Georg Sim Me Lea Religio Sid a De

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1 Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano II, n. 7 Georg Simmel e a religiosidade como forma pura das relações sociais * Stefano Martelli Contemporâneo de Durkheim e de Weber, autor de numerosas obras nas quais se mostra agudo obser- vador da sociedade moderna, Georg Simmel (1858- 1918) somente em época mais recente foi acolhido entre os “clássicos” da sociologia. Especialmente três motivos se interpuseram, até agora, a tal reconheci- mento: o caráter pouco “científico” de seus escritos, que torna muito difícil distinguir, no seu pensamento, o que é original e o que não o é; a polivalência dos seus interesses, especialmente sua “sistemática assis- tematicidade” e, sobretudo, em seus últimos escritos, a passagem da perspectiva sociológica para aquela filosófica (período de Estrasburgo, conhecido como “filosofia da vida”). Na Itália, de fato, ele se tornou conhecido, primeiramente, através dos escritos deste último período e, por isso, foi considerado um filóso- fo “irracionalista”; só mais recentemente está se di- fundindo o interesse pela sociologia de Simmel. 263 Não obstante o aparecimento de traduções no- vas ou renovadas de suas obras, além de balanços críticos da contribuição por ele trazida à sociologia, atualmente continua ainda inacessível ao leitor ita- liano a obra principal sobre a religião. 264 Die Religion (1906), 265 no entanto, parece-nos uma obra que me- rece a atenção, 266 e não apenas para a reconstrução do desenvolvimento de seu pensamento, mas tam- bém na perspectiva da renovação em ato da cultu- ra e da religião na sociologia, como nos propomos argumentar na Segunda consideração intermediária. De fato, recorrendo continuamente aos dois pólos do código epistemológico adotado — a religiosidade e a religião — e à adoção da perspectiva epistemológica “relacionista”, parece-nos que a sociologia de Sim- mel realiza, embora às vezes de maneira fragmen- tária e redundante, um esforço notável para ligar o plano macrossociológico ao micro, a problemática da diferenciação social e religiosa à perspectiva da experiência religiosa do indivíduo, colhido no con- creto da vida cotidiana e das relações sociais. Por isso colocamos a exposição das principais teses de Simmel sobre a religião no fim destes dois primeiros capítulos, considerando essa colocação particular- mente útil dentro do quadro da reflexão em ato sobre as principais questões da sociologia da religião. I. A principal obra de Simmel sobre a religião per- tence ao mesmo período em que foram escritas as obras mais conhecidas, como a Filosofia do dinhei- ro (1900) e a segunda edição da Filosofia da histó- ria (1905), nas quais ele delineia a sua perspectiva epistemológica “relacionista”. Notamos que a obra Die Religion (1906) constitui um importante banco de prova das potencialidades heurísticas dessa perspec- tiva; de fato, desde as primeiras páginas, encontramos exposta a teoria das formas culturais, que Simmel elaborou, separando-se do neocriticismo de Rickert. Baseado nela, Simmel sustenta que o conteúdo das nossas representações é um só, e é tirado do mundo da experiência cotidiana mediante a sensibilidade, como também é um só o fluxo das experiências (Er- leben). Contudo, são diferentes as formas dentro das quais o único conteúdo é representado e pensado. As várias formas culturais — da religião à arte, da filosofia à ciência — constituem, para Simmel, outros tantos mundos entre si irredutíveis, que permanecem em nós e diante de nós como virtualidades ideais. O material sensível, porém, é um só, proveniente da ordem empírica. Colocando as premissas de uma crí- tica à concepção “ingênua” da realidade, que encon- trará posteriores aprofundamentos em Max Scheler, Karl Mannheim e Alfred Schütz, 267 Simmel observa que o homem simples confunde a realidade com o mundo, quando ela é apenas um mundo — aque- le da vida cotidiana, ou seja, da ação teleológica e manipuladora, voltada para a conservação do nosso organismo psíquico-biológico; a este se emparelham as outras formas de mundo já conhecidas: a arte e a religião, a ética e a filosofia, a ciência e a diversão. Cada uma delas — Simmel exemplifica sobre o mun- do artístico — tem uma lógica específica, uma es- pecífica concepção da verdade, um método próprio: constroem ao lado do mundo real novos universos, mesmo se edificados com o mesmo material sensível do primeiro. 268 Para Simmel, o homem instaura uma espécie de circularidade semântica entre natureza e História: os dados sensoriais são organizados com base nas formas culturais, entre as quais existe também a religiosidade; esta exerce a sua eficácia num segundo nível, isto é,

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  • 1Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano II, n. 7

    Georg Simmel e a religiosidade como

    forma pura das relaes sociais*Stefano Martelli

    Contemporneo de Durkheim e de Weber, autor de numerosas obras nas quais se mostra agudo obser-vador da sociedade moderna, Georg Simmel (1858-1918) somente em poca mais recente foi acolhido entre os clssicos da sociologia. Especialmente trs motivos se interpuseram, at agora, a tal reconheci-mento: o carter pouco cientfi co de seus escritos, que torna muito difcil distinguir, no seu pensamento, o que original e o que no o ; a polivalncia dos seus interesses, especialmente sua sistemtica assis-tematicidade e, sobretudo, em seus ltimos escritos, a passagem da perspectiva sociolgica para aquela fi losfi ca (perodo de Estrasburgo, conhecido como fi losofi a da vida). Na Itlia, de fato, ele se tornou conhecido, primeiramente, atravs dos escritos deste ltimo perodo e, por isso, foi considerado um fi lso-fo irracionalista; s mais recentemente est se di-fundindo o interesse pela sociologia de Simmel.263

    No obstante o aparecimento de tradues no-vas ou renovadas de suas obras, alm de balanos crticos da contribuio por ele trazida sociologia, atualmente continua ainda inacessvel ao leitor ita-liano a obra principal sobre a religio.264 Die Religion (1906),265 no entanto, parece-nos uma obra que me-rece a ateno,266 e no apenas para a reconstruo do desenvolvimento de seu pensamento, mas tam-bm na perspectiva da renovao em ato da cultu-ra e da religio na sociologia, como nos propomos argumentar na Segunda considerao intermediria. De fato, recorrendo continuamente aos dois plos do cdigo epistemolgico adotado a religiosidade e a religio e adoo da perspectiva epistemolgica relacionista, parece-nos que a sociologia de Sim-mel realiza, embora s vezes de maneira fragmen-tria e redundante, um esforo notvel para ligar o plano macrossociolgico ao micro, a problemtica da diferenciao social e religiosa perspectiva da experincia religiosa do indivduo, colhido no con-creto da vida cotidiana e das relaes sociais. Por isso colocamos a exposio das principais teses de Simmel sobre a religio no fi m destes dois primeiros captulos, considerando essa colocao particular-mente til dentro do quadro da refl exo em ato sobre as principais questes da sociologia da religio.

    I. A principal obra de Simmel sobre a religio per-tence ao mesmo perodo em que foram escritas as obras mais conhecidas, como a Filosofi a do dinhei-ro (1900) e a segunda edio da Filosofi a da hist-ria (1905), nas quais ele delineia a sua perspectiva epistemolgica relacionista. Notamos que a obra Die Religion (1906) constitui um importante banco de prova das potencialidades heursticas dessa perspec-tiva; de fato, desde as primeiras pginas, encontramos exposta a teoria das formas culturais, que Simmel elaborou, separando-se do neocriticismo de Rickert. Baseado nela, Simmel sustenta que o contedo das nossas representaes um s, e tirado do mundo da experincia cotidiana mediante a sensibilidade, como tambm um s o fl uxo das experincias (Er-leben). Contudo, so diferentes as formas dentro das quais o nico contedo representado e pensado. As vrias formas culturais da religio arte, da fi losofi a cincia constituem, para Simmel, outros tantos mundos entre si irredutveis, que permanecem em ns e diante de ns como virtualidades ideais. O material sensvel, porm, um s, proveniente da ordem emprica. Colocando as premissas de uma cr-tica concepo ingnua da realidade, que encon-trar posteriores aprofundamentos em Max Scheler, Karl Mannheim e Alfred Schtz,267 Simmel observa que o homem simples confunde a realidade com o mundo, quando ela apenas um mundo aque-le da vida cotidiana, ou seja, da ao teleolgica e manipuladora, voltada para a conservao do nosso organismo psquico-biolgico; a este se emparelham as outras formas de mundo j conhecidas: a arte e a religio, a tica e a fi losofi a, a cincia e a diverso. Cada uma delas Simmel exemplifi ca sobre o mun-do artstico tem uma lgica especfi ca, uma es-pecfi ca concepo da verdade, um mtodo prprio: constroem ao lado do mundo real novos universos, mesmo se edifi cados com o mesmo material sensvel do primeiro.268

    Para Simmel, o homem instaura uma espcie de circularidade semntica entre natureza e Histria: os dados sensoriais so organizados com base nas formas culturais, entre as quais existe tambm a religiosidade; esta exerce a sua efi ccia num segundo nvel, isto ,

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    plasmando as vivncias da vida prtica, assim como os contedos produzidos por outras formas, e colo-cando-os na esfera de signifi cado prpria, isto , a re-ligio, dentro da qual adquirem um signifi cado novo.

    Para Simmel, a religiosidade no deve ser confun-dida com a f; esta o aspecto psicolgico e subje-tivo de uma forma cultural que universal. Todavia, a religiosidade no nem mesmo religio, a qual um produto histrico-social da religiosidade, isto , da sntese operada pelo a priori religioso sobre determinados materiais e vivncias, produzidos por formas de alcance limitado. Nessa direo, Simmel chega a antecipar as concluses dos fenomenlogos da religio:

    O homem naturalier religioso. A religiosidade um modo de ser do homem, quer ela tenha, agora, um contudo, ou no, quer esta caracterstica possa ser in-corporada ou no, numa f. Assim como inteligente, ertico, justo ou belo, assim religioso: o ser religioso, portanto, uma maneira primria, absolutamente fun-damental, do ser.269

    Esta afi rmao coerente com a perspectiva rela-cionista j apontada, pois a religio no o corres-pondente subjetivo de um objeto transcendente (esta seria a posio ontolgica, que caiu sob o bisturi ilu-minista), , pelo contrrio, um processo que submete a si todo contedo da experincia vital, tornando-o precisamente religioso.

    O enfoque dado teoria das formas culturais permite a Simmel explicar a gnese das categorias religiosas de maneira no-reducionista. Dando um exemplo sobre a noo crist do divino, e articulado segundo as trs virtudes teologais f, esperana, caridade , Simmel sustenta que Deus, como objeto da f, o produto abstrato das faculdades espirituais humanas. Deus como objeto de busca e fi m em si, ou ento, fonte de esperana, o precipitado da cau-salidade concebida como energia indiferenciada: na objetivao do ens perfectissimum, a razo aplaca a busca do absoluto alm de todas as particularida-des. Finalmente, Deus como amor a objetivao da necessidade de amar, em sua forma mais pura, isto , libertada dos objetos individuais.270

    primeira vista, essas observaes parecem lem-brar as conhecidas teses reducionistas de Ludwig Feu-erbach (e embora sob uma perspectiva funcionalista, as de Durkheim, sobre a gnese social das categorias do pensamento); na perspectiva relacionista, porm, elas no tm aquela pretenso de verdade que man-tinham na fi losofi a materialista ou positivista. A pers-pectiva relacionista de Simmel prope-se, unicamen-te, descrever o processo gentico que liga a origem

    social da concepo do divino com o processo mais geral de abstrao e objetivao das faculdades hu-manas, sem pretender que a explicao sociogentica seja nem a nica, nem superior quela posta por ou-tros saberes, in primis a teologia. De fato, na pers-pectiva relacionista, tanto a sociologia como a fi lo-sofi a so formas culturais de igual dignidade, porque assumem o mesmo material fenomnico sob, a prio-ri, diferentes, especfi cos dos respectivos campos.

    preciso diferenciar o relacionismo de Simmel do relativismo. De fato, no primeiro caso, existe uma arti-culao e no uma no-relao entre as vrias formas culturais,271 que assumem, sob os prprios princpios, os contedos da experincia sensvel. Para Simmel, o mesmo mundo fenomnico constitui a base tanto para a cristalizao da imagem dos deuses como para o processo de abstrao das leis fsicas: o mesmo ma-terial sensvel assumido sob formas diferentes a religiosidade e a causalidade , dando vida a duas esferas culturais distintas a religio e a cincia. A partir desse enfoque, j podemos notar que Simmel supera, de uma vez, todo materialismo ou positivis-mo: religio e cincia so consideradas atividades culturais que, tendo origem comum, tm uma mesma dignidade, e no se pode opor a primeira segunda, como fi zeram Comte e Marx.

    Em outras palavras, se conduzida coerentemente, a anlise do processo gentico da religio, em pers-pectiva relacionista, no implica, por si, um julga-mento metafsico sobre a existncia ou no de Deus. O julgamento ontolgico sobre o objeto da religio subtrado da sociologia, enquanto ela disciplina que se coloca num plano emprico, como evidente, por exemplo, tambm na posio metodolgica assumi-da por Weber, contemporneo de Simmel e com po-sies semelhantes ao Methodensstreit.272 O prprio Simmel, encerrando Die Religion, exprime com clare-za a prpria adeso ao agnosticismo metodolgico weberiano, antecipando a mais conhecida posio weberiana do unmusikelish: ao cientista social cabe um comportamento avaliativo em relao religio e aos valores; isso signifi ca apenas que as prprias convices sobre questes ltimas no devem des-viar a pesquisa, e no que o cientista social deva ser ateu. Pelo contrrio, para a religio acontece a mes-ma coisa que para a msica: quem no tem ouvidos para ela, difi cilmente poder apreciar uma sinfonia.

    II. Da teoria das formas provm uma segunda con-seqncia para a anlise dos fenmenos religiosos. Se, para Simmel, a atividade do a priori religioso constitui a religio, tal processo gentico, porm, no acontece casual ou arbitrariamente. Ao contrrio, para Simmel existem trs reas ou mbitos de vida,

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    onde mais provvel que se verifi que tal atividade constitutiva dos smbolos religiosos, em particular da idia do divino, que o objeto de referncia princi-pal do sentimento religioso subjetivo, a f. Em outras palavras, se, em linha de princpio, toda a experin-cia humana pode ser assumida sob o a priori reli-gioso, para Simmel, porm, existem mbitos de vida, nos quais as probabilidades que tal atividade genti-ca plasme smbolos religiosos so mais altas: trata-se do comportamento humano diante da natureza, da prpria sorte e dos outros homens. Vamos examin-las brevemente.

    a) Natureza e religiosidade. O primeiro mbito de vida o comportamento humano em relao natu-reza. Simmel considera banal a crtica iluminista da religio, para a qual a idia de Deus Criador seria uma hipertrofi a da necessidade de causalidade.273 Ele se prope tornar compreensvel o processo de objetiva-o da religio a partir de dentro e, por isso, delineia a gnese da idia de Deus como criador do mundo a partir do problema da causalidade vista em sua infi ni-tude, isto , assumida sob o a priori religioso. Essa idia brota da seqncia das causas e dos efeitos: considerando o contraste entre a limitao dos da-dos e a ilimitao da cadeia causal, o homem adverte um sentido de insatisfao, que desemboca na na-difi cao do existente e na busca do transcendente. Mas o resultado, esclarece Simmel, no constitui um elemento sobreposto, e sim uma conexo que brota no interior do processo cognoscitivo. E esse sentido do ilimitado no imediatamente religioso, isto , no desemboca, necessariamente, na idia de Deus Criador, como trmino do processo causal; de fato, pode igualmente dar lugar ao conceito de natureza e, portanto, abrir refl exo fi losfi ca. Ele chega a cris-talizar-se na idia de Deus Criador somente quando colocado sob a proteo da religiosidade,274 isto , da forma religiosa.

    b) O homem e a prpria sorte. Simmel nota a ampla variedade de comportamentos humanos em relao prpria sorte. O comportamento pode ser fatalista ou rebelde, otimista ou desesperado, descontente ou sa-tisfeito e, alm disso, pode ser completamente irreli-gioso ou profundamente religioso. Este ltimo caso se verifi ca quando a qualidade particular do sentimento, de exaltao ou contrio, em si mesmo religioso, se volta para o problema da prpria sorte.275

    c) A religio como forma da realidade. Neste ter-ceiro mbito genetico da religio, Simmel tambm sustenta que a religiosidade pode dar forma prpria a relaes sociais originariamente no-religiosas. Ele sublinha que em certas condies, como enfrentar o

    perigo pela ptria, o patriotismo carrega-se de uma tal intensidade emotiva a ponto de assumir uma to-nalidade religiosa que, em casos normais, no pode-ria ser adquirido unicamente em virtude da lei ou do costume.276

    Desta anlise dos trs mbitos em que se desen-volve o processo gentico da religio Simmel con-sidera confi rmada a sua tese de fundo: longe de ser reduzvel a outros campos da atividade humana, como pretendia a crtica iluminista, a religio tem a sua prpria especifi cidade, reconduzvel atividade da religiosidade. Em cada uma das reas, as vivn-cias, originadas em contacto com a natureza com a interrogao sobre a sorte individual ou no decorrer das relaes sociais, so assumidas sob o a priori religioso, o qual lhes confere uma forma especfi ca.

    Simmel tambm admite a reversibilidade do pro-cesso e isso constitui um aspecto que torna a sua teoria da religio mais fl exvel do que a teoria fun-cionalista. Simmel oferece vrios exemplos em apoio sua tese da reversibilidade entre relaes sociais e sentimentos, tornada possvel graas reversibilida-de das prprias relaes, capacidade de as mesmas se adaptarem a formas diferentes. Realizando rpi-dos excursus na histria das religies, Simmel visa a mostrar o nexo existente entre as transformaes sociais e o a priori religioso: tanto a coeso como a transformao social so formas de relaes que supem o mesmo contedo prtico de vida. Alm disso, ele sublinha que, quando as exigncias sociais atingiram um grau sufi ciente de estabilidade e de har-monia emotiva, ento elas so colocadas sob a gide da religio, e so, por assim dizer, consagradas. As prescries higinicas da lei mosaica, o homicdio ou o perjrio punidos pelos bispos germnicos na alta Idade Mdia so, para Simmel, exemplos de como certas relaes e modos de vida, ao atingirem uma certa relevncia social, assumem, juntamente com a estabilidade, uma aura sagrada, isto , so transfe-ridos da esfera cultural na qual se originaram para se colocarem na esfera religiosa.

    Contudo, a passagem para outra e mais elevada esfera na ordem simblica no possvel para qual-quer modalidade de vida social. De fato, a partir do texto de Simmel parece argir que a forma religiosa atribuda unicamente quelas modalidades de vida social que so suscetveis de adquirir um valor sim-blico mais elevado. Talvez no esteja longe do pen-samento de Simmel a hiptese de que a capacidade simblica seja uma propriedade com intensidade variada, que as diversas relaes sociais possuem, de modo que somente aquelas de maior densidade so-

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    cial e relevncia afetiva podem ser assumidas sob a forma religiosa. Consegue-se esse assumir pela ana-logia, a qual, para Simmel, no

    uma igualdade acidental dos fenmenos independen-tes uns dos outros, e sim uma unidade de categoria psicolgica, que se manifesta, s vezes, no material da reciprocidade humana, e que substancia (no por transformao, mas por imposio direta da forma) es-tes mesmos impulsos na forma religiosa.277

    III. Simmel dirige sua ateno para o processo que leva constituio da religio como forma cultural independente, capaz de assumir em si relaes so-ciais que tiveram origens em outros mbitos.

    Para Simmel, a constituio de um tipo especfi co de religiosidade permitido pela capacidade simb-lica de algumas relaes sociais particulares e, antes de tudo, aquelas estabelecidas em famlia e na co-munidade social: so as relaes afetivas, expressivas e de dependncia, como aquelas entre fi lhos e pais, entre o patriota e a ptria, entre o fi lantropo e a hu-manidade, entre o operrio e a classe social em luta, entre o conquistado e o conquistador, entre o nobre consciente do seu status e a aristocracia, entre o bom soldado e o seu exrcito. Trata-se de relaes e contedos emocionais dotados de uma tonalidade particular, que Simmel chama de piedade, isto , uma modalidade emocional particular do esprito. A piedade uma emoo da alma que se transforma em religio quando se projeta em formas especfi cas. Convm notar que o termo latino pietas indica um comportamento de devoo, tanto para com o ho-mem como para com Deus. A piedade, que a reli-giosidade num estdio quase fl uido, no se cristaliza, necessariamente, em formas estveis de comporta-mento em relao aos deuses, isto , em religio,278 mas permanece como uma atividade do esprito que permite a sua formao.

    Para Simmel, como para Durkheim, a religio formaliza e consagra os laos sociais pr-existen-tes, contribuindo, por sua vez, para refor-los me-diante a legitimao que acontece pela consagrao dos mesmos; todavia, diferentemente de Durkheim, para Simmel a religio no a simples representa-o simblica de relaes e normas j existentes na sociedade. As normas provenientes da ligao social assumem, na perspectiva de Simmel, uma nova in-tensidade e globalidade, que provm de energias in-teriores de origem diferente. As normas religiosas no so a simples reproposio das sanes sociais pr-existentes, nem possvel colher o signifi cado dos objetos religiosos mediante uma simples soma das re-laes sociais que formam o seu contedo. Simmel,

    portanto, vislumbra uma circularidade entre relaes sociais e o a priori religioso: o contedo, graas prpria capacidade autnoma simblica, pode infl uir na formao dos objetos transcendentais, revelando novos signifi cados religiosos. Por sua vez, tais objetos revestem as relaes sociais de um novo carter e de um poder sagrado.

    O cdigo binrio adotado por Simmel, isto , a ten-so entre religiosidade e religio, permite-lhe estabe-lecer a distino entre religio e sociedade, para alm da diferena meramente simblica que Durkheim diz existir, e, alm disso, permite-lhe colher o nexo entre dinmica evolutiva social e mudana dentro da esfe-ra religiosa.

    Ao mostrar as analogias existentes entre compor-tamento social e comportamento religioso, Simmel mostra tambm as funes sociais exercidas pela re-ligio, seja no plano micro, seja no plano macro. Simmel nota que a f em Deus traz para o indivduo tranqilidade nas adversidades, confi ana no futuro, capacidade de substituir os valores que se revelam caducos. A analogia existente entre atitudes seme-lhantes a confi ana em si mesmo, a f nos outros e a f em Deus permite que o simbolismo religioso adquira precisas funes sociais no plano individual, tais como a segurana e a adaptao emotiva.

    A f, porm, exerce uma importante funo inte-gradora com relao ao sistema social. Simmel ousa afi rmar:

    Estou certo de que, sem ela (a f religiosa, n. d. tr.), a sociedade, tal como a conhecemos, no poderia existir. Nossa f inabalvel num ser humano ou coletivo, mui-to alm de qualquer prova, e, no raro, contra toda pro-va, um dos slidos vnculos que mantm a sociedade unida. Com freqncia, a obedincia passiva no se funda no reconhecimento do direito e da superioridade do outro, nem se enraza no amor e na submisso; mas, antes, a f no poder, no mrito, na irresistvel fora e na bondade do outro.279

    A f na transcendncia, que considerada a mais espiritual, revela-se como uma fora sociolgica, capaz de ligar faculdades diferentes e numerosas que lhe so semelhantes, como o conhecimento, a von-tade, a emoo, e de dar forma religio como pr-tica social. Todavia, como vimos anteriormente, aqui tambm vale o recproco, isto : no objeto da f so transfi guradas tendncias da alma e relaes sociais. Esse processo de objetivao das vivncias indivi-duais, longe de constituir uma alienao que empo-brece a realidade humana ( este o sentido diferente que Simmel introduz no esquema gentico proposto, primeiramente, por Feuerbach), contribui poderosa-

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    mente para consolidar os laos sociais; isso por causa da analogia, a qual, tornando possvel a objetivao, provoca um efeito positivo tambm sobre o outro plo da relao, isto , sobre o prprio social.

    A unidade do grupo social tambm um lugar no qual se revela a analogia existente entre a for-ma social e aquela religiosa. Contudo, para Simmel, diferentemente de para Durkheim, a religio no apenas o smbolo da unidade do grupo social, mas tem uma relativa independncia. Simmel reconhe-ce, como Durkheim, que as exigncias prticas da existncia, especialmente a necessidade de coeso do grupo para enfrentar os ataques dos inimigos e os perigos do ambiente natural, solidifi cam os laos so-ciais; a unidade do grupo torna-se, assim, a base para conceber a unidade da existncia mais alm da sua heterogeneidade, e o todo sublimado na unidade religiosa da existncia, sustentada pelo conceito de Deus. Todavia, uma vez constituda, a forma religio-sa elucida uma atividade autnoma, como se pode ver pelas vicissitudes do cristianismo primitivo. Com o declnio do mundo antigo, a Igreja, graas forte coeso social atingida, nas comunidades, objeto de perseguio, acabou atribuindo-se um valor abso-luto, como se fosse a realizao do Reino de Deus anunciado por Jesus. Para Simmel, isso constitui um exemplo que confi rma, posteriormente, a analogia existente entre o social e a religiosidade:

    Aqui aparece, claramente, que o valor da religio o de exprimir a forma sociolgica da reciprocidade, que ns chamamos de unidade de grupo.280

    Todavia, de forma diferente do que acontece nas vrias teorias reducionistas, para Simmel no lcito dessa analogia deduzir o carter fi ctcio da religio. Esta , sem dvida, real, justamente por causa das funes exercidas e dos novos processos simblicos que introduz no social.

    De fato, somente na esfera religiosa possvel re-alizar, simbolicamente, a unidade da sociedade, isto , aquela coeso perfeita do grupo, imune das riva-lidades surgidas da competio entre os membros, que, na vida cotidiana, uma tenso destinada a ser frustrada perenemente. Na vida litrgica a cele-brao dos sacramentos, como a comunho, ou de festa religiosas, como o Natal , Simmel v realiza-da, efetivamente, a unidade do grupo social. De fato, somente no plano simblico possvel atingir aquela igualdade perfeita que se deseja no plano social, isto , a consecuo, por parte de cada membro da socie-dade, dos mesmos fi ns mediante os mesmos meios. Alm disso, a unidade atingida sem provocar rivali-dades ou rancores e no respeito liberdade de cada

    um, isto , evitando recorrer coero. Simmel mos-tra a importante funo integradora das festividades religiosas, como o Natal, nas quais o aspecto que o apelo interioridade:

    Elas suprimem radicalmente as barreiras que habitual-mente isolam os indivduos em suas simpatias e repul-sas. Assim, o princpio social de conciliao transcende o carter sociologicamente estabelecido para se atingir a interioridade destas festas religiosas, e o seu esprito re-cebe disso um simbolismo universal e positivo,281 o sim-bolismo da paz e da unidade entre os homens e povos.

    No cristianismo, a capacidade de a religio repre-sentar, simbolicamente, a unidade do grupo social aparece em grau mais elevado, mesmo se e talvez justamente por isso , nas outras esferas de vida, tal unidade esteja longe de ser efetiva. Os indivduos po-dem estar em contraste entre si, seja como cidados, seja como concorrentes no campo econmico, ou podem at ser malfeitores, mas, como crentes, po-rm, todos fazem parte da mesma comunidade e tm acesso aos mesmos bens religiosos. Simmel descobre que a funo integradora elucidada pelo cristianismo o resultado de um longo processo evolutivo, marca-do pela progressiva transcendncia da divindade em relao ao grupo social.

    IV. Simmel descobre uma oposio profunda e grvida de conseqncias entre o indivduo e a so-ciedade. Esta aspira totalidade e unidade orgnica e, por isso, requer que o indivduo se identifi que com o prprio papel. Mas a isso ope-se a tendncia do indivduo de conceber a unidade da sociedade como expresso da prpria individualidade. Para Simmel, como para Durkheim, confi gura-se um contraste en-tre primado do social e auto-realizao individual, que ele resolve de maneira oposta do perito francs. Todas as simpatias de Simmel so para os esforos do indivduo para defender a prpria auto-determina-o, das coeres sociais, e para conseguir a prpria afi rmao na sociedade.282

    Na esfera religiosa, o contraste entre individual e social encontrou sua expresso teolgica na questo do livre-arbtrio, que Simmel resume na seguinte per-gunta: A vontade divina, soberana e absoluta do de-vir universal, determina o homem a ponto de ele no ter mais nem liberdade, nem responsabilidade?283 Simmel observa que a resposta teolgica restabele-ce, em nvel simblico, um confl ito que no pode ser eliminado, e que prprio da cultura moderna ,284entre o desejo de liberdade e de autonomia ao dar sentido ao mundo, de um lado, e a importncia de pertencer a uma ordem da qual advm a prpria segurana, mesmo se obtida a preo de subordinao aos imperativos sociais.285

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    A analogia entre o religioso e o social encontra, aqui, sua dimenso mais profunda. Contudo, trata-se de duas esferas distintas, pois somente na religiosa possvel encontrar a conciliao entre as exigncias opostas do indivduo e as da sociedade. Tambm no confl ito entre indivduo e sociedade Simmel v um paralelismo entre evoluo social e concepes reli-giosas. De modo particular, a diviso do trabalho no apenas constitui um processo de diferenciao social e econmica, mas, ao mesmo tempo, coordenando os papis individuais, coloca as bases sociais da con-cepo da unidade simblica da sociedade, a qual, por sua vez, constitui o corretivo dos antagonismos individualizantes, suscitados pelo mercado. No pro-cesso de diferenciao social, porm, existem tam-bm aspectos que se opem integrao social: se verdade que a diviso social do trabalho cria maior interdependncia entre os indivduos, ao mesmo tempo, atravs da crescente especializao e racio-nalizao, cria as premissas para um maior individu-alismo e, portanto, para um antagonismo crescente e estendido a um grupo maior de indivduos.

    Simmel concorda, aqui, com a anlise que Durkheim tinha desenvolvido na Diviso do trabalho social (1893), no condividindo, porm, de maneira alguma, o primado que o colega francs assinalara ao todo social: suas simpatias so para o indivduo, e lamenta o sacrifcio das exigncias pessoais sobre o altar do bem coletivo.286 Por isso, somente em nvel religioso possvel recompor aquilo que a diviso social do trabalho e o mercado tendem a dividir e a contrapor. Somente nesta esfera cultural o coleti-vo no se contrape ao individual, como evidente no caso da orao comum. Se a diviso do trabalho produz a fragmentao dos signifi cados em todos os campos, na esfera religiosa, porm, diferentemente daquela social, existem amplos recursos simblicos para conferir sentido e sublimar os confl itos.

    Desse modo, satisfazendo as mais profundas exi-gncias do indivduo para o absoluto, a religio exer-ce aquela que, em termos especfi cos, retomando a expresso de Bryan R. Wilson, podemos chamar de uma funo soteriolgica.287 Ela brota do fato que as relaes sociais, transformadas por efeito do a prio-ri religioso, no constituem uma simples duplicata da realidade; ao contrrio, esse duplo, que mais puro e perfeito do que o social, reverbera, por sua vez, luz nova sobre a realidade, permitindo restaba-lecer a antinomia entre indivduo e sociedade, que, de outra maneira, seria insanvel.

    V. Para Simmel, a evoluo religiosa tende sem-pre para uma maior diferenciao, dentro da religio, entre a relao direta e imediata do indivduo com a

    divindade, e aquela mediata do prprio grupo social. Enquanto este ltimo tipo de relaes parece ser ca-racterstico das sociedades primitivas e antigas, em que domina, tambm na religio, o particularismo e o exclusivismo, o relacionamento direto e imediato do indivduo com a divindade afi rma-se no cristia-nismo, que instaurou uma concepo universalista e aberta, inclusive para quem no pertence a um dado grupo social.

    O Deus dos cristos foi o primeiro a expandir a pr-pria esfera de influncia para quem ainda no acredi-tava nele. De todas as foras vitais, ele foi o primeiro a quebrar o exclusivismo do grupo social, que at ento havia dominado todos os interesses dos membros, no espao e no tempo.288

    Parece apresentar-se, aqui, o grande tema webe-riano da racionalizao, mesmo se mais na perspec-tiva, que ser assumida por Parsons, da universaliza-o dos valores, e no do desencanto do mundo.289 Seguindo sempre o fi o vermelho da analogia entre concepo do divino e formao do grupo social, Simmel descreve a dinmica interna da tendncia re-ligiosa universal.

    A idia de universalidade, surgida historicamente com o cristianismo, constitui, para Simmel, a crista-lizao de relaes sociais de particular intensidade dentro do grupo. Aqui, porm, o a priori religioso adquire uma independncia tal do contedo, a pon-to de ultrapassar, qualitativamente, o nvel atingido pelas condies sociais e pelas relaes sociais que lhe serviram de premissas. Esse excesso da forma re-ligiosa a respeito do contedo social evidente nas tenses internas que se verifi cam entre o grupo social e o indivduo, a partir da concepo crist. De fato, o cristianismo, afi rmando relacionamento privilegia-do entre o indivduo e Deus, subtrai o primeiro da subordinao social, que constitui regra nas outras religies. O valor absoluto do indivduo, por sua vez, constitui a base para a afi rmao histrica de um novo tipo de religiosidade, que , por excelncia, in-dividual: o misticismo.

    Tambm nesse caso, a condio de possibilidade para a institucionalizao do novo grau da evoluo religiosa a analogia entre o social e o religioso. Desta vez, tal condio dada no pela natureza, mas pela

    unidade enigmtica (do grupo social, n. d. tr.), que leva uma vida produtiva para alm dos indivduos e segundo suas normas supra-individuais. Como diante da nature-za, a reao religiosa brota, aqui, do sentimento prtico de solido e de impossibilidade de uma explicao te-rica. Essa reao, evidentemente, no caracterstica do grupo, que representa a totalidade dos indivduos.290

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    No Die Religion, Simmel no aprofunda, como esperaramos por coerncia interna do discurso, a anlise da religiosidade mstica, limitando-se a mos-trar, tratando da diferenciao social, que a religio individual o correlato simblico da afi rmao do indivduo no plano social, mas purifi cada das tenses e dos antagonismos que a caracterizam na sociedade moderna. Todavia, possvel ver o quanto seja im-portante, para Simmel, esta ltima objetivao do a priori religioso, no papel de que esta se reveste nas obras posteriores. Por exemplo, em Letica e i proble-mi della cultura moderna, Simmel291 afi rma que, nos escritos do mstico alemo mestre Eckhart, mani-festa-se o fato de que a condio religiosa, em sua unidade, o verdadeiro religiosum: nisto consistiria a verdadeira unidade com Deus. O mstico aque-le que reconciliado completamente com a prpria vida pelo a priori religioso, a ponto de no neces-sitar de uma religio. So os outros homens que tm necessidade dos dogmas e dos ritos:

    A vida deles no transcendente em si; por isso an-seiam por um transcendente diante de si mesmos. No so religiosos, por isso querem ter uma religio. Por ou-tro lado, porm, a excessiva plenitude do homem reli-gioso freqentemente reflui para um dogma.292

    Em outras palavras, para Simmel a religiosidade mstica plasma toda a vida interior do sujeito, um puro processo que transfi gura continuamente o fl uxo das vivncias, o Erleben, embora mantendo, diferen-temente do comportamento pantesta, a conscincia e a individualidade.

    Para Simmel, o misticismo encontra novas possibi-lidades de afi rmao na poca contempornea, pois trata-se de um tipo de religiosidade que satisfaz a ten-dncia geral para uma maior individualizao e uni-versalizao. Como Simmel esclarece, em Il confl itto della cultura moderna, muitas personalidades espiri-tualmente avanadas satisfazem suas necessidades re-ligiosas com o misticismo, abandonando as Igrejas, porque nele suprimida a estabilidade de contornos e a determinao de confi ns da forma religiosa.293 A tendncia para o misticismo dupla: de um lado, evidencia-se uma forma religiosa nova; do outro, est mais aberta para acolher novos contedos, porque menos estruturada; uma ilimitada amplido do sentimento religioso que no se choca com nenhu-ma barreira dogmtica; um aprofundamento dele numa infi nidade sem forma.294 O xito da diferencia-o social e religiosa parece concordar, ao indicar a emergncia de uma forma religiosa individual, capaz de colocar-se em relao imediata com a infi nitude do real, sem a mediao da religio institucional.

    O misticismo, porm, no o ltimo estgio na evoluo dos tipos de religiosidade. Simmel, anteci-pando, na Die Religion, as posies que assumir na Intuizione della vita (1918) e no Rembrandt (1919), vislumbra uma tendncia de fundo para a dissoluo das formas religiosas na vida religiosa, na religiosi-dade enquanto carter puramente funcional do pro-cesso interior da vida.295 O a priori religioso, depois de expressar-se nos tipos de religiosidade do particu-larismo, do universalismo e do misticismo, dissolve-se como forma-mundo especfi ca, para coincidir com o prprio Erleben.

    No estgio final a que esta transforrnao interna do modo de sentir visa, a religio se realizaria como uma espcie de imediata forma de vida, no como uma ni-ca melodia na sinfonia da vida, e sim qual tonalidade em que esta, como tudo, executada.296

    Em outras palavras, a totalidade da vida, qual. anseia o a priori religioso, dando forrna s relaes sociais e s vivncias, pode ser conseguida somente a preo da dissoluo da prpria forma como algo de distinto, e no tornar-se uma tonalidade que, como tal, permeia qualquer contedo. Simmel, porm, com a identifi cao de vida e religiosidade, feita nas obras do ltimo perodo, ultrapassa claramente o mbito sociolgico em que se coloca Die Religion, e sua pes-quisa desemboca no metafsico, como evidente no terceiro e ltimo perodo de sua atividade intelectu-al, conhecido como fi losofi a da vida.297 Permanece, contudo, uma certa unidade na obra de Simmel, pelo menos em nvel de sensibilidade geral e de mtodo: como na fase relacionista, assim a fi losofi a da vida tambm uma fi losofi a peculiar. Trata-se de uma meta-fsica sem pressupostos, ou seja, sem outro princpio unitrio a no ser vida que transcende tambm a si mesma. Ela representa a realizao, na prpria vida de Simmel, da religiosidade individual como forma pura.

    VI. Desta exposio sinttica dos temas da obra principal de Simmel sobre a religio parece que emer-giram duas ordens de contribuies para a renovao da sociologia da religio hodierna. A primeira diz res-peito possibilidade de renovao epistemolgica, oferecida pela teoria das formas culturais e, em ge-ral, pela perspectiva relacionista. A segunda srie de contribuies se atm possibilidade de interpretar a nova sensibilidade religiosa, caracterstica de clima cultural atual, indicado pela metfora da socieda-de ps-moderna, qual dedicaremos, mais adiante, uma exposio mais aprofundada.298

    Sob o primeiro aspecto, as possibilidades de re-novao epistemolgica da sociologia da religio devem ser conseguidas superando a obscuridade e

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    assistematicidade da obra de Simmel, difi culdades essas reconhecidas pelo prprio autor.299 A nosso ver, a maior fecundidade da contribuio de Simmel con-siste na possibilidade de postular no apenas uma categoria que unifi que todos os fenmenos religio-sos, isto , o sagrado, mas um conjunto de categorias seria melhor falar de formas culturais religiosas , que dependem de outras tantas formaes sociais. Sagrado, f, piedade, misticismo: para Simmel, no se trata de conceitos contrapostos, de modo que cada um deles, tomado separadamente, falhe na pretenso de prestar conta da poliedricidade do fenmeno re-ligioso, assim como se apresenta nas vrias pocas e religies. Trata-se, ao invs, de formas diferentes e complementares, cada qual representando um con-densado de relaes sociais determinadas, originadas em pocas diferentes e caracterizadas por modalida-des especfi cas de expresso social da nica tenso para a transcendncia.

    Neste ponto, delineia-se a tarefa de dar expresso ao pensamento profundo de Simmel, opondo-se sua sistemtica assistematicidade, isto , tentando for-mular uma teoria das formas religiosas. No este o lugar para realizar uma tal empresa; podemos apenas remeter a alguns ensaios, nos quais discutimos estes e outros temas,300 na perspectiva da sociologia rela-cional, que nos parece ser a mais homognea para o enfoque de Simmel. De fato, esta teoria301 no somen-te assume a relao social como objeto especfi co da sociologia,302 como tambm tem o mrito, a nosso ver, de mostrar que a relao social, analiticamente, pode ser decomposta nos dois aspectos que passam a cons-tituir o prprio fato social, isto , o aspecto simblico e o estrutural, e que, na teoria sociolgica contem-pornea, aparecem muito freqentemente cindidos ou artifi cialmente contrapostos. De fato, basta pensar que o aspecto simblico foi evidenciado pela socio-logia abrangente e pela fenomenologia social (inclu-dos os diversos desenvolvimentos posteriores: inte-racionismo simblico, etnometodologia etc.), muitas vezes em contraposio com o estrutural, sobre o qual tinham insistido, talvez de maneira muitas ve-zes unilateral, a sociologia marxista e a funcionalista. Raramente o fato social foi visto como integrao das perspectivas simblica e estrutural: freqentemen-te, a anlise foi conduzida em termos de aut... aut ao invs de et... et, isto , pondo em relao, num plano de reciprocidade, os elementos de valor e nor-mativos com aqueles instrumentais e condicionais.

    A sociologia da religio de Simmel, assim como sua sociologia geral, agora esto em consonncia com a teoria relacional, tanto do ponto de vista epis-temolgico como metodolgico. De fato, como su-

    blinhamos, mais de uma vez, ao expor a Die Religion, Simmel mostra, continuamente, que as formas reli-giosas so o produto do assumir de dadas relaes sociais (o aspecto estrutural) sob o a priori religioso (o aspecto simblico). Em perspectiva evolutiva, Sim-mel sublinha a emergncia de formas religiosas dis-tintas sagrado, f, piedade, misticismo , sendo que cada uma delas constitui a cristalizao, em nvel religioso, de determinadas relaes sociais e que, por sua vez, contribui para detonar determinados proces-sos sociais. Se no se quisesse dar a impresso de ler Simmel numa perspectiva evolucionista, poder-se-ia sugerir a idia que a primeira forma cultural o sagrado se cristaliza nas sociedades pr-literrias, enquanto corresponde a relaes sociais nas quais, como oportunamente sublinhou Durkheim, a indivi-dualidade aparece fundida na conscincia coletiva, e nas quais o tacto social prescreve comportamentos regulados por um ccligo moral rigidamente binrio. Por sua vez, f, piedade e misticismo aparecem como formas culturais que, embora tenham sido cristaliza-das nas formaes sociais pr-modernas, assumem importncia crescente, a partir do surgimento da so-ciedade moderna, correspondendo primeira dife-renciao entre individualidade e conscincia cole-tiva. Finalmente, a coincidncia entre religiosidade e forma de vida, que Simmel vislumbra como tendn-cia de fundo na sociedade contempornea, pode ser considerada uma interessante antecipao de uma das diversas modalidades com que a ps-moder-nidade se relaciona com a religio, dentro de uma modalidade geral que Jameson303 chamou de pastiche.

    Contudo, no devemos cair no erro de conside-rar esta teoria das formas religiosas numa perspecti-va evolucionista, ou o que fundamentalmente o mesmo numa tica modernista. Simmel antecipa a ps-modernidade, na medida em que d a entender que sagrado, f, piedade, misticismo, religiosidade difundida na vida so formas juntamente presentes, na mesma sociedade, em medida variada e segun-do processualidades diferentes. Essa perspectiva pa-rece-nos particularmente fecunda para interpretar a polivalncia assumida pelos fenmenos religiosos na sociedade e para tentar compor o debate entre os de-fensores do eclipse do sagrado e, ao contrrio, do seu retorno, sobre o que falaremos mais adiante.304 As dvidas recentemente levantadas por Beckford305 sobre a validade heurstica do conceito de sagrado, juntamente com os equvocos gerados pelas diferen-tes teorias da secularizao,306 talvez entendida como um decrscimo da esfera sacral que se traduz ime-diatamente no crescimento da esfera profana, ama-durecem os tempos para uma nova sociologia da

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    religio, capaz de superar a dicotomia durkheimiana entre sagrado e profano.

    O surgimento dos novos movimentos religiosos em nvel internacional,307 assim como os fenmenos, registrados tambm na Itlia, na contramo do trend secularizante,308 exigem, de fato, uma nova perspec-tiva terica. Atitudes e prticas dessecularizantes de sujeitos e movimentos no podem ser interpretados, imediatamente, como um novo processo de ressacra-lizao. De fato, notamos modalidades no-sacrais de relao com a transcendncia, que, para serem adequadamente compreendidas, postulam a utiliza-o de novas categorias e de abordagens mais fl e-xveis, em sintonia com a autocompreenso da so-

    ciedade ps-moderna. Parece-nos que o enfoque de Simmel, fornecendo justamente um conjunto de categorias aptas para distinguir as formas sacrais (em baixa, na sociedade moderna) de outras formas reli-giosas (f, piedade e misticismo), que esto em alta, no somente podem dar uma poderosa contribuio compreenso do fenmeno religioso na sociedade, ps-moderna, mas que tambm pode constituir um ponto de referncia para uma sociologia da cultura renovada, que constitui um dos resultados mais inte-ressantes do novo movimento terico na sociologia dos anos 80, como procuraremos mostrar nas consi-deraes seguintes.

    Notas* Texto extrado da obra A religio na sociedade ps-moderna, de Stefano Martelli, So Paulo, Paulinas, 1995, pp 217-259.263 Simmel tornou-se conhecido, na Itlia, por meio de Antonio Banfi, que foi seu aluno, em Berlim.

    Primeiramente, foram traduzidas as obras do ltimo perodo (a filosofia da vida); as obras sociolgicas, porm, continuaram inacessveis ao leitor italiano at pouco tempo, ainda que sobre La Riforma Sociale, de 1898, tivesse aparecido a traduo do fundamental ensaio Das Probleme der Soziologie (G. Simmel, Sociologia, Comunit, Milano, 1989, 5-39). Uma nova tentativa de difundir o pensamento sociolgico de Simmel foi realizada por Roberto Michels nos anos 30, com a traduo do c. 6 da Soziologie (cf. Simmel, Lintersecarsi dei cerchi sociali (1934), in R. Michels, ao cuidado de, Politica ed economia, UTET, Torino).

    264 A partir dos anos 70 foram traduzidas quase todas as obras sociolgicas de Simmei por vrios peritos italianos, como Carlo Mongardini (Cf. Simmel, Il conflitto della cultura moderna e altri saggi, Bulzoni, Roma, 1976; Idem, Il dominio, Bulzoni, Roma, 1978), Alessandro Cavalli (cf. Simmel, Filosofia fiel denaro, UTET, Torino, 1984; Idem, sociologia), Bruno Accarino, (cf. Simmel, I problemi della filosofia della storia, Marietti, Casale Monferrato, 1982), Alessandro Dai Lago, (cf. Simmel, Forme e giochi di societ. Problermi fondamentali della sociologia, Feltrinelli, Milano, 1983), e outros mais.

    Na prtica, todas as obras principais de Simmel foram traduzidas para o italiano, exceto a obra Die Religion (Mtten und Loening, Frankfurt a. M., 1906, 2. ed. acr. 1912, 3. ed., 1922).

    265 Na Itlia, no se deu ateno a esta obra, e isso contrasta com a ateno que lhe foi dada em outros pases: as tradues francesas e inglesas da obra esto disponveis desde os anos 60. Na Alemanha saram diversos estudos a respeito, e recentemente Horst.-J. Helle organizaram a edio crtica e completa dos numerosos escritos de Simmel sobre a religio; cf. G. Simmel, Gesammelte Schriften zur Religionsoziologie, Duncker & Humblot V., Berlim, 1989. A espera de uma anunciada traduo italiana desta preciosa coleo (aos cuidados de R. Cipriani), ns demos dela uma ampla sntese, no estudo La forma pura. Religiosit e relazione sociali nellopera Die Religion di G. Simmel, que aparece no volume de Ampola-Martelli, ao cuidado de, Questioni e metodi in sociologia della religione, em via de publicao.

    266 A nosso ver, para identificar a posio epistemolgica de Simmel, o termo menos preconceituoso relacionismo. Ele parece-nos expressar melhor a inteno profunda da teoria do conhecimento de Simmel, o propsito de superar o dualismo sujeito/objeto, assumindo a relao como forma que constitui qualquer campo de pesquisa. Para Simmel, em sociologia, objeto prprio da anlise sociolgica a relao social. Para uma interpretao de Simmel em chave de teoria relacional, cf.: P. Donati, La categoria della relazione sociale moderna e post-rnoderna, comunicao feita no encontro europeu Amalfi, apostilado, 1988, especialmente o par. 3, 9-11, agora em C. Mongardini-M. L. Maniscalco, ao cuidado de, Moderno e postmoderno. Crisi di identit di una cultura e ruolo della sociologia, Bulzoni, Roma, 1990.

    Por sua vez, Helle, em seu aprofundado estudo do pensamento simmeliano, explica a acusao de relativismo feita contra Simmel e, ao mesmo tempo, a rejeita: quem permanece ligado ao pensamento conceitual esttico no v, no enfoque de Simmel, seno a dissoluo de toda estabilidade e, conseqentemente, presumir um relativismo que confiaria a escolha das normas do agir ao gosto individual. Simmel,

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    porm, no quer substituir um valor supremo estaticamente concebido por um outro estaticamente concebido, nem quer desdogmatizar uma variedade de impostaes dogmticas a serem deixadas livre escolha. Quer, ao invs, ligar a orientao suprema e ltima prpria dinmica... Para Simmel interessa o processo no qual se confere valor, no qual se desenvolve a valorao, e quer orientar a sua tica conforme a dinmica desse processo. O tema do processo valorativo leva-lo- at sua Philosophie des Geldes, isto , a Filosofia del denaro (cf. H. J. Helle, Epistemologia ed evoluzionismo in G. Simmel in Idee, (1988) 7/8, 25-40, especialmente 16-17).

    267 Antonio Banfi esclareceu muito bem o significado da epistemologia simmeliana e em particular do conceito de a priori, ao qual Simmel chega na Filosofia del denaro, aps a crtica a Rickert e aos neo-kantianos: O a priori sujeito quanto o objeto constituem os princpios gerais de coordenao da vida e se expressam nas exigncias ideais que orientam a cultura... Poderemos dizer que a atitude de Simmel permanece sempre fenomenolgica e no transcendental (cf. A. Banfi, Georg Simmel e la filosofia della vita, in Idem, Filsofi contemporanei, Parenti, Milano-Firenze, 1961-172s). Para a relao entre a epistemologia de Simmel e a escola de Baden, cf. P. Rossi, Lo storicismo tedesco contemporaneo, 3. ed., Einaudi, Torino, 1979, p. III, 187-247. Analisamos detalhadamente a epistemologia de Simmel no estudo La forma pura, ao qual remetemos para outros aprofundamentos.

    Simmel precedeu, e certamente influenciou, as aquisies dos socilogos do conhecimento, especialmente M. Scheler, Sociologia del sapere, 2. ed., Abete, Roma, 1976; de K. Mannheim, Ideologia e utopia, 4.ed., Il Mulino, Bologna, 1985, e de A. Schltz, La fenomenologia del mondo sociale, Il Mulino, Bologna, 1974.

    268 Cf. Simmel, Die Religion, 9-10.269 Cf. G. Simmel, Letica e i problemi della cultura moderna, Guida, Napoli, 1968, 75.270 Cf. Simmel, Letica e i problemi della cultura moderna, 49ss.271 Freund individuou a autntica originalidade da sociologia da cultura simmeliana na concepo da oposio

    entre formas e vida, pela qual aquelas surgem desta como configuraes cristalizadas, subsistem em base de sua lgica imanente, inclusive opondo-se a esta; em seguida, porm, so tambm desestruturadas e novamente plasmadas pelo fluxo incessante da prpria vida (cf. J. Freund, Introduction, in G. Simmel, Sociologie et pistmologie, PUF, Paris, 1981, 7-78, especialmente 34-49). Dalziel Duncan, por sua vez, frisou muito bem o carter autnomo das formas sociais, especialmente da sociabilidade, que define a forma ldica (play-form) da associao (sociation) entre indivduos (cf. H. Dalziel Duncan, Simmels lmage of Society, in K. H. Wolff, ao cuidado de, Georg Simmel 1858-1918, The Ohio State U.P., Columbus, 1959, 100-118).

    272 Cf. H. Mauss, Simmel in german sociology, in Wolff, ao cuidado de, Georg Simmel, 1858-1918, 180-200, j havia sublinhado as ligaes de amizade entre os dois autores, mostrando tambm as suas diferenas, sobretudo referentes relevncia, indicada por Weber, da compreenso dos motivos individuais na ao social. Weber, particularmente, mostra-se crtico em relao ao uso, feito por Simmel em campo sociolgico, da categotia da analogia. O destaque crtico coloca-se dentro de um ensaio sobre a sociologia de Simmel, que Weber tinha iniciado, partindo da tentativa falida de obter, para o amigo, uma ctedra nas universidades alems, mas que deixou incompleto (cf. M. Weber, Georg Simmel as sociologist, in Social Research, 39(1972), 159s.). Para uma reflexo sobre as crticas weberianas a Simmel, cf. S. Segre, Weber contro Simmel. Lepistemologia di Simmel alla prova della sociologia comprendente, ECIG, Genova, 1987.

    273 Cf. Simmel, Die Religion, 17.274 Cf. Simmel, Die Religion, 18.275 Cf. Simmel, Die Religion, 21.276 Cf. Simmel, Die Religion, 27-28.277 Cf. Simmel, Die Religion, 41.278 Cf. Simmel, Die Religion, 36.279 Cf. Simmel, Die Religion, 48.280 Cf. Simmel, Die Religion, 57.281 Cf. Simmel, Die Religion, 43.282 Cf. Simmel, Die Religion, 64-65.283 Cf. Simmel, Die Religion, 65.284 Cf. Simmel, Il conflito della cultura e altri saggi, ao cuidado de C. Mongardini, Bulzoni, Roma, 1976.285 Cf. Simmel, Die Religion, 66.286 Cf. Simmel, Die Religion, 72.

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    287 Cf. c. 3.4.288 Cf. 92.289 Cf. acima, respectivamente, cc. 1.5 e 1.4.290 Cf. Simmel, Die Religion, 95.291 Cf. Simmel, Letica e problemi della cultura moderna, 78.292 Cf. Simmel, Letica e problemi della cultura moderna, 79.293 Cf. Simmel, Il conflitto della cultura moderna, 128.294 Cf. Simmel, Il conflitto della cultura moderna, ivi.295 Cf. Simmel, Il conflitto della cultura moderna, 128-129.296 Cf. Simmel, Il conflitto della cultura moderna, 129.297 Cf. G. Simmel, Intuizione della vita (Quattro capitoli metafisici), Bompiani, Milano.298 Cf. tambm c. 5.2-3.299 Cf. C. Mongardini, Aspetti della sociologia di Georg Simmel, in Simmel, Il conflitto della cultura moderna, XLIV.300 Cf. S. Martelli, Le sociale et lassociationnisme religieux, paper apresentado ao XIIIe Congrs de lAISLF

    (Association International des Sociologues de Langue Franaise), Genvre (29 de agosto 3 de setembro de 1989); Idem, Mauss et Durkheim. Un dsaccord sur la question du sacr et une perspective relationniste sur Simmel et la socit post-moderne, paper apresentado na joint-session: Durkheim, sacr et socit no mbito do XIIth AIS/ISA World Congress (Madrid, 9-13.7.1990).

    301 Cf. P. Donati, Introduzione alla sociologia relazionale, 3. ed., Angeli, Milano, 1988; Idem, La famiglia come relazione sociale, Angeli, Milano, 1988, 9-23.

    302 Como se sabe, a relao social, sendo sob o ponto de vista filosfico uma categoria primitiva do ser e do pensar, para Donati no pode ser explicada, embora possa ser experimentada, observada e, dentro de certos limites, descrita. Se, como toda noo primria, no pode ser definida, pode, contudo, ser semantizada... Em sociologia (a relao) pode ser entendida de duas maneiras: 1) como referncia a (refero), quando A age ou se coloca como referncia a B e vice-versa, atravs de uma mediao simblica; 2) como ligao entre (religo), quando a interao entre A e B configura-se como dependncia recproca (cf. Donati, Introduzione alla sociologia relazionale, 204).

    303 Cf. F. Jameson, Il postmoderno, o la logica culturale del tardo capitalismo, Garzanti, Milano, 1989. Para aprofundar, cf. tambm o c. 5.2.

    304 Cf. tambm o c. 4.305 Cf. J. A. Beckford, Is the sacred a sociological category?, The Journal of Oriental Studies 26 (1987) 1, 33-39.306 Cf. tambm o c. 3, Terceira considerao intermediria.307 Cf. tambm o c. 4.1.308 Cf. tambm o c. 4.2.