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i GABRIELA CLAUDINO GRANDE USOS DA LOUSA DIGITAL INTERATIVA NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA COMO LÍNGUA ADICIONAL: UM ESTUDO DE CASO CAMPINAS, 2015

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GABRIELA CLAUDINO GRANDE

USOS DA LOUSA DIGITAL INTERATIVA NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA COMO LÍNGUA

ADICIONAL: UM ESTUDO DE CASO

CAMPINAS, 2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA APLICADA

GABRIELA CLAUDINO GRANDE

USOS DA LOUSA DIGITAL INTERATIVA NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA COMO LÍNGUA

ADICIONAL: UM ESTUDO DE CASO

Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas para a obtenção do título de mestra em Linguística Aplicada, na área de Linguagem e Educação.

Orientadora: Profa. Dra. Inês Signorini

CAMPINAS, 2015

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Folha de Aprovação

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Aos meus pais, Leli Helena e Antonio, por

cultivarem o melhor que há em suas filhas

e ao meu marido, Antonio, por todo amor,

companheirismo e compreensão!

Ao Ricardo, obrigada!

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Agradecimentos

À minha orientadora, Profa. Dra. Inês Signorini, sem a qual não só esta dissertação

seria possível, mas também minha formação enquanto pesquisadora.

À minha banca de qualificação, composta pelo Profº. Dr. Wagner Rodrigues Silva

e Profª Dra. Eglantine Guely, pelas contribuições e leitura cuidadosa.

Aos professores do IEL, Marilda Cavalcanti, Denise Bértoli, Roxane Rojo e Marcelo

Buzato, cujas aulas contribuíram para a construção deste trabalho.

Aos participantes e colaboradores da presente pesquisa.

À CAPES pelo fomento à presente pesquisa.

Às minhas amigas, Naiane Reis e Fabiana Biondo, não só pela prazerosa

convivência e amizade, mas principalmente pelas inúmeras contribuições feitas a esta

dissertação.

Aos colegas Jordan, Cris e Rodrigo, parceiros de pesquisa.

Às minhas grandes amigas Ana, Helena, Monica, Nayara, Débora e ao amigo

Ricardo, por fazerem do IEL a minha “comunidade científica”.

Aos meus pais, por seu amor incondicional e por sempre acreditarem em mim.

Às minhas irmãs, Gisele e Jaqueline, sempre ao meu lado me dando apoio e

incentivo, e aos meus cunhados, Gustavo e Leandro.

À Sueli, por ter me adotado como filha e sempre torcer por mim.

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À Suelen, ao Felipe, ao João, à Vitória, à Letícia, ao Paulo e ao Toninho, por

fazerem de Sorocaba a minha segunda casa.

Ao Mark e à Zoe, por todo amor, carinho e companheirismo em todos os momentos

dessa caminhada.

E finalmente, ao Antonio, por ser o reflexo de tudo que há de melhor em mim.

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“A tarefa não é tanto ver aquilo que

ninguém viu, mas pensar o que ninguém

ainda pensou sobre aquilo que todo

mundo vê”

(Arthur Schopenhauer)

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RESUMO

Esta dissertação de mestrado tem como principais objetivos identificar e descrever usos

e também possibilidades de uso da Lousa Digital Interativa (LDI) por um professor de

inglês do ensino terciário no interior do estado de São Paulo. Esta pesquisa é

caracterizada pelo percurso investigativo estudo de caso. A análise focaliza um corpus

gerado a partir de observações em sala de aula de base etnográfica em que foram

focalizados os usos da LDI por um professor de língua bastante familiarizado com a

utilização do computador em sala de aula. A geração de registros ocorreu ao longo de 6

meses (de junho a novembro), no ano de 2012. A partir de uma análise minuciosa das

20 aulas vídeo-gravadas, busquei sistematizar COMO, POR QUE e COM QUAL

FINALIDADE a LDI era utilizada. Com base nas práticas do professor observado, me

amparei em dispositivos analíticos que me ajudaram a avaliar e sistematizar os modos a

partir dos quais se dá a incorporação de artefatos tecnológicos. Para tal, comparei

características das fases de incorporação de uso da LDI propostas por Betcher e Lee

(2009) aos usos feitos pelo professor aqui focalizado. Além disso, as dinâmicas

interacionais e abordagens dialógicas de ensino e, em especial, a interatividade presente

em sala de aula foram investigadas. Para isso, me amparei na classificação de tipos de

interatividade (nula, autoritária, dialética, dialógica e sinergética) propostas por

Beauchamp e Kennewell (2010) e no ensino dialógico proposto por Alexander (2006). A

noção de agentividade e a teoria crítica da tecnologia, que considera o contexto social e

histórico no qual as tecnologias estão inseridas, foram igualmente importantes no

embasamento teórico da pesquisa. Como resultado, pude observar que o professor

participante transita entre as fases, com predominância da fase 2, de incorporação da

tecnologia propostas na literatura e que há uma sobreposição de práticas, sugerindo que,

no contexto investigado, o termo “fases”, que prevê a evolução da prática a partir de

etapas, não pode ser observado. No tocante à interatividade, detectei que, na interação

professor-aprendiz-LDI, a visão instrumentalista de interatividade, que prevê o clique do

mouse ou de um botão do teclado, não necessariamente impacta decisões que são

tomadas com relação aos rumos da aula e aos caminhos que serão percorridos com o

uso do recurso tecnológico. Ao contrário, tais decisões estão embasadas em processos

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de interação e diálogo que ocorrem durante as aulas por meio da “interatividade dialógica”

e a abordagem dialógica de ensino. Esses processos de interação parecem dar voz a

docente e aprendizes, ainda que boa parte do controle esteja nas mãos do professor. A

partir desta pesquisa, espero contribuir para a reflexão de professores de língua, que

utilizam a LDI, quanto à sua prática de sala de aula em um contexto sócio-histórico que

tem exigido a inclusão das tecnologias de informação e comunicação (TICs) às atividades

de ensino e aprendizagem de línguas.

Palavras-Chave: Apropriação Tecnológica; Lousa Digital Interativa; Ensino-

Aprendizagem de Inglês; Interatividade; Abordagem dialógica.

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ABSTRACT

This dissertation has as primary objectives to identify and to describe some of the uses

and possibilities of the Interactive Whiteboard (IWB) by an English teacher of the tertiary

education in a countryside city in the state of São Paulo. This research is characterized

by an investigative case study. The analysis focuses on a corpus generated from

ethnographic observations in a classroom that uses an IWB by a language teacher who

is quite familiar with the use of computers in the focused classroom. The generation of

records happened throughout six months (from June to November) in the year 2012. From

the detailed analysis of 20 video-recorded lessons, I systematized HOW, WHY and FOR

WHAT PURPOSES the IWB was used. Based on the observed teacher’s practices,

analytical instruments were required in order to evaluate and systematize how the

incorporation of technological artifacts occurred. To this end, I compared characteristics

of the IWB usage with the phases of incorporation of the electronic whiteboard proposed

by Betcher and Lee (2009). In addition, I was also concerned with interactional dynamics

and in particular, the interactivity and dialogic approach in the classroom. In order to

analyze that, I used the classification of types of interactivity (null, authoritarian, dialectical,

dialogic and synergistic) proposed by Beauchamp and Kennewell (2010) and the dialogic

approach proposed by Alexander (2006). The notion of agentivity and the critical theory

of technology that considers the social and historical contexts, in which the technologies

are inserted, are equally important to theoretically support this investigation. As a result, I

observed that the participant teacher uses the IWB throughout the phases of technology

incorporation as proposed by the literature and there is an overlap of practices, suggesting

that, in the investigated context, the term “phase”, which implies the evolution of the

practice from the phases, with emphasis to phase 2, cannot be observed in our research

context. Regarding interactivity, the instrumentalist view of interactivity during the teacher-

learner-IWB interaction (in which the focus is on ‘going up to the front’ and manipulating

elements on the board or using the keyboard/mouse) does not necessarily impact

decisions made according to the direction of the lesson and the paths that will be covered

during the use of the IWB. Opposite to it, these decisions are based on processes of

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interaction and on dialogue that occur anchored by the IWB, with emphasis to the dialogic

interactivity and approach. These interaction processes grounded in a dialogic teaching

approach seem to give voice to the teacher and learners, although much of the control is

on the teacher’s hands. I hope to contribute to the reflection of language teachers who

use the IWB as to their classroom practice in a socio-historical context that has required

the inclusion of information and communication technologies (ICT) to teaching and

learning languages.

Key words: Technological appropriation; Interactive Whiteboard; Teaching and Learning

English; Interactivity; dialogic approach.

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Lista de Quadros

Quadro 1. Perfil dos discentes ....................................................................................... 36

Quadro 2. Descrição dos usos da LDI em sala de aula conforme orientação do professor. ....................................................................................................................................... 87

Quadro 3. Usos da LDI em sala conforme o número de vezes em que o recurso foi utilizado durante todo o período de observação – 20 aulas de aproximadamente 1 hora e 20 minutos cada uma delas............................................................................................ 90

Quadro 4. Usos do Microsoft Word® em zoom para melhor visualização. .................. 100

Quadro 5. Usos da LDI a partir do sofware Microsoft Word®. ..................................... 101

Quadro 6. Usos da LDI relativos ao uso do Microsoft Word® e o uso do e-mail. ......... 105

Quadro 7. Usos da LDI relativos ao usos do Microsoft Word® e da agenda do Windows. ..................................................................................................................................... 108

Quadro 8. Resumo dos exemplos de usos do recurso Microsoft Word®. .................... 114

Quadro 9. Usos da LDI relativos ao uso do DVD do livro ............................................. 115

Quadro 10. Usos da LDI relativos ao uso de imagens previamente selecionadas ....... 120

Quadro 11. Usos da LDI relativos ao uso do youtube .................................................. 124

Quadro 12. Usos da LDI relativos ao uso de google imagens e google maps ............. 126

Quadro 13. Usos da LDI relativos ao uso de google web e sites diversos ................... 132

Quadro 14. Usos da LDI relativos ao uso do dicionário online ..................................... 139

Quadro 15. Usos da LDI relativos ao uso da caneta da LDI ........................................ 140

Quadro 16. Resumo dos resultados encontrados no capítulo de análises (3) conforme fases, escala de interatividade e repertórios de fala. ................................................... 145

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Lista de Figuras

Figura 1. Foto da Sala de aula com a disposição dos quadros e dispositivos eletrônicos. ....................................................................................................................................... 29

Figura 2. Cena da sala 1 (a) com mesa grande. Figura 3. Cena da sala de aula 2 (b) com cadeiras. ........................................................................................................... 29

Figura 4. Exemplo dos componentes para o funcionamento de uma Lousa Digital Interativa (ANTONIO, 2012). ......................................................................................... 50

Figura 5. Modelos Escolares, passado, presente e futuro (MAIA, 2000, p. 141 apud NAKASHIMA, 2008)....................................................................................................... 64

Figura 6. Interatividade em sala de aula (adaptado de OLIVER, 1996) ......................... 80

Figura 7. Utilização do Microsoft Word® para anotações em sala de aula. ................. 101

Figura 8. Interação em sala de aula. ........................................................................... 103

Figura 9. Correção da tarefa de uma discente pelo professor na LDI. ........................ 106

Figura 10. Imagens da LDI sendo utilizada pelos alunos para construção da tabela de avaliação. ..................................................................................................................... 110

Figura 11. Alunos utilizam o quadro interativo em atividade colaborativa. .................. 113

Figura 12. Uso do DVD do livro didático para atividade do livro. ................................. 116

Figura 13. Uso do DVD do livro para prática de listening. ........................................... 118

Figura 14. Uso de imagens pré-selecionadas com base no contexto dos discentes para prática do present perfect. ........................................................................................... 121

Figura 15. Uso do prezi para ensinar estrutura gramatical e falar sobre filmes ........... 125

Figura 16. Uso do google imagens – professor segue interesse do aluno. ................. 127

Figura 17. Uso do google maps e street view para aluno mostrar trilhas de bicicleta . 130

Figura 18. Uso de sites diversos para exemplificar comprimentos em diversas culturas. ..................................................................................................................................... 133

Figura 19. Uso de sites diversos para contextualização da fala sobre o tópico da aula. ..................................................................................................................................... 135

Figura 20. Uso do Facebook para contextualização visual ou gramatical para prática oral. ..................................................................................................................................... 136

Figura 21. Uso do dicionário online para verificação de significado e pronúncia. ........ 140

Figura 22. Uso do software da LDI para explicação gramatical com desenho. ........... 141

Figura 23. Modelo complexo do uso da LDI pelo professor. Adaptação feita do modelo fractal de Paiva (2005, p. 9) proposto para aquisição de línguas ................................ 147

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Lista de Gráficos

Gráfico 1. Usos da LDI em sala de aula separados por projeção offline, projeção online e uso do programa da LDI (Promethean). ......................................................................... 90

Gráfico 2. Usos da LDI em sala de aula separados por projeção offline, projeção online e uso do programa da LDI (Promethean) por tempo de uso de cada recurso. ................. 91

Gráfico 3. Relação por tempo entre os usos online x offline da LDI em sala de aula. .... 92

Gráfico 4. Turnos e interações em sala de aula referentes às aulas 7, 8, 9 e 10. .......... 93

Gráfico 5. Turnos de fala (professor, aluno ou sem turno) e interações em sala de aula por meses (Mês 1 = setembro; Mês 2 = outubro; Mês 3 = novembro). .......................... 96

Gráfico 6. Gráfico quantitativo de Turnos e interações durante as 20 aulas observadas. ....................................................................................................................................... 97

Gráfico 7. Duração no tempo dos turnos e interações em sala das aulas 12 a 17......... 98

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 23

CAPÍTULO 1 .................................................................................................................. 27

QUESTÕES METODOLÓGICAS .................................................................................. 27

1 CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA ....................................................................... 27

1.1 A escola ...................................................................................................... 28

1.2 O professor Rafael ..................................................................................... 32

1.3 Os alunos ................................................................................................... 35

2 A PESQUISA DE BASE ETNOGRÁFICA DO TIPO ESTUDO DE CASO ................. 37

2.1 A pesquisa etnográfica ............................................................................. 37

2.1.1. Instrumentos de geração de registros ................................................. 41

2.2 Estudo de caso .......................................................................................... 42

CAPÍTULO 2 .................................................................................................................. 45

EMBASAMENTO TEÓRICO .......................................................................................... 45

3 LOUSA DIGITAL INTERATIVA ENQUANTO SUPORTE E INSTRUMENTO DE MEDIAÇÃO/ANCORAGEM PARA O ENSINO DE LÍNGUA ......................................... 45

3.1. Ponto de partida: a teoria crítica da tecnologia e a LDI enquanto mediação/ancoragem ...................................................................................... 45

3.2 O que é a Lousa Digital Interativa (LDI)? ................................................. 49

3.3 A LDI como artefato tecnológico para ensino-aprendizagem e suas affordances ...................................................................................................... 51

3.4 A chegada das LDI nas escolas ............................................................... 55

3.5 A multimodalidade como propriedade da LDI no ensino-aprendizagem........................................................................................................................... 59

3.6 “CALL” – Aprendizagem de língua assistida por computadores enquanto teoria e o novo papel do professor ............................................... 62

4 DISPOSITIVOS ANALÍTICOS: FASES DE INCORPORAÇÃO DA LDI PELO PROFESSOR, ENSINO-APRENDIZAGEM DIALÓGICOS E INTERATIVIDADE ......... 66

4.1 Fases ou estágios de incorporação da LDI às atividades de sala de aula pelo professor .................................................................................................. 66

4.2 Ensino-aprendizagem dialógicos ............................................................. 74

4.3 Interatividade ............................................................................................. 78

CAPÍTULO 3 .................................................................................................................. 85

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RESULTADOS E ANÁLISE DE DADOS ...................................................................... 85

5 ANÁLISES GERAIS E PADRÕES DE USOS DA LDI ............................................... 86

5.1 Interpretação inicial dos dados gerados a partir dos usos da LDI feitos por Rafael......................................................................................................... 86

5.2 Interação face a face e turnos de fala de aprendizes e professor. ....... 92

6 OS MODOS DE INCORPORAÇÃO DA LDI .............................................................. 99

6.1 Na utilização de Microsoft Word®, agenda do Windows e e-mail ...... 100

6.2 Na utilização de DVD do livro didático .................................................. 115

6.3 Na utilização de imagens pré-selecionadas e filmes ........................... 120

6.4 No uso do Google imagens e Google maps (street view) ................... 126

6.5 Na utilização de ferramenta de busca, sites diversos, inclusive de redes sociais ............................................................................................................ 131

6.6 Na utilização de dicionários online ....................................................... 138

6.7 Na utilização da caneta digital ............................................................... 140

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 143

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 149

ANEXO 1. QUESTIONÁRIO E TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ........................................................................................................... 157

ANEXO 2. ENTREVISTA COM O PROFESSOR ........................................................ 161

ANEXO 3. ANOTAÇÕES DE CAMPO UTILIZADAS NAS ANÁLISES ...................... 169

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INTRODUÇÃO

Esta pesquisa apresenta, analisa e discute os resultados de uma investigação

sobre os usos da Lousa Digital Interativa (LDI) por um professor de inglês do setor

terciário na cidade de Sorocaba – estado de São Paulo. Tendo como objetivo principal o

de identificar e descrever os usos efetivos e as possibilidades de uso da LDI em aulas de

inglês como língua adicional, desenvolvi uma pesquisa de base etnográfica, do tipo

estudo de caso, focalizando os usos desse artefato digital por um professor bastante

familiarizado com a utilização do computador em sala de aula. Ao longo de 6 meses (de

junho a novembro), no ano de 2012, tive contato com diferentes turmas e cursos, tendo

em vista o processo de geração de dados para esta dissertação.

Para atender a esse objetivo geral, os seguintes objetivos específicos foram

traçados:

1. Identificar os usos recorrentes da LDI em sala de aula através da análise de

registros vídeogravados de aulas, materiais didáticos utilizados nas diversas

turmas focalizadas, depoimentos do professor audiogravados e anotações do

diário do pesquisador;

2. Identificar e descrever as fases de incorporação da LDI pelo professor em sala

de aula à luz da bibliografia de referência;

3. Verificar o impacto das ações do professor envolvendo o uso da LDI com

relação à interatividade (MOSS, 2007 e BEAUCHAMP & KENNEWELL, 2010)

e a participação dos alunos no desenvolvimento e direcionamento da aula bem

como o uso da abordagem dialógica de ensino segundo os quatro repertórios

de diálogos (ALEXANDER, 2006).

Esta investigação teve sua origem a partir de minhas indagações enquanto

professora de inglês, sendo estimulada a incorporar novas tecnologias na prática de

ensino de línguas por conta tanto do próprio surgimento, nas últimas décadas, de novas

Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) quanto dos discursos que nos

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últimos tempos relacionam a formação docente ao manejo de novas TIC. Como

professora de inglês há treze anos, tive meu primeiro contato com a Lousa Digital

Interativa (LDI) (Interactive Whiteboard) há seis anos em uma escola de língua Inglesa

como língua adicional1, na cidade de Londrina, no estado do Paraná. Uma vez passado

o “wow factor”2 (BEAUCHAMP; PARKINSON, 2005), pude observar que, muitas vezes,

a LDI era utilizada pelos professores da escola onde trabalhei como uma extensão do

livro ou do quadro-negro. Nesse caso, grande parte das affordances3 (GAVER, 1991) da

LDI eram desconhecidas ou ignoradas por esses professores. A observação das práticas

desses docentes com quem trabalhei me levou a refletir sobre diversas questões, dentre

as quais a relativa às potencialidades de uso da LDI que me pareciam pouco exploradas

naquele contexto e também aos estatutos das interações entre a LDI, os docentes, os

alunos e os objetos/objetivos de ensino-aprendizagem.

Com base, portanto, nessas indagações e no crescente uso e incorporação das

TIC no ensino de línguas, passei a me interessar pelos estatutos que a LDI pode adquirir

nos processos interativos de ensino-aprendizagem, uma vez que ela pode ampliar o

acesso à multimodalidade, ou seja, às distintas formas pelas quais a linguagem se

materializa, escrita, visual, oral (verbal e não verbal), e que permite o ensino da língua

dentro de um repertório mais amplo e significativo de possibilidades cada vez mais

viáveis.

A exemplo, veja-se que, no ensino de uma língua adicional, quando há dúvidas

quanto a algum vocabulário, ao invés de utilizar a linguagem verbal, por meio da tradução

ou explicação da palavra, o professor pode recorrer a imagens instantâneas, ou seja, não

previamente recortadas por ele de material impresso, buscando no google, ou em

qualquer outro buscador, imagens para que o aluno entenda o significado de algum

1 Preferi o termo língua adicional ao invés de língua estrangeira pois, segundo Schlatter e Garcez (2009),

o termo língua adicional implica igualdade de condições entre falantes nativos e não nativos, já que o aprendiz irá utilizar a língua “estrangeira” para interagir no contexto no qual está inserido, não sendo assim excluído por ser um “estrangeiro”. A utilização desse termo também ressalta que há uma reflexão, por parte de aprendizes e educadores, com relação ao que é a língua, “de quem ela é e de quem pode ser, a que ela serve e o que cada um tem a ver com ela” (SCHLATTER & GARCEZ, 2009).

2 Termo usado para descrever quando a tecnologia da LDI é introduzida no ambiente escolar causando uma admiração inicial.

3 Atributos que estão atrelados à interação entre objeto (que pode ser tecnológico ou não) e atores que se utilizam desse objeto.

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vocábulo ou conceito em tempo real e conforme a necessidade surja em sala de aula.

Assim, a LDI pode abrir espaço para que professores e alunos construam e reconstruam

conhecimentos em conjunto, ampliem o diálogo em sala de aula, exatamente conforme

afirma Hennessy (2011):

O uso da lousa interativa pode abrir adicionalmente um rico espaço de novas formas multimodais de diálogo. O potencial é para que novos diálogos girem e evoluam em torno de artefatos digitais criados conjuntamente pelos professores e alunos dentro do quadro interativo (p. 02).

Portanto, dado o contexto histórico atual em que cada vez mais se exige a

introdução de novas TIC nas atividades de ensino, esta pesquisa pretende contribuir para

a reflexão sobre a introdução destas tecnologias e os estatutos que elas podem adquirir

quando incorporadas ao ensino de uma língua adicional.

A fim de cumprir com tais objetivos e alcançar os efeitos pretendidos, eu divido

meu texto em três capítulos que se somam a esta Introdução e às Considerações Finais.

No primeiro capítulo, busco explicitar para o leitor os aspectos metodológicos mais

relevantes e o contexto da pesquisa. Também procuro caracterizar o professor

participante e os demais colaboradores (alunos), bem como a escola onde a pesquisa foi

desenvolvida. Além disso, descrevo e explico, nesse primeiro capítulo, os procedimentos

usados na geração de registros e na constituição do corpus de pesquisa.

Já no segundo capítulo figuram as teorias que pressupõem teoricamente a

formulação desta pesquisa. O capítulo está dividido em duas grandes partes. Na primeira,

explano os pressupostos teóricos que embasaram meu entendimento sobre as funções

e usos da LDI na sociedade contemporânea. Dialogo com pesquisas nacionais e

estrangeiras desenvolvidas em diferentes contextos, que descrevem as principais

características de uso da LDI. Além disso, também relaciono a Aprendizagem de Língua

Assistida por Computadores (CALL) com os novos papéis assumidos pelos docentes. Na

segunda parte do capítulo, apresento os dispositivos analíticos que embasaram parte da

análise dos dados e que se configuraram como essenciais para o entendimento da LDI,

de seus modos de inserção em sala de aula e de incorporação pelo professor e das

mudanças havidas em suas práticas de ensino. Esses dispositivos foram: a identificação

de fases na incorporação da LDI pelo professor; a concepção de ensino-aprendizagem

dialógico; e por fim, o conceito de interatividade.

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No terceiro capítulo, analiso os dados do corpus com a ajuda dos dispositivos

analíticos apresentados no capítulo teórico e cotejo esses resultados com os

apresentados na bibliografia estudada. Finalmente, chego às Considerações Finais desta

pesquisa reunindo e condensando as reflexões realizadas durante o capítulo de análise

de dados e apresentando os resultados obtidos pelo estudo.

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CAPÍTULO 1

QUESTÕES METODOLÓGICAS

Neste capítulo, procuro esclarecer o tipo de pesquisa realizada e a metodologia

utilizada para obtenção dos registros, partindo da descrição do contexto de estudo, dos

participantes ou colaboradores e dos instrumentos de pesquisa. As bases teórico-

metodológicas de geração dos dados de análise, a partir desses registros, serão

apresentadas e discutidas no capítulo seguinte.

1 CONTEXTUALIZANDO A PESQUISA

Durante o ano de 2011, cursando a disciplina “Avaliação e Ensino de Língua

Estrangeira” como aluna especial do programa de pós-graduação em Linguística

Aplicada do IEL, UNICAMP, conheci Rafael4. Rafael é professor e dono de uma pequena

escola de inglês que conta com recursos pedagógicos ambicionados por muitos

professores de língua. Passei a fazer visitas à escola interessada em suas abordagens

de ensino. Assim, quando, em 2012, ingressei no programa de pós-graduação do IEL,

voltei à escola de Rafael para gerar os registros que dariam base à minha pesquisa.

Rafael se mostrou bastante interessado e contribuiu com algumas ideias para o meu

projeto. Como proprietário da escola e professor de todas as turmas, me autorizou não

apenas a assistir algumas de suas aulas, como também a filmá-las e a interagir com os

alunos, como e quando achasse necessário. A geração de registros ocorreu entre os

meses de junho a novembro de 2012 e, nesse período, duas turmas foram observadas

mais de perto e de forma sistemática.

Após o término da geração de registros, em novembro de 2012, o primeiro passo

para a análise foi descrever detalhadamente cada uma das 20 aulas observadas. Essa

4 O nome é fictício para que eu preserve a identidade do professor.

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descrição foi feita com base nos vídeos e nos diários de campo, que serão descritos na

seção 1.2.1.1 Instrumentos de geração de registros. Após leitura cuidadosa das

descrições de cada uma das aulas e do visionamento das videogravações, um

mapeamento ainda mais detalhado foi feito, no qual foram incluídas as atividades

desenvolvidas durante a aula, a duração de cada uma, quando e como foi utilizada a LDI,

com qual propósito, se esse uso era online, offline, com ou sem o software da lousa.

Foram também incluídos os registros referentes às interações entre professor e alunos,

como o número e a duração dos turnos, por exemplo.

A partir do visionamento do material videogravado, foi possível levar em

consideração elementos verbais e não verbais dos registros. Como resultado desse

conjunto de registros, montei um quadro com os usos recorrentes da LDI, que será

apresentado no capítulo de análises (terceiro capítulo).

Uma vez que os registros assim gerados referem-se a um contexto empírico

específico, focalizado em situações reais de atuação dos participantes e colaboradores,

e foram complementados por outros registros obtidos através de entrevistas e de exame

de documentos escritos, conforme descrito mais adiante, esta pesquisa pode ser

caracterizada como qualitativa de base empírica do tipo estudo de caso. Neste caso, a

principal referência para geração de dados de análise a partir desse conjunto de registros

foi dada pela tradição etnográfica de geração e triangulação de dados em contextos de

ensino, o que quer dizer que o processo de investigação deliberada é guiado por um

ponto de vista, em oposição a processos investigativos que são guiados por uma técnica

padrão (ERICKSON, 2004).

1.1 A escola

A escola focalizada nesta pesquisa foi criada em janeiro de 2010 e está localizada

em Sorocaba, uma cidade com aproximadamente 630 mil habitantes (IBGE, 2013), no

interior de São Paulo. Situada em um dos bairros centrais da cidade, que é classificado

como residencial e de fácil acesso, o prédio da escola, no período em que desenvolvi a

geração de registros, era uma casa reformada com três salas de aula, das quais duas

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possuíam a LDI. Além das LDIs, cada uma das duas salas principais tinha uma CPU5,

um teclado, um mouse, duas caixas de som e um quadro de avisos ao lado da LDI,

conforme ilustra a foto abaixo (Figura 1):

Figura 1. Foto da Sala de aula com a disposição dos quadros e dispositivos eletrônicos.

Uma das salas possuía carteiras individuais, enquanto a outra contava com uma

mesa grande compartilhada pelos alunos, conforme mostram as fotografias abaixo:

a) b) Figura 2. Cena da sala 1 (a) com mesa grande. Figura 3. Cena da sala de aula 2 (b) com cadeiras.

5 Unidade central de processamento.

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A terceira sala, que não dispunha da LDI, era usada quando as aulas incluíam

jogos de tabuleiro ou quando os alunos dedicavam-se às tarefas que dispensavam o uso

de livros didáticos. Os registros para esta pesquisa foram gerados na sala 1 (a) (Figura

2), na qual havia a LDI e uma mesa grande em torno da qual se acomodavam os alunos.

É interessante pontuar que esse contexto de distribuição de turmas por salas ocorria

porque não havia mais de uma turma no mesmo horário e o professor podia então utilizar

somente esta sala (“a”, da Figura 2) que, segundo ele, possuía melhor luminosidade.

O material didático adotado em cada turma dependia das necessidades dos

alunos e era escolhido pelo próprio professor, Rafael, que os adquiria em editoras na

cidade de São Paulo. Nas turmas pesquisadas, o professor utilizava como material

didático, na ocasião, os livros Time Zones6 e Top Notch7. Havia também uma versão do

livro em DVD que contava com atividades auditivas, audiovisuais e exercícios para

fixação de conteúdo. De qualquer forma, apesar de os livros didáticos terem sido

utilizados em todas as turmas, eles serviam mais como uma forma de ancoragem dos

temas que eram discutidos do que como guias da aula, tal qual afirma o professor no

excerto abaixo, retirado de uma entrevista audiogravada:

“... tudo gira em torno da necessidade do aluno em se comunicar, independente do livro, digamos assim, não é o livro que diz, o livro serve de guia para os temas, mais nada.” (Entrevista com Rafael, min 20:35 até 22:00, 16/08/2013)

Essa fala de Rafael vai ao encontro de perspectivas de ensino construtivistas e

abordagens de ensino dialógicas, segundo as quais a voz e as necessidades do aluno

devem ser levadas em conta durante as aulas e o livro não é a única fonte de acesso ao

conhecimento, a ser construído em parceria, entre docente e discentes.

Com relação às abordagens de ensino, de maneira geral, foi possível que eu

constatasse uma ancoragem na Abordagem Comunicativa8, aquela que defende que a

6 Time Zones é uma série de livros para adolescentes, com um forte foco internacional. Ela combina uma

abordagem comunicativa para se aprender Inglês com imagens, vídeo e conteúdos do programa National Geographic. A série conta com conteúdo educacional que abrange quatro áreas: pessoas e lugares, o mundo natural, história e cultura e ciência e educação (CENGAGE LEARNING, 2014).

7 Top Notch é um livro planejado para cursos comunicativos; tem seis níveis para adultos e jovens adultos. Ele foi projetado para a comunicação internacional e tenta utilizar a linguagem “natural” que, de acordo com o livro, “as pessoas realmente falam” (PEARSON EDUCATION LIMITED, 1999-2008).

8 Surgida no final da década de 1970 e início da década de 1980, essa abordagem emergiu da incapacidade de alunos que conheciam regras linguísticas para se comunicar em contextos reais (WIDDOWSON, 1978) os quais exigiam uma competência linguística (HYMES, 1971).

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unidade básica da língua é o ato comunicativo ao invés da frase. A partir desta

abordagem, pressupõe-se que o mais importante para o ensino-aprendizagem seja o

significado e não a forma (LIMA E FILHO, 2013, p. 21). A perspectiva teórica da

Abordagem Comunicativa faz da competência comunicativa (HYMES, 1972)9 o objetivo

do ensino da língua, pois reconhece a interdependência entre linguagem e comunicação.

Entre os princípios que norteiam a abordagem comunicativa, posso destacar: linguagem

autêntica; uso apropriado da língua; comunicação genuína/real em sala de aula; os

alunos podem expressar suas próprias ideias; e o ponto de partida para produção é o

significado (LARSEN-FREEMAN, 2000, p. 121).

Contudo, embora sendo observada a predominância da abordagem

comunicativa, pude também identificar que Rafael integrava outras abordagens de ensino

de língua, como “método de tradução e gramática”, no qual o ensino da gramática e o

uso da tradução prevalecem sobre outras estratégias de ensino. O procedimento de

ensino deste método é similar ao do latim e do grego, “enfocando as regras gramaticais,

memorização de vocábulos, conjugação de verbos e tradução de texto” (LIMA; FILHO,

2013, p. 04). Além dessas abordagens, utilizava tantas outras, como em atividades, cujo

enfoque seria o do desempenho na realização de uma tarefa (task-based teaching). Vale

ressaltar que essa hibridização metodológica, que caracteriza a prática do professor no

contexto estudado é favorecida pela LDI, já que ela permite convergir diversas mídias em

um único artefato.

Conforme já mencionado, a geração de registros para esta pesquisa ocorreu de

junho a novembro do ano de 2012. Nesse período, a escola contava com um total de 9

turmas e 22 alunos, que era o número médio de turmas e alunos por semestre na época.

Essas turmas eram distribuídas durante a semana e eram formadas por alunos de níveis

variados. Em geral, cada turma era composta por poucos alunos (de 2 a 5 pessoas por

turma) ou até mesmo por um único aluno.

Das nove turmas daquele período, excluí as quatro turmas formadas por um só

aluno, já que a LDI, de acordo com o professor, era pouco usada nas aulas dessas

9 Segundo Hymes (1972) o conceito de competência comunicativa se refere ao conhecimento de regras

abstratas de uma língua, sendo que essas regras são necessárias para produção de sons/significados; a competência comunicativa tem a ver com a habilidade para usar tais correspondências entre som/significado e forma de modo social e culturalmente apropriado.

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turmas. Das cinco turmas restantes, duas foram acompanhadas por mim, sendo que a

primeira foi focalizada como piloto para o teste dos instrumentos de pesquisa e a segunda

contou com todos os instrumentos usados de maneira concomitante, dando origem aos

dados analisados no capítulo 310. Ademais, segundo o professor, essas duas turmas

eram representativas do ponto de vista dos usos que ele costumava fazer da LDI e

também do perfil dos alunos da escola.

A primeira turma que observei era formada por dois alunos adolescentes e foi

acompanhada por um período de dois meses e meio (de junho a agosto de 2012). Pude

realizar, então, um piloto de minha pesquisa, testando a inserção da câmera de vídeo,

fazendo ajustes e adquirindo maior familiaridade com o funcionamento da escola. Já a

segunda turma que observei era composta por quatro alunos adultos. Conforme já dito

acima, pude acompanhar essa turma com todos os instrumentos de geração por três

meses e meio (de agosto a novembro de 2012); são esses registros, relativos à segunda

turma, que deram origem aos dados que serão analisados mais adiante.

1.2 O professor Rafael

Como participante da pesquisa, menciono a contribuição imprescindível do

professor Rafael, que não só me auxiliou na elaboração de critérios para seleção das

turmas para observação, como também participou de discussões que culminaram no

projeto que originou a presente pesquisa. Numa entrevista, me contou sobre sua

formação, suas experiências com as TIC e como conheceu e adotou a LDI em sua escola.

Rafael é bacharel em Linguística pela Universidade de São Paulo (1994),

Licenciado Pleno em Língua Inglesa pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1997)

e Licenciado Pleno em Pedagogia pela Universidade de São Paulo (2009). Possui ainda

diversos certificados internacionais (CPE – Cambridge Proficiency Exam, Toefl - Test of

10 Duas das três turmas não observadas tinham inconstância na presença dos alunos, o que considerei

problemático para a pesquisa. Já a terceira turma estava entrando na escola naquele semestre e ainda não conhecia a LDI, o que talvez pudesse interferir na avaliação do uso cotidiano daquele professor naquele contexto. Além disso, as duas turmas observadas, em relação a estas outras três não acompanhadas por mim, apresentavam um perfil mais consistente dos perfis dos alunos nessa escola, conforme será apresentado na seção 2.1.3.

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English as a Foreign Language, dentre outros), bem como teacher’s training courses11

das escolas onde trabalhou. Como projeto paralelo, desenvolveu oficinas de origami no

LABRIMP - Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos12, cujo foco era o

desenvolvimento da oralidade e letramento através de narrativas orais. Atualmente,

desenvolve metodologias e currículos na área de ensino de inglês como língua adicional

em sua escola de inglês, cujo foco é o desenvolvimento de novos Letramentos

Multimidiáticos no aprendizado de Língua Inglesa. Além disso, na época em que a

entrevista foi feita (em agosto de 201313), estava cursando, na pós-graduação em

Linguística Aplicada da Unicamp, disciplinas relacionadas ao uso de tecnologias para o

ensino de linguagens.

Professor de língua inglesa há mais de 30 anos, dos quais 25 foram dedicados a

escolas particulares e centros de línguas (Cultura Inglesa, Alumini, Senac, Skill, Fisk,

entre outros) na cidade de São Paulo, Rafael tem longa experiência no ensino de inglês

como língua adicional. Há cerca de 5 anos o docente mudou-se para Sorocaba, onde

abriu sua própria escola independente14.

No tocante ao uso de tecnologias, Rafael disse sempre ter se interessado por

novas tecnologias e que, já na década de 80, passava noites inteiras nos antigos

computadores de tela verde15 para cumprir as atividades de um curso de biologia que fez

no CCT – Centro de Ciências Tecnológicas, na Poli – Escola Politécnica da USP, em São

11 Curso de treinamento para professores. Ressalto que todas as traduções apresentadas ao longo da

dissertação foram realizadas por mim. 12 “O LABRIMP (Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos) destina-se ao fortalecimento do

vínculo entre teoria e prática pedagógica e o conhecimento da realidade brasileira na área de brinquedos e materiais pedagógicos [...] Como laboratório de pesquisa, de extensão universitária e de formação didática do professor na Faculdade de Educação da USP, o LABRIMP especializou-se no estudo e pesquisa de brinquedos e materiais pedagógicos, no aperfeiçoamento da qualidade da formação metodológica do educador, razão pela qual, vincula-se ao Departamento de Metodologia da FEUSP” (LABRIMP, 2014).

13 A necessidade em conduzir uma entrevista com o professor surgiu durante as análises. Informações com relação à formação e experiência de Rafael com computadores pareciam relevantes para entender seus usos da LDI e do computador em sala de aula.

14 Escola de línguas independente é o termo usado para descrever uma escola que não pertence a nenhuma franquia.

15 Monitor de fósforo verde era o nome dado aos monitores de computador monocromáticos do tipo CRT que utilizavam uma tela de fósforo verde, tais como o IBM 5151, lançado no ano de 1981.

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Paulo. Depois disso, passou um tempo afastado dos computadores e, nos anos 90, voltou

a ter acesso a alguns computadores em seu local de trabalho, o SENAC de São Paulo:

“Bom, o meu debut foi em meados da década de 80 com computadores de tela verde... aquele cursor piscando... virava noites digitando para o meu grupo da Biologia, lá no CCT, da POLI. Depois, passei um tempo sem mexer (alguns anos), acho que até o começo da década de 90, comecei a trabalhar no SENAC, e a tela ainda era verde... usávamos pouco...” (Entrevista com Rafael, 16/08/2013).

No início da década de 90, entre 1992 e 1994, Rafael teria adquirido seu primeiro

computador pessoal, já com o sistema operacional Windows. Hoje em dia, o professor

possui um laptop e um tablet e os utiliza tanto para seu trabalho como para o lazer,

surfando confortavelmente por entre as redes sociais, tendo facebook, twitter, wikis

dentre outras, e passa boa parte de seu tempo livre navegando na internet para se

comunicar, responder e-mails, acessar seu banco, fazer pesquisas, fazer cursos diversos

online ou ler livros, por exemplo.

O perfil de Rafael no uso do computador em seu tempo livre é semelhante ao

perfil de alguns professores da cidade de Campinas, como demonstrado na pesquisa de

Gomes (2010). Em seu estudo, a autora constatou que todos os professores da amostra,

composta por 70 docentes, tinham computador e quase todos (95,7%) tinham acesso à

internet, utilizando o computador para fazer pesquisas, preparar aulas ou se comunicar

pelas redes sociais (MSN, ORKUT e twitter, na época da pesquisa) (GOMES, 2010), usos

esses que são análogos aos de Rafael.

O uso de computadores para auxiliar mais diretamente suas aulas começou há

cerca de 15 anos, na escola de inglês Cultura Inglesa em São Paulo, onde Rafael não

usava computadores em sala de aula, mas trocava e-mails com os alunos para correção

de tarefas ou esclarecimento de dúvidas. O computador dentro de sala de aula veio,

relatou ele, em outra escola de inglês, a Alumini, em São Paulo, por volta de 2008. As

salas de aula dessa escola já contavam com um projetor e acesso à internet.

Em sua própria escola, a LDI foi inserida desde a abertura, em 2010. Rafael

afirma ter ficado sabendo da LDI por meio de uma amiga, também dona de uma escola

de línguas, que resolveu adquirir essa tecnologia e o chamou para que a conhecesse,

conforme relatado no excerto a seguir:

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“Eu já tinha ouvido falar [sobre a LDI] na cultura [inglesa]... quando eu estava abrindo a escola uma amiga minha falou que a gente deveria conhecer essa lousa... Ela insistiu bastante, mas não estava muito convencido de que ela seria assim tudo isso” (Entrevista com Rafael, 16/08/2013).

Ao ser perguntado sobre o que o levou a adotar a LDI, já que não tinha sido

convencido em um primeiro encontro, Rafael explica suas razões do ponto de vista

empresarial, reconhecendo o efeito da LDI sobre os alunos como marketing, não

necessariamente como recurso didático:

“Na verdade a hora que eu vi eu pensei no impacto que ela causaria nos alunos, não nos recursos didáticos, porque ela parece com a tela de um computador... e eu fiquei imaginando que tudo que eu faço com o papel eu poderia fazer na LDI” (Entrevista com Rafael, 16/08/2013).

Desse modo, enquanto dono da escola, Rafael acreditou que o uso da LDI

causasse impacto positivo sobre seus alunos, mesmo quando utilizada de forma tímida,

conforme ele mesmo o reconhece no excerto acima. Essa fala é especialmente relevante

no presente trabalho, pois, conforme será apontado no capítulo de análises, as

affordances exclusivas da LDI, como o uso do programa projetado para ela, é muito

pouco utilizada pelo professor, que parece utilizar a lousa muito mais como um mero

projetor que como lousa eletrônica.

1.3 Os alunos

Em sua maioria, os alunos que frequentavam a escola eram adultos e alguns

adolescentes, de diversas faixas socioeconômicas, que já haviam frequentado outras

escolas de inglês, franquias tradicionais, e tinham apresentado dificuldades em se

adaptar ou aprender a língua inglesa devido a fatores de diversas naturezas. Essa

amostra procurou justamente retratar uma turma que fosse representativa da escola,

composta por alunos adultos de diferentes classes socioeconômicas e que já tivessem

estudado em outras escolas de inglês.

Quatro discentes, representativos do alunado da escola, aceitaram participar da

pesquisa, desde que fossem mantidos seus anonimatos, e assinaram o termo de

consentimento livre e esclarecido de participação voluntária; também responderam um

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questionário (ver Anexo 1). As idades dos discentes variavam entre 23 e 38 anos. O

quadro a seguir contém um resumo das informações obtidas através do questionário (ver

Anexo 1) respondido pelos alunos participantes:

Questionário respondido pelos discentes

Aluno16 Idade Escolaridade Nível de inglês

Já estudou inglês?

Conhecia a LDI?

Objetivo com o inglês

Escolas de inglês em

que estudou previamente

Fabiano 28

Médio completo/ superior

incompleto

“Nível intermediário Top Notch 2”

Sim Não “Crescimento profissional”

- Senac

Sorcocaba

Eduardo 26 Superior

completo “Iniciante -

Top Notch” Nunca Não

“Melhorar minha

valorização no mercado de

trabalho”

-

Paula 38 Pós

Graduação “Top Notch 2”

Estudou em várias escolas - 4 anos

Não

“Aprender Inglês com

fluência e SE comunicar em uma linguagem

para vida”

- Microcamp. - 2 prof.

particulares. - Inglês

dentro da empresa na

qual trabalhava

Bianca 23 Superior

completo “Intermediário

- Top Notch 2” Sim - 1

ano Não

“Ter a fluência na língua”

- Senac SP.

Quadro 1. Perfil dos discentes

É importante destacar que o item “Nível de inglês” foi autodeclarado, ou seja, a

escola não tinha avaliação pré-estabelecida com relação aos níveis de cada turma ou

material didático. Assim, meu interesse ao perguntar no questionário sobre o nível de

inglês do aluno era o de saber como cada um classificava seu nível de proficiência na

língua. Desse modo, notei que, em um mesmo grupo, apesar de estarem numa mesma

turma, com as mesmas aulas e materiais didáticos, os alunos consideravam-se em níveis

diferentes de proficiência. Eduardo, por exemplo, considerava-se um aluno iniciante,

enquanto Fabiano e Bianca autodeclaravam-se intermediários. Essa constatação é um

indício de que a escola estudada não agrupava alunos por níveis de competência, como

16 Todos os nomes dos alunos são fictícios.

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é comum na maioria das escolas de inglês da cidade17, e a aprendizagem ocorria sem

essa rotulação, o que é um diferencial em relação à maioria das demais escolas de inglês

da cidade, que classificam os níveis de proficiência com base em testes diagnósticos,

mais comumente chamados de testes de nivelamento por escolas de língua.

Dessa forma, é possível inferir que os critérios de organização das turmas eram

ligados à experiência com a língua inglesa e à disponibilidade de horário para frequentar

as aulas. Esse não agrupamento dos alunos por níveis parece ser consoante com as

novas tendências de ensino que privilegiam as diferenças de ritmo de trabalho dos

aprendizes e a autonomia e responsabilidade dos alunos na aprendizagem (BAILLY,

2011). Nessa perspectiva, cabe ao aluno determinar seu próprio ritmo de aprendizagem,

não sendo papel do professor rotular o discente a partir de um suposto nível de

proficiência.

Nas respostas referentes ao item “Conhecia a LDI?”, percebemos que a LDI era

novidade para os adultos. Isso se explica pelo fato da inserção da LDI nas escolas ser

recente no cenário brasileiro, conforme também apontam alguns dos estudos

apresentados na discussão teórica desta dissertação.

2 A PESQUISA DE BASE ETNOGRÁFICA DO TIPO ESTUDO DE CASO

2.1 A pesquisa etnográfica

A perspectiva da pesquisa etnográfica é usualmente utilizada pelos

pesquisadores da área da antropologia com o objetivo de estudar a cultura de um grupo

social. Em sua origem, a palavra etnografia denota “descrição cultural”, que é um dos

enfoques dos antropólogos, abrangendo práticas, crenças, significados, linguagens,

valores e hábitos (ANDRÉ, 2005, p. 23). Na educação e nos estudos da linguagem, a

atenção do pesquisador que emprega a etnografia está mais especificamente voltada aos

processos educativos e aos usos da linguagem em contextos diversos. O que faz com

17 Grande parte das escolas, tais como Wizard, Fisk, Cultura Inglesa etc. trabalham com a separação de

alunos por níveis de proficiência (básico, intermediário, avançado, profissional, entre outras taxionomias).

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que algumas condições da etnografia antropológica não sejam necessárias para

pesquisas etnográficas de questões educacionais, segundo Wolcott (1975). André chega

a afirmar que “uma longa permanência do pesquisador em campo, o contato com outras

culturas e o uso de amplas categorias sociais na análise de dados são adequados para

os estudos antropológicos, mas não necessariamente para a área de educação” (2005,

p. 25). Dessa forma, a metodologia etnográfica, utilizada na antropologia, foi adaptada e

passa a ser aplicada para o estudo das práticas de uso da língua(gem) em contextos

educacionais (ANDRÉ, 2005).

Um dos princípios básicos da etnografia, considerado na condução da presente

pesquisa, é a relativização. Melhor definida por Dauster (1989), a relativização consiste

“no descentramento da sociedade na visão do pesquisador, colocando o eixo de

referência no universo investigado” (DAUSTER, 1989 apud ANDRÉ, 2005, p. 11). Esse

descentramento exige, por parte do pesquisador, duas atitudes: o estranhamento e a

observação participante. O estranhamento faz com que o pesquisador deliberadamente

se distancie da situação estudada para tentar apreendê-la e ter novas perspectivas

relativas às práticas, aos pensamentos, às atitudes, aos valores, enfim, a todas as

produções e impressões culturais relativas aos sujeitos ou grupo(s) estudado(s). De

maneira resumida, podemos dizer que o pesquisador deve olhar o familiar como se lhe

fosse estranho e o estranho como lhe fosse familiar. Já a segunda atitude, a observação

participante, leva o pesquisador a ter certo grau de influência ou interação com o

local/participantes/colaboradores pesquisados, tocando-os e sendo tocado por eles,

permitindo uma “aproximação aos sistemas de significado culturais dos sujeitos e [um]

afastamento tático dos pesquisadores para refletirem e analisarem a situação” (ANDRÉ,

2005, p. 26).

Além da relativização, é importante que o pesquisador de estudos de base

etnográfica gere seus registros em situações reais de campo e não em laboratórios ou

situações criadas, artificiais. É o que acontece na geração de registros para esta

pesquisa, já que ela ocorreu em ambientes de sala de aula regular da escola de inglês

estudada, em situações cotidianas do próprio evento discursivo da aula.

Outra característica relevante à etnografia é o tempo de imersão no contexto

focalizado, que pode variar de semanas a anos, a depender dos propósitos específicos

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de cada pesquisa. Na presente pesquisa, seis meses foram suficientes para acompanhar

usos da LDI naquele contexto, pois os padrões tanto interacionais quanto de uso da LDI

passaram a se repetir continuamente após esse período.

Adicionalmente a essas características, é importante destacar a natureza

descritiva intrínseca à pesquisa etnográfica. Essa descrição deverá ser profunda e

auxiliada pelo maior número possível de instrumentos e por uma multiplicidade de olhares

que devem ser detalhados e conter tanto os significados que os sujeitos ou grupos

participantes atribuem às ações quanto os significados que atribuem à realidade que os

cercam (SPRADLEY, 1979, p. 05). De acordo com Spradley (1979), esses significados

devem ser apreendidos pelo pesquisador por meio de análises que envolvam

interpretação não só da linguagem (do que é dito), mas também do que é feito pelos

participantes. Por essa razão, considero o instrumento vídeo-filmagem, utilizado na

presente pesquisa, de suma importância para que essa descrição (que envolve a

interpretação) possa ser a mais abrangente e detalhada possível.

Para Blommaert (2006), a pesquisa de base etnográfica ainda envolve descrição

e interpretação, compreendendo, além de aspectos técnicos e metodológicos, aqueles

da relação entre a parte e o todo (sendo “a parte” o caso estudado, e “o todo” o contexto

sócio-histórico no qual o caso se insere). Assim, Blommaert (2006) afirma que a

etnografia, dentro da área de estudos da linguagem, “foca sua atenção na complexidade

de unidades sociais separadas”, ainda que com vistas ao todo dessas unidades juntas

(BLOMMAERT, 2006, p. 03). Dessa forma, as visões micro, das partes, e macro, do

complexo, passam também a compor meus critérios para descrição e análise do corpus,

conforme será explanado no capítulo de análise.

Snell e Lefstein (2012), assim como Blommaert (2006), não veem a etnografia

apenas como método, mas como uma “combinação poderosa de procedimentos

linguísticos precisos para a descrição de padrões de comunicação, sendo que o

pesquisador etnográfico deve estar comprometido com a particularidade, participação e

um olhar holístico com relação às práticas sociais” (SNELL & LEFSTEIN, 2012, p. 03).

Com relação aos procedimentos adotados, a pesquisa etnográfica, em especial

na área de estudos da linguagem, combina uma série de procedimentos e técnicas.

Primeiramente, a etnografia serve de base para estudos de caso, tal qual a assumo, e,

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então, a visão dos participantes deve ser levada em conta para a investigação feita

(SNELL e LEFSTEIN, 2012). Em meu estudo, a participação do professor se deu através

de sua colaboração na elaboração do projeto de pesquisa, me garantindo acesso a

diversas informações sobre a LDI de sua escola em discussões tanto sobre a relevância

ou não desse artefato quanto inclusive sobre a importância desta pesquisa no campo de

ensino de línguas. Além disso, o professor também participou das discussões acerca dos

diários de observações feitos em sala de aula.

Com base, portanto, nas perspectivas elencadas (ANDRÉ, 2005; BLOMMAERT,

2006; SNELL & LEFSTEIN, 2012), listo a seguir algumas técnicas utilizadas em

pesquisas de base etnográfica na área de estudos da linguagem e que foram utilizadas

neste estudo:

Condução da pesquisa através dos dados: definição de questões de pesquisa

depois de extensa imersão do pesquisador em dados de sala de aula,

investigando o mesmo fato ou aspecto sob várias perspectivas antes da

definição de qualquer questão particular a ser investigada. No caso da presente

pesquisa, para o estudo dos usos da LDI foram consideradas, por exemplo, as

ações e avaliações do professor, mas também as dos alunos e do pesquisador

(SNELL & LEFSTEIN, 2012).

Ecletismo rigoroso: combinação de técnicas ou ferramentas analíticas variadas

e multimodais. Neste meu estudo, foram descritos e analisados os usos da LDI

através do exame de videogravações, diários de campo e entrevistas

audiogravadas, além, é claro, das teorias das quais faço uso para a análise dos

dados.

Abertura e sistematização: uso da criatividade na interpretação em forma de

“brainstorming”, antes de organizar os dados de maneira mais disciplinada e

sistematizada, a partir de uma relativa liberdade analítica do pesquisador. Esse

primeiro olhar mais aberto faz com que resultados não previsíveis possam

emergir, numa tentativa de fazer com que o pesquisador possa explorar seus

dados o máximo possível (SNELL & LEFSTEIN, 2012, p. 03).

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Atenção ao detalhe: abordagem dos dados de maneira meticulosa e prestando

atenção aos menores detalhes.

Análise micro, multimodal e transcontextual: a micro é a análise minuciosa de

momento a momento; a multimodal, uma análise de elementos não verbais,

como gestos, forma de se vestir, expressão corporal, a forma como a sala é

organizada etc; já a análise transcontextual, trata da análise de trajetórias

textuais dentro e fora do evento que podem estar ligadas a estruturas sociais

mais amplas (SNELL & LEFSTEIN, 2012, p. 04). Nesta pesquisa, foram

observados, por exemplo, o roteiro das aulas, os materiais didáticos, a

organização do espaço, a trajetória e a relação de Rafael com tecnologias, os

papéis sociointeracionais de professor e aluno, etc.

2.1.1. Instrumentos de geração de registros

Interessada em obter os registros necessários e em acordo com os princípios

supracitados, busquei a combinação dos seguintes instrumentos de geração de registros:

1. Diários de pesquisa, escritos por mim durante todas as aulas observadas, nos

quais descrevo não só os usos da LDI, como também impressões contextuais

e até mesmo ideias para aprimoramento das aulas. Nesses diários procurei

fazer descrições meticulosas das atividades conduzidas pelo professor,

número de alunos presentes, lição do livro correspondente ao tópico da aula e

data, visando o maior detalhamento possível;

2. Discussões documentadas sobre alguns dos diários de pesquisa. Quando

havia dúvidas sobre os procedimentos do professor, após as aulas,

conversávamos sobre essas dúvidas e eu relatava a conversa nos próprios

diários. Essas discussões me trouxeram insights sobre questões que foram

sendo sistematizadas ao longo da pesquisa;

3. Vídeo-filmagens de 20 aulas totalizando 25 horas e 11 minutos de gravação,

com duas câmeras, uma voltada para a LDI e outra para a sala como um todo.

A filmagem se mostrou um importante registro, pois permitiu a análise

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minuciosa de momento a momento, de forma multimodal e transcontextual, ou

seja, ao fazer as análises, pude ficar atenta a fatores verbais e não-verbais, só

possíveis de serem percebidos com a filmagem (multimodal) e minha presença

em sala de aula. Além disso, há o exame transcontextual da trajetória do

professor pesquisado e dos materiais didáticos dentro e fora de sala de aula.

4. Questionário para obter informações sobre os aprendizes, sobre o entorno da

sala de aula, sobre os conhecimentos dos aprendizes a respeito da LDI e sobre

os fatores contextuais que motivavam os alunos a estarem em sala de aula

estudando a língua inglesa (ver cópia do questionário no anexo 1).

5. Entrevista semiestruturada com duração de cerca de 22 minutos com o

professor Rafael. Essa entrevista foi áudio-gravada na escola onde a pesquisa

foi conduzida, após o término da geração de registros. Durante a entrevista, o

professor falou sobre a sua história com as TIC, como a LDI foi adotada em

sua escola e suas impressões sobre a mesma com base em alguns indicadores

didático-pedagógicos (a transcrição completa da entrevista está disponível no

anexo 2).

2.2 Estudo de caso

De acordo com Stake (1994), num estudo de caso em educação, o pesquisador

principal deve passar um tempo substancial no ambiente natural onde a pesquisa está

sendo conduzida em contato com as atividades e operações a serem estudadas. O caso

é uma entidade complexa que opera em inúmeros contextos, tais como o físico, o

econômico, o ético e o estético (STAKE, 1994, p. 239), ou seja, para que haja um

entendimento mais aprofundado do caso, é necessário enxergá-lo dentro de um contexto

sócio-histórico, e não apenas dentro de sala de aula, isto é, no local natural onde os

registros são gerados.

Para Erickson (1985, p. 238), essa metodologia permite o descobrimento de

eventos ou processos que poderiam ser perdidos com procedimentos investigativos mais

superficiais. Com efeito, Wisker (2007, p. 191) afirma que o estudo de caso não pode ser

generalizado, mas deve ser cuidadosamente contextualizado e descrito. Dessa forma, se

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outros pesquisadores resolverem conduzir o mesmo estudo em outras situações, os

exemplos do caso podem ser considerados como base para estudos em outros

contextos.

Um estudo de caso conduzido dentro da Linguística Aplicada, como é o caso

desta minha investigação, compreende “a análise sistemática de uma questão social

envolvendo a linguagem, sem pretensão de generalizações” (SILVA, 2006, p. 34). Essa

metodologia foi utilizada pois meu interesse estava em averiguar exaustivamente o

“como” o professor utilizava a LDI, o “por quê” e o “para quê” a utilizava em suas aulas.

A intenção, portanto, não era a de ter controle sobre os contextos investigados, mas a de

observar eventos da maneira mais natural possível (YIN, 2010). Outra preocupação foi a

de expor um contexto específico capaz de revelar novos usos, uma vez que seria possível

que a LDI estivesse sendo usada de maneira diferenciada naquela escola (BARONE,

2004).

Segundo Yin (2010), o estudo de caso enfoca um fenômeno contemporâneo no

contexto da vida real, “especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto

não estão claramente definidos” (YIN, 2010). O uso da LDI se enquadra nessa descrição

de Yin (2010), pois a LDI, na escola de inglês estudada, se encontrava em um contexto

de vida real cotidiana de ensino-aprendizagem.

Ainda considerei quatro características que, segundo Merriam (1988), são

essenciais para estudo de caso aplicado à educação: a particularidade, a descrição, a

heurística e a indução. A particularidade diz respeito à singularidade daquele fenômeno,

que interessa ao pesquisador de forma intrínseca, ou seja, diz respeito ao ponto de

partida do estudo do caso e do por que aquele caso em específico foi escolhido e o que

interessou ao pesquisador em específico. A descrição, como o próprio nome aponta,

significa que o caso será descrito de forma “densa”, considerando sua complexidade.

A heurística diz respeito à forma como a história daquele caso será contada,

buscando revelar significados novos, ampliando a experiência do leitor ou confirmando o

já conhecido. Finalmente, a indução, que significa que grande parte desses estudos se

baseia na lógica indutiva, volta-se, de acordo com Merriam (1988, p.13, apud ANDRÉ,

2005, p. 18), para a “descoberta de novas relações, conceitos, compreensão, mais do

que [para a] verificação ou hipótese pré-definida”.

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Considerando a agentividade do pesquisador, que, mesmo não

intencionalmente, faz escolhas quanto à história daquele caso que será reportada

(STAKE, 1994), o estudo de caso de base etnográfica deve utilizar o maior número

possível de procedimentos e técnicas para sua geração de registros, e até de forma

redundante, para que o pesquisador possa observar várias ocorrências de um mesmo

fenômeno e, com isso, dar importância aos significados que são gerados no contexto de

estudo e os significados que serão interpretados pelos leitores daquele caso (STAKE,

1994).

Na primeira parte deste capítulo, apresentei aspectos contextuais relevantes para

a contextualização da investigação proposta, tais como: parte da história de Rafael que

ajuda a compreender sua atuação como professor e os usos que ele faz da LDI em sala

de aula; a escola onde a pesquisa foi conduzida, suas características, abordagens de

ensino e materiais didáticos; e o perfil dos colaboradores da pesquisa, que são os

aprendizes da turma focalizada.

A segunda parte do capítulo, por sua vez, introduziu os aspectos metodológicos

que caracterizam a pesquisa como de base etnográfica, explicitando o caráter de imersão

na geração de registros e os pressupostos de condução da pesquisa através dos dados.

Tratei, então, do ecletismo rigoroso, da abertura e sistematização na organização dos

dados e da atenção ao detalhe em nível micro-, multimodal e transcontextual; e,

finalmente, detalhei os instrumentos utilizados (diário de campo, vídeo-gravação das

aulas com 2 câmeras de vídeo, questionário, entrevista semiestruturada e discussão

documentada).

Ainda neste capítulo, enfatizei que o estudo de caso destaca o caráter singular e

particular do caso pesquisado, sem pretensões de generalização, e que esse tipo de

estudo tem como característica a descrição exaustiva do caso em seu contexto natural,

indo a campo sem hipóteses fixas pré-definidas.

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CAPÍTULO 2

EMBASAMENTO TEÓRICO

O quadro teórico delineado neste capítulo contempla dois eixos principais: de um

lado, 1) a Lousa Digital Interativa (LDI) enquanto suporte e instrumento de

mediação/ancoragem para o ensino-aprendizagem, as pesquisas acerca da LDI em

literaturas nacional e internacional, o paradigma da “CALL” – aprendizagem de língua

mediada por computadores e o novo papel do professor que utiliza TIC; e, por outro lado,

2) os dispositivos analíticos que norteiam e embasam as análises: as fases de

incorporação da LDI pelo professor, ensino-aprendizagem dialógicos e, por fim, a

interatividade.

3 LOUSA DIGITAL INTERATIVA ENQUANTO SUPORTE E INSTRUMENTO DE

MEDIAÇÃO/ANCORAGEM PARA O ENSINO DE LÍNGUA

Na primeira parte deste capítulo, tenho como objetivo apresentar pressupostos

teóricos que embasam o estudo crítico das TIC dentro dos estudos da linguagem,

focalizando a Lousa Digital Interativa (LDI) enquanto suporte e instrumento de mediação

para os processos de ensino e aprendizagem de língua. Esses pressupostos são

relevantes pois guiam minha visão de pesquisadora que olha para um objeto complexo a

partir de um local e momento no mundo.

3.1. Ponto de partida: a teoria crítica da tecnologia e a LDI enquanto

mediação/ancoragem

A teoria crítica da tecnologia considera que cada artefato tecnológico é resultado

da interação entre o objeto projetado ou real e as apropriações desse objeto pelos

usuários. Em ambientes educacionais, essas apropriações também são construídas por

meio da interação entre os objetos e a forma como professores ou alunos se apropriam

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deles. Nessa perspectiva, a tecnologia é vista como o resultado da interação entre

diversos elementos, tais como as características inerentes à tecnologia, as abordagens

pedagógicas dos professores e o tipo de atividades que são desenhadas a partir dessas

abordagens, o entendimento dos aprendizes quanto aos benefícios da tecnologia e,

finalmente, as negociações entre discentes e docentes com relação ao modo como a

tecnologia deve ser utilizada em sala de aula (SCHMID, 2006).

Para Feenberg (1991), a teoria crítica da tecnologia pode ser contrastada com

duas outras principais vertentes vigentes até o início da década de 90, quando essa teoria

foi criada. Essas duas perspectivas são: a teoria instrumentalista e a teoria substantiva

(FEENBER, 1991). Para o autor, ambas oferecem limitações.

A primeira teoria, a instrumentalista, é baseada no senso comum sobre as TIC,

compreendendo que as tecnologias são ferramentas prontas e completas, servindo

diretamente aos propósitos e necessidades de seus usuários. Nesse caso, a tecnologia

é vista como neutra, não influenciável pelos aspectos políticos e sócio-históricos, pois lhe

é atribuída um caráter racional e de universalidade. Configura-se como uma ferramenta

que deve ser utilizada de acordo com os propósitos para os quais foi inicialmente

planejada.

Já a teoria substantiva ou determinista, surgida após a segunda guerra mundial,

defende que “a tecnologia constitui um novo tipo de sistema cultural que reestrutura todo

o mundo social como um objeto de controle”18 (FEENBERG, 1991 p. 07). De acordo com

Feenberg, os filósofos Jacques Ellul e Marin Heidegger e seus seguidores teriam

atribuído um caráter negativo às máquinas, que estariam assumindo o controle, como

uma força de dominação ou totalitarismo. A teoria determinista também sugere que a

tecnologia por si só já traz certos resultados, sejam eles bons ou ruins. O recurso digital,

nesse sentido, é visto como uma ferramenta que instauraria mudanças nas práticas

sociais per se, quando, meramente, sua presença seria necessária para que

transformações sociais fossem estabelecidas. No âmbito educativo, por exemplo, tal

perspectiva é notada nos casos de ações de incentivo ao uso de recursos digitais que

18 Tradução minha.

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apostam na mera presença da tecnologia como fator que estabeleceria mudanças no

cenário escolar.

Como alternativa aos entraves dessas duas teorias, a teoria crítica da tecnologia,

sob o argumento de que ambas as perspectivas mencionadas tendem a

descontextualizar as tecnologias, se diferencia por considerar o contexto social em que

as tecnologias estão inseridas, levando em conta as práticas sociais em um determinado

contexto e momento sócio-histórico. Na esteira do que propõe esta teoria, entendo que a

tecnologia é constantemente reinventada pela “agentividade humana” (WENGER, 2010),

por atores inseridos em certos contextos sócio-históricos que não podem ser ignorados.

De acordo com Wenger (1998), a agentividade humana ocorre quando da

reinvenção das tecnologias que tende a ocorrer em processos de aprendizagem, a esse

respeito, ver também Signorini (2007). Há, segundo o autor, dois processos na interação

com as TIC para construção de sentidos na aprendizagem. O primeiro diz respeito à

participação social, que configura-se como o envolvimento do ser em atividades,

conversas e reflexões em determinado tempo/espaço. O segundo processo é a produção

conceitual ou física de artefatos, que podem ser palavras, métodos, estórias, conceitos,

ferramentas, dentre outras formas de reificação19. Com efeito, para que ocorra

aprendizagem significativa em contextos sociais, os dois processos supracitados são

essenciais.

A produção destes artefatos ocorre na interação entre a tecnologia e o(s) ator(es)

envolvido(s) na situação. Rabardel e Vérillon (1985), a partir do modelo de Situação de

Atividade com Instrumento – SAI, consideram os sistemas e objetos técnicos como

meios, ou seja, como instrumentos (ou artefatos, para Wenger) que são colocados entre

o ator social e a realidade sobre a qual ele deseja agir. Esse instrumento não se instaura

enquanto propriedade da tecnologia, mas como affordance ou uma característica ligada

a uma situação de uso (RABARDEL & VÉRILLON, 1985).

Para que a aprendizagem seja significativa, é necessário que a interconexão

entre a construção de recursos e saberes leve em consideração o contexto social. Ao

focalizar a apropriação de novos recursos no ensino, Signorini (2007) argumenta que

19 Reificação significa “transformar em um objeto” (WENGER, 1998)

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quando um artefato tecnológico, enquanto inovação, é inserido em um contexto escolar,

os agentes sociais envolvidos em tal contexto interpretam a inovação de diferentes

maneiras, trazendo o artefato tecnológico para o contexto local, levando em conta as

variáveis institucionais, objetivos, recursos materiais e práticas, podendo até mesmo, a

depender das necessidades especificas, recriar a inovação para atender as demandas

locais (SIGNORINI, 2007, p. 220).

Tal qual argumenta Signorini (2007), Wenger (2010) defende que esse processo

de engajamento com os artefatos e inovações é um processo dinâmico, ativo e em

movimento, já que as negociações são reconfiguradas constantemente. Essas

negociações dinâmicas e ativas de significado, que envolvem objetivos e repertórios

compartilhados de aprendizes e professores, podem produzir práticas20 que, por sua vez,

possuem bordas21, em sua maioria não muito bem definidas, de um repertório e

conhecimentos compartilhados por aquela comunidade (WENGER, 1998).

Portanto, o lugar que a tecnologia ocupa, seja na sociedade ou ambientes

específicos, como o educacional, é visto como um “campo de batalha” (WENGER, 1998)

em que seres sociais com propósitos específicos precisam lidar com certos valores ou

influências que refletem o desenvolvimento histórico e os propósitos de design

tecnológicos. Com efeito, quando uma tecnologia é inserida em um ambiente escolar,

como no caso da LDI, não só o professor e alunos têm papel fundamental para a

utilização efetiva (reinventando-a ou recriando-a como inovação, conforme Signorini

[2007]), mas também a própria tecnologia traz consigo design e propósitos que, de certa

forma, podem potencializar o surgimento de novas práticas de letramento.

Na mesma linha de raciocínio, Lantolf (2000) afirma que o design e os propósitos

para os quais certa ferramenta foi desenvolvida podem afetar o como e o porquê da

20 O conceito de prática conota fazer, mas não apenas fazer por si só. É o fazer dentro de um contexto

histórico e social que dá estrutura e significado ao que fazemos. Neste sentido, a prática é sempre uma prática social (WENGER, 1998, p. 47).

21 Signorini (2013) define a borda como “um espaço comum e fluido entre domínios” (p. 209). Wenger (1998) descreve objetos com bordas como entidades que podem ligar as comunidades em conjunto, pois permitem que diferentes grupos colaborarem em prol de uma tarefa comum. “Os objetos com bordas são objetos tanto plásticos o suficiente para se adaptar às necessidades locais e às restrições das diversas partes de que dependem, como também robustos o suficiente para manter uma identidade comum. Eles podem ser abstratos ou concretos” (BOWKER & STAR, 1999, p. 297, tradução minha).

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aprendizagem. Entretanto, os aprendizes podem utilizar tais ferramentas de maneiras

inesperadas e criativas, sendo que suas atividades de aprendizado são desencadeadas

de modo a fazer sentido para eles mesmos. Com isso, ocorre a transformação (ou

recriação, conforme Signorini [2007]) dos propósitos das ferramentas e da aprendizagem

de quem as utiliza (LANTOLF & THORNE, 2006).

Para Glover et al. (2012), é evidente que o fator que garante o progresso na

aprendizagem dos alunos está relacionado à qualidade do ensino, sendo que a Lousa

Digital Interativa (LDI), artefato amplamente usado em escolas inglesas, por si só não

garante isso. No entanto, a LDI pode auxiliar na expansão e no desenvolvimento de

abordagens inovadoras de ensino atualizadas por cada professor, tendo em vista as

potencialidades dessa ferramenta digital. A despeito das possibilidades de uso e

apropriação, é importante destacar que nem sempre suas affordances são notadas no

espaço educativo, pois quando uma nova tecnologia ou inovação é adotada, o que ocorre

em sala de aula depende diretamente do(s) agente(s) social(ais) que interage(m) com a

TIC, os propósitos desses agentes sociais e seus conhecimentos prévios.

Com base nas visões que orientam o presente estudo, os professores precisam

de tempo e formação para que possam se apropriar da lousa e desenvolver

competências22 (recriando ou reinventando a LDI quando necessário), aplicadas a

princípios pedagógicos, para que as potencialidades da LDI possam ser exploradas de

maneira efetiva e significativa por docentes e discentes.

Partindo, portanto, das ideias supracitadas, entendo a LDI enquanto

mediadora/ancoragem de artefatos/instrumentos/affordances, que são produzidos na

interação entre LDI e atores sociais em contextos nos quais a LDI é utilizada.

3.2 O que é a Lousa Digital Interativa (LDI)?

A lousa digital interativa é um dispositivo que necessita de mais dois

componentes a ela conectados para que funcione: um computador e um projetor digital.

22 Quando utilizo o termo competência (que não seja a comunicativa) me refiro a uma característica

relacionada com desempenho superior na realização de uma tarefa ou determinada situação (FLEURY & FLEURY, 2001).

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De maneira geral, as LDI são telas colocadas na parede com dimensões e formatos

variados. O tamanho padrão, e também mais utilizado, é o de 72 polegadas. No tocante

ao formato, o mais usado ainda é o de 4:3 (quatro terços) tela cheia. Entretanto, com a

disponibilidade crescente de projetores e computadores que comportam o formato 16:9

widescreen (semelhante ao formato do cinema), esse formato também passou a ser

requisitado para as LDI (BETCHER & LEE, 2009). Para melhor visualização, apresento

a seguir a ilustração dos componentes de funcionamento de uma LDI aproveitada de um

blog destinado a professores que buscam a inclusão digital e o acesso à internet a serviço

da educação (ANTONIO, 2012):

Figura 4. Exemplo dos componentes para o funcionamento de uma Lousa Digital Interativa (ANTONIO, 2012).

A superfície da tela pode ser dura e sensível a canetas que agem como um

mouse (mas que necessitam de calibração regular para que haja precisão no toque da

caneta sobre a tela) ou pode ser menos dura e então sensível ao toque (touchscreen). A

experiência da escrita na LDI com a caneta é similar à escrita num quadro regular, com

o diferencial do clique, clique duplo ou a possibilidade de arrastar objetos. As telas são

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acompanhadas de um software específico para lousa digital, desenhado para a

educação, cujas características ou design variam segundo a marca da LDI.

De acordo com Betcher e Lee (2009), hoje em dia as empresas tentam melhorar

esses softwares constantemente com base nos feedbacks dos professores, já que os

programas parecem ser o diferencial entre as empresas para potencializar seus lucros.

Uma das limitações desses flipcharts23, como são chamados os softwares desenhados

para LDI, é sua falta de compatibilidade entre os softwares de diferentes empresas e a

perda de tempo por parte dos professores, no caso da troca de marca pela escola ou

troca de emprego pelo professor, como comentam Betcher e Lee (2009). Porém, há

marcas que já contam com conversores que permitem a abertura de arquivos de marcas

diferentes em suas LDI. E para o caso de professores e escolas não quererem se vincular

a uma marca, já há opções independentes de softwares livres (open source)24.

De todo modo, as configurações de hardware e software são em princípio

diretamente dependentes das necessidades contextuais de cada escola ou professor, e

serão determinadas não só por demandas sócio-históricas, mas também por limitações

sócio-econômicas, já que algumas marcas são mais caras que outras25. Assim, acredito

não haver uma marca, formato ou configuração que possa ser avaliada como melhor ou

pior, mas vários tipos e marcas de LDI com diversos softwares que poderiam ser

adaptados e reinventados para o ensino.

3.3 A LDI como artefato tecnológico para ensino-aprendizagem e suas

affordances

A LDI surgiu na década de 1990 em Nova Jersey, nos Estados Unidos da

23 Os softwares desenhados para LDIs, chamados de flipcharts, se comportam similarmente ao Power

point, porém com mais funcionalidades, como a habilidade de arrastar objetos pela tela livremente, uma variedade de canetas e marcadores de texto, além de ferramentas para aumentar partes da página, acesso a uma coleção de imagens e ferramentas interativas (BETCHER & LEE, 2009).

24 Tais como o Open Whiteboard Project, originalmente proposto por Johan Kohlin, professor da universidade suíça de Jonkoping, que tem como objetivo a criação de aplicativos para o uso da LDI, que sejam totalmente gratuitos, como uma alternativa aos produtos comerciais. Mais informações podem ser obtidas em: http://sourceforge.net/projects/openwhiteboard/

25 Os preços das LDI são variados. É possível encontrar marcas disponíveis entre 2 mil reais até cerca de 10 mil reais.

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América, e sua primeira venda foi para professores universitários em 1991 (BETCHER &

LEE, 2009). Esse artefato tem especial significado no ensino, pois, diferente de outros

recursos já incorporados à educação, tais como o rádio, a televisão, filmes e até mesmo

computadores, a LDI foi desenhada especificamente para o uso de professores e para o

ensino em sala de aula. A ideia de um dos criadores, David Martin, em 1986, era a de

criar um produto que combinasse a simplicidade de um quadro interativo com a potência

de um computador. Os educadores, em especial aqueles que precisavam apresentar

palestras a uma certa distância, reconheceram o potencial da LDI, já que usavam apenas

modens de baixa velocidade e sistemas operacionais muitas vezes instáveis e com

recursos insuficientes. Esse reconhecimento culminou na criação de uma nova categoria

de produto, a Lousa interativa (SMART TECHNOLOGIES, 2014).

Além disso, suas affordances, tais como a provisionabilidade, a estabilidade, a

manipulação direta, a multimodalidade, a re-usabilidade e a visibilidade, parecem

oferecer mais vantagens do que outros sistemas de apoio ao ensino e à aprendizagem

(MCGRENERE & HO, 2000), já que parecem permitir um ecletismo pedagógico maior

que com ferramentas tais como a televisão ou o rádio. É importante enfatizar que essas

affordances são propriedades percebidas que podem realmente existir ou não. Isso

porque sugestões ou pistas de como usá-las podem depender diretamente da

experiência, conhecimento ou cultura dos atores que irão interagir com os artefatos,

sendo que essas pistas ou sugestões podem facilitar ou dificultar uma ação deles

(SIGNORINI, 2007).

Ainda assim, a visibilidade (uma das affordances supracitadas) da LDI enquanto

ponto focal de sala de aula, para interações multimodais, parece atrair a atenção dos

alunos e professores no uso dessa ferramenta genérica que comporta diversas

modalidades de mídia dentro de sala de aula.

Nakashima (2008), em sua dissertação de mestrado, traz considerações

relevantes sobre as affordances e possibilidades de uso da LDI em sala de aula ao

evidenciar a ampliação das opções didático-pedagógicas, além da convergência de

muitos recursos e linguagens em um mesmo equipamento. A autora considera que a

ampliação das opções pedagógicas é possível a partir de affordances chamadas de

indicadores didático-pedagógicos. Ao estudar seu trabalho, percebi que os próprios

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indicadores são o resultado de uma análise minuciosa sobre as características da LDI e

suas potencialidades. Para melhor entendimento de como a LDI pode potencializar as

práticas pedagógicas em sala de aula, caracterizarei brevemente a seguir cada um dos

indicadores assumidos por Nakashima (2008).

O primeiro indicador, denominado “indicador interatividade”, está relacionado às

relações sócio-afetivas da aprendizagem. Pode ser relacionado à LDI e categorizado de

três formas: “interatividade técnica” – que consiste na interação com recursos

tecnológicos da LDI; “a interatividade física” – que consiste na manipulação de elementos

na LDI de maneira física, ou seja, com o uso da caneta ou dos dedos; e a “interatividade

conceitual” – que está relacionada à interação com a LDI enquanto ancoragem para

construção de conceitos e ideias26. Esse indicador tem especial relevância em meu

estudo, pois serve como ponto de partida para o desenvolvimento e uso de um dos

dispositivos analíticos utilizados, a escala de interatividade proposta por Beauchamp e

Kennewell (2010).

O “indicador flexibilidade/multilinearidade” permite que a informação seja

digitalizada, o que facilitaria o processo de “atualização, edição e personalização do

desenvolvimento de materiais digitais, podendo atender mais eficazmente os alunos com

diferentes estilos de aprendizagem” (NAKASHIMA, 2008, p. 159). Ademais, esse

indicador possibilita escritas coletivas, conectando textos através de links hipertextuais,

enriquecendo a leitura e fazendo com que deixe de ser linear para tornar-se multilinear

(NAKASHIMA, 2008). Vale ressaltar que a flexibilidade e a multilinearidade são aspectos

também apontados como determinantes para educação no trabalho de García et al

(2011), conforme veremos na seção seguinte.

O “indicador conectividade” está relacionado às redes em constante movimento

que a internet nos permite criar de maneira desterritorializada. Isto é, as fronteiras são

quebradas e a produção e compartilhamento de conteúdo se ampliam para fora da sala

de aula. Esse indicador é relevante, pois, para que o professor possa explorar essa

conectividade em sala de aula, através da LDI, é preciso que conheça recursos e

ferramentas e estimule a intervenção dos alunos durante a aula a fim de incentivar uma

26 Esses conceitos são melhores explicitados na seção Interatividade.

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construção de conhecimento bidirecional (NAKASHIMA, 2008).

O “indicador qualidade das informações e dos conteúdos” está diretamente ligado

à seleção dos elementos visuais e à utilização ou subutilização de recursos

disponibilizados pela LDI. Entendo que esse indicador também está conectado ao

letramento digital dos professores e, conforme Nakashima (2008), com a capacidade de

gestão da informação para formação de alunos pesquisadores e produtores de

conhecimento.

Finalmente, o “indicador convergência de linguagens” está ligado a essa “nova”

linguagem audiovisual, presente na vida dos alunos, que muito provavelmente já tiveram

contato com a televisão e outros dispositivos digitais antes mesmo de entrarem no ensino

infantil (NAKASHIMA & AMARAL, 2010). A LDI integra e possibilita ao professor que essa

linguagem esteja presente na elaboração de materiais didáticos.

Talvez, por essas razões, por ter demonstrado tantas affordances e

potencialidades, a expansão no uso da LDI tem sido significativa e os estudos na área,

ainda que tímidos, têm crescido nos últimos anos. Em consonância com os indicadores

de Nakashima (2008), os estudos em âmbito internacional apontam um consenso em

relação às affordances e aos potenciais benefícios da LDI para professores, como

flexibilidade e versatilidade, apresentações multimodais, eficiência – fazendo o melhor

uso possível das ferramentas com economia de tempo para preparação de aulas e

melhores resultados de aprendizagem, suporte para planejamento e desenvolvimento de

recursos, modelagem para habilidades com as TIC e a interatividade e participação nas

aulas (SMITH et al., 2005). No Reino Unido27, por exemplo, os números mostram que

essa tecnologia já é encontrada em mais de 70% das salas de aula e seu uso tem

aumentado muito em países como Dinamarca, Holanda (40% a 42% em 2009), EUA,

Austrália, Irlanda e México (quase 30% das salas de aula dos quatro países em 2010)

(HENNESSY, 2011).

Há também projetos, tais como o ITILT – Interactive Technologies in Language

Teaching (Tecnologias Interativas no Ensino de Língua), que têm como objetivo a

27 O Governo do Reino Unido investiu 50 milhões de libras na compra das lousas interativas. Esse

investimento animou os pesquisadores de tal forma que o maior número de estudos sobre a LDI é advindo do Reino Unido e em geral para o ensino infantil.

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produção de uma gama de materiais de treinamento e recursos para apoiar os

professores que utilizam a LDI para o ensino em língua estrangeira (LE). O projeto

envolve sete países europeus (Bélgica, Holanda, Alemanha, França, Espanha, País de

Gales e Turquia), com professores com experiências variadas com a LDI e proficiências

diferentes, e abrange uma ampla gama de setores da educação, desde o ensino primário

até o ensino superior. Com mais de 200 vídeos disponíveis no website28 do projeto,

referentes a práticas em sala de aula com o uso da LDI, o grupo tem percebido, como

grande parte das pesquisas sobre o uso efetivo da LDI, que há grande eficácia no uso de

ferramentas tecnológicas diversas (do computador, da internet, dentre outras), mas

pouca efetividade para o uso das ferramentas específicas e/ou exclusivas da LDI

(HILLIER et al., 2013).

Dentre os problemas encontrados para que o uso da LDI seja eficaz, Kennewell

(2007) e Smith (2005), assim como autores nacionais (NAKASHIMA, 2008; MEDEIROS,

2011), apontam para uma falha na forma como cursos de capacitação para utilização da

LDI vêm sendo conduzidos nas escolas, uma vez que parecem ser demasiadamente

rápidos, não proporcionando aos professores o tempo necessário para aprendizagem e

incorporação e apropriação da tecnologia. Ou seja, o tempo disponível para interação

entre objeto, neste caso a LDI, e professor é insuficiente para que o docente possa se

apropriar dessa tecnologia a ponto de poder usar de suas affordances em sala de aula.

No Brasil, ainda não há estatísticas sobre a quantidade de escolas que utilizam

esse artefato. Ademais, os usos da LDI começam apenas a serem estudados. Em 2013,

os poucos trabalhos a respeito estavam em geral concentrados na área de educação

(AMARAL et al., 2007; NAKASHIMA & AMARAL, 2010; GOMES, 2011; MEDEIROS,

2011; TORRES, 2011), conforme consultas feitas às bases de dados Scopus, Eric,

EBSCO, ProQuest e Scirus.

3.4 A chegada das LDI nas escolas

No Brasil, a chegada das LDI nas escolas vem ocorrendo com maior

28 Disponível em: http://www.itilt.eu/

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“entusiasmo”, em seu sentido numérico quantitativo, nos últimos anos29. A queda nos

preços das LDIs tem viabilizado o acesso a esse recurso. Apesar de ainda ser

predominante em escolas particulares ou institutos de idiomas, alguns municípios, tais

como Campinas e Sorocaba, já começam a implementar a LDI também em escolas

públicas municipais. No âmbito da pesquisa sobre as LDIs, os trabalhos nacionais sobre

o assunto procuram investigar como a inserção dessa tecnologia está ocorrendo e quais

são as percepções de alunos e professores, bem como os usos (práticas pedagógicas)

que estão sendo feitos dessa nova ferramenta.

De maneira geral, há grande aceitação da LDI por parte dos alunos e dos

professores. Parece que a novidade e a inserção de elementos interativos e/ou

multimodais nos ambientes de ensino, bem como o acesso à internet, tem motivado

alunos e professores no Brasil e no mundo a implementarem as lousas eletrônicas como

parte integrante de suas aulas. Não obstante, é importante destacar que pesquisadores

tais como Slay et al (2008) sugerem que o uso do projetor, ao invés da LDI, proporcionaria

grande economia em especial para países em desenvolvimento tais como o Brasil ou a

África do Sul.

Com relação à percepção dos alunos sobre o uso de lousa digital no âmbito

escolar, Filho et al. (2012) propõem o uso dessa ferramenta digital para desenvolver

conteúdos da disciplina de algoritmos do curso de computação no ensino superior. Ao

compreender que há pouca didática na abordagem da disciplina e que trata-se de um

conteúdo que exige muita abstração por parte dos alunos na compreensão do estudo dos

algoritmos, os autores (FILHO et al., 2012) entendem que o suporte visual viabilizado

pela lousa digital contribuiria para o alcance de melhores resultados no processo de

ensino-aprendizagem. Para diagnosticar, então, o nível de aceitação e de

“empoderamento" no ensino em relação à LDI, Filho et. al. (2012) usam como

metodologia de geração de dados um questionário estruturado no sentido de verificar se

a lousa contribuiu com o processo de aprendizagem, além de outras perguntas

diretamente relacionadas à disciplina de algoritmos. Mas há uma abordagem tímida dos

dados (apenas situam as respostas em gráficos, sem problematizá-los) e resultados

29 A LDI foi introduzida no Brasil por volta de 2004, conforme relata Gomes (2010).

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apressados em relação ao uso da LDI, os autores não apontam de que modo tal

contribuição afeta a sala de aula, embora entendam que o uso de tal ferramenta

contribuiu com o ensino.

Ainda que esse resultado me pareça parcialmente promissor, ao se constatar

“aceitação” da LDI nos questionários, sem uma descrição mais detalhada de como o

aprendizado teria sido facilitado, não é possível dizer ao certo se a LDI proporcionou

essas respostas positivas, ou se a novidade fez com que os alunos se empenhassem

mais nas dinâmicas propostas em sala de aula – influenciados ainda pelo “wow factor”.

Ao focalizar os usos de um novo recurso, vejo que há a necessidade de uma abordagem

mais ampla do processo investigado, pois, caso contrário, os pesquisadores podem

incorrer em resultados vagos e, até mesmo, equivocados a respeito do ensino.

No caso da presente investigação, a pesquisa etnográfica e o processo de

geração de dados (entrevistas, diário de campo, vídeo das aulas) viabilizam um olhar

crítico sobre o uso da LDI, permitindo ver como são construídas as práticas de ensino.

Além de focalizar uma possível aceitação no processo de ensino, se faz relevante

observar os modos como são apropriados os recursos digitais na sala de aula e quais

impactos ocasionam no processo de ensino-aprendizagem.

No tocante à motivação e aceitação por parte dos professores, a possibilidade de

reutilização na preparação da aula, ou resgate de aula anterior no decorrer da aula, têm

sido qualidades destacadas por Kennewell (2007), Oliveira (2009) e Smith et al. (2005).

Contudo, um obstáculo apontado quase que unanimemente pelos trabalhos que

consideram a visão do professor quanto ao uso da LDI (SMITH et al., 2005;

KENNEWELL, 2007; NAKASHIMA, 2008; GOMES, 2010) seria a falta de formação

técnica e pedagógica dos docentes com relação ao uso da lousa digital. Quando há

cursos de capacitação para o uso desse artefato, são demasiadamente curtos, não

propiciando aos professores o tempo necessário para apropriação e entendimento da LDI

para que seu uso seja efetivo dentro de sala de aula, não indo além de uma mera

transposição do que já havia sendo feito sem o uso da LDI. É possível ainda que esses

cursos possam não só não ajudar na apropriação dos docentes, como também atrapalhar

ou causar impactos negativos na percepção do professor, que pode passar a rejeitar a

tecnologia devido à capacitação ineficaz ou superficial.

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Ainda no tocante à percepção de professores, Medeiros (2011), por exemplo, por

meio de entrevista com professores de geografia em João Pessoa, estado da Paraíba,

lista usos e ferramentas mais utilizadas na LDI: em primeiro lugar são vídeos, e em

segundo vem o acesso à internet. Contudo, sem a vídeo-filmagem dessas aulas, não se

pode saber sobre a natureza do conteúdo desses vídeos usados por professores em sala

de aula e o que (e como) foi acessado na internet, que congrega práticas absolutamente

amplas e variadas. No caso do estudo de Medeiros (2011), o uso da internet parece estar

restrito ao uso do google earth, conforme descrição dos professores. A mobilidade das

imagens veio em terceiro lugar, mas novamente não se sabe ao certo quais imagens

eram usadas, com quais propósitos e como essa mobilidade ocorria. Quando a

preocupação é relativa à prática docente, a vídeo-filmagem mostra-se relevante, pois

permite que sejam visualizados os percursos de uso e apropriação das TICs na sala de

aula. Nesse sentido, para além de focalizar o mero uso, pode-se informar os percursos

de acesso e navegação no mundo digital dentro do espaço de ensino.

Muitas pesquisas internacionais, como no âmbito brasileiro, focalizam o processo

de inserção e apropriação da LDI nas escolas e, mais precisamente, como professores e

aprendizes lidam com tal recurso pedagógico em sala de aula. Segundo Xu e Monoley

(2011), que estudaram a LDI no contexto de ensino de línguas estrangeiras, as

tecnologias permitem ao professor e aos alunos gravarem materiais digitalmente,

provenientes de variadas fontes, para recortar e colar juntos, criando assim novos

materiais que sejam contextualmente relevantes aos alunos e às suas necessidades de

aprendizagem (2011, p.308).

Essa construção conjunta de materiais, bem como de artefatos, vai ao encontro

do estudo de Hennessy (2011), que pesquisou como artefatos digitais são construídos a

partir de diálogos na LDI em salas de aula do ensino fundamental de escolas na

Inglaterra. Para a autora, a LDI pode ser explorada para servir como ancoragem

multimodal na construção de conhecimentos coletivos. A multimodalidade, em particular,

ajuda a entender melhor a complexidade das interações em sala de aula por meio da

análise dos múltiplos modos de comunicação (KRESS & VAN LEEUWEN, 2001), já que

a comunicação situada, segundo Lemke (2010), sempre envolve várias modalidades de

comunicação para que faça sentido. A esse respeito, Hennessy (2011) constatou, por

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meio da observação de 10 casos, que a “construção e interação com artefatos digitais

em evolução na LDI pode facilitar o desenvolvimento de uma linha coerente de co-

indagações que pode ser mantida por mais tempo, estendendo o espaço dialógico de

uma única lição” (HENNESSY, 2011, p. 473).

Considerando a relevância da convergência das linguagens e multimodalidade

no uso da LDI para o ensino, é importante que as práticas pedagógicas dos professores

na utilização da LDI sejam investigadas no sentido de entender como, por quanto tempo

e por que alguns recursos multimodais são utilizados.

3.5 A multimodalidade como propriedade da LDI no ensino-aprendizagem

“As pessoas confiam mais em figuras ou fotos do que em palavras impressas e são mais propensas a confiar nas imagens da televisão do que em um artigo de jornal”

(Rubin e Mchugh, 1987, p. 557, tradução minha)

Nakashima e Amaral (2006) acreditam que, com a LDI, a linguagem oral e escrita

se amplia para a linguagem audiovisual, que é multimodal, muito mais dinâmica e

multimidiática. Quando crianças ingressam na educação infantil, já tiveram, previamente,

contato com mídias e linguagem audiovisual. Os autores acreditam que a linguagem

audiovisual da lousa interativa (como na televisão) é parte integrante da rotina do

brasileiro. Dentro de sala de aula, enquanto ferramenta de apresentação de conteúdo,

oportuniza uma linguagem visual e maior participação na construção de conhecimentos

(NAKASHIMA & AMARAL, 2006). Nessa perspectiva, o professor deveria alterar seus

procedimentos didáticos e sua postura, indo de uma cultura grafocêntrica30 para práticas

que incluam a multimodalidade, sendo um parceiro que encaminha e orienta o aluno no

aprendizado.

Nessa direção, e pensando nas potencialidades não só da LDI, mas em especial

da conexão à internet, enquanto suporte para linguagem audiovisual (multimodal) para

30 A cultura grafocêntrica do mundo ocidental tem suas origens na metade do século XV, com o surgimento da escrita tipográfica (PINHEIRO, 2011), e se entrelaça com a cultura das mídias e cibercultura (cultura digital) uma vez que entendemos as culturas como fluídas, cujas bordas são indefinidas (CANCLINI, 1997). Dominante em esferas de prestígio, práticas grafocêntricas têm prevalecido em nossa sociedade há muitas décadas e hoje parecem se encontrar em um processo de transição, que perpassam formas híbridas de escrita (SIGNORINI, 2001), para as quais um desfecho ainda é desconhecido.

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uma educação mais participativa e significativa com o auxílio das mídias, reflito sobre o

impacto dessas novas linguagens para as dinâmicas de sala de aula e para os papéis de

professores e alunos.

As escolas “uniformizadas” (BOHN, 2013) com as quais cresci, tinham o

professor no papel de “mostrar ao aluno suas deficiências disciplinares, seus erros de

conteúdo, sua inadequação comportamental, isto é, o professor impunha seu poder”

(BOHN, 2013, p. 81). Felizmente, esse papel parece estar em risco com o advento de

novas metodologias de ensino potencializadas pelas TICs e das novas linguagens que

são acessíveis aos alunos que passam a ter acesso a informações e fontes, por meio do

ciberespaço, outrora pertencentes à figura do professor. É importante frisar que ter

acesso não significa automaticamente um uso eficaz de tais informações; nesse sentido,

o professor muda o seu papel e passa a ser um guia ou “conselheiro” (BAILLY, 2011) que

passa a auxiliar o aluno a fazer buscas e aprender a selecionar fontes e informações de

qualidade dentro do ciberespaço.

A avaliação do uso dessas novas linguagens está presente em outros trabalhos,

como o de García et. al. (2011), que reconhecem o papel da LDI para inserção das

linguagens audiovisuais nas salas de aula. Segundo esses autores, a mudança nas

linguagens que utilizamos impacta quase que diretamente a forma como nos

comunicamos e nos relacionamos:

É exatamente o que se passou com a introdução da escrita: o homem oral passou a ver o mundo pelas letras. E, agora, o homem das letras, o homem visual, precisa ver o mundo virtual, um mundo hipermídia. A hipermídia é uma forma de comunicação que modifica a relação dos seres humanos. Essa complexa relação, que é uma relação entre a comunicação e a tecnologia, cria novos paradigmas, quatro precisamente; e que acabam influenciando a relação entre autor e leitor; são elas: Base de dados, Linearidade/Não Linearidade, Hipertexto e Convergência (GARCÍA et al., 2011, p. 109).

De acordo com García et. al (2011), o trabalho com a LDI deve ser voltado para

a participação, ampliação de modos e formas de apresentação de conteúdos e

aprendizagem para gestão de informação. Essa mudança não só nas linguagens, mas

também nos papéis de professores e alunos, se configura como um dos resultados do

surgimento de uma nova linguagem ligada às TIC31, e em particular ao acesso à internet

31 Outras tecnologias da informação e comunicação, tais como computadores, tablets e até mesmo

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que parece ter maior impacto do que a LDI em si. Isso ocorre porque o professor deixa

de ser o ator principal para ser um mediador e o aluno deixa de ser um mero espectador

para participar do processo de construção do conhecimento. É evidente que o enfoque

desse trabalho está na LDI, mas é importante lembrar que esses efeitos poderiam ser

causados por algumas tecnologias, tais como o projetor, o que seria economicamente

mais viável conforme já mencionado por Slay et al (2008) anteriormente, contanto que

este artefato tivesse acesso à internet.

Historicamente, essa mudança explica-se com a evolução das tecnologias,

quando, na década de 70 e 80, os computadores começaram a invadir as salas de aula

no mundo. Nessa época, as máquinas não possuíam interconexão entre si,

impossibilitando trabalhos colaborativos, e tampouco eram conectadas com o mundo

exterior por meio da internet. O professor, nesse caso, ainda tinha total controle dos

softwares, que eram liberados aos alunos, e das atividades, que eram desenvolvidas em

sala de aula. Quando a internet foi conectada aos computadores e a interconexão de

redes se tornou uma realidade, os alunos puderam potencializar a exploração do mundo

muito além das paredes de sala de aula, dando espaço para o acesso tecnológico,

transmissão de informação, comunicação assíncrona e redes globais com níveis

ilimitados de interação. Com todas essas mudanças, novas expectativas emergiram, por

parte de professores e pesquisadores, para que novos papéis fossem criados e com isso

um movimento em direção a um novo paradigma de aprendizagem surge no cenário

educacional (GIBSON, 2001).

É importante ressaltar que tais mudanças, embora fortemente atreladas à

mudança cultural da sociedade ciberdigital (SANTAELLA, 2010), também estão ligadas

à evolução das metodologias de ensino que vão ao encontro de um paradigma

pedagógico ligado à educação autônoma (BENSON, 1996) e do construtivismo32 que vê

na colaboração e construções autênticas de conhecimento um novo caminho para

educação.

celulares também comportam novas linguagens multimodais, mas, como o enfoque neste trabalho está na LDI, me aterei a ela.

32 O construtivismo se baseia na teoria de que o conhecimento não é o produto de um agrupamento de conteúdos, como acreditavam os comportamentalistas. O construtivismo, inserido em uma abordagem cognitivista, é uma teoria interativista, que não está centrada nem no homem, nem no meio, mas nas relações que podem existir entre ambos (HODSON, 1998)

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A propriedade visual da LDI bem como a multimodalidade são elencadas, pela

maioria dos trabalhos aqui referenciados, como um importante recurso para o

aprendizado, uma vez que leva em conta os vários estilos de aprendizagem dos alunos

("Cognitivo, afetivo, e variáveis fisiológicas são relativamente estáveis de indicadores

como os alunos percebem, interagem e respondem ao ambiente de aprendizagem”

(KEEFE, 1979, p. 4), já que a LDI possui muitos modos de apresentação para o estímulo

de cada discente.

O ecletismo pedagógico do professor no uso da LDI ou de qualquer outra TIC e

por meio do ciberespaço faz com que o mundo multissemiotizado seja transportado para

sala de aula e cabe ao docente utilizar a multimodalidade e o acesso ao mundo fora de

sala de aula em prol de novas práticas de ensino-aprendizagem de forma crítica, situada

e transformadora.

3.6 “CALL” – Aprendizagem de língua assistida por computadores enquanto

teoria e o novo papel do professor

Para entendimento das mudanças nas abordagens de ensino e nos papeis de

professores e alunos, é preciso entender o percurso histórico de transformações para o

ensino, em especial de línguas, com a chegada das TIC. Tal percurso foi acompanhado

por pesquisadores que definiram a área como “CALL” – Computer assisted language

learning (Aprendizagem de língua assistida por computadores). Segundo Hubbard

(2009), CALL se refere a “qualquer processo no qual o aprendiz usa um computador e.

como resultado, melhora seu aprendizado” (HUBBARD, 2009, p. 01).

Há mais de 40 anos em desenvolvimento, a aprendizagem de línguas assistida

por computadores tem se desenvolvido e pode ser categorizada, segundo Warschauer

(1996), em três fases distintas: a CALL behaviorista, a CALL comunicativa e a CALL

integrativa. É importante frisar que o surgimento de uma nova fase não necessariamente

rejeita a anterior, mas o “velho” se torna “novo” de maneira gradativa, sendo que sua

aceitação pode ser lenta.

A primeira fase, CALL behaviorista, pensada na década de 50 e implementada

nas duas décadas subsequentes, era baseada na repetição de drills nos quais o

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computador agia como um tutor e o aprendiz poderia avançar de forma individualizada e

em seu próprio ritmo (WARSCHAUER, 1996). Nessa época, a internet não era utilizada

e os computadores eram utilizados de maneira isolada, não havendo interconexão entre

computadores, tão pouco trabalhos colaborativos. A vantagem nesse caso era que o

aprendiz poderia evoluir ou repetir exercícios que utilizasse mídias (auditivas ou visuais)

quantas vezes lhe fossem necessárias, trabalhando em seu próprio ritmo e tempo.

Com a chegada dos microcomputadores e a rejeição de abordagens

behavioristas, que priorizavam a forma em detrimento do uso e seus significados, por

volta da década de 1980, a CALL comunicativa veio ao encontro das teorias cognitivas

que destacavam o processo de descoberta, expressão e desenvolvimento na

aprendizagem. Nessa fase, o uso dos computadores estava voltado para a prática da

forma como com reconstruções textuais ou simulações (GÜNDÜZ, 2005).

Em meados dos anos 1990, através da evolução dos computadores e mais

especificamente da internet, os primeiros passos em direção a CALL integrativa foram

dados. Baseada na multimídia dos computadores e no uso da internet, que se mostrou

um ponto chave também nesta dissertação de mestrado, a CALL integrativa conta com o

agenciamento dos atores envolvidos que constroem o conhecimento por meio de

interações sociais (construtivismo). O advento das hipermídias, em especial, tem tido

destaque na aprendizagem de língua pois permite a multimodalidade, som e imagens,

que, segundo a teoria CALL integrativa, estariam mais próximos do mundo real

(WARSCHAUER, 1996).

Quando do uso da LDI ou de um projetor, ambos conectados a um computador

com acesso à internet, a CALL integrativa parece já ser possível de ser alcançada. Em

um cenário ideal, os professores passariam a trabalhar de forma integrada com a

tecnologia tanto para obter melhores resultados de aprendizagem como para melhor

suprir a demanda de um mundo globalizado. Em outras palavras, o professor se

apropriaria da TIC em sala de aula para que a aprendizagem pudesse ocorrer de forma

integrada, ou seja, de forma que aprendizes e docentes participem ativamente do

processo de construção do conhecimento. Para Hubbard (2009), a questão do CALL não

está mais centrada no uso per se de computadores, mas focaliza o “como” professores

poderiam usá-los de forma mais efetiva para dar suporte à aprendizagem de línguas.

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Haja vista a reconfiguração que está ocorrendo nos papéis dos atores envolvidos

na sala de aula, com foco especial no professor, outrora detentor do saber e meio pelo

qual aprendizes tinham acesso ao conhecimento, faço uso da figura de Maia (2000, p.

141), retirada da dissertação de Nakashima (2008), que ilustra a mudança impulsionada

pelo acesso às tecnologias e informação:

Figura 5. Modelos Escolares, passado, presente e futuro (MAIA, 2000, p. 141 apud NAKASHIMA, 2008).

O paradigma A, o tradicional, na Figura 5, expõe um modelo de ensino unilateral,

o qual entendia o aluno como tábula rasa que recebia os conhecimentos de docentes

tidos como únicas fontes de conhecimento e sabedoria. O segundo paradigma, no qual

vivemos, também exposto na Figura 5, comporta um modelo de ensino-aprendizagem

mais atual, no qual há trocas/interações entre professores e alunos, mas o docente

continua sendo o detentor do saber. O paradigma C, baseado em tecnologia, estaria mais

próximo à CALL integrativa, na qual professores e alunos têm acesso a fontes de

informações e é a interação entre docente-discentes-tecnologias-conhecimentos que

torna o processo de aprendizagem uma construção significativa. É importante ressaltar

que há grande importância no papel do professor em mudar tais dinâmicas de sala de

aula, uma vez que, hierarquicamente, é ele quem possui o poder no paradigma de

aprendizagem corrente, tal qual ocorre com o docente no paradigma tradicional.

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Pensando nesse novo papel do professor, Torres (2011) entende que a LDI vai

ao encontro das necessidades de crianças nascidas em uma geração que percebe e tem

acesso a um mundo que não existia antes do advento e disseminação das tecnologias.

Os jogos digitais e multimodais oportunizam, nesse sentido, a participação e o

envolvimento do aluno nas práticas pedagógicas, dando um significado autoral à

construção do conhecimento.

A LDI potencializa o acesso imediato à internet, em que professores podem

navegar por uma infinidade de sites, textos, fotos ou vídeos educacionais. Essa gama de

possibilidades, aberta por meio da LDI, são exploradas pelo professor no corpus de minha

pesquisa através de fotos, imagens da biblioteca virtual, sites diversos, google maps (e

street view), além de vídeos do youtube – recursos esses que são utilizados não apenas

para atender melhor a demanda de perfil de alunos (auditivos, visuais e sinestésicos),

como também para aproximar a sala de aula ao mundo real de fora do ambiente escolar,

prática preconizada na CALL integrativa.

Adicionalmente, quando o docente já possui certa competência tecnológica, a

LDI otimiza o tempo que professores gastam planejando e desenvolvendo recursos. Tal

competência permite ao professor converter todas as outras mídias (rádio, TV, DVD,

quadro-negro) em um único local que pode ser acessado de um computador pessoal em

qualquer lugar do mundo. Os conteúdos visuais (cor e movimento) e auditivos (música,

voz e efeitos de som) são particularmente atrativos para novos aprendizes (COYLE et al.,

2010), pois estimulam diversos sentidos e são mais parecidos com mídias que os atraem

diariamente, tais como os computadores, tablets e celulares. Segundo Doe (2010, p. 30

apud ISMAN et al., 2012), quando usada de maneira inteligente, as LDIs poderiam até

mesmo ser ferramentas de aprendizagem capazes de competir pela atenção dos alunos

juntamente com a TV, jogos e outras atividades excitantes e visuais do dia-a-dia.

Perpassam os trabalhos estudados a hipótese de que a LDI auxilia os professores e

alunos, não só na inclusão de várias linguagens/modalidades dentro de sala aula, mas

também para uma mudança na educação, de modo que os docentes tenham um papel

mediador e os discentes sejam mais participativos no processo de apropriação para a

transformação (conforme a Figura 4).

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Dessa forma, entendo que os usos e atitudes do professor com relação à LDI e

o acesso à internet são essenciais para a compreensão das contribuições que esse

artefato pode ter para o ensino de línguas. As mudanças elencadas para os papéis de

docentes e discentes preveem maiores envolvimentos dos aprendizes em processos

ativos de construção do conhecimento. E, para que essa construção seja alcançada, o

diálogo parece um caminho a ser seguido.

Nesse sentido, exponho a seguir dispositivos analíticos que são a base para o

entendimento dos usos e da forma como a inserção da LDI pode mudar os modos de

ensinar e aprender respaldados por práticas pedagógicas dialógicas (ALEXANDER,

2006) em que o professor utiliza a LDI como ancoragem para discussão de ideias e para

a construção de conhecimentos.

4 DISPOSITIVOS ANALÍTICOS: FASES DE INCORPORAÇÃO DA LDI PELO

PROFESSOR, ENSINO-APRENDIZAGEM DIALÓGICOS E INTERATIVIDADE

A segunda parte do presente capítulo teórico tem como objetivo apresentar três

questões que permeiam o uso da LDI em sala de aula e que são especialmente

relevantes para que, no capítulo de análises, eu possa investigar as práticas do docente

focalizado a partir de alguns parâmetros para comparação. É importante destacar que

esses parâmetros são apenas e tão somente pontos de partida para a análise dos dados.

4.1 Fases ou estágios de incorporação da LDI às atividades de sala de aula pelo

professor

Quando uma nova tecnologia chega, ela será usada inicialmente, inevitavelmente, para continuar fazendo muitas das mesmas coisas que a tecnologia antiga poderia fazer, gradualmente se movendo

para reinventar algumas das coisas antigas em novas formas. (Betcher e Lee, 2009, p. 02, tradução minha)

A simples inserção da LDI em sala de aula não é garantia de uma abordagem

crítica do ensino de línguas ou de uma reconfiguração nos papéis dos atores envolvidos

no âmbito educativo. Ao focalizar o desempenho de escolas que incorporam

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computadores nas práticas de aprendizagem dos seus alunos em avaliações nacionais

e internacionais de aprendizagem na educação básica, Dwyer et al. (2007) afirmam que

a performance discente havia sido quantitativamente inferior aos anos antecedentes à

inserção das TIC na sala de aula. Tais dados (DWYER et al., 2007) revelam que a mera

presença do computador na sala de aula não necessariamente desencadeia mudanças

do processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, seria necessário, ainda, trilhar um

longo caminho para chegar a novas formas de ensinar e aprender no cotidiano dos

professores, dos alunos e das instituições de ensino. A ideia de que a tecnologia passa

por um processo de apropriação e/ou incorporação por professores e alunos perpassa o

trabalho de diversos autores, tais como Signorini (2007), Betcher e Lee (2009), Gibson

(2001) e Buzato (2010).

Quando uma TIC é inserida em um contexto escolar, por exemplo, há a

“incorporação a um sistema social dinâmico [que] tanto pode acelerar mudanças nesse

sistema, quanto gerar mudança na própria inovação, ou até mesmo não causar nenhum

efeito” (Signorini, 2012). Nesse caso, a apropriação da tecnologia por parte de

professores e alunos “pode ser melhor definida como o processo de interagir com a

tecnologia e modificar tanto a forma como a tecnologia é utilizada, como também o

quadro social no qual ela é usada” (BAR et al., 2007). Tendo em mente que esse processo

de inserção é muito mais complexo do que a mera presença do recurso na sala de aula,

alguns autores traçaram fases/estágios pelos quais os professores podem passar a partir

da inserção da LDI.

Para Betcher e Lee (2009), as LDIs têm o potencial de auxiliar os professores a

dar forma a uma mudança educacional, implicando uma relação menos assimétrica entre

professor e aluno e um olhar menos estanque para a produção de conhecimento. Para

isso, é preciso que os professores passem a explorar o que os autores chamam de e-

teaching33, ou seja, o “uso das tecnologias de informação e comunicação para melhorar

o ato de ensinar” (BETCHER & LEE, 2009, p. 48). O mais relevante sobre esse conceito

é que, ao introduzir a multimodalidade com fontes digitais e o engajamento das TIC, o

uso diário de tais tecnologias em sala de aula pode mudar as metodologias de ensino,

33 Esse termo foi criado pelos autores, pois o termo e-learning estaria relacionado ao uso da tecnologia

para o aprendizado e não para o ensino.

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em direção a CALL integrativa que engloba metodologias de ensino construtivistas e

interacionistas. No entanto, é importante destacar que essas mudanças estão pautadas

nas ações e apropriações que o docente fará dos artefatos, que podem não ter efeito

algum em sala de aula, ou até dificultar a aprendizagem.

Pensando nessas mudanças que podem ocorrer no âmbito do ensino, Betcher e

Lee (2009) preveem algumas fases pelas quais os professores passariam quando a LDI

é inserida em sala de aula. Análogos a essas fases, citamos os estágios de Gibson

(2001). Para o autor, há três estágios pelos quais professores, instituições e alunos

passam até que a tecnologia possa ser incorporada de forma efetiva em sala de aula.

Relacionando as fases de Betcher e Lee (2009) aos estágios de Gibson (2001),

detenho-me a seguir aos pressupostos teóricos dos quais se valem os autores, suas

similaridades e diferenças, para que possa neles me basear quando nas análises das

aulas do professor Rafael. As características típicas de cada fase serão utilizadas como

critérios de análise no próximo capítulo. A intenção é demonstrar a complexidade de

práticas pedagógicas do professor focalizado e discutir novas formas de pensarmos a

incorporação da LDI em contextos educacionais.

Na primeira fase de Betcher e Lee (2009), “fazendo coisas antigas de maneiras

antigas”, a LDI é principalmente usada para fazer as mesmas coisas que eram realizadas

com o quadro-negro ou branco. As características típicas dessa fase incluem:

- Anotações e diagramas ainda são escritos ou desenhados em letra de mão no quadro conforme o conteúdo é ensinado. - Digitalização do conteúdo das lições, principalmente, de documentos do Word ou de textos e diagramas. - Utilização limitada do conjunto de ferramentas da LDI. - Preparação de aulas, geralmente, sem antecedência. - Subestimação dos recursos interativos nas aulas. - Arquivamento das aulas ao final de cada lição. - Isolamento do professor no uso das TIC. O docente não compartilha recursos com os aprendizes. - Desgaste do professor. Uma grande quantidade de esforço é necessária para utilização da LDI nessa fase (BETCHER & LEE, 2009, p. 51).

Entendo esses usos como aqueles que reproduzem os do quadro-negro

tradicional, geralmente estáticos e centrados no grafocentrismo. Portanto, neste meu

estudo, utilizo as características supracitadas para avaliar práticas de ensino de língua

que copiam os usos do quadro-negro tradicional enquanto critérios de análise.

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Analogamente a esta fase de Betcher e Lee, o estágio 1 de Gibson (2001),

chamado “infusão”, diz respeito ao momento em que os computadores chegam em sala

de aula, apontando para uma tendência em continuar fazendo o que se fazia no papel.

Além disso, as escolas passam a medir o “sucesso” do uso da tecnologia pelo número

de alunos, professores e salas de aula que possuem acesso às tecnologias dentro de

sala de aula, tais como a LDI ou microcomputadores. Em resumo, esse primeiro estágio

está relacionado à inserção per se da LDI na sala de aula. Ademais, com os usos ainda

tímidos da tecnologia, há resistência no processo de apropriação de novos recursos

didáticos e, por isso, as práticas pedagógicas em si não são alteradas. Diante da

necessidade de uso dos recursos digitais imposta pelos projetos e currículos escolares,

além da ausência de uma formação que capacite o professor a lidar com uma nova

ferramenta pedagógica, muitos docentes apenas transpõem suas estratégias e materiais

didáticos dos meios grafocêntricos para os digitais, sem que as TIC necessariamente

impliquem ganhos no processo de ensino-aprendizagem.

Na segunda fase de Betcher e Lee (2009), “fazendo coisas antigas, mas de

maneiras novas”, os professores voltam o olhar para as potencialidades do novo recurso

didático, percebendo que, possivelmente, a LDI tenha mais a oferecer do que o uso está

sendo efetivamente feito em sala de aula. Adicionalmente, os docentes também passam

a perceber que novos usos da LDI podem exigir uma pequena mudança na abordagem

de ensino que está sendo utilizada para que resultados diferentes possam ser atingidos.

Essa segunda fase engloba as seguintes características:

- Transposição de exercícios e atividade tipicamente feitos no papel para a LDI. - Emprego mais amplo de lições preparadas com antecedência no estilo flipchart. - Utilização mais abrangente de objetos que possam ser arrastados, colocados em camadas, e que possam ser movidos na tela, revelando ou escondendo palavras e objetos existentes na apresentação da atividade. - Confiança maior nos recursos encontrados na galeria de imagens (própria do computador ou montada pelo professor) ou na web. - Utilização eficaz de softwares que funcionam bem na LDI. - Arquivamento de todas as aulas para reutilização futura. - Compartilhamento de lições com outros professores para reduzir as cargas de trabalho individuais. - Engajamento maior dos alunos e/ou de interesse nas aulas. (BETCHER & LEE, 2009, p. 52)

Tais características, bem como os usos considerados como tímidos da LDI para

o ensino de línguas, ou seja, usos que estão ligados a práticas de uso de computadores

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diárias, serão consideradas critérios de análise das práticas de Rafael para o capítulo 3

seguinte.

Essa fase também é análoga ao segundo estágio 2, “integração”, descrito por

Gibson (2001). Nesse estágio, os professores passariam a se preocupar em cumprir os

objetivos de aulas e atividades com o auxílio da tecnologia, mas sem alteração dos

objetivos originais do docente, ou seja, os objetivos que foram propostos sem as

tecnologias. Por exemplo, ao invés de usar o livro didático impresso, os alunos e

professores passam a utilizar a versão em DVD do livro que inclui, além das páginas

escaneadas, áudios e vídeos que complementam as atividades que já eram feitas antes

da inserção da TIC.

Ao investigar a apropriação das TIC na produção de material didático, Rojo

(2013) problematiza justamente os usos que são (e podem ser) feitos na sala de aula,

tendo em vista os recursos disponíveis e a formação do docente para lidar com as

ferramentas digitais. Focalizando o uso do livro didático (LD) digital para o ensino de

línguas, a autora aponta que novas possibilidades de abordagem dos gêneros podem ser

desencadeadas justamente em decorrência do suporte digital: "podemos vislumbrar

novas e interessantes possibilidades – em relação aos LD impressos – de trabalhar com

textos e gêneros que eram abordados com dificuldades, como gêneros orais e os

multimodais e hipermidiáticos" (ROJO, 2013, p. 186). De caráter mais abrangente, as TIC

viabilizariam, nesse sentido, acesso aos conhecimentos diversos, além daqueles que são

reproduzidos e valorizados num livro didático. Destacamos a utilização de áudio-

gravações, imagens e resgate de anotações feitas em aulas anteriores que tem especial

significado no ensino da língua adicional para aprendizagem das habilidades listening,

vocabulary e consolidation, por exemplo.

Na terceira e última fase de Becther e Lee (2009), “fazendo coisas novas de

maneiras novas”, os autores dizem que há uma incorporação da LDI que provoca

mudanças não só no uso da lousa digital como também nos processos no ensino e

aprendizagem, emergindo a necessidade de reinventar práticas antigas. Os professores

passam, então, a usar a mídia dos vídeos, áudio, animação e imagens para enriquecer

suas aulas em uma forma de ensino que possa abarcar os mais diversos tipos de

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aprendizagem para alunos que aprendem de maneiras distintas e que possa, por isso,

ser interessante do ponto de vista dos aprendizes.

Adicionalmente a esses recursos imagéticos (em movimento ou não) e sonoros,

a LDI, ou um projetor comum conforme já comentado nas seções anteriores, abre espaço

para práticas interativas em que o mundo de fora invade as salas de aula por meio da

internet. Fazendo uso da interatividade, professores podem transformar o ensino de

maneira criativa com o uso de técnicas que inovem as práticas pedagógicas, culminando

numa exploração significativa dos conteúdos. As características típicas desse estágio

incluem as ações abaixo. Os itens em negrito foram por mim destacados para posterior

explicação de uso no contexto de ensino de língua adicional:

- Utilização de pequenos trechos de vídeo ou animação, para explicar como funciona algo, ao invés de apenas diagramas simples. - Inclusão de imagens fotográficas de alta resolução com capacidade de ampliação para inspecionar os detalhes mais finos. - Aproveitamento das enormes bibliotecas online de objetos de aprendizagem interativos, de forma a incorporar estes em aulas para que os alunos sejam capazes de explorar facilmente as possibilidades que esses objetos de aprendizagem oferecem. - Utilização mais vasta de softwares que permitem aos estudantes manipular ideias, vendo o que acontece com o resultado final, se uma variável é alterada aqui ou ali. - Realização de experimentos impraticáveis ou perigosos, via simulação, que nunca teriam sido possíveis em uma sala de aula ou situação de laboratório. - Interação com os mundos virtuais e ambientes simulados para explorar as possibilidades que não podem ser exploradas de outra maneira. - Aumento dos níveis de interatividade e envolvimento dos alunos, muitas vezes levantando perguntas inesperadas, mas com respostas que oferecem maior introspecção, ou seja, oportunidades de reflexão interna, a partir de seus conceitos e valores, acerca do que está sendo dito, e profundidade para o entendimento de um tópico. - Uso de software de comunicação de vídeo em tempo real para facilitar colaboração entre salas, ou até mesmo para trazer palestrantes convidados pela web, para que os alunos possam fazer perguntas e interagir com outras pessoas fora de sua sala de aula. - Uso de sistemas de votação interativa em sala de aula para avaliar compreensão de conceitos-chave dos alunos em tempo real (BETCHER; LEE, 2009, p. 53).

Os quatro itens destacados em negrito merecem uma melhor caracterização a

fim de que reflitamos sobre como essas ações funcionam especificamente no ensino de

língua adicional. A “utilização de pequenos trechos de vídeos ou animações para explicar

como algo funciona”, por exemplo, está ligada ao uso de corpora disponíveis online, de

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vídeos ou outras mídias. Para explicação da língua em uso, citamos como exemplo a

palavra “dump”, utilizada na aula 12 ocorrida no 18 de outubro de 2012, que dependendo

da contextualização pode ter sentidos distintos (lixeira ou terminar um relacionamento

com uma pessoa). O uso de vídeos (um trecho do seriado Friends assistido no youtube)

e imagens (diversas fotos de lixeiras acessadas através do google imagens) disponíveis

na web levou o aluno colaborador desta pesquisa a compreender os vários sentidos

atribuídos àquele item lexical em tempo real, ou seja, ao surgir a dúvida durante a aula e

de forma multimodal.

Já o item “Inclusão de imagens fotográficas de alta resolução com capacidade de

ampliação para inspecionar os detalhes mais finos” tem pouca relação com o ensino de

língua em si. Assim, considero esse item como o “uso de imagens fotográficas de alta

resolução buscadas na web para ancoragem de práticas comunicativas para

aprendizagem da língua alvo”.

Quanto ao item “Utilização mais vasta de softwares que permite aos estudantes

manipular ideias, vendo o que acontece com o resultado final, se uma variável é alterada

aqui ou ali”, o relacionarei ao uso, por parte dos discentes, não só de softwares, mas de

qualquer ferramenta da internet que estimule o aprendiz a explorar não só espaços

virtuais em geral, mas especificamente os da língua alvo, o inglês.

Com relação à “Realização de experimentos impraticáveis ou perigosos, via

simulação, que nunca teriam sido possíveis em uma sala de aula ou situação de

laboratório”, e em especial para o ensino de língua, considerarei o uso de jogos

interativos, que utilizam o inglês nas interações dentro do jogo, contendo ações que

seriam impraticáveis na vida real, mas que são passíveis de experimentação dentro do

ambiente de games, sendo eles online ou offline.

Ainda que de forma mais tímida e talvez sem listar em detalhes os usos que são

feitos nesse estágio, Gibson (2001) acredita que o terceiro estágio de incorporação seria

o de “transformação”. Nesse estágio, há mudanças na distribuição de poder em sala de

aula e, portanto, há também reconfiguração sutil nos papéis tradicionais dos atores

sociais envolvidos no espaço educativo. Assim, os alunos estariam mais envolvidos na

construção do conhecimento e haveria certa reinvenção na forma como o professor

entende o processo de ensino e aprendizagem.

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A passagem de uma fase ou estágio a outra(o) está ligada às práticas e vivências

de cada professor e seus letramentos, além de materiais didáticos e o contexto de cada

comunidade. É possível que alguns docentes possuam certas competências no uso das

TIC, ou seja, sejam capazes de lidar com facilidade com as tecnologias digitais, enquanto

outros não tenham contato quase nenhum com computadores e com outros recursos

hipermodais. No entanto, independentemente da forma ou tempo levado por cada

professor para adquirir familiaridade suficiente com a TIC, sendo capaz de conduzir

práticas pedagógicas que seriam consideradas por Betcher e Lee (2009) como

transformadoras, quando o professor se apropria da LDI, esse artefato passa a fazer

parte de seu repertório de ensino. Com isso, o professor passa a transformar e redefinir

práticas pedagógicas e melhorar a qualidade de ensino-aprendizagem (BETCHER &

LEE, 2009).

Adicionalmente, quando o docente incorpora o uso da LDI de maneira

transformadora, adquire um tipo de agilidade que lhe dá o poder de “mudar o curso da

lição, sem aviso prévio, para perseguir um interesse do aluno que não havia sido

previamente planejado” (BETCHER & LEE, 2009, p. 58). Segundo os mesmos autores,

esse tipo de atitude é praticamente inviável em salas de aula convencionais. Com a LDI,

ou um projetor comum com acesso à internet, o professor consegue atender às

demandas de acesso e pesquisa dos alunos, mudando os rumos da aula, por meio de

buscas na World Wide Web.

Quando o professor compartilha buscas feitas em sala de aula e em tempo real

em uma única tela grande, por meio da exposição na lousa do que está sendo feito, como

uso de palavras-chave e escolhas de sites “confiáveis”, é possível aprofundar questões

que outrora seriam tratadas com superficialidade, já que a World Wide Web e os

conhecimentos disponíveis para abordagens dos assuntos surgidos em sala de aula

eram dependentes dos conhecimentos do professor, sem fontes ou dados que pudessem

confirmar o que estava sendo dito e apreendido. A profundidade de entendimento

alcançado com essas buscas envolve a multimodalidade e depende da participação de

toda a turma e também do professor. Assim, conhecimentos são construídos de maneira

conjunta.

Essas ações que envolvem modos de agir na construção de significados podem

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ser relacionadas a um novo ethos34 dos processos de leitura e escrita. Esse ethos dos

novos letramentos está diretamente ligado às práticas colaborativas de construção de

textos e significados que sejam menos individualizados e autorais nos ambientes de

ensino.

Entretanto, de acordo com Moita Lopes (2012), o simples uso de um recurso ou

“ferramenta tecnológica computacional para fazer as mesmas coisas que se faziam sem

a tecnologia digital” (p. 211) não necessariamente irá envolver esse novo ethos. Ou seja,

quando o professor de línguas transfere a página do livro para o computador não significa

que esteja introduzindo, assim, práticas colaborativas de ensino-aprendizagem. Portanto,

estou preocupada com mudanças interacionais e de papéis que possam impactar

reconfigurações, ainda que sutis, nas dinâmicas de sala de aula, em direção à construção

de novos ethos mais participativo, colaborativo e dialógico dentro de sala de aula.

Para tal, pretendo, no terceiro capítulo, relacionar a análise das fases elencadas

nas aulas que observei de Rafael ao ensino-aprendizagem dialógicos e à interatividade.

A intenção é a de analisar as aulas à luz desses três dispositivos analíticos para que eu

possa proporcionar uma visão mais ampla em relação à posição que esse professor

ocupa no cenário de incorporação das tecnologias associadas às questões linguísticas e

de interatividade da LDI que impactam diretamente as mudanças ocorridas em sala de

aula desencadeadas por ambos professor e tecnologia.

4.2 Ensino-aprendizagem dialógicos

As mudanças que elenquei para os papeis de docentes e discentes e suas

práticas preveem maior envolvimento dos aprendizes em processos ativos de construção

do conhecimento. E, para que essa construção seja alcançada, o ensino dialógico parece

um caminho a ser seguido.

34 O novo ethos envolve práticas de letramento que são mais "participativas", "colaborativas" e "distribuídas"

em sua natureza, que as de letramentos convencionais. Ou seja, as práticas de letramento dentro do novo ethos são menos individualizadas e menos centradas na autoria única de letramentos convencionais. As regras e normas que as regem são mais fluidas e menos duradouras que as que normalmente associamos aos letramentos convencionais (KNOBEL & LANKSHEAR, 2007).

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Um ensino que pressuponha dialogismo é, neste caso, um ensino que possa

prever mudanças nas concepções de linguagem assumidas por professores e alunos. Na

esteira do que propõe o filósofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975), precursor no

desenvolvimento da concepção de língua como prática de interação social, entendo que

a linguagem não é uma forma objetiva para a rotulação de realidades externas, mas antes

um recurso utilizado por atores sociais. Assim, o conhecimento de quem está falando e

as circunstâncias do evento de fala (os atores envolvidos, a esfera de atividade e tom e

entonação da fala) são cruciais para a compreensão profunda dos significados trocados

na vida cotidiana (BAKHTIN, 1981, p. 341-342).

Ainda nesta perspectiva, o diálogo não é apenas um termo para descrever a

estrutura do discurso, mas, sim, um fenômeno que penetra a própria estrutura das

palavras. Dessa forma, os vários significados que as palavras expressam são moldados

na interação dialógica no momento da enunciação (WEGERIF, 2008). O diálogo não é

simplesmente uma condição prévia para a aprendizagem, pois é essencial para a

construção do conhecimento e desenvolvimento humano em geral.

É importante portanto frisar que a noção de diálogo que adoto não diz respeito a

falas de qualquer tipo (como, por exemplo, em Barnes, 1976), mas, sim, ao entendimento

de que diálogo é uma forma de questionamento compartilhado (em oposição à

conversação).

Alexander (2006) considera que o diálogo em sala de aula ocorre entre:

professor-sala de aula, professor-grupo, professor-aprendiz ou entre aprendiz-aprendiz.

O importante é que haja um entendimento comum por meio de discussões35 e

questionamentos que sejam estruturados e cumulativos que guiem e minimizem erros.

Alexander (2006) propõe uma abordagem de ensino dialógico que visa melhorar

não só as habilidades comunicativas dos aprendizes, como também utilizar a

argumentação, por meio de diálogos, para "apresentar e negociar ideias e perspectivas"

(COFFIN & O’HALLORAN, 2008, p. 219). Nesta perspectiva de ensino dialógico, a

argumentação é vinculada ao diálogo através de teorias socioculturais de aprendizagem

e desenvolvimento.

35 Segundo Alexander (2006), a discussão é a troca de ideias que levem em conta a partilha de informação

e resolução de problemas.

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A fala dialógica se preocupa em promover a comunicação por meio de trocas

autênticas, ou seja, há uma preocupação genuína com o que está sendo dito pelo outro

numa tentativa de compartilhamento e construção de significados (ALEXANDER, 2006).

Essas trocas autênticas que priorizam o significado em detrimento da forma pela forma

já eram preconizadas pela abordagem de ensino comunicativa, conforme mencionado no

capítulo anterior, e também valorizadas para CALL integrativa. Essa perspectiva de

ensino obriga a repensar não apenas as técnicas de ensino e os procedimentos

metodológicos nos quais nos apoiamos em aula, mas também as relações de poder

instauradas em salas de aula tradicionais. Em suma, o ensino dialógico tem como

objetivo:

[...] aproveita[r] o poder da fala para estimular e ampliar o pensamento dos aprendizes e avançar sua aprendizagem e compreensão. O ensino dialógico ajuda o professor, mais precisamente, a diagnosticar necessidades dos discentes, organizar suas tarefas de aprendizagem e avaliar seu progresso. Ele capacita o aluno para a aprendizagem ao longo da vida e o incentiva a ser ativo em sua cidadania (ALEXANDER, 2006, p. 01).

Como em toda abordagem, o ensino dialógico, segundo Alexander (2010),

engloba um amplo repertório de estratégias e técnicas, para o presente trabalho, nos

apoiaremos, com vistas as analises, em quatro repertórios principais: a) fala de vida

cotidiana; b) fala para aprendizagem; c) fala para o ensino e d) fala para organização de

sala de aula. Em particular para o ensino de uma língua adicional, o desenvolvimento de

diálogos como resposta a propósitos e contextos educacionais variados pode ser uma

ferramenta poderosa em direção à aprendizagem e construção de conhecimentos acerca

da língua alvo de maneiras mais participativas. A seguir, explano brevemente, segundo

Alexander (2010), como cada repertório poderia contribuir com o ensino-aprendizagem

em sala de aula:

a) Fala de vida cotidiana: uma das funções do professor nesse tipo de diálogo

é a de ajudar os aprendizes a se expressar dentro e fora do ambiente educacional, na

língua alvo, por meio de discussões que podem envolver interrogações, exposições de

pontos de vista, exploração de determinado tópico, avaliação de determinado assunto,

dentre outros temas;

b) Fala para aprendizagem: algumas das formas de melhorar as habilidades

comunicativas dos aprendizes são por meio de narrativas, explicações, análises,

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especulações, imaginação, avaliações, discussões direcionadas, diálogos ancorados por

andaimes dentre outros. A discussão direcionada, em especial, envolve a troca de pontos

de vista divergentes com vistas à solução de um impasse ou problema. O diálogo

ancorado por andaimes também é particularmente relevante pois envolve: interações que

incentivam o aluno a pensar de maneiras diferentes; questões que exigem muito mais do

que simples recordação; respostas que são acompanhados e construídas em vez de

simplesmente recebidas; um feedback que informa e leva o aluno a pensar para frente,

bem como o incentiva; contribuições que são estendidas em vez de fragmentadas; e

trocas que encadeiam linhas coerentes e aprofundamento da investigação;

c) Fala para o ensino: muitas vezes utilizada para exposição ou explicação de

determinados assuntos relacionados aos objetivos da aula, como era feito em salas de

aula tradicionais, esse repertório busca formas de exposição ou explicações que

permitam intervenções dos aprendizes;

d) Fala para organização de sala de aula: nas salas de aula dialógicas,

professores exploram o potencial de cinco principais formas de interação para

organização com propósitos diversos, sempre tendo em mente a maximização de

perspectivas de diálogo. São essas as principais formas de interação: ensino para classe

inteira; trabalho em grupo (liderado pelo professor); trabalho em grupo (liderado pelo

aluno); um-para-um (professor e aluno); um-para-um (aluno e aluno) (ALEXANDER,

2010, p. 100-105).

O desencadeamento desses repertórios para o diálogo em sala de aula pode ser

ancorado por artefatos tecnológicos imbricados na sociedade contemporânea. De acordo

com o mesmo autor (ALEXANDER, 2004, apud MERCER et al., 2010), a abordagem

dialógica de ensino envolve o gerenciamento do diálogo e atividades dentro de sala de

aula para que professores e alunos possam comentar ativamente e construir

conhecimentos com base nas ideias uns dos outros, co-construindo inclusive

interpretações. Pesquisas têm apontado, segundo Wegerif e Yang (2011), que

tecnologias multimodais como a LDI, ou um projeto comum, podem contribuir para

criação de “espaços dialógicos”. Segundo esse mesmo autor, esses espaços são

definidos como:

[...] espaços de possibilidades que se abrem quando dois ou mais incomensuráveis perspectivas são mantidas juntas na tensão criativa de um

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diálogo. Usamos o termo 'incomensuráveis' nesta definição para enfatizar a importância e a necessidade da abertura dialógica. Em diálogos reais falamos de diferentes perspectivas de mundo e esta diferença não pode ser simplesmente resolvida na unidade [dissolução da diferença] porque eu não posso me tornar você e vice versa. Como Bakhtin observa em muitas ocasiões, esta diferença não é um "problema", mas é constitutivo do fluxo de significados em diálogos (WEGERIF & YANG, 2011, p. 03).

Desse modo, considero que a LDI seja uma possibilidade de artefato tecnológico

que permita a mediação/ancoragem para a criação do que parecem ser novos espaços

para aprendizagem. Contudo, e adicionalmente, é necessário ainda que eu proponha,

com base nas interações em sala de aula, um dispositivo analítico que permita entender

como a interatividade impacta os usos da LDI e como a agentividade do professor

pesquisado pode transformar o ensino com o uso de tal artefato.

4.3 Interatividade

A interatividade envolve muito mais que a relação técnica ou física entre o toque

do usuário e o manuseio de uma máquina. Moss (2007), com base em estudos de caso

sobre a expansão da LDI desenvolvidos no ensino médio de escolas londrinas, sugere

três tipos de interatividade para descrever os usos da LDI em sala de aula. Dado que

adoto esta taxonomia como norte de minha pesquisa, detalho a seguir os três tipos de

interatividade descritos por Moss:

“Interatividade técnica”: é aquela em que o enfoque está na interação com as

possibilidades e recursos tecnológicos da LDI, tais como o acesso e utilização

de ferramentas de softwares desenhados exclusivamente para a lousa, como

por exemplo, o Promethean36;

“Interatividade física”: está relacionada à manipulação dos elementos na LDI,

como as canetas ou com os dedos (nos casos das LDIs touchscreen), em grupo

e na frente da sala; também estaria mais limitada à comunicação entre

36 Esse software acompanha Lousa em sua compra, geralmente na forma de um flipchart ou de um caderno

que se comporta um pouco como uma apresentação do PowerPoint, mas com funcionalidades adicionais, como a habilidade de arrastar objetos livremente pela tela, uma variedade de canetas virtuais, acesso a uma vasta coleção de imagens, imagens de fundo e também ferramentas interativas (BETCHER & LEE, 2009, p. 33).

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máquinas e seres humanos (WAGNER, 1994), sendo um termo tipicamente

utilizado para descrever ações na própria interface, com um clique de um botão,

por exemplo (ALDRICH et al., 1998);

“Interatividade conceitual ou intelectual”: relacionada à interação, exploração e

construção de conceitos e ideias. Trata-se de quando a interação, exploração

e construção ocorrem amparadas pela LDI e pela internet, que permitem em

conjunto a evolução de discussões nas quais dúvidas podem ser sanadas com

pesquisas feitas na internet e visualização grupal por meio da lousa, que é um

ponto focal da sala de aula (MOSS et al., 2007, p. 40).

Para ambientes educacionais, no caso dos dois primeiros tipos de interatividade,

técnica e física, não há evidências na literatura que relacionem a interação técnica, ou

seja, com recursos tecnológicos, ou a interação física, ou seja, com um clique no mouse

por exemplo, a melhorias automáticas para os aprendizes. Percebemos, por exemplo,

que, nas interatividades técnica e física, as ações de alunos e professores não

necessariamente impactam decisões que são tomadas com relação aos rumos da aula e

aos caminhos que serão percorridos durante o uso da LDI37. Essas decisões estão

embasadas em processos de interação e diálogo por meio da interatividade conceitual

ou interatividade intelectual, como é chamada por Betcher e Lee (2009).

Parece-me que conseguir com que os alunos defendam uma ideia e expressem

seus pontos de vista, seja na modalidade oral ou na escrita, pode ser uma forma mais

significativa de interatividade. Tendo isso em vista, o foco na interatividade conceitual

(MOSS, 2007) me parece um objetivo educacional muito mais produtivo que a

interatividade física ou técnica, que não necessariamente envolvem reflexão, criticidade

ou capacidade de argumentação.

Para Nakashima (2010), a interatividade, além de ser entendida em suas

dimensões física e técnica, também está relacionada às relações sócio-afetivas da

aprendizagem, ligadas à interatividade conceitual (NAKASHIMA; AMARAL, 2010). A esse

respeito, Nakashima explica, com base em Lévy (1993/1999), que:

[...] a interatividade passa a ser compreendida como a possibilidade de o

37 Esses caminhos referem-se a decisões que são tomadas com relação ao que é feito com a LDI, como e

quando ocorre, por exemplo, a escolha de sites ou vídeos ou programas que serão utilizados durante a aula.

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estudante participar ativamente, interferindo no processo com ações, reações, intervindo, tornando-se receptor e emissor de mensagens que ganham plasticidade, permitindo a transformação imediata (NAKASHIMA & AMARAL, 2010, p. 391).

Em consonância com a ideia de interatividade conceitual, definida por Moss e

utilizada por Nakashima (2010), Jonassen (1988, apud OLIVER, 1996) descreve a

interatividade como uma forma de comunicação ancorada pela mídia que torna possível

o diálogo entre aprendiz e professor/instrutor.

Abaixo, adaptei uma figura de Oliver (1996, p. 04) que provê um suporte visual

para entendimento da importância da interatividade enquanto ponto de intersecção nas

relações entre aprendizes-professores-LDI. Assim, a interatividade é colocada como um

elemento crucial entre a comunicação dos principais protagonistas de nossa pesquisa

(humanos e não humanos).

Figura 6. Interatividade em sala de aula38 (adaptado de OLIVER, 1996)

A partir do conceito de interatividade conceitual, Beauchamp e Kenewell (2010)

propuseram uma escala de interatividade com cinco categorias: “interatividade nula”;

“interatividade autoritária”; “interatividade dialógica”; “interatividade dialética” e

“interatividade sinergética”. No entanto, por haver questões a serem debatidas com

relação à própria denominação de cada categoria, que vão para além dos propósitos do

presente trabalho, readaptei alguns conceitos, tornando a categoria “interatividade

38 Figura adaptada de Oliver (1996).

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81

autoritária” em “relação assimétrica de poder na interatividade” e fazendo a junção de

duas das categorias, as “interatividades dialética e dialógica”, que denomino apenas de

interatividade dialógica39. A adaptação feita nesta última categoria considera não só as

definições originais dos autores que propuseram essa escala como também a ideia de

aprendizagem por meio do diálogo já discutida na literatura por Alexander (2006/2010),

Hennessy (2011), Wegerif (2007/2011) e Mercer (2010) juntamente com Warwick

(2010/2011), e brevemente tratada na seção “2.2.2 Ensino-aprendizagem dialógicos”.

Para o caso de “interatividade nula”, os autores consideram os eventos em que

a tecnologia é utilizada apenas para apresentação de informações estáticas ou

meramente transpostas sem qualquer adição imagética ou sonora, quando o docente não

estaria interagindo de fato com a tecnologia. Nesse caso, o professor planeja com

antecedência o que será apresentado e o uso da LDI é mais passivo: o professor tem

controle sozinho da atividade bem como da aula e a LDI funciona como um projetor de

imagens offline.

Na “relação assimétrica de poder na interatividade”, a LDI serve como ferramenta

que dá feedbacks pré-determinados pelo professor dentro de uma estrutura rígida em

que os alunos podem interagir com a LDI para completar ou ligar frases com respostas

rígidas, ou seja, com opções de respostas que estão prontas para que haja a escolha do

aprendiz apenas entre o que seria “certo” ou “errado”. O ritmo e a participação na aula

são controlados pelo professor. Entretanto, “a interação dentro do grupo pode ser bem

diferente em sua natureza, como quando o recurso da TIC alterna entre ser um

participante nas interações com o grupo e ser o objeto de interação entre os membros do

grupo” (BEAUCHAMP & KENNEWELL, 2010, p. 763).

No caso da “interatividade dialógica”, há a transição de um modo responsivo para

um modo construtivo de interação. Nessa faixa, o aluno tem um papel mais ativo e o

professor usa a tecnologia com a intenção de sondar o aluno com relação às suas

necessidades. Dessa forma, o professor vai construindo um quadro de preferências e

interesses e, a partir disso, toma decisões apropriadas àqueles alunos. Com isso, o ritmo

da aula passa a ser mais solto e o professor passa a ter um hall maior de recursos para

39 Com base nos princípios de ensino dialógico expostos na seção anterior a esta.

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orquestrar. Com base nas características e necessidades de seus aprendizes

relativamente às TIC, o professor pode dar maior poder ao aluno na definição de

caminhos e rumos que a aula ou as atividades deverão tomar. Nesta categoria, as aulas

têm estruturas ainda mais soltas. Para Alexander (2006), o ensino dialógico é

caracterizado como solidário, coletivo, cumulativo, recíproco e proposital. Além disso,

esse tipo de ensino passa a ter significado para os alunos por meio da expressão de

múltiplas perspectivas. Quando professores e aprendizes avaliam, de maneira conjunta

por meio do diálogo, as possibilidades e abordagens de ensino e aprendizagem, os

alunos começam a desenvolver habilidades metacognitivas necessárias para orquestrar

os recursos para si mesmos. Nesse caso, a TIC terá uma estrutura mais flexível e vai

exigir, correspondentemente, mais participação por parte dos alunos e, para o trabalho

em grupo, maior habilidade por parte do professor para orquestrar as contribuições dos

membros do grupo.

Por fim, a “interatividade sinérgica” é caracterizada por atividades reflexivas

realizadas em conjunto entre professor e aprendizes. Todos orquestram os recursos

disponíveis não só na LDI, mas em sala de aula. A LDI serve como um espaço

compartilhado para a exploração e uma mudança de uso do próprio recurso em si. Essa

forma de lidar com a LDI poderia ser apoiada pelo uso de dispositivos móveis que os

alunos pudessem operar de suas mesas, como tablets ou celulares interconectados.

Alunos e professores podem utilizar um software de colaboração, como uma wiki, mesmo

em sala de aula. Quando ocorre a “interatividade sinergética”, os aprendizes se envolvem

em tarefas desafiadoras em que ferramentas e recursos da TIC são usados de forma

integrada.

É relevante ressaltar que a LDI, em especial como é usada por Rafael, tem

características muito parecidas às de um projetor conectado a um computador com

acesso à internet. Por essa razão, não temos a pretensão de defesa da LDI enquanto

única opção de recurso transformador do ethos de professores, alunos e dinâmicas de

sala de aula. Nesse sentido, considerando a tímida apropriação do recurso digital aqui

focalizado, é preciso problematizar a necessidade da LDI em detrimento do uso projetor

comum, que parece ser suficiente para grande parte das práticas de Rafael,

apresentadas no capítulo 3, reservado à análise do caso.

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83

A seguir, já no capítulo 3, analiso os usos da LDI recorrentes no caso do professor

Rafael, bem como a incorporação do artefato, de modo a compreender como ele pode

afetar dinâmicas interacionais ou agir mais especificamente como ancoragem em direção

a um ensino dialógico.

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84

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85

CAPÍTULO 3

RESULTADOS E ANÁLISE DE DADOS

Neste capítulo, analiso os usos da LDI pelo professor Rafael em suas aulas de

língua inglesa. Para tal, atravesso as ações didáticas do docente e focalizo suas práticas

de uso da LDI tendo em vista aspectos do processo de ensino-aprendizagem no espaço

escolar. Pensando, portanto, na contextualização desses usos e no que leva o professor

a usar a LDI dessa ou daquela forma, separei o Capítulo 3 em duas grandes partes.

A primeira grande parte compreende uma leitura mais geral dos dados gerados

e é separada em duas subseções: na primeira, faço uma análise interpretativista inicial

dos padrões da aula e dos usos recorrentes da LDI online e offline ou com seu programa

próprio; em seguida, em uma segunda subseção, analiso os padrões interacionais e

tempos de turnos ao longo da pesquisa de uma maneira geral e a relação de alguns

desses padrões interacionais com os usos da LDI e sua interatividade física.

A segunda grande parte desse capítulo está dividida em sete subseções –

conforme os recursos utilizados pelo professor - e tem como propósito uma análise mais

detalhada das fases de incorporação da LDI pelo professor com relação aos usos que

dela são feitos - conforme a classificação de incorporação da LDI proposta por Betcher e

Lee (2009), em: Fase 1: fazendo coisas antigas de maneiras antigas; Fase 2: fazendo

coisas antigas de maneiras novas; e Fase 3: Fazendo coisas novas de maneiras novas -

e conforme à interatividade observada em sala de aula bem como a abordagem dialógica

de Alexander (2006). Ao investigar os usos do professor Rafael conforme cada recurso

utilizado (por exemplo Microsoft Word®, agenda Windows, DVD do livro, etc), também

analiso questões como a interatividade dentro de sala de aula entre professor-aluno-LDI,

mudanças nas dinâmicas de sala de aula, espaços dialógicos e artefatos criados na LDI,

além de focalizar a característica audiovisual e multimodal da Lousa digital.

É importante lembrar que os resultados aqui apresentados não refletem o status

quo do uso da LDI em geral e nem tampouco investiguei os desafios técnicos que essa

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ferramenta encontra no Brasil. Ao invés disso, o objetivo é o de descrever e analisar usos

reais em sala de aula por um professor em uma escola específica do setor terciário.

5 ANÁLISES GERAIS E PADRÕES DE USOS DA LDI

5.1 Interpretação inicial dos dados gerados a partir dos usos da LDI feitos por

Rafael

O Quadro 2 a seguir resume os usos recorrentes da LDI identificados ao longo

da pesquisa. Esses usos feitos estão separados, no quadro, em offline, online e com uso

do programa da LDI, o Promethean. É importante destacar que o uso da caneta no

programa da LDI foi separado dos outros usos pois geralmente é feito dentro do software

de cada lousa, cada um bastante específico para cada LDI. Além disso, esse tipo de

interatividade física com a LDI tem sido destacada na literatura e, por isso, merece meu

olhar atento para a análise fina desse tipo de interatividade.

Dentro desses usos, e com base nas reflexões acerca dos registros de áudio e

vídeo e das atividades desenvolvidas em sala de aula, tracei duas orientações ou dois

eixos, que podem ser visualizados no Quadro 2, a seguir, e que guiam as práticas do

professor Rafael: 1) Cumprimento de atividades planejadas (guiadas pelo livro didático)

– esse eixo engloba todas as atividades que foram desenvolvidas com base no pré-

planejamento de aula do professor Rafael e que são guiadas pelo livro didático dos

aprendizes; e 2) Necessidades surgidas em sala de aula (contextualização gramatical,

lexical ou visual) – esse eixo engloba as atividades desenvolvidas sem pré-planejamento

do professor, ou seja, são atividades ou discussões feitas conforme a necessidade, por

parte dos aprendizes, e foram surgindo e supridas em tempo real na aula.

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Quadro 2. Descrição dos usos da LDI em sala de aula conforme orientação do professor.

*Context. = Contextualização (para todos os quadros que contiverem “context.”).

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

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Essas orientações ou eixos, por sua vez, foram relacionadas com os usos,

também demonstrados no Quadro 2 acima. Ou seja, cada eixo foi relacionado aos modos

como os recursos digitais são operados na sala de aula (“COMO(S)?” – DVD do livro,

Microsoft Word®, imagens selecionadas, agenda do Windows, google imagens, google

maps, google web, sites diversos, youtube, facebook, dicionário online, e-mail e o uso da

caneta). As especificidades dos usos, por seu turno, geraram os “PARA QUÊ(S)?” de

cada orientação, isto é, a finalidade pedagógica no uso das ferramentas mencionadas

que, no caso do professor Rafael, está relacionada a abordagens de ensino

comunicativas e construtivistas (CALL comunicativa), além de outras que ele associa a

essas em suas aulas.

Essa forma híbrida de lidar com diversas abordagens de ensino talvez seja mais

viável devido ao uso da LDI, que permite ecletismo pedagógico e uso de ferramentas não

somente tecnológicas, mas a convergência de linguagens e materiais, desde o livro ou

giz até a multimídia.

Ao contrário de ensino extremamente atrelado ao cumprimento de conteúdos e

metas da instituição40, esse professor, talvez por ser o dono da escola e não ter a pressão

institucional geralmente encontrada nas grandes escolas, ou por querer ser o melhor

professor possível, atento às demandas de seus clientes, parece estar preocupado, pelo

menos em parte da aula, em ouvir os anseios e suprir as necessidades dos aprendizes.

Essa liberdade parece estar parcialmente ligada a uma abordagem de ensino

comunicativa mais solta, que na sala estudada é ancorada pela LDI.

O papel da LDI, e mais particularmente da internet, nessa estrutura de aula,

corrobora o trabalho de Betcher e Lee (2009), que afirmam que a possibilidade de

mudanças do rumo da aula não seria possível em salas convencionais. Salas de aulas

que possuem o acesso à internet conseguiriam suprir as demandas dos interesses dos

alunos em tempo real e em conjunto, ou seja, descobertas são feitas no ciberespaço em

sala de aula com o recurso digital a partir do surgimento das dúvidas e do diálogo entre

professor e aprendiz (BETCHER & LEE, 2009, p. 58). Essa liberdade, propiciada pelo

40 Grandes instituições geralmente têm metas “conteudistas” muito bem estabelecidas ao início de cada

bimestre, portanto, quando há a pressão para cumprimento de conteúdos em sala de aula, muitas vezes sobra pouco, ou quase nenhum, espaço para que as necessidades dos alunos sejam ouvidas ou consideradas.

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acesso à internet em tempo real, dá um tom mais aberto à aula e coloca esse professor

em uma situação razoavelmente privilegiada, uma vez que pode sanar dúvidas e construir

discussões por meio da participação e atenção aos interesses dos aprendizes.

O Quadro 3, mais adiante, apresenta o número de vezes que cada recurso foi

utilizado durante as 20 aulas observadas e vídeo-gravadas; logo na sequência, ainda

disponibilizo o Gráfico 1, que mostra a quantidade de usos da LDI relativamente às

orientações (cumprimento de atividade planejada x necessidades surgidas em sala de

aula) do professor.

É possível afirmar que o eixo “necessidades surgidas em sala de aula” concentra

uma parcela considerável do tempo da aula e congrega a utilização de recursos online.

Tal percurso no processo de aprendizagem parece ser feito conscientemente pelo

docente, pois, como me disse em entrevista, é justamente a partir do diálogo em sala que

Rafael ambiciona conduzir as escolhas do objeto de ensino e o andamento das aulas.

Ademais, o docente reconhece que, apesar de levar em conta as sugestões e

participações dos alunos, é necessária uma conjugação entre aquilo que o discente

deseja compreender e o que o professor conhece. Ainda que haja uma certa

reconfiguração dos papéis de professor e aluno na escola observada, é possível notar

que o docente mantém seu papel central em sala de aula, conforme trecho abaixo retirado

da entrevista, no qual Rafael explana suas ações de ensino (“as escolhas que vão sendo

feitas ao longo da aula é baseada no que o aluno está falando... é baseado no que o

aluno fala e no meu repertório”). Essa posição do professor também será observada em

exemplos na seção seguinte, nos quais o docente mantém a posição de figura central na

sala de aula, já que as “necessidades surgidas em sala de aula” são levadas em conta a

partir dos conhecimentos do docente. O trecho completo da entrevista, no qual o

professor fala sobre sua posição dentro de sala, é o seguinte:

“Isso [interatividade] acontece o tempo todo... porque assim... as escolhas que vão sendo feitas ao longo da aula é baseada no que o aluno está falando... é baseado no que o aluno fala e no meu repertório, então assim... essas trocas comunicativas significativas entre pessoas é o que acontece o tempo todo” (Entrevista com Rafael, min 18:25 até 18:55, 16/08/2013).

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Quadro 3. Usos da LDI em sala conforme o número de vezes em que o recurso foi utilizado durante todo

o período de observação – 20 aulas de aproximadamente 1 hora e 20 minutos cada uma delas.

Gráfico 1. Usos da LDI em sala de aula separados por projeção offline, projeção online e uso do programa da LDI (Promethean).

Com efeito, a LDI com acesso à internet parece estar funcionando como um

elemento facilitador para a construção de atividades que envolvam escolha não só do

professor, mas também dos alunos. Esses achados corroboram os resultados de

Kennewell (2007), que também atesta que a LDI pode propiciar uma estrutura mais

flexível às aulas, ou seja, o professor pode não necessariamente seguir um planejamento

rígido e imutável. No caso de Rafael, essa estrutura mais solta pode estar atrelada aos

usos online da lousa e à atenção que o docente atribui aos comentários e/ou

necessidades dos alunos.

Programa LDI

Por número de

vezes em que o

recurso foi utilizado

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionados

Agenda do

windows

Google

imagens

Google

maps/street

view

Google

Web

Sites

diversosYoutube Facebook

Dicionário

OnlineE-mail Uso da Caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas (guiadas

pelo livro didático)

34 58 10 4 3 1 20 4

Necessidades

surgidas em sala de

aula

(contextualização

gramatical, lexical

ou situacional)

2 23 2 4 37 5 9 17 7 8 3 12 5

Projeção offline Projeção online

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91

O Gráfico 2 abaixo, similar ao Gráfico 1, demonstra os usos da LDI ao longo de

20 aulas. Ao invés de quantificar os usos pelas vezes que o professor recorreu à

ferramenta (conforme foi feito no Gráfico 1), distribuo os usos, neste segundo gráfico,

proporcionalmente ao tempo que foi gasto em cada uso por eixo (Necessidades surgidas

em sala de aula; Cumprimento de atividades planejadas).

Gráfico 2. Usos da LDI em sala de aula separados por projeção offline, projeção online e uso do programa da LDI (Promethean) por tempo de uso de cada recurso.41

Como pode ser notado, o Microsoft Word® continua sendo o recurso mais

utilizado. No entanto, a diferença de tempo de uso desse recurso é bem maior do que no

Gráfico 1. Além disso, nesse gráfico, o segundo recurso mais utilizado não é mais o

google imagens, mas o DVD do livro, sendo seguido por sites diversos, que, no Gráfico

1, não possuíam grande significância em termos quantitativos. Algo que vale a pena

ressaltar, já que é quantitativamente similar em ambos os gráficos, é a relação entre a

projeção online e o eixo “necessidades surgidas em sala de aula”. Em ambos os gráficos,

os usos online são predominantemente utilizados para suprir necessidades surgidas

durante a aula. Em outras palavras, percebo que, em boa parte da aula, a habilidade e

possibilidade do professor para atender demandas dos alunos em sala está ligada à

internet e ao ciberespaço, que abrem possibilidades irrestritas para que o docente utilize

de espaços dialógicos, nos quais “o poder das discussões para estimular e ampliar o

41 Vários recursos eram utilizados concomitantemente.

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pensamento dos aprendizes” (ALEXANDER, 2006, p. 01) é direcionado para o

melhoramento da aprendizagem e para a compreensão do papel ativo que o aprendiz

deve ter em espaços dialógicos.

5.2 Interação face a face e turnos de fala de aprendizes e professor.

Percebendo a relevância do acesso ao ciberespaço no trabalho do professor

abordado, apresento o gráfico 3 abaixo que mostra os usos feitos da LDI online e offline

ao longo dos 3 meses de geração de registros. É interessante notar o pico de usos online

da aula 11 à aula 16, nas quais, conforme será demonstrado a seguir, os alunos

compartilham turnos e interagem mais ativamente entre si e com o professor.

Gráfico 3. Relação por tempo entre os usos online x offline da LDI em sala de aula.

O Gráfico 3, relativo ao tempo de uso, bem como os Gráficos 1 e 2, com o número

de vezes em que cada recurso foi utilizado durante o curso, revelam que entre as aulas

7 e 10 houve um progresso dos usos offline em detrimento dos usos online. Enquanto os

usos online são relacionados a maiores tempos de interação entre professor e aluno e

alunos e alunos, os usos offline estão ligados a tempos maiores de turnos apenas do

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

Aula1

Aula2

Aula3

Aula4

Aula5

Aula6

Aula7

Aula8

Aula9

Aula10

Aula11

Aula12

Aula13

Aula14

Aula15

Aula16

Aula17

Aula18

Aula19

Aula20

Relação online x offline durante 20 aulas

offline online

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93

professor (aulas 8, 9 e 10), o que poderia significar a diminuição do diálogo em sala de

aula.

Os gráficos a seguir, reunidos em Gráfico 4, apresentam um quadro comparativo

relativo aos tempos de turno e interações face a face entre as aulas 7 e 10. O objetivo é

o de permitir uma melhor ilustração da relação entre os usos online x offline e os tempos

de turnos individuais do professor x interações face a face.

Gráfico 4. Turnos e interações em sala de aula referentes às aulas 7, 8, 9 e 10.

Com exceção da aula 7, as aulas 8, 9 e 10 têm o turno único do professor como

predominante. Ou seja, em sua maioria, quando os usos da LDI foram dominantemente

offline, as interações dialógicas entre alunos e entre professor e aluno aconteceram em

menor quantidade, enquanto o turno do professor sozinho foi maior que os outros turnos

e interações. Essa constatação dá indícios de que o ensino dialógico (ALEXANDER,

2010), pautado em 4 repertórios principais: a) fala de vida cotidiana; b) fala para

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94

aprendizagem; c) fala para o ensino e d) fala para organização de sala de aula, não está

associado ao uso da LDI, mas, sim, aos usos da internet e do ciberespaço que, no

contexto estudado, foram feitos através da LDI, mas que, em outros contextos, poderiam

ser feitos com um projetor ligado a um computador com acesso à internet.

Assim, é importante frisar que, por mais que meu interesse esteja atrelado aos

usos da LDI, percebo que grande parte das atividades desenvolvidas pelo professor

estudado e até mesmo os novos42 usos da tecnologia para sala de aula poderiam ser

feitos com um projetor ligado a um computador com acesso à internet, o que

economicamente poderia ser mais viável para boa parcela das escolas, bem como para

o governo, no caso da Rede Pública de Ensino. Uma das falas do professor, apresentada

abaixo, corrobora essa reflexão e me faz repensar como a LDI poderia ser melhor

utilizada em seus atributos específicos:

[...] eu acho que talvez só o projetor resolvesse assim uma boa parte das necessidades que eu tenho hoje, né? Então assim, ela [LDI] não é um fator assim: “ah se eu não tivesse, a minha aula seria completamente diferente” (Entrevista com Rafael, min 18:25 até 18:55, 16/08/2013).

É interessante notar, no trecho acima, como o docente enxerga o recurso. Apesar

de interessante do ponto de vista empreendedor43, Rafael entende o recurso como

possivelmente substituível por um projetor, já que, conforme será analisado na seção

seguinte, a maioria dos usos descritos também poderiam ser realizados em um projetor

comum.

Inclusive, o uso da caneta no programa da LDI, atributo específico somente para

LDI e não para projetores, é razoavelmente tímido, correspondendo a apenas um pouco

mais de 3% das vezes em que o professor recorreu a algum recurso em sala de aula

durante as 20 aulas observadas. Essa interação com a caneta na LDI está relacionada à

interatividade em seu sentido físico, associada à manipulação dos elementos da LDI em

que o aluno/professor levanta da cadeira para arrastar um objeto e interagir com a LDI.

42 Entendo como “novo(s)” os usos que podem ser feitos a partir da internet. A novidade não está

especificamente no material per si (vídeo, áudio etc), já que esses são utilizados desde a introdução do método áudio-lingual na década de 60, mas estão atrelados ao fato de esses materiais poderem ser buscados ou acessados por meio da internet e imediatamente na hora em que a necessidade surge durante a aula.

43 Como vimos na seção “1.1.2 O professor Rafael”, o interesse do docente ao adquirir a tecnologia estava mais ligado a presunções empresariais relacionadas ao impacto que causaria na visão dos alunos e não às suas práticas pedagógicas especificamente.

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95

A questão é, conforme já brevemente explanado na seção sobre interatividade, que a

interatividade física pode ser desempenhada de maneira mecânica, como na resposta de

perguntas fechadas, por exemplo. Ou seja, a manipulação de elementos na LDI

(interatividade física) não necessariamente implica a reflexão acerca do que está sendo

feito, como ocorre na interatividade conceitual.

Dessa forma, o fato de o professor fazer uso da caneta um pouco mais de 3%

das vezes em que recorreu a algum recurso da LDI não tem implicações para a

interatividade per se, exceto para a interatividade física, que tem menor importância

nesse trabalho, já que não traz indicativos de um tipo de interatividade conceitual que

opere na agentividade dos alunos – ponto absolutamente mais relevante para este meu

estudo.

No entanto, ao considerar a interatividade conceitual/intelectual, pude ver

aspectos bastante distintos em relação ao uso do recurso digital aqui focalizado. Até

mesmo sem um olhar detalhado em direção às atividades com potencial para a

interatividade conceitual em sala de aula, o Quadro 3 e o Gráfico 1 (apresentados acima)

mostram que uma das prioridades, no caso do professor que abordo, é justamente a de

atender as demandas de seus aprendizes no eixo “necessidades surgidas em sala de

aula”. Esse eixo também demonstra uma predominância de atividades no ciberespaço.

O que me resta, portanto, é refletir sobre como são as possíveis participações discentes

ancoradas pela LDI. Para isso, classifiquei, na segunda parte deste capítulo, os usos do

professor Rafael dentro da escala de interatividade de Beauchamp e Kennewell (2010)

conforme as categorias adaptadas explanadas no capítulo teórico.

Encarando a sala de aula como situação social em que atores sociais se

encontram face a face, encontramos ações de atores que sofrem influência recíproca uns

dos outros, num contexto educacional no qual as trocas comunicativas são vistas como

um processo complexo e inacabado (CAJAL, 2001). A partir do gráfico 5 abaixo, é

possível inferir que há um padrão de tempos de turno e de interações dentro de sala de

aula que se repetem ao longo dos 3 meses de geração de registro.

Esse padrão parece privilegiar, durante todo o curso, o diálogo entre docente e

discente, reforçando a ideia de que, nesse contexto, a “relação assimétrica de poder” do

professor, que tradicionalmente é legitimada por práticas sociais de sala de aula (CAJAL,

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96

2001, p. 128), está sofrendo mudanças, já que o “turno do professor”, a categoria na qual

os turnos de Rafael são unicamente do professor em sala de aula, não é o predominante

durante esses meses. Ainda que o professor seja quem controla essa distribuição de

turnos, é possível afirmar que há uma consistência, ao longo dos três meses de

observação, com relação à participação dos alunos.

Gráfico 5. Turnos de fala (professor, aluno ou sem turno) e interações em sala de aula por meses (Mês 1

= setembro; Mês 2 = outubro; Mês 3 = novembro).

O Gráfico 5 permite notar que há predominância de trocas comunicativas entre

professor e aluno durante os três meses. Em termos quantitativos, isso fica ainda mais

visível no Gráfico 6, abaixo. A cor amarela, representante da interação professor e aluno,

juntamente com a cor verde, interação aluno e aluno, predominam ao longo do semestre.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

turno doprofessor (há

pequenasintervenções dos

alunos)

Não há turno turno do aluno interaçãoprofessor x aluno

Interação aluno xaluno (mediadapelo professor)

interação aluno xaluno

Turno e interações separadas por meses - Setembro, Outubro e Novembro

Mês 1 Mês 2 Mês 3

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97

Gráfico 6. Gráfico quantitativo de Turnos e interações durante as 20 aulas observadas.

É interessante notar que as maiores quantidades de trocas comunicativas entre

professor e aprendizes, calculadas pela duração de tempo das interações, ocorreram

entre as aulas 11 e 15, coincidentemente quando a projeção online foi mais utilizada,

conforme mostra o Gráfico 2 (Relação online e offline por tempo de usos da LDI). Dessa

forma, é possível inferir que o uso da internet, nesse contexto, está atrelado a maiores

quantidades de trocas comunicativas entre professor e aluno, em termos de tempo de

duração. A seguir, apresento gráficos das aulas 12 a 17 (organizados no Gráfico 7)

explorando o tempo de duração da interação e dos turnos.

-5 0 5 10 15 20 25

Turnos e interações durante 20 aulas

turno do professor (há pequenas intervenções dos alunos)

Não há turno

turno do aluno

interação professor x aluno

Interação aluno x aluno (mediada pelo professor)

interação aluno x aluno

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98

Gráfico 7. Duração no tempo dos turnos e interações em sala das aulas 12 a 17.

A barra lilás, que corresponde à interação professor x aluno, é a predominante

em todos os gráficos acima, com destaque para as aulas 12, 13, 15, 16 e 17. A

aprendizagem por meio de diálogos nas interações entre atores humanos, ou seja, por

meio de questionamentos compartilhados (em oposição à conversação) tal qual os define

Alexander (2006), pode ser desenvolvida em trocas comunicativas em sala de aula nas

quais professores e aprendizes constroem ativamente novos conhecimentos a partir de

suas ideias e questionamentos. São estes questionamentos que entendo como uma

espécie de agenciamento que coloca a aprendizagem como parte de comunidades de

interação (HENNESSY, 2011).

É de grande destaque na literatura (MERCER, 2010; HENNESSY, 2011;

ALEXANDER, 2006) a abordagem dialógica de ensino, que tem especial importância

para o ensino de uma língua adicional, já que prevê o desenvolvimento de diálogos em

resposta a propósitos e contextos educacionais variados enquanto ferramentas

poderosas em direção à aprendizagem e à construção de conhecimentos de maneiras

mais participativas.

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99

As práticas comunicativas e as interações entre professor e alunos, conforme os

quadros e os gráficos discutidos na presente seção, estão ligadas aos tipos de usos que

são feitos da LDI. Quando há maior uso da internet, há maiores tempos de trocas

comunicativas entre docente e discentes. Este dado dá indícios de que a LDI ou qualquer

ferramenta multimodal, como o projetor, pode contribuir para a criação de “espaços

dialógicos”, de acordo com Wegerif (2007), que se utilizem das discussões com fins

pedagógicos para aprendizagem de uma língua adicional. A análise fina, com diversos

exemplos, de como as interações se dão em sala de aula serão apresentados na próxima

parte do Capítulo 3, a seguir.

6 OS MODOS DE INCORPORAÇÃO DA LDI

Esta extensa segunda parte do Capítulo 3 é dedicada à reflexão sobre os usos

da LDI (no caso de Rafael, ver Quadro 1) a partir dos dispositivos analíticos apresentados

no capítulo teórico. Essa parte está dividida em sete subseções agrupadas segundo os

recursos utilizados pelo professor e, então, os analiso a partir 1) das fases de

incorporação de tecnologias em sala de aula propostas por Betcher e Lee (2009); 2) dos

repertórios para o ensino dialógico de Alexander (2006); e 3) da escala de interatividade

de Beauchamp e Kennewell (2010).

As (1) fases de incorporação das tecnologias são divididas em: Fase 1: fazendo

coisas antigas de maneiras antigas; Fase 2: fazendo coisas antigas de maneiras novas;

e Fase 3: fazendo coisas novas de maneiras novas. Os (2) repertórios para o ensino

dialógico de Alexander (2010) incluem: Fala de vida cotidiana; Fala para aprendizagem;

Fala para o ensino; e Fala para organização de sala de aula (ALEXANDER, 2010, p. 100-

105). Também analiso as (4) formas de interatividade utilizadas pelo professor que são:

interatividade nula; relação assimétrica de poder na interatividade; a interatividade

dialógica; e a interatividade sinergética, conforme adaptação da escala de interatividade

proposta por Beauchamp e Kennewell (2010).

É relevante destacar que, para análise das fases, repertórios e escalas de

interatividade conforme indicado, os usos dos recursos da LDI foram separados com fins

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100

didáticos e organizacionais e os diálogos transcritos são apresentados em duas línguas

(português e inglês) pois era assim que ocorria nas aulas, uma vez que os aprendizes

ainda não tinham domínio total da língua alvo.

6.1 Na utilização de Microsoft Word®, agenda do Windows e e-mail

Os exemplos escolhidos para demonstração e análise dos usos do software

Microsoft Word® no ensino de inglês são representativos do que costumava acontecer

em sala de aula quando se recorria a tal ferramenta. Três exemplos foram selecionados.

O primeiro classificado na fase 1 (fazendo coisas antigas de maneiras antigas), o

segundo na fase 2 (fazendo coisas antigas de maneiras novas) e o terceiro exemplo

classificado na fase 3 (fazendo coisas novas de maneiras novas). O uso do Microsoft

Word® foi o recurso mais utilizado por Rafael, tanto em tempo como em número de vezes

em que o recurso foi utilizado. O zoom da tabela apresentada na seção anterior é

oferecido abaixo (Quadro 4), para melhor visualização.

Word (Projeção Offline)

Cumprimento de atividades planejadas (guiadas pelo tópico do livro didático)

Correção da tarefa; anotações para alunos; tabela avaliação

Necessidades surgidas em sala de aula (context. gramatical, lexical ou situacional)

Visualização escrita

Quadro 4. Usos do Microsoft Word® em zoom para melhor visualização.

Neste primeiro exemplo, em relação aos usos “anotações para alunos” e

“visualização da escrita”, há a utilização da ferramenta de edição de textos Microsoft

Word® que, nestes casos, pode ser classificada como na fase 1 (fazendo coisas antigas

de maneiras antigas). Dentre os usos do professor, destacamos o uso referente ao

exemplo apresentado no quadro abaixo.

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101

Quadro 5. Usos da LDI a partir do sofware Microsoft Word®.

Esse exemplo foi retirado da aula ministrada no dia 02 de outubro de 2012,

referente ao recorte feito das cenas do minuto 10:20 ao minuto 23:00, a LDI é usada pelo

professor para fazer anotações nas atividades realizadas em sala. Enquanto os alunos

praticam a comunicação oral em inglês, Rafael toma nota do que está sendo dito pelos

aprendizes na LDI, em um documento no formato .doc. Ao longo das observações, das

discussões dos diários com Rafael e, mais tarde, das análises, percebo que ele o fazia

motivado por duas razões: 1) para que os alunos tivessem um suporte visual na

modalidade escrita daquilo que estavam dizendo (parece que conforme os alunos

praticavam a modalidade oral em inglês e visualizavam, na modalidade escrita, as frases

e palavras que estavam proferindo, muitas vezes eram capazes de corrigir seus próprios

erros gramaticais apenas ao olhar para a forma escrita na LDI); e 2) para que os alunos

e o professor tivessem acesso ao que foi dito na aula para que possivelmente houvesse

uma retomada daquele tópico em aulas posteriores.

a) b) c)

Figura 7. Utilização do Microsoft Word® para anotações em sala de aula.

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

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102

No exemplo acima, o professor escreve na lousa tudo que está sendo dito pelo

discente. Esse modo de construção de linguagem com base no que os aprendizes

querem falar é observado pela “interatividade dialógica” (BEAUCHAMP & KENNEWELL,

2010). Nessa categoria de interatividade, a preocupação do professor está mais centrada

nas necessidades, preferências e interesses dos alunos. Ainda que o docente também

estivesse pensando no objetivo gramatical da aula, ou seja, no uso do tempo verbal

presente simples, Rafael, nesse exemplo, estava conversando com os alunos sobre seus

interesses de tal forma que os discentes tivessem a liberdade para falar sobre suas vidas;

e essa fala era projetada na LDI por meio da escrita. Nesse caso em específico, os

aprendizes estavam contando sobre seus fins de semana, enquanto visualizavam a

forma escrita do que diziam na LDI, conforme trecho de impressões do diário de campo

abaixo:

O professor então, como é de praxe, passa a fazer perguntas sobre o fim de semana dos alunos em inglês. Com base nas respostas dos alunos o professor vai ao word para “remodelar” algumas falas (Retirado do diário de campo do dia 02 de outubro de 2012).

Ou seja, a estratégia do professor é a de utilizar as falas dos alunos sobre suas

vidas, assunto que lhes interessa, para fixação da correção pelo visionamento da forma

corrigida. Ao analisar essa estratégia através dos repertórios de Alexander (2010),

percebemos que o professor utiliza “falas de vida cotidiana” para que os alunos aprendam

a utilizar a língua inglesa dentro e fora de sala de aula, já que essa conversa sobre o fim

de semana dos alunos seria um tipo de prática comunicativa comum na vida das pessoas.

Nas cenas a seguir, referentes à mesma atividade descrita acima, retirados da

câmera 2, em que o foco é a visualização da sala toda, vemos na primeira cena (a) a

atenção dos alunos voltada para o professor, na cena (b) a atenção e interação ocorre

entre os próprios alunos e na terceira cena a atenção está voltada para a LDI. Represento

nas imagens o direcionamento da atenção através de setas vermelhas.

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103

a) b)

c)

Figura 8. Interação em sala de aula.

No caso dessa atividade, o aluno Eduardo, no comando de sua fala, explicava

para os outros alunos, em forma de narrativa, como havia sido seu fim de semana. O fato

do aprendiz não só tomar o turno, mas interagir com todo o grupo, inclusive com o

professor que ia escrevendo no quadro tudo o que o aluno Eduardo estava falando,

aponta para a “interatividade dialógica”, na qual o conhecimento linguístico é construído

com base nas contribuições que o aluno dá ao professor. A transcrição abaixo de um

trecho da atividade demonstra tais ações. Na cena, “R” corresponde ao professor Rafael,

“E” corresponde ao Eduardo, “F” corresponde ao aluno Fabiano e “P” corresponde à

aluna Paula. Os grifos em cinza, em todos os diálogos aqui transcritos, destacam

exemplos de trocas comunicativas classificadas em quatro repertórios de fala da

abordagem dialógica de Alexander (2006).

(1) E: On Sunday night, I bike… I biked… (2) R: Alright, was it on Sunday night or Sunday evening? (3) E: Evening (4) R: Evening, Alright, on Sunday evening…

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104

(5) E: Quando eu sarei (6) R: How can I say “quando eu sarei”? [risadas] (7) E: [risadas] já ouvi essa palavra... já ouvi essa palavra... éh... sarar... curar... é um negócio assim. (8) R: hummm… ok [Pausa longa] (9) F: I was better... (10) R: aham (11) E: Quando... (12) R: right.. how can I say quando? (13) E: When…When I (14) F: was… (15) E: was better? (16) R: yes… better, what you could also say or use here, instead of was is .. look [mostrando e escrevendo na LDI]… you could say I got better (17) P: aham (Transcrição de trecho do vídeo gravado da aula do dia 02 de outubro de 2012, do minuto 10 ao minuto 12).

Há algumas indicações nesse diálogo que fazem com que entendamos que esse

professor procurava usar a conversa com o aluno para aprendizagem. Em um primeiro

momento, o professor confirmou acertos dos alunos (com um “aham” ou balançando a

cabeça) sem necessariamente dar as respostas, mas fazendo perguntas e abrindo tempo

para que o aluno pensasse, buscasse e refletisse. As anotações, feitas em diário de

campo, no dia da aula, reforçam essas atitudes do docente.

É interessante notar como mesmo com longos períodos de silêncio o professor espera que o aluno encontre a resposta, e quando isso não ocorre, espera-se, como é de costume, que algum colega o ajude. Como o aluno Fabiano que acaba ajudando seu colega de sala [ver linhas 9 e 14 destacadas em cinza no diálogo acima] a expressar o que ele queria dizer na língua alvo, o inglês (Trecho retirado do diário de campo do dia 02 de outubro – Anexo 2).

Por meio de uma conversa autêntica, característica da abordagem comunicativa

de ensino de língua e também da abordagem dialógica de ensino de Alexander (2006), e

com a ajuda de Fabiano, Eduardo expressou o que queria sobre sua “aventura” no fim

de semana e, com a ajuda visual da LDI, o professor forneceu uma outra opção de

linguagem, a visual, para expressar aquilo que o aluno gostaria de dizer. Apesar dessa

estratégia para construção da fala do aluno Eduardo não ter sido necessariamente

facilitada pela LDI em si, vemos que o docente incentiva os próprios aprendizes a se

ajudarem, como uma forma de “scafolding” por meio do diálogo. Esse tipo de diálogo,

dentro da abordagem de ensino dialógica, faria parte do repertório da “fala de vida

cotidiana” (ALEXANDER, 2010) que ajuda o aprendiz a se comunicar na língua alvo sobre

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105

determinados assuntos que lhe interessem. No caso do exemplo, tratava-se de discutir o

que havia sido feito no fim de semana.

Nesse tipo de interatividade, a “interatividade dialógica”, o ritmo da aula é mais

solto, como observamos na transcrição acima, uma vez que, tendo o turno, Eduardo

participava do controle do ritmo da aula, ou seja, tomava o tempo que precisava para

expressar o que desejasse e, enquanto isso, tanto professor como outros alunos o

aguardaram ou o auxiliaram.

O segundo exemplo do uso do Microsoft Word®, também representativo do que

costumava ocorrer em sala de aula com a utilização do software, traz o uso desse

programa para “correção de tarefa” e o “resgate de documentos” por meio do e-mail,

conforme tabela abaixo.

Quadro 6. Usos da LDI relativos ao uso do Microsoft Word® e o uso do e-mail.

Classifico esse tipo de uso como relativo à fase 2 (fazendo coisas antigas de

maneiras novas) de Betcher e Lee (2009). A utilização do Microsoft Word® para correção

da tarefa dos alunos é uma forma diferente de fazer uma mesma atividade, ou seja, uma

atividade que seria feita no papel é feita na LDI.

Outra característica importante desse uso do Microsoft Word® é a possibilidade

que o professor tem de salvar diário de campo ou links de sites visitados durante as aulas

em arquivo eletrônico. As anotações das correções da tarefa ou discussões das aulas

não só eram salvas como também eram enviadas para o e-mail dos alunos e, quando

necessário, retomadas durante outras aulas. Essa prática abre um leque de

possibilidades que seria inviável sem a LDI ou projetor com acesso à internet, já que as

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

Page 106: GABRIELA CLAUDINO GRANDE USOS DA LOUSA DIGITAL …repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/269371/1/... · 2018-08-27 · usos da lousa digital interativa no ensino de lÍngua

106

aulas transpassavam as paredes de sala de aula para os e-mails dos alunos, que podiam

ser acessados por qualquer computador de qualquer lugar do mundo. Assim, as aulas

eram salvas para uso futuro ou reuso.

A “correção de tarefa” com o uso do Microsoft Word® está dentro do eixo

“cumprimento de atividades planejadas” e o exemplo selecionado foi retirado da aula de

11 de setembro de 2012 com duração de 18 minutos. A primeira cena abaixo (a) traz a

página do e-mail do professor que resgata as tarefas das alunas Paula e Bianca que

haviam lhe enviado um arquivo em formato .doc por e-mail. Esse uso do Microsoft Word®

é diferente do anterior pois se trata de uma nova forma de realizar esse exercício,

colocando o uso na fase 2 de incorporação da lousa. Essa correção da tarefa difere das

correções feitas sem o uso da LDI pois o professor corrige a tarefa com as alunas

presentes e interagindo com a correção que está sendo feita, além do uso de

recursos/ferramentas do Microsoft Word®, tais como grifos coloridos, sublinhados,

taxados e inserção de textos. O uso desses recursos do Microsoft Word®, apesar de

parecer simples, enriquece a correção do ponto de vista visual: o uso das cores, por

exemplo, possibilita ao professor destacar pontos que lhe pareçam essenciais para as

necessidades daquele aluno.

a) b) c)

d) e) f)

Figura 9. Correção da tarefa de uma discente pelo professor na LDI.

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107

Ademais, e conforme destacado com um círculo vermelho na cena d), ao corrigir

a tarefa com a aluna, é possível esclarecer dúvidas surgidas no momento da correção.

Dessa forma, o professor consegue suprir uma demanda da aluna Paula com relação à

estrutura da língua (destacado em vermelho na cena (d)). Nesse sentido, tal atividade

pode ser classificada a partir da categoria “interatividade dialógica”, categoria adaptada

de Beauchamp e Kennewell (2010), pois neste tipo de interatividade o professor ainda

tem controle da LDI e das atividades conduzidas, mas os alunos têm participação no

sentido de exporem suas necessidades. Assim, o docente pode conduzir sua aula e suas

ações com base nas interferências dos alunos, garantindo uma produção de

conhecimento menos unilateral, com menor imposição de saberes institucionalmente

valorizados nos espaços de ensino por meio do diálogo, conforme demonstra o exemplo

abaixo.

(18) R: ...E aí a gente aproveita pra revisar language. Tá bom? Esse é o ponto. Ok? (19) Have you lost.. óh (colocando a frase em colorido) Have you lost... What did you mean? (20) P: Tá errado isso (21) R: Yeah (22) P: É, ta errado (23) R: Have you lost??? (24) P: Have you lost a credit card? (25) R: or Have you lost your credit card? (26) Ok? So… it’s your not his… unless let’s say, your husband you know… [risadas] (27) P: ok… aham… (28) R: […] and what about this how long have you lost? (29) P: ah não... tá ruim também, mas o que eu queria dizer “faz quanto tempo” então daí eu posso colocar o ago que você falou (30) R: Isso, há quanto tempo atrás. Aham… porque uma outra forma de você fazer essa pergunta ao invés de usar o how long ago? (31) P: How long did you… não, how long did you (32) R: Não, ao invés de How long, qual é a pergunta que vc está fazendo? (33) P: Quando (34) R: Quando, como que se fala quando? (35) P: When (36) R: ok (37) P: When did you… (Transcrição de trecho do vídeo gravado da aula do dia 11 de setembro 2012 do minuto 21 ao minuto 22:30)

A correção da tarefa da aluna na LDI serviu como um suporte que o professor

usou para que, através da conversa com a aluna e a visualização da escrita, a aluna

pudesse chegar a conclusões sobre erros gramaticais e correções. A fala da aluna Paula

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108

nas linhas 20, 22 e 29 mostra como ela própria percebeu o erro gramatical que havia

cometido na tarefa antes mesmo do professor apontar correções (“É... tá errado isso”,

por exemplo). Dentro do repertório de ensino dialógico de Alexander (2006), essa seria

uma mistura de “fala para o ensino” com “fala para aprendizagem” em forma de “diálogo

ancorado por andaimes” (ALEXANDER, 2010), no qual as trocas comunicativas entre

discente e docente levam o aprendiz a pensar, fazendo trocas que encadeiam linhas

coerentes de raciocínio sobre o tópico estudado.

Além disso, desses 2 usos do Microsoft Word®, também selecionei um exemplo

para destacar um caso no qual os alunos passam a trabalhar com a tecnologia, como no

item “tabela de avaliação” no Microsoft Word®. Essa tabela foi desenvolvida pelos alunos

que interagiram com a LDI por meio do mouse e do teclado, que geralmente ficam em

posse do professor. Outra característica dessa fase é a apropriação de ferramentas do

próprio computador, como a agenda do Windows, para o cumprimento de propósitos

diversos do docente ou dos discentes.

Quadro 7. Usos da LDI relativos ao usos do Microsoft Word® e da agenda do Windows.

O exemplo a seguir, que utiliza a Microsoft Word® e a agenda do Windows, foi

retirado dos vídeos 2 e 3 da aula de 09 de outubro de 2012 (vídeo 2 – minuto 25:00 ao

minuto 32:00; vídeo 3 – minuto 0:00 ao minuto 17:00), mostra as cenas do emprego de

uma tabela que foi parcialmente feita pelos alunos. Isso ocorreu porque o professor

entregou o controle da lousa para os alunos (conforme veremos nas cenas mais adiante)

e estes passaram a comandar o teclado e o mouse do computador acoplados à LDI.

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

Page 109: GABRIELA CLAUDINO GRANDE USOS DA LOUSA DIGITAL …repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/269371/1/... · 2018-08-27 · usos da lousa digital interativa no ensino de lÍngua

109

Esse foi o único exemplo classificado na fase 3 (fazendo coisas novas de

maneiras novas) de Betcher e Lee (2009), no qual a “interatividade sinergética” foi

percebida. Esse tipo de interatividade é caracterizada por atividades independentes e

reflexivas realizadas pelos alunos de maneira coletiva e em formato de turma. Nesse

caso, docentes e discentes orquestraram as ferramentas da LDI na tentativa de estruturar

as ideias que focalizavam a avaliação que os alunos montavam em conjunto, em uma

tabela no Microsoft Word®.

a) b) c)

d) e) f)

g) h)

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110

i) j)

Figura 10. Imagens da LDI sendo utilizada pelos alunos para construção da tabela de avaliação.

É relevante destacar que essa foi uma tabela montada pelos próprios discentes

e não tinha respostas pré-determinadas, ou seja, os alunos, nas cenas acima, estão

dando continuidade a uma tabela iniciada na aula anterior, que tinha como objetivo prover

ideias criativas de atividades em língua inglesa, para prática dos assuntos que já haviam

sido abordados durante o semestre.

Ainda sobre a tabela avaliativa, retirada do vídeo da câmera 2 (visão da sala toda)

da aula de 09 de outubro de 2012 (vídeo câmera 2 – minuto 57:00 até 1 hora e 31

minutos), há referência ao mesmo uso descrito acima. As cenas abaixo são relevantes

pois demonstram os momentos nos quais o professor repassou o teclado e mouse com

o controle da LDI para os alunos e depois os retomou para dar continuidade à atividade.

As quatro primeiras cenas trazem Rafael entregando primeiramente o teclado

(cenas (a) e (b)) e depois o mouse (cenas (c) e (d)). Nas quatro cenas seguintes ((e), (f),

(g) e (h)), vemos o aluno Eduardo repassando o teclado para a aluna Paula, que se

apossou do artefato para fazer a atividade. Na cena (i), destacamos que conforme Paula

interagia com o teclado e a LDI, a atenção dos outros dois alunos em sala se voltava para

LDI. As cenas seguintes são demonstrações de uso do teclado e interação dos alunos,

exceto pelas duas últimas cenas, (p) e (q), que demonstram o momento no qual o

professor tomou o controle da aula e da LDI novamente ao retomar o mouse e o teclado

dos alunos.

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111

a)

b) c)

d)

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112

e) f)

g) h)

i) j)

k) l) m)

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113

n) o)

p) q)

Figura 11. Alunos utilizam o quadro interativo em atividade colaborativa.

Destaco as cenas (e) a (j), nas quais os alunos trabalham em conjunto enquanto

o docente se ausenta da sala. Este seria mais um indício da autonomia dos aprendizes

na feitura da atividade em questão. Com relação ao uso da tecnologia em si, é

interessante notar pela fala do professor abaixo, retirada do vídeo, que, na visão de

Rafael, fazer o exercício em um papel ou na LDI seria indiferente em termos de estratégia

didática. Os alunos tinham a opção de fazer a atividade onde achassem melhor e

escolheram fazer na LDI, possivelmente porque a visibilidade da LDI parece uma opção

mais coerente do que o papel para que todos os alunos participassem. O uso do papel

implicaria no desempenho da atividade de maneira mais individualizada e sem a visão

homogênea de todos no foco coletivo da sala, a LDI.

“Se vocês quiserem fazer no papel... beleza... se vocês quiserem fazer no computador, o teclado e o mouse estão aqui” (Fala do professor para os alunos – aula de 9 de outubro de 2012 – vídeo câmera 2 – minuto 57:00).

Ainda assim, o aspecto mais pertinente referente a essas cenas diz respeito à

forma como a atividade é conduzida. Quando Rafael repassou o “controle” da LDI e da

atividade para os alunos, eles passaram a ter o controle do ritmo da aula e da abordagem

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114

da atividade em si. Aconteceram algumas interferências do professor, mas foram poucas

se comparadas às outras atividades, e há momentos em que o professor até mesmo sai

da sala enquanto os alunos trabalham em seu projeto conjunto (cenas (g), (h), (i) e (j)).

Essa noção de autonomia com o uso da LDI e da atividade em si, na qual alunos podem

expressar sua criatividade para criação de tarefas, reafirma a “interatividade sinergética”

demonstrada nessa aula.

Dentro dos repertórios de Alexander (2006) podemos classificar essas trocas

comunicativas dos alunos e professores como “fala para organização da sala de aula” na

qual o enfoque está nas interações que ocorrem, neste caso, um trabalho em grupo

(liderado pelos próprios alunos) que constroem uma tabela em .doc afim de organizar

tarefas diversas para avaliação que seria montada para eles próprios.

É interessante notar como os usos de um mesmo recurso, o Microsoft Word®,

podem transitar por entre as 3 fases de incorporação da LDI de Betcher e Lee (2009) a

depender de como esse recurso é utilizado, quais repertórios de falas ou interatividades

com a LDI são utilizadas. Os repertórios de fala utilizados, conforme Alexander (2006),

também são utilizados de maneira diversa, ou seja, na utilização de um mesmo recurso

(Microsoft Word®) Rafael faz uso dos 4 repertórios (falas de vida cotidiana; falas para o

ensino; falas para aprendizagem; e falas para organização de sala de aula), utilizando o

diálogo em direção a uma configuração de trocas comunicativas, construídas em volta

dos usos da LDI em sala de aula que priorizem a abordagem dialógica, na qual os alunos

têm participação na construção do conhecimento e nos rumos da aula. O quadro abaixo

ilustra a diversidade de utilização das fases, interatividade e repertórios de fala.

Quadro 8. Resumo dos exemplos de usos do recurso Microsoft Word®.

Word Fases Interatividade Repertórios

Exemplo 1 1 Interatividade Dialógica Falas de vida Cotidiana

Exemplo 2 2 Interatividade Dialógica Fala para o ensino e Fala para a aprendizagem

Exemplo 3 3 Interatividade Sinergética Fala para organização da sala de aula

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115

No que tange às interatividades causadas ou motivadas pelo professor, conforme

escala de interatividade de Beauchamp e Kennewell (2010) adaptada por mim, percebo

a predominância da interatividade dialógica, o que vai ao encontro da abordagem

dialógica de ensino de Alexander (2006), que preconiza maiores participações dos alunos

e um ensino menos unilateral por parte do professor. Neste caso, a LDI é utilizada como

ancoragem para construção de diálogos.

6.2 Na utilização de DVD do livro didático

O DVD do livro didático dos aprendizes possuía as imagens dos livros dos alunos,

áudios de atividades de listenings e filmes como complementação de atividades auditivas

que possuíam imagens e legendas. Os dois usos destacados no quadro abaixo serão

apresentados em forma de 2 exemplos. O primeiro “Leitura e interpretação” (destacado

no quadro 8 abaixo) é classificado como na fase 1 de incorporação da LDI (fazendo

coisas antigas de maneiras antigas) e o segundo exemplo, que representa uma atividade

de áudio com vídeos do DVD, é classificado na fase 2 (fazendo coisas antigas de

maneiras novas).

Quadro 9. Usos da LDI relativos ao uso do DVD do livro

As imagens abaixo foram retiradas do vídeo 2 da aula do dia 20 de setembro de

2012 e correspondem às cenas do minuto 0:00 ao minuto 3:30. O exercício é de leitura e

interpretação de um texto do livro e a LDI é utilizada para projetar o conteúdo do livro,

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

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116

que os alunos também possuem em mãos. Apesar de não apresentar grandes mudanças

da aula tradicional com o uso do livro didático, o suporte visual parece chamar a atenção

dos alunos que estão focados durante a atividade em uma única grande tela, ou seja, ao

invés de trabalharem individualmente em seus livros didáticos, trabalham como grupo em

constante diálogo entre si e com o professor, já que o ponto focal, a LDI, é coletivo.

a)

b) Figura 12. Uso do DVD do livro didático para atividade do livro.

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117

Segundo Betcher e Lee (2009), essa atividade se configura enquanto “fazendo

coisas antigas de maneiras antigas”, pois Rafael fez uso de textos digitalizados do livro.

Não houve o uso de ferramentas da LDI e o professor trabalhou de tal forma que apenas

ele teve acesso aos comandos da lousa. Para Gibson (2001), no entanto, nesse tipo de

atividade, há a mudança do olhar individual dos alunos para um olhar coletivo em direção

à LDI. Dessa forma, a projeção do texto em uma tela conduz o olhar de todos os alunos

numa única direção, garantindo que haja igualdade do conteúdo ao qual os discentes têm

acesso. Com todos os atores da sala de aula focalizando um único texto, projetado em

tela, há maior possibilidade de interação em torno daquilo que é trabalhado como objeto

de aprendizagem. Em meio à pluralidade do público discente, tal forma de condução da

aula permite maior participação dos alunos com o conteúdo problematizado pelo

professor.

Ao analisar a interatividade dessa atividade, percebo a “relação assimétrica de

poder na interatividade”, dentro da escala de categorias adaptadas da interatividade de

Beauchamp e Kennewell (2010). Esse tipo de interatividade prevê o controle do ritmo da

aula e certa participação dos alunos. Porém, essa participação é limitada e controlada

pelo professor, que espera respostas dentro de uma estrutura rígida, como em respostas

de exercícios de um livro didático, no caso da atividade focalizada. Além disso, a “relação

assimétrica de poder na interatividade” também prevê uma preparação de aula a priori,

isto é, uma definição dos rumos da aula no momento do planejamento do conteúdo a ser

abordado, de modo a abrir pouco espaço para mudança de percurso previsto pelo

professor, que é o que ocorre nesse exercício da aula.

Como as trocas comunicativas nesse exemplo são limitadas e controladas pelo

professor, não utiliza nenhum dos repertórios de Alexander (2010), tão pouco é

relacionada ao ensino dialógico. Nesse sentido, ainda que haja trocas comunicativas

entre professor e aluno, as relações de poder são preservadas, uma vez que o docente

mantém seu posto de condutor da aula, sendo o participante da cena educativa que

centraliza e direciona a participação discente.

O segundo exemplo dos usos do DVD, “áudio e vídeo”, está dentro do eixo

“cumprimento de atividade planejada” e é uma atividade que tem sido feita no ensino de

línguas há algum tempo e que toma nova configuração com o uso da LDI. O professor

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118

utiliza a versão digital do livro didático, o qual, arquivado em DVD, converte áudio, vídeo

e texto escrito em uma mesma mídia.

Nesse exemplo, conforme cenas a seguir, a multimodalidade parecia ajudar a

compreensão dos alunos, pois trouxe estímulos visuais, auditivos e sinestésicos. Essa

característica é semelhante às da televisão, recurso que faz parte do cotidiano dos

alunos. Esse uso da LDI corrobora achados da dissertação de Nakashima (2008) que

afirma que os conteúdos multimodais parecem disputar espaço, de igual para igual, com

as tecnologias tais como a televisão, que fazem parte do dia a dia dos alunos de hoje.

Conforme os discentes se interessam, mais se engajam nas atividades e mais

significativo o aprendizado se tornava.

a) b) c)

d) e) f)

g) h)

Figura 13. Uso do DVD do livro para prática de listening.

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119

O percurso traçado pelo professor inclui três etapas. Na primeira, o vídeo foi

tocado sem áudio ou legenda escrita, fazendo com que os alunos prestassem atenção

nas imagens e imaginassem o que estava ocorrendo. Na segunda etapa, havia a inclusão

do áudio ao vídeo. Depois dessa etapa, houve a discussão sobre o exercício do livro

sobre a atividade. Na terceira etapa, o vídeo foi tocado novamente, dessa vez com

imagens, áudio e a legenda escrita (destacada na cena (h)). Nessa etapa, o professor

procurou conferir o exercício do livro conforme o vídeo foi passando na LDI.

Essa foi uma atividade em que não houve grandes trocas entre professor-alunos-

LDI, havendo uma postura mais passiva dos atores envolvidos e as respostas esperadas

foram mais rígidas e atreladas aos moldes do livro. Portanto, quase não aconteceu

interatividade nessa cena, sendo classificada como uma “relação assimétrica de poder

na interatividade” em que apenas o professor tem domínio do que está sendo tocado e

visto na LDI, enquanto os alunos têm perguntas e respostas pré-determinadas em seus

livros, devendo respondê-las sem grandes interferências. Similar ao uso do DVD no

exemplo anterior a este, nenhum dos repertórios de Alexander foi utilizado já que a nesse

tipo de interatividade com a LDI (“relação assimétrica de poder na interatividade”) não há

a intenção de construção de diálogos, apenas respostas pré-determinadas dentro de um

elenco de opções, o que não é entendido como diálogo no presente trabalho.

Portanto, e com base nos usos que são feitos do DVD pelo professor aqui

focalizado, posso inferir que ainda que seja possível transitar por entre as fases de

incorporação da LDI, utilizando as fases 1 e 2 de Betcher e Lee (2009), a interatividade

dialógica ou os repertórios de fala de Alexander (2006) em direção a um ensino dialógico

não são utilizados, sendo a participação dos discentes tímida e sem voz. Neste caso, o

professor tem o controle de turnos e rumos da aula. Considerando que o recurso DVD foi

utilizado em 35% das aulas (conforme gráfico 2 na grande seção anterior) é possível

afirmar que pelo menos um terço de suas aulas, no período observado, foram compostas,

dentre outras atividades, por atividades nas quais o controle estava nas mãos do docente

e os aprendizes desempenharam um papel mais passivo.

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120

6.3 Na utilização de imagens pré-selecionadas e filmes

O uso de “imagens previamente selecionadas”, gravadas na biblioteca de

imagens do computador do professor, tinha o propósito de “contextualização

gramatical/visual para prática oral” com o uso de imagens. O uso desse recurso é

classificado na fase 2 de Betcher e Lee (2009). Era uma atividade previamente planejada

e por essa razão se encontra no eixo “cumprimento de atividades planejadas” conforme

identificado no quadro abaixo.

Quadro 10. Usos da LDI relativos ao uso de imagens previamente selecionadas

O exemplo selecionado foi retirado da aula do dia 11 de setembro de 2012 do

vídeo 3 da aula do minuto 3:00 ao minuto 7:00. Nessa atividade, Rafael fez uma seleção

de imagens para auxiliar a prática oral do tempo gramatical present perfect. O que

diferencia essa atividade da atividade feita no papel, e, portanto, a coloca na fase 2 de

Betcher e Lee (2009), é que a LDI é um ponto central e de fácil visualização da sala.

Apesar de essa ser uma atividade que poderia ser feita sem LDI, com o uso de cards,

possivelmente o ponto principal destacado aqui é que o professor pode facilmente fazê-

la sem o gasto de papéis e com certa velocidade, já que não tem que recortar ou colar

as imagens. Essa seleção de imagens pode ser feita a cada aula conforme o perfil de

cada turma, ou seja, o professor pode optar por determinadas imagens que vão ao

encontro de interesses dos aprendizes, ou que vão instigá-los à reflexão de alguma forma

em tempo real e durante a aula com o uso da internet.

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

Page 121: GABRIELA CLAUDINO GRANDE USOS DA LOUSA DIGITAL …repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/REPOSIP/269371/1/... · 2018-08-27 · usos da lousa digital interativa no ensino de lÍngua

121

No caso das cenas abaixo, Rafael fez uma seleção de imagens de locais e coisas

que fariam sentido para o contexto dos alunos. São imagens de pontos da cidade onde

vivem e que, possivelmente, os alunos ainda não conheciam. Dessa forma, o uso do

present perfect com a estrutura Have you ever/already...? (Você já alguma vez...?),

utilizado para fazer perguntas sobre coisas ou lugares que a outra pessoa nunca tenha

estado ou feito antes, pode ser compreendido como uma estratégia para aproximar o

discente daquilo que seria abordado em sala de aula. O fato de usar imagens

contextualizadas parece fazer com que os alunos ficassem interessados não só em usar

a estrutura, mas a falar sobre algo que lhes seria familiar, que lhes faria sentido. Ao fazer

uma projeção de imagens que seriam significativas, o professor deu destaque a uma

atividade que poderia ser pouco significativa para o aluno, caso fosse conduzida de forma

tradicional, levando em conta apenas o uso considerado formal da estrutura linguística.

Nesse sentido, as ações do professor estão sendo orientadas por alguns princípios da

abordagem comunicativa, tais como uso apropriado da língua, comunicação genuína/real

em sala de aula e o significado como ponto de partida para produção (LARSEN-

FREEMAN, 2000, p. 121).

a) b) c) d)

e) f) g) h)

Figura 14. Uso de imagens pré-selecionadas com base no contexto dos discentes para prática do present perfect.

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122

Além disso, são permitidas práticas de multiletramentos, pois o exemplo

supracitado aponta tanto para o caráter multimodal (da projeção de textos e imagens em

tela) quanto para o caráter multicultural, uma vez que o docente considera os saberes

diversos, indo além do conhecimento valorizado e elitizado (ROJO & MOURA, 2012, p.

13). O diálogo abaixo mostra como mesmo quando o professor espera um tipo de

resposta, tenta entender por que o aluno deu outra resposta, a entende e concorda com

o aprendiz. Neste caso, Rafael espera que ir à “fazenda Ipanema” seja uma prática de

quem mora em Sorocaba, assim, quando a aluna Bianca responde que o adverbio “yet”

deveria ser utilizado na pergunta: Você já foi para a Fazenda Ipanema, em inglês, ao

invés do “already”44, essa resposta causa espanto ao professor, então, ele confirma se

essa seria uma atividade comum ou não para a aluna (destacado na linha 42).

(38) R: Ok so remember these photos here? (39) P: Yeah (40) R: Ok? Look. If we think of let’s say: Fazenda Ipanema [mostrando a foto na

LDI]. So look, Fazenda Ipanema is near Sorocaba, yeah? Would I ask with “yet” or “already” FOR YOU [enfatizando o PARA VOCÊ em inglês]?

(41) B: “Yet” (42) R: “Yet”, it’s not common? (43) B: No (44) R: ok, so this is the point (45) P: Evandro “already” (46) R: ok, alright (Transcrição de trecho do vídeo gravado da aula do dia 11 de setembro de 2012, do minuto 3 ao minuto 4).

Ao considerar não só o que era esperado pelo docente, mas também as práticas

da aluna Bianca, Rafael está valorizando os saberes dessa discente e os utilizando para

aprendizagem (ver linha 44 do diálogo), neste caso, do uso dos advérbios “yet” e “already”

em perguntas. Ainda que a LDI tenha sido timidamente utilizada, considerando suas

potencialidades de interação no processo de ensino, a prática desencadeada pode ser

compreendida, já que utiliza os multiletramentos, como uma sutil ruptura com o trabalho

tradicional no ensino de línguas, que tem priorizado a forma em detrimento dos

significados, e da valorização de culturas locais, como no caso da utilização das imagens

da própria cidade dos aprendizes, ao invés de utilizar cidades como Paris ou Nova Iorque,

44 As palavras already, yet e ever na maioria das vezes são traduzidas como já. Isso acaba deixando muitos

estudantes de inglês confusos sobre quando usar cada uma delas. No exemplo citado, o docente está estabelecendo uma diferença entre already e yet em perguntas, sendo que o primeiro é utilizado quando se expressa uma atividade cotidiana e o segundo se refere a práticas que não sejam comum.

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123

tão distantes da realidade dos alunos e tidas como elitizadas, muitas vezes comumente

utilizadas em livros de ensino de língua inglesa.

As atitudes de interesse dos alunos com relação às imagens e à conversa que é

conduzida entre professor e alunos também corroboram para que essa atividade seja

compreendida como “interatividade dialógica”, pois as práticas orais, objetivo da atividade

per se, iam se desenvolvendo ou sendo construídas conforme os alunos interagiam entre

si e com o docente. Neste tipo de interatividade, conforme já mencionado no item 3.2.1,

a abordagem de ensino dialógica de Alexander (2006), que visa trocas comunicativas

autênticas, também está presente já que os discentes passam a se interessar pelos locais

que os cercam na cidade em que vivem.

De forma conclusiva, posso inferir que o uso de imagens previamente

selecionadas, ainda que não signifique grande inovação na atividade per se, é utilizada

por Rafael na tentativa de “aproveitar o poder da fala para estimular e ampliar o

pensamento dos aprendizes” (ALEXANDER, 2006, p. 1) se aproveitando de seus

interesses, ainda que seu propósito final seja um ponto gramatical (present perfect), em

práticas comunicativas autênticas, com o uso do repertório “falas de vida cotidiana” de

Alexander (2006).

Como já apontado na seção anterior, a utilização do ciberespaço não só pode

modificar os rumos da aula como dá a oportunidade de professores e alunos de se

engajarem e interagirem também com o mundo exterior à sala de aula. Essas

possibilidades fazem com que a multimodalidade seja uma constância, dando maior

flexibilidade à aula e a tornando cada vez menos linear. Abaixo, o exemplo selecionado

traz filmes do youtube, que foi utilizado através do programa prezi45.

45 O Prezi, que é uma ferramenta da web 2.0, é um software online para a criação de apresentações não

lineares (alternativa ao Power Point, Keynote, Impress, etc).

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124

Quadro 11. Usos da LDI relativos ao uso do youtube

O uso do “prezi” dentro do eixo “cumprimento de atividade planejada”,

representada por Cenas retiradas do vídeo 1 da aula de 23 de outubro de 2012 (vídeo 1

– minuto 7:00 ao minuto 19:00), compreendeu uma nova forma de organização da aula.

Ao invés de slides de power point ou até mesmo flipcharts46 do programa da LDI, Rafael

utilizou o prezi, uma ferramenta online, para unir vídeos, áudio e animações que tornam

a aula mais ágil sem necessariamente o uso de livros ou cadernos dos alunos. Isto é, o

prezi, enquanto ferramenta de apresentação, parecia bastar para essa aula, já que os

alunos não utilizavam seus livros ou caderno, e havia a convergência de todas as

linguagens necessárias aos propósitos do professor para essa atividade.

O uso de trailers de filmes em cartaz ou conhecidos pelos alunos, todos trazidos

do youtube, envolveu os aprendizes na atividade proposta.

a) b) c)

46 Ainda que slides de power point e flipcharts também permitam a inserção de imagens e vídeos, essas

formas de apresentação são mais estáticas do que o prezi, que tem movimento e forma de apresentação diferenciada (é possível ver todo o conteúdo de forma macro e micro).

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

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125

d) e) f)

g) h) i)

Figura 15. Uso do prezi para ensinar estrutura gramatical e falar sobre filmes

É importante frisar que ainda que não utilizasse o livro didático em si, o tema dos

vídeos era associado ao tema do livro, e todos os usos feitos poderiam ter sido feitos em

um projetor comum, ou seja, sem a necessidade da LDI. Além disso, a utilização de

pequenos vídeos é tida como um recurso do professor de inglês desde a década de 1990

com a abordagem comunicativa de ensino, assim, essa atividade é classificada como na

fase 2 (fazendo coisas antigas de maneiras novas).

Ao analisar a cena, percebo que houve a predominância do tipo de interatividade

da escala adaptada de Beauchamp e Kennewell (2010) da “relação assimétrica de poder

na interatividade”, uma vez que o docente continuou como ator que centraliza as ações

desencadeadas na aula, pois tanto a LDI como os rumos da aula estavam nas mãos do

professor, que esperava o uso do present simple, foco linguístico da aula.

Com efeito, percebo que ainda que essa atividade tenha traços da preocupação

de Rafael com os interesses dos alunos e o uso da hipermídia, sua atenção, nesse caso,

ainda voltou-se para práticas consideradas tradicionais de produção oral de tempos

verbais, e parece que o que lhe interessou foi o uso adequado do present simple. Ou

seja, ao olhar seu uso com cuidado, percebe-se que tanto as relações de poder em sala

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126

de aula como os tipos de conversas desenvolvidas imitam práticas antigas de sala de

aula.

6.4 No uso do Google imagens e Google maps (street view)

O uso de figuras da web pode ser notado no item “contextualização lexical” com o

google imagens e “contextualização visual para prática oral” com o google maps ou street

view conforme destacado no quadro abaixo.

Quadro 12. Usos da LDI relativos ao uso de google imagens e google maps

O exemplo selecionado para análise do “google imagens” para a

contextualização lexical dentro do eixo “necessidades surgidas durante a aula” é uma

antiga prática de professores de língua que ganha uma nova forma com o uso da LDI.

Portanto classificado na fase 2 de Betcher e Lee (2009). Tradicionalmente, os alunos de

língua adicional têm dúvidas referentes ao vocabulário durante a aula e, geralmente, o

que ocorre é uma breve explicação da palavra com possíveis exemplos ou até mesmo a

tradução da mesma quando se trata de palavras ou conceitos extremamente abstratos,

pois a oralidade ou mímicas seriam os recursos disponíveis nas salas de aula

convencionais. Com o advento das TIC, a linguagem multimodal com a combinação em

especial de vídeo, imagens ou animações, parece acrescentar um recurso infinito de

possibilidades para o esclarecimento de dúvidas lexicais, sem necessariamente ter que

usar a língua oral ou escrita.

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

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127

Nas cenas do exemplo a seguir, retirados da aula do dia 25 de setembro de 2012

do vídeo 1 – minuto 27:00 ao minuto 32:30, o professor utilizou o google imagens para

dar exemplos e explicar o que é e como é usada a palavra unusual (não usual em

português). Para isso, além de usar exemplos que lhe ocorreram à mente, Rafael utilizou

as dicas que o google provê aos usuários que digitam a palavra unusual e usou os

exemplos indicados pelo site de buscas. Nesse caso, há o risco de resultados pouco

significativos para a aula em questão, mas esses eram ignorados e o professor dava

atenção para os usos da palavra que melhor informariam sobre o sentido buscado.

a) b) c) d)

e) f) g)

Figura 16. Uso do google imagens – professor segue interesse do aluno.

Conforme os alunos acompanhavam a busca pelo sentido do vocabulário em

questão, unusual, um dos alunos, Fabiano, se interessou por um esporte unusual

(destacado na cena (f)). O professor, então, entrou no site da imagem e ambos, professor

e alunos, discutiram sobre o que seria esse esporte conforme transcrição do trecho

abaixo:

(47) R: Unusual ... let’s say what? [professor e alunos olhando as opções que o google fornece ao usuário] Unsual engagement rings... look [mostrando as figuras e diversos exemplos]...

(48) R: What else do they say? Alright (49) F: É a casa dos 3 porquinhos [aluno apontando imagem na LDI] (50) R: Yeah, so this is unsual, ok? So we have unsual sports, hey look.

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128

(51) P: aham (52) R: I never thought of that.. [risadas, mostrando uma figura de luta debaixo da

água]... is it possible? (53) F: No... Como chama aquele esporte lá? (54) R: this one? (55) E: yeah. Fica acertando… (56) R: I guess this is a shuttlecock... no, I think it’s a ball, right? (57) P: This is handball, no? (58) R: No, because they are kicking, yeah? (59) E: Yeah, a rede é baixa assim... (60) F: Você joga e se bater no cara… (61) R: In this sport, which resembles volleyball, players can only use their feet,

chest and head to score points. This sport is also known as kick volleyball and is very popular in Southeast Asia. [lendo no site indicado pelo aluno].

(62) R: Ok? So... Alright Fabiano, shall we practice it? [risadas] Now that you have lost some kilos, what do you think Eduardo?

(63) E: Is good (64) F: nossa, estou com dor na perna só de olhar. (56) R: ok, so what is the most unsual ....

O interessante sobre esse diálogo é que, apesar do objetivo linguístico da lição

não estar ligado à aquisição desse novo vocábulo (unusual), o professor resolveu seguir

o interesse do aluno (indicado na linha 44 do diálogo). Com isso, percebemos que todos

os aprendizes passaram a fazer parte do diálogo interessados em aprender um aspecto

cultural de um esporte que nem eles, nem o professor, conheciam. Neste exemplo, pude

ver como o conhecimento, neste caso sobre um item lexical e um novo esporte, pode ser

construído de maneira colaborativa por meio da internet e principalmente a partir do

interesse do aluno, que é expressado no diálogo.

A atividade focalizada diz muito sobre a questão da interatividade no uso da LDI,

pois, conforme exposto, um dos alunos mudou o rumo da atividade que estava sendo

realizada. O professor continuou no controle e ele é quem fez as escolhas para a

explicação da palavra. Entretanto, os alunos também fizeram apontamentos e o professor

pôde seguir pistas de indicação de interesse dos alunos para que o entendimento, nesse

caso do item lexical unusual, pudesse ser interessante para os aprendizes. Assim, essa

atividade também pode ser classificada como “interatividade dialógica”, adaptada de

Beauchamp e Kennewell (2010), uma vez que os alunos pareciam ter voz em sala de

aula e seus interesses passaram a ser um dos enfoques da aula.

Vale ressaltar que Rafael, ao seguir a pista do aluno Fábio, utiliza o repertório

“fala para aprendizagem” de Alexander (2010), explorando a curiosidade do discente para

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129

melhorar as habilidades comunicativas e também aprender, não só um item lexical como

também aspectos culturais de um determinado esporte, desconhecidos de todos.

Essa agilidade para a mudança nos rumos da aula, como ocorreu na atividade

acima, quando o professor entrou no link indicado pelo aluno para aprenderem sobre a

curiosidade surgida durante a aula, já foi indicada como uma das affordances da LDI

pelos autores Xu e Monoley (2011) e também por Betcher e Lee (2009).

O próximo exemplo, classificado como uso pertencente à fase 2 (“Fazendo coisas

antigas de maneiras novas”) de Betcher e Lee (2009), também tem características da

fase 3 (“Fazendo coisas novas de maneiras novas”). Entretanto, consideramos a

atividade predominantemente na fase 2, pois a “contextualização visual para a prática

oral” é uma prática recorrente no ensino de língua. A diferença, nesse caso, é que antes

do boom da década de 1990, não havia internet com disponibilidade de vídeos ou

imagens imediatas para essa contextualização, sendo feita de maneira oral, ou ainda,

com imagens previamente planejadas coladas em papéis. Analogamente à atividade da

figura 14, os usos feitos da LDI desse caso, conforme exporemos a seguir, parecem ir ao

encontro de práticas relacionadas aos multiletramentos, já que engloba a

multimodalidade e a multiculturalidade, além da abordagem de ensino dialógica.

O diferencial desse exemplo, retirado da aula do dia 20 de setembro de 2012 –

vídeo 2, minuto 6:30 ao minuto 10:00 - dentro do eixo “necessidade surgida durante a

aula”, é que o professor utilizava a internet, recursos multimodais como o google maps e

seu street view, para contextualizar o tópico sobre o qual estava conversando (trilhas

para andar de bicicleta perto de Sorocaba), e com isso incentivar os alunos a se

expressarem e praticarem a comunicação oral em língua inglesa, um dos objetivos da

aula.

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130

a) b)

c) d)

Figura 17. Uso do google maps e street view para aluno mostrar trilhas de bicicleta

Esta é uma atividade na qual notamos grande engajamento de um dos alunos

em especial: Eduardo, que, além de entender sobre trilhas e bicicletas, tópico que estava

sendo discutido, indicou para o professor um dos locais de que gostava. Com essa

indicação, o professor entrou no street view para analisar a indicação do aluno que estava

engajado e interessado na conversa. Além desse interesse e engajamento serem

características da fase 2 de uso da LDI pelo professor, também pude identificar um tipo

de interatividade dialógica, categoria aqui adaptada com base em Beauchamp e

Kennewell (2010), já que o aluno Eduardo tinha influência no rumo da aula e dos usos da

LDI. Ademais, Eduardo se mostrou bastante participativo ao explicar ao professor e aos

outros alunos dicas de lugares para trilhas.

[professor perguntava para o aluno onde ele poderia levar o amigo Fabiano para andar de bicicleta] (57) R: What else do they say? Alright (58) E: Campolim (59) R: ok, what else? You can go to campolim (60) E: Marginal (61) E: a Dom Gabriel é uma pista que liga…

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131

(62) R: I don’t remember much… I never paid too much attention to this road [entrando no street view] (63) E: Would you like to go to Estrada park? (64) F: No [risadas] (65) R: ow, come on Fabiano, look, you know... no cars, no horses, just you and the bike. (66) P: This is handball, no? (Transcrição de trecho do vídeo gravado da aula do dia 20 de setembro 2012 do minuto 27 ao minuto 32)

A forma como o professor lidou com essa atividade, não desprezando e

respeitando os saberes e curiosidades que o aluno Eduardo expôs sobre trilhas feitas

com bicicletas, não deixando de lado o objetivo da aula, prática oral em inglês, objetivo

esse que faz parte de todas as aulas de línguas de abordagem comunicativa, pode indicar

que Rafael tinha propriedade e consciência de como usar o recurso digital disponível para

empoderar o aluno no processo de ensino-aprendizagem. Ou seja, nesse caso, a

multimodalidade do google maps/street view apoiou tanto a construção do discurso de

Eduardo, como a compreensão da língua alvo por parte dos outros alunos.

Com base nos exemplos supracitados, representativos dos usos que o professor

fazia do google imagens e do google maps, posso concluir que apesar desses usos não

apresentarem grandes rupturas nas formas de ensinar e aprender de uma língua

adicional, e, portanto, sendo classificado como um uso que coloca o professor na fase 2

(fazendo coisas antigas de maneiras novas), a forma como o professor aqui focalizado

lida com as necessidades dos alunos e a importância que afere às pistas dadas pelos

discentes, ancoradas pela LDI, faz com que a prática de Rafael na utilização desses

recursos vá ao encontro da interatividade dialógica (BEAUCHAMP; KENNEWELL, 2010)

e da abordagem de ensino dialógica (ALEXANDER, 2010), que se utiliza do diálogo com

o repertório “fala de vida cotidiana”, para construção de conhecimentos que sejam

significativos para o contexto sócio-histórico dos discentes focalizados.

6.5 Na utilização de ferramenta de busca, sites diversos, inclusive de redes

sociais

O uso do google web está diretamente ligado ao uso de sites diversos, já que é

por meio da ferramenta de busca do google web que o professor tem acesso a eles. O

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132

uso do google web é feito quando uma necessidade surge em sala de aula, conforme o

eixo no qual essa prática se encontra (ver quadro 11 abaixo); porém, os sites diversos

podem, além de serem encontrados através da ferramenta google web, serem

previamente planejados conforme plano da aula ou tópico do livro a ser estudado. Já o

uso de redes sociais está relacionado a contextualização para prática oral.

Quadro 13. Usos da LDI relativos ao uso de google web e sites diversos

O primeiro exemplo é o do uso de sites diversos para “contextualização cultural”

dentro do eixo “cumprimento de atividade planejada”. Com base no tópico da aula

(Costumes de saudações e comportamentos pelo mundo), o professor programou um

site que considerava confiável47 para que os alunos pudessem ver e aprender alguns

aspectos da cultura de outros países. Conforme professor e alunos foram lendo juntos

na LDI a página do site, iam aprendendo sobre os costumes de cumprimentos em alguns

países.

Essa prática também é uma nova forma de fazer algo antigo (fase 2 de Betcher e

Lee (2009)), pois, ao invés do professor se limitar às informações que o livro didático traz,

Rafael preferiu entrar na rede e buscar informações em sites que ele acreditava serem

fidedignos para que os alunos tivessem acesso aos mais diversos tipos de cumprimentos

em diversas culturas.

47 The Wall Street Journal – Um jornal de referência norte americano.

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

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133

a) b)

c) d)

e) f) g)

Figura 18. Uso de sites diversos para exemplificar comprimentos em diversas culturas.

Neste caso, a interatividade que parece predominante é a “dialógica”, pois o

professor ainda tinha o controle da LDI e da atividade, porém, não era esperado que os

alunos tivessem respostas “corretas” ou pré-determinadas. Essa foi uma atividade de

aprendizado em que alunos e professor conversavam sobre o que estava sendo colocado

na LDI. O trecho do diálogo da atividade tem a intenção de mostrar como o diálogo pode

ser utilizado para construção de conhecimento (de acordo com o repertório “fala para

aprendizagem” de Alexander [2010]) sobre aspectos culturais de saudações.

[Professor faz perguntas após lerem informações sobre saudações apropriadas em vários países em um site diverso] (67) R: How many times do you kiss in Sorocaba [quando encontra alguém]? (68) F: Once (69) R: Just once? (70) F: Yeah (71) R: And when you visit your relatives? How many times do you kiss?

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134

(72) [pausa, aluno parece estar processando a informação] (73) F: Relatives? (74) R: Yeah, in Pernambuco? (75) F: Two (76) R: Did you hug them? (77) F: Yes, hug and kiss (78) R: They touch a lot, right? not like here… [Transcrição retirada de trecho do vídeo 3 da aula do dia 20 de setembro de 2012]

A pequena transcrição de parte da aula demonstra como o docente trouxe os

conceitos que estavam sendo aprendidos e discutidos [formas apropriadas de saudações

pelo mundo] em um site diverso sobre eventos globais para a vida dos alunos e a sala

de aula, fazendo referência não só a Sorocaba, cidade onde vivem, mas também a

realidades particulares do aluno Fabiano, que morava em Pernambuco. Essas ações são

consoantes com a “fala para aprendizagem” da abordagem de ensino dialógica de

Alexander (2008), que destaca que questões feitas aos discentes, que resgatem

entendimentos relacionados a suas próprias vidas, ajudam os alunos a construírem um

repertório de conhecimentos, ao invés de simplesmente receberem informações.

As quatro cenas abaixo, sobre o mesmo tópico da atividade acima (referente a

aula anterior, do dia 20 de setembro), foram retirados da aula de 25 de setembro de 2012

e fazem parte do vídeo 2 (minuto 14:45 ao minuto 17:15). A busca pelo site com costumes

brasileiros parece ter a intenção de contextualizar formas de comportamento que seriam

consideradas adequadas para o brasileiro. O objetivo de ensinar aos alunos sobre as

culturas do Brasil e de outros países estava atrelado ao tópico da lição48 que estava

sendo estudada no livro do aluno (Costumes de saudações e comportamentos pelo

mundo).

A diferença da atividade da Figura 19 (mais adiante) para a atividade da Figura

18 (supracitada) está na última cena com o uso do Microsoft Word® para composição de

matérias de estudo para os alunos. Rafael, nesse caso, copiou os links dos sites que

estavam sendo acessados para que os alunos pudessem ter esse material em seus e-

mails. Com isso, os aprendizes podiam acessar esse conteúdo a partir de qualquer

computador ligado à internet, seja em suas casas, em um café ou em qualquer outro

lugar. A construção desses materiais em conjunto (professor-alunos por meio da LDI),

48 Greetings and Small talk – Customs around the world (Saudações ou cumprimentos e conversas fiadas

– Costumes pelo mundo todo).

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135

muitas vezes em forma de hipertextos, faz com que os recursos dos alunos se ampliem.

Assim, o mundo da sala de aula transborda o espaço escolar para qualquer lugar com

acesso à internet, conforme também destacado por Xu e Monoley (2011). Tais autores

afirmam que a LDI, no contexto de ensino de línguas estrangeiras, permite ao professor

e aos alunos gravarem materiais digitalmente, advindos de variadas fontes, para

recortarem e colarem juntos, criando assim novos materiais que sejam contextualmente

relevantes aos alunos e às suas necessidades de aprendizagem (2011, p.308).

a) b)

c) d)

Figura 19. Uso de sites diversos para contextualização da fala sobre o tópico da aula.

De forma conclusiva, e assim como na seção 3.2.4 (google imagens e google

maps), posso afirmar que o uso do google web e sites diversos no contexto estudado

está ligado à interatividade dialógica (BEAUCHAMP; KENNEWELL, 2010) e à

abordagem de ensino dialógica (ALEXANDER, 2006) uma vez que o professor utiliza a

“fala para aprendizagem”, explorando o diálogo para ampliar as práticas comunicativas

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136

dos alunos e transbordando as paredes na sala de aula ao construir materiais com

hiperlinks, que são enviados para os e-mails dos aprendizes.

No próximo exemplo, Rafael utilizou a rede social facebook para

“contextualização visual ou gramatical para prática oral” a fim de que o aluno

desempenhasse uma tarefa (descrever seus amigos e familiares), proposta por ele

mesmo para a prática oral da língua alvo. As seis cenas abaixo referem-se a dois

momentos de uma mesma aula (16 de outubro de 2012), um do vídeo 5 e outro do vídeo

7.

a) b) c)

d) e) f)

Figura 20. Uso do Facebook para contextualização visual ou gramatical para prática oral.

Essa prática, o uso do facebook, era recorrente nas aulas do professor Rafael e

parecia já ter sido incorporada como ferramenta significativa para os alunos que se

vissem mais envolvidos e com maior controle do que estava sendo feito. Nesse caso,

observamos a “interatividade dialógica”, já que o aluno tinha maior grau de interferência

no exercício proposto, haja vista que a decisão sobre a atividade partiu do aluno, que

optou por usar o facebook enquanto ferramenta de ancoragem para sua participação

naquela tarefa.

Vejamos a transcrição de um trecho do vídeo a fim de visualizarmos práticas de

ensino dialógico (ver exemplo na linha 83 – destacada - quando o docente abre espaço

e tempo para que o discente possa pensar e refletir em seu próprio tempo) desse tipo de

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137

atividade.

[professor conversa com alunos sobre a atividade de falar sobre as fotos] (79) E: In my facebook.. um monte de gente coloca foto e marca você, né? Na foto né? Tem um monte de foto. Tem foto do judô [...] (80) R: É então né, porque na verdade pensando nessa coisa da elaboração de língua, porque tecnicamente falando, você conseguiria falar dessa fotos né Eduardo? (81) E: É (82) F: É a mesma coisa o Flávio com essas fotos aqui, você conseguiria falar das fotos né? Mas na verdade uma das coisas que faz diferença [professor continua falando sobre técnicas de aprendizagem] (83) E: This is [mostrando foto no facebook, longa pausa] members of the gym. And. Deixa eu ver… The photo [longa paula] the photo was in Avaré [longa pausa]. This… éh.. (84) R: porque que tá difícil (85) E: Estou tentando juntar as frases... This is jogos regionais do interior in Avaré SP. I fight the high category because the [longa paula]... the ... their category was machucado, lesionado… não sei [pausa] and I fight to Rio, éh [pausa] was very difficult. [Transcrição de trecho do vídeo 7 minuto 0 ao minuto 7:00]

Esse diálogo possui longas pausas. O aluno estava pensando e buscando

estratégias para conseguir fazer com que seu interlocutor pudesse entender o que ele

estava falando na língua inglesa, nesse caso, o professor, que pacientemente aguardava

o raciocínio do aluno Eduardo. Esse tipo de diálogo, no qual a maior parte do tempo o

turno se encontra com o aprendiz, é entendido por Alexander (2008) com um tipo de “fala

para aprendizagem”, conforme também foi observado no exemplo anterior.

Além disso, a multilinearidade (linguagem digital que permite que o indivíduo

exerça autoria), característica apontada nos trabalhos de Nakashima (2008) e García et.

al. (2011), também se encontra presente nos usos que o aluno fez da LDI na atividade

acima, já que o início da aula, durante a execução de uma atividade gramatical, o

professor foi interrompido com perguntas relativas a prática oral e descrição de fotos e

lugares, e ao perceber a necessidade do aprendiz e através da negociação com os outros

alunos, a atividade é interrompida e uma nova atividade, acima no facebook, é iniciada,

sendo que a primeira atividade, a do início da aula, só é retomada poucos minutos antes

do fim da aula.

Rafael parece utilizar na multinearidade de maneira não aleatória, conforme

excerto abaixo, em que constato que o professor entendia como o progresso dos

conteúdos e a forma multilinear de algumas partes de sua aula estavam presentes:

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138

“Nem sempre essa língua é o foco da aula, muitas vezes eles acabam desviando, vamos dizer assim, e eu acabo usando isso pra ensinar, ao invés de falar depois vocês vão aprender, eu acabo usando o momento que eles estão aí, porque eles querem falar aquilo... independente do nível que eles estejam” (Entrevista com Rafael, min 19:14 até 19:45 16/08/2013).

Essa fala do professor demonstra que Rafael parece ter consciência de que

precisaria focalizar aspectos do ensino de língua, ainda que permitisse aos alunos

alguma “dispersão”.

A partir dos exemplos citados nessa seção, posso concluir que o professor de

meu estudo tem práticas de uso do google web e sites diversos, inclusive redes sociais

classificadas na fase 2 de Betcher e Lee (2009) de incorporação da LDI. É interessante

notar que ainda que Rafael utilize redes sociais, tais como o facebook, na tentativa de

trazer o mundo de fora de sala de aula também para dentro da escola levando em conta

os interesses dos discentes, a principal diferença na atividade per se, ao descrever fotos

com o uso do facebook acima, está na interatividade dialógica e a abordagem de ensino

dialógica (ALEXANDER, 2006), que propõe maior participação, não só nos turnos de fala

como também nos rumos da aula. Esses exemplos demonstram que o processo de

incorporação da LDI no contexto focalizado pode ser muito mais complexo do que possa

parecer, pois além da análise das fases de incorporação, é necessária a análise de

questões ligadas a interatividade e a abordagem de ensino proposta.

6.6 Na utilização de dicionários online

Um recurso da web que é uma adaptação de práticas antigas é o uso do

dicionário online. O que coloca esse uso como na fase 2 (fazendo coisas antigas de

maneiras novas) de Betcher e Lee (2010).

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139

Quadro 14. Usos da LDI relativos ao uso do dicionário online

O dicionário online, além de proporcionar definições e/ou sinônimos, oferece a

pronúncia da palavra em forma de áudio. O aspecto multimodal (escrita + áudio +

desenho de símbolos fonéticos) do uso do dicionário online proporciona indicações de

novas possibilidades de trabalho com léxico no ensino de língua, tais como novas formas

de lidar com símbolos fonéticos, que geralmente são uma dificuldade para os aprendizes.

As cenas do uso do dicionário online para “verificação de significado e pronúncia”

dentro do eixo “necessidades surgidas durante a aula”, retirados da aula de 01 de

novembro de 2012 – vídeo 1 - minuto 22:00 ao minuto 23:00 – são, também, um exemplo

de uma prática já conhecida dentro do ensino de línguas, que é a verificação e

entendimento de um novo léxico, mas com a diferença da grande tela com visualização

em grupo, ao invés de um dicionário em formato de livro cuja a visualização é individual.

Além da escrita e visualização dos símbolos da pronúncia, é possível também ouvir a

palavra sem que os aprendizes tenham que necessariamente entender os símbolos

fonéticos da língua inglesa, o que se configura como uma modificação sutil na forma de

verificação de significados de palavras e aprendizagem de pronúncia, que fica mais ágil

para alunos e professores.

No tocante à interatividade, percebemos que, neste caso, o professor tinha

controle do que era visto, do que era repetido e do que era feito. Assim, e mesmo que a

necessidade partisse dos alunos, o professor fazia uso da “relação assimétrica de poder

na interatividade”, segundo Beauchamp e Kennewell (2010), já que o comando da

atividade como um todo foi do professor.

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

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140

a) b) c)

Figura 21. Uso do dicionário online para verificação de significado e pronúncia.

6.7 Na utilização da caneta digital

O exemplo selecionado com relação ao uso da caneta na LDI se refere aos usos

do quadro que são geralmente feitos no programa da lousa, o Promethean. Na presente

pesquisa, esse uso correspondeu a apenas um pouco mais de 3% dos usos do docente

no total e dentro dos dois eixos (cumprimento de atividade planejada e necessidade

surgida durante a aula).

Quadro 15. Usos da LDI relativos ao uso da caneta da LDI

Retirado da aula de 02 de outubro de 2012, esse é um típico exemplo de como o

uso da tecnologia não implica automaticamente grandes inovações. Nesse sentido,

apesar de Rafael ter interagido com a LDI por meio da caneta e na frente da sala de aula,

utilizando o programa da LDI, Promethean, é possível observar que a prática focalizada

Programa

DVD do livro Word

Imagens/

videos

selecionadas

Agenda

do

windows

Google

imagens

Google

maps/

street view

Google

webSites diversos Youtube Facebook

Dicionário

On-lineE-mail

uso da

caneta

Cumprimento de

atividades

planejadas

(guiadas pelo

tópico do livro

didático)

Leitura/

interpretação

e;ou audio;

correção da

tarefa;

anotações para

alunos; tabela

avaliação

context.*

gramatical/

visual para

Prática oral

Determinado

tema para

context.

cultural

context.

gramatical

para

prática

oral

context.

gramatical/

lexical para

Prática oral

enviar

anotações/

tarefa

Explicação

gramatical

com

desenho

Necessidades

surgidas em sala

de aula (context.

gramatical,

lexical ou

situacional)

visualização

escrita

Retomada de

aula anterior

context.

temporal/

visual

Context.

Lexical

context.

visual para

prática oral

Busca para

esclarecim

ento

context. lexical

ou gramatical/

Exemplificação

context.

gramatical

ou lexical

Context.

visual para

prática oral

Verificação

de

descrição/

pronúncia

resgatar

documento

/ vídeo

Explicação

gramatical

com

desenho

Projeção offline Projeção online

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141

é muito parecida com o uso das antigas lousas, seja com giz ou canetão, para explicação

de conteúdo gramatical.

a) b) c)

d) e)

Figura 22. Uso do software da LDI para explicação gramatical com desenho.

Ao analisar as cenas, é possível dizer que o professor interagiu fisicamente com

a LDI (interatividade física, para Moss (2007)). No entanto, dentro da escala de

interatividade de Beauchamp e Kennewell (2010), o professor desempenhou uma

“relação assimétrica de poder na interatividade”, já que o ritmo e a participação dos

alunos na aula eram controlados pelo professor que, muito provavelmente por uma opção

didática de ensino de tempos verbais, expôs a estrutura gramatical no quadro de maneira

muito similar à como era feito com os quadros (negros ou brancos) tradicionais. Ao olhar

para esse exemplo, é possível dizer que a “interatividade física” pode ter impacto de

mudança bastante tímido e talvez pouco relevante em práticas de ensino-aprendizagem

com o uso da LDI, o que não necessariamente implica um aspecto negativo da lousa,

mas traz indicação de como práticas antigas, neste caso a explanação gramatical de um

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142

tempo verbal, consideradas relevantes para aprendizagem por Rafael, vão sendo

incorporadas a novos artefatos digitais.

De forma conclusiva e com base nas análises feitas, posso inferir que, no

contexto focalizado, apesar da LDI e suas affordances facilitarem a preparação de aula

de Rafael, os avanços nas dinâmicas interacionais em sala de aula estão em boa parte

embasadas por metodologias construtivistas, autônomas e comunicativas de ensino de

língua que vão ao encontro de uma abordagem dialógica de ensino utilizadas pelo

docente, que tem na LDI e, em especial, na internet (sendo que a internet poderia ser

utilizada com um projetor regular) uma forma de ancoragem para atender demandas de

alunos surgidas durante a aula em tempo real.

Com relação às fases de Betcher e Lee, destaco a predominância da fase 2

(fazendo coisas antigas de maneiras novas). No que tange à escala de interatividade de

Beauchamp e Kennewell (2010) há a predominância da “interatividade dialógica”, ainda

que haja parcela considerável de exemplos da “relação assimétrica de poder na

interatividade”. E por sua vez, a “interatividade dialógica” está diretamente ligada à

abordagem dialógica de ensino de Alexander (2006) já que utiliza o diálogo em resposta

a propósitos e contextos educacionais variados, que agem como ferramentas poderosas

em direção à aprendizagem e construção de conhecimentos acerca da língua alvo de

maneiras mais participativas (ALEXANDER, 2010).

Posso também inferir que as práticas pedagógicas de Rafael se materializam a

partir do ecletismo pedagógico que a LDI proporciona com a convergência de linguagens

e acesso à internet, já que os recursos online estão intimamente ligados, conforme gráfico

3 da seção 3.2.2. Há um maior número de trocas comunicativas entre docente e

discentes, as quais estão ligadas à abordagem de ensino dialógica.

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143

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo do princípio de que não se encerram aqui as discussões acerca da

incorporação da LDI às práticas de ensino de inglês como língua adicional, faço como

encerramento algumas considerações e não conclusões definitivas e gerais. Assim,

problematizo os aspectos dos usos da LDI observados na pesquisa que apontam para

futuras investigações. Cumpre salientar que os resultados demonstrados de forma

alguma esgotam a complexidade do processo de ensino-aprendizagem com o uso da

LDI, tampouco exploram absolutamente todos os registros gerados.

Com relação aos objetivos gerais e específicos propostos, os usos recorrentes

da LDI pelo professor no Quadro 1 foram identificados e descritos, apontando assim os

principais eixos norteadores da aula: 1) Cumprimento de atividades planejadas –

sobretudo guiadas pelo livro didático e 2) Necessidades surgidas em sala de aula -

contextualização gramatical, lexical ou visual (sobretudo guiadas pelas necessidades dos

discentes). Quanto aos recursos utilizados na LDI, foram identificados: DVD do livro,

Microsoft Word®, agenda do Windows, google web, imagens, maps, street view, sites

diversos, facebook, dicionário online, e-mail, flipchart com o uso da caneta da LDI,

imagens previamente selecionadas e o youtube. Os propósitos pedagógicos, isto é, o

“para quê” ou “com qual finalidade” o professor utilizou cada recurso no contexto

estudado, também foram identificados e descritos.

Essa descrição detalhada de dados gerados através da observação aula a aula

permitiu a análise dos modos de incorporação da tecnologia pelo professor focalizado,

verificando implicações para mudanças nas dinâmicas de sala de aula e analisando os

tipos de interatividade à luz da bibliografia referenciada no capítulo de discussão teórica

(Capítulo 2), em especial as fases de incorporação da LDI (BECTHER; LEE, 2009), a

escala de interatividade adaptada por mim no capítulo teórico (2) de Beauchamp e

Kennewell (2010), e os repertórios de fala da abordagem dialógica de Alexander (2006).

Nas análises, pude constatar que Rafael, enquanto agente social que interpreta

a inovação de diferentes maneiras (SIGNORINI, 2007), utiliza a LDI de maneira

contextualizada localmente, levando em conta o entorno dos discentes, como quando,

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144

por exemplo, fala sobre locais perto da cidade onde moram para andar de bicicleta ou

fazer visitas aos fins de semana (Seções 3.2.3 e 3.2.4). Por meio da LDI e de seus

conhecimentos sobre as TIC, o professor focalizado no presente estudo explora a mídia

ao invés de apenas surfá-la, envolvendo-se em um processo ativo, interativo e social

(DALEY, 2010). Isso faz com que a aula integre a incorporação da LDI, misturando

práticas antigas e novas em um processo de transição no qual nós professores nos

encontramos (SIGNORINI, 2012). Além disso, também constrói materiais com os

discentes, como quando inclui links e anotações da aula em um arquivo em .doc que é

enviado por e-mail aos discentes, e utiliza algumas das affordances da LDI apontadas

pela literatura, tais como a multimodalidade, a re-usabilidade e a visibilidade

(NAKASHIMA, 2010; MCGRENERE & HO, 2000), como visto em diversos dos exemplos

na segunda parte do capítulo três.

No entanto, e ainda que tenha grande familiaridade com as TICs, houve apenas

um único exemplo, isolado, do uso da LDI de forma inovadora utilizando a “interatividade

sinergética” (BEAUCHAMP & KENNEWEEL, 2010), e sendo classificado como na fase 3

(fazendo coisas novas de maneiras novas) de Betcher e Lee (2009) (ver terceiro exemplo

da seção 3.2.1 no uso do Microsoft word). Todos os outros usos são classificados na fase

1 ou 2, com predominância da fase 2 (fazendo coisas antigas de maneiras novas).

Ademais, pude perceber que as mudanças ocorridas nas dinâmicas de sala de

aula, como quando pistas de interesses dos discentes são seguidas, estão muito mais

atreladas a interatividade e abordagem de ensino dialógica do que a fase de incorporação

da tecnologia na qual o docente se encontra.

No contexto estudado houve predominância da “interatividade dialógica”

(BEAUCHAMP & KENNEWELL, 2010), geralmente atrelada à abordagem dialógica de

ensino de Alexander (2006) com a utilização, em especial, dos repertórios “fala de vida

cotidiana” e “fala para aprendizagem” em maiores quantidades. A escala de interatividade

adaptada por mim de Beauchamp e Kennewell (2010) está, também, diretamente ligada

à não utilização da abordagem dialógica, já que quando a “relação assimétrica de poder

na interatividade” era identificada, não havia utilização de nenhum dos repertórios de

Alexander (2006) conforme quadro 16 abaixo.

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145

Quadro 16. Resumo dos resultados encontrados no capítulo de análises (3) conforme fases, escala de interatividade e repertórios de fala.

RecursoOrdem dos exemplos

conforme capítulo 3

Fases de Incorporação da tecnologia (LDI) - 1:

Fazendo coisas antigas de maneiras antigas;

2: Fazendo coisas antigas de maneiras novas;

3: Fazendo coisas novas de maneiras novas.

Interatividade - 1:Interatividade nula;

2:Relação assimétrica de poder na

interatividade; 3:Interatividade

dialógica; 4:Interatividade Sinergética.

Repertórios da Abordagem Dialógica - 1:Falas

de Vida cotidiana; 2:Fala para o ensino; 3:Fala

para aprendizagem; 4:Fala para organização de

sala de aula

Exemplo 1 Fase 1 Interatividade dialógica Falas de vida cotidiana

Exemplo 2 Fase 2 Interatividade dialógica Fala para o ensino; Fala para aprendizagem

Exemplo 3 Fase 3 Interatividade Sinergética Fala para organização de sala de aula

Exemplo 1 Fase 1Relação assimétrica de poder na

interatividade-

Exemplo 2 Fase 2Relação assimétrica de poder na

interatividade-

Exemplo 1 Fase 2 Interatividade dialógica Fala de vida cotidiana

Exemplo 2 Fase 2 Interatividade dialógica Fala de vida cotidiana

Exemplo 1 Fase 2 Interatividade dialógica Fala para aprendizagem

Exemplo 2 Fase 2 Interatividade dialógica Fala de vida cotidiana

Exemplo 1 Fase 2 Interatividade dialógica Fala para aprendizagem

Exemplo 2 Fase 2 Interatividade dialógica Fala para aprendizagem

Dicionários online Exemplo 1 Fase 2Relação assimétrica de poder na

interatividade-

Caneta digital Exemplo 1 Fase 1Relação assimétrica de poder na

interatividade-

Google imagens e

Google maps

(street view)Ferramenta de

busca, sites

diversos e redes

sociais

Microsoft Word®,

agenda do

Windows e e-mail

DVD do livro

didático

Imagens pré-

selecionadas e

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146

Assim, é possível que a melhor abordagem para se avaliar as competências e

habilidades incorporadas pelo professor nesse processo de transição seja por meio de

um modelo complexo e não hierarquizado (classificação em fases) dessas mesmas

características propostas por Betcher e Lee (2009). Um esboço desse possível modelo,

conforme representado na figura 24, a seguir, foi baseado no modelo fractal de aquisição

de língua de Paiva (2005). Nesse modelo, as habilidades estariam em sobreposição, ou

seja, os usos se intercalam e podem ocorrer em momentos distintos. Além das

características propostas por Betcher e Lee (2009), também adicionei a essa

representação usos e características observadas nas aulas focalizadas neste trabalho e

que julgo pertinentes ao uso da LDI.

Nesse modelo, as características incorporadas pelo professor ocorreriam

diferentemente, de acordo com fatores externos, como infraestrutura e conhecimentos

prévios do professor, além das abordagens de ensino utilizadas e interatividade em sala

de aula. Esse modelo, portanto, é proposto com base nas características de Betcher e

Lee (2009), bem como em outras características encontradas nessa pesquisa. Tal

modelo prevê que, apesar de algumas dessas características geralmente virem antes de

outras, a ordem ou hierarquia não necessariamente existe e novos usos podem ser

incorporados, eliminados ou mudados a qualquer momento e conforme o modelo evolui

com a aprendizagem do docente.

Minha intenção aqui, ao expor esse esboço, é o de estimular pesquisas futuras

que possam aprofundar a investigação e refazê-lo a partir de estudos com uma amostra

maior e, talvez, com a diversidade regional, que foram limitações desse meu trabalho.

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147

Figura 23. Modelo complexo do uso da LDI pelo professor. Adaptação feita do modelo fractal de Paiva

(2005, p. 9) proposto para aquisição de línguas

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ANEXO 1. QUESTIONÁRIO E TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Instruções para o preenchimento:

Não é necessário se identificar. As respostas são anônimas e as informações serão utilizadas somente para fins de pesquisa para que possamos conhecer melhor os alunos;

Procure fornecer as informações solicitadas e indique-as marcando um “x” ou preenchendo os espaços no questionário. Evite deixar as respostas em branco.

Sua participação é muito importante! Obrigada!

1 - Informações Pessoais

1. Idade: ________anos

2. Sexo: 1[ ] Masculino 2[ ] Feminino

3. Estado civil: 1[ ] solteiro(a) 2[ ] casado(a) 3[ ] outro

4. Escolaridade:

Escola pública

1[ ] fundamental completo/médio incompleto

2[ ] médio completo/superior incompleto

3[ ] superior completo

4[ ] pós-graduado

Escola particular

5[ ] fundamental completo/médio incompleto

6[ ] médio completo/superior incompleto

7[ ] superior completo

8[ ] pós-graduado

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2- SOBRE A ESCOLA DE INGLÊS

5. Em que nível (iniciante, intermediário, avançado) está? Qual o livro de inglês que está estudando atualmente?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

6. Você já estudou inglês antes? Por quanto tempo? Onde?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

7. Você já conhecia a lousa interativa em aulas de inglês? Onde?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

8. Quais são seus objetivos ao estudar inglês nesta escola?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DE PARTICIPANTE DE

PESQUISA

Eu,

_____________________________________________________________________,

RG_________________, permito que se utilize meus relatos e produções de sequências

didáticas para divulgação, produções acadêmicas, podendo ser reproduzidos em via

impressa (materiais didáticos e registros de campo), oral (gravação em áudio) ou visual

(filmagem e fotografia). Tenho a garantia de que esses dados serão expostos mantendo-

se sigilo absoluto de minha identidade. Para tanto, preencho os dados abaixo e, junto

com a professora-pesquisadora Gabriela Claudino Grande, RG 40.678.973-3 e RA

133630, assino concordando com o exposto acima.

Telefone: (_____)___________________________ e-mail:

____________________________________.

Sorocaba, ______de ____________________ de 2012.

__________________________________

__________________________________

Assinatura do colaborador Assinatura do Responsável

_____________________________________________

Assinatura da professora-pesquisadora

Muito obrigado, sua participação foi muito importante!!!

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ANEXO 2. ENTREVISTA COM O PROFESSOR

Transcrição da entrevista semi-estruturada feito com o professor Rafael

LEGENDA:

P = Pesquisador

R = Professor Rafael

A entrevista foi conduzida na escola do professor em uma das salas de aula que

possui a LDI no período da tarde no dia 16 de agosto de 2013. Sorocaba – SP

P: Como você conheceu a LDI?

R: Eu já tinha ouvido falar na Cultura [inglesa]... que o pessoal falava lá.

P: Mas não tinha lá?

R: Não, quando eu saí ainda não tinha. Aí quando estava abrindo a [minha] escola, uma

amiga minha falou que a gente precisava conhecer essa lousa, foi por isso que eu [a]

conheci...

P: Tá...

R: Porque na verdade é assim, ela insistiu bastante...

P: Sua amiga?

R: É, e eu não estava muito convencido de que ela seria assim tudo isso...

P: Mas então, por que você achou que ela seria interessante para escola? O que te

convenceu?

R: Essa é a segunda [pergunta] já, né? Na verdade a hora que eu vi, eu pensei foi no

impacto que isso causaria nos alunos e não nos recursos didáticos. Porque ela parece

com a tela do computador, né? E aí eu fiquei imaginando que tudo que eu faço com o

papel, eu poderia fazer na lousa, né?

P: Aham... E você continua achando isso?

R: Não, não... tem coisa que faço no papel que ainda é mais interativo do que a lousa.

É... as atividades... Algumas atividade com os cartões, alguns jogos que eu faço, eu acho

ainda mais interativo... a lousa chama mais atenção por ser novo, né?

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P: Mas você acha que ela trouxe vantagens pra aula?

R: Ah... não.. sim... Mas assim, tipo, também tem aquela coisa, eu acho que talvez só o

projetor resolvesse assim uma boa parte das necessidades que eu tenho hoje, né? Então

assim, ela não é um fator assim: “ah se eu não tivesse, a minha aula seria completamente

diferente”

P: Tá, mas e como você ... é parecido com o que você respondeu... Mas como você avalia

a Lousa dentro de sala de aula. Quais são as vantagens e quais são as desvantagens?

R: Como professor?

P: É. Não como dono, como professor. Mas como dono também.

R: A lousa... [longa pausa] Deixa eu ver, como eu avalio a LDI dento da sala de aula.

Assim, ela não tem muitas vantagens assim, eu olhando agora pra ela ligada, ela funciona

mais como uma moldura para o projetor do que a lousa em si, né? São poucos os

momentos em que eu pego a caneta e vou lá e faço alguma coisa. Assim, seria

interessante se tivesse assim alguns softwares que a gente pudesse fazer os alunos

usarem... Mas aí tecnicamente falando, eu acho que seria mais vantagem dar um tablet

para um par de alunos, conectar com a lousa, né? Então, e aí fazer com que eles

trabalhassem no tablet e usasse a lousa como algo convergente assim... então... e... e

assim desvantagens tecnicamente não tem, mas eu acho que dá pra ... com a internet e

o projetor dá pra, na verdade, fazer quase tudo que eu faço, que é navegar na internet,

procurar informação, mostrar para o aluno como fazer pesquisa, entrar no youtube,

mostrar assim, muita coisa que eles fazem na própria tela do computador, né? Então... e

pra fazer isso, tecnicamente o investimento na LDI é muito algo... na relação de custo e

benefício... mas ela causa um impacto..

P: Do ponto de vista empreendedor?

R: Então... e os alunos... eles não têm essa percepção do que acontece... Então pra eles

você está usando a lousa, né? Mais ou menos isso.

P: Tá. Então, e daí eu listei alguns indicadores didático-pedagógicos. Esses indicadores

eu tirei da dissertação da Nakashima que fez uma dissertação sobre a LDI, lá na

educação na Unicamp, e daí ela pegou esses indicadores que ela correlacionou com a

lousa, e daí eu queria assim que você me falasse se eles são possíveis e utilizados

através da lousa na aula, então por exemplo: a Convergência de linguagens - Este

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indicador aponta para a possibilidade de elaborar práticas pedagógicas, contendo

estímulos visuais e sonoros, imagens fixas e em movimento, textos, sons, música,

gráficos, simulações, entre outros. Assim, atividades que estimulem tanto a capacidade

linguística do aluno (leitura, interpretação e escrita de textos) como as capacidades

musical, sinestésica, espacial e visual...

Você acha que esse indicador é possível, que a lousa possibilita... e você utiliza?

R: É possível, assim... sim.. esses estímulos visuais, sonoros, imagens, texto, som, tudo

isso faz parte da aula.. faz parte das atividades.. Por exemplo quando... hoje mesmo, um

aluno traduziu uma música, ele pediu pra eu dar uma olhada, daí a gente foi num site

dicionário, ouvimos a pronúncia, né? assim, tá? Assim, sei lá, a gente usa muito o google

maps, então sei lá, tá tudo lá, tudo isso faz parte da aula. A questão na verdade é assim,

até que ponto a lousa interativa interfere nisso, porque eu não precisaria da lousa

interativa para fazer isso, só o projetor, né? Tá? Faria diferença se a gente pudesse

mudar alguma coisa ali na lousa. Eu vejo a lousa como se ela fosse uma tela de

computador e não como se ela fosse algo tão interativo assim...

P: Aham, é ...a interatividade está na internet né?

R: É... e como a gente faz uso dela, né?

P: Tá. O segundo indicador é a qualidade das informações e dos conteúdos. A qualidade

das informações e dos conteúdos apresentados na lousa digital deve ficar evidente na

seleção dos elementos visuais, utilização dos recursos disponibilizados pelos quadros

interativos, constante atualização e revisão, clareza na apresentação e organização da

prática pedagógica. Nesse caso, entende-se que a informação é qualitativa quando é

necessária e útil para o alcance dos objetivos e metas tanto dos professores como dos

alunos.

R: É, na verdade é assim, como a gente usa a internet pra fazer pesquisa, vamos dizer

assim. Tanto para procurar significados, contextos, recontextualizar a fala de um aluno,

essa qualidade está presente o tempo todo eu acho. Porque ela tem significado para o

aluno, não é uma coisa escolhida assim ao léu.

P: Mas essa escolha é feita por você?

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R: Uhmm... sim, acho que a grande maioria das vezes... porque eu vou buscar dentro do

repertório que eu tenho o que é que ajuda o aluno a cumprir a dúvida dele ou ilustra pra

que ele chegue a conclusão.

P: Mas você acha que dentro desse seu repertório... sei lá... assim... se a gente pensa

no letramento digital... você acha que outro professor conseguiria fazer o que você faz?

R: Ah não é uma coisa...sei lá.. é uma coisa que eu faço, como outro professor vai fazer,

vai fazer de um jeito diferente.. sei lá pode ser que chegue no mesmo lugar por caminhos

diferentes. Pode ser que ele chegue em respostas que eu não tenha, ou que eu chegue

onde ele não consegue chegar.. então acho que não tem isso de.. sabe assim? porque

cada um vai indo pelos caminhos que começa, então.. e assim, na verdade assim fazendo

esse percurso com os alunos, você ensina também os alunos a encontrar o ele que

precisa.

P: Porque eu entendo nesse indicador que na verdade você traria isso pronto. É um

indicador que óh... “deve ficar evidente na seleção dos elementos visuais”, é como se o

professor fizesse essa seleção antes...

R: É mas na verdade muitas dessas seleção é feita na hora. Tanto que assim, tem

momentos que assim, sei lá... acaba aparecendo imagens pornôs, por exemplo,

dependendo do que você digita no google images...

P: É... eu já vi.

R: e você tem que trabalhar com isso, não tem o que fazer, né? Mas como o computador

vai ficando mais esperto, a quantidade de... assim, o tipo de imagem que vai aparecendo

nesse computador que eu uso hoje, ele vai mais assim, ao encontro do que eu preciso,

mas assim, isso não quer dizer que vez por outra não apareça. Mas faz parte, né?

P: É.. de estar na rede...

R: É, a gente não precisa tirá-los, né?

P: O próximo indicador é Conectividade. A conectividade está relacionada ao

estabelecimento de redes comunicativas, rapidez e exploração dos recursos da internet,

que permitem múltiplos níveis de informação, variando desde o básico ao avançado. A

conectividade permite que o acesso, a criação e a distribuição da informação sejam

realizados tanto pelo professor como pelo aluno. Este indicador também está vinculado

à flexibilidade/multilinearidade, tendo em vista a utilização dos hipertextos que permitem

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a construção de diferentes itinerários digitais, segundo os interesses e possibilidades dos

sujeitos.

R: E?

P: Você acha que isso está presente na sua aula?

R: Processo de criação.. distribuição.. Não.. tá presente, que nem... o exemplo que eu

acabei de dar, essa coisa do aluno ter ido procurar a música, traduzido, assim, eu não

pedi pra ele fazer isso. Foi ele que foi e fez, um dos comentários que ele fez hoje na aula

foi que assim, era uma letra de música bobinha, mas assim, ele conseguia entender o

que a música dizia, aí ele contrastou o que ele fez com a tradução que apareceu no site

que ele encontrou a música. A questão foi exatamente em cima das dúvidas que ele tinha,

porque ele achava que poderia ser traduzido de um outro jeito, ele postou isso na wiki,

que é a nossa plataforma que a gente compartilha, então ontem à noite eu recebi um e-

mail dizendo a mudança que ele tinha feito na wiki. E eu acho que tá um pouco de tudo

isso aí. Ele tá acessando, ele tá criando, tem informação, é o aluno fazendo, o fato dele

fazer é porque ele se sente a vontade, né? Porque se ele não se sentisse, ele não faria.

Ele tá trazendo dúvidas, que tá fora do livro didático... e tem assim.. sei lá... acho que

tudo isso faz parte....

P: da sua aula...

R: É... e do jeito dos alunos de aprender, né?

P: Dos alunos ou dos seus alunos?

R: É, não pensando assim, porque tudo isso na verdade é construído... porque eles não

vem esperando ter isso que eu faço, eles vão construindo a prática deles, e muito dessa

prática é construída baseado no que é feito em sala de aula. Porque eu entro no site, eu

clico, tem site que dá certo, tem site que não dá, né? Eu do os “cut and paste” e coloco

no wiki e daí gente vai mexendo lá. Acho que faz parte das práticas dentro da sala de

aula e isso é construído.

P: Acho que já entra no próximo indicador que é Flexibilidade/multilinearidade. Em que a

informação digitalizada facilita o processo de atualização, edição e personalização do

desenvolvimento de materiais digitais, podendo atender, mais eficazmente, os alunos

com diferentes estilos de aprendizagem. Tais indicadores concebem a informação

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organizada em diversos planos, permitindo que o sujeito possa seguir de um determinado

ponto para outro de forma não-linear.

R: É, isso na verdade já está acontecendo dentro das wikis. Porque os alunos estão

fazendo isso, eles tão montando os próprios glossários, tão colocando os hiperlinks...

P: Mas você acha que isso já está acontecendo na aula?

R: Uhm... ás vezes acontece nas aulas, porque as vezes eles falam, coloca esse link lá.

E esse ponto da forma não linear. Uma aluna outro dia comentou, porque ela descobriu

como fazer os links dentro da própria wiki, e ela achou isso um máximo porque ela não

precisava sair da página pra abrir um outro, era só clicar e pra ela aquilo tinha sido a

descoberta da américa. E eles estão assim constantemente mexendo. E aí assim,

algumas páginas ficam meio que abandonadas, mas eles estão lá.

P: Tem a interatividade. A interatividade é um processo humano de trocas comunicativas

significativas entre pessoas, facilitado pelos dispositivos digitais de comunicação.

R: Eu acho que isso acontece o tempo todo, porque assim, eu vou o tempo todo, as

escolhas que vão sendo feitas ao longo da aula é baseada no que o aluno tá falando, é

baseada no que o aluno fala e no meu repertório. Então assim, essas trocas

comunicativas significativas entre pessoas é o que acontece o tempo todo, né? Seja

assim, pensando assim num conteúdo que está sendo discutido, ou na linguagem que o

aluno precisa pra comunicar aquela ideia, porque nem sempre essa língua, ela é o que...

é o foco da aula, muitas vezes eles acabam desviando, vai, vamos dizer assim, e eu

acabo usando isso pra ensinar, ao invés de falar depois vocês vão aprender, eu acabo

usando o momento que eles estão ali, porque eles querem falar aquilo, então precisa

aprender a falar aquilo, independente do nível ou livro que eles estejam.

P: Então com base nisso que você falou, que você usa o que os alunos falam pra dar sua

aula. Você diria que sua aula tem um molde? Tem uma estrutura mais ou menos que

você segue toda aula? E se tem, qual é essa estrutura?

R: Tem porque ela geralmente começa com feedback da lição de casa. Assim, eu vou

trabalhando os erros que os alunos fizeram ou é alguma coisa que os alunos.. que

aconteceu com eles. Assim, eu tenho alguns objetivos estipulados na cabeça. Que assim,

é baseado nas páginas dos livros sem tá fixo, sem tá engessado e daí a gente vai assim,

vamos supor, se eu tenho que falar de algum tema, a gente entra num site, sei lá... ás

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vezes é um site de notícia, ás vezes é um site especializado, mas assim e por aí eu vou

tentando fazer com que eles usem a língua. Mas ás vezes eles falam assim: “entra no

site tal” e aí eu entro. Então assim, ao mesmo tempo que não dá pra você programar um

roteiro fixo.

P: Aham... tem uma estrutura...

R: É, ela não tá completamente solta. Mas assim tudo gira em torno da necessidade do

aluno em se comunicar, independente do livro, vamos dizer assim, não é o livro que diz.

O livro só serve de guia para os temas, mas nada.

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ANEXO 3. ANOTAÇÕES DE CAMPO UTILIZADAS NAS ANÁLISES

02 de outubro de 2012

n. de alunos: 3 E/F/P/B

Warm up

A aula é começada em português para esclarecer dúvidas quanto ao DVD do livro, pois

o notebook do aluno E não estava funcionando.

O professor então, como é de praxe passa a fazer perguntas sobre o fim de semana dos

alunos em inglês. Com base nas respostas dos alunos o professor vai ao word para

“remodelar” algumas falas.

É interessante notar como mesmo com longos períodos de silêncio o professor espera

que o aluno encontre a resposta, e quando isso não ocorre, espera-se, como é de

costume, que algum colega o ajude. Como o aluno Fabiano que acaba ajudando seu

colega de sala e expressar o que ele queria dizer na língua alvo, o inglês.

Uma das alunas chega atrasada, o que atrasa um pouco a aula, a aluna B.

Atividade 1

De maneira oral o professor exemplifica o que ele pretende com a atividade seguinte.

Distribui papéis de trabalho em dupla para os alunos e faz várias perguntas (significativas)

com o objetivo de modelar a atividade seguinte.

Após isso, o professor segue para o programa promethean activstadio Flipchart que é

uma espécie de paint ou flipchart para ensinar, com vários recursos, entretanto nada

sofisticado. O professor utiliza esse programa para desenhos livres (o que não é possível

no word). Para exemplificar os usos do present perfect

Atividade 2

O professor após explicar várias outras estruturas no word, ele vai ao google maps para

fazer a atividade meio que em conjunto. Ao fazer as perguntas o professor vai

demonstrando as estruturas bem como os locais dos quais os alunos estão falando no

google maps. Utilizando não só a visualização em mapa, mas como também por satélite.

P – me parece que a aluna P consegue reter um pouco mais do que nas outras aulas,

talvez o couching do professor esteja funcionando ou ainda esteja mais concentrada hoje.

Atividade 3

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Após essa preparação o professor da 15 minutos para que os alunos façam a atividade

em dupla. A partir da atividade, o professor pede que cada aluno reporte o que aprendeu

de seu colega de sala.

A partir disso o professor volta ao ponto da aula, que neste caso é o present perfect.

Atividade 4

O professor reforça mais alguns pontos através do word e abrindo espaço para

explicações em português para que fique mais claro.

Após isso o professor passa a tarefa e encerra a aula.