Geologia Medica Brasil
-
Upload
luciana-bianco -
Category
Documents
-
view
240 -
download
0
Embed Size (px)
description
Transcript of Geologia Medica Brasil
-
GEOLOGIA MDICA NO BRASIL
EFEITOS DOS MATERIAIS E FATORES GEOLGICOSNA SADE HUMANA E MEIO AMBIENTE
2005 WORKSHOP INTERNACIONAL DE GEOLOGIA MDICARIO DE JANEIRO, BRASIL
EDITORES
Cassio Roberto da Silva
Gelogo, MSc, Chefe do
Departamento de Gesto Territorial do
Servio Geolgico do Brasil - CPRM/RJ
Bernardino Ribeiro Figueiredo
Gelogo, Professor Dr
do Instituto de Geocincias da
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - SP
Eduardo Mello De Capitani
Mdico, Professor Dr. da Faculdade de Cincias Mdicas da
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP - SP
Fernanda Gonalves Cunha
Geloga, Dra.do Departamento de Geologia do
Servio Geolgico do Brasil - CPRM/RJ
RIO DE JANEIRO, BRASIL
2006
-
550.289 Geologia mdica no Brasil: efeitos dos materiais e fatores
geolgicos na sade humana, animal e meio ambiente /
Cssio Roberto da Silva (Ed.)... [et al.]. Rio de Janeiro :
CPRM - Servio Geolgico do Brasil, 2006.
220 p. ; 28 cm
Textos do 2005 Workshop Internacional de Geologia
Mdica.
1. Geologia mdica. 2. Geocincias. I. Workshop Interna-
nacional de Geologia Mdica, 2005, Rio de Janeiro. II. Silva,
Roberto da (Ed.). III. Ttulo.
CDD 550.289
CPRM Servio Geolgico do Brasil
Rio de Janeiro
Coordenao DEPAT/DIEDIG
Editorao/Diagramao/Design
-
SUMRIO
Apresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vii
1.Geologia Mdica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
Selinus, O.
2. Geologia Mdica no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
Silva, C.R., Figueiredo, B.R., De Capitani, E.M.
3. Epidemiologia e Geologia Mdica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
De Capitani, E.M.
4. Vigilncia em Sade Relacionada a Qumicos no mbito do Sistema nico de Sade. . . . . . . . . . . 19
Netto, G.F.
5. Geoquimica Multielementar de Superficie na Delimitao de Riscos e Impactos Ambientais,
Estado do Paran, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Licht, O.A.B.
6. Geoqumica dos Solos Brasileiros: Situao Atual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Prez, D.V., Manzato, C.V., Alcntara S., Wasserman, M.A.V.
7. Biofortificao como Ferramenta para Combate a Deficincias em Micronutrientes . . . . . . . . . . . . 43
Nutti, M.
8. Evaluacin de Riesgo una Herramienta para el Proceso de Gerenciamiento Socioambiental:
Estudio de Caso Regin Norte de Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Hacon, S.
9. Riscos Sade de Substncias Orgnicas Naturais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Mello, C.S.B. de
10. Arsnio no Brasil e Exposio Humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Figueiredo, B.R., Borba, R.P., Anglica, R.S.
11. O Arsnio nas guas Subterrneas de Ouro Preto (MG) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Gonalves, J.A.C., Pereira, M.A., Paiva, J.F., Lena, J.C. de
12. Arsnio em Sedimentos Estuarinos do Canal de Acesso Baia de Antonina, Paran. . . . . . . . . . . 78
S,F., Machado, E.C., ngulo, J.R.
13. Exposio Humana ao Arsnio no Mdio Vale do Ribeira, So Paulo, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . 82
De Capitani, E.M., Sakuma, A.M., Figueiredo, B.R., Paoliello, M.M.B., Okada, I.A., Duran, M.C., Okura, R.I.
iii
-
14. Chumbo e Arsnio nos Sedimentos do rio Ribeira de Iguape, SP/PR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
Lopes Jr., I., Figueiredo, B.R., Enzweiler, J., Vendemiatto, M.A.
15. Diagnstico Ambiental e de Sade Humana: Contaminao por Chumbo em Adrianpolis,
no Estado do Paran, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Cunha, F.C., Figueiredo, B.R., Paoliello, M.M.B., De Capitani, E.M.
16. Estudo da Composio e das Fontes Isotpicas de Pb dos Aerossis em Braslia (DF) Brasil Central
Gioia, S.M.C.L., Pimentel, M.M., Kerr, A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
17. Fluorose Dentria e Anomalias de Flor na gua Subterrnea no Municipio de
So Francisco Minas Gerais, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
Velsquez, L.N.M., Fantinel, L.M., Ferreira, E.F., Castillo, L.S., Uhlein, A., Vargas, A.M.D., Aranha, P.R.A.
18. Geoquimica do Flor em guas e Sedimentos da Regio de Cerro Azul, Estado do Paran:
Definio de reas de Risco para Consumo Humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
Andreazzini, M.J., Figueiredo, B.R., Licht, O.A.B.
19. Estudo Hidrogeoqumico do Flor nas guas Subterrneas das Bacias
dos Rios Casserib, Macac e So Joo, Estado do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Panagoulias, T.I., Silva Filho, E.V.
20. Mercrio Ocorrncias Naturais no Estado do Paran, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
Plawiak, RR AB, Licht, O.A.B., Vasconcelos, E.M.G., Figueiredo, B.R.
21. Contaminao por Mercrio Antrpico em Solos e Sedimentos de Corrente de
Lavras do Sul, RS, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
Grazia,C.A., Pestana, M.H.D.
22. Implicaes de Radioelementos no Meio Ambiente, Agricultura e Sade Pblica em
Lagoa Real,Bahia, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
Oliveira, J.E.
23. Amianto: O que Tambm Importante Considerar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Scarpelli, W.
24. Crenoterapia das guas Minerais do Estado do Rio de Janeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
Martins, A.M., Mansur, K.L., Pimenta, T.S., Caetano, L.C.
25. Avaliao do Nvel de Contaminao das guas Subterrneas da Cidade de Parintins,
Amazonas, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
Marmos, J.L., Aguiar, C.J.B.
26. Caracterizao Geoqumica das guas de Sistema de Abastecimento Pblico da
Amaznia Oriental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 174
Macambira, E.M.B., Viglio, E.P.
27. Elementos Qumicos em guas de Abastecimento Pblico no Estado do Cear . . . . . . . . . . . . 183
Frizzo, S.J.
28. Avaliao da Contaminao da gua Consumida no Campus da UFRN em Relao Presena de
Nitratos Provenientes de Fossas Spticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192
Petta, R.A., Arajo, L.P., Lima, R.F.S., Duarte, C.R.
iv
-
29. Alumnio Dissovido na gua das Cavas de Extrao de Areia Um Estudo das Possveis
Implicaes de sua Toxidade Municpio de Seropdica RJ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200
Eduardo Duarte Marques, E.D., Silva Filho, E.V., Tubbs, D., Santelli, R.E., Sella, S.M.
30. A Influncia da rea Superficial das Partculas na Adsoro de Elementos Trao por
Sedimentos de Fundo: Um Estudo de Caso nas Adjacncias da Cidade de Macaba,
Estado do Rio Grande do Norte, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204
Lima, R.F.S., Guedes, J.A., Brando, P.R.G., Souza, L.C., Petta, R.A.
v
-
APRESENTAO
Este livro tem por objetivos divulgar fundamentos, metodologias e resultados de investigaes j reali-zadas dentro do conceito multidisciplinar da Geologia Mdica. O contedo composto por artigos relati-
vos s apresentaes de pesquisadores brasileiros por ocasio da realizao, do Workshop Internacional
de Geologia Mdica em junho de 2005, no Rio de Janeiro, nas dependncias do Servio Geolgico do Bra-
sil CPRM. Esta iniciativa no tem a pretenso de abarcar todo o universo de pesquisadores atuantes na
interface Geocincias e Sade, mas apresentar um panorama que reflita, de forma significativa, a situao
atual no Brasil dessa integrao de disciplinas no enfrentamento de problemas ambientais de sade.
So apresentadas no primeiro artigo, escrito pelo Dr. Olle Selinus (IMGA), as noes bsicas e a evo-
luo histrica da Geologia Mdica no mbito mundial. Segue uma breve descrio do estado da arte da
Geologia Mdica no Brasil, ressaltando-se em captulo especfico a importncia da Epidemiologia como
base da avaliao dos agravos sade no contexto da Geologia Mdica. Tambm apresentado o pro-
grama brasileiro de vigilncia em sade relacionadas a substncias qumicas.
Os demais artigos apresentam os resultados de pesquisas realizadas por vrias instituies e regies
do Brasil, abordando temas relacionados ao conceito de Geologia Mdica. Nesses trabalhos, dados produ-
zidos pelas disciplinas ligadas Geologia so correlacionados com os dados de sade das populaes, no
sentido de busca e definio de nexos causais, ou de levantamento de hipteses de trabalho a serem desen-
volvidas. Finalizando, gostariamos de agradecer a todos os autores pela valiosa contribuio, em especial
Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro FAPERJ, pelo apoio financeiro, ao Servio
Geolgico do Brasil CPRM, a Sociedade Brasileira de Geoquimica SBGq, e a International Medical Geo-
logy Association IMGA pelo incentivo e apoio logstico, certos de que juntos estamos contribuindo para a
divulgao e desenvolvimento da Geologia Mdica no Brasil, consequentemente, melhorar a qualidade de
vida de nossa populao.
Os Editores
vii
-
GEOLOGIA MDICA
Olle Selinus
Servio Geolgico da Sucia
Traduo: Fernanda Gonalves da Cunha
(Servio Geolgico do Brasil-CPRM/RJ)
INTRODUO
A Geologia Mdica definida como a cincia que
estuda a influncia de fatores geolgicos ambientais re-
lacionados distribuio geogrfica das doenas hu-
manas e dos animais.
Conseqentemente, a contribuio interdisciplinar
essencial, requer atuao de profissionais de diferentes
reas cientficas, como gelogos, mdicos, odontlo-
gos, veterinrios, toxicologistas, bilogos e agrnomos,
entre outros.
Por que a geologia importante para nossa sade?Nosso ambiente uma rede de interaes geolgi-
cas e biolgicas caracterizadas pelas relaes entre a
vida e o planeta Terra. Os elementos qumicos formado-
res das rochas e dos solos podem representar riscos
sade dos homens, dos vegetais e dos animais. Os teo-
res desses elementos em nosso ambiente podem estar
correlacionados com a deficincia e toxicidade dos
mesmos nos organismos dos seres vivos. Alguns ele-
mentos que ocorrem naturalmente na crosta terrestre
so essenciais para manuteno da nossa sade, po-
rm outros so txicos.
Antes de considerar a necessidade de limpar ou
proteger uma rea contaminada pelo homem, pru-
dente conhecer os nveis de background da regio para
determinar o grau de contaminao. Elementos que
ocorrem naturalmente no meio ambiente podem produ-
zir efeitos adversos sade quando so ingeridos em al-
tas concentraes. Os processos geolgicos associa-
dos com as atividades humanas podem redistribuir os
metais de locais onde no so prejudiciais para outros
locais onde podem afetar, negativamente, sade dos
homens e dos animais.
As rochas so fonte de todos os elementos qumicos
que ocorrem naturalmente na superfcie terrestre. Os
metais so onipresentes na litosfera onde so distribu-
dos heterogeneamente e ocorrem em diferentes formas
qumicas. Os depsitos minerais representam concen-
traes naturais que so explotados comercialmente.
Quando tais acumulaes anmalas acontecem, so fo-
cos de estudos de geologia econmica. Os nveis de
background dos metais que ocorrem comumente nas
rochas, sedimentos e solos so de grande significncia
no total da quantidade de metais disponveis no meio
ambiente. Todos os elementos conhecidos esto pre-
sentes em algum nvel de concentrao no ambiente na-
tural, nos organismos humano e animal, nos vegetais e
nos minerais, e seus efeitos benficos ou malficos es-
to presentes desde o incio da evoluo do planeta.
A geologia pode alterar a sade humana. Entretan-
to, as rochas so fontes naturais de todos os elementos
qumicos que so encontrados na Terra. Muitos elemen-
tos so essenciais para a sade das plantas, dos anima-
is e do homem. A maior parte desses elementos entra no
corpo humano via alimentao e gua e atravs do ar
que ns respiramos. Atravs dos processos de intempe-
rismo, as rochas se fragmentam e formam os solos, nos
quais so cultivados produtos agrcolas e criao de ani-
mais que constituem fonte de alimentao. As guas po-
tveis permeiam rochas e solos fazendo parte do ciclo
hidrolgico. Grande quantidade de poeira e gases pre-
sentes na atmosfera resultante dos processos geolgi-
cos. Portanto, existe um vnculo direto entre a geoqumi-
ca e a sade devido ingesto e inalao de elementos
qumicos pela alimentao e respirao.
Ns precisamos entender a natureza e magnitude
dessas fontes geolgicas para desenvolver pesquisas e
avaliar o risco causado pelos metais no meio ambiente.
muito importante saber distinguir entre contribuies na-
turais e antropognicas que afetam o meio ambiente. As
concentraes dos metais podem ter diferentes ordens
de magnitude nas diversas rochas. Por exemplo, as con-
centraes do nquel e do cromo so muito mais eleva-
das em basaltos do que em granitos, enquanto que para
o chumbo ocorre ao contrrio. O intemperismo dessas
rochas resulta na mobilizao dos elementos no ambien-
te. Nos sedimentos, os metais pesados tendem a se
concentrar nas fraes mais finas e naquelas com maior
1
Olle Selinus
-
teor de matria orgnica. Xistos pretos, uma rocha de
granulao fina, por exemplo, tende - a se enriquecer
nesses elementos.
O conhecimento dos processos geolgicos tambm
fundamental para o entendimento de qual metal foi li-
berado como resultado da atividade humana.
Vulcanismo e atividades relacionadas formao
das rochas gneas so os principais processos que tra-
zem os elementos para a superfcie terrestre. Por exem-
plo, o vulco Pinatubo ejetou em dois dias, em junho de
1991, cerca de 10 bilhes de toneladas de magma e 20
milhes de toneladas de SO2, o que resultou na influn-
cia dos aerossis no clima global por 3 anos. Somente
esse evento introduziu 800.000 toneladas de zinco,
600.000 toneladas de cobre e 1.000 toneladas de cd-
mio na superfcie terrestre. Alm isso, 30.000 toneladas
de nquel, 550.000 toneladas de cromo e 800 toneladas
de mercrio foram tambm adicionadas ao ambiente su-
perficial da Terra. Erupes vulcnicas redistribuem al-
guns elementos txicos, como o arsnio, berilo, cdmio,
mercrio, chumbo, radnio e urnio, mas a maioria se
torna elemento remanescente, muitos tm ainda efeitos
biolgicos no determinados. tambm importante es-
tar consciente que se h uma mdia de 60 vulces su-
bareos em erupo na superfcie terrestre num determi-
nado momento, vrios elementos so lanados no ambi-
ente. Vulcanismo submarino at mais significante do
que os das margens continentais e tem sido estimado
cautelosamente que so no mnimo 3.000 chamins nas
cadeias mesocenicas. Um fato interessante que cer-
ca de 50% de SO2 de origem natural, principalmente
proveniente de vulces, e somente 50% tem origem nas
atividades humanas.
Os elementos que ocorrem naturalmente no so
distribudos igualmente na superfcie terrestre e os pro-
blemas podem surgir quando as concentraes dos ele-
mentos so muito baixas (deficincia) ou muito elevadas
(toxicidade). A incapacidade do ambiente prover o ba-
lano qumico dos elementos pode levar a srios proble-
mas de sade. As interaes entre o ambiente e a sade
so particularmente importantes para a sobrevivncia
das populaes que so altamente dependentes do
ambiente local para suprir sua alimentao. Aproxima-
damente 25 dos elementos que ocorrem naturalmente
so conhecidos por serem essenciais vida das plantas
e dos animais, incluindo Ca, Mg, Fe, Co, Cu, Zn, P, N, S,
Se, I e Mo. Por outro lado, o excesso desses elementos
pode causar intoxicao. Alguns elementos como o As,
Cd, Pb, Hg e o Al no possuem funo biolgica ou a
possuem de forma limitada e so geralmente txicos
para o homem.
Muitos desses elementos so conhecidos como ele-
mentos-trao porque eles geralmente ocorrem em pe-
quenas concentraes (mg/kg ou ppm) em muitos solos.
A deficincia de elementos-trao nas culturas agrcolas e
nos animais so comuns em grandes reas em vrias re-
gies do mundo e, por essa razo, programas de suple-
mentao mineral so prticas aplicadas na agricultura.
Deficincia de elementos-trao pode empobrecer o pas-
to, dificultar o crescimento animal e causar desordens re-
produtivas. Esses problemas freqentemente geram
grande impacto em populaes pobres que no podem
gastar com intervenes nutricionais para seus animais.
Interaes, especiao e biodisponibilidadeAlm do entendimento sobre as fontes naturais e an-
tropognicas das substncias perigosas ao ambiente,
tambm importante considerar a exposio e a biodispo-
nibilidade. Exposio a descrio qualitativa e/ou quan-
titativa do total da substncia qumica que entra e assi-
milada pelas diversas vias de exposio. Biodisponibili-
dade a proporo da substncia qumica disponvel
para entrar no organismo atravs de uma determinada via
de exposio. A biodisponibilidade influencia diretamen-
te na exposio e, portanto, o efeito e risco em relao
sade. Grandes quantidades de substncias, potencial-
mente prejudiciais sade podem estar presentes no
meio ambiente, mas se no estiverem em forma qumica
biodisponvel, o risco para a sade pode ser mnimo. A bi-
odisponibilidade depende no somente das formas fsica
e qumica do elemento, mas tambm de outros fatores
ambientais, tais como pH, temperatura e condies de
umidade. A biodisponibilidade e a mobilidade de metais
como o zinco, chumbo e cdmio so maiores em condi-
es cidas e tornam-se menos biodisponveis com o au-
mento do pH. Tambm o tipo de solo, o seu contedo de
argila e areia e suas propriedades fsicas afetam a migra-
o dos metais atravs deles. Os organismos presentes
nos solos tambm afetam a solubilidade, o transporte e a
biodisponibilidade do metal.
Alm disso, foi demonstrado no caso de estudo com
o arsnio em Bangladesh, o perigo potencial somente se
torna um problema se existe uma rota de exposio. O
potencial de dano sade, relacionado aos elevados
teores de arsnio nas guas subterrneas, existe h mil
anos, mas somente nos anos recentes, com a necessi-
dade de perfurar poos de gua para consumo da popu-
lao, foi que a via de exposio ficou estabelecida e os
efeitos na sade se manifestaram. Na ausncia de expo-
sio, no haveria efeitos adversos.
As vias de exposio incluem ingesto (alimentos,
gua, ingesto acidental ou no de solo), absoro der-
mal e inalao. Em termos de ingesto, se d muita nfa-
se gua pela facilidade de coleta e anlise. Contudo,
os solos e os alimentos so de grande importncia na di-
eta porque as concentraes das substncias potencial-
mente perigosas nos solos so mais elevadas (ppm) do
que na gua (ppb). Se a ingesto de solo
2
Geologia Mdica
-
no-intencional ou se caracterizada pela ingesto deli-
berada de solo, conhecida como geofagia, essa via de
exposio no deve ser subestimada. Por exemplo, es-
tudos no Knia tm mostrado que 60-90% de crianas
entre 5 a 14 anos de idade praticam geofagia e cada cri-
ana consome em mdia 28g de solos por dia.
Na discusso da geologia mdica tambm neces-
srio conhecer quais elementos so essenciais para os
homens e animais. Os principais elementos so: clcio,
cloro, magnsio, fsforo, potssio, sdio e enxofre. Os
elementos-trao essenciais so: cromo, cobalto, cobre,
flor, ferro, mangans, molibdnio, zinco e selnio. Os
elementos que provavelmente no participam dos pro-
cessos biolgicos so chamados elementos
no-essenciais e, freqentemente, apresentam proprie-
dades perigosas, por exemplo: arsnio, cdmio, merc-
rio e chumbo. Exposio a metais pesados pode resultar
em efeitos negativos.
A maior parte dos metais pesados essencial em
diferentes funes biolgicas nos organismos (por
exemplo, o cobalto, cobre, mangans, molibdnio, zin-
co, nquel e vandio). Eles so denominados micronutri-
entes. Em altas concentraes, no entanto, todos esses
metais produzem efeitos adversos nos organismos. A in-
troduo de metais pesados, em larga escala, na socie-
dade a tecnosfera e eventualmente na biosfera tem
trazido tona os efeitos txicos nos animais e plantas e
caminhos no-sustentveis. Cdmio, mercrio, chumbo,
cobre e outros metais tm relao com vrios efeitos na
vida dos organismos. Destes, o mercrio e o chumbo
no participam de nenhuma funo biolgica nos orga-
nismos vivos.
Exemplos de geologia mdicaO arsnio inorgnico um dos elementos txicos
mais conhecidos. Exposio crnica ao arsnio afeta
particularmente a pele, membranas mucosas, sistema
nervoso, medula ssea, fgado e corao. A toxicidade
do arsnio altamente dependente de sua forma qumi-
ca. A essencialidade do arsnio tem sido mostrada em
estudos com animais, mas no com humanos. As emis-
ses naturais de arsnio no mundo para a atmosfera na
dcada de 80 foram 1,1 a 23,5 toneladas por ano, devi-
das principalmente aos vulces, partculas de solo leva-
das pelo vento, spray marinho e processos biognicos.
Apenas a combusto de carvo contribui com 20% das
emisses atmosfricas, e o arsnio das cinzas do carvo
pode ser lixiviado para os solos e para as guas.
Est havendo um aumento do conhecimento sobre
a toxicidade do arsnio devido exposio a elevadas
concentraes no ambiente geoqumico. Os efeitos na
sade humana devidos ao arsnio so reconhecidos
pela Organizao Mundial da Sade (OMS), que tem re-
baixado o nvel de segurana para o arsnio em guas
potveis de 50mg/l para 10mg/l. Entre os pases com ca-
sos estudados e documentados de intoxicao por ars-
nio esto Bangladesh, ndia (West Bengal), Taiwan, Chi-
na, Mxico, Chile e Argentina. Os sintomas mais comuns
da toxicidade crnica do arsnio so conjuntivites, mela-
nomas, despigmentao, queratose e hiperqueratose.
Como nos casos da ndia e Bangladesh, a relao entre
a exposio excessiva ao arsnio e casos de cncer in-
terno e de pele tambm ocorrem em Taiwan. A fonte do
arsnio natural, o elemento est presente nos minerais
formadores das rochas, incluindo os xidos de ferro e as
argilas, mas principalmente em sulfetos, especialmente
em pirita e arsenopirita.
O radnio um gs radioativo que ocorre natural-mente, incolor, inodoro, e sem paladar, e somente
pode ser detectado com equipamento especial. Ele
produzido por decaimento radioativo do rdio, o qual,
por sua vez, derivado por decaimento radioativo do
urnio. O urnio encontrado em baixas concentraes
em solos e nas rochas, variando de lugar para lugar. O
radnio, sob forma de partculas radioativas pode entrar
no corpo atravs da inalao, levando ao risco de cn-
cer no trato respiratrio, especialmente nos pulmes. O
radnio inalado no ar do interior das casa responsvel
por cerca de 20.000 casos de morte ao ano, por cncer
de pulmo, nos Estados Unidos, e 2.000 a 3.000 no Rei-
no Unido. Somente o cigarro causa mais mortes por cn-
cer de pulmo.
A geologia o fator mais importante para controlar a
fonte e a distribuio do radnio. Os nveis relativamente
altos de emisso de radnio esto associados com um
determinado tipo de rocha e depsitos inconsolidados,
por exemplo, granitos, rochas fosfticas e xistos enrique-
cidos em matria orgnica. A liberao do radnio das
rochas e solos controlada largamente pelos tipos de
minerais nos quais o urnio e o radnio ocorrem. Somen-
te o gs radnio liberado desses minerais, sua migra-
o para a superfcie controlada pela permeabilidade
do leito rochoso e do solo; carreado atravs de fluidos,
incluindo o gs dixido de carbono e a gua subterr-
nea; e por fatores meteorolgicos tais como presso ba-
romtrica e chuvas.
O radnio dissolvido nas guas subterrneas pode
migrar por longas distncias atravs de fraturas e caver-
nas dependendo da velocidade do fluxo do fluido. O ra-
dnio solvel em gua e pode ser transportado por dis-
tncias maiores do que 5km em drenagens subterr-
neas, em calcrios. Se emitido diretamente na fase ga-
sosa, pode ocorrer em gua potvel de mesa (guas
minerais). A presena de gs como meio de transporte,
tal como o dixido de carbono favorece a migrao do
radnio. Esse parece ser o caso em certas formaes
carbonticas, onde as cavernas e fissuras subterrneas
possibilitam a rpida transferncia da fase gasosa. O ra-
3
Olle Selinus
-
dnio em gua para consumo pode resultar em exposi-
o humana por dois caminhos: por ingesto e por libe-
rao do radnio para o ar durante o banho ou pela chu-
va, permitindo que o radnio e seus produtos de decai-
mento sejam inalados. A presena de radnio nos solos
sob as casas a maior fonte de radnio no ar dentro das
casas, e apresenta o maior risco para cncer de pulmo
do que o radnio em gua potvel. Entretanto o radnio
em gua potvel pode ser um problema para as crianas
pequenas.
A ligao entre o bcio e a deficincia de iodo umexemplo clssico de geologia mdica. A correlao en-
tre geologia-gua-alimentao-doenas pode ser clara-
mente mostrada para o iodo. O bcio era comum nos po-
vos antigos da China, Grcia, Egito e entre os Incas,
onde os solos e/ou a gua so usualmente deficientes
em iodo, mas foi sucessivamente tratado com alga que
contm altos teores de iodo. O iodo um componente da
tireide no hormnio tiroxina, e muito bem conhecido
como elemento essencial para os homens e animais ma-
mferos. A deficincia de iodo resulta numa srie de de-
sordens na sade, Iodine Deficiency Disorders (IDD),
sendo a mais comum o bcio endmico. As reas com
IDD tendem a ser geograficamente definidas. A mais se-
vera ocorrncia do bcio endmico e o cretinismo ocor-
rem em reas localizadas no alto de montanhas e re-
gies centrais dos continentes.
O bcio ocorre devido ao crescimento da glndula
tireide como tentativa para compensar a insuficincia
do iodo. Como exemplo, numa estimativa acerca da po-
pulao de 17 milhes no Sri Lanka, aproximadamente
10 milhes apresentam risco para desenvolver o bcio.
A deficincia de iodo em mulheres grvidas pode tam-
bm levar ao cretinismo e prejuzo da funo cerebral da
criana. A OMS estima que 1,6 bilho de pessoas apre-
sentam risco relacionado deficincia de iodo e que,
hoje, a maior causa de retardamento mental no mundo.
S a China tem 425 milhes de pessoas com risco de de-
senvolver algum tipo de IDD.
Outro elemento importante o flor. A geoqumicado flor em gua subterrnea e a sade dental em comu-
nidades, particularmente aquelas que dependem da
gua subterrnea para suprir as necessidades de gua
potvel, um dos maiores exemplos de relao entre a
geoqumica e a sade. Em muitos dos sistemas de supri-
mento de gua, particularmente em pases em desenvol-
vimento, onde a escavao de poos profundos a mai-
or fonte de gua, a gua contm excesso de flor e como
tal prejudicial sade dental.
O flor um elemento essencial com recomenda-
o de ingesto diria de 1,5 a 4,0 mg/dia. Problemas de
sade tais como cries ou dentes manchados ou fluo-
rose esqueltica podem ocorrer devidos ao excesso ou
deficincia de flor. Ao contrrio de outros elementos es-
senciais para os quais a alimentao a principal fonte, a
principal fonte do flor a gua. O flor em guas superfi-
ciais e subterrneas proveniente de fontes naturais: (a)
lixiviao de rochas enriquecidas em flor; (b) dissolu-
o de fluoretos dos gases vulcnicos por percolao
da gua subterrnea atravs de falhas e juntas em gran-
de profundidades e em nascentes; (c) gua de chuva,
onde pode agregar pequena quantidade de fluoretos
provenientes de aerossis marinhos e poeira continental
contaminada; (d) emisses e efluentes industriais; (e) li-
xiviao de fertilizantes fosfatados, utilizados ostensiva-
mente em plantaes em reas agrcolas.
Por exemplo, aps a erupo do vulco Hekla em
Iceland em 1693, 1766 e 1845, severos incidentes de flu-
orose foram constatados e descritos. Desde a Segunda
Guerra Mundial, o Helka entrou em erupo em 1947,
1970 e 1980, e anlises para flor foram executadas. O
vulco liberou grande quantidade de flor e concentra-
es de 4.300ppm em gramneas foram encontradas.
No incio do sculo XX ficou conhecido que altos
teores de flor podem causar fluorose. A concentrao
natural de flor em gua potvel normalmente 0,1 a
1ppm. Em muitos pases, entretanto, a concentrao
pode ser to alta quanto 40ppm, o que pode causar fluo-
rose severa. A situao um pouco menos complicada
porque existe o efeito antagnico. O molibdnio e o sel-
nio podem reduzir os efeitos das altas concentraes de
flor. Um dos maiores benefcios do flor seu antago-
nismo com o alumnio. Em Ontrio, no Canad, existe um
nmero menor de casos de doena de Alzheimer onde a
gua potvel contm mais flor.
Um aspecto totalmente diferente na geologia mdi-
ca a geofagia, o hbito compulsivo de ingerir solo.Em muitas sociedades rurais antigas a exposio aos
elementos qumicos ocorria principalmente atravs do
hbito compulsivo de ingerir solo, ou de preparaes
medicamentosas derivadas de solo. Tal comportamento
na medicina conhecido como pica ou mais especifica-
mente como geofagia. Geofagia comum entre socieda-
des tradicionais e reconhecida desde o tempo de Aris-
tteles como meio de cura para problemas de sade.
Hoje a geofagia conhecida como uma resposta do
subconsciente para dietas txicas ou estresse onde se tor-
na necessidade a ingesto de solo, podendo se desenvol-
ver ao extremo de tornar-se obsessiva ou compulsiva. Essa
nsia ocorre geralmente imediatamente aps a chuva. No
Knia, a quantidade de solo ingerido pelas pessoas pode
ser calculada em 20 gramas por dia. Isto representa 400
vezes mais do que a quantidade de solo ingerida atravs
da atitude de levar as mos boca (isto , 50 miligramas
por dia). A ingesto de grande quantidade de solo aumen-
ta a exposio aos elementos-trao nutrientes, e promove
tambm um significativo aumento da exposio s patolo-
gias biolgicas e potencialidade txica dos elemen-
4
Geologia Mdica
-
tos-trao, especialmente em reas associadas com extra-
o mineral ou ambientes urbanos poludos.
Poeiras ocorrem naturalmente. A exposio s po-eiras minerais pode causar vrios problemas respiratri-
os. Os efeitos na sade exposio das poeiras minerais
foram descritos dcadas atrs, sendo os asbestos um
exemplo clssico. A exposio poeira pode tambm
afetar vastas regies, tais como as poeiras levantadas por
terremotos nas regies ridas do sudoeste dos Estados
Unidos e nordeste do Mxico. A exposio s poeiras
pode ter dimenses globais. As cinzas ejetadas pelas
erupes vulcnicas podem viajar ao redor do mundo e,
imagens de satlite recentes mostraram ventos levando
poeira dos desertos do Saara e de Gobi a distncias que
cobrem mais da metade do caminho ao redor do mundo.
O maior efeito para a sade humana a inalao das par-
tculas finas da poeira. Sob este ponto de vista, trabalho
considervel est sendo conduzido para identificar as
partculas das poeiras derivadas de solos, sedimentos e
de superfcies das rochas intemperizadas.
O futuro da Geologia MdicaNaturalmente ocorrem materiais como rochas, mi-
nerais, poeiras, guas que podem causar efeitos profun-
dos na sade humana, das plantas e dos animais. O en-
tendimento do complexo relacionamento entre o ambi-
ente natural e a sade dos animais e do homem requer
colaborao entre mdicos, veterinrios, geocientistas e
toxicologistas. O campo emergente da geologia mdica
o elo entre esses campos interdisciplinares. Isto requer
coordenao entre os pases desenvolvidos e os em de-
senvolvimento.
A geologia mdica uma cincia interdisciplinar
com rpido crescimento. Devido a importncia dos fato-
res geolgicos para a sade, a comisso
COGEOENVIRONMENT (Comisso das Cincias Geol-
gicas para o Planejamento Ambiental) do IUGS, criou em
1996 o International Working Group on Medical Geology
coordenado pelo Geological Survey of Sweden, SGU,
com o principal objetivo de aumentar a conscincia des-
sa questo entre os cientistas, especialistas mdicos e o
pblico em geral. Em 2000 um novo projeto IGCP foi es-
tabelecido pela UNESCO: IGCP#454 Medical Geology.
O International Council of Scientific Unions (ICSU) tam-
bm patrocinou em 2002-2003 mini cursos internaciona-
is com esse objetivo, em cooperao com o SGU, United
States Geological Survey e o US Armed Forces of Patho-
logy em Washington. Esses cursos tm tido continuidade
em todo mundo e, mais recentemente, um no Brasil, em
junho de 2005. Em maro de 2002, o IUGS anunciou que
o International Working Group on Medical Geology foi in-
dicado para operar com o status de Projeto Especial,
operando diretamente com a IUGS. Olle Selinius o dire-
tor em atividade. Jos Centeno e Bob Finkelman so
co-diretores. A nova associao internacional, Internati-
onal Medical Geology Association IMGA (www.medi-
calgeology.org), agora tambm estabelecida com um
conselheiro no Brasil. No Ano do Planeta Terra, um dos
principais tpicos a geologia mdica.
Os servios geolgicos, universidades e socieda-
des geolgicas devero dar continuidade e fornecer as
informaes geolgicas necessrias, relacionadas
geologia mdica e apoiar o desenvolvimento de grupos
de trabalho locais multidisciplinares, de geologia mdi-
ca. Se necessrio, desenvolver estudos de metodologi-
as para estudar os fatores geolgicos na medicina ambi-
ental e formular recomendaes para mitigao dos
efeitos danosos naturais e induzidos pelo homem.
5
Olle Selinus
-
GEOLOGIA MDICA NO
BRASIL
Cassio Roberto da Silva, [email protected]
Bernardino Ribeiro Figueiredo, [email protected]
Eduardo Mello De Capitani, [email protected]
Servio Geolgico do Brasil CPRM/RJ
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP
HISTRICO
No Brasil, a integrao de conhecimentos especfi-
cos das Cincias da Terra e Cincias da Sade tem hist-
ria antiga e relativamente profcua quanto ao diagnstico,
e propostas de controle, de algumas doenas endmi-
cas. Estudos mais voltados descrio do clima, hidro-
grafia e condies biogeogrficas, chamadas poca de
paisagem botnica e zoogeografia, compunham os fun-
damentos da Geografia Mdica, definida como o estudo
da geografia das doenas ou da patologia luz dos co-
nhecimentos geogrficos. Eram sinnimos de Geografia
Mdica, a Patologia Geogrfica, a Geopatologia ou Medi-
cina Geogrfica (Lacaz, 1972). A Geografia Mdica era
considerada um ramo da Geografia, como a Biogeogra-
fia, a Geografia humana e a Geografia fsica.
A Geomedicina, definida por Zeiss (apud Lacaz,
1972) como o ramo da medicina que estuda a influncia
das condies climticas e ambientais sobre a sade,
foi includa na Geografia Mdica, ampliando os horizon-
tes desta ltima. No entanto, a grande maioria dos estu-
dos de Geografia Mdica relacionava-se s doenas in-
fecciosas-parasitrias, dentro de um marco terico dado
pela Medicina Tropical, que sempre valorizou os aspec-
tos geogrficos fsicos e climticos em seus estudos epi-
demiolgicos, estudando fatores ligados ecologia de
insetos transmissores e animais carreadores de bactri-
as, vrus e protozorios, por exemplo. Nessas situaes
os aspectos geolgicos e geoqumicos das regies estu-
dadas no eram levados em conta, pois o modelo expli-
cativo da causa das doenas no necessitava desse
tipo de dado para funcionar. Situao atpica nesse con-
texto da Geografia Mdica, que em geral privilegiava do-
enas infecto-contagiosas, foram os estudos realizados
pelo Instituto de Manguinhos (hoje FIOCRUZ) e pelo De-
partamento Nacional de Sade, sobre prevalncia de
bcio endmico nas diversas regies do Brasil, na dca-
da de 50. A menor prevalncia da doena no litoral com-
parado com reas do Centro-Oeste, onde o ndice de
acometidos chegava a 54% da populao chamava a
ateno para um fator causal geogrfico/geolgico
(Sampaio, 1972).
A partir da dcada de 80, pesquisadores da Universi-
dade Federal da Bahia, estabeleceram uma base de es-
tudos de avaliao de contaminao de crianas e adul-
tos por chumbo e cdmio em Santo Amaro da Purificao
(BA), onde os rejeitos da metalurgia de minrio de chum-
bo contaminaram o solo e o lenol fretico do municpio,
sendo pioneiros na abordagem desse tipo de problema
no Brasil (Carvalho et al. 1984; Carvalho et al. 1985).
Mais recentemente, Licht (200l), a partir de levanta-
mento geoqumico de baixa densidade, com amostra-
gens de sedimento, gua e solos em todo o estado do
Paran, identificou fluorose dentria em crianas na re-
gio de Itambarac PR, associada a guas subterr-
neas e, brometo e cloreto em solos, possivelmente rela-
cionados s doenas cancerigenas que ocorrem na re-
gio norte do referido estado.
Pesquisadores da Universidade de Campinas
UNICAMP, Fundao Estadual de Meio Ambiente de Mi-
nas Gerais FEAM e outras instituies do estado de Mi-
nas Gerais, em colaborao com a Universidade de Frei-
berg da Alemanha (Matschullat, et al. 2000), identifica-
ram elevados teores de As em urina de crianas, resi-
dentes na proximidade de antigas mineraes de Au do
Quadriltero Ferrfero. No Amap, Santos et al. (2003)
do Instituto Evandro Chagas, pesquisaram exposio ao
As em populao residente prximo ao rejeito da meta-
lurgia de mangans (Minerao ICOMI), analisando
amostras de cabelo e sangue, sem no entanto identificar
risco significativo para as pessoas.
No perodo de 1998 a 2003, pesquisadores da
UNICAMP em parceria com instituies da rea de sa-
de identificaram contaminao de chumbo em sangue
6
Geologia Mdica no Brasil
-
de crianas e adultos, residentes na proximidade da
metalurgia da Plumbum S.A. em Adrianpolis, Paran
(Paoliello, 2002; Cunha, 2003; Figueiredo, 2005). Na
mesma regio, em Iporanga, Estado de So Paulo, em-
bora tenham sido identificadas concentraes anmalas
de arsnio em solo e sedimentos, os nveis de exposio
humana revelaram-se baixos, no representando risco
sade da populao (Sakuma, 2004).
Diversos trabalhos de avaliao de risco humano
assimilao de mercrio em garimpos, principalmente
da regio amaznica, tm sido realizados por pesquisa-
dores do CETEM, FIOCRUZ, Instituto Evandro Chagas,
UFPA, INPA, UFAM e UFRO. Nos sites dessas institui-
es pode-se encontrar inmeros trabalhos sobre o refe-
rido assunto.
A partir de 2002, aps o Congresso Brasileiro de
Geologia, ocorrido em Joo Pessoa, Paraba, um grupo
de pesquisadores de mais de uma dezena de universida-
des e instituies, decidiram criar um grupo de discus-
so, denominado Rede de Pesquisa em Geoquimica
Ambiental e Geologia Mdica REGAGEM (rega-
[email protected]), atualmente com 345 membros. O
objetivo desse grupo foi o de conceber e propor o Pro-
grama Nacional de Pesquisa em Geoqumica Ambiental e
Geologia Mdica PGAGEM e disponibilizar informaes
deste programa, links e demais dados relacionados
geologia mdica no site www.cprm.gov.br/pgagem.
O primeiro evento de geologia mdica ocorrido no
Brasil, o International Workshop on Medical Geology, foi
realizado na UNICAMP, em outubro de 2003, com o mi-
nicurso ministrado pelos pesquisadores Olle Selinus,
Robert Finkelman e Jos Centeno do IGCP 454 da
IUGS-UNESCO, contando com a participao de 110
brasileiros, principalmente das reas de geocincias,
sade e qumica. Um resultado interessante dessa ativi-
dade na comunidade foi que j no Simpsio de Geologia
Mdica do 32 Congresso Internacional de Geologia,
ocorrido em Florena-Itlia, em setembro de 2004, do to-
tal de 33 apresentaes 4 foram de pesquisadores bra-
sileiros.
O segundo workshop ocorreu em junho de 2005 no
Rio de Janeiro, nas dependncias do Servio Geolgico
do Brasil, tendo o minicurso, atualizado, com os mesmos
pesquisadores internacionais mencionados acima. Nes-
se evento foram feitas apresentaes de pesquisas bra-
sileiras que alcanaram a marca surpreendente de 56
trabalhos (12 palestras e 44 painis). Contou com a parti-
cipao de 210 profissionais das reas das geocincias
(48%), sade (16%), qumica (4%), outras profisses
(11%) incluindo estudantes de graduao e
ps-graduao em geologia (21%). Os participantes
eram oriundos de vrios estados brasileiros (Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Paran, So Paulo, Rio de Janei-
ro, Minas gerais, Gois, Distrito Federal, Bahia, Pernam-
buco, Cear, Rio Grande do Norte, Par, Amazonas e
Rondnia).
Graas qualidade e quantidade dos trabalhos
apresentados pelos pesquisadores brasileiros no Work-
shop Internacional de Geologia Mdica no Rio de Janei-
ro foi possvel editar o presente livro, abordando temas
relativos a As, Hg, F, Pb, amianto, substncias orgnicas
e qualidade de guas para abastecimento pblico.
GEOLOGIA MDICA
No Brasil, pesquisadores da rea de Geologia M-
dica tm recorrido principalmente aos livros e artigos de
Selinus et al., (2005), Skinner & Berger (2003), Cortecci
(2002), Singh (2000), Licht (2001) e Figueiredo (2005b).
Assim, com base nesses autores, a Geologia Mdica
pode ser definida como o estudo das relaes entre os
fatores geolgicos naturais e a sade, visando o
bem-estar dos seres humanos e outros organismos vi-
vos. Outro entendimento mais conciso de ser o estudo
do impacto dos materiais e processos geolgicos na sa-
de pblica. De acordo com esta viso, a geologia mdi-
ca inclui a identificao e caracterizao das fontes na-
turais e antrpicas de materiais nocivos no ambiente, bus-
cando prever o movimento e alterao dos agentes qumi-
cos, infecciosos e outros causadores de doenas ao
longo do tempo e espao, bem como compreender como
as pessoas esto expostas a tais materiais e o que pode
ser feito para minimizar ou evitar tal exposio.
A unio proporcionada pela Geologia Mdica entre
gelogos e outros cientistas como mdicos, odontlo-
gos, veterinrios e bilogos, num esforo para resolver
local e globalmente as questes de sade, objetiva forta-
lecer e integrar pesquisas que possam reduzir as amea-
as ambientais para a sade e bem-estar dos humanos
e animais.
As questes associadas sade geralmente se re-
ferem a seres humanos e outras criaturas vivas, ao passo
que o foco da geologia sobre o inanimado e o passado
distante. Assim, embora possam estar em reas distintas
do conhecimento ou requeiram diferentes abordagens
de investigao, as relaes diretas entre estas duas
disciplinas no podem ser ignoradas. A vida desenvol-
ve-se numa matriz de materiais da terra rochas, mine-
rais, solos, gua, ar cuja disponibilidade exerce um
profundo controle sobre o que todas as criaturas vivas
ingerem e como elas se desenvolvem biolgica e cultu-
ralmente, assim, somos o que comemos e bebemos .
O ar que respiramos, a gua que bebemos e os nu-
trientes que consumimos dependem do ambiente geol-
gico, que podemos controlar somente de forma parcial.
Como lutamos para nos adequar a um mundo de 10 bi-
lhes de pessoas, um melhor entendimento acerca dos
processos pelos quais o ambiente natural influencia a
7
Cassio Roberto da Silva
-
nossa sade dever permitir decises mais apropriadas
no futuro. consenso geral que as mudanas globais
esto relacionadas aos poderosos impactos produzidos
pelo homem na sua vizinhana. justamente os efeitos
nocivos ou benficos que por vezes os materiais e pro-
cessos geolgicos provocam sobre os seres humanos
constituem o tema central da Geologia Mdica.
A combinao dos conhecimentos oriundos das
cincias da terra com aqueles provenientes da medicina
e das cincias da vida oferece a oportunidade de inme-
ras aplicaes e possibilidades para a soluo de ques-
tes concernentes sade. Essa integrao de esfor-
os pode melhorar a definio do problema, auxiliar nas
estratgias de abordagem, definir e localizar fontes de
gua potvel, e desenvolver solues econmicas base-
adas em princpios geolgicos que podem ajudar a mi-
norar, mas principalmente prevenir sofrimento e doena.
H a expectativa de que os geocientistas, juntamen-
te com os profissionais da sade, contribuam significati-
vamente para a melhoria da qualidade da sade pbli-
ca. Segundo geocientistas europeus, os estudos efetua-
dos nos ltimos 15 anos so apenas a ponta de um ice-
berg, uma pequena mostra do espectro da pesquisa que
agora se inicia e que transitar no extenso espao entre
a geologia e a medicina.
A Geologia Mdica uma cincia de equipe, exi-
gindo bom entrosamento e entendimento com outras
cincias. Em detalhe, estuda variaes regionais ou lo-
cais na distribuio dos elementos, principalmente os
metlicos e metalides, seu comportamento geolgi-
co-geoqumico, as contaminaes naturais e artificiais e
os danos sade humana, animal e vegetal, por exces-
sos ou deficincias.
A vida na terra se desenvolveu na presena de todos
os 97 elementos que ocorrem naturalmente, incluindo os
que chamamos de essenciais, no essenciais, txicos e
os possivelmente txicos (Garret, 2005). O corpo humano
necessita de 25 elementos reconhecidos at o momento
como essenciais ao seu funcionamento adequado. Den-
tre os elementos que so considerados essenciais o prin-
cipal deles o carbono (C), sem o qual no haveria qual-
quer forma de vida como conhecida hoje. Cadeias mo-
leculares de carbono so a base estrutural de milhares de
diferentes compostos constituintes das clulas, como as
protenas e o DNA. Como mais de 60% da massa corporal
constituda de gua (H2O), o oxignio e o hidrognio
tm uma participao significativa como elementos es-
senciais. O oxignio supera qualquer outro elemento em
quantidade no corpo humano (61% da massa corprea)
por sua participao tambm na estrutura ssea na forma
de fosfato de clcio. Da mesma forma, o nitrognio (N) faz
parte desse grupo seleto dos 4 mais importantes elemen-
tos essenciais (junto com o O, H, e C), pois participa prati-
camente de todas as protenas e do DNA. Os outros 21
elementos essenciais costumam ser divididos em macro-
nutrientes (que necessitam ser absorvidos atravs da die-
ta em grande quantidade) participando da massa corpo-
ral em concentraes maiores que 0,1% (Ca, Cl, P, K, Na,
S) e micronutrientes, com concentraes corpreas abai-
xo de 0,1% (Mg, Si, Fe, F, Zn, Cu, Mn, Sn, I, Se, Ni, Mo, V,
Cr, Co). Tabela 1.
Apesar de no essenciais, muitos elementos so re-
gularmente absorvidos atravs da dieta (alimentos e
gua) e inalados junto com o ar respirado. Dessa forma,
podem ocorrer quantidades variveis desses elementos
que se depositam no corpo humano de acordo com suas
afinidades qumicas por determinados tecidos, como
por exemplo: alumnio (Al), brio (Ba), cdmio (Cd),
chumbo (Pb), arsnio (As), mercrio (Hg), estrncio (Sr),
urnio (U), prata (Ag) e ouro (Au) (Emsley, 2001).
Os elementos constituintes das rochas ao serem li-
berados pelo intemperismo podem ser disponibilizados
no solo para em seguida serem levados para as guas
dos rios e subterrneas. No solo, podem ser assimilados
pelas razes de plantas, entrando na cadeia alimentar.
Tambm entram na cadeia alimentar quando carreados
em soluo pela drenagem e assimilados por seres
aquticos. Mas, alm da dieta, as substncias qumicas
podem ainda ser tambm assimiladas pelos seres vivos
por inalao ou pela pele.
De modo geral, o solo, as guas correntes e as plan-
tas refletem a composio das rochas do substrato, essa
relao muito usada em explorao mineral para a
descoberta de depsitos minerais. Ao alimentar-se da
vegetao, os animais silvestres tambm refletem o qui-
mismo da regio onde vivem. Essa relao observada
tambm com huma-
nos, havendo casos
clssicos de doen-
as acompanhando
faixas geolgicas
que exibem anomali-
as litolgicas ou geo-
qumicas (Figuras 1 e
2). Anomalias so re-
lacionadas a efeitos
de poluio, porm
no podem ser igno-
radas contaminaes
naturais como, por
exemplo, as provo-
cadas pela deposi-
o de cinzas ejeta-
das em erupes
vulcnicas e pelas
nuvens de p gera-
das em reas desr-
ticas.
8
Geologia Mdica no Brasil
Figura 1 Doena de Kaschin-Beck,
China distrbio de formao ssea
afetando o crescimento e produzindo
deformidades, causados por deficincia
de selnio na gua e solos.
-
9
Cassio Roberto da Silva
Tabela 1 Funo de elementos qumicos no corpo humano
FUNO DOS ELEMENTOS CONSIDERADOS ESSENCIAIS AOS HUMANOS
O, H, N
e C
Ver discusso sobre estes elementos no texto acima.
Ca o metal mais abundante no corpo humano na forma de fosfato de clcio nos ossos e dentes. essencial na
regulao da atividade de membranas celulares, especialmente na contrao muscular e na conduo dos
estmulos nervosos. Participa da coagulao sangunea, diviso celular e liberao de hormnios (Qtdd total
mdia no corpo = 1.200 g).
Cl Manuteno do equilbrio hdroeletroltico e secrees do corpo; digesto dos alimentos como cido clordrico
no estmago (Qtdd total no corpo =95 g).
K Manuteno do equilbrio dos fluidos em nvel intracelular (concentra-se dentro das clulas), participando da
contrao muscular e conduo nervosa (Qtdd total no corpo =110-140 g).
Mg Atua na manuteno da estrutura dos ossos; regula a passagem de substncias atravs das membranas
celulares; participa como co-fator de mais de 100 enzimas e na fabricao de protenas, sendo
importantssimo no processo de crescimento e desenvolvimento normal (Qtdd total no corpo =25 g).
Na Manuteno do equilbrio hdroeletroltico permanecendo sempre fora das clulas, participando da contrao
muscular e conduo nervosa (Qtdd total no corpo = 100 g).
P Constituinte dos ossos e dentes na forma de fosfato de clcio. essencial o processo de produo qumica
de energia atravs de molculas orgnicas do tipo ATP (trifosfato de adenosina), alm de fazer parte da
molcula de DNA (Qtdd total no corpo = 780 g).
S Faz parte da estrutura da queratina, principal constituinte dos cabelos, unhas e camada externa da pele. Faz
parte de vrias enzimas essenciais ao metabolismo normal e da vitamina B1 (Qtdd total no corpo = 140 g).
Co Constituinte da vitamina B12 envolvida na manuteno da integridade do sistema nervoso e na produo de
glbulos vermelhos.
Cr Essencial para o metabolismo da glicose. Apesar de sua provvel relao com desenvolvimento de diabetes
no adulto, casos clnicos de deficincia humana desse elemento no foram ainda descritos.
Cu Constituinte de uma dezena de enzimas importantes no metabolismo humano como a superoxi-dismutase,
envolvida no controle de radicais livres.
F Essencial manuteno da estrutura sadia de dentes (esmalte) e ossos em doses mnimas.
Fe Componente da hemoglobina responsvel pelo transporte de oxignio no sangue e reserva desse elemento
nos msculos.
I Essencial ao funcionamento normal da tireide, pois constituinte dos hormnios tireoidianos, tiroxina e
triiodotironina. A deficincia nutricional de hormnio bastante conhecida como produtora de dficit de
crescimento normal e srios distrbios mentais cognitivos.
Ni Considerado essencial e ligado ao controle do crescimento, mas pouco conhecido quanto aos seus
mecanismos de ao no metabolismo normal.
Mn Apesar de ser considerado essencial, suas funes especficas so pouco conhecidas; ainda participa de
reaes enzimticas e da atividade da vitamina B1 em quantidades mnimas.
Mo constituinte de vrias enzimas importantes, entre elas a xantina-oxidase, envolvida no metabolismo de
protenas e a aldedo-oxidase, envolvida na biotransformao do lcool etlico.
Se A definio de essencialidade do selnio recente, de 1975, quando se descobriu que era constituinte da
molcula da enzima glutationa peroxidase, importantssima no controle de formao de radicais livres no
metabolismo humano. Em 1991 descobriu-se que tamnbm faz parte da molcula da deiodinase, que
participa da produo dos hormnios tireoidianos.
Si A partir de 1972 foi definido que o silcio essencial e ligado ao processo de crescimento sseo.
Sn Ainda controverso com relao sua real essencialidade em humanos. No so conhecidos efeitos de sua
deficincia. Foi considerado essencial anteriormente por sua suposta participao no hormnio gastrina.
V Est relacionado com a regulao de enzimas envolvidas no equilbrio do sdio-potssio no sistema nervoso.
Menos de 0,5% do Vandio ingerido absorvido na dieta.
Zn Ocorre em todos os tecidos, principalmente em ossos, msculos e pele; atua no sistema imunolgico; regula
crescimento corpreo, proteo ao fgado. Deficincia reduz crescimento corpreo.
-
PROGRAMA NACIONAL DE GEOQUMICAAMBIENTAL E GEOLOGIA MDICA
O Programa Nacional de Pesquisa em Geoqumica
Ambiental e Geologia Mdica PGAGEM, sob a coorde-
nao do Servio Geolgico do Brasil CPRM, caracte-
riza-se por ser multiinstitucional, interdisciplinar e com
resultados para multiusos. Foi concebido e elaborado
por pesquisadores do Servio Geolgico do Brasil
CPRM, Universidade de Campinas UNICAMP, Minerais
do Paran MINEROPAR, Universidade do Estado de
So Paulo USP, Universidade Federal do Estado do
Par UFPA, Universidade Estadual de Londrina UEL,
Instituto Evandro Chagas, Instituto Adolfo Lutz, Escola
Nacional de Sade Pblica ENSP (FIOCRUZ) e Empre-
sa Brasileira de Agropecuria EMBRAPA (Solos).
Atualmente conta com parcerias internacionais do
U.S. Geological Survey (USGS), U.S. Armed Forces Insti-
tute of Pathologiy (AFIP), Geological Survey of Sweden
(SGU), International Union of Geological Sciences
(IUGS), International Medical Geology Association
(IMGA) e Universidade de Freiberg-Alemanha.
Esse programa foi concebido a partir de 2003 com
os seguintes objetivos especficos:
executar estudos geoqumicos, preferencialmen-
te em parcerias, para identificar e avaliar poss-
veis fontes de contaminaes naturais e antropo-
gnicas, integrado-os com as informaes de sa-
de pblica, visando apontar quais reas e co-
munidades esto expostas aos efeitos adversos
relacionados aos elementos e substncias txi-
cas;
disponibilizar os resultados analticos para fins de
prospeco mineral;
subsidiar estudos com informaes geoambientais,
em parceria com rgos governamentais, universi-
dades e institutos de pesquisa, nas reas de toxico-
logia e epidemiologia;
indicar estratgias e tecnologias na rea de geo-
qumica ambiental para estudos de remediao
ambiental;
contribuir para o diagnstico de solos com
deficincias em micro e macronutrientes
para agricultura;
desenvolver, na sua rea de responsabili-
dade e em conjunto com rgos de sade
pblica, trabalho de educao ambiental
para as populaes afetadas.
Adicionalmente, o PGAGEM contempla outros
desdobramentos como, por exemplo:
estabelecer padres e mtodos de amos-
tragem de campo, bem como de padronizao e
certificao laboratorial qumica no desenvolvi-
mento de metodologias analticas para materiais
geolgicos em estudos ambientais;
contribuir para o desenvolvimento da Rede Nacio-
nal de Pesquisa em Geoqumica Ambiental e Geo-
logia Mdica REGAGEM, estabelecendo parce-
rias com instituies federais, estaduais e munici-
pais do setor de sade pblica e meio ambiente,
usando as possveis correlaes entre os dados
geoqumicos reunidos e os dados de mortalidade
ou de incidncia de doenas em humanos e ani-
mais, eventualmente disponveis no territrio bra-
sileiro;
incentivar e subsidiar trabalhos de integrao de
dados utilizando pesquisas nas reas de geoqu-
mica ambiental, epidemiologia e ecotoxicologia
geradas na rede de pesquisa utilizando equipes
multidisciplinares;
capacitar recursos humanos de nvel superior e
mdio para servios de campo, de laboratrio e
de tratamento e interpretao de dados geoqumi-
cos e geolgicos com fins multidisciplinares rela-
cionados ao meio ambiente e sade pblica, alm
da pesquisa mineral;
apoiar o fortalecimento da infra-estrutura de labo-
ratrios analticos nas reas de geoqumica e toxi-
cologia atuantes no Brasil, incentivando o trabalho
em rede em projetos especficos, testes de profi-
cincia e certificao interlaboratorial;
constituir um banco de dados referencial de todo
o territrio nacional, com as informaes de cam-
po e laboratrio, geradas pela CPRM e entidades
participantes; e, criar uma coleo de materiais
geolgicos (alquotas de sedimentos, solos e ro-
chas) relacionados a estudos ambientais.
Espera-se com esses objetivos que o programa seja
til s instituies e aos programas multidisciplinares
correlatos das entidades participantes, tais como:
planejamento de polticas localizadas de sade
pblica em reas onde forem identificados riscos
Geologia Mdica no Brasil
10
Figura 2 Mais de 100 milhes de pessoas no mundo sofrem de fluorose, no
Brasil ocorrem, principalmente em crianas, nas regies de So Francisco
MG e Itambarac - PR.
-
de contaminao da populao por elementos
qumicos;
planejamento de atividades, na rea de estudos
ambientais, do Ministrio da Sade, do Ministrio do
Meio Ambiente e de outros rgos ambientais, esta-
duais e municipais, da Agncia Nacional de guas
ANA, e dos comits de bacias hidrogrficas;
identificao de focos superficiais de contamina-
o natural ou antropognica em reas urbanas
ou rurais;
caracterizao geoqumico-ambiental das zonas
de recargas de aqferos;
determinao da extenso da pluma de contami-
nao nas guas superficiais e subterrneas, no-
tadamente aquelas prximas a lixes e aterros;
elaborao de mapas de vulnerabilidade de solos
e de guas subterrneas e mapas de riscos;
gerao de informaes de geoqumica de solo
para estudos pedolgicos de fertilidade e uso
agrcola e pastoril.
Os procedimentos metodolgicos assumidos pelo
PGAGEM foram, na medida do possvel, adequados aos
padres geoqumicos estabelecidos pelo projeto IGCP-
259 da UNESCO IUGS e pelo Working Group on Global
Geochemical Baselines do IUGS IAGC, para permitir
comparaes com estudos similares em outros pases.
Exemplos com xito de mapeamento geoqumico de bai-
xa densidade com a elaborao de mapas de multiuso
so o Environmental Geochemical Atlas of the Central
Barents Region- Kola Project (600 estaes em 188.000
km ), o Barents Ecogeochemistry (1.373 estaes em
1.500.000 km ), o Atlas Geoquimico do Estado do Para-
n (697 estaes em 166.000 km ) e os efetuados pelo
Servio Geolgico do Brasil no estado do Rio de Janeiro
(200 estaes em 44.000 km), nas bacias dos rios Mogi
Guau e Pardo (99 estaes em 21.000 km), e Vale do
Rio Ribeira (187 estaes em 28.000 km).
O PGAGEM abrange todo o territrio brasileiro, fo-
calizando inicialmente regies e bacias hidrogrficas
onde existem problemas de sade que podem estar re-
lacionados com o meio ambiente. Sero tambm estuda-
das, prioritariamente, as reas com indcios de altera-
es na qualidade dos corpos dgua e do solo que po-
dem causar efeitos adversos sade dos seres vivos.
A amostragem geoqumica compreende a coleta
de amostras de gua superficial (onde houver) e de se-
dimentos ativos de corrente nas drenagens das bacias
hidrogrficas da regio estudada com adensamento di-
ferenciado. Na regio amaznica, devido ao problema
de acesso, sero amostradas bacias com reas de
captao em torno de 2.000 km (1.000 3.000 km2).
Nas demais regies as bacias selecionadas tm entre
100 e 200 km2.
So previstas tambm a coleta de amostras de gua
de consumo domstico nos municpios onde no haja
estao de tratamento de gua ou este seja deficiente, e
de solos superficiais (0-25 cm), na quantidade de trs
amostras por municpio, em reas cultivadas.
A figura 3 apresenta a programao de amostra-
gens por regies, com cerca de 29.700 estaes, com a
coleta de sedimento e gua (onde houver), que soma-
das apontam cerca de 59.400 amostras. Estima-se ainda
a coleta de mais 5.000 amostras de guas para abaste-
cimento e 10.000 amostras de solos, que totalizariam
74.400 amostras para todo o programa.
Mais detalhes sobre os procedimentos metodolgi-
cos adotados pelo PGAGEM podem ser obtidos na pgi-
na www.cprm.gov.br/pgagem, Lins (2002).
Resultados ParciaisNo mbito do PGAGEM j foram executados vrios
trabalhos no perodo de apenas dois anos de 2003 a
2005.
Sob a responsabilidade da CPRM e instituies con-
veniadas foram coletadas cerca de 4.041 amostras de
gua, sedimento de corrente e solos e, destas, cerca de
2.960 amostras foram analisadas e os resultados de al-
gumas reas como, Parintins no Amazonas, NE (parte
oriental) do Estado do Par, Lagoa Real na Bahia, Vale
do Ribeira-SP/PR, Estado do Cear e Lavras no Rio
11
Cassio Roberto da Silva
Total8.514.000 km29.700 estaes
2
Norte3.800.000 km8.250 estaes
2
Centro Oeste1.614.000 km6.200 estaes
2
Nordeste1.600.000 km7.750 estaes
2
Sul580.000 km2.900 estaes
2
Sudeste920.000 km4.600 estaes
2
Figura 3 Distribuio regional das estaes de amostragens de
sedimento de corrente (fundo e gua de drenagem.
-
Grande do Sul, encontram-se neste livro. Os demais re-
sultados das outras regies (Rondnia,Estado de Gois,
Teresina e Itinga-MG) devero ser divulgados no ano de
2006.
A ilha de Parintins, localizada na margem direita do
Rio Amazonas, cerca de 350 km a jusante de Manaus,
hoje um destacado plo turstico da regio, pela tradicio-
nal festa do Boi-Bumb, vinha apresentando problemas
com a sade da populao, provavelmente associados
m qualidade das guas de abastecimento pblico,
em vista do grande aumento populacional, principal-
mente na poca de festas. As atividades desenvolvidas
na ilha, por Marmos & Aguiar (2006), incluram a anlise
de 6 amostras de gua corrente e 33 de poos tubulares.
As primeiras mostraram-se normais, enquanto entre as
amostras de gua subterrnea, cerca de 63% apresen-
taram elevados teores de NO3 (11-49 mg/L), Al (0,3 2,0
mg/L) e amnia (2,9 mg/L) que foram atribudos conta-
minao antrpica, pois somente os poos com profun-
didades menores que 65 metros apresentaram esses te-
ores elevados.
No nordeste do Par, segundo Macambira & Viglio
(2006), os resultados da anlise de 77 amostras de gua
de abastecimento pblico, abrangendo cerca de 80%
da rea estudada, revelaram-se excessivos para Al e Pb,
respectivamente, 18 e 145 vezes o valor mximo permiti-
do pelo CONAMA e OMS, seguidos pelos teores de B,
Cd, Fe, Cu, K, Mn, Zn e P. Estes dados de qualidade de
gua esto sendo analisados sob o ponto de vista da
sua correlao ou no com alta prevalncia na regio de
doenas endmicas como verminoses, doenas no apa-
relho digestivo (cncer), cries dentrias, anemia e he-
patite.
Frizzo (2006) apresenta resultados analticos obti-
dos em 234 amostras de gua de abastecimento pblico
provenientes de poos tubulares e amazonas, audes e
lagos, fontes e rios, no estado do Cear, numa rea de
146.000 km. Concentraes acima do permitido pelo
CONAMA foram detectadas em 43% das amostras, para
os elementos considerados txicos: Al (0,11 0,80
mg/L), As (0,02 mg/L), B (0,63 mg/L), Cd (0,001 0,02
mg/L) e Pb (0,01 0,46 mg/L) e, para aqueles considera-
dos txicos e essenciais: Ba (0,71 5,59 mg/L), Fe (0,31
12,1 mg/L), Mn (0,11 1,21 mg/L), Ni (0,26 mg/L) e Zn
(0,18 0,76 mg/L). Estas informaes foram repassadas
para o rgo responsvel pelo saneamento do estado, o
qual vem procedendo reamostragem da gua para ter
uma melhor definio das medidas mitigadoras a serem
tomadas.
Em Lagoa Real na Bahia, Oliveira (2006) efetuou
amostragem em gua subterrnea (n=32), solos (n=32)
e sedimento de corrente (n=42), numa rea de 1.126
km, onde recomenda especial ateno para o consumo
de gua na regio, em vista dos resultados analticos
que acusaram concentraes de urnio no intervalo de
0,041 a 0,566 mg/L excedendo o teor mximo admitido
de 0,02 mg/L de U em 8 poos tubulares. Destaca ainda,
o excesso de captao de gua subterrnea, prevendo
em curto prazo escassez desse bem mineral.
O Projeto Paisagens Geoqumicas e Ambientais do
Vale do Ribeira Avaliao e Preveno de Risco para o
Meio Fsico e Sade Humana Relacionados Exposio
ao Arsnio e Metais Pesados, executado em parceria
por gelogos, qumicos, mdicos e toxicologistas da
UNICAMP, Universidade Estadual de Londrina, Instituto
Adolfo Lutz e Servio Geolgico do Brasil CPRM, se-
gundo Figueiredo (2005b), contemplou a elaborao do
Atlas Geoambiental (Alto e Mdio Vale do Ribeira), do
Atlas Geoqumico de Sedimento do Vale do Ribeira e ge-
rao de dados inditos sobre a exposio de Pb e As
em ecossistemas e agrupamentos humanos no Alto e
Mdio Vale do Ribeira- SP/PR. Grande parte dos resulta-
dos obtidos nesse projeto consta de outros artigos deste
livro e no site www.ige.unicamp.br/geomed.
No sul do Brasil, Grazia & Pestana (2006) estudaram
o distrito aurfero de Lavras do Sul RS, em vista do pas-
sivo ambiental deixado pelas mineraes e garimpos
desde o final do sculo XIX. Foram analisadas 43 amos-
tras de sedimento de corrente e 11 de solos. Os solos
apresentaram contaminao, principalmente nas reas
prximas s instalaes de beneficiamento das minera-
doras, em nveis superiores aos de interveno da
CETESB (2005) de 5 ppm para Hg. As concentraes
mais elevadas foram encontradas para Hg (10,3 a 18,5
ppm), para As (24,5 163 ppm), Cu (124 1.469 ppm) e
Pb (719 1.465 ppm). Os autores recomendam a reme-
diao do solo no entorno das instalaes de beneficia-
mento da CRM, Chiapetta e Cerro Rico, as quais podem
constituir fator de risco sade humana.
Os exemplos dados acima revelam que as ativida-
des que vm se desenvolvendo no mbito do PGAGEM
tendem a atingir um nvel significativo embora ainda res-
te muito a ser feito. Normalmente, aps a identificao e
constatao de valores anmalos de elementos txicos
que possam causar efeitos adversos sade das popu-
laes, espera-se que profissionais/instituies da sa-
de possam viabilizar a aplicao de tcnicas de anlise
dos riscos aos quais as populaes esto sujeitas.Os re-
sultados tanto relativos geoqumica quanto da parte
mdica devam impreterivelmente ser dados ao conheci-
mento dos rgos responsveis pela sade pblica, vi-
sando aes coordenadas para que no ocorram alar-
des desnecessrios.
tambm aconselhvel que, de acordo com a rea
estudada e o tipo de contaminao, sejam desenvolvi-
dos em parceria com os rgos de sade, programas de
comunicao de risco e de educao ambiental com a
populao afetada.
12
Geologia Mdica no Brasil
-
O PGAGEM pode servir de incentivo aos pesquisa-
dores que compem a REGAGEM para, atravs de suas
instituies, estabelecerem parcerias com o SGB-CPRM
ou com outras entidades, com a finalidade de pleitear re-
cursos ante rgos financiadores de pesquisas (CNPq,
FINEP, Fundos de Pesquisa e Setoriais) visando a exe-
cuo de novos projetos. Muitos outros projetos em re-
as especficas e que exigem maior detalhamento podem
ser propostos para regies metropolitanas, bacias hidro-
grficas, em distritos mineiros e em zonas agrcolas es-
peciais. Estes projetos podem ter a participao ativa de
entidades de pesquisas federais, estaduais e municipais
e universidades.
Convm destacar neste programa de geoqumica a
importncia da homogeneizao nos procedimentos de
coleta e anlise das amostras, pelas instituies e pes-
quisadores, de forma a alimentar o banco de dados de
todo o Brasil, disponvel e acessvel na internet para toda
a comunidade cientfica e pblico em geral.
CONSIDERAES FINAIS
Em paralelo execuo do PGAGEM e consideran-
do que a Geologia Mdica ainda uma atividade inova-
dora e desconhecida no Brasil, os participantes da
REGAGEM tm realizado inmeras atividades de divul-
gao, incluindo a distribuio de impressos, em portu-
gus e ingls, realizao de palestras, cursos e partici-
pao em mesas-redondas em congressos e simpsios,
relacionados a geologia, recursos hdricos, meio ambi-
ente e da rea mdica, assim como em semanas de geo-
logia promovidas por graduandos do curso de geologia
em diversas universidades do pas.
A Universidade Estadual de Campinas UNICAMP
e a Pontifcia Universidade Catlica de Gois PUC/GO,
j incluram em seus programas de ps-graduao al-
guns contedos de Geologia Mdica. Vislumbra-se para
o futuro uma insero crescente da nova disciplina nos
cursos de graduao e ps-graduao de geologia e de
medicina, contando-se para isso com a difuso do livro
texto Essentials of Medical Geology recm-publicado.
Recentemente, foram adquiridos exemplares desse livro
e distribudos entre os profissionais do Servio Geolgi-
co do Brasil CPRM e pesquisadores de diversas institui-
es e regies do pas.
Os dados e fatos relatados acima denotam que a
Geologia Mdica no Brasil vem tendo um acentuado
crescimento a partir de 2003, devido principalmente
criao da rede de discusso REGAGEM, execuo
do programa nacional de pesquisa PGAGEM e manuten-
o de website prprio. Partindo de menos de uma de-
zena de pesquisadores em 2000, estima-se que, atual-
mente, devam estar atuando na rea de Geologia Mdi-
ca aproximadamente 80 pesquisadores no Brasil. Para o
contnuo fortalecimento dessa rea, continuaro a ser
importantes os encontros cientficos peridicos e a reali-
zao de minicursos que doravante devero contar com
o apoio da Associao Internacional de Geologia Mdi-
ca IMGA.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
CARVALHO F.M.; BARRETO, M.L.; SILVANY NETO,
A.M.; WALDRON, H.A.; TAVARES, T.M. Multiple cau-
ses of anaemia amongst children living near a lead
smelter in Brazil. Sci Total Environ, Amsterdam, v. 35,
n. 1, p. 71-84, Apr. 1984.
CARVALHO, F.M.; SILVANY-NETO, A.M.; TAVARES,
T.M.; LIMA, M.E.; WALDRON, H.A. Lead poisoning
among children from Santo Amaro, Brazil. Bull Pan
Am Health Organ. Washington, v. 19, n. 2, p.
165-175, 1985.
COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMNETO
AMBIENTAL. Deciso de Diretoria No 195/2005. Dis-
ponvel em:. Acesso
em 01 jun. 2006.
CORTECCI, G. Geologia e Salute. Disponvel em:
.
Acesso em 31 jul. 2006.
CUNHA, F.G. Contaminao humana e ambiental por
chumbo no Vale do Ribeira, nos Estados de So Pau-
lo e Paran, Brasil. 2003.111p. Tese (Doutorado em
Cincias)- Instituto de Geocincias, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2003.
EMSLEY, J. Natures Building Blocks : an A-Z guide to
the elements. Oxford: Oxford University Press,
2001.
FIGUEIREDO, B.R. A contaminao ambiental e humana
por chumbo no Vale do Ribeira (SP-PR). Com cin-
cia, Campinas, n. 71, nov. 2005. Disponvel em:
. Acesso em: 31 jul.
2006.
FIGUEIREDO, B. R. Estudo geoqumicos e ecotoxicol-
giocos do Vale do Ribeira. [S.l]: FAPESP; UNICAMP;
IAL; UEL; CPRM, 2005. 1 CDROM. Projeto Paisagens
Geoqumicas e Ambientais do Vale do Ribeira.
FRIZZO, S. J. Elementos qumicos em guas de abaste-
cimento pblico no Estado do Cear. In:
INTERNATIONAL WORKSHOP ON MEDICAL
GEOLOGY, 2005, Rio de Janeiro. [Trabalhos apre-
sentados]. Rio de Janeiro: CPRM, 2006.
GARRET, R.G. Natural distribution and abundance of
elements. In: SELENIUS, O. (Ed). Essentials of Medi-
cal Geology: impact of the natural environment on
public health. Amsterdam: Elsevier, 2005. p. 17-41.
GRAZIA, C. A.; PESTANA, M.H. D. Contaminao por
Mercurio Antrpico em Solos e Sedimentos de Cor-
rente de Lavras do Sul RS Brasil.
13
Cassio Roberto da Silva
-
In:INTERNATIONAL WORKSHOP ON MEDICAL
GEOLOGY, 2005, Rio de Janeiro. [Trabalhos apre-
sentados]. Rio de Janeiro: CPRM, 2005.
LACAZ, C.S. Conceituao: atualidade e interesse do
tema: smula histrica. in: In: LACAZ C.S. et al (Eds),
Introduo Geografia Mdica do Brasil. So Paulo:
Edgard Blcher; EDUSP, 1972. P.1-22.
LICHT, O.B. A Geoqumica multielementar na gesto am-
biental: identificao e caracterizao de provncias
geoqumicas naturais, alteraes antrpicas da pai-
sagem, reas favorveis prospeco mineral e re-
gies de risco para a sade no Estado do Paran,
Brasil. Curitiba, 2001. 236 p. Tese ( Doutorado em
Geologia Ambiental)-Faculdade de Geologia, Uni-
versidade Federal do Paran, Curitiba, 2001.
LINS, C. A C. 2002. Programa Nacional de Pesquisa em
Geoqumica Ambiental e Geologia Mdica. Dispon-
vel em: . Acesso
em: 31 jul. 2006.
MACAMBIRA E. B.; VIGLIO E. P. Caracterizao geoqu-
mica das guas de sistema de abastecimento pbli-
co da Amaznia Oriental. In: INTERNATIONAL
WORKSHOP ON MEDICAL GEOLOGY, 2005, Rio de
Janeiro. [Trabalhos apresentados]. Rio de Janeiro:
CPRM, 2005.
MARMOS, J.L.; AGUIAR, C.J.B.; Avaliao do nvel de
contaminao das guas subterrneas da cidade de
Parintins - AM - Brasil. In: INTERNATIONAL
WORKSHOP ON MEDICAL GEOLOGY, 2005, Rio de
Janeiro. [Trabalhos apresentados]. Rio de Jnaeiro:
CPRM, 2005.
MATSCHULLAT, J.; BORBA, R.P.; DESCHAMPS, E.; FI-
GUEIREDO, B.F.; GABRIO, T.; SCHWENK, M. Hu-
man and environmental contamination in the Iron Qu-
adrangle, Brazil. Applied Geochemistry, [Amster-
dam], v. 15, n. 2, p. 181-190, fev. 2000.
OLIVEIRA, J.E. Implicaes de radioelementos no meio
ambiente, agricultura e sade pblica em Lagoa
Real, Bahia, Brasil. In: INTERNATIONAL
WORKSHOP ON MEDICAL GEOLOGY, 2005, Rio de
Janeiro. [Trabalhos apresentados]. Rio de Janeiro:
CPRM, 2005.
PAOLIELLO, M.M.B. Exposio humana ao chumbo e
cdmio em reas de minerao, Vale do Ribeira,
Brasil. 2002. 173p. Tese (Doutorado em Sade Cole-
tiva)- Faculdade de Cincias Mdicas, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2002.
SAKUMA, A. M. Avaliao da exposio humana ao ar-
snio no Alto Vale do Ribeira, Brasil. 2004. 197p.
Tese (Doutorado em Sade Coletiva)- Faculdade de
Cincias Mdicas, Universidade Estadual de Cam-
pinas, Campinas, 2004.
SAMPAIO, A.A. Geografia do bcio endmico no Brasil.
In: LACAZ C.S. et al (Eds), Introduo geografia
mdica do Brasil. So Paulo: Edgard Blcher;
EDUSP, 1972. P.477-488.
SANTOS, E.C.O.; JESUS, I.M.; BRABO, E.S.; FAYAL,
K.F.; LIMA, M.O. Exposio ao mercrio e ao arsni-
co em Estados da Amaznia: sntese dos estudos do
Instituto Evandro Chagas/FUNASA. Revista Brasilei-
ra de Epidemologia, So Paulo, v. 6, n. 2, p. 171-185,
jun. 2003.
SELINUS, O.; ALLOWAY, B.; CENTENO, J.A.;
FINKELMAN, R.B.; FUGE, R.; LINDH, U.; SINGH, H.;
SMEDLEY, P. Essentials of Medical Geology. Amster-
dam: Elsevier Academic Press, 2005.
SINGH, H. Theoretical Basis for Medical Geology. Dispo-
nvel em: . Acesso em: 01 ago. 2006.
SKINNER, H.C.W.; BERGER, A.R (Ed.). Geology and
Health: closing the gap. Oxford: Oxford University
Press, 2003.
14
Geologia Mdica no Brasil
-
EPIDEMIOLOGIA E
GEOLOGIA MDICA
Eduardo Mello De Capitani
Departamento de Clnica Mdica
Centro de Controle de Intoxicaes
Faculdade de Cincias Mdicas
Universidade Estadual de Campinas
INTRODUO
A geologia mdica definida por Selinus (2005)
como a cincia que lida com as relaes entre fatores
geolgicos naturais e sade humana e animal. Segundo
esse autor, tambm ... a cincia que visa entender a in-
fluncia de fatores ambientais ordinrios na distribuio
geogrfica de tais problemas de sade. A palavra fator
e a expresso problemas de sade nessa definio nos
levam ao conceito de causa e efeito, que por sua vez, na
rea de sade, leva ao conceito de epidemiologia.
A epidemiologia a disciplina que estuda como as
doenas, ou eventos relacionados ao binmio sa-
de-doena, se distribuem nas populaes e quais os fato-
res que determinam essa distribuio (Gordis, 1996).
Assim, a epidemiologia tem por base estudar todos os fa-
tores possveis envolvidos no complexo sade-doena,
tais como, genticos, infecciosos, relacionados a hbitos
de vida (incluindo tipo de alimentao, tabagismo, consu-
mo de lcool, padro de prtica de exerccios fsicos,
etc.), ocupacionais, alm dos relacionados com o meio
ambiente (incluindo os fatores geolgicos naturais, esco-
po da geologia mdica, e os antropognicos).
So poucas as doenas de causa ambiental que
so patognomnicas no sentido de que apenas aquela
exposio especfica est relacionada quele grupo de
sinais e sintomas. Em geral, vrias substncias ou ele-
mentos qumicos podem produzir o mesmo tipo de sinto-
matologia ou doena. Da mesma forma, so inmeras as
possibilidades de fatores ocupacionais, genticos e de
hbitos pessoais causarem os mesmos problemas (Niel-
sen & Jensen, 2005).
Assim, para qualquer estudo relacionado geologia
mdica, no qual nos defrontaremos com a necessidade
de definir se determinado fator geolgico natural est as-
sociado ou no de forma causal com os agravos sade
observados, o concurso da epidemiologia essencial.
A epidemiologia parte do pressuposto que a do-
ena no ocorre aleatoriamente, ao contrrio, sua
ocorrncia est ligada a caractersticas especficas
daquela populao. A definio de uma causa relacio-
nada a um fator geolgico natural, ou ambiental ordi-
nrio, como colocam Selinus (2005), passa necessari-
amente pelo estudo epidemiolgico daquela situao
especfica, no qual a hiptese geolgica ser uma
dentre outras possveis, num primeiro momento.
OBJETIVOS DA EPIDEMIOLOGIA
Os estudos epidemiolgicos tm por objetivo (Gor-
dis 1996):
a) identificar a etiologia (ou causa), e os chamados
fatores de risco para a ocorrncia da doena em investi-
gao, tentando definir a forma de transmisso ou a via
de exposio, por exemplo;
b) determinar a extenso da doena dentro da co-
munidade;
c) estudar a histria natural da doena (por exem-
plo, se a apresentao do evento aguda, subaguda,
crnica, qual a durao do problema, qual o prognstico
quanto cura, cronificao, seqelas, e morte);
d) estudar a mudana da distribuio das doenas
ao longo do tempo, como mudanas no padro de mor-
talidade, mudana na incidncia da doena com relao
ao sexo e faixas etrias, expectativa de vida, etc.
e) avaliar medidas teraputicas e preventivas;
f) com os resultados dos estudos, fundamentar polti-
cas pblicas e decises sobre regulao relacionadas a
problemas de contaminaes ambientais, por exemplo.
ABORDAGEM EPIDEMIOLGICA
Os estudos epidemiolgicos se iniciam, em geral,
descrevendo as situaes a partir de dados de incidn-
15
Eduardo Mello De Capitani
-
cia e prevalncia disponveis, ou coletados especial-
mente.
Incidncia de uma doena ou evento de sade de-
finida como o nmero de casos novos sobre o nmero de
pessoas expostas ao risco naquela comunidade (bairro,
cidade, estado, pas, continente, etc.) por perodo de
tempo (em geral por ano, ou durante epidemias, por ms
ou semana).
Prevalncia diz respeito ao nmero de casos acu-
mulados durante certo perodo de tempo, incluindo os
incidentes, e os que cronificaram ou ainda no se cura-
ram. Estes seriam os dados referentes morbidade.
Morbidade um termo genrico usado para desig-
nar o conjunto de casos de uma dada afeco ou a soma
de agravos sade que atingem um grupo de indivdu-
os (Pereira, 2000). As estimativas de morbidade de uma
dada populao so baseadas em diversas fontes de re-
gistro, como dados de pronturios de servios de sade;
notificao compulsria de determinadas doenas (em
geral as infecto-contagiosas); registros especiais de do-
enas como cncer, tuberculose, AIDS, lepra; arquivos
de laboratrios de anatomia-patolgica; dados de inter-
naes do SUS (Sistema nico de Sade), e outras fon-
tes. A qualidade desses dados est sempre relacionada
ao grau de cobertura desses registros e qualidade da
assistncia mdica fornecida.
Dados sobre mortalidade so tambm extremamen-
te importantes e, dependendo da situao, podem ter
mais relevncia epidemiolgica que os dados de morbi-
dade.
Os dados de mortalidade esto baseados em regis-
tros feitos a partir dos atestados ou declaraes de bi-
to, padronizadas internacionalmente, nos quais devem
constar informaes sobre: a) a causa bsica da morte
(ou seja, a doena ou leso que desencadeou a srie de
acontecimentos patolgicos, e que redundou diretamen-
te na morte); b) complicaes eventuais ocorridas; e c)
outros estados patolgicos significativos que no te-
nham tido relao direta com a morte.
A padronizao no preenchimento das declara-
es de bito trouxe grandes benefcios quanto pos-
sibilidade de comparao de dados em nvel internaci-
onal. Ocorre que a qualidade do preenchimento ainda
um grande problema em todo o mundo, sendo de-
pendente do nvel de assistncia mdica local, do trei-
namento especfico dado aos mdicos, do interesse
pessoal do mdico, da padronizao dos termos m-
dicos, etc.
Assim, frente a dados de morbidade ou mortalida-
de, existe a necessidade de se perguntar, primeiramen-
te, se os dados so reais, ou seja, se so representati-
vos da situao de sade daquela populao, e se so
comparveis com outras regies (qualidade da coleta,
grau de cobertura de sade daquela populao, etc.).
Qualquer inferncia sobre relao causal entre determi-
nado fator (ambiental, ocupacional, gentico, relacio-
nado a hbitos alimentares, etc.), que for feita ao final
de um estudo epidemiolgico dever estar referencia-
da qualidade do dado de morbidade e mortalidade
inicial.
Com relao definio da etiologia de determina-
do agravo sade, o investigador deve proceder se-
guindo duas etapas essenciais ao raciocnio epidemio-
lgico: 1) determinar se existe uma ASSOCIAO en-
tre um fator (por exemplo, determinada exposio am-
biental) e um agravo sade e, 2) no caso de haver
uma associao, derivar inferncias apropriadas sobre
a existncia de RELAO CAUSAL na associao, se-
guindo critrios de julgamento j bem definidos (ver
adiante).
Tipos de estudos (desenhos) epidemiolgicos
Os estudos epidemiolgicos podem ser divididos
didaticamente em observacionais e experimentais (Qua-
dro 1). Os estudos observacionais so divididos em des-
critivos, de um lado, e analticos, de outro.
Os estudos experimentais em epidemiologia limi-
tam-se basicamente aos chamados ensaios clnicos te-
raputicos controlados, usados para avaliar a eficcia
de novos medicamentos ou tratamentos, nos quais se
tenta controlar todas as variveis interferentes no pro-
cesso de tratamento, selecionando adequadamente os
doentes, definindo critrios de diagnstico da doena,
determinando doses de exposio, e estabelecendo o
tipo de resultado que se espera de um novo medicamen-
to ou tratamento em comparao com o tradicional, ou
mesmo com o tratamento placebo (medicamento sem
princpio ativo, por exemplo).
16
Epidemiologia e Geologia Mdica
Quadro 1 Tipos de estudos epidemiolgicos.
OBSERVACIONAIS
1. Descritivos (descrevem a situao e geram hipteses de
rel