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Gênero Fora da Caixa - Guia Prático para Educadores e Educadoras (2011) v.PtBr

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  • 1. Guia prtico para educadores e educadoras Guia prtico para educadores e educadoras Projeto Juventude, Gnero e Espao Pblico 2011

2. Guia prtico para educadores e educadoras Guia prtico para educadores e educadoras DIRETORIA Denis Mizne Luciana Guimares Melina Risso COORDENADORA DE SISTEMATIZAO, INFORMAO E REFERNCIA Lgia Rechenberg COORDENADORA DE COMUNICAO Daniela Caldeirinha PROJETO JUVENTUDE, GNERO E ESPAO PBLICO Coordenador: Gabriel Di Pierro Assistente: Marlia Ortiz GNERO FORA DA CAIXA Elaborao do Manual: Gabriel Di Pierro e Marlia Ortiz Reviso: Daniela Caldeirinha, Ligia Rechenberg, Mnica Zagallo e Vnia Regina Fontanesi Fotos: Andra Lynch, Gabriel Di Pierro , Marlia Ortiz e Reginaldo Lima Projeto grfico e diagramao: Janaina Siqueira 1 Edio / 2011 Este guia produto do Projeto Juventude, Gnero e Espao Pblico 3 edio, implementado pelo Instituto Sou da Paz e financiado pela EM Power. Rua Luis Murat, 260 Cep: 05436-040 So Paulo - SP Tel: 11 3812.1333 www.soudapaz.org @isoudapaz 3. Ficha conceitual 01: Identidades e modelos de gnero Ficha conceitual 02: Diversidade, sexualidade e violncia Ficha conceitual 03: A violncia masculina Ficha conceitual 04: Violncia contra a mulher Ficha conceitual 05: Direitos da mulher > Sites recomendados > Materiais audiovisuais > Vdeos educativos > Manuais educativos recomendados > Referncias de textos que abordam as temticas do Guia Preparando as atividades: recomendaes para o/a educador/a Atividade 01: Os modelos que eu vejo Atividade 02: Dinmica do concordo e discordo Atividade 03: Mural interativo: tem gente de todo o tipo Atividade 04: Fazendo cena e invertendo os papeis Atividade 05: Homens e mulheres na mdia: questionando referncias Atividade 06: Estnceis pela igualdade de gnero Atividade 07: Machismo e violncia Atividade 08: Mudando o rumo da histria: outras formas de resolver os conflitos Atividade 09: Qual a sua? Elaborando um fanzine pelo respeito diversidade de gnero Atividade 10: Fotonovelas sobre maternidade e paternidade na adolescncia MarcoconceitualAtividadesReferncias 4. Apresentao O Instituto Sou da Paz uma Oscip Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico que, h mais de dez anos, busca contribuir para a efetivao de polticas pblicas de segurana e preveno da violncia pautadas pelos valores da democracia, da justia social e dos direitos humanos. A juventude um dos focos de atuao do Instituto Sou da Paz, uma vez que constitui o pblico mais vulnervel dinmica da violncia. Os projetos desenvolvidos pela rea de Adolescncia e Juventude do Ins- tituto Sou da Paz atuam para promover a ocupao democrtica dos espaos pblicos, estimular a resoluo pacfica dos conflitos e engajar jovens lideranas na transformao de suas comunidades. Entre 2003 e 2005, o Instituto Sou da Paz implementou o projeto Polos da Paz para revitalizar duas praas pblicas da cidade de So Paulo (nos distritos Campo Limpo e Jardim ngela), apostando no potencial transformador da comunidade, especialmente dos jovens. Durante a execuo do projeto, observou-se que o envolvimento de jovens mulheres nas atividades era menor do que o dos homens. Buscando compreender as razes que limitavam a participao feminina nos espaos pblicos e de lazer, o projeto Juventude, Gnero e Espao Pblico foi idealizado e, em 2007, re- alizou-se um diagnstico com jovens homens e mulheres, moradores/as da regio das praas revitalizadas pelo Polos da Paz. A pesquisa demonstrou diversos fatores que afastam as mulheres dos espaos pblicos, tais como preconceito da comunidade em relao s mulheres que ficam na rua, responsabilidades pelas tarefas domsticas e de cuidado com a famlia delegadas s mulheres, ocupao dos espaos (principal- mente quadras) mediada pela fora, entre outros. Aps esse levantamento, o projeto realizou oficinas com jovens dos distritos estudados, empregando diferentes linguagens artsticas para estimular a reflexo sobre as questes de gnero e a ampliao da participao feminina nas comunidades. A partir dos resultados observados, uma segunda edio do projeto Juventude, Gnero e Espao Pblico foi realizada em 2008 para sensibilizar gestores/as pblicos/as e de organizaes no-governamentais que atuassem na promoo de atividades culturais e esportivas para jovens em espaos pblicos. Com o objetivo de estimular a ocupao democrtica e igualitria e contribuir para o aumento da participao feminina nos espaos pblicos, cerca de 40 gestores passaram por um ciclo de formao. A terceira edio do projeto, realizada entre 2009 e 2010, atuou diretamente em duas instituies a EMEF Pe. Jos Pegoraro, no Graja, e o Centro de Juventude Helena Portugal Albuquerque, no Jaan , re- alizando diversas aes em parceria com os/as profissionais e a comunidade do entorno para promover a igualdade de gnero e a convivncia democrtica entre jovens. Dessa forma, os/as profissionais receberam formaes e suporte tcnico para desenvolver prticas pedaggicas que trabalhassem contedos de gnero com os/as alunos/as. Com o apoio do projeto Juventude, Gnero e Espao Pblico 3 edio, foram realizadas, nas duas re- gies, diversas aes em parceria com a comunidade e lideranas locais, como eventos esportivos e culturais para estimular a participao de jovens mulheres, intervenes artsticas de grupos juvenis da zona sul sobre a temtica de gnero e a formao de uma rede com diversas organizaes para melhorar o atendimento mulher vtima de violncia na zona norte. Tambm ocorreram oficinas de comunicao e gnero com jovens homens e mulheres para que desenvolvessem campanhas de comunicao social pela equidade de gnero, utilizando veculos alternativos como jornal mural, fanzine e estncil. Para orientar os/as profissionais das instituies, sensibilizar a comunidade e estimular a reflexo dos/as jovens sobre a temtica de gnero, a equipe do projeto Juventude, Gnero e Espao Pblico pesquisou uma srie de materiais e referncias com o intuito de elaborar atividades que dialogassem com o interesse Guia prtico para educadores e educadoras Guia prtico para educadores e educadoras 5. dos/as jovens. Foi realizado um conjunto de oficinas, buscando promover a convivncia pacfica e a valori- zao da diversidade, contribuir para a reflexo crtica sobre os modelos de feminilidade e masculinidade, estimular a no violncia entre jovens, principalmente do sexo masculino e valorizar a participao feminina. Por meio das oficinas, os/as jovens refletiram sobre a temtica de gnero a partir de suas vivncias. Este Guia para educadores e educadoras foi elaborado com base nos resultados alcanados e na experincia acumulada ao longo da 3 edio do projeto Juventude, Gnero e Espao Pblico. Alm do passo-a-passo de como replicar as oficinas, o Guia conta com textos de apoio sobre os temas relacionados interface gnero e violncia, que so abordados pelas atividades e referncias de sites, vdeos e textos complementares para consulta. Certos de que os valores democrticos so referncias importantes para a construo de formas de convivncia pacfica, no temos dvida de que a perspectiva de gnero deve ser incorporada no trabalho com jovens para encoraj-los a sarem das caixas. Apostamos nas instituies que atendem este pblico, acre- ditando em seu grande potencial para impulsionar transformaes culturais. Assim, esperamos que a utilizao deste Guia contribua para que os/as educadores/as incorporem a perspectiva de gnero no seu trabalho junto aos/as jovens, fomentando a construo de relaes mais equnimes e, desse modo, de uma sociedade mais justa e pacfica. Boa leitura! 6. Como utilizar este material O Guia est organizado em trs partes. Guia prtico para educadores e educadoras Guia prtico para educadores e educadoras MarcoconceitualAtividadesReferncias Nesta seo, h textos breves que introduzem conceitos importan- tes para subsidiar algumas reflexes junto aos/as jovens. Eles esto organizados segundo os seguintes enfoques: identidades e modelos de gnero; diversidade, sexualidade e violncia; a violncia masculi- na; violncia contra a mulher; e direitos da mulher. O ideal que o/a educador/a leia todos os textos conceituais antes de aplicar qualquer uma das oficinas educativas, bem como busque se aprofundar nas questes que geraram dvidas, consultando ou- tras referncias bibliogrficas indicadas ao final deste Guia. Na segunda parte h recomendaes sobre como preparar e realizar as oficinas. Alm do passo-a-passo de como fazer cada atividade, o Guia traz dicas e relatos considerando a experincia da equipe que elaborou este material. A ltima parte traz uma srie de indicaes de sites, vdeos e refe- rncias bibliogrficas sobre os temas deste Guia, que podem tanto auxiliar o/a educador/a a se preparar para as oficinas, quanto servir como materiais complementares para a realizao de novas ativida- des para os/as alunos/as. 7. Marcoconceitual 8. Identidades e modelos de gnero Ficha conceitual 1 O que ser homem e o que ser mulher? Para tentar responder essa questo, talvez seja necessrio considerar que no existe, quando falamos em identidades, uma forma de ser que seja correta ou definitiva. As pessoas esto em constante transformao, variando seus interesses e desejos, reorganizando seus projetos, alterando prticas cotidianas e a forma como se perce- bem e como veem os outros. As identidades coletivas (de grupos, sociedades) e individuais vo sofrendo a influncia das experincias de vida, modelos, regras e discursos que nos atravessam, produzindo novos significados e sentidos para as vrias dimenses das nossas vidas profissio- nal, familiar, amorosa, etc. Durante muito tempo prevaleceu, na maior parte das sociedades, a ideia de que as diferen- as entre homens e mulheres eram naturais e definidas por diferenas dos corpos biolgicos. As mulheres teriam nascido com uma aptido maior para o cuidado com o lar e os filhos, enquanto os homens tinham maior facilidade para trabalhar fora, fazer maior esforo fsico e assumir car- gos de chefia, entre muitas outras concepes que marcaram as distines entre os sexos. Esse mesmo discurso era, notadamente, utilizado para justificar a subordinao feminina e as relaes desiguais entre homens e mulheres. Quando o feminismo ganhou flego, aps a segunda metade do sculo XX, algumas pesqui- sadoras propuseram substituir a noo de diferenas entre sexos por diferenas entre gne- ros, como forma de mostrar que a cultura, por meio de valores, prticas e discursos, influencia a construo do ser homem e ser mulher. O conceito de gnero procura evidenciar que esses mo- delos so aprendidos ao longo da vida e se alteram ao longo do tempo, em diferentes contextos histricos e sociais. , por exemplo, muito diferente ser uma mulher no Brasil ou no Afeganisto, assim como ser uma mulher em 1930 ou em 2010. Os espaos de socializao, sejam institucionais ou informais, oferecem, a todo tempo, mo- delos que passam a ser incorporados desde a infncia. Um exemplo disso so as famlias, quando definem os brinquedos de menino como a bola e a espada e os de menina como a boneca, o fogozinho e jogo de panelas. O mesmo vale para as roupas, os mveis e as cores de um quarto e tantas outras escolhas que evidenciam uma determinada forma de olhar para a criana. Outro espao de convvio importante na nossa formao a escola, onde os professores expressam e afirmam, na sua ao pedaggica, valores, ideias e comportamentos que consideram adequados para cada sexo. medida que nosso universo de relaes vai se ampliando, torna-se importante tambm a influncia dos amigos e de tudo aquilo que vamos percebendo como expectativas sociais e as possibilidades de sermos reconhecidos socialmente. Isso vai dando indicaes de como devemos lidar com as emoes, como devemos nos comportar sexualmente, fazer escolhas profissionais, etc. Quando se pensa a construo de identidades na sociedade moderna, no devemos subes- timar o poder que os padres de consumo e a cultura de massas exercem sobre as pessoas e, de forma muito especial, os/as jovens. Videoclipes, revistas, pginas da web, programas de televiso, propagandas e produtos por elas oferecidos so alguns dos elementos que exercem grande influ- ncia nos comportamentos, na formao dos gostos, padres estticos e outras formas de viver e expressar identidades. Certamente, neles esto presentes modelos de gnero que so mais ou menos valorizados. Um padro em filmes de ao mostrar homens fortes e guerreiros, que usam armas e conquistam belas mulheres, ao mesmo tempo em que revistas trazem sees e mais se- es que ensinam as mulheres a cuidar do corpo para serem mais desejveis e femininas. importante ressaltar que esses padres variam muito de um grupo social para outro. Entre os recortes mais importantes, que produzem diferenas significativas, esto os de classe social, regio geogrfica e tnico-racial. Portanto, algo que pode ser valorizado em determinado contexto pode variar consideravelmente quando deslocamos o olhar para outro espao ou con- junto de pessoas. Um exemplo a expectativa maior nas classes mais ricas de que o jovem adie 9. 1 sua entrada no mercado de trabalho e a gravidez, enquanto nas classes baixas o jovem estimu- lado a trabalhar e a adolescente grvida vista de modo mais natural. Alm disso, possvel se relacionar com os modelos de formas bastante variveis, no apenas aceitando-os como referncias prontas. Somos capazes de perceber as informaes que chegam a ns de forma crtica e, assim, adequar os modelos ao que acreditamos ser melhor para ns e nosso meio. Somos tambm produtores e disseminadores de novas formas de viver a fe- minilidade e a masculinidade. Por conta disso, fundamental que educadores que atuam com jovens os auxiliem para que possam fazer uma leitura crtica a respeito dos modelos de gnero e daquilo que valorizado e legitimado atravs deles. O questionamento de certas barreiras que foram historicamente erguidas inevitvel quan- do pensamos numa sociedade mais democrtica e menos desigual. Por que o homem agressivo, dominador, que por vezes coloca em risco sua sade e integridade fsica ainda to valorizado? Por que tantos homens deixam de ver a paternidade como uma forma importante e saudvel de realizao da sua masculinidade? Por que a mulher valorizada aquela que possui o corpo consi- derado desejvel pelos homens? Qual a possibilidade de ser aceita quando decide viver de forma autnoma, quando expressa interesse de viver sua sexualidade sem ser estigmatizada? Por que ainda se encontram justificativas para legitimar a violncia contra a mulher ou para sustentar o preconceito contra homossexuais? Quando as identidades esto aprisionadas por modelos rgidos e ao mesmo tempo to arraigados, to comuns, que nem sequer nossa adeso a eles percebida, nossa capacidade de escolher e transformar a realidade consideravelmente reduzida. Por outro lado, medida que nos damos conta desses modelos e compreendemos que eles so frutos de construes culturais, passamos a ser capazes de escolher e atuar como produtores, promovendo a trans- formao de valores culturais e tendo maior poder de realizao dos nossos desejos, interesses e projetos pessoais e coletivos. 10. Diversidade, sexualidade e violncia 2 Quando falamos sobre as relaes de gnero, estamos tambm falando sobre diversidade e a forma como as pessoas lidam com ela e resolvem seus conflitos, que so inerentes ao con- vvio entre diferentes. Ao se trabalhar com jovens meninos ou meninas, evidente que aspectos como raa, etnia, classe social e orientao sexual influem na sua qualidade de vida e no modo como se socializam. A diversidade um aspecto fundamental da vida moderna, de uma forma de sociabilidade baseada em valores democrticos, na prtica do dilogo e da tolerncia. Embora no seja verdadeiro dizer que as diferenas produzem desigualdades, certo que todas as formas de desigualdade encontram sua origem nas diferenas entre as pessoas, ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres, heterossexuais e homossexuais, etc. H, portanto, formas de ser que ocupam lugar privilegiado em comparao a outras; existe sempre uma relao de poder operando as relaes sociais. Ao mesmo tempo, h muitas manifestaes de intolern- cia, prticas sistemticas de violncia contra o prximo, que buscam colocar o outro numa situ- ao de inferioridade, em geral para legitimar ou reafirmar uma determinada identidade, posio ou caracterstica de indivduos e grupos. Os homossexuais so um grupo social especialmente afetado pela violncia e prticas discriminatrias. Em escolas pblicas, 87% da comunidade sejam alunos, pais, professores ou servidores tem algum grau de preconceito contra homossexuais, como revelou uma pesquisa realizada em 2009 pela FEA/USP. A homofobia deixa evidente como os modelos de gnero ope- ram nas relaes interpessoais, apresentando de forma bastante clara qual a expectativa social em relao sexualidade dos indivduos, apesar de todas as conquistas dos movimentos pela afirmao da diversidade sexual. A heteronormatividade uma forma de regulao social da sexualidade, que valoriza a rela- o entre pessoas de sexos opostos (heterossexual) em detrimento de todas as outras maneiras de se relacionar sexualmente. A todo tempo e das formas mais variadas, o homem pressionado a reafirmar seu papel como sujeito sexualmente e socialmente ativo, em oposio passividade, que indicaria o lugar do homossexual. Dentro dessa viso, a homossexualidade representa a per- da da honra masculina e, consequentemente, de todo o status a ela associado. Por outro lado, a mulher incitada a ocupar um lugar de inferioridade, em que seu valor est na possibilidade de o seu corpo ser objeto do desejo masculino, como acontece, por exemplo, em muitas das msicas de funk. No incomum que educadores descubram dentro de uma sala de aula ou oficina uma situao de conflito desencadeada porque a menina masculina demais ou o menino con- siderado delicado. Acuados, alguns desses adolescentes e jovens passam a se comportar tambm de forma agressiva, como meio de sobreviver s ofensivas dos colegas ou como ex- presso de um conflito entre as necessidades e interesses pessoais e as exigncias coletivas. E alguns educadores encontraro dificuldade em agir, seja no sentido de prevenir, seja para intervir no problema. Nesse caso, sua tarefa discutir com o grupo a importncia do respeito ao diferente, es- clarecer mitos e preconceitos e desenvolver prticas de explorao e afirmao da diversidade. Ao contrrio do que se pode pensar, a orientao sexual no uma simples escolha da pessoa, mas algo muito mais complexo. Na verdade, o desejo algo sobre o que se tem pouco controle, faz parte de um processo de descoberta e no necessariamente se mantm igual a vida toda. No entanto, h muita cobrana para que a pessoa se posicione o mais cedo possvel, dando demonstraes de ser homem ou mulher de verdade. Quando trabalhamos numa perspectiva de gnero, no existe uma nica e natural forma de ser homem e ser mulher, mas sim as mais variadas possibilidades de feminilidades e masculinidades. Valorizar essas diferenas contribui para que os jovens possam ser mais autnomos e felizes com suas escolhas e tambm mais bem recebidos pelo grupo, inclusive quando escolhem se relacionar sexual e afetivamente com parceiros/as do mesmo sexo. Ficha conceitual 11. 2 Preservar e promover a diversidade um desafio fundamental para que possamos conviver socialmente de uma forma saudvel e pacfica. Processos de globalizao e as novas tecnolo- gias da comunicao e informao proporcionam ao mundo condies inditas para intensificar o contato entre diferentes culturas e entre as pessoas, de um modo geral. Essas novas estruturas sociais, contudo, no oferecem habilidades de convvio, que devem ser cultivadas por meio de aes educativas, dando visibilidade aos que no esto investidos de poder, desconstruindo mo- delos mais aceitos e criando novas formas de viver e fazer a diferena. A tolerncia no deve se apresentar apenas na forma passiva de aceitar o outro, como um peso, mas acima de tudo na ao de conhecer novas pessoas, valorizar outros jeitos e escolhas, circular na cidade e em espaos pblicos e praticar o respeito convivendo de forma amigvel, afir- mando a possibilidade de coexistir com o outro e resolver conflitos por meio do dilogo. Dica Conhea o vdeo da campanha contra a homofobia em Portugal: 12. A violncia masculina 3 A violncia um fenmeno complexo que se manifesta de diversas maneiras e possui v- rios fatores e causas, sendo mais frequente em reas urbanas, principalmente nas periferias das grandes cidades. Nos espaos pblicos, os homens jovens so os maiores autores e tambm as principais vtimas de violncia sobretudo violncia letal , enquanto em espaos privados so as mulheres as mais afetadas, geralmente agredidas por seus parceiros. Segundo o Mapa da violncia 2010 Anatomia dos homicdios no Brasil, dos 47.707 homi- cdios registrados em 2007, 17.475 correspondiam a jovens (15 a 24 anos) e, desses, 16.408 (ou 93,9%) eram do sexo masculino, sendo 11.905 negros. Esta mesma pesquisa mostrou que, entre 1997 e 2007, 41.532 mulheres foram vtimas de homicdios no Brasil, na enorme maioria das ve- zes praticados por seus parceiros ntimos. Os homens tambm representavam 93,4% (442.225) do total de presos (473.626), em 2009, segundo dados do Sistema Integrado de Informaes Pe- nitencirias (Infopen) do Ministrio da Justia. Como podemos compreender a participao de homens em situaes violentas? Obser- vando essas informaes, seramos levados a acreditar que os homens so naturalmente mais agressivos do que as mulheres. Contudo, isso no verdade. Quase a totalidade dos pesquisado- res sobre violncia afirma que os aspectos biolgicos tm pouca ou nenhuma influncia sobre o comportamento masculino violento. As razes deste problema so culturais e sociais. As caractersticas que atribumos aos homens foram construdas socialmente ao longo da histria, estando, portanto, em constante transformao. Os homens que conhecemos fo- ram socializados, educados, de acordo com uma determinada viso de mundo, por isso muitas vezes reproduzem comportamentos, posturas e discursos que refletem, em boa medida, essa aprendizagem. Aquilo que hoje chamamos de postura agressiva est associada a formas de viver a masculinidade que foram legitimadas e tambm exigidas socialmente pelo ncleo fa- miliar, pela escola, pelos colegas ou outras pessoas e grupos sociais com os quais esse homem convive e conviveu. Em nossa sociedade, o status associado masculinidade ainda est vinculado a uma viso que nos acostumamos a chamar de machista. Ela atribui ao homem um papel de liderana e do- mnio, supervalorizando algumas caractersticas, tais como fora, coragem, capacidade de prover a casa e, no campo da sexualidade, a conquista de mulheres, grande apetite e potncia sexual e a heterossexualidade como condio fundamental. Por outro lado, caractersticas de cuidado e a expresso de emoes so consideradas femininas e, portanto, distantes do modelo de mascu- linidade mais aceito. Isso fica evidente tanto no cotidiano do seu bairro ou do trabalho quanto na imagem que vinculada pela mdia, nos programas de TV ou nas fotos de revistas. Sabendo que toda pessoa, especialmente na sua juventude, busca sentir-se valorizada em seu meio social e, muitas vezes, no economiza maneiras de alcanar essa situao de visibilidade, podemos com- preender melhor como essa forma de masculinidade construda e reafirmada diariamente. Essa noo de honra masculina e a necessidade de dar, a todo tempo, demonstraes de coragem aproximam o homem de situaes de risco e o levam resoluo violenta de conflitos. Mas o modelo do homem violento no , certamente, a nica expresso de masculinidade. As transformaes nos padres de gnero que vm ocorrendo ao longo dos ltimos anos so evi- dentes. Existem cada vez mais homens assumindo atividades domsticas, maiores responsabili- dades em relao aos filhos e aes de cuidado em geral, em reas profissionais tradicionalmen- te vinculadas s mulheres. Ao mesmo tempo, encontramos jovens que desenvolvem atividades educativas e culturais que questionam os modelos ditos machistas, que assumem comporta- mentos e estticas diferentes, buscando outras formas de se sentir valorizados que no por meio da ostentao de armas, carros, motos, dinheiro, mulheres ou atributos fsicos. Uma importante estratgia para valorizar formas alternativas de masculinidade a Cam- panha do Lao Branco. Criada h 20 anos no Canad, essa campanha tem sido implementada em vrios pases, com o objetivo de engajar homens pelo fim da violncia contra a mulher. Ficha conceitual 13. 3 Tendo por smbolo o lao branco, a campanha estimula a organizao masculina em torno do problema por meio das mais variadas aes (distribuio de material informativo, atos, oficinas eventos, entre outros) e da sua articulao em redes locais, nacionais e internacionais e com o movimento feminista. Nos ltimos anos, tem tambm crescido bastante o nmero de estudos e iniciativas que buscam compreender melhor os modelos de masculinidade e intervir no sentido de contribuir para que os homens vivam de forma mais saudvel, assumindo papis de cuidador e reduzindo as desigualdades de gnero e as situaes de violncia. Espera-se, assim, que cada vez mais existam jovens homens resolvendo seus conflitos por meio do dilogo e no da fora, aceitando e valorizando a diversidade e multiplicando novas formas de masculinidades, livres das imposies Dica Conhea o site da campanha do Lao Branco: Conhea a campanha Reacciona Ecuador: El machismo es violencia 14. Violncia contra a mulher 4 O emprego da violncia contra as mulheres um fenmeno de grande amplitude, a consi- derar o nmero de vtimas no Brasil e no mundo. Dados da Organizao Mundial de Sade (OMS, 2005) indicam que uma em cada trs mulheres na Amrica Latina j sofreu algum tipo de vio- lncia. No Brasil, h estimativas de que 2 milhes de mulheres so vitimadas a cada ano, o que resultaria em um caso a cada 15 segundos (FUNDAO PERSEU ABRAMO, 2004). As situaes de violncia contra a mulher so bastante variadas, mas sabemos que em cer- ca de 70% dos casos o agressor o seu parceiro. A maioria delas acontece dentro de casa e, muitas vezes, o relacionamento violento mantido por vrios anos sem que a mulher consiga por fim ao ciclo de agresses, que costuma ter momentos de maior uso da violncia combinados com pedi- dos de desculpas e instantes de calmaria. A incidncia desse tipo de violncia relativamente semelhante nas diferentes classes sociais; o que pode mudar so as condies que as vtimas encontram para lidar com o problema, como, por exemplo, o acesso a servios de sade. Falar de violncia contra a mulher como um problema de gnero significa entend-la a par- tir de um contexto de desigualdade de poder que se expressa tambm na relao de um casal. A violncia evidencia a necessidade de controle e dominao do homem e a forma como os compor- tamentos masculinos violentos so legitimados socialmente. Quando se discutem situaes de violncia, frequentemente so levantadas inmeras razes e questionamentos que sustentam a ideia de que a mulher contribuiu para ser vitimizada, que provocou a agresso, que o seu parceiro apenas perdeu a cabea ou que o problema uma questo privada e, portanto, deve ser resol- vido pelo prprio casal. Embora seja mais comum falar da violncia fsica e sexual, h outras formas menos visveis ou conhecidas de violncia. A violncia psicolgica ou moral aquela em que a mulher sistema- ticamente desqualificada, coagida, proibida de ter uma vida social independente, resultando em sofrimento psquico, convvio social limitado e abalo da autoestima, entre outros constrangimen- tos. H a violncia patrimonial, quando a mulher privada de seus pertences, como documentos, objetos pessoais e outros bens dos quais dependa sua subsistncia. Por fim, existe a violncia institucional, caracterizada pelo mau servio e atendimento realizado por profissionais de rgos pblicos, como a omisso ou atitudes desrespeitosas em relao vtima. Uma das maiores conquistas do movimento feminista no Brasil foi a criao, em 1985, das delegacias da mulher, rgos especializados no atendimento de vtimas, que constituram a primeira poltica pblica de grande impacto para o enfrentamento desse problema. Em 2006, por sua vez, foi promulgada a Lei Maria da Penha, outro marco das polticas para mulheres. A Lei estabelece medidas de preveno, assistncia e proteo das mulheres e seus filhos, indica o tratamento de agressores e evita que estes recebam penas excessivamente brandas, como pagamento de cestas bsicas, entre outros avanos significativos. O enfrentamento dessa modalidade de violncia significa a garantia do acesso das mulhe- res aos seus direitos e, fundamentalmente, a promoo de autonomia, a ampliao do repertrio cultural e de referncias do que ser mulher e o fortalecimento da vida profissional e dos vnculos sociais e comunitrios. Quanto mais cedo a jovem mulher comear a ser estimulada a conhecer e procurar novos modelos, mais fortalecida poder estar nas suas relaes afetivas e em relao ao seu projeto de vida. Uma importante mobilizao nessa temtica a Campanha 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violncia Contra a Mulher, realizada em todo o mundo desde 1991, buscando promover os direi- tos humanos e eliminar a violncia contra as mulheres, tendo como referncia o Dia Internacional da No-Violncia Contra as Mulheres, em 25 de novembro. No Brasil, h uma campanha nacional a partir de 20 de novembro (Dia Nacional da Conscincia Negra), at 10 de dezembro (Declarao Universal dos Direitos Humanos). Datas como os 16 Dias e o Dia Internacional da Mulher podem ser momentos interessantes para abrir um dilogo a respeito deste tipo de violncia, informar as mulheres sobre seus direitos e estimular a denncia. Ficha conceitual 15. 4 Dica A seguir, apresentam-se links interessantes sobre violncia contra a mulher: 16. Direitos da mulher 5 Em 1948, em resposta aos agravos causados por duas grandes guerras, os pases que fa- ziam parte das Naes Unidas aprovaram a Declarao Universal dos Direitos Humanos, grande marco mundial na defesa da cidadania. Esse documento estabelece condies mnimas de vida que deveriam, a partir de ento, ser garantidas pelos governos para todas as pessoas, sem distin- es. Seu carter de universalidade, to importante na poca, no esconde, contudo, a existncia de grandes desigualdades na sociedade, que fragilizam determinadas populaes e grupos so- ciais, criando barreiras para a garantia de direitos. A evoluo histrica dos Direitos Humanos deu origem a uma nova fase ou gerao , quando se consolidaram os conceitos de direitos sociais e difusos, promovidos a partir da in- terveno dos governos, especialmente por meio de polticas pblicas. So direitos que visam proteger e fortalecer aqueles que se encontram em condies menos favorveis, criando normas e aes especficas dirigidas a esses grupos, alm de indicar novas temticas que ganham impor- tncia, como, por exemplo, o direito a cultura, lazer e esporte. No lugar de uma noo abstrata de homem, passam a ser discutidas as necessidades de negros, ndios, homossexuais, deficientes, idosos e tambm de mulheres. nesse contexto, a partir das ltimas dcadas do sculo XX, que a preocupao com a cidadania feminina emerge como questo e tambm como foco de lutas dos movimentos feministas. No Brasil e no mundo, o debate sobre as condies de vida das mulheres e a presso social desses movimentos impulsionaram algumas conquistas importantes, seja no campo da sade sexual e reprodutiva, seja nos mbitos do trabalho, da participao poltica e da violncia contra a mulher, entre tantos outros. A Constituio de 1988 acolhe muitas das demandas femininas, ex- pressas na Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes, que culminou na incorporao ao texto constitucional de pontos fundamentais, como o artigo (5, I), que assegura a igualdade entre homens e mulheres em geral, ou o artigo (7, XX), que prev a proteo da mulher no mercado de trabalho, mediante incentivos especficos. Algumas distores histricas vm sendo mudadas aos poucos: apenas em 1932 as mulheres conquistaram o direito ao voto no Brasil, mais de cem anos depois que ele fora institudo para os homens brasileiros, embora com limitaes de idade e condio econmica; mais recentemente, o Novo Cdigo Civil, aprovado em 2002, alterou o artigo que per- mitia ao marido a anulao do casamento caso comprovasse que sua esposa no era virgem, dispositivo que legitimava a hierarquia de gnero e o lugar de inferioridade da mulher no casamento civil; promulgada em 2006, a Lei Maria da Penha se consolida como um grande avano em relao eliminao da violncia contra as mulheres (ver mais no texto Violncia Con- tra a Mulher); em 2009 houve uma alterao na lei do Cdigo Penal, que caracterizava o estupro como um crime contra os costumes e no contra a pessoa , passando a ser considerado crime contra a dignidade sexual. Contudo, as mudanas na legislao e as polticas governamentais so ainda insuficientes para eliminar as desigualdades que foram construdas ao longo de tantos anos. Ainda h impor- tantes lacunas e deficincias, sobretudo na implementao das polticas. As mulheres brasileiras, especialmente as negras e moradoras de periferias, que cada vez mais assumem a posio de chefia do lar e enfrentam a tripla jornada, trabalhando, cuidando da casa e dos filhos, ainda so- frem com as marcantes desigualdades no seu dia-a-dia, seja no difcil acesso a espaos pblicos e atividades culturais, de lazer ou esportivas, seja pelas diferenas salariais. Alguns dados eviden- ciam claramente a posio desfavorvel de mulheres no nosso pas e no mundo: Ficha conceitual 17. 5 as brasileiras recebem, em mdia, cerca de 34% menos do que os homens para desem- penhar uma mesma funo (IBGE); no mercado de trabalho, as mulheres ocupam apenas 13% dos postos de chefia (Orga- nizao Internacional do Trabalho OIT); enquanto 51,7% dos homens dizem cuidar dos afazeres domsticos, 90,6% das mulheres afirmam faz-lo (PNAD, 2002); apenas 9% dos representantes no Congresso brasileiro so mulheres (2010), apesar de constiturem cerca de 51% da populao; mulheres chefiam 33% das famlias brasileiras (IPEA, 2007); entre as pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza no mundo, 70% so mulhe- res (ONU); 33% das mulheres brasileiras disseram ter sido vtimas de algum tipo de violncia (FUN- DAO PERSEU ABRAMO, 2001); o que significa uma mulher vtima de violncia a cada 15 segundos. Com isso, continua sendo necessria a mobilizao de mulheres para a defesa e efetivao de seus direitos. Nesse sentido, o movimento feminista que no apenas se transformou ao longo do tempo, mas tambm se diversificou, passando a ser composto de muitas abordagens, demandas e questes distintas e at divergentes entre si ainda referncia fundamental e um lugar a ser ocupado e fortalecido pelas mulheres. importante tambm considerar que muitos dos espaos e polticas voltados participao feminina costumam ser direcionados a um perfil de mulheres mais velhas, sendo pouco adequados aos interesses e necessidades das jovens. As iniciativas informais de grupos juvenis, tanto no campo da cultura e da educao como no do esporte, tm sido uma forma interessante de trazer mais jovens mulheres para a discusso de seus direitos, sobretudo nas periferias, onde as mulheres sofrem mais as consequncias de uma sociedade desigual. Incentivar a participao feminina na esfera pblica, promovendo en- contros de jovens, intervindo e ocupando a cidade, contribui para construir novos projetos de vida, maior esperana na ao coletiva e quebrar velhos estigmas, abrindo caminho para mudanas. Dica Para saber mais sobre este tema, leia o documento elaborado pela Unifem, O Pro- gresso das Mulheres no Brasil (Braslia, 2006), disponvel em: Acesse tambm: 18. Atividades 19. As atividades a seguir foram aplicadas pela equipe do Projeto Juventude, Gnero e Espao Pblico (3 edio), desenvolvido entre 2009 e 2010 em duas instituies que atendem adoles- centes e jovens da cidade de So Paulo: a EMEF Pe. Jos Pegoraro, no Graja; e o Centro de Juven- tude Helena Portugal Albuquerque, no Jaan. Ao longo do projeto procuramos experimentar formas diferentes de promover uma reflexo crtica acerca dos modelos de gnero e suas implicaes para o fenmeno da violncia, procu- rando descobrir como jovens expressariam seus pontos de vista sobre essas questes. Consi- derando a riqueza do processo e a produo de materiais to interessantes por jovens homens e mulheres que participaram deste trabalho, organizamos o Guia com a sistematizao de dez atividades. Escolhemos as oficinas educativas que, aps serem aplicadas, mais estimularam os/ as jovens a refletir, debater e produzir materiais sobre as questes de gnero. Um aprendizado importante para a equipe do Instituto Sou da Paz foi perceber que para o/a jovem se sentir estimulado/a a participar das oficinas, importante que elas no se limitem a discusses e reflexes tericas, mas que proponham o desenvolvimento de produtos, como jornal mural, mural interativo, jornal comunitrio, blog, histria em quadrinhos, vdeo, teatro, es- tncil, etc. Isso valoriza o saber do/a aluno/a, promove canais de expresso e gera no grupo um movimento de corresponsabilizao, uma vez que a no participao de um/a pode implicar o atraso ou no execuo do produto coletivo. Por isso, as oficinas aqui propostas, em sua maio- ria, sugerem a criao de produtos de comunicao. Escolhemos produtos que no exigem co- nhecimento tcnico por parte dos/as educadores/as e podem ser feitos com materiais fceis de encontrar e com baixo custo. As oficinas no necessariamente precisam ser aplicadas na sequncia sugerida aqui, po- dendo acontecer de forma independente. importante que o/a educador/a fique atento/a e te- nha sensibilidade para identificar quais questes relacionadas a gnero precisam ser trabalhadas no grupo e escolha as atividades mais adequadas aos interesses dos/as jovens. Algumas ativida- des podem ser fragmentadas em mais de um encontro, de acordo com o tempo disponvel. As oficinas sugeridas podem ser aplicadas com jovens de 15 a 29 anos, mas mais interes- sante que o grupo concentre pessoas com idades prximas por exemplo, um grupo de 15 a 18, outro de 20 a 24 e assim por diante , j que a profundidade das discusses sobre gnero varia bastante dependendo do momento de vida dos/as jovens. Por fim, esperamos que as atividades faam sentido para o/a educador/a e contribuam para que o/a jovem desenvolva um pensamento crtico acerca das questes de gnero em nossa sociedade. Atividades 20. As atividades sugeridas podem ser realizadas por qualquer educador/a, seja em escolas e projetos sociais, seja em organizaes no governamentais. Como a questo de gnero comple- xa e exige certa reflexo e sensibilidade por parte dos educadores, preciso que o/a educador/a tenha alguma afinidade/interesse pelo tema e experincia de trabalho com jovens. Alm de se sentir confortvel com o contedo abordado nas oficinas, o/a educador/a deve se preocupar com sua postura em sala de aula, pois isso tambm contribui para um ambiente mais participativo e de respeito entre as pessoas. importante o/a profissional estar atento para garantir espao para que as jovens mulheres tenham voz, estimular a diversidade, no tolerar falas preconceituosas e machistas, estabelecer regras de convivncia e no reforar esteretipos de gnero. O importante manter uma postura condizente com os contedos que esto sendo trabalhados. No adianta, por exemplo, o/a educador/a debater com os/as alunos/as sobre res- peito diversidade e fazer brincadeiras ou colocaes preconceituosas. Recomendamos que as atividades sejam realizadas em grupos mistos (homens e mulhe- res), com a participao de 10 a 20 jovens. O/a facilitador/a pode ser homem ou mulher, o que conta a afinidade com o tema e comprometimento. Para receber os/as alunos/as, reserve um espao agradvel que os/as deixe confort- veis. Caso o grupo ainda no se conhea, comece os primeiros encontros realizando algumas dinmicas de apresentao e integrao. Reserve tempo para fazer uma pausa nas atividades, estabelecendo um momento de descontrao. Nesse caso, se possvel, oferea um lanche para os/as jovens. Finalmente, importante preparar as oficinas com antecedncia, separando os materiais necessrios e lendo os textos de apoio. Se possvel, vale a pena registrar os encontros, pontuando as discusses que foram mais proveitosas, os temas mais candentes para o grupo, os pontos de vistas dos/das jovens e as atividades nas quais o grupo se envolveu mais. Isso ajuda a planejar as prximas atividades e ter um registro de todo o processo educativo. Preparando as atividades: algumas recomendaes 21. Objetivo Permitir que os/as jovens reflitam sobre modelos valorizados pela sociedade. Tempo estimado 2 horas (1 hora de construo do modelo e 1 hora de debate) Materiais Papel pardo Revistas e jornais diversificados Cola Tesoura Caneta piloto Descrio da atividade Esta atividade consiste na montagem de modelos ideais de homem e mulher valoriza- dos pela sociedade segundo a opinio dos/as alunos/as. Para realizar a atividade, voc deve dividir a sala em quatro grupos e distribuir alguns exemplares de revistas e jornais de diferentes tipos: resumo semanal; publicaes diri- gidas ao pblico masculino; com notcias sobre celebridades; voltadas ao pblico negro; praticantes de atividade fsica, etc., para que os grupos tenham uma maior variedade de imagens disponveis, e possam escolher o modelo que querem construir. Pea para que cada grupo desenhe num papel pardo um corpo masculino ou femi- nino a partir da silhueta de um/a jovem. Em seguida, pea para que o grupo pense na questo: em sua opinio, qual o modelo de homem/mulher mais valorizado pela sociedade? Os /as alunos/as devem recortar imagens e construir um personagem colando estas imagens. Dois grupos devem procurar imagens para fazer a construo do modelo fe- minino e os outros dois do modelo masculino, procurando responder s questes: Como a aparncia dele/dela? Quais bens materiais ele/ela possui? O que ele/ela sente? Fechando a discusso Nossa experincia com a aplicao desta atividade mostrou que os modelos so bem parecidos com os personagens de sucesso retratados nas novelas, ou seja, completa- mente diferentes da realidade dos/das jovens. Equipamentos eletrnicos como celular e ipod, corpos malhados, carros e viagens em lugares paradisacos apareceram em quase todos os modelos construdos pelos/as jovens. Por isso, antes de finalizar a atividade, importante conversar com os/as jovens o quanto esses modelos influenciam a sua vida. A seguir, apresentamos algumas questes que podem ajudar a nortear a discusso. Atividade Os modelos que eu vejo 1 22. 1 Quais problemas voc identifica nesses modelos? Quais as vantagens? O que voc mais valoriza em si mesmo? possvel ser diferente? Como para voc ter que estar de acordo com um padro? Por que as pessoas tm dificuldade de aceitar outras formas de ser homem e ser mulher? O que podemos fazer para mudar isso? Voc consegue identificar preconceitos presentes na ideia de ser homem/mulher propagada pela mdia? E por sua famlia e amigos? Qual a importncia de respeitar a diversidade (de jeitos, de corpos, de gostos, etc.)? Imagens selecionadas pelos/as alunos/as do Centro de Juventude Helena Portugal Albuquerque, no Jaan. 23. Objetivo Identificar as percepes dos/as jovens sobre as relaes de gnero no cotidiano e, a partir disso, debater com o grupo sobre as questes e pontos de vista mais polmicos. Tempo estimado 50 minutos Materiais Cartes de papel Flip-chart ou lousa Prepare a atividade Essa atividade deve ser realizada em um espao amplo, para que o grupo possa se movimentar. Caso ela ocorra dentro da sala de aula, importante que as car- teiras sejam afastadas, deixando o espao central livre. Prepare-se para ser o mediador dos debates: consulte antes os textos de apoio deste Guia. Descrio da atividade Partindo da apresentao de algumas afirmaes que traduzem percepes do senso comum sobre relaes de gnero, os/as jovens devem se posicionar a favor ou contra o que foi dito. Alm de promover o debate, esta atividade permite que o/a educador/a identifique quais preconceitos e percepes sexistas precisam ser trabalhados com os/as jovens. A partir desse diagnstico, outras atividades sobre a temtica de gnero podem (e devem) ser desenvolvidas para promover relaes mais democrticas entre o grupo. Socialize com o grupo de jovens as afirmaes apresentadas nos quadros a seguir e pea para que todos/as se levantem e se posicionem em relao ao que foi dito: aqueles que so a favor, no lado direito da sala; os contra, no lado esquerdo; e os que esto em cima do muro, no meio da sala. Pea para os/as participantes escolherem sua posio mentalmente antes de se movi- mentarem na sala. Nossa experincia mostrou que os/as jovens costumam se posicionar a partir da escolha dos/as amigos/as, o que pode atrapalhar a dinmica da atividade. Atividade Dinmica do concordo e discordo 2 24. 2 Fechando a discusso Depois disso, procure identificar quais foram as duas afirmaes que geraram maior polmica na sala. Organize um rpido debate sobre essas duas questes (um as- sunto por vez) entre o lado que concorda e o que discorda, solicitando que defendam suas posies. Outra dinmica interessante o debate invertido, no qual o lado que concorda com a frase deve defender a posio contrria e vice-versa. Isso contribui para que os jo- vens entrem em conflito com suas prprias convices e desenvolvam a capacidade de entender o outro lado de uma argumentao. A) Hoje em dia os homens esto menos machistas do que antigamente. E) Os pais continuam sendo mais controladores com as filhas do que com os filhos. C) O que o jovem de hoje mais valoriza numa garota o fato de ela ser gostosa. G) Existem coisas s para meninos, como futebol, e coi- sas s para meninas, como cozinhar e danar bal. I) Os homens so, por natu- reza, mais agressivos do que as mulheres. B) Hoje em dia os garotos es- to mais carinhosos do que antigamente. F) natural falar mal das meninas que gostam de sair de casa e de conversar com os garotos na rua. D) As garotas de hoje dese- jam encontrar um homem para casar e tm medo de fi- car sozinhas. H) Hoje em dia as mulheres jovens se valorizam menos, saindo ou ficando com vrios meninos. J) Tomar conta dos filhos e da casa responsabilidade da mulher. Dica Provoque o debate despertando nos/nas jovens a reflexo sobre algumas convic- es que geralmente aparecem, tais como: hoje em dia as mulheres esto muito f- ceis e depois ainda querem que a gente as respeite; homem j nasce mais violento mesmo; no existe machismo porque as mulheres j possuem os mesmos direitos do que os homens; etc. 25. Objetivo Contribuir para a ampliao do repertrio dos/as jovens sobre as masculinidades e femi- nilidades possveis, bem como estimular o respeito diversidade no espao educativo. Tempo estimado 3 horas (divididas em etapas/encontros diferentes) Materiais Imagens diversas de homens e mulheres em sites da Internet, fotografias, jornais, revistas, materiais educativos, etc. Cola Tesoura Quadro de cortia ou cartolina Folha de sulfite Caneta piloto Fita dupla face Descrio da atividade A ideia desta atividade construir, junto com os/as alunos/as, um painel com imagens de homens e mulheres realizando atividades que rompam com o modelo comum de mas- culinidade e feminilidade, com o qual outros/as alunos/as e funcionrios/as possam inte- ragir. Posteriormente, deve-se realizar uma discusso sobre os resultados da atividade. Sua realizao consiste em trs etapas: 1) escolha das imagens junto com os/as alu- nos/as; 2) montagem do painel e exposio interativa; 3) discusso sobre os resulta- dos da atividade. 1 ETAPA: escolha das imagens junto com os/as alunos/as Durao: 1 hora (j com a pesquisa das imagens previamente realizada pelo/a educador/a). No suporte escolhido para realizar a atividade cartolina ou quadro de cortia devem ser expostas as imagens de homens e mulheres realizando atividades inusitadas (aquelas que rompem com a concepo tradicional dos papis de homens e mulheres). Para isso, procure imagens que retratem situaes pouco comuns, como, por exemplo: homem cozi- nhando para uma mulher; homem lavando a calada; mulher presidente; homem cuidando de beb; mulher policial; mulher dirigindo um caminho; homem tocando piano; homem usando saia; mulher DJ; mulher grafitando; homem limpando o cho. Apresente estas imagens aos/as alunos/as e incentive que escolham pelo menos oito imagens mais interessantes ou polmicas. Voc pode ajudar o grupo com as seguintes perguntas: O que chamou ateno nessa imagem? Voc costuma ver homens ou mulheres fazendo isso? Por que voc acha que incomum essa situao? Atividade Mural interativo: tem gente de todo o tipo 3 26. 3 2 ETAPA: montagem do mural e exposio interativa Durao: 1 hora (considerando impresso e colagem das fitas dupla face). Organize as imagens selecionadas no painel de cartolina ou cortia e pense com os/as alunos/as frases que estimulem os outros a refletir sobre o que est sendo exposto, tais como: O que voc acha sobre o que v? Voc j viu essa cena? Tem gente de todo tipo. Junto com os/as alunos/as, copie cada um dos adjetivos abaixo (de acordo com o nmero de ima- gens selecionadas e de pessoas na instituio), recorte e fixe um pedao de fita dupla face atrs de cada um deles. BONITO BONITA INTELIGENTE INTELIGENTE INTERESSANTE INTERESSANTE ELEGANTE ELEGANTE OUSADO OUSADA CORAJOSO CORAJOSA FORTE FORTE ENGRAADO ENGRAADA ESPERTO ESPERTA ESTILOSO ESTILOSA COMPETENTE COMPETENTE DIFERENTE DIFERENTE MODERNO MODERNA GRACIOSO GRACIOSA CUIDADOSO CUIDADOSA IMPORTANTE IMPORTANTE CARINHOSO CARINHOSA GIL GIL ATIVO ATIVA LEGAL LEGAL TALENTOSO TALENTOSA Coloque os adjetivos em um saquinho, que dever ser fixa- do no painel com as imagens e com a seguinte instruo: No saquinho abaixo tem um monto de palavras. Escolha uma palavra que tenha a ver com o que voc v em cada imagem. Depois, destaque a fita adesiva e cole a palavra ao lado do retrato. Depois da montagem do mu- ral, decida com os/as alunos/ as um local com bastante cir- culao de pessoas para fixar o painel por pelo menos uma semana. Estimule que os/as alunos/as faam a divulga- o para outros/as alunos/ as e profissionais da institui- o para que todos tenham a oportunidade de interagir com o mural. 27. Exemplo de mural produzido pelo projeto Juventude, Gnero e Espao Pblico na EMEF Padre Jos Pegoraro, no Graja. 3 3 ETAPA: discusso sobre os resultados da atividade Durao: 1 hora Recolha o painel e promova uma discusso com o grupo sobre os adjetivos que foram escolhidos e como eles esto associados s imagens. Nossa experincia com a aplicao desta atividade mostrou que, mesmo pro- pondo adjetivos que representem caractersticas positivas, alguns jovens ou profissionais das instituies os utilizam de forma pejorativa quando so as- sociados s imagens por exemplo, ao lado da imagem de um homem de saia estilosa e ousada. A discusso com os/as alunos/as deve tratar dos preconceitos que existem em relao a estilos, comportamentos e atitudes das pessoas. Por que um ho- mem bailarino taxado de bonita? Um homem pode gostar de andar de skate e costurar ao mesmo tempo? Uma mulher pode trabalhar como piloto, mano- brista ou mecnica? Como ela vista pela sociedade? H situaes na escola/ instituio em que os meninos so considerados viados, ou as meninas so consideradas mulher-macho? A partir dessa discusso, voc pode desenvolver outras atividades que traba- lhem o respeito diversidade e a negao de prticas discriminatrias (sugerimos a atividade n9 deste material). 28. 3 Prepare-se para esta atividade Coloque em xeque os padres de ser homem e mulher junto aos os/as alunos/as. Para aquecer essa discusso, sugerimos a leitura da entrevista realizada com o cartunista Laerte, pela Folha de S, Paulo, em 03 de novembro de 2010 (http://www1.folha.uol.com. br/ilustrada/825136-cartunista-laerte-diz-que-sempre-teve-vontade-de-se-vestir-de- mulher.shtml), bem como a leitura das histrias em quadrinho da personagem Muriel do cartunista, disponveis no blog . 29. Objetivo Permitir que os/as jovens questionem os papis desempenhados por homens e mulhe- res em algumas situaes, a partir da representao de esquetes teatrais com os papis invertidos, isto , garotos representando o gnero feminino e garotas representando o gnero masculino. Tempo estimado 1 hora Materiais Folhas de sulfite (fichas) Caneta Descrio da atividade Nesta atividade, os/as jovens devem elaborar e apresentar cenas a partir de situaes que fazem parte do dia-a-dia e/ou que so exploradas pela publicidade. No entanto, os/ as alunos/as devero representar os papis do gnero oposto ao seu. Para realizar a atividade, divida a turma em grupos mistos (homens e mulheres) com pelo menos quatro integrantes em cada. Em seguida, copie as situaes descritas abaixo (uma situao por ficha de papel) e distribua uma ficha para cada grupo. 1) Namorado ciumento pega a namorada conversando com outro cara. 2) Homem e mulher se conhecem no metr e se apaixonam primeira vista. 3) Homem est assistindo futebol e, ao mesmo tempo, sua esposa quer ver o ltimo captulo da novela. 4) Propaganda na qual um cara rejeitado, ao usar um desodo- rante, assediado por vrias mulheres. 5) Comercial de carro no qual o homem que dirige um auto- mvel desperta a ateno de vrias mulheres. 6) Propaganda de TV na qual a mulher passa o batom e vai a uma balada com as amigas. Na balada, a mulher que est utilizando o batom o centro das atenes entre os homens presentes. Atividade Fazendo cena e invertendo os papis 4 30. Pea para que cada grupo crie uma cena sobre a situao descrita, lembrando que os homens do grupo devem representar os papis femininos e as mulheres os masculinos. D tempo (entre 15 e 20 minutos) para que os grupos elaborem as cenas e, em seguida, pea para que cada grupo repre- sente a situao. Feche a atividade com uma breve roda de conversa sobre como foi fazer as cenas, procurando trazer algumas questes. Questes para discusso Essas situaes acontecem com frequncia? Voc conhece algum que j passou por alguma dessas situaes? E com voc, j aconteceu? O que voc acha do papel que o homem desempenha nessas situaes? Por qu? O que voc acha do papel que a mulher desempenha nessas situaes? Por qu? Na vida real, diante de uma situao semelhante, voc reagiria da mesma forma como representou? O que foi diferente para voc ao interpretar o sexo oposto? Para os jovens homens: como voc se sentiu no papel da mulher? Para as jovens mulheres: como voc se sentiu no papel do homem? Para os jovens homens: vocs acham que as mulheres representaram voc bem? Para as jovens mulheres: vocs acham que foram bem representadas pelos homens? 4 Comentrio Quando foi realizada pela equipe do Sou da Paz, esta atividade fez parte de uma gin- cana com diversas outras brincadeiras que valiam pontos. Isso propiciou que os jo- vens realmente se envolvessem na atividade, representando um homem ou mulher sem o pudor de pagar mico. Na gincana uma banca composta por trs jurados (os professores) deu notas de acordo com a representao do grupo e a dedicao na construo da cena (dilogos, figurino, etc.). Se achar que o grupo est precisando ser motivado para se soltar mais, voc pode simular uma gincana, ou usar outras estratgias para o grupo se envolver nessa atividade. 31. Objetivo Despertar uma reflexo crtica sobre a influncia que a mdia exerce sobre ns, principal- mente os modelos de gnero fortemente propagados pelos veculos de comunicao. Tempo estimado 2 horas Materiais Computador com acesso Internet/datashow Papel sulfite Caneta Descrio da atividade Para realizar essa atividade, voc precisar utilizar um computador com acesso Internet, j que sugerimos a exibio de videoclipes e comerciais disponveis no Youtube (www. youtube.com) antes de realizar uma discusso com os/as jovens. Estes materiais foram escolhidos porque tm uma linguagem prxima do universo juvenil e alguns deles trazem exemplos positivos, mostrando aos jovens que possvel ser e fazer diferente. Dividimos a atividade em trs blocos: msicas e videoclipes; propagandas publicitrias; e campanhas sociais. Para cada bloco, h recomendaes e sugestes de questes para discusso sobre os contedos veiculados. interessante trabalhar esses trs blocos, pois, alm de linguagens diferentes, eles permitem fazer vrias discusses e ampliar o olhar dos jovens. Separe entre 30 e 40 minutos para cada bloco, considerando a exibio dos materiais e a discusso com o grupo. BLOCO 1) Msicas e videoclipes: discutindo os poderes associados ao gnero A) My humps, do Black Eyed Peas Disponvel em Letra (traduo): B) Firma milionria, do MC Max Disponvel em . Letra: . C) Unpretty, da TLC Disponvel em . Letra (traduo): . D) Stupid girls ,da Pink Disponvel em . Letra (traduo): . Atividade Homens e mulheres na mdia: questionando referncias 5 32. 5 E) Junto e misturado, do MV Bill e Kamilla Disponvel em . Letra: . F) Quase LLara Disponvel em: . Essas msicas e videoclipes so referncias de modelos de masculinidade e feminilidade atuais e que fazem parte do universo juvenil. Elas podem estimular a reflexo crtica dos/ as jovens sobre esses modelos propagados. Faa-os reparar em como as duas primeiras msicas retratam a mulher como se fosse um objeto de desejo do homem, como se fosse um bem de consumo. A mulher se relaciona com o homem medida que ele propicia-lhe bens materiais que do status e contribuem para deix-la de acordo com o padro da mulher sensual. Por sua vez, as ltimas quatro msicas colocam em xeque esses padres, uma vez que as mulheres retratadas questionam os modelos femininos que as cercam. Questes para discusso Sobre o que falam as msicas? Tente resgatar os elementos mais fortes de cada uma delas. O que as msicas tm em comum? Quais so as caractersticas das mulheres retratadas nas msicas? Quais so as caractersticas dos homens retratados nas msicas? De que forma homens e mulheres se relacionam nas msicas? Segundo as msicas, o que um homem precisa ter para ser valorizado? E a mulher? Voc acha que as pessoas so influenciadas por esses videoclipes? De que forma? Voc se identifica com isso? Por qu? Essas pessoas so referncias para voc? Por qu? possvel ser e agir de outra forma, de um jeito diferente do retratado nas msicas? Como? Boa ideia! Voc pode sugerir aos jovens que faam uma stira/pardia das msicas ou clipes, mudando as letras e/ou cenas. Assim, eles podem fazer uma leitura crtica das msi- cas originais e transmitir isso na produo. Veja este exemplo de stira da msica My humps, feita pela Alanis Morissette: 33. 5BLOCO 2) Propagandas: tenha e seja A) Comerciais de bebidas B) Comercial de carro C) Comercial de marca esportiva D) Comercial de hidratante E) Campanha publicitria sobre produo dos padres de beleza As propagandas associam bens a um estilo de ser que traz visibilidade e poder a quem os adquire. Uma forma de problematizar o contedo veiculado com os/as jovens ques- tionar o modelo de beleza dos comerciais. Afinal, as mulheres retratadas atendem a um mesmo padro de beleza (mulher branca, alta, corpo violo, etc.), enquanto os homens precisam passar a imagem de que so viris, poderosos e populares. Os produtos buscam reforar esses modelos de comportamento, valorizando-os e estimulando que os consu- midores tambm correspondam a este padro. O ltimo comercial indicado mostra como este modelo de beleza que valorizamos fabricado. Questes para nortear a discusso Qual a associao que os comerciais fazem do produto vendido com a figura da mulher? E do homem? Qual o tipo de relao estabelecida entre o homem e a mulher nesses comer- ciais? O que voc acha que as pessoas esto buscando ao comprarem esses produtos? O que d poder mulher nos comerciais? E ao homem? Qual o padro de beleza valorizado pelas propagandas? Segundo os comerciais, qual o tipo de mulher ideal? E o de homem ideal? Voc consegue identificar um jeito de ser homem e um jeito de ser mulher pa- recido nos comerciais (mesmo padro em mais de um comercial)? 34. 5 BLOCO 3) Campanhas sociais: utilizando a mdia para promover a equi- dade de gnero A) Campanha de Portugal contra a homofobia B) Animao pela equidade de gnero C) Campanha de Portugal contra o namoro violento D) Campanha pela no violncia contra a mulher E) Campanha do Lao Branco F) Campanha D Licena Eu Sou Pai! Essas campanhas sociais mostram como a mdia tem potencial no s para disseminar valores e modelos negativos, mas tambm para ser uma poderosa ferramenta de divulga- o de outros valores, estimulando a equidade de gnero. Boa ideia! A partir desses exemplos de campanhas sociais, estimule que os jovens produzam fanzines, vdeos, jornal mural, podcasts, programas de rdio, etc. So formas divertidas e leves de trabalhar o tema, ao mesmo tempo em que ajudam os jovens a enxergarem os veculos de comunicao no apenas como viles, mas tambm como aliados na promoo da equidade de gnero, ao veicularem mensagens positivas. 35. Objetivo Estimular a expresso de ideias e mensagens por jovens a respeito das relaes de g- nero por meio da produo de estnceis (tcnica de grafite utilizando moldes). Tempo estimado 1 hora para discusso e 2 horas para confeco de moldes e aplicao da tcnica Materiais Cartolina e/ou papel carto Rgua Estilete Fita adesiva Sprays e/ou tintas de cores variadas Rolinho de espuma para aplicao da tinta Papelo Lpis Borracha Descrio da atividade Essa atividade combina uma sensibilizao do grupo sobre a temtica de gnero e a con- feco de estnceis para veicular mensagens sobre as questes de gnero. O estncil um suporte de comunicao que desperta grande interesse nos/as jovens, podendo ser feito para divulgar logotipos, mensagens e desenhos de acordo com a criatividade do grupo. A) SENSIBILIZAO DO GRUPO PARA A TEMTICA DE GNERO Este momento da atividade importante para que os/as jovens consigam criar as mensagens e desenhos que sero divulgados por meio do estncil. A sensibilizao pode ser realizada de diversas formas, a partir de msicas, textos, notcias, vdeos, campanhas, etc. Voc tambm pode utilizar alguma outra atividade sugerida nas de- mais fichas deste material. A seguir sugerimos uma dinmica de sensibilizao. > Ser homem e mulher, uma construo ExibaofilmeAcordaRaimundo...Acorda!Emseguida,pergunteaos/asjovens:oquebom em ser menino/a? Em seguida, pergunte novamente: o que ruim em ser menino/a? Anote as respostas conforme acontece a atividade. Depois, pea turma que identifique questes que gostariam de mudar na relao entre homens e mulheres e quais mensa- gens eles/as gostariam de passar para as pessoas com o objetivo de contribuir para a desconstruo das desigualdades de gnero. O vdeo indicado tambm est disponvel no Youtube. Parte I: Parte II: Atividade Estnceis pela igualdade de gnero 6 36. 6 Relato da aplicao desta sensibilizao Quando a equipe do Instituto Sou da Paz realizou esta atividade, os/as alunos/as partici- pantes do grupo Fala A, da EMEF Padre Jos Pegoraro, no Graja, afirmaram o seguinte: o ruim em ser mulher que a gente pode ficar grvida; o homem sempre tem que to- mar a iniciativa em tudo, principalmente na hora de chegar na menina; tm coisas que no ficam bem a mulher fazer. Homem pode fazer mais coisas. A partir dessa conversa, ajudando o grupo a identificar preconceitos e se questionar a respeito dos modelos mais aceitos, os/as jovens chegaram a algumas mensagens que gostariam de divulgar. Veja aqui o que eles produziram: 1 Homem inteligente pai presente Homem com o filho(a) 2 Mulher de atitude Mulher dando buqu de flor para homem (invertendo a lgica da conquista) 3 Seja o que voc quiser e no o que os outros pensam Homem cozinhando e mulher jogando bola. 37. 6B) ORIENTAES TCNICAS: COMO FAZER UM ESTNCIL? O estncil um molde vazado. Para sua produo, necessrio definir que mensagens ou imagens sero divulgadas e desenhar estas mensagens e imagens em um suporte duro. Pode ser cartolina ou papel carto (quanto mais resistente o material, maior a durabilidade do molde), onde os/as jovens devem escrever as letras e/ou os desenhos criados. Para facilitar a atividade, colocamos no fim desta atividade uma fonte para estncil. A prxima etapa recortar as partes que devem ser vazadas para que a tin- ta possa ser aplicada e assim formar a imagem. Para isso, utilize um estilete e contorne a imagem. Faa isso numa superfcie prpria que possa ser risca- da pelo estilete (uma placa de madeiri- te em cima da mesa de trabalho pode proteg-la). O seu molde est pronto! Segure-o na parede e aplique o spray ou a tinta. Faa os estnceis em locais adequados, como nos muros das prprias instituies ou em locais autorizados. O resultado final fica incrvel! Dica Em vez de desenhar no suporte, voc pode colar uma imagem j pronta (e prpria para estncil). As letras e desenhos escritos no molde devem ser vazados, para que a tinta pos- sa ser aplicada e assim formar a imagem desejada na parede. O molde deve ser pensado como se fosse um negativo da imagem original. Devem ser criadas pontes para ligar as partes soltas da imagem ao resto do molde para que a figura possa ser formada quando aplicada. 38. 6 Dica Veja mais explicaes sobre essa tcnica em: Veja tambm fotos da aplicao desta atividade no Centro de Juventude Helena Portugal Albuquerque, no Jaan. 39. 6 ABCD EFGH IJLM NOPQ RSTU >>> Exemplo de letra para stencil 40. 6 XWYZ 01234 56789 ?!%*@ &%+- 41. Objetivo Promover uma reflexo sobre como a construo das identidades e prticas de homens jovens influenciada por modelos machistas de comportamento propagados por ami- gos, comunidade, famlia e a mdia , que podem lev-los a adotar atitudes violentas. Tempo estimado 2 horas Materiais Computador com acesso Internet/ datashow Papel sulfite Caneta Flip-chart Caneto Descrio da atividade Esta atividade est dividida em trs momentos: primeiro, propomos que os/as alunos/as reflitam sobre o conceito de machismo e que valores e atitudes esto associadas a ele; depois, a ideia que os/as jovens reflitam sobre a associao entre masculinidade e violncia e como o machismo contribui para fortalecer e naturalizar essa relao; finalmente, o grupo discutir sobre como se aprende a ser machista e a valorizar a violncia; e terminar refletindo em maneiras de se ensinar a no ser machista nem violento. PRIMEIRO MOMENTO: identificando comportamentos machistas Pea para que o grupo se organize em subgrupos de quatro ou cinco alunos. Distribua para os subgrupos uma das fichas abaixo com a descrio de alguns personagens masculinos e pea para que leiam e discutam entre eles quais caractersticas machistas identificam nos personagens. Os grupos devero levantar argumentos sobre o porqu acham isso. Pea para que os/as alunos/as anotem as caractersticas e os argumentos. Descrio dos personagens: Atividade Machismo e violncia 7 42. 7 Joo Carlos, 37 anos Mora com dois filhos (meninos) pequenos e sua esposa. conhecido por ser um homem correto; religioso, vai toda semana com a famlia igreja. Apesar de bom trabalhador, est desempregado h alguns meses, desde que a empresa em que trabalhava faliu. Chateado, tem conversado cada vez menos com sua parceira. Constantemente ele cri- tica a forma como ela educa seus filhos. A mulher prefere conversar com os filhos em vez de dar umas palmadas quando eles fazem besteiras e tambm incentiva que os meninos ajudem nas tarefas domsticas. Joo acha que educando assim os meninos vo ficar frouxos quando crescerem. Eduardo, 17 anos Mora com a me, uma irm e irmo mais novo. H um ano ele deixou de estudar, quando ainda cursava o ensino mdio. Gosta bastante de jogar bola e ouvir funk. Bonito, forte e comunicativo, faz bastante sucesso com as jovens, especialmente depois que passou a se apresentar como MC nas festas do bairro. Comeou a trabalhar como balconista numa loja de material eletrnico. Afirma ser um cara tranquilo desde que no mexam com ele. Descontrolou-se apenas uma vez quando teve que partir pra cima de um cara que cha- mou sua namorada de gostosa em uma balada. Sophia, 35 anos casada e me de uma menina de quatro anos e de um menino de cinco meses. No abre mo de trabalhar para ter o seu prprio dinheiro, mas optou por trabalhar meio perodo para ter mais tempo de ficar em casa com os filhos. Sente-se sobrecarregada s vezes por ter que trabalhar, cuidar da casa, do marido e dos filhos. Ela responsvel por cozinhar todos os dias e no gosta que o marido d banho ou troque as crianas. Acha que homem no tem jeito para essas coisas, pois as mulheres so naturalmente mais cuidadosas. Lucas, 21 anos Mora com a me e o pai (irm mais velha casou-se e saiu de casa). Depois que concluiu o ensino mdio, fez curso tcnico e hoje trabalha numa empresa. Tem um filho de quatro anos, fruto de relacionamento com uma colega nos tempos da escola, com o qual tem pouco contato, e uma menina de um ano, que visita de vez em quando. Usa parte do seu salrio para pagar uma penso s mes de seus filhos. s vezes ele atrasa o pagamento e j aconteceu de uma delas ir sua casa reclamar, ele segurou-a forte nos braos e, aos gritos, disse que ela deveria ficar agradecida por ele ainda ajud-la, pois estava de saco cheio da garota. Seu pai viu a cena e no fez nada. Darlene, 18 anos Mora com a me e uma irm. Prefere namorar meninos mais velhos que tenham condi- es de lev-la para passear (de preferncia de moto) e pagar tudo. Acha muito charmoso um homem portando uma arma, porque d sensao de que ela est com um cara pode- roso. Marlos, 13 anos Mora com o pai, a me e mais um irmo e duas irms. Marlos tem tido uma queda de rendimento na escola e, desde que entrou na stima srie, tem sido mais indisciplinado. Tem uma turma de amigos conhecida por atitudes de confronto com os professores e funcionrios e acaba de ser suspenso depois de colocar um explosivo no banheiro durante as aulas. Apesar disso, costuma assumir responsabilidades dentro de casa e cuida dos irmos mais novos sempre que os pais precisam. O pai bastante severo e h suspeita de que ele bata nos filhos e na mulher. Rogrio, 52 anos Trabalha com um comrcio na rua perto de onde mora. J av de duas crianas, por parte do filho mais velho. Mora com sua esposa, da qual chegou a se separar aps um perodo de crise (ela descobriu que ele tinha uma amante). Fala para ela todos os dias como a ama. bastante ciumento e no gosta que ela saia muito, se maquie ou se vista de for- ma chamativa. Organiza o futebol nos finais de semana, quando costuma beber com os amigos, mas no deixa que sua mulher assista as partidas ela fica em casa preparando a feijoada. 43. 7Em seguida, pea para que cada subgrupo apresente o seu personagem e a discusso feita. O/a educador/a dever ir anotando na lousa (ou flip-chart) as caractersticas mencionadas pelos grupos que os levaram a acreditar (ou no) que os personagens so machistas. A partir disso, faa uma discusso sobre o que machismo e que ideais so machistas. As seguintes perguntas podem ajudar: O que machismo? Que valores so difundidos pelo machismo? Que ideias so machistas? Existe mulher machista? Voc acha que uma mulher pode educar o seu filho de forma machista? Como? Todos os homens so machistas ou existem os que pensam diferente? D um exemplo. Os modelos masculinos da sua famlia e aqueles divulgados pelos meios de comuni- cao so machistas? Como? SEGUNDO MOMENTO: machismo e violncia Essa uma atividade curta. Depois da discusso em grupo, pea para os subgrupos se reunirem novamente e, analisando mais uma vez as histrias que cada um recebeu, per- cebam se h casos de violncia entre os personagens. Cada grupo deve relatar qual o caso de violncia, quem so os autores e as vtimas e como essa violncia acontece ( fsica? verbal? psicolgica?). Por fim, devem responder pergunta: voc acha que o machismo estimula a violncia? Como? Cada subgrupo apresentar suas concluses e voc pode fazer uma discusso rpida so- bre as relaes entre machismo e violncia, procurando discutir a suposta associao na- tural entre masculinidade e violncia ( normal que todo homem seja violento). TERCEIRO MOMENTO: de onde vem o machismo e como podemos ensi- nar as pessoas a no adotarem comportamentos machistas? Sugerimos a exibio de quatro vdeos (ou trechos) que permitem explorar o fato de que o machismo socialmente construdo e legitimado: ele se aprende em casa, na famlia, na escola, na mdia... > Vdeo Children see, children do, campanha da ONG NAPCAN Esta campanha alerta para o fato de que as crianas so influenciadas pelas referncias adultas que as cercam e nos faz refletir sobre como os nossos comportamentos podem contribuir para perpetuar atitudes violentas. Link do vdeo: . > Vdeo Violncia gera violncia do Instituto Promundo A animao mostra os vrios tipos de violncia (verbal, fsica e psicolgica) que uma criana pode sofrer de sua famlia e como isso pode influenci-la a adotar comporta- mentos violentos. Link do vdeo: . > Vdeo No fcil no! do Instituto Promundo O vdeo apresenta os resultados de uma pesquisa feita pelo Instituto Promundo e o Insti- tuto Noos, com homens na cidade do Rio de Janeiro. O estudo revela que a violncia contra a mulher cultural e est relacionada maneira como os homens so socializados, como eles aprendem a se comportar. Link do vdeo: . 44. 7 > Vdeo Campanha Reacciona Ecuador, el machismo es violencia Este vdeo da campanha Reacciona Ecuador mostra que o machismo um mal que se aprende e estimulado desde a infncia atravs da forma como homens e mulheres so educados/as. Link do vdeo: . > Videoclipe Boss Life do Snoop Dogg Este videoclipe explora o estilo de vida de algum com vida de chefe: um homem com poder, status, que domina as mulheres. um bom exemplo de como a mdia explora e dissemina a ideia de que homem de verdade aquele que tem vrias mulheres, que so submissas (isso totalmente machista!). Link do vdeo: Link da letra com traduo: . Aps a exibio dos vdeos indicados, pergunte aos/as jovens se conseguem perceber uma relao entre eles. importante que os/as jovens consigam compreender que tanto a mdia como as famlias influenciam a forma como os homens so socializados e, portan- to, podem contribuir para a manifestao do machismo. Dica Ao final da atividade, o grupo pode fazer a seguinte reflexo: j que o machismo se aprende e a violncia muitas vezes estimulada, como podemos ensinar as pessoas a no serem machistas, nem violentas? O grupo pode pensar em algum produto de comunicao que difunda essas mensagens. Neste Guia existem atividades que discu- tem gnero a partir da realizao de produtos de comunicao com jovens. Sugerimos principalmente as atividades 6 e a 10. 45. Objetivo Promover uma reflexo sobre outras formas de resolver os conflitos (baseadas no dilo- go e no respeito s diferenas), a partir de esquetes teatrais feitos pelos/as jovens sobre situaes de conflito e/ou preconceito de gnero. Tempo estimado 1 hora (para dois grupos de 4 a 6 pessoas) Materiais Papel sulfite Caneta Descrio da atividade Divida a turma em grupos menores (entre 4 e 6 pessoas) e distribua para cada grupo uma das situaes apresentadas a seguir. A) NO BAR Situao: Dois jovens homens jogam sinuca no bar. Um deles fica irritado porque est perdendo e parte pra cima do outro. O/a dono/a do bar fica em dvida se deve ou no chamar a polcia para resolver essa situao. Vizinhos tambm se intrometem na briga. Faam a representao desta situao. Personagens: Jovem 1, jovem 2, vizinhos, policial e dono/a do bar. B) NA ESCOLA Situao: A me de um aluno vai at a escola contar para a diretora que viu um dos pro- fessores de mos dadas com outro homem na rua. A me alega que isso pode influenciar negativamente a educao do seu filho, uma vez que ele pode querer ser homossexual. O pai tambm comparece na escola para acompanhar a conversa. Representem este momento da conversa com a diretora. Personagens: Me, professor, diretor a e pai. C) NA RUA Situao: Garota passa na rua e recebe uma cantada. S que o namorado dela estava junto e vai tirar satisfao com o cara que deu a cantada. Alm deste casal de namora- dos, havia outro casal de amigos que os acompanhava. Como foi essa cena? Personagens: Garota, namorado, jovem que passa a cantada, amiga e amigo (o outro casal). Atividade Mudando o rumo da histria: outras formas de resolver os conflitos 8 Dica Se quiser, voc poder tambm criar situaes com os/as prprios/as jovens. Nesse caso, reserve um tempo maior para realizar a atividade. 46. 8 D) EM CASA Situao: Em determinada noite em uma rua calma, sem sada, com trs casas, vizinhos acordam assustados de madrugada, pois escutam gritos de uma mulher em uma das casas. Tudo leva a crer que o marido est espancando a mulher. As luzes das casas pr- ximas se acendem e os vizinhos saem na rua. O barulho continua e os gritos da mulher no param. Um dos vizinhos quer ir l bater no cara, o outro diz que em briga de marido e mulher ningum mete a colher. E agora, o que fazer? Personagens: Mulher, marido da mulher, vizinho casa 1 e vizinho casa 2. E) NA PRAA Situao: Uma jovem deseja treinar futebol com as amigas no campinho em frente sua casa. Mas sua me diz que ficar na rua coisa de homem porque mulher pode ficar fala- da no bairro. O namorado dessa jovem tambm contra porque acha que o futebol deixa a mulher muito masculina. Apesar de no incentivarem o esporte, no probem a jovem de treinar. A jovem, por sua vez, gosta muito de futebol, mas tambm tem medo de decep- cionar sua me e do namorado parar de gostar dela. O que a jovem faz? Personagens: Jovem, me, namorado, amiga jogadora 1 e amiga jogadora 2. Em seguida, pea para que cada grupo elabore e apresente um esquete da situao, que deve durar no mais do que cinco minutos, com os/as personagens descritos/as. Cabe salientar aos/as jovens que a cena deve ser elaborada e paralisada no auge do conflito, ou seja, sem o desfecho da histria, pois este ser pensado pela plateia (os outros grupos). O/a educador/a deve fazer perguntas provocativas para influenciar a plateia a pensar em finais que sejam baseados no dilogo e no respeito. Essas perguntas podem ser: o que cada personagem est sentindo ou pensando? De que forma um conflito como esse geralmente resolvido? legal ele ser resolvido assim ou ele poderia ter outro desfecho? Algum tem alguma pergunta a fazer para a personagem? possvel haver dilogo, nesse caso? Quem deve tomar a iniciativa? Algum nessa cena pode ser o mediador da situao? Lembre os jovens de que possvel pensar em outras solues para a cena, levando em conta os papis dos/as personagens na histria. Note, por exemplo, que na maioria das situaes existe algum personagem mais neutro, ou seja, que no est diretamente en- volvido na situao (como um amigo ou o dono do bar). Esses personagens podem se aliar a outra/o personagem, como tambm exercerem o papel de mediadores dos conflitos. Questione quaisquer desfechos que apresentem violncia ou falas preconceituosas. Abaixo, apresentamos mais algumas sugestes de questes que podem ser feitas para influenciar a reflexo dos/as alunos/as sobre cada uma das situaes e como elas podem ter outro desfecho. A) NO BAR O que fez o homem querer brigar com o outro? Voc acha que brigar com algum uma forma legtima de buscar conquistar o respeito dos outros? Nessa situao, o que a polcia pode fazer? Ela realmente necessria ou outra pessoa pode ajudar a mediar a situao? O/a dono/a do bar conseguiria mediar sozinho/a esta situao? De que forma? Como o policial deve agir nesse caso? Como os vizinhos devem interferir nesse tipo de situao? E o homem que iria apa- nhar, como ele deveria reagir: bater de volta ou tentar conversar? 47. B) NA ESCOLA Por que voc acha que a me ficou preocupada? Voc acha que a me preconceituosa? Voc acha que um professor gay influencia os alunos a serem gays tambm? O que a diretora deveria fazer neste caso? Ao perceber o preconceito da me, como o professor deveria reagir? Qual foi a posio do pai nessa histria? Ele concordou com a opinio da me? C) NA RUA O cara que cantou a garota folgado? Por que ele xaveca as meninas que passam na rua? Voc acha normal o namorado ir tirar satisfao com o cara xavequeiro? Voc acha que ele foi tirar satisfao por amor, cime ou porque acha que a garota sua propriedade? O que o casal de amigos achou da situao? De que forma eles se posicionaram nessa histria? D) EM CASA Voc acha que o vizinho deve interferir? Voc concorda com a frase em briga de marido e mulher no se mete a colher? Voc acha que a mulher pode estar merecendo apanhar porque pode ter feito alguma coisa errada? Como voc resolveria esse caso? Voc conversaria com a mulher? Caso conversasse, o que recomendaria a ela? O que ela deveria procurar primeiro: o posto de sade, a assistncia social, ou a delegacia da mulher? Voc conversaria com o marido agressor? Caso conversasse, o que recomendaria a ele? Voc pediria a ajuda de algum para resolver essa situao? De quem? E) NA PRAA Voc acha que a me est fazendo isso porque quer proteger a jovem? A me quer proteger a jovem do que, exatamente? Voc concorda com o namorado da jovem de que o futebol deixa a mulher mascu- lina? O que uma mulher masculina? Voc acha importante que a jovem respeite os prprios desejos mesmo que isso decepcione sua famlia? Como eles podem resolver essa situao sem que a famlia fique magoada demais? 8 48. 8 Fotos da aplicao desta atividade na EMEF Padre Jos Pegoraro, no Graja. 49. interessante que a atividade de produo do fanzine acontea quando o grupo j tiver participado de outras atividades dobre gnero, assim estaro mais familiarizados com o tema. Depois de muitas reflexes, eles j devem ter percebido a importncia do respeito diversidade, mas vale a pena retomar esse assunto com o grupo, realizando a dinmi- ca do jogo dos opostos. Para esta dinmica importante que o local tenha espao para que o grupo se movi- mente, pois as pessoas iro se mover para se posicionarem a favor (direita) ou contra (esquerda), de acordo com as perguntas que sero feitas por voc. Para que a atividade no fique muito longa, faa no mximo dez perguntas. Objetivo Construir, junto com os/as jovens, um fanzine (jornal alternativo, muito utilizado pelos jovens) com o tema respeito diversidade. Tempo estimado 5 horas (a atividade pode ser fragmentada em vrios encontros) Materiais Folhas de sulfite Revistas e jornais diversificados Mquina fotogrfica Computador com acesso Internet Impressora/ mquina de xerox Gravador Caneta Cola Tesoura DVD e televiso Descrio da atividade Esta atividade consiste na produo de um fanzine pelos/as prprios/as jovens. Aqui sugerimos algumas sees que o fanzine deve ter, bem como dinmicas para cada uma delas, com o objetivo de contribuir para que os/as jovens trabalhem o tema do respeito diversidade. Atividade Qual a sua? Elaborando um fanzine pelo respeito diversidade 9 Dica Em vez de fazer um fanzine, voc pode construir com os/as jovens um blog. Neste su- porte existe a possibilidade de continuar estimulando os/as jovens a irem produzindo e assim atualizando o contedo do blog com outras produes. O blog pode concentrar as mesmas produes e reflexes sugeridas aqui para a confeco do fanzine. 50. 9 Abaixo sugerimos algumas perguntas que podem ser feitas ao grupo: Quem tem namorado ou namorada? Quem beija bem? Quem vai igreja sempre? Quem tem um amigo gay? Quem acha que a violncia justificvel em alguns casos? Quem j bateu em algum menor do que voc? Quem j bateu em algum maior? Quem j teve muita vontade mas no bateu? Quem acha que a escola um saco? Quem acha que cabe mulher tomar providncia para no engravidar? Quem acha que mulher tem que ser virgem at o casamento? Quem acha que tm profisses que envolvem risco ou fora e por isso s devem ser ocupadas por homens? Quem acha que deve tomar atitude para defender a irm ou namorada? Quem acha que se uma pessoa passar a mo propositalmente na bunda de uma menina na balada o seu namorado deve bater? Quem acha importante se vestir bem? Quem j teve preconceito com algum que estava mal vestido? Quem quer ter uma moto? Quem costuma fazer trabalhos domsticos? Quem se acha bonito? Quem assiste TV todos os dias? Fechando a atividade... Depois disso, converse com os/as alunos/as sobre o fato de que possumos opinies prprias que podem ou no ser iguais s dos nossos amigos e familiares. Afinal, nossa identidade composta de mltiplas referncias, sendo que nenhuma pessoa igual outra. importante salientar que estamos em constante reconstruo, as nossas opi- nies se modificam ao longo da vida. Feita esta primeira sensibilizao sobre o tema, a turma dever ser dividida em subgru- pos responsveis pela produo de cada parte do fanzine, de acordo com as habilidades de cada um. Sugerimos as seguintes sees: a) entrevista; b) enquete; c) fotos; d) cola- gem; e) ponto de vista. Alm dessas sees, voc pode, com os/as alunos/as, criar e incrementar o fanzine com outras, como poesia, conto, crnica, histria em quadrinho, charges, matrias, etc. Tente identificar quais so os pontos fortes dos participantes e decida com eles o contedo. Ateno! A ideia que os grupos trabalhem simultaneamente. Voc deve adequar o tempo de trabalho de acordo com o nmero de horas/encontros disponveis. O fanzine pode ser realizado em uma tarde de trabalho inteira, ou tambm pode ter sua produo fragmentada em vrios encontros. Ateno! Voc pode fazer perguntas aleatrias, pois o importante da atividade no trabalhar questes sobre a temtica de gnero, mas sim fazer com que todos percebam que possuem ideias diferentes e que no existe uma pessoa igual outra. 51. 9 Ateno! Apesar de ouvir e respeitar opinies diferentes nas entrevistas, questione falas machistas ou preconceituosas. Converse com os/as alunos/as sobre o que foi dito nas entrevistas. A seguir, so apresentadas as atividades pensadas para cada seo. A) ENTREVISTA Nesta seo, os alunos podem entrevistar pessoas da instituio, da escola ou da comu- nidade, que deem sua opinio sobre temas como relacionamento, famlia, sexualidade, etc. As entrevistas e respostas mais interessantes podem ser publicadas no fanzine. Para fazer esta seo, o grupo deve definir algumas perguntas (sugerimos uma mdia de cinco perguntas, alm das triviais como nome, idade, estado civil e profisso). A ideia que as perguntas permitam evidenciar como os/as entrevistados/as se relacionam com pessoas diferentes. Sugerimos algumas questes que podem ajud-lo/a a criar as perguntas com os/as jovens: Quem voc acha que a pessoa mais diferente de voc? Por qu? Como voc se relaciona com pessoas diferentes de voc? Para voc, o que uma pessoa normal? Voc se acha normal? Para voc, importante fazer parte de uma tribo? Voc tem alguma? Se sim, as pessoas dessa tribo tm interesses parecidos? Tem algum tipo de pessoa que voc acha estranho? Tem algum tipo de pessoa da qual voc nunca seria amigo? Por qu? Voc j foi vtima de preconceito? Como? Por que voc acha que as pessoas zoam as outras? Voc j foi zoado? Por que voc acha que isso aconteceu? Depois pea para que o grupo faa uma tabela (como o exemplo a seguir), que reunir todas as respostas. Nome Idade Estado civil Profisso Pergunta 1 Pergunta 2 Pergunta 3 Pergunta 4 Pergunta 5 Na verso final do trabalho, pea para que os/as alunos/as escolham as entrevistas mais interessantes e apresentem-nas de forma comparativa. Oriente os/as alunos/as a pedir autorizao aos/as entrevistados/as para tirar fotos. Recomende tambm que as fotos sejam colocadas ao lado das respostas registradas, como feito em jornais e revistas. 52. 9 B) ENQUETE Nesta seo, os alunos podem criar uma pergunta e coletar respostas junto s pes- soas da instituio, escola ou da comunida- de. Os/as jovens podem perguntar pessoal- mente s pessoas ou realizar uma votao utilizando cdulas de papel. Ao final, o grupo deve construir um grfico com as respostas coletadas. No fanzine, a pergunta pode ser exposta junto com um grfico com as por- centagens de cada resposta. Veja o exemplo ao lado construdo pelos alunos da EMEF Pe. Jos Pegoraro (Graja). Considerando o tema da diversidade de gnero, oriente os/as alunos/as a construrem uma questo e algumas alternativas para ela, como sugerido nos exemplos apresenta- dos a seguir. Voc teria um/a amigo/a homossexual? Sim ( ) No ( ) O que voc acha de um cara que usa camisa rosa pink? ( ) Bonito ( ) Interessante ( ) Esquisito ( ) Ele gay com certeza C) FOTOS Nesta seo, podem ser publicadas fotos de homens e mulheres em situaes pouco comuns, com legendas que analisem a imagem. Pea aos/s jovens que retratem, por meio de uma cmera fotogr- fica, homens e mulheres em situaes consideradas pelo grupo in- comuns, como, por exemplo, uma mulher motorista de nibus, uma jovem soltando pipa, uma mulher an- dando de moto, um homem danando, um jovem brincando de boneca, etc. Em seguida, todos devem escolher as melhores fotos e criar legendas que analisem a imagem, como o exemplo ao lado da atividade realizada no Centro de Juventude Helena Portugal Albuquer- que, no Jaan. Dica Outra sugesto de atividade semelhante a elaborao de um teste, como aqueles de revistas voltadas ao pblico adolescente. O grupo pode fazer, por exemplo, um teste com o ttulo: Voc preconceituoso/a?. Neste caso, os/as jovens devem in- dicar algumas perguntas com respostas de mltipla escolha. Geralmente so apre- sentadas 4 ou 5 alternativas para cada questo. Veja um exemplo de teste na pgina 8 do fanzine Ponto G, disponvel para download em: . 53. 9D) COLAGEM Nesta seo, podem ser utilizadas imagens e notcias sobre o tema discriminao de gnero selecionadas pelos/as alunos/as, bem como outras imagens (palavras e fotos) que sejam relacionadas temtica de gnero. Distribua diversas revistas e jornais. Se puder disponibilize tambm um computador com acesso internet para que os/as jovens possam procurar matrias disponveis na rede. Pea para que o grupo selecione imagens e notcias A ideia que os/as alunos/as consigam relacionar as reflexes que acontecem em sala de aula com as notcias que os cercam, como os casos atuais (e polmicos) da estudante Geyse Arruda da Uniban, do goleiro Bruno do Flamengo, do cartunista Laerte, alm de outros, tais como situaes de discriminao contra homossexuais e de violncia contra a mulher. Como referncia, veja a produo dos/as alunos/as da EMEF Pe. Jos Pegoraro: E) P