
Figura 2.4 – Equação de risco. Fonte: Sêmola [23].
Figura 2.5 – Processo de gestão de risco de segurança da informação. Fonte: ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS [24].
14
A ISO/IEC 27005 tem como ponto central a definição do processo de gestão de
riscos de segurança da informação, representado na Figura 2.5. De forma geral, todas as
atividades são descritas em função de suas entradas, identificando as informações
necessárias para a execução da atividade, ação, que descreve a atividade, diretrizes, que
fornece as diretrizes para a implementação, saídas, que identificando as informações
resultantes da atividade. O processo é composto por seis atividades, sendo que, por
conta das iterações, as atividades de análise/avaliação de riscos e/ou tratamento do risco
podem ser realizadas mais de uma vez
Definição do contexto (7)
Definição do contexto para a prática da gestão de riscos de segurança da
informação, ou seja, nesta fase devem ser definidos os critérios básicos para a gestão de
riscos, seu escopo, suas delimitações e o estabelecimento de uma estrutura adequada
para suportar sua operação.
Processo de avaliação de riscos de segurança da informação (8)
Novamente a fase de avaliação de riscos engloba as subfases de identificação de
riscos, análise de riscos e avaliação de riscos. No entanto, ao contrário da ISO 31000, na
27005 há uma definição exclusiva para o agrupamento. De forma resumida, o processo
de avaliação de riscos quantifica ou descreve os riscos de forma qualitativa e capacita os
gestores a priorizar os riscos de acordo com a sua gravidade ou outros critérios.
Identificação de riscos (8.2)
Determinar eventos que possam causar uma perda potencial, deixando claro
onde estão localizados, seus motivos e como sucederiam. É necessária a identificação
em cada processo de negócio: os Ativos, os Eventos, as Vulnerabilidades, as Ameaças e
suas Consequências, bem como os Controles já existentes na empresa.
Análise de riscos (8.3)
A análise de risco, também chamada de estimativa, visa mensurar a
consequência ou impacto dos cenários de incidente e estimar a sua probabilidade. As
atividades que realiza são a estimativa do risco (com uso de métodos qualitativos e/ou
quantitativos), avaliação das consequências e avaliação da probabilidade.
15
Avaliação de riscos (8.4)
Nesta fase as organizações comparem os riscos estimados com os critérios de
avaliação de riscos definidos durante a definição do contexto. Com a avaliação de riscos
a etapa de análise/avaliação de riscos termina e chega-se ao primeiro ponto de decisão
do processo de gestão de riscos. Caso os resultados não tenham sido satisfatórios deve-
se retornar a fase de definição do contexto, caso a avaliação tenha sido satisfatória o
processo segue para o tratamento do risco.
Tratamento do risco de segurança da informação (9)
A partir da lista dos riscos ordenados por prioridades resultante da avaliação de
riscos, são implementados controles para reduzir, reter, evitar ou transferir os riscos
identificados, de acordo com o plano de tratamento definido pela organização. Esta fase
e seus possíveis desdobramentos estão representados no diagrama da Figura 2.6.
Figura 2.6 – A atividade de tratamento do risco. Fonte: ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS [24].
16
As opções de tratamento do risco não são excludentes. É possível a combinação
de opções de forma a maximizar o resultado para a organização. As respostas descritas
pela norma ISO/IEC 27005 são quatro:
• Modificação do risco: realizar ações para reduzir a probabilidade e/ou impacto
• Retenção do risco: aceitar o ônus da perda
• Evitar o risco: eliminar atividade deforma que evite a ocorrência do risco
• Compartilhamento do risco: compartilhar com outrem o ônus da perda ou o
benefício do ganho associado ao risco.
As saídas desta fase serão o plano de tratamento do risco e os riscos residuais,
que precisarão ser determinados através da repetição da análise/avaliação de riscos,
considerando os efeitos previstos do tratamento proposto. Caso o risco residual ainda
não seja aprovado pela organização, uma nova iteração do tratamento do risco pode ser
executada antes de se prosseguir à aceitação do risco
Aceitação do risco de segurança de informação (10)
Nesta fase, gestores responsáveis devem fazer uma análise crítica e aprovar, se
for o caso, os planos de tratamento do risco e os riscos residuais. As condições
associadas a essa aprovação devem ser registradas.
Comunicação e consulta do risco de segurança de informação (11)
Assim como na ISO 31000, novamente o processo prevê que a comunicação e
consulta com as partes interessadas externas e internas devem ter lugar durante todas as
fases da gestão de riscos. O objetivo central desta fase é buscar um consenso entre as
partes interessadas e os tomadores de decisão sobre como os riscos devem ser
gerenciados. A coordenação entre estes atores pode ou não ser feita mediante uma
comissão específica para discussão de riscos.
Monitoramento e análise crítica de risco (12)
Os riscos, ativos, impactos, ameaças, vulnerabilidades e probabilidades devem
monitorados e analisados de forma crítica, com o objetivo de identificação tempestiva
de eventuais mudanças na organização que afetem o contexto. Essa fase assegura que o
resultado da avaliação e do tratamento dos riscos permaneçam relevantes e atualizados.
17
2.5 – Risk IT
O framework Risk IT complementa o COBIT 4.1 da ISACA. Embora o COBIT
estabeleça boas práticas para os “meios” de gerenciamento de risco, fornecendo um
conjunto de controles para mitigar o risco de TI, o Risk IT define boas práticas para os
“fins”, fornecendo um framework para as empresas possam identificar, governar e
gerenciar riscos de TI. O Risk IT é baseado nos princípios de padrões de gerenciamento
de riscos corporativos, como o COSO ERM e o AS/NZS 4360, buscando direcioná-los
para o contexto TI. Segundo a própria ISACA, o framework surgiu com o propósito de
preencher uma lacuna dos modelos predecessores, que na visão da instituição não
conseguiam abordar TI em profundidade e, ao mesmo tempo, cobrir todo escopo
esperado de um processo de gestão de riscos.
Figura 2.7 – Frameworks internacionais de gestão de riscos. Fonte: ISACA [25].
O Risk IT tem como fundação uma série de princípios orientadores para uma
gestão eficaz do risco de TI. Estes baseiam-se em princípios de ERM amplamente
aceitos, que foram aplicados ao domínio da TI. Apesar do processo de gestão de riscos
proposto pelo framework ter sido estruturado para colocar em prática estes princípios,
estes não são relevantes para as análises objetivadas no escopo deste trabalho.
18
Na concepção do Risk IT, risco de TI faz parte do risco do negócio,
especificamente aquele associado ao uso, propriedade, operação, envolvimento,
influência e adoção de TI dentro de uma empresa. Ele consiste em eventos relacionados
a TI e condições que podem potencialmente impactar o negócio. Podem ocorrer com
frequência e magnitude incertas e criar desafios no cumprimento das metas e objetivos
estratégicos. Neste modelo, o risco de TI pode ser categorizado de diferentes maneiras:
1. Risco de captação de benefício/valor de TI - associado a oportunidades
(perdidas) de uso de tecnologia para melhorar a eficiência ou a
efetividade de processos de negócios ou como facilitador de novas
iniciativas de negócios
2. Risco de programa de TI e de entrega de projetos - Associado à
contribuição da TI para soluções de negócios novas ou improvisadas,
normalmente sob a forma de projetos e programas. Isso se relaciona com
a gestão da carteira de investimentos.
3. Risco de operações e prestação de serviços de TI - Associado a todos os
aspectos do desempenho de sistemas e serviços de TI, que podem trazer
destruição ou redução de valor para a empresa.
Figura 2.8 – Categorias de riscos de TI. Fonte: ISACA [25].
A definição apresentada na Figura 2.8 é um exemplo da abordagem ampla do
conceito de risco, discutida previamente na seção 2.1. As consequências do risco podem
ser positivas ou negativas e, desta forma, o processo sugerido deve ser capaz de
preservar a empresa contra as perdas ao mesmo tempo que absorve ganhos potenciais.
19
O modelo de processo de gestão de risco agrupa atividades-chave em vários
processos. Esses processos por sua vez são agrupados em três domínios. No guia de
referência do framework são fornecidas orientações substanciais sobre as principais
atividades dentro de cada processo, as responsabilidades para o processo, os fluxos de
informação entre os processos e a gestão do desempenho do processo.
Figura 2.9 – Framework do Risk IT.
Fonte: ISACA [25].
Domínio Governança do Risco
A finalidade dos processos deste domínio é certificar que as práticas de gestão
de riscos estejam incorporadas na organização, permitindo assegurar um retorno
aceitável ajustado em função do. Este domínio contém três processos: estabelecer uma
visão comum de risco, integrar com a gestão de riscos corporativa e tomar decisões de
negócio com consciência dos riscos.
20
Estabelecer uma Visão Comum de Risco (RG1)
Objetiva assegurar que as atividades de gerenciamento de riscos se alinhem com
a capacidade objetiva da empresa para perda relacionada à TI e a tolerância subjetiva da
liderança para com a mesma. Suas atividades são:
• RG1.1 Realizar avaliação de riscos de TI da empresa.
• RG1.2 Propor limiares de tolerância ao risco de TI.
• RG1.3 Aprovar tolerância ao risco de TI.
• RG1.4 Alinhar a política de risco de TI.
• RG1.5 Promover a cultura consciente de risco de TI.
• RG1.6 Incentivar uma comunicação eficaz do risco de TI.
Integrar com a Gestão de Riscos Corporativa (RG2)
Tem por finalidade integrar a estratégia e operações de risco de TI com as
decisões estratégicas de risco de negócios que foram tomadas no nível da empresa. Pode
ser decomposto nas seguintes atividades:
• RG2.1 Estabelecer e manter a responsabilidade pela gestão de riscos de TI.
• RG2.2 Coordenar estratégia de risco de TI e estratégia de risco de negócios.
• RG2.3 Adaptar as práticas de risco de TI às práticas de risco empresarial.
• RG2.4 Fornecer recursos adequados para a gestão de riscos de TI.
• RG2.5 Fornecer garantia de independência para gestão de riscos de TI.
Tomar Decisões de Negócio com Consciência dos Riscos (RG3)
Este processo tem por objetivo assegurar de que as decisões empresariais
considerem o leque completo de oportunidades e consequências da confiança na TI para
o sucesso. É composto pelas atividades abaixo.
• RG3.1 Conquistar o apoio (buy-in) da gerência para a abordagem de análise
de risco de TI.
• RG3.2 Aprovar análise de risco de TI.
• RG3.3 Incorporar considerações de risco de TI na tomada de decisões
estratégicas de negócios.
• RG3.4 Aceitar riscos de TI.
• RG3.5 Priorizar atividades de resposta a riscos de TI.
21
Domínio Avaliação do Risco
Este domínio busca assegurar que os riscos e oportunidades relacionados à TI
sejam identificados, analisados e apresentados em termos de negócio. Este domínio está
dividido em três processos: coletar dados, analisar riscos e manter o perfil de risco.
Coletar Dados (RE1)
Através deste processo identifica-se os dados relevantes para permitir uma
identificação, análise e comunicação eficazes de riscos relacionados com TI.
• RE1.1 Estabelecer e manter um modelo para a coleta de dados.
• RE1.2 Coletar dados no ambiente operacional.
• RE1.3 Coletar dados sobre eventos de risco.
• RE1.4 Identificar fatores de risco.
Analisar Riscos (RE2)
Desenvolver informações úteis para apoiar as decisões de risco que levam em
conta a relevância dos fatores de risco para o negócio. Inclui:
• RE2.1 Definir o escopo da análise de risco de TI.
• RE2.2 Estimar o risco de TI.
• RE2.3 Identificar opções de resposta ao risco.
• RE2.4 Efetuar uma revisão por pares da análise de risco de TI.
Manter o Perfil de Risco (RE3)
Consiste em manter um inventário atualizado e completo dos riscos e atributos
conhecidos (por exemplo, frequência esperada, impacto potencial, disposição), recursos,
capacidades e controles de TI, conforme entendido no contexto de produtos, serviços e
processos de negócios. Contém as seguintes atividades:
• RE3.1 Mapear recursos de TI para processos de negócios.
• RE3.2 Determinar a criticidade dos recursos de TI para o negócio.
• RE3.3 Compreender a capacidade dos recursos de TI.
• RE3.4 Atualizar componentes de cenário de risco de TI.
• RE3.5 Manter o registro de riscos de TI e o mapa de riscos de TI.
• RE3.6 Desenvolver indicadores de risco de TI.
22
Domínio Resposta ao Risco
Como o próprio nome indica, busca assegurar que os problemas, oportunidades
e eventos de risco relacionados à TI sejam abordados de forma econômica e de acordo
com as prioridades do negócio. Este domínio está dividido em três processos: articular
riscos, gerenciar riscos e reagir a eventos.
Articular Riscos (RR1)
Este processo tem por objetivo assegurar que as informações sobre o estado real
das exposições e oportunidades relacionadas à TI sejam disponibilizadas no tempo e às
pessoas certas para uma resposta adequada.
• RR1.1 Comunicar os resultados da análise de risco de TI.
• RR1.2 Relatório de atividades de gestão de risco de TI e conformidade.
• RR1.3 Interpretar resultados da avaliação independente de TI.
• RR1.4 Identificar oportunidades relacionadas a TI.
Gerenciar Riscos (RR2)
Tem por finalidade assegurar que as medidas para aproveitar as oportunidades
estratégicas e reduzir o risco para um nível aceitável sejam geridas como um portfólio.
• RR2.1 Inventariar controles.
• RR2.2 Monitorar alinhamento operacional com limites de tolerância a risco.
• RR2.3 Responder à descoberta de exposição a risco e oportunidade.
• RR2.4 Implementar controles.
• RR2.5 Relatar o progresso do plano de ação de risco de TI.
Reagir a Eventos (RR3)
O último processo do framework objetiva assegurar que as medidas para
aproveitar oportunidades imediatas ou limitar a magnitude da perda de eventos
relacionados à TI sejam ativadas em tempo hábil e sejam eficazes.
• RR3.1 Manter os planos de resposta a incidentes.
• RR3.2 Monitorar riscos de TI.
• RR3.3 Iniciar resposta aos incidentes.
• RR3.4 Comunicar as lições aprendidas dos eventos de risco.
23
2.6 – PRAM
Em meados da década de 1990, a APM (Associação para Gerenciamento de
Projetos) do Reino Unido começou a desenvolver o Guia de Análise e Gestão de Riscos
de Projetos (PRAM em inglês). Consiste da compilação das experiências de um grande
número de organizações do Reino Unido que utilizaram processos formais de gestão de
riscos com êxito durante vários anos [26].
O processo PRAM usou nove fases desde o início de seu desenvolvimento, ao
invés dos quatro do processo SCERT [27], ou das várias estruturas de três a seis fases
utilizadas por outros membros do grupo de interesse especial responsável pela
iniciativa, devido à necessidade de buscar uma "base comum”. Havia uma clara
necessidade de que todos os envolvidos pudessem mapear seu processo para o processo
PRAM genérico, para garantir a propriedade coletiva [26].
As nove fases do PRAM seriam eventualmente organizadas na publicação em
seis fases e quatro subfases (vide Figura 2.10). Outra inovação no modelo foi separar o
processo de gestão de riscos de técnicas ou métodos detalhados que podem ser
utilizados em diferentes fases do processo [28]. O Guia PRAM ainda considera que um
risco pode ter resultados negativos ou positivos e, desta forma, também tratou de
englobar no processo genérico a capacidade da organização promover a gestão de
oportunidades.
Figura 2.10 – Fases do PRAM. Fonte: Chapman &Ward [29].
O processo PRAM foi um contributo muito importante para a gestão do risco do
projeto por causa de sua análise das necessidades de gestão e sua definição do processo,
incluindo os aspectos-chave cobertos por autores anteriores. Seguem algumas
implicações das atividades envolvidas no PRAM.
24
• Definir Projeto: consolidar uma compreensão inequívoca de todas as
características pertinentes do projeto
• Foco Processo de Gestão de Riscos (PRAM): definir o escopo e planejar
várias subfases e operações do PRAM
• Identificação: identificar todos os possíveis riscos e possíveis opções de
resposta (prevenção ou mitigação)
• Avaliação: implicações das suposições tomadas, propriedade do risco,
importância de capturar o risco, implicações das respostas.
• Planejamento: plano baseado em detalhes, avaliações de risco priorizadas,
planos de contingência proativos e reativos recomendados
• Gerenciamento: iniciação do replanejamento, se necessário, e relatório de
exceção.
Figura 2.11 – Processo do PRAM.
Fonte: Cooper [26].
Na Figura 2.11 as fases e subfases estão organizadas em uma espécie de
fluxograma, onde as relações entre as diferentes atividades estão demonstradas através
de setas. PRAM é um método cíclico que pode ser iniciado em praticamente qualquer
estágio do ciclo de vida do projeto e pode ser mantido enquanto compensar a relação
custo-benefício. Com a evolução do projeto, a eficácia obtida pelo uso do PRAM pode
tender a diminuir. Portanto, o tempo ideal para empregá-lo é nas fases iniciais do
projeto quando o controle de gerenciamento é máximo [30].
25
2.7 – PMBOK
O Project Management Body of Knowledge (PMBOK) é uma coletânea de
processos e áreas de conhecimento aceita como melhores práticas para a gestão
profissional de projetos [31].
Como um padrão reconhecido internacionalmente (ANSI/PMI 99-001-2008 e
IEE 1490-2011), provê aos gestores de projetos com as práticas fundamentais
necessárias para alcançar resultados organizacionais e excelência na prática do
gerenciamento de projetos [31].
Além disso, a guia PMBOK do Project Management Institute (PMI) explora
vários problemas da gestão de projetos, relacionando esse campo do conhecimento com
gestão de riscos em TI [13]. Em sua quinta edição, o PMBOK reconhece cinco grupos
de processo e dez áreas de conhecimento aplicáveis a projetos, programas e operações
[32]. Os cinco grupos de processos podem ser observados na Figura 2.12.
Figura 2.12 – Grupos de processo PMBOK. Fonte: PMI [13].
Na quarta edição do PMBOK existiam 42 processos. Na quinta edição, com a
introdução da área de conhecimento “Partes Interessadas”, o guia chegou ao número de
47 processos. O guia divide o conhecimento necessário para gerenciar projetos está
dividido em nove áreas: Gerência de Integração, Gerência de Escopo, Gerência de
Tempo, Gerência de Custo, Gerência de Qualidade, Gerência de Recursos Humanos,
Gerência de Comunicação, Gerência de Riscos e Gerência de Aquisições. A Tabela 2.1
mostra a relação entre grupos de processos, áreas de conhecimento e processos.
26
Tabela 2.1. Processos do PMBOK Guide 2013
Para o presente trabalho é importante focar no tema do Gerenciamento de
Riscos, representado por uma das áreas de conhecimento. Como torna evidente a Tabela
2.1, esta área possui cinco processos alocados no grupo de Planejamento e um sexto
processo alocado no grupo de Monitoramento e Controle.
Antes de adentrar os processos específicos da área de Gerenciamento de Riscos,
vale analisar o que o PMBOK entende por risco. O Guia PMBOK define risco como
“evento ou condição incerta que, se ocorrer, terá um efeito positivo ou negativo sobre
pelo menos um objetivo do projeto, como tempo, custo, escopo ou qualidade” [13].
O gerenciamento dos riscos do projeto inclui os processos de planejamento,
identificação, análise, planejamento de respostas, monitoramento e controle de riscos de
um projeto. Seu objetivo é maximizar a exposição aos eventos positivos e minimizar a
exposição aos eventos negativos. Para cada um destes processos, o PMBOK apresenta
uma estrutura com entradas, saídas, técnicas e ferramentas. A Figura 2.13 apresenta
todos estes elementos citados, mas ao invés de exibir os seis processos do
gerenciamento de risco, divide a área de conhecimento em quatro macroprocessos.
27
Figura 2.13 – Fases do PMBOK. Fonte: Chapman & Ward [29].
• Planejar o gerenciamento dos riscos (11.1): definir como serão conduzidas
as atividades de gerenciamento de riscos para o projeto.
• Identificar os riscos (11.2): determinar quais riscos podem afetar o projeto
e documentar suas características.
• Realizar a análise qualitativa dos riscos (11.3): processo de avaliação e
priorização dos riscos que serão objeto de análise ou ação adicional.
• Realizar a análise quantitativa dos riscos (11.4): realizar a análise
numérica do efeito dos riscos identificados nos objetivos gerais do projeto.
• Planejar as respostas aos riscos (11.5): desenvolver opções e ações para
aumentar oportunidades e reduzir ameaças em relação a objetivos do projeto.
• Controlar os riscos (11.6): consiste em monitorar e controlar os riscos
durante todo o ciclo de vida do projeto.
28
2.8 – CMMI
O modelo CMM – Capability Maturity Model foi criado em 1991 pelo SEI
(Software Engineering Institute) da Universidade Carnegie Mellon (CMU), em
Pittsburgh, EUA, por um grupo de profissionais de software. Patrocinado pelo
Departamento de Defesa dos Estados Unidos, surgiu da necessidade do governo
americano de criar um método para avaliar a capacidade de seus fornecedores de
software [33]. Desde então, foram desenvolvidos vários modelos para as mais diversas
disciplinas, estando entre os mais notáveis os desenvolvidos para engenharia de
sistemas, engenharia e aquisição de software, desenvolvimento e gestão da força de
trabalho, e desenvolvimento integrado de produtos e processos [34].
Apesar de terem se mostrado úteis, esses modelos específicos possuíam
diferenças significativas entre si, incluindo arquitetura, conteúdo e abordagem,
limitando a capacidade das organizações de focar esforços [34]. Com o objetivo de criar
uma terminologia comum e ao mesmo tempo eliminar inconsistências e redundâncias,
em 2000 foi lançado o CMMI (Capability Maturity Model Integration) [4]. A missão do
projeto de integração foi combinar três fontes de referêcia – (1) Modelo de Maturidade
de Capacidade para Software (SW-CMM) v2.0 projeto C, (2) Padrão Interino da
Aliança Eletrônica de Indústrias (EIA/IS) 731, e (3) Modelo de Maturidade de
Capacidade de Desenvolvimento de Produto Integrado (IPD-CMM) v0.98 - em um
único framework de melhoria [SEI 2002].
O CMMI-SW (Capability Maturity Model Integration for Software) foi criado
para integrar os diversos modelos CMM, que atendem às várias atividades relacionadas
ao desenvolvimento de software [35]. O modelo proposto CMMI-SW contém duas
representações: (i) por estágios, e (ii) contínua. A representação por estágios agrupa as
áreas de processo por nível de maturidade (inicial, gerenciado, definido, gerenciado
quantitativamente e em otimização), indicando quais os processos devem ser
implementados para que a organização atinga cada nível de maturidade.
Cada nível é constituído por um conjunto de áreas de processos, compostas por
objetivos específicos e objetivos genéricos. Cada objetivo específico pode ser composto
por um conjunto de práticas específicas. Um objetivo específico (SG) descreve as
características que devem ser buscadas para satisfazer o objetivo geral de uma área de
processo. Uma prática específica (SP), por sua vez, corresponde a descrição de uma
atividade que é importante para alcançar o objetivo específico a ela associado [4].
29
Figura 2.14 – Componentes do CMMI. Fonte: CMMI Product Team [34].
Embora a identificação e o monitoramento de riscos sejam atividades cobertas
pelas áreas de processo de “Planejamento de Projetos” e “Monitoração e Controle de
Projetos”, ambas no nível 2 de maturidade, Gerenciamento de Riscos aparece como
uma área de processo apartada no nível 3 [35]. O objetivo da área de processo é
identificar possíveis problemas antes que eles ocorram, para que as atividades de
tratamento de risco possam ser planejadas e invocadas conforme necessário ao longo da
vida do projeto para mitigar os impactos adversos na consecução dos objetivos. Na
Tabela 2.2 e na Figura 2.16 estão listados os objetivos específicos e suas práticas.
Tabela 2.2. Objetivos Específicos da Gestão de Riscos no CMMI
SG 1 Preparar-se para a Gerência de Riscos SP 1.1 Determinar Fontes e Categorias de Riscos
SP 1.2 Definir Parâmetros de Riscos
SP 1.3 Estabelecer uma Estratégia para a Gerência de Risco
SG 2 Identificar e Analisar Risco SP 2.1 Identificar Riscos
SP 2.2 Avaliar, Categorizar, e Priorizar Riscos
SG 3 Mitigar Riscos SP 3.1 Desenvolver Planos de Mitigação de Riscos
SP 3.2 Implementar Planos de Mitigação de Riscos
A área de processo Gerenciamento de Risco faz referência a um objetivo
genérico, denominado Institucionalizar um Processo Definido (GG 3). Este objetivo em
questão não será objeto de estudo, pois trata-se de um ponto comum já abordado pelas
organizações em outras áreas de processo do modelo de maturidade.
30
Figura 2.15 – Metas e Objetivos Específicos de Riscos no CMMI. Fonte: Williams [36].
Meta Específica SG1 – Preparar-se para a Gerência de Riscos
A preparação é conduzida estabelecendo e mantendo uma estratégia para
identificar, analisar e mitigar os riscos. Isso geralmente é documentado em um plano de
gerenciamento de riscos. A estratégia de gestão de riscos aborda as ações específicas e a
abordagem de gestão utilizadas para aplicar e controlar o programa de gestão de riscos.
Determinar Fontes e Categorias de Riscos (SP 1.1)
A identificação das fontes de risco fornece uma base para examinar
sistematicamente as situações em mudança ao longo do tempo para descobrir
circunstâncias que afetam o atingimento dos objetivos do projeto. Estabelecer categorias
de riscos prevê um mecanismo para a coleta e organização de riscos, bem como para
garantir o escrutínio adequado e atenção da gestão para os riscos que podem ter
consequências mais graves. Sub práticas:
1. Determinar fontes de risco.
2. Determinar categorias de risco.
Definir Parâmetros de Riscos (SP 1.2)
Definir os parâmetros utilizados para analisar e categorizar os riscos, bem como
os parâmetros utilizados para controlar o esforço de gestão de risco. Sub práticas:
31
1. Definir critérios consistentes para avaliar e quantificar a probabilidade de
risco e níveis de severidade.
2. Definir limiares para cada categoria de risco.
3. Definir limites na medida em que os limiares são aplicados contra ou dentro
de uma determinada categoria.
Estabelecer uma Estratégia para a Gerência de Riscos (SP 1.3)
Como o próprio nome diz, esta prática visa estabelecer e manter a estratégia a
ser utilizada para a gestão de riscos. Não possui sub práticas definidas.
Meta Específica SG2 – Identificar e Analisar Risco
Os riscos são identificados e analisados para determinar a sua importância
relativa. A análise de riscos implica a identificação de riscos das fontes identificadas e,
em seguida, a avaliação de cada risco levantado a fim de determinar sua probabilidade e
consequências. A categorização do risco, em função das categorias de risco
estabelecidas e dos critérios para a estratégia de gestão de risco, fornece as informações
necessárias para o tratamento de riscos.
Identificar Riscos (SP 2.1)
Consiste da identificação de potenciais problemas, perigos, ameaças e
vulnerabilidades que possam afetar negativamente os esforços ou planos de trabalho. Os
riscos são documentados em uma declaração concisa que inclui o contexto, as condições
e as consequências da ocorrência de risco. Sub práticas:
1. Identificar os riscos associados ao custo, cronograma e desempenho em
todas as fases apropriadas do ciclo de vida do projeto.
2. Revisar os elementos ambientais que podem afetar o projeto.
3. Rever todos os elementos da estrutura de divisão do trabalho como parte da
identificação de riscos para ajudar a garantir que todos os aspectos do
esforço de trabalho tenham sido considerados.
4. Reveja os elementos do plano do projeto como parte da identificação de
riscos para assegurar que todos os aspectos do projeto foram considerados.
5. Documentar o contexto, condições e potenciais consequências do risco.
6. Identificar as partes interessadas relevantes associados a cada risco.
32
Avaliar, Categorizar e Priorizar Riscos (SP 2.2)
Avaliar e categorizar cada risco identificado utilizando as categorias e
parâmetros de risco definidos e determinar a sua prioridade relativa. Sub práticas:
1. Avaliar os riscos identificados utilizando os parâmetros de risco definidos.
2. Categorizar e agrupar os riscos de acordo com as categorias definidas.
3. Priorizar riscos para mitigação.
Meta Específica SG3 – Mitigar Riscos
Os riscos são tratados e mitigados, quando apropriado, para reduzir os impactos
adversos na consecução dos objetivos. As etapas no manejo de riscos incluem o
desenvolvimento de opções de tratamento de riscos, o monitoramento de riscos e a
realização de atividades de gestão de riscos quando os limites definidos são excedidos.
Desenvolver Planos de Mitigação de Riscos (SP 3.1)
Desenvolver um plano de mitigação de riscos para os riscos mais importantes
para o projeto, conforme definido pela estratégia de gerenciamento de riscos. O modelo
sugere como opções de respostas: evitar o risco, controlar o risco, transferir o risco,
monitorar o risco e aceitar o risco. Sub práticas:
1. Determinar os níveis e limiares que definem quando um risco se torna
inaceitável e desencadeia a execução de um plano de mitigação de riscos ou
um plano de contingência.
2. Identificar a pessoa ou grupo responsável por endereçar cada risco.
3. Determinar a relação custo-benefício da implementação do plano de
mitigação de risco para cada risco.
4. Desenvolver um plano global de mitigação para o projeto para orquestrar a
implementação dos planos individuais de mitigação e contingência.
5. Desenvolver planos de contingência para riscos críticos selecionados no caso
de seus impactos serem realizados.
Implementar Planos de Mitigação de Risco (SP 3.2)
Monitorar o status de cada risco periodicamente e implementar o plano de
mitigação de riscos conforme apropriado. Sub práticas:
33
1. Monitorar status dos riscos.
2. Prover método para rastrear as atividades de tratamento de riscos abertas até
o seu fechamento.
3. Invocar opções de tratamento de riscos selecionadas quando os riscos
monitorados excederem os limites definidos.
4. Estabelecer um cronograma ou período de desempenho para cada atividade
de tratamento de risco incluindo data de início e data de conclusão previstas.
5. Fornecer comprometimento contínuo de recursos para cada plano para
permitir a execução bem-sucedida das atividades de tratamento de risco.
6. Coletar medidas de desempenho nas atividades de tratamento de risco
Na representação contínua do CMMI, existem seis Níveis de Capacidade para
qualquer uma das áreas de processo. Williams descreve como seria cada nível de
capacidade para o processo de Gestão de Riscos [36].
Nível de Capacidade 0-Incompleto. A gestão de riscos não é executada ou é
parcialmente executada. Um ou mais dos objetivos específicos não são satisfeitos.
Capacidade Nível 1-Executado. As práticas de gestão de risco da organização
satisfazem todos os objetivos específicos da área de processo de riscos.
Capacidade Nível 2-Gerenciada. Neste nível, a gestão de riscos não só é
executada, mas também planejada e executada de acordo com a política, emprega
pessoas qualificadas com recursos adequados, é monitorado, controlado e revisado;
Capacidade Nível 3-Definido. Nesse nível, a gestão de riscos é "gerenciada"
(nível de capacidade 2), mas também segue um processo que é adaptado a partir de um
guia padrão da organização, orientado por diretrizes específicas de forma a contribuir
com a melhoria dos ativos do processo organizacional.
Nível de Capacidade 4 - Gerenciado Quantitativamente. Neste nível, a gestão de
riscos um processo definido (nível de capacidade 3) que é controlado usando técnicas
estatísticas e outras técnicas quantitativas. A qualidade e o desempenho do processo são
entendidos em termos estatísticos e são gerenciados ao longo da vida do processo.
Capacidade Nível 5-Otimização. Neste nível, a gestão de riscos é um processo
gerenciado quantitativamente (nível de capacidade 4) que é alterado e adaptado para
atender aos objetivos de negócios atuais e projetados relevantes. Um processo de
otimização se concentra em melhorar continuamente o desempenho do processo por
meio de melhorias tecnológicas incrementais e inovadoras.
34
2.9 – MPS.BR
O MPS.BR ou Melhoria de Processos do Software Brasileiro é ao mesmo tempo
uma iniciativa para a melhoria da qualidade (Programa MPS.BR) e um modelo de
qualidade de processo (Modelo MPS). Voltado para a realidade do mercado brasileiro
de pequenas e médias empresas de desenvolvimento de software, ele é baseado nas
normas ISO/IEC 12207 e ISO/IEC 15504 e compatível com o CMMI [37].
O MR-MPS-SW usa como ponto de partida os conceitos de maturidade e
capacidade de processo para avaliar e promover a melhoria da qualidade e da
produtividade de software. A capacidade do processo é caracterizada como a habilidade
do processo de alcançar os objetivos de negócio (no presente e no futuro). Neste
modelo, para que uma organização evolua nos níveis de maturidade, um maior nível de
capacidade para desempenhar o processo deve ser atingido. Este desempenho, por sua
vez, é medido pelo atendimento aos atributos do processo (AP) requerido para todos os
processos no nível correspondente ao nível de maturidade.
Sobre a gestão de riscos, identifica-se que o planejamento (incluindo a
identificação e priorização) e a monitoração dos riscos são iniciados no nível G de
maturidade com os resultados GPR6 e GPR15 do processo Gerência de Projetos (GPR),
mas o processo de Gestão de Riscos propriamente dito somente surge no nível de
maturidade C. Sendo os níveis cumulativos, este é composto pelos níveis de maturidade
anteriores (G ao D), acrescidos, além da Gerência de Riscos dos processos
Desenvolvimento para Reutilização e Gerência de Decisões. Neste nível de maturidade,
os processos devem satisfazer os cinco atributos de processo listados abaixo.
• AP 1.1 O processo é executado – medida do quanto o propósito do
processo é alcançado por sua execução.
• AP 2.1 A execução do processo é gerenciada – medida do quanto a
execução do processo é gerenciada.
• AP 2.2 Os produtos de trabalho do processo são gerenciados – medida do
quanto os produtos de trabalho do processo são gerenciados.
• AP 3.1. O processo é definido – medida do quanto o processo padrão da
organização é mantido de forma a apoiar sua adaptação para um processo
definido.
• AP 3.2 O processo está implementado – medida do quanto o processo
padrão está implementado na organização.
35
Figura 2.16 – Níveis de Maturidade MPS.BR. Fonte: Adaptado de Williams [36].
De acordo com MR-MPS-SW, a Gerência de Riscos deve ser aplicada tanto a
riscos de projeto quanto a riscos organizacionais. Sobre a definição de risco, adota o
conceito do IEEE, onde risco é tido como a probabilidade de um evento, perigo, ameaça
ou situação ocorrer associado a consequências indesejáveis, com potenciais impactos.
O propósito do processo, como enunciado pelo modelo, concentra-se em
cumprir as etapas de identificação, análise, tratamento e monitoramento de riscos,
reduzindo-os de forma continua no âmbito organizacional e de projeto. Para ser
considerado implantado, além dos atributos de processo, precisa satisfazer os resultados
esperados. O MR-MPS-SW enumera nove resultados esperados para este processo.
GRI1 - O escopo da gerência de riscos é determinado
A gerência de riscos poder ser aplicada dentro do âmbito dos projetos ou
também para atividades organizacionais. Para atingir esse resultado deve-se definir
claramente a abrangência de aplicação do processo de gerência de riscos na organização
em relação à sua estrutura organizacional e de processos.
GRI2 - As origens e as categorias de riscos são determinadas e os parâmetros
usados para analisar riscos, categorizá-los e controlar o esforço da gerência de
riscos são definidos
36
A organização deve definir uma classificação e critérios para determinação da
probabilidade e da severidade dos riscos. Estas estimativas da probabilidade e impacto
dos riscos podem ser realizadas quantitativa ou qualitativamente.
GRI3 - As estratégias apropriadas para a gerência de riscos são definidas e
implementadas
Uma estratégia de gerência de riscos deve ser definida, definindo e relacionando
aspectos como: escopo; métodos e ferramentas para identificação, análise, mitigação,
monitoração e comunicação; técnicas de mitigação; medidas para monitorar os riscos;
periodicidade de monitoração e avaliação dos riscos. Normalmente a estratégia pode
estar representada no plano de gerência de riscos a ser seguido.
GRI4 - Os riscos do projeto são identificados e documentados, incluindo seu
contexto, condições e possíveis consequências para o projeto e as partes
interessadas
Considerando as fontes e categorias de risco determinadas, deve-se identificar os
riscos potenciais para a organização ou para o projeto, assim como contexto, condições
e consequências associadas. A atividade de identificação de riscos pode fazer uso de
várias abordagens, como reuniões, análises de cenário, árvores de decisão, etc. Estas
informações devem ser devidamente documentadas.
GRI5 - Os riscos são priorizados, estimados e classificados de acordo com as
categorias e os parâmetros definidos
Os riscos identificados devem ser organizados em categorias e ter sua prioridade
determinada. A priorização pode ser feita a partir da determinação da probabilidade e o
impacto dos riscos, seja através de métodos qualitativos ou por meio de métodos
quantitativos. A lista de riscos geral, com seus respectivos parâmetros, quanto a relação
priorizada devem ser documentadas. Os interessados devem ser comunicados
GRI6 - Planos para a mitigação de riscos são desenvolvidos
Deve-se estabelecer planos de mitigação para os riscos prioritários. Os planos de
mitigação serão executados antes que o risco ocorra, diminuindo assim sua
probabilidade e/ou impacto. Evitar um risco ou aceitá-lo também são respostas
possíveis, contanto que estejam previstas no plano.
37
GRI7 - Os riscos são analisados e a prioridade de aplicação dos recursos para o
monitoramento desses riscos é determinada
Atinge-se este resultado ao garantir que os riscos que serão tratados pela
gerência de riscos passem previamente por seleção e análise que determine a prioridade
para aplicação dos recursos (materiais e humanos).
GRI8 - Os riscos são avaliados e monitorados para determinar mudanças em sua
situação e no progresso das atividades para seu tratamento
Os riscos devem ser monitorados e reavaliados periodicamente. Os planos de
mitigação e contingência também devem ser eventualmente revistos, pois podem
necessitar de ajustes em função de alterações nos riscos.
GRI9 - Ações apropriadas são executadas para corrigir ou evitar o impacto do
risco, baseadas na sua prioridade, probabilidade, consequência ou outros
parâmetros definidos
Deve-se realizar a monitoração periódica dos riscos, verificando a necessidade
da execução de ações de mitigação e/ou contingência. As ações que forem julgadas
necessárias devem ser executadas até sua devida conclusão.
38
Capítulo 3
Discussões
3.1 – Considerações Gerais
O foco da análise comparativa foi verificar até que ponto os processos e etapas
descritos pelas várias normas são semelhantes entre si. Um alto grau de similaridade e
consistência entre os padrões indicaria a existência de um consenso tácito sobre a forma
como a gestão de risco deve ser conduzida.
Uma revisão das etapas do processo descritas pelos padrões selecionados
identificou a existência de cinco etapas que vão em direção a este consenso:
planejamento, identificação de riscos, análise de riscos, tratamento de riscos (ou
mitigação) e controle (ou monitoramento). As etapas de avaliação (no sentido de
evaluation) e comunicação, previstas no processo genérico da norma ISO 31000, estão
ausentes de um ou mais modelos de processo.
A terminologia difere entre as normas, embora a estrutura do processo em cada
caso seja semelhante. Por exemplo, em alguns padrões, a "análise" é chamada de
"avaliação" e em alguns casos a análise é dividida em "estimativa" (de probabilidade e
impacto dos eventos de risco) e "avaliação" (determinando a magnitude global do
evento de risco, de onde deriva sua prioridade). Estas diferenças serão discutidas ao
longo dos próximos subitens. Como ponto de partida para tal, será adotado o modelo de
processo descrito na ISO 31000, conforme determinado na metodologia.
A comparação das fases dos processos das seis normas é apresentada nos
próximos tópicos em sete tabelas separadas (Tabelas 3.1 a 3.7), uma para cada uma das
fases e subfases do processo de gestão de riscos genérico. Cada tabela é composta pela
ISO 31000 (modelo de referência) seguida de seis linhas, reservadas para os demais
padrões selecionados. As entradas na tabela podem, dependendo do modelo, incluir
números, códigos ou rótulos originais dos modelos, ajudando a fazer o paralelo com o
documento onde estão originalmente descritos.
39
3.2 – Planejamento da Gestão de Riscos
Na Tabela 3.1 compara-se a forma como os diferentes padrões abordam a etapa
de planejamento, que é a etapa que exibe a maior variabilidade em termos de escopo e
nível de detalhe. Alguns padrões incluem nesta etapa questões de toda a organização,
tais como o estabelecimento da política de gerenciamento de riscos, a definição de
papéis e responsabilidades em vários níveis e o estabelecimento do processo a ser
seguido. Outros, devido a própria finalidade do modelo, são mais especializados.
Tabela 3.1. Análise Comparativa – Planejamento da Gestão de Riscos
Planejamento da Gestão de Riscos
ISO 31.000 5.3. Estabelecimento do contexto
5.3.1. Estabelecer o contexto interno
5.3.2. Estabelecer o contexto externo
5.3.3. Estabelecer o contexto do processo de gestão de risco
5.3.4. Desenvolver de critérios de risco
5.3.5. Definir a estrutura para análise de risco
1. ISO 27.005 7. Definição do contexto
7.2. Critérios básicos
7.2.1. Abordagem da gestão de riscos
7.2.2. Critérios para avaliação de riscos
7.2.3. Critérios de impacto
7.2.4. Critérios para aceitação do risco
7.3. Escopo e limites
7.4. Organização para gestão de riscos de segurança da informação
2. IT Risk Domínio RG
RG1.2 Propor limiares de tolerância ao risco de TI.
RG2.1 Estabelecer e manter a responsabilidade pela gestão de riscos
de TI
RG2.3 Adaptar as práticas de risco de TI às práticas de risco
empresarial.
RG2.4 Fornecer recursos adequados para a gestão de riscos de TI
Domínio RE RE2.1 Definir o escopo da análise de risco de TI.
3. PRAM Iniciação
Definir o escopo, os objetivos e o contexto para a gestão de riscos,
posteriormente dividida em duas subfases:
a. Definir o projeto visa assegurar a compreensão comum que o
processo de gestão de risco deve ser aplicado.
B. Foco Processo de Gestão de Riscos ajusta os detalhes do processo
de gestão aos requisitos específicos
Estrutura Organizacional
Planejamento para a gestão de riscos
Responsabilidades
40
A norma ISO/IEC 27005, em consonância com a norma genérica expressa pela
ISO 31000, prevê um estrutura pré-existente na organização onde o processo de gestão
de riscos é executado. Desta forma, apesar das duas normas aparentemente iniciarem
com estabelecimento de contexto, já existem definições importantes alimentadas pelo
framework anterior ao processo.
No caso dos modelos de maturidade (CMMI e MPS.BR) é compreensível que
muito do que era esperado para planejamento de gestão de risco não possa ser
encontrado no processo específico de Gerência de Riscos. São modelos mais amplos,
que tentam evitar redundância entre diferentes processos. No caso do MPS.BR, está
especificado que o planejamento da gestão de riscos tem início no nível G de
maturidade com os resultados GPR6 e GPR15 do processo Gerência de Projetos (GPR).
Áreas funcionais:
O papel do Gerente de Projetos
O papel do Gerente do Processo de Riscos
O papel do Gerente de Riscos
O papel do dono do Risco
O papel do dono da Ação
O papel do Especialista Técnico
Outros papéis funcionais
O papel do executivo patrocinador
Gestão de riscos e o ciclo de vida do projeto
Provendo recursos ao processo de gestão de riscos
Provendo recursos às ações de resposta aos riscos
4. PMBOK 11.1. Planejar o gerenciamento de riscos
O processo de decidir como abordar e conduzir as atividades de
gerenciamento de risco para um projeto.
Entradas: fatores ambientais da empresa; Ativos de processos
organizacionais; declaração do escopo do projeto; Plano de
gerenciamento do projeto. Ferramentas e técnicas: planejamento de
reuniões e análise.
Saídas: Plano de Gestão de Riscos (metodologia, funções e
responsabilidades, orçamentação, calendário, categorias de risco,
definições de probabilidade e impacto, tolerâncias dos stakeholders,
formatos de relatórios, acompanhamento
5. CMMI Preparar-se para a Gerência dos Riscos (SG 1)
• Determinar Fontes e Categorias de Riscos (SP 1.1)
• Definir Parâmetros de Riscos (SP 1.2)
• Estabelecer uma Estratégia para Gerência de Risco (SP 1.3)
6. MPS BR (Começa na maturidade G, com GPR6 e GPR15
GRI 1. O escopo da gerência de riscos é determinado;
GRI 2. As origens e as categorias de riscos são determinadas e os
parâmetros usados para analisar riscos, categorizá-los e controlar o
esforço da gerência de riscos são definidos;
GRI 3. As estratégias apropriadas para a gerência de riscos são
definidas e implementadas;
41
O PRAM coloca uma ênfase grande na etapa de planejamento, vide o número de
itens expostos na tabela 3.1. Esta complexidade no planejamento é condizente com a
leitura de Del Caño de que o processo PRAM é desenhado com foco em projetos de
maior porte [38]. Para projetos pequenos, talvez o benefício obtido com este grau de
detalhe não compense o esforço empenhado.
Já o PMBOK parece ir no caminho oposto. Ao contrário do PRAM, ele não se
preocupa tanto com alguns aspectos organizacionais alheios ao projeto. Uma conclusão
que pode ser tirada é que o processo de gestão de riscos do PRAM receita como a
organização deve gerir riscos no projeto, enquanto o processo no PMBOK, apesar de
receber ativos organizacionais como entrada, foca mais no papel do gerente de projeto.
Sobre o Risk IT, não parece razoável restringir o planejamento a um único
domínio ou processo. Para fazer um paralelo com o estabelecimento de contexto da
norma ISO 31000 é necessário visitar pelo menos dois domínios. No entanto, seria
premeditado concluir que o framework rompe com o processo genérico. Apesar da
pluralidade dos domínios e processos, as atividades estão entrelaçadas de forma coesa,
representando na prática uma fase de planejamento.
3.3 – Identificação de Riscos
A Identificação de Riscos não é uma das etapas principais do processo genérico
de gestão de riscos da ISO 31.000, sendo na verdade uma subdivisão do processo
Avaliação de Riscos (no sentido de assessment). O mesmo entendimento foi mantido na
norma ISO/IEC 27005. No entanto, além da existência nítida de três fases totalmente
dissociáveis, nota-se uma ausência de identidade própria neste agrupamento. Parece que
tal agrupamento existe somente no intuito de criar uma classificação hierarquicamente
superior que pudesse ser referenciada posteriormente. Por exemplo, a ISO/IEC 31010 é
uma norma que reúne técnicas para as atividades de identificação de risco, análise de
risco e avaliação de risco (evaluation). Desta forma, criar o agrupamento avaliação de
risco (assessment) parece uma demanda de coesão da própria família ISO 31000.
Na Tabela 3.2 são listadas as formas com que os diferentes modelos descrevem
a fase de identificação de riscos. Esta talvez seja a fase que apresenta maior
convergência entre todos os modelos, inclusive em relação a terminologia, pois em
cinco deles consta o verbo identificar ou uma de suas flexões. Praticamente em todos os
padrões a identificação ocorre em uma etapa exclusiva para esse fim.
42
Tabela 3.2. Análise Comparativa – Identificação de Riscos
Identificação de Riscos
ISO 31.000 5.4. Avaliação de riscos (assessment)
5.4.2. Identificação de riscos
1. ISO 27.005 8. Avaliação de riscos de segurança da informação
8.2. Identificação de riscos
8.2.2. Identificação dos ativos
8.2.3. Identificação das ameaças
8.2.4. Identificação dos controles existentes
8.2.5. Identificação das vulnerabilidades
8.2.6. Identificação das consequências
2. IT Risk Este processo está incluso em RE2.2 Estimar o Risco de TI
A identificação de riscos compreende os seguintes elementos:
• Cenários de Risco
• Fatores de Risco
3. PRAM Fase de identificação:
Buscar por fontes de risco e respostas;
Classificação: estrutura adequada para riscos e respostas, agregando
ou segregando conforme apropriado.
Caracterização: identificador simples ou descrição
4. PMBOK 11.2. Identificar riscos
Entradas: Planos de gerenciamento (riscos, custos, cronograma,
qualidade, recursos humanos); Linha de base do escopo; Estimativas
de custos e duração das atividades; Registro das partes interessadas;
Documentos do projeto; Documentos de aquisição; Fatores
ambientais da empresa; Ativos de processos organizacionais
Saídas: Registro dos riscos
5. CMMI Identificar e Analisar Risco (SG 2)
• Identificar Riscos (SP 2.1)
6. MPS BR GRI 4. Os riscos do projeto são identificados e documentados,
incluindo seu contexto, condições e possíveis consequências para o
projeto e as partes interessadas;
A única exceção fica por conta do framework Risk IT. Ao invés de separar uma
atividade específica para identificar riscos, a ISACA optou por manter esta fase como
uma parte integrante da atividade Estimar Risco (RE2.2). O entendimento do modelo é
que a identificação dos riscos ocorre como uma consequência natural da identificação
de fatores e cenários de risco. Em outros modelos a análise de cenários é vista como
uma ferramenta de identificação de riscos, não sendo necessariamente obrigatória.
Vale ressaltar que a necessidade de documentar os riscos identificados nesta fase
está explícita em todos os modelos estudados. Este resultado, chamado no PMBOK de
registro do risco, pode variar seu formato de acordo com a metodologia utilizada.
43
3.4 – Análise de Riscos
Na Tabela 3.3 são listados os aspectos referentes à análise de riscos, conforme
foram identificados nos modelos estudados. Se na fase de identificação existia um
consenso entre os modelos, nesta fase há um movimento no sentido oposto.
Tabela 3.3. Análise Comparativa – Análise de Riscos
Análise de Riscos
ISO 31.000 5.4. Avaliação de riscos (assessment)
5.4.3. Análise de riscos
1. ISO 27.005 8. Avaliação de riscos de segurança da informação
8.3. Análise de riscos
8.3.1. Metodologia de análise de riscos
• Análise qualitativa de riscos
• Análise quantitativa de riscos
8.3.2. Avaliação das consequências
8.3.3. Avaliação da probabilidade dos incidentes
8.3.4. Determinação do nível de risco
2. IT Risk RE2 Analisar Risco
RE1 Coletar Dados
3. PRAM Fase de avaliação (assess):
Estrutura:
Busca / brainstorm / entrevista;
Ordenar riscos e respostas para propósito de discussão;
Distinguir respostas específicas e gerais.
Ownership:
Alocar responsabilidade;
Aprovar alocação de contractors.
Estimativa:
Identificar áreas requerendo decisões cuidadosas;
Identificar áreas requerendo mais dados e análise.
4. PMBOK 11.3. Realizar a análise qualitativa dos riscos
Entradas: Plano de gerenciamento de riscos; Linha de base do escopo;
Registro dos riscos; Fatores ambientais da empresa; Ativos de
processos organizacionais
11.4. Realizar a análise quantitativa dos riscos
Entradas: Planos de gerenciamento (riscos, custos e cronograma);
Registro dos riscos; Fatores ambientais da empresa; Ativos de
processos organizacionais
Saídas: Atualizações dos Documentos do projeto
5. CMMI Identificar e Analisar Risco (SG 2)
Avaliar, Categorizar e Priorizar Riscos (SP 2.2)
6. MPS BR GRI5 - Os riscos são priorizados, estimados e classificados de acordo
com as categorias e os parâmetros definidos
44
A maior parte dos modelos estudados parece divergir do entendimento da ISO
31000, que separa a análise de risco da fase de avaliação de risco (evaluation). Neste
entendimento, compartilhado pela ISO/IEC 27005 e pela PRAM, analisar risco vai de
encontro ao conceito de estimar risco, ou seja, mensurar a probabilidade de ocorrência e
dimensão do impacto dos riscos identificados. A confrontação destas estimativas com
critérios pré-estabelecidos a fim de categorizar e priorizar riscos seria coberta pela fase
seguinte, de avaliação de riscos (no sentido de evaluation).
Independente desta divergência, pode ser dito que em todos os modelos há
alguma espécie de mensuração de probabilidade e impacto na fase de análise. Existem
três formas de fazer esta mensuração: por métodos qualitativos, por métodos
quantitativos ou por uma combinação dos dois métodos. O PMBOK atribui uma ordem
entre eles, determinando que a análise quantitativa seja feita após a priorização dos
riscos por vias qualitativas. Os outros modelos já preferem deixar esta escolha a critério
do responsável pela atividade de análise de riscos.
Considerando exclusivamente a gestão de riscos de TI, percebe-se nesta etapa
um diferencial do framework Risk IT em relação a ISO/IEC 27005. Seu processo de
Analisar Riscos (RE2), além de considerar todas as abordagens de estimativa
mencionadas na ISO, preocupa-se também em gerar informações uteis para suportar
decisões relacionadas a risco, levando em consideração a relevância para o negócio.
3.5 – Avaliação de Riscos
A Tabela 3.4 apresenta as abordagens dos modelos estudados em relação a
avaliação de risco (no sentido de evaluation). Conforme pode ser observado, as normas
ISO e o modelo PRAM descrevem uma fase própria, enquanto as demais executam a
categorização e a priorização de riscos junto de fases anteriores. A separação traz um
benefício na representação gráfica dos processos. Analisando os fluxogramas sugeridos
pela ISO/IEC 27005 (Figura 2.6) e PRAM (Figura 2.11), percebe-se que a fase de
avaliação de risco representa um ponto de decisão. Se a avaliação não ocorrer de forma
satisfatória o processo retorna a fase de estimativa (no caso do PRAM) ou reinicia na
fase de definição de contexto (no caso da ISO/IEC 27005).
45
Tabela 3.4. Análise Comparativa – Avaliação de Riscos
Avaliação de Riscos
ISO 31.000 5.4. Avaliação de riscos (assessment)
5.4.4. Avaliação de riscos (evaluation)
1. ISO 27.005 8. Avaliação de riscos de segurança da informação
8.4. Avaliação de riscos (evaluation)
2. IT Risk RE2.2 Estimar Risco de TI
3. PRAM Fase de avaliação (assess):
Avaliar (evaluate)
4. PMBOK 11.3. Realizar a análise qualitativa dos riscos
11.4. Realizar a análise quantitativa dos riscos
5. CMMI Identificar e Analisar Risco (SG 2)
• Avaliar, Categorizar e Priorizar Riscos (SP 2.2)
6. MPS BR GRI5 - Os riscos são priorizados, estimados e classificados de acordo
com as categorias e os parâmetros definidos
3.6 – Tratamento de Riscos
Na etapa de tratamento de risco (Tabela 3.5), o conjunto de possíveis cursos de
ação mencionado pela maioria dos padrões foi bastante limitado, e inclui as seguintes
respostas: evitar o risco, mitigar o risco (reduzindo a probabilidade ou limitando os
impactos), transferir ou aceitar o risco.
Por outro lado, PRAM, PMBOK e Risk IT são modelos que entendem que o
risco pode ter um resultado positivo para organização. Consequentemente, a etapa de
tratamento de risco inclui estratégias para também lidar com oportunidades, como:
exploração, aumento da probabilidade, melhoria de consequências e partilha de riscos.
Além disso, conforme pontua Raz [2], a PRAM distingue entre dois níveis de
risco em projetos, "eventos de risco" e "risco de projeto", dividindo a etapa de
tratamento de risco em duas para lidar cada um à sua maneira.
O processo da ISO/IEC 27005 inclui, após o Tratamento de Riscos, um segundo
ponto de decisão no processo. Caso o risco residual não seja tolerável, segundo critérios
pré-estabelecidos no processo de gestão de riscos, retorna o processo para a definição de
contexto. Em caso de decisão positiva, chega-se a uma fase inédita, a aceitação.
46
Tabela 3.5. Análise Comparativa – Tratamento de Riscos
A aceitação do risco descrita pela ISO/IEC 27005 é diferente da opção de
resposta ao risco de mesmo nome. No processo descrito pela norma de segurança da
informação, tal atividade consiste da submissão do plano de tratamento de riscos e dos
riscos residuais para aprovação por parte da gerência. O framework do Risk IT também
prevê esta atividade, sob o rótulo de Aceitar o Risco de TI (RG3.4).
3.7 – Monitoramento e Controle de Riscos
Na Tabela 3.6 compara-se a forma como os diferentes padrões abordam a etapa
de monitoramento (ou monitoração) e controle de riscos. Considerando que todos os
processos estudados parecem alinhados, de maneira declarada ou implícita, com o ciclo
PDCA de Deming / Shewhart, faz sentido que todos descrevam uma fase que monitore
e retroalimente o processo, objetivando a melhoria contínua.
Tratamento de Riscos
ISO 31.000 5.5. Tratamento de riscos
5.5.2. Seleção das opções de tratamento de riscos
5.5.3. Preparação e implementação dos planos de tratamento de riscos
1. ISO 27.005 9. Tratamento do risco de segurança da informação
9.2. Modificação do risco
9.3. Retenção do risco
9.4. Ação de evitar o risco
2. IT Risk RE2.3 Identificar opções de resposta ao risco.
RR2.3 Responder à descoberta de exposição a risco oportunidade.
3. PRAM Fase de planejamento de respostas:
• Planejar respostas aos eventos de risco
• Planejar respostas aos riscos do projeto
Fase de implementação de respostas:
Implementar respostas aos eventos de risco;
Implementar respostas aos riscos do projeto;
4. PMBOK 11.5. Planejar as respostas aos riscos
Entradas: Planos de gerenciamento de riscos, registro dos riscos
Saídas: Atualizações do plano de gerenciamento do projeto,
Atualizações dos documentos do projeto
5. CMMI Mitigar Riscos (SG 3)
· Desenvolver Planos de Mitigação de Riscos (SP 3.1)
6. MPS BR GRI6 - Planos para a mitigação de riscos são desenvolvidos
47
Tabela 3.6. Análise Comparativa – Monitoramento e Controle de Riscos
Existem dois aspectos da atividade de controle: controle das ações de mitigação
de risco para determinado projeto/atividade, e controle do processo de gestão de risco
propriamente dito. Esta análise pela tabela é complicada, mas todos os modelos
abordam a questão do monitoramento e controle da efetividade das ações de tratamento
de risco selecionadas na etapa anterior, mas nem todas se preocupam com a gestão e
melhoria do processo de gestão de riscos como um todo.
Monitoramento e Controle de Riscos
ISO 31.000 5.6. Monitoramento e Análise Crítica
1. ISO 27.005 12. Monitoramento e análise crítica de riscos de segurança da
informação
12.1. Monitoramento e análise crítica dos fatores de risco
12.2. Monitoramento, análise crítica e melhoria do processo de gestão
de riscos
2. IT Risk Integrar com a Gestão de Riscos Corporativa (RG2)
RG2.4 Fornecer recursos adequados para a gestão de riscos de TI.
RE2.4 Efetuar uma revisão por pares da análise de risco de TI.
RG2.5 Fornecer garantia de independência para gestão de riscos de TI.
3. PRAM Fase de implementação de respostas:
Monitorar mudanças na exposição aos riscos;
Endereçar efetividade do processo de gestão de riscos.
Fase de gerência do processo:
Rever abordagem de cada fase;
Considerar integração da gestão de riscos com outro projeto ou
processo de negócio.
4. PMBOK 11.6. Controlar os riscos
Entradas: Plano de gerenciamento do projeto; Registro dos riscos;
Dados de desempenho do trabalho; Relatórios de desempenho do
trabalho
Saídas: Informações sobre o desempenho do trabalho; Solicitações de
mudança; Atualizações do Plano de gerenciamento do projeto;
Atualizações dos documentos do projeto; Atualizações dos ativos de
processos organizacionais
5. CMMI Mitigar Riscos (SG 3)
· Implementar os Planos de Mitigação de Riscos (SP 3.2)
6. MPS BR GRI8 - Os riscos são avaliados e monitorados para determinar
mudanças em sua situação e no progresso das atividades para seu
tratamento
GRI9 - Ações apropriadas são executadas para corrigir ou evitar o
impacto do risco, baseadas na sua prioridade, probabilidade,
consequência ou outros parâmetros definidos
48
3.8 – Comunicação de Riscos
Na Tabela 3.6 compara-se a forma como os diferentes padrões abordam a etapa
de monitoramento (ou monitoração) e controle de riscos. Considerando que todos os
processos estudados parecem alinhados, de maneira declarada ou implícita, com o ciclo
PDCA de Deming / Shewhart, faz sentido que todos descrevam uma fase que monitore
e retroalimente o processo, objetivando a melhoria contínua.
Tabela 3.7. Análise Comparativa – Comunicação de Riscos
Comunicação de Riscos
ISO 31.000 5.2. Comunicação e consulta
1. ISO 27.005 11. Comunicação e consulta do risco de segurança da informação
2. IT Risk RG1.5 Promover a cultura consciente de risco de TI.
RG1.6 Incentivar uma comunicação eficaz do risco de TI.
RE3.6 Desenvolver indicadores de risco de TI.
3. PRAM Fase de implementação de respostas:
Prover informações de riscos para stakeholders
4. PMBOK Vide “Gerenciamento das comunicações”
5. CMMI GP 2.7 Identificar e Envolver os Stakeholders relevantes
6. MPS BR GQA3. Os problemas e as não-conformidades são identificados,
registrados e comunicados;
MED 7. Os dados e os resultados das análises são comunicados aos
interessados e são utilizados para apoiar decisões.
Somente três dos modelos estudados (ISO 2705, PRAM e Risk IT), além do
próprio modelo de referência (ISO 31000), possuem de forma explicita a necessidade de
manter a comunicação durante todo o processo de gestão de riscos.
O PMBOK trata a questão da comunicação em uma outra área de conhecimento,
chamada “Gerenciamento das comunicações”. Desta forma, para que a comunicação
funcione durante toda gestão de riscos, será necessário que o processo de planejar,
gerenciar e controlar as comunicações tenha consciência desta demanda.
Os modelos de maturidade (CMMI e MPS.BR) também dependem de resultados
/ objetivos alinhados a outros processos. No entanto, esta dependência parece menos
crítica do que o caso do PMBOK. Sendo processos de nível de maturidade anteriores a
Gestão de Riscos, pode-se supor que a comunicação não será um problema.
49
Capítulo 4
Conclusões
Excetuando-se pelo referencial comparativo (ISO 31000), todos as normas, boas
práticas e modelos de gestão de riscos estudados neste trabalho optaram de alguma
forma por delimitar seu próprio escopo de aplicação. Seja direcionando esforços na
gestão de risco de projetos (PRAM e PMBOK), na gestão de riscos de TI (Risk IT) ou
em tópicos ainda mais específicos (ISO 27005, CMMI e MPS.BR). No entanto, não
foram observadas diferenças significativas entre eles em termos de estrutura do
processo de gestão de riscos ou de suas diferentes fases. Parece que as melhores práticas
desta área, já incorporadas por estas normas, são aplicáveis tanto a projetos, quanto a
outros tipos de atividades realizadas nas organizações.
Conforme pode ser observado a partir das tabelas de comparação, os processos
de gestão de risco apresentados têm muito em comum, sugerindo que existe um
consenso universal sobre o que este deve cobrir. As diferenças aparentes no processo
são, em grande parte, atribuíveis a variações na terminologia escolhida. As atividades de
análise risco e avaliar (evaluate) risco são perfeitamente dissociáveis, justificando a
abordagem das normas mais recentes. Por outro lado, não parece razoável combinar
estas duas, junto da atividade identificar risco, como subatividades do grupo avaliar
(assess) riscos. Esta opção torna-se ainda mais infeliz por ocasião da tradução da norma
ISO 31000 para o português, considerando que ambos os termos, evaluation e
assessment, acabaram traduzidos da mesma forma.
Percebe-se ainda uma fonte de variabilidade entre os padrões vai além do
próprio processo de gestão de risco e torna-se evidente quando analisado o escopo de
atuação de cada um dos modelos. Certas normas cobrem somente o próprio processo de
gestão de riscos e ignoram os aspectos envolvidos no estabelecimento da infraestrutura
organizacional necessária para que processo possa ser executado. Fora os modelos de
maturidade (CMMI e MPS.BR), somente o Risk IT demonstra enxergar o processo
como um ativo organizacional, preocupando-se em medir a eficácia do mesmo, gerando
lições aprendidas e buscando a melhoria contínua.
50
Outro ponto que merece ser destacado são as diferentes abordagens que nascem
da própria concepção de risco adotada em cada modelo. Alguns padrões afirmam
explicitamente que o risco inclui tanto a ameaça (risco com potencial impacto negativo)
como a oportunidade (risco potencialmente positivo), enquanto outros se concentram
exclusivamente em ameaças. Os modelos que consideram a existência do risco positivo
acabam, naturalmente, permitindo novos tipos de resposta ao risco que rompem com a
visão tradicional de que a gestão de risco é mero instrumento de prevenção de perdas e
direcionam esforços para captura de ganhos potenciais.
Com base em observações feitas até momento, conclui-se que, embora haja um
amplo consenso sobre os principais passos e atividades de um processo genérico de
gestão de riscos, existem algumas questões conceituais que precisam ser levadas em
consideração no momento de adotar um modelo de gestão de riscos. As discussões
realizadas no presente trabalho ajudam a conhecer as semelhanças e diferenças dos
modelos selecionados. A gestão de riscos está em constante evolução, exigindo que este
tema seja revisitado diante da eventual atualização ou surgimento de novas normas,
padrões, boas práticas e modelos de maturidade.
51
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