Gêneros Discurso Acadẽmico

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Faculdades Metropolitanas Unidas

Curso de Graduao: Administrao

Disciplina: Leitura, Linguagem e Discurso

Prof. Carlos Luiz Alves

Tpicos para discusso:

Gneros Textuais Mais Usados no Ensino Superior

O ingresso na vida universitria passa a exigir do estudante uma postura mais responsvel e consciente do significado de aprender, pois ele passa assumir um papel ativo sobre a construo do conhecimento.

Uma das tarefas mais difceis consideradas pelos universitrios a utilizao da escrita nas produes textuais de resumos, resenhas, monografias, projetos, dentre outros trabalhos acadmicos nos quais h uma maior exigncia com relao formalidade do trabalho e a utilizao de uma linguagem mais culta, tcnica e cientfica, chamada de linguagem acadmica.

Os princpios bsicos do texto acadmico-cientfico so os mesmos de qualquer tipo de texto: clareza, coerncia, objetividade, ordenao lgica e uso da lngua culta padro.

Como a finalidade do texto cientfico transmitir informaes e conhecimento sobre um assunto, o estudante deve buscar a leitura do assunto em livros tericos e em outras fontes de informao, pois apenas escrevemos sobre aquilo que conhecemos e, em termos de se adquirir conhecimentos, a leitura ainda uma das fontes privilegiadas.

Enfim, escrever uma atividade que requer contnuo exerccio e aprendizagem cotidiana, pela constante leitura e pela pesquisa dos temas a serem discutidos.

O Resumo

Por que resumir um texto? Qual a finalidade?

Resumir o ato de ler, analisar e traar em poucas linhas o que de fato essencial e mais importante para o leitor.

Quando reescrevemos um texto, internalizamos melhor o assunto e no nos esquecemos dele. Afinal, no aprendemos com um simples passar de olhos pelas letras! Dessa forma, podemos at dizer que lemos o texto, mas quanto a assimilar...ser difcil afirmar que sim!

O fato de sintetizar um texto ou captulos longos pode se tornar um timo hbito e auxili-lo muito em todas as disciplinas, pois estar atento s ideias principais e se lembrar dos pontos chaves do contedo.

Expor o texto em um nmero reduzido de linhas no parece ser fcil? No se preocupe, a seguir esto alguns passos para se fazer um bom resumo e se dar bem:

- Faa uma primeira leitura atenciosa do texto, a fim de saber o assunto geral dele;

- Depois, leia o texto por pargrafos, sublinhando as palavras-chaves para serem a base do resumo;

- Logo aps, faa o resumo dos pargrafos, baseando-se nas palavras-chaves j destacadas anteriormente;

- Releia o seu texto medida que for escrevendo para verificar se as ideias esto claras e sequenciais, ou seja, coerentes e coesas.

- Ao final, faa um resumo geral deste primeiro resumo dos pargrafos e verifique se no est faltando nenhuma informao ou sobrando alguma;

- Por fim, analise se os conceitos apresentados esto de acordo com a opinio do autor, porque no cabem no resumo comentrios pessoais.

Em textos acadmicos, o resumo limita-se a um pargrafo, devendo incluir palavras representativas do assunto (palavras-chave) resmindo seu contedo e mostrando as ideias relevantes do texto.

A norma da ABNT recomenda que o resumo tenha at 100 palavras se for composto de notas e comunicaes breves. Se tratar-se de resumo de monografias e artigos, sua extenso dever ser de at 250 palavras. Resumos de relatrios e teses, por outro lado, podem ter at 500 palavras.

Disponvel em: http://www.brasilescola.com/redacao/resumo-texto.htm, acesso em: 12/05/2015.

Exemplos de Resumo

De monografia:

O objetivo do presente trabalho abordar a Histria da Computao considerando a evoluo das tecnologias de fabricao do hardware e a evoluo dos sistemas operacionais at os dias atuais, o que resultou na automao dos processos aritmticos e conduziu tecnologia dos computadores. Esta monografia apresenta as geraes de computadores e como os sistemas operacionais foram adquirindo um papel significativo na evoluo dessas mquinas, procurando dar mais nfase aos computadores IBM 360, Macintosh e IBM PC na rea de hardware, e aos sistemas operacionais Windows, Linux e MacOS.

Com pequenas variaes (com opes em vermelho):

Este documento (ou Esta monografia) apresenta um breve estudo sobre a Histria da Computao. Sero abordados (mostrados) dois temas principais: a evoluo das tecnologias do hardware , bem como a evoluo dos sistemas operacionais at os dias atuais. Sero apresentadas (veremos, descreveremos) aqui as diversas geraes de computadores, e como os sistemas operacionais foram adquirindo um papel significativo na evoluo dessas mquinas. Maior nfase ser dada aos computadores IBM 360, Macintosh e IBM PC na rea de hardware, e aos sistemas operacionais Windows, Linux e MacOS.

Outro resumo para outro tema:

Esta monografia o resultado de um estudo sobre a Casa Digital, tambm denominada de casa inteligente. Veremos inicialmente as caractersticas mais comuns dessas casas, e suas principais funcionalidades. Em seguida, sero discutidos os principais sistemas de controle de casa digital disponveis no mercado, avaliando-se as vantagens de cada sistema apresentado. Por fim, sero discutidas as perspectivas futuras para este tipo de aplicao.

Disponvel em: www.cin.ufpe.br/~tbl2/exemplo-resumo.doc, acesso em: 12/05/2015

O fichamento

O fichamento o ato de registrar os estudos de um livro e/ou um texto. O trabalho de fichamento possibilita ao estudante, alm da facilidade na execuo dos trabalhos acadmicos, a assimilao do conhecimento. De acordo com diversos autores, o fichamento deve conter a seguinte estrutura: cabealho indicando o assunto e a referncia da obra, isto , a autoria, o ttulo, o local de publicao, a editora e o ano da publicao. Existem trs tipos bsicos de fichamentos: o fichamento bibliogrfico, o fichamento de resumo ou contedo e o fichamento de citaes. Cada professor pode seguir um modelo de fichamento, tendo em vista, que no existe um modelo pronto e/ou determinado. Assim sendo, os modelos apresentados so sugestes.

Modelo de fichamento de citaes

Conforme a ABNT (2002a), a transcrio textual chamada de citao direta, ou seja, a reproduo fiel das frases que se pretende usar como citao na redao do trabalho.

Educao da mulher: a perpetuao da injustia (pp. 30 132). Segundo captulo.

TELES, Maria Amlia de Almeida. Breve histria do feminismo no Brasil. So Paulo: brasiliense, 1993.

uma das primeiras feministas do Brasil, Nsia Floresta Augusta, defendeu a abolio da escravatura, ao lado de propostas como educao e a emancipao da mulher e a instaurao da Repblica (p.30)

na justia brasileira, comum os assassinos de mulheres serem absolvidos sob a defesa de honra (p. 132)

a mulher buscou com todas foras sua conquista no mundo totalmente masculino (p.43)


Modelo de fichamento de resumo ou contedo

uma sntese das principais idias contidas na obra. O aluno elabora com suas prprias palavras a interpretao do que foi dito.

Educao da mulher: a perpetuao da injustia (pp. 30 132) segunda captulo.

TELES, Maria Amlia de Almeida. Breve histria do feminismo no Brasil. So Paulo: brasiliense, 1993.

O trabalho da autora baseia-se em anlise de textos e na prpria vivncia nos movimentos feministas, como relato de uma prtica.
A autora divide seu texto em fases histricas compreendidas entre Brasil Colnia (1500 1822), at os anos de 1975 em que foi considerado o Ano Internacional da Mulher.
A autora trabalha ainda assuntos como mulheres da periferia de So Paulo, a luta por creches, violncia, participao em greves, sade e sexualidade.



Modelo de fichamento bibliogrfico

a descrio, com comentrios dos tpicos abordados em uma obra inteira ou parte dela.

TELES, Maria Amlia de Almeida. Breve histria do feminismo no Brasil. So Paulo: brasiliense, 1993.

A obra insere-se no campo da histria e da antropologia social. A autora utiliza-se de fontes secundrias colhidas por meio de livros, revistas e depoimentos. A abordagem descritiva e analtica. Aborda os aspectos histricos da condio feminina no Brasil a partir do ano de 1500. A autora descreve em linhas gerais todo s processo de lutas e conquistas da mulher.

Disponvel em: http://monografias.brasilescola.com/regras-abnt/tipos-trabalhos-academicos-fichamento.htm, acesso em: 12/05/2015

Como elaborar uma resenha

1. Definies
Resenha-resumo:
um texto que se limita a resumir o contedo de um livro, de um captulo, de um filme, de uma pea de teatro ou de um espetculo, sem qualquer crtica ou julgamento de valor. Trata-se de um texto informativo, pois o objetivo principal informar o leitor.

Resenha-crtica:
um texto que, alm de resumir o objeto, faz uma avaliao sobre ele, uma crtica, apontando os aspectos positivos e negativos. Trata-se, portanto, de um texto de informao e de opinio, tambm denominado de recenso crtica.

2. Quem o resenhistaA resenha, por ser em geral um resumo crtico, exige que o resenhista seja algum com conhecimentos na rea, uma vez que avalia a obra, julgando-a criticamente.

3. Objetivo da resenha
O objetivo da resenha divulgar objetos de consumo cultural - livros,filmes peas de teatro, etc. Por isso a resenha um texto de carter efmero, pois "envelhece" rapidamente, muito mais que outros textos de natureza opinativa.

4. Veiculao da resenha
A resenha , em geral, veiculada por jornais e revistas.

5. Extenso da resenhaA extenso do texto-resenha depende do espao que o veculo reserva para esse tipo de texto. Observe-se que, em geral, no se trata de um texto longo, "um resumo" como normalmente feito nos cursos superiores ... Para melhor compreender este item, basta ler resenhas veiculadas por boas revistas.

6. O que deve constar numa resenha
Devem constar: O ttulo

A referncia bibliogrfica da obra

Alguns dados bibliogrficos do autor da obra resenhada

O resumo, ou sntese do contedo

A avaliao crtica

7. O ttulo da resenha
O texto-resenha, como todo texto, tem ttulo, e pode ter subttulo, conforme os exemplos, a seguir:Ttulo da resenha: Astro e vilo
Subttulo: Perfil com toda a loucura de Michael Jackson
Livro: Michael Jackson: uma Bibliografia no Autorizada (Christopher Andersen) - Veja, 4 de outubro, 1995

Ttulo da resenha: Com os olhos abertos
Livro: Ensaio sobre a Cegueira (Jos Saramago) - Veja, 25 de outubro, 1995

Ttulo da resenha: Estadista de mitra
Livro: Joo Paulo II - Bibliografia (Tad Szulc) - Veja, 13 de maro, 1996

8. A referncia bibliogrfica do objeto resenhado
Constam da referncia bibliogrfica:Nome do autor

Ttulo da obra

Nome da editora

Data da publicao

Lugar da publicao

Nmero de pginas

Preo

Obs.: s vezes no consta o lugar da publicao, o nmero de pginas e/ou o preo.

Os dados da referncia bibliogrfica podem constar destacados do texto, num "box" ou caixa.

Exemplo: Ensaio sobre a cegueira, o novo livro do escritor portugus Jos Saramago (Companhia das Letras; 310 pginas; 20 reais), um romance metafrico (...) (Veja, 25 de outubro, 1995).

9. O resumo do objeto resenhado
O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral.

Pode-se resumir agrupando num ou vrios blocos os fatos ou idias do objeto resenhado.

Veja exemplo do resumo feito de "Lngua e liberdade: uma nova concepo da lngua materna e seu ensino" (Celso Luft), na resenha intitulada "Um gramtico contra a gramtica", escrita por Gilberto Scarton.

"Nos 6 pequenos captulos que integram a obra, o gramtico bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla - uma variao sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a lngua materna, as noes falsas de lngua e gramtica, a obsesso gramaticalista, a inutilidade do ensino da teoria gramatical, a viso distorcida de que se ensinar a lngua se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prtica lingstica, a postura prescritiva, purista e alienada - to comum nas "aulas de portugus".

O velho pesquisador apaixonado pelos problemas de lngua, terico de esprito lcido e de larga formao lingstica e professor de longa experincia leva o leitor a discernir com rigor gramtica e comunicao: gramtica natural e gramtica artificial; gramtica tradicional e lingstica;o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramticos, dos lingistas, dos professores; o ensino til, do ensino intil; o essencial, do irrelevante".

Pode-se tambm resumir de acordo com a ordem dos fatos, das partes e dos captulos.

Veja o exemplo da resenha "Receitas para manter o corao em forma" (Zero Hora, 26 de agosto, 1996), sobre o livro "Cozinha do Corao Saudvel", produzido pela LDA Editora, com o apoio da Beal.

Receitas para manter o corao em forma
"Na apresentao, textos curtos definem os diferentes tipos de gordura e suas formas de atuao no organismo. Na introduo os mdicos explicam numa linguagem perfeitamente compreensvel o que preciso fazer (e evitar) para manter o corao saudvel.
As receitas de Cozinha do Corao Saudvel vm distribudas em desjejum e lanches, entradas, saladas e sopas; pratos principais; acompanhamentos; molhos e sobremesas. Bolinhos de aveia e passas, empadinhas de queijo, torta de ricota, sufl de queijo, salpico de frango, sopa fria de cenoura e laranja, risoto com aafro, bolo de batata, alcatra ao molho frio, pur de mandioquinha, torta fria de frango, crepe de laranja e pras ao vinho tinto so algumas das iguarias".

10. Como se inicia uma resenha
Pode-se comear uma resenha citando-se imediatamente a obra a ser resenhada. Veja os exemplos:

"Lngua e liberdade: por uma nova concepo da lngua materna e seu ensino" (L&PM, 1995, 112 pginas), do gramtico Celso Pedro Luft, traz um conjunto de idias que subvertem a ordem estabelecida no ensino da lngua materna, por combater, veementemente, o ensino da gramtica em sala de aula.

Mais um exemplo:

"Michael Jackson: uma Bibliografia No Autorizada (Record: traduo de Alves Calado; 540 pginas, 29,90 reais), que chega s livrarias nesta semana, o melhor perfil de astro mais popular do mundo". (Veja, 4 de outubro, 1995).

Outra maneira bastante freqente de iniciar uma resenha escrever um ou dois pargrafos relacionados com o contedo da obra.

Observe o exemplo da resenha sobre o livro "Histria dos Jovens" (Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt), escrita por Hilrio Franco Jnior (Folha de So Paulo, 12 de julho, 1996).

O que ser jovem

Hilrio Franco JniorH poucas semanas, gerou polmica a deciso do Supremo Tribunal Federal que inocentava um acusado de manter relaes sexuais com uma menor de 12 anos. A argumentao do magistrado, apoiada por parte da opinio pblica, foi que "hoje em dia no h menina de 12 anos, mas mulher de 12 anos".
Outra parcela da sociedade, por sua vez, considerou tal veredito como a aceitao de "novidades imorais de nossa poca". Alguns dias depois, as opinies foram novamente divididas diante da estatstica publicada pela Organizao Mundial do Trabalho, segundo a qual 73 milhes de menores entre 10 e 14 anos de idade trabalham em todo o mundo. Para alguns isso uma violncia, para outros um fato normal em certos quadros scio-econmico-culturais.

Essas e outras discusses muito atuais sobre a populao jovem s podem pretender orientar comportamentos e transformar a legislao se contextualizadas, relativizadas. Enfim, se historicizadas. E para isso a "Histria dos Jovens" - organizada por dois importantes historiadores, o modernista italiano Giovanno Levi, da Universidade de Veneza, e o medievalista francs Jean-Claude Schmitt, da cole des Hautes tudes em Sciences Sociales - traz elementos interessantes.

Observe igualmente o exemplo a seguir - resenha sobre o livro "Cozinha do Corao Saudvel", LDA Editores, 144 pginas (Zero Hora, 23 de agosto, 1996).

Receitas para manter o corao em forma
Entre os que se preocupam com o controle de peso e buscam uma alimentao saudvel so poucos os que ainda associam estes ideais a uma vida de privaes e a uma dieta insossa. Os adeptos da alimentao de baixos teores j sabem que substituies de ingredientes tradicionais por similares light garantem o corte de calorias, acar e gordura com a preservao (em muitos casos total) do sabor. Comprar tudo pronto no supermercado ou em lojas especializadas barbada. A coisa complica na hora de ir para a cozinha e acertar o ponto de uma massa de panqueca,crepe ou bolo sem usar ovo. Ou fazer uma polentinha crocante, bolinhos de arroz e croquetes sem apelar para a frigideira cheia de leo. O livro Cozinha do Corao Saudvel apresenta 110 saborosas solues para esses problemas. Produzido pela LDA Editora com apoio da Becel, Cozinha do Corao saudvel traz receitas compiladas por Solange Patrcio e Marco Rossi, sob orientao e superviso dos cardiologistas Tnia Martinez, pesquisadora e professora da Escola Paulista de Medicina, e Jos Ernesto dos Santos, presidente do departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia e professor da faculdade de Medicina de Ribeiro Preto. Os pratos foram testados por nutricionistas da Cozinha Experimental Van Den Bergh Alimentos.

H, evidentemente, numerosas outras maneiras de se iniciar um texto-resenha. A leitura (inteligente) desse tipo de texto poder aumentar o leque de opes para iniciar uma recenso crtica de maneira criativa e cativante, que leva o leitor a interessar-se pela leitura.

11. A crticaA resenha crtica no deve ser vista ou elaborada mediante um resumo a que se acrescenta, ao final, uma avaliao ou crtica. A postura crtica deve estr presente desde a primeira linha, resultando num texto em que o resumo e a voz crtica do resenhista se interpenetram.

O tom da crtica poder ser moderado, respeitoso, agressivo, etc.

Deve ser lembrado que os resenhistas - como os crticos em geral - tambm se tornam objetos de crticas por parte dos "criticados" (diretores de cinema, escritores, etc.), que revidam os ataques qualificando os "detratores da obra" de "ignorantes" (no compreenderam a obra) e de "impulsionados pela m-f".

12. Exemplos de resenhas
Publicam-se a seguir trs resenhas que podem ilustrar melhor as consideraes feitas ao longo desta apresentao.

Atwood se perde em panfleto feminista

Marilene Felinto
Da Equipe de Articulistas
Margaret Atwood, 56, uma escritora canadense famosa por sua literatura de tom feminista. No Brasil, mais conhecida pelo romance "A mulher Comestvel" (Ed. Globo). J publicou 25 livros entre poesia, prosa e no-fico. "A Noiva Ladra" seu oitavo romance.

O livro comea com uma pgina inteira de agradecimentos, procedimento normal em teses acadmicas, mas no em romances. Lembra tambm aqueles discursos que autores de cinema fazem depois de receber o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre guerra, que consultou para construir o "pano de fundo" de seu texto, at a uma parente, Lenore Atwood, de quem tomou emprestada a (original? significativa?) expresso "meleca cerebral".

Feitos os agradecimentos e dadas as instrues, comeam as quase 500 pginas que poderiam, sem qualquer problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor bocejante.

a histria de trs amigas, Tony, Roz e Charis, cinqentonas que vivem infernizadas pela presena (em "flashback") de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupulosa "femme fatale" que vive roubando os homens das outras.

Vil meio inverossmel - ao contrrio das demais personagens, construdas com certa solidez -, a antogonista Zenia no se sustenta, sua maldade no convence, sua histria no emociona. A narrativa desmorona, portanto, a partir desse defeito central. Zenia funcionaria como superego das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas no conseguiram, reflexo de seus questionamentos internos - eis a leitura mais profunda que se pode fazer desse romance nada surpreendente e muito bvio no seu propsito.

Segundo a prpria Atwood, o propsito era construir, com Zenia, uma personagem mulher "fora-da-lei", porque "h poucas personagens mulheres fora-da-lei". As intervenes do discurso feminista so claras, panfletrias, disfaradas de ironia e humor capengas. A personagem Tony, por exemplo, tem nome de homem ( apelido para Antnia) e professora de histria, especialista em guerras e obcecada por elas, assunto de homens: "Historiadores homens acham que ela est invadindo o territrio deles, e deveria deixar as lanas, flechas, catapultas, fuzis, avies e bombas em paz".

Outras aluses feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam apenas ingnuas: "H s uma coisa que eu gostaria que voc lembrasse. Sabe essa qumica que afeta as mulheres quando esto com TPM? Bem, os homens tm essa qumica o tempo todo". Ou ento, a mensagem rabiscada na parede do banheiro: "Herstory Not History", trocadilho que indicaria o machismo explcito na palavra "Histria", porque em ingls a palavra pode ser desmembrada em duas outras, "his" (dele) e story (estria). A sugesto contida no trocadilho a de que se altere o "his" para "her" (dela).

As histrias individuais de cada personagem so o costumeiro amontoado de fatos cotidianos, almoos, jantares, trabalho, casamento e muita "reflexo feminina" sobre a infncia, o amor, etc. Tudo isso narrado da forma mais achatada possvel, sem maiores sobressaltos, a no ser talvez na descrio do interesse da personagem Tony pelas guerras.

Mesmo a, prevalecem as artificiais inseres de fundo histrico, sem p nem cabea, no meio do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora - em tom cerimonioso na pgina de agradecimentos - se orgulha de ter realizado.

Estadista de mitra

Na melhor bibliografia de Joo Paulo II at agora, o jornalista Tad Szulc d nfase atuao poltica do papa

Ivan ngelo

Como ser visto na Histria esse contraditrio papa Joo Paulo II, o nico no-italiano nos ltimos 456 anos? Um conservador ou um progressista? Bom ou mau pastor do imenso rebanho catlico? Sobre um ponto no h dvida: um hbil articulador da poltica internacional. No resolveu as questes pastorais mais angustiantes da Igreja Catlica em nosso tempo - a perda de fiis, a progressiva falta de sacerdotes, a forma de pr em prtica a opo da igreja pelos pobres -; tornou mais dramticos os conflitos teolgicos com os padres e os fiis por suas posies inflexveis sobre o sacerdcio da mulher, o planejamento familiar, o aborto, o sexo seguro, a doutrina social, especialmente a Teologia da Libertao, mas por outro lado, foi uma das figuras-chave na desarticulao do socialismo no Leste Europeu, nos anos 80, a partir da sua atuao na crise da Polnia. uma voz poderosa contra o racismo, a intolerncia, o consumismo e todas as formas autodestrutivas da cultura moderna. Isso far dele um grande papa?

O livro do jornalista polons Tad Szulc Joo Paulo II - Bibliografia (traduo de Antonio Nogueira Machado, Jamari Frana e Silvia de Souza Costa; Francisco Alves; 472 pginas; 34 reais) toca em todos esses aspectos com profissionalismo e competncia. O autor, um ex-correspondente internacional e redator do The New York Times, viajou com o papa, comeu com ele no Vaticano, entrevistou mais de uma centena de pessoas, levou dois anos para escrever esse catatau em uma mquina manual porttil, datilografando com dois dedos. O livro, bastante atual, acompanha a carreira (no propriamente a vida) do personagem at o fim de janeiro de 1995, ano em que foi publicado. um livro de correspondente internacional, com o vis da poltica internacional. Szulc no literariamente refinado como seus colegas Gay Talese ou Tom Wolfe, usa com freqncia aqueles ganchos e frases de efeito que adornam o estilo jornalstico, porm persegue seu objetivo como um mssil e atinge o alvo.

Em meio poltica, pode-se vislumbrar o homem Karol Wojtyla, teimoso, autoritrio, absolutista de discurso democrtico, algum que acha que tem uma misso e no quer dividi-la, que contra o "moderno" na moral, que prefere perder a transigir, mas gentil, caloroso, fraterno, alegre, franco ... Szulc, entretanto, s faz o esboo, no pinta o retrato. Temos, ento, de aceitar a sua opinio: " difcil no gostar dele".
Opus Dei - O livro comea descrevendo a personalidade de Joo Paulo II, faz um bom resumo da Histria da Polnia e sua opo pelo Ocidente e pela Igreja Catlica Romana (em vez da Ortodoxa Grega, que dominava os vizinhos do Leste), fala da relao mstica de Wojtyla com o sofrimento, descreve sus brilhante carreira intelectual e religiosa, volta sua infncia, aos seus tempos de goleiro no time do ginsio ""um mau goleiro", dir mais tarde um amigo), localiza a sua simpatia pelos judeus, conta que ele decidiu ser padre em meio ao sofrimento pela morte do pai, destaca a complacncia de Pio XII com o nazismo, a ajuda Opus Dei (a quem depois Joo Paulo II daria todo o apoio), demora-se demais nos meandros da poltica do bispo e cardeal Wojtyla, cresce jornalisticamente no captulo sobre a eleio desse primeiro papa polons, mostra como ele reorganizou a Igreja, discute suas posies conservadoras sobre a Teologia da Libertao e as comunidades eclesiais de base, CEBs, na Amrica latina, descreve sua decisiva atuao na poltica do Leste Europeu, a derrocada do comunismo, e termina com sus luta atual contra o demnio ps-comunista. Agora o demnio, o perigo mortal para a humanidade, o capitalismo selvagem e o "imperialismo contraceptivo" dos EUA e da ONU.

Szulc, o escritor-mssil, no se desvia do seu alvo nem quando v um assunto saboroso como a Cria do Vaticano, que diz estar cheia de puxa-sacos e fofoqueiros com computadores, nos quais contabilizam trocas de favores, agrados, faltas e rumores. O sutil jornalista Gay Talese no perderia um prato desses.

Entretanto, Szulc est sempre atento s aes polticas do papa. Nota que Joo Paulo II elevou a Opus Dei prelatura pessoal enquanto expurgou a Companhia de Jesus por seu apoio Teologia da Libertao; ajudou a Opus Dei a se estabelecer na Polnia, beatificou rapidamente seu criador, monsenhor Escriv. Como um militar brasileiro dos anos 60, cassou o direito de ensinar dos padres Kng, Pohier e Curran, silenciou os telogos Schillebeeckx (belga), Boff (brasileiro), Hring (alemo) e Gutirrez (peruano), reduziu o espao pastoral de dom Arns (brasileiro). Em contrapartida, apoiou decididamente o sindicato clandestino polons, a Solidariedade. Fez dobradinha com o general dirigente polons Jaruzelski contra Brejnev, abrindo o primeiro pas socialista, que abriu o resto. O prprio Gorbachev reconhece: "Tudo o que aconteceu no Leste Europeu nesses ltimos anos teria sido impossvel sem a presena deste papa".

Talvez seja assim tambm com relao ao que acontece com as religies crists no nosso continente. Tad Szulc, com cautela, alerta para a penetrao, na Amrica Latina, dos evanglicos e pentecostais, que o prprio Vaticano chama de "seitas arrebatadoras". A participao comunitria e o autogoverno religioso que existia nas CEBs motivavam mais a populao. Talvez seja. Acrescentando-se a isso o lado litrgico dos evanglicos que satisfaz o desejo dos fiis de serem atores no drama mstico, no tanto espectadores, tem-se uma tese.

O perfil desenhado por Szulc o de um poltico profundamente religioso. Um homem que reza sete horas por dia, com os olhos firmemente fechados, devoto de Nossa Senhora de Ftima e do mrtir polons So Estanislau e que acredita no martrio e na dor pessoais para alcanar a graa.

Um gramtico contra a gramtica

Gilberto Scarton
Lngua e Liberdade: por uma nova concepo da lngua materna e seu ensino (L&PM, 1995, 112 pginas) do gramtico Celso Pedro Luft traz um conjunto de idias que subverte a ordem estabelecida no ensino da lngua materna, por combater, veemente, o ensino da gramtica em sala de aula.

Nos 6 pequenos captulos que integram a obra, o gramtico bate, intencionalmente, sempre na mesma tecla - uma variao sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a lngua materna, as noes falsas de lngua e gramtica, a obsesso gramaticalista, inutilidade do ensino da teoria gramatical, a viso distorcida de que se ensinar a lngua se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prtica lingstica, a postura prescritiva, purista e alienada - to comum nas "aulas de portugus".

O velho pesquisador apaixonado pelos problemas da lngua, terico de esprito lcido e de larga formao lingstica e professor de longa experincia leva o leitor a discernir com rigor gramtica e comunicao: gramtica natural e gramtica artificial; gramtica tradicional e lingstica; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos gramticos, dos lingistas, dos professores; o ensino til, do ensino intil; o essencial, do irrelevante.

Essa fundamentao lingstica de que lana mo - traduzida de forma simples com fim de difundir assunto to especializado para o pblico em geral - sustenta a tese do Mestre, e o leitor facilmente se convence de que aprender uma lngua no to complicado como faz ver o ensino gramaticalista tradicional. , antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser humano; um processos espontneo, automtico, natural, inevitvel, como crescer. Consciente desse poder intrnseco, dessa propenso inata pela linguagem, liberto de preconceitos e do artificialismo do ensino definitrio, nomenclaturista e alienante, o aluno poder ter a palavra, para desenvolver seu esprito crtico e para falar por si.

Embora Lngua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft no seja to original quanto parea ser para o grande pblico (pois as mesmas concepes aparecem em muitos tericos ao longo da histria), tem o mrito de reunir, numa mesma obra, convincente fundamentao que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores - vtimas do ensino tradicional - e os professores de portugus - tericos, gramatiqueiros, puristas - tm ao se depararem com uma obra de um autor de gramticas que escreve contra a gramtica na sala de aula.

Disponvel em: http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php, acesso em: 12/05/2015