Geoecologia Da Caatinga

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  • 7/24/2019 Geoecologia Da Caatinga

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    GEOECOLOGIA DA CAATINGA NO SEMI-RIDO DO NORDESTE BRASILEIRO

    Jose Jakson Amancio [email protected]

    Prof. Titular do Curso de GeografiaUniversidade Estadual da Paraba, Centro de Humanidades, Guarabira Paraba.

    Resumo

    O presente trabalho define a caatinga, tipos de caatinga, condies ambientais e fitogeogrficasdesse geossistema. O domnio geoecolgico das caatingas se estende por cerca de 900.000 km,sob as latitudes subequatoriais, compreendidas entre 2 45 e 17 21 LS. Sua rea corresponde a54% da Regio Nordeste e a 11% do territrio brasileiro, constituindo o chamado Polgono dasSecas. O termo caatinga formado de duas palavras de origem tupi KAA (floresta, mata) e TINGA (um sufixo que significa branco, claro). Esta floresta seca, com suas diferentes formas,

    seria a formao primitiva de onde, por degradao, teriam sado s caatingas. Na caatinga, aaltura da formao permite a separao em trs categorias: (i) a floresta seca, (ii) as caatingasarbustivas e as (iii) estepes. No domnio das caatingas, a adaptao semi-aridez do clima se fazessencialmente pela perda das folhas, permitindo s plantas economizar gua durante a estaodesfavorvel. Na caatinga as espcies lenhosas chamam a ateno por suas formas biolgicas epela posio dominante na estrutura da formao. Os arbustos e arvoretas no apresentam fustesbem desenvolvidos e so ramificados a partir do nvel do solo. As espcies lenhosas tm porteraqutico. Trata-se do fcies mais seco e degradado das caatingas. Um outro aspecto a observar que na maioria dos casos, as atividades econmicas so acompanhadas de desmatamentosindiscriminados da caatinga que associados fragilidade natural desse ecossistema trazem sriasconseqncias para os getopos e para as biocenoses, como tambm, a prtica da devastaode grandes espaos da caatinga pelas queimadas que vem aumentando consideravelmente as

    reas de pastagem e provocando grande desequilbrio no ecossistema.Palavras-Chave: Geoecologia. Caatinga. Degradao Ambiental.

    Abstract

    The present work defines caatinga, types of caatinga, ambient and fitogeography conditions of thisgeoecosystem. The geoecology domain of caatingas if extends for about 900.000 km, under theenter latitudes tropics, understood between 2 45' and 17 21' LS. Its area corresponds the 54%the 11% the Northeast Region and the Brazilian territory, constitutes the call Polygon of theDroughts. The term caatinga is formed of two words of origin Tupi - KAA (forest, kills) and - TINGA(a suffix that means, white, clearly). This dry forest, with its different forms, would be the primitiveformation where, for degradation, they would have left to caatingas. In caatinga, the height of theformation allows the separation in three categories: (i) the dry forest, (II) bushes caatingas and (III)savanna. In the domain of caatingas, the adaptation to the half-dryness of the climate if essentiallymakes for the loss of leaves, allowing to the plants to save water during the favorable station. Incaatinga the branches dry, fine and species tortuous, call the attention for its biological forms andthe dominant position in the structure the formation. The shrubs and small trees do not presentdeveloped shafts well and are ramified from the level of the ground. The species branches dry, fineand tortuous have rickety transport. One is about fcies drier and degraded of caatingas. Oneanother aspect to observe is that in the majority of the cases, the economic activities are folloied ofindiscriminate deforestations of caatinga that associates to the natural fragility of this ecosystembring serious consequences for the getopos and biocenoses, as well as, the practical one of thedegradation of great spaces of caatinga for the forest fires that come considerably increasing the

    pasture areas and provoking great disequilibrium in the ecosystem.Key words: Geoecology. Caatinga. Ambient Degradation.

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    Introduo

    O domnio geoecolgico das caatingas ocupa uma rea de 1.037.517,80 Km, sob as latitudessubequatoriais, compreendidas entre 2 45 e 17 21 LS. Sua rea corresponde a 70% da Regio

    Nordeste e a 13% do territrio brasileiro, dentro do denominado Polgono das Secas e engloba osestados nordestinos de Maranho, Piau, Cear, Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco,Alagoas, Sergipe e Bahia, alm da regio norte do estado de Minas Gerais (Figura 1).

    Antigamente acreditava-se que a caatinga seria o resultado da degradao de formaes vegetaismais exuberantes, como a Mata Atlntica ou a Floresta Amaznica. Esse pensamento sempreproduziu falsa idia de que o bioma seria homogneo, com biota pobre em espcies e emendemismos, estando pouco alterada ou ameaada, desde o incio da colonizao do Brasil.Entretanto, estudos apontam a caatinga: (i) como rica em biodiversidade, endemismos e bastanteheterognea; (ii) considerada um bioma extremamente frgil.

    Nos ltimos 15 (quinze) anos aproximadamente 40.000 Km se transformaram em deserto devido

    interferncia do homem na regio. Segundo o Sistema Estadual de Informaes Ambientais(SISTEMA..., 2007) da Bahia 100.000 ha so devastados anualmente. O que significa que muitasreas que eram consideradas como primrias so, na verdade, o produto de interao entre ohomem nordestino e o seu ambiente, fruto de uma explorao que se estende desde o sculoXVI.

    Os climas a que esta imensa regio est submetida variam de semi-ridos a sub-midos secostropicais de exceo, e so caracterizados por uma pluviometria concentrada em um s perodo (3a 5 meses), com mdias anuais situadas entre 250 a 900 milmetros, irregularmente distribudasno tempo e no espao. As temperaturas mdias anuais so relativamente elevadas, 26 C a 29C, e a insolao mdia so de 2.800 horas/ano. A umidade relativa do ar de cerca de 50% e astaxas mdias de evaporao so em torno de 2.000 mm por ano.

    A regio se caracteriza por apresentar terrenos cristalinos, praticamente impermeveis (50%), eterrenos sedimentares (50%), com boa reserva de gua subterrnea. Os solos, com algumasexcees so pouco desenvolvidos, mineralmente ricos, pedregosos, pouco espessos e com fracacapacidade de reteno de gua.

    Figura 1 rea de ocorrncia da caatinga por estados do territrio brasileiro

    050

    100150200250

    300350400

    PI CE RN PB PE AL SE BA MG

    Estados

    Km

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    A cobertura vegetal representada por formaes xerfilas e caduciflias as caatingas muitodiversificadas por razes climticas, edficas, topogrficas e antrpicas. As caatingas apresentamcerto nmero de problemas quanto a sua definio e classificao, em virtude de seremencontradas de maneira muito heterognea no s do ponto de vista fisionmico, da suacomposio florstica e condies estacionais, tambm, os mais de quinhentos anos de atividadehumana centradas na pecuria, na agricultura, na explorao mineral e no extrativismo vegetal.

    A primeira meno feita caatinga se deve a Gabriel Soares de Souza, em sua obra TratadoDescritivo do Brasil, publicada em 1587 (MELO, 1998). O termo caatinga formado de duaspalavras de origem tupi KAA (floresta, mata) e TINGA (um sufixo que significa branco,claro). Ele designa um tipo de vegetao arborescente, xerfilo e caduciflio que recobre asterras semi-ridas do Nordeste brasileiro.Com a introduo do homem no sistema semi-rido - caatinga aborda-se tambm eobrigatoriamente, o problema das presses que suas atividades diretas ou indiretas exercemsobre ela resultando num emaranhado complexo de relaes entre seus componentes biticos eabiticos e se transformando num sistema agro-silvo-pastoril, ou seja, um complexo natural-

    histrico e social. O presente trabalho define a caatinga, tipos de caatinga, condies ambientais efitogeogrficas desse geossistema.

    Geossistema do semi-rido

    Os meios semi-ridos caracterizam-se pela ocorrncia de uma crise climtica sazonal querepercute em todos os elementos que compem o seu complexo sistema fsico-natural e humano.Com a introduo do homem no sistema semi-rido, aborda-se, obrigatoriamente, o problema daspresses que suas atividades diretas ou indiretas exercem sobre ele, que deixa de ser umcomplexo de relaes entre componentes biticos e abiticos e se transforma em umgeossistema, isto , como um complexo natural, histrico e social.

    O princpio norteador do geossistema a conexo da natureza com a sociedade. Em outraspalavras, so os aspectos antrpicos e as ligaes diretas de "realimentao" com todos oscomponentes biticos e abiticos do sistema, que criam uma rede de organizaes cujas malhasse estendem at s esferas econmicas e sociais. O geossistema um sistema natural emdiversos nveis: local, regional e global nos quais rochas, solos, comunidades vegetais e animais,guas e clima so ligados por uma rede complexa de trocas de matria e energia.

    O geossistema deu ao ecossistema uma dimenso espacial e territorial bem definida que este nopossui e ao mesmo tempo lhe forneceu limites sob a influncia de um fator dominante. Porexemplo, o geossistema das cuestas de Buque, no Serto pernambucano, tem como fatordominante estrutura geomorfolgica, que engloba litologia (sedimentos do Cenozico) edisposio tectnica (planaltos estruturais, monoclinais, em posio perifrica ao escudonordestino), recobertas por diferentes tipos de caatinga e com diferentes usos do solo segundo osseus diferentes compartimentos topomorfolgicos e pedolgicos.

    Estrutura dos geossistemas

    O geossistema apresenta uma estrutura vertical composta de geo-horizontes. Ela formada porelementos abiticos representados pela litomassa (rochas), aeromassa (clima e seus elementos)e hidromassa (guas ocenicas e continentais). Alm dessa estrutura vertical horizontal, ogeossistema possui ainda uma estrutura horizontal expressa pelos geofcies, ou seja, pelosaspectos superficiais das paisagens: solos, vegetao e exploraes antrpicas.

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    Esses geofcies se dividem por sua vez em getopos, que so as menores unidades de umgeossistema e que correspondem a particularidades topo-geomorfolgicas tais como, um rochedo,uma cornija, geralmente servindo de refgio a uma comunidade vegetal relquia, uma pequenadepresso.

    O geossistema , por conseguinte, um modelo territorial-geogrfico que integra as inter-relaes entre os seres vivos e tambm todas as outras relaes entre os componentesabiticos, independentemente da presena dos seres vivos.

    Dinmica dos geossistemas

    Os geossistemas fazem parte de uma regio que, por seu lado est inserida em um domnio, oqual, por sua vez, com outros domnios, faz parte de uma zona. O complexo a que elecorresponde pode ser analisado a partir de diversas combinaes dinmicas, como por exemplo:(i) Dinmica geomorfolgica (sistema morfogentico), que corresponde soma de processossimples e complexos envolvidos na elaborao do modelado, na qual o clima desempenha um

    papel determinante; (ii) Dinmica da vegetao e dos solos, determinada por uma cadeia dereaes eco-fisiolgicas tais como:

    adaptao; concorrncia entre formaes vegetais; sries de vegetao; disclmaces e suas conseqncias para os solos; sistema de explorao antrpica, que ativa ou desencadeia processos

    de eroso ou modifica a vegetao natural pela introduo de diversasculturas (a ao do homem vai depender de seus conhecimentostcnicos e de sua organizao scio-econmica e cultural).

    Um geossistema, portanto, composto de fatores geomorfolgicos, climticos e hidrolgicos,considerados como seu potencial ecolgico, e por um determinado tipo de cobertura vegetal e desolos (explorao biolgica). Potencial ecolgico e explorao biolgica so elementos dotadosde certa instabilidade e que variam muito no tempo e no espao. A vegetao tem dinmicaprpria, o solo tambm. As intervenes do homem nesses dois componentes se fazem sentiratravs das noes de clmax e disclmax e de biostasia e resistasia. Biostasia uma fase deequilbrio ou estabilidade climcicos, isto , um perodo da evoluo geolgica em que os seresvivos e os solos atingem o clmax ou seu desenvolvimento mximo, devido ausncia demovimentos tectnicos e/ou de vulcanismo e sem que tenha havido modificaes climticasimportantes.

    Por outro lado, resistasia representa fase de alterao sensvel no equilbrio climcico, ou seja, deinstabilidade (disclmax) Muitos fenmenos de instabilidade so de origem antrpica (disclmaxantrpico). por causa dessa dinmica inerente ao geossistema que este no possuiobrigatoriamente uma homogeneidade fisionmica, e sua dimenso varia de dezenas a centenasde quilmetros quadrados. Ele sempre uma unidade funcional que rene fcies (geofcies),dinamicamente interdependente. No plano estrutural das paisagens, os geofcies possuemhomogeneidade fisionmica.

    Cada geofcies pode ser diferenciado do outro por meio de um tipo de formao vegetal ou de umdeterminado uso que se faz dele. Ele acentua os aspectos fisionmicos do geossistema aoapresentar uma fisionomia homognea que se estende por alguns quilmetros. Por exemplo, aSerra Negra, em Pernambuco, um geossistema que associa dois ou trs geofcies: o topo

    aplainado com floresta ombrfila montana ou submontana (pluvio-nebular) e cultivos: e asencostas com floresta estacional semidecidual a decidual degradada, caatingas e culturas.

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    Os getopos correspondem a particularidades mesolgicas, ecolgicas e funcionais que afetampontualmente os geofcies. Eles so as menores unidades espaciais que compem um geofciese que equivalem s formas do relevo mtricas subordinadas s formas maiores ou um elementode um mosaico de formas: um afloramento de granito, uma cornija em estruturas sedimentaresheterogneas, um trecho de terrao fluvial, um nicho de cabeceira de drenagem etc. Os getoposso muitas vezes refgios de biocenoses relictuais ou endmicas. Por exemplo, as colnias deEuphorbia phosphorea(cunan) existentes nos topos dos afloramentos de granitos, nos arredoresde Pocinhos, no Cariri paraibano, e os agrupamentos de Vellozia spp (canela-de-ema) sobrealguns afloramentos no topo da Serra da Catingueira (700m), no serto paraibano, so refgiosecolgicos.

    Mtodo

    A interdependncia entre os diversos elementos do meio natural impe um determinado rumo aoestudo geoecolgico. Nesse trabalho procurou-se utilizar a metodologia que leva em conta essainterdependncia entre os diversos elementos que estruturam a caatinga. Atravs da pesquisa inlocu e da utilizao da leitura da paisagem atravs da dinmica da vegetao e dos solos, comotambm, do uso da fotointerpretao. Partimos inicialmente de uma avaliao integradacomeando pelo seu conceito. Em face dessa etapa, consistiram num primeiro momento um bomrecenseamento bibliogrfico e sua interpretao. Implicou tambm, numa srie de etapas detrabalhos de campo e estudos de gabinete.

    Os estudos de campo serviram para confirmar os dados obtidos no gabinete e levantar novasinformaes que no foram fornecidas pelos documentos utilizados. Para executar essa pesquisaforam utilizados os seguintes recursos: 1-Cartas temticas existentes e confronto dasinformaes, correlaes e compilao dos dados; 2 - Recenseamento e anlise critica da

    bibliografia existente; 3 Aplicao da leitura da paisagem atravs da ficha de campo 1.

    Refernciasgeogrficas dalocalidade (m)

    VegetaoMeios Geodinmicos

    da localidade Geossistema

    CenriosLat. Lon. Alt. A Ab He E I FI Av Cv Sv Ds Sea

    123

    4567

    Ficha de campo 1 - Ecodinmica (Tricart, 1977; adaptado por Alves, 2007).Legenda: Vegetao: A Arbreas; Ab Arbustivas; He Herbceas; Meios Geodinmicos: E Estveis; I- Intermedirios; FI Fortemente Instveis; Geossistema (Dinmica da Vegetao e dos Solos): Av -Adaptao; Cv Concorrncia entre formaes vegetais; Sv Sries de vegetao; Ds Disclmaces esuas conseqncias para os solos; Sea Sistema de explorao antrpica.

    Com isso, espera-se contribuir, ao nvel de reconhecimento, para o fornecimento de uma baseconcreta para as atividades de planejamento que podero vir a explorar o potencial dessas

    unidades e avaliar os impactos do homem e suas atividades nos diferentes nveis que estruturamo meio ambiente ecolgico das caatingas para o desenvolvimento sustentvel.

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    Discusso

    Sendo sempre limitada s condies topoclimticas e edficas, a caatinga reflete as inter-relaesentre fatores naturais e os fatores antrpicos e se apresenta com fisionomias variadas o que d

    origem a muitas controvrsias quando se tenta classific-la. Uma formao vegetal pode serdefinida e classificada segundo quatro critrios: fisionmico, ecolgico, florstico e evolutivo(AUBRVILLE, 1965). Geralmente o mais utilizado o fisionmico.

    Descrever e classificar os tipos de vegetao in locu deve sempre ocupar o primeiro lugar emtodo procedimento cientfico. A fisionomia de uma formao dada em primeiro lugar eessencialmente pela estrutura e em seguida pelas formas biolgicas e a flora. Ao observarmos acaatinga, vemos que ela um mosaico de diferentes formaes, reunidas pelas mais variadastransies. Isso causa muitos problemas para enquadr-la em uma classificao universal, umavez que a maioria de seus aspectos fisionmicos decorrente da inter-relao complexa entrefatores ecolgicos (clima, topoclima, condies edficas e topogrficas) e fatores antrpicos.

    Alm do mais, na caatinga passa-se de uma formao bem definida para outra atravs dediversos fcies de transio, mas, muitas vezes a passagem entre formaes diferentes bruscae seus limites so de fcil observao. Na caatinga, a altura da formao permite a separao emtrs categorias: (i) a floresta seca, (ii) as caatingas arbustivas e as (iii) estepes. Todas asdescries da caatinga salientam que as formas caduciflias, arbreas e arbustivas predominamna formao. Elas constituem quase que exclusivamente os estratos lenhosos, sem queapresentem, contudo, outras caractersticas de adaptao estao seca. Em seguida, vm asxerfilas muito especializadas, tais como, Cactceas, Bromeliceas e Euforbiceas, que por vezesapresentam grande porte e no so encontradas em todo o domnio das caatingas.

    De um modo geral, todas as espcies da caatinga dispem de meios para enfrentar a estaoseca, seja por modificaes do ritmo biolgico seja por mudanas no metabolismo da gua:

    espinescncia, acumulao da gua nos tecidos e nas razes, esclerofilia e emurchecimento dasfolhas, reduo do tamanho das folhas e dos fololos, sem atingir uma verdadeira microfilia quecaracteriza muitas espcies de outras regies semi-ridas do mundo tropical, excetuando-se osgneros Caesalpinia, Mimosa (KOECHLIN & MELO, 1980).

    As formas terrestres como os caros (Neoglaziovia variegata), se repartem desigualmente: porvezes elas esto ausentes ou ento apresentam povoamentos densos geralmente nas caatingasfechadas, como nos Cariris e no Curimata, na Paraba. Com exceo das Cactceas, aespinescncia s existe nas Mimosceas, o que constitui uma caracterstica prpria de algumasespcies dessa famlia, principalmente do gnero Mimosa, e em certas Euforbiceas,principalmente Cnidosculus phyllacanthus(faveleira).

    O acmulo de gua nos tecidos existe, excetuando-se as Cactceas e em menor grau, asBromeliceas, apenas em algumas espcies: nos troncos inflados das Bombacceas (Cavanillesiae Ceiba) e das Euforbiceas (Jatropha) ou nos rgos subterrneos das Anacardiceas (Spondiastuberosa - umbuzeiro) ou das Euforbiceas (Manihot glaziovii manioba). A esclerofilia s encontrada nos gneros: Aspidosperma, Maytenus, Bumelia, Ziziphus, Licania, Combretus,Cnidosculus. Alguns desses gneros s perdem as folhas muito tardiamente na estao seca,conservando-as quando esta menos severa, do que conclui que eles devem reduzir o consumode gua, como Aspidosperma e Ziziphus. O emurchecimento o nico mecanismo de quedispem algumas espcies, para reduzir a transpirao, como acontece com Croton spp. Elasmurcham durante as horas mais quentes do dia. No domnio das caatingas, a adaptao securado clima se faz essencialmente pela perda das folhas, permitindo s plantas economizar gua

    durante a estao desfavorvel. A durao da foliao, de carter gentico, selecionado pelomeio, representa a caracterstica principal de adaptao secundria.

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    A maioria das espcies lenhosas muito mais condicionada pela existncia de um perodo dedficit hdrico mais ou menos longo devido ao clima e modulado pelas caractersticas do ectopo,do que pelos totais pluviomtricos. Da, a maioria das espcies da caatinga adapta-se tanto nasregies secas como nas midas. As espcies lenhosas e sublenhosas so relativamente pouconumerosas, embora sejam dotadas de grande amplitude ecolgica conforme j foi mencionado.Elas so encontradas sob condies climticas e edficas bastante variadas.

    Essa marca essencial faz com que a caatinga apresente certa homogeneidade florstica, asdiferenas sendo resultantes, quase sempre, de variaes nas propores relativas das espciescaractersticas. As variaes so na maioria dos casos, causadas pelas atividades humanasdiretas ou indiretas e/ou pelas condicionais estacionais severas, sobretudo ligadas aos solos efenmenos de abrigo. Por exemplo, na Paraba, em alguns levantamentos efetuados, notou-seque muitas espcies esto presentes, variando apenas a sua proporo dentro da associao:Aspidosperma pyrifolium (pereiro), Caesalpinia pyramidalis (catingueira), Mimosa hostilis eMimosa nigra (juremas), Pilocereus gounellei (alastrado ou xiquexique), Jatropha pohliana(pinho-bravo), Croton spp (marmeleiro e velame). Croton hemiargyrium, Croton sincorensis,

    Mimosa hostilis, Caesalpinia pyramidalise Sida cordifoliaformam o essencial das caatingas muitodegradadas, o que j havia sido notado por Lutzelburg (1922).

    As variaes se devem presena ou ausncia de elementos arbreos: Bursera leptophloeos(umburana de cambo), Amburana cearensis (umburana de cheiro ou cumaru), Spondiastuberosa(umbu), Cnidosculus phyllacanthus(favela), Schinopsis brasiliensis(barana), Astroniumurundeuva(aroeira), Anadenanthera macrocarpa(angico), Piptadenia zehntneri(angico monjolo),Mimosa caesalpiniaefolia (sabi), Cavanillesia spp (barriguda), Bauhinia cheilanta (moror), ealgumas espcies de palmeira. Algumas espcies so ligadas a condies ecolgicas bemparticulares: Licania rgida(oiticica), Tabebuia caraibea(craibeira), Bumelia sartorum(quixabeira),nos terraos fluviais e reas mais midas que acompanham os vales dos rios temporrios,formando localmente matas ciliares (espcies freatfitas). A flora do tapete herbceo e de

    gramneas formada de espcies anuais e vivazes. Esse estrato bem variado, exceto nos locaisonde ele se encontra degradado ou ausente devido ao superpastoreio do gado bovino, ovino ecaprino. As influncias dos fatores estacionais solos, topografia, topoclimas, so muitoimportantes para essa diversificao.

    Entre as espcies, algumas so eliminadas rapidamente pelo rebanho logo aps as primeiraschuvas. Dessa maneira o gado responsvel por modificaes profundas das caatingas aomodificar o microclima de seus estratos inferiores e seus ectopos, principalmente pelo excessode pisoteio que torna os solos compactos, impedindo desse modo infiltrao das guas econtribuindo para aumentar a energia do escoamento superficial e, por conseguinte provocandoeroso. Contudo, parece que esse tapete herbceo mais desenvolvido em setores mais midose submetido a uma estao seca menos severa.

    Se os solos forem mais arenosos e mais profundos e os estratos superiores das caatingas soabertos, o tapete herbceo reage e apresenta um desenvolvimento maior e diversificado. Demodo geral ele constitudo de espcies de pequeno porte: Gramneas, Malvceas,Amarantceas, Portulacceas, Rubiceas, Ciperceas, Comelinceas. Em algumas regies, aaltura e a densidade desse estrato aumenta: as gramneas atingem um porte bastante elevado(Aristida, Andropogon, Chloris e Brachiaria) e ele enriquecido com outras espcies(Leguminosas: Phaseolus, Indigofera, Crotalaria, Convolvulceas, Labiadas, Nictaginceas,Esterculiceas) (KOECHLIN; MELO, 1980).

    As formaes vegetais florestais encontradas no domnio das caatingas merecem algumasconsideraes, uma vez que muitas dentre elas tm uma estreita ligao com estas, e sem dvidacom a sua origem. Elas podem ser agrupadas em vrias categorias: (i) Formaes lenhosas,higrfilas, ligadas existncia de um lenol fretico prximo da superfcie dos solos e mais ou

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    menos permanente: a) matas ciliares (florestas riprias ou florestas-galeria), como Ziziphusjoazeiro, Licania rgida, Tabebuia caraibea, Bumelia sartorum; b) colnias de Copernicia cerifera(carnaba). Tais condies so encontradas nos vales, ao longo dos rios ou em baixios aluviais ecoluviais (ps-de-serra), alimentados pela gua que escoa dos macios montanhosos que lhesso vizinhos. (ii) Formaes florestais ligadas a condies climticas locais relativamente midasque determinam existncia de uma flora mesfila ou higrfila: rvores com folhas persistentesou no, s vezes esclerfilas; epfitas; lianas; sub-bosque herbceo ou subarbustivo. O resultado uma caatinga brejada.

    No entanto, se o sub-bosque no for degradado ou destrudo pela pisoteio excessivo do gado, aformao pode evoluir em detrimento da caatinga ou no, o que vem confirmar o carter deectono dessa formao (floresta decidual seca), cujo dinamismo reflete diferentes tipos detenso ecolgica: (i) Condies edficas severas, desfavorveis e setores mais secos:substituio da floresta caduciflia por caatingas de substituio; (ii) Condies dos meios maisfavorveis a um sub-bosque florestal: caatinga brejada: (iii) Invaso de espcies da caatinga nochegando a provocar um desaparecimento total da floresta seca: agreste acaatingado.

    Mas, infelizmente, tudo leva a crer que a reconstituio da floresta seca seja impossvel por umasrie de motivos:

    As espcies invasoras so, sobretudo, representadas por espciesda caatinga que parecem possuir grande amplitude ecolgica, poiselas atingem as capoeiras das florestas ombrfilas do litoral e dosbrejos de altitude;

    A derrubada dessa floresta, mesmo se algumas rvoresimportantes so preservadas, destri as condies um pouco maismidas que so favorveis ao desenvolvimento do sub-bosque apartir do qual a reconstituio florestal seria possvel;

    A destruio pelo gado, dos primeiros estgios de regenerao dafloresta, poupando certas espcies que no lhe so apetecveldestri tambm o ambiente micro-climtico; O superpastoreioprovoca a compactao do solo por excesso de pisoteio e, porconseguinte, acelera os processos erosivos, tornando impossvel aregenerao, e

    Pequenas pores do espao natural dos Agrestes so consumidaspelo sistema de culturas e pastagens, acarretando a longo e mdioprazo, um importante consumo do capital vegetal.

    A degradao dos solos e das condies hdricas em conseqncia dos desmatamentos tornadifcil a reconstituio da vegetao. Assim, o quadro geobotnico atual representado por

    diferentes estgios de degradao da floresta caduciflia, como tambm, a introduo depastagens artificiais quem vem provocando uma grande transformao na paisagem.

    Segundo Andrade-Lima (1981) com base na noo de comunidade-tipo, ou seja, espcies quecaracterizam uma associao vegetal, vinte ou trinta tipos de caatinga existiriam em todo odomnio semi-rido nordestino, mas que seria prefervel reuni-los em somente doze tipos, uma vezque as informaes sobre o clima e sobre os solos e suas relaes com a vegetao so aindaesparsas e incompletas. Ele estabeleceu uma classificao baseada em critrios fisionmicoecolgicos tentando estabelecer uma correlao entre os ndices xerotrmicos, os tipos de solo ede rochas, a presso antrpica e a fisionomia das caatingas.

    As doze comunidadestipo (Quadro I) podem ser facilmente reconhecidas no terreno, mas suadistribuio real no espao ecolgico de difcil reconhecimento, pois no h limites ntidos. Apassagem de uma unidade para outra gradual, sobretudo quando as variaes so de ordem

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    climtica. Os doze tipos apresentados pelo autor esto ligados, sobretudo s condiespedolgicas. Neste caso, as mudanas entre cada um dos tipos so mais claras (Quadro 1).

    Tipo Comunidade-TipoCaatinga arbrea alta Tabebuia Aspidosperma - Astronium-Cavanillesia

    Caatinga arbrea mdia Astronium - Schinopsis- CaesalpiniaCaatinga arbrea mdia ou baixa, densa e/ouaberta

    Caesalpinia - Bursera- Spondias-Aspidosperma

    Caatinga arbustivo-arbrea Mimosa - Syagrus Spondias CereusCaatinga Arbustiva Pilocereus Poepiggia Dalbergia

    PiptadeniaCaatinga arbrea aberta Cnisdosculus Bursera CaesalpiniaCaatinga arbustiva baixa Caesalpinia Aspisdosperma JatrophaCaatinga arbustiva aberta Caesalpinia Aspidosperma

    Caatinga arbustiva aberta, baixa ou alta Mimosa Caesalpinia Aristida

    Caatinga arbustiva aberta baixa Aspidosperma PilocereusCaatinga arbustiva aberta Calliandra PilocereusFlorestas riprias (florestas ciliares) Copernicia Geoffrea Licania Tabebuia

    BumeliaQuadro 1 - Comunidadetipo da caatinga

    Fonte: Elaborao prpria, 2007.

    Para Vasconcelos Sobrinho (1974) todas as formas da caatinga so degradadas pelo homem,mas esta degradao no foi obra dos indgenas que viviam nesse imenso domnio geobotnico,pois suas prticas agrcolas rudimentares no sacrificavam reas importantes da caatingaprimitiva. Foram os europeus que agravaram os processos de degradao. Segundo ele, um dosgrandes responsveis por essa degradao foi ferrovia.

    Durante quase um sculo, as caatingas forneceram dormentes para as estradas-de-ferro emilhares m de lenha para as caldeiras das locomotivas a vapor. De acordo com um levantamentoestatstico efetuado pelo antigo Servio de Inspeo Florestal e de Proteo da Natureza, a GreatWestern, consumiram 200.000 m de lenha e 60.000 dormentes de aroeira e barana, entre 1935e 1945. Alm disso, 12.000.000 m de lenha para consumo domstico foram extrados da caatingaem 1945 (VASCONCELOS SOBRINHO, 1974).

    A isto se acrescenta, para agravar a devastao, a prtica dos pastos naturais melhorados pelautilizao do fogo que sem nenhuma vigilncia nem mtodo, em um s dia, reduz a cinzascentenas de hectares de caatinga. Outro fator no negligencivel a criao de caprinos. Sabe-seo quanto esses animais so nocivos vegetao arborescente e arbustiva e como a criao decabras soltas na caatinga talvez mais numerosa do que a de bovinos, fcil imaginar osestragos que ela provoca na vegetao.

    Lutzelburg (1922) afirma que, em virtude das queimadas que era necessria cultura do algodo,a devastao das raras rvores que ainda existem na caatinga (o autor escrevia isto em 1922)aumenta cada vez mais e logo o serto estar privado delas. E ele acrescenta que as belas evastas matas virgens do alto do vale do Paraba encontram-se completamente devastadas dequalquer rvore.

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    Os cedros, os jacarands e os jatobs, descritos por Joffily (1892), nas suas Notas sobre aParaba, no existem mais. Referindo-se caatinga com tapete gramineano e herbceo doSerid da Paraba e do Rio Grande do Norte, tambm chamada de serid, diz esse autor, queesse tipo de caatinga originou-se da degradao de antigas caatingas cujos vestgios ainda soencontrados sobre os relevos que se destacam da planura geral da regio. O tapete de gramneas muito exuberante com as plantas dispostas em tufos ou isoladas. Durante a estao seca eledesaparece. Outras espcies fazem parte deste estrato tais como pequenas cactceas e plantasherbceas. As rvores so poucas, assim como arbustos e o espaamento entre outros oselementos so muito grandes.

    Schnell (1961) afirma que ao menos localmente, nos limites de sua rea de ocorrncia, ascaatingas puderam substituir as florestas secas destrudas pelo homem, mas parece que ,sobretudo, nas relaes entre caatingas arbustivas e caatingas arborescentes que essas relaesde sucesso podem intervir. Pode-se pensar que as associaes vegetais da caatinga so namaioria dos casos agrupamentos climticos, a ao antrpica os tendo poupado.

    Foury (1982) pe em dvida as causas antrpicas responsveis pelos inmeros fcies dacaatinga. Segundo esse autor, algumas estepes e pseudo-savanas, no resultam da ao dofogo, pois este nunca foi praticado de modo mais intensivo do que nos tempos atuais. Noexistem ervas com rizomas capazes de rebrotar aps os incndios e no haveria sentido emqueimar o tapete herbceo de efmeras anuais, pois o fogo destruiria os recursos forrageiros nocontribuindo desse modo para sua renovao. Para ele, os fatores antrpicos que teriamintroduzido, sobretudo, modificaes fisionmicas na caatinga seriam, sobretudo o machado e apastagem extensiva, pois quase toda a regio utilizada como rea de pastagem. Por razesclimticas, a regenerao das espcies feita essencialmente por renovos que se tornam presafcil para as cabras e os bois.

    Para Rougerie (1980) a caatinga marcada pelo polimorfismo. Segundo ele, o determinismo do

    meio para todas as formas da caatinga em primeiro lugar climtico: trata-se de um meio quente,seco e marcado pelas secas peridicas, que no obedecem a ritmos sazonais, pois elas se situamna zona tropical, mas os caprichos das massas de ar e os dispositivos do relevo criam condiesclimticas particulares em um setor que subequatorial, portanto, zonalmente excepcional. Paraeste autor, o fator edfico desempenha um papel importante na diferenciao florstica e nasvariaes locais do aspecto fisionmico. Quanto aos fatores antrpicos, ele no os considerainexistentes, mas ocupam um lugar menor em comparao com o peso dos elementos climticose do comportamento hdrico dos solos. A ao humana no seria responsvel pela criao dostipos de vegetao, ela apenas retocou-os.

    Em diversas viagens de estudo pela caatinga, entre os cariris e os sertes da Paraba, apslevantamento in locu averiguo-se quatro tipos de caatinga: o primeiro que corresponderia

    floresta densa seca, chamada de mata boa e trata-se de uma caatinga arbrea que aindaconserva seus traos originais e ao que parece nunca foi derrubada; um segundo tipo seria oequivalente s caatingas arbustivas e arbustivo-arbreas densas s quais eles chamam decapoeiro, trata-se de uma formao secundria que atingiu um estgio avanado de crescimentoe cujas rvores tm de 4 a 5 metros de altura e o dimetro dos troncos varia de 20 a 35centmetros. Apresentam tambm algumas rvores com uma dezena de metros de altura; oterceiro tipo corresponde a uma vegetao menos desenvolvida porque mais recente acapoeira mdia, sendo esta constituda de um estrato arbustivo muito denso, de 3 a 4 metros dealtura e o dimetro dos troncos varia de 2 a 5 centmetros, este tipo poderia corresponder a umacaatinga arbustiva densa e baixa; o ltimo tipo a forma recente, cuja idade de menos de 3 ou 4anos, e dominada por pequenos arbustos dispostos em touceiras espaadas e com altura entre1 e 3 metros, ela corresponderia a um estepe com manchas de solo nu entre os tufos sub-arbustivos.

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    A partir dessa constatao, uma resposta enftica: as caatingas caracterizam-se por umpredomnio de espcies lenhosas coexistindo com espcies herbceas e gramneas. As espcieslenhosas chamam a ateno por suas formas biolgicas e pela posio dominante na estrutura daformao. Elas podem se apresentar sob a forma de rvores, de arvoretas, de arbustos e desubarbustos. Os arbustos e arvoretas no apresentam fustes bem desenvolvidos e soramificados a partir do nvel do solo. Quanto s espcies herbceas, algumas possuem ramoseretos e mais ou menos linhificados. No conjunto, as caatingas apresentam-se normalmente comporte inferior a 7 metros, embora alguns tipos possam ultrapassar esta dimenso.

    Apesar da grande devastao e da degradao que as caatingas apresentam, ainda podem serdiferenciadas formas que variam da formao mais ou menos densa e arborescente at asformaes com aspecto de estepes subfruticosas. A prova que a maioria dos tipos de caatinga de formaes secundrias verifica-se no plano florstico: dois grupos importantes, as Mimosidease as Cesalpinceas, e em seguida, nas estaes mais ridas, as Euforbiceas e as Apocinceaschegam a assumir a dominncia nas formaes. A riqueza maior ou menor em cactceas ebromeliceas terrestres introduz modificaes no quadro morfolgico e fisionmico geral. Por

    exemplo, as cactceas so muito abundantes na superfcie dos Cariris (550m) entre Soledade Juazeirinho e de menor ocorrncia na Depresso de Patos (250m). O mesmo ocorre com asBromeliceas terrestres o caro (Neoglaziovia variegata) e a macambira-de-cho (Bromelialaciniosa) que tm ocorrncia limitada ao Cariri paraibano e ao Curimata.

    Nas serras e macios residuais encontram-se povoamentos de pequenas rvores que formam umestrato ralo dominando um sub-bosque mais denso composto de arbustos de pequeno porte. Nasreas aplainadas so as formaes arbustivas densas espinhentas, com ou sem cactceas, quedominam. Sobre solos rasos e pedregosos que recobrem extensas reas da caatinga, passa-se aformaes mais ralas e baixas; os arbustos so pequenos e dispostos em tufos afastados uns dosoutros e s vezes com cobertura de gramneas ou de gramneas e herbceas entre asMimosideas, Cesalpinceas, Euforbiceas e, localmente, Cactceas prostradas. As espcies

    lenhosas tm porte raqutico. Trata-se do fcies mais seco e degradado das caatingas.

    Resultados

    A primeira definio cientfica da caatinga de 1840 e deve-se a Martius (1996): Sylva aestuaphylla. Ela destaca os seus traos principais: vegetao arborescente, portanto, lenhosa (sylva)e perda total das folhas (aphylla) durante a estao seca (aestu).

    Aubrville (1961), em seu glossrio de termos fitogeogrficos brasileiros em homologia comvocabulrio estabelecido no colquio de Yangambi (Repblica Popular do Congo), realizado em1956, a definio de caatinga dada como sendo: termo fitogeogrfico genrico designando oconjunto de todos os tipos de vegetao que recobrem a regio semi-rida do Nordeste brasileiro,caracterizado pela caducidade das folhas durante a estao seca e presena freqente ouabundante de arbustos espinhentos e de grandes cactceas.

    Andrade-Lima (1981) caracteriza a caatinga como uma vegetao arbrea e arbustiva na qual,em quase todas as espcies, predomina a caducidade das folhas sobre as outras formas deresistncia s deficincias hdricas sem exclu-las; mais ou menos rica em cactceas ebromeliceas, com um grande nmero de outras espcies tambm espinhentas e vriasendemismos.

    Schnell (1961) define a caatinga como um tipo de vegetao arborescente e xerfila, espinhenta,

    apresentando as caractersticas gerais seguintes: rvores e arbustos em sua maioria espinhentos,desfolhados na estao seca, durante a qual ela se apresenta com um aspecto triste e cinzentomuito caracterstico; presena de plantas suculentas (Cactceas e Euforbiceas); presena de

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    bromeliceas terrestres coriceas e espinhentas; tapete herbceo anual; e ausncia de epfitas,com exceo de algumas formaes nas quais so encontradas: Tillandsia xerfilas, liquens eausncia de lianas em geral.

    Aubrville (1961), a vegetao da caatinga, em virtude da aridez edfica e climtica, deveriam terum ntido carter de pobreza e de uniformidade; mas, apesar do nmero relativo de espcies, osaspectos fisionmicos variam de acordo com as condies edficas, de modo que as paisagensmudam a tal ponto que deveria se dizer caatingas, pois os tipos de vegetao que s tm emcomum a proporo maior ou menor de cactceas e a caducidade das folhas.

    Koechlin e Melo (1980) que estudou as caatingas do semi-rido paraibano, afirma que estafloresta seca, com suas diferentes formas, seria a formao primitiva de onde, por degradao,teriam sado s caatingas. Os desmatamentos, o superpastoreio e o fogo estariam na origem dastransformaes. Diz este autor que, a reconstituio da floresta primitiva raramente possvel pordiversas razes: desaparecimento do ambiente micro-climtico do sub-bosque que permitiria avida e a regenerao das espcies florestais; estrema lentido do crescimento das espcies

    lenhosas; degradao dos solos e das condies hdricas em conseqncia dos desmatamentos.Poucas espcies so capazes de se adaptar a estas novas condies e o carter secundrio dacaatinga explica desse modo pobreza e homogeneidade dessa formao que, no seu estadoatual, seria relativamente recente.

    Os autores supra citados consideram a caatinga integra, pelo determinismo dos fatores climticos,edficos e antrpicos. Como resultado dessas inter-relaes tem-se um mosaico de diferentestipos de vegetao: floresta seca, caatingas arbustivas e pseudo-estepes, com todos os tiposintermedirios possveis, o que torna seu estudo muito difcil. Essas trs formaes principais queconstituem as caatingas possuem estruturas diferentes e so ligadas por faces de transio. Assuas diferenas fisionmicas se devem no penas s variaes climticas regionais e locais e composio florstica, mas, sobretudo, a certos fatores estacionais, como compartimentao

    topogrfica e fenmenos de exposio e abrigo, condies edficas e dos impactos das atividadeshumanas.

    A caatinga arbrea ou floresta seca corresponde a estaes onde so encontradas condiesecolgicas menos xricas proporcionadas pelos topoclimas e por condies edficas; a estepearbustiva geralmente representa a formao mais xrica e mais extensa. A natureza do solo, suaprofundidade e textura, a rocha-me, o relevo e a pluviosidade determinam o tipo de caatingaarbustiva e estepria densa ou aberta.

    Bgu (1968) considera que em um meio ecolgico to diversificado seria de se esperar umamaior diversidade nesta vegetao. Em face de tanta diversidade das caatingas, torna-se uma dasformaes vegetais mais estudadas por cientistas estrangeiros e brasileiros. Muitas publicaes

    expem suas caractersticas florstica, estruturais, fisionmicas e o seu dinamismo. Alguns delesafirmam que todas as formas da caatinga atual so oriundas da degradao antrpica, o clmaxsendo a floresta seca. Outros, sem negar o papel das aes humanas diretas e indiretas,consideram as florestas secas como formaes clmaceas, sendo estas mesoclimticas e/ouedficas. Os estudos gerais e parciais que foram efetuados, embora numerosos, parecem serinsuficientes para que se possa ter uma viso completa tanto do ponto fisionmico como florstico.

    A geoecologia das caatingas no Nordeste brasileiro reside num compacto feixe de atributos:climtico, hidrolgico e ecolgico. Na realidade essa condio produz uma particularidade, ondeh um sculo, no recesso dos sertes de Canudos, Euclides da Cunha anotou dois termosutilizados pelos matutos: o verde e o magrm, que de acordo com Ab' Saber (2003) noexistiu termo mais significativo, que infelizmente caiu em desuso.

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    Essa semi-aridez do Nordeste se reflete em seus aspectos fsicos e ecolgicos: com estaochuvosa relativamente curta (verde), irregularidade pluviomtrica no tempo e no espao(magrm). Isso, pois os meios semi-ridos caracterizam-se pela ocorrncia de uma crise climticasazonal que repercute em todos os elementos que compem o seu complexo sistema fsico-natural e humano. Avaliando o homem dentro desse complexus, ele o responsvel pormodificaes estruturais, florsticas e ecolgicas dando origem por vezes a ncleos dedegradao.

    Atualmente, as caatingas se caracterizam por atividades econmicas ligadas produo agrcola, pecuria e ao extrativismo mineral. A agricultura tradicional (milho, feijo e algodo) est sujeitas vicissitudes climticas e apresenta problemas de rendimentos e de mercado. A pecuria,ento, tornou-se a atividade principal. Praticada extensiva ou semi-extensiva, ela responsvelpor uma forte concentrao de terras e, atualmente, baseia-se, sobretudo na utilizao de pastosmelhorados e na cultura de plantas forrageiras, tais como: gramneas exticas, algaroba e palmasforrageiras.

    Na maioria dos casos, as atividades econmicas so acompanhadas de desmatamentosindiscriminados da caatinga que associados fragilidade natural desse ecossistema trazem sriasconseqncias para os getopos e para as biocenoses: comprometimento dos recursos hdricos,eroso, salinizao e compactao dos solos, reduo da diversidade biolgica e da produoprimria. Diante do estado atual de extrema devastao em que se encontram submetida scaatingas, torna-se muito difcil afirmar que esse conjunto de terras semi-ridas foi inteiramenterecoberto pela mata branca, ou que as paisagens atuais (floresta seca, caatingas arbustivo-arbreas e caatingas arbustivas e subarbustivas) existiam antes das aes predatrias do homembranco.

    bem possvel que nenhuma dessas indagaes seja totalmente verdadeira e que umavegetao florestal tenha sempre coexistido com formaes arbustivas e subarbustivas. Porm,

    valem salientar que durante sculos a caatinga forneceu madeira para dormentes das estradas deferro e lenha para as caldeiras das locomotivas, postes da rede telegrfica e eltrica, e paraconstruo de cercas, lenha e carvo. A explorao do potencial madeireiro empobreceu oecossistema. A expanso da pecuria a partir da conquista do serto ampliou as reas depastagem por meios de cortes das rvores e pela utilizao do fogo para que crescessem novasgramneas e fossem eliminados animais e insetos nocivos ao gado.

    A prtica da devastao de grandes espaos da caatinga pelas queimadas aumentou realmenteas reas de pastagem, mas, provocou grande desequilbrio no ecossistema. A agricultura doalgodo tambm foi responsvel por devastaes de imensas reas de caatinga, sobretudo apartir do sculo XIX.

    Conclui-se com isso que, com a introduo do homem no sistema semi-rido caatinga - oproblema das presses que suas atividades diretas ou indiretas exercem sobre ela, deixando deser um emaranhado complexo de relaes entre seus componentes biticos e abiticos e passa ase transformar num sistema agro-silvo-pastoril, ou seja, um complexo natural-histrico e social.

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