FUTEBOL E CIDADANIA: UM ESTUDO CRÍTICO SOBRE UM PROJETO ... · Aos ex-companheiros da Secretaria...
-
Upload
nguyencong -
Category
Documents
-
view
213 -
download
0
Transcript of FUTEBOL E CIDADANIA: UM ESTUDO CRÍTICO SOBRE UM PROJETO ... · Aos ex-companheiros da Secretaria...
JOSÉ DE BARROS FREITAS
FUTEBOL E CIDADANIA: UM ESTUDO CRÍTICO SOBRE UM PROJETO ESPORTIVO
(RELATO DE EXPERIÊNCIA)
São Paulo
2007
JOSÉ DE BARROS FREITAS
FUTEBOL E CIDADANIA: UM ESTUDO CRÍTICO SOBRE UM PROJETO ESPORTIVO
(RELATO DE EXPERIÊNCIA)
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Profº. Ms. Antônio Carlos Vaz
São Paulo
2007
FREITAS, José de Barros
Futebol e cidadania: um estudo crítico sobre um projeto esportivo. São Paulo, 2007.
46 p.
Relato de Experiência (Especialização) – Universidade de Brasília.
Centro de Ensino a Distância, 2007.
1. Cidadania, 2. Educação Física, 3. Esporte, 4. Projeto Social, 5.
Futebol.
JOSÉ DE BARROS FREITAS
FUTEBOL E CIDADANIA: UM ESTUDO CRÍTICO SOBRE UM PROJETO ESPORTIVO
(RELATO DE EXPERIÊNCIA)
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:
Presidente: Professor Mestre ANTONIO CARLOS VAZ
Faculdade Brasília de São Paulo
Membro: Professor Ms. Fábio Cardias
São Paulo, 16 de outubro de 2007.
Dedico este trabalho Ao meu Senhor Jesus Cristo, fonte de vida, a meus pais Manoel Gomes (in memorian) e Luiza Maria, meus filhos Lucas Araújo e Mateus Araújo, minha esposa Edjane Cordeiro a meu irmão Alcides Barros e meu sobrinho Felipe, toda minha família e meus amigos.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos aqueles que, direta ou indiretamente contribuíram
para a elaboração desta monografia e de modo especial à professora
Ieda, ao professor orientador Antonio Carlos Vaz que teve muita paciência
para comigo,à professora e amiga Ana Paula que muito me incentivou.
Aos meus amigos Alex, Lucas, Doni, Edinho, Gilberto, Leudo, Naldo,
Mila, Marcio, Sergio, Ronaldo, Ricardo e Téo.
Ao meu ex-diretor e amigo Vanderlino Cabrini.
Aos amigos da faculdade de Educação Física na Universidade de
Santo Amaro. Aos professores da Universidade Santo Amaro.
Ao professor Paulo Alvarenga e equipe.
A coordenadora Lucila que no momento de mais dificuldade me
incentivou.
Aos ex-companheiros da Secretaria Municipal de Esportes, do Clube
Raul Tabajara, Parceiros do Futuro e Escola da Família, Mais Esporte no
segundo Tempo no Centro Olímpico e Centro Educacional Unificado.
A todos os Técnicos de Educação Física e amigos do CEU Vila
Atlântica. Daniel, Sandro, Carla, Alexandre, Mari, Luciana, Tiago e Leônidas
e Ana.
Agradeço à principal ferramenta utilizada: a bola de futebol.
Ao Ministério dos Esportes pela oportunidade de participar de um
curso de especialização à distância.
EPÍGRAFE
“Um dos mais elevados deveres humanos é o dever do encorajamento... É fácil rir dos ideais dos homens; é fácil despejar água fria no seu entusiasmo; é fácil desencorajar os outros. O
mundo está cheio de desencorajadores. Temos o dever de encorajar-nos uns aos outros”.
“Muitas vezes uma palavra de reconhecimento, ou de agradecimento, ou de apreço, ou de ânimo
tem mantido um homem em pé.”
Willian Barclay
RESUMO
O trabalho deste TCC, foi o relato de minha experiência de um trabalho que
desenvolvi com a comunidade de Cidade Júlia, Zona Sul de São Paulo, no
programa Escola da Família aos sábados e domingos com o público jovem e adulto
especificamente na Escola Padre Tiago Alberione, projeto de caráter experimental
com comunidade local.
Palavras-chaves: Esporte, Futebol, Educação Física, Projeto Social.
SUMÁRIO
CONDIÇÕES PRELIMINARES..............................................................10
INTRODUÇÃO...................................................................................12
O FUTSAL NA ESCOLA PADRE TIAGO ALBERIONE...............................16
O UNIVERSO FUTEBOLÍSTICO EM CIDADE JÚLIA................................19
A CIDADANIA PRÓPRIAMENTE DITA..................................................25
A RAZÃO DO CAMPEONATO..............................................................29
CONCLUSÃO?...................................................................................31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................34
ANEXOS...........................................................................................35
CONDIÇÕES PRELIMINARES
Quando garoto tinha como lazer, fazer campeonato de jogo de botão, levar
meus amigos mais novos para treinar e dar exercícios físicos, brincava de ser
treinador de futebol e cheguei a ser até ser ‘diretor’ do Canarinho, time situado no
bairro de Vila Clara, e que desenvolvia um trabalho, para mim importante na
época, porém muito perigoso, pois saíamos para jogar e alguns companheiros de
equipe não tinham dinheiro para pagar passagem, desciam por trás do ônibus;
para matar a fome, pegavam leite na porta das padarias antes que elas abrissem e
comiam com pão seco, chamado de "marroco"; e ainda havia alguns que faziam
uso de drogas.
Mas o que mais me impressionava era a violência, time da casa não aceita
perder, testemunhei torcedor com facão correndo para cima de árbitro, o que
sugere que o esporte por si só não educa.
Concomitantemente jogava na Escola de Futebol do parque da Aclimação,
que era totalmente diferente, tinha diretor, ótimos professores, estagiários,
secretaria, cozinheira e até massagista.
Comecei a gostar de política ainda criança, quando fui enganado pelo então
prefeito Paulo Maluf, que prometera canalizar o córrego que tem até hoje atrás de
minha casa, como não cumpriu fiquei barbarizado e me perguntava: como pode
um prefeito mentir? Daqui para frente lutarei para resolver esta situação. Fui
diretor do Centro de Convivência Popular no bairro de Vila Clara, na época era
gestão da prefeita Luiza Erundina, que tinha como característica, trazer seus
administradores regionais para nos ouvir. Esse fato me fez observar como
trabalhar com respeito e verdade. Em um encontro que tivemos com ela,
verificamos que não haveria possibilidade de canalizar o córrego do Cordeiro por
completo, porém nos daria materiais para fazer por meio do sistema de mutirão.
Foi a primeira vez que me senti de fato como cidadão.
Casei novo, com 22 anos, e passei a dedicar-me à minha família e ao
comércio que vendia produtos de mercearia e bebidas alcoólicas em dose,
chamado "Casa do norte", no qual melhorei transformando-a em uma espécie de
mini-mercado.
Em 1995, fiz um ano e meio de Teologia e o a maior alegria na escola,
como na igreja, era participar de ações de solidariedade para com o próximo.
O destino novamente mudou de rumo, no ano de 1997 o comércio entrou
em falência, sem dinheiro e sem rumo, recomecei, só que agora em busca da
realização do antigo sonho, ser um professor de Educação Física. No ano seguinte
me matriculei na Universidade Santo Amaro, no qual ganhei apelido de Mirandinha
por ter uma pequena semelhança com ex-jogador Corinthiano.
Tive o privilégio de estagiar na Secretaria Municipal de Esportes, auxiliando
o ex-jogador do Palmeiras, Tarcísio, e seu auxiliar Alex, o qual mais tarde veio a
ser Assistente Técnico Pedagógico do Programa Parceiros do Futuro, e me deu
uma oportunidade para trabalhar. Lembro-me de sua frase:
- Oh Mirandinha, é do seu perfil que eu preciso!
Perfil de trabalhar com o público, almejando o desenvolvimento humano e
acreditando num mundo melhor, mais justo onde as pessoas possam ser tratadas
com igualdade de direito.
INTRODUÇÃO Ao assistir aos telejornais no cotidiano, é fácil verificar o quanto o cidadão
reclama de diversas situações inadequadas para um bom convívio humano, que
vão desde a falta de transporte, de moradia, de saúde, de saneamento básico, de
segurança, de educação de qualidade e de lazer, entre outros.
Temos dificuldade em reivindicar, será porque somos filhos e netos da
ditadura e nos inculcaram que pleitear é um ato de rebeldia? Ou será que falar em
cidadania é um ato de caretice para os jovens? Devemos cruzar os braços e dizer
que os políticos são desinteressados em relação aos problemas que afligem os
mais pobres, e que são todos "farinha do mesmo saco".
Palma Filho (1998) citando Arendt (1987), ao definir direito a ter direito,
considerando como o primeiro direito humano fundamental, do qual todos os
demais se derivam.
É comum identificarmos como única manifestação política, portanto tendo o
poder de mudar uma situação, o voto, e ainda assim influenciados por uma
enxurrada de oportunistas em época de campanha que fazem muitas promessas e
depois desaparecem.
Cidadania é a prerrogativa e a qualidade inerentes do cidadão que o faz ser respeitado pelo conjunto da sociedade e que lhe permite a livre manifestação e oportunidades de ser ouvido e consultado, podendo assim, influenciar nas tomadas das decisões significativas para sua vida e co-participar delas. (NORI, 2002,.p. 149).
Somos escravizados pela força do capitalismo e pela manipulação da mídia
em relação aos nossos ideais. O nosso cotidiano retrata esta situação, o qual
reservamos a maior parte do tempo ao trabalho, incluindo o transporte, numa
verdadeira paranóia.
No filme Tempos Modernos (1936), Charles Chaplin nos mostra, com sensibilidade inigualável e perspectiva tragicômica, o sofrimento do trabalhador na fábrica: há o que vira “marginal”, o que serve de cobaia para novas tecnologias e tratamento de saúde, e o que tem o sonho da casa própria. (LOURDES, 1995, p. 13).
A cidadania é refletida individualmente com a preocupação de deixar os
compromissos particulares em dia e muito pouco coletivamente, visto as vezes em
mutirões de amizade que se juntam para encher laje, grupos religiosos orando
pelo próximo, mas é muito pouco.
A este assunto explica Dimenstein (1997),
Cidadania é o individuo sentir-se, de fato, dono não apenas de sua casa, mas também de sua rua, bairro, cidade, estado e país, tomando iniciativas e não dependendo tanto de governo, apostando na transmissão do conhecimento como alavanca vital de desenvolvimento e democracia. (Apud NORI, 2002, p. 169).
Ao assumir sua rua, seu bairro, sua cidade ou seja, o que é seu, com
responsabilidade de participação, está concomitantemente, mostrando para os
administradores de nosso país que o povo está de olho, e se tem cidadãos críticos
e participativo no exercício da cidadania. Dias, (1995), afirma: “a palavra cidadão
está relacionada à cidade, porque significa responsabilidade pelo bem comum. É o
ser sujeito de direitos e deveres e, ainda o mais, é levado a participar (...) chave
fundamental para construímos a cidadania em nosso país a participação”.
Mais uma vez nos deparamos com aquele velho jargão quem nasceu
primeiro o ovo ou a galinha? Quem é o culpado o povo ou o governo? Vamos ficar
filosofando, imaginando que um dia teremos um mundo semelhante ao mundo do
desenho dos Jetsons, ou ainda expressar a letra de uma música da banda Plebe
Rude como ato de manifestação Punk, que diz “Até quando esperar, a plebe
ajoelhar, esperando a ajuda de deus” acredito que é melhor o provérbio bíblico
“Vai ter com a formiga o preguiçoso”. É preciso mudar.
“A limitação ao exercício de cidadania no Brasil é fruto de uma herança
histórica fundada em padrões culturais que reforçam o caráter hierárquico de
sociedade ao longo do tempo”. (Nori, 2002). A cidadania manifesta-se também na
atitude de assumir deveres, pois, segundo Ribeiro (1998), direitos sem deveres são
privilégios. (Apud Nori, p. 145).
A concepção cidadania de acordo com Boff (2000),
estará sempre fortemente vinculada a uma “Cultura de Libertação”, a uma idéia de construção, ou seja, a de cidadania como processo inacabado e sempre aberto a novas aquisições de consciência, de participação e de solidariedade. (Apud Nori, 2002).
Nos bairros do Morumbi, Moema, Higienópolis, Jardins e Itaim, por exemplo,
é comum ter belas praças, com lindas árvores, pista de caminhada, play-grounds e
pessoas usufruindo destas condições, também é comum nos bairros de periferia
encontrarmos algumas praças muito pequenas, com bancos, algumas árvores, com
e sem parquinhos, porém toda suja, e freqüentada por poucos.
Esta diferença nas praças por exemplo, reflete o interesse político de
defender os espaços públicos por determinados grupos sociais, geralmente os
melhores bairros são planejados a fim de atender o interesse de quem realmente
possa pagar, quando isto está em risco, esses grupos se organizam e se mobilizam
na defesa de seus interesses. O mesmo não ocorre com os estratos mais baixos da
população, aqueles que habitam as regiões periféricas da sociedade.
“Enriquecei-vos!”, já se recomendava à burguesia francesa. A sugestão seria
ótima, se o enriquecimento não ficasse circunscrito às elites privilegiadas. (Dias,
1995).
Dias (1995) afirma que: “Cidadania é uma relação, não uma coisa que um
possa ter e o outro não”.
Para não criar um desequilíbrio social, Kant dizia que “É o estado que pode
assegurar o desenvolvimento pacifico necessário ao progresso da humanidade”.
(Apud Lourdes, 2006, p. 25).
Segundo o escritor suíço Denis de Rougimont
A decadência de uma sociedade começa quando o homem pergunta a si próprio: ‘O que irá acontecer?’, em vez de inquirir ‘O que posso fazer?’(...) Uma das coisas mais perniciosas que temos nesse momento é o apodrecimento da esperança; em várias situações as pessoas acham que não tem mais jeito, que não há alternativa, que a vida é assim mesmo... Violência? O que posso fazer? Espero que termine... Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam... Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam... Corrupção? O que posso fazer? Espero que liquidem... Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!
Esperançar é levar adiante. Esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. E se algo que Paulo Freire fez o tempo todo foi incendiar a nossa urgência de esperanças”. (Apud Cortella, 2006, p. 88).
O lugar em que mais se concentram pessoas (neste caso homens) no bairro
de Cidade Júlia, fora das necessidades (mercados, feiras, posto de saúde, escolas),
onde talvez se encontrem as mulheres, são os campos de futebol. Lá os homens
se reúnem para jogar futebol aos finais de semana, e aproveitam para rever seus
amigos e tomar sua cerveja.
Por que não tentar desenvolver cidadania através do esporte?
Potencializando suas próprias condições culturais.
Portanto, configura-se como problema de investigação nesta pesquisa o
seguinte: Será que o Esporte pode contribuir para despertar o desejo de exercer a
cidadania nas pessoas?
Por tudo o que foi possível apreciar até aqui, podemos constatar que o
esporte é uma atividade humana, fortemente marcada pela ambigüidade. Além da
sedução, da estética, do sonho e da evasão, o esporte moderno apresenta uma
outra em face do qual se agregam à violência, a agressividade, a alienação, a
opressão, a irracionalidade e a manipulação política.
Magnani (1969), também afirma “Em si próprio, o esporte não poderia ser
‘progressista’ nem ‘regressivo’". (Apud Nori, 2002, p. 26).
Segundo Vargas (1990), “através do corpo, pode-se alfabetizar um aluno [...]; para que isso seja possível, é fundamental um trabalho integrado e torna-se indispensável a presença do professor... Esta experiência influenciou para o resto da vida, porque colocou em minha consciência à vontade de ser professor de Educação física.(apud Motta, 2002, p. 55).
Numa simples brincadeira de futebol, também chamado de racha, o que se
vê é o lazer pelo prazer de jogar, e a socialização que é o prazer de encontrar e
fazer amigos. Mas também encontramos situações inadequadas como brigas, uso
de drogas, consumo de bebidas alcoólicas, de tratamento discriminatório, como
exemplo aquele gordinho que só joga se estiver incompleto e ainda é bem
provável no gol.
O presente estudo tem como objetivo evidenciar que o esporte pode
contribuir para a formação da cidadania de um povo.
Acredita-se que essa pesquisa contribuirá de maneira significativa para que
profissionais da área compreendam que um projeto esportivo com valores
agregados de educação, cultura, lazer, recreação e sobre tudo o despertar da
atitude crítica e política de forma organizada pode transformar o cotidiano das
pessoas, para não aceitarem a vida como lhes são oferecidas, é em síntese o
desenvolvimento da consciência cidadã, para que não esperem de braços abertos,
e que possam de forma organizada, buscar a melhoria tanto no particular como no
coletivo, sejam em suas casas, suas ruas, seu bairro ou sua cidade e
conseqüentemente um Brasil melhor.
O FUTSAL NA ESCOLA PADRE TIAGO ALBERIONE Para minhas perspectivas políticas, foi muito interessante que na gestão do
governador Mario Covas tenha se iniciado um projeto que busca o aproveitamento
dos espaços das escolas aos finais de semana, visto ficarem ociosos, mobilizando e
organizando o trabalho junto à comunidade para apropriação do espaço público.
Detalhe; baixo investimento do poder público, podendo assim assistir o cidadão da
periferia nos eixos de cultura, esporte, saúde e trabalho. A conseqüência foi a
preservação e valorização, por parte da comunidade e do próprio governo, da
precária infra-estrutura escolar.
ajuda-nos a reforçar a idéia da necessidade de oferecimento do esporte na escola, pois segundo o autor, o esporte está presente em clubes, escolas especializadas em esporte, etc, porém não é toda a camada da população que é atingida, e, além disso, apesar destas instituições também poderem atuar educacionalmente, os objetivos principais não são os mesmos do ambiente escolar. (Crum, 1983)
Júlio Jacobo ressaltou no IV conferência das Cidades em 2002 que:
Há necessidade de serem reconstituídos os espaços públicos, de abrirem-se espaços para cultura de paz. O problema da violência nas cidades guarda correlação, com a diminuição dos espaços de convivência. Faltam opções de o que fazer, o que leva os jovens à violência. É necessário que sejam abertos espaços ociosos nos fins de semana, oferecendo aos jovens alternativas de esporte, cultura, lazer e formação, como meio de ocupação do tempo ocioso.
Decidi escolher a escola do bairro de Cidade Júlia porque meu irmão era
motorista de transporte alternativo e por uma eventualidade trabalhei com o
mesmo transporte durante um mês, tempo suficiente para conhecer um pouco da
comunidade. Acreditava que seria mais fácil, mas não foi.
Comecei montando uma escola de futsal para crianças, divididas em duas
turmas sendo uma de nove a doze anos e a outra de treze a dezesseis anos.
Durante o período da manhã e da tarde a quadra ficava ociosa, fato que me
incomodava, e me levou a buscar preencher meu trabalho com outra atividade.
Então comecei a observar, estudar a comunidade adulta que simplesmente
brincava na quadra.
O antropólogo Luiz Henrique de Toledo (2000), afirma:
“(...) como uma manifestação cultural que revela nosso jeito, malícia, alegria ou ginga, o futebol protagonizou os contornos de um processo de identificação construído e engendrado por esses diferentes agentes sociais em interação”.
Foi em jogo amistoso do time infantil, que ao chegar adiantado na Escola
Heloisa Carneiro, fiquei observando sua comunidade adulta jogar futebol. Observei
jogadas bruscas, discussões, palavrões e uma verdadeira falta de respeito nos
jogos, comparei com a escola Padre Tiago Alberione e cheguei a conclusão de que
a comunidade merecia uma oportunidade, e que devia tentar fazer um
campeonato, porque embora houvesse jogadas com fortes divididas em seus
rachas, prevalecia o respeito e a lealdade.
“O Futsal nasceu nos anos 40 entre rachas de amigos e associados da ACM,
modalidade hoje internacional”. (Duarte, 1998, p. 111).
“O futebol não é alienação, ao contrario. Ele simboliza, ele reúne, ele é meio
para que as pessoas se organizem e sintam sua força enquanto coletividade”.
Juca Kfouri, (1983).
Além da conclusão outra razão que me levou a realizar o campeonato é o
cumprimento do dever do profissional de educação física, ou seja, a busca de
desafios de forma audaciosa para fazer a diferença nas vidas das pessoas. O artigo
4º do Manifesto da Educação Física diz:
“A educação Física, pelo seu conceito e abrangência, deve ser considerada como parte do processo educativo de pessoas, seja dentro ou fora do ambiente escolar, por constituir-se na melhor opção de experiências corporais, sem excluir a totalidade das pessoas, criando estilos de vida que incorporem o uso de variedades formas de atividades físicas”. (Apud Motta, 2002, p. 12).
A própria competição processo social básico das sociedades modernas é exercida na prática esportiva, num verdadeiro aprendizado para a vida social, tendo o jovem, amplas oportunidades de aprender a obedecer às regras do jogo e a respeitar os direitos do adversário ou do concorrente como deve suceder na realidade. (Toscano, 1974, p. 22).
O primeiro passo foi marcar uma reunião para que juntos construíssemos
um campeonato, e logo de início tínhamos problemas técnicos como: falta de
árbitro, de anotador, manutenção da quadra, pintura, e políticos como decidirmos
se haveria alguma colaboração financeira, qual a forma de competição, premiação,
enfim. Contudo a premissa para o bom andamento era a propagação da paz, a
construção da cidadania, a valorização da comunidade através da união, tudo
decidido de forma bastante democrática. Este foi o início do trabalho realizado
através da cooperação de todos.
Foi preciso tomar muito cuidado para não cometer erros, pois a comunidade
não entendia que a competição do futebol desenvolvia cidadania, foram movidos
por impulso da paixão do futebol e este arquitetado para o enxerto de valores
educacionais.
Entretanto, por enquanto certamente podemos questionar a teoria de que a participação do individuo no esporte e o bom senso estão de mãos dadas. Isto pode ser verificado em algumas situações. Mas é muito mais evidente que a competição esportiva intensa em muitos casos requer que os participantes ajustem-se ao mundo do real, resultando daí o desenvolvimento de valores que podem ser considerados práticos e realistas ou degradantes e prejudiciais ao esporte, dependendo da interpretação que se der. (Singer, 1997, p. 95)
As partidas eram sempre bastante acirradas, disputadas palmo a palmo na
quadra de jogo e também por suas torcidas, jogadores catimbeiros, todavia o
respeito prevalecia.
No inicio do campeonato, todos jogos geravam expectativas, se teríamos
jogo com paz e a cada divida ou simples lance mal marcado era motivo para
reclamações e chegavam a invadir a quadra, contudo foi possível dar continuidade
a todos os jogos, e a cada fase realizávamos reunião para discutirmos o que
estava certo e errado.
“A sociedade para alcançar uma determinada configuração, precisa de quantidades proporcionais de harmonia e desarmonia, de associação e competição, de tendências favoráveis e desfavoráveis (...) A oposição não é um meio de preservar a relação, mas uma das funções concretas que verdadeiramente a constituem” (Simmel, 1983).
O UNIVERSO FUTEBOLÍSTICO EM CIDADE JÚLIA O campeonato apresentava algumas equipes compostas por garotos que
tinham um pouco de medo de jogadas mais viris. Uma única equipe com
característica de veterano, e na sua maioria equipes com jogadores entre 18 e 26
anos. No que diz respeito ao objetivo, algumas equipes tinham como único
propósito a participação, mas a maioria entrava para vencer, e por conta desta
filosofia, gerava o conflito.
Uns poucos estudos nos quais vários grupos esportivos são comparados,
revelam que os jogadores de futebol têm, geralmente, indicado que deverão
vencer a qualquer custo. (Singer, 1997, p. 94).
A premissa do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília é
para que nós professores venhamos a trabalhar para a inclusão de todos, para o
esporte de participação, cooperativo e prazeroso, tentando assim fugir dos padrões
atuais que reapresentam o capitalismo, o mundo moderno que dá regalia a poucos
e repugna e repudia a maioria. Não podemos desprezar a historia e a cultura de
um povo, pelo contrário, é através deste ‘gancho’ que devemos buscar a
transformação e fazer a diferença na vida das pessoas. É neste momento que
aproveitamos esta competição para agregar valores, fazer correções,
questionamento sobre o rumo, a fim de atingirmos o objetivo. Isso nos reforça que
o campeonato de futsal na escola Padre Tiago Alberione era sem sombra de
dúvida a ferramenta para atingirmos os objetivo de cidadania.
De um ponto de vista menos formal, a resolução do conflito na forma da
competição (no futebol sobretudo), para Da Matta, também vislumbra a
possibilidade de revelar um igualitarismo individualista engendrado por regras
universais, apelando para valores políticos: onde os melhores tem as possibilidades
da vitória (Da Matta, 1982).
Neste sentido, este autor chama atenção para o fato de que através do
futebol tem-se a possibilidade de ensinar o que é uma derrota e o que é uma
vitória, ou seja, a perder e a ganhar, de maneira democrática. (Da Matta, 1982
apud Nori, p. 105).
O bairro de Cidade Júlia tem como referência os seguintes espaços
esportivos: os campos de futebol chamados de Sete Campos, o futebol de rua e o
espaço da escola Tiago Alberione.
Daolio (2005) afirma que o futebol de rua e de várzea ocupa espaço de
destaque na prática desse esporte marcado pela agilidade e pelo improviso, desde
o material utilizado até o número de jogadores, espaço físico etc.
Outra característica do campeonato é que em sua maioria as equipes não
tinham uniformes completos. Era comum ver equipes revezavando as camisas,
pois tinham quatro ou cinco camisas para oito ou dez jogares, calções de diferente
cores, meias soquetes e até chuteira soçaite por conta de suas situações
econômicas. Esta foi a realidade dos primeiros dois campeonatos.
Sozinhos ou em grupos, contra adversários ou desafiando a natureza,
buscamos a superação, a vitória, o companheirismo [...], boa forma física e a
saúde”. O homem é um ser que por si só, sente a necessidade de competir e
jogar, apesar de nem sempre os resultados serem esperados (lesões, derrotas) e
os deixem deprimidos. Os mesmos autores afirmam também “não há duvidas de
que o saldo na relação esporte qualidade de vida é altamente positivo [...], muito
mais alegria é derivada dele do que tristeza, mais companheirismo, que conflitos,
mais formação que desvios”. Com isso eles deixam claro para nós que a atividade
física é benéfica à saúde física e mental, em todas as idades, e que a competição
tem o seu espaço nesse processo, desde que seja com o intuito de educar e não,
apenas cobrar. (Junior e Zamburlan, 1997)
A TORCIDA Já participaram cerca de trinta equipes, das quais apenas oito tinham um
bom número de torcedores, geralmente as melhores. Vinham preparadas com
bandeiras, cornetas, fumaça colorida, alguns instrumentos musicais e até rojões,
os quais serviam para intimidar a equipe adversária e levantar o astral do time. A
exposição de faixas, bandeiras e camisas (Toledo, 1996) e a criação de apelidos
(Morato,2002) são outras formas de agredir os adversários.
A participação da torcida, às vezes era negativa com alguns palavrões,
reclamações forçadas, algumas invasões e quando pediam a paralisação da partida
por conta de falhas na arbitragem.
O desempenho do time influencia a motivação da torcida, tanto quanto a
torcida influencia o time. O dinamismo é muito grande e o uso da violência
simbólica entre torcedores adversários é corriqueiro. (Daolio, 2005).
Víamos com normalidade, dentro do contexto futebolístico, estas situações
negativas, mas as mesmas serviam para que "abríssemos os olhos" e colocávamos
como pauta de reunião, discutindo e decidindo democraticamente as tomadas de
decisões. Quando a agressão ao árbitro, ou tumulto generalizado, a equipe será
banida de todas participações futuras? E as agressões individuais, ou mesmo uma
briga realizada por dois jogadores, também estariam de fora de todo campeonato?
Parece um pouco radical, contudo se houver brechas no regulamento, poderia
colocar-se em dúvida todo trabalho. Resultado, foi decisão unânime, todos
aceitaram para o bem comum.
Para Jean Piaget “a regra é uma regularidade imposta pelo grupo e de tal
sorte que a violação representa uma falta” (...) o divertimento específico do jogo
deixa assim de ser muscular e egocêntrico para tornar-se social. (apud Freire,
1998)
E por último a caracterização desta torcida era a de ter em sua composição
crianças, senhores e, muito importante, a presença das mulheres. Foi literalmente
um espaço da família na escola o que deu muita credibilidade, respeito e lealdade
para com todos.
“O princípio fundamental da Escola Inclusiva consiste em que todas as
pessoas devem aprender juntas, onde quer que isto seja possível, não importam
quais dificuldades ou diferenças que elas possam ter”. (Sassaki, Declaração de
Salamanca, apud Ferreira, 2001, p. 66).
A ORGANIZAÇÃO O planejamento e a organização também foram discutidos e decididos
democraticamente de acordo com a nossa realidade e possibilidade em nossas
assembléias, e como pauta, foram abordados os seguintes temas: recursos
financeiros, datas e horários dos jogos, recursos materiais, mutirões de pintura, de
construção do muro, alambrado, compra de máquina de costura, arbitragem,
premiação, solenidade de premiação com hino nacional, anotadores, colaboradores
para pegar bola a fim de não perde-la, entre outros.
O diferencial era o que poderíamos fazer ou trazer como atração que
agregasse valor oposto ao esportivo: cultural, saúde, lazer educacional etc.
A organização é o processo pelo qual as partes que compõem um todo
podem ser dispostas a fim de melhor atender a determinados objetivos, (...) de
modo a tornar os seus resultados mais eficazes, seguros e econômicos. (Daiuto,
1991, p. 09).
OS RECURSOS HUMANOS Os próprios jogadores compunham a equipe de colaboradores, juntamente
com membros da comunidade que torciam, ou simplesmente pelo prazer de
ajudar, às vezes tinha que pedir para que aguardassem a vez, pois tinha mais que
um para a mesma função.
No que respeito à arbitragem, por ser difícil e de muita responsabilidade
para não alterar o resultado de forma errônea, havia poucos árbitros, uns dez
colaboradores, sobrando as vezes até para o professor organizador algumas vezes.
Não havia cursos ou orientação adequada para os colaboradores, acreditamos que
houve erros, mas que não tirou o mérito do projeto como um todo, especialmente
se considerarmos os objetivos políticos que perseguíamos.
“A seleção do pessoal necessário ao bom desenvolvimento dos trabalhos, deverá ser feita com muito tirocínio e cuidado, pois as pessoas responsáveis pela administração do certame representam a “espinha dorsal” do mesmo. Normalmente convém dar o devido preparo e orientação geral a todos os colaboradores, sejam eles da parte administrativa, sejam da parte técnica. (Daiuto, 1991, p. 13)
Os recursos humanos necessários:
O programa Parceiro do Futuro tinha lanche, enquanto que no caso do
programa Escola da Família perdeu-se este direito, mas trouxe uma equipe de
universitários, dentre os quais destaco Edinho, Marcio e o educador profissional,
Gilberto, além de nós professores de Educação Física e o Diretor da Escola
Vanderlino Cabrini que foi de uma preciosidade sua participação.
A CIDADANIA PRÓPRIAMENTE DITA A escola Padre Tiago Alberione possui uma quadra coberta, uma mini
quadra e uma quadra descoberta, na qual foram realizados quase todos os jogos.
As premiações foram feitas no pátio da escola e na própria quadra, usamos as
salas de vídeo, salas de aula para reunião e, ainda, como vestiários.
A preparação dos espaços foi a ação cidadã propriamente dita, o
depoimento do Ronaldo dizendo: - Oh professor não tem gancho para colocar a
rede nas traves, se o senhor quiser a gente vem arrumar! Na verdade não havia
feito este pedido especificamente, o que eu disse na reunião é que se houvesse
necessidade de arrumar, todos nós daríamos as mãos e cada um faria sua
pequena parte, e no final todos ganharíamos. Em seguida o Zuza falou: - Eu vou
trazer nossa máquina de solda e a gente arruma! Foi deste momento em diante
que percebi que estava no caminho certo.
No primeiro ano tivemos no campeonato apenas doze equipes que
colaboraram com vinte reais cada, totalizando duzentos e quarenta reais, que foi
utilizado para comprar as tintas e as premiações.
Foi preciso juntar um grupo para pintar, pois com certeza ficaria mais bonita
e seria maior a satisfação, mas não foi difícil, estava aí preparado o ambiente para
novas conquistas, sobretudo na atitude.
Fizemos ao longo destes cinco anos, outros mutirões, entre eles destaco:
Tivemos que fazer alterações atrás das duas traves, a primeira foi no ano de
2005, por conta de as crianças ficarem levando bolada, o pior é que uma
determinada vez um cidadão riu de uma bolada na cabeça de um garoto que
começou a chorar, falei com ele para que parasse de rir e ajudasse-nos a
solucionar este problema.
No final do ano de 2005, o alambrado que estava podre, caiu, surgindo um
problema muito grande com a vizinhança, além de incomodar as pessoas para que
pegassem a bola, quebrou telhas, prejudicava na paralisação das partidas. Mas o
pior foi a facada que uma senhora deu na bola, desde que quebrou-se as telhas de
sua casa, começamos a trabalhar para conseguir arrumar, foi muito difícil, pois era
muito caro, mas fizemos dois bailes, que chamamos de baile da cidadania, com
isso arrecadamos dinheiro para a construção do alambrado, e de surpresa ainda
compramos um projetor de tela para a escola.
A RAZÃO DO CAMPEONATO Sem sombra de dúvida o mais importante foram as tomadas de decisões
conjuntas, decidas democraticamente, fato que dava cada vez mais credilibilidade
aos participantes. No inicio poucos ajudavam, eram cerca de dez, depois contagiou
crianças, que queriam pegar bola, senhores ficaram de anotador na mesa, então o
objetivo de competição estava alcançado, contudo precisávamos fazer o
diferencial, que era agregar valores culturais, educacionais e de propagação de
paz.
No ano de 2004, com a gentileza do Projeto Despertar, conseguimos uma
apresentação do grupo de percussão "Charanga" antes das finais do campeonato.
As pessoas que passavam na rua ficavam curiosas devido ao alto som feito
pelo grupo, vinham e ficavam vendo, foi um momento de cultura.
No ano de 2005 conseguimos uma palestra com o professor e escritor
Daniel Carvalho Luz, que conseguiu prender atenção de mais de 150 pessoas na
quadra falando sobre o persistir, que havia tentado mais de sete vezes para entrar
na faculdade e que seu ex-chefe insistia para que o mesmo desistisse. Porém, foi
através de muita luta, de trabalhos paralelos, que foi árdua sua jornada, mas por
fim conseguiu a tão sonhada faculdade. O interessante é que atendeu a um grupo
de jovens estudantes que fazem cursinho pré-vestibular na própria escola.
As crianças estavam presentes em todos os jogos, torcendo, mas nas finais
eles também foram protagonistas de jogos preliminares, e o mais importante,
mensageiros de cultura e de paz. Também houve apresentação de capoeira que
era desenvolvida na própria escola.
CONCLUSÃO? Nas finais, poderíamos ter como refrão a música da Ivete Sangalo “e vai
rolar a festa, vai rolar, o povo do gueto mandou me avisar” pois atingia o ápice da
alegria, a quadra cheia, se transforma em festa, com rojões, bandeiras, acesso a
cultura, educação, saúde, alimentação, tudo dentro da nossa realidade, construído
por cada um que teve participação direta, ajudando ou jogando, e indireta, que foi
para simplesmente ver, ouvir e estar presente em todas as manifestações.
A cada gol a emoção contagiava seus respectivos times, e, é claro, após o
termino de cada final a alegria tomava conta, ao gritos de "é campeão" por sua
torcida, que invadia a quadra descontrolada emocionalmente, claro que a equipe
perdedora lamentava os gols perdidos ou coisa assim, contudo esperavam o
momento da premiação. Todos os semi finalistas e finalistas ganharam troféu
neste dia, sabiam que o verdadeiro troféu estava ali, acompanhando na
arquibancada, que era a comunidade e seus familiares felizes, por ter um dia
diferente, vendo os artistas da bola protagonizando esta festa, festa que não
parava na quadra e se estendia pela noite adentro com muita cerveja, churrasco e
alegria; com um detalhe, a equipe vice campeã e todas as demais equipes que
quisessem participar também foram convidadas, foi realmente satisfatório fazer os
campeonato. Como cheguei a esta conclusão? Eu me perguntava, será que
realmente gostaram?
Mas o fundamental foi ter percebido que o exemplo de cidadania
experimentado ao longo deste processo, se consolidou e deixou frutos, para novas
mobilizações, novos exemplos de solidariedade, de cidadania.
A confirmação do sucesso do empreendimento resposta vinha também por
uma pergunta no mesmo dia da festa, ou no outro dia, geralmente o domingo, que
era: Professor quando é que vai ser o próximo campeonato?
Não parou por ai, a evidência desta conquista foi um laço de amizade
construído entre as equipes, fomos almoçar em churrascaria, jogar futebol no
clube Raul Tabajara na Barra Funda, jogar futsal no CEU Alvarenga, jogo na
associação de funcionários de Diadema em vários aniversários de seus familiares e
churrasco na escola em nossas casas.
Não menciono nenhuma equipe campeã, não destaco nenhum jogador, mas
sim a toda comunidade pela conquista do primeiro turno deste campeonato. Mas
que campeonato? O campeonato da cidadania, porque agora temos que pensar no
próximo jogo, que é o jogo da vida... como decidir quais serão as estratégias para
vencer a doação de sangue, a construção de um parquinho para as nossas
crianças, a compra de mais uma máquina de costura, a inclusão de portadores de
necessidades especiais nos jogos, entre outros, não será fácil, são "jogos" difíceis,
mas iremos nos organizar e arregaçar as mangas, porque não há vitória sem luta.
E lembrar que nada destas realizações não poderia ser feita sem ela: a bola
de futebol.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NORI, Célio. Boleiros de areia. SP: ed. Sesc, 2002. TOSCANO, Moema. Teoria da Educação Física Brasileira. RJ: Civilização Brasileira, 1974. FERREIRA, Vânia. Educação Física e Interdiciplinaridade: Aprendizagem e Inclusão, RJ: Sprint, 2006. FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro. SP: Scipione, 1997. BRACHT, Valter. Sociologia Crítica do Esporte. Ijui RS: Unijui, 2005. CORTELLA, Mario Sergio. Não Nascemos Prontos. Petrópolis: Vozes, 2006. COURE, Maria de Lourdes Manzini. O que é Cidadania. SP: Brasiliense, 2006. CAMARGO, Vera Regina de Toledo. Futebol Espetáculo do Século. SP: Musa, 1999. TEIXEIRA, Hudson Ventura. Educação Física e Desportos. SP: Saraiva, 2001. TORINO, Célio. Lazer nos Programas Sociais.SP: Anita, São Paulo, 2003. ANDRADE, José Vicente de. Gestão em Lazer e Turismo. SP: Autêntica, 2001. SKINK, Mary Jane Paris. A Cidadania em construção. SP: Cortez, 1994. TOLEDO, Luiz Henrique de. No País do Futebol, RJ: Jorge Zahar, 2000. GADOTTI, Moacir. Escola Cidadã: Cidade Educadora. SP: Cortez, 2004. PASSOS, Sônia Maria. Escola Cidadã, Cidade Educadora. SP: Cortez, 2004.