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  • Geopoltica Hoje

    por Alain de Benoist

    Legio Victrix - 11 de novembro de 2013

    A geopoltica h muito tempo tem sido rejeitada pela opinio pblica. Aps a Segunda Guerra

    Mundial, ela se tornou a mais impopular das cincias sociais. Ela tem sido acusada de ser uma

    "cincia alem" que no significava muito, exceto que devia seu mpeto inicial aos princpios de

    geografia poltica enunciados pelo gegrafo alemo Friedrich Ratzel - o termo "geopoltica"

    tendo sido usado pela primeira vez pelo gegrafo sueco Rudolf Kjllen em 1889. Em seu livro

    "Politische Geographie oder die Geographie der Staaten, des Verkehrs und des Krieges (1897)"

    Ratzel analisou as interaes do Estado, considerado como corpo vivo, em termos de sua

    geografia e seu espao. Um de seus discpulos foi o general bvaro Karl Haushofer, fundador da

    "Zeitschrift fr Geopolitik". Foi apenas por uma bvia confuso entre espao no sentido

    geopoltico e "Lebensraum" que uma conexo/proximidade entre Karl Haushofer e o

    Nacional-Socialismo foi posta em questo. E isso de forma equivocada, e no apenas porque

    Haushofer nunca foi um idelogo do Terceiro Reich. Mais importantemente, Hitler tinha muito

    mais simpatia pelos anglo-saxes do que ele tinha pelos eslavos. Ele travou uma guerra contra a

    Rssia, uma potncia continental, e teria preferido se aliar Gr-Bretanha, uma potncia

    martima. Se ele tivesse se subscrito tese da geopoltica ele teria feito exatamente o oposto.

    Ademais, a definio do campo de estudo dessa disciplina ou de seu status jamais deixou de ser

    um problema. A geopoltica estuda a influncia da geografia sobre a poltica e a histria, isto , a

    relao entre espao e poder (poltico, econmico ou outro). Ainda assim a definio permanece

    pouco clara, o que explica que a realidade tanto do conceito como da relao com seu objetivo

    foram disputadas. Ela, portanto, tem sido descrita como uma disciplina objetivando legitimar

    retrospectivamente eventos histricos ou decises polticas.

    Essas crticas, porm, no chegam ao mago das coisas: Que podemos identificar atravs da

    histria, constantes geogrficas de ao poltica , de fato, indisputvel. A geopoltica permanece

    assim, uma disciplina de grande valor e grande importncia. at mesmo essencial se referir a

    ela em um mundo em transio, onde todas as cartas esto sendo redistribudas ao redor do

    mundo. A geopoltica pe em perspectiva o peso de fatores meramente ideolgicos, instveis por

    definio, e relembra a existncia de grandes constantes que transcendem regimes polticos bem

    como debates intelectuais.

    De todos os conceitos especficos Geopoltica, um dos mais significativos indubitavelmente a

    oposio dialtica entre Mar e Terra. "A histria mundial", disse Carl Schmitt, " a histria do

    conflito entre potncias martimas contra potncias continentais e de potncias continentais

    contra potncias martimas". Era tambm a opinio do Almirante Castex bem como o de muitos

    outros geopolticos. Halford Mackinder, por exemplo, define o poder da Gr-Bretanha pela

    dominao dos oceanos e mares. Ele percebe o planeta como uma totalidade composta de um

    "Oceano Global" e uma "Ilha Global", correspondendo a todo o espao eurasiano bem como a

    frica, e "ilhas perifricas", Amrica e Austrlia. Para dominar o mundo, devemos tomar a ilha

    global e primariamente o seu "corao", o Corao Continental, o piv geogrfico do mundo real

  • se estendendo da Europa Central Sibria Ocidental e na direo do Mediterrneo, do Oriente

    Mdio e Sul Asitico. Um dos primeiros grandes navegadores ingleses, Sir Walter Raleigh,

    costumava dizer: "Quem controla os mares controla o comrcio mundial; quem controla o

    comrcio mundial tem todos os tesouros do mundo em sua posse, e de fato, todo o mundo".

    Na histria da humanidade, o confronto entre Terra e Mar um conflito milenar entre a lgica

    continental europia e a lgica "insular" representada atualmente pelos EUA. Mas a oposio

    entre Terra e Mar vai muito alm das perspectivas oferecidas pela Geopoltica. A Terra um

    espao formado por territrios diferenciados por fronteiras. Sua lgica baseada em distines

    claras entre guerra e paz, combatentes e no-combatentes, ao poltica e comrcio. portanto o

    lugar da poltica e da histria por excelncia. "A existncia poltica pura natureza telrica"

    (Adriano Scianca). O mar uma rea/extenso homognea, a negao de diferenas, limites e

    fronteiras. um espao de indiferenciao, o equivalente lquido do deserto. Sendo desprovido

    de centro, ele conhece apenas fluxos e refluxos e assim que ele se relaciona globalizao

    ps-moderna. O mundo efetivo de fato um mundo "lquido" (Zygmunt Bauman), que tende a

    eliminar tudo que "terreno", estvel, slido, consistente, sustentvel e diferenciado. um

    mundo de fluxo operado por redes. O comrcio em si, bem como sua lgica, formado

    maneira de fluxos e refluxos.

    A geopoltica recuperou sua legitimidade com os vrios conflitos que emergiram desde a dcada

    de 70. A maioria desses conflitos foram iniciados pelos EUA. Marcados desde suas origens

    puritanas pela convico de serem "o novo povo eleito", os americanos tem tentado se

    estabelecer como um modelo universal, que traria ao mundo os benefcios do "american way of

    life" isto , um modelo de civilizao comercial, baseado na primazia do valor de troca e da

    lgica do lucro. Essa misso planetria seria seu "Destino Manifesto". A geopoltica

    precisamente a disciplina que ajuda a explicar as constantes de sua poltica externa.

    O desmonte da Unio Sovitica, ao mesmo tempo tornou a globalizao possvel e marcou o

    desaparecimento de um tremendo competidor para a potncia americana que ento teve a

    tentao de moldar um mundo unipolar sob sua hegemonia. (O que tem sido chamado "Nova

    Ordem Mundial") Aps o desmonte sovitico os EUA se encontraram como um "Imprio sem

    sombra" (Eric Hobsbawm). Confiantes em sua superioridade tecnolgica, em seu poderio militar,

    nos benefcios dados pelo sistema do dlar, eles pensaram que um "sculo americano" estava por

    vir. Convencidos a serem desse ponto em diante a nica superpotncia mundial, eles

    pretenderam desempenhar o papel de "polcia mundial". Os neoconservadores estiveram na

    vanguarda desse projeto. Essa foi a poca em que Francis Fukuyama pensou que poderia

    anunciar o "Fim da Histria", nomeadamente o triunfo do capitalismo liberal e da democracia

    dos direitos humanos como o horizonte insupervel de nosso tempo.

    Ao fim da dcada de 90, Arbatov, assessor de Gorbachev, declarou aos americanos: "Ns

    estamos dando a vocs o pior golpe: os estamos privando de seu inimigo". Palavras

    significativas. O desaparecimento do "Imprio Maligno" sovitico ameaou erradicar toda

    legitimidade da hegemonia americana sobre seus aliados. Isso significaria que, da em diante, os

    americanos precisavam encontrar um inimigo alternativo, que representasse uma ameaa, real ou

    imaginria, que lhes permitiria se estabelecerem como mestres da "Nova Ordem Mundial". o

    Isl radical, algo que eles constantemente encorajaram em dcadas anteriores, que representar

    esse papel. Mas na realidade, seu objetivo fundamental permanece imutvel. E este impedir,

    em qualquer lugar do mundo, a emergncia de um rival capaz de competir com eles e mais

  • importante controlar o Corao Continental, a "ilha global".

    Em seu livro O Grande Tabuleiro de Xadrez, publicado em 1997, Zbigniew Brzezinski enumera

    explicitamente os "imperativos geoestratgicos" que o EUA devem preencher para preservar sua

    hegemonia global. Descrevendo um projeto de "gerenciamento global" do mundo, ele alerta

    contra a "criao ou emergncia de uma coalizo eurasiana" que "poderia buscar desafiar a

    supremacia americana". Em 2001, Henry Kissinger j dizia: "A Amrica deve manter uma

    presena na sia, e seu objetivo geopoltico deve ser continuar a impedir que a sia se organize

    em um bloco no amistoso". Brzezinski relembrou por sua vez: "Quem controla a Eursia,

    controla o mundo".

    Controlar a Eursia, significa, em primeiro lugar, adotar uma estratgia de cerco da Rssia e da

    China. A estratgia do cerco Rssia inclui a instalao de novas bases militares na Europa

    Oriental, o estabelecimento de sistemas de defesa anti-msseis na Polnia, Repblica Tcheca e

    Romnia, apoiar o ingresso da Ucrnia e da Gergia na OTAN, e perseguir uma poltica

    agressiva objetivando deslocar a influncia russa em regies importantes ao redor do Mar Negro,

    do Mar Cspio e do Cucaso. Em termos de fornecimento de energia, essa estratgia leva ao

    controle dos dutos da sia Central - a sia Central sendo transformada em um protetorado

    americano - encorajando o desenvolvimento de dutos no Mar Cspio para circundar a Rssia e

    chegar Turquia, bem como limitar o mximo possvel o acesso de petroleiros russos aos

    estreitos do Bsforo e dos Dardanelos. dentro desse contexto que devemos situar as

    "revolues coloridas" na Srvia (2000), Gergia (2003), Ucrnica (2004) e Quirguizisto.

    Longe de serem movimentos espontneos, estes foram organizados e apoiados desde fora com o

    incentivo do Fundo Nacional para a Democracia, uma fachada conveniente para a CIA.

    O estabelecimento de um "arco de crise" para desestabilizar a esfera de influncia tradicional

    russa no Cucaso, Afeganisto e sia Central s pode ser compreendido nesse contexto. Usando

    a suposta "Guerra ao Terror": no Afeganisto os EUA e seus aliados estabeleceram bases

    militares nas antigas repblicas sov