Genoma Xylella na reta final
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UMA PUBLICA~ÃO MfNIAL DA fUNOA~ÃO OE AMPARO À PEIQUIIA DO EITAOO OE IÃO PAULO
HORMÔNIO -COMAÇAO , ANTIINFLAMATORIA
BIOTA-FAPESP CONQUISTA PRÊMIO
CE:)]
Genoma Xylella na
reta final
12 O Programa Biota-FAPESP recebe o Prêmio Henry Ford de Conservação Ambiental, como iniciativa do ano na área de preservação
18 Antes do prazo previsto, os pesquisadores da rede Onsa concluem o Projeto Genoma Xylella, de seqüenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa, e se colocam ao lado dos principais grupos da pesquisa genômica mundial
Capa: Hélio de Almeida, sobre
fotos de Miguel Boyayan (folha) e Fundecitrus (Xy/e//a)
26 Pesquisadores da USP chegam a resultados
inéditos sobre o papel antiinflamatório da melatonina, hormônio produzido pela glândula
pineal e que controla o sono nos seres humanos
EDITORIAL 5 MEMORIAS 6 OPINIÃO 7 POLfTICA CIENTÍFICA E TECNOLOGICA 8 CIÊNCIA 18 TECNOLOGIA 37 HUMANIDADES 42 LIVROS 48 LANÇAMENTOS 49 ARTE FINAL 50
34 Pesquisadores da Unicamp fundiram dois tipos de circuitos integrados e criaram um outro, de arseneto de gálio, que permite aplicações mais refinadas, em áreas de ponta
38 Um grupo de nove empresas de São Carlos forma a Virtec, uma organização virtual que reúne competências empresariais e acadêmicas
42 Estudo faz amplo levantamento da imigração e mostra que foi ela que deu a São Paulo sua feição empreendedora
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1999 • 3
PESQUISA FAPESP É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL
DA FUNDAÇÃO DE AMPARO À PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO
CONSELHO SUPERIOR PROF. DR. CARLOS HENRIQUE DE BRITO CRUZ
PRESIDENTE
PROF. DR.ADILSON AVANSI DE ABREU PROF. DR.ALAIN FLORENT STEMPFER
PROF. DR. ANTÔNIO MANOEL DOS SANTOS SILVA PROF. DR. CELSO DE BARROS GOMES
DR. FERNANDO VASCO LEÇA DO NASCIMENTO PROF. DR. FLÃVIO FAVA DE MORAES
PROF. DR. JOSÉ JOBSON DE A ARRUDA PROF. DR. MAURÍCIO PRATES DE CAMPOS FILHO
DR. MOHAMED KHEDER ZEYN PROF. DR. PAULO EDUARDO DE ABREU MACHADO
PROF. DR. RUY LAURENTI
CONSELHO TÉCNICO-ADMINISTRATIVO PROF. DR FRANCISCO ROMEU LANDI
DIRETOR PRESIDENTE
PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENG LER DIRETOR ADMINISTRATIVO
PROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZ DIRETOR CIENTÍFICO
EQUIPE RESPONSÁVEL
CONSELHO EDITORIAL PROF. DR. FRANCISCO ROMEU LANDI
PROF. DR. JOAQUIM J. DE CAMARGO ENGLER PROF. DR. JOSÉ FERNANDO PEREZ
EDITORA CHEFE MARILUCE MOURA
EDITORA ADJUNTA MARIA DA GRAÇA MASCARENHAS
EDITOR DE ARTE HÉLIO DE ALMEIDA
EDITORES CARLOS FIORAVANTI (CIÊNCIA) CARLOS HAAG (HUMANIDADES)
MARCOS DE OLIVEIRA (TECNOLOGIA) MÃRIO LEITE FERNANDES (TEXTO)
DIAGRAMAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA MOISÉS DORADO
T ÃNIA MARIA DOS SANTOS
COLABORADORES ANA MARIA FlORI
LUCAS ECHIMENCO MARCOS PIVETIA MYRIAN CLARK
MÔNICA TEIXEIRA RODRIGO ARCO E FLEXA
ULISSES CAPOZOLI
FOTOLITOS E IMPRESSÃO GRAPHBOX-CARAN
TIRAGEM: 22.000 EXEMPLARES
FAPESP RUA PIO XI , NO. 1500, CEP OS468-90 I ALTO DA LAPA - SÃO PAULO - SP
TEL. (O - li) 838-4000 - FAX: (O - li) 838-4117
ESTE INFORMATIVO ESTÁ DISPONÍVEL NA HOME-PAGE DA FAPESP:
http://www.fapesp.br e·mail: mariluce@ fapesp.br
SECRETARIA DA CIÊNCIA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO
ECONÔMICO
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
4 • NOVEMBRO DE 1999 • PESQUISA FAPESP
Genoma Cana
Na reportagem sobre o Genoma Cana, Notícias FAPESP N° 46, foram citadas as universidades e institutos que participam do projeto, com a omissão da Universidade Federal de São Carlos. Esta possui dois gru-pos que integram os grupos de seqüenciamento do SUCEST, um deles sob a minha coordena-ção, no Departamento de Gené-tica e Evolução, e outro sob coordenação do Dr. Éder Giglioti, no Centro de Ciências Agrárias da UFSCar, câmpus Araras.
Em informativos anteriores, fui citado como pertencen te à Universidade Federal de São Paulo, Unifesp.
PROF. DR. FLÁVIO HENRIQUE SILVA
Universidade Federal de São Carlos
há dados referentes ao Estado de São Paulo e ao Brasil. Bastaria clicar os sites do Ministério da Saúde referentes aos Datasus ou do Instituto Nacional do Câncer.
PAULO A. LOTUFO
Professor Assistente da Faculdade de Medicina da USP - São Paulo, SP
Taxa bruta de mortalidade por câncer de algumas localizações primárias Brasil - Homens, 1980- 1996
1/1 00 000 homens 14 ~~:.:___::.....:_ _________ ,
12
lO
8~-- Estômago
41·-=-------------1 Cólon t- e Reta
0~-r,-~-r~~~~~~-r~ ~~~~~~~~~~~~~~~~~
Fontes: Ministério da Saúde: DataSus, SIM, INCA; e /BGE: DEPEIDEPIS
Taxa bruta de mo rtalidade por câncer de algumas localizações pri márias Bras il - Mul heres, 1980- 1996
São Carlos, SP 1/ 100.000 mulheres 1 0~:.:___::.:___::.....:_~---------,
Correção 8
Venho através desta solicitar o reparo da informação veiculada no Notícias FAPESP No 46, do mês de setembro de 1999, na matéria intitulada "Melhores prognósticos: marcadores biológicos permitem prever a evolu-ção do câncer de pulmão", à pág. 20, no item Perfil. O diretor do Serviço de Verificação de Óbitos da Capital da Universidade de São Paulo (SVOC-USP), desde 17 de outubro de 1997 até o momento, é o Prof. Dr. Carlos Augusto Pasqualucci, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP.
RUBENS M ARTI NS,
Assistente Técnico-Administrativo do SVOC-USP- São Paulo, SP
Gráficos nacionais
Excelente a pesquisa e a reportagem sobre câncer de pulmão (Notícias FAPESP 46), porém não se pode admitir a apresentação de um gráfico com a estatística americana, quando
Fontes: Minis!ério da SaUde: 0(J[o5us, SIM, INCA; e IBGE: DEPEIDEPIS
Pesquisa Seade
Pulmão
Estômago
Colo do Útero
É com grande satisfação que acusamos o recebimento da edição de setembro de Notícias FAPESP, contendo ampla e competente matéria sobre a Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (PAEP), realizada pela Fundação Seade. A divulgação desse trabalho por um veículo com a credibilidade e o prestígio da revista constitui, para nós, motivo de muito orgulho, especialmente por ter sido a FAPESP a parceira estratégica que tornou possível a realização das atividades de campo.
PEDRO PAULO M ARTON I B RANCO,
diretor executivo e
L UIZ HENRIQUE PROENÇA SOARES,
diretor adjunto de Produção de Dados da Seade
EDITORIAL
Honrando a própria história
Genoma Xylella reafirma visão de futuro da FAPESP
A reportagem de capa desta edição de Pesquisa FAPESP é uma daquelas peças jornalísticas que tornam extraordinaria
mente gratificante a função, nem sempre fácil, de editor. Primeiro de tudo, porque se constrói sobre uma grande e boa notícia. E que editor, jornalista, enfim, essas pessoas com tanta freqüência imersas, por dever de ofício, na dura tarefa de por à luz micro-histórias de dramáticas mazelas sociais, de escândalos políticos e econômi-cos, não se sentiria feliz em poder apresentar a seus leitores como uma grande e boa notícia aquilo que
Para além de tudo isso, a reportagem de capa desta edição é também gratificante para um editor de Ciência e Tecnologia pelo que o repórter conseguiu extrair de vida sendo vivida, de entusiasmo, de emoção imprimida ao trabalho científico, tantas vezes mal compreendido nessa dimensão particular. O texto deixa entrever um componente de eletricidade, de frisson, de alegria e prazer que há na atividade científica, alternado aos naturais períodos de
desânimo, de tédio, a que as verificações obrigatórias, as repetições, a insistência dos gaps que simulam abismos intransponíveis, arrastam.
ele realmente acredita que o é? A conclusão praticamente defi
nida do seqüenciamento da Xylella fastidiosa é, de fato, isso: uma grande e boa notícia - sobre a capacidade nacional de fazer boa ciência e tecnologia; sobre a competência do sistema de C&T e dos pesquisadores paulistas para dar saltos e fazer avançar a pesquisa em novas bases de organização; sobre a garra desses pesquisadores para perseguir a excelência
" Provou-se Para finalizar, retornando ao pon
to de vista geral da FAPESP, é gratificante editar essa reportagem para a revista desta fundação porque, sem nenhuma referência no texto à história dessa instituição, ela reafirma e honra precisamente essa história.
que orgamzar
3 I laboratórios
em rede virtual
era uma decisão A FAPESP, tal como existe, é sem dúvida, o produto de uma já longa história de boas lutas: da acuidade visual contra a miopia política; da
acertada"
do criar científico e do fazer tecnoló-gico, chave para situar o país no me-lhor nível da produção contempo-rânea do conhecimento.
Para a FAPESP, promotora e financiadora do Programa Genoma em São Paulo, não dá para obscurecer, por falsa modéstia, o brilho desse feito: a conclusão do primeiro projeto genoma brasileiro, prestes a ser apresentado à comunidade científica internacional, é um motivo legítimo de orgulho. Seja por seu próprio significado científico, ou pela demonstração concreta de que a proposta audaciosa de organizar o labor científico de 31 laboratórios de pesquisa em rede virtual, antes nunca tentada no país, era acertada. Seja pelo grau inédito de cooperação e integração obtido entre mais de uma centena e meia de pesquisadores, ou pelo ritmo veloz, incomum, que se imprimiu ao projeto. A FAPESP está convencida de que tudo isso somado operou uma mudança radical, de longo alcance, no ambiente da pesquisa em São Paulo.
visão de longo prazo contra o imediatismo estreito; da audácia contra o acomodamento estéril; do compromisso com a construção de
uma sociedade mais igualitária e justa contra asatisfação de pequenos interesses; da liberdade de criação, aliada à consciência social, contra a camisa de força sobre os talentos individuais. Enfim, a FAPESP é tal qual é porque, construída com toda a vontade de acerto que também incorre em erros, como é próprio das boas construções humanas, é sobretudo resultado das vitórias constantes das forças mais positivas da sociedade e da cultura brasileiras sobre suas forças mais sombrias.
Nesta edição de Pesquisa FAPESP, por diferentes vias, é esta instituição que se apresenta, deixando antever, como na reportagem da Xylella, suas possibilidades para atender um futuro exigente, ou mostrando, como na resenha dos livros organizados pelo professor Shozo Motoyama, as lutas do passado que a trouxeram até o lugar em que hoje ela se encontra.
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1999 • 5
O primeiro vôo bem-sucedido
Em Paris, naquele 13 de novembro de 1899, o tempo não era lá dos melhores. O céu estava acinzentado, ventava e fazia frio. Fosse um pouco menos obstinado, o mineiro Alberto Santos Dumont (1873-1932) teria revisto seus planos. Já havia passado por experiências frustrantes, mas não desistiu: pôs-se ao ar com o dirigível n° 3 e realizou o primeiro vôo bem-sucedido controlado pelo homem. Mais curto e arredondado que os anteriores, o n° 3 aproveitava o mesmo motor, a hélice e os contrapesos do n° 2, com o qual o inventor havia se chocado contra uma árvore em maio daquele ano. Santos Dumont sobrevoou o Campo de Marte, manobrou para cima e para baixo, à esquerda e à direita, contornou a Torre Eiffel e, como a aeronave se comportava impecavelmente, prolongou o passeio até o campo de Bagatelle, onde pousou, intacto. O n° 3 voou outras vezes e Santos Dumont não parou mais: construiu e aperfeiçoou outros balões dirigíveis até consagrar-se definitivamente em 1906, com o 14-Bis.
Os primórdios da meteorologia no Brasil
Vai chover? Para que a resposta a uma pergunta tão simples se apóie mais na Ciência e menos na intuição, o Brasil começou há 90 anos a observar atentamente os movimentos do céu. No dia 18 de novembro de 1909,
6 • NOVEMBRO OE 1999 • PESQUISA FAPESP
e Santos Dumont: no ar, há I 00 anos
entrou em operação a Diretoria de
Meteorologia e Astronomia, atual Instituto Nacional de Meteorologia, então
no Morro do Castelo, no centro da cidade
do Rio de Janeiro, na época capital federal. Ligado
ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, o novo órgão deveria implantar uma rede
de estações meteorológicas e realizar a previsão do tempo,
que começaram a ser divulgadas pelos jornais cariocas em 10 de junho de 1917. As incumbências, na verdade, eram bem maiores. Sob a direção do engenheiro, astrônomo e meteorologista Henrique Charles Morize (1889-1930), a Diretoria deveria dar o "aviso aos navegantes e agricultores" sobre o tempo, noticiar por telégrafo a aproximação de tempestades,
. . pesqmsar as secas e o regime dos rios, propor medidas que amemzassem a escassez de água e realizar observações astronômicas. Tantas atribuições seriam desmembradas em 1925
entre dois órgãos, a Diretoria de Meteorologia e o Observatório Nacional. Morize manteve-se à frente do Observatório Nacional, transferido para o Morro
de São Januário, no bairro de São Cristóvão. O meteorologista Joaquim de Sampaio Ferraz (1882-1966), que analisava os dados da previsão do tempo, assumiu a Diretoria de Meteorologia, com nova sede na ponta do Calabouço, no centro. Na época, a instituição dispunha de 250 estações meteorológicas. Atualmente, com sede em Brasília, o Inmetro conta com cerca de 450 estações meteorológicas espalhadas pelo Brasil, além de dados de satélites.
A antiga torre "aviso aos navegantes"
OPINIÃO
DARCY FONTOURA DE ALMEIDA
Genomas: projetos, realizações e sonhos Etapa cumprida traz perspectivas entusiasmantes
Ainda me encontro, como de certo muitos outros pesquisadores Brasil afora, sob o benfazejo efeito da dominação, pela co
munidade científica sediada em São Paulo, da moderna tecnologia de seqüenciamento de genomas. Dito assim, parece pouco. É preciso dizer algo mais. De acordo com uma regra que talvez possa ser considerada como intrínseca à evolução da atividade científica, a aquisição de conhecimento, se por um lado reduz algu-ma perplexidade ou resolve algum problema, por outro lado acarreta a formulação de inúmeras indaga-
a sua apresentação em nível hierárquico superior. Não mais se indagará de um gene, com seu produto e sua função, mas de regulons inteiros, de constelações de genes, dos labirintos de funcionalidade que bem se assemelham aos mapas das vias do metabolismo intermediário, até ante ontem grudados às paredes de nossos laboratórios.
As palavras de ordem passam a ser chips de DNA, micro-arrays, uma nova disciplina que em nossa lin
gua nem nome tem ainda, genomics. Contudo, acredito que, um pouco mais adiante, deverá ocorrer um retorno à participação individual des-
"Está ções e novos problemas. Portanto, a etapa cumprida é, ao mesmo tempo, o fim e o início. No caso, tanto um quanto o outro trazem perspectivas entusiasmantes.
Para chegar ao fim, que era o seqüenciamento completo do genoma da Xylella fastidiosa, bactéria fitopatógena que provoca a clorose de cítricos, foi necessário construir estruturas que trouxeram impactos muito positivos para o futuro
dominada uma tecnologia
essencial para o progresso
na área"
te ou daquele gene, como chave para a saída do labirinto, ou então para a intervenção programada, como, por exemplo, em sítios particulares das rotas geradoras de virulência, e outras situações com as quais não sonhamos. Vou mais além, e não duvido da necessidade, em breve, de se aplicar abordagens similares às que hoje se aplicam aos genes codifican-
da pesquisa no país. Vale a pena mencionar dados que
ajudaram na rota para o sucesso: coor-denação competente e determinada, indispensável para o recrutamento de dezenas de laboratórios, de várias especialidades e de vários centros de pesquisa; aquisição de equipamentos modernos e habilitação dos participantes, por treinamento especializado; apoio institucional decidido, vale dizer, confiante; por último, mas de valor crucial, pessoal jovem. Dadas as premissas, o resultado não surpreende: produção de competitividade internacional.
Atingido o fim, está dominada uma tecnologia específica, essencial para o progresso na área, mas que por si só não oferece respostas. De certo pululam as novas indagações, para novos inícios. E também novas formas de pensar. A mais óbvia é a abordagem, de uma só vez, do genoma completo, o que requer a generalização das perguntas, ou seja,
• tes de proteínas e RNAs estáveis, para o estudo, mutatis mutandis, de regiões reguladoras, da interação DNA-proteína, enfim, de questões que surgirão quando cair na rotina
o atual fogo do genoma completo. Mas não me assusto. Quem até aqui chegou, até lá deverá chegar.
É difícil terminar sem mencionar o outro sentimento que acompanha minha alegria pela realização do projeto Xylella em São Paulo. Lamento, e muito, que não possamos hoje festejar a instituição de programas semelhantes em escala federal. Dá até para imaginar, aqui comigo mesmo, bem caladinho, como seria bom, na época dos transgênicos, se pudéssemos transmutar a FAPESP numa FAPFEB, Fundação de Amparo à Pesquisa da Federação dos Estados Brasileiros, ou coisa que o valha ...
DARCY FONTOURA DE ALMEIDA é membro titular da Academia Brasileira de Ciências
PESQUISA FAPESP • NOVEMBRO DE 1999 • 7
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
ENTREVISTA
A França busca parceiros Daniel Nahon fala da política francesa para obter novos avanços em C&T
Daniel Nahon, conselheiro do Ministro da Educação Nacional, da
Pesquisa e da Tecnologia da França, Claude Allegre, é um respeitado pesquisador da área de geologia, que exibe em seu currículo cerca de 140 publicações científicas. Em uma de suas vindas como pesquisador ao Brasil, em 1987, tornou-se membro da Academia Brasileira de Ciência. Mais tarde, em 1993 e 1994, foi professor visitante da Universidade de São Paulo-USP.
Em meados de outubro passado, Nahon retornou ao Brasil, dessa vez em missão política. Acabara de assumir a presidência do Comitê Francês de Ava
~ • Poderíamos começar pelo acordo entre ~ o Cofecub e a FAPESP 0 Deixe-me dizer, em primeiro lugar, " que o Brasil é um país prioritário para
a França. Antes de tudo por razões culturais. Somos muito próximos, tanto que, quando cheguei aqui pela primeira vez, me senti em casa e penso que muitos franceses têm essa mesma impressão.
• A França teve uma influência cultural muito grande sobre o Brasil até, digamos, a Segunda Guerra. Depois, com a influência muito mais poderosa dos Estados Unidos, essa presença francesa no país diminuiu.
liação da Cooperação Universitária N ahon: vendo o Brasil como igual
Estou de acordo. E do lado da França, fomos seduzidos pela tecnologia que os americanos possuíam. Isso foi
muito benéfico, porque forçou o país, que tinha uma tendência a se recolher, a não ver que a pesquisa era internacional, não mais nacional, a entrar na competição. Agora, já instalados na competição, já tendo provado nossa abertura à novidade cultural, creio que, de forma semelhante ao Brasil, o país tem necessidade de retornar às próprias raízes culturais.
com o Brasil, o Cofecub e, entre outras coisas, precisava discutir com a FAPESP, com quem o órgão mantém um convênio de intercâmbio para jovens doutores, as possibilidades de ampliação da colaboração científica entre os dois países.
Em sua passagem por São Paulo, Nahon, que em novembro assumiria também a presidência do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento, o Cirad (outro órgão com quem a FAPESP tem um convênio de cooperação), concedeu uma longa entrevista a Mariluce Moura. E nela não evitou qualquer aspecto das turbulências que agitam hoje a política francesa de pesquisa científica, decorrentes da oposição entre comunidade científica e governo em torno da reforma proposta por este para o sistema de C&T do país. Nahon também falou bastante sobre as perspectivas de colaboração entre França e Brasil, especialmente em campos estratégicos, como pesquisa genômica e bioinformática. Situou o Brasil como um país jovem, cheio de vigor, que interessa à França como um parceiro, um igual. Observou com ênfase especial que "o ministro Claude Allegre não imaginava a que ponto o país já tinha avançado na excelência em pesquisa científica': coisa que pôde constatar in loco, durante uma visita em abril passado e que o levou a determinar que fossem buscadas formas de ampliar a colaboração com o Brasil.
A seguir, os principais trechos da entrevista de Daniel Nahon.
8 • NOVEMBRO DE 1999 • PESQUISA FAPESP
• Quais são as bases do acordo entre a FAPESP e o Cofecub? A colaboração estabelecida é por dois anos, em proje
tos com alto nível. Interessam-nos muito as áreas de saú-de, ciências da vida, especialmente a genética- o Programa Genoma - e meio ambiente. Devemos ter objetivos comuns também nas ciências humanas e sociais e em novas tecnologias de informação e comunicação.
• Para a colaboração há, portanto, campos prioritários. E para a política científica francesa em geral?
Somos obrigados a escolher campos para empregar 90% de nossas verbas de pesquisa. Primeiro, porque os progressos científicos são tais que agora recaem sobre a sociedade todos os dias. Antes, tivemos 50 anos entre a descoberta da máquina a vapor e sua aplicação, 30 anos entre a descoberta do DNA e sua aplicação. Hoje a pesquisa se tornou operacional para a sociedade. E para tomar qualquer decisão relativa à sociedade, o político está obrigado a levar em conta o progresso científico. Estamos
obrigados oferecer vias reais para o desenvolvimento científico, os governos devem impor, entre aspas (não se pode forçar um cientista), direções, algo como grandes leis para o progresso científico. E devemos guardar uma pequena parte dos recursos para idéias novas, geniais.
• O que o senhor chama de "idéias geniais"? O grande desenvolvimento do Genoma. O Genoma
Humano significa conhecer o alfabeto de nosso corpo. Agora vamos precisar de pessoas que escrevam as frases. E para isso, precisamos da bioinformática, que será para a França tanto quanto para o Brasil uma prioridade.
• Em que parte da genômica Brasil e França poderiam ter colaborações?
O genoma é uma prioridade, como a saúde, e os dois campos estão relacionados. Por isso a França decidiu criar, há dois anos, em Evry, perto de Paris, um Genoplant, um centro de genoma, numa interação entre os organismo de pesquisa, a universidade, os órgãos de desenvolvimento e a indústria privada. Evry será a cabeça de uma rede à qual estarão ligados centros em Montpelier, Marseille, Strasbourg, etc.
O meio ambiente é muito importante porque estamos vivendo uma virada para a poluição sem nos dar conta e sequer imaginamos toda a poluição que pode existir no futuro. Isso tem tem relação com a saúde, que por sua vez está em relação direta com a pesquisa de genoma. O terceiro pon-
to é a educação, base de tudo: do auto conhecimento e até da felicidade, que é
O Brasil é um país de grande agricultura, com florestas enormes. Devese trabalhar nisso, porque há moléculas naturais nas plantas brasileiras que poderiam ser a base de medicamentos muito importantes. Na saúde há toda uma evolução a ser feita. A França considera freqüentemente a saúde em torno da clínica, mas o setor pode também trazer dinheiro, porque ligados a ele estão a bioinformática, a biomecânica, a economia da saúde, o direito da saúde
"o .. mm1stro uma maneira de exprimir a personalidade na medida do possível. É a base para que a sociedade seja mais harmoniosa.
não imaginava
a que ponto Enfim, a liberdade. Não podemos
ter grandes cientistas ou sociedades em grande desenvolvimento em um país que constrange as pessoas. E para ser livre- o que se mede também pela comunicação e pela informação que há em um país- é importante o desenvolvimento de novas técnicas, de meios de
o Brasil avançou
na excelência
d . " e sua pesqu1sa
etc. É preciso conceber agora esses as-pectos como prioridade para a França e o Brasil ao longo dos próximos lO anos. Eis um exemplo fundamental de colaboração, imediatamente aplicável para a sociedade.
• Pesquisadores franceses coordenaram o primeiro projeto de seqüenciamento completo de um microorganismo, o da Saccharomyces cerevisiae, dentro de modelo também pioneiro de organização da atividade de pesquisa (uma rede de cerca de 100 laboratórios europeus). Como o senhor vê, neste momento, a pesquisa genômica na França? Outra questão: o estabelecimento, pelo governo, de grandes vias para o desenvolvimento da pesquisa na França não é justamente o que está na base de intensos conflitos entre a comunidade científica e o governo em seu país? A discussão recente sobre o síncrotron e a discussão mais antiga sobre a reforma do CNRS (Centro Nacional de Pesquisas Científicas) seriam exemplos.
Vou procurar reunir as duas questões em uma só resposta. A ciência evolui como a sociedade, e se a urgência há 30 anos era o domínio da energia, hoje, as urgências para a população estão nos campos da saúde, meio ambiente, educação e a liberdade. É normal, portanto, que um ministro, que, além disso, é um grande cientista (ele tem, em sua especialidade, um prêmio muito importante, equivalente ao Nobel, na França é o número um de sua especialidade em geoquímica e o número dois em geociências de maneira geral), estabeleça, a partir de uma reflexão global, o que quer fazer prioritariamente.
comunicação e informação os mais modernos e mais rápidos possíveis. Propo
mos ao Brasil colaboração também nesse domínio.
• E quanto aos conflitos entre a comunidade científica e o governo francês?
Comecemos pelas divergências em torno do síncrotron. A França gasta uma grande verba em pesquisa pública, entre 70 e 80.bilhões de francos (entre US$ 14 bilhões e US$ 16 bilhões). Devemos considerar que 80% dessa soma, ou mais, são investidos em salários. Ora, um pesquisador permanece cerca de 40 anos na atividade e, enquanto progride, seu salário aumenta, de modo que a soma deve obrigatoriamente aumentar a cada ano, para poder pagar o aumento de salários. Logo, ou diminuímos a porcentagem do que resta para fazer a pesquisa funcionar, ou acrescentamos dinheiro. Não se pode indefinidamente aumentar as verbas de pesquisa. E como o conhecimento necessita de pesquisas científicas de desempenho sempre maior, e os aparelhos científicos custam sempre mais e ao fim de alguns anos é preciso trocá-los, há que se encontrar uma solução: é preciso haver colaboração. Não podemos mais construir grandes instrumentos sem nossos vizinhos europeus e a divergência se dá em torno disso.
• Pelo que sabemos, a comunidade científica francesa queria um novo síncrotron na França para dar conta de suas necessidades de pesquisa, e o ministério propôs um síncrotron em parceria com a Inglaterra. A comunidade não aceita.
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1999 • 9
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
A comunidade de físicos não aceita. Mas há grandes físicos que dizem que não seria necessariamente razoável ter uma aparelhagem somente para a França. A aparelhagem é muito útil para o conhecimento molecular, o conhecimento e desenvolvimento de novos medicamentos, inclusive transgênicos. Mas por que não fazê-la com nossos parceiros?
• O conflito entre a comunidade e o governo já dura dois anos. Neste momento é ainda possível a reforma do sistema, do CNRS e universidades, nos termos inicialmente propostos pelo ministro Allegre?
O conflito é longo, mas não é dramático. Conflitos estão sempre presentes nos laboratórios. Os cientistas aparecem para o público como
dades não fazem boa pesquisa, que são eles os melhores. É falso! E é preciso avaliar, coisa que não fazemos suficientemente porque na França isso é considerado uma sanção.
Ao lado disso, nosso ministro diz que a inovação deve servir à sociedade, e criar empresas. Não é normal que o cristal líquido seja inventado na França e posto em prática no Japão. A França deve ser capaz de ter também uma pesquisa tecnológica de ponta. Não é o caso de fazer como o Japão, que é muito forte em tecnologia, mas começa a perder o chão porque sua pesquisa fundamental não é suficientemente boa. Por isso eles estão relançando a pesquisa fundamental .
• Para terminar, voltando às relações pessoas sob um avental, mergulhadas no próprio pensamento. Mas há mesquinharias nos laboratórios, há pesquisadores que escondem seus produtos para que outros não os vejam, que puxam o tapete para que outros caiam, que fazem sujeiras nos comitês para disputar o dinheiro ... Os cientistas defenderão sempre sua própria pesquisa, e o poder deve defender a pesquisa em geral.
"Bioinformática
é um exemplo
fundamental
de colaboração
que podemos ter
França-Brasil, seu país gostaria de receber estudantes brasileiros em que nível de formação?
Até o presente, a cooperação de alto nível ocorre depois do mestrado. Mas poderemos ter também necessidade de estudantes mais jovens em certos domínios, caso em que são necessários os intercâmbios de longa duração (o intercâmbio de alguns meses é útil para grandes cientistas). Para
B 'I" com o ras1 Tomemos o CNRS, um grande or
ganismo de pesquisa que nasceu na guerra, se desenvolveu, distribui verbas e tem um orçamento da ordem de 6 bilhões de francos. Ele cria pesquisadores e postos de pesquisadores. Sem as fontes externas, 85% de seu orçamento vão para salários; a idade média de seus pesquisadores varia entre 47-48 anos; e o CNRS é tão grande que seu diretor geral não pode acompanhar tudo. Assim, criou-se dentro dos vários departamentos verdadeiros baronatos. O sistema de avaliação da política do CNRS deve ser discutida no Conselho Científico, mas ele é presidido pelo diretor geral do CNRS e nele há também diretores dos departamentos. Como pode um diretor falar mal de si mesmo no Conselho? Ele justificará sempre suas ações. Por isso o ministro propõe fazer do Conselho Científico do CNRS um verdadeiro conselho, com estrangeiros, e um presidente que não seja o diretor geral do órgão. Recentemente, uma comissão externa de cientistas avaliou duramente a política do CNRS a respeito dos jovens pesquisadores, que quase não têm responsabilidades nos laboratórios. Na idade de 30 a 45 anos há uma produtividade científica, um gosto pelos riscos, que não se tem mais quando o senso de síntese é muito maior. É preciso dar lugar aos jovens. Por isso também a reforma do sistema de C&T é indispensável.
Queremos estabelecer ligações dos organismos de pesquisa com as universidades para que as descobertas da pesquisa entrem nas universidades, sejam ensinadas e estimulem os estudantes a ter novas idéias. Esses organismos dizem que queremos cerceá-los, que as universi-
I O • NOVEMBRO DE 1999 • PESQUISA FAPESP
isso, é preciso criar laboratórios mistos entre a França e o Brasil, que permiti
rão enviar o pesquisador, no mínimo por dois anos, para cada país. É preciso incentivar isso, e incentivarei a USP, através da presidência do Cofecub, à criação de uma unidade associada. Imaginemos, por exemplo, um laboratório misto para genoma de plantas e bioinformática, haveria um labor:atório aqui na USP, que receberia franceses, e um laboratório no Genoplant de Evry, onde receberíamos os brasileiros. Teríamos intercâmbios e programas comuns. De um modo geral, nas universidades francesas, vemos cada vez menos inscritos em disciplinas que nos parecem fundamentais. Por isso, teremos uma política de atração de estudantes estrangeiros e os próximos dez anos serão capitais, porque pretendemos que pelo menos um terço de nossos estudantes seja de estrangeiros. Esperamos atrair muitos brasileiros
• Qual é o lugar da França atualmente na produção científica mundial?
A França investe cerca de 2,3%, de seu PIB em C&T. Isto é mais que a Inglaterra, igual à Alemanha, e menos que o Japão e a Suécia, que investem 3,6%. Em torno de 6 em 1000 publicações internacionais são de pesquisadores franceses. A França decidiu, no governo de Lionel Jospin aumentar investimentos em pesquisa e educação, porque sem isso não podemos ter desenvolvimento econômico. E os países que não compreendem isso, pagam muito caro 10 anos depois. •
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POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
COOPERAÇÃO
Reforço alagoano
os Estados. Nesse dia, o presidente da Fapeal, Fernando Antônio Barreiros de Araújo, pretende lançar as raízes da parceria com o setor produtivo para completar os US$ 150 mil necessários para importar o seqüenciador automático de DNA, indispensável às pesquisas. Criada em 1991, a Fapeal, que este ano administrou um orçamento próximo a R$ 14 milhões, já reservou cerca de R$ 40 mil ao projeto. "Contamos com a colaboração do setor produtivo", diz ele. Não será a primeira vez. Corre há anos o pro-
Acordo com Fapeal põe mais pesquisadores no Genoma Cana
N asceu da indignação o acordo entre a Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e a FAPESP, que integra a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) aos laboratórios paulistas voltados ao seqüenciamento genético da canade-açúcar, no âmbito do Projeto Genoma Cana. Há tempos o engenheiro agrônomo Eduardo Ramalho Neto e a bióloga Denise Wanderlei Silva, do Centro de Ciências Agrárias da UFAL, andavam intrigados, sem saber ao certo por que razões ainda não participavam desse trabalho, se Alagoas é o segundo maior produtor de cana-de-açúcar, depois de São Paulo, e a própria universidade mantém um banco de germoplasma de cana em Murici, a 60 quilômetros da capital, de onde saíram variedades cultivadas Brasil afora. No dia 27 de setembro, enviaram um e-mail ao biólogo Paulo Arruda, coordenador de DNA do Genoma Cana, contando que gostariam de participar das pesquisas.
Em resposta, Arruda comunicou que o trabalho se encontrava aberto à participação de grupos de outros Estados. Convidada por ele, Denise visitou o Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ), um dos laboratórios centrais do projeto. Não restaram dúvidas a respeito da qualificação dos pesquisadores de Alagoas: Ramalho Neto havia trabalhado com seqüenciamento de DNA no King College, na Inglaterra, entre 1990 e 1995, e Denise na Universidade da Georgia, nos Estados Unidos, entre 1993 e 1996.
Coube aos dois articularem a aproximação da Fapeal com a FAPESP, em molde semelhante ao acordo realizado em julho com a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe) (ver
Fernando Barreiros, da Fapeal, Brito Cruz, da FAPESP, Denise Silva e José Fernando Perez
Notícias FAPESP no 44). Rapidamente se fez a parceria, formalizada por meio de um acordo de cooperação técnica, assinado em 18 de novembro em São Paulo. Em linhas gerais, a Fapeal compromete-se a equipar os laboratórios de biologia molecular e ae bioinformática na UFAL, além de dar condições de aperfeiçoamento técnico aos pesquisadores do Estado nos laboratórios do Projeto Genoma da Cana-de-Açúcar, em São Paulo. À FAPESP cabe incluir os novos laboratórios na rede ONSA (Organization for Nucleotide Sequencing and Analysis), acompanhar as pesquisas e viabilizar o aprimoramento dos especialistas nos laboratórios paulistas associados ao projeto.
No dia 16 de dezembro, numa cerimônia a ser realizada no Palácio Floriano Peixoto, sede do governo de Alagoas, em Maceió, pesquisadores, plantadores de cana-de-açúcar e produtores de açúcar e de álcool de Alagoas e autoridades de órgãos públicos vão selar o acordo científico entre
grama de melhoramento genético da cana-de-açúcar desenvolvido pela Ufal em conjunto com o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool do Estado de Alagoas e cerca de 30 produtores da região. "Temos interesse em aumentar a produção estadual e melhorar as espécies de cana plantadas no Estado", diz Araújo.
A equipe da UFAL, que conta com especialistas em fungos, microbiologia e patologia de plantas, e biotecnologia vegetal, com experiência no seqüenciamento manual de DNA, pretende se dedicar intensivamente à caracterização do genoma e à análise de dados resultantes da pesquisa, o chamado data mining, com pelo menos um objetivo específico: identificar os genes associados à síntese de proteínas envolvidas na resistência à escassez de água, que limita a produção de cana no Nordeste. "Acreditamos que será fácil para os pesquisadores de Alagoas incorporarem a tecnologia de seqüenciamento", diz Paulo Arruda, da Unicamp. •
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO OE 1999 • li
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
BIODIVERSIDADE
Um prêmio para o Biota-FAPESP
É o Henry Ford de Conservação Ambiental como iniciativa do ano
U ma vitória pela biodiversidade. O programa Biota-FAPESP,
o Instituto Virtual da Biodiversidade, ganhou, em 24 de novembro, o Prêmio Henry Ford de Conservação Ambiental na categoria "Iniciativa do ano em conservação': Esta foi a quarta edição do evento, resultado de um trabalho conjunto entre a Ford Brasil e a Conservation International do Brasil (organização não-governamental com sede em Belo Horizonte). O Prêmio Henry Ford tem como meta incentivar trabalhos que sedestaquem na implantação de projetas
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de conservação da natureza e da qualidade de vida, servindo de mode1o para todo o país. A premiação (reconhecida como uma das mais importantes da área) abrange tanto iniciativas de organizações quanto de pessoas, distribuídas em quatro categorias. Os projetas vencedores recebem US$ 1 O mil (leia mais na pág. 14).
A escolha do Biota-FAPESP levou em conta as dimensões inéditas do programa, considerado o mais ambicioso na área ambiental já realizado no Brasil. "É uma iniciativa que envolve um amplo esforço de integração da comunidade científica", reconhece Heloísa de Oliveira, coordenadora de projetas da Conservation International do Brasil e responsável pela organização do Prêmio Henry Ford. O Biota-FAPESP tem como objetivo mapear e
analisar o conjunto da fauna e da flora do Estado de São Paulo, o que abrange todas as formas de vida, desde os microrganismos até os seres mais evoluídos. Isso representa um universo de 250 mil quilômetros quadrados, território maior do que a Grã-Bretanha.
O prêmio foi entregue em cerimônia realizada em Recife (PE) com a presença do ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho. Da parte dos organizadores, estavam presentes Martin Inglis e Antônio Maciel Neto, respectivamente presidente da Ford América do Sul e da Ford Brasil, e Roberto Cavalcanti, presidente da Conservation International do Brasil. Recebeu o prêmio, pela FAPESP, Rogério Meneghini, coordenador adjunto da diretoria Científica da Fundação.
Rede virtual: O Biota-FAPESP foi lançado em março deste ano. O programa veio ao encontro de uma série de compromissos internacionais assumidos pelo Brasil após a realização da ECO 92 (em especial a Convenção sobre a Diversidade Biológica e a Agenda 21), que preconizam o uso sustentável dos recursos naturais e um novo modelo de desenvolvimento.
Multidisciplinar, o programa é integrado por dezenas de projetos temáticos articulados entre si. O Biota-FAPESP não tem sede fixa, congregando mais de 200 pesquisadores paulistas por meio da Internet (www.biotasp.org.br). Sua proposta é formar um amplo banco de dados virtual sobre a biodiversidade paulista. Essas informações serão utilizadas para a elaboração de políticas públicas de conservação e uso sustentável dos recursos ambientais do Estado de São Paulo.
"Estamos montando um sistema que vai nos permitir tomar decisões com base em informações, o que não era feito", diz o biólogo Carlos Alfredo Joly, coordenador do Biota-
FAPESP. "Isso aumenta a capacidade da população de participar em decisões que dizem respeito à sua qualidade de vida", afirma.
São Paulo possui uma das mais ricas biodiversidades do país, caracterizada pela variedade de ecossistemas. Isso se deve ao fato de o Estado estar localizado numa zona de transição entre a região tropical e a subtropical. Inúmeros aspectos da biodiversidade paulista, no entanto, permanecem ignorados. O que é agravado pelo isolamento a que muitas vezes se vêem submetidos os pesquisadores.
É nesse sentido que o esforço do Biota-FAPESP é saudado. "As pesquisas sobre biodiversidade sempre eram realizadas em separado", diz o biólogo João Paulo Capobianco, coordenador do Instituto Socioambiental. "Mas agora, pela primeira vez, um programa cria a oportunidade de termos um volume de recursos dirigido a pesquisas dentro de uma proposta comum", afirma o biólogo. Ele assinala a importância do banco de dados que está sendo organizado na Internet. "São informações essenciais que
Visão da Mata Atlântica (página anterior) e aspecto geral do cerrado, na Reserva Biológica de Mogi-Guaçu, SP, sistemas que estão sendo estudados pelo Programa Biota-FAPESP. Acima, a Gomphrena macrocephala, planta nativa do cerrado, cujas raízes tuberosas armazenam frutanos
estarão disponíveis para a sociedade", diz. "Isso é um avanço. No Brasil, quase sempre o trabalho do pesquisador fica na estante da biblioteca", afirma.
Pesquisas em andamento: O BiotaFAPESP já compreende 15 projetos temáticos formalmente aprovados. Eles abrangem assuntos como a diversidade de peixes do Alto Rio Paraná, a conservação dos ecossistemas aquáticos de São Paulo, a utilização sustentável da biodiversidade vegetal do cerrado e da Mata Atlântica, a prospecção de novas drogas e estudos sobre as bacias hidrográficas do Estado (leia relação completa na pág. 15). Mais sete propostas de projetos temáticos estão em fase final de avaliação, além de 16 propostas enquadradas na fase de tramitação do programa.
"Este ano marca a implantação do primeiro conjunto de projetos temáticos que compõem o Biota-FAPESP. Os pesquisadores se dedicaram a adquirir os equipamentos e a viabilizar a infra-estrutura para o desenvolvimento das pesquisas", diz Carlos Alfredo Joly. O biólogo destaca os avan-
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO OE 1999 • 13
O monocarvoeiro (Brachyteles arachnoides), maior macaco brasileiro .. . Solanum sp, conhecida como juá, e a Cayaponia sp
ços iniciais: "Os projetas aprovados no início de 1999 já estão apresentando os primeiros resultados".
É a situação das pesquisas sobre a fauna de água doce, que estão contribuindo para a ampliação do conhecimento sobre a biota paulista. "Nestes poucos meses, já foram encontradas novas espécies para a ciência", afirma Joly. No caso dos trabalhos que têm como meta viabilizar o
uso sustentável de produtos da biota paulista, Carlos Joly aponta o projeto sobre a diversidade química de plantas nativas de mata e cerrado. "Sua equipe está prestes a alcançar o estágio de patentear uma nova droga a partir de uma planta nativa de São Paulo", diz.
As primeiras contribuições para a definição de políticas ambientais, por sua vez, também estão registradas.
Em defesa do meio ambiente
O Prêmio Henry Ford de Conservação Ambiental foi criado em 1996 por meio de uma parceria entre a Ford Brasil e a Conservation International do Brasil. A iniciativa teve como inspiração a versão européia do Prêmio Henry Ford, criada há 15 anos. Seu objetivo é encorajar projetas de proteção do meio ambiente, assim como aqueles ligados ao uso sustentado de recursos naturais no Brasil.
O prêmio é oferecido em quatro categorias: Conquista individual, Negócios em conservação, Ciência e formação de recursos humanos e Iniciativa do ano em conservação. O concurso é aberto a pessoas, entidades comunitárias,
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organizações não-governamentais, empresas privadas, centros de pesquisa e agências governamentais.
A edição de 1999 do Prêmio Henry Ford de Conservação Ambiental teve 100 propostas inscritas nas quatro categorias, a maioria de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. O júri foi integrado por Eric Stoner (da Agência para o Desenvolvimento Internacional do Governo dos EUA/USAID), Jader Marinho (Universidade de Brasília) e Geraldo Wilson (Universidade Federal de Minas Gerais).
Na categoria "Conquista individual", o prêmio coube a Maria Tereza Jorge Pádua, presidente da Fundação Pró-Natureza de Brasí-
Um dos projetas forneceu dados para a definição das áreas de cerrado que serão compradas pela CESP, como parte das medidas compensatórias pelos danos ambientais causados com o enchimento do lago de uma hidrelétrica. ''A escolha foi realizada com base no estudo que está sendo feito sobre os remanescentes do cerrado do Estado de São Paulo", diz Carlos Alfredo Joly.
lia, escolhida por seu trabalho de criação e consolidação do sistema de unidades de conservação do país, com destaque para a região amazônica. A categoria "Negócios em conservação" foi vencida pela empresa Mata'Dentro Ecoturismo Aventura, de Brotas-SP. Criada por cinco universitários em 1992, a empresa é considerada uma referência em ecoturismo no Brasil. Por sua vez, a categoria "Ciência e formação de recursos humanos" premiou o Museu de Biologia Professor Mello Leitão, de Santa Teresa-ES. Criado em 1949 pelo professor Augusto Ruschi, o museu é considerado o mais importante centro de formação de recursos humanos no campo conservação biológica do Espírito Santo.
A expectativa é que novas abordagens sejam incorporadas ao Biota-FAPESP. "Existe ainda uma concentração de projetas na área de Biologia", reconhece o coordenador, creditando isso à significativa participação de especialistas da área na implantação do programa. Os projetas de Biologia somam 13 dos 15 já aprovados e recebem R$ 6,9 milhões, de um total de R$ 8,5 milhões já aprovados para o programa. As outras duas áreas contempladas são as de Saúde e Química, com um projeto cada. "Agora, é a hora de trabalhar com projetas que investiguem os aspectos sociais e
Meneghini recebeu o prêmio dado ao programa, coordenado por Carlos Alfredo Joly (no deto/he)
econômicos relacionados à biodiversidade paulista. Eles são essenciais para o estudo de políticas de uso sustentável", diz Joly.
Outro fruto do Biota-FAPESP é a publicação dos sete volumes da série Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: Síntese do Conhecimento ao Final do Século XX. Os livros reúnem toda a informação disponível sobre a bi-ota paulista, material que
serviu de base para a formulação do programa. A
coleção está integralmente disponibilizada na Internet ( www.biotasp.org. br/publi). •
O que já está sendo pesquisado de Mario de Vivo, da USP de Ribeirão Preto.
O Biota-FAPESP está aberto a novas inscrições (acesso pelo si te do programa) de propostas de projetas temáticos. As pesquisas devem abordar aspectos da biodiversidade paulista, integrando-se ao conjunto do programa. A lista a seguir relaciona os 15 projetos já aprovados pelo Biota-FAPESP: • Consolidação do Sistema de Informação do Programa Biota-Fapesp e o Estudo da Viabilidade do Desenvolvimento de um Sistema Geográfico de Informações para o Programa, coordenação de Carlos Alfredo Joly (Unicamp). • Diversidade de Peixes de Riachos e Cabeceiras da Bacia do Alto Rio Paraná no Estado de São Paulo, coordenação de Ricardo Macedo Corrêa e Castro, da USP de Ribeirão Preto, e Naércio Menezes, do Museu de Zoologia da USP. • Conservação e Uso Sustentável da Diversidade Vegetal do Cerrado e da Mata Atlântica: Diversidade Química e Prospecção de Novas Drogas, coordenação de Vanderlan da S. Bolzani, da Unesp de Araraquara, e Maria Cláudia Marx Young, do Instituto de Botânica.
• Diversidade das Interações entre Vertebrados Frugívoros e Plantas da Mata Atlântica, coordenação de Wesley R. Silva, da Unicamp. • Diversidade de Zooplâncton em Relação à Conservação e Degradação dos Ecossistemas Aquáticos do Estado de São Paulo, coordenação de Takako Matsumura Tundisi, do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos. • Viabilização da Conservação dos Remanescentes do Cerrado Paulista, coordenação de Marisa Dantas Bittencourt, do Instituto de Biociências da USP. • Conservação e Utilização Sustentável da Biodiversidade Vegetal do Cerrado e Mata Atlântica: os Carboidratos de Reserva e seu Papel no Estabelecimento e Manutenção das Plantas em seu Ambiente Natural, coordenação de Marcos Buckeridge, do Instituto de Botânica. • Reconhecimento dos Ácaros de Interesse Agrícola do Estado de São Paulo e de seus Predadores, coordenação de Gilberto de Moraes, da Esalq-USP. • Diversidade de Mamíferos no Estado de São Paulo, coordenação
• Ecologia Molecular e Taxonomia Polifásica de Bactérias de Importância Ambiental e Agroindustrial, coordenação de Gilson Paulo Manfio, da CCT /Fundação André Tosello. • Flora Ficológica do Estado de São Paulo, coordenação de Carlos E. de M. Bicudo, do Instituto de Botânica/SMA. • Levantamento da Fauna e Aspectos da Biologia de Macro Invertebrados de Água Doce dos Principais Mananciais do Estado de São Paulo, coordenação de Cláudio G. Froehlich, da USP de Ribeirão Preto. • Diversidade de Espécies e de lnterações em Plantas e Insetos: Inventários Centrados em Recursos, coordenação de Thomas Michael Lewinsohn, do Instituto de Biologia da Unicamp. • Conservação da Biodiversidade em Paisagens Fragmentadas do Planalto Atlântico, coordenação de Jean Paul W. Metzger, do Departamento de Ecologia Geral (IB) da USP. • Estrutura e Funcionamento de Bacias Hidrográficas do Estado de São Paulo: Bases para Manter a Biodiversidade, coordenação de LuizAntonio Martinelli, do Cena (USP).
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PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1999 • 15
Lei equipara salário de pesquisadores e docentes universitários
Uma reivindicação de muitos anos dos pesquisadores dos institutos paulistas de pesquisa foi atendida. O governador Mário Covas sancionou a Lei Complementar no 859/99 que equipara os salários dos pesquisadores científicos aos dos docentes universitários. A solenidade de assinatura da Lei ocorreu no dia 21 de setembro passado, no Salão de Despachos do Palácio dos Bandeirantes. "Estamos na frente dos outros estados porque soubemos desenvolver a pesquisa", disse, na ocasião, o governador. "Os países irão avançar não pelos seus recursos naturais, pelo número de habitantes ou mesmo pelo tamanho do mercado, mas, sim, pelo seu grau de saber e conhecimento", afirmou Mário Covas em seu discurso. "Vocês", disse ele, dirigindo-se aos pesquisadores, "vão ser os portadores dessa passagem para o futuro". Participaram do ato o vice-governador Geraldo Alckmin, o presidente da Assembléia Legislativa de São Paulo, Vanderlei Macris, os secretários estaduais João Carlos Meirelles, da Agricultura e Abastecimento, José da Silva Guedes, da Saúde, José Ricardo Trípoli,
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POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
Mário Covas assina a lei de equiparação salaria l
do Meio Ambiente, e Antônio Angarita, da Secretaria de Governo e Gestão Estratégica, os deputados estaduais Jamil Murad, do PC do B, Mariângela Duarte, do PT, e Edmur Mesquita e Sidnei Beraldo, ambos do PSDB, diretores dos institutos de pesquisa e mais de duas centenas de pesquisadores, representados pelo presidente da Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo, Nelson Braga. Em seu discurso, Braga homenageou o ex-governador Franco Montoro, responsável pela criação dos cargos de pesquisadores científicos.
Diretrizes japonesas para patentes de genes O Escritório de Patentes Japonês (JPO) divulgou, no início de outubro, suas diretrizes para patentes de genes humanos. Em linhas gerais, informou a Nature de 10 de outubro passado, elas abrem a possibilidade
de patenteamento de ESTs, etiquetas de seqüências expressas, de SNPs, polimorfismos de nucleotídeos simples, e de clones inteiros de cDNA. Embora o escritório japonês tenha chegado, ainda em julho, a um acordo com seus congêneres europeu e norte-americano sobre as patentes de ESTs, acertando que não poderiam ser patenteadas aquelas sem utilidade comprovada, em relação a outras patentes genéticas sua posição permanecia pouco clara. Agora, o Japão avança um pouco mais no assunto, com as novas diretrizes que foram estabelecidas principalmente para responder a pedidos de orientação de pesquisadores e da indústria do país, depois que o governo anunciou sua decisão de aumentar o apoio à biotecnologia-o que inclui o plano de uma base de dados de SNPs na população japonesa (com expectativas de que possa contribuir para o desenvolvimento de novos
medicamentos e técnicas de diagnóstico) e o projeto de criação de um banco central de clones de cDNA para aplicações médicas e de pesquisa. Segundo a Nature, há expectativas de que a introdução de uma lei, no país, sobre transferência de tecnologia baseada na legislação Bayh-Dole dos Estados Unidos, que concede patentes privadas a pesquisas financiadas pelo governo, venha a estimular pedidos de patentes de resultados de colaborações indústriauniversidade. E representantes do JPO prevêem que o aumento será sobretudo em relação a patentes de genes humanos, incluindo os de SNPs e de clones de cDNA. De fato, o Helix Research Institute, uma companhia genômica que resulta de uma joint venture entre o Ministério de Indústria e Comércio Internacional e 10 empresas privadas, já entrou com pedidos de patente para mais de 6.000 clones de cDNA humanos completos. A empresa pretende criar um portfólio de propriedade intelectual que possa ser compartilhado por um consórcio de 20 empresas de biotecnologia e institutos de pesquisa, mas há quem argumente que grande parte de seus pedidos de patentes, referentes a clones com funções desconhecidas, não são válidos, na medida que não oferecem possibilidade de comprovação da utilidade da descoberta.
Projeto Genoma deseerta interesse da Africa do Sul O Sanbi, South African National Bioinformatics Institute, situado na Universidade de Western Cape, na Cidade do Cabo, na África do Sul, está interessado em estabelecer uma colaboração com os pesquisadores do Projeto Genoma Humano do Câncer. No dia 18 de outubro, o fundador do Sanbi, biólogo Winston Hide, esteve no auditório do Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer, São Paulo, falando sobre o banco de dados e o conjunto de softwares desenvolvidos pela equipe que comanda. "O Brasil e o meu país têm em comum o fato de serem países em desenvolvimento que fazem ciência de qualidade. Uma colaboração científica seria benéfica para ambos", disse Hide. A África do Sul não tem estrutura de seqüenciamento de genes e por isso concentra seus esforços na bioinformática. O Sanbi trabalha a partir das seqüências disponíveis na Internet, nos bancos de dados públicos, como o Genbank, por exemplo. A idéia de Hide, biólogo evolucionista que se especializou em bioinformática, é tornar disponíveis para o Projeto Genoma Humano do Câncer as ferramentas computacionais e o banco de dados desenvolvidos na África do Sul e, em contrapartida, desfrutar da qualidade e relevância das ESTs, expressed
Wi nston H ide, do San bi
sequence tags ou etiquetas de seqüências expressas, geradas aqui no Brasil. O banco de dados do Sanbi se chama STACK, Sequence Tag Alignment and Consensus Knowledge, usado pelas Universidades de Cambridge (Inglaterra) e Harvard (EUA), pela Teijin Systems (Japão), Instituto Pasteur (França) e pelo Instituto Max-Planck (Alemanha). Sua peculiaridade é conter ESTs clustered, isto é, agrupadas. Depois que as seqüências saem da máquina seqüenciadora, essa ferramenta as reúne em grupos, usando um critério de simililaridade. Quando esse agrupamento é perfeito, cada grupo vai corresponder a um RNA mensageiro do organismo. Apesar de a África do Sul concentrar seus estudos no genoma humano -tuberculose, HIV e malária -, o Projeto Cana-de-Açúcar também chamou a atenção do sul africano. Paulo Arruda, coordenador desse projeto, recebeu Hide no CBMEG, o Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética da Unicamp, em Campinas.
Publicações científicas lançam rede de referência privada A Science de 19 de novembro comunicou que, após manifestarem pouco interesse em participar do plano do governo norteamericano de criar um site com livre acesso a artigos científicos, 12 organizações privadas sem fins lucrativos anunciaram um esquema próprio: linear artigos de suas publicações por meio de listas de referência, facilitando aos pesquisadores a localização e o acesso ao texto de um artigo, via Internet. Neste caso, os editores conservam os textos completos em seus próprios sites e controlam o acesso a eles. A Academic Press e a John Wiley, que organizam o projeto, trabalharam na
Serviço de Referência de Publicações
Editora N° de publicações
Elsevier Science 1200
Kluwer Academic Publishers mais de 400
Springer-Verlag 400
John Wiley & Sons mais de 300
Academic Press 235
Blackwell Science 200
lnstitute of Electrical and Electronics Enginee rs ln c I OS
O xford Unive rsity Press I 00
American lnstitute of Physics mais de 50 Association for Computing
Machinery 21
Natu re 7
American Association fo r the Advancement of Science (Science)
criação de um serviço sem fins lucrativos, com tags (etiquetas) que possam rastrear e encontrar artigos. Mas o acesso pleno ao texto integral poderia exigir uma senha ou o pagamento de uma tarifa, a depender dos editores. O planto é etiquetar e colocar na Internet cerca de 3 milhões de artigos no início do próximo ano.
Uma FAP para Sergipe
O Estado de Sergipe pode ganhar brevemente a sua Fundação de Amparo à Pesquisa. Esta foi a promessa do governador daquele Estado, Albano Franco, feita por ocasião da sessão de encerramento da SEMPESQ 99 - I Semana de Pesquisa da Universidade Tiradentes (Unit), realizada de 16 a 19
de novembro, em Aracaju. O SEMPESQ congregou três eventos relacionados à ciência e à tecnologia: o III Seminário de Pesquisa, que debateu a situação da pesquisa em diversas áreas do conhecimento; o I Seminário de Iniciação Científica; e a Agenda Cientec Sergipe 2000, que discutiu formas de estímulo ao desenvolvimento científico e tecnológico, como alavanca para o desenvolvimento económico e social. Neste último evento, o diretor presidente da FAPESP, Francisco Romeu Landi, fez palestra sobre o papel das fundações de apoio à pesquisa no desenvolvimento dos estados.
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1999 • 17
CAPA
GENOMA
e
ras1 se afirma no seleto clube da
A e
genom1ca mundial MONICA TE IXEIRA
Antes do previsto, está sendo concluído o seqüenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa
OS PARTICIPANTES DO GENOMA XYLELLA
Uma equipe de 161 integrantes ...
18 • NOVEMBRO DE 1999 • PESQUISA FAPESP
Addolorata Colariccio, Adilson Leite, Adriana Fumie Tateno, Adriana Matsukuma, Agda Paula Facincani, Alda Maria B.N. Madeira, Alessandro Paris, Aline Maria da Silva,
Ana Cláudia Rasera da Silva, Ana Lúcia Tabet Oller do Nascimento, Ana Paula Moraes Fernandes, Anamaria Aranha Camargo, Anderson Ferreira da Cunha, André Luiz Vettore,
Andréa de Assis Souza, Andrew John George Simpson, Anita Wanjtal, Antônio Carlos Boschero, Antônio Carlos Maringoni, Antônio Nhani Jr., Ari José Scattone Ferreira, Arthur Gruber,
Artur Jordão de Magalhães Rosa, Augusto Etchegaray Jr., Carlos A. Colombo, Carlos F. M. Menck, Cássia Docena, Cássio da Silva Baptista, Catalina Romero Lopes, Celso Luiz Marino, Christian Claudino
Os pesquisadores da rede Onsa ( Organization for Nucleotide Sequencing and Analysis ou Organização para Seqüenci-
amento e Análises de Nucleotídeos) preparam-se para anunciar à comunidade científica brasileira e internacional que o genoma completo da bactéria Xylella fastidiosa já está completamente seqüenciado. O anúncio da conclusão do projeto pioneiro do Programa Genoma-FAPESP faz do Brasil o único país do Hemisfério Sul a ter lugar no seleto núcleo que detém a tecnologia que mais promete conquistas para o século 21. O genoma da Xylella será o quinto mais extenso já seqüenciado completamente e o primeiro de um organismo causador de uma doença em plantas.
Os laboratórios paulistas reunidos neste importante esforço científico completam o trabalho antes do prazo previsto no cronograma, o que é excepcional, e não a regra em projetas genoma. E mesmo com imprevistos nos custos, mantiveram-se no limite do orçamento estabelecido. O DNA da bactéria causadora da Clorose Variegada de Citros é um terço maior do que o esperado; exigiu, por isso, a determinação de um número 30% maior de bases nitrogenadas. Até novembro, as duas principais revistas científicas haviam publicado 24 seqüências completas de genomas microbianos; assinam os papers que as apresentam 14 diferentes grupos de cientistas - europeus, norte-americanos, japoneses. O fim do projeto da Xylella fastidiosa torna a rede Onsa o décimo quinto grupo de pesquisadores do mundo a se apropriar desta expertise. Um feito.
O começo do fim - "What a wonderful question. I wish I knew. We have probably only two gaps now but lots of
Greggio, Cláudia de B. Bellato, Cláudia de Barros Monteiro-Vitorello, Cláudio M. Costa-Neto, Cristina Lacerda S. P. Silva, Cristina Miyaki, Dario Palmieri, David H. Moon, Dirce Maria Carraro
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1999 • 19
puzzles still. Lets say next month and hope. Andy." Andy é Andrew John George Simpson, coordenador de DNA do projeto Genoma Xylella fastidiosa; as frases curtas da mensagem ecoam o tom inconfundível- irânico, risonho, bem humorado - com que este admirável pesquisador lidou com a "maravilhosa pergunta", que ouviu incontáveis vezes: quando, afinal, terminaria o seqüenciamento da Xylella? Ao longo do último ano e meio, Simpson riu de si próprio nas várias vezes em que o prazo sobreveio, mas não a seqüência completa. "Vamos dizer no m ês que vem", previu no e-mail datado de 27 de setembro, "e ter esperança".
Pois ali o cientista chegou bem perto da resposta certa: precisamente um mês depois, no dia 27 de outubro, uma pequena expedição integrada por ele próprio e por sua fiel escudeira Anamaria Camargo, do Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer, e Mariana de Oliveira, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), partiu de São Paulo rumo à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ). De Piracicaba, veio Cláudia Monteiro-Vitorello, do Centro de Energia Nuclear para a Agricultura (Cena), da USP. Encontraram-se no laboratório de bioinformática, o centro nevrálgico da rede de pesquisadores constituída em dezembro de 97 para levar a cabo a tarefa de revelar a ordem dos (pensava-se então) 2 milhões de nucleotídeos que caracterizam o material genético da Xylella. João Setúbal e João Kitajima - o terceiro João do laboratório, que tem também João Meidanis- esperavam por eles. No dia anterior, a equipe de jovens doutoras, que permaneceu debruçada durante meses sobre 14 renitentes gaps, percebeu que talvez todas as peças do quebra-cabeça tivessem, finalmente, se encaixado.
Pereira, Edson Kemper, Eduardo Formighieri , Edviges Maristela Pituco, Eiko Eurya Kuramae lzioka, Eliana G. de Macedo Lem os, Elizabeth A. L. Martins, Elza Maria Frias
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Gaps, buracos, são interrupções da seqüência total do genoma que podem significar, por exemplo, que pedaços do cromossoma da bactéria ainda escapavam ao meticuloso trabalho dos pesquisadores. De fato, a estratégia inicial de seqüenciamento escolhida não cobria 9% das bases do material genético da bactéria. O grupo reuniu-se em Campinas para examinar as novas idéias com os Joões. A reunião marcou o começo do fim do finishing do projeto - a fase do seqüenciamento completo em que se busca preencher os gaps e aperfeiçoa'-: a qualidade das seqüências obtidas.
" ( .. .) Andy e meninas vieram aqui e fizemos uns processamentos eletrônicos que aproximadamente confirmaram a hipótese de fechamento virtual. Mas nesse dia ainda faltavam pelo menos três confirmações de ligação, que apareceram nos dias subseqüentes, a última delas no dia 1 O de novembro ( ... )." O relato traz a marca da precisão de João Setúbal; mas, apesar do comedimento que fez dele uma das referências de equilíbrio dentro da rede Onsa, a notícia do fechamento virtual (mesmo sem as três confir-
Martins, Emmanuel Dias Neto, Eric D'AJessandro Bonaccorsi, Fabiana Kühne, Felipe Rod rigues da Silva, Fernando Augusto de Abreu, Fernando Ferreira Costa, Fernando Reinach,
mações) começou a correr já na manhã de 28 de outubro. Dizer que o genoma fechou virtualmente significa que os pesquisadores não têm mais dúvidas importantes sobre a ordem com que se apresentam os trechos de seqüências da molécula de DNA determinadas pelos laboratórios; além disso, quer dizer também que os pesquisadores já dispõem das evidências de que precisam para afirmar que todos os pedaços da molécula já estão de posse dos laboratórios de seqüenciamento.
Como João, houve outro no firmamento das lideranças do projeto que preferiu se manter cético. "( .. .) Para mim trata-se apenas de uma hipótese. Estou tentando confirmá-la, pois a notícia foi dada pelo Simpson que ( .. .) tem um otimismo tão irresponsável quanto o meu! Fiquei tão entusiasmado quanto incrédulo'; escrevia na sexta, 29 de outubro, o físico José Fernando Perez- diretor científico da FAPESP e principal articulador de todo o Programa Genoma paulista. Mas, na véspera da reunião do comitê internacional que monitora e orienta os esforços brasileiros no
Flávio Vieira Meire lles, Francisco G. da Nóbrega, Gilso n Soares Ba ia, Gislayne F. L. Tri ndade Vilas Bôas, Go nçalo Guimarães Pereira, Guilherme Pi mente! Telles, Gustavo de Faria
mundo da biologia molecular aplicada ao seqüenciamento, mesmo o ponderado Setúbal sorriu francamente e comemorou: às 17h46 da terça-feira, 9 de novembro, entrou no banco de dados da Xylella a leitura de 700 bases que fechou o último gap. Perez e Simpson foram avisados no dia seguinte. Era 1 O de novembro, uma importante quarta-feira na vida da FAPESP.
A reunião com o Comitê: A notícia do fechamento virtual chegou ao comitê internacional que assessora o seqüenciamento do genoma da Xylella (Steering Committee) através do coordenador de DNA, antes que os três cientistas que o integram- Steve Oliver, da Universidade de Manchester; o belga André Goffeau, que coordenou o seqüenciamento completo do genoma da levedura, terminado em 1996; e o bioinformático John Sgouros, de Londres - desembarcassem no Brasil para a reunião do dia 11 de novembro.
Não foi dos encontros de maior quórum do comitê. Do meio do primeiro semestre de 99 para cá, a audiência a essas conversas públicas entre os pesquisadores brasileiros e os três experts internacionais diminuiu e transformou-se. A partir de março, a maior parte do trabalho de determinação da ordem das bases nitrogenadas já terminara; começou a predominar, nas reuniões, o debate sobre os problemas do finishing e da anotação - o trabalho de identificar e refletir sobre a ftmção dos genes revelados pelo seqüenciamento. A mudança de fase fez mudar
Theodoro, Gustavo Henrique Goldman, Haiko Enok Sawazaki, Hamza Fahmi Ali EI-Dorry, Haroldo Alves Pereira Jr., Helaine Carrer, Helena C. F. Oliveira, Hélina Maria dos Reis, Homero Pinto
também a audiência; apareceram caras novas, e muito jovens. No auditório do quarto andar do prédio da FAPESP, no Alto da Lapa, havia talvez 30 pessoas, as mais comprometidas com a finalização do projeto, quando os três do Steering Committee, ladeados por Simpson, Fernando Reinach (chefe do laboratório que produziu o maior número de bases) e João Setúbal desceram as escadas do anfiteatro.
Eletrizante: Respirava-se contentamento quando os trabalhos se iniciaram. Simpson abriu a reunião, historiou as várias etapas do projeto, elogiou e destacou o trabalho de alguns dos presentes - Jesus Ferro, de quem disse ter sido "magnífico"; Edson Kemper e André Luiz Vettore, do Centro de Biologia Molecular da Unicamp, elogiados pela persistência; e Anamaria Camargo, uma das mascotes do projeto (tem 26 anos), a quem atribuiu o insight que resultou no fechamento virtual do genoma.
João Setúbal falou em seguida. Retraçou os fatos dos dias anteriores; escreveu numa transparência os nomes das seis doutoras do fechamen-
Vallada Filho, Humberto Maciel França Madeira, lzaura Nobuko Toma, Jane Silveira Fraga, Jeanne Blanco De Molfetta, Jesus Aparecido Ferro, João Bosco Pesquero, João Carlos
~ to: Marilis do Valle § Marques, Cláudia 3 Monteiro-Vitorello, j'
Ana Cláudia Rasera da Silva, Elizabeth Martins, Mariana de Oliveira e Anamaria. A estas, Simpson acrescentou o nome de Marie-Anne Van Sluys. Em seguida, Setúbal contou que o read salvador, aquele que preenchera o último gap dois dias antes, contendo uma seqüência que ainda não tinha aparecido nunca, veio do laboratório JJ: Jesus e
seus extraordinários colaboradores da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (Unesp ), de Jaboticabal, "representaram o melhor espírito do projeto", nas palavras de João, e receberam aplausos generosos dos colegas. Jesus produziu muito - não só seqüências. Empenhou-se em todas as outras tarefas- clonagem, bibliotecas, montagem-, com a diligência de seu bem orquestrado laboratório. Terminadas as merecidas comemorações, começaram as apresentações de resultados, que duraram todo o dia.
O parecer: No dia seguinte, o veterano André Goffeau transmitia alegria ao avaliar o encontro. Escolheu smart para qualificar as well trained young /adies. Admirou-se com o good spirit reinante; confidenciou que, no campo científico, os homens são um pouco paranóicos; e elogiou o coordenador de DNA por ter sempre ressaltado o crédito de cada um das (dos) participantes. O parecer assinado por ele, Oliver e Sgouros transpira entusiasmo:
"O Comitê impressionou-se muito com os progressos do projeto de seqüen-
Campanharo, João Carlos Setúbal, João Meidanis, João Paulo Kitajima, Joaquim A. Machado, Joaquim Mansano Garcia, Jomar Patrício Monteiro, José Eduardo Krieger, José Franco da Silveira,
PESQUISA FAPESP • NOVEMBRO DE 1999 • 21
ciamento do Genoma Xylella desde a última visita. Agora, está confiante de que o projeto terminará com êxito, dentro de um período muito curto de tempo(. .. )
1. A seqüência do genoma está virtualmente completa, graças às seguintes medidas:
a) uma volta ao uso extensivo de shotguns de clones de plasmídeos;
b) a delegação, a uma série de excelentes jovens cientistas, da responsabilidade de fechar um ou mais dos 14 gaps remanescentes da seqüência;
c) a construção de novas bibliotecas de fago-lambdas, por Edson Kemper e André Vettore, no laboratório de Paulo Arruda;
d) o reconhecimento, por Anamaria Camargo, do fato de que havia dois conjuntos de genes de r RNAs, e a elucidação da posição que ocupam um em relação ao outro.
2. Construiu-se um excelente espírito de grupo dentro da rede da Xylella como resultado de:
a) O modo entusiasmado, positivo e acolhedor com que Andrew Simpson exerceu seu papel de coordenador de DNA;
b) o excepcionalmente alto nível de competência profissional demonstrado pelos dois coordenado-res de bioinformática, João Setúbal e João Meidanis, combinado com a disposição, sempre, de ajudar a resolver os problemas;
c) o compartilhamento não egoísta, entre o grupo de jovens e capazes cientistas brasileiros, das diferentes tarefas de seqüenciamento, construção de bibliotecas, mapeamento e fechamento de gaps;
Em geral, o Comitê considera que a decisão de estruturar a rede para seqüenciar o genoma tem funcionado em São Paulo ainda melhor
José Odair Pereira, Kelly Santos, Laurival Antônio Vilas Bôas, Lin Tzy Li, Luci Deise Navarro Cattapan, Lúcia M. Carareto Alves, Luciana Cezar de Cerqueira Leite, Luciane Prioli Ciapinaf,
22 • NOVEMBRO DE 1999 • PESQUISA FAPESP
do que funcionou na Europa. A FAPESP deveria esforçar-se para assegurar que tudo de positivo que listamos acima seja incorporado a outros projetas genoma que ela venha a apoiar no futuro':
O Comitê destaca, em seu relatório, também o trabalho de outros seis pesquisadores: Ari Scattone Ferreira ("a talented young graduate student by Hamza El-Doury"), Ronaldo Quaggio e Marilis do Valle Marques, todos do Instituto de Química da USP; Eiko Izioka, da Unesp de Botucatu; Cláudia Vitorello; e João Kitajima. O parecer estimava para o Natal a obtenção da seqüência do genoma completa e finalizada- quer dizer, completamente comprovada na bancada dos laboratórios, com a ordem das bases determinadas uma a uma e aceita pelos dois Jo-ões - de benign and helpful attitudes, mas implacáveis com os critérios de qualidade. Pelo cronograma sugerido pelo Comitê, o paper- com a seqüência e todas as
Luciano Takeshi Kishi, Lucienne Medeiros, Luís Eduardo Aranha Camargo, Luís Eduardo Soares Netto, Luís Roberto Furlan, Luiz Lehmann Coutinho, Luiz R. Nunes, Luíza Carla Duarte,
descobertas sobre os genes encontrados nela, trabalho do grupo de anotação - deverá ser submetido à aprovação da revista Nature em março, para ser publicado em julho.
Pós-reunião: A aprovação efusiva do Steering Committee aos resultados injetou ainda mais vibração nos núcleos de finishing e anotação da rede Onsa. Um aliviado e exultante Andrew Simpson organizou logo o encontro dos que se concentraram no estudo dos genes responsáveis pela doença nos laranjais- que aconteceu na terceira semana de novembro. Houve resultados animadores, sobre os quais pesa o embargo de se manterem inéditos até a publicação. Meidanis, o coordenador da anotação, já está mais confiante- no dia da reunião do Steering Committe, mesmo com
clima tão favorável, preocupavase muito com o pouco tempo
Lyndel Meinhardt, Manoel Victor F. Lemos, Mara Lúcia Zucheran Silvestri, Marcelo Brocchi, Marcelo R. S. Briones, Márcia Heloísa lquegami, Márcio de Castro Silva Filho, Márcio Rodrigues Lambais,
que resta para definir muito sobre os milhares de genes da Xylella fastidiosa.
Do lado da finalização de gaps, tudo corre melhor que o esperado. Um vento de felicidade varreu o muitas vezes tedioso e desanimador cotidiana dos últimos meses, enquanto as doutoras do fechamento preparavam persistentemente a hora em que todos os enigmas se encaixariam - o que aconteceu quando Anamaria percebeu "que eram dois os conjuntos de genes ribossômicos, e sua posição relativa", como descreveu o parecer internacional.
"Estou me sentindo tão importante", diz uma emocionada Cláudia, que descobriu dados sobre a história evolutiva da Xylella, também considerados notáveis pelo Comitê. "É mesmo um grande quebra-cabeça. Tenho certeza de que todos nós tínhamos que gostar de quebra-cabeça quando crianças", lembra Elizabeth Martins, do Instituto Butantan, que se sente, agora, inserida na ciência do mundo. Na sexta-feira, dia 26 de novembro, José Fernando Perez acreditava num encurtamento do cronograma do Steering Committee. O texto do anúncio à imprensa deveria estar pronto já em dezembro.
Pós-genoma: "Impressiona o Comitê a combinação única de expertise que foi construída ao longo dos últimos dois anos. A rede explorou quase todas as estratégias de clonagem, mapeamento e seqüenciamento, assim como usou e desenvolveu quase todas as técnicas de bioinformática relacionadas com essas estratégias. Essa expertise acumulada não pode ser desperdiçada. Nós estamos convencidos de que São Paulo pode vir a dominar o campo da análise genômica de patógenos de plantas."
O item seis do parecer do comitê internacional aponta para o futuro e traz à tona uma discussão que já vem sendo feita. Qual o melhor destino
Marco Antônio Zago, Marcos A. Gimenes, Marcos Antônio Machado, Marcos Macari, Marcos Oliveira, Marcos Renato Rodrigues Araújo, Maria Aparecida Nagai, Maria Florência Terenzi, Maria Helena de Souza
Jovens e talentosas cientistas
Durante meses, essas jovens doutoras debruçaram-se sobre 24 renitentes interrupções da seqüência total do genoma da Xylella, os chamados gaps, que paralisavam o projeto. Elas conseguiram fechar os gaps, permitindo a conclusão do seqüenciamento
Cláudia Monteiro-Vitorello
Mariana de Oliveira
Marilis do Valle Marques
Goldman, Maria Heloísa Tsuhako, Maria Inês Tiraboschi Ferro, Maria Júlia Gobbo Beretta, Maria Rita Passos-Bueno, Mariana C. de Oliveira, Mariângela Cristofani, Marie-Anne Van Sluys,
Anamaria Camargo
Elizabeth Martins
Marie-Anne Van Sluys
Ana Cláudia Rasera
Marília Caixeta Franco, Marilia Dias Vieira Braga, Marilis do Valle Marques, Mário Henrique de Barros, Marli de F. Piore, Mayana Zatz, Nalvo Franco de Almeida Jr., Nirlei Aparecida Silva, Paula Azevedo
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para a expertise e para a capacidade instalada da rede Onsa, que não se quer ociosa? Fernando Reinach, o primeiro a pensar na idéia de seqüenciar um genoma completo de bactéria e acreditar na sua factibilidade, quase três anos atrás, também enxerga na especialização em patógenos de plantas a vantagem comparativa de São Paulo - ainda mais porque o projeto Xanthomonas citri, que causa o cancro cítrico, deve oferecer a seqüência completa de seu genoma daqui a um ano e meio. Fernando e Jesus respondem por mais esta empreitada de seqüenciamento completo, outra parceria da FAPESP com o Fundecitrus, orçada em US$ 5 milhões.
Como parte da rede Onsa enceta também o Genoma Cana, sob a coordenação de Paulo Arruda, acentua-se mais a ligação com o mundo da agricultura. Simpson concorda com a força da vertente agrícola; mas sua idéia passa pela criação de um grande centro de seqüenciamento, financiado inclusive por fontes privadas, atuante em outras duas áreas: projetas como a Cana e o Câncer, que querem descobrir genes, não fornecer seqüências completas; e estudos que aliem nossa biodiversidade às tecnologias de ex-
Kageyama, Paulo Arruda, Paulo Inácio da Costa, Paulo Lee Ho, Regina L. Costa de Oliveira, Regina Yuri Hashimoto, Renata Guerra, Renato Alvarenga, Roberto Vicente Santel li , Ronaldo Quaggio, Sérgio Furtado
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pertise da rede Onsa. "Dominamos uma atividade de valor comercial. Somos um dos líderes do mundo nesta área. O fato de haver tantas empresas no setor mostra que podemos ganhar dinheiro com isso", diz ele.
O coordenador de DNA ressalta uma tendência importante para a discussão do futuro: o centro, afirma, estará na bioinformática. No cenário antevisto por Simpson, as idéias serão geradas in silico, no trabalho com programas de computador, nas consultas a bancos de dados internacionais, na comparação de informações. Experimentos na bancada virão depois, para validar in vitro os resultados. Mas reforçar a bioinformática é estimular a criação de novos centros, óu fortalecer um só? João Setúbal oscila entre as duas possibilidades e observa que elas não são excludentes.
Quanto a novos seqüenciamentos, porém, este politécnico não vacila: põe sua cruzinha num eucarioto (quer dizer, um organismo com célula nucleada) simples, com tamanho entre 10 e 50 milhões de pares de bases - há muito maiores dificuldades técnicas para a montagem de genomas assim.
O maior saldo: José Fernando Perez sentou-se há 15 dias com Reinach e
dos Reis, Sérgio Verjovski-Almeida, Silvana Bordin, Sílvio A. Lopes, Siu Mui Tsai, Suely Lopes Gomes, Suzelei de Castro França, Thiago Claudino Gréggio, Vagner Katsumi Okura, Vanderlei Rodrigues, Vânia
Simpson para conversar sobre o futuro da rede Onsa. O diretor científico da FAPESP está entusiasmado com o largo caminho que se abre à frente, inclusive na área de genoma estrutural. Sua confiança vem de avaliar outras aquisições que também brotaram da decisão de seqüenciar o genoma completo da Xylella. Trabalhar na fronteira do conhecimento, remeter-se a um problema específico, mobilizar a capacidade já instalada - tudo isso beneficiou
a biologia molecular no Estado, objetivo primeiro da decisão de montar a rede Onsa e enfrentar o primeiro seqüenciamento. Mas assinala outro impacto do projeto, talvez o maior de todos, resultado da estrutura em que foi concebido: a importância do trabalho cooperativo.
O fato de não participar diretamente das atividades da rede não tolda a fina sintonia do diretor: se houvesse uma enquete, 10 entre 10 pesquisadores perguntados concordariam com ele. Nas conversas de balanço, o destaque vai para a coesão entre os laboratórios, o exercício da amizade, da troca de experiências, a velocidade e o novo gosto que a colaboração intensa imprimiu ao trabalho. Parece que os cientistas de São Paulo se descobriram uns aos outros; descobriram, também, as delícias do convívio, do tititi no site da rede Onsa. A todos eles, especialmente a elas neste fechamento, congratulations.
E do diretor científico, fica um recado: " Vamos consolidar nossa liderança em patógenos, para dar novos saltos. Nos inserirmos em um contexto que exige ousadia e agressividade crescentes. E o futuro, mais que promissor, é exigente': •
Fernandes, Vera Ferreira, Vicente Eugênio de Rosa Junior, Walter José Siqueira, Wanderley Dias da Silveira, Weber A. N. do Amaral, Wilson Araújo Silva Jr, Wilton ]. R. Lima, Zanoni Dias
CIÊNCIA
O tokamak: alternativas para produção de energia
Estudando a fusão nuclear
Equiparando-se a instituições do Japão, Europa e Estados Unidos, Índia e China, o Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) conta com um tokamak de médio porte, um equipamento que confina plasma (partículas atômicas com alta energia) em campos magnéticos, inaugurado no final de outubro. Por meio dele começaram a ser realizadas pesquisas que poderão contribuir para a construção de reatores de fusão nuclear, considerados uma alternativa de menor impacto ambiental em relação à fissão nuclear, por não gerar resíduos radiativos. Construída ao longo de seis anos, com cerca de R$ 2,9 milhões provenientes da USP, da FAPESP, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a nova máquina pode viabilizar também trabalhos em conjunto com outros grupos de pesquisa nacionais e internacionais. Segundo o coordenador do projeto, o físico Ivan Cunha Nascimento,
já estão em andamento pesquisas em colaboração com grupos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ), da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, da Rússia e da Ucrânia e do Centro de Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico de Lisboa. •
Descobertas no cromossomo 6
A revista Nature de 28 de outubro noticiou o primeiro seqüenciamento e o mapa genético completos de um complexo maior de histocompatibilidade (MHC) humano, fundamental para o sistema imunológico, numa região do cromossomo 6. Os 22 pesquisadores de duas instituições dos Estados Unidos, uma da Inglaterra e outra do Japão, que assinam o artigo da Nature, consideram que a aglomeração de genes relacionados com o sistema imunológico é tão marcante que parece improvável que isto seja uma coincidência. Lembram também, por outro lado, que a proporção de genes do sistema imunológico no genoma em geral ainda não é inteiramente conhecida e pode ser
igualmente alta. De imediato, esse trabalho tornou possível, por exemplo, rastrear a similiaridade de seqüências genéticas de 700 milhões de anos atrás e situar o surgimento do sistema imunológico há cerca de 400 milhões de anos. •
Prata, para medir a poluição atmosférica
Um dos gases que poluem o ar das cidades, o dióxido de enxofre, altera a cor dos objetos feitos com prata, o chamado azinhavre. Verificando que o mal se encontrava a um passo do bem, a pesquisadora Magali Silva, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), elaborou um método para medir a poluição atmosférica que parte justamente desse efeito do gás, produzido pela queima, sobretudo, de óleo diesel de automóveis e indústrias. Magali colocou pequenas placas de prata em três locais de Porto Alegre, nos quais a poluição é acompanhada pelo método tradicional, com a aspiração do gás, e nas proximidades de uma indústria na região metropolitana. Durante seis meses, acompanhou as placas, decompondo o azinhavre, o sulfeto que se forma pela
Sulfeto de prata: indicador
ação do enxofre sobre a prata, por meio de corrente elétrica. No final, com resultados equivalentes ao método tradicional, verificou que a concentração média de poluentes em um dos pontos analisados, a Rodoviária, com intenso tráfego de ônibus movidos adiesel, é dez vezes maior que em outro ponto, a Avenida Borges de Medeiros, com maior circulação de automóveis. A pesquisa pretende ainda relacionar a concentração de dióxido de enxofre com outras variáveis, como o regime dos ventos e a umidade do ar. •
Pesquisador premiado
O bioquímico Rogério Meneghini, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), diretorassociado do Laboratório Nacional de Luz Síncroton e coordenador-adjunto da FAPESP, recebeu o prêmio RheinboldtHauptmann, entregue no dia 17 de novembro. Especialista em biologia molecular, Meneghini proferiu na ocasião a palestra "Os caminhos conflitantes dos elétrons de ferro (II) na célula': O prêmio - criado em homenagem a dois professores alemães, Heinrich Reheinboldt e Henrich Hauptmann, fundadores do Departamento de Química da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, base do atual Instituto de Química- reconhece o trabalho de pesquisadores que tenham feito contribuições relevantes ao avanço da Química e da Bioquímica. Foi conferido pela primeira vez, em 1986, a Leopoldo de Meis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. •
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1999 25
CIÊNCIA
FISIOLOGIA
Proteção durante o sono Está comprovado o papel antiinjlamatório da melatonina
Convém abandonar a idéia de que os organismos são apenas
um conjunto de sistemas, como o circulatório, o respiratório e o reprodutor, entre outros, cada um funcionando como uma linha de produção independente. Nada disso. Cada vez mais, prova-se que a integração é grande. Há substâncias que funcionam como maestros do organismo, pondo cada parte para tocar em harmonia. No Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), um grupo de pesquisadores está ajudando a ciência a entender melhor uma delas, a melatonina, um hormônio produzido por uma pequena glândula, a pineal, situada na base do cérebro.
Produzida apenas à noite, a melatonina marca o escuro, com ações diferenciadas: controla o sono nos seres humanos e o estado de alerta nos ratos, animais de hábitos noturnos. Mais do que regulador do relógio biológico, esse hormônio pode desempenhar outras funções estratégicas. Após quase 1 O anos de trabalho, a equipe coordenada pela biomédica e farmacologista Regina Pekelmann Markus, do IB, chegou a resultados animadores, considerados inéditos pela comunidade científica internacional, sobre o possível papel desse hormônio em processos inflamatórios. Há também implicações práticas: em alguns anos, esse trabalho pode levar a indicações mais precisas sobre a melhor hora e as dosagens mais eficazes para ministrar medicamentos.
Já se sabia que a melatonina interfere sobre os sistemas imunológico,
26 • NOYEHBRO DE 1999 • PESQUISA FAPESP
Regina Markus: t rabalho pode ajudar a rever o uso de medicamentos
hormonal e nervoso, assegurando a sincronização de diversas funções do organismo, muitas delas sem relação umas com as outras, mas não de modo assim tão decisivo. No IB, estudç>s realizados em camundongos e ratos mostraram que a melatonina, cuja produção ocorre apenas durante a noite, pode atenuar inflamações. A ciência já sabia também que a melatonina poderia atuar sobre a fase aguda das inflamações, nos dois primeiros dias do processo. Seu papel em lesões crônicas, mais longas, é que constitui um campo novo de estudos.
"Não podemos dizer que a melatonina é um antiinflamatório, mas sim que tem importância modulatória no processo inflamatório", explica Regina Markus, coordenadora do projeto temático Glândula Pineal e Melatonina -Estudo de Regulação Fisiológica e Fisiopatológica, com três subprojetos, que nos últimos três anos contou com um financiamento de R$ 68.386,60 da FAPESP. Trata-se
de uma ação global, na qual não cabem mais visões compartimentadas do organismo. A melatonina, ao que tudo indica, impede que um tipo de células brancas do sangue, os neutrófilos, rolem ou se fixem nas paredes dos vasos sanguíneos, travando assim sua passagem para os tecidos adjacentes. A melatonina não impede inteiramente a evasão das células, apenas a reduz em cerca de 30%. Na prática, o organismo sai ganhando. "Se vão menos neutrófilos para a região inflamada, a inflamação vai progredir mais lentamente': diz a professora. Outra conseqüência: haverá menos pressão, menos inchaço e, talvez, menos dor na região inflamada. A melatonina, portanto, não breca a inflamação, mas a regula.
A partir dessas evidências, como o ciclo de produção da melatonina é bem conhecido em mamíferos, incluindo os seres humanos, os médicos poderiam em tese potencializar o efeito das drogas antiinflamatórias se
sura das patas, determinada pela inflamação induzida, variava de acordo com um ritmo que parecia guardar uma relação com o ciclo de produção da melatonina no organismo dos animais. Regina Markus conta que as
líquido e de proteína dos vasos para os tecidos vizinhos, a chamada permeabilidade vascular, devidamente medida pelos especialistas do IB. Como demonstraram, a permeabilidade das patas lesionadas era sempre maior
as ministrassem justamente nos momentos de alta concentração desse hormônio no organismo, que ocorrem à noite. Para Regina Markus, que também coordena o curso de Ciências Moleculares da USP, esse cuidado extra poderia resultar em tratamentos mais eficazes contra inflamações crônicas, como a
Uma das experiências em ratos
asma e a artrite reumatóide, Como a melatonina interfere na inflamação produzida nos animais de laboratório
além de permitir o uso de uma dosagem menor (port<mto, menos agressiva) das drogas, cujos efeitos seriam potencializados pela presença da melatonina. É lógico, lembra ela, que terão de ser feitos estudos detalhados em seres humanos sobre a ação da mela-
I - Os pesquisadores injetaram uma solução com bactérias do tipo BCG e uma substância inerte chamada nistatina na pata traseira esquerda de camundongos. O objetivo era produzir uma inflamação crônica, que tomaria a forma de um caroço palpável, no local da injeção. Além de receberem aplicações periódicas, os animais eram mantidos em um ambiente com iluminação controlada ( 12 horas com luz e 12 sem luz).
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tonina antes que esse tipo de procedimento se torne uma rotina terapêutica. Essa etapa também está sendo planejada pelos pesquisadores. "Pretendemos começar a pesquisar o papel da melatonina em processos inflamatórios em humanos em um ou dois anos", afirma Regina.
.. o 2 ·Trinta dias depois do início da experiência, os pesquisadores começaram a medir o inchaço das patas lesionadas. Perceberam que a grossura das patas, determinada pela inflamação induzida, variava de acordo com o ritmo que parecia guardar uma relação com o ciclo de produção de melatonina no organismo dos animais.
Patas inchadas: Uma equipe do IB, composta pela doutora Cristiane Lopes e pelo professor Mario Mariano, realizou urna série de estudos enfocando o papel da melatonina na resposta inflamatória. Primeiro, injetaram as bactérias do tipo BCG (Bacillus Calmette-Guerin) e uma substância inerte chamada nistatina na pata traseira esquerda de camundongos. O objetivo era produzir uma inflamação crônica, que tomaria a forma de um caroço palpável que podia ser localizado no local da injeção, a chamada lesão granulomatosa. Além de receberem aplicações periódicas, os animais eram mantidos em um ambiente com iluminação controlada (12 horas com luz e 12 sem luz).
Trinta dias depois do início da experiência, os pesquisadores começaram a medir o inchaço das patas lesionadas - urna tarefa metódica, realizada a cada quatro horas, dia e noite, inclusive nos finais de semana e feriados. No final, perceberam que a gros-
patas nas quais se aplicou as substâncias apresentavam-se mais inchadas durante o dia, sobretudo entre as nove horas da manhã e a uma da tarde, justamente o período em que a glândula pineal não produz melatonina. Ao contrário, mostravam-se menos inchadas durante a noite, especialmente entre as nove da noite e a uma da manhã, um intervalo de tempo que coincide com o momento de pico de concentração do hormônio no organismo.
A partir desses dados, ficou claro para os pesquisadores que a inflamação crônica obedecia a um ritmo que variava uniformemente ao longo de 24 horas. O experimento era também um indício de que a presença ou ausência de melatonina tinha alguma influência sobre o inchaço nas patas dos camundongos. Segundo Regina Markus, havia nesse estudo outro dado interessante que reforçava a tese de que o ciclo de produção de melatonina estava ligado à intensidade da resposta inflamatória: era a saída de
o 3 -As patas nas quais se aplicaram as substâncias apresentavam-se mais inchadas durante o dia, sobretudo entre as nove horas da manhã e a uma hora da tarde, justamente o período em que a glândula pineal não produz melatonina.
o 4 -Ao contrário, as patas mostravam-se menos inchadas durante a noite, especialmente entre as nove horas da noite e a uma da manhã, um intervalo de tempo que coincide com o momento de pico de concentração do hormônio no organismo.
ao meio-dia do que à meia-noite. Como se sabe, quanto maior o grau de permeabilidade vascular numa área inflamada, maior será o seu inchaço.
Em seguida, os pesquisadores precisaram verificar se os resultados obtidos decorriam apenas do ritmo de liberação da melatonina ou se havia outro fenômeno envolvido, urna etapa chamada de eliminação de variáveis. Então, retiraram a glândula pineal de alguns camudongos ou apenas o gânglio cervical superior, decisiva para seu funcionamento. Pronto: estava cessada ou drasticamente reduzida a produção natural desse hormônio, que só é sintetizada por essa glândula. Como resultado, relata a professora Regina, o inchaço das patas lesionadas dos camundongos parou de seguir o ritmo circadiano, que determinava o inchaço mais intenso durante o período de luz e menos acentuado no período de escuro. Um forte indício, portanto, de que a ausência de melatonina no organismo estudado
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO OE 1999 • 27
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desregulava o ciclo normal da inflamação. Para que não houvesse mais dúvidas, aplicaram doses noturnas de melatonina nos animais que não mais produziam esse hormônio e -eis a prova final - a lesão nas patas voltou a obedecer o ciclo tradicional, de maior ou menor inchaço de acordo com a hora do dia.
Pioneirismo: Em outro trabalho sobre o papel antiinflamatório da melatoni
O controle do sono: uma das ações da melatonina
Outra linha de atuação do grupo volta-se à fisiologia da glândula pineal e uma outra família de receptores celulares, os purinoceptores do subtipo P2, estimulados pelas moléculas de adenosina trifosfato (ATP) liberadas pelo terminal nervoso. Esses receptores celulares têm uma importância específica: contribuem para induzir a síntese de melatonina. O ATP, lembra a professora Regina, é bastante
na, um grupo de estudos formado por Regina Markus, Sandra Farsky, do Instituto Butantan, Cristiane Lopes e Celina Lotufo, do IB, analisou a influência desse hormônio e de seu precursor, a N-acetilserotonina, na capacidade de um tipo de células sanguíneas, os leucócitos, rolarem e aderirem à parede de vênulas, as pequenas veias localizadas logo após os capilares. Segunda Regina Markus, esses são um dos primeiros passos que desencadeiam a resposta inflamatória.
Em ratos, os pesquisadores aplicaram diferentes doses desses dois hormônios, que atuavam em quantidades equivalentes à produzida normalmente pelo organismo. Ao final das análises, constataram que o precursor, uma molécula intermediária à melatonina, também apresenta uma ação definida no organismo. Tanto a melatonina quanto a N-acetilserotonina, ainda que em dosagens semelhantes às produzidas pela glândula pineal à noite, podem ter um papel fisiológico nos processos inflamatórios agudos, atuando na microcirculação, como são chamados os pequenos vasos onde se dá a saída de células da corrente sanguínea, provocando uma resposta inflamatória.
Segundo Regina Markus, os resultados desse trabalho representam uma contribuição original da ciência brasileira para a compreensão de uma das possíveis funções antiinflamatórias da melatonina. O estudo dos pesquisadores da USP, ela assegura, foi o
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primeiro no mundo a conseguir tais resultados em lesões agudas lançando mão de baixas doses desses hormônios. "Os trabalhos internacionais nessa linha sempre utilizaram dosagens muito elevadas dessas substâncias, de 10 mil ou até 100 mil vezes maior, criando uma situação totalmente artificial e diferente das condições de funcionamento do organismo", comenta a pesquisadora.
conhecido como a molécula que é quebrada para fornecer energia para as células. Neste caso, o ATP não é quebrado, mas atua como um sinalizador de reações químicas entre duas células.
Tão notáveis quanto as descobertas foram as dificuldades vividas pelo grupo. A mais marcante diz respeito a um aparelho importado dos Estados Unidos, indispensável para o estudo das funções da glândula pineal e
De Herófilo a Descartes
A melatonina é uma molécula de produção relativamente simples, derivada de um aminoácido essencial, o triptofano, e elaborada· em apenas duas etapas intermediárias. Pode ser encontrada em quase todos os animais, desde os unicelulares, com a exceção de alguns ratos do deserto, desprovidos de olhos, que vivem sob a terra, e algumas variedades de peixes de águas profundas, que vivem no escuro absoluto.
A glândula pineal ou epífise, que a produz, está presente nos animais vertebrados (peixes, répteis, anfíbios, aves e mamíferos) - os invertebrados, embora sem a glândula, produzem a melatonina pelos mesmos caminhos bioquímicos. Descrita pela primeira vez há 2.000 anos por um anatomista da Universidade de Alexandria, Herófilo, a pineal era considerada na Antiguida-
de como uma espécie de esfíncter, um simples músculo, capaz de regular o fluxo do pensamento.
No século II, o médico grego Galeno fez um grande avanço ao mostrar que essa glândula era constituída de um tecido diferente do tecido cerebral. No século XVII, o pai do racionalismo francês, René Descartes, alimentou o conceito de que a pineal seria o centro da alma. No final do século passado, já com suas propriedades anatômicas, histológicas e embriológicas conhecidas, é apontada como algo semelhante ao terceiro olho das aves. Constitui, na verdade, o órgão epifiseal dos pássaros, onde a pineal é uma fotorreceptora, como a retina.
Hoje, está evidente, a pineal funciona como um tradutor: é capaz de informar às partes internas do organismo sobre as condições de ilumi-
da atuação da melatonina nos organismos. Era um microfisiômetro, que mede a acidez ou a alcalinidade, o chamado pH, nas células e fornece a velocidade de acidificação do meio líquido em que se encontram. Quem o vê funcionando em um dos laboratórios do IB não imagina os bastidores. O aparelho, de uso conjunto por diversos grupos de pesquisa, custou cerca de US$ 100 mil, financiado pela FAPESP. Foi o primeiro microfisiômetro instalado no Brasil, segundo a coordenadora do projeto.
Sua chegada, em meados do ano passado, alegrou os pesquisadores da USP. Mas, como fazer ciência é uma luta quase diária contra as adversida-
des, o equipamento apresentava algum problema e, para decepção geral, não funcionou. Para complicar, não havia assistência técnica no Brasil. "Tivemos de consertá-lo com a ajuda on line do fabricante, com quem passamos a trocar e-mails na esperança de resolver o problema", relembra Regina, com bom humor. O problema até que era simples, uma bombinha do aparelho estava danificada, mas consumiu três meses para ser localizado e sanado. Reunindo habilidades, os pesquisadores conseguiram resolver o contratempo por aqui mesmo. Mandar o aparelho de volta para ser consertado nos Estados e esperar o retorno seria muito
A produção de melatonina
mais demorado. Outro ponto a favor da ciência brasileira. •
PERFIL:
• REGINA P EKELMANN M ARKUS, 50 anos, professora titular do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), graduou-se em Ciências Biomédicas na Escola Paulista de Medicina, atual Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp ), onde fez o doutorado. Projeto: Glândula Pineal e Me/atonina - Estudo de Regulação Fisiológica e Fisiopatológica Investimento: R$ 68.386,60
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O mecanismo que se repete a cada 24 horas, determinado pela presença ou pela ausência de luz, começa no olho "' -;;;
I - Fibras nervosas da retina captam a luminosidade do ambiente e repassam essa informação, na forma de estímulos elétricos, para o Núcleo Supraquiasmático, NSQ, situado no hipotálamo, localizado no sistema nervoso central.
5 -A estimulação dos adrenoceptores beta induz a produção de adenosina monofosfato cíclico (AMPc), que ativa a síntese de enzima N-acetiltransferase (NAT), por sua vez é responsável pela transformação da serotonina, que levará à constituição da melatonina.
Vaso
Triptofano t
6 - O triptofano, aminoácido
2 - O hipotálamo envia a informação para a medula espinhal, situada no interior da coluna vertebral.
Receptor B 5-0H-triptofano
~ AMPc Serotonl!Ja
~) ( c NAT~ ATP~
que vai constituir a melatonina, chega pelos vasos sanguíneos que irrigam os pinealócitos.
3 - Em seguida, a medula envia a informação até o gânglio cervical superior. E a última parada antes de a informação chegar à glândula pineal.
Corte da medula
NOR
4 - Do gânglio cervical superior sai um nervo que libera noradrenalina,
um neurotransmissor, e adenosina trifosfato (ATP), que neste caso funciona como cc-transmissor. A noradrenalina age sobre adrenoceptores beta e o ATP atua sobre receptores P2Y I, localizados na membrana dos pinealócitos, as células da glândula pineal que produzem melatonina.
nação ambiental. Em outras palavras: a pineal, liberando mela to nina, informa ao organismo se está escuro. Permite desse modo que seja diferenciado o dia da noite - e, de acordo com a intensidade da luz, libera no organismo os hormônios que produz.
A ação da melatonina varia de acordo com a hora em que é libera-
• Melatonina
Vaso
7 - O triptofano transforma-se em 5-0H-triptofano, precursor da serotonina, que será modificada em N-acetil serotonina (NAS) e depois em melatonina, que ganha a circulação sanguínea.
fonte: Adaptado de Reiter, 1993, Brazilion journal o( Medical ond Biologicol Reseorch
da. Em animais com ciclo reprodutivo ditado pelas estações do ano, esse hormônio sinaliza as mudanças sazonais: pode, por exemplo, estimular ou inibir o desenvolvimento dos órgãos genitais. Os hamsters, por exemplo, se reproduzem na primavera, quando os dias são mais longos. Nas ovelhas, ao contrário, a fecundação ocorre no inverno.
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CIÊNCIA
lrenilza: estudos do impacto da ventilação e da temperatura sobre o ganho de peso dos animais
CRIAÇÃO ANIMAL
O valor do conforto ambiental
Pesquisa contorna as perdas de produtividade causadas pelo calor
Para os animais, o calor é um tormento. Se vivem soltos, pro
curam a sombra de uma árvore. Quando confinados em granjas ou criatórios, pouco podem fazer. No verão, quando a temperatura chega a 30° Celsius, as galinhas põem menos ovos, as vacas produzem menos leite e os porcos perdem peso. Estima-se que as perdas em produtividade cheguem a US$ 50 milhões a cada semana de calor contínuo, sem nada que refresque os animais. A experiência ensinou que soluções imediatas nem
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sempre resolvem, como ocorreu liá dois anos com um grupo de granjeiros paulistas. Compraram nebulizadores, que espalham vapor de água sobre as galinhas, mas logo se viram desesperados, à medida que as aves caíam mortas pelo excesso de umidade relativa do ar. Os criadores começaram a ver que os ajustes nos aparelhos e nas próprias instalações eram indispensáveis.
Atento justamente aos detalhes do conforto térmico, essencial à manutenção da produtividade dos animais, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) pode agora ter a chave que faltava para estancar a sangria produtiva provocada pelo calor desenfreado. Ao encerrar o projeto Avaliação biofísica de sistemas utilizados
em criação industrial de animais, iniciado há três anos com um financiamento de R$ 35.079,00 da FAPESP, Irenilza de Alencar Naas apresenta uma série de recomendações que, uma vez assimiladas, poderá assegurar o conforto térmico e a lucratividade da produção animal. Evidentemente, os ganhos serão maiores nas criações em que os cuidados ambientais ainda não estejam implantados com ngor.
"O resultado do trabalho de campo é que valida a pesquisa", diz Irenilza, professora do Departamento de Construções Rurais da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp. Um grupo de cerca de 40 criadores de galinhas, porcos ou bovinos- não apenas das proximidades de Campinas, mas também de Pouso Alegre e
outras cidades do Sul de Minas -aceitaram correr os riscos da experimentação científica. Convencidos de que as melhorias são necessárias, cedem o espaço e dão aos pesquisadores liberdade para mudarem o que acharem necessário, desde que os animais não se abatam mais com o calor. Dessa etapa, ao lado da equipe da Unicamp, participam especialistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (USP) e da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal.
Estudiosos e inventores: Após examinar o ambiente, os cientistas sugerem que os criadores reduzam ou aumentem a altura das paredes ou instalem cortinas, que podem ser abertas ou fechadas de acordo com as necessidades térmicas. São meticulosos a ponto de alterarem até mesmo o ângulo de colocação dos ventiladores, para que o vento não desvie a nebulização que deve cair sobre os animais. Não se limitam aos conselhos. Também criaram e implantaram dispositivos que contribuem com o conforto térmico dos animais. Um deles são tubulões plásticos, com 12 centímetros de diâmetro, associados a uma bomba de refrigeração, que conduzem ar refrigerado até o cocho de matrizes suínas. Nada muito inovador, pois esse processo, chamado resfriamento evaporativo, já era utilizado em bovinos leiteiros. Funcionou.
Deu certo também outra invenção dos pesquisadores, o poleiro refrigerado, criado a partir da constatação de que pelo menos 30% do calor que as aves trocam com o ambiente ocorre a partir dos pés - nada mais lógico, portanto, do que refrescar os pés das aves poedeiras, em vez de providenciar o arejamento de todo o aviário. Esse poleiro, um cano pelo qual passa água fria, atravessa as gaiolas ao longo do corredor da granja. Mas foi o bastante, segundo a pesquisadora, para permitir um aumento de 1,72% na produção de mil aves manejadas em um dos casos estudados. A produ-
tividade elevou-se, mas somente quando esse ganho chegar a 4% é que a lucratividade estará assegurada, alerta a pesquisadora.
As respostas que marcam a conclusão desta etapa da pesquisa têm despertado o interesse dos produtores, que solicitam continuamente as sugestões dos especialistas da Unicamp. Muitas vezes, partem dos próprios especialistas a iniciativa de promover palestras em associações de criadores, às vezes com centenas de interessados. Como indicação desse
a cnaçao sobreviver, as perdas de produtividade devem ser reduzidas ao mínimo. Com essa finalidade, já se investiu bastante em nutrição e genética, que permitiram o desenvolvimento de variedades mais resistentes e de crescimento mais rápido. Falta agora, na opinião da pesquisadora, dar mais atenção à chamada ambiência ou bioclimatologia animal - um conjunto de fatores climáticos, como Sol, chuva, vento ou brisa, que influenciam nas condições ambientais internas e, se bem regulados, geram o con-
Gaiolas com poleiro refrigerado: ovos mais resistentes
entrosamento, neste final de aho quase não parava de tocar o telefone das salas de pesquisa da Unicamp -eram produtores em busca de soluções que assegurem a produtividade dos animais no verão que se inicia.
O trabalho amadurecido nos últimos anos partiu do livro Princípios de conforto térmico na produção animal, de 1989, que a pesquisadora elaborou a partir de informações de outros países, já com adaptações para as condições brasileiras, destinado aos estudantes sobretudo de engenharia agrícola. Naquela época, lembra ela, as fórmulas de cálculo do conforto térmico eram mais simples. "O produtor ainda não sentia no bolso as perdas de produtividade, porque as margens de lucros eram muito grandes", diz. A situação hoje é outra: para
farto térmico, a temperatura ideal na qual não há estresse do organismo.
Os pesquisadores, ao relacionarem temperatura ambiental, a umidade, a circulação de ar e as trocas de calor entre os animais, tornaram multidisciplinar um estudo que normalmente é conduzido de forma isolada. A Biologia aliou-se a campo da Física, a termodinâmica, abundante em fórmulas matemáticas que indicam como ocorre a troca de calor entre os organismos e o ambiente. Puderam assim compreender a fundo o sistema homeotérrnico dos animais, queregula a troca de calor com o ambiente e faz com que os animais transpirem e se movimentem mais ou menos de acordo com a temperatura externa.
Quando os animais gastam energia em excesso para chegar ao con-
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forto térmico- por meio da eliminação de água por meio da respiração, do suor ou da urina ou do aumento da freqüência respiratória e da transpiração, por exemplo-, a produção cai ou perde qualidade. Os limites, lembra a pesquisadora, são bem definidos: vacas leiteiras que produzam menos de 25 litros por dia já estão dando prejuízo ao criador. Do mesmo modo, leitões desmamados sem atingir o peso ideal, de três a cinco kg aos 21
Pintinhos em alas com ventilação manejada: menos doenças
dias, jogam por terra o retorno dos investimentos em melhor nutrição e instalações. No caso das granjas, como a pesquisa atestou, o microclima interfere na resistência das aves a doenças e na formação da casca dos ovos.
Condições específicas: Com base nos conceitos e nos padrões matemáticos de conforto térmico, a equipe da professora Irenilza comprovou que não adianta simplesmente abrigar os animais com o equivalente a uma boa sombra, pois cada tipo de criação exige um microclima, instalações e manejo específicos. O acompanhamento da temperatura corporal em situação de normalidade ambiental ou em condições adversas, como o calor ou frio intensos, permitiu o aprofundamento dos estudos e, por fim, culminou com a elaboração de modelos e de índices de conforto térmico próprios para a criação de aves, suínos e bovinos leiteiros, dentro e fora das instalações em que vivem.
No caso da avicultura, um dos resultados desse trabalho é a verificação de que a faixa de conforto térmico situa-se entre 22°C e 24°C. Mais do que a uma solução, Irenilza chegou, sim, a um impasse. Segunda colocada no mercado nacional de proteínas de origem animal, após a bovinocultura, a criação de aves tem promovido um superadensamento de aves nas granjas, com a finalidade de
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produzir mais carne e ovos. No mesmo espaço onde há alguns anos conviviam dez aves, agora há vinte. O desafio é como manter a boa circulação de ar e a temperatura ideal dentro do aviário já que as aves, mais próximas, trocam mais calor entre si e com o ambiente. Cada ave, ensina Irenilza, gera calor numa equivalência de potência de 20 Watts. Portanto, um lote de 20 galinhas por metro quadrado equivale a 400 Watts, como se nesse espaço houvesse quatro lâmpadas incandescentes de 100 Watts.
Ela sabe que seu trabalho pode promover reviravoltas nos padrões de manejo por mostrar também qúe não se deve descuidar da amônia, o gás formado a partir dos excrementos e da urina das aves. "O adensamento das aves está diretamente relacionado à concentração de amônia, cujo poder corrosivo compromete a sanidade respiratória e parte das carcaças das aves no abate", diz Irenilza. A ventilação adequada resolve o problema, embora deixe em aberto as conseqüências da aglomeração das aves.
Conseqüências: No caso das aves poedeiras, o desconforto térmico é uma das causas da baixa eclosão e da malformação dos ovos, com impacto imediato sobre a produtividade e a lucratividade. Regulando o conforto térmico, os pesquisadores começaram a lidar melhor com esse tipo de problemas.
As intervenções se tornaram mais eficazes a partir do momento em que concluíram qual o manejo mais adequado para cada fase do desenvolvimento das aves. Para apresentarem um bom crescimento, por exemplo, os pintinhos, as aves de um dia que normalmente viram frango de abate, precisam de aquecimento controlado. Um dos trabalhos práticos evidenciou a diferença entre o siste-ma de ventilação con
trolada e aquecimento do tipo estufa, com cortinas plásticas, e o aquecimento convencional, a gás, revestido com placas de madeira. Com o uso da estufa, a temperatura ambiental oscilou menos. As aves apresentaram um peso médio praticamente igual ao das manejadas convencionalmente, mas a uma taxa mais eficaz de ganho de peso e com menor índice de mortalidade.
Irenilza conta que, de modo geral, a nebulização do ambiente é de fato um dos recursos possíveis para a manutenção do conforto térmico, não apenas para as aves, mas também para os suínos e bovinos. Mas há um detalhe: a água retira calor do corpo dos animais somente no estado gasoso. Não adianta, portanto, regar ou aspergir água sobre os animais - na forma líquida, a água aumentará a umidade, que prejudica imensamente a respiração dos animais.
Para a suinocultura, a pesquisa da Unicamp aponta para uma profunda revisão das instalações ainda utilizadas. Segundo Irenilza, salas com pédireito baixo, janelas pequenas e piso que facilitam a formação de umidade são um convite ao prejuízo. Nessas condições, o ar circula mais lentamente, gerando a rápida saturação do ar, que se torna assim impróprio para as trocas térmicas.
Em uma granja comercial de Campinas, Marilena, com 350 matri-
zes suínas, os pesquisadores implantaram sistemas de manejo diferenciados de ventilação em três etapas da criação suína. As 36 matrizes em gestação acomodam-se em uma ala nova, com pé-direito mais alto, mas paredes mais baixas que as habituais, de até um metro e meio de altura, e sem janelas. A construção permite assim o uso de cortinados, reguláveis de acordo com o clima. A pesquisadora da Unicamp mostra por que
Gado holandês sob ventiladores: resfriamento controlado
vale a pena cuidar do conforto térmico dos suínos: o acréscimo no peso na desmama equivale a um rendimento de um leitão a mais por matriz ou cerca de três toneladas a mais de carne num rebanho de 350 animais.
Na outra ala da criação, o setor de maternidade, as condições térmicas constituem um desafio aos pesquisadores e ao próprio criador. Para os filhotes, a temperatura deve permanecer entre 28 e 30° Celsius, um pouco mais alta do que a indicada para o conforto térmico da matriz, entre 22 e 24° C. Mas também é importante manter o conforto térmico para as genitoras, pois elas é que vão produzir o leite para os filhotes. A solução encontrada pelos pesquisadores para conciliar as condições ideais a família toda foi a mesma utilizada em rebanhos de gado leiteiro: os tais tubulões de PVC despejam ar refrigerado sobre a cabeça dos animais adultos, de modo a abaixar a temperatura corporal. "Os animais se sentem confortáveis e os filhotes ganham peso", explica a engenheira agrícola Patrícia Souza, filha de criadores de Minas Gerais, doutoranda em construções rurais e ambiência, que integra a equipe da professora Irenilza, ela própria uma alagoana, filha de pai cearense e mãe paraibana, ambos com família e intensa convivência no campo.
Para os rebanhos leiteiros, compostos no Brasil geralmente por ani-
mais da raça holandesa, os estudos apontam de saída um paradoxo, aparentemente de difícil solução: a faixa térmica ideal varia de 5 a 24° Celsius, algo quase impossível no Brasil, onde os dias amanhecem já com temperaturas próximas a 18 graus. Para que os animais vivessem confortavelmente, seria preciso que o inverno durasse o ano todo. A situação só não é assim tão crítica, lembra a pesquisadora, porque existe a aclimatação, que permite os animais se adaptarem -ainda que de maneira inadequadaàs condições locais, depois de várias gerações.
Aos poucos, verificaram que ·os animais de melhor linhagem, resultantes de uma boa seleção genética, responderam com um ganho reduzido de produtividade, ainda assim da ordem de 60%, à medida que se ajustavam as condições de conforto térmico. Segundo Irenilza, o potencial máximo de produção pode chegar a 85% ou até mesmo a 100%, ou seja, dobrar. Em rebanhos de baixo rendimento genético, portanto de baixa produtividade leiteira, o impacto da ventilação manejada, com ventiladores associados à nebulização, mostrou-se maior, com ganhos de produtividade de até 25% acima dos 60% usuais. Segundo a pesquisadora, as mudanças implantadas pelos pesquisadores em criações de médio porte ao redor de Campinas, em São João da Boa Vista
(SP) e Pouso Alegre (MG) prop1oaram uma melhoria de 20 a 28% na produção de leite, de 8% no índice de parição e de 12% resistência à mastite, fatores ligados a uma melhor resposta hormonal e imunológica.
Irenilza espera mostrar pelo menos a importância da prudência e da vigilância constante e dos limites da tecnologia. Num caso dramático, ocorrido há dois anos, um criatório mantinha 380 avós de frango de corte, material genético
precioso, cada uma custando de R$ 300 a R$ 400, em condições ótimas de conforto térmico. Havia dois sistemas de segurança com alarmes que deveriam funcionar caso a temperatura excedesse os limites previstos. Mas, num dia de calor intenso, quando deveriam entrar em ação, o primeiro equipamento falhou e o outro, que deveria dar o alarme geral, ficou mudo - o terminal do relê havia sido envolvido por um casulo feito por abelhas. Quase 300 morreram de calor. •
PERFIL:
• lRENILZA DE ALENCAR NAAS, formada pela Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp ), fez o mestrado em Engenharia Agrícola na Universidade Politécnica do Estado da Califórnia e o doutorado em Engenharia Agrícola, na área de Ambiência e Construções Rurais, na Universidade de Michigan, também nos Estados Unidos. É professora do Departamento de Construções Rurais da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp desde 1990 e membro do Clube de Bolonha, uma comissão de especialistas que assessora os países da União Européia. Projeto: Avaliação Biofísica de Sistemas Utilizados em Criação Industrial de Animais Investimento: R$ 35.079,00
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CIÊNCIA
MICROELETRÔNICA
Sanduíche reformulado Engenheiros refazem as camadas dos chips de arseneto de gálio
Pode estar surgindo na Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) uma nova geração de circuitos integrados, os conhecidos chips, placas semelhantes a aranhas metálicas que revolucionaram a eletrônica deste século. Sem eles, a vida hoje seria no mínimo diferente. Não haveria computadores e Internet, seriam mais demorados os cálculos para a previsão do tempo e as televisões ainda teriam válvulas - as imagens custariam a aparecer e poderiam apagar-se a qualquer momento.
Após sete anos de trabalho, um grupo interdisciplinar coordenado pelo engenheiro eletrônico Jacobus Swart e pelo físico Mareio Pudenzi, respectivamente da Faculdade de Engenharia Elétrica da Unicamp e do Instituto de Física da Unicamp, concluiu o desenvolvimento de um método alternativo de fabricação de circuitos integrados, que substitui a tradicional matéria-prima desses dispositivos, o silício, por arseneto de gálio, e integra duas tecnologias atualmente em uso.
Chips são conjuntos de transistores, pastilhas do tamanho da unha de um polegar ou menor, que geram, controlam ou amplificam sinais elétricos (um circuito pode ter dezenas de transistores, num telefone celular, a centenas de milhões, num computador Pentium comum). Os transistores feitos - agora às centenas - nos laboratórios da Unicamp tornam as aplicações finais mais flexíveis e interessantes que as gerações anteriores, baseadas apenas no silício. Podem ser utilizados sobretudo em telecomuni-
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cações, especialmente para aplicações via satélite e em telefonia celular. Nessas aplicações de alto desempenho, as mais promissoras, os circuitos de silício têm se mostrado limitados para alguns nichos de aplicações, segundo Swart.
Quase todos os chips ainda são construídos com silício por ser um material abundante e fácil de ser manipulado. Já o arseneto de gálio, explica o pesquisador, é mais quebradiço, pelo menos lO vezes mais caro e mais difícil de se obter do que o silício, devido, em parte, à raridade de seus componentes, o arsênio e o gálio, cuja produção o Brasil dominou recentemente (ver Notícias FAPESP no 40).
A preferência: "Circuitos com o arseneto de gálio apresentam performances eletrônicas incomparáveis para algumas aplicações, como circu-
Swart : reorganizando as camadas dos chips
itos de comunicações em altas freqüências e circuitos integrados optoeletrônicos", justifica Swart. Se fosse possível acompanhar o que ocorre no interior desses materiais, veríamos elétrons, partículas subatômicas de cargas negativa, que conduzem a eletricidade, fluindo com velocidade muito maior no arseneto de gálio do que no silício. O pesquisador da Unicamp explica que é justamente essa propriedade que permite, no caso do arseneto de gálio, operações a freqüências elevadas. Os comprimentos de ondas mais curtos e energéticos tornam os circuitos de arseneto de gálio essenciais para uso na faixa de microondas, uma das bandas dos sistemas de comunicação.
Descendente de holandeses que vieram para o Brasil há 40 anos, em busca de terras agrícolas, o professor Swart adverte: os circuitos integrados
da Unicamp não são inéditos no mercado internacional. Existem produtos comerciais fabricados nos Estados Unidos, Japão e Europa, já utilizando essas tecnologias, com arseneto de gálio. O que sua equipe fez, ele reconhece, "foi um desenvolvimento nacional com algumas inovações em relação aos sistemas do mercado". Encerrada em junho a primeira etapa do projeto, os pesquisadores preparam-se para o passo seguinte, o desenvolvimento de aplicações com base na tecnologia desenvolvida.
Agora é o momento de detalhar um pouco mais o objeto da pesquisa intitulada Tecnologia HBiFET: Processo e Caracterização, que contou com um fi-
nanciamento de US$ 593,9 mil da FAPESP. Os pesquisadores criaram os mecanismos de produção sintetizados nessa sigla, HBiFet ( transistor bipolar de heterojunção integrado com transitar de efeito de campo). Trata-se de uma tecnologia híbrida, que integra num mesmo material os transistores chamados de HBT (Heterojunction Bipolar Transistor, ou transistor bipolar de heterojunção) e os conhecidos como
Estação de pontas de prova: teste de desempenho
Mesfet (Metal-Semiconductor FieldEffect Transistor, ou transistor de efeito de campo metal-semicondutor). Feito o resumo, vamos às explicações.
Como nos sanduíches: Um transistor é um arranjo de normalmente três camadas de material semicondutor, como o silício ou o arseneto de gálio, que conduzem eletricidade e fazem funcionar os aparelhos eletrônicos. Para facilitar, imaginemos um sanduíche, com camadas de queijo. Trocando um tipo de queijo por outro, temos os transistores chamados de homojunção. Foram os primeiros tipos de transistores, feitos apenas com o mesmo material hospedeiro nos dois lados da junção, como é chamado o contato das camadas empilhadas. Pondo uma fatia de presunto no lugar de uma de queijo, temos os transistores do tipo heterojunção, os mais recentes. É o caso do trabalho da Unicamp: uma das camadas de arseneto de gálio é substituída por um material diferente, uma liga de índio, gálio e fósforo ou simplesmente InGaP.
Os HBTs, com uma fatia de material diferente da base, têm outra característica: são bipolares, por terem dois tipos de elementos portadores de carga elétrica - os elétrons (carga negativa) e as lacunas (carga positiva). As camadas de material semicondutor podem ser alteradas para conter um ou outro desses portadores- essa é a dopagem, como se as camadas do
sanduíche recebessem pitadas de sal ou de orégano. O processo de dopagem é necessário em quase todos os dispositivos semicondutores.
Já os FET ou MESFET são chamados de efeito de campo porque são transistores unipolares, ou seja, portadores apenas de cargas positivas ou negativas e a condutividade pode ser alterada por aplicação de um campo elétrico. Podem também ser de heterojunção- uma fatia de presunto no lugar de uma de queijo. Como resultado dessa composição, nos transistores HBT a corrente elétrica flui perpendicularmente às junções, como se estivesse furando o sanduíche de alto a baixo, enquanto nos FET a corrente é lateral, paralela às junções, de modo a acompanhar as camadas.
O engenheiro Luiz Eugênio de Barros Jr., carioca de 32 anos que há dois se instalou em Campinas, após o doutoramento (em HBT) feito na Universidade de Drexel, na Filadélfia, Estados Unidos, explica que a escolha por uma ou por outra tecnologia depende das aplicações. Nenhuma delas pode ser considera obsoleta. Ele próprio, por sinal, como pesquisador do Instituto de Física da Unicamp, participa da equipe do professor Swart buscando melhorias nos HBT.
A síntese: Acontece, lembra ele, que as limitações de uma ou outra tecnologia tornam-se evidentes, sobretudo, na construção de circuitos de alta per-
formance - a exemplo dos amplificadores de telefone celular ou de comunicação por satélite, para os quais se deseja um baixo ruído (som mais puro) e uma potência alta (a onda vai mais longe da antena ). Integrando as duas numa só pastilha, os resultados podem ser otimizados. "O HBT dá a alta potência e o FET, o baixo ruído", observa Barros Jr.
A tecnologia de fabricação dos circuitos do tipo MESFET, lem
bra o professor Swart, tem sido desenvolvida em outros centros de pesquisa no Brasil, entre eles a Universidade de São Paulo, desde os anos 80. A novidade é o HBT, o transistor bipolar de heterojunção, inédito no Brasil até o desenvolvimento dos protótipos na Unicamp. Foi em 1991, durante o pósdoutoramento no Research Triangle Institute, nos Estados Unidos, que Swart ganhou prática no projeto e na fabricação de dispositivos e circuitos integrados baseados na tecnologia HBT e sua co-integração com outros dispositivos, como lasers e fotodetectores. Nesse mesmo ano ele fez os primeiros experimentos que levariam ao HBiFET.
Inédita no mundo, ao que se sabe, a integração de tecnologias exige cuidados imensos na preparação das camadas e na compatibilidade entre os materiais. Nos fornos do laboratório do Instituto de Física, crescem uma sobre as outras as camadas que vão compor as pastilhas dos transistores. Forma-se primeiro o HBT e depois o FET. Se fosse o sanduíche, haveria duas camadas de queijo, uma de presunto, outra de pão, funcionando como isolante, e mais duas de queijo. A primeira camada é constituída por arseneto de gálio com silício como dopante. A segunda, do mesmo material hospedeiro, contém carbono ou berílio como dopante. E a terceira é feita com a liga de índio, gálio e fósforo, com silício como dopante. A camada isolante, que impede que os
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materiais entrem em curto-circuito, também é de arseneto de gálio puro, sem material dopante. Sobre o isolante formam-se duas camadas de arseneto de gálio, uma com silício e outra com silício reforçado, mais condutiva (com mais elétrons). A alquimia agrupou especialistas em ciências de materiais, químicos, físicos, engenheiros e técnicos da Faculdade de Engenharia Elétrica, do Instituto de Física e do
Lâmina de circuitos integrados: usos possíveis em telecomunicações
de pessoas, fazendo funcionar os aparelhos de televisão e de som, fornos microondas, geladeiras, máquinas de lavar, relógios, telefones, fax e portões eletrônicos. Está presente também nos carros, caminhões e aviões, em hospitais e laboratórios de análise clínicas. "Estamos no início de uma nova revolução, a automatização total': afirma Swart. Segundo ele, a eletrônica vai se incorporar ainda
Centro de Componentes Semicondutores (CCS) da Unicamp e do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Houve também inovações no processo, a exemplo da etapa chamada passivação de superfície, o isolamento elétrico da superfície das pastilhas que melhora do desempenho, neste caso decorrente de tratamento químico mais eficiente para os novos circuitos. Esse tratamento químico é realizado em ambiente de plasma (gás rarefeito com partículas carregadas eletricamente) de nitrogênio seguido por deposição química de uma camada de nitreto de silício, também por processo de plasma.
Não se perdem de vista os desafios. Os pesquisadores sabem que é preci-
so ainda controlar, por exemplo, os mecanismos de dissipação de calor, para evitar falhas no circuito, e assegurar o consumo de uma potência baixa, para que a bateria do celular, digamos, não acabe logo.
Mercado amplo: O mercado de eletrônica, para o qual se destinam os novos transistores, é a fatia mais relevante do comércio internacional. Já estimado em mais de US$ 1 trilhão, supera segmentos que já estiveram nessa posição, caso do petróleo e a indústria automobilística. A microeletrônica avança rapidamente porque está embutida em todo lugar: nos sistemas de posicionamento gldbal por satélite ( GPS), nos satélites militares e no cotidiano de milhões
Das válvulas aos computadores
Os físicos norte-americanos John Bareen, Walter H. Brattain e William B. Sockley, que trabalhavam para a companhia Bel! Telephone, depositaram seus nomes na história da tecnologia deste século ao criarem o transistor, em 1947. A idéia que desenvolveram seria fundamental para a revolução cibernética dos anos seguintes. Já nos anos 50 os transistores substituíram os tu-
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bos de vácuo, conhecidos como válvulas, em muitas aplicações, como os rádios, televisores e radares. Os equipamentos modificados tornaram-se menores: os rádios portáteis, uma das primeiras aplicações da nova tecnologia, seduziram multidões em todo o mundo. Sem a miniaturização permitida pelos transistores, a maioria dos equipamentos modernos seria inviável.
mais em tudo - no trabalho, no car-ro e na casas. •
PERFIL:
• ] ACOBUS WILLIBRORDUS SWART, 49 anos, graduado e doutorado em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutoramento na Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, e no Research Triangle Institute, nos Estados Unidos, é professor da Faculdade de Engenharia Elétrica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde 1988. Projeto: Tecnologia HBiFET: Processo e Caracterização Investimento: RS 593,9 mil
O tamanho reduzido dos transistores, o baixo nível de calor que dissipam, a alta confiabilidade, o reduzido consumo de energia e sobretudo o baixo custo de produção por unidade permitiram o desenvolvimento de complexos circuitos integrados como os exigidos para a produção dos computadores pessoais, a partir dos anos 80. A década de 60 marca o início da montagem em série dos transistores numa mesma pastilha (chip), formando circuitos integrados.
TECNOLOGIA
de fios ligados ao atuador. A inovação ocorre por meio de ímãs potentes de neodímio, ferro e boro, que provocam um potente campo magnético e interagem com a corrente elétrica produzida por bobinas que circundam o ambiente do atuador. •
A expansão das incubadoras
Compacto, o Didat faz peças de plástico PVC O número de incubadoras de empresas no Brasil não pára de crescer. Segundo o levantamento "Panorama 99" da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos de Tecnologias Avançadas (Anprotec), elas atingiram a soma de uma centena neste ano, enquanto, em 1998, reuniam 74. Um crescimento rápido, considerando-se que, em 1990, a entidade registrou apenas sete incubadoras. Do total de 1999, 57o/o têm vínculo formal com universidades e centros de pesquisa e 20%, informal. As incubadoras coin base tecnológica representam 72o/o, as tradicionais (como indústrias moveleira e de couro), 22o/o e as mistas, 14o/o. São oitocentas empresas residentes nas
Um torno especial para as escolas
A empresa Sensis, de São Carlos, desenvolveu e lançou no mercado um torno específico para ser utilizado no ensino, em universidades e escolas técnicas. O microtorno Didat substitui o equipamento real, maior e mais caro. É conectável a qualquer computador e tem software de fácil uso. Sua função é executar uma programação com Comando Numérico Computadorizado (CNC), técnica usada para repetir a fabricação de uma peça idêntica ao molde. O Didat usina peças de plástico (PVC), um material mais fácil de usar que o metal, evitando riscos de acidentes com os alunos. O torno é resultado de uma tese de mestrado de um dos sócios da Sensis, o engenheiro Luiz André de Melara de Campos Bicudo. •
Campo magnético move minirrobô
O avanço da informática e da robótica está fazendo crescer a demanda por pequenos motores para uso industrial que apresentem movimento e controle preciso de posição. Um
desses dispositivos é o atuador planar, uma espécie de carrinho que se movimenta em superfícies planas, utilizado em linhas de produção de circuitos integrados, máquinas com controle numérico computadorizado e laboratórios de análises clínicas e químicas. Esse tipo de minirrobô recebeu uma grande inovação tecnológica no Laboratório de Máquinas Elétricas da Escola de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A doutoranda Marília Amaral da Silveira, sob orientação dos professores Ály Ferreira Flores Filho e Altamiro Suzim, elaborou uma tese que demonstra a não necessidade do uso
z
,A.
Superfície acrílica
Robô
Enrolamento da armadura
Núcleo da armadura
Culatra
Ímãs permanentes
Carrinhos
Estágio móvel
incubadoras que empregam 4 mil pessoas e têm um faturamento estimado, para este ano, de R$ 85 milhões. •
Missão escolhe dois projetos
Um projeto que une a tecnologia do pager com o sistema GPS (Global Position System) foi o ganhador do concurso Missão XXI, na categoria "Novos negócios em paging', promovido pela Moto rola doBrasil. Os autores do projeto foram quatro alunos do quinto ano de engenharia elétrica da Escola de Engenharia de São Carlos da USP. Eles tiveram a coordenação do professor Luís Gonçalves Neto e vão receber o prêmio de R$ 25 mil. A universidade também será premiada com o valor deUS$ 100 mil. O projeto minimiza os erros de leitura do GPS utilizando a mesma estrutura das antenas das operadoras de pager, fornecendo coordenadas para melhor situar o sistema. Na categoria "Tecnologia", a equipe vencedora é do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), formada pelos alunos Fábio da Silva e Joseane Dias e pelos professores Mirabel Resende, Inácio Martins e Antonio Migliano. O objetivo dos premiados do ITA, que também receberam R$ 25 mil, foi desenvolver materiais que reduzem a radiação eletromagnética de antenas de telefones celulares e outros aparelhos emissores desse tipo de onda como TVs, fornos de microondas, estações radiobase etc. Esses aparelhos têm as emissões controladas, porém em ambientes fechados pode existir um aumento da concentração eletromagnética. •
PESQUISA FAPESP · NOVEMBRO DE 1999 37
TECNOLOGIA
COOPERAÇÃO
Encontro de competências Organização virtual, em São Carlos, une a USP e nove empresas
U ma forma inédita, no Brasil, de cooperação entre uma ins
tituição acadêmica e pequenas e médias empresas está em desenvolvimento na cidade de São Carlos. É a Organização Virtual de Tecnologia (Virtec) formada pelo Núcleo de Manufatura Avançada (Numa), sediada na Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), junto com mais nove empresas da região. A Virtec é uma reunião de empresários com habilidades e competências que se encontram -pessoalmente ou via computador -para trocar informações tecnológicas, satisfazer uma oportunidade de negócio ou desenvolver uma idéia que resultará em um novo produto. Eles contam com o apoio de pesquisadores que colaboram na elucidação de problemas técnicos, fazem estratégias de marketing e estudam o mercado específico, necessário para cada projeto. Isso acontece como se todos participassem de uma única empresa, sem que exista uma holding ou escritório centralizador. O mentor dessa organização é um dos coordenadores do Numa, Carlos Frederico Bremer, professor da área de engenharia de produção do Departamento de Engenharia Mecânica da USP.
Bremer começou a pensar em empresas que se auto-ajudam ainda no tempo que fazia pós-graduação e morava, em uma república, em São Carlos. Ele e mais sete colegas desenvolveram um polímero que conduz eletricidade e não gera campo eletrostático. Com isso, eles resolveram fabricar o produto em forma de grâ-
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nulos, para servir como matéria-prima na produção de sacos plásticos, por exemplo, que barram interferências eletrônicas quando utilizados em embalagens de placas de computador. Mas os sete jovens pesquisadores
assunto. Na volta, em 1997, integrou o projeto Numa, que faz parte do Programa de Apoio a Núcleos de Excelência (Pronex), do qual participam alunos de pós-graduação de engenharia da USP de São Carlos e tam-
Bremer: na Virtec os empresários desenvo lvem idéias e cooperação
precisavam de uma granuladora que custava US$ 600 mil, inviável naquéle momento. Encontraram, então, a máquina em uma empresa de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. O negócio começou a dar certo e parte dos colegas montou, posteriormente, a Mixcim, uma das atuais nove empresas da Virtec, que produz bandejas de circuitos eletrônicos que dissipam eletricidade e diversos outros produtos para a indústria eletroeletrônica.
"Depois de ler o livro Corporações Virtuais, do americano David Malone, em 1995, eu fui buscar mais informações sobre o assunto na Universidade de Aachen, na Alemanha, onde existia um projeto de formação de empresas virtuais': explica Bremer. Lá, ele fez pós-doutorado, em 1996, e ficou um ano como professor daquela universidade pesquisando o
bém pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep ).
Início de conversa: ''A partir do final de 1997, nós começamos a conversar com algumas empresas da cidade e, em abril de 1998, já tínhamos oito membros. Hoje são nove, sendo que apenas duas indústrias são de médio porte, com mais de 100 funcionários", afirma Bremer. No total, elas reúnem 350 funcionários e um faturamento conjunto deUS$ 30 milhões por ano. "São empresas que sabiam da existência uma da outra, porém não conversavam e não trocavam experiências. Agora, elas cooperam entre si com tecnologia, produtos e processos." As empresas participantes
são a Fultec, Kehl, EDG, Mixcim, Latina, Hece, SF, Tecnomotor e Digimotor. Elas atuam - cada uma com sua competência -nos ramos de mecânica e mecatrônica, materiais cerâmicos, materiais poliméricos, sistemas hidráulicos, softwares aplicados à automação industrial, além de serviços de assistência técnica e de importação e de exportação.
Na Virtec, a virtualidade é exercida sempre que uma oportunidade de negócio aparece para uma empresa ou para o grupo. Aí, uma ou mais empresas unem suas habilidades e desenvolvem o produto ou serviço desejado pelo cliente ou por uma necessidade de mercado. ''Assim é constituída uma empresa virtual, que, mesmo tendo várias empresas na elaboração de um produto, apenas uma aparece para o cliente, como representante do grupo': explica Bremer. ''As empresas podem ser criadas, dissolvidas ou reconfiguradas conforme a necessidade."
Os primeiros produtos desenvolvidos internamente na Virtec foram alguns modelos de marte-los com pontas de poliuretano vegetal biodegradável - com aspecto semelhante à borracha-, produzidas com melaço de cana-de-açúcar e óleo de mamona. Eles servem para montagem de vidros e no acabamento de peças de metal, sem danificar o produto. A empresa Kehl desenvolveu esse material como resultado de sete anos de pesquisa autofinanciada, tendo à frente o proprietário, o químico Eduardo Murgel Ferraz Kehl. Como não podia fazer todo o martelo de borracha, ele encontrou em outra empresa da Virtec, a Fultec, que produz materiais de ligas de aço especial, uma parceira ideal para desenvolver o cabo do martelo, que necessitava ser barato, leve e reciclável. Com o início da produção, houve grande procura e Eduardo Kehl resolveu repassar a fabricação do martelo. "Estamos negociando com uma empresa de São Paulo, que deve comprar a nossa matéria-prima e fabricar o produto."
A Kehl também participou no desenvolvimento de outro projeto nas-
cido no âmbito da organização. A Latina Eletrodomésticos procurava um amortecedor de coluna do motor elétrico para uma nova secadora de roupas. Por meio do intercâmbio interno da Virtec, a Kehl foi convidada a desenvolver o amortecedor feito de borracha comum. Como havia uma falta de conhecimento na absorção de vibração do amortecedor, foi acionado o Departamento de Engenharia Mecânica da Escola de Engenharia de São Carlos, que fez os testes necessários.
Primeiro produto: martelos com pontas de plástico biodegradável
Hoje, o amortecedor já está na secadora. A Kehl também faz parte do Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas, da FAPESP, com o projeto Otimização e Caracterização de Espuma de Poliuretano Biodegradável. Esse material, produzido com substratos de arroz, mamona e cana-de-açúcar, está em fase de testes para a produção de pequenos sacos para transporte de mudas de várias, culturas como citros, café e eucalipto. "Depois do plantio, esse saco se decompõe no solo e serve como um nutriente", afirma Eduardo Kehl. Antes dos testes finais, ele já tem um pedido de 300 milhões de sacos feito por uma empresa do interior de São Paulo. O novo material está patenteado e é inédito em todo o mundo, segundo Eduardo Kehl. Esse tipo de espuma também poderá substituir o EPS, o
popular isopor, nas embalagens de produtos eletrônicos.
Campo de estudo: Além de propiciar um ambiente de cooperação entre as empresas, a Virtec é um campo de estudo que está gerando diversos trabalhos acadêmicos. Foram produzidos cinco artigos em revistas internacionais e quatro apresentações no exterior sobre o projeto. Bremer também participa da Corporation of Small Medi um Enterprise (Cosme) - Associação de Pequenas e Médias Empresas, uma entidade que promove reuniões semestrais entre pesquisadores de universidades dos países onde existem estudos sobre organizações
virtuais, como Suíça, Alemanha, México, Inglaterra e Itália. Em
São Carlos, esse tema foi objeto de vários trabalhos científicos. So
mente no âmbito da FAPESP foram três bolsas de mestrado para os alunos Flávia Valéria Michilini, Jairo Eduardo Moraes Siqueira, Ana Paula Freitas Mundim e uma bolsa de iniciação científica para Christiane Goulart Peres. Eles desenvolveram métodos para a formação de redes virtuais em indústrias regionais e redes de computadores que sirvam às pequenas e médias empresas participantes de uma organização virtual. Outra pesquisadora, Luciane Meneguim Ortega, que tem bolsa de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), estuda a questão cultural da união entre empresários na Virtec. "Em uma organização como esta prevalece, no início, uma insegurança mútua entre os participantes porque, muitas vezes, é necessário trocar informações, segredos industriais e comerciais. Hoje, depois de um ano, eles já expõem suas idéias e cooperam com mais facilidade", explica Luciane. Para melhorar esse cantata, os empresários aprovaram a contratação de um estagiário de quinto ano do curso de engenharia em cada uma das participantes da Virtec. "O objetivo é que ele conheça profundamente a empresa e tente encontrar um ponto de
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ligação com as outras e promover possíveis oportunidades de negócio", explica Bremer.
Outro aspecto que incomodou os participantes da Virtec é a situação jurídica da organização. Como resolver possíveis quebras de sigilo ou como comercializar um produto que foi concebido junto com outra empresa do grupo? Para isso, está sendo criado um contrato inovador no país que vai reunir as características próprias de uma organização virtual. "A dificuldade é criar uma associação que não tenha uma conotação comercial e não figure como um grupo de empresas, porque existe um ingrediente acadêmico no grupo", comenta o advogado Terêncio Augusto Mariottini de Oliveira, aluno de mestrado da área de engenharia de produção, orientado pelo professor Carlos Bremer. "Elaboramos uma minuta do contrato que cria uma associação civil sem fins lucrativos vinculando as empresas participantes e o professor Bremer, como pessoa física (o Numa não é figura jurídica), por meio de cláusulas que ditam as regras, a natureza ética e a própria arbitragem", explica Oliveira. Esse último item determina que os próprios empresários, junto com o professor Bremer, serão os juízes de qualquer conflito que possa surgir dentro do grupo. "Assim, as empresas abrem mão de ingressar na justiça comum em favor da arbitragem própria", afirma Oliveira, que tem esse contrato como trabalho prático de sua dissertação.
A amarração jurídica vai ser importante para dar confiança e segurança no desenvolvimento de novos produtos. O próximo é um projeto de uma cadeira de rodas acionada eletronicamente, ainda não fabricada no Brasil, desenvolvida por quatro empresas da Virtec- Digmotor, Mixcim, Kehl e Latina. "Todos os participantes podem colaborar em algum ponto do projeto", afirma Bremer. É o espírito da cooperação em uma organização virtual que avança em São Carlos e serve como exemplo para outras cidades e regiões do país. •
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TECNOLOGIA
MEDICINA
Longe do coração Pequenos aparelhos monitoram batimentos cardíacos a distância
E stá próximo o dia em que o monitoramento dos batimentos
cardíacos poderá ser acompanhado a distância pelos médicos. Por meio de miniholters, miniaturas de aparelhos portáteis usados atualmente, chamados de holter 24 horas, a própria pessoa poderá iniciar a gravação de seu eletrocardiograma. É só atar o aparelho ao tórax nos dias e horários determinados pelo médico, por períodos de até duas horas. Em seguida, o miniholter poderá ser acoplado a um computador ou a qualquer outro sistema que permita a conexão com a Internet, como os futuros telefones celulares ou TVs a cabo. Os dados vão ser coletados por uma central de uma clínica ou hospital e, com os resultados dos diversos eletrocardiogramas gravados ao longo de meses, os médicos terão um poderoso instrumento de análise.
"É muito importante não só acompanhar o funcionamento do coração de um paciente por 24 horas, como nos
mas analisar a variação entre os dias", afirma o médico Ricardo Geretto Kortas, diretor da KIIM - Kortas Informática Instrumentação Médica, de São Paulo. Ele desenvolveu seis protótipos de miniholters para o projeto Análise Estocástica da Dinâmica Temporal das Arritmias Cardíacas, por Meio da Gravação Intermitente do Eletrocardiograma, por Períodos de Tempo Muito Longos, apoiado pela FAPESP dentro do Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE).
O principal conceito para entender a novidade que o miniholter representa é o do processo estocástico, utilizado por matemáticos e engenheiros para análise de séries tem-
exames tradicionais, Kortas produziu seis protótipos do miniholter
parais. "Quando você coleta alguma variável, como, por exemplo, a medição de uma pressão arterial isolada, ela é uma variável aleatória. O registro e acompanhamento dessa variável aleatória ao longo do tempo passa a ter uma seqüência de variáveis (dados estatísticos), ficando mais fácil detectar uma alteração significativa e problemática", ele explica. Kortas acredita, fundamentado em princípios matemáticos, que o processo estocástico é mais do que multiplicar várias vezes os resultados obtidos em um dia. É analisar o que acontece entre os dias. O médico pode pedir a seu paciente, depois de efetuar o holter tradicional, que leve o miniholter para casa e faça medições em dias e horários diferentes. A variação entre dias pode trazer dados valiosos para análise médica, desde que respeitada toda a metodologia", diz Kortas.
Esforço de atleta: A diferença entre o holter tradicional, de 24 horas, e o miniholter é que o menor tem menos memória e um software de análise mais simples. Como esse aparelho será utilizado também por atletas, ele possui um sensor de passada, que registra a pressão do impacto do pé no chão, fornecendo informações sobre o esforço das articulações da perna, e faz a relação dos passos com os batimentos cardíacos.
O médico destaca, ainda, a importância da divulgação dos conceitos de análise estocástica, por períodos de tempo muito longos, para a população em geral. "Queremos estender a utilização dos nossos equipamentos para Postos de Saúde e esperamos que, aos poucos, as pessoas entendam que não basta uma medição de pressão eventual para ter certeza de que tudo corre bem. Também é muito importante que façam eletrocardiogramas antes de correr maratonas ou outras competições, porque uma arritmia não detectada anteriormente pode ser fatal na hora da prova."
\
Eletrocardiograma para o médico, via co mputador
Para a execução do projeto, a KIIM recebeu da FAPESP R$ 30 mil na primeira fase, e R$ 183 mil, na segunda, que está em andamento. Além do desenvolvimento do miniholter e do software que permite a análise dos dados numa central, Kortas pretende aperfeiçoar o holter tradicional criado por ele e utilizado em exames no Hospital Benéficência Portuguesa, em São Paulo, desde 1995. Também está previsto um aparelho de coleta de pressão arterial semelhante a um relógio de pulso que será desenvolvido com a mesma filosofia - medidas intermitentes por longos períodos de tempo, enviadas a uma central. A análise da pressão arterial constitui uma ampliação do projeto. "A medida da pressão arterial é uma variável aleatória. Não é uma constante absoluta. Tiro sua pressão agora e ela certamente será menor do que depois que você subir uma ladeira ou correr. Com a análise estocástica sofisticada, nós conseguiremos manter a coerência dos dados, coletando fragmentos obtidos com essas medições intermitentes", afirma Kortas.
Novo Centro: A KIIM também fabrica outros equipamentos, como uma esteira onde poderá ser acoplado o miniholter, permitindo o acompanhamento do trabalho cardiovascular de pacientes ou atletas. Kortas acredita que a junção desses dois aparelhos estará disponível inicialmente no Centro de Atividade Física - que deverá ser inaugurado no primeiro semestre do próximo ano -junto ao Hospital Beneficiência Portuguesa. A iniciativa, segundo Kortas, tem o apoio do empresário Antonio Ermírio de Moraes, presidente do hospital, que cedeu um local para a instalação de 20 esteiras, em que tanto os pacien-tes em recuperação quanto o público em geral poderão se exercitar e monitorar o funcionamento de seu coração.
Para Kortas, o investimento em tecnologia, hoje, pode dimi-nuir a dependência de tecnolo
gia estrangeira amanhã. "É possível fazer uma medicina de altíssima qualidade sem tanto gasto. Não é possível que nos acomodemos e admitamos que daqui até o fim de todos os tempos estaremos importando equipamentos americanos. Eu ajudei a criar tecnologia americana nesta área e sei que posso fazer o mesmo no Brasil." •
P ERFIL:
• RICARDO G ERETTO KORTAS formouse pela Faculdade de Medicina da USP, em 197 4, é mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da USP (1979), doutor em Computação e Tecnologia Médica pela Stanford University (1984) e especialista em Medicina Esportiva pela Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva (1997). Projeto: Análise Estocástica da Dinâmica Temporal das Arritmias Cardíacas, por M eio da Gravação Intermitente do Eletrocardiograma, por Períodos de Tempo Muito Longos. Investimento: R$ 213 mil
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HUMANIDADES I
IMIGRANTES
Mexendo no caldeirão de raças Estudo revela que imigrante deu caráter empreendedor a São Paulo
A bsorvida pela investigação do escravismo, a historiografia
brasileira deixou de lado o estudo das imigrações e seu impacto na vida nacional. A perspectiva, agora, é que esse conhecimento seja ampliado com um trabalho que aborda o tema: Imigrantes, Elites e Sociedade em São Paulo. A pesquisa está sendo desenvolvida no Instituto de Estudos Econômicos Sociais e Políticos de São Paulo (Idesp), coordenada por Oswaldo Mário Serra Truzzi e Maria do Rosário Rolfsen Salles. Truzzi é da Universidade Federal de São Carlos e Maria do Rosário do próprio Idesp. O estudo, um projeto temático, tem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), no valor de R$ 92,3 mil.
O historiador Boris Fausto, em Historiografia da Imigração para São Paulo, assegura que os estudos sobre os imigrantes começaram a ganhar des-
taque com os "brazilianistas". O norte-americano Michael Hall, segundo Fausto, abriu esse veio em 1969, quando publicou sua tese de doutorado sobre as origens da imigração em massa para o Brasil, com um capítulo dedicado aos italianos em São Paulo. Para Fausto, "isso se relaciona com o desenvolvimento de estudos sobre etnias nos Estados Unidos e, mais prosaicamente, com um processo generalizado de ocupação de fronteiras':
Mas o próprio Fausto considera José de Souza Martins, discípulo de Florestan Fernandes, "um dos autores que tomaram a questão imigratória como tema central de suas investigações, buscando integrar a problemática da natureza das relações de produção pós-escravistas com as amplas questões abertas pela imigração".
Já a idéia básica do trabalho de Truzzi é fazer interagir pontos específicos, a serem levantados, com o conhecimento amplo do processo de imigração. Foi a imigração que permitiu ao Estado de São Paulo assumir a feição de uma sociedade diferenciada, "comparativa-
mente mais complexa e mais rica em empreendedores", avalia.
Desde o final da década passada o Idesp vem envolvendo-se mais estreitamente com o estudo social de São Paulo no contexto nacional, interpretam Truzzi e Maria do Rosário. Para direcionar o trabalho que agora coordenam, eles decidiram-se por uma análise comparativa com a imigração argentina e norte-americana.
A metodologia se justifica pelo fato de que, entre 1850 e 1950, quando o Brasil recebeu 5 milhões de imigrantes, os Estados Unidos registraram 25 milhões e a Argentina 6 milhões. Além disso, enquanto 75% dos imigrantes brasileiros eram formados por portugueses, espanhóis e italianos, nos Estados Unidos esse contingente foi muito mais diversificado. Na Argentina, com reduzida população negra e onde o escravismo terminou cedo, a imigração européia teve forte impacto na formação da nacio-
Desembarque na estação da Hospedaria de Imigrantes, 1907 Portão principal da Hospedaria, década de 20
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nalidade. No Brasil, último país do Ocidente a abolir a escravidão, a influência européia ficou mais restrita aos Estados do Sul e Sudeste e acabou condicionando a historiografia.
Curiosamente, mesmo as investigações sobre a chegada de africanos ao Brasil acabou prejudicada por uma atitude contemporizadora de Rui Barbosa. Abolicionista, ministro da Fazenda com a proclamação da República, senador e exilado político, Rui Barbosa queimou os dados disponíveis sobre comércio escravo sob o argumento de que representavam uma "página negra da história nacional".
O trabalho coordenado por Truzzi e Maria do Rosário está dividido em oito blocos distintos mas interativos: 1) Etnias em convívio; 2) Deslocados de guerra e a política imigratória brasileira no pós Segunda Guerra Mundial; 3) Assimilação e seus agentes; 4) Imigração e política no interior paulista; 5) Imigração e criminalidade; 6) Buenos Aires e São Paulo como cidades receptoras de imigrantes; 7) Comparação entre política imigratória do Brasil e Argentina nos anos 30 e; 8) Comparação entre imigração no Brasil e Estados Unidos.
Diversidade cultural: Etnias em convívio envolve basicamente a história do bairro do Bom Retiro, em São Paulo, inicialmente uma área de ocupação de italianos. Carlos Lemos, pesquisador da Universidade de São Paulo,
mostra em O Morar em São Paulo no Tempo dos Italianos que as moradias nessa região receberam o nome de cortiço, com "duas fileiras de cômodos separadas por uma estreita passagem central e apresentando no ftmdo duas ou três privadas, ao lado a mesma quantidade de tanques de lavar roupas para uso comunitário".
Habitações insalubres e promíscuas, os cortiços alinharam-se ao longo da estrada de ferro com o Rio de Janeiro, a partir de 1875, quando foi feita essa ligação interurbana.
Aprofundando as investigações sobre essa matriz original, as pesquisas do Idesp vão mostrar a chegada dos judeus ao bairro, especialmente entre os anos 20 e 30 deste século. Esses recém-chegados ocupam terras mais elevadas, livres das inundações que ameaçavam a saúde e vida dos italianos com as cheias do rio Tietê, um rio ainda sinuoso, antes de ser retificado. A chegada dos judeus deslocou os italianos, mas os próprios judeus, a partir dos anos 60, foram substituídos por uma população majoritariamente coreana, interpreta Truzzi. Os coreanos ainda dividem espaço com gregos no Bom Retiro e estabeleceram uma relação de patronato com bolivianos.
O bairro do Bom Retiro, na avaliação de Truzzi, é um laboratório privilegiado para a investigação de relações de convívio e conflitos étnicos. Ne~te caso, a participação dos gregos traz uma contribuição particular. A vinda
desses imigrantes foi mais intensa no pós-guerra e desde o início eles eram vistos com certas reservas, suspeitos de abrigarem muitos anarquistas. Como essas etnias se relacionaram ou como se relacionam ainda hoje são fatos muito pouco conhecidos.
Quanto aos deslocados de guerra, a intenção é investigar as conseqüências da política imigratória brasileira no pós-guerra, particularmente os fluxos relacionados ao acordo internacional assinado pelo Brasil para absorver parte de um contingente estimado em 1,7 milhão de pessoas. Os dados disponíveis, segundo Maria do Rosário, distribuem essa população entre 30% de poloneses, 20% de judeus, 17% de baltas e o restante ucranianos, russos e apátridas, entre outros. Os deslocados de guerra formam uma população que não tem como retornar às suas origens devido a rupturas político-culturais profundas. É o caso dos poloneses, profundamente católicos, que viram a Polônia submeter-se ao comunismo. Neste caso também incluem-se os russos.
Uma particularidade estratégica em relação aos deslocados de guerra é que entre eles havia pessoas altamente qualificadas do ponto de vista intelectual, daí o interesse que despertaram nos países que se dispuseram a recebê-los, cada um com exigências específicas. Os países interessados em alojar os deslocados organizaram missões de reconhecimento. A primeira equi-
A Hospedaria no final do séc. 19, início séc. 20 A Hospedaria de Imigrantes hoje
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pe a chegar aos campos europeus onde eles se encontravam foi a do Brasil, seguida pela canadense, britânica, belga e francesa, além da venezuelana, chilena e holandesa, entre outras.
A Holanda, segundo o historiador Hélio Lobo, citado por Maria do Rosário, preferia operários solteiros de ambos os sexos, enquanto a Inglaterra recebeu famílias. A Austrália buscava operários para a construção civil e agricultores que deveriam viajar sozinhos e só depois se fazerem acompanhar de familiares. O Brasil aceitava famílias inteiras e por isso "foi logo visto com bons olhos': Mas havia restrições e elas estavam ligadas à idade: cônjuges não podiam ter mais que 50 anos. Também havia limitações quanto a doenças consideradas graves, como a tuberculose, ou antecedentes criminais, além de se recusar a viagem de mulheres desacompanhadas.
As relações e as histórias dessas imigrações são pouco conhecidas, avalia Maria do Rosário. Ela acrescenta que esses contingentes ocuparam áreas da cidade como a Zona Leste e o ABC, além da Lapa, Vila Anastácio e Ipojuca, em São Paulo. Muitos dos representantes dessas etnias, particularmente húngaros, eram intelectuais ou portadores de habilidades variadas, que influenciaram a vida da cidade de forma, hoje, quase anônima.
Por tudo isso os pesquisadores vêem a necessidade de se abordar também o tema da imigração e seus agentes. Os japoneses, por exemplo, que tiveram restrições anteriores, como os chineses, começaram a chegar em 1908. Mas essa imigração era tutelada pelo Estado japonês, que acompanhava o processo de adaptação e fornecia recursos para financiar a compra de pequenas porções de terra, entre outras iniciativas.
Os italianos, ao contrário dos japoneses, sem o acompanhamento do Estado, desenvolveram, corno outras etnias, entidades de socorro mútuo para amenizar a sorte dura de grande parte dos que chegavam. Entre os italianos, os intelectuais e os homens enriquecidos transformaram-se em porta-vozes legitimados de aspirações. Já os
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judeus, com preocupação bem localizada na educação, também se valeram de intelectuais e membros com posses financeiras na interlocução entre a comunidade e as autoridades nacionais.
Os judeus, considera Truzzi, "fizeram os saltos mais rápidos entre profissões como comerciantes, numa primeira geração, e ocupações mais nobres, caso de médicos ou advogados, na geração seguinte". Mas toda essa história ainda é insatisfatoriamente conhecida, alertam.
cesso ainda é, em grande parte, muito pouco conhecido, adverte Truzzi.
Para investigar esses acontecimentos foram escolhidas cinco cidades do interior de São Paulo: São Carlos, Araraquara, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Bauru. Bauru, ainda que não tenha tido uma influência como Ribeirão Preto e as outras cidades escolhidas, deve fornecer urna visão contrastante para facilitar a detecção de processos típicos das demais cidades, justificam os pesquisadores.
Visita do presidente Getúlio Vargas à Hospedaria de Imigrantes, 1940
Interior · do Est ado: Até o final dos anos 20, a oligarquia cafeeira é a principal responsável pelo fluxo de imigração, especialmente de italianos, para o interior de São Paulo. A crise econôrnica do final dessa década e início da seguinte e a instalação do Estado Novo, no entanto, modificam inteiramente a política de imigração. Com o Estado Novo, diz Truzzi, "é a União, e não mais os Estados, que assume o controle da imigração':
O interessante a se observar, neste caso, é que, com a primeira eleição do pós-guerra, em 1947, o perfil dos novos representantes é inteiramente diverso do anterior, com grande participação de descendentes, especialmente de italianos. Esse reordenamento representativo está na base do populismo que vai expandir-se com Getúlio Vargas, mas mesmo esse pro-
Criminalidade: Urna das investigações capazes de oferecer dados sobre o processo de integração está nos registras policiais. As investigações nesta área ainda estão começando. Em São Carlos, os estudos partem do ano de 1882, propositadamente de antes da abolição da escravatura. As investigações, neste caso, vão considerar o imigrante tanto na condição de réu quanto vítima. Localizar essas investigações em apenas urna cidade, justifica o pesquisador, "vai permitir que ganhemos em profundidade, ainda que percamos em generalidade".
O que se pode dizer já nesta fase do trabalho, previsto para estar concluído no próximo ano, é que os choques maiores aconteceram entre italianos e negros e a razão disso, entende Truzzi, "estará ligada à disputa por postos de trabalho, após a abolição':
Levando-se em conta o tipo de relacionamento que os proprietários rurais tinham com os escravos negros, sabe-se, por levantamentos ainda rarefeitos, dos atritos que envolveram esses fazendeiros com a mão-de-obra livre européia. A dificuldade, advertem os pesquisadores, "é que boa parte desses desentendimentos não chegavam à Justiça".
A historiadora Maria Thereza Schorer Petrone, da Universidade de São Paulo, mostra em Abolição e Imi-
São Paulo, a partir de 1880. Essas foram as duas cidades que mais receberam imigrantes na América Latina, segundo os pesquisadores. Em 1890, Buenos Aires era quase incomparável a São Paulo, com uma população dez vezes maior, contabiliza Truzzi. Em 1930, quando o Brasil centraliza sua política de imigração e estabelece restrições, Buenos Aires ainda é quatro vezes maior que São Paulo.
Mas, além da população, há um outro dado significativo que já dife-
Oswaldo Truzzi: estudo abrangente da imigração de diversas etnias
gração Italiana em São Paulo exemplos de ocorrências desse tipo, onde o proprietário rural, confinado a um universo restrito, não tem espaço mental para compreender as necessidades dos novos trabalhadores. Originários de uma sociedade mais sofisticada, eles não podem conformar-se com os padrões atribuídos aos trabalhadores escravos, como partilha da família e recusa na oferta de educação. O trabalho de Maria Thereza, como o de Lemos, envolvendo a ocupação do Bom Retiro, integra o segundo volume do livro A Presença Italiana no Brasil, obra subvencionada pela Fundação Giovani Agnelli.
Buenos Aires: Outro segmento que deve trazer interessantes dados comparativos está relacionado às análises entre imigração em Buenos Aires e
rencia essas duas metrópoles latinoJ americanas. A Argentina, diz Truzzi, "nunca financiou a passagem dos imigrantes, ao contrário do que fez oBrasil': Uma das conseqüências dessa política brasileira foi atrair populações mais pobres e, certamente, com menor escolaridade, ainda que tudo isso também deva ser melhor investigado para a obtenção de dados mais consistentes. Para fazer esse trabalho comparativo, os pesquisadores brasileiros terão a contribuição da pesquisadora argentina Alícia Bernasconi, do Centro de Estudios Imigratorios Latinoamericanos (Cernia), em Buenos Aires.
Em 1934, no Estado Novo, oBrasil adota o sistema de cotas para a aceitação de novos imigrantes. Os pesquisadores avaliam que essa decisão pode ter sido influenciada por uma medida semelhante adotada
pelos Estados Unidos nos anos 1920. O percentual aceito vai até 2% do contingente étnico registrado no país até 1934. Com o Estado Novo, a legislação prevê ainda uma relação de dois terços de nacionais para um terço de imigrantes entre os empregados de uma empresa.
Então, a imigração liberal já é uma cena do passado, especialmente para os chineses. As autoridades brasileiras de imigração, relata Truzzi, "enxergavam os chineses como gente perigosa, viciada em ópio, entre outros problemas". Para os negros também não havia nenhuma chance, até porque, nesse momento, já estava estabelecida a decisão de se adotar um "branqueamento da população".
Truzzi se prepara agora para uma pesquisa na Universidade de Chicago, que deverá fornecer os dados capazes de sustentar ao menos uma primeira abordagem na comparação entre as políticas imigratórias desses dois países. A conclusão do trabalho, avaliam os pesquisadores, irá desenhar um cenário novo não só das imigrações, mas também das migrações. A partir dos anos 1930, com as restrições à chegada de estrangeiros, é que se inicia o movimento interno, especialmente as migrações de populações do Nordeste para o Sudeste. Esses movimentos mais uma vez vão reformular o estilo de vida das grandes cidades, especialmente de São Paulo, onde, hoje, o acento italiano divide espaço com o sotaque nordestino. •
PERFIL:
• OSWALDO MÁRIO SERRA TRUZZI, 42 anos, graduou-se em engenharia de produção pela Escola de Engenharia de São Carlos, da USP. Fez mestrado em administração de empresas na Fundação Getúlio Vargas e doutorado em Ciências Sociais na Unicamp. É pesquisador no Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Federal de São Carlos Projeto: Imigrantes, Elites e Sociedade em São Paulo Investimento: R$ 92,3 mil
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HUMANIDADES -'---------
Arte feita de idéias
preponderância da idéia; que tem uma atitude crítica frente às instituições, em especial, os museus; que crê no uso de meios transitórios e materiais precários (como livros de artistas, fotos, vídeos, filmes superoito, papéis, lixo, etc.); e utiliza canais alternativos de circulação, como o correio, no caso da arte postal", define a pesquisadora.
Pesquisa no MAC- USP põe museus em xeque com arte conceituai
Como vemos a arte? Infelizmente, às portas do século 21, com
olhos emprestados de 200 anos atrás, uma miopia que, ainda mais grave, se estende também aos nossos museus, os quais, em vez de seguirem a evolução do tempo e da sociedade, preferem se manter como espaços sacrossantos para a fruição do belo. A distância, é claro. Cansada desse descompasso, a pesquisadora Maria Cristina Freire decidiu que era hora de questionar não o objeto de arte, mas qual o objeto da arte. E começou a cutucar o trabalho dessas instituições em seu próprio trabalho: o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC-USP), ao qual está ligada há 10 anos.
"Preocupava-me como o museu tratava a produção contemporânea, em especial a chamada arte conceituai, que não se enquadra nos padrões da arte tradicional", conta. "Esse grupo de obras, dos anos 70, estava à deriva no MAC, empilhadas nos corredores, o que, para mim, era lugar simbólico, uma espécie de limbo já que, dentro dos limites rígidos dos nossos museus, ainda preso aos velhos conceitos das belas-artes, não havia classificação possível para aquelas criações experimentais que pediam reflexão e não admiração", analisa.
Em 1997, Cristina recebeu um auxílio à pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) no valor de R$ 11,7 mil para desenvolver o projeto A Estética do Processo, Arte Conceituai no Museu de Arte Contemporânea da USP: levantamento e pesquisa e, pouco de-
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pois, ganhou da instituição mais duas bolsas de Capacitação Técnica que garantiram o desdobramento da investigação teórica na prática da documentação, catalogação e restauro das obras que analisava. A professora acaba de lançar o resultado de sua pesquisa em livro, Poéticas do Processo: Arte Conceituai no Museu (Iluminuras, 197 págs.)
No Brasil, os principais nomes associados à arte conceituai são: Regina Silveira, Carlos Zílio, Genilson Soares, Júlio Plaza, entre outros. Mas não havia barreiras para a expressão. "Graças aos esforços de Walter Zanini, criador do MAC, os criadores na-
Cristina Freire: museu como espaço de experimentação
Movimento iniciado nos anos 60, nos EUA, a arte conceituai pretendia pôr em xeque a confortável arte tradicional que pouco exigia do espectador além de seu olhar admirado. Usando materiais inusitados, como lixo ou xerox, os novos criadores queriam que o público visse suas obras como reflexões sobre o mundo contemporâneo, articulando estética às questões sociais e políticas.
Ainda está vago? Bem, os próprios estudiosos têm dificuldades em classificar essa modalidade artística cuja base, no entanto, está explícita em seu nome: conceito, idéia, para além da forma. "Entendo a arte conceituai como aquela em que vigora a
cionais entraram em contato com os meios internacionais e tiveram a possibilidade de experimentar novas técnicas': diz. Eis a chave do estudo de Cristina: retomar essa função primordial dos museus, entendidos como espaço de experimentação e não de sacralização.
Para tanto, Cristina iniciou um levantamento do acervo do MAC-USP, entrevistando os artistas daquele período (a fim de entender o impacto e as intenções do movimento concei tuai) e partindo, em seguida, para a prática, identificando obras, iniciando a sua catalogação e conservação. Os resultados foram surpreendentes. "Descobrimos, por exemplo, fotos
Arte conceituai: Manuel Cas imiro, Projeto Porto de Nice, 1976. Diapositivos em co res. Detalhe
valiosíssimas do polonês Krzysztof Wodiczko, que, hoje, o museu não teria condições econômicas de comprar e de que o próprio artista, quando esteve aqui no ano passado, nem mais se lembrava", conta.
"São testemunhos de tempos em que se pensava o museu como um fórum de debate e não de venda de camisetas e marketing cultural'; critica a professora. E que, ainda assim, num curioso Paulo Bruscky, Arte por Correspondência, 1975
paradoxo, lotavam as exposições. "Embora tivessem por função incomodar o espectador, levantar dúvidas e não distraí-lo, as mostras ficavam cheias", revela. "Apenas os críticos não entendiam a arte conceituai, porque acreditavam que a arte e os museus exigiam uma atitude reverencial", avalia Cristina.
Mas, lembra a pesquisadora, esses desencontros não foram privilégios dos trópicos. No Moma (Museum of Modem Art), de Nova York, os curadores pegaram One and Three Chairs, obra de Joseph Kosuth, que reunia uma cadeira e suas figurações artísticas em fotografia
Augusto de Campos e Julio Plaza, Caixa Preta, 1975
e palavras e mandaram a cadeira para uma ala do museu, a foto para o departamento de fotografia e o verbete de dicionário (as palavras) para a biblioteca. A instituição americana, aliás, foi o paradigma de museu de arte contemporânea importado para
o Brasil. "Em que predomina a pedagogia visual, narrar a história da arte como uma ideologia do progresso, modelo adotado pelo MAM, do Rio, e, mais tarde, pelo MAC", fala.
Beneficiada pelo auxílio da FAPESP, que pagou a telecinagem de 12
filmes de artistas conceituais e permitiu a compra de equipamentos e materiais para o ordenamento do acervo do MAC, Cristina pretende implementar um arquivo de arte contemporânea que abra um espaço definitivo para essas obras na instituição. "Elas são testemunhos fundamentais daquele tempo e dos esforços de um grupo de artistas em partir da práxis ritual da arte para a práxis política", avisa. A conclusão de sua pesquisa é um duro golpe nos museus. "As instituições não acompanham as novas propostas dos criadores há pelo menos duas décadas", assegura. Há olhos que precisam, com urgência, de um oculista para olhar o futuro de frente. •
PERFIL:
• MARIA CRISTINA FREIRE é graduada em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), com mestrado e doutorado em psicologia social na mesma instituição. Fez mestrado em administração de mu-seus e galerias de arte na City
University, de Londres. É pesquisadora e professora do MAC-USP. Projeto: A Estética do Processo, Arte Conceituai no Acervo do Museu de Arte Contemporânea: Levantamento e Pesquisa Investimento: R$ 11,7 mil
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MARCO ANTONIO COELHO
Montagem vitoriosa de um sistema Um estudo valioso da evolução de C&T no país
Finalmente, vem a lume um valioso estudo sobre a trajetória e os desafios da pesquisa científica e tecnológica no Brasil. O livro de
Shozo Motoyama e outros autores é uma chave de ouro para decifrar esse ramo da cultura.
Embora centralizado no caso específico da FAPESP, é um exame global e completo da evolução e dos problemas básicos da Ciência e da Tecnologia em nosso país. Análise de fundamental relevância porque, partindo do quadro mundial, político e científico, enquadra a his-tória dessa agência no panorama nacional e estadual, assim como do papel desempenhado pela universidade e instituições de pesquisa.
Seus autores não ficaram presos às vicissitudes corriqueiras e à petit histoire de uma entidade que se tornou um instrumento básico para a atividade de milhares de pesquisadores. Alicerçados numa farta documentação, apresentam os fatos fundamentais de uma luta ingente para sobrepujar os contratempos. Apontam sem rodeios, mas com isenção, méritos e deméritos dos prin-cipais protagonistas, o que realça a competência e o rigor desses historiadores. E tudo isso é feito numa linguagem escorreita e agradável. Distante, assim, dos padrões usuais que afugentam o leitor da maioria dos textos acadêmicos.
Resgatando a memória de um projeto lançado há mais de meio século, por personalidades eminentes da comunidade científica e da sociedade civil em São Paulo, como um documentário cinematográfico, vão relatando os episódios básicos de um combate para tornar vitoriosa a montagem de uma instituição essencial à C&T.
Relatam as várias "razões" desse êxito. Entre elas, o fato de o projeto da FAPESP ter surgido como uma exigência irresistível da comunidade científica, num tempo em que o prestígio da Ciência estava em seu zênite, no ocaso da Segunda
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Guerra Mundial. E quando em São Paulo já existia uma massa crítica de cientistas e técnicos cerrando fileiras em torno do postulado de que" ... O progresso de uma nação se deve basear. .. em quatro suportes fundamentais: um bom sistema educacional, um bom sistema de financiamento de pesquisas, um bom clima de liberdade ao pesquisador e um bom sistema para prever as necessidades imediatas e futuras para o desenvolvimento global do país" (Warwick Kerr).
Ao mesmo tempo, aprende-se no livro que a perenidade e a estabilidade da FAPESP decorrem também do fato de essa entidade conseguir firmar como uma norma inflexível em sua vida uma indicação de Caio Prado Júnior - o de evitar que interferências políticas a desviem de seus objetivos.
Não sendo possível destacar aqui todas as lições apresentadas nos dois tomos do trabalho, é indispensável
· porém assinalar que elas mostram que o sucesso da agência resulta de haver impregnado, ao longo de várias décadas, em todos os que a ela se ligam, nela trabalham e a ela recorrem,
o que se pode chamar de uma ética da FAPESP. Princípio diretor que a guia em todos os conflitos, dentro e fora da comunidade científica, nos meios universitários e no seu relacionamento com o público externo. Ética que a impulsiona para corrigir suas falhas e insuficiências. O que permite à FAPESP abrir novos caminhos, diante dos novos desafios.
FAPESP, Uma História de Política Científica e Tecnológica, organizado por Shozo Motoyama, que vem com um segundo tomo, Para Uma História da FAPESP - Marcos Documentais, trabalho de Shozo Motoyama, Amélia Império Hamburger e Marilda Nagamini (FAPESP, 1999).
MARCO ANTONIO COELHO é jornalista, editor executivo da revista Estudos Avançados - IEAIUSP
LANÇAM~_NTOS
Análise de Dados Qualitativos: Estratégias Metodológicas para as Ciências da Saúde, Humanas e Sociais
Júlio César Rodrigues Pereira
Versão de um curso ministrado na Faculdade de Saúde Pública da USP, este livro é um auxílio precioso aos pesquisadores envolvidos em
trabalhos cujas conclusões dependem do entendimento de dados qualitativos. O estudo propõe-se a ser um instrumental, de fácil acesso, para conciliar a abordagem métrica, objetiva, desses objetos de estudo com o inevitável reconhecimento de que o mesmo, tem uma natureza subjetiva. (Edusp, Fapesp, 157 págs., R$ 14,00)
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A Justiça em Aristóteles
Eduardo C. B. Bittar
Fruto de um aprofundado estudo sobre o filósofo grego, esta obra trata da relação, no seio do pensamento aristotélico, entre justiça e ética, pensando de que forma é possível se alcançar
a realização da natureza social do homem, pretendida por Aristóteles e, ao mesmo tempo, satisfazer a práxis, a racionalidade da questão em julgamento. Decorrente deste tema, o autor também oferece uma detalhada análise da terminologia aristotélica sobre a justiça, a partir do Livro V de Ética a Nicômaco. (Forense Universitária, Biblioteca Jurídica, 151 págs., R$ 25,00)
Rumo às eslrelas ~,....::..COI*"""--óo do oiv
\ o j :/
~~·:a Rumo às Estrelas: Um Guia Prático para Observação do Céu
Alberto Delerue
Os antigos não tinham problemas em identificar estrelas e constelações e dirigir suas embarcações e suas vidas, sem a necessidade
de instrumentos. Hoje, perdemos essa genial capacidade de observação. Mas não se desespere, pois o livro de Delerue é um manual delicioso sobre como encontrar a sua estrela favorita, mesmo em meio ao caos do universo. De quebra, o guia ainda oferece lendas e histórias sobre esses astros. Para o público leigo e para cientistas sem preconceitos. (Jorge Zahar Editor, 87 págs., R$ 24,00)
REVISTAS
Revista USP Dossiê Psiquiatria e Saúde Mental
Como tratar os doentes mentais, quando soltos dos centros de tratamento? Dez artigos da edição n° 43 (set./out./nov. 1999) tratam do problema da saúde mental no Brasil. Examinam os
conceitos, as fo rmas de tratamento e a legislação, em busca de alternativas às novas diretrizes governamentais, que procuram reduzir os gastos nessa área e dispensar os pacientes dos centros de tratamento. Outros cinco artigos sobre a vida e a obra do poeta romântico italiano Giacomo Leopardi (1789-1837). Editada pela Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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Revista de Saúde Pública
Esta edição (no 5, outubro de 1999) contém artigos sobre a avaliação do uso de medicamentos em idosos, realizada por meio de uma pesquisa com 664 mulheres do Rio de Janeiro, outro
• sobre a epidemiologia do envelhecimento no Nordeste, com base em inquérito domiciliar com 667 idosos em Fortaleza (CE), e um terceiro que analisa o perfil de 1.128 residentes de asilos de Belo Horizonte (MG). Bimestral, a revista é editada pela Faculdade de Saúde Pública da USP
Revista do lncor
A edição no 54 (novembro de 1999) põe em destaque as novas técnicas de tratamento do câncer. Resultantes do aprofundamento das pesquisas em genética e biologia molecular, essas inovações permitem diagnósticos precoces
mais freqüentes e ampliam a sobrevida dos pacientes, embora se reconheça que 25o/o dos casos ainda apresentam causa desconhecida e necessitam de pesquisa básica mais intensa.
PESQUISA FAPESP • OUTUBRO DE 1999 • 49
NEGREIROS
50 · NOVEMBRO DE 1999 • PESQUISA FAPESP