Ganhando terreno

1
Quarta-feira, 6 de julho de 2011 caderno B Inclui: Culinária M A I S VA R I E D A D E S Área da dança abriu inscrições para dois projetos O Projeto Dança Campo Grande encerra prazo de inscrição no dia 11 e coreógrafo do Rio ministrará oficina de dança de rua. PÁG. 3 Domingo é Dia da Pizza Um dos pratos mais consumidos no Brasil tem uma data dedicada a ele; mas muita gente acha que todo dia é dia de pizza! PÁG. 8 “Revelando os Brasis” exibe filmes de MS As duas produções que representam o estado no projeto serão exibidas em 3 cidades, a partir de sábado. PÁG. 5 Ganhando terreno Idiomas que até pouco tempo não figuravam na lista de interesses – como guarani, chinês, russo, entre outros – tornaram-se prioridade para muitas pessoas FOTOS GERSON DE OLIVEIRA Um negócio da China De olho em oportunidades futuras, a estudante de Direito Ana Paula Mariano Trivellato tem se dedicado ao estudo diário da língua chinesa Esperanto é língua planejada falada em 110 países Sinval Geraldo de Souza aprendeu e tornou-se professor de esperanto THIAGO ANDRADE Até muito pouco tempo atrás, o mundo era dominado pelo inglês. Quem não falava, estava excluído da comunida- de global que se desenvolveu a partir de anos de dominação econômica do grande irmão do norte. No Brasil, escolas da língua anglo-saxônica pu- lularam por todos os cantos, assim como cursos superiores passaram a ser frequentados por professores em busca de crescimento profissional. Atualmente, o inglês conti- nua como a língua mais falada, mas não é mais tão estranho ver pessoas que querem apren- der outros idiomas. Francês, alemão, espanhol e italiano estão entre os mais comuns. Mas em Campo Grande, quem deseja aprender russo, chinês, guarani, grego, hebraico e, por que não, esperanto, pode encontrar professores de idio- mas menos populares. No ca- minho de se tornar poliglota, opções não faltam. Pela proximidade com o Paraguai, um dos países que mais falam o idioma, aprender o guarani é bastante compre- ensível. A professora Idalina Maciel Léon ensina alunos gratuitamente na Colônia Pa- raguaia, em Campo Grande. O curso é aberto à comunidade em geral. Formada em Letras, pela universidade em Pedro Juán Caballero, a professora mora no Brasil há três anos. O sotaque que une espanhol e a língua indígena mostra logo que ela não nasceu deste lado da fronteira. “Dava aulas no Paraguai e, por acaso, descobri que esta- vam em busca de uma profes- sora para Campo Grande. Foi assim que cheguei até aqui”, aponta. Idalina afirma que os interesses em aprender guara- ni são relacionados à família e à própria preservação da lín- gua e tradição cultural. “Não tenho alunos que queiram aprender guarani por ques- tões profissionais”, explica a professora. O curso é dividido em mó- dulos semestrais. No primeiro, os alunos aprendem o básico, reconhecendo a escrita e a pronúncia que, segundo ela, são as maiores dificuldades. “Aprender não é algo que acon- tece da noite para o dia, é um processo longo, que precisa de tempo e esforço. Trabalho muito a pronunciação de pa- lavras. Com força de vontade, todos que estão começando devem falar bem guarani em um ou dois anos”, descreve a professora. Existem casos de alunos que aprenderam gua- rani na infância mas esque- ceram com o tempo. Eles vão às aulas para relembrar. Pensar em ideogramas, uma caligrafia completa- mente diferente das línguas latinas, é o que mais assusta aqueles que querem iniciar os estudos de chinês. A lín- gua mais falada no mundo – cerca de 20% da popula- ção mundial fala alguma derivação do chinês – não é a mais difundida. Contudo, isso pode mudar. O motivo é a expansão econômica que o país vem mostrando. Dentro das línguas chinesas, o man- darim é a mais popular. É a ela que a estudante de Direito Ana Paula Mariano Trivellato tem se dedicado a aprender desde o começo do ano. Em seis meses de estu- dos, ela afirma que conse- guiria sobreviver caso fosse para a China. “É uma língua muito complexa, bastante diferente da nossa”, explica. Além de pronúncia e escrita completamente diferentes, o mandarim também exige esforço dobrado de quem es- tá acostumado com línguas latinas. “A ordem de sujeito, ver- bo, advérbios e adjetivos, tempos verbais, tudo é in- verso ao português. É preci- so mudar a forma de pensar na hora de falar chinês”, descreve a jovem. Ela deci- diu aprender o idioma de- pois de se formar em inglês e por perceber que no futuro a China terá papel definidor na economia global. “Como quero trabalhar em grandes empresas, esse é um passo decisivo para minha carrei- ra”, acredita. (TA) Uma língua sem pátria. Esse era o objetivo do po- lonês Ludwik Lejzer Za- menhof quando criou o esperanto, idioma que se popularizou entre meios espíritas. Atualmente, 110 países têm grande parce- la da população falando fluentemente. Isso a torna a língua planejada mais fa- lada no mundo e uma das poucas a se tornar parte do cotidiano de diversas pessoas. O idealizador do idioma universal vivia em uma pequena cidade polo- nesa na qual havia diversos povos e muita dificuldade na comunicação. Essa foi a motivação de Ludwik para criar a língua. O aposentado Sinval Ge- raldo de Souza, de Campo Grande, conheceu o espe- ranto após convite de um amigo para assistir a uma aula. Embora já tivesse pas- sado dos 60 anos, ele deci- diu se dedicar e menos de um ano depois havia ter- minado o primeiro semes- tre do curso básico. Tudo começou em 2003 e, atual- mente, Sinval é professor da língua e participa de fóruns e encontros sobre esperan- to frequentemente. “Você não tem ideia de como é bom estar em um lugar com russos, chineses, japoneses, americanos, franceses, en- tre outros, e poder falar uma língua entendida por todos”, descreve. Idioma de estrutura gra- matical simplificada, o es- peranto foi feito para ser aprendido com facilidade e rapidamente. “É necessário estudar e se dedicar, mas não é tão complicado assim”, afirma. Para quem acha que falar esperanto não traz ne- nhuma compensação, Sinval conta que já trabalhou como intérprete no Aeroporto In- ternacional de Campo Gran- de. “Certa vez, atendi uma francesa que não falava na- da além da língua materna e esperanto. Ajudei desde o aeroporto até a chegada no hotel”, lembra. (TA) Riqueza cultural Em russo, escreveram Dostoiévski, Puchkin, Tolstói, Tchekov, entre outros tantos nomes clássicos da literatura. Somente o prazer de ler esses escritores no ori- ginal valeria a aprendi- zagem do idioma russo. Mas a Rússia também é um dos países que cons- tituem os BRICs, ou seja, bloco de países emergen- tes formado por Brasil, Rússia, Índia e China, que pode ser palco de alianças entre os países. De origem eslava e fala- da em diversos países do Leste Europeu, também é um dos idiomas oficiais da Organização das Na- ções Unidas (ONU), sen- do a sétima língua mais falada no mundo. Para a professora de russo Ekaterina Masa- nova, que vive no Brasil há três anos, as aulas são procuradas por quem deseja visitar a Rússia a estudo, lazer ou traba- lho, e também por quem procura estabelecer con- tato com parentes que vi- vem no país. “Não é uma língua difícil, mas as- susta os brasileiros por ser muito diferente do português. Com regras gramaticais diferentes e mudanças na manei- ra de utilizar verbos e substantivos, pensar em russo pode ser um pro- blema para quem está aprendendo”, afirma. Mas com boa vonta- de, interesse e paciência, a língua pode ser venci- da. O alfabeto cirílico costuma afastar quem espera falar russo em um dia. Mas Ekaterina (que é chamada de Katia no Brasil) afirma que a adaptação às novas letras leva no máximo duas au- las. “Eu ensino formas de relacionar os símbolos aos correspondentes no alfabeto latino. Facil- mente, o aluno consegue fazer correspondência e traduzir as palavras”, fi- naliza. (TA)

description

O inglês não é mais o único idioma que as pessoas querem aprender. A reportagem mostra porque há quem opte por outras línguas.

Transcript of Ganhando terreno

Page 1: Ganhando terreno

Quarta-feira, 6 de julho de 2011 caderno B

Inclui: Culinária

M A I S V A R I E D A D E S

Área da dança abriu inscrições para dois projetosO Projeto Dança Campo Grande encerra prazo

de inscrição no dia 11 e coreógrafo do Rio

ministrará oficina de dança de rua. PÁG. 3

Domingo é Dia da PizzaUm dos pratos mais consumidos

no Brasil tem uma data dedicada

a ele; mas muita gente acha que

todo dia é dia de pizza! PÁG. 8

“Revelando os Brasis” exibe filmes de MS As duas produções que

representam o estado no projeto

serão exibidas em 3 cidades,

a partir de sábado. PÁG. 5

Ganhando terreno Idiomas que até pouco tempo não figuravam na lista de interesses – como guarani, chinês, russo, entre outros – tornaram-se prioridade para muitas pessoas

FOTOS GERSON DE OLIVEIRA

Um negócio da China

De olho em oportunidades futuras, a estudante de Direito Ana Paula Mariano Trivellato tem se dedicado ao estudo diário da língua chinesa

Esperanto é língua planejada falada em 110 países

Sinval Geraldo de Souza aprendeu e tornou-se professor de esperanto

THIAGO ANDRADE

Até muito pouco tempo atrás, o mundo era dominado pelo inglês. Quem não falava, estava excluído da comunida-de global que se desenvolveu a partir de anos de dominação econômica do grande irmão do norte. No Brasil, escolas da língua anglo-saxônica pu-lularam por todos os cantos, assim como cursos superiores passaram a ser frequentados por professores em busca de crescimento profissional.

Atualmente, o inglês conti-nua como a língua mais falada, mas não é mais tão estranho ver pessoas que querem apren-der outros idiomas. Francês, alemão, espanhol e italiano estão entre os mais comuns. Mas em Campo Grande, quem deseja aprender russo, chinês, guarani, grego, hebraico e, por que não, esperanto, pode encontrar professores de idio-mas menos populares. No ca-minho de se tornar poliglota, opções não faltam.

Pela proximidade com o Paraguai, um dos países que mais falam o idioma, aprender o guarani é bastante compre-ensível. A professora Idalina Maciel Léon ensina alunos gratuitamente na Colônia Pa-raguaia, em Campo Grande. O curso é aberto à comunidade em geral. Formada em Letras, pela universidade em Pedro Juán Caballero, a professora mora no Brasil há três anos. O sotaque que une espanhol e a língua indígena mostra logo que ela não nasceu deste lado da fronteira.

“Dava aulas no Paraguai e, por acaso, descobri que esta-vam em busca de uma profes-sora para Campo Grande. Foi assim que cheguei até aqui”, aponta. Idalina afirma que os interesses em aprender guara-ni são relacionados à família e à própria preservação da lín-gua e tradição cultural. “Não tenho alunos que queiram aprender guarani por ques-tões profissionais”, explica a professora.

O curso é dividido em mó-dulos semestrais. No primeiro, os alunos aprendem o básico, reconhecendo a escrita e a pronúncia que, segundo ela, são as maiores dificuldades. “Aprender não é algo que acon-tece da noite para o dia, é um processo longo, que precisa de tempo e esforço. Trabalho muito a pronunciação de pa-lavras. Com força de vontade, todos que estão começando devem falar bem guarani em um ou dois anos”, descreve a professora. Existem casos de alunos que aprenderam gua-rani na infância mas esque-ceram com o tempo. Eles vão às aulas para relembrar.

Pensar em ideogramas, uma caligrafia completa-mente diferente das línguas latinas, é o que mais assusta aqueles que querem iniciar os estudos de chinês. A lín-gua mais falada no mundo – cerca de 20% da popula-ção mundial fala alguma derivação do chinês – não é

a mais difundida. Contudo, isso pode mudar. O motivo é a expansão econômica que o país vem mostrando. Dentro das línguas chinesas, o man-darim é a mais popular.

É a ela que a estudante de Direito Ana Paula Mariano Trivellato tem se dedicado a aprender desde o começo do

ano. Em seis meses de estu-dos, ela afirma que conse-guiria sobreviver caso fosse para a China. “É uma língua muito complexa, bastante diferente da nossa”, explica. Além de pronúncia e escrita completamente diferentes, o mandarim também exige esforço dobrado de quem es-tá acostumado com línguas latinas.

“A ordem de sujeito, ver-bo, advérbios e adjetivos,

tempos verbais, tudo é in-verso ao português. É preci-so mudar a forma de pensar na hora de falar chinês”, descreve a jovem. Ela deci-diu aprender o idioma de-pois de se formar em inglês e por perceber que no futuro a China terá papel definidor na economia global. “Como quero trabalhar em grandes empresas, esse é um passo decisivo para minha carrei-ra”, acredita. (TA)

Uma língua sem pátria. Esse era o objetivo do po-lonês Ludwik Lejzer Za-menhof quando criou o esperanto, idioma que se popularizou entre meios espíritas. Atualmente, 110 países têm grande parce-la da população falando fluentemente. Isso a torna a língua planejada mais fa-lada no mundo e uma das poucas a se tornar parte do cotidiano de diversas pessoas. O idealizador do idioma universal vivia em uma pequena cidade polo-nesa na qual havia diversos povos e muita dificuldade na comunicação. Essa foi a motivação de Ludwik para criar a língua.

O aposentado Sinval Ge-raldo de Souza, de Campo Grande, conheceu o espe-ranto após convite de um amigo para assistir a uma aula. Embora já tivesse pas-sado dos 60 anos, ele deci-

diu se dedicar e menos de um ano depois havia ter-minado o primeiro semes-

tre do curso básico. Tudo começou em 2003 e, atual-mente, Sinval é professor da

língua e participa de fóruns e encontros sobre esperan-to frequentemente. “Você não tem ideia de como é bom estar em um lugar com russos, chineses, japoneses, americanos, franceses, en-tre outros, e poder falar uma língua entendida por todos”, descreve.

Idioma de estrutura gra-matical simplificada, o es-peranto foi feito para ser aprendido com facilidade e rapidamente. “É necessário estudar e se dedicar, mas não é tão complicado assim”, afirma. Para quem acha que falar esperanto não traz ne-nhuma compensação, Sinval conta que já trabalhou como intérprete no Aeroporto In-ternacional de Campo Gran-de. “Certa vez, atendi uma francesa que não falava na-da além da língua materna e esperanto. Ajudei desde o aeroporto até a chegada no hotel”, lembra. (TA)

Riqueza cultural

Em russo, escreveram Dostoiévski, Puchkin, Tolstói, Tchekov, entre outros tantos nomes clássicos da literatura. Somente o prazer de ler esses escritores no ori-ginal valeria a aprendi-zagem do idioma russo. Mas a Rússia também é um dos países que cons-tituem os BRICs, ou seja, bloco de países emergen-tes formado por Brasil, Rússia, Índia e China, que pode ser palco de alianças entre os países. De origem eslava e fala-da em diversos países do Leste Europeu, também é um dos idiomas oficiais da Organização das Na-ções Unidas (ONU), sen-do a sétima língua mais falada no mundo.

Para a professora de russo Ekaterina Masa-nova, que vive no Brasil há três anos, as aulas são procuradas por quem deseja visitar a Rússia a estudo, lazer ou traba-lho, e também por quem procura estabelecer con-tato com parentes que vi-vem no país. “Não é uma língua difícil, mas as-susta os brasileiros por ser muito diferente do português. Com regras gramaticais diferentes e mudanças na manei-ra de utilizar verbos e substantivos, pensar em russo pode ser um pro-blema para quem está aprendendo”, afirma.

Mas com boa vonta-de, interesse e paciência, a língua pode ser venci-da. O alfabeto cirílico costuma afastar quem espera falar russo em um dia. Mas Ekaterina (que é chamada de Katia no Brasil) afirma que a adaptação às novas letras leva no máximo duas au-las. “Eu ensino formas de relacionar os símbolos aos correspondentes no alfabeto latino. Facil-mente, o aluno consegue fazer correspondência e traduzir as palavras”, fi-naliza. (TA)