GERAÇÃO DISTRIBUÍDA Sistema de Cogeração Fotovoltaico Conectado à Rede Elétrica de Baixa...
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CENTRO UNIVERSITARIO DE BELO HORIZONTE
INSTITUTO DE ENGENHARIA E TECNOLOGIA - IET
LEANDRO PEREIRA DOS SANTOS
ROBERTO HILÁRIO PEREIRA JÚNIOR
GERAÇÃO DISTRIBUÍDA: Sistema de cogeração fotovoltaico
conectado à rede elétrica de baixa tensão
BELO HORIZONTE
DEZEMBRO – 2013
LEANDRO PEREIRA DOS SANTOS
ROBERTO HILÁRIO PEREIRA JÚNIOR
GERAÇÃO DISTRIBUÍDA: Sistema de cogeração fotovoltaico
conectado à rede elétrica de baixa tensão
Trabalho de Final de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Engenharia e Tecnologia do Centro Universitário de Belo Horizonte, como requisito para a obtenção do título de bacharel em Engenharia Elétrica.
Área de Concentração: Energia Orientadora: Prof(a). Ms. Vanessa Cristina Lopes Santos Co-Orientadora: Prof(a). Ms. Arlete Vieira da Silva
BELO HORIZONTE
DEZEMBRO - 2013
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE
Instituto de Engenharia e Tecnologia - IET
Campi Estoril
Trabalho Final de Conclusão de Curso intitulado GERAÇÃO DISTRIBUÍDA:
SISTEMA DE COGERAÇÃO FOTOVOLTAICO CONECTADO À REDE
ELÉTRICA DE BAIXA TENSÃO, de autoria dos alunos Leandro Pereira dos
Santos e Roberto Hilário Pereira Júnior, aprovado pela banca examinadora
constituída pelos seguintes professores:
__________________________________
Prof. Ms. Vanessa Cristina Lopes Santos
Orientadora
__________________________________
Prof. Ms. Eduardo de Queiroz Braga
__________________________________
Prof. Ms. Mário Marcos Brito Horta
Belo Horizonte, 1x de dezembro de 2013.
Avenida Professor Mário Werneck, 1685 – Buritis – Belo Horizonte – MG – 30455-610 – Brasil – Tel.: (31) 3319-9206.
Dedicamos aos nossos pais. Sem eles jamais conseguiríamos.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos primeiramente a Deus.
Agradecemos aos nossos pais, irmãos e demais familiares pelo apoio,
paciência e carinho.
Aos amigos, colegas de trabalho e de faculdade, agradecemos pelo apoio e
compreensão.
Ao Sr. Giusepe Sarti Rangel pela presteza na disponibilização dos dados,
acesso à sua residência e orientação.
Agradecemos às professoras Vanessa, Arlete e Janaína, pela orientação
neste trabalho, pelo apoio e amizade.
“Ninguém fracassa enquanto não se rende”.
Saint Germain
RESUMO
Este trabalho versa sobre aplicação de sistema fotovoltaico integrado ao entorno
construído e conectado à rede de baixa tensão como alternativa para a Geração
Distribuída. Geração Distribuída é a produção de energia elétrica realizada junto ou
próxima ao consumidor. A crescente demanda por energia elétrica é objeto de
estudo de diversos institutos de pesquisa. Fontes de geração conectadas
diretamente na rede de distribuição ou no consumidor são alternativas para:
descentralização do sistema de geração e consequentemente a redução de novos
investimentos em construção de novas usinas, linhas de transmissão e redes de
distribuição. O presente trabalho trata também sobre estudo de caso de todo o
processo envolvido na instalação deste sistema fotovoltaico quando conectado à
rede de baixa tensão para operação em regime de Net Metering. No regime de Net
Metering, o arranjo fotovoltaico atua como fonte complementar do sistema elétrico ao
qual está conectado; pois mediante geração própria diminui a necessidade da
potência requerida da rede pela unidade consumidora ou, em caso de geração
superior ao consumo, injeta potência na rede. Esta injeção de potência na rede se
dá por meio de empréstimo gratuito à distribuidora local e posteriormente a unidade
consumidora é compensada com um crédito a ser consumido em um prazo de trinta
e seis meses. O estudo de caso engloba a avaliação do potencial energético,
estimativa de produção, estudo de viabilidade econômica, compra de materiais,
instalação, trâmites e conexão do sistema à rede.
Palavras Chave: Geração Distribuída, Net Metering, Sistema Fotovoltaico.
ABSTRACT
This paper aims to the application of photovoltaic system integrated into the built
environment and connected to the low voltage network, as an alternative to
Distributed Generation. Distributed Generation is the production of electricity carried
along or near the consumer. The growing demand for electricity is studied by several
research institutes. Generation sources connected directly to the distribution network
or to the consumer are alternatives for: decentralization of the energy generation and
consequently the reduction of new investments in building new power plants,
transmission lines and distribution networks. This work also talks about the case
study of the process involved in installing this photovoltaic system when connected to
the low voltage network for operation under the Net Metering. In the regime of Net
Metering, the Photovoltaic array acts as an additional electricity source in the system
where it is connected. Due to its own generation of energy, the need of power from
network by the consumers decreases, or in case of more generation of energy than
consume, it delivers energy to the network. This injection of power in the network is
through free loan to the local distributor and the consumer unit is subsequently offset
by a credit to be consumed within a period of thirty- six months. The case study
includes the assessment of the energy potential, estimated production, economic
feasibility study, purchase of materials, installation procedures and system
connection to the network.
Key words: Distributed Generation, Net Metering, Photovoltaic System.
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Espectro Eletromagnético................................................................. 20
Figura 2. Sistema Geográfico.......................................................................... 21
Figura 3. Representação do movimento da Terra em torno do Sol................. 22
Figura 4. Declinação solar............................................................................... 22
Figura 5. Declinação solar............................................................................... 23
Figura 6. Ângulos de incidência e azimutais.................................................... 24
Figura 7. Ângulos zenital, incidência, Altura Solar e inclinação do módulo... 24
Figura 8. Radiação solar no Brasil................................................................... 25
Figura 9. Patente da primeira célula solar registrada em 1954....................... 27
Figura 10. Instalação da primeira célula solar................................................... 27
Figura 11. Barreira de potencial numa região de transição pn.......................... 29
Figura 12. Exemplos de módulos fotovoltaicos................................................. 30
Figura 13. Sistema Fotovoltaico de cogeração conectado à rede..................... 31
Figura 14. Sistema Fotovoltaico Autônomo....................................................... 36
Figura 15. Sistema Fotovoltaico On Grid........................................................... 37
Figura 16. Forma de conexão do gerador fotovoltaico com a rede................... 37
Figura 17. Símbolo elétrico de um módulo fotovoltaico..................................... 39
Figura 18. Curva característica I x V e P x V.................................................... 41
Figura 19. Componentes de um módulo fotovoltaico de silício cristalino........ 42
Figura 20. Módulos fotovoltaicos instalados...................................................... 43
Figura 21. Tipos de módulos fotovoltaicos........................................................ 43
Figura 22. Lingotes e fatias de silício cristalino................................................. 44
Figura 23. Circuito básico de um inversor comutado pela rede......................... 46
Figura 24. Circuito básico de um inversor auto comutado................................. 47
Figura 25. Topologia tipo central....................................................................... 48
Figura 26. Topologia tipo Série.......................................................................... 48
Figura 27. Topologia tipo Multisérie................................................................... 49
Figura 28. Topologia para módulos integrados ao inversor .............................. 49
Figura 29. Inversor com transformador de baixa frequência............................. 50
Figura 30. Inversor com transformador de alta frequência ............................... 51
Figura 31. Inversor sem transformador............................................................. 51
Figura 32. Local de instalação do DSV............................................................. 53
Figura 33. Chave, Caixa e Sinalização que constitui o DSV............................. 54
Figura 34. Sistema Fixo e de rastreamento de um e dois eixos....................... 55
Figura 35. Elementos Básicos de Unidade Consumidora................................. 56
Figura 36. Elementos Básicos de Unidade Consumidora................................. 56
Figura 37. Croqui circuito do transformador 9024-3-75..................................... 57
Figura 38. Conexão do ramal de entrada do cliente com a rede BT................. 58
Figura 39. Insolação Média Diária Anual........................................................... 59
Figura 40. Radiação Solar Média Diária Anual.................................................. 60
Figura 41. Radiação Solar Direta Normal Diária Média Anual........................... 61
Figura 42. Módulos Fotovoltaicos instalados..................................................... 62
Figura 43. Módulos Fotovoltaicos instalados..................................................... 63
Figura 44. Inversor de 3.8 kW da ELTEK VALERE........................................... 64
Figura 45. DSV instalado em caixa de medição CM-DSV................................. 65
Figura 46. Projeto Sistema Fotovoltaico............................................................ 66
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
A – Área
ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica
AWG – American Wire Gauge
BT – Baixa Tensão de Distribuição
CA – Corrente Alternada
CC – Corrente Contínua
CdTe – Telureto de Cádmio
Cemig – Companhia Energética de Minas Gerais
CIGS – Índio
CO – Centro-Oeste
CO2 – Dióxido de Carbono
CNPJ – Cadastro Nacional e Pessoa Jurídica
CPF – Cadastro de Pessoa Física
DSV – Dispositivo de Seccionamento Visível
EVA – Acetato de Vinil-etila
EUA – Estados Unidos da América
FF – Fator de Forma
FV – Fotovoltaico
GA – Ganho Pecuniário Anual
GD – Geração Distribuída
GND – Terra
HN – Hemisfério Norte
HS – Hemisfério Sul
I – Corrente Elétrica
IS – Insolação Média Diária Anual
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
IGBT – Transistor Bipolar de Porta Isolada
IM – Corrente Máxima de Pico
IMPP – Corrente no Ponto de Potência Máxima
INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
IS – Irradiância Solar
ISC – Corrente de Curto-circuito
LTs – Linhas de Transmissão
m2 – Metro Quadrado
MOSFET – Transistor de Efeito de Campo de Semicondutor de Óxido Metálico
MPP – Ponto de Potência Máxima
MPPT – Seguidor do Ponto de Máxima Potência
n1 –Eficiência do Inversor
n2 – Eficiência do Módulo Fotovoltaico
N – Norte
ND – Norma de Distribuição
NE – Nordeste
ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico
PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas
PE – Produção Estimada Mensal
PN – Potência Nominal Total
PRODIST – Procedimentos de Distribuição
PRS – Período de Retorno Simples
PWM – Modulação por Largura de Pulso
QEE – Qualidade de Energia Elétrica
S – Sul
Si – Silício
SFCR – Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede
SE – Sudeste
SF – Sistema Fotovoltaico
SIN – Sistema Interligado Nacional
V – Tensão Elétrica
VAr – Volt Ampere Reativo
VM – Tensão Máxima de Pico em Volts.
VMPP – Tensão Ponto de Potência Máxima
VOC – Tensão de Circuito Aberto
W – Watt
Wp – Watt-pico
SUMÁRIO
Páginas
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13
2. PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................... 15
2.1. CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................. 15
3. OBJETIVOS ..................................................................................................... 17
3.1. OBJETIVO GERAL ....................................................................................... 17
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 17
4. JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 18
5. REFERENCIAL TEÓRICO .............................................................................. 19
5.1. ENERGIA SOLAR ......................................................................................... 19
5.1.1. Radiação Solar ........................................................................................... 19
5.1.2. Distribuição da radiação solar .................................................................... 21
5.1.3. Efeito Fotovoltaico ...................................................................................... 26
5.2. SISTEMA FOTOVOLTAICO .......................................................................... 29
6. METODOLOGIA .............................................................................................. 32
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 32
7.1. ANÁLISE DE DADOS HISTÓRICOS ............................................................ 33
7.1.1. Primeiras Aplicações das Células Fotovoltaicas ........................................ 33
7.1.2. Geração Distribuída ................................................................................... 34
7.1.3. Sistema Fotovoltaico Autonômo (Off Grid) ................................................. 35
7.1.4. Sistema Fotovoltaico conectado à rede (On Grid) ...................................... 36
7.2. ACESSO AO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO ................................................ 38
7.2.1. Legislação Brasileira .................................................................................. 38
7.2.2. Módulos Fotovoltaicos ................................................................................ 40
7.2.3. Inversores. .................................................................................................. 45
7.2.4. Materiais de Instalação............................................................................... 51
7.3. ESTUDO DE CASO ...................................................................................... 55
7.3.1. Análise Preliminar do Projeto. .................................................................... 55
7.3.2. Avaliação do Potencial Energético.. ........................................................... 58
7.3.3. Dimensionamento, Compra de Materiais e Projeto .................................... 62
7.3.4. Estimativa de Produção e Viabilidade Econômica ..................................... 66
8. CONCLUSÃO .................................................................................................. 68
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 69
13
1. INTRODUÇÃO
A energia possibilitou todo o desenvolvimento da sociedade ao estágio em que
ela se encontra. No entanto, a relação de dependência sociedade-energia, traz
grandes preocupações quanto ao futuro da humanidade. A expansão acentuada
do consumo de energia, embora possa refletir o aquecimento econômico e a
melhoria de qualidade de vida, tem aspectos negativos. Estes aspectos são: a
possibilidade do esgotamento dos recursos utilizados para a produção de
energia, o impacto ao meio ambiente produzido por esta atividade e os elevados
investimentos exigidos na pesquisa de novas fontes e construção de novas
usinas.
O Sol é a maior fonte de energia que abastece a Terra. A energia proveniente do
Sol aquece a Terra de forma desigual. Diariamente incide sobre a Terra mais
energia vinda do Sol do que a demanda total de todos os habitantes de nosso
planeta em todo um ano.
No Brasil, cerca de oitenta e um por cento da oferta total de energia elétrica é
proveniente de grandes centrais hidrelétricas distantes dos grandes centros de
consumo. O restante desta oferta é obtido, em grande parte, através de
combustíveis fósseis. Como solução alternativa à produção centralizada pode-se
citar a Geração Distribuída (GD) de eletricidade, que é definida por produção de
energia elétrica realizada junto ou próxima ao consumidor. As alternativas
energéticas de GD devem considerar questões como distribuição geográfica da
produção, confiabilidade e flexibilidade de operação, disponibilidade de preços de
combustíveis, prazos de instalação e construção, condições de financiamento,
licenciamento ambiental, etc.
Atualmente há grande interesse no uso de fontes de energia “limpas”, ou seja,
que não emitam CO2 e gases poluentes.
Uma alternativa energética, tanto para descentralização do sistema de geração
quanto no que concerne à questão ambiental, é o Sistema Fotovoltaico (SF)
conectado à rede de baixa tensão; sistema este no qual o arranjo fotovoltaico
atua como fonte complementar do sistema elétrico ao qual está conectado. O
gerador fotovoltaico é composto por módulos onde se encontram as células
fotovoltaicas que produzem energia elétrica na forma de corrente contínua
quando sobre elas incide a luz solar. Em função de sua baixa densidade
14
energética, adapta-se melhor à Geração Distribuída do que à centralizada. O SF
pode ser utilizado para geração de energia elétrica em comunidades remotas:
alimentação de sensores, postes de luz, semáforos, sistemas de bombeamento
de água e ocasionalmente pode até ser utilizado como fonte complementar
conectada à rede elétrica, em regime de cogeração, para fim de compensação
nos valores pagos à fornecedora de energia elétrica.
Baseado no exposto, o presente trabalho pretende desenvolver um estudo
técnico e detalhado de um sistema de cogeração fotovoltaico conectado à rede
de baixa tensão.
15
2. PROBLEMA DE PESQUISA
Como desenvolver e implementar um sistema de cogeração fotovoltaico
conectado à rede de baixa tensão de uma concessionária de energia?
2.1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Os primeiro sistemas de cogeração instalados em todo mundo surgiram junto
com a indústria de energia elétrica e datam do século XIX na Europa e princípios
do século XX nos EUA quando o fornecimento de energia elétrica proveniente de
grandes centrais elétricas se encontrava numa etapa de desenvolvimento. Com a
proliferação das grandes centrais elétricas e das linhas de transmissão e
distribuição, que forneciam energia abundante, confiável e barata, os sistemas de
cogeração foram gradualmente perdendo participação.
O panorama da geração centralizada foi perturbado com as grandes crises do
petróleo na década de setenta, que introduziram, por exemplo, a importância da
vertente da cogeração de energia. Diversos países criaram programas de
conservação de energia, com incentivos que visavam reduzir o consumo e a
dependência do petróleo importado.
Diferentemente do cenário mundial, onde a geração das grandes centrais
elétricas se dá em considerável proporção pela queima de combustíveis fósseis,
e, portanto, com grande dependência do petróleo, no Brasil o abastecimento
provém em sua maioria de grandes centrais hidrelétricas. Cogeração e geração
distribuída são assuntos que entraram em voga na crise ocorrida no setor
energético brasileiro no início do século XXI.
Desde a crise de abastecimento em 2001, a energia elétrica assumiu papel
importante na mídia e formulação estratégica das empresas brasileiras. Temas
como segurança energética e o custo da falta de energia, passaram a fazer parte
das decisões de curto e longo prazo, sempre na dependência das legislações e
dos regulamentos.
A carência de recursos para efetuar maciços investimentos requeridos para
produção centralizada de eletricidade, como por exemplo, a construção de
grandes usinas (hidrelétrica, termoelétrica, nuclear, etc), bem como os entraves
advindos dos órgãos ambientais e da influência do ativismo ambiental na opinião
pública, gera necessidade de busca de alternativas energéticas para suprir ou
16
compensar o fracasso ou atraso destas tentativas. A GD surge como importante
alternativa devido ao baixo risco e o desenvolvimento ser exclusivamente de
cunho privado, com reduzida intervenção do governo.
A cogeração via SF vem cada vez mais se firmando como uma das tecnologias
mais recomendáveis voltada à conservação de energia por sua condição
operacional e tem como principal vantagem a capacidade de redução de custos
operacionais e recuperação energética pelo uso de energia em cascata.
Diante do recente incentivo dado pelo governo brasileiro para inserção de novas
unidades geradoras conectadas à rede pública (resolução ANEEL 482 de 17 de
abril de 2012), torna-se necessário uma análise sistêmica e técnica do impacto
destas no setor energético, aplicações possíveis, potenciais, custos, vantagens e
desvantagens em perspectiva nacional.
A análise de um projeto de cogeração deve considerar uma série de variantes de
forma a torná-lo um sistema que aumente a rentabilidade da instalação em que
está inserido. O critério aplicável neste dimensionamento pressupõe que o
sistema de cogeração deve operar harmoniosamente e de maneira consistente
com o restante da instalação industrial, ou de serviços. Os dimensionamentos
dos montantes de energia elétrica a serem gerados deverá ser consequência do
ponto em que a rentabilidade do projeto atinja seu melhor valor, de maneira
equilibrada, visto que a geração excedente pode não ser compensada em prazo
hábil.
17
3. OBJETIVOS
3.1. OBJETIVO GERAL
Ciente que a GD é realidade em diversos países e que há recente legislação de
estímulo desta prática no Brasil, o presente trabalho objetiva efetuar estudo
detalhado e sistêmico de um sistema de cogeração fotovoltaico conectado à rede
de baixa tensão.
3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Fazer levantamento das diferentes tecnologias de GD com sistemas
fotovoltaicos disponíveis;
Analisar detalhadamente os potenciais, custos, vantagens e desvantagens
de um sistema de cogeração fotovoltaico conectado à rede de baixa tensão;
Fazer um estudo de caso, demonstrando o acompanhamento dos trâmites
de projeto de um sistema residencial de cogeração fotovoltaico conectado à
rede de baixa tensão.
18
4. JUSTIFICATIVA
Em países da Europa, EUA e Canadá, nos quais o incentivo para instalação de
fontes alternativas de energia já existe e o poder aquisitivo da população é
superior quando comparado com o do brasileiro, vê-se um crescimento
acentuado na potência instalada de unidades de geração em níveis de tensão de
baixa tensão. Estas unidades são, em sua maioria, painéis fotovoltaicos.
A publicação da resolução 482 da ANEEL em 2012 estabeleceu as condições
gerais para acesso de microgeração e minigeração distribuídas aos sistemas de
distribuição de energia elétrica e o sistema de compensação de energia elétrica.
É evidente a preocupação do governo com o risco de uma crise energética
(apagão) tendo em vista o consumo previsto para os próximos anos. Em face
deste acontecimento e, a partir do momento que estas pequenas unidades
geradoras têm embasamento normativo e técnico para serem implantadas, torna-
se necessário estudo sobre o aproveitamento de recursos locais para geração de
energia o mais próximo possível do ponto de consumo, evitando a construção de
novas LTs, diminuindo perdas e aumentando a confiabilidade do Sistema Elétrico
Brasileiro, postergando ou até evitando investimentos em obras de expansão das
redes das concessionárias.
O sistema de cogeração mais utilizado em residências é a aplicação da
tecnologia fotovoltaica. Através da integração de painéis solares ao entorno
construído, células solares convertem diretamente a energia do sol em energia
elétrica de forma estática, silenciosa, não-poluente, renovável e de forma
descentralizada com interligação da instalação geradora à rede elétrica. É de
suma importância a descrição dos tipos de módulos fotovoltaicos comercialmente
disponíveis, os circuitos elétricos e os dispositivos de medição e proteção
envolvidos em tais instalações.
19
5. REFERENCIAL TEÓRICO
5.1. ENERGIA SOLAR
O sol, cujas radiações definem o meio ambiente no qual nós, como uma espécie,
evoluímos e nos adaptamos, é fonte predominante de ondas eletromagnéticas.
Sendo a estrela mais próxima da Terra, constitui a principal fonte de energia do
planeta. Sua fonte de energia está associada à fusão termonuclear de átomos de
hidrogênio para hélio. Neste processo são emitidos fótons altamente energéticos,
de forma que a transferência de energia da parte mais interna até a superfície é
realizada basicamente por meio de radiação eletromagnética (LIOU, 1980).
A eletricidade solar, tradicionalmente chamada energia fotovoltaica é uma fonte
limpa de energia que tem potencial para contribuir com o desenvolvimento
ambientalmente sustentável (LORA; HADDAD, 2006).
5.1.1 Radiação Solar
O processo mais importante pela transferência de energia na atmosfera ocorre
através da radiação eletromagnética. Um raio luminoso é uma onda progressiva
de campos elétricos e magnéticos (uma onda eletromagnética). Apesar da
variabilidade do espectro eletromagnético em relação as suas propriedade e
fontes, as radiações mantêm caraterísticas em comum podendo ser descritas
como resultado da combinação de um campo elétrico e de um campo magnético
que se propagam no vácuo à velocidade da luz (HALLIDAY; RESNICK, 2009).
Os mesmos autores afirmam que em meados do século XIX, a luz visível e os
raios infravermelho e ultravioleta eram as únicas ondas eletromagnéticas
conhecidas. Inspirado pelas previsões teóricas de Maxwell, Heinrich Hertz
descobriu o que hoje chamamos de ondas de rádio, e observou que essas ondas
se propagam com a mesma velocidade que a luz visível. Hoje é conhecido um
largo espectro de ondas eletromagnéticas conforme mostrada na figura 1.
20
Figura 1 – Espectro Eletromagnético.
Fonte: HALLIDAY; RESNICK, 2009. p 2.
Em 1900, o cientista alemão Max Planck desenvolveu uma teoria que resultou na
equação de corpo negro, com a criação da constante que recebe seu nome
[h=6,63 x 10-34J.s] e a ideia de quanta de energia (PAULA, 2004).
O mesmo autor afirma que em 1905, Albert Einstein fez uma suposição a partir
da teoria de Planck, sobre a natureza da luz e sua interação com a matéria, de
que sob certas circunstâncias ela se comporta como se sua energia estivesse
concentrada de forma discreta em pacotes, os fótons, e não de forma contínua.
Einstein definiu que a energia [Ef] de cada fóton era igual ao produto da constante
de Planck [h] e de sua frequência de oscilação (ʋ).
Ef = h* ʋ = (h*c)/λ
A radiação solar é emitida em todo espectro eletromagnético, porém ela é mais
intensa na região do visível com um pico ao redor de 550nm (HALLIDAY;
RESNICK, 2009).
21
5.1.2 Distribuição da radiação solar
Devido à grande distância entre o Sol e a Terra, diz-se que a radiação solar é
colimada, ocupando um campo de visão limitada, denominado “disco solar
aparente”. A quantidade de radiação solar depende da posição do disco solar no
céu, isto é, depende de variáveis associadas á orbita da Terra ao redor do Sol.
Para se conhecer tal posição, utiliza-se o sistema de coordenadas terrestres,
denominado Sistema Geográfico. O referido Sistema Geográfico tem como
coordenadas a latitude (φ) e a longitude (λ) que são utilizadas para localizar
pontos na superfície terrestre, conforme ilustrado na figura 2. A latitude é
computada a partir do equador até o paralelo de interesse e varia de -90º a +90º,
sendo positivo no hemisfério norte. A longitude é computada a partir do Meridiano
de Greenwich até o meridiano de interesse e varia de -180º a +180º, sendo
negativo a oeste de Greenwich (BISCARO, 2007).
Figura 2 – Sistema Geográfico.
Fonte: BISCARO, 2007. p. 14.
O mesmo autor também afirma que além do ciclo diurno, a quantidade de
radiação solar que atinge o topo da atmosfera terrestre varia de acordo com a
época do ano, devido a orbita elíptica da Terra ao redor do Sol, conforme figura 3.
22
Figura 3 – Representação do movimento da Terra em torno do Sol.
Fonte: BISCARO, 2007. p. 10.
O autor também afirma que a declinação solar (δ) é o ângulo formado entre a
linha imaginária que une o centro do planeta Terra (na linha do Equador) ao
centro do Sol. A inclinação do eixo de rotação da Terra com relação à normal ao
plano da eclíptica influi na quantidade de radiação solar incidente. As figuras 4 e
5 demonstram que esta inclinação varia de 23º 27’ a -23º 27’ e, quando atinge
valores máximos recebe o nome de solstício.
Figura 4 – Declinação solar (solstício de inverno no HS e verão no HN).
Fonte: BISCARO, 2007. p. 11.
23
Figura 5 – Declinação solar (solstício de inverno no HN e verão no HS).
Fonte: BISCARO, 2007. p. 11.
Para cálculo da irradiância solar incidente no topo da atmosfera terrestre é
necessário o conhecimento do valor da distância Terra-Sol, da declinação solar e
da equação do tempo para cada dia do ano (BISCARO, 2007).
A radiação solar que se propaga através da atmosfera sofre atenuação na
interação como os constituintes atmosféricos e também pelo processo de
espalhamento ao interagir com moléculas de oxigênio e nitrogênio. Entre os
constituintes atmosféricos atenuadores, é importante citar o ozônio, o vapor
d’água e as partículas de aerossóis absorvedoras (BARROS, 2011).
Segundo o mesmo autor, as relações geométricas, que estão evidenciadas nas
figuras 6 e 7, entre os raios solares e superfície terrestre são descritas através de
vários ângulos:
- Ângulo de Incidência (ϒ): ângulo formado entre os raios do sol e anormal de
superfície de captação.
- Ângulo Azimutal da Superfície (aw): ângulo entre a projeção da normal à
superfície no plano horizontal e a direção Norte-Sul.
- Ângulo Azimutal da Superfície (as): ângulo entre a projeção do raio solar no
plano horizontal e a direção Norte-Sul.
- Altura Solar (α): ângulo compreendido entre o raio solar e a projeção do
mesmo sobre um plano horizontal.
24
- Inclinação (β): ângulo entre o plano da superfície em questão e a horizontal.
- Ângulo Horário do Sol ou Hora Angular (ω): deslocamento angular Leste-
Oeste do Sol, a partir do meridiano local, e devido à movimentação da Terra.
- Ângulo Zenital (θz): ângulo formado entre os raios solares e a vertical.
Figura 6 – Ângulos de incidência e azimutais.
Fonte: BARROS, 2011. p. 7.
Figura 7 – Ângulos zenital, incidência, Altura Solar e inclinação do módulo.
Fonte: BARROS, 2011. p. 8.
25
A intensidade de radiação solar varia entre 1235 W/m2 e 1412 W/m2 e o valor
médio estabelecido da intensidade de radiação (E0) é de 1367 W/m2. A energia
incidente acumulada em um ano, por unidade de área, em regiões próximas da
linha do Equador, excede 2300 KWh/m2, enquanto que no sul da Europa não
excede os 1900 KWh/m2 (BARROS, 2011).
Grande parte do território brasileiro está localizado relativamente próximo da linha
do Equador, de forma que não se observa grandes variações na duração solar do
dia. Porém a maioria da população brasileira e das atividades socioeconômicas
do país está localizada em regiões mais distantes do Equador. Desse modo, para
maximizar o aproveitamento da radiação solar, deve-se ajustar a posição do
coletor ou painel solar de acordo com a latitude local e período do ano em que se
requer mais energia. Na figura 8 está ilustrado o mapa de radiação solar
brasileiro (ANEEL, 2013).
Figura 8 – Radiação solar no Brasil.
Fonte: Atlas de Energia Elétrica do Brasil, 2013. p. 35.
26
A luz solar que atinge a superfície terrestre é composta por uma parte direta e
outra parte difusa. A radiação direta vem segundo a direção do Sol, produzindo
sombras bem definidas em qualquer objeto. A radiação difusa corresponde à
parte da radiação que sofreu, durante seu percurso, diversos processos de
difusão e reflexão por moléculas suspensas na atmosfera (BARROS, 2011).
5.1.3 Efeito Fotovoltaico
O Efeito Fotovoltaico foi observado pela primeira vez em 1839 por Edmond
Becquerel que verificou que placas metálicas, de platina ou prata, mergulhadas
num eletrólito, produziam uma pequena diferença de potencial quando expostas
à luz (BRITO; VALLÊRA, 2006).
Os mesmos autores afirmam que em 1877, dois inventores norte americanos W.
G. Adams e R. E. Day, utilizaram as propriedades fotocondutoras do selênio para
desenvolver o primeiro dispositivo sólido de produção de eletricidade por
exposição à luz. Este dispositivo tinha eficiência de aproximadamente 0,5 por
cento. A história da energia fotovoltaica teve de esperar os grandes
desenvolvimentos científicos da primeira metade do século XX, nomeadamente a
explicação do efeito fotovoltaico por Albert Einstein em 1905, o advento da
mecânica quântica e, em particular, a teoria de bandas, física dos
semicondutores e as técnicas de purificação e dopagem associadas ao
desenvolvimento do transístor de silício.
Os autores também afirmam que a história da primeira célula solar começou em
março de 1953 quando Calvin Fuller, um químico da Bell Laboratories (Bells
Labs), em Murray Hill, New Jersey, nos EUA, desenvolveu um processo de
difusão para introduzir impurezas em cristais de silício, de modo a controlar as
suas propriedades elétricas (um processo chamado “dopagem”). Fuller produziu
uma barra de silício dopado com uma pequena concentração de gálio, que o
torna condutor, sendo as cargas positivas (e por isso é chamado silício do “tipo
p”). Seguindo as instruções de Fuller, o físico Gerald Person, seu colega nos Bell
Labs, mergulhou esta barra de silício dopado num banho quente de lítio, criando
assim na superfície da barra uma zona com excesso de elétrons livres,
portadores com carga negativa (e por isso chamado silício do “tipo n”). Na região
onde o silício “tipo n” fica em contato com o silício “tipo p”, a “junção p-n”, surge
um campo elétrico permanente. Pearson verificou que produzia uma corrente
27
elétrica quando a amostra era exposta à luz. Pearson tinha acabado de fazer a
primeira célula solar de silício.
Figura 9 – Patente da primeira célula solar registrada em 1954.
Fonte: BRITO; VALLÊRA, 2006, p. 12
A primeira aplicação das células solares de Chaplin, Fuller e Pearson foi
realizada em Americus, no estado da Geórgia, para alimentar uma rede telefônica
local (BRITO; VALLÊRA, 2006).
Figura 10 – Instalação da primeira célula solar.
Fonte: BRITO; VALLÊRA, 2006, p. 12.
28
O efeito fotovoltaico dá-se em materiais da natureza denominados
semicondutores que se caracterizam pela presença de uma banda de energia
onde é permitida a presença de elétrons (banda de valência) e de outra
totalmente “vazia”, a banda de condução (BARROS, 2011).
Segundo o autor, hoje o semicondutor mais usado é o silício. Seus átomos
formam uma rede cristalina, pois possuem quatro elétrons de ligação que se
ligam aos vizinhos. Quando adicionado com átomo de fósforo (dopante n), que é
átomo com cinco elétrons de ligação, haverá um elétron em excesso e então fica
“sobrando” e sua ligação com o átomo de origem, se torna fraca. Com pouca
energia térmica este elétron se torna livre, indo para banda de condução. Quando
o semicondutor é dopado com boro (dopante p), que é um átomo com três
elétrons de ligação, haverá falta de um elétron para satisfazer as ligações como
os átomos de silício. Esta falta de elétron é denominada buraco ou lacuna e
ocorre, que com pouca energia térmica, um elétron de um sítio vizinho pode
passar a esta posição fazendo com que o buraco se desloque.
Barros também afirma que se a partir de um silício puro, forem introduzidos em
uma metade, átomos de boro e em outra, átomos de fósforo, será formada a
chamada junção pn onde os elétrons livres passam a preencher as lacunas.
Estas cargas aprisionadas formam um campo elétrico permanente que dificulta a
passagem de mais elétrons de n para p até que nenhum elétron remanescente
consiga mais passar para o lado p. Se uma junção pn for exposta a fótons com
energia maior que o gap, ocorrerá a geração de pares elétron-lacuna; se isto
acontecer na região onde o campo elétrico é diferente de zero, as cargas dão
origem a uma diferença de potencial a qual se chama de Efeito Fotovoltaico. Se
as duas extremidades do silício forem conectadas a um fio, haverá circulação de
corrente.
29
Figura 11 – Barreira de potencial numa região de transição pn.
Fonte: BARROS, 2011. p. 9.
5.2. SISTEMA FOTOVOLTAICO
O Sol fornece energia na forma de radiação e calor. O Sistema Fotovoltaico,
através de um gerador, converte radiação em energia elétrica (BARROS, 2011).
O gerador é composto basicamente por um conjunto de módulos fotovoltaicos e
respectivos suportes, que podem ser instalados sobre telhados, terraços ou em
locais não sombreados, e por um conversor eletrônico (inversor). A energia
elétrica gerada pelos módulos fotovoltaicos em corrente contínua (CC) é
convertida em corrente alternada (CA) através do inversor e injetada diretamente
na rede elétrica de baixa tensão do consumidor. Para que as células fotovoltaicas
possam ser utilizadas em sistemas fotovoltaicos, onde são necessários pelo
menos dezenas de watts, torna-se necessário associá-las. Podem ser agrupadas
em série e/ou em paralelo, dependendo da característica elétrica requerida
(RÜTHER, 2006).
O mesmo autor afirma que as vantagens de se utilizar estes geradores são a alta
confiabilidade e a fácil portabilidade. Os módulos permitem montagens simples e
são adaptáveis a várias necessidades energéticas, o custo de operação e
manutenção é reduzido e há evidente ganho ecológico quanto ao seu uso.
Sistemas fotovoltaicos, para operarem conectados à rede, são compostos por
módulos, inversores, dispositivos de proteção, sistema de fixação e suporte dos
módulos e cabos.
30
De forma geral, considerando a existência de um mecanismo internacionalmente
conhecido como net metering:
(i) O sistema injeta energia na rede no intervalo de geração (dia),
gerando um “crédito energético” na conta de energia.
(ii) Esse “crédito” seria utilizado nos meses seguintes como
compensação pecuniária na conta de energia.
(iii) O objetivo final, para uma edificação autossuficiente é que o “débito
energético” esteja próximo de zero.
Em qualquer instalação fotovoltaica o módulo solar fotovoltaico é a célula básica
do sistema gerador. A corrente CC do gerador solar é definida pela conexão em
paralelo de painéis individuais ou de strings (conjunto de módulos conectados em
série). A potência total é dada pela soma da potência nominal de cada módulo
(RÜTHER, 2006).
Figura 12 – Exemplos de módulos fotovoltaicos.
Fonte: RÜTHER, 2006, p. 22.
É necessária uma análise dos requisitos técnicos estabelecidos pela
concessionária para instalação deste tipo de sistema e uma autorização da
mesma. Normalmente, o armazenamento de energia nos sistemas fotovoltaicos
autônomos é assegurado por baterias e recentemente, diante da resolução 482
31
da ANEEL, é possível injetar este excedente de energia diretamente na rede
pública em regime de compensação. O seu dimensionamento é essencial para o
bom funcionamento do sistema. O armazenamento ou compensação de energia
representa 13 a 15% do investimento inicial, considerando uma duração de vida
de 20 anos (RÜTHER, 2006).
A conexão do gerador com a rede se faz por meio da utilização de um inversor
(grid tie), e este deve atender aos requisitos estabelecidos nas normas ABNT
NBR 16.149, ABNT NBR 16.150 e NBR/IEC 62116 Sistemas fotovoltaicos (FV) –
Características da interface de conexão com a rede elétrica de distribuição.
Somente são aceitos inversores com certificação do INMETRO ou de outro órgão
reconhecido pelo INMETRO (ND 5.30 CEMIG, 2012).
Figura 13 – Sistema Fotovoltaico conectado à rede
Fonte: Energia Pura, 2013.
32
6. METODOLOGIA
O estudo se caracteriza como uma pesquisa experimental, que segundo Egg
(2008 apud Marconi e Lakatos, 1978:28, p.157), é “procedimento reflexivo
sistemático, controlado e crítico que permite descobrir novos fatos ou dados,
relações ou leis em qualquer campo do conhecimento”.
Os procedimentos metodológicos adotados nesta pesquisa iniciam-se com a
preparação do referencial teórico sobre os assuntos pertinentes ao tema, ou seja,
material de estudo sobre Geração Distribuída de energia, Energia Solar,
Legislação vigente sobre Sistema de Compensação de energia elétrica e Sistema
de cogeração fotovoltaico conectado à rede de baixa tensão.
Os objetivos conforme afirma Marconi/Lakatos (2008) torna explícito o problema,
portanto, a definição do objetivo inicia-se com pesquisa e levantamento das
diferentes tecnologias GD voltadas para sistemas fotovoltaicos; análise sistêmica
e técnica dos potenciais, custos, vantagens e desvantagens de um sistema de
cogeração fotovoltaico conectado à rede de baixa tensão e estudo de caso a
respeito de projeto de um sistema residencial de cogeração fotovoltaico
conectado à rede de baixa tensão.
33
7. RESULTADOS E DISCUSSÃO
7.1. ANÁLISE DE DADOS HISTÓRICOS
7.1.1 Primeiras Aplicações das Células Fotovoltaicas
As células fotovoltaicas tiveram pouca aplicação prática nos anos iniciais de sua
descoberta. Na primeira aplicação, em 1955 para alimentação de uma rede
telefônica local na cidade de Americus no estado da Geórgia, ficou evidente que
a utilização somente seria economicamente competitiva em aplicações muito
especiais. A principal razão era o fato de que a potência elétrica produzida era
mais cara que a produzida por usinas convencionais.
A grande mudança se deu a partir da necessidade de aumento da durabilidade
de baterias utilizadas em satélites e consequentemente a aumentar a vida útil dos
mesmos. Em 1958 células fotovoltaicas foram presas na fuselagem do satélite
Vanguard I para recarregamento de bateria química prevista no projeto original. A
bateria química falhou, mas o pequeno painel de 100 cm2 manteve o transmissor
do satélite em funcionamento por oito anos. Hoje, todos os veículos espaciais são
equipados com células solares.
Pelas décadas seguintes melhorias nas células ocorreram lentamente, mas a
principal aplicação era no setor espacial, uma vez que a relação potência-peso
era mais favorável do que as alternativas disponíveis na época. Devido este fato,
as pesquisas se restringiam a procura de melhor desempenho do ponto de vista
potência-peso do que especificamente para busca de soluções de menor custo
de produção e aumento de eficiência.
O alto custo envolvido na fabricação e a baixa eficiência dos módulos mostraram-
se como entraves para a pouca aplicação nos anos iniciais à sua descoberta. A
redução dos preços em virtude da grande mudança para circuitos integrados na
década de 1960 levou à disponibilidade de semicondutores a preços
relativamente baixos.
Na década de setenta surgiram as primeiras aplicações terrestres. Uma empresa
chamada SOLAREX, de Joseph Lindmeyer, começou a produzir módulos
fotovoltaicos para sistemas de comunicações remotos e bóias de navegação.
Estes tipos de aplicações eram economicamente interessantes devido à
inexistência de fontes alternativas à eletricidade solar.
34
A crise petrolífera, em 1973, levou a um súbito investimento em programas para
reduzir o custo de produção das células solares. Algumas tecnologias financiadas
por estes programas levou a utilização de novos materiais, dado os resultados
cita-se em particular o silício multicristalino. O resultado foi a redução do custo da
eletricidade solar de 80 $/Wp para 12 $/Wp em menos de uma década.
Desde então, melhorias nos processos de fabricação de células e ganhos de
escala trouxeram o custo para preços de varejo nos mercados internacionais.
Atualmente, os sistemas fotovoltaicos vêm sendo utilizados em instalações
remotas possibilitando vários projetos sociais de irrigação e comunicação, ou
conectados à rede elétrica para compensação em regime de empréstimo à
concessionária.
As facilidades como modularidade, baixos custos de manutenção e vida útil longa
fazem com sejam de grande importância para instalações em lugares
desprovidos de rede elétrica. Neste sistema de operação autônoma o sistema
fotovoltaico é conhecido com Sistema Fotovoltaico Off Grid.
O sistema fotovoltaico, quando conectado diretamente à rede elétrica é
conhecido como Sistema Fotovoltaico On Grid. Tendo em vista a busca por
serviços e tecnologias com reduzidos impactos ambientais, este sistema tem-se
mostrado como uma importante alternativa para Geração Distribuída.
7.1.2 Geração Distribuída
No presente estudo, a Geração Distribuída é constituída pelos módulos montados
diretamente nas edificações ou em outros locais, tais como coberturas de
estacionamentos, áreas livres. Essas edificações serão alimentadas pela energia
elétrica produzida por esses módulos, através de um inversor CC/CA,
concomitantemente com a rede elétrica de distribuição em baixa tensão na qual
estão interligadas.
Os sistemas solares fotovoltaicos interligados ao sistema de distribuição
oferecem uma série de vantagens para o sistema elétrico. Dentre elas, pode-se
destacar:
- A energia é produzida junto à carga, assim as perdas nas redes de
transmissão são minimizadas;
35
- A produção de energia elétrica ocupa um espaço já utilizado, uma vez que
está integrada à edificação;
- Investimentos em linhas de transmissão e distribuição são reduzidos;
- Existe a coincidência no consumo, principalmente em se tratando de prédios
comerciais onde a maior utilização acontece no horário de maior produção de
energia pelos módulos;
- Edificações solares fotovoltaicos têm a capacidade de oferecer suporte kVAr
a pontos críticos da rede de distribuição (melhoria da qualidade de energia)
- O sistema possui modularidade, ou seja, pode ser ampliado conforme haja
carga da edificação se houver espaço para isso;
- A montagem do sistema pode substituir materiais de revestimento e de
cobertura;
- É uma fonte de energia inesgotável, que está disponível praticamente em
todos os locais, e produz energia limpa, silenciosa e renovável, sem emitir gases
causadores do efeito estufa.
7.1.3 Sistema Fotovoltaico Autônomo (Off Grid)
O Sistema Fotovoltaico Autônomo ou Sistema Fotovoltaico Off Grid não é
conectado à rede pública e depende unicamente da radiação solar para gerar
energia elétrica através de painéis fotovoltaicos.
Esse tipo de sistema, geralmente, possui um sistema de armazenamento de
energia constituído por um banco de baterias e necessita, dependendo da
aplicação, de controladores de carga e inversores CC/CA. O controlador de carga
tem como principal função não deixar que haja danos na bateria por sobrecarga
ou descarga profunda.
Há sistemas que não necessitam de armazenamento de carga, como é o caso da
irrigação onde toda a água bombeada é diretamente consumida ou estocada em
reservatórios.
O Sistema Fotovoltaico Autônomo é utilizado para fornecimento de energia em
áreas remotas, onde não é possível estabelecer ligação a uma rede pública ou
quando esta é uma opção muito dispendiosa. É um sistema comumente utilizado
para satisfazer necessidades básicas, tais como:
36
- Bombeamento e purificação de água;
- Refrigeração de alimentos;
- Iluminação;
- Eletrificação rural.
Figura 14 – Sistema Fotovoltaico Autônomo.
Fonte: CRESESB, 1999.
7.1.4 Sistema Fotovoltaico conectado à rede (On Grid)
O Sistema Fotovoltaico On Grid não utiliza armazenamento de energia, toda
geração é entregue diretamente na rede que age como uma carga absorvendo a
energia elétrica gerada. São caracterizados por estarem integrados à rede
elétrica que abastece a população e diferentemente dos sistemas isolados que
atendem a um propósito específico e local, estes sistemas são capazes de
abastecer a rede elétrica com energia. Representam uma fonte complementar ao
sistema elétrico de grande porte ao qual estão conectados, pois tem uma grande
vantagem com relação aos sistemas isolados: não utilizam baterias e
controladores de carga. Isso os torna cerca de 30% mais eficientes e também
garante que toda a energia seja utilizada, ou localmente ou em outro ponto da
rede.
37
Quando aplicados às edificações, estes sistemas também são chamados de
sistemas fotovoltaicos de autoconsumo. Se o proprietário do sistema produzir
mais energia do que consome, a energia produzida fará com que o medidor “gire
para trás”. Quando produzir menos do que consome, o medidor deverá “girar
mais devagar”. O medidor deve ser bidirecional, ou seja, apropriado para medir o
fluxo de energia nos dois sentidos.
O sistema On Grid não deve operar em caso de falta de energia na rede ao qual
está conectado. Em caso de manutenção, a rede não pode estar energizada. O
sistema fotovoltaico On Grid não deve operar isoladamente.
O sistema fotovoltaico é conectado em inversores e estes fazem a interface com
a rede elétrica conforme exposto na figura 15.
Figura 15 – Sistema Fotovoltaico On Grid.
Fonte: CRESESB, 1999.
Figura 16 – Diagrama de blocos de um Sistema Fotovoltaico On Grid.
38
Na figura 16 está a representada simbologia de um módulo fotovoltaico, que
também é utilizada para ilustrar uma fileira de módulos, um arranjo fotovoltaico,
uma célula solar ou uma série dessas.
7.2. ACESSO AO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO
7.2.1 Legislação Brasileira
Em abril de 2012, por meio da resolução ANEEL 482, o governo regulamentou
que as distribuidoras de energia elétrica deveriam adequar seus sistemas
comerciais e elaborar ou revisar normas técnicas para tratar do acesso da
minigeração e microgeração distribuída. Antes disso, o pleno aproveitamento do
potencial de energia solar apresentava vários obstáculos de natureza regulatória.
O sistema de compensação descrito nessa resolução é o sistema no qual a
energia injetada por unidade consumidora com micro ou minigeração distribuída é
cedida, por meio de empréstimo gratuito, à distribuidora local e posteriormente
compensada com consumo de energia elétrica ativa dessa mesma unidade
consumidora ou de outra unidade consumidora de mesma titularidade da unidade
consumidora onde os créditos foram gerados, desde que possua o mesmo
Cadastro de Pessoa Física (CPF) ou Cadastro de Pessoa Jurídica (CNPJ). Para
fins desta compensação, a energia ativa injetada no sistema de distribuição pela
unidade consumidora, será cedida a título de empréstimo gratuito para a
distribuidora, passando a unidade consumidora a ter um crédito em quantidade
de energia ativa a ser consumida por um prazo de trinta e seis meses.
O consumo de energia elétrica ativa a ser faturado é a diferença entre a energia
consumida e a injetada. Sendo assim, o excedente de energia produzido pelo
sistema fotovoltaico pode alimentar outros consumidores da rede da
concessionária. Tal sistema é muito comum em países onde os produtores dessa
energia alternativa vendem a concessionária local o excedente de produção
(durante o dia, por exemplo) e compram de volta quando o consumo aumenta
(por exemplo, à noite).
Segundo HANSEN, o setor residencial brasileiro é responsável por vinte e quatro
por cento de toda energia elétrica consumida do país. Geradores fotovoltaicos
integrados ao envoltório de edificações e operando conectados à rede de baixa
tensão apresentam-se como opção para utilização em sistema de compensação.
39
A utilização de gerador fotovoltaico neste sistema de compensação é conhecida
internacionalmente como Net Metering, que é uma forma de incentivo ao
consumo de energia solar fotovoltaica por meio de injeção à rede do excesso de
eletricidade gerada pelo consumidor, usualmente através de créditos em
quilowatt/hora. É necessária a existência de um medidor que seja capaz de
registrar o consumo e geração da instalação (consumo líquido bidirecional).
Os sistemas geradores fotovoltaicos são facilmente adaptáveis aos mais diversos
locais de instalação, sendo ideais para alocação em telhados de casas, indústrias
e comércios estabelecendo assim o conceito de Geração Distribuída.
Figura 17 – Forma de conexão do gerador fotovoltaico com a rede.
Fonte: ND 5.30 CEMIG, 2012, p. 3-2.
O sistema gerador fotovoltaico é composto basicamente de módulos
fotovoltaicos, que convertem a luz solar em energia elétrica em corrente contínua,
inversores fotovoltaicos, responsáveis por fazer a interligação com a rede da
concessionária, e materiais de instalação.
40
O custo de instalação do sistema gerador fotovoltaico vai se pagando ao longo
dos anos. Logo, quanto mais intensa a utilização no dia a dia, mais rapidamente o
sistema vai se pagar.
7.2.2 Módulos Fotovoltaicos
O módulo fotovoltaico é o elemento central de todo o sistema gerador sendo
composto por um conjunto de células solares conectadas em arranjos produzindo
tensão e corrente suficientes para a utilização da energia (CRESESB, 1999).
Devido ao baixo valor de tensão de circuito aberto de cada célula fotovoltaica, na
ordem de 0,5-0,6 Volts para células de silício cristalino, é necessário o
agrupamento em módulos de maneira a atingir a potência desejada. Os módulos
podem ser ligados em série e/ou em paralelo dependendo dos níveis de corrente
e tensão que se pretende atingir (ABINEE, 2012).
A tensão e correntes resultantes das ligações dos módulos precisam ser
definidas observando-se a faixa de operação dos inversores. A potência dos
módulos é especificada pela potência de pico expressa em unidades de watt-pico
(ABINEE, 2012).
Uma atenção especial deve ser dada às células a serem reunidas, devido suas
características elétricas. Uma incompatibilidade das características pode
acarretar em módulos “ruins” uma vez que as células de maior corrente e tensão
acabam dissipando o excesso de potência nas células com desempenho inferior.
Como consequência tem-se uma redução da eficiência global do módulo
fotovoltaico (ABINEE, 2012).
A potência real do módulo é descrita pela curva característica I x V que é obtida
através da aquisição de valores de tensão e corrente para diversas condições de
carga. Essa curva está associada às condições em que foi obtida, tais como
intensidade de radiação solar e temperatura de operação. Dentre os diversos
pontos que formam essas curvas, existe um denominado ponto de potência
máxima (MPP). Nesse ponto, determinam-se dois parâmetros: a tensão no ponto
de potência máxima (VMPP) e a corrente no ponto de potência máxima (IMPP)
conforme ilustrado na figura 18.
41
Figura 18 – Curva característica I x V e P x V.
Fonte: BARROS, 2011, p. 17.
A eficiência do módulo fotovoltaico é definida pela relação entre a potência
gerada pelo módulo e a irradiação incidente sobre este ou também pela relação
entre toda energia diária produzida e a energia diária incidente na superfície do
módulo (CRESESB, 1999).
A eficiência n1 do módulo pode ser obtida pela equação:
%100Im
AIs
Vmn
IM: Corrente máxima de pico em ampères.
VM: Tensão máxima de pico em volts.
IS: Irradiância solar em W/m2.
A: Área útil do módulo em m2.
Os módulos fotovoltaicos são sensíveis à temperatura, que causa uma influência
negativa em sua eficiência. Isso ocorre por que os valores de tensão diminuem
consideravelmente com o aumento da temperatura enquanto os níveis de
corrente sofrem discreta elevação, dessa forma o aumento da intensidade da luz
42
incidente no módulo aumenta a temperatura das células, diminuindo sua
eficiência (ABINEE, 2012).
Nos módulos fotovoltaicos, as células solares são conectadas por pequenas tiras
metálicas e encapsuladas em materiais plásticos, normalmente EVA (acetato de
vinil-etila). O lado exposto ao sol recebe uma cobertura de vidro temperado e
antirreflexivo e na parte posterior um plástico resistente, vidro ou outro substrato.
Toda esta estrutura recebe uma moldura de alumínio anodizado, que lhe dá
rigidez e proteção contra intempéries. A ligação dos módulos é feita através de
uma caixa de junção colocada na parte posterior do módulo. Os componentes de
um módulo fotovoltaico podem ser visualizados na figura 19.
Figura 19 – Componentes de um módulo fotovoltaico.
Fonte: ABINEE, 2012, p. 132.
O mercado oferece diversas tecnologias especiais para utilização dos módulos
integrados ao entorno construído, porém o modelo mais utilizado é o painel solar
fotovoltaico para adaptação direta sobre o telhado das edificações, conforme
mostrado nas figuras 20 e 21.
43
Figura 20 – Módulos fotovoltaicos instalados: (a) em telhado e, (b) fabricados
diretamente sobre telhas.
Fonte: RÜTHER, 2006, p. 15.
Os materiais mais utilizados hoje para a fabricação das células fotovoltaicas são
o silício monocristalino (31%) e policristalino (57%) e os chamados filmes finos:
silício amorfo e silício microcristalino (μc-Si) (a-Si + μc-Si: 3,4%), telureto de
cádmio (CdTe) (5,5%) e (dis) seleneto de cobre (gálio) e índio (CIS e CIGS)
(2,4%) (ABINEE, 2012).
Figura 21 – Tipos de módulos fotovoltaicos.
Fonte: ABINEE, 2012, p. 133.
Para a produção das células fotovoltaicas de material cristalino utiliza-se silício
com 99,9999% de pureza, chamado grau solar. Para obtenção do silício de grau
44
solar existem duas diferentes tecnologias: a rota química, mais onerosa e com
maior gasto energético, e a rota metalúrgica que envolve uma linha de produção
mais enxuta, resultando em um menor volume de investimento em capital
(ABINE, 2012).
As células fotovoltaicas cristalinas podem ser formadas de fatias de silício
monocristalinos ou policristalinos conforme ilustrado na figura 22.
Figura 22 – Lingotes e fatias de silício cristalino.
Fonte: ABINEE, 2012, p. 138.
As células de cristais monocristalinos são formadas por fatias de um único grande
cristal e resultam em células de alto rendimento energético, de produção mais
difícil e mais cara. Este material é basicamente o mesmo utilizado na fabricação
de circuitos integrados para microeletrônica (ABINE, 2012).
Células de cristais policristalinos são fatias obtidas de um bloco composto de
muitos pequenos cristais e, portanto, representam a parcela mais acessível de
células solares. A presença de interfaces entre os vários cristais reduz a
eficiência destas células, porém, a energia necessária para produzi-las é
significativamente menor (ABINE, 2012 & CRESESB, 1999).
Na busca de formas alternativas de se produzir células fotovoltaicas com menor
custo, um dos principais campos de estudo é o desenvolvimento de células de
filmes finos. Com esta tecnologia é possível desenvolver células fotovoltaicas
confiáveis, empregando pouco material semicondutor, obtido de forma passível
45
de produção em larga escala, resultando em custo mais baixos do produto. No
entanto, as células baseadas em filmes finos reduzem sua vantagem ao
apresentar menores eficiências de conversão (ABINE, 2012 & CRESESB, 1999).
No passado o silício amorfo foi a tecnologia responsável pela maior parte da
produção de filmes finos, sendo atualmente células produzidas a partir da
tecnologia CdTe a que possui maior capacidade instalada de módulos.
Comercialmente, a eficiência dos filmes finos varia de 6% a 12%, sendo que o
silício amorfo varia de 6% a 9%, CdTe 9 a 11% e CIGS entre 10 e 12% (ABINE,
2012).
Segundo o mesmo autor, a mais recentemente tecnologia desenvolvida, CIGS, já
demonstrou eficiências maiores em laboratório, chegando a 20% para célula e
16% para o módulo.
7.2.3 Inversores
Inversores são dispositivos elétricos ou eletromecânicos com a finalidade de
converter corrente contínua CC em corrente alternada CA. Entretanto, em um
sistema fotovoltaico conectado à rede (SFCR) este equipamento pode ser
considerado o cérebro, pois além da conversão de corrente contínua em
alternada, esse equipamento conhecido como Grid Tie, possui também diversas
funções que possibilitam a conexão entre a rede elétrica e o gerador (PINTO
NETO, 2012).
Por não apresentar partes móveis como os geradores síncronos estes
equipamentos são denominados conversores estáticos de potência e realizam a
transformação da potência CC em potência CA de forma a possibilitar a injeção
direta na rede. Para que o inversor funcione em paralelo com a rede devem ser
respeitados os padrões de tensão, frequência e Qualidade de Energia Elétrica
(QEE) estabelecidos para a mesma (PINTO NETO, 2012).
Outro ponto importante que o equipamento deve ser capaz de identificar é a
ausência do sinal da rede, e neste caso realizar a desconexão do sistema. A
operação do sistema FV sem a presença do sinal da rede é definido como
ilhamento e deve ser evitado por trazer problemas de segurança (PINTO NETO,
2012).
46
Além de monitorar os padrões da rede o inversor também deve possuir
dispositivos de proteção contra condições anormais da rede elétrica e pode
oferecer o seguimento do ponto de máxima potência (MPPT) que são
equipamentos, normalmente conversores de potencia CC/CC, capazes de
realizar a alteração do ponto de operação dos módulos fotovoltaicos visando
entregar a máxima potência disponível (PINTO NETO, 2012).
Segundo o mesmo autor, podemos classificar os inversores pelo tipo de
comutação, topologia e isolação galvânica.
a- Quanto à comutação
Os inversores podem ser comutados pela rede ou autocomutados.
Os equipamentos comutados pela rede utilizam a tensão da mesma para
sincronizar a mudança de estado das chaves de comutação utilizadas no
processo de conversão, e seu circuito básico é constituído por uma ponte de
tiristores, um filtro do lado CC e um do lado CA conforme ilustrado na figura 23
(PINTO NETO, 2012).
Figura 23: Circuito básico de um inversor comutado pela rede.
Fonte: PINTO NETO, 2012, p. 38.
Cada par de tiristores ilustrado na figura 23 comuta o sinal da fonte CC
primeiramente em um sentido e depois no outro, com uma velocidade igual à
frequência da rede. Como os tiristores podem apenas ser ligados por um sinal,
mas não desligados, a tensão da rede é utilizada para desligá-los, polarizando-os
reversamente, desta forma a corrente reduz até o tiristor comutar para o modo
“desligado”; assim estes inversores são chamados de comutados pela rede
(PINTO NETO, 2012).
Já nos equipamentos autocomutados a mudança de estado das chaves de
comutação ocorre independentemente do sinal da rede, pois estes inversores
47
possuem dispositivos, normalmente IGBT`s ou MOSFET`s, que controlam os
estados “ligado” e “desligado” conforme mostra a figura 24 (PINTO NETO, 2012).
Figura 24: Circuito básico de um inversor autocomutado.
Fonte: PINTO NETO, 2012, p. 38.
Na maioria das vezes esse tipo de equipamento conta com modulação PWM,
ajudando na criação de uma forma de onda de tensão senoidal no lado CA.
Conforme o esquema de controle adotado pode-se controlar as formas de onda
de tensão e de corrente no lado CA, assim o fator de potência pode ser
adequado para se aproximar da unidade e, dependendo da potência de
operação, os harmônicos decorrentes podem ser suprimidos (PINTO NETO,
2012).
b- Quanto à topologia
Quanto à topologia os inversores podem ser do tipo central, série, multisérie ou
módulo com inversor integrado (PINTO NETO, 2012).
Em uma ligação do tipo central o grupo de módulos, em série e paralelo, está
ligado somente em um inversor conforme mostra a figura 25. Neste caso cada
conjunto de módulos ligados em série, cada série, deve ter um diodo de bloqueio
o que aumentam as perdas. No caso de falha do inversor todo o sistema é
desconectado (PINTO NETO, 2012).
Com todos os módulos conectados em somente um inversor, essa topologia
possui menor custo em comparação com outras topologias, porém, impossibilita o
seguimento individual do ponto de máxima potência e torna o sistema inflexível
quanto à configuração do gerador FV (PINTO NETO, 2012).
48
Figura 25: Topologia tipo central.
Fonte: PINTO NETO, 2012, p. 39.
Já na topologia Série, cada grupo de módulos possui seu próprio inversor
conforme ilustrado na figura 26. Com este tipo de ligação o sistema se torna mais
flexível, possibilitando a montagem de cada série em diferentes planos sem
comprometer o MPPT, além aumentar a confiabilidade do sistema, pois na falha
de uma série específica o restante do sistema continua produzindo. Por utilizar
mais equipamentos essa topologia torna o sistema mais caro (PINTO NETO,
2012).
Figura 26: Topologia tipo Série.
Fonte: PINTO NETO, 2012, p. 40.
49
Na topologia multisérie, um único inversor possui um seguidor do ponto de
máxima potência para cada sequencia de módulos conforme mostra a figura 27.
Com isso temos as vantagens da topologia série, porém sem o ônus de vários
equipamentos (PINTO NETO, 2012).
Figura 27: Topologia tipo Multisérie.
Fonte: PINTO NETO, 2012, p. 41.
Existem também inversores integrados aos módulos, o que diminui as perdas
entre o sistema de MPPT e a inversão. Essa topologia também torna o sistema
bastante flexível e de fácil manipulação, porém, a proximidade entre os módulos
e a parte eletrônica do inversor diminui a vida útil do sistema devido às altas
temperaturas (PINTO NETO, 2012).
Essa topologia pode ser visualizada na figura 28.
Figura 28: Topologia para módulos integrados ao inversor.
Fonte: PINTO NETO, 2012, p. 41.
50
c- Quanto à Isolação Galvânica
Os inversores podem ser com ou sem transformador, sendo o transformador um
isolante elétrico podendo ser projetado tanto para alta como para baixa
frequência (PINTO NETO, 2012).
Inversores com transformadores de baixa frequência (50 a 60 Hz) proporcionam o
casamento da tensão de saída do inversor com a tensão da rede elétrica além de
possibilitar que o gerador FV seja desenvolvido para trabalhar em baixas tensões
e reduzir as interferências eletromagnéticas produzidas pelo inversor (PINTO
NETO, 2012).
Segundo o mesmo autor, a utilização desse tipo de equipamento possui as
desvantagens de agregar perdas ao sistema e desviar o Fator de Potência da
unidade. Outro ponto negativo é aumento do volume e do peso do equipamento.
O esquema de um inversor com transformador de baixa frequência pode ser
visualizado na figura 29.
Figura 29: Inversor com transformador de baixa frequência.
Fonte: PINTO NETO, 2012, p. 42.
Como forma de minimizar os impactos pode-se utilizar transformadores de alta
frequência. Com isto o equipamento fica mais leve, menor e mais eficiente.
Contudo esta solução torna o sistema mais caro e complexo (PINTO NETO,
2012).
O esquema de um inversor com transformador de alta frequência pode ser
visualizado na figura 30.
51
Figura 30: Inversor com transformador de alta frequência.
Fonte: PINTO NETO, 2012, p. 42.
Inversores sem transformador geralmente apresentam problemas de correntes de
fuga, devido à conexão momentânea entre os polos do gerador e o neutro da
rede, e capacitâncias parasitas entre o gerador e o GND. O equipamento deve
ser capaz de limitar estas correntes devido à segurança e à compatibilidade
eletromagnética do sistema, bem como bloquear a injeção de corrente contínua
na rede mantendo os padrões de QEE (PINTO NETO, 2012).
Segundo o mesmo autor a utilização deste tipo de equipamento está sujeita a
regulamentação do país onde será instalado, podendo ser exigido separação
galvânica entre o lado CC e CA.
O esquema de um inversor sem transformador pode ser visualizado na figura 31.
Figura 31: Inversor sem transformador.
Fonte: PINTO NETO, 2012, p. 43.
7.2.4 Materiais de Instalação
a- Cabos
Os condutores devem ser de cobre, dimensionados de forma a minimizar as
perdas de potência nas instalações devido à distância entre o arranjo de módulos
e o inversor. A seção do condutor deve ser especificada para suportar a corrente
máxima de serviço que atravessa o cabo, de forma que a queda máxima de
tensão entre o módulo e a carga não exceda 5% da tensão nominal do sistema,
ou 3% em qualquer circuito derivado (CRESESB, 1999).
52
No lado CC, o cabo de fileira deve ser capaz de conduzir uma corrente igual a
1,25 vezes a corrente de curto circuito do gerador fotovoltaico (BARROS, 2011).
Ainda do lado CC, os condutores devem estar claramente sinalizados quanto à
polaridade, respeitando a convenção de cores dos revestimentos, ou seja,
vermelha para o condutor positivo e preta para o condutor negativo. Os
condutores expostos a intempéries e ao sol devem ter revestimento plástico
resistente à radiação ultravioleta (CRESESB, 1999).
b- Medidores
No sistema Net Metering é possível a utilização de um medidor bidirecional, visto
que não há diferença na tarifa de importação e exportação de potencia, sendo
quando o sistema fotovoltaico gerar mais energia que a demandada pela
instalação consumidora, o medidor anda para trás, e quando a edificação
consumir mais energia do que a gerada pelo sistema o medidor gira no sentido
normal. Pode-se também utilizar dois medidores distintos, um para cada sentido
de potencia (RÜTHER, 2006).
Os medidores também deverão ser capazes de registrar alguns indicadores de
qualidade de energia, estando estes disponíveis em formato cuja análise seja
possível com os softwares em uso pela Cemig (ND 5.30 CEMIG, 2012).
c- Dispositivo de Seccionamento Visível (DSV)
O Dispositivo de Seccionamento Visível é uma chave visível e acessível que a
acessada usa para garantir, por questões de segurança, a desconexão da central
geradora durante manutenção em seu sistema. (ND 5.30 CEMIG, 2012).
Deve permitir a abertura de condução de corrente, em valores compatíveis com a
potência da unidade consumidora, e ser instalada após a caixa de medição do
padrão de entrada, conforme ilustra a figura 32 (ND 5.30 CEMIG, 2012).
53
Figura 32 – Local de instalação do DSV.
Fonte: ND 5.30 CEMIG, 2012, p. 3-6.
O DSV utilizado pelos consumidores para conexão de Microgeração a rede de
Baixa Tensão da CEMIG, deverá apresentar características conforme descrito
abaixo e ilustrada na figura 33.
Chave seccionadora:
Abertura sob carga;
Acionamento com dispositivo para trava com cadeado (bloqueio) nas posições
aberto e fechado (para CM voltada para via pública);
Capa protetora para os contatos elétricos;
Tampa transparente (para visualização dos contatos);
Acionamento fixo;
Tensão de isolamento: 1000 V.
Caixa:
Utilizar caixa CM-DSV (caixa padronizada);
Sinalização:
Placa de advertência confeccionada em PVC, com espessura mínima de 1
mm, a ser instalada próximo a caixa de medição/proteção com os
seguintes dizeres: “CUIDADO – RISCO DE CHOQUE ELÉTRICO –
GERAÇÃO PRÓPRIA”.
54
Figura 33 – Chave, Caixa e Sinalização que constitui o DSV.
d- Estrutura de fixação
A estrutura de fixação tem como objetivo posicionar o módulo de forma estável,
assegurando uma ventilação apropriada para que o calor proveniente dos raios
solares possa ser dissipado, evitando assim queda na eficiência dos módulos
(CRESESB, 1999).
De forma geral, a estrutura de fixação é planejada visando o melhor
aproveitamento da radiação solar, e sua posição será em função do terreno e da
latitude local. A estrutura deve ser feita em material leve e resistente para
suportar intempéries, principalmente vento (CRESESB, 1999).
A estrutura de fixação também pode ser projetada para acompanhar o movimento
aparente do sol no céu, visando aumentar o valor de KW gerado. Para projetos
deste tipo o ganho econômico proveniente do aumento da produção de energia
deve ser maior que o valor do investimento na instalação e manutenção dos eixos
móveis. Na figura 34 está ilustrado exemplos de rastreamento de um e dois eixos
(ABINEE, 2012).
55
Figura 34: Sistema Fixo e de rastreamento de um e dois eixos.
Fonte: ABINEE, 2012, p. 144.
7.3. ESTUDO DE CASO
7.3.1 Análise Preliminar do Projeto
O estudo de eficiência solar, viabilidade técnica, estrutural e econômica se faz
necessário quando se projeta um sistema fotovoltaico no entorno construído para
operação em regime de Net Metering. Este estudo tem como principal objetivo
analisar o projeto de adequação, em particular as etapas de: análise de
eficiência, estimativa de produção, projeto elétrico, compra dos materiais,
instalação, solicitação e ligação pela concessionária de energia elétrica.
O presente estudo objetiva o acompanhamento de projeto, instalação e conexão
de unidade consumidora residencial à rede elétrica de baixa tensão. A unidade
consumidora em estudo é trifásica, quatro fios, situada no Bairro Nossa Senhora
do Carmo em Sete Lagoas/MG nas coordenadas: latitude -19.438171 e longitude
-44.254003. A unidade consumidora trata-se da residência do Senhor Giusepe
Sarti Rangel e a concessionária do referido estado é a Companhia Energética de
Minas Gerais (CEMIG).
Os elementos básicos envolvidos na conexão de uma unidade consumidora à
rede elétrica de baixa tensão aérea são: o ramal de ligação, o ramal de entrada,
conexões, caixa de medição, disjuntor e medidor. Quando a ligação do padrão é
aérea, o ponto de entrega é na conexão do ramal de ligação ao ramal de entrada
do cliente e quando o quando a ligação do padrão é subterrânea o ponto de
56
entrega se encontra nas conexões do ramal de entrada à rede. Estas duas
situações podem ser vistas nas figuras 35 e 36.
Figura 35 – Elementos Básicos de Unidade Consumidora.
Fonte: ND 5.1 CEMIG, 2009, p. 8-1.
Figura 36 – Unidade consumidora ligada por ramal subterrâneo.
Fonte: ND 5.1 CEMIG, 2009, p. 8-2.
A unidade consumidora está ligada ao sistema elétrico da Cemig em baixa
tensão, conectada ao circuito do transformador trifásico, de número controle
CEMIG 9024 e potência de 75 kVA.
57
A rede conectada às buchas secundárias do transformador é constituída de três
cabos 1/0 AWG para as fases e cabo 2 AWG para neutro, e conforme exposto na
figura 37, o ponto de conexão da unidade consumidora à rede está cinco vãos
após o poste do transformador, a referida conexão é em rede multiplex três fases
unipolares de 35mm2 e neutro de 70mm2.
Figura 37 – Croqui circuito do transformador 9024-3-75.
Fonte: CEMIG, 2013.
Conforme se verifica na figura 38, o ramal de entrada é de cobre 16mm2 para
fases e neutro e, por tratar-se de ramal subterrâneo, a conexão é feita
diretamente na rede com conectores de perfuração.
58
Figura 38 – Conexão do ramal de entrada do cliente com a rede BT.
7.3.2 Avaliação do Potencial Energético
É necessário fazer uma avaliação do potencial energético solar, que constitui em
buscar a quantidade de radiação solar global incidente sobre o painel fotovoltaico
de forma que se possa calcular a energia gerada.
Os primeiros dados a coletar para o dimensionamento do sistema fotovoltaico são
os de incidência solar que podem ser obtidos através do mapa solarimétrico da
região na qual se pretende instalar os módulos fotovoltaicos.
Minas Gerais é quarta unidade da federação em extensão territorial,
apresentando 586.528 km2, o que corresponde a 7% do território do País. O
Estado está localizado entre os paralelos 14002’35’’ e 22054’00’’ de latitude sul e
os meridianos 39051’32’’ e 51002’35’’ a oeste de Grenwich. Minas Gerais possui o
território inteiramente formado por planaltos com destaque para o planalto
atlântico, que abrange mais da metade do Estado, com a predominância dos
“mares de morros” e altitude média de setecentos metros. O Estado apresenta
também áreas de planaltos e as depressões formadas pelos vales dos rios São
Francisco, Jequitinhonha, Doce e Paraíba do Sul (CEMIG, 2012).
As regiões desérticas do mundo são as mais bem dotadas de recurso solar. A
radiação solar global diária média anual em Minas Gerais varia de 4,5 a 6,5
kW/m2. As cartas de radiação solar global diária mostram que em Minas Gerais
esta grandeza varia entre 3,0 e 7,5 kWh/m2.dia, com um período de mínimo no
59
trimestre maio-junho-julho, em que as estações solarimétricas registram uma
intensidade de radiação na faixa de 3,0 a 4,0 kWh/m2.dia. No trimestre dezembro-
janeiro-fevereiro, observa-se que as estações solarimétricas registram
intensidades de radiação muito altas, atingindo um valor máximo de 7,5
kWh/m2.dia (CEMIG, 2012).
Os menores índices de nebulosidades (maiores índices de radiação solar) se
concentram nas regiões Leste e Zona da Mata, onde a circulação marítima deixa
o tempo parcialmente nublado em quase todos os dias do ano. Os mapas
sazonais de insolação estão consistentemente correlacionados com a
precipitação. No inverno (junho a agosto), quando o índice de precipitação é
menor do ano, os números de horas de brilho solar atinge os valores máximos
entre oito horas e meia a nove horas e meia em uma vasta região da metade
oriental do estado e, de forma inversa, para o período de novembro a janeiro
ocorre um máximo anual de precipitação e, portanto um mínimo de horas de
brilho solar, entre cinco a seis horas por dia (CEMIG, 2012).
Figura 39 – Insolação Média Diária Anual.
Fonte: Atlas Solarimétrico de Minas Gerais, 2012. p. 65.
60
Na presente situação de estudo, a escolha do local para instalação de sistema
não foi discutido, visto que os módulos seriam instalados no telhado de residência
pré-estabelecida no município de Sete Lagoas.
Sete Lagoas é uma cidade situada a 70 km da capital Belo Horizonte, ou seja, na
região central de Minas Gerais. Conforme se observa nas figuras 39, 40 e 41, as
médias diárias anuais de insolação, radiação e radiação solar direta normal são
praticamente idênticas para as cidades de Belo Horizonte e Sete Lagoas.
Figura 40 – Radiação Solar Média Diária Anual.
Fonte: Atlas Solarimétrico de Minas Gerais, 2012. p. 61.
61
Figura 41 – Radiação Solar Direta Normal Diária Média Anual.
Fonte: Atlas Solarimétrico de Minas Gerais, 2012. p. 72.
A avaliação definitiva da eficiência no local de instalação dos módulos foi
inicialmente feita mediante a análise de mapas de radiação média diária anual,
(pois o valor médio do recurso solar era mais adequado), tem-se um caráter
indicativo preliminar para ressaltar o potencial da região. A avaliação definitiva
necessitou de medidas detalhadas do recurso no local para determinar seu valor
e principalmente a sua variabilidade temporal.
Conforme observado nos mapas solarimétricos, as condições de radiação para a
cidade de Sete Lagoas são bem favoráveis à instalação de geração fotovoltaica.
O teste de eficiência dos módulos foi realizado através da utilização de carga de
prova, wattímetro e variação dos ângulos de incidência para verificação do ponto
de melhor rendimento. A alteração do ângulo de incidência pouco contribuiu para
melhora da eficiência e decidiu-se, para redução de custos, instalar os módulos
acompanhando entorno construído.
A fim de diminuir perdas na incidência devido aos ângulos azimutais de
superfície, foi construída estrutura de apoio para direcionar os módulos no
62
sentido norte. O ângulo β de inclinação do módulo, deixado em definitivo foi de
sete graus no sentido Sul-Norte.
Conforme se vê na figura 42, o ponto de instalação é interface de logradouro
urbano com inicio de área rural e não há sombreamento causado por construções
vizinhas.
Figura 42 – Módulos Fotovoltaicos instalados.
7.3.3 Dimensionamento, Compra de Materiais e Projeto
Na instalação do Sistema Fotovoltaico já descrito e visto na figura 43, foram
utilizados 10 módulos fotovoltaicos de silício policristalino e com potência 235 Wp
cada um. Os módulos foram adquiridos por R$ 1.150,00 (um mil e cento e
cinquenta reais) cada, ou seja, R$ 4,89 por Wp, perfazendo um total de R$
11.500,00 (onze mil e quinhentos reais). Estes valores incluem todas as
despesas: impostos, frete e taxas.
63
Figura 43 – Módulos Fotovoltaicos instalados.
Para conversão da energia fotogerada de corrente CC para corrente CA, foi
adquirido um inversor de 3.8 kW da ELTEK VALERE, conforme observa-se na
figura 44, por R$ 6.400,00 (seis mil e quatrocentos reais). Trata-se de um
equipamento de topologia multisérie (três strings), com isolação galvânica através
de transformador de alta frequência, eficiência máxima de 97.3%, servidor Web
integrado para comunicação avançada com software de monitoramento, proteção
contra sobretensão, ilhamento, sobrecarga, sobreaquecimento e indicado para
todas as tecnologias de painel (monocristalino, policristalino ou película fina).
Este valor inclui todas as despesas: impostos, frete e taxas.
64
Figura 44 – Inversor de 3.8 kW da ELTEK VALERE.
O inversor possui potência nominal de 3.8KW dividida em três strings, cada uma
com seu respectivo seguidor do ponto de máxima potência. Neste projeto os dez
módulos foram ligados na primeira string do inversor, havendo a possibilidade
acrescentar mais seis módulos sem exceder sua potencia nominal.
Os demais gastos com estrutura de fixação, DSV, cabos, conectores e afins
totalizaram R$ 4.600,00 (quatro mil e seiscentos reais), sendo necessário
salientar a economia de aproximadamente R$ 600,00 (seiscentos reais) na
compra em separado do DSV da caixa de medição CM-DSV, ambos vistos na
figura 45.
65
Figura 45 – DSV instalado em caixa de medição CM-DSV.
Cabos flexíveis, unipolares de seção nominal 6mm2, com isolamento simples e
classe de tensão 1 kV conduzem a corrente CC proveniente dos módulos até o
inversor.
Cabos flexíveis, unipolares de seção nominal 16mm2, com isolamento simples e
classe de tensão 1 kV foram usados para: conexão do inversor com o disjuntor de
proteção do trecho CA, conexão do disjuntor de proteção trecho CA ao
barramento, e conforme observa-se nas figuras 45 e 46, também foram usados
para conexão do barramento ao DSV e conexão do DSV ao padrão de entrada
do cliente.
66
Figura 46 – Projeto Sistema Fotovoltaico.
7.3.4 Estimativa de Produção e Viabilidade Econômica
Para efeito de cálculo estimado da produção a radiação média diária anual
considerada foi de 5 kWh/m2/dia e a insolação média diária anual (IS) foi de
6h/dia, conforme valores mínimos dos gráficos do Atlas Solarimétrico de Minas
Gerais.
O Sistema Fotovoltaico instalado consiste em dez módulos com 1,652 m2 cada e
totalizando uma área incidente de 16,52m2 e potência nominal total (PN) de 2,35
kWp. O inversor utilizado tem eficiência (n1) de 97,3%.
A produção estimada para o período de um mês (PE) pode ser obtida através da
seguinte equação:
PE = PN * IS * n1 = 2,35 * 6 * 0,973 * 30 = 411,6 kWh
Considerou-se para efeito do estudo de viabilidade econômica o valor total gasto
na compra do material e mão-de-obra envolvida, e a informação de que o
consumo é superior a toda potência gerada, visto que o proprietário possui mais
67
outras duas residências. O custo total envolvido foi de R$ 22.500,00 assim
discriminados:
- 10 Módulos fotovoltaicos de 235 Wp por R$ 11.500,00.
- 1 Inversor 3.8 kW por R$ 6.400,00.
- Estrutura para fixação dos painéis e mão-de-obra por R$ 4.000,00.
- Cabos, conectores e acessórios por R$ 600,00.
A análise foi feita mediante o cálculo do ganho pecuniário anual (GA) em regime
compensatório e tendo como base a quantidade de potência gerada
mensalmente (PE) e o custo de um quilowatt/hora, sem impostos, para cliente
classe residencial que é de R$ 0,347; valor de setembro de 2013 segundo
ANEEL.
GA = 12 * PE * 0,347 = 12 * 411,6 * 0,347 = R$ 1.713,90
O Período de Retorno Simples (PRS), em anos, é calculado mediante a divisão
do custo total do Sistema Fotovoltaico pelo ganho pecuniário anual.
PRS = (investimento inicial) / (economia por ano)
PRS = (R$ 22.500,00) / GA
PRS = (R$ 22.500,00) / (R$ 1.713,90)
PRS = 13,12 ≈ 13 anos e 45 dias
O Período de Retorno Simples para este projeto é de aproximadamente treze
anos e 45 dias. O Sistema como um todo tem durabilidade prevista para vinte e
cinco anos.
68
8. CONCLUSÃO
No momento em que o mundo se volta para debate sobre o esgotamento das
fontes de energia, alterações climáticas causadas por emissão de gases
poluentes e demais questões voltadas à sustentabilidade e ao impacto ambiental,
a necessidade do estudo e da implementação de fontes alternativas de energia
se torna cada vez mais presente.
Com este trabalho, conclui-se que é possível e viável, do ponto de vista técnico e
econômico, a instalação de Sistema Fotovoltaico de cogeração conectado a rede
de baixa tensão. Este estudo demonstrou a facilidade da instalação de Sistemas
Fotovoltaicos conectados à rede de baixa tensão e ficou claro que, não existem
dificuldades técnicas para consolidação dessa forma limpa de energia elétrica.
O estudo e levantamento das diferentes tecnologias de GD com sistemas
fotovoltaicos disponíveis no mercado e a legislação vigente atual possibilitaram o
esclarecimento sobre qual a topologia e arranjo mais adequados ao objetivo de
redução em consumo residencial por geração própria.
Os dados obtidos nos testes, cálculos, análises e avaliações no que concerne ao
dimensionamento, eficiência e operação do Sistema Fotovoltaico; deixam
explicito os potenciais, custos, vantagens e desvantagens deste
empreendimento.
O estudo de caso evidenciou que, com correto dimensionamento o Sistema
Fotovoltaico implementado gera cerca de 410 kWh de energia elétrica por mês,
que representará economia aproximada de R$ 1.713,90 (um mil e setecentos e
treze reais e noventa centavos) por ano, podendo variar dependendo das tarifas
contratadas com a concessionária local (CEMIG) para fornecimento de energia.
69
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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