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GELO - LINDA HOWARD

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GELO Linda Howard

2009

Sinopse:

Gabriel McQueen acaba de chegar em casa de licença do serviço, quando seu pai, o xerife do condado, o envia de volta com novas ordens. Uma tempestade de gelo ganha força e um vizinho mais distante que está sem contato, têm preocupado o xerife local. Então ele pede para Gabriel fazer o longo caminho até o meio do nada e certifique-se que Lolly Helton está sã e salva. É uma viagem que o jovem McQueen prefere não fazer dado ao clima amargo do inverno e as condições geladas que sempre existiram entre ele e Lolly.

Mas não há nada a falar quando o seu pai é o melhor policial da cidade. E não há como voltar atrás quando a noite cai tão rápido quando Gabriel chega e descobre que o tempo lá fora não é a única coisa que é terrível. Sinais estranhos na casa de Lolly, um deles uma arma condicionada, é tudo o que tem para colocar Gabriel em modo de combate. Seu treinamento de soldado é tudo que precisa para resgatar Lolly da casa sem avisar seus captores. Mas quando a fuga é descoberta, o calor e a caça se encontram. Os bosques de inverno estão longe de serem seguros, uma vez que a tempestade de gelo tangencia para baixo, caindo das árvores, bloqueando estradas e prendendo o casal fugitivo no escuro congelamento.

Nesta temporada, o de visco e azevinho, Santo. . . E suspense. O talento que continua a dar é de gelo: conto de tirar o fôlego da autora premier thriller Linda Howard que descreve um homem, uma mulher e uma batalha pela sobrevivência contra um inverno e um assassino implacáveis. Oh, o que é divertido ler.

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PESQUISA&DISPONIBILIZAÇÃO: Mell

Revisão Inicial: Sunshine

Formatação e Segunda revisão:Daniele

Capítulo Um

O local nunca mudou.

Gabriel McQueen gostava realmente de sua cidade natal, Wilson Creek, no

Maine. Ele gostava de sua continuidade, a segurança e a solidariedade. Gostava que o

seu filho de sete anos, Sam, estivesse vendo a cidade quase exatamente como a viu

enquanto crescia. Gostava que Sam estivesse construindo algumas das mesmas

memórias que tinha.

Gostava de como a pequena cidade parecia durante a mudança das estações: as

flores da primavera, o verde do verão, as cores tumultuadas do outono quando as torres

gêmeas branca perfuravam o céu de um azul profundo, mas a sua época favorita do ano

era agora. As últimas semanas que antecederiam o Natal seriam especiais, quando a

excitação e antecipação pareciam aderir a todos e as crianças pequenas eram quase

inconstantes de tudo. Ele mal podia esperar para ver Sam desfrutando as mesmas coisas

que ele gostava nessa idade.

Ele dirigiu o seu Ford F-250 preto de tração nas quatro rodas até a praça da

cidade, sorriu quando viu que todas as lojas estavam decoradas com enfeites e

cintilantes luzes multicoloridas e a grande árvore de abeto1 na frente do Palácio da

Justiça enfeitada com tantas luzes que parecia uma névoa de chama contínua mesmo no

frio, firme, e mesmo a miserável chuva pingando do feio céu cinzento não pôde

escurecer.

Gabriel apertou sua grande pickup entre as linhas brancas de uma vaga vazia no

estacionamento em frente ao palácio de justiça. Encravando o seu boné impermeável na

cabeça, ele saiu e colocou moedas o suficiente no antiquado parquímetro para pagar por

duas horas. Não estaria lá por muito tempo, mas preferiria cometer um erro por excesso

de precaução, porque seria embaraçoso como o inferno para o filho do xerife conseguir

uma multa de estacionamento em frente ao tribunal no seu primeiro dia em casa — não

a ele, mas para seu pai. Talvez nem tão embaraçoso, seu pai era bem digno no bairro.

1 Árvore típica nos Estados Unidos

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A névoa de chuva soprou em seu rosto, o último boletim meteorológico que

verificou predisse neve para a noite, quando a temperatura caísse. Abaixando a cabeça

contra o vento, apressou os passos até a escadaria do tribunal, abriu as portas de vidro

duplo, em seguida, tomou a escada à direita até o porão. O departamento do xerife ainda

ocupava o subsolo do Palácio da Justiça, embora a prisão estivesse no andar de cima, o

arranjo era um maldito inconveniente, mas era assim que sempre foram as coisas e

Gabriel imaginou que ainda seriam, quando morresse.

O departamento do xerife era a primeira porta à esquerda. A porta abria para

uma área com quatro mesas, três mulheres, e muita atitude. Atrás deles havia outra

porta, e estampado nela estava Harlan McQueen, Xerife. A gravura foi feita há quase

trinta anos atrás e em alguns lugares as letras quase desapareceram, mas Gabriel sabia

que seu pai estava pensando em se aposentar, foi durante os últimos cinco ou dez anos,

assim, como um Mainer poupador, que não via qualquer sentido em ter as portas

fechadas.

As três mulheres olharam para cima quando Gabriel entrou, e sorrisos

imediatamente enfeitaram seus rostos. E todas as três pularam com desconcertantes

guinchos femininos, considerando-se que a mais jovem era bem uns quinze anos mais

velha que ele, e correram para ele, você pensaria que ele não tinha visto nenhum delas

em um ano, em vez de apenas dois meses. De alguma maneira ele conseguiu administrar

os braços em volta de quase todas, ele era um cara grande, mas três mulheres era muito

para qualquer homem, especialmente quando uma das mulheres era agradavelmente

robusta.

Duas das mulheres usavam uniformes marrons do departamento do xerife; Judith

Fournier e Evelyn Thomas eram irmãs e sua semelhança era forte o suficiente para que

quando elas estavam de uniforme, seus cabelos puxados para trás e protegidas por

normas, eram quase indistinguíveis. Patsy Hutt, a rainha do escritório externo, era suave

e redonda, coroada com o cabelo branco como a neve. Hoje, ela usava botas de solado

grosso, jeans e um suéter de lã decorado de flocos de neve com lantejoulas. Ela parecia

a mulher mais bondosa do mundo, mas Gabriel tinha uma lembrança muito clara das

palmadas em seu traseiro quando ele tinha uns sete anos e cheio de auto-importância,

pois seu pai era o xerife.

Entre as três mulheres, que controlavam o escritório exterior e o acesso ao

xerife, corria a maior parte dos departamentos, e sabiam tudo que havia para saber sobre

todos no município.

— Estava na hora de você chegar aqui. — Patsy repreendeu. — Estava ficando

preocupada com você dirigindo e esta tempestade chegando.

— Tempestade? — Ele entrou em alerta, adrenalina surgindo. — Eu verifiquei a

previsão do tempo antes de sair; a chuva deveria virar neve hoje à noite, mas isso era

tudo. — Isso foi esta manhã em um motel na Pensilvânia. Antes de deixar Carolina do

Norte colocou pneus de neve em sua caminhonete porque dezembro no Maine quer

dizer neve. Ele era descelebrado ou era pura idiotice? No entanto, desde que deixou o

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motel esteve ouvindo a XM2, então ele não soube até o momento sobre a previsão do

tempo.

A preocupação de Patsy significou algo no entanto: os moradores de Maine

estavam acostumados ao clima de inverno e sabiam como lidar com isso, portanto,

qualquer iminente tempestade grave o suficiente para chamar a atenção disse-lhe muito

sobre o potencial de perigo.

Antes que ela pudesse responder, a porta atrás deles abriu e todos os quatro

olharam em volta. — Gabe — disse seu pai, um manancial de afeto e algo próximo de

alívio passaram por seu rosto enrugado, e Gabriel esquivou-se das garras das tiranas do

escritório externo com passos largos através do piso. Ele trocou um breve abraço de

urso com seu pai, batendo um no outro nas costas, em seguida, Harlan disse — Eu estou

contente que você chegou. O tempo está mudando com uma rapidez desagradável e

preciso de ajuda.

O nível de alerta de Gabriel ricocheteou vários graus acima. Se Harlan McQueen

estava admitindo que precisava de ajuda, então algo de grave estava acontecendo.

— Você chegou finalmente. — ele disse quando passaram na sala de Harlan,

que tendia mais para abarrotada. O município não tinha ostentação nos escritórios do

departamento, era uma maldita certeza.

— E aí, novidades?

No olhar de seu pai, transparecia a grande valorização do apoio firme e vontade

de agir de Gabriel. Quando ele era mais novo, a inclinação natural para a ação em

qualquer lugar, por vezes, desembarcou seu traseiro na água quente, mas como um

sargento da polícia militar, era capaz de canalizar a agressividade e determinação para o

trabalho, que foi bom para ele e o exército.

— Este maldito sistema meteorológico está mergulhando em nosso caminho. —

Harlan disse laconicamente. — Deveria começar a nevar, com o gelo permanecendo a

nordeste, mas agora o serviço de meteorologia está dizendo que nós vamos ficar presos

pelo gelo. Eles emitiram o aviso de tempestade um pouco mais de uma hora atrás e nós

estamos lutando para ficar prontos. Além disso, há um acidente prendendo três

deputados quando eu não posso poupar sequer um.

Merda, uma tempestade de gelo. Gabriel estava em alerta máximo agora, o

estreitamento de seus olhos, sua postura sutilmente mudando como se ele pudesse tomar

sobre a tempestade em uma rixa de junta desencapada. O gelo era dez vezes pior do que

uma nevasca, em termos de danos. Maine tinha levado dois golpes de gelo nos últimos

dez ou doze anos, mas em ambas às vezes a tempestade falhou nesta área. Isso foi bom

na época, mas agora mal, porque significava que havia um monte de madeira

enfraquecida que foi poupada antes, mas que agora estaria vindo para baixo sob o peso

do gelo, esmagando carros e casas, derrubando postes e deixando centenas de

2 Rádio norte-americana <http://www.xmradio.com/>

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quilômetros quadrados no frio e no escuro. O gelo era como um furacão de cristal,

destruindo tudo que tocava.

— O que eu posso fazer?

— Dirija para a casa antiga dos Helton e cheque Lolly. Eu não tenho sido capaz

de chamá-la em seu telefone celular, e ela pode não saber que a tempestade se deslocou

para nosso caminho.

Lolly Helton? Gabriel quase gemeu em voz alta. De todas as pessoas!

— O que ela está fazendo aqui? — ele perguntou, tentando disfarçar sua

hostilidade repentina, que era a maneira que sempre Lolly Helton o afetou. — Eu pensei

que toda a família havia se mudado.

— Eles mudaram, mas mantiveram a casa para férias de verão. Agora estão

pensando em vendê-la e Lolly está aqui para ver as coisas e, inferno, que diferença isso

faz? Ela está lá sozinha, sem nenhuma forma de pedir ajuda, caso venha se machucar.

Apesar de sua relutância em colocar-se perto de Lolly Helton, Gabriel

imediatamente agarrou a lógica do que seu pai estava dizendo. Quem não era do Maine

não poderia ser capaz de ler entre pequenos sinais, mas ele podia. Serviço de celular era

irregular na melhor das hipóteses, e se ela estivesse em segurança ali na cidade, Harlan

teria sido capaz de alcançá-la em seu telefone celular, mas pela localização da casa dos

Helton, um telefone celular era inútil para qualquer coisa, exceto no caminho. E como

ninguém morava na casa velha agora, o serviço de telefone há muito tempo foi

desligado. Provavelmente não haveria qualquer televisão no local pelo mesmo motivo.

Mesmo que Lolly estivesse dirigindo até a cidade ouvindo o rádio do carro, não teria

conhecimento da ameaça de catástrofe.

Foda. Não havia jeito de sair dessa. Ele tinha que ir atrás dela.

— Eu vou cuidar disso. — Disse ele, caminhando a passos largos para a porta.

— Quanto tempo eu tenho?

— Eu não sei. Essa é a maior elevação, o degelo vai começar mais cedo do que

aqui. O serviço de meteorologia está dizendo que pode começar logo que anoitecer.

Gabriel olhou para seu relógio. Três horas da tarde no extremo norte, o pôr-do-

sol era próximo de quatro horas, o que não lhe dava muito tempo.

— Merda. — ele disse. — Eu não vou ter tempo de ver o Sam.

— Você vai se você se apressar. As crianças foram mandadas para casa logo

que o serviço de meteorologia mudou a previsão, de modo que sua mãe já o pegou. Vou

chamá-la para ter algum café e alimentos prontos para você, pare por lá a caminho,

então mova o traseiro.

Ele já estava fora da porta, movendo-se rapidamente, antes de Harlan parar de

falar. O café e os alimentos eram mais uma necessidade do que conforto. Ele estava

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dirigindo o dia todo, estava cansado, e em condições meteorológicas severas ter algo

para comer e beber podia fazer a diferença entre viver e morrer. Ele não sabia que tipo

de situação em que estaria, uma vez que saisse da estrada principal e começasse a subir

o longo e tortuoso caminho em direção a casa dos Helton, por isso era melhor ter os

mantimentos e não precisar deles do que não tê-los e talvez morrer por causa disso.

O vento bateu com força no seu rosto logo que abriu a porta do tribunal e saiu.

Isso não era bom. O ar estava bastante calmo quando ele entrou, mas agora, apenas dez

ou quinze minutos mais tarde, estava realmente soprando. Vento faz que galhos de

árvores e linhas elétricas caiam mais rápido, além de minar o calor do corpo de cada

coitado que estava fora, ou que estava sendo enviado para resgatar alguma cadela mal-

humorada com uma atitude irritada, que era mais provável dizer-lhe para ir para o

inferno, do que colocar seu delicado traseiro em sua caminhonete.

No entanto, um sorriso profano despontou em seu rosto quando correu para a

caminhonete, abrindo-a com o controle remoto ainda a dez metros de distância. Ele

arrancou a porta aberta e arqueou para dentro. Lolly Helton! Porra, nunca ninguém tinha

atrapalhado tanto seu caminho como Lolly. Ele provavelmente devia seu sucesso no

exército pelo treino mais cedo que ela havia lhe dado, afinal, quanto problema poderia

conseguir o mais irritado recruta a ser comparado a Miss-toity Toity Helton?

Lollipop! Quer que eu lamba você, Lollipop?

Colocando a pickup no sentido inverso, ele a moveu para fora da vaga em um

arco que o deixou de frente para a direção que ele queria. Seu sorriso foi mais amplo,

quando saiu do estacionamento e desceu a bota no acelerador. A memória ecoando em

sua cabeça, o sarcasmo que soube que iria levá-la ao longo da borda, o riso de seus

amigos, o caminho apertado, a expressão hostil ficou ainda mais apertada quando ela

olhava como se ele fosse um inseto que pudesse pisar e esmagar insipidamente.

Essa coisa era a Lolly Helton. Mesmo quando uma menina foi tão convencida de

que era muito melhor do que todas as pessoas na cidade, que nada que ele ou qualquer

outra pessoa havia dito pôde colocar um entalhe adentro nessa superioridade. Seu pai

era o prefeito, e ela nunca esqueceu isto, ou deixou que ninguém esquecesse. Se tivesse

sido especialmente bonita, ou especialmente inteligente, ou qualquer outra coisa fora do

comum, talvez tivesse sido mais popular na escola, mas não havia nada de especial

sobre ela. Lembrou-se de seus cabelos crespos castanhos, e que nada que usava nunca

parecia muito bem nela, e era isso. Bem, exceto pela forma de sua expressão quando

tinha dito “Come, caga e morre, camponês”.

Tinha que haver algo de errado com ele para realmente sentir uma espécie de

antecipação ao vê-la e, provavelmente, discutir com ela novamente.

Mantendo uma mão firme no volante, ele trocou a rádio XM para uma estação

local para pegar todas as atualizações do tempo. Dentro de alguns minutos deixou os

limites da cidade de Wilson Creek para trás, acelerando para ganhar qualquer segundo

extra que podia. Outro tipo de antecipação construiu dentro dele, afiada e forte. Sam.

Ele estava indo ver seu filho novamente em poucos minutos, e seu coração começou a

bater com alegria.

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Aproximadamente 6,5 km abaixo da estrada girou entre duas grandes árvores

que enfeitavam uma calçada de concreto. Atrás dos abetos estava uma extensa casa

branca nítida com persianas pretas, uma garagem para três carros individuais.

A porta traseira já estava batendo quando ele diminuiu a velocidade até parar,

um pequeno dínamo de cabelo escuro saiu em erupção da casa gritando: — Papai!

Papai!

Gabriel saiu do carro apressadamente bem a tempo, porque Sam lançou-se para

cima. Ele pegou a criança no ar, os braços magros em volta do seu pescoço com tanta

força que ele mal podia respirar. Ele não precisa respirar. Só precisava segurar seu filho.

— Nós saímos da escola cedo! — Sam disse radiante para ele. — Está vindo

uma tempestade de gelo. Vovó esta fazendo bastante sopa, ela disse que provavelmente

iria precisar.

— É bom ouvir isso. — Gabriel disse. Sam estava vestindo um casaco, mas não

estava fechado, e o capuz tinha caído para trás de modo que a chuva fria caía sobre sua

cabeça nua. Gabriel puxou o capuz para cima, em seguida, abriu a porta traseira da

caminhonete para pegar sua mochila, empurrando a porta para fechar. Segurando o seu

filho em um braço e a mochila com o outro, ele correu na chuva até a varanda dos

fundos. Sua mãe estava ali, preparada e com hábil olhar em seus jeans e botas, e o largo

sorriso no rosto não disfarçava muito bem a preocupação em seus olhos verdes.

— Ele não quis esperar. — disse ela, jogando os braços em torno de Gabriel. o

abraçou e beijou, em seguida deu um beijo rápido na face de Sam também.

— Ah, vovó. — ele disse se contorcendo, mas não limpou o rosto. Gabriel

sorriu lembrando-se como foi mortificante naquela idade sua mãe o beijando. Sam

poderia muito bem se acostumar com isso, porque nada parou Valerie McQueen de

beijar as pessoas que amava.

Ele largou a mochila, posicionou Sam em seus pés, em seguida, agachou-se e

começou vasculhando a mochila para achar sua faca e lanterna.

— O café está quase pronto. — Sua mãe disse. — Já tenho uma garrafa térmica

cheia de sopa e aqui está um dos ponchos de seu pai de chuva impermeável. — Ela deu-

lhe o poncho, em seguida, virou-se e correu de volta para a cozinha.

— Obrigado. — ele disse, esperando que não fosse precisar dele. Suas botas

eram isoladas para todos os climas, próprias para os pés ficarem quentes e secos, mas

colocou um par de meias no bolso do casaco, por via das dúvidas. Seu casaco era

espesso e pesado e tinha luvas na caminhonete, bem como um cobertor que Sam jogou

para debaixo do banco traseiro mais de um ano atrás e que ele nunca se preocupou em

arrastá-lo para fora. Ele pensou que estava pronto para uma viagem rápida até a

montanha como estava planejado.

— Onde você está indo? — Sam perguntou enquanto observava os preparativos.

— Você acabou de chegar. — A decepção atou seu tom, afiando em mal-humorado.

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— Eu tenho que resgatar uma mulher de sua casa em uma montanha. — Gabriel

respondeu, mantendo o seu próprio tom firme de modo que Sam saberia que este não

era o momento para discussões, porém, ele pôs o braço em torno dele para um abraço

rápido. — Eu não quero sair também, mas quando algo precisa ser feito, alguém tem

que se apressar e fazê-lo.

Sam ponderou aquilo. Com Gabriel seguindo a carreira militar e seu avô um

xerife, na sua curta vida ele ouviu falar muito de responsabilidade, assim como as ações

necessárias para tal. Ele poderia não gostar, mas entendeu. — Ela está machucada?

— Eu penso que não, mas seu avô quer que eu vá pegá-la antes da tempestade

de gelo a deixe sem recursos.

Sam deu um aceno com a cabeça solene.

— Certo. — ele finalmente disse. — Se você precisa. Mas tenha cuidado.

— Eu terei. — Gabriel prometeu, querendo sorrir, mas mantendo a sua

expressão grave. Seu pequeno garoto estava aprendendo a cuidar de si próprio.

Valerie retornou, e ele levantou para apanhar as duas garrafas térmicas grandes.

— Seja cuidadoso. — disse desnecessariamente, ecoando Sam, mas agora que

era pai, entendia que ela nunca pararia de se preocupar, não importando sua idade ou do

que ele era capaz.

— Eu não sou sempre? — ele perguntou, sabendo que iria fazê-la rolar os olhos,

o que fez. Ele beijou a bochecha dela, em seguida, ajoelhou-se para dar outro abraço

extragrande em Sam.

— Eu estarei de volta logo que eu puder. Você pode cuidar da vovó até então?

Sam assentiu solenemente, e encurvou seus ombros magros.

— Eu farei o meu melhor. — respondeu, embora o olhar que ele deu a sua avó

disse que duvidava que pudesse controlá-la. Gabriel mordeu o interior da bochecha para

conter-se um sorriso.

— Traga Lolly aqui. — disse Valerie vivamente. — Não tente levá-la para a

cidade e em seguida vir para casa. Temos muito espaço e muita comida, então não há

nenhum razão em testar a sua sorte com este tempo.

— Sim, Senhora. — disse ele obediente, mas por dentro estava pensando: Ah,

merda, eu estarei preso com Lolly Helton.

Talvez ela não estivesse lá. Talvez estivesse em algum lugar seguro na cidade e

tinha simplesmente desligado o celular. Talvez ele escorregasse para fora da estrada e

teria que andar para trás, não sendo capaz de subir a montanha até a casa dos Helton.

Talvez, mesmo se ela estivesse lá, se recusaria a ir a qualquer lugar com ele. Sim, ele

podia ver isso.

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Então esse estranho senso de antecipação passou por ele novamente, o

sentimento apreensivo começou quando sabia que ia ser uma luta e estava realmente

ansioso por isso. Esteve em uma situação muito pior do que isso, ele pensou. Entrou em

brigas com nada além de seus punhos, chutando traseiros e quebrando cabeças, e saiu

tudo bem. Lolly tinha uma língua como um escorpião, mas que era sobre ele. Poderia

lidar com ela e qualquer coisa que dialogasse para fora.

— Obrigado. — ele disse para sua mãe. — Vejo você daqui a uma hora. —

Então correu de volta para a chuva fria, aprofundando sua melancolia, iria buscar a

princesa mimada de sua montanha.

Capítulo Dois

Mais cedo naquela tarde

A velha Blazer esporte branca, com crosta de sujeira e sal, parou no pequeno

estacionamento do supermercado local.

Um homem magro e desarrumado, de cabelo despenteado de uma tonalidade

louro-sujo manejou a Blazer para dar a volta para a estrada e colocar o equipamento no

parque.

— Pronto. — disse ele, tamborilando os dedos rapidamente no volante. — Eu

estou pronto. Pronto para ir. — As palavras eram rápidas e abruptas. — Você conseguiu

a arma de fogo?

— Aqui. — a mulher ao lado dele disse, empurrando uma pistola em sua sacola

manchada de lona vermelha. Ela estava tão magra e perdida como ele, seus olhos e

bochechas afundadas, seus cabelos longos e escuros emplastrados na cabeça para que

suas orelhas ficassem presas através dos fios. Seu olhar vagava sem descanso em torno

do estacionamento, percorrendo a frente da mercearia e voltando ao estacionamento. Ela

colocou a mão na maçaneta e empurrou a porta aberta, em seguida, rapidamente fechou-

a novamente quando outro veículo apareceu no estacionamento e passou. Ela viu

quando uma Mercedes SUV preta, conduzida por uma mulher solitária, passou por eles

com os pneus sibilando no asfalto molhado e estacionou em uma vaga próxima à porta

da loja.

— O que você espera? — perguntou o homem, ainda batendo seus dedos. Ele se

mexeu impacientemente no assento. Seu nome era Darwin Girard, e não tinha dormido

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em três ou quatro dias, talvez até mais. Apesar disso, sentia se como se pudesse explodir

com a energia, e apenas sentar lá era quase mais do que ele poderia lidar.

— Aquela mulher me olhou. — Niki Vann indicou o condutor do Mercedes

preto quando a mulher saiu do SUV pequeno e apontou um controle remoto para ele. As

luzes piscaram, sinalizando que o veículo foi bloqueado e a mulher correu em meio à

chuva a pequena mercearia.

— Ela o fez? — Darwin perguntou, sua atenção em zero sobre a mulher como

um laser. Ninguém deveria observá-los. Esse era o plano, e ele não gostava de brincar

com os seus planos. Hostilidade selvagem brilhava em seus olhos encovados quando

olhou para a porta pela qual ela passou.

— Sim. Cadela. — Niki rosnou, por nenhuma outra razão do que a outra mulher

estar dirigindo uma Mercedes. Então, uma idéia começou a se contorcer em seu cérebro.

— Aposto que ela tem um monte de dinheiro em sua bolsa. Olha o que estava dirigindo.

Aposto que tem mais do que vai gastar elegantemente na pequena mercearia, e ela está

sozinha.

Darwin tamborilava com o dedo cada vez mais rápido.

— O que você esta pensando? — ele perguntou como se não soubesse, sorrindo

para ela. Niki era ainda melhor do que ele quando estava vendo uma oportunidade e não

hesitaria em agir. Por causa dela, sua fonte de metanfetamina era bastante fixa. Ela

estava sempre procurando uma maneira de obter mais dinheiro.

Ela empurrou a porta aberta da Blazer novamente e saiu.

— Volto em um minuto. — disse ela antes de fechar a porta, em seguida

disparou através da chuva, seu corpo magro quase insignificante em comparação com o

enorme casaco verde que usava.

Dentro da loja, Lolly Helton pegou um carrinho e dirigiu pelo primeiro corredor.

Ela não precisava de muitas coisas, apenas algumas latas de sopa e alguns itens de

sanduíche, talvez algumas revistas para ler e queria estar em casa antes de escurecer,

pois estava com pressa. Porque estava com pressa, é claro, foi parada quase que

imediatamente.

— Lolly! — disse uma mulher vestindo um avental vermelho que a cobria do

pescoço aos joelhos, olhando em torno de onde estava era de bom gosto as pilhas de

produtos que tinham sido desordenadas pelos clientes quando escolhiam por uma

perfeita cabeça de repolho, ou maçãs que eram firmes ou suaves de acordo com seu

gosto individual. — Ouvi dizer que você estava de volta. Você está com ótima

aparência.

— Obrigada. — disse Lolly, educadamente fazendo sua pausa. — Você

também. Como está? — Sr. e Sra. Richard possuiam a pequena mercearia desde quando

se lembrava, e ela sempre gostou da Sra. Richard, que adorava brincar e fofocar, mas

nunca teve nada de negativo a dizer sobre ninguém. A porta se abriu atrás dela e uma

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rajada de ar frio varreu dentro da mercearia. Ela não olhou ao redor, mas mudou seu

carrinho de lado para que assim o recém-chegado pudesse passar.

— Bem. Ocupada nesta época do ano, como todo o feriado cozinhando. —

Limpou as mãos no avental, seu olhar se movendo para além de Lolly para a pessoa que

entrou na loja. Ela deu um breve aceno de reconhecimento, em seguida, voltou sua

atenção para Lolly. — Onde você vai ficar hoje à noite?

— Em casa. — Lolly disse um pouco assustada. Onde mais ela poderia estar?

— Bondade, criança, você não estava ouvindo o rádio? Eles estão prevendo

gelo para hoje à noite.

Uma tempestade de gelo! Como se pudesse ver a tempestade se aproximando,

Lolly virou e olhou para fora da janela, o olhar passando rapidamente pela mulher que

entrou trás dela. Não era alguém que conhecesse — não parecia alguém que ela gostaria

de conhecer — de modo que não fez um maior contato visual.

— Eu não estava com o rádio ligado. — admitiu. Ela raramente ouvia o rádio de

qualquer maneira, preferindo sua própria coleção de CDs de música.

— Você não pode de maneira nenhuma ficar lá fora, sozinha. Se você não

conhece alguém que possa lhe hospedar durante a tempestade, Joseph e eu temos um

quarto extra — dois deles, na verdade, agora que os meninos são casados e se foram.

A mente de Lolly disparou. Não tinha nenhum velho amigo da escola que

pudesse ficar durante a tempestade, principalmente porque ela não foi realmente amiga

de ninguém. Seus anos na escola não foram bons. Era muito melhor de fazer amigos

agora, mas isso significava que todos eles estavam em Portland. Ela não gostava da

idéia de ficar com o Sr. e a Sra. Richard — gostava deles, mas não era íntima — mas

com uma tempestade de gelo se aproximando teve que tomar algumas decisões rápidas.

— Obrigado, eu vou aproveitar a sua gentileza, pelo menos por esta noite. —

disse ela, erguendo sua bolsa do carrinho. Não precisaria de nenhum mantimento, afinal.

— Preciso ir para casa e buscar algumas de minhas coisas. Quanto tempo eu tenho?

— O serviço de meteorologia disse que deve começar em torno do escurecer.

Não tardará.

Lolly verificou o tempo. Tinha algumas horas, mas o gelo poderia começar mais

cedo em sua casa, pois estava em uma altitude mais elevada.

— Eu estarei de volta assim que eu puder. — disse ela. — Eu não posso te dizer

o quanto agradeço a oferta.

Sra. Richard fez um gesto de enxotar com as mãos. — Vá em frente, depressa!

Lolly iria se apressar, entretanto aproveitou o tempo para retornar o carrinho

para a cerca pequena, empurrando-o após a mulher vestindo uma jaqueta verde de

grandes dimensões e com um cargo de lona suja vermelho, como se aquele fosse a sua

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roupa para o Natal. Um senso de urgência a levou quase correr de volta para seu

veículo, uma tempestade de gelo não era nada de dispersar. Nevasca não era nada, pelo

menos para um Mainer nativo, mas o gelo era incrivelmente destrutivo. Ela poderia ter

ficado presa por dias, até semanas, se não tivesse parado na mercearia e conversado com

a Sra. Richard.

Seria péssimo para os seus planos, ela pensou tristemente enquanto saia do

estacionamento, mas uma tempestade de gelo que aparece um trunfo arrumado. Não

havia mesmo muitos itens pessoais para arrumar então não era como se ela tivesse que

fazer tudo agora. A casa tinha sido usada tão raramente nos últimos anos, havia apenas

o mínimo de mobiliário, alguns móveis aqui e ali de qualquer maneira. Ela tinha a

intenção de usar o seu tempo na arrumação. Na verdade, seus planos reais para a noite

tinham sido uma sopa para aquecer, ligar a lareira a gás e ler, deixando a arrumação

para amanhã de manhã. Ela gostava da paz e tranqüilidade, havia alguma coisa

extremamente confortável em uma casa quente numa noite de neve que a atraía

profundamente.

Ela voltou querendo desfrutar de alguns dias de lazer na casa onde cresceu, se

afogando em mornas lembranças difusas e, de sua própria forma, dizendo adeus a casa e

a cidade de Wilson Creek. Com seus pais na Flórida e seu trabalho mantendo-a ocupada

em Portland, não havia necessidade de uma casa de férias que raramente era usada.

A casa dos Helton foi a melhor do município, grande e um pouco extravagante

— para a área — tinha dois andares nas montanhas e ficava nos arredores da cidade. Por

muitos anos todas as importantes reuniões do local e partidos políticos foram feitas lá, o

que Lolly achou ligeiramente irônico, porque era o único membro da família que deixou

o Maine, e não tinha interesse em política e muito menos em festas. Ela superou a

timidez de alguns jovens desajeitados, mas não era do tipo festeira. Preferia muito mais

uma noite em casa, a uma noite na cidade.

Ela não estava ansiosa em se hospedar com os Richards, preferia estar sozinha,

mas iria conseguir superar. Tinha trabalhado para uma companhia de seguros e

aprendeu por necessidade como interagir com as pessoas. Como uma criança e, pior

ainda, uma adolescente, sempre ficava para trás, nunca sabendo exatamente o que dizer

e tendo a certeza de que ninguém queria falar com ela. Ela havia escondido todas as

inseguranças dolorosas atrás de um muro de hostilidade, por isso não era surpreendente

que não tinha nenhum amigo de verdade aqui. Ela não sabia por que continuava a

voltar, mas voltava, pelo menos uma viagem quase todos os anos. Ela desejava poder se

dar ao luxo de viver aqui, na casa onde cresceu, mas Wilson Creek simplesmente não

tinha muitas possibilidades em termos de emprego, e não tinha dinheiro para abrir seu

próprio negócio.

No pára-brisa os limpadores assobiaram de um lado para o outro, limpando a

chuva e a luminosidade que não variaram de intensidade durante todo o dia. Havia algo

inquietante sobre a implacabilidade absoluta e imutável da chuva, como se a leveza do

ato mostrasse que a Mãe Natureza não precisava fazer uma declaração dramática para

esmagar a civilização como um bicho. Bastava uma chuva, não muito mais pesada do

que uma névoa, e um pouco de ar frio na posição correta para causar estragos. Ela sentiu

um arrepio na espinha, mesmo que faltassem algumas horas até o anoitecer, a escuridão

se apofundandava e foi necessário ligar os faróis do carro. Não encontrou qualquer tipo

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de tráfego desde o cruzamento para esta estrada, e que em si era meio assustador. Por

um instante, sentiu o desejo de virar, comprar pijamas e roupa íntima na cidade e correr

para a segurança da casa dos Richards.

Então ela viu a mancha de um veículo atrás dela, longe demais para ver

quaisquer detalhes, mas apenas saber que não estava sozinha na estrada foi o suficiente

para tranquilizar os seus nervos. Gastaria apenas quinze minutos, não mais, para

recolher o que precisava e voltar para a cidade. Estaria segura e protegida bem antes da

chegada da tempestade.

Em poucos minutos saiu da estrada principal e estava cuidadosamente dirigindo

na estreita estrada que acabava do lado da montanha em direção a casa. Ela ainda sabia

cada curva, cada árvore e pedra desta estrada, porque havia dirigido tantas vezes depois

que conseguiu sua carteira de motorista. Mesmo antes disso, sua mãe a levara para a

escola todos os dias e ia buscá-la de tarde, assim durante quase toda sua vida realizava

pelo menos duas viagens por dia, acima e abaixo desta montanha. A estrada não era

nenhuma surpresa para ela, seu maior receio era o tempo que a deixava ansiosa.

Sua certeza de ter comprado o SUV usado há três anos, porque precisava de um

veículo confiável com tração nas quatro rodas, subiu constantemente. A visibilidade

caiu assim como a névoa ficou mais pesada. Ela deu um rápido olhar sobre o indicador

da temperatura exterior e vi que a temperatura era apenas uns graus acima de zero. As

árvores tinham uma fraca camada prateada sobre elas, era o gelo já começando a se

formar?

Então ela virou para a garagem, o longo declive em direção a casa. Não seria —

Casa — por muito tempo, pensou, mas agora ela ainda parecia acolhedora e de algum

modo era o certo. Não importava que a casa estivesse com quase sessenta anos de idade,

tinha se desvanecido um pouco e cedera aqui e ali, mas ainda era grande e sólida,

oferecendo um refúgio quente e seguro em uma noite de inverno. Pena que ela não

podia ficar ali, mas se a neve congelasse, no que seria em poucos dias, poderia levar

semanas para que conseguisse descer a montanha, dependendo também do prejuízo

sofrido na estrada e o número de árvores caídas

Apesar de amar esse lugar, sabia que estava na hora da casa em que havia

crescido se tornar o lar de uma família novamente, assim como tinha sido um lar para

ela. Uma vez que os poucos objetos pessoais restantes fossem empacotados, vendidos

ou armazenados, sua casa de infância iria ao mercado e já não seria dela de qualquer

maneira. Pena que não pudesse ter alguns dias para retornar ao passado, o tempo tinha

outros planos.

Ela não se incomodou em estacionar o carro na garagem individual, só parou

junto ao alpendre dianteiro. Chaves na mão, se apressou a subir os degraus e abriu a

porta da frente. Assim que entrou, deixou cair seu pesado casaco de inverno com capuz

em cima do suporte do corrimão e largou a bolsa no primeiro degrau. Desviou para trás,

agarrou suas botas de neve no closet e as trouxe para juntar-se ao casaco e a bolsa.

Lolly não sabia quando seria capaz de voltar, pensou enquanto subia as escadas.

Havia alguma coisa na geladeira que precisava limpar? Não, ela tinha certeza. Ela tinha

comido barras de granola no café da manhã, sem se incomodar, mesmo com o leite para

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15- GrupoRR

os cereais e na noite que chegou, comeu manteiga de amendoim e sanduíches de geléia

que tinha pego na cidade. Ela sabia como desligar a água na válvula e desligar o gás do

aquecedor de água, além do travamento da porta, era tudo que poderia fazer para que a

casa estivesse pronta para resistir à tempestade que se aproximava.

Estava no meio da escada quando ouviu o barulho de um veículo. Ela parou, e

em seguida, inverteu o seu caminho. Conhecendo as pessoas daqui como conhecia, não

estaria surpresa se alguém tinha ouvido falar da tempestade e sabendo que estava aqui

sem televisão ou telefone, tinha vindo avisá-la. Esta sempre foi o tipo de comunidade

onde os vizinhos cuidavam uns dos outros, e sentiu falta disso quando tinha ido embora.

Ela estava feliz pela companhia e preocupada com a demora.

Cruzando os dedos para que não tivesse qualquer dificuldade em descer a

montanha Lolly abriu a porta da frente. Ela esperava encontrar alguém que conhecesse,

um velho amigo de seus pais ou a coisa mais próxima que tinha de um vizinho e um

sorriso de boas vindas estava em seu rosto. O sorriso congelou quando percebeu que

não conhecia o casal de aparência rude subindo os degraus da varanda, mas a mulher

parecia vagamente familiar. Então lembrou-se de tê-la visto na mercearia mais cedo, a

reconhecendo, ainda que o cabelo escuro pegajoso estivesse parcialmente coberto por

um gorro e um casaco grosso disfarçasse sua magreza.

Várias possibilidades rapidamente cruzaram sua mente. Eles estavam perdidos?

Procurando por abrigo? Talvez eles não estivessem familiarizados com a área e não

soubessem que não seria agradável ficar preso aqui na montanha, se o gelo fosse tão

ruim quanto o previsto.

— Estou só de passagem... — Lolly começou.

O homem logo atrás da mulher de cabelos pegajosos puxou uma arma de fogo

do bolso do casaco. Choque golpeou Lolly como um bofetão no rosto, olhou a arma,

mal compreendendo o que viu, sugou uma respiração rápida e instintivamente recuou. O

homem e a mulher correram, empurrando-a para dentro de modo tão rude que bateu

duramente no suporte do corrimão, cambaleou e só se salvou de uma queda com um

agarrar desesperado na madeira.

O homem empurrou a porta que se fechou atrás deles. A mulher olhou ao redor,

a sala de estar à esquerda, a escadaria em frente e a sala de jantar à direita. Ela sorriu

mostrando os dentes podres e descoloridos. — Veja baby, eu disse que ela estava

sozinha.

Lolly agarrou o suporte do corrimão, literalmente congelada sob o sentimento

inesperado de terror, seu cérebro entorpecido, pensamentos coerentes dispersos antes

deles poderem até mesmo organizar. Ela tateou em busca de compreensão e finalmente,

como uma opção a ser lançada, seu cérebro lentamente começou a funcionar. Invasão de

casa — aqui, em Wilson Creek! Isto estava tão errado, algo assim acontecendo aqui,

que pura indignação abruptamente empurrou o terror de lado e de repente antes que

pudesse pensar já estava em movimento. Ela correu, correu pela sua vida.

O homem gritou: "Filha da puta! Foda-se!" Lolly corria pela sala de jantar,

esquivando-se ao redor da mesa agarrou uma das cadeiras pesadas e a atirou no chão,

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em seguida correu para a cozinha. Ouviu a cadeira bater com estrondo atrás dela, mas

não olhou, não poupou sequer uma fração de segundo virando-se, apenas correu por sua

vida. Se ela ao menos pudesse sair, agarrou a maçaneta da porta no mesmo instante que

uma mão agarrou seu cabelo. Dor percorreu seu couro cabeludo; sua cabeça foi puxada

e seu corpo foi enviado em movimento giratório longe da porta. Seus pés perderam o

contato com o solo e ela caiu no chão, a mão do homem cruelmente apertada em seus

cabelos. Ele a empurrou para baixo e ela bateu no frio e duro chão de linóleo, seu rosto

em primeiro lugar.

Lolly gritou, em seguida prendeu a respiração e a segurou. Ela agarrou seus

cabelos, tentando afastar as mãos do seu assaltante. O peso repentino de seu corpo no

dela estava pesado e quente. Ele a apertou no chão, forçando a respiração para fora de

forma que ela não conseguia inalar o ar.

— Agora você conseguiu me deixar excitado. — ele sussurrou em seu ouvido.

Sua respiração era quente e fétida, uma barba áspera arranhou seu rosto. Ela virou a

cabeça longe do mau cheiro e aspereza, mas não podia ir longe. Seus dedos raspando no

linóleo, tentando encontrar vantagem, tentando encontrar algo, qualquer coisa. Não

havia nada. A cozinha estava cheia de armas, mas nenhuma delas estava no chão

Ele começou a puxar a sua calça, tentando puxá-la para baixo.

Maldição, não! Ela entrou em pânico e raiva percorria seu corpo, lutou

instintivamente, atirando os cotovelos para trás o máximo possível tentando acertá-lo.

Girava, empinava e se contorcia, tentando tirá-lo de cima dela, mas ele era muito pesado

e ela estava em uma situação de desamparo, de bruços no chão.

Ele não podia possuí-la com ela ainda vestida com o jeans. Ele enfiou a mão por

debaixo dela e se atrapalhou com o botão e zíper, grunhindo como um animal. Lolly

pressionou seus quadris mais duros no chão, tentando esmagar a mão para que não

pudesse puxar o zíper para baixo, mas ele virou sua cabeça para cima e bateu no chão

novamente, fazendo com que manchas brancas surgissem em sua visão. Atordoada com

a dor, ela ficou mole por um segundo e ele enfiou a sua mão áspera dentro de sua calça

jeans.

Ela iria morrer. Ele iria estuprá-la e matá-la. Seus últimos minutos viva seriam

cheios de terror inimaginável.

Lágrimas encheram os olhos dela e gritou. O som era áspero e cru, como um

animal, o barulho rasgando sua garganta. Ela não queria morrer, não queria que a sua

última lembrança feita nesta casa fosse um pesadelo. Ela gritou novamente e

novamente, incapaz de parar a si mesma.

Ele se mexeu para cima, levantando o corpo dela. Ela engoliu uma respiração

profunda e tentou reunir a sua força, então, ele a puxou e começou a arrancar de novo

sua calça jeans.

— Não faça. — disse ela, soluçando. — Por favor. Por favor, não faça. — Ela

odiava mendigar, mas não conseguia parar a si mesma, e o que importava o orgulho de

qualquer maneira? Ela faria qualquer coisa para fazê-lo parar. Desesperada, procurou

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por um pouco de razão que ela podia dar a ele, algo que fosse tentador. — Eu posso

pagar-lhe. Posso dar-lhe todo o dinheiro que eu tenho.

Ele não pareceu ouvi-la absolutamente.

A cozinha estava escura, apenas com a luz escassa da janela iluminando o

ambiente, mas ela podia ver que ele era quase tão magro quanto à mulher, a maioria de

seus dentes eram escuros e podres, e seus olhos... Eles eram estranhamente abertos e

selvagens, brilhantes com algo que era desumano.

Drogas. Ele tinha que estar se drogando, ambos se drogavam. Não haveria

qualquer argumentação com ele, então ela parou de tentar. Ele continuou empurrando a

roupa dela e ela chutou, gritou, agarrando em qualquer pedaço de pele que pudesse

chegar, mas o casaco era pesado e o protegeu de suas unhas, então foi para seu rosto.

Ele não conseguiria segurar as duas mãos e despi-la ao mesmo tempo, então ela socou e

arranhou-o com toda a força que tinha, mas os golpes pareciam não afetá-lo.

Ele puxou sua calça jeans até a metade e recuou para abrir sua própria calça.

Rindo, ele colocou uma mão em torno de sua garganta e inclinou seu peso sobre ela. Ela

não conseguia respirar, não podia alcançá-lo... A sua visão ficou cinzenta e não

conseguia ver nada, exceto o rosto sorridente acima dela. A visão do túnel, ela pensou

vagamente, e sabia que estava prestes a desmaiar. Se desmaiasse, ela estaria totalmente

indefesa e seu rosto maníaco com os dentes podres seria a última coisa que veria.

Desesperada, à beira da inconsciência, ela tentou empurrar seu joelho para cima.

Ele se mexeu e bloqueou o movimento rindo.

— Darwin, seu filho da puta! — a mulher gritou em tom de briga.

A luz veio em cima, as luzes brilhando direto nos olhos de Lolly e cegando-a. O

peso em sua garganta aliviou e ela tossiu, sugando o ar. Darwin estava muito quieto. —

Eu estava apenas me divertindo um pouco. — disse ele aborrecido.

A mulher com o cabelo pegajoso estava sobre eles dois e com a visão turva

Lolly a olhou. Não havia nenhuma simpatia no rosto da mulher, nenhum tipo de

empatia de mulher para mulher, nada além de fúria.

— Levante-se.

Ela tinha uma arma de fogo também e a apontou para a cabeça de Darwin.

— Agora, Niki. — ele começou apaziguando-a tardiamente, quando percebeu

para onde a pistola estava apontada. — Bebê, eu....

— Não me chame de „bebê ', seu filho da puta infiel.

Darwin mudou o olhar de Niki de volta para Lolly. Ela viu que o animal em seus

olhos, pesando suas opções. Ele sorriu e forçou as coxas de Lolly, abrindo-as ainda

mais.

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Niki balançou sua pistola e atingiu Darwin no lado da cabeça. Ele gritou e

finalmente... Enfim... Afastou-se de Lolly.

— Foda-se, Niki, você poderia ter me matado! — , gritou, inclinando-se para

puxar para cima as calças de onde pendiam sobre a sua bunda magra. — Você é uma

porra louca. — Ele pegou um pano de prato e o apertou contra o sangramento em sua

cabeça.

Lolly lutou para puxar sua calça para cima, fugindo através do chão em direção a

porta traseira e da liberdade glacial. Talvez estes dois sacos de merda fossem matar uns

aos outros. Ela estava vagamente chocada com a violência de seus próprios

pensamentos, mas se pudesse fugir, não se importava com o que lhes acontecia.

O olhar de Niki vagava entre Darwin a Lolly e apontou a pistola para ela.

— Onde diabos você pensa que está indo? — Cuspiu, depois olhou para algo

em sua mão. Lolly congelou piscando. — Lorelei Helton. Portland. — Niki disse e

Lolly percebeu era sua própria licença de motorista. Niki aparentemente revirou a sua

bolsa enquanto Darwin tinha tentado estuprá-la. — Que raio de nome é Lorelei? Parece

uma prostituta. — Lolly não se incomodou em argumentar, apenas balançou a cabeça

em concordância.

— Levante-se. — Niki disse. Lolly obedeceu, usando o movimento para dar

mais um passo para trás, em direção à porta. Ela poderia escapar de ambos e uma bala?

Eles estavam drogados, estavam viajando agora... Seus olhos estavam arregalados, as

pupilas reduzidas até pequenos pontos. Como poderiam pensar claramente?

Com suficiente clareza. Darwin disse de repente: — Whoa lá, puta, — E

avançou pela cozinha para colocar-se entre ela e a porta traseira. Ele a empurrou para

frente.

Niki sacudiu a cabeça e enfiou a carteira de motorista no bolso de sua calça jeans

folgada.

— Para uma mulher dirigindo uma Mercedes, você não tem muito dinheiro

guardado. — ela rosnou. — Onde está o resto? — Lolly tentou pensar, raciocinar. Seu

coração batia forte, tremia dos pés à cabeça e náuseas incomodavam seu estômago, mas

ainda podia pensar. Agora, seu cérebro era a única arma que tinha.

— No banco. Nós podemos ir para a cidade e eu vou dar tudo para você, eu juro

que vou, só... Não me mate. — Ela lançou um olhar para Darwin. — E não o deixe

chegar perto de mim. — Se pudesse realmente chegar à cidade com esses drogados, ela

encontraria um jeito de fugir... Para obter ajuda.

— Eles seriam fechados agora, certo? — Niki perguntou, olhando para o brilho

da última luz que passava pelas janelas.

Meu Deus, ela não podia passar a noite na casa com os dois. Seu estômago

embrulhou e mal controlava a vontade de vomitar.

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— Sim, mas eu conheço o gerente de banco. — Lolly mentiu. Não tinha idéia

de quem era o gerente agora, e ela nunca depositou nada aqui de qualquer maneira. A

primeira e única conta que tinha foi aberta em Portland. Será que eles perceberiam que,

se ela vivia em Portland, era pouco provável ter uma conta aqui? Desesperadamente,

tentou argumentar. — Ele vai abrir para mim. Podemos sair agora.

Niki considerou com a cabeça inclinada para o lado e seu olhar demasiado largo

fixo selvagelmente em Lolly, mas depois de alguns segundos balançou a cabeça. —

Não, ele iria ficar desconfiado se você fizer isso. Vamos esperar até de manhã.

O coração de Lolly balançou, assim como seu estômago. Sentiu as batidas

martelando forte dentro do peito. O gelo estava vindo e pela manhã não haveria forma

de descer a montanha. A estrada seria uma folha de gelo e ficaria presa aqui com esses

dois. Ela ouviu o que parecia ser a chuva congelada bater nas janelas da cozinha, talvez

já fosse tarde demais.

Niki fez um gesto com a arma de fogo, acenando para Lolly ir em frente. Lolly

seguiu a direção em silêncio, passando pela mulher com a arma mais perto do que

gostaria, saindo da cozinha e andando pela sala de jantar com Niki diretamente atrás.

Quando chegaram à sala, Lolly viu o conteúdo de sua bolsa espalhado pelo sofá e no

chão. Seu chaveiro com a chave da Mercedes, assim como a chave desta casa e uma

para a porta de seu apartamento, estava descansando entre duas almofadas. Se ela

pudesse chegar à Mercedes, ela tentaria dirigir na estrada cheia de gelo. Mesmo que

deslizasse para fora da montanha, era melhor do que estar presa com esses dois. Ela

precisava daquelas chaves...

Niki deu um empurrão em Lolly em direção à escada. — Vá em frente. — disse,

espetando o barril da pistola dura na coluna de Lolly. Lolly subiu as escadas, os joelhos

tremendo tanto que meio que esperava cair a qualquer momento. Niki a levou para o

quarto mais próximo ao topo da escada. — Alguma arma de fogo na casa? — Niki

perguntou bruscamente quando acendeu as luzes e olhou em torno do quarto limpo,

escassamente mobilhado. — E não minta, porque se você falar que não e nós achamos

alguma, eu irei atirar diretamente no seu rosto. Entendeu isto?

— Não, nenhuma arma de fogo., — Lolly disse, sua voz tremendo tanto que as

palavras mal eram compreensíveis.

Niki abriu todas as gavetas, passando rapidamente o olhar no conteúdo do

armário e ficou satisfeita. Não havia muito aqui, então, pesquisar não era exatamente

uma tarefa. Existia somente a roupa íntima de Lolly na gaveta superior, alguns pijamas,

e quatro peças de roupa limpa.

Niki olhou pela janela escura calculando a distância de dois andares, entre a

janela e o chão, e sorriu com alguma satisfação. Lolly olhou também, mas na janela. Era

uma película de gelo que já se formava no vidro?

Niki atravessou o quarto e Lolly saiu do seu caminho. — Eu estarei observando

a porta do andar de baixo. — ela rosnou. — Se abrir até mesmo um pouquinho, eu vou

enviar Darwin até aqui para lidar com você. — Ela olhou para a maçaneta de forma

simples com um frágil clique para trancá-la, e sorriu. — E não pense que aquela

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fechadura frágil vai fazer algum bem, quando temos essas chaves. — Ela indicou a

pistola na mão e mirou na fechadura, fazendo um barulho de tiro, então sorriu.

A visão daqueles dentes podres fez Lolly tremer, mas de repente algo que tinha

ouvido ou lido, surgiu em seu cérebro, e percebeu que esses dois eram suscetíveis de:

Metanfetamina — outro tipo de gelo, e da mesma maneira mortal.

Capítulo Três

Atordoada, Lolly ouviu os passos de Niki descendo as escadas. Vozes vinham da

sala, com raiva no início e depois mais suave. Darwin riu. O som enviou um tremor

involuntário através de seu corpo, que parecia ser o sinal de que agora seu cérebro

permitiria que seu corpo sentisse novamente, porque de repente sentiu uma enorme dor

de cabeça até aos pés.

Ela começou a tremer. Seu ombro e a lateral de seu corpo foram machucados ao

ser empurrada no suporte do corrimão, seu couro cabeludo doía por seu cabelo ter sido

puxado violentamente e seu rosto e um lado da cabeça latejavam por terem batido no

linóleo. Seu coração batia com tanta força que pensou que poderia estar doente, sentia-

se suada e gelada ao mesmo tempo.

Choque, ela pensou, pouco antes dos joelhos balançarem e desmoronar ao lado

da cama. Isso não ajudou muito, sua visão balançou, como se o mundo estivesse girando

mais, e tombou para um lado. Ela ficou lá ofegante, tentando controlar sua respiração,

mas o som cru e áspero de seus suspiros encheram o quarto silencioso.

Sabendo que aquilo estava errado não a fazia se sentir melhor. Se Darwin tivesse

passado pela porta direita, ela teria estado completamente indefesa.

Querido Deus. O que ela deveria fazer? O que ela poderia fazer?

Não sabia o que podia fazer, mas uma coisa sabia: preferia morrer a deixar

Darwin tocá-la novamente.

O pensamento a levou a uma posição sentada, e apesar de sua cabeça flutuar, se

forçou a ficar ereta. Havia uma grande probabilidade de que morresse de qualquer jeito,

mas não iria se amontoar, choramingando, esperando por eles para fazer o que

quisessem com ela. Preferia congelar até a morte na tempestade de gelo do que apenas

sentar aqui como uma idiota impotente.

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Uma coisa que ela não iria fazer era tornar as coisas fáceis para eles. Movendo-

se tão cautelosamente como pôde, tanto por ainda estar tonta e por não querer que eles a

ouvissem se movendo, caminhou para a porta e girou a fechadura. Niki estava certa: a

fechadura era muito insubstancial para detê-los por muito tempo, mas pelo menos teria

um momento de advertência antes deles entrararem no quarto.

Com alguma sorte, ela não estaria aqui quando decidissem retornar, porque

prefiriria testar a sua sorte com o gelo do que com eles. Ela respirou fundo, querendo

que a cabeça parasse de girar e foi à janela para olhar para fora. Sim, definitivamente

havia gelo na janela e muito pouca luz, trazendo um crepúsculo prematuro. Ela não

tinha muito tempo porque as condições iriam só piorar.

O chão abaixo parecia tão longe que seus instintos gritavam que ela iria se matar

caso pulasse, mas não tinha a intenção de saltar. Era uma queda em linha reta de sua

janela para o chão, sem teto ou beiral para ajudá-la, mas havia lençóis e um par de

cobertores finos na cama. O edredom provavelmente era muito grosso e volumoso para

ser útil, mas se amarrasse o lençol da cama ao lençol em cima do cobertor e, em

seguida, fizesse uma corda improvisada, ela seria capaz de chegar perto o suficiente

para cair no chão com segurança.

Rapidamente rasgou todas as capas da cama e começou a amarrar uma corda

improvisada. Os lençóis foram mais fáceis, porque eram mais finos. Ela atou o primeiro

lençol ao pé da cama, puxando duro para assegurar que o nó aguentasse seu peso, ela

nunca foi uma escoteira, não era um marinheiro, não sabia nada sobre nós, além de

amarrar seus sapatos. Só esperava que um velho nó regular fosse o suficiente.

Depois foram os lençóis dos dois cobertores de lã fina. Adoraria ter um dos

cobertores para se agasalhar em sua fuga, mas precisava de ambos para o comprimento

do nó chegar ao chão, uma vez que a distância entre a janela e o chão talvez fosse de

dez metros. Sempre amou o espaço da casa, mas agora ele estava trabalhando contra ela.

Não podia se mover na cama, não sem chamar mais atenção do que queria. Tinha que

sair, e tinha de fazê-lo em silêncio.

Quando essa tarefa foi concluída, ela se forçou a sentar calmamente por um

minuto, para dar tempo de diminuir a velocidade do coração. Estava suando um pouco,

o que não era bom. Uma das primeiras regras de sobrevivência no frio era não abusar de

si mesmo, porque a transpiração iria congelar no corpo e causar hipotermia ainda mais

rápido.

Então ela balançou a cabeça. Maldição, estava chovendo. Iria ficar molhada de

qualquer maneira. Como um pouco de suor poderia piorar as coisas? Ela ainda estava

um pouco chocada, machucada, mas agindo. Só precisava agir um pouco mais rápido,

porque a qualquer momento eles poderiam vir até as escadas para ver como ela estava.

Ela pegou cada peça de roupa disponível fora do armário e da cômoda, atirando-

as para a cama. Antes de sair pela janela, ela precisava colocar tantas roupas quanto

possível. Seu grande casaco resistente e as botas estavam no andar debaixo, assim sua

única chance de sobreviver à chuva fria e ao gelo seco era mantendo seu corpo quente o

maior tempo possível, e isso significava roupas... Um monte delas.

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Rapidamente ela tirou seus sapatos, em seguida, tirou seu jeans, o moletom e

começou a colocar as roupas mais finas. Ela pegou um par de ceroulas e colocou em

primeiro lugar, em seguida, começou a puxar as T-shirts, a mais fina em primeiro lugar,

as mais soltas depois. Uma camisa de flanela que usava quando descansava colocou de

lado para amarrar na cabeça. Antes de colocar o velho par de jogging3, assim como a

blusa que estava usando que seriam bastante volumosos, ela parou e puxou o máximo

de meias que coubessem em seus pés.

Seus sapatos não eram impermeáveis, seus pés ficariam molhados, sem jeito. A

única pergunta que gostaria de saber, era se seria capaz de descer a montanha antes da

hipotermia matá-la. Se ela conseguisse isso, então depois iria se preocupar em perder

seus pés por ulceração.

Então uma idéia lhe ocorreu, e tão silenciosamente quanto possível, tirou a mala

para fora do armário. Ela trouxe um pote de vaselina que usava para remover o rímel.

Não se preocupou com qualquer maquiagem desde que chegou aqui, então não tinha

sequer tirado a vaselina para fora da mala. Graças a Deus que não tivesse feito isso, ou o

pote estaria agora no banheiro do corredor com seus outros artigos de toalete.

Vaselina era impermeável, não era? Era pelo menos, resistente à água e poderia

ser eficaz. O frio não ficaria fora, mas todo pequeno detalhe que a mantivesse quente

era útil.

Ela tirou suas meias e revestiu os pés com a vaselina, em especial os dedos, em

seguida colocou as meias novamente e outro par em cima desse. Dois pares de meias foi

tudo que ela conseguiu colocar e ainda calçar os sapatos, de modo que teria que servir.

Imediatamente colocou a sua calça jeans e um par de moletons velho. Uma vez

que vestiu as calças, ela espalhou o restante da vaselina sobre o couro do sapato. Isso

era o tão impermeável quanto poderia fazer pelos seus pés, talvez, apenas talvez, as

múltiplas camadas de rupas fizessem o restante. Depois de puxar as duas camisas de

moletons, sentia-se como o boneco da Michelin4, mas ela estava tão pronta como

poderia conseguir.

Lolly andou nas pontas dos pés até a porta, apertando sua orelha à madeira,

prendendo a respiração enquanto ouvia. Os intrusos pareciam estar bem ao pé da

escada, mas depois de viver anos nesta casa ela sabia quando o som vinha tanto da sala

de visitas de um lado como da sala de jantar do outro, quando era jovem ela muitas

vezes ouviu as festas no andar de baixo.

O argumento de Darwin sobre o ataque não durou muito tempo. As vozes eram

mais baixas agora e o ataque ocasional de risos enviou calafrios na espinha de Lolly.

Não pensou nem mesmo por um minuto, que sobreviveria até de manhã. Agora Niki

planejava levá-la ao banco no outro dia para uma retirada grande, mas esse plano não

iria durar. Um deles iria se deixar levar por seus sentidos e perceberia que não estava

3 Jogging seria aquele conjunto tipicamente norte americano de correr no frio: calça comprida e casaco

com capuz.

4 Para quem não se lembra, o boneco da Michelin é aquele cujo corpo é feito de pneus automotivos.

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funcionando, ou eles perceberiam que estavam fritos. Um deles se deixaria levar, e

Lolly acabaria morta muito antes do amanhecer.

As vozes e risos pararam. Ela forçou seus ouvidos e depois de um momento ela

ouviu alguns grunhidos e gemidos ocasionais. Seu estômago se rebelou, mas graças a

Deus que eles estavam ocupados. Agora seria a melhor hora para a sua fuga.

Ela deu uma rápida olhada em volta da sala para ver se havia mais alguma coisa

que poderia usar. Apenas as fronhas foram deixadas, mas qualquer cobertura era melhor

do que nada, então as tirou dos travesseiros e as amarrou sobre sua cabeça. Assim como

sua camisa do pijama e por cima amarrou a camisa de flanela restante, estava tão pronta

como poderia se arranjar.

Segurando a corda improvisada mais uma vez ela puxou o nó fixo na cama.

Andando para trás para a janela, testou os outros nós também. Eles pareciam bastante

sólidos, teriam que servir.

Era agora ou nunca. Abriu a janela e puxou para cima a alça. Nada aconteceu.

Ela puxou mais uma vez, colocando mais força para isso. Ainda nada. O âmago

espalhou fora de seu estômago. A maldita janela estava presa, e se não pudesse de

alguma maneira abri-la, então ela estaria presa também. Desesperadamente, segurou a

alça com as duas mãos, dobrando os joelhos e colocando seus músculos da perna no

esforço conjunto, soou um ruído ensurdecedor da janela quando moveu uma escassa

polegada antes de parar novamente.

Ela inclinou a cabeça contra o frio vidro, apenas vagamente percebendo o quão

boa era a sensação dele contra a testa. Ela poderia fazer isso. Ela tinha que fazer isso. Se

necessário, iria quebrar o vidro mesmo que o barulho pudesse ser ouvido. De uma

forma ou de outra, estava saindo da casa.

Algo se moveu contra a lateral da casa logo abaixo da janela, e ela quase pulou.

Ela não sabia a altura que o som da janela abrindo tinha feito, mas será que Niki e

Darwin ouviram e foram investigar? Ela virou a cabeça para olhar para a porta, tentando

ouvir se eles estavam subindo a escada, mas estava longe da porta, não conseguia ouvir

nada. Frenética, quase chorando, ela agarrou o puxador da janela e começou a puxar

violentamente.

A cabeça de um homem apareceu de repente do outro lado da janela. Um grito

quase escapou e ela engasgou, colocando a mão sobre sua boca. Olhou fixamente, tão

assustada que mal conseguia se mover e de repente o reconheceu. Seu coração pulou e

os joelhos quase curvaram. O alívio que passou através dela era tão quente quanto o sol,

ela ansiava este momento.

Gabriel McQueen.

GELO - LINDA HOWARD

24- GrupoRR

Capítulo Quatro

Quando Gabriel alcançou o desvio para sair da estrada principal, a combinação

de chuva e nuvens baixas havia se aprofundado a ponto de precisar dos faróis acesos

para ver. O vento tinha aumentado também, balançando as árvores e assobiando ao

redor da caminhonete. O vento era ruim, faria com que os galhos e as árvores descesem

muito mais rápido.

Seria muito melhor ter ficado com Sam, mas nunca pensou em se virar e

simplesmente dizer ao seu pai que não tinha sido capaz de subir a montanha. Desistir

não estava em seu DNA, ele iria buscar Lolly e tirá-la daquela montanha mesmo que

tivesse que a arrastar pelos cabelos, o que provavelmente não era o que seu pai tinha em

mente quando o enviou nesta missão, entretanto, o xerife não conheceu Lolly da

maneira que Gabriel a conheceu.

Ela sempre foi uma criança mimada, nariz empinado, convencida de que era

melhor que todo mundo. Algumas crianças a estiveram provocando, Lolly não era um

deles. Hostilidade tinha rolado fora dela, em ondas. Depois ela olhou para ele com total

desprezo e disse: — Verme! — Ele escondeu a sua reação, mas por dentro estava

furioso por ter sido chamado de verme. Ele era filho do xerife, popular e atlético, era

convidado para todos os lugares, e ela pensou que ele era um verme? Quem diabos ela

achava que era? Oh, bem, ela era uma Helton e não se associava com pessoas como ele.

Ela decidiu se separar de todos os outros, não fazer parte de nenhum grupo,

nunca em qualquer tipo de festa.

Olhando para trás, agora Gabriel perguntou se ela já fora convidada para alguma

das festas. Provavelmente, mas apenas porque era filha do prefeito. Nenhuma das

crianças gostava dela e não a teriam convidado de bom grado para qualquer lugar. Ele

não sabia se isso a incomodou. A única atividade escolar que ela tinha se envolvido era

manter o nariz enterrado em um livro.

Ele perguntou se ela era ainda assim: diferente e só. Seus próprios pais pareciam

com ela o suficiente. Será que seu pai teria se incomodado em lhe enviar nesta

incumbência se tivesse sido qualquer outra pessoa diferente de Lolly Helton, que estava

fora do alcance de um abrigo seguro e possivelmente inconsciente do que iria

acontecer? Harlan McQueen havia sido amigo de longa data dos Heltons e isso não

mudou apenas porque os Heltons haviam se mudado para a Flórida.

Encontrar-se com ela novamente depois de todos esses anos deveria ser

interessante. Só esperava que ela não lhe desse nenhuma dor de cabeça sobre voltar para

a cidade com ele.

Um novo boletim do tempo veio do rádio e aumentou o volume para ouvir,

evidentemente, parecia que a tempestade estava vindo pior e mais rápido do que o

GELO - LINDA HOWARD

25- GrupoRR

esperado. Ele abrandou, olhando para as árvores, verificando a formação de gelo.

Certamente Lolly iria ter a sabedoria de descer a montanha antes de ficar presa aqui

possivelmente por semanas, sem eletricidade. A menos que ela tenha se provido de

muitos mantimentos, estaria sem os alimentos também. Se o gelo revestisse as árvores

em uma grossa camada, alguns deles desceriam bloqueando a estrada. Esta estrada não

seria de alta prioridade para o município, porque a casa Helton era a única localizada

nessa parte da montanha. Antigamente haviam duas outras casas, mas uma delas tinha

queimado anos atrás, e a outra tinha sido tão negligenciada que o município a condenou

e derrubou.

De uma forma ou outra, ele não queria perder nem um minuto a mais nessa

tarefa. Estava indo fazer o que tinha sido mandado, então, tiraria o seu traseiro fora da

montanha enquanto pudesse. Poderia ter estado afastado de Sam, mas agora com o

garoto tão perto, estar longe dele era quase uma dor física.

A estrada tinha uma curva acentuada, para cima em um grau acentuado. Seus

pneus derraparam no asfalto e ele tirou o pé do acelerador, deixando a caminhonete

arrastar-se lentamente. Era a estrada já coberta de gelo ou ele tinha simplesmente

derrapado por causa da inclinação do pavimento molhado? Seus pneus de neve não

eram nada úteis sobre o gelo, nada seria, exceto as amarras, mas mesmo aqui no Maine

muitas pessoas não tinham correntes. Se o tempo estava tão ruim, a coisa inteligente a

fazer era estacionar e esperar, não sair para um passeio de domingo.

Maldição, porque ela não podia morar em uma casa que fosse mais acessível?

Esta maldita estrada não era muito mais ampla que sua caminhonete e as árvores da

calçada balançavam de forma que o fez ficar desconfiado quando as olhou. Não só elas

seriam mortais se o gelo começasse a cair, mas fariam o caminho mais escuro,

bloqueando a luz remanescente.

O indicador da temperatura em sua caminhonete disse que a temperatura exterior

era próxima de zero graus agora. Grande. Apenas excelente, caralho. Mesmo enquanto

ele olhava, a leitura digital mudou a zero. Conforme subia ainda mais na estrada, a

temperatura foi caindo como uma pedra. Isso era gelo na estrada, tudo bem. Ele

diminuiu ainda mais, deixando o peso da caminhonete fornecer a tração que podia.

Virar nem sequer era uma opção, a sua caminhonete era muito grande e a estrada

muito estreita, o lado esquerdo era nada além de um acentuado declive. O primeiro

lugar onde seria capaz de fazer uma curva era na casa de Lolly. Ele estava tão preso

como um rato em uma ratoeira, sem nenhuma maneira de sair.

Sua frustração e temperamento aumentaram em poucos instantes. Se fosse até lá

e ninguém estivesse na casa, se Lolly havia deixado a cidade naquela tarde e o xerife

não percebeu isso, Gabriel iria ficar realmente chateado. Não poderia ficar bravo com

seu pai, mas Lolly era outra questão. Ele poderia até mesmo caçá-la para dizer que era

uma desmiolada sem coração.

A chance era encontrá-la exatamente onde ela deveria estar, no entanto, tão fria e

distante como sempre, surpresa por ele aparecer em sua porta no meio de uma

tempestade de gelo do caralho, quando poderia estar sentado em casa com seu filho.

Inferno, ele estava arriscando sua vida para chegar a ela, o que o fez ainda mais furioso,

GELO - LINDA HOWARD

26- GrupoRR

porque tinha que ficar vivo para Sam, seu menino já havia perdido sua mãe e um

período de quatro anos era pouco para se recuperar. Graças a Deus, eles tinham um ao

outro quando Mariane morreu, não poderia imaginar como teria passado por aquilo sem

Sam. O que Sam faria se algo acontecesse a ele agora? Gabriel não podia sequer

imaginar.

A caminhonete moveu lentamente pela estrada montanhosa, mas ele podia sentir

os pneus girando, sentiu o carro deslizar para a direita quando a superfície tornou-se

mais lisa. Quanto mais alto chegasse, pior seria.

Esse pensamento tinha acabado de se formar quando fez uma curva à direita e de

repente o carro começou a deslizar para a direita. Agora não era apenas os pneus

derrapando, a caminhonete inteira mudou de lado, a terraplanagem na estrada levando-o

para o interior da curva. Assim, quando seus pneus do lado direto começaram a sair da

estrada, fazendo bater seu ombro na lateral do carro, o empurrando cada vez mais rápido

em direção a borda externa, onde não havia nada além de uma longa queda.

Gabriel empurrou o câmbio na posição neutra fazendo os pneus pararem de

agarrar e deixou a caminhonete deslizar de volta para o interior. Ele não tinha nenhuma

tração, então frear não era uma opção, em vez disso, trabalhou com o movimento da

caminhonete e dirigiu para longe da borda, em direção ao lado da montanha. Com a

batida, o pneu dianteiro direito cruzou a vala rasa que decorreu ao longo do interior da

estrada e seu pára-choques bateu na terra macia do banco, levando-o a parar.

Blasfemou um palavrão e olhou através do pára-brisa gelado a estrada a sua

frente.

De forma alguma sua caminhonete conseguiria percorrer a montanha, e de jeito

nenhum ele iria tentar. A chuva ainda caía suave e perversamente, era forte o suficiente

para abrandar um pouco o gelo, o que pelo menos, reduziria a quantidade de gelo que

poderia formar-se nas árvores. Não, esta era a pior chuva possível, um processo lento,

uma chuva leve que o ar frio congelaria antes que pudesse deslizar as folhas e ramos e

já tinha feito o caminho impossível de dirigir. Com um sentimento de pesar, olhou por

cima do ombro a estrada atrás de si, lembrando alguns dos morros e curvas que havia

percorrido.

Porra, caralho e filho da puta! Se tivesse chegado à cidade uma hora antes, teria

sido capaz de ter ido a casa e Helton e retornado sem nenhum problema. Se chegasse

uma hora depois, o caminho já seria intrafegável para chegar tão longe. Ao contrário,

chegou na hora certa para conseguir ficar com seu traseiro preso pouco acima do meio

da montanha.

Merda. Ele teria que caminhar o resto do caminho.

Trocou o boné impermeável por um gorro que tapasse as orelhas, lutou para

colocar o poncho com capuz que sua mãe lhe dera e colocou as luvas. Suas botas eram

impermeáveis e quentes, por isso, pelo menos, ele estava bem vestido para o clima.

Pegou a lanterna e saiu do carro, batendo a porta com ímpeto, ainda

blasfemando. Ele usou todas os palavrões e as variações que havia aprendido durante

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27- GrupoRR

seus anos no exército, o que era muito. Porque não? Ninguém podia ouvi-lo, porque

todo mundo que conhecia estava dentro de casa, preparando-se para a tempestade. Não

ele. Não, tinha que estar na maldita tempestade, brincando de pique-pega5.

Ele abaixou a cabeça, puxando o gorro pra baixo para proteger seus ouvidos e

reforçou o cordão do capuz do poncho assim o vento não sopraria para trás. A última

coisa que ele precisaria era sua cabeça ficar molhada. Passando para o lado da estrada,

onde o estreitamento lhe dava uma melhor superfície para andar do que a estrada lisa,

ele se arrastava para frente, percebendo de mal gosto que iria ter que passar a noite na

casa dos Helton . De jeito nenhum iria descer a montanha agora, não a menos que ele

decidisse ir a pé — e caminhar de volta para a cidade em uma tempestade de gelo seria

suicida. Depois que a chuva parasse, andar seria mais viável. Passar a noite com Lolly

Helton, que provavelmente seria cegamente ingrata, era a melhor opção. Mesmo assim,

só o pensamento de ficar longe de Sam o fez inclinar a cabeça.

A pé, mesmo no ressalto, era mais precário do que ele pensava. Inferno, como

poderia subir a montanha sem ir para fora da estrada? Várias vezes, quando seus pés

escorregaram teve que pegar um dos galhos das árvores para se manter em pé. Uma

sensação de mau agouro passou por seu corpo quando jogou o feixe de luz ao longo dos

ramos e viu a camada de gelo que já se acumulava.

Afinal, ele chegou ao topo do morro. O cruzamento da estrada, então algumas

curvas, mas quando olhou para frente viu as luzes da casa dos Helton. Então, ela estava

lá afinal, e não tinha ido embora no início do dia. Não sabia se estava contente por sua

viagem não ter sido em vão ou zangado por ter tido que vir de qualquer jeito. Ambos,

provavelmente. Estava chateado, e pretendia ficar chateado.

Mesmo que pudesse ver as luzes, a casa ainda estava a uns duzentos metros de

distância, localizada à direita em uma clareira que era cercada pelos três lados pela

floresta. Agora que estava quase no topo, percebeu o quanto a própria montanha estava

protegendo-o da explosão do vento gelado, porque o martelou com tanta força que ele

quase cambaleou para trás. Em seguida, cedeu antes de outra rajada bater nele. Apesar

de suas camadas de roupa e o poncho que o mantinha seco, o vento filtrou através deles

e estremeceu.

Ele deixou as duas garrafas térmicas na caminhonete. Grande. Daria tudo por

uma xícara com bastante café, maldição, mas nada faria que voltasse para pegar as

garrafas. Limpou os cristais de gelo do rosto. Talvez Lollipop tivesse café. Se ela o

fizesse, provavelmente seria alguma merda com sabor, mas se fosse quente beberia.

Isso presumindo que ela iria deixá-lo entrar.

Quando Gabriel se aproximou da casa controlou sua raiva um pouco. Muitos

anos se passaram desde que Lolly foi a adolescente mimada e metida que ele se

lembrava. Ele não era a mesmo, e ela provavelmente não seria também. Não era culpa

dela que o delegado fosse um maníaco por controle, que se importava com todos da

5 No original é “....playing Dudley Fucking Do-Right”.

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28- GrupoRR

cidade. A maioria dos homens da lei pensaria que seus eleitores pudessem cuidar de si

próprios, até ser informado de outra forma. Não Harlan McQueen.

Todas as luzes do andar de baixo pareciam estar ligadas, assim como uma luz

em cima do lado direito. Havia um SUV Mercedes estacionado ao lado da varanda e

atrás estava uma velha e surrada Blazer. Ele podia ver Lolly dirigindo a Mercedes, mas

a quem, diabos, pertenceria a Blazer?

Merda, talvez ela tivesse em algum tipo de encontro romântico. O que ele

deveria fazer agora? Ela não quereria ser interrompida, e ele com certeza não queria

fazer qualquer interrupção. Sua única outra opção, porém, era a caminhada de volta para

a caminhonete e passar a noite ali, esperando que houvesse gás suficiente no tanque

para manter o carro aquecido a maior parte da noite, assim não iria congelar até a morte,

ao mesmo tempo rezando para que ele — e a caminhonete — não ficassem esmagados

por um galho de árvore caido. Então teve a certeza: Lollipop teria que ficar chateada.

Que merda.

Depois, ele franziu o cenho para os dois veículos. Isso era estranho. Por que a

Mercedes estava estacionada em uma tempestade de gelo quando a garagem estava lá,

na parte de trás da casa? Por que não havia estacionado lá para proteger o seu veículo?

Instintivamente ele desligou sua lanterna.

Antes de pisar nos degraus da varanda, Gabriel deslizou em uma profunda

sombra. Gelo dançava em torno dele, seu rosto salpicado, prendendo-se ao seu casaco,

botas e luvas. Algo não estava certo. Passou um longo tempo na aplicação da lei,

embora a versão militar, e tinha aprendido a ouvir seus instintos. Agora, tudo o que eles

estavam dizendo era para se aproximar com cautela. Talvez não houvesse nada

acontecendo além de algumas trepadas, mas queria ter certeza antes de bater na porta.

No mínimo, seu pai estava errado sobre Lolly estar aqui sozinha.

Permanecendo nas sombras, Gabriel se moveu para o final da varanda e subiu os

degraus. Era um alpendre de madeira velha e pisou com cuidado, mantendo-se na borda

das tábuas onde era menos provável que ocorresse qualquer barulho. Ele não olhou

nenhuma das janelas, mas passou ao redor até que pudesse olhar além das cortinas

parcialmente abertas na sala de estar onde várias luzes estavam acesas, iluminando o

homem e a mulher lá.

Olhou o homem que provavelmente era o dono da caminhonete. Ele estava mal

vestido, magro, de aparência rude, suas roupas fazendo um enorme volume, como se

tivesse perdido muito peso — ou isso, ou elas não eram suas. A mulher, que Gabriel

podia só ver por detrás, era dolorosamente magra. O cabelo escuro e pegajoso caia por

suas costas.

O cabelo de Lolly era castanho, mas será que ela havia perdido alguns quilos e

associou-se com um perdedor? Gabriel inspecionou o resto da sala e seu olhar caiu

sobre a parafernália espalhada na mesa do café. Merda! Ele sabia o que estava olhando,

e seu estomago se apertou. Se aquilo fosse dela, ela começou a usar metanfetamina

também. Não era de se admirar que fosse dolorosamente magra.

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Não era possível. Seu pai teria notado algo assim, saberia se Lolly tinha

começado a usar metanfetamina. A droga estava causando estragos em todo o país e até

mesmo no serviço militar, ele teve que lidar com esse problema. Tornava usuários em

naufrágios físicos, seus dentes apodreciam, assumia o controle de suas vidas e em pouco

tempo a meta os matava.

O homem estendeu a mão para agarrar a mulher onde seu traseiro deveria estar e

ao invés de ficar insultada pelo movimento, ela riu. Gabriel ouviu seu riso demasiado

alto e áspero, quando caiu para trás, longe de seu companheiro. Uma mão apareceu e

viu a pistola que ela levava, era um revólver, um grande, um 357 ou até mesmo um 44.

Adrenalina jorrou em suas veias, intensificando drasticamente sua atenção. Ele não

tinha uma arma consigo, não tinha sequer pensado que precisava vir armado.

A mulher voltou armada e recuou o suficiente para que não fosse capaz de vê-lo

pela janela. Uma onda de alívio o encheu. O magro rosto anguloso não pertencia a

ninguém que conhecia. Poderia ter passado anos desde que viu Lolly, mas ninguém

podia mudar muito, até mesmo sobre efeito da meta. Essa não era Lolly.

Isso não significa que o problema estava resolvido. Eram esses amigos dela?

Lolly Helton tinha mudado de outras formas, talvez não fisicamente, mas no tipo de

pessoa que era? Se ela se tornou uma revendedora e era presa nesta merda, ele iria se

virar e voltar para a caminhonete. O que mais poderia fazer? De alguma forma, ele não

achava que o casal levaria na esportiva ser interrompido. Usuários de meta eram

violentos, imprevisíveis. Eles provavelmente disparariam contra ele no momento que

batesse na porta.

Mas onde estava Lolly? Ele não poderia sair sem ver por si mesmo se ela estava

bem. A Mercedes deixada na tempestade o deixava inquieto. Tinham esse dois

invadido, matado ela? Com os usuários de metanfetamina tudo era possível e nenhum

deles estava bem.

Lembrando a luz refletida no andar de cima, deixou o patamar tão

silenciosamente como pode e caminhou para trás até que pudesse ver as janelas. As

cortinas eram desenhadas acima da janela da frente, então circulou ao lado da casa. Pelo

menos as cortinas daquela janela estavam abertas. Ele teve que se mover para o quintal,

a fim de ver através da janela do segundo andar... E lá estava ela.

Lolly estava se movendo ao redor da sala, passando pela janela de vez em

quando. Seu rosto não era magro e perdido como o casal no andar de baixo, e até

mesmo a partir daqui ele podia ver que ela tinha a intenção de... Algo. Ela puxou uma

camisola, mesmo já estivesse usando algo que parecia estranhamente disforme e

irregular.

Como se tivesse colocado todo tipo de roupa que pôde encontrar.

Como se estivesse se preparando para fugir.

Gabriel respirou fundo, ignorando o frio em seus pulmões e o frio que o cercava.

Merda, seu pai tinha razão. Novamente. Lolly precisava ser resgatada.

GELO - LINDA HOWARD

30- GrupoRR

Olhou em direção à garagem. Talvez pudesse encontrar uma escada lá dentro.

Capítulo Cinco

Toda casa precisava de uma escada, pensou ele, mesmo se a casa fosse usada

apenas algumas vezes por ano. Certamente haveria alguma por perto em algum lugar,

seu pai sempre disse que o Sr. Helton era um homem cuidadoso, e um homem

cuidadoso teria uma escada. O lugar mais lógico que um homem cuidadoso guardasse

uma escada seria a garagem, certo? Cautelosamente abriu a porta lateral da garagem e

ligou a lanterna para que pudesse ver. A garagem era relativamente pequena, construída

em uma época que a maioria das famílias possuía apenas um carro, e quase vazia.

Existiam algumas bugigangas, algumas cadeiras dobráveis de gramado, e — Sim! —

uma escada.

Ele a arrastou para a parte traseira do gramado e seu coração se afundou. Essa

não era uma boa escada. Por um lado, não atingiria a altura até a janela de Lolly. Por

outro lado, era de madeira e velha. Os degraus não estavam em boa forma, dois estavam

quebrados e ele não tinha certeza se qualquer um dos outros aguentaria o seu peso. Mas

Lolly não pesava tanto quando ele, a escada teria que aguentar tempo suficiente para ela

descer. Se não... Então, ele esperava que ela saltasse. Inferno, ele tinha que pegá-la,

pensou amargamente. A forma como a sorte estava funcionando, se não a pegasse, ela

provavelmente iria cair sobre ele e quebrar a perna ou algumas costelas.

Talvez Lolly tivesse alguma outra maneira de descer — alguns lençóis velhos

amarrados em corda, por exemplo. Ela se preparava para fugir, então definitivamente

tinha algo em mente. Talvez a escada não fosse necessária. Ele com certeza não queria,

porque era uma armadilha mortal meio podre.

Mas quando ele estava arrastando a escada da garagem até a casa, olhou para a

janela novamente e viu Lolly puxando a armação da janela com toda sua força tentando

abri-la. Ela parou, começou outro aperto e tentou novamente. No que ele podia ver a

janela não tinha mexido uma polegada.

Blasfemou novamente, mas desta vez em silêncio e revisou seu plano. Ele teria

que ir para cima e abrir a maldita janela. Não importava como ela planejavara chegar ao

chão, não iria a lugar nenhum a não ser que pudesse sair pela janela. Ele fez uma oração

silenciosa. Talvez a escada fosse aguentá-los juntos.

Ele tinha que olhar para a posição da escada e a chuva gelada sentida

diretamente no rosto, nos olhos. Uma súbita rajada de vento levou a escada, quase a

arrancando de seu aperto. Colocar a escada encostada na casa, sem fazer qualquer ruído

GELO - LINDA HOWARD

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seria complicado. Apenas no caso, ele percorreu mentalmente a operação: o objetivo era

subir a escada, sem cair e quebrar o pescoço, abrir a janela, descer a escada, sem cair e

quebrar seu pescoço e colocar-se debaixo da escada para que ele pudesse pegar Lolly

caso caísse para ela não quebrar seu pescoço. Bastante simples.

Ah, sim: ele tinha que fazer tudo isso em aproximadamente cinco segundos, sem

fazer barulho e alertar os dois viciados em meta na sala.

Não tem problema, ele pensou sarcasticamente. Completamente fácil.

Ele segurou firmemente a escada com ambas as mãos enquanto a encostava

perto da casa, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Entretanto, deveria ter

soado alto o barulho dentro casa, pois viu Lolly saltar para trás como se alguém tivesse

batido no vidro. Merda, a escada era curta demais, ele teria que subir todo o caminho até

o topo da janela para tentar abri-la.

Não havia razão para demorar, então segurou com firmeza a parte externa da

escada e começou a subir, colocando as botas nas bordas extremas dos degraus, onde

foram pregadas à estrutura e menos propensas a ruir sob seu peso. Em poucos segundos

estava precariamente no degrau mais alto, rezando como o inferno, e olhando através do

vidro para Lolly Helton, que olhou para ele como se não conseguisse decidir se gritava

ou desmaiava.

Ela não fez qualquer um dos dois, graças a Deus. Em vez disso, viu seus lábios

se mexerem enquadrando o seu nome, em seguida, ela fechou os olhos por um breve

segundo. Quando os abriu novamente, Gabriel colocou um dedo nos lábios, indicando-

lhe que ficasse quieta. Ela assentiu com a cabeça, um eficaz alívio passou por seu rosto.

Ela conseguiu levantar um pouco a janela, depois de tudo. Ele trabalhou seus

dedos enluvados na abertura e tentou abrir ainda mais, mas só conseguiu alguns

milimetros. A janela não tinha sido presa e não estava trancada, mas a madeira velha

tinha deformado a ponto de que qualquer um dos dois fosse mais fácil para abri-la.

Enrijecendo os músculos, ele tentou novamente, colocando tudo o que tinha no esforço

e na esperança de que o uivo do vento cobrisse o barulho que fazia. A escada balançava,

mas ele ignorou a precariedade do seu poleiro e arrancou a janela novamente. Tinha que

tirar Lolly da casa, se ele caísse, seria um tombo feio. Iria lidar com isso quando

acontecesse.

Na terceira tentativa, a janela estalou livre e deslizou para cima com um som de

rangido. Ele empurrou e balançou a moldura, ganhando alguns centímetros de folga. A

janela não estava com a passagem toda aberta, mas talvez fosse o suficiente.

Em uma rápida olhada pelo quarto, percebeu a cama despida, e com certeza uma

das extremidades do lençol amarrada na perna da cama. Então ele olhou para ela, e pela

primeira vez viu que um lado do rosto estava machucado e inchado. Fúria rugiu através

dele, rápida e profunda e surpreendentemente selvagem. Algum idiota abusar de uma

mulher empurrava todos os seus botões, mas de alguma forma o fato de que esta era

Lolly, fez lhe particularmente difícil. Ele freou sua ira, porque esta não era a hora de

perder o controle. Tinha que colocá-la em segurança longe daqui, esse era seu principal

objetivo. Assim como adoraria prender os idiotas no andar de baixo, mas eles estavam

GELO - LINDA HOWARD

32- GrupoRR

armados e ele não... E agora o tempo estava quase tão perigoso como os dois armados e

fortemente drogados. Sua única preocupação era tirar Lolly da montanha. Todo o resto

poderia esperar

Além disso, não iria colocar sua vida em risco de forma imprudente quando

havia seu filho esperando o pai retornar para casa. Sam já estaria provavelmente com

saudades, perguntando se porque ele estava demorando.

— Eu vi dois na sala. — disse ele mantendo a voz baixa. — Há mais?

Ela balançou a cabeça. — Apenas os dois. — Sua voz era tão baixa quanto à

dele.

Ele entrou pela janela aberta e pôs as mãos em concha em sua bochecha

machucada, a luva estava fria e úmida, e ela deve ter se sentido bem com o contato

porque fez um leve gemido e inclinou um pouco a cabeça contra o couro. — Você se

machucou em outro lugar? — perguntou ele, a necessidade de saber se ela poderia

descer a escada sozinha. Ela poderia estar machucada, mas estando cheia de adrenalina

talvez não pecebesse, ele tinha visto as pessoas fazerem coisas incríveis quando estavam

com a adrenalina alta.

— Meu ombro e laterais estão machucados, mas eu estou bem. — ela respondeu

num sussurro, curvando os ombros. Ela acrescentou ferozmente: — Vamos sair daqui.

Ela tinha coberto a pele tanto quanto possível, ele viu; mesmo a cabeça e suas

orelhas estavam levemente protegidas por algum material dobrado e uma camisa de

flanela amarrada por cima. Ela estava embrulhada em algumas roupas e a julgar pelo

tamanho do lençol na mão, estava fazendo uma bonita fuga muito bem planejada. Se a

janela não estivesse presa, ela talvez estivesse no chão e a caminho da cidade quando a

encontrasse.

Ela largou a corda de lençóis e cobertores e colocou um pé para fora da janela.

— Espere. — disse ele, pensando rápido. Se lançasse a corda para fora da janela e a

deixasse pendurada e colocasse a escada afastada, os idiotas no andar de baixo

acreditariam que ela tinha conseguido sair por conta própria. Dessa forma, se fossem

estúpidos o suficiente para sair na tempestade e ir atrás dela, eles seriam pegos de

surpresa: descobririam que ela não estava sozinha. Assim rapidamente ele ignorou o

plano, porque o lençol da parte inferior iria bater bem na frente da janela da sala e

poderia alertá-los mais cedo que o necessário. Ele torcia para que não vissem a escada

pela janela, mas pelo menos era de uma escura madeira envelhecida e não tão

facilmente notada como o lençol branco seria.

Estudou Lolly mais uma vez. Ela tinha feito o melhor que podia para se

agasalhar, mas a chuva se infiltraria através de todas as camadas e, em seguida, ela

estaria em apuros.

Movendo-se com cuidado, a escada raquítica cambaleando debaixo dele, Gabriel

tirou o poncho e o entregou pela janela. Lolly tomou-o, em seguida, deu-lhe um olhar

afiado. — E quanto a você?

GELO - LINDA HOWARD

33- GrupoRR

— Você precisa disto mais do que eu. Pelo menos o meu casaco é impermeável.

— O poncho estava coberto com cristais de gelo, mas forneceria proteção muito melhor

contra a chuva do que ela estava vestindo. Seu casaco era pesado, tinha luvas e os seus

pés eram protegidos por quentes botas impermeáveis. O único problema era que o gorro

que ele usava não era à prova d'água como o boné que descartou no caminhão, mas ela

não sabia. A malha repelia a chuva por um tempo, mas eventualmente a cabeça iria ficar

molhada, o que não era bom. Quando chegassem à caminhonete ele recuperaria o boné e

iria adiante, sem maiores risco de hipotermia.

— Eu estou descendo. — ele sussurrou. — Essa escada é meio podre e não vai

segurar nós dois ao mesmo tempo. — Ele não tinha certeza que iria ficar juntos o tempo

suficiente para ele descer, mas se não, eles voltariam ao plano e os lençóis amarrados

juntos. — Há dois degraus quebrados. Um deles é meio caminho para baixo, o outro é

três abaixo. Coloque os pés do lado de fora dos degraus e não no meio.

Lolly assentiu com a cabeça e colocou o poncho sobre as camadas de roupa.

Gabriel cuidadosamente desceu a escada, não tomando uma respiração profunda até que

suas botas estivessem seguras no chão gelado de novo. Ele ergueu a gola do casaco para

proteger o pescoço do vento e se posicionou para que pudesse escorar a escada. Ela

enfiou a cabeça para fora para ter certeza que ele estava no chão, em seguida,

rapidamente colocou uma perna para fora da janela, buscando com o pé o degrau mais

alto. Ela não podia alcançá-lo, é claro, porque a escada não tinha altura suficiente.

Finalmente ela se sentou no parapeito da janela e colocou as pernas para fora, e virou

até que estivesse sobre seu estômago. Ela encontrou a escada, colocando ambos os pés

sobre ela e com cautela desceu. Ela estava se mantendo do lado certo, ele percebeu, e

perguntou como ela iria aguentar a longa caminhada fora da montanha.

A caminhada, que seria traiçoeira por causa do gelo, levaria horas. Em

circunstâncias normais, não teria sequer pensado em fazer, mas as circunstâncias não

eram normais e a única outra opção que eles tinham era simplesmente se esconder e

esperar... Mas esperar o quê? Os viciados em meta na sala estavam presos também, não

estavam indo a lugar algum, mas pelo menos estavam em uma casa acolhedora. Ele e

Lolly não podiam esperar pelo gelo derreter, porque isso poderia levar uma semana ou

mais. Sua melhor aposta, e não era uma boa, mas era melhor do que suas outras opções,

era sair da montanha o mais rápido que pudessem, antes que o peso do gelo começasse a

agarrar nos galhos de árvores como palitos. Seria mais quente se eles estivessem se

movendo também.

— Preste atenção para o degrau que falta. — advertiu, num sussurro urgente

antes que ela o alcançasse. Ela hesitou, depois mudou de ritmo e usou seu pé direito

para pular o degrau que faltava, para que pudesse suportar a maior parte de seu peso

com o ombro esquerdo ao invés do direito que estava machucado.

Um som de desmoronamento foi o único aviso que ele teve antes do próximo

degrau ceder, viu o corpo de Lolly desmoronar juntamente.

Não era uma queda muito alta, mas nestas condições e com a caminhada que

tinham pela frente, um tornozelo torcido era tão bom quanto uma perna quebrada.

Instintivamente Gabriel soltou a escada e agarrou Lolly em um abraço de urso antes que

ela pudesse cair no chão. A escada caiu ruidosamente e bateu contra a lateral da casa.

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— Merda! — Ele disse, fixando Lolly em seus pés e segurando seu pulso. Não

havia quase nenhuma chance dos dois viciados não terem ouvido a escada batendo

contra a casa. Eles precisavam se mover — agora.

— Vamos. — ele disse, e começou a atravessar o pátio gelado em um passo

rápido, rebocando-a atrás dele. Ela não fez nenhum som de protesto, colocou sua cabeça

para baixo e fez o melhor para manter o mesmo ritmo que ele. Lolly começou a

escorregar, mas recuperou o equilíbrio auxiliada pelo aperto em seu pulso. Se eles

pudessem chegar apenas na linha das árvores… Houve um grito atrás deles e um tiro

ecoou.

Merda, merda.

Capítulo Seis

Lolly soltou um grito de dor e por uma fração de segundo, Gabriel congelou

achando que ela tinha sido baleada. Então, ela lutava com os pés, resmungando —

Maldição! — com fúria abafada antes de pegar sua mão e andar novamente. Ela caiu de

novo, quase de imediato, suas grossas botas não tinham muita tração, mas o tênis dela

tinha quase nenhuma.

Gabriel a ajudou a ficar de pé mais uma vez, ela sufocou outro grito de dor, e

muito tarde percebeu que tinha puxado o braço lesionado. Para mantê-la ereta, envolveu

o braço em torno dela e a segurou, seu aperto era tão duro que esperava que ela

protestasse, mas não deu um pio. Correr em posição travada em conjunto era

impossível, a menos que eles quisessem acabar com o rosto na terra enquanto os dois

drogados atiravam a esmo. Sua melhor aposta era a de manter em movimento, não

importa o quão dolorosamente lento o seu progresso parecia ser.

Pelo menos era escuro aqui, longe das luzes da cidade e outras casas, seria mais

fácil se esconder. Naturalmente, isso significava que eles tinham que ter cuidado extra,

porque ele não podia ligar a lanterna sem fixar um alvo em suas costas. Tudo o que

podia fazer era manter em movimento, se esconder nas árvores e esperar o melhor.

Como ela tinha passado a última hora — duas horas talvez? Ela não tinha idéia

de quanto tempo passou — no terror, na expectativa de ser morta, de alguma forma o

estrondo da arma de fogo ainda pegou Lolly de surpresa, seu corpo inteiro balançou e

seu coração saltou tão alto que sentiu como se fosse sair do peito. Ela tropeçou, perdeu

o equilíbrio na grama gelada e caiu. Imediatamente frio passou por suas pernas. O

poncho de certa forma a tinha protegido, mas do meio da coxa para baixo suas calças

estavam molhadas. Após todo o esforço que ela fez para ficar seca, mas o que tinha

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feito, cair no chão molhado no primeiro instante? Furiosa com ela mesma, subiu,

agarrou a mão de Gabriel e saiu correndo novamente.

E logo caiu novamente

Desta vez Gabriel sacudiu os seus pés e a pressão sobre o ombro machucado e

lateral arrancou um grito antes dela teimosamente calar a boca. O que era um pouco de

dor no ombro em comparação talvez a levar um tiro? Gabriel apertou o braço em volta

de sua cintura e partiram novamente, com ele a arrastando.

Atrás deles, a luz da varanda se acendeu e a porta da frente foi aberta com um

estrondo, o primeiro tiro deve ter sido através da janela da sala de jantar, se eles estavam

apenas agora no alpendre. Niki e Darwin começaram a atirar da varanda, o seu alvo

estava longe, mas todas as células do cordão espinhal pareciam encolher, enquanto

esperava que um tiro de sorte a encontrasse. Novamente, o tempo parecia ter perdido o

seu significado, seguindo a lógica apenas dez ou quinze segundos poderiam ter passado,

porque quanto tempo poderia ter levado para eles chegarem ao patamar? Era como se

ela e Gabriel estivessem correndo para a floresta por toda uma vida, mas eles ainda

estavam a vários metros de distância. Lolly estava com medo de virar e olhar para a

varanda, com medo de fazer qualquer coisa exceto tentar se manter sob seus pés e

avançar tanto quanto poderia.

Não caia, não caia. O instinto gritava para ela correr, mas ainda com o apoio de

Gabriel era tudo o que podia fazer para manter-se sob seus pés. Eles ainda estavam na

grama, que não era tão lisa quanto a calçada, mas cada passo enviou seus pés

escorregando e patinando em várias direções. Gabriel se saiu melhor, talvez por causa

de suas botas, talvez porque fosse mais pesado e triturado através da camada de gelo no

chão. Não caia. Agarrou a parte de trás do seu casaco em um aperto da morte.

Então, eles alcançaram a linha de árvores e Gabriel girou, empurrando-a para

trás de uma das maiores árvores e pressionando-se completamente contra ela como se

estivesse tentando empurrá-la na casca áspera. Lolly agarrou se a ele, com a cabeça

enterrada em seu ombro enquanto aspirava em enormes goles rápidos de ar. Tiros

fortuitos lascaram o ar, o som curiosamente plano e abafado, como se fosse absorvido

pelo gelo. O coração dela ainda batia de forma selvagem, apesar de estarem

significativamente seguros por trás do tronco de árvore do que antes. Mas e agora? Se

corressem estariam expostos novamente, pelo menos esporadicamente. Se não

funcionar, então unicamente Niki e Darwin tinham que andar pelo quintal para matá-los

de perto.

Gabriel inclinou para a esquerda, até que pudesse ver a casa, mas ainda não

apresentou alvo, uma vez que estavam na escuridão da linha de árvore e Niki e Darwin

eram prejudicados por estar em uma varanda iluminada. Mesmo sabendo que eles

provavelmente não poderiam ver alguma coisa, as mãos de Lolly involuntariamente

apertaram o casaco de Gabriel tentando colocá-lo de volta em segurança. Ela não

conseguiu movê-lo nem mesmo um centímetro.

Sua mão direita acariciou levemente seu ombro, o movimento tão ausente ela

sabia que o gesto tranqüilizador era puro reflexo. Ele estava concentrado na situação,

nos dois idiotas assassinos na varanda da frente. Sentindo-se um pouco envergonhada

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por ser uma covarde, Lolly forçou-se a libertá-lo. Ela tinha chegado tão longe sem se

transformar em uma mera vítima covarde, tinha que fazer isso o resto do caminho, ou

morrer tentando... Literalmente.

— Quantas armas você viu? — Ele soprou as palavras, o som quase inexistente.

— Duas. — Isso não significa que não existiam mais, no entanto. Por tudo o

que sabia, poderia haver um esconderijo de armas na velha Blazer.

— Você sabe que tipo de arma de fogo era? — Ele perguntou.

Ela balançou a cabeça. Sabia o que era uma espingarda, porque seu pai foi

batedouro de caça com arma de fogo, mas sua experiência se limitava a isso e tudo o

que tinha visto na televisão ou em filmes.

— Você pode dizer a diferença entre um revólver e uma automática?

— Elas eram ambas automáticas... Eu acho. Eu não consegui uma boa olhada na

que ele tinha. — Darwin tinha puxado do bolso, mas mal teve tempo de registrar o fato

antes dele empurrá-la contra o suporte do corrimão.

— Eu suponho que você não poderia me dizer quantas balas eles tinham em

cada arma? — ele disse ironicamente.

Lolly apenas balançou a cabeça, embora a pergunta tivesse sido retórica. Se ela

efetivamente fez a contagem do número de tiros? Ela mal foi capaz de pensar em tudo,

muito menos manter o controle de quantos tiros estavam sendo disparados.

Em seguida, os tiros pararam e isso era quase mais assustador do que ser alvo

deles. O que estava acontecendo? Niki e Darwin estavam vindos atrás deles? Ela podia

ouvir os dois gritando um com o outro. Ela também podia ouvir o seu próprio batimento

cardíaco, a respiração de Gabriel e o vento. Neste momento não havia mais nada.

— O que nós vamos fazer agora? — ela sussurrou. A voz dela parecia perdida

contra o seu casaco grosso, mas Gabriel a ouvi e lhe deu uma daquelas ausentes batidas

de leve.

— Nós vamos descer a montanha. Não há nada mais que podemos fazer,

nenhuma outra opção. — Ele não pareceu feliz com isso, mas ela não conseguia pensar

em outra coisa que poderia fazer, qualquer uma. Ela tinha se preparado para descer a

montanha sozinha, afinal de contas não iria reclamar.

Gabriel olhou em direção a casa, pegou a mão de Lolly novamente e juntos se

afastaram da posição protegida atrás da árvore, para se moverem mais profundo dentro

da floresta. Seu passo era rápido, mas com certeza, ela teve que lutar um pouco para

manter o ritmo. Suas pernas não eram tão longas quando as dele, e caminhadas pela

floresta não era exatamente seu hobby. Ela não teve muitos — hobbies — percebeu. Ela

era terrivelmente normal, vivia uma vida normal, tinha um emprego normal. Gostava de

livros e filmes, forçou-se a exercitar, mas, apesar de crescer no Maine, não gostava de

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brutalidade ou qualquer outro esporte de inverno, por isso ela estava definitivamente

fora de seu elemento agora.

As árvores tinham protegido o chão debaixo deles, por isso havia menos gelo

aqui, mas seus pés continuam a fazer sons esmagados. Isso significava que o gelo estava

se solidificando nos membros e ramos aéreos, e ela sabia que poderia ser perigoso,

trabalhando para uma companhia de seguros havia lhe dado uma visão em todos os

tipos de situações, porque tinha visto as reivindicações dos clientes.

Gabriel a levou por um caminho que geralmente seguia a longa entrada em

direção à estreita estrada secundária, andando acima de caídos galhos mortos,

manobrando ao redor de aglomerações com crescimento selvagem. Um par de vezes ele

olhou para ela. Sentia-se como um balão amarrado, sendo arrastada ao longo de sua

vigília. Sua respiração soprou em suspiros rápidos. Ele deve ter percebido que ela estava

lutando para manter o ritmo porque ele encurtou o seu passo, mas não muito. — Vai ser

um pouco mais fácil quando nos pudermos deixar a floresta. — disse uma vez, quando

ele a ajudou em torno de um enorme arbusto espinhoso. — Eu tenho sopa e café na

minha caminhonete.

— Fornecendo um incentivo é? — Isso talvez tenha sido um sorriso, mas estava

tão escuro que não podia ter certeza. — Qualquer que seja a diligência.

— Humm... Exatamente onde está sua caminhonete? — O choque tinha se

dissipado o suficiente, agora ela poderia pensar um pouco. Obviamente, Gabriel não

tinha voado lá, então ele tinha que ter rodas em algum lugar.

— Cerca de 1 km mais adiante. O gelo era tão ruim que eu tive que parar.

Perguntas passavam em sua mente, como: por que ele estava aqui? Não era

como se ela e Gabriel McQueen fossem amigos íntimos — ou mesmo amigos, para falar

a verdade. De todas as pessoas no mundo, o que ele estava fazendo na casa dela? Nada

disso parecia real e de alguma forma a sua presença era a parte mais irreal de tudo.

Além do fato de ter sido golpeada, aterrorizada, quase estuprada e mantida em cativeiro

foram bastante chocantes por direito próprio, mas o fato de que ele, de todas as pessoas,

tinha surgido da noite para ajudá-la a escapar era perplexidade simplesmente — ou,

pensou ironicamente, esta foi a forma do seu cérebro ajudá-la a lidar com as outras

coisas, empurrando-as para um canto até que pudesse suportar.

Concentrar-se em Gabriel McQueen era um mecanismo de defesa, então ele iria

junto com o plano de jogo, que era muito melhor do ela que pensar na violência, em

tudo o que poderia dar errado, de quão perigoso era andar por quilômetros no tempo

como poderia ser. As chances eram tão pesadas contra os sobreviventes da noite que só

por desespero estava disposta a tentar.

A escuridão no bosque era quase completa, ambos tropeçaram acima de

obstáculos ao longo do caminho. Seus olhos ajustaram um pouco, e ainda ela mal podia

ver. Se Gabriel tinha uma lanterna que não exibia, não iria perguntar, contanto que ela

pudesse ver onde ele ia, não queria o equivalente a um holofote apontando a sua posição

para Niki e Darwin.

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Apesar do poncho que Gabriel lhe dera, o vento frio passava através de todas as

camadas de roupa que usava. Sua calça jeans e moletom estavam molhados da queda no

gelo, o vento atravessou a sua pele. Ela teria gostado de parar e se agachar envolvendo o

poncho em torno de seu corpo para bloquear o vento, mas se parasse de se mover,

estava com medo de não ser capaz de começar novamente. Saber o que a esperava atrás

dela, no calor da sua própria casa, a estimulou a prosseguir. Ela ia a pé todo o caminho

até Portland se fosse necessário para fugir daqueles dois.

Ela até mesmo colocaria sua vida nas mãos de Gabriel McQueen, que tinha sido

a ruína de sua adolescência. Tinha sido tudo que ela não era: popular, extrovertido,

autoconfiante. Tinha tido a paixão mais horrivelmente dolorosa por ele durante todo o

ensino médio e colegial. Por outro lado ela o odiava também, por todas as vezes que ele

fez piada, todas as vezes que zombou dela e riu, e ela nunca perdeu uma oportunidade

de deslizar uma faca verbal entre suas costelas. Quando ele se formou dois anos à frente

dela, estava aliviada, mas ainda se pegou olhando para os corredores quando

orgulhosamente passava com a cabeça erguida.

Tinha sorte que ele se incomodou em salvá-la. O adolescente Gabriel não teria

incomodado — porém, para ser justo, se ela ainda fosse uma adolescente,

provavelmente teria batido a janela em suas mãos de qualquer maneira.

Pensando no passado, poderia ocupar sua mente só assim por muito tempo antes

de sua miséria física começasse a empurrar sua maneira para frente. A chuva estava

caindo mais difícil agora, revestindo as árvores, os arbustos, até eles. Ela não podia ver

a chuva, mas podia sentir o peso dela nas suas calças e sapatos molhados. Pelo menos

seus pés não pareciam estar tão molhados como as pernas, graças à vaselina... Ou isso,

ou estavam tão frios que ela não podia sentir a umidade. O vento sussurrou através dos

galhos das árvores, tornando chocalho como ossos em seus caixões de gelo. O som era

estranho, fantasmagórico, e ela estava feliz com a mão grande que se apoderou dela.

Então Gabriel empurrou através de alguns arbustos particularmente pesados e

parou tão abruptamente que ela bateu em suas costas. . — Finalmente. — disse ele,

recuperando seu equilíbrio. — Aqui é a estrada. Aproximadamente um metro há uma

queda para baixo, por isso tome cuidado.

Ele abaixou-se, agarrou uma árvore muito nova e usou para firmar-se quando

pulou no barranco abaixo. Seus pés derraparam no gelo, mas com a ajuda da árvore

ficou em pé. Cautelosamente, virou-se, estendeu a mão e agarrou Lolly em torno da

cintura, então a baixou à estrada com facilidade. — Cuidado com o degrau, — ele

advertiu. — Há uma vala rasa aqui. Ande na faixa cheia de ervas daninhas entre a vala e

o pavimento, é a melhor posição para o pé.

Cabeça para baixo, Lolly se cncentrou em colocar um pé na frente do outro.

Certamente eles tinham andado mais de meia milha, não deveriam ter atingido sua

caminhonete até agora? Ela cresceu na montanha, a conhecia como a palma da sua mão

na maioria das vezes, mas a escuridão, o frio, a série incessante de choques a tinha

deixado desorientada e não teve nenhuma idéia real de onde estavam. Suas mãos e pés

doiam muito com o frio que sentia. Ela não podia fazer nada sobre seus pés e Gabriel

segurou uma das mãos, também não poderia fazer nada sobre isso de qualquer forma,

mas a outra mão rastejou sob o poncho e as várias outras camadas de roupa para atingir

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a pele nua da barriga quente. Ela mal podia sentir o calor nos dedos, mas o ventre pôde

definitivamente sentir o frio de sua mão. Lá era um pouco melhor.

De vez em quando arremessava um olhar sobre o homem que estava levando-a

na escuridão, ela não poderia fazer muito mais do que decifrar sua altura e à largura dos

ombros — isso, e a determinação com que enfrentou a tempestade de frente. Lembrou-

se da maneira que ele olhou quando apareceu em sua janela, no entanto. Ele era mais

velho, obviamente, assim como ela. Muitos anos se passaram desde que ele se formou

— quinze deles! — e eles mudaram tanto.

Ele não era mais um adolescente arrogante com o mundo aos seus pés, era um

homem maduro, um viúvo com um filho, ouviu durante uma de suas viagens para

Wilson Creek. Tornar se pai e perder sua esposa foram os eventos que mudaram sua

vida, não podia ser a mesma pessoa que era quando estavam na escola. Ela não era e

não tinha vivivo algo tão traumático como a perda de um cônjuge. Nada foi na verdade

tão traumático em sua vida. Em vez disso, tinha feito silenciosamente o seu caminho,

fez uma vida resolvida por si mesma deixando para trás uma grande quantidade de suas

inseguranças e timidez.

Ela teve conflitos com ele desde que se lembrava, e agora... não tinha certeza por

que. Talvez porque ela sempre teve uma paixão súbita e feroz por ele, e nunca esperava

que ele gostasse dela de qualquer maneira, assim se protegeu através de um escudo de

hostilidade? Os adolescentes eram poços emaranhados de revolta e emoção, tudo era

possível. Olhando para trás, ela sentiu se um pouco estupefata com sua adolescência.

Se fosse existir qualquer momento para deixar o passado para trás, o momento

era agora. Ela inclinou-se ligeiramente em direção a ele e disse: — Obrigada. —

levantou sua voz para que pudesse ouvi-la sobre a chuva e o vento.

— Agradeça-me se os psicopatas não virem atrás de nós e saírmos da montanha

antes que as árvores começarem a cair. — ele disse sem olhar para ela.

Ok, isso soou um pouco abrupto, mas ela fez algo que, há quinze anos, nunca

poderia ter feito: mentalmente encolheu os ombros e deixou passar. Nestas

circunstâncias ele tinha permissão para se sentir irritado.

Eles estavam caminhando para a direita na direção do vento agora, o que lhe deu

algum suporte. Lolly olhou para cima, mas não por muito tempo, a chuva picotou seu

rosto como pelotas de gelo, o vento roubou seu fôlego com o frio. O vento era do norte,

assim se estava em seu rosto, então eles estavam caminhando para o norte, o que

significava que estavam na encosta muito antes de uma curva muito acentuada que os

levaria a sudeste.

Eles não estavam muito longe da casa absolutamente.

Eles teriam algum tempo antes que o gelo que era tão pesado revestisse essas

árvores e elas começassem a cair... Ela esperava. Qual o tempo que as árvores mortas

demorariam para cair com este vento e gelo? Ela perguntou. Seus membros frágeis

viriam em primeiro lugar. O lado da estrada estava cheio de galhos que haviam caído

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em uma tempestade ou outra e foram deixados, dando-lhe uma dica quanto ao

comprimento e largura do que poderia desabar.

O vento aumentou um pouco e só então as árvores rangeram, literalmente como

se o tecido se rasgando. Lolly estremeceu. Eles tinham uma opção, e não era uma boa.

Darwin e Niki estavam atrás deles, galhos cobertos de gelo pairavam sobre suas cabeças

e poderiam desabar a qualquer momento e o chão era cada vez mais escorregadio sob

seus pés. Não havia nenhum lugar para ir, exceto para frente, em direção à segurança e

o calor que pareciam muito distantes.

Ela escorregou. A vaselina definitivamente ajudou seus pés a se materem secos,

mas tinha um pouco de umidade infiltrando-se em seus sapatos e meias, seus pés

estavam dolorosamente dormentes. Ela cresceu no Maine, sabia os perigos de

queimaduras. Sabia que o resultado da noite era susceptível e uma sensação de fatalismo

tomou conta dela. É melhor perder os dedos dos pés que ser pega por Darwin

novamente.

Ajustou as mangas da camisa de flanela amarrada na cabeça, puxando-as sobre o

nariz e a boca, mas elas estavam molhadas e geladas e ela não sabia se isso ia fazer

muito bem. Graças a Deus Gabriel estava lá, firme como uma rocha, arando a frente

com a determinação de um pit bull. Seu aperto era sólido, um conforto em um mundo

decididamente desconfortável. Ele era aquele tipo de homem que sairia em uma

tempestade de gelo para se certificar que o vizinho estava bem, um homem que se

jogaria entre o perigo e uma mulher, mesmo que ela não fosse nada dele, mesmo que

fosse uma garota que ele conhecia e não gostava.

Ela não tinha tido a chance de lhe dizer tudo o que aconteceu lá na casa e depois

de um momento de reflexão, decidiu que não iria. Não só ela não queria falar sobre

Darwin e a tentativa de estupro, como não sabia a reação de Gabriel com a notícia. Será

que ele sentiria como se tivesse de voltar para trás? Será que ele se importaria? Ela

suspeitou que se preocupasse apenas por causa de quem ele era, e ela não queria voltar

para casa. Ela não queria que Gabriel quisesse voltar lá e agora ela estava sendo fiel ao

seu lado. Suas visões eram fixadas firmemente longe da casa e o pesadelo lá. Não

importam quais sejam as condições, ela iria em frente.

Houve silêncio por trás deles — pelo menos o silêncio humano. A Mãe Natureza

estava fazendo um barulho, com o tamborilar da chuva caindo, o vento, o sussurro

fantasmagórico e ranger das árvores. Talvez eles desistissem. Talvez eles não tivessem

saído em caça mesmo. Talvez Niki e Darwin não estivessem dispostos a deixar uma

bela casa com este tempo quente, só para persegui los.

Ela olhou mais uma vez, no homem alto rebocando-a consigo. — Então… como

você está? — perguntou.

Gabriel bufou. — Você quer conversar agora?

— Talvez conversando mantenha meu rosto livre de congelar.

Ele acenou com a cabeça uma vez. — Eu estou bem. E você?

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Tanta coisa para arrastá-lo para conversar — Muito bem. — O que mais poderia

dizer? Escolheu silenciar. Meu trabalho é bom, sem atritos. Mamãe e papai estão de

boa saúde, mas perderam um bom bocado do seu dinheiro da aposentadoria na última

catástrofe financeira, manter assim uma casa que não usa mais é ridículo. Eu não

queria vendê-la, mas não posso me dar ao luxo de comprá-la deles, e agora eu não

quero. Eu adorava aquela casa e agora não me importo de nunca mais vê-la

novamente. A sensação de perda era surpreendentemente acentuada, ela aceitava que

nunca mais iria sentir o mesmo sobre a casa, então resolutamente colocou a casa no

passado, onde ela pertencia.

Deveria estar prestando a atenção para o que estava fazendo, ao invés de estar

desatenta. Ela caiu novamente e Gabriel mais uma vez a pegou.

— Nós precisamos tirar você desse gelo. — ele disse num tom preocupado. Ela

teve que admitir, ficar fora no tempo nunca foi uma boa idéia. A pior, na verdade. Mas

não havia um vizinho por quilômetros e a cidade era ainda mais longe.

— Minha caminhonete não está longe. — ele acrescentou encorajador.

Lolly sabia muito bem que essas estradas estavam intransitáveis agora. Sórdido e

perigoso como era, ela preferiria caminhar pela estrada íngreme a entrar em um veículo

e ter a chance de escorregar e deslizar para o lado da montanha. Havia algumas curvas

ímpias e íngremes declives entre aqui e Wilson Creek. Mas eles poderiam parar na

caminhonete de Gabriel, entrar e se aquecer talvez apareça inesperadamente sopa e café.

Com esse pensamento em mente, ela teve um destino em mente que a mantinha em

movimento para frente, colocando um pé na frente do outro. Se ela tivesse de pensar em

andar toda a montanha, provavelmente iria cair aqui e agora, com a certeza que não

conseguiria.

Nada disso era real. Não podia ser. Sua vida era desinteressante, chata, comum.

Lutar contra um ataque, escapar por uma janela do segundo andar, quase levar um tiro e

lutar contra uma tempestade tão perigosa — estas eram as coisas que nunca pensou em

fazer. Lolly decidiu que gostava da monotonia. No momento, almejava isto. Nunca mais

reclamaria sobre estar chateada. Isso... Isso tudo era como um sonho ruim.

Cada passo agora era uma luta. O frio cortante em suas roupas diminuindo a

velocidade dela. Seus instintos gritavam para ela parar, descansar, mas sabia que se

parasse aqui, iria morrer. Congelar até a morte não poderia ser uma coisa agradável, e

mesmo que fosse ela não estava pronta para morrer.

— Sopa. — Lolly disse com lábios congelados, jogando fora a palavra como

um talismã, alguma coisa para mantê-la em frente. De repente percebeu que estava com

fome. O pensamento da sopa aquecendo-a de dentro para fora a incentivou a seguir em

frente, mesmo quando o chão a cada passo se tornava ainda mais precário.

— Sim, há sopa. — Seu braço foi mais apertado em torno dela agora. Lolly

reuniu sua força, se concentrado no que estava fazendo.

Se ela pudesse apenas pegar um pouco de sopa — e café! Ele disse que tinha

café! — ela seria capaz de fazê-lo. Eles podiam descansar por alguns minutos, ligar o

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aquecedor da caminhonete e descongelar um pouco, ter um pouco de sopa e café, e estar

no seu caminho. Com uma pequena fortificação, ela estaria boa para seguir.

Em seguida houve um grito furioso acima, seguido por um tiro e terror soprou

através de cada fibra de seu corpo. Darwin estava vindo para ela apesar de tudo.

Capítulo Sete

Darwin seguiu Niki para a varanda relutante em deixar o conforto da casa. O

vento aqui era brutal, e... Oh inferno, isso era gelo? A merda cobriu tudo, até a Blazer.

Ele não havia notado qualquer gelo quando eles estiveram aqui fora um pouco atrás,

depois que a cadela Lorelei saiu pela janela do segundo andar e escapou. Ele culpou

Niki por isso. Se ela tivesse apenas deixado-os em paz, tudo teria dado certo. Ele teria

tido um pouco de diversão e Lorelei não teria sido capaz de sair pela janela. Agora

aquele cara estranho que apareceu do nada, seria a diversão.

Merda, aquele gelo era irreal. Ele pensou que poderia ter sido chuva com neve

antes, mas encontrar tudo revestido com gelo era fodidamente estranho.

Ele coçou seu rosto e pensou que precisava de outra batida de metanfetamina.

Eles ainda tinha muito do lado de dentro, a menos que a cadela da Niki tivesse usado

tudo. Ela estava usando mais do que a parte dela, pensou ressentido. Ela estava sempre

fazendo isso e ele estava cansado disso. Sim, ela era boa sobre apresentar idéias para

ganhar mais dinheiro, mas ela usando tudo, era a culpa dela sempre precisarem de mais

dinheiro de qualquer forma.

— A culpa é sua. — disse ele, porque estava cansado de reclamar dela e do jeito

que queria tomar todas as decisões. Ele olhou para os pingentes pendurados no beiral da

varanda. Isso era sua culpa também, ela que teve a brilhante idéia de seguir Lorelei em

casa, quando poderia ter pego seu dinheiro na cidade e não estaria preso agora nesta

maldita montanha. — Se você não a tivesse deixado sozinha no andar de cima, ela não

teria ido embora.

Niki explodiu em fúria. — Que puta! — Ela gritou e disparou um tiro na

Mercedes de Lorelei, o que poderia ter feito se sentir melhor, mas foi um desperdício de

uma bala, coisa que Darwin estava preocupado. O carro estúpido era capaz de sentir

algo? Eles não tinham muitas balas nas mãos, ele pensou, ainda mais depois de todos os

tiros que tinham dado anteriormente. Eles voltaram para dentro e Niki passou o tempo

pensando em algum plano, mas nenhum deles verificou quantas munições eram

remanescentes nas armas. Então Niki decidiu que eles tinham de ir procurar Lorelei e

insistiu qupara que saíssem, o fez colocar seu casaco e conseguir uma lanterna, mas

GELO - LINDA HOWARD

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Darwin tinha perdido todo o seu entusiasmo por isso. Niki poderia sair nessa merda se

quisesse, ele estava voltando para dentro.

— Você vai pagar por isso! — Niki gritou para a noite, como se Lorelei

estivesse por perto para ouvi-la. Ela virou-se para Darwin, o rosto distorcido, os olhos

encovados olhando para ele. — Quando encontramos Lorelei e matar o filho da puta

com ela, eu vou deixar você tê-la. Isso vai ensinar a cadela a não brincar comigo!

Agora, isso soou interessante. O animo de Darwin levantou quando recuperou o

seu entusiasmo. — Sério?

— Contanto que você me deixe ver e a faça sofrer, porque não? Isso vai ensiná-

la a na se meter comigo. — acrescentou Niki sob sua respiração.

Certo, talvez por isso valesse a pena sair naquela tempestade. Lorelei... Mulheres

como ela sempre olharam para ele por cima. Seria bom ter alguém como ela para fazer o

que quisesse, para tratar de qualquer jeito que gostava. Sim, isso seria divertido. Talvez

ele fique com ela. Talvez se livrar de Niki e treinar direito Lorelei. Uma ou duas doses

de metanfetamina e ela estaria implorando, disposta a fazer qualquer coisa que ele

falasse, contato que ele continuasse dando o gelo para ela.

Eles tinham encontrado várias lanternas na casa e cada um levou uma arma em

uma mão e a lanterna na outra. Com cuidado, eles fizeram o caminho descendo as

escadas e Darwin pegou a maçaneta da porta da Blazer.

— Não seja estúpido, estúpido. — Niki vociferou. — Se eles estão se

escondendo na floresta e nós dirigindo a Blazer, como diabos vamos vê-los? A menos

que eles sejam idiotas o suficiente para estarem de pé no meio do caminho. Eles estão a

pé, por isso temos de estar a pé. — Ela o chamava de burro? Ele pensou o ressentimento

borbulhando novamente. Ele não era o único que deixou Lorelei sair em primeiro lugar.

Ele direcionou sua lanterna para baixo da garagem. O raio de luz cortou a

escuridão, mas não exatamente iluminou a área para eles. Estava muito escuro e as

lanternas não eram grandes, eram boas para procurar em volta da casa, mas não era

exatamente boas para uma caçada como a que planejavam. Ainda assim, elas eram

melhores do que nada. Lorelei e seu amigo tinham que estar lá em algum lugar e eles

não estavam armados. Se fosse eles, teria ateado fogo na casa como eles tinham feito

em sua fuga. Eles foram, provavelmente, se escondendo, esperando que ele e Niki

dormissem para voltar para a casa. Só alguém sem juízo iria ficar nessa tempestade, só

se não tivessem escolha.

Ele ia atirar no sujeito à primeira vista, tirá-lo do caminho, então não haveria

qualquer forma de Lorelei escapar. Sua imaginação tomou o poder, e lembrou o quão

bonita e macia ela era, como se sentia bem. Sem ver o que estava fazendo, Darwin deu

um passo e escorregou para fora da estrada. Ele bateu no chão, o traseiro primeiro e a

lanterna saiu voando, mas ele conseguiu agarrar a sua arma. O impacto sacudiu seus

ossos, roubou o fôlego. Niki, maldita, se inclinava e ria.

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— Fique ao lado da estrada, seu imbecil! — disse ela, jogando o feixe da

lanterna em seu rosto e eficazmente cegando-o. Grande. Agora, ele não seria capaz de

ver nada por algum tempo.

Darwin lentamente ergueu-se e foi para o acostamento gramado da garagem.

Uma vez lá, recuperou sua lanterna e uma porção de sua dignidade. Olhou para baixo da

encosta, imaginando a mulher que ele quis esconder o osso lá, em algum lugar. Ela iria

pagar por isso. Ele não deixou Niki saber o quanto seu traseiro doía, porque sabia que

iria se divertir com a situação. Niki tinha uma tendência à maldade e não se importava

com os outros.

Bem, que ela se fudesse. Não, esqueça isso. Ele preferiria foder Lorelei. Livrar-

se de Niki, tomar Lorelei em vez disto.

— Oh, Lorelei. — ele chamou em uma voz monótona. — Onde está você,

Lorelei? Venha cá baby, venha para o papai.

Niki riu novamente. Ela estava alterada hoje à noite, indo da raiva ao riso ao

menor motivo. O vento gelado soprava a chuva pungente nos olhos. Seu traseiro doía.

Eles estavam perseguindo duas pessoas que tiveram uma vantagem no escuro, mas no

momento ele não ia se preocupar muito com nada disso. Lorelei ia pagar por fugir deles.

Lembrou-se de sua expressão de terror quando ele a tinha no chão da cozinha.

Ele gostava disso, gostava da sensação de poder, de saber que poderia torná-la tão

assustada que tinha estado prestes a desmaiar. Sim, ele gostaria de tê-la por um tempo.

Ele gostaria de mostrar a ela como gelo poderia fazê-la se sentir, como tendo ela a

implorar por ele — e para qualquer outra coisa que queria lhe dar. — Eu acho que eu

quero que ela alta neste momento — , disse ele enquanto dava passos cuidadosos para

baixo do morro. Se ela estivesse alta gostaria do que ele lhe desse, se quisesse ou não.

— Você a segura, eu vou matá-la. — disse Niki, então, como um interruptor de

luz, foi direto para a raiva de novo. — A vadia maldita!

— Trabalho para mim. — Descuidado com antecipação, Darwin tentou

apressar-se. Seu pé escorregou novamente e os braços rodaram até que recuperou seu

equilíbrio. Amaldiçoando, ele diminuiu a velocidade. Seria melhor ele não cair, poderia

quebrar alguma coisa que precisaria mais tarde. Rindo silenciosamente, ele a chamou

novo. — Lorelei! Pronta ou não, aqui vou eu. — Ele riu de seu próprio trocadilho — e

Niki achava que ele era estúpido.

Gabriel reagiu de imediato ao estopim do tiro, empurrando Lolly até o aterro de

volta para a floresta. Um olhar rápido mostrou os feixes de luz das lanternas dançando

quando os drogados desceram o morro, não tão longe quanto ele gostaria. Eles não

tinham sido forçados a cortar pela floresta, mas sim tinham ido direto da casa para a

garagem, que tinha salvado-lhes tempo. Eles não estavam mais de cinquenta metros de

distância.

Felizmente, eles não podiam se mover mais rápido que ele e Lolly podiam.

Infelizmente, eles poderiam usar suas lanternas e estavam armados. Se eles

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focalizassem suas lanternas para a floresta no lugar certo no momento certo, estariam a

meio caminho de disparar os tiros, ele e Lolly seriam patos.

Neste tempo, embrenhar-se na floresta não era uma ótima idéia. Eles precisavam

se manter em movimento para não ficarem com muito frio, mas ao mesmo tempo o

movimento daria a sua localização. Ele só esperava que os galhos das árvores não

começassem a estalar.

Ele encontrou um pinheiro grande e posicionou Lolly por trás, ocultando-a o

melhor que podia entre seu corpo e o tronco da árvore. Ele abaixou a cabeça assim sua

boca estava perto de seu ouvido. — Depois que eles passarem, vamos regressar. Eles

não esperam isso e podemos nos esconder na garagem até de manhã.

Ela assentiu movendo a cabeça no ombro dele. Gabriel esperava não estar

cometendo um erro. Ele teria gostado de chegar à caminhonete, tomar um pouco de café

quente, tirar esse chapéu congelado de sua cabeça. Ele estava perderndo o calor do

corpo tanto por sua cabeça que não tinha certeza quanto tempo conseguiria continuar,

mas não quis dizer nada a Lolly. Ele não queria que ela se sentisse culpada, porque tinha

o seu poncho. Não era culpa dela que os dois cérebros fritos viciados em metanfetamina

foram caçá-los, nada disso era culpa dela.

— Se tivermos sorte, eles vão quebrar seus pescoços tolos muito antes disso. —

Ele não se importaria mesmo. Ele ia deixar seus corpos e conseguir que Lolly volte para

casa tão rápido quanto eles poderiam se mover.

Novamente, Lolly movimentou a cabeça.

Claro, eles não tiveram muita sorte até hoje, quais eram as chances de ficariam

sortudos agora?

Na floresta atrás deles, foi possível ouvir o crepitar de madeira se esforçando

para resistir ao peso do gelo e o som enviou um arrepio pelas costas que não tinha nada

a ver com o frio e tudo a ver com temor. Lolly ouviu também. Sua cabeça levantada e

ele sentiu a imobilidade de seu corpo enquanto ouvia, esperando. Estava no início da

tempestade para os galhos começarem a cair, mas levando em conta o número de

árvores mortas nessas florestas e os ventos que fariam os galhos caírem mais cedo, sabia

que eles não tinham tempo. A questão era quão logo iriam os galhos começar a cair, e

como seria a queda generalizada?

Galhos mortos primeiro, galhos saudáveis depois. Então copas de árvore

estariam lascando e caindo. Pela manhã as árvores inteiras estariam descendo. Se não

descessem a montanha em breve, eles não estariam indo a lugar nenhum por enquanto.

— Lorelei! Pronta ou não, aqui vou eu!

Lolly estremeceu em seus braços quando ouviu a voz melodiosa, selvagemente

divertida do homem que havia invadido sua casa. Gabriel não gostou da maneira como

o homem chamou o seu nome, não gostou da maneira que Lolly tremeu. Ela não lhe

tinha dado nenhum detalhe sobre o que acontecera antes dele chegar — não houve

tempo — mas ele sabia o quão violentos podem ser viciados em metanfetamina. O que

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46- GrupoRR

quer que tenha acontecido — e ele descobriria mais tarde, se eles sobrevivessem — ela

estava lidando com isto.

Ele nunca pensou que estaria admirando Lolly Helton, mas condenação se não

estava. Não só ela tinha mostrado muita coragem e bom senso, como não reclamou em

nenhuma ocasião, mas ele sabia que seus pés tinham que estar dolorosamente frio nos

tênis inadequados. Um monte de pessoas, com a justificativa perfeita, teria estado

pronto para sentar e desistir, mas Lolly apenas colocou sua cabeça para baixo e

continuou. Dado a determinação, algo deve ter acontecido para fazê-la reagir àqueles

drogados dessa forma.

Ele apertou seus braços ao redor dela, oferecendo-lhe proteção e conforto. — Eu

não vou deixá-lo te machucar. — ele respirou, porque os dois eram viciados estavam

mais próximos agora e até um tom baixo seria muito alto. Essa foi uma promessa que

ele pretendia manter, não importa o que aconteça, a menos que ele esteja morto.

Severamente ele avaliou a situação. Se os dois passassem, continuassem e distanciar-se

de onde estavam, eles poderiam fazer o caminho de volta para a casa sem chamar a

atenção... Tinha que haver alguma coisa na garagem que pudesse usar como arma se ele

viesse para um confronto.

Lolly se inclinou para frente. Seus braços foram em torno de sua cintura,

segurou-o firmemente. Eles estavam usando roupas demais para compartilhar o calor do

corpo, mas o contato era bom. Gabriel a segurou no ombro e embalou sua cabeça

suavemente. Tudo que eles tinham que fazer era ficar muito quietos e muito calmos, e

rezar para que não fossem vistos. Se eles pudessem ficar aqui mais algum tempo, se

pudessem derreter na escuridão e ficarem invisíveis...

Logo os drogados estavam muito próximos, mesmo para uma troca de um

sussurro. Sentia-se a tensão enrolando em seus músculos, mas ela não se moveu uma

polegada. Ainda sobre o vento, ele podia ouvir os dois conversando quando escolheram

o caminho descendo a colina, por vezes direcionando suas lanternas para a floresta. As

lanternas eram de modelo padrão para uso familiar, os feixes fracos comparados ao que

ele usou, mas ele e Lolly estavam apenas dentro da linha das árvores e as luzes

facilmente penetrariam tão longe. Ele manteve o rosto escondido para baixo, porque a

palidez relativa da pele nua era quase como um farol na escuridão.

A mudança de apenas umas horas atrás foi impressionante. Quando saiu da casa

de seus pais, Gabriel esperou fazer batalha com o tempo e com Lolly, mas isso... Isso

nunca havia passado por sua mente.

Um feixe de luz brilhou a poucos metros à sua direita. A árvore que ficava atrás

lhes deu algum abrigo, mas não o suficiente, não com a vinda da luz em seu ângulo.

Caso eles se mudassem para manter a árvore entre eles e os drogados fariam muito

barulho. Havia galhos, vegetação rasteira descuidada, e até mesmo folhas mortas

deixadas para apodrecer a partir da queda do Outono — sem mencionar o gelo — todos

aos seus pés. Mesmo com o vento uivando, era mais provável que o movimento

alertasse os caçadores de seu esconderijo que os seus feixes de luz da lanterna.

Lolly parou de respirar. Assim como ele. E como sorte — muito má sorte — um

feixe de luz pegou sua manga. Ele observou pelo canto do olho, o feixe se afastar então,

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de repente voltar e parar em seu rosto. Uma voz de mulher gritou: — Eu os tenho!

Darwin! Aqui!

Nenhuma chance de se manter o silêncio agora. Gabriel empurrou Lolly longe

da árvore, longe da lanterna e pulou para a cobertura mais profunda. — Corra! — disse

ele, agarrando-lhe o braço e ambos correram como o inferno quando uma bala explodiu

atrás deles.

Niki apontou para a floresta onde viu o homem, o rosto surpreendente branco na

escuridão e disparou, mas era muito lenta. Os dois desapareceram, mas ela podia ouvi-

los cair mais fundo no bosque. Ela os perdera e não gostava de deixar ninguém se

afastar dela, especialmente alguma pretensiosa cadela rica como Lorelei. Ela disparou

novamente, sua mira seguindo o som que eles fizeram enquanto corriam. Isto era como

caçar, ela pensou em emoção e prazer enquanto seguia para a floresta. Lorelei Helton e

seu amigo eram como veados, uma corça e um fanfarrão correndo perigo, correndo de

sua arma. Ela gostava de pensar que eles estavam desesperados, com medo e

completamente indefesos.

— Não atire na mulher! — Darwin gritou com o que parecia ser uma

preocupação real em sua voz.

— Como eu posso ver em que estou disparando? — Niki gritou. O bastardo,

tudo que ele queria era a mulher. Ele era realmente bom em apenas sentar-se em seu

traseiro e deixando-a fazer todo o trabalho, em seguida, lhe dizer como fazê-lo. Ela faria

melhor sem ele, e talvez, apenas talvez, o dia estava chegando quando ela ia fazer algo

sobre isso. Agora, porém, ela tinha que localizar alguns veados. Ela moveu-se para

frente, seu pé mais resistente, estando inteiramente sob as árvores. Ela pegou o ritmo,

então, continuou na direção que tinha ouvido seus cervos tomarem, varrendo-lhe a mão

de lado a lado e puxando o gatilho até o martelo fazer um som de clique e não ter mais

balas sobrando. À sua direita, Darwin estava atirando também, finalmente mais

preocupado em não deixar fugir os dois do que estar prestes a ferir ou matar o seu

prêmio.

Nenhum deles eram atiradores treinados. Mesmo em um bom dia, tudo o que

podiam fazer era apontar e puxar o gatilho, mas não era como eles normalmente se

importavam se acertassem alguma coisa ou não. Apenas o medo de uma arma, o medo

de levar um tiro, eram normalmente suficientes para as pessoas fazerem o que eles

queriam, e eles atiravam em alguém que sempre esteve próximo. Eles nunca antes

precisavam mais do que uma bala ou duas, talvez três, para conseguir o que queriam.

Em poucos segundos, Darwin estava sem munição. Eles pararam inseguros sem

saber o que fazer agora. Eles passaram rapidamente os feixes de luz da lanterna ao

redor, mas não podiam ver nada além de troncos de árvore preto, arbustos e pedras de

gelo. Bem, não era grande? Aqui estavam eles, de pé no mato, com frio, raiva e

efetivamente desarmados. Para culminar, a cadela Lorelei tinha começado de novo.

Embora houvesse a abundância de sons da floresta, nenhum parecia estar vindo dos

cervos humanos.

Uma cócega de advertência rastejou a coluna de Niki. Sem balas não se sentia

tão confiante quanto poucos momentos atrás. Talvez esta não tivesse sido uma idéia tão

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boa. Além disso, ela estava descendo do último golpe de meta, e ela precisava de outro

em breve. Ela se sentiria melhor depois.

— Esqueça isso. — disse ela com raiva. — Nós vamos voltar para a casa e se

aquecer, pela manhã quando o sol aparecer e derreter o gelo na estrada, nós podemos

sair daqui.

— Mas que tal Lorelei? — Darwin perguntou, lamentando-se como uma criança

que acabara deixar cair seu sorvete na areia.

Niki socou para baixo sua onda de ciúme. — Sua cadela Lorelei e seu amigo vão

congelar até a morte lá fora. — Com sua arma inútil, ela gesticulou para as profundezas

da floresta. Estava tão escuro, e merda, agora que a caça perdeu sua atração, o frio

estava começando realmentea penetrar através de seu casaco.

— Mas…

— Você quer continuar procurando? Muito bem. Vá em frente. Vou voltar para

a casa e vou me divertir.

— Só mais cinco minutos de procura em volta e — houve um farfalhar fraco

por trás deles. Darwin estava imóvel. O feixe de sua lanterna dançou todo o chão da

floresta escura. — Você ouviu isso?

Demasiado tarde Niki disse: — Desligue a luz! — Ela se atrapalhou com o frio

das mãos enluvadas para pressionar o interruptor para a posição off, mas já era tarde

demais. No feixe da lanterna de Darwin, ela viu o longo galho de árvore grosso que veio

balançar de trás, como um bastão de beisebol mirando o lado de sua cabeça.

Capítulo Oito

Gabriel os puxou para uma parada trás de outra árvore grande. — Fique aqui e

não mova um músculo, ele sussurrou.

Ele afastou-se dela e ela quase pulou para agarrar sua jaqueta e segurá-lo. Ela

não ia deliberadamente ir em direção ao perigo, ela fugia dele, que é o que fazia sentido

para ela. Mas Gabriel foi militar, e sua formação não era só para ir para o perigo, mas

para neutralizá-lo. Seu coração saltou em sua garganta e se hospedou ali, sabendo que

ele estava arriscando sua vida. Cada instinto seu gritou para impedi-lo, pedir-lhe para

não deixá-la, para mantê-lo lá, tão seguro quanto possível.

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Ela mordeu seu lábio até o sabor acentuado de cobre do sangue tocar sua língua.

Ela tinha que fazer exatamente como ele disse, ou estaria em ainda mais perigo.

Gabriel inclinou-se lenta e silenciosamente, com as mãos varrendo o chão em

volta dele. Ele pegou um membro antigo que estava caído cerca de três metros de

comprimento e ergueu, então descartou silenciosamente e começou a procurar por

outro. Lolly tentou manter um olho sobre Darwin e Niki, para que pudesse avisá-lo se

eles se aproximassem. Eles pararam, e da nitidez de suas vozes, pareciam estar

discutindo, embora não pudesse fazer qualquer expressão individual. Ela olhou para

Gabriel, e ele se foi.

Em pânico, ela olhou em todas as direções, mas não podia vê-lo. Ele havia

desaparecido na chuva e escuridão.

Mas se ela não pudesse vê-lo, então provavelmente Darwin e Niki não seriam

capazes de tanto... Exceto por aquelas malditas lanternas. Talvez ela pudesse chamar a

atenção — Não. Ela descartou a idéia logo que se formou. Gabriel havia dito que ela

não se mexesse. Se fizesse, ele não teria nenhuma idéia de onde ela estava na escuridão,

ele não seria capaz de diferenciar ela dos sujeitos maus. Gabriel McQueen estava

caçando e ela não quis entrar em seu caminho.

As sombras eram profundas ali debaixo das árvores, mas a camada de gelo nas

árvores e arbustos parecia desprender um brilho fraco, refletindo a luz das lanternas que

Niki e Darwin estavam acenando ao redor. As lanternas localizaram suas posições,

exatamente como se eles fossem pegos no palco por holofotes. Havia um brilho ao seu

redor, como se o ar estaivesse cheio de pequenas partículas de gelo. A cena teria sido

impressionantemente bonita se não fosse tão frio de tirar o fôlego, e se não tivesse tão

malditamente assustada.

Então ela avistou por um momento Gabriel, esgueirando-se atrás de Darwin,

cada passo mais lento e cuidadoso que o de um gato grande em perseguição de um

antílope. Lolly permaneceu congelada no local com medo de se mover, com medo de

fazer algum ruído que iria distraí-lo.

Gabriel ergueu o porrete improvisado como um bastão de beisebol. Ele ainda

estava bem para trás, fora do círculo de luz, mas se Darwin ou Niki olhassem ao redor

certamente iriam vê-lo. A postura que ele tomou a fez lembrar de vê-lo jogar beisebol

na escola, todos esses anos atrás quando ele era jovem, magro e arrogante como todos

os diabos. Ele bateu mais do que um home run nos velhos tempos, parecia pronto para

bater um agora.

O coração de Lolly batia forte. Ela estava tentando cobrir os olhos com as mãos,

para esconder a realidade como um jogo de esconde-esconde, mas teve que assistir. Ela

tinha que saber o que estava acontecendo. Se fosse uma mulher de apostas colocaria

tudo que tinha em Gabriel. Mas nada na vida era certo, nem mesmo Gabriel McQueen, e

esta noite a sua vida estava pendurada na balança.

Abruptamente Niki gritou algo e desligou a lanterna. Darwin não era tão rápido

e Gabriel adiantou-se, balançando longe, trazendo seus braços musculosos tão rápido

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que fez um som de assobio. Darwin deixou cair sua lanterna e se abaixou. Com um

rugido como um animal, Darwin girou e saltou sobre Gabriel.

Gabriel não poderia rebater novamente porque Darwin estava dentro de seu

alcance, então passou as mãos separadamente para além do membro e usou-o como um

bar, fazendo curtos e duros golpes com as pontas e se movendo extremamente rápido

para bloquear os socos selvagens que Darwin estava lançado, batendo com a pistola. A

lanterna de Darwin caiu rolando para o lado, apontando para longe deles, então eles não

eram muito mais do que uma sombra enorme. Gabriel era mais alto e mais musculoso,

mas Darwin ainda estava montando em metanfetamina e era insensível à dor. Ele

conseguiu um chute sólido atrás do joelho de Gabriel que caiu, mas arrastou Darwin

consigo.

Onde estava Niki? Lolly percebeu que não podia mais ver a mulher e olhou ao

redor freneticamente, meio esperando Niki pular para fora da escuridão em cima dela,

ou correr em defesa de Darwin, mas... Não Niki. Ou ela aproveitou a oportunidade para

correr, ou estava aguardando seu tempo, procurando uma abertura e atirar em Gabriel

ou bater na cabeça dele. Lolly não poderia dizer com a rolagem, xingamentos e gemidos

sobre a terra quem era Gabriel e quem era Darwin, então provavelmente Nikki também

não.

Abruptamente, Lolly percebeu que estava muito longe para ajudar Gabriel se

Niki atacasse. Sem deixar-se pensar em como provavelmente estava para ser machucada

ou morta por seus esforços, ela copiou Gabriel e tateou ao redor na terra até que

encontrou um pedaço de um galho quebrado que havia caído recentemente, suficiente

para que ele não apodrecesse ainda. Não era tão forte como o galho de Gabriel, mas era

melhor do que nada. Não mais preocupada com a remanescente calma, Lolly correu na

direção da luta.

Onde estava Niki?

Lolly segurou a lanterna caída e freneticamente escaneou ao redor, tentando

identificar a mulher. Se ela estava lá, estava escondida atrás de uma árvore ou um

arbusto. Ela poderia ter ficado para trás, à esquerda, à direita, em qualquer lugar... Até

mesmo no caminho de volta para a casa. Lolly tinha visto apenas duas armas, mas isso

não significava que não haviam mais — tardiamente, percebeu que o fato de que

Darwin estava tentando bater em Gabriel com a pistola em vez de simplesmente atirar

significava que disparou todas as balas na arma e não tinha mais nenhuma, pelo menos

não com ele.

Niki estava sem balas também? Ela estava correndo atrás de mais ou

simplesmente correndo? Não havia forma de dizer. Lolly disparou um rápido olhar para

a luta. Darwin tinha rasgado o gorro de Gabriel fora e estava tentando dar uma cabeçada

em seu rosto. Rápido como um relâmpago, ela disparou e bateu em Darwin no rosto

com o pau, que não era forte o suficiente para impedi-lo, mas que brevemente puxou a

sua atenção para ela. Gabriel aproveitou aquele breve momento de desatenção de

Darwin e o socou no rosto com o punho enluvado. O som era doentio, mas Darwin não

pareceu notar.

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Gabriel era maior, mais musculoso, deveria ter sido capaz de conter Darwin em

questão de segundos, Lolly pensou, então se lembrou o quão louco a meta pode deixar

as pessoas. Ela tinha lido relatos de usuários de metanfetamina que foram baleados

várias vezes pela polícia e que não só não cairam, mas continuaram atacando. Darwin

lutava como um homem possuído, sons de raiva maníaca rosnando em sua garganta

como um animal.

Ela nunca tinha visto uma luta real antes, apenas a versão encenada de

Hollywood, nunca percebeu o quanto mais sujo e ruidoso que era. Isto não estava de

igual para igual nos golpes, nessa luta os oponentes estavam esmurrando, chutando e

golpeando e qualquer coisa que os dois poderiam fazer para machucar uns aos outros.

Havia grunhidos e maldições, as batidas dos punhos com luvas doentias contra a carne,

o estalo da terra gelada por baixo delas. Os casacos pesados de inverno impediam

qualquer dano significativo aos seus corpos, prolongando a luta e aumentando as

chances de Darwin acertar um sortudo soco.

Talvez ela pudesse ajudar. Lolly aliviou mais íntimo, levantando a vara que

estava pronta para atingir se a oportunidade se apresentar propriamente, mas segurando

a lanterna com deficiência porque só tinha uma mão livre para segurar o galho. Ela não

podia se preocupar com Niki, a mulher estava lá ou não. Tudo o que podia fazer agora,

Lolly pensou, era ajudar Gabriel de qualquer forma que podia.

Os homens rolaram e quando pararam, Darwin estava em cima. Ele retirou a

mão e algo estava nela. Lolly não hesitou, não tentou identificar o que ele segurava,

simplesmente pulou para frente, balançando o galho com toda sua força e começou a

tentar vencer o homem que tentou estuprá-la. Ela largou a lanterna, segurou a vara com

ambas às mãos e o acertava novamente e novamente, na cabeça, os ombros, em

qualquer lugar que ela pudesse alcançar.

Com um grito, Darwin pulou de Gabriel diretamente para ela. Ela cambaleou

para trás, terror floresceu em seu estômago, em seu peito. Ela caiu, Darwin em cima

dela e as mãos hesitantes em sua garganta. Ele começou a apertar.

Então ele se foi, erguido acima dela como se fosse uma criança. A expressão de

Gabriel era fria e intensa quando martelou seu punho direito grande mais e mais na face

de Darwin. Darwin estava muito atordoado pelos golpes para lutar, jogou os braços

sobre o rosto para proteger-se e começou a soluçar. — Não me machuque, oh homem,

não me machuque. — implorou. — Eu não fiz nada para você, eu fiz? Huh? O que eu

fiz?

Lolly esforçou-se para sentar, olhando fixamente para ele, incrédula. Ele mudou

de animal enfurecido para perdedor patético no espaço de poucos segundos.

— Cale a boca. — rosnou Gabriel, respirando com dificuldade. Ele torceu os

braços de Darwin pelas costas, empurrando-os alto e olhou em torno de algo para

assegurá-los. — Consiga os cadarços das botas. — disse a Lolly.

Ela não queria chegar perto de Darwin, não queria tocá-lo de qualquer maneira,

mas fez um esforço para rastejar onde Gabriel segurou-o, tendo o cuidado de ficar de

lado para que ele não pudesse chutá-la no rosto. Cautelosamente, ela começou a

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desfazer os nós de suas botas. Eles estavam molhadas e difíceis de lidar e ela teve que

usar as duas mãos.

Gabriel girou a cabeça enquanto olhava ao redor. Ele ainda estava respirando

forte e rápido, e sua expressão... Ele estava realmente chateado, para dizer o mínimo. —

Onde é que a outra vai? — ele perguntou a Lolly. Havia uma nota selvagem em seu

tom.

— Eu não sei — , respondeu ela. Ela estava fazendo uma respiração difícil a si

mesma, e ela fez uma pausa para tomar algumas respirações profundas. — Ela desligou

sua lanterna, e eu acho que correu. Eu não a vi desde então.

Gabriel voltou sua atenção para um Darwin chorão. Ele torceu os braços de

Darwin mais e mais, pressionando a tensão agonizante sobre as bases do ombro. —

Você tem mais munição ou armas de volta para a casa?

— Não. — Darwin disse, abanando a cabeça. — Eu juro, nós não.

Companheiro, por favor, você está rasgando meus braços para fora dos ombros!

— Eu não sou seu companheiro porra! — disse Gabriel. — E se você mentir

para mim, eu rasgarei seu braço fora e irei te bater até a morte com eles, entendeu?

— Eu não estou mentindo! — Darwin deu um grito. O muco estava correndo de

ambos os lados do nariz, pingando na boca. — Niki e eu só temos duas armas e as balas

que estão nelas. Isso normalmente é suficiente. Ow! Ow! Pare, por favor, pare!

Normalmente é suficiente. Lolly perguntou-se quantas outras casas ele e Niki

invadiram, quantos, quantas mulheres ele tinha machucado, estuprada, assassinado.

Profundamente na floresta houve um repentino estalo agudo como um tiro,

seguido por um estrondo e um baque. Por um momento de puro pânico Lolly pensou

que Niki tinha outra arma, mas depois percebeu o que tinha acontecido: os galhos

estavam começando a ceder sob o peso do gelo.

— Que diabos foi isso? — Darwin perguntou com um novo medo em sua voz

trêmula.

Nem Lolly, nem Gabriel se preocuparam em dizer o que estava acontecendo.

— E agora? — ela perguntou, olhando para Gabriel antes de voltar sua atenção

para os laços da bota de Darwin. Eles não sabiam onde estava Niki, Darwin estava

desarmado, em breve seria amarrado, mas não era como se pudessem chamar o xerife e

o prisioneiro ser recolhido e preso dentro de uma questão de minutos. Ela não queria

passar a noite na mesma casa com ele, nem sequer se Gabriel amarrá-lo e amordaçá-lo

como um porco, e não achava que eles conseguissem descer hoje a noite da montanha.

Com galhos já começando a descer, era muito perigoso ir a qualquer lugar.

Gabriel abriu a boca para responder e Darwin de repente atirou-se para trás em

um movimento convulsivo que fez Gabril desequilibrar e torceu os braços livres do

aperto.

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Com um rugido desumano ele foi para Lolly. Agachada da forma que estava não

teve a chance de correr. Ele bateu nitidamente, ela foi atingida com uma força que fez o

ar sair de seus pulmões e bateu a cabeça duramente na terra congelada. Ela ouviu um

som rasgando quando deslizou pelo chão áspero, gélido, então ele estava tentando

apertar sua garganta novamente.

Gabriel recuperou o equilíbrio e se lançou para frente, ambas as mãos agarrando

Darwin pela gola do casaco e atirando-lhe de cima de Lolly. Darwin foi colocado de pé

e Gabriel o girou, plantou seu pé e esmagou seu cotovelo para trás na face de Darwin.

Houve um chocante triturar e Darwin estava de repente sem ossos, o corpo

estranhamente relaxado quando caiu no chão. Seus olhos estavam abertos e fixos, gotas

pretas de sangue gêmeas escorreram de suas narinas.

Gabriel poupou apenas olhar o mais breve. — Ele está morto. — Seu tom de voz

não revelou um pingo de remorso. O cotovelo no nariz, esmagando-o e fragmentos de

ossos em direção ao cérebro, não tinha sido um acidente.

Profundamente na floresta outro galho deu a sua vida com um estalo, e caiu para

baixo. Rígido sobre os calcanhares dele veio outro, este muito mais próximo.

Lolly ainda estava no chão, com os olhos enormes em uma face totalmente

branca quando olhou para ele. Ele se inclinou e pegou seu braço, a puxando para seus

pés. — Nós temos que voltar para casa. — disse ele. — Nós não podemos sair agora,

não com os galhos já descendo.

Solenemente ela balançou a cabeça, mas perguntou, — E sobre Niki? Esse é o

nome dela. — explicou ela, num tom vago. Ela apontou para o corpo no chão. — Seu

nome é Darwin. Era Darwin. — Uma nota de satisfação fraca vazou em sua voz.

Olhando ao redor, como se procurasse a mulher desaparecida, acrescentou: — Ela

poderia estar na casa.

— Talvez. — disse Gabriel severamente — Se ela estiver, eu vou lidar com

isso. De acordo com o que esse idiota disse, eles estavam sem munição. Se ela não

voltar para casa, está aqui em algum lugar... Ela pode congelar até a morte, isso não me

importa .

Quando Lolly apenas ficou lá, ele suavizou o tom. — Lolly, nós não temos

escolha. — Inclinou-se e recolheu a lanterna que Lolly soltou, bem como a pistola vazia

de Darwin. A pistola,ele escorregou no bolso dianteiro da calça. Sua própria lanterna

ainda estava segura no bolso do casaco, ele usaria a outra, enquanto a bateria resistir,

porque quem sabia quanto tempo ficaria na casa antes da estrada ficar desobstruída? Se

a eletricidade na casa já não tivesse desligado, seria em breve.

— Eu sei. — ela disse com voz suave.

Deus, ele estava com frio. Seu gorro foi embora e a maldita chuva miserável

havia formado cristais de gelo em seu cabelo. Nem mesmo seu bom equipamento de

tempo frio poderia manter seu corpo quente, quando estava a perder muito calor pela

cabeça descoberta. Ele tremia convulsivamente, mas se forçou a se concentrar. Ele

podia ver que as calças de Lolly estavam escuras com a umidade do meio da coxa para

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baixo, a umidade que filtrava todos os seus calores do corpo fora também. Eles tinham

que ficar secos. Eles tinham que se aquecer. O esforço tinha aquecido seu corpo durante

a luta, mas agora a decepção foi deixando-o ainda mais frio e Lolly estaria pior, porque

ela não tinha a sua massa muscular, nem a experiência em lidar com as conseqüências

de queimar adrenalina.

Ele virou a em direção da casa, com o braço atrás das costas, persuadindo a ir

em frente. — Você está com frio? — perguntou ele, embora, é claro que ela estava.

— Eu estava. — disse ela. Soava exausta. Ele espera que estivesse, isso era

normal. — Eu não acho que eu estou agora, entretanto. Mas eu não posso sentir meus

pés. — Ele estremeceu novamente, o seu corpo tentando gerar algum calor, e de repente

percebeu que Lolly não estava tremendo. Merda, isso não era bom. Ela estava suspensa

lá agora, mas ele tinha que levá-la para a casa com pressa.

Deixou o corpo de Darwin onde estava, a única outra opção era carregá-lo, e ele

tinha de dedicar a energia que tinha sobrado a tirar Lolly destas malditas florestas e

subir a montanha para a casa.

Cautelosamente fizeram o caminho de volta para a rodovia. Eles teriam que ficar

na extremidade cheia de ervas daninha, onde têm pelo menos o pé em posição marginal,

o que significava que seria perigoso e sobre o gelo cada vez mais árvores revestidas que

se debruçaram sobre a estrada, mas realmente não tinham escolha, porque a estrada era

o caminho mais rápido para cima. Se eles ficassem na floresta ou passassem pela

estrada, teriam que enfrentar a possibilidade de serem esmagados por um galho caindo,

então menos tempo que passar debaixo das árvores. Ele manteve o braço em torno de

Lolly, empurrando a si mesmo como também ela. Ela não sabia o quão perto da borda

ele estava patinando, quanto de esforço que era para ele andar, e queria mantê-lo dessa

maneira. Ela tinha sido uma valente, mas quem sabia onde estava o seu ponto de

ruptura? Ele não achava que ela ia desistir, mas agora não era à hora de descobrir.

Ele fez a sua voz firme de propósito e sem emoção. — Hoje cedo, antes que eu

chegasse a casa... Darwin machucou você?

Ele esperou uma resposta imediata — não — que não iria acreditar, ou um

doloroso — Sim. — que faria com que ele quisesse voltar para o corpo e matar o

homem mais uma vez, mas Lolly hesitou antes de responder. — Ele tentou. Ele quase....

— A voz dela quebrou e ela tropeçou.

Gabriel parou, puxando-a para uma parada, e virou a lanterna para que pudesse

ver sua expressão. Seu rosto era branco. O poncho rasgou e cristais de gelo formaram

em seus cabelos, como eles tinham no seu. Mas seu olhar era mais estável agora,

mesmo que seus lábios estivessem azuis. Ele pegou seu rosto com a mão enluvada, que

não estava segurando a lanterna, em forma de xícara. — Ele não vai te machucar agora.

Sua resposta foi um aceno de cabeça e apesar das circunstâncias adversas, era

alívio o que mudou de expressão. — Sim, eu sei. Você matou o asno. — Ela fez uma

pausa e acrescentou: — Obrigada. Bom trabalho.

GELO - LINDA HOWARD

55- GrupoRR

Ele quase riu. Tranquilos, eles começaram a andar de novo. Ela ia ficar bem.

Lollipop estava se transformando em um biscoito muito duro. Ele continuou a constante

caminhada à medida que subia a colina, um passo lento e cauteloso ao mesmo tempo.

Ele permaneceu alerta, observando e ouvindo a mulher — Niki — mas tudo que ouvia

era o vento e o puxar dos galhos das árvores velhas, cobertas de gelo.

Capítulo Nove

Niki forçou seus pés a continuarem. Quando aquele homem acabou de aparecer

na escuridão como um demônio ou algo assim, e atacou Darwin, seu instinto de

autopreservação tinha retrocedido dentro e correu como o diabo, mesmo sem um único

pensamento de ajudar Darwin. Ela tinha olhado por cima do ombro, em vez de prestar

atenção para onde estava indo e pisou em um mergulho raso. Ela caiu duro nas costas,

forte o suficiente para ficar muito atordoada para se mover por alguns instantes.

Quando foi capaz de se mexer, apenas sentou lá no chão congelado. Assistindo

Darwin e o homem à medida que eles lutavam. Ela estava sem balas, de modo que não

podia fazer nada para ajudar a Darwin. A melhor coisa que podia fazer pensou, era

cuidar de si mesma, não era como se Darwin teria se apressado em seu auxílio, se a

situação fosse revertida.

Não conseguia ver muito, por causa das árvores e da forma como a lanterna de

Darwin rolou quando ele caiu, mas pelo que podia ver, pensou que talvez Darwin fosse

se machucar. O filho de uma cadela que salvou Lorelei era um cara grande. Ela também

pensou que talvez Darwin ganhasse a luta, porque ele era muito mais forte do que

parecia e lutava sujo. O modo de agir de Nikki era um daqueles esperar e ver as

situações, embora não quisesse esperar muito tempo. Se as coisas começassem a

parecerem ruins para Darwin, ela seria melhor cuidando de si mesma. Ela tinha que

voltar para a casa, tirar o gelo que havia deixado sobre a mesa de café... Precisava de

um pouco agora, agora mesmo. Isso faria com que se sentisse muito melhor, se livrando

destes sentimentos de arrepios e inquietação.

Mas deveria ter batido a cabeça com força quando caiu, porque estava um pouco

tonta. Não seria inteligente se levantar cedo demais e cair de novo, droga, realmente se

machucou. Ficaria lá sentada por mais um minuto ou assim, ver o que acontecia com

Darwin. Talvez o visse matar o cara grande.

Então, sentou-se muito quieta, embora o chão estivesse tão frio que a sensação

passou por suas roupas como uma faca afiada, apesar de seu traseiro ficar molhado, viu

quando Lorelei Helton veio correndo para fora da escuridão, com uma vara erguida e

GELO - LINDA HOWARD

56- GrupoRR

atingiu Darwin na cabeça com ela. Não o retardou muito, mas o distraiu, e de repente

Niki sabia que isso não ia acabar bem para Darwin. Dois contra um só não era justo.

Então Lorelei começou a bater em Darwin com o pau, mais e mais, paf, paf, paf.

Ele tinha o grande homem embaixo dele, mas deixou Lorelei chegar perto, e ele correu

para ela. Niki fechou os olhos com nojo. Darwin nunca poderia planejar nada que

valesse a pena, maldição. Isso deixou o grandalhão livre e então, naturalmente, a luta

acabou e Darwin estava lamentando dessa forma que tivesse os seus nervos tão ruins.

Tudo o que ela podia fazer era sacudir a cabeça. Ela não podia ajudá-lo, não tinha nada,

exceto uma pistola vazia. Darwin estava sozinho nisto, o merda estúpido.

Sua cabeça estava melhor, a vertigem tinha abrandado. Silenciosamente,

enquanto eles estavam preocupados com Darwin, ela levantou e começou a se mover

lentamente colocando distância. O som da luta renovada a fez parar e olhar novamente,

viu o grande homem esmagar o cotovelo no rosto de Darwin, viu o modo como Darwin

caiu como um saco de pele vazia, e soube que ele estava morto. Ela tinha visto o

suficiente para reconhecer pessoas mortas como um fracasso, como se seus ossos

tinham de repente tornados moles.

Ela nunca tinha sido capaz de depender do pau-cabeça, e agora ele foi e

conseguiu matar a si mesmo.

Cuidadosamente, o mais silenciosamente possível, trabalhou sua saída da

floresta. Por duas vezes haviam fissuras muito altas e isso assustou a porcaria fora dela

até que compreendeu o que aconteceu. Os galhos estavam quebrando das árvores,

maldição. Tudo ao seu redor, galhos de árvores estavam caídos sob o peso do gelo, um

deles poderia vir para baixo com ela a qualquer momento. Esta merda era assustadora.

Quando chegou à estrada, ela estava tão aliviada por estar fora da maldita

floresta que esqueceu o gelo e tentou fugir. Seus pés imediatamente escorregaram e ela

caiu duro sobre os joelhos. A dor era insuportável. Niki aterrou alguns palavrões quando

lentamente se levantou. Ela permaneceu curvada por um momento, esfregando os

joelhos, até que pensou que poderia andar novamente. Desta vez, ela aliviou o ombro —

o que existia dele — onde tinha uma melhor tração, e continuou para cima em um ritmo

muito mais lento.

O frio, a escuridão, os lamentos do vento, o gelo arrepiante... Tudo a cercou, e

ela só percebeu quando estava só, terrivelmente sozinha, sem ninguém a quem recorrer.

Darwin não tinha sido muito, mas pelo menos ele estava lá. Agora ele estava morto,

pois que o homem era um grande sacana assassino. Ele estava morto, ela estava sozinha

e estava em desvantagem. Por outro lado, a Blazer pertencia a ela agora. Não era como

se Darwin fosse precisar dela novamente.

Enquanto andava, Niki ficou cada vez mais chateada. Se não fosse por essa

cadela Lorelei, Darwin poderia ter ganhado a luta e ao invés de caminhar de volta para

casa sozinha, teria Darwin ao seu lado agora. Eles ficariam aquecidos, tomariam alguma

metanfetamina para comemorar sua vitória e talvez transar na cama de Lorelei.

Saraivada de gelo bateu em seu rosto, e ela não gostou. Era muito foda o frio

aqui fora, e tudo tinha dado errado. Tudo! Eles deviam apenas ter roubado a mercearia

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57- GrupoRR

esta tarde e obtido o restante fora da cidade. Nada tinha ido bem desde o minuto em que

ela viu a Cadela Senhorita Lorelei na sua extravagante Mercedes.

Ela pegou um fio de voz sobre o vento e virou-se para olhar para baixo na

rodovia longa e tortuosa. Lorelei e o grandalhão estavam atrás dela, andando de volta

para o que provavelmente pensaram que era segurança. Por um momento, ela viu um

flash de luz e depois foi embora. Como ela, eles estavam se mantendo ao lado da estrada

e ficando na escuridão.

Uma idéia veio-lhe, e lentamente começou a sorrir, mesmo quando uma rajada

de vento picado a pegou em cheio no rosto. Se as coisas corressem bem, quando saísse

daqui, ela ia dirigir a Mercedes em vez do pedaço de merda da Blazer velha de Darwin,

e esses dois desejariam nunca terem se metido com ela... Por pouco tempo, de qualquer

maneira, nessa altura eles nunca desejariam nada de novo.

— Assim que nós fizermos esta curva, devemos ver as luzes. — Lolly disse.

Gabriel não sabia se ela estava incentivando-o, ou a si mesma. Laboriosamente se

arrastava para frente, fez a curva e parou quando ela procurou na escuridão pela luz da

varanda que iria incentivá-los a continuar, para chegar ao calor e à segurança da casa.

Não havia nada. A escuridão era absoluta. — A energia está desligada. — ela

disse fracamente.

— Sim. — Gabriel a persuadiu adiante, a forçando a continuar. Ele não ficou

surpreso com a perda de eletricidade, embora quisesse que tivessem pelo menos

estivessem chegado antes das linhas caírem. Indo em direção a um ambiente

aconchegante, brilhantemente iluminado da casa era mais de um elevador psicológico

que vendo nada além de escuridão, no fim da estrada. Ele precisava de algo além de sua

própria força para mantê-los, porque ela estava esgotando-se rapidamente.

Lolly estava retardando o desanimo, os seus passos cada vez mais pesados e

mais trabalhosos, ambos perderam a coordenação suficiente para que ele estivesse

preocupado. O frio estava minando suas forças. Ela estava prestes a parar, mas não

podia deixá-la parar, mas não quando eles estavam tão perto do abrigo. Abrigo

significava sobrevivência, e ele não podia dar ao luxo de pensar em outra coisa.

Ele firmou Lolly, teve a certeza que eles continuaram a avançar e ao mesmo

tempo manter um olho atento a Niki, que de tudo o que ele poderia dizer não era menos

mortífero do que seu amigo foi. Sem uma arma, ela tentaria competir com ele? A

experiência com os viciados da meta disse que ela iria. Ela poderia tentar passar por ele,

chegar a Lolly. Mesmo uma pistola vazia podia matar, se bater em alguém na área

vulnerável da têmpora com ela. Lolly estava protegida por todas as coisas que amarrou

na cabeça, mas isso não era garantia de que não poderia ser ferida ou morta.

Logicamente, Niki iria perceber que ela precisava de abrigo, da mesma maneira

como eles fizeram. Ela já poderia estar na casa, esperando por eles. A eletricidade não

poderia estar desligada, ela poderia ter desligado as luzes, então ela teria a vantagem da

surpresa. Ele não podia assumir que ela estava para fora no frio, ou dentro de casa, tinha

que esperar qualquer coisa, e não fazer suposições que poderiam revelar-se erradas e

pegá-lo desprevenido. Até Niki ser detida, não podia deixar sua guarda baixa.

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58- GrupoRR

A noite continuou a ser marcada por réplicas do acentuado dos galhos e estalo

das árvores. O som não era constante, mas também não é final. Nenhuma das árvores

mais próximas à estrada tinha caído, ainda não, mas elas iriam, e logo. No momento, o

pior da queda era na parte mais profunda da floresta, onde as árvores tinham sido

abandonadas por anos. Pelo menos as que fazem fronteira com a estrada tinham sido

cortadas ocasionalmente.

— Eu suponho que não há madeira para a lareira guardada. — disse ele

tentando distrair Lolly, tentando encorajá-la a imaginar o conforto que esperava à frente.

— Não há madeira. — disse ela ofegando com o esforço para continuar. Ele

estremeceu, dizendo adeus ao sonho de fogo, então ela continuou. — Nós convertemos

para gás anos atrás.

Muito melhor. — Aleluia. Fogão a gás também?

— Sim.

— Aquecedor de água?

— Uh-huh.

Isso era um alívio enorme. Eles tinham alguns meios para ficarem aquecidos e

poderiam passar a noite em relativo conforto. — Não está muito distante Lolly e nós

vamos ter um teto sobre nossas cabeças, calor, até mesmo alguma comida.

— E se ela estiver lá? — Lolly perguntou com terror em sua voz. Obviamente

seus pensamentos foram correndo ao longo das mesmas linhas que o seu.

Gabriel deu de ombros. Ele estava aparentemente calmo, mesmo que

interiormente preocupado. — Se Niki estiver lá, eu vou lidar com isso. Eu prometo.

Ela assentiu com a cabeça, mas não pareceu estar totalmente convencida. Quem

poderia culpá-la? A sua situação não era boa, entre o tempo, a escuridão e a doida que

poderia vir correndo sem aviso prévio da floresta, de qualquer armário ou debaixo de

alguma cama.

Acima deles um grande motor rugiu abruptamente para a vida.

Gabriel levantou a cabeça ao som. — Bem, nós sabemos onde Niki está. — ele

murmurou.

Lolly aproximou-se dele. — Sim. — Ela parecia nervosa e desconfiada.

Niki era realmente estúpida o suficiente, ou viciada o suficiente, para tentar

dirigir abaixo nesse morro? Ela não estaria dando partida na Blazer só para esquentar

quando tudo o que tinha a fazer era entrar na casa. Por que alertá-los de sua posição

longe assim?

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59- GrupoRR

O som do motor mudou e mudou as engrenagens. Os faróis ganharam vida

cortando a escuridão, a captura da névoa em seus holofotes quase etéreos, fazendo-a

brilhar.

* * *

Niki sorriu. A Blazer estava revestida com gelo e ter ficado com a porta aberta

foi um problema incomodo, mas ela conseguiu. Ela estava sozinha, sem balas, mas

Lorelei Helton e seu garotão com seu bastão não tinham chance contra a sua Blazer. Ela

ia executá-los como os cães que eram.

— Por Darwin. — disse ela ficando com os olhos marejados ao lembrar-se das

milhas que percorreram nesta Blazer. Talvez ele não tivesse sido perfeito, talvez a

tivesse enganado algumas vezes. Mas apesar de tudo, ele tinha sido dela e agora se foi.

Darwin, se foi. Ela não podia acreditar.

Ela ligou o motor e rumou em direção ao morro, no centro do passeio estreito. A

extremidade traseira da Blazer imediatamente começou a escorregar e ela lutou com a

roda pelo controle, que ela ganhou e perdeu, e ganhou novamente. Pelo menos ela

estava indo na direção certa. Ela mal estava fora do pátio quando os faróis escolheram

seu alvo na beira da estrada. Os dois assassinos estavam lado a lado, juntos, olhando

estupidamente para cima da colina, olhando para ela. Eles não perceberam o que ela

havia planejado. Eles provavelmente pensaram que ela estava fugindo, que era uma

covarde, que iria desistir e deixá-los ganhar, uma covarde que não iria fazê-los pagar

pelo que tinham feito.

Então o grandalhão pareceu perceber o que ela planejava fazer, porque ele

completamente ergueu Lorelei e pulou para a linha de árvores. Uma névoa sangrenta de

raiva subiu na visão de Niki. De maneira nenhuma ela iria perdê-los agora, como se

algumas árvores poderiam detê-la. Eles tinham que pagar. Eles tinham que pagar pela

morte de Darwin, Lorelei tinha que pagar por faze-la de tola saindo de uma janela do

segundo andar, tinha que pagar por influenciar Darwin até que ele não podia pensar em

nada, exceto entrar em suas calças. Ela ia pegá-los e chocá-los contra uma árvore,

fixando seus corpos lá, e ela riria enquanto eles morriam em agonia. Ela queria isso. Ela

queria tanto quanto gostaria de sua próxima sensação. Ela tê-la atingido em breve, em

poucos minutos, assim que ela cuidasse desta pequena tarefa.

A inclinação da rodovia aumentou, indo até a primeira curva acentuada. Niki

mal olhou para o chão, sua atenção estava no local onde o grandalhão entrou na floresta.

Ela girou o volante para a esquerda e a Blazer inteira começou a deslizar para a direita.

Soltando palavrões, ela voltou para a direita, tentando endireitar o veículo. A Blazer

velha respondeu em seguida, a extremidade traseira virou-se e ela não estava deslizando

para a esquerda agora. Furiosa, ela lutou contra o veículo. Como diabos ela conseguiria

fazer o que queria se a maldita caminhonete não quisesse ir em linha reta? Do que servia

a tração nas quatro rodas, se não funcionasse no gelo?

GELO - LINDA HOWARD

60- GrupoRR

Ela puxou o volante para a esquerda, e ambas as rodas direitas da Blazer saíram

do chão. — Merda! — ela gritava ao perceber o quão perto estava ficando da beira da

montanha, os íngremes declives do outro lado da rodovia. — Merda! — A Blazer

resolveu voltar para todas as quatro rodas, os grandes pneus tentaram agarrar a tração,

mas giraram inutilmente sobre o gelo. A Blazer deslizou para trás em seguida,

lentamente começou a girar ao redor ganhando velocidade, ela girou na direção ao

aparecimento de uma encosta abrupta. Ela tinha o pensamento totalmente vazio que era

quase como andar nas xícaras de chás na Disneylândia.

Niki gritou uma vez, de raiva e medo com a injustiça deste gelo estúpido, então

as rodas da Blazer perderam o contato com o chão e ela caiu para o lado.

Lolly agarrou o casaco molhado de Gabriel, observando quando a Blazer de

repente sumiu de vista. Houve um breve momento de silêncio em seguida, um grito

horrível de metal que estava sendo esmagado e rasgado.

— Oh meu Deus. — disse ela em estado de choque e acrescentou: — Bom! —

Ela não pensou que fez dela uma pessoa má, seu primeiro instinto era de alívio. Darwin

estava morto e Niki tinha dirigido apenas a si mesma do lado de fora da montanha. Pela

primeira vez em horas que pareciam dias contados, Lolly de repente percebeu que o

terror acabou. Ela estava segura, com frio até os ossos, tremendo, agitada de uma

maneira que ela sabia ser possível... Mas segura.

— Fique aqui — ordenou Gabriel, quando pegou uma lanterna muito maior no

bolso do seu casaco, abriu-a, e se aproximou com cautela na estrada.

Ele tinha sido seu porto seguro nas ultimas horas. Todo seu corpo protestou por

ter sido separada dele mesmo que por alguns segundos, mas fez como ele instruiu. Não

havia nenhuma razão em ambos irem olhar. Além disso, ela mal conseguia andar, estava

tão fria. Tudo o que ela queria era sentar e fechar os olhos.

A rodovia em declive era traiçoeira com gelo. Gabriel escorregou algumas

vezes, mas ambas às vezes conseguiu recuperar o equilíbrio e ficar em pé. Lolly

respirou um suspiro de alívio quando ele chegou do outro lado da estrada e brilhou sua

luz na montanha abaixo.

Depois de um longo momento, ele fez o seu caminho de volta em toda a rodovia

a Lolly. Desligando sua lanterna potente, ele mais uma vez a guardou no bolso do seu

casaco e tirou à lanterna mais fraca de Darwin que tinha caído. — A Blazer está

aproximadamente cento e cinquenta metros abaixo na encosta. Bateu em uma árvore

frontal. A árvore ganhou. Se Niki não estiver morta, está seriamente ferida, mas não

posso ir até lá para ver. — Ele franziu a testa porque não gostava de saber com certeza.

Lolly não teria pensado que estava em sua natureza sentir-se aliviada com a

notícia de que alguém, ninguém, tinha morrido, mas certamente não era como se

sentisse disposta a deixar uma mulher ferida em um carro destruído para congelar ou

sangrar até a morte — ou, pelo menos, ela não tinha pensado que era assim. Darwin e

Niki a tinham feito mudar de idéia sobre várias coisas. — Graças a Deus. — ela

sussurrou. Sentiu-se como se o mundo ao seu redor tivesse aquecido um pouco. Seu

medo de encontrar Niki esperando na casa, saltando de trás de uma árvore ou pulando

GELO - LINDA HOWARD

61- GrupoRR

de um canto escuro, foi embora. Ela queria cair no chão e chorar de enorme alívio, mas

fez uma respiração profunda no lugar. Era muito cedo para declarar vitória, porque ela e

Gabriel não estavam na casa gratuitamente. Eles ainda tiveram que lutar contra o gelo, e

ele não faria quaisquer decisões estúpidas, como tentar conduzir abaixo de uma

montanha no tempo como este. O gelo não faria nada que não existisse, mas era sua

própria existência transformando o mundo.

— Vamos lá. — disse ele — Vamos ficar aquecidos. — Ele deslizou seu braço

em torno dela, segurando-a na posição vertical quando a levou para frente. Sem sua

ajuda, ela não poderia ter se movido. Os primeiros passos foram exercícios de dor e

falta de coordenação, ela mal conseguia deslizar um pé na frente do outro. Ela sentia

como se tivesse congelado no local, como se não pudesse fazer nada que não seja

apenas parar. Gabriel estava tremendo violentamente contra seu corpo, ele estava em

melhor forma do que ela estava, mas isso não estava dizendo muito.

— Você precisa de mim para carregá-la? — Gabriel perguntou.

Ela ficou horrorizada com a idéia. Ele mal podia andar e pensou que poderia

levá-la? — Não, eu estou bem. — disse ela.

Ele fez um ruído áspero que deixou claro que não achava que ela estava bem,

mas não a levantou e jogou sobre seu ombro.

Na escuridão total, com apenas um feixe de luz cada vez mais fraco iluminando

o seu caminho, eles cuidadosamente fizeram o caminho através do pátio gelado. O que

não parecia tão distante, agora era quase intransponível, eles se arrastando e cada

centímetro ganhado foi pago em agonia. Finalmente, ela muito fracamente visualizou a

casa escura aparecendo à frente deles, e só então realmente acreditou que poderiam

chegar lá. — Sinto muito. — disse ela baixinho, imaginando se Gabriel sequer a

ouviria, com o vento uivando como estava.

Ele olhou para ela. — Te desculpar por quê? — ele perguntou, ao mesmo tempo

manobrando os últimos metros com naturalidade, em torno de sua Mercedes revestida

de gelo. Os passos pareciam como o Monte Everest. Ela sinceramente não estava certa

de que ela poderia ir seguir em frente. — Desculpe, mas você foi pego no meio dessa

bagunça. Desculpe, mas você teve que matar um homem. Desculpe, mas você está preso

aqui comigo quando eu sei que você preferiria estar na casa dos seus pais com seu filho.

— Você sabe sobre Sam? — ele perguntou surpreso. Sua voz estava sem

fôlego. De alguma forma ele não esperava que ela soubesse alguma coisa sobre sua vida

depois de ter completado o ensino médio e ter juntado se ao Exército.

— Eu acompanhei as notícias aqui.

Eles deram os últimos passos e Gabriel segurou o corrimão com a mão esquerda.

Seu braço direito apertado em torno dela, fisicamente arrastando-a, a obrigando a subir

os degraus, gemendo de dor, à medida que ele fez. Então estavam na varanda, mas o

vento uivante ainda estava soprando a chuva sobre eles para que não houvesse muita

melhoria.

GELO - LINDA HOWARD

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— Eu não me arrependo. — disse ele, soltando-a e se curvando para recuperar o

fôlego, reunir suas forças.

Sem o seu apoio Lolly quase desmaiou na varanda, mas embrulhou um braço ao

redor de uma coluna e se forçou a permanecer em pé. — Eu não acredito em você. —

Ela ainda conseguiu um bufo acreditável.

— Sério, Lollipop, você acha que eu ficaria feliz sentado em uma bela casa com

meu filho, comendo sopa quente e bebendo café perto do fogo, quando posso estar aqui

morrendo de frio com você enquanto nós corremos de dois loucos viciados em

metanfetamina? Onde está seu senso de aventura?

— Eu não tenho um. — disse ela, de repente com riso ofegante. Ela se sentiu

tonta e não tinha certeza de quanto tempo poderia ficar em pé, mas agora o que ele disse

foi uma das coisas mais engraçadas que já tinha ouvido. — E não me chame de

Lollipop. — Se ele tivesse esquecido alguma coisa sobre ela, porque não poderia ter

sido aquele apelido horrível?

— Lollipop. — ele prontamente retornou, da mesma maneira que ele fez no

segundo grau. Ele se ajeitou, grunhindo com o esforço e disse: — Nós somos idiotas

para estar de pé aqui fora. Vamos para dentro.

— É mais fácil falar do que fazer. — disse ela, e bruscamente suas pernas

cederam e sentou-se rígida na crosta de gelo da varanda.

— Não ouse desistir de mim agora, Lollipop. — ele resmungou quando

cambaleou em direção à porta. — Eu não a arrastei desta forma para deixá-la congelar

até a morte na varanda.

O conceito dela não era tão difícil. Seria tão mais fácil só enrolar-se na varanda e

relaxar, mas sabia que se ela fizesse, nunca se moveria novamente. O medo a levou

rolar sobre suas mãos e joelhos, mas isso era até onde podia conseguir. De jeito nenhum

poderia ficar em pé. Laboriosamente ela começou a engatinhar em direção à porta. —

Você acabou de conseguir abrir a porta, o herói — disse ela — E eu vou engatinhar o

resto do caminho.

Houve um horrível som de tiro na extremidade da floresta e uma árvore de

sessenta metros de altura virou-se para a base, a coisa toda caindo no chão com uma

força que parecia chocalhar o mundo todo. Ambos ficaram imóveis por um breve

segundo em seguida, Gabriel voltou a se atrapalhar com a maçaneta da porta e Lolly

retomou seu rastejar, lenta e desajeitadamente.

Ela não teria sobrevivido esta noite se não tivesse sido por Gabriel. Ela já estaria

morta, baleada, congelada ou esmagada embaixo de uma árvore coberta de gelo. Teria

morrido uma morte violenta, ela passou as últimas horas de terror e dor, seus últimos

pensamentos de um homem horrível tentando estuprá-la e, talvez, ter sucesso. E não iria

você saber que, logo que o perigo passou, eles começaram a discutir. Algumas coisas

nunca mudam. A sensação de sua disputa mudou, porém. Ela não estava com raiva, não

estava perturbada. Discutindo com o Gabriel tinha uma confortável sensação de que era

quase como voltar para casa.

GELO - LINDA HOWARD

63- GrupoRR

Casa. Ela realmente estava em casa. Tudo o que tinha que fazer era entrar na

casa, e estaria segura. Ela não estava mais tremendo, não por agora... Por quanto tempo?

Ela era uma Maine nativa, sabia que não era um bom sinal. Ela ainda podia pensar, não

tinha sofrido qualquer das desorientações que acompanhavam a hipotermia grave, então

tudo estava certo. Mas, se o seu pensamento estava prejudicado, ela iria perceber isso

mesmo?

Gabriel tentou abrir a porta, mas as luvas revestidas de gelo impossibilitavam

agarrar a maçaneta da porta. Soltando palavrões sob sua respiração, ele usou os dentes

para arrastar fora a luva, a maçaneta girou e a porta abriu-se ao calor e santuário.

Voltando, ele agarrou o braço de Lolly e meio arrastou-a sobre a soleira, longe o

suficiente no interior que pudesse fechar a porta. Então, ela caiu ao seu lado no chão, as

forças deixaram suas pernas e ele caiu ao lado dela. Ele blasfemou um pouco mais,

esforçando-se com as mãos e os joelhos, pegou a grade do corrimão da escada e se

esforçou a ficar de pé. Lolly fechou os olhos. Ela só queria ficar aqui no chão...

— Levante-se. — Gabriel ordenou, a voz áspera e de comando.

Ela estalou suas pálpebras para abrirem um pouco. — Eu não quero levantar.

— Muito ruim.

Ele bateu desajeitadamente à mão sobre sua cabeça e fragmentos de gelo voou

de seu cabelo. Ele tirou a jaqueta e as luvas, depois se inclinou e agarrou o braço dela

novamente. Ela não conseguia se manter sobre seus próprios pés, então ele a arrastou

para os primeiros degraus da escada.

— Eu só preciso de um minuto. — Lolly começou.

— Você tem que ficar seca e quente. — disse ele, batendo em sua primeira

camada de roupa. Ele a tirou fora o poncho rasgado e cristais de gelo voaram, batendo

no chão e uma mesa próxima, derretendo imediatamente.

— Deixe-me sozinha. — disse aflita, batendo em suas mãos. — Nós estamos

dentro da casa agora. Deixe-me descansar um pouco.

— Não até que você esteja quente. — Ele continuou a tirar as roupas longe, e

ela o deixou continuar a tarefa. Uma parte dela queria brigar, apenas, em princípio, mas

estava tão cansada e qualquer movimento era tão difícil que lutar com ele era

impossível. Ele a levantou e ela fechou os olhos e ficou ali, balançando. Era

maravilhoso estar fora do gelo, do frio. Ela podia sentir o calor ao seu redor, o calor

remanescente da presença da energia que tinha saído, mas não podia realmente sentir

isso.

— Abra os olhos Lollipop. — Gabriel vociferou.

Com um esforço, ela abriu seus olhos e fez uma careta para ele. — Por que não

posso apenas dormir?

GELO - LINDA HOWARD

64- GrupoRR

Pela luz da lanterna que ele colocou no chão, apontada para cima para refletir o

teto, Lolly viu a preocupação em seu rosto, assim como a raiva. — Ainda não.

E de repente sabia o que ele estava fazendo, chamando-a Lollipop, tudo menos

escolhendo uma luta. Ele havia tentado deixá-la com raiva, mantendo a consciente.

Emocionada, sentindo suas entranhas virando mingau, ela estendeu a mão e

colocou a mão fria ao longo de sua face áspera. — Desculpe-me, eu estourei com você.

— disse ela.

— Você estourou? Não percebi. Você deve estar fora de forma. Agora, pare de

se desculpar e tire as roupas. — ele ordenou. — Todas elas.

Capítulo Dez

Niki lentamente levantou a cabeça, não tendo muita certeza onde estava ou o que

aconteceu. Ela olhou fixamente ao seu redor, tentando entender as coisas ao seu

entorno, mas o esforço era muito e fechou os olhos, deixou descansar a cabeça contra

algo frio e duro. Sentia-se... Sentiu como se um gigante a tivesse apanhado e lançado no

chão, como se seu corpo inteiro tivesse sido atordoado. Como se tivesse caído da cama?

Não, ela não estava em um quarto, estava... Onde ela estava? Ela não sabia onde estava.

Nada parecia certo.

Então, como um interruptor de luz que está sendo aceso, a sua memória clicou e

tudo retornou em um assalto. Darwin. A mulher Helton e aquele cara grande. A

tempestade, o gelo e a extremidade do mundo.

As luzes do painel brilhavam suavemente, mesmo que o motor estivesse morto.

Um farol brilhou, marcando seu lugar na noite. Tudo o que ela podia ver através do

pára-brisa estilhaçado foi a árvore que havia parado sua descida da montanha. Toda a

frente da Blazer estava amassada, a colisão tinha feito com que ficasse retorcida e

esmagada. Lentamente, ela virou a cabeça, porque se sentiu como se não estivesse bem

presa ao pescoço. Que sentimento estranho, ela não gostou. Mas seu pescoço se mexeu,

o que era bom.

Um grande galho havia caído pela janela, empalando o banco do passageiro.

Cacos de vidro estavam espalhados sobre o banco da frente e o vento frio chicoteava na

cabine pelas janelas quebradas.

Niki tocou sua cabeça com a mão, sentiu o sangue pegajoso lá. Seu couro

cabeludo todo latejava e ela estava tremendo dos pés à cabeça, um grande tremor

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convulsivo. Ela não conseguia parar de tremer, não poderia parar de tremer os

músculos. Maldição, poderia estar morta, ela podia estar morta agora, como Darwin. E

era tudo culpa sua!

Uma parte dela queria ficar onde estava. Ela estava tão cansada, tão fria.

Movimentarse requeriria muita energia dela. Depois de alguns minutos, porém, o seu

instinto de sobrevivência retrocedeu. Ordenar seus pensamentos foi difícil, mas

decididamente ela começou a alinhá-los. Ela não podia ficar aqui. Quando a bateria

desgastasse, ela não teria se sequer o pouco de luz que tinha agora. Ela congelaria até a

morte aqui, no escuro e frio, se não sangrasse até a morte em primeiro lugar. Novamente

ela cautelosamente tocou sua cabeça. O corte não estava sangrando, mas não foi tão

ruim quanto poderia ter sido. Inferno, ela estava viva e não parecia estar faltando

pedaços do corpo, então já tinha alguma sorte. Ela ouviu atentamente, perguntando se

Lorelei e o grandalhão estavam caminhando montanha a baixo à sua procura, para vir

ajudar... Mas não haviam vozes. Não havia vento, não havia gelo e os estalos das

árvores. Era isso. Esses bastardos tinham deixado ela aqui para morrer. Que tipo de

pessoas fariam algo assim?

Ela olhou para o galho que havia entrado através do pára-brisa, imaginou o que

teria acontecido se tivesse sido apenas um pouco mais para a esquerda e estremeceu.

A janela do lado do condutor tinha quebrado também, e Niki virou a cabeça

nesse sentido para tentar orientar-se. A maior parte da luz do farol restante estava

bloqueada por alguma coisa, talvez o pára-choque.

Do lado da maldita montanha, empoleirada estava uma velha e rangente árvore

danificada que estava revestida com gelo... Se a árvore desabasse, a Blazer cairia o

restante da montanha. Ela duvidou que fosse ter a mesma sorte da próxima vez que

algum obstáculo estivesse em seu caminho.

Niki puxou a maçaneta da porta e empurrou. Quando nada aconteceu empurrou

novamente, colocando todo o seu peso na tarefa de abrir a porta. A Blazer rangia e

balançava e ela parou por um instante. A raiva inflamou-se dentro dela, a fazendo

esquecer da dor física. Tudo o que tinha acontecido até agora — a tempestade, a morte

de Darwin, a destruição da Blazer, e lesões de Niki, até o fato de que a maldita porta

não abria — era tudo culpa de Lorelei Helton. Olha o que essa cadela fez. Se ela tivesse

apenas ficado onde foi dito para ela ficar, nada disto teria acontecido.

Onde estava a lanterna? Começou a tatear ao redor, mas não conseguiu encontrá-

la, e não tinha tempo para procurá-la. Havia apenas luz suficiente da caminhonete para

lhe mostrar o caminho. A porta não ia abrir, finalmente decidiu o que fazer, ela levantou

e arrastou-se através da janela quebrada, os seus movimentos cautelosos para não

balançar a Blazer. Quando se arrastou até o vento frio, ela decidiu que o veículo estava

travado com firmeza contra a árvore.

A inclinação era tão íngreme que ela não conseguia ficar em pé. Apegando-se a

caminhonete destruída, Niki olhou para si mesma. Ela não escapou do naufrágio

totalmente ilesa. Sua cabeça estava sangrando, houve um rasgo enorme na coxa direita

de seu jeans e o sangue escorria dela, e seu ombro machucado. Não estava quebrado,

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mas poderia estar. Ainda assim, quando ela olhou para o alto da encosta, se sentia muito

sortuda, e sabia que tinha que haver uma razão para sua sobrevivência.

Ela sobreviveu para que pudesse se vingar de quem tinha feito injustiça dela e

Darwin.

Ela sobreviveu para que pudesse fazer o que era certo.

O gelo cobria tudo, a única forma de subir a colina íngreme era engatinhando, e

foi isso que ela fez. Com cada centímetro que avançava, ela estava cada vez mais certa

de seu propósito. Ela não iria correr. Não estava indo encontrar um local quente e

encolher-se até de manhã. Ela estava indo para matar Lorelei Helton e o homem que

assassinou Darwin. Afinal, era a justiça, pura e simples.

— Quantas malditas peças de roupas você está usando? — Gabriel resmungou

puxando ainda outra camisa.

— Basta! — disse ela batendo em suas mãos. — Pare com isso! Eu posso tirar a

minha própria roupa.

— Então faça isso. — Ele não podia levá-la, mas pode intimidá-la e meio que a

arrastar e empurrar até as escadas, com apenas a luz de uma lanterna balançando cada

vez mais fraca para lhe mostrar o caminho. Em uma nova casa talvez houvesse um

banheiro completo no andar de baixo, mas o banheiro do térreo da casa dos Helton era

um lavabo que havia sido acrescentado em anos anteriores.

Um banho quente iria aquecer Lolly. Chuveiro, roupas secas, comida quente. Era

um plano simples e necessário, se ela apenas cooperasse.

— Eu posso andar você sabe. — ela disse parecendo irritada, mas também mais

cansada do que ele estava confortável. Ele pensava que ela estava tão exausta que

precisava de internação. Não que ele poderia chegar a um hospital, mas ela estava no

limite. Outra meia hora fora e um banho quente não teria sido essa uma ótima idéia.

— Sim, com certeza. Se você pode andar, então o faz. Você precisa entrar no

chuveiro o mais rápido possível.

— Tudo bem, tudo bem. — Ela começou a lutar até a escada, então ele não teve

que fazer todo o trabalho. — Quando eu estiver aquecida — ela acrescentou com um

suspiro — eu vou me enrolar no edredom e dormir por dias. — Ela parou abruptamente.

— Espere. Você trancou a porta da frente?

— Sim. — Ele tinha feito por puro reflexo. Na hipótese bastante remota que

Niki sobrevivesse à queda e de alguma maneira conseguir voltar para casa, uma porta

trancada não era uma má idéia. Era improvável que alguém poderia estar instável após

um acidente como aquele, mas coisas estranhas acontecem. Porque um bêbado andou

longe de um acidente grave, deixando suas vítimas mortas enquanto sacudia a cabeça e

perguntava o que aconteceu? Era a mesma coisa para as pessoas viciadas em drogas, ele

já tinha visto isso muitas vezes ao longo dos anos. Deus vigiava loucos e bêbados, ele

ouviu. Não fazia muito sentido para ele, mas alguns dias provou ser verdadeira.

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— Banho? — Ele perguntou quando chegou ao topo da escada.

— Dessa forma. — Lolly assinalou e ele a seguiu até uma porta que dava para

um banheiro longo e estreito que continha tanto uma banheira — padrão Standard e não

uma banheira de hidromassagem — e uma ducha separada. Nos dias de hoje seria

considerado lotado e pequeno por um lado, mas por sua vez este banho era um grande

luxo. Gabriel não se importava quão grande ou pequeno o espaço era, só se importava

que houvesse um chuveiro e abundância de água quente — bem como, aleluia, um

aquecedor a gás radiante embutido na parede. Ele não podia pensar em muitas coisas

que estariam mais bem-vindas agora do que aquecedor.

— Nós vamos te aquecer. — disse ele enquanto fechava a tampa do vaso e

sentava Lolly sobre ela. Ele colocou a lanterna na traseira do reservatório do toalete de

forma que a luz refletisse no teto branco. Alcançou o chuveiro para ligar a água e deixar

aquecer. Ele só esperava não colocar a temperatura muito quente, porque embora

estivesse usando luvas, suas mãos estavam tão frias que realmente não poderia julgar o

quão morna a água estava.

Ele virou-se e viu que Lolly fechou os olhos novamente. — Acorde! — ele

vociferou. — Lolly! Tire suas roupas!

Ela saltou como um cervo assustado, com os olhos abertos aparecendo. —

Caramba. — ela murmurou. — Tudo bem. Tudo o que eu fiz foi fechar os olhos por um

segundo.

— Você pode fechá-los mais tarde, depois que você estiver aquecida. —

Quando ela se esforçou para fora de suas roupas, ele virou-se e acendeu o aquecedor a

gás, no máximo possível em seguida, ergueu as mãos diante das chamas para absorver o

calor. Ah, Deus, isso pareceu tão bom que chegou a doer. Prendeu-as lá por apenas um

minuto antes de voltar seus esforços a desnudar-se. — Desnudar-se — foi a palavra

errada, porque implicava velocidade. Ele lutou fora delas, assim como Lolly estava

fazendo. O tecido era frio e não cooperativo, suas mãos eram frias e não cooperativas, e

seu jeans estava frio, não cooperativo e molhado, o que elevou muito os fatores não-

cooperativos. Ele mal podia manter o equilíbrio e, finalmente, se apoiou contra a pia

para que pudesse terminar. Ele teria gostado de sentar-se e fechar os olhos também, mas

estava com medo que se fizesse, não seria capaz de começar a se mover novamente.

Ele meio que esperou Lolly protestar, mas ela não fez, nem por tirar as roupas na

frente dele ou ele ficar nu também. Ele estava tentando mantê-la viva e permanecer vivo

por si mesmo, e ela era prática o suficiente para empurrar outras preocupações para o

lado ou sabia o quão perto estava da real dificuldade. Ela também era humana o

suficiente para arremessar uma olhada rápida, incomodada com seus órgãos genitais.

— Não se preocupe. — ele a tranqüilizou com um grunhido. — Eu não poderia

encontrá-lo mesmo com as duas mãos e uma lanterna.

— Então eu espero que você não precise fazer xixi em breve. — ela retrucou, e

se ele não estivesse com tanto frio teria rido isso. Ele era do tipo que não poderia

controlar um sorriso.

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Antes de entrarem no chuveiro ele verificou seus dedos, inclinou-se para olhar

para os dedos dos pés. Eles estavam azuis de frio, mas ainda não mostrava nenhum sinal

do branco que sinalizava ulceração. Então, ele a puxou de seu assento no banheiro,

apertando o braço em volta da cintura dela novamente e a arrastou para o chuveiro.

Lolly choramingou quando a água quente jorrou sobre ela. Ele não poderia dizer

se a choradeira era de dor ou de prazer, ela estava tão fria que qualquer uma das

possibilidades era possível.

Graças a Deus o chuveiro era fixado no alto da parede, para que ele pudesse

ficar completamente sob o spray. Ele entrou debaixo dele, deixando a água bater na

cabeça e derreter o gelo que incrustou em seu cabelo. A água bateu na pele fria como

pelotas, era tanto prazer e dor, ele choramingou também.

— Você está monopolizando a água. — reclamou Lolly e ele resolveu o

problema envolvendo os braços em volta dela e a puxando contra ele, de modo que o

chuveiro quente ficasse sobre os dois. Com um suspiro tremendo pouco, Lolly colocou

os braços ao redor de sua cintura, a cabeça aninhada no seu peito e fechou os olhos

novamente.

Agora que eles realmente estavam no chuveiro, fechar os olhos parecia ser uma

ótima idéia, então ele apoiou o queixo no topo de sua cabeça e fechou suas próprias

pálpebras.

— Deus, isso é tão bom. — ela sussurrou.

Ele não tinha certeza se ela estava falando sobre o calor ou dele, e com certeza

não ia perguntar. Ele não se importava. Ele podia sentir o frio saindo dele, escorrendo

sob a pressão da água de condução. Ele podia sentir o aquecimento da cabeça, sentia a

dor recuando.

Uma parte de seu cérebro — uma parte perigosamente pequena — permaneceu

em estado de alerta para ouvir qualquer barulho acima do som do chuveiro. Ele não

tinha sido capaz de descer a montanha e certificar-se que Niki estava morta, e enquanto

a incerteza continuava, ele não conseguia relaxar completamente. Ele e Lolly estavam

vulneráveis aqui no chuveiro, mas tinham que se aquecer, e quando ele pesou os dois

fatores um contra outro ficando tudo trunfado mais quente. Ele estava com tanto frio

que estava quase além de funcionar, além de ajudar Lolly ou a si mesmo, e Niki se

chegasse a eles mais uma vez, ele não estava certo do que poderia fazer.

Duas coisas pesaram a seu favor. Um delas, mesmo que Niki ainda esteja viva,

coisa que duvidade, ela não estaria ferida, provavelmente demasiado grave para ser

capaz de se mover. Dois, se por algum milagre perverso ela podia ser capaz de se

mover, tinha que estar com tanto frio quanto eles estavam — a menos que ela tivesse

usado metanfetamina por tanto tempo que tinha ido para a hipertermia, o que seria

duplamente perigoso neste tempo, porque não sentiria o frio e não se protegeria

adequadamente dele.

Quando estivesse recuperado e seco, ele iria voltar lá fora e conferir a cena do

acidente novamente. De um ângulo diferente, ele talvez fosse capaz de ver se Niki ainda

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estava na Blazer desconfigurada. Até então, tudo o que podia fazer era tratar um

problema de cada vez e ficar alerta para qualquer som estranho.

Em seguida, outro problema se apresentou.

Quando ficou mais aquecido é que conscientizou o quão bom era sentir Lolly

pressionada contra ele, suave e bem torneada, com curvas muito agradáveis que se

escondiam por trás de todas aquelas camadas de roupa que ela estava usando. A ducha

de água bateu e correu perfeita na carne lisa. Ela estava molhada, macia e nua...

Gabriel passou as mãos para cima e para baixo em volta de Lolly, tentando criar

calor com a fricção, junto a água quente. Ele podia sentir a mudança nela à medida que

ela se aquecia, o corpo relaxou, a respiração se normalizou e sua posição tornou-se mais

forte, mais firme. Ela iria ficar bem. Eles conseguiram, sobreviveram a uma situação

infernal e pela primeira vez em horas, ele se deixou relaxar do estado de alerta elevado.

Ele estava quase dormindo de pé no chuveiro quente com Lolly envolta em seus

braços. Talvez ele cochilasse, por apenas um segundo. Talvez ela fizesse também,

porque além de sua respiração, não se moveu.

Aos poucos, ele saiu do estado de sonolência que se encontrava. A tempestade

de gelo continuou sua mortal acumulação lá fora, mas ele e Lolly estavam seguros do

lado de dentro, aquecidos, protegidos, livres para simplesmente sentir e reagir. Quando

seu corpo absorveu o calor da água, ele se sentia como se também estivesse derretendo,

até que não havia mais nada no mundo, somente o seu corpo e o dela.

Era fácil permanecer em baixo da ducha, segurar Gabriel e deixar todo o resto.

Não tenho mais medo, mais frio. Apenas isso.

Aos poucos, ela percebeu que ele já não tinha qualquer problema em encontrar o

seu pênis. Ele inchou entre eles, longo, grosso e duro como pedra. Vagamente assustada

— Gabriel McQueen estava excitado por ela? — e ainda aceitando completamente,

Lolly abriu os olhos e olhou para cima para encontrá-lo a olhando determinação, a

expressão de um homem que queria sexo e sabia que estava perto de obter. Mesmo no

escuro, com a luz fraca da lanterna somente, ela podia ver o brilho em seus olhos.

Ele alisou os cabelos molhados do rosto, uma mão grande escavou o rosto

machucado, então sua boca estava sobre a dela.

Sua mão era delicada. Sua boca não era. Ele beijou como um saqueador,

faminto, feroz, exigente e tendo em rendição. Sem pensar ou hesitar, ela deu o que ele

queria. Nada importava além deste momento, além da febre repentina imprudente que

deflagrou a vida entre eles. Ambos podiam estar mortos tão facilmente. Eles não

estavam, estavam aqui, vivos, aquecidos, e unidos em um frenesi.

Ele a ergueu e a esmagou contra a parede de azulejos debaixo do chuveiro para

que a água continuasse a cair sobre eles. Instintivamente enrolou as pernas em torno de

seus quadris, abrindo-se para ele. Descendo, ele posicionou seu pênis, a cabeça grossa

roçou-lhe a carne macia, mal entrou, e que foi o suficiente para fazê-la choramingar em

necessidade. Ela se contorcia, buscando mais, e ele deu a ela. Com um gemido, ele

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empurrou profundamente, roubando sua respiração, tanto facilitando e aumentando a

necessidade afiada. Ela gemeu também na tomada dele, na sensação de ser esticada pela

plenitude pesada, os movimentos para frente e para trás dentro de si. Lolly fechou os

olhos e apertou o aperto de suas pernas em torno dele, cavalgando a tempestade.

Ela veio forte e rápido, gritando, tremendo e arqueando sob o ataque de puro

prazer. Ele agarrou seu traseiro e a moveu para frente e para trás sobre ele, movimentos

curtos e rápidos que intensificou seu orgasmo e era quase demais para suportar.

Gemendo, ela enfiou as unhas em seus ombros quando a sensação de ápice diminuiu,

abruptamente em seguida a atingiu novamente. Ela não podia suportar isso, não

aguentava mais, e de repente lágrimas correram de seus olhos. — Por favor. — disse ela

com um arrepio e um gemido profundo, ele enterrou-se ao máximo e veio também,

bombeamento duro, rápido e, gradualmente, mudando seu ritmo para um mais lento e

ondulante quando ele extraiu seu próprio prazer.

Na sequência houve silêncio, mas um silêncio em que eles agarraram juntos,

engolindo o ar e tentando recuperar alguma força nas pernas que não tinham nenhuma

no momento. O corpo pesado de Gabriel a esmagou contra a parede, se não fosse o

suporte daquela parede, ela suspeitava que eles estariam no piso do chuveiro. Seus

braços estavam enrolados ao redor dele, e distraidamente afagou a nuca, absorvendo a

sensação dele nu contra ela. Ele era todo músculo duro, cada centímetro dele, ela como

mulher estava encantada em estar presa ali com o pênis ainda pesado dentro dela.

Ele despertou o suficiente para chegar e desligar o chuveiro com uma pressão de

pulso. A água estava esfriando de qualquer maneira, o aquecedor a gás tinha deixado o

banheiro agradavelmente quente.

Nenhum deles disse nada. Haveria um momento para conversar, mas aquele

tempo não era agora. Por enquanto, eles apenas estavam à deriva no momento.

Delicadamente, ele escavou um peito duramente com a mão grande. Seu áspero

dedo polegar roçou para trás e para frente sobre o seu mamilo e ela sentiu que ele a

tocava em todos os lugares, formigando ao longo de terminações nervosas que ainda

não tinham acalmado. Ela apertou os lábios contra seu ombro molhado, depois com um

suave suspiro descansou sua cabeça lá.

Seus pensamentos se espalharam com relaxamento através de seus ossos. Ela

adorava esta casa, pensou sonolenta, sempre tinha: os cheiros, os quartos amplos, o

mobiliário antigo. Até hoje, todas as suas memórias neste lugar tinham sido boas. Ela

não queria que sua última lembrança nesta casa tivesse nada a ver com Darwin e Niki.

Quando ela fosse embora, dissesse adeus, queria que suas lembranças finais fossem

boas. Gabriel deu isto a ela, substituído horror com prazer, mau com o bem.

Lolly moveu sua boca, saboreou a pele molhada do pescoço e inalou o seu calor.

Sua respiração mudou, seu corpo mudou, mas não longe dela. Ele aproximou-se, mais

profundo dentro dela, de modo algum jamais tinha se sentido tão bem.

— Como você se sente? — ele perguntou com sua voz rouca, ao mesmo tempo

firme e suave.

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— Melhor. — Ela estava maravilhosamente quente, maravilhosamente

letárgica. Eles precisavam ficar secos e se vestirem, mas não ainda. Ela beijou seu

pescoço novamente. — E você?

— Sim. Melhor. — Ele fez uma pausa. — Uh. Lollipop…

Ela sorriu escondida contra seu ombro. — Eu estou de olho em você, agora.

Você está apenas tentando me fazer louca, chamando-me de tal maneira. — disse ela,

sem calor.

— Bem, sim. Esse foi sempre o ponto. — disse ele, como se isso fosse óbvio.

— Eu tinha uma paixão terrível por você. — Ela nunca teria admitido isso

antes, ficaria mortificada se ele já suspeitasse... E agora isso não importava.

Ele puxou sua cabeça para trás um pouco, olhando para ela. — Não me diga? —

Ele parecia satisfeito. — Você não agia como tal.

— Claro que não. Eu era uma adolescente. Eu teria morrido ao invés de deixar

que você soubesse. — Graças a Deus esses anos ficaram para trás, não queria reviver a

angústia e os hormônios irados, a insegurança insuportável.

— Eu gostava de brigar com você. — ele admitiu, sua própria boca curvando

em um pequeno sorriso. — Isso ia me levando.

Homens, ela pensou. Eles não poderiam ser da mesma espécie. Ela suspirou tão

contente que mal conseguia se mover. Naquele momento, tudo estava bem, com Gabriel

dentro dela, com o resplendor do prazer ainda fresco, ela estava contente.

Ele se mexeu relutantemente, separando seus corpos e ela deixou. Suas pernas se

desprendendo em torno dele, as coxas descendo até os pés dele e mais uma vez tocaram

o chão. Ele inclinou o queixo para cima assim que seus olhos se encontrassem. — Você

está tomando pílula? — Sua voz retumbou em seu peito, profunda e rouca.

Ela não pôde deixar de sorrir. — É um pouco tarde para esta questão, não é?

Mas a resposta é sim, eu estou.

— Isso é bom. — Ele esfregou seu dedo polegar sobre o lábio inferior. — Nós

podemos fazer isto novamente.

— Agora? — perguntou ela assustada e ele riu.

— Quinze anos atrás sim, mas agora levará umas horas para me recuperar.

Venha, vamos nos secar.

Suas pernas não estavam muito estáveis, mas sentiu-se muito melhor,

praticamente normal. Estava um pouco consciente de estar nua na frente dele, o que era

um pouco bobo neste momento, mas suas bochechas estavam avermelhadas quando ela

saiu do chuveiro e rapidamente dirigiu-se para o armário de roupas, onde pegou duas

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toalhas. Ela lançou-lhe uma e rapidamente começou a secar-se, perto do aquecedor de

parede.

— Eu tenho algumas latas de sopa na cozinha. — disse ela, tentando parecer o

mais normal possível.

— Parece bom para mim. — Gabriel esfregou a toalha sobre os cabelos, em

seguida, fez uma pausa para olhar para a roupa molhada no chão. — Eu suponho que

seu pai não deixou para trás qualquer roupa.

— Não. — disse ela. — Eles retiraram todos seus artigos pessoais para fora uns

anos atrás. — Então ela riu. — Ele é seis centímetros mais baixo do que você e sua

cintura é, provavelmente, dez centímetro mais grossa. Eu não acho que quaisquer de

suas roupas teriam lhe servido de qualquer maneira. Vamos pendurar suas roupas em

frente a uma das lareiras, elas devem estar secas pela manhã.

— Grande. — Sua voz retumbou. — Acho que eu estarei completamente

despida até então.

— Eu não me importo. — disse ela e sorriu para ele. — Mas nós temos

cobertores, aquecedores de parede diversos, um par de lareiras a gás, bastantes velas e

as latas de sopa que lhe falei. Tenho um pouco de café instantâneo também.

Seus olhos brilharam com a menção de café, mesmo que fosse instantâneo. —

Isso vai servir.

— Eu estou morrendo de fome. — Lolly disse, percebendo como aquelas

palavras eram verdadeiras. Também percebeu que não se importaria se ela e Gabriel

estivessem presos aqui por alguns dias. Depois do que aconteceu no chuveiro, tão

rapidamente e naturalmente, que ela mal tinha tempo para pensar, não quis pensar em

como passariam o tempo.

A vida tomou algumas voltas surpreendentes, ela pensou. Nunca poderia ter

previsto isto, nunca pensou que seria tão confortável com ele ou que fazer amor com

ele, de todas as pessoas, se sentiria tão bem.

Bom Senhor. Gabriel McQueen.

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Capítulo Onze

Niki se amontoou no chão em um canto escuro da cozinha, ouvindo a água

correr no andar de cima enquanto tentava espantar o frio. Esforçou-se para ouvir mais.

Não estava certo de que Lorelei e o grandalhão estariam juntos, mas era provável. Um

deles poderia estar na sala de estar, em outro quarto no andar de cima... Ao virar o

canto.

Eles sabiam que ela estava aqui? Eles a ouviram?

Em sua exploração anterior da casa, antes de tudo ir à merda, Darwin verificou a

lavanderia e da porta dos fundos para o material portátil que poderia penhorar, quando o

dinheiro que eles tirariam da mulher Helton estivesse acabando. Ele não encontrou uma

merda naturalmente, mas no momento isso não importa. O que importava eram os

planos que fizeram para a noite febril, logo ele não se preocupou em bloquear

novamente a porta quando voltou para dentro. Ela entrou na casa escura pela porta dos

fundos, na lavanderia, na cozinha, com frio, tremendo e toda machucando. Ela estava

encolhendo-se e escutando. Foi quando primeiro ouviu a água correndo e percebeu que

pelo menos um deles estava em cima.

A água parou, e um momento depois, ouviu vozes lânguido, dois deles. Ela não

poderia entender o que eles estavam dizendo, mas essas vozes asseguraram-lhe que

ninguém estava esperando ao virar do canto, os dois estavam no andar de cima. Alívio

percorreu através dela, conseguia respirar novamente. Ela poderia pensar.

Não havia muita coisa na casa que poderia ser usado como uma arma, agora que

toda a munição que tinha foi embora, mas qual o melhor lugar para encontrar uma arma

do que a cozinha? Niki se forçou a ficar de pé, ignorando a dor e o frio persistente. Suas

mãos estavam tão frias, seu corpo inteiro estava tão frio que mal conseguia se mover.

Agora que estava dentro da casa esperava que essa frieza desaparecesse, mas isso não

estava acontecendo rápido. Uma vez que ela tivesse o lugar para si mesma, iria acender

uma fogueira, tomar uma batida e relaxar. Ela ganhou esta noite.

Lentamente abriu uma gaveta, depois outra, cautelosamente ao redor e não se

preocupando em fechá-las desde que não fizesse muito barulho, ainda não estava pronta

para enfrentar seus inimigos. Ela não conseguia ver muito, mas seus olhos tinham se

adaptado ao escuro e havia um toque de luz, reflexo do gelo, entrando pela janela da

cozinha. Havia apenas o suficiente para ela ver as sombras e as formas enquanto

procurava dentro das gavetas, não encontrando nada adequado. Havia apenas o mínimo

de utensílios. Depois de pesquisar quatro gavetas, ela silenciosamente bufou de

frustração, em seguida, examinou a bancada e sorriu para a forma escura que viu lá.

Um toque confirmou que a forma escura era um bloco de facas de açougueiro.

Ela pegou o punho da faca maior e ficou horrorizada ao descobrir que suas mãos

estavam tão frias que não poderia pegar a faca corretamente. Do que adiantava a faca

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ser boa se ela não poderia segurá-la? Ela cuidadosamente colocou a faca sobre o balcão

com acesso fácil, em seguida, tirou as luvas e esfregou as mãos, trazendo de volta o

fluxo sanguíneo e calor. Ela teria gostado de ligar a torneira e deixar a água quente cair

sobre as mãos, mas o som de água corrente alertaria os dois lá em cima, então não se

atreveu. Ela teve que se esforçar. Depois de esfregar as mãos por um minuto, ela as

colocou em seus braços para absorver o calor do corpo.

Com o retorno do calor veio uma onda de dor. Estava ferida, não sabia o quão

ruim, mas pensou em Darwin e como esses dois idiotas o mataram, e ela afastou a dor.

Ela lidaria com isso mais tarde, depois que eles estivessem mortos. O cara grande iria

primeiro, porque era o mais perigoso. Ele matou Darwin com seu maldito cotovelo. Um

estalo rápido e era isso, Darwin não mais. Lorelei não era nada. Niki sabia que podia

levá-la sem nenhum problema, depois que o cara grande estivesse fora do caminho.

Quando ela pegou a faca de novo, ficou satisfeita com a sua aderência. Poderia

segura-lo corretamente agora. Concentrou-se em ouvir novamente. Por um momento

não havia nada, então uma tábua rangeu. Houve um passo, depois outro. No início, ela

ficou chateada porque a energia estava desligada, mas agora pensou que iria trabalhar a

seu favor. Haviam sombras e cantos escuros onde ela poderia se esconder, onde podia

esperar e pegá-los de surpresa. Ela tinha uma vantagem. Ela sabia onde eles estavam, e

eles achavam que ela estava impotente, morta, fora de suas vidas.

Eles estavam errados. Ela era como um fantasma, um fantasma muito perigoso,

que se destinava a certificar-se que ambos estivessem mortos antes que a luz do dia lhes

dessa a oportunidade de encontrá-la.

Lembrou-se de ver algumas velas e lanternas por aí, mas procurá-las seria fazer

muito barulho, e toda a luz que fizesse daria a sua posição de distância. Isso podia

esperar. Eles saberiam que ela estava aqui em breve, mas ainda não.

Ela era uma parte da noite, pensou, ao mesmo tempo vertiginosa e ainda

estranhamente independente, como se uma parte dela estivesse flutuando alheia ao seu

corpo. Ela era uma sombra. Ela era a morte. Com a faca presa na mão, ouviu, em

seguida, deu alguns passos cuidadosos para frente. Ela não precisava ver.

E eles nunca iriam vê-la chegando.

* * *

Deus, ele odiava colocar sua calça jeans molhada, mas as colocou de qualquer

maneira. Ela tinha começado a secar, graças ao aquecedor a gás no banheiro, mas ainda

estava desagradavelmente úmida e pegajosa. Depois de tudo o que tinha passado por

esta noite, ele poderia podia lidar com esse pequeno detalhe desagradável durante algum

tempo. Além disso, uma vez que eles estivessem lá embaixo e acendesse a lareira, o

jeans não ficaria úmido por muito tempo. Seu casaco manteve a camisa seca e as botas

tinham protegido seus pés. Uma vez que a lareira aquecesse a sala, ele iria tirar a calça

GELO - LINDA HOWARD

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jeans e colocá-la sobre uma cadeira ou algo assim, empurrar para perto da lareira para

que secasse mais rápido.

Lolly tinha algumas roupas em seu quarto, o que o surpreendeu, porque ela

estava usando tantas que ele tinha certeza de que tinha vestidos todas as peças. Sua

porta do quarto, porém, foi trancada por dentro. Ele seria capaz de abrir a fechadura sem

nenhum problema, com um alfinete ou um clipe de papel, nenhum dos quais ele tinha

no momento.

— Há vários no andar de baixo. — respondeu ela, quando ele disse isso. Ela

poderia ter colocado sua própria roupa molhada de volta como ele, mas não podia

suportar a idéia e ao invés disso conseguiu um fino cobertor do armário de roupa de

cama e o envolveu de seu corpo. — Vou esperar até você possa conseguir abrir minha

porta do quarto.

O que lhe convinha, pensou ele. Sim, era uma dificuldade real, passar a noite

com uma mulher vestindo nada além de um cobertor, quando se lembrava exatamente o

que parecia e sentia debaixo do pano.

Ele não tinha a intenção de ter relações sexuais com Lolly no chuveiro, mas com

certeza não poderia dizer que estava arrependido. Ele estaria mentindo se dissesse que

não queria isso, que lamentava o que aconteceu. Querendo ou não, aconteceria de

novo... Merda, se lhe tocasse e sorrisse, se ela colocasse a boca em cima dele

novamente, provavelmente não teria mais controle do que ele teve na primeira vez.

Ocorreu-lhe que ele não sabia se ela era casada ou já tinha sido, se tinha um

marido ou namorado em casa. Conhecendo Lolly, ele suspeitou que não. Ela não era o

tipo de mulher que iria rosquear em torno de um homem.

Então novamente, ele poderia realmente dizer que a conhecia? As pessoas

mudaram nos últimos quinze anos. Às vezes, elas mudam muito. E ainda se sentia como

se ele a conhecia, sentia como se os quinze anos foram talvez quinze meses, o intervalo

deu-lhe tempo para vê-la em uma luz diferente e apreciar as diferenças. Maturidade era

uma coisa maravilhosa.

— Você sabe — disse ele, tão casualmente quanto conseguia, — nós

provavelmente vamos ter que sair daqui.

Lolly abraçou o cobertor mais perto e fez uma careta. — Você está brincando

comigo, certo?

— Quanta comida e propano que você tem à mão?

Ela suspirou. — Suficiente para uns dias, no máximo.

— Isso é o que eu imaginei. Vamos nos aquecer, comer, dormir, esperar o sol

chegar e ouvir a queda de árvores para aliviar um pouco. Na tarde de amanhã, o mais

tardar, as equipes de estrada devem estar fora trabalhando. O caminho até a montanha é

de baixa prioridade, provavelmente na parte inferior da lista, mas se pudermos descer a

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76- GrupoRR

colina iremos provavelmente nos encontrar com alguém muito antes de chegarmos a

cidade.

— E se nós não...?

Ele sorriu para ela. — Então nós vamos andar o resto do caminho para a cidade.

— Depois desta noite, uma caminhada longa, difícil no frio parecia uma moleza.

— Eu preciso de algo quente para comer antes de eu sequer pense em sair

daqui. — Enrolada em seu cobertor, Lolly foi em direção a escada.

Lolly odiava, odiava, odiava voltar para a cozinha. Como odiava tanto, ela se

forçou a continuar, a não hesitar. A memória do que aconteceu aqui foi muito forte,

apesar de tantas outras lembranças — boas e ruins — tinham sido feitas hoje à noite.

Mas queria e precisava de comida quente na barriga, e ela se recusou a permitir que um

homem morto a confrontasse. Ele estava morto, ela não estava. Ela ganhou.

Com a energia desligada, o acendedor elétrico do fogão não iria funcionar, então

ela achou os fósforos e acendeu um queimador no fogão, a chama exalava calor e um

pouco de luz, o suficiente para procurar por algumas velas e as lamparinas que ainda

sabia estavam aqui, em algum lugar. Ela se virou e parou em seu caminho, abraçando o

cobertor mais perto dela. Várias gavetas estavam abertas, e seu coração balançou com a

visão.

Ela respirou profunda e lentamente. Darwin e Niki devem ter andado à procura

de alguma coisa, mas o quê? Qualquer coisa que pudesse ser vendido, ela imaginava.

Ela se perguntava se alguma vez não teria mais medo. A partir daqui ela iria saltar ao

som de cada toque da campainha ou rangido da casa? Será que ela desconfiaria de todo

estranho?

Gabriel estava na sala, iluminada pela lareira a gás, colocando suas roupas para

secar. Ela não ia pensar em Darwin, pensaria sobre Gabriel. Ela iria se concentrar em

encontrar as velas, obteria uma sopa quente, então eles se acomodariam em frente ao

fogo.

Não a incomodava antes, mas de repente percebeu como ela estava irregular em

todas as roupas, camada por camada. Era mortificante, não importava o quão necessário

que tivesse sido. Ela queria ficar bem para Gabriel. Ela nunca se importava muito sobre

sua aparência, muito menos Gabriel, mas agora... Agora desejava que tivesse o suéter

azul que seus amigos disseram que fazia os olhos dela brilharem e o seu jeans caro

realmente confortável que a fazia ficar com uma aparência fantástica. Tocou o cabelo

molhado. Ela realmente poderia usar um secador de cabelo também.

Com uma mão segurando o cobertor, que estava enrolado em seu corpo, Lolly

pegou uma panela do armário, em seguida, agarrou uma lata de sopa da despensa. Ela

colocou a lata no balcão e alcançou uma gaveta aberta para o abridor de lata... E

congelou.

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77- GrupoRR

Quando passou pela cozinha, ela estava tentando lutar contra Darwin, e

instintivamente esquadrinhou a procura de armas. Naquela época, o bloco de facas

estava totalmente fora do alcance — mas cheio. Agora, a maior faca da coleção se foi.

Por que eles teriam tomado uma faca quando ambos tinham armas de fogo?

Um calafrio percorreu sua espinha. Niki poderia ter sobrevivido ao acidente e

voltado. Eles não a ouviram quebrar nenhuma janela e Gabriel trancou a porta da frente.

Mas as chaves estavam em sua bolsa e Niki tinha a bolsa.

Lolly mal podia respirar. Com a intenção de ficar aquecida, tão certo que Niki

estava morta ou abatida para o acerto de contas, ela ainda não tinha pensado sobre as

chaves.

O pesadelo voltou com força total. O medo e o frio se apoderaram dela.

— Gabriel! — Ela gritou, girando para correr e ficou cara a cara com o

pesadelo.

Niki — sangrando, mancando, segurando a faca faltando em sua mão levantada

— cambaleou para Lolly.

Lolly se lançou para trás até que bateu no armário, e então não tinha lugar para

ir. Ela pegou a lata de sopa e a jogou, mas ricocheteou no ombro de Niki. — Foda-se!

— Niki disse furiosamente. — Isso dói cadela!

Lolly pegou a panela e a jogou, quando Niki moveu-se rapidamente, ela

aproveitou a oportunidade para arremessar para o lado, longe dos armários. Havia um

pequeno arranjo floral seco na mesa da cozinha, ela jogou isso também. Niki moveu-se

rapidamente de novo e continuou se aproximando.

Em seguida, Gabriel estava lá, rápido e silencioso em seus pés descalços,

surgindo da escuridão. Ele bateu em Niki por trás, o impacto a fez colidir com os

armários. Ela gritou de dor e caiu no chão. Gabriel aproveitou, pegou a mão que

segurava a faca, e a bateu contra o chão inúmeras vezes até que ela perdeu o controle e

tiniu a faca no chão.

Imediatamente, Niki começou a chorar. — Pare! Estou machucada! Meu braço...

Eu acho que meu braço está quebrado. — Ela começou a soluçar. — O que eu deveria

fazer? Você matou o Darwin e, em seguida, você me deixou de fora no frio para morrer.

Como você pôde?

Fácil, Lolly pensou. Ela não sentiu pena da mulher em tudo, mesmo que o

sangue seco cobria seu rosto e suas roupas. Mas Niki continuou a queixar-se, assim

como Darwin, que passou de atacante furioso a mendigo patético num piscar de olhos.

Quantas vezes fizeram aquela encenação? Gabriel não a comprou contudo, e nem Lolly.

— Cale a boca. — disse ele bruscamente e estendeu a mão para seu outro pulso

para prendê-lo.

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78- GrupoRR

Enfurecida que sua tática não funcionou, Niki gritou e balançou a pistola vazia

que tirou de seu casaco. Gabriel sacudiu a cabeça para trás, mas o tambor pegou no

canto externo do olho direito e chicoteou sua cabeça ao redor. Ela levantou

completamente, empurrando-o para trás e o golpe impressionou o suficiente para que

por um segundo ele não conseguisse reagir rápido o suficiente. Niki pegou a faca caída

e com um pulo fugiu pela porta de trás.

Gabriel deu uma rápida sacudidela de cabeça e lançou-se em sua perseguição.

Seu coração batendo tão forte que mal podia respirar, Lolly empurrou a porta do

armário debaixo da pia, pegou o martelo na pequena caixa de ferramentas aberta que

tinha estado lá, desde que podia se lembrar e seguiu os dois.

Capítulo Doze

Gabriel alcançou Niki na varanda de trás. O frio cauterizou a sua pele nua. Ele

não estava usando nada, nem mesmo uma calça jeans molhada, nem mesmo uma camisa

que poderia retirar e usar para prender a faca longe dela. Ela girou, dando coices com a

faca e pulou para trás. Ela era apenas uma sombra na escuridão, apenas o instinto e a

experiência adquirida pelos combates com os homens que tinham sido treinados para o

combate, o ajudou a evitar a lâmina. Ela era drogada, louca, imprevisível e letal como o

inferno.

Ele desejou que tivesse tempo para pegar alguma coisa, qualquer coisa que

poderia usar como arma ou para bloquear a cortante faca, mas quando Lolly gritou o seu

nome reagiu imediatamente, sem pausa para olhar ao redor. Ele sabia sem dúvida, que

de algum modo a cadela homicida não só sobreviveu ao escorregar do lado da

montanha, mas conseguiu subir e voltar para casa.

Niki lançou adentro, reduziu para ele, arremessou de volta. Ela perdeu, mas não

por muito. Ela veio de novo e ele viu o brilho da lâmina bater fortemente em seu

estômago. Ele empurrou para trás, agarrou o braço dela. Do canto do olho, viu o

movimento na porta e seu coração quase parou. Lolly!

— Não! — ele gritou. A última coisa que queria era ela aqui fora, no escuro,

onde não seria capaz de dizer-lhe de Niki, mas ela saberia exatamente que Lolly estava.

Niki girou em direção à nova ameaça e ouviu seu riso como ela surgiu em frente. Ele

sabia que não poderia chegar a tempo de agarrar o braço dela, sabia que não podia se

mover rápido o suficiente para tirar Lolly para fora do caminho, mas ele tentou de

qualquer maneira, saltando para ela, mesmo que seu coração sussurrou que era tarde

demais, tarde demais...

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Lolly balançou o martelo. Ela mal conseguia ver uma sombra escura, vindo em

sua direção, mas Gabriel gritou de algum lugar para a esquerda e sabia que não era ele.

Estava tão escuro que ela não tinha nenhum jeito para julgar a distância, mas ela

balançou tão duro como pôde e ficou surpreendida quando o martelo bateu em alguma

coisa com um som doentio que era ao mesmo tempo conversão de um sólido e ainda de

alguma forma imprecisa.

Em seguida, Gabriel estava lá, a envolvendo em seu corpo, com uma pressa que

bateu as costas na lavanderia. Ela sabia que era ele, sabia que o seu perfume, sentia a

nudez dos braços e no peito. Eles caíram no chão. Ele levantou imediatamente, pulando

de pé e girando para enfrentar o próximo ataque de Niki, mas... Nada aconteceu.

Nenhum maníaco drogado veio através da porta. Não havia nada além do silêncio da

varanda dos fundos.

— Procure minha lanterna. — disse Gabriel, respirando com dificuldade, e

Lolly mexeu seus pés. O cobertor... De alguma forma ela perdeu o cobertor e estava

completamente nua, mas se preocuparia com isso mais tarde. O ar gelado varreu a porta

aberta, picando-lhe a carne quando correu para as escadas onde Gabriel tinha deixado

cair o casaco, quando veio pela primeira vez para dentro. A lareira na sala de estar

estava acesa, fornecendo luz suficiente para que encontrasse o casaco sem nenhum

problema, remexeu no bolso, tirou a lanterna, virou, em seguida, correu para a varanda

novamente.

Gabriel pegou a lanterna e ela brilhou na pilha que estava no chão. Niki estava

recolhida em seu estômago, respirando superficialmente, o rosto virado para longe

deles. A faca estava no chão ao lado de sua mão. Gabriel avançou, chutou a faca bem

fora do seu alcance e só então se inclinou para pegá-la. A luz da lanterna mostrou

claramente o dano do martelo tinha feito a cabeça de Niki.

E mesmo enquanto eles observavam, ela tentou levantar-se de joelhos. O que era

ela, a maldita exterminadora do futuro?

— Por que ela não morre? — Lolly sussurrou, evidentemente pensando no

mesmo sentido. — O que nós temos que fazer: pô-la em uma cuba de aço derretido?

E então Niki morreu, afinal muito discretamente. A respiração superficial parou.

Gabriel pegou o braço de Lolly, guiou-a de volta para casa. Abaixando-se,

agarrou o cobertor e enrolou-o em torno dela. Ela tremia como uma folha, e, embora

houvesse muito que precisava fazer, Lolly era mais importante que qualquer outra coisa

nessa lista no momento. — Você está bem?

— Excepcionalmente bem. — ela sussurrou.

— Sério, olha para mim.

Ela olhou para ele, e o que viu assegurou-lhe que estava realmente certa, ou pelo

menos tanto quanto inusitada para alguém a violência podia estar em tal situação. Ela

não estava feliz, mas nem estava desmoronando sob uma tonelada de culpa

inapropriada. Ela fez o que tinha que fazer e aceitou isso.

GELO - LINDA HOWARD

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Ele beijou-a, em seguida, a deixou parada no meio da cozinha, abraçando o

cobertor para o seu corpo tremendo e voltou para a varanda. Ele se agachou ao lado de

Niki, estendeu a mão e tocou-lhe a garganta, em busca de um pulso. Nada. Ele soltou

um suspiro de alívio.

Um pouco da chuva fria soprou sobre a varanda, estabelecendo-se no corpo de

Niki e em sua pele nua. Seus pés pareciam quase tão congelados como tinham estado há

uma hora. Ele não estava vestido para esta merda, por isso deixou Niki onde estava e

voltou para casa.

Quando ele fechou a porta de trás, tomou um momento para travá-la. Precaução

era sempre necessário.

Os segundos se arrastavam, Lolly escutou rígida. Ela devia se mover, fazer

alguma coisa, seguir Gabriel ou fugir. Ela descobriu que não podia fazer nada, apenas

ficou lá, segurando firmemente o cobertor e ouvindo seu próprio batimento cardíaco

enquanto esperava. Estava terminado? Niki se foi, de alguma forma vai se levantar de

novo, ignorando a morte? Lolly queria paz, queria que esta noite estivesse terminado.

Ela ouviu fechar a porta traseira e seu coração combinou seu baque. Um

momento depois Gabriel entrou na cozinha, felizmente sozinho e sem ferimentos.

— Está realmente terminado? — Sua voz tremeu.

— Está terminado. Ela está morta. — disse Gabriel, quando veio para ela,

apertou o cobertor em torno de seu corpo frio, abraçou-a.

— Você tem certeza?

— Eu tenho certeza.

Lolly não tinha pensado que jamais estaria feliz em saber que alguém estava

morto, mas alívio puro passava por seu corpo. Ela descansou a cabeça no ombro de

Gabriel, chafurdando na força e no calor. — Eu a matei. — ela sussurrou.

Gabriel voltou, a fez olhar nos olhos dele. Como ele podia estar tão tranquilo?

Tão firme? A chama do fogão cintilou, lançando sombras estranhas acima de seu rosto.

— Bom trabalho. — disse ele brevemente, pagando um elogio muito sutil a sua força

por não adoçar nada.

Lolly quadrou seus ombros. — Eu não estou arrependida. — disse ela. — Ela

estava vindo atrás de você com uma faca. Ela teria matado a nós dois.

Lolly tomou alguns passos que a separavam do fogão e virou o botão, que matou

a chama, mergulhando o quarto na escuridão. — Eu não quero sopa, eu não quero nada,

a não ser sair desta maldita cozinha. — ela murmurou.

— Nós precisamos comer. — ele argumentou.

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— Eu tenho as barras do café da manhã — , disse ela, abraçando o cobertor para

seu corpo frio e indo embora. Se ela nunca puser os pés na cozinha de novo seria

perfeitamente feliz.

Gabriel a seguiu para fora da cozinha, por isso, quando ela tropeçou na ponta do

cobertor — no meio da sala de jantar — estava lá para pegá-la, para evitar que batesse o

rosto no chão. Depois de tudo o que aconteceu, tropeçar em um cobertor não deve ser

traumático, mas as lágrimas brotaram em seus olhos. Gabriel ouviu, viu, talvez as

sentiu, e a levantou nos braços. Ela deixou, sem uma palavra de protesto que era

perfeitamente capaz de cuidar de si mesma. No momento ela não se sentia capaz de

nada. Ele sussurrou palavras calmantes. Ela não prestou atenção ao que as palavras

eram, mas sentia a intenção, o conforto, o abismo da sua alma.

A sala de estar era como outro mundo: quente, iluminada pelo fogo, quieta. O

que restou da tempestade assolava do outro lado da janela, para além das paredes

resistentes, mas pela primeira vez hoje à noite, a tempestade estava separada e sem

importância. Eles estavam vivos. Eles sobreviveram a uma ameaça que foi maior do que

a tempestade.

Gabriel a abaixou no sofá e sentou-se ao seu lado, continuando a segurá-la perto.

Lolly queria parar de tremer, mas não conseguiu. Não era o frio que a fazia tremer, não

desta vez.

— Acho que vou contratar alguém para vir e arrumar tudo o que sobrou. —

disse ela, seu olhar sobre o fogo, seu corpo ajustando bem contra o corpo de Gabriel.

— Provavelmente não é uma má idéia.

— Se eu achasse que nós poderíamos percorrer isso com segurança para a

cidade hoje à noite, eu estaria fora dessa porta em cinco minutos. Eu não posso voltar

aqui depois disto. Eu não quero nunca mais ver essa casa de novo.

— Muito ruim. — Sua voz era um sussurro surdo, como se estivesse

simplesmente pensando alto.

Lolly levantou a cabeça e olhou para ele. — O quê? — Certamente ela não tinha

ouvido corretamente. — Sério? — Como ele poderia pensar que ela podia olhar para

esta casa como seu lar novamente? Por que alguém em sã consciência desejaria retornar

depois de uma noite como esta?

— Wilson Creek não será a mesma sem um Helton ao redor, mesmo se apenas

parcialmente.

— Wilson Creek vai sobreviver. — argumentou.

Gabriel suspirou. — Eu acho que sim, mas como vou pedir-lhe para se ausentar

sempre que volto para visitar, se você estiver em Portland, em vez de aqui?

GELO - LINDA HOWARD

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Ela não sabia o que chocou a maior parte dela, que ele iria considerar lhe pedir

para se ausentar ou que sabia detalhes de sua situação de vida atual. — Como você sabe

que eu vivo em Portland?

Ele encolheu os ombros largos. — Eu devo ter ouvido alguém mencionar isto.

Mamãe, provavelmente. O que me lembra, você está convidada a permanecer em nossa

casa até que as estradas sejam liberadas.

— Isso é muito bom — , disse ela, sabendo, sem sombra de dúvida o convite foi

idéia de Valerie McQueen.

Ela se virou para o fogo, achando o rosto solene de Gabriel de algum modo

perturbador, e seu olhar caiu sobre as drogas e seringas na mesa de café. Ela estava

exausta, mas saltou do sofá, pegando os sacos de plástico com a intenção de atirar tudo

para o fogo. Gabriel pegou a mão dela antes que pudesse tocar em algo.

— Evidências. — ele disse simplesmente. — Deixe tudo direito onde está.

Ela se virou para ele, irracionalmente irritada. — Eu tenho que deixar esta

porcaria na mesa de café de minha mãe a noite toda?

— Sim.

— Isso é ridículo. É... É obsceno! Se Niki morresse na cozinha, você teria

apenas deixado ela lá a noite toda?

— Sim. Eu sou um policial, querida — um policial militar, mas continua a ser

um policial. Você não vai mexer na cena até a investigação seja concluída.

Foi bom sentir algo além de medo, então ela abraçou totalmente seu

aborrecimento. — Então, Niki e Darwin estão mortos, e ainda de alguma forma ainda

estão no comando.

Gabriel bufou completamente chateado. — Não, eu estou no comando, e meu

pai vai ter o meu couro e o seu se eu foder com as evidências.

— Então eu tenho que sentar aqui e olhar para isto a noite toda. — Ela apontou

para a mesa de café, silenciosamente agradecendo que Niki tinha tido a graça de morrer

do lado de fora. Se o corpo estivesse na cozinha, sob seu teto, ela estaria viajando hoje à

noite montanha abaixo, com gelo ou sem gelo.

Gabriel ficou de pé. Ela esperava que ele a levasse em seus braços novamente,

mas não fez. Ele colocou as duas mãos firmemente sobre seus ombros e olhou

diretamente nos olhos. — Vou lá pra cima para recolher um lençol para cobrir a mesa

de café, uns cobertores e travesseiros para nós. Você vai escolher algumas roupas secas

e se vestir. Então eu vou para cozinha aquecer uma sopa...

— Eu não vou voltar nessa cozinha... — Lolly disse enérgica.

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— ... E trazer umas tigelas aqui — ele continuou sem pausa, — para que

possamos obter algo quente em nossas barrigas. Vamos salvar as barras de café da

manhã para a viagem para descer da montanha.

— Como você pode ser tão calmo? — ela perguntou, irritada, grata e furiosa

consigo mesma, porque uma parte dela ainda estava assustada.

— Que escolha eu tenho? — Ele respondeu.

Lolly sentiu uma onda de liberação através dela. Naturalmente, ele estava certo.

Se ambos entrarem em pânico, iriam simplesmente criar mais um desastre e Deus sabe

que ela teve desastre suficiente por uma noite.

— Vou me vestir. — disse ela numa voz mais controlada. — Você faz o que

você tem que fazer.

Gabriel inclinou-se então, e fez o que negligenciou fazer mais cedo. Ele a beijou.

Este não era um beijo — Vamos ficar ocupado — era uma conexão tranqüilizante,

calorosa e muito agradável, que serviu para lembrar que ela não estava sozinha, e ao

mesmo tempo muito eficaz que levou sua mente fora da noite de horrores — por alguns

segundos preciosos.

Sentiu o beijo no seu intestino. Seu pânico anterior, o que flutuava dentro dela

como que fosse uma coisa física tentando escapar, desvaneceu-se.

Ela podia fazer isso. Eles podiam fazer isso.

O beijo não durou o suficiente, mas ele fez o truque. Ela colocou a mão no rosto

de Gabriel, sentiu a barba áspera lá. — Tudo bem — , disse ela baixinho. — Eu estou

bem agora.

Ela virou-se para a lareira e sua chama de boas-vindas, ouviu quando Gabriel

correu até a escada.

Realisticamente, essa aventura foi longe demais. A caminhada até a cidade

amanhã seria perigosa e difícil. Mas não era ainda amanhã e hoje ela estava segura,

aquecida e protegida.

Ela se sentiu um pouco como Scarlett O'Hara, mais ou menos. Ela se ocuparia

do amanhã quando ele chegasse.

GELO - LINDA HOWARD

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Capítulo Treze

Gabriel recostou a cabeça contra o sofá e fechou os olhos. Sopa de talharim de

galinha enlatada nunca pareceu tão bom. O simples prazer de não estar fora no frio, de

ter um fogo, de saber que ele e Lolly estavam seguros pela noite — Foi um sentimento

bom, um tesouro a ser estimado mesmo que apenas por um tempo.

A lareira a gás não crepitava como um fogão a lenha, mas ele não precisava se

preocupar com a alimentação, de modo que foi uma troca justa. Lolly não sabia

exatamente quanto propano foi deixado no tanque, mas lhe disse que não tinha sido

utilizado por um tempo. Ela estimou que houvesse o suficiente para sua estada, de modo

que durasse para a noite toda. Algumas horas mais, isso era tudo que eles precisavam.

— Conte-me sobre seu filho. — Lolly inclinou-se contra ele, como tinha feito

desde que terminou sua sopa. Seu corpo estava finalmente quente — e vestido. O calor

do corpo compartilhado era uma espécie de clichê, ele supunha, mas era bom. Com um

morto metanfetaminado esquisito na varanda de trás, outro na mata e uma árdua

caminhada à frente deles, bom era uma coisa boa. Ele poderia muito bem apreciá-lo

enquanto podia.

— O que você quer saber?

— Será que ele parece com você ou com sua mãe? Ele faz baseball, arte ou

música? Ele é alto ou baixo? — Sua cabeça descansava confortavelmente no ombro

dele. — É difícil para você, fazendo-o viver tão longe? — Esta última pergunta foi feita

com uma hesitação em sua voz, como se não tivesse certeza de que era uma questão que

devesse perguntar.

Gabriel nunca se importou de falar sobre Sam. Houve momentos em que

percebeu que tinha falado demais, de ser chato para quem estava ouvindo — apesar de

serem geralmente muito educados para o dizer. Desde que ela pediu, ele estava contente

de responder. — Sam se parece comigo, mas ele tem os olhos de Mariane. Ele não é

grande para sua idade, mas não é muito pequeno, mediano. Ele está no baseball,

definitivamente, e basquete. Acreditem ou não, ele é também um gênio em matemática.

Bem, um gênio para uma criança de sete anos de idade. Eu não tenho certeza de onde

ele conseguiu tudo isso, uma vez que a matemática não era a minha melhor matéria

escolar e levou Mariane loucamente a se equilibrar nos talão de cheques. — Era

estranho falar de sua falecida esposa, sem a sensação habitual de tristeza. Estranho, mas

certo. — Ele definitivamente não é tranquilo. Alguma vez você já passou algum tempo

significativo com uma criança de sete de idade?

— Não. — ela disse suavemente.

— Bem, eles são feixes de energia e Sam não é nenhuma exceção. Ele quer ir a

toda velocidade ou ele está dormindo. — Ele respirou fundo antes de continuar. — E,

GELO - LINDA HOWARD

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tendo que viver tão longe é mais difícil, é uma tortura. — Ele encontrou-se explicando

como os pais de Mariane até tinham intensificado a ajuda após a sua morte, como o seu

sogro foi transferido para Texas tentou encontrar outro emprego, um manteria a ele e

sua esposa perto do neto, no final ele não tinha escolha senão se mudar. Era isso ou ficar

desempregado. Gabriel disse a Lolly como tentou fazer a coisa funcionar como pai

solteiro, algo que ele nunca tinha falado antes, mas de qualquer maneira mais simples,

nem mesmo com seus próprios pais.

— Baby-sitter, vizinhos, amigos de Mariane, esposas dos meus amigos... Todos

faziam o que podiam para ajudar, mas no final o meu horário era tão irregular que se

tornou um problema. Sam não tinha continuidade. Ele nunca sabia onde estaria, quem

iria ficar com ele quando eu estava trabalhando no turno da noite ou era chamado de

repente. Aqui ele tem estabilidade. Ele sabe onde vai dormir à noite.

— É um preço alto a pagar. — Lolly disse. — Para vocês dois.

Ele foi dizendo a si mesmo que a situação era temporária, que gostaria de

encontrar uma babá que pudesse pagar, assim seu filho poderia estar em casa à noite,

mas com cada semana que passava houve um crescente temor de que nunca seria capaz

de fazer os arranjos apropriados. Ele era um sargento do exército, o que o fez uma vida

decente, mas não era o suficiente para pagar alguém vinte mil por ano, o mínimo

necessário para cuidar de crianças em tempo integral.

Ele não queria que seu filho crescesse com um pai ausente, que o visitava

quando podia, mas em seus momentos mais funestos não viu como ele podia evitar isto,

pelo menos agora. Os avós de Sam iriam se tornar efetivamente seus pais e seu pai seria

um segundo pai, um visitante ocasional que interrompia a rotina diária. Lolly estava

certa, o sacrifício era um preço alto a pagar pela estabilidade.

— Nós vamos fazer isso funcionar. — disse ele. — É o melhor para o Sam,

então é isso que eu vou fazer. — Ele estava ansioso para mudar de assunto. — E você?

Noivos, divorciada...

— Nenhuma das opções acima. Saio de vez em quando, mas não houve nada

sério em um longo tempo.

— Por que não? — Ela era bonita, inteligente, e se o que aconteceu no chuveiro

era qualquer indicação, uma mulher extremamente sensual. Ela o tomou de surpresa,

mas depois de quase tudo que tinha feito desde que subiu essa montanha há poucas

horas o surpreendeu. Quem teria pensado que ele viria a admirar Lolly Helton? Ela

estava fora de seu elemento a partir do inicio, mas ela resistiu a ele e até mesmo veio em

seu auxílio durante ambas as batalhas com Darwin e Niki. Sua força interior,

especialmente em relação à Niki, trouxe um profundo sentimento de respeito. Isso não

poderia ter sido fácil para ela, mas fez o que tinha de ser feito e não desmoronou depois.

Ele não estava disposto a admitir que esperava menos dela, porém, a única coisa

que ele não queria fazer era magoá-la ou ter o seu lado ruim. Para sua surpresa, ele

também gostava bastante dela, gostou de tudo que havia aprendido sobre Lolly esta

noite.

GELO - LINDA HOWARD

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— Talvez eu seja muito exigente. — Sua resposta trouxe de volta sua atenção

para a pergunta que tinha feito. Ela suspirou. — Talvez eu seja azarada. Eu não sei. A

resposta é simples, é só não aconteceu para mim. Amor, isto é. — disse ela mais baixo.

— Eu tenho certas expectativas e eu não quero somente me conformar com um homem

qualquer meio decente, porque os trinta anos rastejaran para cima de mim e o desespero

chegou.

Ele não podia ver em Lolly a pessoa que ele costumava conhecer ou a mulher

que veio a conhecer hoje à noite, alguém desesperada para conseguir um homem. Ela

sobreviveu a uma situação difícil sem se desintegrar, e enquanto ela se inclinou sobre

ele — literalmente e figurativamente — estava longe de ser frágil ou carente.

E ele sempre lembraria a imagem dela correndo atrás de Niki, vindo em sua

defesa, mesmo que ela estivesse com medo, meio fora de seu juízo — e desnuda, além

disso.

— E você?. — perguntou ela, como se uma idéia tinha acabado de surgir. —

Houve alguém desde que sua mulher morreu? — Ele podia ouvir a sugestão de

desconforto em sua voz, como estivesse se perguntando se teve relações sexuais com

um homem comprometido com outra mulher.

— Não.

Ele estava certo Lolly que seu alívio fosse tão evidente para ele, mas o seu

suspiro e a forma de seu corpo relaxado disseram tudo. Então, ela era bonita, inteligente

não era desesperada e tinha moral. Caso contrário, o pensamento de que ela poderia ter

tido relações sexuais impulsivamente com um homem que estava envolvido com outra

mulher não a teria incomodado.

Você quis realmente dizer aquilo antes? — Perguntou ela — Sobre perguntar a

mim se você voltasse para cá, eu conseguiria uma folga.

— Eu não teria dito isso se eu não quisesse. Por quê? Você diria que sim?

— Talvez. Mas só se você prometesse que a nosso segundo encontro seria

menos excitante que o primeiro.

Ele riu, surpreendendo-a e a si mesmo. Esta não foi uma noite para risos — ou

não tinha sido até agora. — Este é um encontro?

— Você me viu nua e me alimentou no jantar. — Houve um toque de humor em

sua voz. — Soa como um encontro excelente para mim.

Gabriel perguntou-se uma ou duas vezes o seu primeiro encontro depois da

morte de Mariane seria como se ele nunca encontrou a mulher certa — e a coragem para

avançar. Ele com certeza nunca imaginou algo assim, nunca por nenhuma extensão da

imaginação pensou que poderia ser Lolly Helton, de todas as pessoas, que pela primeira

vez em três anos o fez sentir atração física assim como emocional. Ele queria fazer sexo

com ela novamente, queria compartilhar com ela as coisas mundanas, queria descobrir o

que a fazia rir, o que a fazia chorar, as cores que gostava, a sua flor favorita. Lolly o fez

GELO - LINDA HOWARD

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sentir como se pudesse haver uma vida real lá fora, novamente, uma vida plena e

normal para ambos. Ele teve com Mariane e sua morte repentina, o havia deixado tão

vazio que só tendo Sam, tinha força para seguir em frente.

Ele e Lolly tinham passado por situações muito estressantes que fizeram a

sensação de intimidade, a ligação muito mais intensa do que se eles se encontrassem

novamente em circunstâncias normais. Mas será que eles teriam dado um ao outro, uma

chance se as circunstâncias tivessem sido normais? Se tivesse tido uma crise para fazê-

los ver uns aos outros como estavam agora, em vez de como tinham sido há quinze

anos?

Mas a conexão estava definitivamente lá, e de repente sentiu a promessa do seu

futuro do que a perda de seu passado. Eles tinham que ir devagar, ele pensou se darem

bem, como também tempo de Sam se ajustar a tudo, dar a eles mesmos tempo para ver

se as coisas realmente dariam certo, em vez de se precipitarem e talvez cometer um erro

que poderia perturbar o mundo de Sam ainda mais.

Mas eles tinham tempo. Ele sorriu, pensando em quão divertido seria.

Lolly fez o seu melhor para esquecer o que aconteceu hoje, e empurrou sua

preocupação com o amanhã fora de sua cabeça. O uivo do vento tinha parado e a chuva

gelada não era mais arremessada pelas janelas. Mas as estradas ainda estariam

revestidas com gelo, e ela ainda não ouviu o estalo e impacto ocasional de uma árvore

que caiu ou algum galho pesado. Não havia como dizer o que ela e Gabriel

encontrariam depois que saísse de sua casa pela manhã, se dirigindo para Wilson Creek

e segurança.

No momento ela estava feliz por estar aqui, num abraço caloroso e solto, mas

seguro de Gabriel.

Como uma adolescente que teve tal queda por ele, ela esteve irritada

extremamente com ele por não corresponde-los, ou mesmo sendo consciente dos seus

sensíveis sentimentos. Olhando para trás, percebeu que não havia absolutamente

nenhuma razão para que ele soubesse o que tinha sentindo. Ela não tinha dito a ele, ou

qualquer outra pessoa. Ela não tinha sequer olhado para ele, a menos que ele implicasse

e ela respondesse. Aos quinze anos, ela não tinha sido tão lógica. Apesar de ser sincera,

de que maneira aos quinze anos de idade estava bastante familiarizada com a lógica?

Havia algo de muito interessante sobre um homem que falava com amor tão

evidente sobre seu filho, que sacrificara tudo para que ele pudesse ter um lar seguro e

feliz. Ela preocupou-se menos sobre o futuro da longa caminhada para a cidade que

teria caso contrário, porque sabia que Gabriel não só iria fazer tudo ao seu alcance para

levá-los logo que possível, como também estaria certificando-se de levá-los

seguramente — se não por ela, ou por ele mesmo, então por Sam.

Sono estava rastejando rapidamente. Ela podia sentir o esquecimento, bem-

vindo, certo. Mas ela não estava pronta para cair ainda.

— Provavelmente eu vou estar de volta em Wilson Creek uma ou duas vezes

nos próximos meses. — disse ela baixinho. — Mesmo se eu contratar alguém para

GELO - LINDA HOWARD

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arrumar a casa, haverá papéis a assinar para colocá-la no mercado e, em seguida,

quando vender vou ter que vir aqui para ver a legalidade. — Ela estava quase positiva

que podia lidar com os detalhes de longa distância, mas... Talvez não quisesse.

— Eu tento voltar pelo menos de dois em dois meses. — disse Gabriel

casualmente. — Às vezes é apenas por uns dias, preciso ver Sam sempre que tenho a

chance.

Estúpida. Toda a sua conversa de uma data era apenas uma maneira de matar o

tempo, talvez uma tentativa de fazê-la esquecer o que aconteceu naquela noite. Quando

Gabriel voltasse a Wilson Creek, iria querer estar com sua família, mais

particularmente, seu filho, e não uma garota que mal se lembrava do ensino médio.

— Você deve conhecer Sam. Quando ele tornar-se interessado e receptivo,

podemos ir pescar. — Ela não respondeu imediatamente, então ele acrescentou: —

Você não pesca, não é?

— Eu sou da classe mundial que alcança o congelador e retira alguns filés. —

disse ela sorrindo. — Eu provavelmente poderia aprender. Pelo que eu vi não parece ser

muito exigente. — Ela tentou imagem de um dia quente de verão, o lago, os três

pescando e talvez um piquenique em um cobertor grande, xadrez... E não conseguia. A

imagem que ela tentou criar em sua mente, não se formava completamente.

Ela não pertencia. Lolly percebeu que não era uma parte da imagem e nunca

seria. Ainda assim, foi uma ilusão agradável, uma forma agradável de colocar de lado a

realidade por um tempo. — Eu faço grandes cookies de chocolate e uma salada fria de

macarrão. Poderíamos ter um piquenique também. — Fechou os olhos, e por um

momento ela estava ali, pertencia a essa imagem. Talvez não fosse real, talvez nunca

fosse real, mas como ela se desviou para dormir, foi pega na fantasia, em seguida,

entrou rapidamente em um sono profundo.

O sol brilhava como diamantes nas árvores revestidas de gelos; acima, o céu

estava de um azul puro, cristalino. Seria uma cena de tirar o fôlego, Lolly pensou, se

estivesse olhando por uma janela com um fogo ardente atrás dela, ou talvez em pé em

uma praia na Flórida olhando para um cartão postal. Em vez disso, ela fazia parte da

imagem, que incluia ar frio, uma superfície lisa sob os pés e o obstáculo ocasional de

um galho ou uma árvore caída, por uma boa extensão — no caso de caminhar em

declive em uma lâmina de gelo não fosse desafio suficiente.

Não sabendo quando seria capaz de fazê-lo novamente, Lolly colocou o que

precisava em seus bolsos. Chaves, carteira de motorista, dinheiro, cartões de crédito,

telefone celular, que seria inútil até que chegassem à rodovia. Tudo o resto foi deixado

para trás. Não havia como dizer quando seria capaz de coletar sua Mercedes. Ela

poderia ter ir através do transporte alternativo para Portland e voltar para buscar seu

veículo, uma vez que as estradas estivessem limpas. Tudo dependia de como as coisas

estavam ruins na cidade, e como as estradas estavam bloqueadas acima até a montanha.

Pelo menos hoje a roupa estava melhor adaptada ao clima. Ela tinha o seu

próprio casaco grosso com capuz, botas, luvas. Pelo menos o sol estava brilhando, e eles

podiam ver onde estavam indo. Pelo menos não estavam sendo perseguidos por viciados

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em drogas homicidas. Ao tudo, hoje estava muito melhor do que ontem à noite, mesmo

que o ar estivesse tão frio que ela mal podia respirar e tinha que manter seu nariz e boca

cobertos com um cachecol. A luz do sol sobre o gelo estava quase ofuscante, e tanto ela

quanto Gabriel usavam máscaras. Em comparação com a noite passada, no entanto, este

foi um passeio no parque. Fazia frio, mas lá não tinha nenhum vento cortante, nenhuma

chuva. Tudo o que restou foram os restos da tempestade — as árvores caídas, o chão

gelado, o ar fresco e frio.

O peso do gelo estava ainda um encargo para as árvores, esse seria o maior

obstáculo enquanto eles desciam a montanha. Não muito tempo depois de sair da casa

ouviu um familiar estalo, seguido por um estrondo. A cabeça de Gabriel agarrou ao

redor no som e parou, ouvindo rígido como se fosse capaz de dizer onde aquela árvore

estava, quão próxima poderia estar. A queda foi à distância, no bosque que cercava a

casa da infância de Lolly, mas estava dizendo um aviso. Eles não podiam sair da

montanha sem andar debaixo de árvores. Nenhum gelo estava derretendo, o ar ainda

estava muito frio, então qualquer uma das árvores poderia cair a qualquer momento.

Eles teriam que estar em constante vigilância contra a média ponderada, dos galhos

aéreos debilitados.

Isto não estava terminado, não por um lance no escuro.

Gabriel ficou perto, ao seu lado direito ou diretamente à sua frente, dependendo

da largura da faixa de gramado e da espessura da vegetação, enquanto caminhavam ao

lado da rodovia. Embora ele não tivesse dito muito, tinha que estar tão preocupado com

as clareiras como ela estava. Foi por isso que muitas vezes ele olhou para cima e,

quando possível, seguindo um caminho que não os levasse diretamente debaixo dos

galhos pendente.

Eles estavam no meio da rodovia, quando chegaram a uma árvore estilhaçada

que tinha caído. Gabriel montou na árvore, oferecendo a Lolly uma mão e a ajudou a

subir e se locomover sobre ela. Caminhar sobre uma superfície gelada foi bastante duro,

mas as manobras por cima de obstáculos só tornaram as coisas mais difíceis. Se eles

tivessem comida suficiente e propano, teria sido melhor ficar em casa até que a ajuda

chegasse... Pelo menos na opinião dela. Gabriel poderia ter tido outras idéias, já que

havia deixado seu filho para resgatá-la e estava ansioso para chegar em casa.

Caminhadas não era o seu negócio. Ela não estava em atletismo mesmo, exceto

admirando a grande condição física dos atletas profissionais, era definitivamente uma

mulher que admirava um belo traseiro masculino quando via um. Suas camadas de

roupa faziam sentir-se desajeitada e pesada, enquanto que Gabriel conseguiu manter sua

capacidade de costume, irritantemente perfeito. Ele sempre foi atlético, e sim, ele tinha

um belo traseiro. Se ele não estivesse usando seu casaco pesado, ela pelo menos teria

sido capaz de admirar sua retaguarda. Graças a Deus, ele não sabia que ela estava

imaginando sua bunda, pois continuou firme e hábil, liderando o caminho com calma.

Ela não fez nada com altivez, mesmo quando não estava atrapalhada por

camadas e camadas de roupas. Pelo menos se caísse, estaria bem protegida quando

batesse no chão.

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Gabriel estava ótimo. Boa aparência, musculoso... Realmente grandes olhos azul

esverdeado rodeado por cílios escuros. Ele era maior do que tinha sido na escola,

definitivamente, mais velho, mas os olhos não mudaram em nada. Lolly se esforçou a

deixar sua mente vagar, tentou se chamar à razão, pensar com clareza. Ele salvou sua

vida, então não foi, provavelmente, alguma atração instintiva em curso que não tinha

absolutamente nada a ver com quem ele era. Adicione o fato de que eles tinham feito

amor e ela não devia esperar nada menos do que a paixão total.

Oh, ela estava brincando? Ela sempre teve uma queda por ele — não a ponto de

passar os últimos quinze anos ansiando por ele, mas o suficiente para que quando o viu

novamente aquele velho interesse imediatamente retornou para sua vida.

Quando estava segura sobre o tronco que bloqueou seu caminho, Gabriel

esperou por ela por um momento mais do que o necessário, certificando-se de seu pé era

sólido — não que ela estava com pressa para afastar-se.

— Eu tenho sopa e café na caminhonete. — disse ele. — Nós vamos fazer uma

pequena pausa lá, e se uma árvore não caiu sobre ela, podemos entrar na caminhonete e

nos aquecermos.

Depois de horas a caminhonete parada, ela não tinha nenhuma esperança em

toda aquela sopa ou café estariam quentes, mas era comida e tomaria. As barras do café

da manhã não iriam durar por tempo suficiente. — Boa idéia. — Era um longo caminho

a Wilson Creek e a viagem seria melhor se enfrentada em pequenos pedaços. Para o fim

da rodovia. Para a curva onde a velha casa dos Morrison costumava ser. Para a colina

onde havia uma ruptura da linha de árvore, onde o sol brilharia certamente. Para a

estrada... E a partir daí, eles começariam tudo de novo, enquanto caminhavam para a

casa McQueen.

Onde ela seria uma quinta roda literal.

Depois de seguir várias etapas sem qualquer problema, inesperadamente o pé

direito de Lolly escorregou no gelo. Instintivamente seus braços buscaram um galho

baixo, mas quando ela agarrou o fino galho congelado, ele quebrou. Gabriel a agarrou,

impedindo que ela caísse sobre seu traseiro. Ele segurou-a perto, e ela levou um tempo

para absorver o calor de seu corpo e sua construção sólida. Gabriel McQueen era como

uma rocha. Sem ele, onde estaria agora? Ela não poderia deixar sua mente ir até lá.

O coração de Lolly voltou a bter normalmente quando tentou recuperar o fôlego.

Ela sabia o desastre que uma queda feia seria. Ela já estava dolorida, machucada e

abalada. Tudo que precisava era quebrar um osso ou uma entorse no tornozelo. Se

achava que era um fardo para Gabriel agora...

— Você está bem? — ele perguntou.

Quando acenou com a cabeça, ele a soltou, e ela seguiu em frente.

Um passo de cada vez.

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Gabriel sabia que a caminhada descendo a montanha seria difícil, hora após hora

observando cada passo e estando alerta para os perigos por toda parte.

Depois de parar na caminhonete para se aquecerem — nenhuma árvore tinha

caído sobre o carro — beberam o café e a sopa, aproveitou para recuperar o chapéu

impermeável, e ele e Lolly retomaram sua caminhada.

Lolly não murmurou, não articulou uma palavra de reclamação, mas já

começava a respirar mais difícil, favorecendo o seu lado direito machucado.

Ele pegou sua mão quando eles encontraram uma colina, sabendo que do outro

lado dessa elevação estava um acentuado declive na terra que não seria fácil de

conduzir. Eles se inclinaram para a escalada, observando cada passo, respirando com

dificuldade, não desperdiçando energia preciosa falando.

Gabriel continuou dizendo a si mesmo que podia ser pior. No que diz respeito

quanto as montanhas nesta parte do país, esta era uma pequena, não alta o suficiente

para esquiar bem. Alguns poderiam até chamar-lhe de uma grande colina, em vez de

uma montanha. Andar era possível, e eles deveriam estar agradecidos por isso. A

tempestade tinha parado. Se eles tivessem de andar no vento e na chuva caindo, a

caminhada levaria o dobro do tempo e seria dez vezes mais perigosa. Se ele ou Lolly

tivessem se ferido na noite passada, baleados ou cortados com uma faca, então estariam

separados, uma caminhada móvel só para a cidade para ajudar, o outro seria deixado

para trás. E se ambos tivessem sido feridos...

Será que seu pai imaginaria que ele tinha sido preso pela tempestade e que tudo

estava bem, ou ele estaria preocupado e fazendo o que podia para chegar até essa

estrada? Lolly disse que quando Darwin e Niki interromperam, estava se preparando

para ficar com os Richards. Será que a Sra. Richard ficaria preocupada o suficiente para

ligar para o gabinete do xerife e relatar que Lolly que não tinha chegado? Ou será que

ela simplesmente pensaria que Lolly tinha desperdiçado tempo e deixado a tempestade

pegá-la na montanha? Haviam várias possibilidades, e ele não tinha como saber o que

esperar. Poderia muito bem continuar como se ele e Lolly estivessem inteiramente por

conta própria. Por enquanto, eles estavam.

Do meio caminho até a colina um pedaço de sol aquecia o chão. O calor e a luz

eram um alívio bem-vindo — embora soubessem que não iria durar. Quando o sol tocou

o solo, o curso era mais fácil. Poderiam até dar alguns passos na pista, quando o ombro

era estreito e muito perto de uma desistência para o conforto. Ele não se preocupou em

soltar a mão de Lolly, mesmo quando a caminhada era menos escorregadia por alguns

passos preciosos.

— Não é tão ruim, hein? — ele perguntou.

Lolly estava sem fôlego quando respondeu: — Fala de si mesmo, McQueen.

Ele teria girado para dar-lhe um sorriso encorajador, para lhe dizer que eles

estavam fazendo grande momento, mas depois chegou ao topo da colina e conseguiu

uma boa olhada no que estava por vir.

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Não foram apenas uma ou duas árvores caídas em toda a estrada, existia uma

após outra tão longe quanto podiam ver. Algumas ali sozinhas com trechos da estrada

abençoadamente intocados em ambos os lados. Outras atravessadas, um tronco e outro...

E outro... Bloqueando seu caminho. Algumas poderiam passar por cima, como se

tivesse sido mais sobre a da garagem. Outras eram demasiada grandes, ou os galhos

estavam muito embaraçados. Eles teriam que contornar alguns galhos, desviando-se

para a floresta, perdendo preciosos minutos.

— Foda-se. — ele murmurou.

— Agora mesmo? — Lolly brincou, mas com o canto do olho a viu endireitar a

coluna e levantar o queixo. Ela parecia um pouco ridícula, a forma como estava

agasalhada, mas também parecia forte. E um tipo surpreendente. Ela puxou uma

respiração profunda.

— Eu não vou fugir de Niki e Darwin, sobreviver a uma perseguição de gato e

rato com a chuva gelada e na minha própria cozinha apenas para desistir agora. — disse

ela. Seus olhos se estreitaram. — Eu serei amaldiçoada se me sentar e chorar, mesmo

que seja o primeiro impulso que vem à mente. — Ela olhou para ele, e ele viu o brilho

das lágrimas nos olhos. — Vai ser um longo dia. Distraia-me. — Ela se mudou para o

lado da estrada e começou a sua descida. — Você deve ter centenas de histórias bonitas

e engraçadas sobre Sam. Diga-me algumas. Faça-me rir.

Gabriel não sentiu muita vontade de rir no momento, mas pensar em Sam

esperando o pai voltar para casa o levou para frente.

Capítulo Quatorze

Houve momentos em que Lolly achava que não poderia dar outro passo. Seus

pés doíam. Estava ferido. Por um tempo, Gabriel e suas histórias a manteve em

movimento, mas agora era o som de moto-serras que a mantinha motivada. Era

impossível dizer exatamente de onde os sons eram provenientes. As equipes poderiam

estar trabalhando na cidade, e apenas o ruído tinha se deslocado. Então outra vez, talvez

os trabalhadores estivessem nesta mesma estrada. Talvez só depois da próxima colina...

Ou na próxima.

— Quando eu comprar uma casa em Portland, ela vai estar em um terreno

completamente plano. Com vizinhos próximos. E serviço constante de celular com o

máimo de sinal possível.

Gabriel olhou por cima do ombro. — Você está planejando comprar uma casa?

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— Eu estive pensando sobre isso. — disse ela. — Eu tenho um bom

apartamento, mas o aluguel é só dinheiro jogado fora. Estão dizendo que é um bom

momento para comprar.

Ele fez um som, como um grunhido suave do fundo de sua garganta. — Eu não

sabia que você pretendia fincar raízes em Portland.

— Eu tenho um bom trabalho lá. Amigos... Eu estou confortável.

Mais uma vez ele fez aquele barulho grunhindo.

No momento confortável parecia uma coisa decididamente boa para Lolly. Ela

gostava de conforto. Ela gostava de uma vida onde não existia nenhuma surpresa.

E então ela teve uma surpresa.

— Antes de você comprar uma casa, você deveria vir me visitar na Carolina do

Norte. Talvez você gostasse de como é melhor lá.

O comentário a deixou estupefata, mas ela não tem tempo de pensar em demasia

o convite, porque Gabriel alcançou o cume da colina que estavam subindo e parou. Ela

estava bem atrás dele, tão perto que quase bateu em suas costas. Ao contrário, ela se

mudou para ficar ao lado dele. A frente — mas felizmente não muito longe — estava

um enorme caminhão com um guindaste construído em cima da base. Um grupo de

quatro homens estava cortando galhos e troncos de árvores e os movendo para fora da

pista com o guindaste. Eles já haviam cortado um trecho da rodovia.

Lolly estava tão aliviada, os seus joelhos quase se dobraram. Inclinou-se para

Gabriel em puro alívio. Ele pegou sua mão e apertou. — Quase lá, Lollipop.

Queria perguntar a Gabriel mais sobre o seu convite de improviso, mas o tempo

para aquela pergunta tinha ido e vindo em um instante, e ela perdeu.

Sabendo que a ajuda estava tão perto os incentivou para frente. Gabriel

continuou a segurar sua mão. Se para ter certeza que ela estava segura ou conservar uma

conexão, não sabia... E tinha medo de perguntar. Toda a insegurança e timidez que

pensava que tinha derrotado anos atrás, veio correndo para a superfície. Gabriel poderia

pedir para visitá-lo quando não havia ninguém no mundo, mas os dois e a corrida de

sobrevivência ainda estavam quentes dentro dela. Mas agora... O que iria acontecer

agora, com a intrusão do mundo real?

Pareceu demorar uma eternidade para chegar ao grupo da estrada, que viu

Gabriel e Lolly à distância e acenou com entusiasmo. Quando chegaram mais perto de

uma das frentes — Justin Temple, que não tinha mudado muito desde que Lolly mudou-

se de Wilson Creek — gritou uma voz, em expansão de profundidade. — O xerife disse

que poderíamos encontrar com vocês, mas eu não esperava vê-los tão cedo. Temos café

e sanduíches — acrescentou ele, e então grampeou um rádio de seu cinto e falou com

alguém no outro terminal da linha.

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Esta estrada deveria ter sido de baixa prioridade, mas graças ao xerife que não

tinha sido. Lolly sabia que haviam outras equipes lá fora, limpando as estradas da

cidade e nos bairros um pouco além, e ela só poderia ser grata que conseguiu ficar presa

com o filho do xerife — e que Harlan McQueen fosse uma figura de peso por aqui.

O café estava bastante fresco, bastante quente e melhor do que qualquer café que

ela já tomou. Ela estava tão exausta que conseguiu apenas dar algumas mordidas no

sanduíche, mas comeu o que pôde, então, ela e Gabriel sentaram-se na traseira do

caminhão e esperou pelo xerife, Justin disse que já estava a caminho. Agora que ela não

estava se movendo, o frio era mais nítido, mas ao mesmo tempo era bom apenas para

sentar-se. Gabriel colocou o braço em torno dela e a abraçou.

A equipe continuou a trabalhar, apesar de suspeitar que uma vez que ela e

Gabriel apareceram, eles poderiam em breve ser enviado para outro lugar, uma área

mais densamente povoada. Ela ainda não podia contar com o recebimento de seu carro

em breve.

— Acho que eu poderia pegar um ônibus de volta para Portland. — disse ela.

Ela não tinha certeza quando eles estariam funcionando novamente, mas talvez não

fosse mais do que uns dias.

— Qual é a pressa? — Gabriel perguntou casualmente.

— Eu não posso fazer nada com a casa até que as estradas sejam limpas, não

consigo sequer chegar ao meu carro. Se for assim por toda a cidade, poderia levar dias

,até semanas... Eu não posso ficar aqui por semanas.

— Por que não?

Lolly abriu a boca para responder, mas não disse nada. Ela foi convidada para a

casa de um amigo na noite de Natal, mas no dia de Natal estaria sozinha. O escritório

não iria abrir até depois do Ano Novo, então ela tinha essa semana para cuidar de

algumas tarefas em casa. Tinha planejado limpar seus armários e passar pela despensa e

se livrar de toda a comida que expirou e nunca usou. Talvez assistir alguns filmes,

organizar seus Dvds e CDs, tentar algumas receitas novas. Em outras palavras, nada de

importante.

Gabriel tocou seu rosto e delicadamente a forçou a olhar em seus olhos. Sem

uma palavra, ele a beijou, a luz do toque era fácil, familiar, como se tivessem beijado

mil vezes. Quando ele rompeu o contato, disse: — Fique conosco. Gostaria que você

começasse a conhecer Sam. Mamãe adoraria tê-la, e o mesmo digo eu.

— Você já me tinha. — As palavras saíram de sua boca antes que ela pudesse

detê-las.

Gabriel sorriu. — Então, eu tenho, e eu estive pensando em uma repetição. E

quanto a você?

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Não havia como ignorar o que aconteceu no chuveiro, mas ao mesmo tempo

sentia-se o tipo de nora. Sim, ela estava gelada, assustada, desesperada... Mas não iria

querer qualquer um do jeito que queria Gabriel. Ela não era dessa forma.

— Então, o que é isso, exatamente? — perguntou ela.

Sua contagem de tempo continuou a ser terrível. Naquele momento, eles

ouviram o barulho de um motor e o chocalhar alto das cadeias de pneus fazendo o seu

caminho pela estrada de gelo. Gabriel sorriu quando viu o quatro rodas conduzido do

xerife, com seu pai atrás do volante. Ele pulou do caminhão e voltou a deslizar as mãos

na sua cintura debaixo do casaco de Lolly, então ele a ergueu. Lolly sorriu também, mas

o sorriso era forçado.

Porque ela sabia que daqui em diante ela e Gabriel não estariam sozinhos

novamente. A aventura acabou, ela tinha sido resgatada muito cedo.

* * *

Gabriel mal esperou o SUV parar na casa de seus pais, antes ele abriu a porta e

pisou cuidadosamente na entrada experimentada da garagem, ganhndo nova energia ao

caminhar, apesar de sua exaustão. Ele e Lolly tiveram que dar declarações oficiais, mas

nem isso iria para impedi-lo de ver Sam primeiro. Seu pai lhe tinha dito como Sam

preocupou-se quando Gabriel não tinha voltado para casa, como prometido na noite

passada. A tempestade não tinha feito nada para amenizar os temores do garoto.

Quando chegou à porta, ele encontrou sua mãe — que fisicamente estava

contendo Sam. Ela o tinha pelo colarinho, da mesma forma que ela tinha feito com

Gabriel uma vez ou duas. Valerie disse: — Olha, eu lhe disse que estava tudo bem. — e

deixou Sam ir.

— Papai! — Uma vez que estava livre, Sam irrompeu frente e pulou nos braços

de Gabriel. Gabriel esperou apertado, e assim o fez Sam.

— Pensei que você não ia voltar. — disse Sam, com a cabeça enterrada no

ombro de Gabriel. Ele começou a soluçar. — Pensei que você sofreu um acidente, ou

tinha congelado, ou uma árvore caiu sobre sua caminhonete. Vovó disse que estava

bem, ela disse que você sabia como cuidar de si mesmo, mas eu sonhei que você não

voltava.

O coração de Gabriel ficou apertado. Uma criança não deveria ter esses medos,

mas a perda não era novidade para Sam. Ele deu palmadinhas acanhadas nas costas de

Sam, instintivamente balançou seu filho de um lado para o outro, no movimento

reconfortante universal. — Não foi tão ruim assim. Acabei preso na casa de Lolly

porque as estradas congelaram mais cedo do que eu esperava.

GELO - LINDA HOWARD

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Sam levantou sua cabeça e olhou diretamente para Gabriel. Seus olhos

estreitados molhados de lágrimas. — Lolly. Esse é o nome mais estúpido que eu já ouvi.

— É o diminutivo para Lorelei.

Gabriel meio virou-se para ver que Lolly e seu pai tinham entrado na cozinha

atrás deles. Tinha estado tão apanhado em seu reencontro com Sam, que não os ouvi

entrar, Lolly que ofereceu a explicação para o nome dela, sorriu suavemente, não

mostrando nenhum sinal exterior do trauma que experimentou. Por causa de Sam, ele

sabia, e para que ele estivesse agradecido.

Sam não estava satisfeito. Ele tinha estado aterrorizado e, obviamente, Lolly era

a culpa. — Se meu nome fosse Lorelei eu iria fazer as pessoas me chamar de qualquer

outra coisa também. Isso é ainda mais estúpido do que Lolly.

— Sam. — Gabriel repreendeu suavemente. — Isso é rude. Peça desculpas.

Ele abaixou a cabeça, fixou a mandíbula pequena. — Desculpe. — ele

murmurou, cuspindo as palavras fora, sem um pingo de arrependimento real. Ele não

iria desobedecer abertamente, mas era tão longe quanto estava disposto a ir.

Lolly não tomou como ofensa — ou, pelo menos, não parecia. Ela deu um passo

à frente, se aproximando. — Eu imagino que você está muito zangado comigo por

arrastar o seu pai fora de casa durante uma tempestade.

Um Sam calado movimentou a cabeça. — Você deveria ter deixado sua casa

antes da tempestade chegar aqui.

— Eu entendo isto. — Lolly disse. — Ah... Algo aconteceu, e eu não podia sair.

— Ela estendeu a mão para meter uma mecha rebelde do cabelo longe do rosto de Sam.

— E eu tenho certeza que você entende que seu pai é realmente, ao vivo, um herói

autêntico em um mundo que necessita de todos os heróis que pode conseguir.

— Bem, sim. — concordou Sam. — Claro.

Gabriel assistiu Lolly morder o riso. Ela estava fazendo isso direito, não

chegando muito forte, não tentando agir como melhor amigo de Sam, quando acabara

de o conhecer. — Você parece muito com ele. Você é um herói também?

Nisto, a coluna de Sam endireitou. Com Gabriel o segurando, ele foi capaz de

olhar Lolly nos olhos por um instante, antes de concordar.

— Estou tão contente de ouvir isto. — Lolly disse com um sorriso amigável. —

O mundo precisa de heróis como você e seu pai.

Sam olhou atentamente para o rosto machucado de Lolly. — O que aconteceu

com você? — Ele apontou para o rosto dela e Gabriel prendeu a respiração. Não podia

proteger Sam de toda a fealdade do mundo, mas o garoto não precisava saber que isto

tudo existia.

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Lolly gentilmente colocou uma mão sobre seu rosto. — Eu caí. — disse ela

simplesmente. — Isso foi antes de seu pai chegar, e eu tenho que dizê-lo, ele me salvou

de cair várias vezes.

— O gelo é escorregadio. — Sam disse numa voz quase adulta. — Vovó não

iria me deixar ir lá fora para encontrar papai.

— A sua Vovó é uma mulher muito inteligente. — Lolly disse sinceramente.

Gabriel podia ver as rodas na cabeça do seu filho girando, como avaliou a

situação e a mulher diante dele. — Me desculpe se tirei sarro de seu nome. — disse ele,

mais sinceramente neste momento.

— Você não é o primeiro. — disse ela em tom confidencial, como se não

houvesse outros três adultos escutando dentro — Seu pai costumava me chamar... —

Ela olhou ao redor, então se inclinou e sussurrou no ouvido de Sam. — Lollipop.

Sam começou a rir e Gabriel colocou o garoto em seus pés. Ele não foi longe

entretanto. Sam ficou perto, inclinando-se para Gabriel, ocasionalmente, agarrando a

sua roupa, ou a mão, para se certificar de que não iria embora novamente.

Valerie McQueen, sempre preparada, teve um spread pronto para eles. Sopa,

sanduíches, café, biscoitos. Gabriel e Lolly sentaram-se na mesa da cozinha, Sam

empoleirado no joelho de Gabriel, e comeu, até que não conseguia dar outra mordida.

Não demorou muito tempo para relaxar Sam com Lolly, ou para liberar os restos do seu

medo de que seu pai não estava voltando para casa. — Relaxado — não quer dizer

exatamente amigável, mas até como um bebê, Sam sempre levou um tempo para bafejar

adultos estranhos.

Para quem não tinha filhos, Lolly estava se saído bem com Sam. Antes dele

mudar Sam para o Maine, os amigos — seus e de Mariane — que haviam passado

tempo com Sam, tenderam a sufocá-lo com simpatia. Essa simpatia foi merecida, mas

depois de um tempo não fez qualquer bem ao garoto. Lolly conversou com Sam quase

como se fosse um adulto e a criança respondeu.

Quando ela começou a contar histórias a Sam sobre seu pai quando criança,

porém, Gabriel teve de interferir. Ele não queria que seu garoto — ou seus pais —

tivessem uma audiência de como atormentou Lolly. Ele gritou e Lolly riu — uma risada

real, honesta que lhe aquecia os ossos.

Sam só a chamou de Lollipop uma vez, e ambos imediatamente caíram em um

ataque de riso, enquanto Gabriel e seus pais olhavam perplexos e surpresos. E Gabriel

percebeu que em algum momento nas últimas vinte e quatro horas, o seu mundo havia

mudado.

Lolly inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos, deixando a água quente fazer

o seu trabalho em seus cansados e sobrecarregados músculos, uma vez congelados.

Normalmente, ela pulava no chuveiro, ficava limpa e saia. Tinha passado um longo

tempo desde que ela se entregou em uma banheira, de real imersão.

GELO - LINDA HOWARD

98- GrupoRR

O banheiro dos McQueen era maior do que o da antiga casa, construída anos

mais tarde, quando tanto espaço já não era um luxo, mas uma necessidade. A banheira

era ampla e profunda, o balcão do outro lado do quarto era longo e cheio de sabonetes,

toalhas, xampus, e duas velas tremeluzentes. Esta casa ainda tinha energia elétrica,

embora muito de Wilson Creek não. Lolly estava levando em conta todas as

possibilidades, portanto, as velas. Se houvesse uma interrupção na energia, ela não iria

estar mergulhada na escuridão — não hoje à noite.

Depois que Sam foi para a cama, ela e Gabriel deram suas declarações para o

Xerife McQueen. O pai de Gabriel estava feliz que ambos estavam seguros, e ao mesmo

tempo irritado que os viciados de meth haviam invadido seu município. Logo que foi

possível, rodoviários e equipes de energia fariam o seu caminho até a montanha para a

casa. E ainda seriam dias, talvez semanas, antes de alcançarem o que foi deixado de

Darwin e Niki.

O que significava que Lolly ia ficar sem seu carro por um tempo. Isso era o

mínimo de suas preocupações…

Ela foi despertada de um sono próximo por uma batida suave, seguindo pelo

barulho da maçaneta da porta, que fechou atrás dela.

— Eu já estou saindo. — ela disse, reunindo forças para levantar-se da água

ainda quente.

— Não se mova. — disse uma voz familiar profunda. A maçaneta sacudiu

novamente, a fechadura fixada no botão estalou, e a porta se abriu. Lolly pegou uma

toalha molhada e posicionou sobre o peito em uma pobre, última segunda tentativa de

modéstia.

Gabriel deslizou no quarto e fechou — e travou — a porta atrás dele.

— Você acabou de me provar que o travamento daquela porta é inútil. — disse

ela. Talvez devesse estar mais chocada, mais tímida. Mas não estava.

Ele segurou no ar um clipe de papel dobrado. — Eu cresci nessa casa. Todas as

fechaduras de interior é para alertar alguém que tenta entrar que o quarto está ocupado.

— E ainda você não se deu por entendido.

Ele sorriu para ela, e ela desejava que tivesse um par de toalhas mais acessível.

— Quer que eu vá?

Ela sabia que se dissesse que sim, ele iria. — Não.

Gabriel desligou a luz áspera do teto, mergulhando o quarto quase em escuridão.

As luzes das velas bruxuleantes. Ele desabotoou a camisa e deslizou-a, em seguida,

desprendeu seu jeans e saiu deles. Meias e roupas íntimas seguiram. Céu, ele era lindo e

tentador.

— Seus pais...

GELO - LINDA HOWARD

99- GrupoRR

— Estão dormindo. — ele disse quando entrou na água. — Mortos para o

mundo, assim como Sam. Eu não acho que nenhum deles conseguiu muito sono na

noite passada.

— Nem você. — Lolly disse quando fugiu para trás, fazendo um lugar para

Gabriel sentar-se de frente para ela. Sentou-se lentamente e o nível da água na banheira

subiu quase até a borda. O menor movimento mandaria água espirrando no chão. — Por

que você não está dormindo?

— Pela mesma razão que você está aqui, em vez de aninhada em uma cama

quente, eu imagino.

Sua mente não parava de girar. Ela não sabia o que o amanhã traria. Seu mundo

foi virado de cabeça para baixo. É claro que ela não conseguia dormir!

Gabriel olhou nos olhos dela. Eles estavam nus, molhados, cara a cara. Ela não

queria nada mais do que estender a mão e segurá-lo, mas não fez esse movimento. —

Por que você está aqui? — Talvez ele devesse ter sido óbvio, mas ela estava pedindo

mais do que apenas o sexo.

Ele estendeu a mão e tocou no seu rosto machucado com mãos fortes e

surpreendentemente suaves. — Eu tenho um favor a pedir.

— Você salvou minha vida. — disse ela, imaginando que tipo de favor que

poderia ser. Uma vez que ambos estavam nus, ela teve uma pista...

— Não volte para Portland ainda.

Mesmo que ele tivesse mencionado esta tarde, quando faziam o caminho

descendo a montanha, não era exatamente o que ela estava esperando. A realidade

desceu com um estrondo e, embora amasse esta casa, esta casa, esta família... Ela não

pertencia a este lugar. — Por que não?

— Fique aqui, passa o Natal conosco. — Gabriel parou e respirou fundo. —

Vamos ver aonde isto vai.

Seu interior pulou e dançou. — Vamos ver para onde nós vamos. — esclareceu

ele, embora nenhum esclarecimento fosse necessário.

— Eu posso fazer isto. — ela sussurrou.

Ele se inclinou em direção a ela, retirando a toalha de seus seios e a jogou de

lado, beijou-a e enviou um pouco de água sobre a borda da banheira. Ela mal notou.

— E pare de falar sobre a compra de uma casa em Portland. Pelo menos até que

você visite Carolina do Norte uma vez ou duas. É muito quente lá.

— E você está lá.

Ele fez um som de zumbido afirmativo quando continuou a avançar.

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100- GrupoRR

Lolly sentiu todos os seus cuidados, todas suas preocupações, descontraindo,

desaparecendo. — Isso não se parece em nada como pedir muito, considerando todas as

coisas.

Ele colocou a boca sobre a dela outra vez, o beijo rapidamente assumiu um

ritmo. Lolly chafurdou no calor e dureza de Gabriel, congratulou-se com o beijo, a

conexão, o calor que gerado... Que a transformou de dentro para fora.

Gabriel levou sua boca a dela, mas não se mexia muito. Seus narizes se tocando,

ele exalou longamente. — Lollipop, eu posso lamber você?

— Sim. — ela disse, envolvendo seus braços em volta do pescoço de Gabriel e

enviando mais água para o chão. — Sim, você pode.

FIM

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