Gênero Para Scott

4
Ademais, considero importante deixar claro o conceito de gênero considerado no presente trabalho, já que as relações de gênero perpassam todo o estudo. Miriam Grossi (2004), com primazia, faz um apanhado dos principais argumentos utilizados pelas diferentes correntes teóricas dentro da tradição dos estudos de gênero. Trago aqui algumas das principais ideias defendidas por elas, que podem iluminar a opção utilizada no presente trabalho. Segundo a corrente pós-estruturalista, o gênero é constituído pela linguagem, pelo discurso. Joan Scott aparece aqui como uma das principais autoras ao defender que tudo que vivemos é permeado pelo discurso, sendo assim, ele é um instrumento de orientação do mundo. O discurso, para as pós-estruturalistas vai além das palavras, abrangendo os atos, que produzem significados para quem os realiza e para aqueles que os recebem. A corrente estruturalista entende o gênero a partir dos corpos biológicos. Para elas, o gênero implica no reconhecimento das diferenças, e essas diferenças são dadas a partir dos corpos sexuados. Para essa corrente, só existe o feminino em contraposição ao feminino, dessa forma, não há uma abertura para além de dois gêneros. As pós-modernas vão divergir fortemente nesse ponto, ao trazer uma concepção mutável de gênero. Para elas, podem existir uma variedade de gêneros e as diferenciações biológicas podem ser alteradas com as novas tecnologias médicas. Além disso, autoras como Judith Butler, colocam em

description

fichamento genero

Transcript of Gênero Para Scott

Ademais, considero importante deixar claro o conceito de gnero considerado no presente trabalho, j que as relaes de gnero perpassam todo o estudo. Miriam Grossi (2004), com primazia, faz um apanhado dos principais argumentos utilizados pelas diferentes correntes tericas dentro da tradio dos estudos de gnero. Trago aqui algumas das principais ideias defendidas por elas, que podem iluminar a opo utilizada no presente trabalho.Segundo a corrente ps-estruturalista, o gnero constitudo pela linguagem, pelo discurso. Joan Scott aparece aqui como uma das principais autoras ao defender que tudo que vivemos permeado pelo discurso, sendo assim, ele um instrumento de orientao do mundo. O discurso, para as ps-estruturalistas vai alm das palavras, abrangendo os atos, que produzem significados para quem os realiza e para aqueles que os recebem.A corrente estruturalista entende o gnero a partir dos corpos biolgicos. Para elas, o gnero implica no reconhecimento das diferenas, e essas diferenas so dadas a partir dos corpos sexuados. Para essa corrente, s existe o feminino em contraposio ao feminino, dessa forma, no h uma abertura para alm de dois gneros.As ps-modernas vo divergir fortemente nesse ponto, ao trazer uma concepo mutvel de gnero. Para elas, podem existir uma variedade de gneros e as diferenciaes biolgicas podem ser alteradas com as novas tecnologias mdicas. Alm disso, autoras como Judith Butler, colocam em xeque a prpria noo do biolgico como algo inato, ao problematizar que a leitura feita sobre os corpos tambm uma construo advinda da cultura.Apesar de no me aliar a nenhuma delas no geral, e considerar que todas trazem elementos importantes para a compreenso do gnero enquanto uma categoria analtica, utilizo no presente trabalho as ideias da corrente ps-estruturalista, partindo da autora Joan Scott, por considerar que elas melhor de adaptam ao objeto em questo.Joan Scott em seu artigo Gnero: uma categoria til de anlise histrica faz um histrico dos usos do conceito gnero, passando por aquele que ela considera meramente descritivo, que no vai muito alm de se por o olhar nas questes envolvendo homens e mulheres, at chegar naquele que considera fundamental para se discutir as questes histricas, o uso do gnero como uma categoria analtica.Em seu uso descritivo gnero um conceito associado ao estudo das coisas relativas s mulheres. Constitui-se como um novo campo de pesquisas histricas, mas no tem fora analtica suficiente para interrogar e alterar os paradigmas histricos existentes. A reao a esses estudos varia entre o reconhecimento de uma histria das mulheres separada da dos homens, colocando-a em um domnio separado ou um interesse mnimo, mas que ainda no conseguia conectar as experincias das mulheres ao todo histrico.A autora defende que utilizar o conceito de gnero em uma perspectiva analtica um desafio terico. Isso exige ir alm de uma anlise das experincias masculinas e femininas no passado, mas um esforo em ligar a histria do passado s prticas histricas atuais. Para isso preciso se perguntar como o gnero funciona nas relaes sociais humanas e como d sentido organizao e percepo do conhecimento histrico.A definio de gnero para Scott tem como ncleo bsico duas proposies, o gnero como um elemento constitutivo de relaes sociais baseado nas diferenas percebidas entre os sexos, e como uma forma primeira de significar as relaes de poder. Sobre a primeira proposio, a autora ainda traz uma srie de elementos que ajudam a justificar e construir essas relaes baseadas nos fentipos. Os smbolos culturais iro evocar representaes acerca dos sexos e os conceitos normativos, colocando em evidncias as interpretaes desses smbolos, iro funcionar como delimitadores do masculino e feminino. Esses conceitos, segundo a autora, so expressos nas doutrinas religiosas, educativas, cientficas, polticas ou jurdicas e ajudam a reforar uma oposio binria que ir afirmar de forma categrica os sentidos do masculino e feminino. No presente trabalho, nos deparamos com uma narrativa religiosa que tambm trar uma srie de smbolos buscando ratificar os discursos acerca do feminino e masculino. Desde Eva, carregando todo o pecado original em seus ombros, at Maria, exemplo de virtude, temos modelos de mulheres que representam qualidades vistas como prprias e/ou desejveis para o feminino. O grupo aqui estudado e a Teologia Feminista, como veremos mais a frente, buscar desnaturalizar esse discursos, atravs da busca de outros modelos possveis, negando esse binarismo. Algo visto como essencial por Scott. Para a autora, o objetivo da pesquisa histrica deve ser justamente o de acabar com a noo de fixidade, da representao binria dos gneros. E para isso fundamental incluir a noo do poltico nessas anlises, j que as estruturas hierrquicas iro se basear em em compreenses generalizadas da relao pretensamente natural entre o masculino e o feminino.

GROSSI, Miriam Pillar. Masculinidades: uma reviso terica. Antropologia em primeira mo, v. 75, p. 1-37, 2004.