futebol e as realidades econômicas regionais em santa catarina
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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL
DOUGLAS TAJES JUNIOR
FUTEBOL E AS REALIDADES ECONÔMICAS REGIONAIS EM SAN TA CATARINA: O FUTEBOL PROFISSIONAL EXPLICADO PELO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE SUAS REGIÕES
CANOINHAS 2012
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DOUGLAS TAJES JUNIOR
FUTEBOL E AS REALIDADES ECONÔMICAS REGIONAIS EM SAN TA CATARINA: O FUTEBOL PROFISSIONAL EXPLICADO PELO
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DE SUAS REGIÕES
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional, da Universidade do Contestado – UnC, sob orientação do Prof. Dr. Marcos Antônio Mattedi.
CANOINHAS 2012
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DEDICATÓRIA
Ao meu pai Douglas, minha mãe Terezinha, minha irmã Adriana. Pois estas três pessoas
me ensinaram que o estudo pode transformar uma pessoa!
A minha querida esposa Denise, que foi a
idealizadora desse desafio. Fez-me enxergar a oportunidade que se vislumbrava.
Por último, mas não menos importante, ao meu
querido filho Bernardo. Fruto deste amor incondicional que eu tenho por você, DENISE!
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AGRADECIMENTOS
Tomo emprestado as palavras de Bento (2004, p. 27) “sei que a memória dos homens raramente vai além da missa do sétimo dia. A memória e a gratidão. E não obstantes as duas qualidades são elevadas à categoria de virtudes no contexto da cultura ocidental. A tal ponto que a falta de gratidão é, a par da traição, porventura o maior dos pecados mortais. Ora é precisamente para me pôr a salvo da tentação de incorrer em tal infâmia que me apresso a agradecer”, a todos aqueles que colaboraram e contribuíram para a realização desta Dissertação, que como tal, também lhes pertence. Desta forma, agradeço; A realização e orientação desta Dissertação, ao Prof. Dr. Marcos Antônio Mattedi, sem o qual, não conseguiria formular e transgredir para o papel as dúvidas que se faziam presentes nos meus pensamentos! Aos meus novos amigos (da Turma V) pela companhia nos dias de aula. Em especial, ao Jacob e o Marcelo. Pelas viagens, conversas e descontração. Ao meu amigo/irmão Rick, pelo acolhimento em sua casa durante a jornada das aulas. Pelos cafés quentes e pelas ótimas conversas que sempre tivemos e continuaremos tendo! Ao corpo docente do Programa de Mestrado e a UnC, pois sem suas explanações e a existência do Programa, esta Dissertação não se concretizaria! À minha FAMÍLIA , de modo especial ao meu pai Douglas (de quem herdei o nome) e a minha mãe Terezinha. Não sei se os genes que herdei são bons ou maus, também não sei se sou “Talento” ou não, sei apenas que sou fruto de um processo de construção e de exponenciação que fez de mim o que com orgulho sou, no qual o “nicho ecológico” que me proporcionaram foi determinante. Por tudo o que temos vivenciado juntos, e pelo processo de Especificidade Precoce de preparação para VIDA que me proporcionaram, o meu MUITO OBRIGADO! À minha querida esposa Denise e ao meu querido Bernardo, pela paciência e compreensão pela ausência em alguns momentos. Momentos estes que serão recompensados!
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EPÍGRAFE
“Ninguém tem necessidade daquilo que desconhece.”
Vítor Frade
“A batalha do desenvolvimento jamais será interrompida.”
Celso Ramos, 1962
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RESUMO
O desenvolvimento do futebol catarinense pode estar vinculado ao processo de desenvolvimento regional, porque o Campeonato Estadual de Futebol apresenta um grande número de diferentes clubes campeões e vice-campeões, bem distribuídos regionalmente, tal como acontece com o processo de divisão econômica regional, que é marcada por uma forte heterogeneidade. O presente estudo teve como objetivo geral compreender de que maneira a economia regional catarinense pode influenciar na maior variação de campeões de futebol no Estado de Santa Catarina. O tema da pesquisa pretende identificar as potencialidades econômicas e institucionais nas regiões catarinenses que possuem clubes de futebol, que foram campeões e vice-campeões de futebol em Santa Catarina durante o período de 1960-2010 e verificar, qual a relação das potencialidades econômicas e institucionais com esse sucesso nos gramados de Santa Catarina. Desta forma, surge o problema central da pesquisa: o que explica a grande variação de campeões Estaduais de futebol em Santa Catarina. Para isso, a metodologia empregada fundamenta-se na dialética proposta por Hegel de perfil quali-quantitativo baseada em dados primários e secundários. Os períodos serão agrupados por década. Com base na literatura revisada, obtém-se a conclusão de que, as regiões do Estado de Santa de Catarina que concentram o maior número de títulos e vice-campeonatos são as regiões do Sul, Grande Florianópolis, Norte e Vale do Itajaí (3 títulos e 13 vice-campeonatos). Essas regiões são próximas à faixa litorânea. Mas, a região Oeste (4 títulos e 4 vice-campeonatos), em títulos está à frente do Vale do Itajaí, enquanto que, os dados do PIB dos municípios catarinenses elucidam que Blumenau (Vale do Itajaí) tem um PIB sempre superior ao de Chapecó (Oeste). O que explicaria essa situação? Procura-se entender essa anomalia de por que Blumenau não consegue se firmar com um time de futebol profissional entre os grandes do Estado, já que possui um PIB ótimo. Chega-se à conclusão de que, o município de Blumenau investe de maneira mais significativa nos esportes olímpicos. Em 51 edições dos Jogos Abertos de Santa Catarina (JASC), Blumenau ficou em 40 edições classificada como campeã geral e, outras 6 vezes com o vice-campeonato. Mostra uma relação direta com a realidade econômica regional, mas agora com os esportes olímpicos. Os resultados demonstram que, as realidades econômicas regionais em Santa Catarina influenciam na alternância de campeões de futebol profissional. Mas, não se pode deixar passar despercebido que, apesar de Santa Catarina ter um bom nível de desenvolvimento econômico regional em todas as regiões, as regiões que ainda dominam a maioria dos títulos de futebol profissional são as regiões mais próximas a faixa litorânea, como no resto do país aís. Devido à forma de colonização do país, do litoral para o interior. Palavras-chave : Futebol; Desenvolvimento Regional; Realidades Econômicas Regionais; Santa Catarina.
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ABSTRACT
The development of this sport in Santa Catarina may be linked to the regional development process, because the State Soccer Championship has a large number of different club champions and runners-up and it is distributed regionally – exactly like the economy is distributed. The present study aimed to understand how the regional economy can influence the state of Santa Catarina greater variation of soccer championships and champions in the state of Santa Catarina. The theme of the study is to identify the potential economic and institutional Santa Catarina regions that have football teams, who were champions and runners-up soccer in Santa Catarina during the period 1960-2010 and see what the relationship of the potential economic and institutional this success on the lawns of Santa Catarina. Thus, there is the central research problem: what explains the wide variation in state football champions in Santa Catarina. For this, the methodology is based on Hegel's dialectic proposed by profile based on qualitative and quantitative primary and secondary data. The periods are grouped by decade. Due to this, the methodology we will use in this study will be qualitative and quantitative. It will also be based on primary and secondary data. The periods will be grouped in decades. Based on the literature reviewed, we get the conclusion that the regions of the State of Santa Catarina with the highest number of titles and runner-ups are the southern regions. Florianópolis, North and Vale do Itajai (3 titles and 13 runner-ups). These regions are on the coast. In the other hand, the western region (4 titles and 4 runner-ups) has more titles than the Itajai Valley. Something to be considered is that the GDP data of the city called Blumenau (Vale do Itajai) is always greater than the GDP of Chapecó (West). What can we understand by this example? Trying to understand why this anomaly we get to the point that even the city of Blumenau has a great GDP it doesn’t focus in sports like soccer, it invests heavily in Olympic sports. In 51 editions of the Open Games of Santa Catarina (JASC), Blumenau was 40 editions classified as general and champion, within the other six times, runner-up. It shows a reflection of the regional economic reality, but now with a focus within the Olympic sports. The results show that regional economic realities in Santa Catarina influence the alternation of champions of professional soccer. To sum things up, it is important to say that Santa Catarina has a good level of regional economic development in all regions, but the regions that still dominate most of the titles of professional soccer, are the regions closer to the shoreline, as in rest of the country. It is probably because of the way Brazil was colonized, from the coast to the interior.
Keywords : Soccer; Regional Development; Regional Economic Realities; Santa Catarina.
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LISTA DE MAPAS
Mapa 1 – Complexos da Economia Catarinense.................................................... 14 Mapa 2 – Distribuição dos Campeões e Vice-Campeões Catarinenses............. 18 Mapa 3 – Ferrovia Tereza Cristina S.A................................................................... 96
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Relação entre Dimensão Externa e Dimensão Interna na organização de um clube de futebol competitivo................................
15
Figura 2 – Organograma da Diretoria de Futebol................................................ 140 Figura 3 – Ciclos permanentes de aprendizagem e mudança para a análise do processo de mudança na gestão de clubes de futebol.......................
159
Figura 4 – Estrutura do basquetebol dos EUA..................................................... 185 Figura 5 – Modelo da hélice tríplice de relações entre Universidade-Indústria- -Governo.............................................................................................
186
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Campeões e Vice-Campeões Estaduais de Futebol.......................... 16 Tabela 2 – Área de concessão (em 1945) e produção bruta de carvão (em
1956) por empresa............................................................................
87 Tabela 3 – Produção catarinense de celulose (em t) e a participação no
mercado nacional (1953-1962).......................................................
90 Tabela 4 – Valor da Transformação Industrial (em %) segundo os principais Gêneros..............................................................................................
102
Tabela 5 – Participação (em %) dos principais produtos exportados em Santa Catarina..............................................................................................
104
Tabela 6 – Valor da Transformação Industrial (em %) segundo os principais gêneros (1980-1985)..........................................................................
107
Tabela 7 – Produção catarinense de carvão mineral (1980-1982)...................... 107 Tabela 8 – Produção catarinense de carvão mineral (1985-1987)...................... 108 Tabela 9 – Produção anual (em mil/m²) de revestimentos cerâmicos por
empresa (1985-1987)......................................................................
108 Tabela 10 – Produção anual (em mil/m²) de revestimentos cerâmicos por
empresa (1990-1992)........................................................................
114 Tabela 11 – Produção catarinense de carvão mineral (1990-1992).................... 114 Tabela 12 – Indicadores de produção industrial por classe e gênero em Santa
Catarina (1992).................................................................................
116 Tabela 13 – Produção anual (em mil/m²) de revestimentos cerâmicos por
empresa (1993-1995)........................................................................
117 Tabela 14 – Indicadores de produção industrial por classe e gênero em Santa
Catarina (1992).................................................................................
118 Tabela 15 – Produção anual (em mil/m²) de revestimentos cerâmicos por
empresa (1998-1999)........................................................................
120 Tabela 16 – Produto Interno Bruto, segundo os municípios de Santa Catarina
(1999-2004).......................................................................................
121 Tabela 17 – Produto Interno Bruto, segundo os municípios de Santa Catarina
(2005-2009).......................................................................................
121 Tabela 18 – Definição Operacional de Estrutura................................................. 148
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 13 2 REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................... 24 2.1 ORIGENS DO FUTEBOL NO MUNDO.......................................................... 24 2.2 A CHEGADA DO FUTEBOL À AMÉRICA..................................................... 27 2.2.1 Origens do Futebol no Brasil....................................................................... 29 2.2.2 A Popularização.......................................................................................... 35 2.2.3 Origens do Futebol em Santa Catarina....................................................... 43 2.2.4 Capital Versus Interior: rivalidade em Santa Catarina................................ 52 2.3 DESENVOLVIMENTO................................................................................... 53 2.3.1 O que é Desenvolvimento?......................................................................... 53 2.4 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO............................................................ 54 2.4.1 O Pensamento dos Fisiocratas................................................................... 54 2.4.2 A Questão do Desenvolvimento Segundo os Economistas Clássicos........ 56 2.4.3 As Teorias Clássicas Espaciais ou da Localização.................................... 61 2.4.4 Noções de Espaço e de Região.................................................................. 63 2.4.5 Noção de Espaço........................................................................................ 64 2.4.6 Diferentes Concepções de Região.............................................................. 65 2.4.7 Dificuldades do Conceito de Região........................................................... 66 2.4.8 Noções de Região e o Desenvolvimento Regional..................................... 68 2.5 FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL.................................................................... 69 2.5.1 Origem e Crescimento do Capital Industrial................................................ 70 2.5.2 Colonização e Mudanças Sociais............................................................... 71 2.5.3 Apogeu da Indústria Tradicional e Ascensão da Indústria Dinâmica (1914-1969).................................................................................................
72
2.5.4 As Indústrias Originárias............................................................................. 74 2.5.4.1 Extrativismo.............................................................................................. 74 2.5.4.2 Erva-mate................................................................................................. 74 2.5.4.3 Carvão...................................................................................................... 75 2.5.4.4 Madeira.................................................................................................... 76 2.5.4.5 Têxtil......................................................................................................... 78 2.5.4.6 Alimentos.................................................................................................. 79 2.5.5 Crescimento Articulado............................................................................... 81 3 O FUTEBOL E AS REALIDADES ECONÔMICAS REGIONAIS EM SAN TA
CATARINA: DE 1960 A 2010........................... .................................................
84 3.1 A DÉCADA DE 1960...................................................................................... 85 3.1.1 O Ano de 1964............................................................................................ 91 3.1.2 O Ano de 1965............................................................................................ 93 3.1.3 O Ano de 1966............................................................................................ 94 3.2 A DÉCADA DE 1970...................................................................................... 95 3.2.1 O Ano de 1971............................................................................................ 97 3.2.2 O Ano de 1972............................................................................................ 100 3.2.3 O Ano de 1974............................................................................................ 101 3.2.4 O Ano de 1975............................................................................................ 101 3.2.5 O Ano de 1977............................................................................................ 103 3.2.6 O Ano de 1978............................................................................................ 104 3.2.7 O Ano de 1979............................................................................................ 105
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3.3 A DÉCADA DE 1980...................................................................................... 106 3.3.1 O Ano de 1986............................................................................................ 107 3.3.2 O Ano de 1988............................................................................................ 109 3.4 A DÉCADA DE 1990...................................................................................... 110 3.4.1 O Ano de 1991............................................................................................ 113 3.4.2 O Ano de 1992............................................................................................ 114 3.4.3 O Ano de 1993............................................................................................ 116 3.4.4 O Ano de 1994............................................................................................ 117 3.4.5 O Ano de 1995............................................................................................ 117 3.4.6 O Ano de 1996............................................................................................ 118 3.4.7 Os Anos de 1997 e 1998............................................................................. 119 3.4.8 O Ano de 1999............................................................................................ 120 3.5 A DÉCADA DE 2000...................................................................................... 121 3.5.1 O Ano de 2001............................................................................................ 122 3.5.2 O ano de 2002............................................................................................. 122 3.5.3 O Ano de 2003............................................................................................ 123 3.5.4 O Ano de 2004............................................................................................ 124 3.5.5 O Ano de 2005............................................................................................ 125 3.5.6 O Ano de 2006............................................................................................ 125 3.5.7 O Ano de 2007............................................................................................ 126 3.5.8 O Ano de 2008............................................................................................ 126 3.5.9 Os Anos de 2009 e 2010............................................................................. 127 4 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO FUTEBOL ................................................... 130 4.1 PLANEJAR E DIRIGIR................................................................................... 134 4.2 ADMINISTRAÇÃO GERAL DO FUTEBOL.................................................... 135 4.2.1 Vice-Presidência e Diretoria de Futebol...................................................... 135 4.2.2 Diretor Executivo......................................................................................... 137 4.2.3 Departamento Técnico de Futebol.............................................................. 141 4.2.4 Gerente de Futebol.................................................................................... 142 4.2.5 Departamento de Suporte ao Futebol......................................................... 143 4.2.5.1 Administrativo........................................................................................... 144 4.2.5.2 Marketing.................................................................................................. 144 4.2.5.3 Financeiro................................................................................................. 146 4.2.5.4 Recursos humanos.................................................................................. 146 4.2.5.5 Patrimônio................................................................................................ 147 4.3 GESTÃO DOS CLUBES DE SANTA CATARINA: FIGUEIRENSE
FUTEBOL CLUBE, AVAÍ FUTEBOL CLUBE, CRICIÚMA ESPORTE CLUBE E JOINVILLE ESPORTE CLUBE.....................................................
149 4.3.1 Figueirense Futebol Clube.......................................................................... 149 4.3.2 Avaí Futebol Clube...................................................................................... 151 5 FUTEBOL E DESENVOLVIMENTO LOCAL PARA AS REGIÕES.... ............. 162 5.1 O OUTRO LADO DA MOEDA........................................................................ 172 5.2 O ABISMO PODE SER ESTREITADO COM A AJUDA DAS
UNIVERSIDADES........................................................................................
182 CONCLUSÃO...................................................................................................... 190 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 194
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1 INTRODUÇÃO
Um dos grandes paradoxos da atualidade é a coexistência de economias
extremamente desenvolvidas em meio a enormes bolsões de pobreza. Isto acontece
entre países, regiões de um mesmo país e regiões de um mesmo Estado. A
distribuição da renda per capita de cada um destes dois polos parece exibir um
padrão persistente: os extremos parecem divergir uns dos outros, com os pobres se
tornando mais pobres e os ricos mais ricos. É importante explicar porque regiões de
um mesmo Estado crescem mais rápido do que outros, pois disparidades
persistentes na renda entre eles conduzem a grandes desigualdades em termos de
bem-estar e são frequentemente, fontes de tensões sociais e políticas.
Uma das causas mais comuns dessas disparidades de desenvolvimento entre
as regiões é atribuída aos diferentes níveis de infraestrutura (PAES; SIQUEIRA,
2008, p. 708). A falta de infraestrutura desenvolvida está particularmente presente
no desafio do desenvolvimento das regiões mais pobres do Estado. Pois estes,
dadas as suas incapacidades de se financiar por meio de arrecadações tributárias
próprias, são fortemente dependentes de transferências do governo Estadual.
O processo de ocupação territorial e desenvolvimento socioeconômico em
Santa Catarina forjou uma organização produtiva especializada territorialmente.
Através de pequenas e médias empresas, com vocação nas áreas de agricultura,
indústria, exportação e turismo cresceu 340% nas últimas três décadas.
Economicamente, Santa Catarina ocupa a sexta posição na formação do Produto
Interno Bruto (PIB) brasileiro (R$123.283 bilhões), mesmo possuindo 3% da
população do país (6.248.436 pessoas). Atualmente o país possui um PIB de
R$3,675 trilhões e uma população de 190.732.694 pessoas (IBGE, 2011).
A economia do Estado é uma das mais equilibradas do país e suas regiões
econômicas têm como garantir a qualidade de vida de seus moradores. O Estado
possui uma transformação que ocupa a quarta posição no país em quantidade de
empresas e a quinta em número de trabalhadores. Também ocupa a oitava posição
nacional em produtos de exportação. O setor secundário participa com 49%, o setor
primário com 17% e o terciário com 34%. O Estado é caracterizado por apresentar
microrregiões bem definidas do ponto de vista socioeconômico. No norte,
predominam as indústrias moveleiras, de malhas e motores. No sul, predominam a
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extração mineral, a produção cerâmica e de descartáveis plásticos. No planalto
serrano, predominam a agropecuária e a indústria madeireira. No oeste, a
agroindústria, com a produção de frutas e de aves congeladas para exportação. No
Vale do Itajaí, tem-se a indústria têxtil. E na região chamada de Grande
Florianópolis, há predomínio do setor tecnológico, que em 1992, foi criado o primeiro
parque tecnológico do Estado (Tecnópolis), impulsionando a economia local com
uma indústria não poluente que não compromete a vocação turística da ilha, à
administração pública e ao ensino. Santa Catarina, portanto, apresenta seis eixos
industriais claramente identificados: agroindustrial, eletrometal-mecânico, mineral,
florestal, têxtil, vestuário e administrativo (AGOSTINI, 2008, p. 08).
Mapa 1 – Complexos da Economia Catarinense Fonte: IBGE. Dados AGOSTINI, (2008, p. 08).
A promoção do desenvolvimento regional catarinense, por suas contribuições
inovadoras, merece ser estudada. Santa Catarina é um caso raro no panorama
nacional, de desenvolvimento equilibrado, no qual a diversidade, o minifúndio, a
microempresa e a cooperação regional têm papel de destaque. Sendo assim, o
futebol catarinense parece observar a mesma lógica de conjuntura econômica. O
desenvolvimento do futebol catarinense pode estar vinculado ao processo de
desenvolvimento regional, porque o Campeonato Estadual de Futebol apresenta um
grande número de diferentes clubes campeões e vice-campeões, bem distribuídos
ADMINISTRATIVO
ELETROMETAL-MECÂNICO
AGROAINDUSTRIAL
TÊXTIL
MADEIREIRO
MINERAL/CERÂMICO
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regionalmente, tal como acontece com o processo de divisão econômica regional,
que é marcada por uma forte heterogeneidade (LAPOLLI, 2008, p. 32).
O cenário nacional se difere, pois as regiões do Estado com maior
infraestrutura e maior população detêm a grande maioria dos títulos estaduais de
futebol profissional. Isto mostra que, o dinamismo econômico de uma região reflete
no desempenho esportivo do clube situado nessa região. Santa Catarina, no início
de sua organização no futebol possuía clubes de ordem clássica (amadores), num
segundo momento criam-se os clubes cidades e após os anos 2.000 surgem os
clubes empresas. Mas, para que haja uma parceria de sucesso entre regiões
economicamente ativas e clube de futebol competitivo é necessária uma
singularidade entre as Dimensões Externas e Dimensões Internas:
Figura 1 – Relação entre Dimensão Externa e Dimensã o Interna na organização de um clube de futebol competitivo Fonte: TAJES JR (2012).
Isto pode ser uma possível explicação para o caso de tanta equidade nos
campeões catarinenses de futebol profissional. Pois, as experiências recentes
demonstram que, quando se trata de desenvolvimento localizado de uma equipe de
futebol, as novas combinações cada vez mais dependem da espontaneidade criativa
de iniciativas político-institucionais e cada vez menos da espontaneidade criativa do
empresário.
DIMENSÃO
EXTERNA
DIMENSÃO INTERNA
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Tabela 1 – Campeões e Vice-Campeões Estaduais de Fu tebol (continua)
ANO CLUBES CAMPEÕES CLUBES VICE-CAMPEÕES
DIVISÃO PRINCIPAL
2010 AVAÍ F. C. JOINVILLE E. C.
2009 AVAÍ F. C. ASS. CHAPECOENSE
2008 FIGUEIRENSE F. C. CRICIÚMA E. C.
2007 ASS. CHAPECOENSE CRICIÚMA E.C.
2006 FIGUEIRENSE F. C. JOINVILLE E. C.
SÉRIE A1
2005 CRICIÚMA E.C. C.A. HERMANN AICHINGER
2004 FIGUEIRENSE F.C. C.A. HERMANN AICHINGER
CAMPEONATO CATARINENSE 1.ª DIVISÃO
2003 FIGUEIRENSE F.C. CAXIAS F.C.
2002 FIGUEIRENSE F.C. CRICIÚMA EC
2001 JOINVILLE E.C. CRICIÚMA E.C.
2000 JOINVILLE EC MARCÍLIO DIAS
1999 FIGUEIRENSE F.C. AVAÍ F.C.
1998 CRICIÚMA E.C. TUBARÃO F.C.
1997 AVAÍ F.C. TUBARÃO F.C.
1996 ASS. CHAPECOENSE JOINVILLE E.C.
1995 CRICIÚMA E.C. ASS. CHAPECOENSE
1994 FIGUEIRENSE F.C. CRICIÚMA E.C.
1993 CRICIÚMA E.C. FIGUEIRENSE F.C.
1992 BRUSQUE F.C. AVAÍ F.C.
1991 CRICIÚMA E.C. ASS. CHAPECOENSE
1990 CRICIÚMA E.C. JOINVILLE E.C.
1989 CRICIÚMA E.C. JOINVILLE E.C.
1988 AVAÍ F.C. BLUMENAU E.C.
1987 JOINVILLE E.C. CRICIÚMA E.C.
1986 CRICIÚMA E.C. C.N. MARCÍLIO DIAS
CAMPEONATO CATARINENSE
1985 JOINVILLE E.C. AVAÍ F.C.
1984 JOINVILLE E.C. FIGUEIRENSE F.C.
1983 JOINVILLE E.C. FIGUEIRENSE F.C.
1982 JOINVILLE E.C. CRICIÚMA E.C.
1981 JOINVILLE E.C. CRICIÚMA E.C.
1980 JOINVILLE E.C. CRICIÚMA E.C.
1979 JOINVILLE E.C. FIGUEIRENSE F.C.
1978 JOINVILLE E.C. ASS. CHAPECOENSE
1977 ASS. CHAPECOENSE AVAÍ F.C.
1976 JOINVILLE E.C. JUVENTUS (Rio do Sul)
1975 AVAÍ F.C. FIGUEIRENSE F.C.
1974 FIGUEIRENSE F.C. E.C. INTERNACIONAL
1973 AVAÍ F.C. C.A. JUVENTUS (Rio do Sul)
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Tabela 1 – Campeões e Vice -Campeões Estaduais de Futebol (conclusão) ANO CLUBES CAMPEÕES CLUBES VICE-CAMPEÕES
CAMPEONATO CATARINENSE
1972 FIGUEIRENSE F.C. AVAÍ F.C.
1971 AMÉRICA F.C. E.C. PRÓSPERA
1970 E.C. FERROVIÁRIO G.E. OLÍMPICO (Blumenau)
1969 E.C. METROPOL AMÉRICA F.C.
1968 COMERCIÁRIO E.C. (Criciúma) CAXIAS F.C.
1967 E.C. METROPOL C.N. MARCÍLIO DIAS
1966 E.E.R. PERDIGÃO (Videira) COMERCIAL (Joaçaba)
1965 E.C. INTERNACIONAL E.C. METROPOL
1964 G.E. OLÍMPICO (Blumenau) E.C. INTERNACIONAL
1963 C.N. MARCÍLIO DIAS C.N. ALMIRANTE BARROSO
1962 E.C. METROPOL C.N. MARCÍLIO DIAS
1961 E.C. METROPOL C.N. MARCÍLIO DIAS
1960 E.C. METROPOL (Criciúma) C.N. MARCÍLIO DIAS
Fonte: Federação Catarinense de Futebol (FCF)
Com base na tabela de campeões e vice-campeões estaduais de futebol
profissional, nota-se que há uma distribuição mais equitativa de campeões e vice-
-campeões entre as regiões catarinenses e seus respectivos times. Enumerando por
cada região, se tem os seguintes resultados:
Região da Grande Florianópolis
� Dois times conquistaram 15 títulos: Avaí Futebol Clube e Figueirense Futebol
Clube;
� Dois times dividem 10 vezes o vice-campeonato estadual: Avaí Futebol Clube
e Figueirense Futebol Clube;
Região Norte
� Dois times somam 13 títulos: América e Joinville Esporte Clube (JEC);
� Outros três chegaram ao segundo lugar em 7 oportunidades: América,
Caxias, JEC;
Região Sul
� A região apresenta também três agremiações campeãs em 14 vezes:
Criciúma Esporte Clube, Ferroviário e Metropol;
18
� Quanto às conquistas de vice-campeonatos foram 13 vezes e quatro times:
Criciúma Esporte Clube, Metropol, Próspera e Tubarão;
Vale do Itajaí
� O vale teve três times campeões, com 3 títulos: Brusque, Marcílio Dias e
Olímpico;
� Quanto às conquistas de vice-campeonatos, 13 ao todo, que se dividem em
seis clubes: Barroso, Blumenau Esporte Clube, Herman Aichinger, Juventus,
Marcílio Dias e Olímpico;
Oeste
� Duas equipes detêm 4 campeonatos estaduais: Chapecoense e Perdigão, de
Videira;
� Sendo 4 vice-campeonatos com dois times: Chapecoense e Comercial de
Joaçaba;
Planalto Serrano
� É a região que detém o menor número de títulos e vice-campeonatos, apenas
uma vez cada e somente uma agremiação, o Internacional de Lages.
Mapa 2 – Distribuição dos Campeões e Vice-Campeões Catarinenses Fonte: IBGE. Adaptado por TAJES JR (2012).
15 Títulos 10 Vice-Campeonatos
13 Títulos
7 Vice-Campeonatos
4 Títulos
4 Vice-Campeonatos 3 Títulos
13 Vice-Campeonatos
1 Título 1 Vice-Campeonato
14 Títulos
13 Vice-Campeonatos
19
Embora este panorama seja incomum à realidade nacional, não foi
identificado estudos que relatam essa temática sobre Economia Regional e Futebol.
Desta forma, o presente estudo pretende comparar o desenvolvimento econômico
das regiões catarinenses com o futebol profissional em Santa Catarina no período
de 1960-2010. E ainda, verificar se há influência do desenvolvimento econômico
regional e o sucesso nos gramados de Santa Catarina. Sendo assim, a partir destas
abordagens preliminares, este estudo buscará responder o seguinte problema de
pesquisa: O que explica a grande variação de campeões e vice-campeões estaduais
de futebol no Estado de Santa Catarina?
Desta problemática surgiram questões que norteiam o estudo no seu
desenvolvimento, que são elas:
� Por que em Santa Catarina não é a infraestrutura organizacional dos clubes
nem as regiões mais populosas que determinam os campeões estaduais?
� Qual o tipo de organização que predomina no futebol profissional no Estado
de Santa Catarina?
� Como o futebol pode ser um fator de desenvolvimento local para as regiões?
Por possuir uma organização produtiva especializada regionalmente, com
vocação nas áreas de agricultura, indústria, exportação, Santa Catarina apresenta
um panorama de atividades econômicas regionais descentralizadas. Mas, o sucesso
de um clube constitui o resultado da combinação entre crescimento econômico de
uma região e o padrão de organização da gestão do clube localizado nesta região.
Gestão esta que nos clubes brasileiros, salvo raras exceções, (não são
profissionais). E nisso, tem-se muito a melhorar. Considera-se que existe uma
desigualdade enorme entre o planejamento e a administração dos clubes europeus
e brasileiros.
O acesso ao esporte e a prática do futebol constituem um direito humano e
essencial para que os indivíduos de todas as idades conduzam uma vida saudável e
plena. O futebol, desde a brincadeira e a atividade física até o esporte competitivo
organizado, tem um papel importante em todas as sociedades. É uma força
econômica significativa que gera emprego e que contribui para o desenvolvimento
local. Além disso, reúne indivíduos e comunidades, servindo de ponte entre as
diferenças culturais e étnicas. O futebol oferece uma ferramenta bastante custo-
-efetivo para os desafios do desenvolvimento.
20
Nos últimos anos, o tema Futebol, tem permeado de maneira significativa a
produção de conhecimento no meio científico. Dentro das inúmeras pesquisas sobre
o futebol, encontram-se as mais variadas abordagens no âmbito da perspectiva,
econômica, histórica, sociológica, psicológica e antropológica. As suas implicações
culturais e políticas, na sociedade contemporânea, tornaram-se grandiosas e se
transformaram em preocupações políticas por parte do Estado e das instituições
normatizadoras da sociedade. Ou seja, ao se transformar num espetáculo de
massas, o futebol deixou de ser apenas de interesse de curiosos e apaixonados e se
transformou em assunto político relevante e com interesse acadêmico como tema
relevante (MEZZADRI, 2007, p. 107).
O processo de desenvolvimento regional comporta um conjunto variado de
reflexos na estrutura socioeconômica envolvente. Implicações que são sentidas, de
modo especial, no nível de vida dos indivíduos e das coletividades. A área
desportiva não é imune a esses reflexos. Sobretudo, os setores econômicos mais
próximos das modalidades suportadas por gastos correntes volumosos ou então
com exigências mais dispendiosas na prossecução de objetivos de sucesso dos
participantes são aqueles mais subordinados aos sinais resultantes do processo de
desenvolvimento da região ao redor. Em suma, a ideia de região leva em conta,
implicitamente, a questão do conteúdo econômico de seus elementos constitutivos:
nível de renda (pobreza versus riqueza), estrutura produtiva (base agrícola versus
base industrial), estrutura urbana (meio urbano versus meio rural), modos de
transporte e dotação de recursos naturais. Esses conceitos estão na base dos
conceitos de acessibilidade, economias e deseconomias de aglomeração, entre
outros.
Para muitos autores, a região não passa de um conceito abstrato, pois a
subdivisão de um país em unidades menores é muitas vezes arbitrária. Suas
fronteiras nem sempre têm conteúdo econômico, mas obedecem seguidamente a
critérios político-administrativos, culturais, naturais e geográficos. Afirmar que “a
Economia Regional pode ser considerada como a economia de regiões” (AYDALOT,
1985, p. 104), implicitamente está dando um conteúdo vago à disciplina Economia
Regional. Além disso, a abordagem do Desenvolvimento Regional não exigiria mais
do que a realização de estudos empíricos, a fim de identificar problemas específicos
e diferenciados, exigindo soluções, portanto, únicas. De modo geral, os estudos
regionais têm sido efetuados em termos comparativos com outras regiões e em
21
relação à economia nacional. O desempenho do conjunto das regiões é um
parâmetro fundamental de comparação para cada região em estudo. Obviamente, o
tamanho da região, sua constituição e desempenho de cada elemento que a
compõe influenciarão sua performance em relação à média nacional (SOUZA, 2009,
p. 21). E, consequentemente, influenciarão no âmbito Estadual. Diante deste
contexto cabe pesquisar a relação entre Desenvolvimento Regional e Esporte que
não vem sendo priorizada.
O presente estudo se justifica, devido a não observância de pesquisas que
relatem a relação entre o produto (futebol profissional) e o território. Pois, a
configuração do futebol catarinense reflete a organização econômica regional. Por
meio da dinâmica de competição pode-se observar a oscilação entre os campeões
estaduais de futebol profissional da Divisão Especial. Isso aponta possíveis causas
de desenvolvimento econômico regional ótimo em momentos da história. E, que
possivelmente fomentaram a formação do elenco da equipe profissional para chegar
até a glória do título estadual.
Um estudo dessa natureza é de suma importância para possíveis investidores
do futebol. Pois, por meio dele, pode-se estimar, por exemplo, se há relação positiva
entre as regiões mais ricas do Estado possuir equipes entre as primeiras colocadas
do campeonato, ou não. E isso, pode ser determinante no momento de possíveis
investimentos futuros. Como também pode ser interessante para setores, de cunho
informativo, como: imprensa (falada e escrita), para a Federação Catarinense de
Futebol (FCF) e órgãos públicos municipais e estaduais da área do desporto.
Desta forma, o presente estudo pretende expor outro olhar, oferecendo uma
abordagem alternativa: a econômica. Isto se justifica, por exemplo, quando se
observa os elevados salários dos jogadores envolvidos no mercado do futebol. O
comportamento de dirigentes de futebol (nos recentes Clubes Empresas), jogadores
e técnicos, mostram evidências de racionalidade econômica e as diferenças entre
um jogador e um empresário talvez seja menor do que se perceba. Mesmo com os
desempenhos variando de acordo com os talentos individuais, é evidente que ambos
respondem a incentivos monetários. As pessoas, aqui, só existem, reciprocamente,
na função de representantes de mercadorias e, portanto, de donos de mercadorias.
Assim, pode-se definir o processo do futebol moderno.
22
O objetivo geral desta pesquisa, a partir da problemática apresentada e da
justificativa, é compreender de que maneira a economia regional catarinense pode
influenciar na maior variação de campeões de futebol no Estado de Santa Catarina.
Partindo do objetivo geral formularam-se os seguintes objetivos específicos:
� Estabelecer uma relação entre o dinamismo econômico das regiões e a
frequência de campeões nos períodos.
� Identificar os principais padrões de organização administrativa dos clubes
catarinenses.
� Apontar como o futebol pode ser uma variável para o desenvolvimento local
para as regiões.
A metodologia empregada fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, na
qual as contradições se transcendem dando origem a novas contradições que
passam a requerer solução. É um método de interpretação dinâmica e totalizante da
realidade, pois os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social,
político e econômico, empregado em pesquisa qualitativa (MARCONI; LAKATOS,
2002, p. 70). A metodologia empregada será de perfil quali-quantitativo baseada em
dados primários e secundários. Primários, oriundos de pesquisa documental. A
característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita
a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias.
Estas, podem ser recolhidas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou
depois (MARCONI; LAKATOS, 2002, p. 76). E secundários, oriundos de pesquisa
bibliográfica. A pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada pública em
relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas,
livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, entre outros, até meios
de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e
televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que
foi escrito, dito ou filmado sobre o assunto (MARCONI; LAKATOS, 2002, p. 77).
Para o melhor entendimento dos conteúdos pesquisados, a dissertação
divide-se em cinco capítulos. No primeiro, são apresentados os fundamentos
históricos da origem do futebol no mundo – Américas, Brasil e Santa Catarina, – e
teóricos, sobre desenvolvimento regional – evolução histórico-econômica do Estado
de Santa Catarina, formação econômica do Estado de Santa Catarina, os quais
servem para a sustentação de interpretação para o desenvolvimento econômico
regional em Santa Catarina e o futebol durante os períodos pesquisados.
23
O segundo capítulo tratará da análise dos períodos (década de 60, 70, 80, 90,
2000), da economia regional de Santa Catarina e os seus respectivos campeões de
futebol profissional, com a devida discussão e resultados referentes ao tema.
O terceiro capítulo apresenta os dados teóricos referentes à gestão de clubes
de futebol e a discussão e resultados do tema.
O quarto capítulo terá como plano principal justificar a perspectiva do futebol
ser uma variável para o desenvolvimento local para as regiões, com a devida
discussão e resultados pertinentes ao tema.
Finalmente, no quinto capítulo, são apresentadas as conclusões em relação
à análise realizada, bem como sugestões e propostas.
24
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 ORIGENS DO FUTEBOL NO MUNDO
Há muita discussão sobre a origem do futebol, que dificilmente se apontará
para um só jogo como o responsável pela origem desse esporte. Pesquisando sobre
a origem do futebol, percebe-se como o resultado final de uma lenta evolução de
diferentes jogos com bola, que se deu durante os tempos, através de milênios.
Segundo Klein e Audino (1996, p. 07) foram encontrados na pré-história,
registros de que: “O homem pré-histórico gravou nas suas cavernas cenas de
homens tocando com os pés objetos redondos, como uma bola.”
Segundo Scaglia (1999, p. 08) seguindo uma linha de tempo, encontra-se na
história, mais precisamente no Japão, por volta de 4.500 a.C., um outro jogo da
estirpe do futebol moderno, o Kemari, praticado por nobres da corte imperial. O jogo
consistia em jogar a bola com as mãos e os pés. Os escravos eram os “gandulas” da
época, ficando ao redor do campo. Eram os repositores de bola, feita de fibra de
bambu, para que os nobres continuassem a sua diversão.
Segundo o autor citado acima, por volta de 2.500 a.C., na China na época do
Imperador Huang-Tsé, encontra-se um jogo, usado para treinamento militar e, que
com o tempo, tornou-se diversão. Era chamado Ts’u chu.
[...] era jogado com uma bola de couro redonda (recheada com cabelo e crina, com 22 cm de diâmetro), num campo com 14 m de lado. Os jogadores não poderiam deixar a bola cair no chão e tinham de passá-la por entre duas estacas fincadas no chão e ligadas por um fio de seda (SCAGLIA, 1999, p. 08).
Seguindo uma cronologia histórica, encontra-se na Grécia, por volta de 800
a.C., mais exatamente na cidade de Esparta, um jogo conhecido como Epyskiros,
onde as equipes chutavam uma bexiga de boi, recheada com areia e ar. O jogo era
praticado durante os treinamentos militares, principal atividade da cidade, e exigia
mais força do que habilidade de seus praticantes.
Julius Pollux, escritor grego do século II, fala de uma linha de meta, localizada no fundo de cada lado do campo, através da qual a bola deveria ser arremessada para a contagem dos pontos. Antífenes, dramaturgo do
25
século III, chega a se referir às expressões que os jogadores usavam durante as partidas: bola longa, passe curto, para frente, mais alta, volte [...] (SCLIAR; CATTANI, 1968, p. 38).
Devido à dominação e expansão do império romano, espalha-se pelo mundo
até então conhecido, por volta do ano 100 a.C., um jogo, muito parecido ao
epyskiros grego, chamado Harpastum. Tinha finalidades militares, tanto de
treinamento quanto táticas para pequenas batalhas. Os dois times tinham as suas
linhas de ataque e defesa aliadas, a esquemas táticos, estratégias, para atravessar
as linhas inimigas (SCAGLIA, 1999, p. 09).
Voltando à linha do tempo, depois da queda do império romano, a história da
evolução dos jogos com os pés fica meio obscura, mas existem registros de vários
jogos realizados durante a idade média. Neste sombrio período histórico, os jogos
desorganizados envolviam, na maioria das vezes, toda a multidão nas ruas da
cidade, que corria atrás de uma bola, usando meios não muito leais, como socos,
pauladas e pontapés, para dominá-la. Um exemplo disto é o Soule ou Choule,
praticado na Normandia e na Bretania (SCAGLIA, 1999, p. 09).
Estas palavras eram derivadas do celta e significava sol, a bola. No início, a bola era jogada para o alto para que tomasse contato com as divindades e quando voltada ao chão era disputada pelos dois grupos, postados em cada lado do campo. Eram grupos bastante numerosos e a luta pela posse da bola escarniçada. A meta poderia ser um muro, uma árvore ou a praça da cidade vizinha. A disputa se dava por bosques, riachos e estradas e podia demorar dias. No século XI, o jogo passou a ser disputado em campos delimitados e com uma parede à guisa de meta. As mãos podiam ser usadas para receber a bola, mas ela tinha de ser impulsionada com o pé. Quem conseguisse colocar a bola na meta indicada, se tornava “o dono” do choule ou soule (KLEIN; AUDINO, 1996, p. 39).
Segundo Scaglia (1999, p. 10), com a crescente popularidade destes jogos,
em 1314 o rei inglês Eduardo II decide proibir a sua prática, dizendo que eles
poderiam desviar a atenção dos jovens, distanciando-os da prática do arco e flecha,
esporte, evidentemente mais importante para uma nação em guerra. A mesma
atitude foi adotada pelos reis subsequentes, como Felipe V, em 1319, Eduardo III,
em 1349, Carlos V, em 1369, Henrique IV, em 1410, Henrique VI, em 1547, impondo
rigorosas proibições. Mas de nada adiantou, pois o jogo continuou sendo praticado
clandestinamente, sobretudo, nos mosteiros, onde as ordens reais não exerciam
muita influência.
26
Por volta de 1529, surge na cidade italiana de Florença, um importante centro
econômico da época, a manifestação futebolística mais semelhante a que se tem
atualmente, o Calcio. Este jogo é derivado de uma guerra interna, pois, durante o
sítio sofrido pela cidade por parte das forças do príncipe Orange, duas forças
políticas de Florença resolveram acabar com suas velhas rixas através de um jogo
de bola. Assim:
Eram 27 jogadores por equipe: uma jogava de verde e a outra inteiramente de branco. A partida durou algumas horas e, a partir daí, passou a ser realizada anualmente no dia 24 de junho (dia de São João, padroeiro da cidade). O giuoco del calcio, em 1580, recebeu as suas primeiras regras normativas. Continuou com 27 jogadores de cada lado: quinze atacantes (innanzik), cinco como defensores avançados (sconciatori), quatro numa terceira linha (datori innanzi) e mais três defensores de meta (datori in dietro) (SCAGLIA, 1999, p. 10-11).
Somente no século XVII os reis ingleses permitiram a volta oficial da prática
dos jogos com os pés. Os partidários do rei Carlos II, refugiados na Itália por causa
da república instaurada por Oliver Cromwell, foram, neste período, contaminados
pelo cálcio. Entretanto, depois de restaurada a monarquia na Inglaterra, esses
exilados atravessam a França e levam o jogo para o outro lado do canal da Mancha.
A primeira grande mudança rumo ao futebol moderno se deu nas escolas
públicas inglesas, mas cada uma delas tinha o seu jogo com regras diferentes. No
final do século XVIII, as escolas eram instituições rebeldes e até violentas, pois eram
ocupadas pelos ociosos da aristocracia inglesa. Quando estes filhos da nova classe
média chegaram às universidades, surgiu a necessidade de se melhorar a disciplina.
Pessoas esclarecidas como o diretor da escola Rugbi, percebeu a importância
nestes jogos viris, praticados pela maioria dos estudantes, para a construção da
autoconfiança e da formação do caráter, incentivando assim, a prática destes jogos
na sua escola (Scaglia 1999, p. 11).
A escola Harrow, importantíssima para a história da origem do futebol, foi uma
das primeiras a utilizar onze jogadores em cada equipe e priorizar mais o jogo com
os pés em vez dos passes e lançamentos realizados com as mãos. Quando seus
alunos chegaram à universidade, perceberam que seus colegas utilizavam regras
diferentes para jogar o futebol. Este conflito os levou a realizar uma decisiva reunião
em Cambridge, em 1848, onde se estabeleceu um conjunto de regras comuns,
derivadas das várias regras de cada escola, levadas por seus respectivos
27
representantes. Estas regras atenderam satisfatoriamente às necessidades e foram
amplamente divulgadas por toda a Inglaterra, através de panfletos ou por
estudantes/jogadores quando estes retornavam às suas regiões originárias
(SCAGLIA, 1999, p. 12).
Mas, com o passar dos anos, e com o aumento expressivo da prática e, por
consequência, dos praticantes, algumas regras começaram a suscitar pontos de
discordância. Isto acarretou a necessidade de se realizar a mais importante reunião
para a história do futebol. Pode-se dizer que o futebol moderno acabara de nascer,
sofrendo apenas mais algumas evoluções ao longo dos anos. Mas o princípio básico
do jogo fora estabelecido nesta reunião: o uso exclusivo dos pés para a prática do
futebol.
Em 26 de outubro de 1863 – numa reunião realizada à luz de velas na Taberna Freemason’s, em Great Queen street, Londres, onze clubes e escolas compareceram para debater as regras do esporte. Uns defendendo o jogo só com os pés, outros batendo-se por uma unificação das regras a partir dos fundamentos do rúgbi. Os que eram pelo futebol, pura e simplesmente, estabeleceram suas leis, fundando a The Football Association, uma espécie de CBF inglesa, e dando forma definitiva ao jogo que, mais tarde, se transformaria numa paixão universal. O futebol foi oficialmente codificado em dezembro daquele ano, a partir de nove regras estabelecidas por Cambridge (SCAGLIA, 1999, p. 12).
Chega-se, então, ao final da linha do tempo, no ano de 1863, mais
precisamente no dia 23 de outubro, na Freemason´s Tavern, em Queen Street, na
cidade de Londres, na Inglaterra, onde o futebol nasce definitivamente. Portanto,
pode-se dizer que o futebol nasceu derivado da construção e evolução histórica de
vários jogos, praticados em diferentes locais, em determinadas épocas, com
finalidades as mais distintas, mas que tinham sempre em comum o contato e o
controle de uma bola, ou similar, através da utilização dos pés (SCAGLIA, 1999, p.
13).
2.2 A CHEGADA DO FUTEBOL À AMÉRICA
Segundo Castro (1998, p. 07), os índios, antes mesmo da chegada dos
colonizadores, praticavam um jogo de equipes em disputa de uma bola. A Coleção
28
Placar cita a existência de jogos como o Aqsaqtuk no norte do Canadá; no Chile, os
índios jogavam o Pilimatum; na Patagônia, era jogado o Tchoekah. Já os Maias, no
norte de Honduras, praticavam um jogo violento chamado Copan, onde os
perdedores perdiam também as suas cabeças; os Astecas, no México, praticavam
um jogo mais pacífico, chamado Ullamalizth, que consistia numa disputa onde uma
bola de borracha era rebatida com os quadris (Vídeo Coleção Placar História do
Futebol nº. 1).
Mas estes jogos não são considerados como precursores do futebol moderno,
sendo que este chegou às Américas, no século XIX, com o advento da expansão do
mercado, gerada pela revolução industrial, por intermédio de seus marinheiros,
viajantes e trabalhadores ingleses. Os estivadores locais faziam a descarga das
mercadorias, os marinheiros britânicos jogavam o futebol (CASTRO, 1998, p. 22).
Os estudantes foram importantes agentes disseminadores do futebol pelo mundo,
pois, regressando da Inglaterra, carregavam em suas bagagens, além de muito
conhecimento, uma paixão incontida pelo futebol.
Havia ainda os jovens que retornavam das escolas inglesas, alguns deles pioneiros, como seis estudantes de Costa Rica. Em San José, no dia 08 de dezembro de 1876, duas equipes, formada por jovens treinados pelos estudantes, realizaram o primeiro jogo de futebol disputado naquele país da América Central (CASTRO, 1998, p. 22).
Na América do Sul, o futebol chega por volta da segunda metade do século
XIX, primeiramente na Argentina, onde, no início, era visto como jogo maluco
praticado pelos ingleses (SCAGLIA, 1999, p. 14).
Trazido por imigrantes e marinheiros ingleses que aportaram em Buenos Aires na década de 1860, o “jogo de malucos” começou como uma reunião informal entre amigos. As equipes eram, então, formadas por cidadãos ingleses, diplomatas e funcionários das companhias de gás da capital argentina. Pouco a pouco, porém, foi-se espalhando. Primeiro para o Uruguai, onde chegou quase simultaneamente. Depois para o Brasil (Coleção Placar História do Futebol, 1998, p. 04).
Do final do século XIX até início do século XX, o futebol já havia contaminado
e apaixonado a todos no sul das Américas, mais radicalmente, na Argentina, no
Uruguai e no Brasil. E, com o advento da primeira guerra mundial, a América do Sul
tornou-se um campo fértil para o esporte crescer. A ponto de, até hoje, enfrentar os
29
europeus com o status de melhores do mundo, num esporte que, como já foi
abordado veio de lá para cá (SCAGLIA, 1999, p. 14).
2.2.1 Origens do Futebol no Brasil
Esporte de elite. Assim era definido o futebol quando começou a ser praticado
no Brasil. Isso porque apenas os jovens mais abastados, que estudaram na Europa,
é que tiveram a oportunidade de manter os primeiros contatos com esse esporte,
hoje com milhões de adeptos em todo o mundo.
Charles William Miller nasceu em São Paulo, em 24 de novembro de 1874,
filho do engenheiro escocês John Miller e da brasileira Carlota Alexandrina Fox
Miller. Carlota, por sua vez, era filha dos ingleses Henry Fox e Harriet Mathilda
Rudge Fox. A descendência de Miller era resultado de um conjunto de fatores que
transformaram São Paulo em centro de atração do capital inglês no final do século
XIX.
O pai de Miller viera ao Brasil para trabalhar na São Paulo Railway, ou San
Paulo (Brazilian) Railway Company Limited, como consta nos documentos da
empresa na Inglaterra, em meio ao boom de construção de ferrovias no Brasil. Em
1851, havia apenas 15 km de estradas de ferro no país, menos de 70 anos depois,
esse número saltaria para cerca de 28.600 km. O capital para esse tipo de
construção era basicamente inglês, primeiro apenas como investimento indireto,
depois com empresas totalmente britânicas atuando no setor. Era esse
precisamente o caso da São Paulo Railway, que ficou com a “joia da Coroa” das
ferrovias nacionais: a que ligava o Vale do Paraíba a Santos. Eram apenas 139 km,
mas tornou-se um dos empreendimentos mais importantes da economia brasileira
na ocasião, porque serviu para escoar a produção de café, cujo valor na pauta de
exportações do Brasil havia assumido posição insuperável em meados do século
XIX. O café foi o principal produto brasileiro no exterior durante quase um século, e o
Brasil controlava 80% do mercado mundial, por meio da industrialização e da
entrada maciça de imigrantes e a consequente introdução de hábitos e cultura
estrangeiros, no meio dos quais estava o “esporte bretão” (GUTERMAN, 2009, p.
14).
30
Tamanha riqueza, como era previsível, atraiu a atenção da principal potência
mundial na época, o Império Britânico. O investimento seguiu o padrão daquele que
ficou conhecido como “o século dos ingleses” na América Latina. A partir da
segunda década do século XIX até o final da Primeira Guerra Mundial, o Reino
Unido liderou os investimentos em infraestrutura e bens de capital no continente,
acompanhando os movimentos de independência. Enquanto a Europa, capitaneada
por ingleses, prussianos e russos, tentava derrotar Napoleão, a América Latina
absorvia um terço das exportações de manufaturados britânicos. No caso específico
do Brasil, as relações privilegiadas dos britânicos datavam pelo menos desde a
vinda da família real portuguesa para o Rio de Janeiro e a consequente
transferência da Corte para cá, em 1808.
As comunidades britânicas atraídas para trabalhar no Brasil são
insignificantes do ponto de vista demográfico, como relata Guterman (2009, p. 15),
razão pela qual não aparecem entre os maiores contingentes de imigrantes
recebidos pelo país entre o final do século XIX e o começo do século XX. Os
registros indicam que os ingleses viviam em grupos de até 300 funcionários das
empresas do Reino Unido e trabalhavam em tarefas específicas, como ajustar trilhos
e operar máquinas. Raros eram os ingleses pobres, estes imigravam para os
Estados Unidos da América (EUA), e não para o Brasil. São Paulo recebeu ingleses
das classes média e alta, pessoas “com bolsos recheados de moedas de prata”, em
busca de “grandes empreendimentos” e com certo “padrão de educação”.
Embora São Paulo e Rio de Janeiro já tivessem boas escolas no final do
Império e no começo da República, havia um “ar de exibicionista”, entre os
imigrantes mais ricos e a aristocracia local, em mandar os filhos estudar na Europa.
Charles Miller, por exemplo, foi mandado pelos pais à Inglaterra para estudar
quando tinha nove anos, em 1884. A família esperava que, no Banister Court
School, em Southampton, ele se formasse para entrar na administração dos
negócios ingleses em São Paulo. Foi lá que ele descobriu o futebol e pôde
desenvolver suas habilidades. O jovem ficou na Banister até 1894 (GUTERMAN,
2009, p. 16).
Comparado ao que acontecia na própria Inglaterra, era um paradoxo e tanto.
O futebol inglês nasceu em meio ao crescimento da massa operária. Era um jogo
que trazia para os locais públicos toda a raiva das classes baixas do país, atulhadas
nas cidades cada vez mais hostis. A repressão ao futebol jogado na rua, comum no
31
início do século XIX na Inglaterra, é a prova de que o esporte era visto como coisa
da ralé, ainda mais porque invariavelmente acabava em pancadaria e depredação.
Por causa disso, o futebol passou a ser jogado em locais específicos, principalmente
nas escolas públicas. Foi a primeira tentativa de uniformizar as regras do jogo, isso
por volta de 1850 (GUTERMAN, 2009, p. 16-17).
Multiplicaram-se os times, que já nasciam com vocação profissional, uma
oportunidade rara para os operários e estudantes ganharem dinheiro, o futebol
inglês era, assim, jogado majoritariamente por gente pobre. O jogo continuou
violento, mas, a partir de 1863, contava com regras aceitas pela maioria, inclusive
uma que impedia o zagueiro de dar um pontapé no atacante para impedi-lo de
chegar ao gol (GUTERMAN, 2009, p. 17).
No Brasil, por outro lado, o pedigree elitista do futebol permeava tudo,
inclusive a estrutura do esporte. O primeiro campo oficial do país foi o terreno da
Chácara Dulley, no Bom Retiro, onde já se jogava críquete, então o esporte
preferido dos ingleses no Brasil. A chácara pertencia à família de Charles D. Dulley,
engenheiro americano que chefiou a construção da ferrovia entre São Paulo e Rio,
aberta em 1877. O terreno ficava a poucos metros da Estação da Luz, onde hoje
está um quartel da Polícia Militar, e a Avenida Tiradentes, ao final da Rua Três Rios,
porque fora aberta pelo tal marquês, que lá também tinha uma propriedade. Na
mesma Chácara Dulley, como a confirmar esse traço de nobreza, houve a
introdução do golfe no país. Mas o futebol, por razões diversas, acabou
predominando (GUTERMAN, 2009, p. 17).
Aos ingleses bem-sucedidos juntou-se a elite cafeeira paulistana. O primeiro
estádio de futebol digno desse nome no Brasil foi uma adaptação do Velódromo
Paulistano, erguido em 1892 por encomenda de Antonio da Silva Prado, ou
simplesmente conselheiro Antonio Prado. Empresário de vários negócios, inclusive
no setor ferroviário, Antonio Prado era neto do barão de Iguape e herdeiro de uma
das famílias mais ricas do Brasil, ligada ao café e às estradas de ferro. Teve também
forte carreira política, chegando a ser prefeito de São Paulo. O terreno onde foi
construído o Velódromo era da mãe de Prado, Veridiana de Almeida Prado, ou
simplesmente “Dona Veridiana”. Ficava onde hoje é a Praça Roosevelt, e nas
redondezas jogava-se pelota basca. Na época, o ciclismo era moda em São Paulo, e
a ideia era ter um lugar fechado onde a elite paulistana pudesse exercitar-se, ao
local afluíam amigos da família Prado, mais tarde, surgiria ali o Clube Atlético
32
Paulistano. Em 1901, foi adaptado para receber jogos de futebol (GUTERMAN,
2009, p. 18).
Até esse momento, porém, o futebol era praticado em condições precárias, de
acordo com os registros da época. Em 1864, ou seja, 30 anos antes de Charles
Miller regressar ao Brasil com o futebol na bagagem, marinheiros estrangeiros,
sobretudo ingleses, foram vistos disputando peladas nos capinzais desertos do
litoral brasileiro. Há, ainda, registro de jogos nas mesmas condições entre 1874 e
1878. A praia da Glória, no Rio de Janeiro e um descampado em frente à residência
da princesa Isabel são citados como locais desses prélios, dos quais participavam
funcionários de firmas inglesas de navegação, de cabos submarinos, bancos, docas
e ferrovias, como The Leopoldina Railway Company.
A participação de brasileiros aparenta ser rara, a não ser como assistentes ou
coadjuvantes desse estranho esporte. Jogava-se também no interior de São Paulo,
em Jundiaí, um certo “Mr. Hugh” jogos entre brasileiros e ingleses da São Paulo
Railway, em Itu, organizado por um padre jesuíta do São Luiz, colégio da elite
cafeeira fundado em 1867 e que em 1918 se mudaria para seu atual endereço perto
da avenida Paulista, estimulou os alunos a jogar à maneira de Eton,
tradicionalíssima escola inglesa onde os estudantes chutavam bola contra a parede,
na falta de local apropriado para esse esporte. Como se nota, são iniciativas
esparsas e movidas por mera diversão, sempre coordenadas por ingleses ou
inspiradas por eles. Não havia campo adequado nem equipamento, as bolas, por
exemplo, eram raridade. O que Miller introduziria no Brasil seria o perfil competitivo
do futebol, com suas regras, limitações e artimanhas, provável razão pela qual ele é
considerado o pioneiro desse esporte no país (GUTERMAN, 2009, p. 18).
Mesmo com Miller, porém, o futebol experimentou, em seus primeiros momentos de organização no Brasil, um bocado de amadorismo e simplicidade, e isso talvez não tenha sido involuntário, por mais que soe paradoxal em relação à riqueza de que dispunham os primeiros amantes desse esporte no país. Jogar em campos improvisados, com menos jogadores do que manda a regra, em condições claramente adversas e sem nenhum tipo de remuneração, apenas por amor ao esporte, tudo isso simbolizava o romantismo que cercava o futebol da época, mesmo na Inglaterra (GUTERMAN, 2009, p. 18-19).
Até a segunda década do século XX, o futebol praticado no Brasil era
essencialmente amador. Não havia contrato firmado entre o clube e o jogador, nem
salário estipulado, nem negociações entre times para a compra do passe de um
33
atleta. Concebido como um passatempo dos filhos de nossas elites, o futebol estava
adequado à condição social de seus praticantes (CARRILHO, 2010, p. 32).
Entre os clubes pioneiros de São Paulo estão a Associação Atlética
Mackenzie College (1898), primeiro time constituído exclusivamente por brasileiros,
o Sport Club Internacional (1899), que contava com alemães e descendentes, o
Clube Athletico Paulistano (1900), com representantes de tradicionais famílias de
São Paulo, e a Associação Atlética das Palmeiras, dissidência do Paulistano
(CARRILHO, 2010, p. 32).
A proliferação de clubes e times de futebol pelo Brasil, principalmente nas grandes cidades, seguiu em geral duas grandes tendências. Em primeiro lugar, temos o surgimento de equipes formadas por praticantes socialmente privilegiados, pautado pelos valores do amadorismo. É o caso do Fluminense (1902) e do América (1904), do Rio de Janeiro, clubes fundados especificamente para a prática do novo esporte; da Ponte Preta (1900), de São Paulo e do Botafogo (1904), do Rio de Janeiro, organizados por jovens ligados a estabelecimentos de ensino; e do Náutico, de Pernambuco e do Flamengo, do Rio de Janeiro que, nos anos de 1909 e 1911, respectivamente, introduziram o futebol entre as suas modalidades esportivas (CARRILHO, 2010, p. 32).
Para esses grupos, o futebol representava um novo item de estilo de vida
europeu, que satisfazia os desejos de modernização da elite brasileira, da qual
faziam parte. Deveria, portanto, ser praticado por pessoas com a mesma condição
social e até racial. O surgimento de ligas de futebol que agrupavam os clubes de
elite, como a Liga Paulista de Football (1902) e a Liga Metropolitana de Football
(1905), no Rio de Janeiro, reafirmou essa concepção. Entretanto, esse movimento
histórico não pôde impedir o desenvolvimento de um tipo de futebol, mais popular e
acessível. Logo cedo, as barreiras sociais do esporte começaram a ser quebradas
com a iniciativa das camadas populares de formar times improvisados. Com
equipamentos precários e bolas, muitas vezes inadequadas, o futebol dos
socialmente excluídos se espalhou pelos subúrbios. Rapidamente, foi constituído um
grande número de clubes organizados por pequenos comerciantes, artesãos e
operários. É o caso, por exemplo, do Internacional (1909), de Porto Alegre, e do
Corinthians Paulista (CARRILHO, 2010, p. 32-33).
Mas, o clube de futebol que simbolizava o romantismo da época, era o
Corinthians Britânico. Fundado em 1882, em Londres, o Corinthians (ou “Corinthian”,
como aparece em alguns registros) recusou-se terminantemente a participar de
competições que dessem qualquer tipo de prêmio. Excursionava pelo mundo com o
34
objetivo de disseminar o futebol. Na turnê de dois meses nos Estados Unidos da
América (EUA) e Canadá em agosto de 1906, o New York Times da época registrou
que a vinda do “maior time amador inglês”, formado exclusivamente por estudantes,
criou boa impressão do esporte britânico em terras americanas. “Seu estilo único de
jogo não mudou. Os atacantes jogam um jogo aberto. Eles conduzem a bola
rapidamente e vão direto em direção ao gol sem a menor hesitação ou
procrastinação”, elogiou o Times. Pode-se dizer que, sem compromisso com a vitória
e com títulos, o Corinthians britânico, orgulhosamente amador, podia jogar de modo
destemido, sem preocupações defensivas ou táticas. Por essa razão, serviu de
inspiração, ao menos como ideal, ao futebol do resto do mundo. Mais tarde, o
Paulistano, por exemplo, que fora várias vezes campeão paulista decidiu abandonar
o futebol depois que o esporte estava definitivamente profissionalizado em São
Paulo (GUTERMAN, 2009, p. 19).
Esses casos provam o caráter desinteressado do jogo em seus primórdios,
em contraste com o crescente profissionalismo que já inspirava reservas entre os
europeus, principalmente os ingleses. O embate entre amadorismo e
profissionalismo seria a tônica do futebol brasileiro nas primeiras três décadas do
século XX.
Segundo Guterman (2009, p. 20), o primeiro jogo de futebol disputado no
Brasil, mais ou menos dentro das regras oficiais, de acordo com os registros mais
aceitos, ocorreu em São Paulo em 14 ou 15 de abril de 1895. Promovido por Charles
Miller, reuniu funcionários da Companhia do Gás (The Team of Gaz Company) e da
São Paulo Railway. A partida teve lugar na Várzea do Carmo, nas proximidades das
ruas do Gasômetro e Santa Rosa, conforme descreveu mais tarde o próprio Miller,
que conhecia bem a região, afinal, ele nascera no Brás. O terreno era da Companhia
Viação Paulista, empresa de transporte sob a qual se unificaram todas as outras
companhias de bondes de São Paulo. Ela dispunha de 77 bondes, todos de tração
animal, embora já houvesse experiência de bondes a vapor. Os bondes elétricos só
chegariam a São Paulo em 1900, pelas mãos, claro, de uma companhia canadense
devidamente autorizada pela rainha Vitória, a Light de São Paulo. No ano seguinte,
a Light encamparia a Companhia Viação Paulista, e os bondes puxados por burros
seriam atropelados pela modernidade elétrica. No entanto, quando Charles Miller e
seus colegas resolveram bater bola naquele terreno da Várzea do Carmo, tiveram
35
de enxotar os burros que pastavam no local para poder jogar, em romântica
demonstração da simplicidade a partir da qual nasceria o futebol no Brasil.
2.2.2 A Popularização
As transformações da sociedade brasileira nos primeiros 40 anos de
República proporcionaram também mudanças no futebol, tornando-o mais popular.
O principal item da economia brasileira era o café, produzido extensivamente na
região Oeste do Estado de São Paulo, e a valorização desse produto criou as
condições para o desenvolvimento da nossa indústria. Assim, a sociedade brasileira
do início do século XX, já era bastante diferente daquela do século XIX. Não
havendo mais escravidão, o trabalho urbano e rural passou a contar com os
imigrantes, provenientes de vários países da Europa e da Ásia (CARRILHO, 2010, p.
34).
Um dos resultados do estímulo à imigração foi o surgimento de clubes organizados por colônias de europeus e seus descendentes no centro-sul do país. Das colônias alemãs, por exemplo, surgiram o Grêmio (RS), em 1903, e o Coritiba (PR), em 1909. Os imigrantes italianos, por sua vez, foram responsáveis pela fundação do Guarani, de São Paulo, em 1911; do Juventude, do Rio Grande do Sul, em 1913; do Palestra Itália (futuro Palmeiras, de São Paulo), em 1914; e de outro Palestra Itália (futuro Cruzeiro, de Minas Gerais), em 1921. As colônias portuguesas organizaram o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, em 1898 (cujo departamento de futebol foi criado em 1915); e a Portuguesa de Desportos, de São Paulo, em 1920. Em Santos, a colônia espanhola criou Jabaquara Atlético Clube, em 1914 (CARRILHO, 2010, p. 34).
As equipes formadas por operários e outros trabalhadores urbanos foram
responsáveis pela popularização do futebol nas primeiras décadas do século XX.
Jogando nos campos das fábricas, em terrenos descampados e nas várzeas dos
rios, os trabalhadores foram lentamente corroendo a exclusividade que as elites do
país pretendiam exercer sobre aquele esporte. Na cidade de São Paulo, a utilização
das várzeas dos rios Pinheiros e Tietê, na atual baixada do Glicério, ou do vale do
riacho Pacaembu com campos esportivos deu origem à expressão “futebol
varzeano” na época. Hoje essa nomenclatura refere-se a times de bairro ou a
36
pequenos clubes que não possuem estrutura adequada (CARRILHO, 2010, p. 34-
35).
O referido autor afirma que, um dos clubes de origem fabril mais notório é o
Bangu Atlético Clube, do Rio de Janeiro. Fundado em 1904 por funcionários ingleses
da Cia. Progresso Industrial, a “Fábrica Bangu”, o time é referência obrigatória
quando se trata de democratização do futebol por ter incorporado, desde o início,
operários e negros à sua equipe sem maiores restrições, ao contrário dos clubes da
elite carioca e da colônia inglesa. Muitos outros clubes fabris surgiram no período.
Em São Paulo, entre os mais famosos estão o Nacional Atlético Clube (1919),
vinculado à ferrovia São Paulo Railway, e o Clube Atlético Juventus (1924), do bairro
da Água Branca Mooca, respectivamente. Aos empresários da época tornou-se
interessante a organização de times fabris, pois esses, em geral, ostentavam o
nome da empresa, promovendo a sua divulgação e a de seus produtos.
Normalmente, as direções das fábricas cediam um terreno de sua
propriedade para a instalação da sede social do clube e de seu campo de futebol.
Também ofereciam uma verba mensal para as despesas com energia elétrica,
transporte de jogadores, entre outras. Mas cobravam em troca, prestação de contas
para saber como os recursos eram aplicados. Na relação entre as direções das
fábricas e seus operários-jogadores, o amadorismo era disfarçado por meio do
oferecimento de pequenas gratificações aos últimos. Frequentemente, atletas de
bom nível técnico gozavam de privilégios, dedicando-se cada vez menos ao trabalho
nas fábricas e cada vez mais ao time (CARRILHO, 2010, p. 35). Na prática, o
condicionamento diferenciado entre os que jogavam em tempo integral e os que o
faziam em horários livres começou a gerar um abismo entre os times.
Outro ponto importante é que, mesmo sob o discurso de amador, de alguma
maneira, os atletas eram “assediados” para jogar em um time ou em outro e
“compensados” quando ganhavam algum torneio ou partida importante. O autor
Mário Filho (2003, p. 123) comenta que o conceito de “bicho” no futebol, que existe
até hoje, é contraditório, visto que hoje há salário para o jogador, uma prática que
surge para dar conta da criação de um estímulo, de um modelo de gratificações em
dinheiro. Sobre a prática do bicho, ainda, vale, elucidar:
Chamava-se esse dinheiro de bicho porque, às vezes, era um cachorro, cinco mil réis, outras um coelho, dez mil réis, outras um peru, vinte mil réis,
37
um galo, cinquenta, uma vaca, cem. Não parava por aí. Havia vacas de uma, de duas pernas, de acordo com o jogo (FILHO, 2003, p. 123)
Segundo Carrilho (2010, p. 37), o historiador Hilário Franco Júnior, em A
dança dos deuses: futebol, sociedade e cultura, resumiu muito bem o modo como se
pode olhar para o futebol brasileiro do período e, ao mesmo tempo, enxergar as
questões mais importantes relativas ao desenvolvimento do país em sua transição
política:
Esporte de bacharéis num país caracterizado por gigantesca desigualdade social, esporte de brancos em uma sociedade com marcas ainda expostas do escravismo, esporte associado a ícones do progresso e da industrialização (os ingleses) numa economia ainda essencialmente agrária, o futebol tornou-se desde o início um dos ingredientes mais importantes dos debates acerca da modernização do Brasil e da construção da identidade nacional (CARRILHO, 2010, p. 37).
É nessa sociedade desigual, em busca de modernização e de identidade
própria, que se dará o debate a respeito do fim do regime amador, pela
profissionalização do futebol. No ano de 1907, no Rio de Janeiro, as tensões
envolvendo o debate amadorismo versus profissionalismo se acirraram. Um ano
após o início da disputa do campeonato local, a diretoria do Bangu recusou-se a
aceitar o regulamento que proibia a participação de jogadores negros no torneio, e o
clube só voltou à competição cinco anos depois (CARRILHO, 2010, p. 39).
Com isso tudo, o profissionalismo era uma mudança inevitável. Mas foi tardia,
visto que, desde a década de 1910, o debate se impunha. E, mais, já em 1917,
havia sido instituída a cobrança de ingresso. Ao adotar o pagamento de entradas,
obviamente, a relação do torcedor com o jogo muda, visto que ele passa a comprar
um produto, mesmo sem a consciência total disso. Mas, ainda assim, a cobrança
direta, a exigência de bons espetáculos, era um sinal inequívoco de que qualquer
jogador ou técnico conseguia entender (GURGEL, 2006, p. 18-19).
Gurgel (2006, p. 19) afirma que muitos historiadores colocam como fator
central na passagem para o modelo profissional a conquista do título fluminense
pelo Vasco da Gama, em 1923. Essa conquista é histórica, pois junta, no mesmo
feito, o primeiro resultado de um time remunerado, que já se assumia como
profissional, e que era formado por jogadores mulatos, negros e pobres em geral.
Revolucionário, o modelo do Vasco foi rejeitado. Para não se apegar diretamente ao
preconceito social, que era mascarado, os demais clubes “elitistas” calcaram suas
38
críticas no fato de que o time de São Januário tinha jogadores profissionais, o que
não era permitido. A rejeição ao modelo desse time foi marcada pela exclusão da
Liga de Clubes Cariocas por algum tempo. Mas o sucesso do time mestiço com o
público, que acabou em uma liga paralela, fez os dirigentes reverem gradativamente
essa opinião, reintegrando o Vasco e aceitando, dez anos depois, a
profissionalização dos atletas, em 1933. E, com isso, começou uma nova fase para
o futebol.
Um passo decisivo para certa inserção social, não apenas dos negros, mas
dos setores populares como um todo, foi dado em 1931, quando o governo Getúlio
Vargas incluiu a atividade de jogador de futebol entre as profissões que deveriam
ser regulamentadas pela legislação trabalhista (CARRILHO, 2010, p. 40). Iniciado
em 1930, o governo Getúlio Vargas procurou fortalecer a unidade nacional por meio
de medidas políticas centralizadoras. Foi uma resposta à tendência de fragmentação
que caracterizou a política brasileira nos anos anteriores. Com o duplo propósito de
modernizar as relações entre empregador e empregado e, ao mesmo tempo,
controlar os trabalhadores, o governo Vargas estabeleceu a Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), que regulamentou as atividades profissionais no Brasil.
Percebendo o caráter extremamente popular que o futebol já possuía, o governo
escolheu os estádios de São Januário (RJ) e Pacaembu (SP), a partir de 1940,
como palcos para as comemorações do 1.º de Maio, o Dia do Trabalho (CARRILHO,
2010, p. 45).
Na década de 40, estabeleceu-se uma relação e duas direções. A primeira
delas referiu-se à maneira como o governo de Getúlio Vargas constituía sua
administração e, a segunda questão, a influência da regulamentação na prática do
futebol, bem como, as possíveis interlocuções com a sociedade (MEZZADRI, 2007,
p. 107).
A discussão do processo de desenvolvimento do Estado brasileiro, em geral,
e do futebol em particular, passava pela forma como o governo de Getúlio Vargas
vinha administrando o país. O poder da burocracia no Estado Novo estava
concentrado nas mãos dos políticos, que buscavam regulamentar a grande maioria
das áreas de alcance da sociedade, a partir dos padrões estabelecidos por este
governo. Essa posição foi evidenciada pelos discursos e propostas do governo.
Cabe destacar que as ações políticas representavam a centralização do poder das
relações do Estado frente à sociedade (MEZZADRI, 2007, p. 107-108).
39
Ao analisar a introdução do futebol e o seu desenvolvimento em desporto
popular no Brasil, encontra-se a ele vinculado os processos de urbanização e
industrialização ocorridos na nossa sociedade no início do século XX. As grandes
cidades do país, em destaque São Paulo e Rio de Janeiro, encabeçaram esse
“processo civilizador” no Brasil, fato que, quando analisado na perspectiva da
teorização sobre os desportos, nos ajuda a compreender a evolução e a importância
dada por essas duas cidades aos esportes e as questões a eles relacionadas, como
eugenia, saúde e educação física.
Porém, nessa época o futebol ainda não era tido como um esporte popular no
país, o “esporte-rei” brasileiro. Essa condição foi construída historicamente através
de um lento e conflituoso processo. Nessa luta entre os diferentes campos de poder,
o futebol, por vezes avançou e por vezes retrocedeu no vivido social, até se tornar
um elemento ritualístico na sociedade brasileira e vital de ser analisado para melhor
compreendê-la.
Os donos do poder (a oligarquia cafeeira e os novos setores elitistas
provenientes do espaço urbano, como a burguesia industrial) durante a segunda
fase do governo getulista, o Estado Novo (1937-1945) procuraram legitimar a
constituição de um estado autoritário e fazer vingar a construção da nação brasileira
indivisível e moderna, apoiando-se em princípios elitistas, conservadores,
nacionalistas e autoritários (OLIVEIRA, VELLOSO; GOMES, 1982, p. 90).
A transferência do modelo liberal de administração, constituído até o final da
década de 20, para o modelo centralizador interferiu diretamente na sociedade. O
Estado tornou-se um agente ativo na organização política, social e econômica da
sociedade. Como o próprio Getúlio Vargas diria, em um de seus discursos contra o
modelo liberal:
O Estado não conhece direitos de indivíduos contra a coletividade. O indivíduo não tem direito, tem deveres! Os direitos pertencem à coletividade! O Estado, sobrepondo-se à luta de interesses, garante só os direitos da coletividade e faz cumprir os deveres para com ela. O Estado não quer reconhecer a luta de classes. As leis trabalhistas são as leis de harmonia social (GETÚLIO VARGAS, 1938, apud MEZZADRI, 2007, p. 108).
Percebe-se com essa posição a intenção do governo em promover ações
para a coletividade, ou seja, nas suas propostas políticas pretendia-se abranger o
maior número possível de indivíduos. Com isso projetava-se a criação de uma
identidade nacional, até então pulverizada pelo interior do país. O governo naquele
40
momento estava se cercando de projetos em todas as áreas, como na saúde, lei
trabalhista, educação e, particularmente no assunto do nosso estudo, no esporte e
no futebol.
Em relação à institucionalização do futebol, aparentemente existiu uma
característica administrativa comandada pelos burocratas e pelos políticos, com uma
participação restrita da sociedade e dos indivíduos nas tomadas de decisões, um
modelo tradicional de administração. Para Spink (1993, p. 79), uma administração
tradicional constitui-se por uma forma autoritária, ou seja, a administração aconteceu
a partir da centralização do poder, governado pelos burocratas, que interpretam as
necessidades sociais, políticas, econômicas e culturais da população. Desta forma,
a representação dos cidadãos nas tomadas de decisões do governo não ocorre
diretamente, pois há que se considerar que a sociedade nem sempre tem condições
ou acesso ao confronto político de forma democrática com oportunidades iguais.
A partir da primeira metade do século XX, o futebol serviu como ferramenta
para as ambições do Estado e acabou se tornando um dos mais importantes
elementos da cultura brasileira. Talvez o primeiro grande sinal desse fenômeno
tenha sido o reconhecimento da profissão de jogador de futebol pelo governo
Vargas, que se aproveitou da imensa popularidade do esporte para disseminar seus
ideais por todo território brasileiro (PEREIRA, 2000, p. 88).
Além disso, no estabelecimento de suas diretrizes governamentais, Vargas
não tardou a criar mecanismos para o exercício de um intenso controle sobre todo o
desporto nacional, o que automaticamente fez com que o Estado se tornasse o
grande investidor da indústria esportiva brasileira, fato esse refletido na criação do
Conselho Nacional do Desporto (CND), e muito visível pelo começo da provisão de
estruturas financiadas pelo poder público, simbolizada inicialmente pela construção
do Estádio Pacaembu (CARVALHO; GONÇALVEZ, 2005, p. 10).
A administração centralizadora e nacionalista do Brasil a partir do Estado
Novo leva, inicialmente, a se focalizar o futebol na direção da organização legislativa
brasileira. Uma das primeiras ações reguladoras do esporte, consequentemente no
futebol, surgiu com o Decreto Lei nº. 3.199, de 14 de abril de 1941 (BRASIL.
Decreto-Lei nº. 3.199 de abril de 1941). Com base na própria lei podem-se entender
os aspectos conceituais preestabelecidas, os valores morais ditados pelo governo e
a posição autoritária, forjando uma nova organização social. A partir daí, delimita-se
41
o espaço para a criação da identidade nacional, vinculada à prática esportiva e do
futebol (MEZZADRI, 2007 p. 109).
Art. 3- Compete precipuamente ao Conselho Nacional de Desportos: [...] b) incentivar, por todos os meios, o desenvolvimento do amadorismo, como prática de desportos educativa por excelência, e ao mesmo tempo exercer rigorosa vigilância sobre o profissionalismo, com o objetivo de mantê-lo dentro de princípios de estrita moralidade; c) decidir quanto à participação de delegações dos desportos nacionais em jogos internacionais, ouvidas as competentes entidades de alta direção, e bem assim fiscalizar a constituição das mesmas; d) estudar a situação das entidades desportivas existentes no país para fim de opinar quanto às subvenções que lhes devam ser concedidas pelo Governo Federal e ainda fiscalizar a aplicação dessas subvenções (BRASIL. Decreto-Lei nº. 3.199 de abril de 1941).
Portanto, o futebol que já naquele momento histórico, era considerado
profissional, deveria sofrer rigorosa vigilância por parte do governo. Com isso, o
governo procura centralizar em “suas mãos” a organização, a fiscalização e a
estrutura do futebol. Fica ainda mais evidente quando se observa que o futebol não
possuía uma Confederação autônoma. A Federação Brasileira de Futebol estava
subordinada ao Conselho Nacional de Desportos (CND). A questão que permanece
com essas ações é sobre a forma centralizadora utilizada pelo governo federal para
alcançar os objetivos propostos e suas possíveis inserções no futebol. Para melhor
compreensão das ações do Governo Federal, explanar-se-á sobre o discurso de
Getúlio Vargas na inauguração do Estádio do Pacaembu:
Ao declarar inaugurado este Estádio, sob impressão das entusiásticas e vibrantes aclamações com que fui recebido, não posso deixar de dirigir-vos algumas palavras de vivo e sincero louvor. Este monumento consagrado à cultura física da mocidade, em pleno coração da capital paulista, é motivo de justo orgulho para todos os brasileiros e autoriza a aplaudir merecidamente a administração que o construiu. As linhas sombrias e belas de sua imponente massa de cimento e ferro, não valem, como uma afirmação da nossa capacidade e do esforço criador do novo regime na execução do seu programa de realizações. É ainda e, sobretudo este monumental campo de jogos desportivos uma obra de sadio patriotismo, pela sua finalidade de cultura física e educação física. Agora mesmo assistimos ao desfile de dez mil atletas, em cujas evoluções havia a precisão e a disciplina, conjugadas no simbolismo das cores nacionais. Diante dessa demonstração da mocidade forte e vibrante, índice eugênico da raça, – mocidade em que confio e que me faz orgulhoso de ser brasileiro – quero dizer-vos: Povo de São Paulo: Compreendestes perfeitamente que o Estádio do Pacaembu é obra vossa e para ela contribuístes como o vosso esforço e a
42
vossa solidariedade. E compreendestes ainda que este momento é como um marco da grandeza de São Paulo a serviço do Brasil. Declaro, assim, inaugurado o Estádio do Pacaembu (NEGREIROS, 1997 p. 42).
A ideia de um líder político símbolo da “pessoa coletiva” constituída pelo povo
dessa nação, de um Estado autoritário com desejos democráticos, como a
“expressão natural” das necessidades do país e a criação de um homem
excepcional – o trabalhador brasileiro – como o único capaz de expressar e construir
a nova ordem, também fizeram parte de uma construção ideológica sistematizada e
articulada pelo governo estado novista para a sua autolegitimação (MIRANDA, 2007,
p. 04).
Na esteira desse projeto governista engendrador de uma identidade nacional
brasileira, a necessidade de diminuir ao máximo a presença da herança regionalista,
proveniente do período denominado pela historiografia de República Velha, constitui-
se como fundamental.
O futebol, um elemento da cultura popular brasileira, ampara, para analisar
esse contexto político-social, mais especificamente seu projeto de unidade nacional.
Desta forma, entrar-se-á na seara específica da rivalidade futebolística entre os
Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, herdeira de um regionalismo intenso
proveniente desses dois polos de poder no país (especialmente após a Revolução
de 1932, promovida pelos paulistas contra o centro do governista, sediado e
simbolizado pelo Estado do Rio de Janeiro) (OLIVEIRA; VELLOSO; GOMES, 1982,
p. 89). O futebol ocupa espaço privilegiado para práticas ritualísticas públicas e
diárias nas sociedades contemporâneas, por ter em seu interior um micro cosmo
(autônomo da sociedade), temporalidades próprias, espaços definidos (oficiais ou
não), tensões e regras específicas (criadoras de uma moralidade, uma ética própria)
(HUIZINGA, 2005, p. 77). O futebol enquanto drama torna-se uma das expressões
da identidade nacional dessas sociedades, seus problemas, percepções,
elaborações intelectuais e emocionais e seus sentimentos concretamente sentidos e
vividos (DA MATA; FLORES; GUEDES; VOGEL, 1982, p. 58).
43
2.2.3 Origens do Futebol em Santa Catarina
Com a chegada do novo século, nascia também o futebol em Santa Catarina,
a começar pela capital, Florianópolis, cidade que entra nos novos tempos do Século
XX mudando inclusive de nome1 hábitos e quebrando tabus. Afinal, mesmo de forma
provinciana, vivia-se numa sociedade tida e havida como extremamente
conservadora. Até ali, de pai para filho, pouca coisa mudara em comportamento no
correr dos anos e décadas que se passaram. Comportamento este vivido até mesmo
na própria juventude, que mantinha uma forte tendência ao comodismo (MACHADO,
2000, p. 19).
O futebol surgiu para o ilhéu catarinense como uma nova e revolucionária
opção de lazer e recreação. Não estava sendo tão interessante para aqueles jovens
“filhinhos de papai” passar os finais de semana dependendo, apenas, das
competições de remo na Baía Sul, em decorrência dos fortes ventos, nem sempre
em boas condições para a sua prática.
Mas, querer tirar da elite o tão antigo costume da prática do remo, fazendo
introduzir um estranho esporte que só se jogava com os pés, foi uma ideia que muito
contrariou os pais daqueles jovens e outros fiéis amantes das raias aquáticas. Eles,
conservadores, não admitiam ver seus garotos trocando um saudável esporte
praticado na imensidão de um mar calmo e uma brisa gostosa por outro que sabiam
acontecer num restritíssimo retângulo de grama, quase sempre lamacento, onde 22
homens praticamente se digladiavam por uma bola, num espaço que não passava
de 100 metros de comprimento por 60 de largura (MACHADO, 2000, p. 19-21).
Porém, mesmo com tanta resistência, o crédito à prática do futebol e sua
evolução era inegável. Aos poucos, todos queriam saber mais sobre este esporte
que acabara de chegar à capital, fazendo movimentar as conversas de esquinas,
bares e até locais de trabalho, lugares antes só frequentados por exigentes e
austeros pais de jovens que ficavam ocupados apenas estudando. Em determinados
momentos, para surpresa geral, até a acirrada política local perdia a vez para a nova
conversa.
1 Com a vitória dos Republicanos sobre os Federalistas de 1893, a Capital deixou de se chamar
Desterro para se tornar Florianópolis, em homenagem a Floriano Peixoto, vitorioso no embate.
44
Dessa forma, estava sendo cada vez mais difundido um esporte que aqui se
organizara nos bancos escolares do bem-estruturado educandário masculino
Gimnásio Santa Catarina, hoje Colégio Catarinense, fundado em 1906 e mantido por
padres. Um lugar, aliás, onde só estudavam jovem, cujos pais possuíam ótima
situação econômica, muitos deles também procedentes do interior do Estado, que se
matriculavam em busca de melhor formação. Do reservado Gimnásio, a prática do
futebol na capital se propagou e, sem muita demora, chegou com absoluto sucesso
às corporações militares, de onde mais rapidamente se abriu em leque. Logo, o
futebol alcançou todas as camadas sociais da cidade e, a seguir, proliferou por todo
o território barriga-verde. E nas casernas, não havia como separar quem podia ou
não praticar o tal esporte, estando amplamente aberto a todos os que por ele se
interessassem (MACHADO, 2000, p. 21-22).
No ano de 1910, um grupo de advogados cariocas, paulistas e paranaenses
que estavam prestando concurso para juiz em Florianópolis, desafiou os alunos do
Gimnásio Santa Catarina (atual Colégio Catarinense, em Florianópolis) para uma
partida de futebol. Esta foi então realizada no dia 14 de outubro, no campo do
Manejo (no Ginásio). Este foi o primeiro jogo disputado em Santa Catarina, segundo
a imprensa da época, embora o football já fosse praticado em nosso Estado desde
1906, ainda que restrito ao colégio (SANTOS, 2004, p. 11).
Esse jogo parece ter sido decisivo para deslanchar o futebol catarinense, pois
a partir dele o esporte ganhou novo rumo e a adesão de outras agremiações.
Em 14 de setembro de 1913 surgiu o primeiro clube de futebol catarinense na
cidade de Brusque, por intermédio de Guilherme Luiz Krieger, o fundador do Sport
Club Brusquense. Com o surgimento de novas agremiações por quase todo o
Estado, o futebol tornou-se a principal modalidade esportiva da época. A criação de
ligas que viessem a melhorar e transformar o futebol de escassos jogos amistosos
em uma verdadeira disputa de campeonatos fazia-se cada vez mais necessária. A
primeira liga de futebol em Santa Catarina foi criada em 1921, denominada Liga de
Desporto Norte do Estado (LDNE), com sede em Blumenau. Contou com a
participação de sete clubes: C.N. Marcílio Dias de Itajaí, S.C. Brusquense, Paysandu
de Brusque, Brasil de Tijucas, Brasil de Blumenau, Blumenauense e Tiradentes de
Barra do Rio. Entretanto, por motivos adversos, essa liga não pôde terminar o seu
campeonato (SANTOS, 2004, p. 14).
45
O referido autor relata que, após o fracasso da LDNE, o C.N. Marcílio Dias e o
S.C. Brusquense decidiram fundar em 28 de maio de 1922 a Liga Catarinense de
Desportos Terrestres (LCDT), com sede em Itajaí. Essa liga trouxe uma novidade:
em jogos oficiais seriam cobrados ingressos de torcedores com a finalidade de
pagar as despesas dos clubes com viagens. Oito clubes tomaram parte do
campeonato: C.N. Marcílio Dias, S.C. Brusquense, Brasil de Tijucas, Paysandu de
Brusque, Aldo Luz Ilhota, Tiradentes de Barra do Rio, Ipiranga da Fazenda e
Humaytá de Navegantes.
Em 20 de agosto de 1922 o campeonato teve seu jogo final entre S.C.
Brusquense e o Paysandu. O resultado do jogo perdeu-se no tempo, mas o título
ficou com a equipe do S.C. Brusquense. Foi também o único campeonato da LCDT.
Somente dois anos depois surgiria a principal liga de futebol em Santa Catarina
(SANTOS, 2004, p. 14).
Foi no salão do Gimnásio Santa Catarina (atual Colégio Catarinense), em
Florianópolis, no dia 12 de abril de 1924, que surgiu a primeira liga oficial de futebol
em Santa Catarina, denominada Liga Santa Catarina de Desportos Terrestres
(LSCDT). A estranha titulação “Desportos Terrestres” servia para que a nova liga
não fosse confundida com a já bastante conhecida Federação Catarinense de Remo
(FCR), entidade bem identificada como organizadora de inúmeras competições
aquáticas e, à época, dona de ímpar popularidade. A diferenciação se fazia muito
importante naquele momento, até porque estava começando a surgir interessante
rivalidade entre os dois esportes, principalmente na capital, onde surgiram as duas
entidades. Era comum ouvir pelas ruas da cidade grupos de pessoas falando do
remo e futebol, ao mesmo tempo, mesclando bastante a conversa dos desportistas
(MACHADO, 2000, p. 72). Para a definição da liga foi realizada uma reunião, da
qual participaram os presidentes de alguns times: Pedro Davi Müller (Internato),
Joaquim da Costa Arantes (Figueirense), Agnaldo Souza (Florianópolis), João
Benício Cabral (Trabalhista) e Amadeu Horn (Avaí). Durante essa reunião foi eleita e
empossada a primeira diretoria da LSCDT, composta por Luiz Alves de Souza
(presidente), Pedro Davi Müller (vice-presidente), João Cupertino Medeiros
(secretário), Agnaldo Souza (tesoureiro), João Benício Cabral (segundo-tesoureiro) e
Amadeu Horn (secretário-adjunto). Após a eleição e posse da diretoria,
estabeleceram-se as datas dos jogos do Torneio Início, que teve como campeão o
Figueirense (SANTOS, 2004, p. 14).
46
Em data bem próxima do recém-terminado Torneio Início, no mesmo ano a
LSCDT confecciona a tabela e torna públicos os jogos que fazem parte do primeiro
campeonato, até ali denominado, apenas, “Campeonato da Cidade”, por ainda não
estarem inscritos na Liga os clubes organizados do interior do Estado. Decorridas as
partidas, o campeonato pioneiro da LSCDT ficou com o Avaí, equipe que surgira na
capital no dia 1.º de setembro do ano de 1923. Em segundo lugar, ficou o
Trabalhista.
No ano de 1925, uma questão polêmica aconteceu, a denominação que a
LSCDT adotou à sua competição principal, tratando-a como “Estadual” quando, na
verdade, todos sabiam que a dita competição se realizava, apenas, com a
participação de clubes da capital. Por causa disso, o maior protesto vinha
principalmente dos times do interior, que insistiam em dizer que os certames, até ali,
não passavam de campeonatos e torneios citadinos. Defendendo-se e justificando, a
Liga dizia que a entidade estava aberta a todos e que o interior poderia disputar
seus campeonatos oficiais na hora que assim entendesse, bastando filiar-se.
Computados os prós e contras, a LSCDT sustentou seu argumento e manteve o
campeonato intitulado Estadual, independentemente da procedência dos clubes,
ainda que, permanecendo, apenas, com equipes da capital até 1926. Assim sendo,
em 1925, com os jogos realizados no Gimnásio Catarinense, o campeão Estadual
da Liga foi o Externato FC. Em segundo lugar, o Avaí FC (MACHADO, 2000, p. 75).
O campeonato de 1925 contou com a presença do Anhantomirim e a volta do
Figueirense F.C., após tentar junto a outros clubes a criação de uma nova liga.
Sendo o campeonato disputado em turno único novamente, o Externato, após uma
campanha invicta de seis jogos conquistava o seu primeiro título. O primeiro jogo do
Externato foi disputado com o Anhantomirim, emplacando 7 a 1. O segundo foi
contra o vice-campeão do ano anterior, o Trabalhista, com nova vitória por 2 a 1. A
terceira disputa da equipe do colégio foi também a mais importante, pois enfrentou o
Avaí, então campeã da liga e considerado o mais forte concorrente ao título com
vitória por 2 a 0, o Externato confirmou sua boa campanha. Nos jogos seguintes,
venceu o Figueirense por 3 a 2 e goleou o Internato por 4 a 1, jogo este, disputado
no dia 11 de outubro. E o último jogo do turno decisivo, ocorreu no dia 8 de
novembro. O Externato goleou o Florianópolis por 6 a 0. A excelente campanha do
Externato foi constituída de seis jogos, nos quais obteve seis vitórias. Foram 24 gols
pró, tendo sofrido apenas 5 gols. Zinder Lins, do Externato foi o artilheiro do
47
campeonato. A disputa do segundo lugar daquele ano foi entre Avaí e Figueirense,
em jogo realizado no dia 5 de dezembro. O Avaí venceu por 7 a 1, conquistando o
vice-campeonato (SANTOS, 2007, p. 16).
A filiação da Liga Santa Catarina de Desportos Terrestres (LSCDT) à
Confederação Brasileira de Desportos (CBD), em 26 de junho de 1926 foi um
acontecimento importante para o futebol de Santa Catarina, que ganhou divulgação
em caráter nacional, podendo disputar na época o famoso campeonato brasileiro de
seleções. Coincidindo com as datas dos jogos do campeonato citadino, a Seleção
Catarinense fez sua estreia no Campeonato Brasileiro no dia 26 de setembro,
fazendo com que a LSCDT paralisasse a competição. O jogo disputado em São
Paulo, e a Seleção Catarinense não fez uma boa partida, sendo goleada por 16 a 0,
fato que repercutiu negativamente no futebol catarinense e resultou em mudanças
necessárias à adequação da equipe. Do campeonato da cidade participaram seis
equipes da capital: Florianópolis, Avaí, Internato, Trabalhista, Externato e
Figueirense. O Florianópolis foi a grande surpresa daquele ano. Era o líder do
certame e estava a duas rodadas da final para ser o campeão, mas, por problemas
internos, decidiu entregar os pontos e abandonar o campeonato. Desta forma, o
Avaí foi o beneficiado, venceu o Internato por 2 a 1, forçando um jogo extra. Nova
vitória por 3 a 2 e título para o Avaí, vice, Internato (SANTOS, 2007, p. 17).
Em 1927, a Liga Santa Catarina de Desportos Terrestres (LSCDT) promove o
seu primeiro campeonato com a participação de um clube do interior, tendo como
novo inscrito o Brasil de Blumenau. Com todos os méritos, o time do Vale do Itajaí
conquistou o segundo lugar na competição, perdendo apenas na final para o Avaí,
por 3 a 2. O jogo foi repleto de confusão e, por desordem generalizada, não chegou
a terminar. Tudo começou depois de o Brasil blumenauense protestar ante a
marcação de um pênalti contra a sua equipe. Por causa disso, o time visitante
resolveu se retirar de campo, para não mais retornar. O árbitro, cumprindo
determinação superior, esperou o tempo regulamentar e, não tendo voltado o
adversário do Avaí, deu por encerrada a partida, confirmando a vitória e o título do
azul e branco de Florianópolis (MACHADO, 2000, p. 80).
A participação do Brasil de Blumenau na competição promovida pela LSCDT
serviu, para muitos, como marco inicial do verdadeiro “Campeonato Catarinense”,
uma vez que até ali se sabia terem ocorrido, apenas, jogos entre os clubes da
capital, onde saíram seus primeiros títulos. Há, inclusive, quem contabilize e admita
48
a contagem dos campeonatos estaduais somente a partir desse ano,
desconsiderando os dois títulos conquistados pelo Avaí em 24 e 26, e o do
Externato em 1925. Todavia, oficialmente e de direito, por homologação da Liga,
eles continuam reconhecidos como válidos pela Federação Catarinense de Futebol,
somando-se suas conquistas para as agremiações campeãs. O ano de 1927 foi,
também, aquele em que a imprensa da capital noticiou a filiação do Caxias Futebol
Clube, de Joinville, na Liga Santa Catarina de Desportos Terrestres. Para isso, foi
brilhante o trabalho e a influência do conhecido desportista Emílio Galois Filho que,
pela imprensa ou pessoalmente, buscou nessas agremiações o maior número de
adesões. Segundo ele, com isso a LSCDT se fortaleceria revelando mais atletas,
aumentando em muito suas chances de se inscrever nos próximos campeonatos
brasileiros de seleções estaduais (MACHADO, 2000, p. 81).
A busca de reformulações urgentes na Liga passava, também, pela
necessidade de aumentar sua credibilidade junto aos próprios desportistas
catarinenses, dando-lhes um novo formato administrativo. Para compartilhar a ideia,
em 23 de março, a imprensa esportiva catarinense propõe radical mudança, a
começar pelo próprio nome da instituição, que deixaria de ser Liga Santa Catarina
de Desportos Terrestres para se tornar “Federação Catarinense de Desportos” ou
“Confederação dos Povos Esportivos de Santa Catarina”. Os dois nomes foram
cotados. Antes da escolha do novo nome, estava priorizada, também, pela LSCDT,
a melhoria de seu patrimônio na Rua Bocaiuva, envolvendo-se logo em
investimentos que oferecessem melhores acomodações para os torcedores.
Assim, começou imediatamente a construção da primeira arquibancada
naquela praça esportiva, erguida e complementada pelo madeirame comprado e
trazido de uma desativada Praça de Touros. Meses antes desativada, a casa de
espetáculos fora instalada para a apresentação de funções nos arredores da cidade.
Em pouco tempo, a obra da Liga estava concluída e entregue para os
torcedores, com a inauguração ocorrendo no dia 30 de junho. Assim sendo,
oficializou-se em 8 de setembro, ao Governador, Adolfo Konder, a alteração do
nome da Liga Santa Catarina de Desportos Terrestres, que passou a denominar-se
“Federação Catarinense de Desportos – (FCD)”. Internamente, a mudança já
ocorrera, depois de uma reunião verificada em 15 de agosto (MACHADO, 2000, p.
83).
49
A partir de 1928, não mais existindo a velha LSCDT, todos esperavam muito
mais da novíssima Federação Catarinense de Desportos, que iniciara suas
atividades com boa expectativa de mudanças e filiação de novos clubes. Porém,
enfrentando uma crise remanescente dos tempos da antiga LSCDT, a FCD se vê
obrigada a administrar nova ofensiva de clubes que querem outra entidade oficial
para administrar seus jogos. Nesse momento, a Federação estava sob a presidência
de Otávio de Oliveira. O ano da instalação da Federação Catarinense de Desportos
foi histórico também para o Avaí FC, pois marcou a conquista de seu primeiro
tricampeonato e o quarto título no Campeonato Estadual. O ano de 1928 faz-se
também importante para o Brasil de Blumenau, que outra vez chegou ao segundo
lugar, repetindo-se, inclusive, os desentendimentos que ocorreram na confusa
decisão do ano anterior. O time do Avaí fez 4 a 1 e o Brasil, mais uma vez, não
aceitou o resultado, pedindo ao final do jogo o seu imediato desligamento da
Federação. Esta acatou a decisão e aguardou o pedido de reconsideração
espontânea do time blumenauense, fato que ocorreu poucos meses após a
precipitada decisão. Depois de duas consagradas participações do pioneiro Brasil de
Blumenau no Campeonato Catarinense, os demais passaram a acreditar que era
possível um time do interior fazer frente aos da capital e “lutar de igual para igual”
pelo título máximo do futebol barriga-verde (MACHADO, 2000, p. 84).
Aberto o caminho pelo time blumenauense, os clubes interioranos começaram a se reforçar, selecionado melhor seus atletas e, principalmente, acompanhando de perto o que acontecia nos bastidores dos tradicionais clubes de Florianópolis e também da Federação Catarinense de Desportos. Essa vigília, segundo eles, se fazia necessária, haja vista a desconfiança dos clubes do interior na forte influência exercida pelos times da Capital na FCD. Entidade que surgira da iniciativa dos próprios ilhéus. Além disso, estavam ainda muito vivas as confusões vividas e perdidas pelo time do Brasil de Blumenau em 1927 e 1928 (MACHADO, 2000, p. 84-85).
Coincidência ou não, em 1929 o futebol de Santa Catarina tomou rumo
totalmente diferente dos anos anteriores. Na honrosa galeria de campeões estaduais
foram inscritos os nomes do Caxias e Adolfo Konder, campeão e vice, estaduais,
respectivamente. Com a chegada ao título máximo pelo Caxias, de Joinville, esta foi
a primeira vez que um clube do interior conquistou um Estadual, quebrando uma
sucessão de cinco anos conferidos a Avaí FC (4) e Externato (1). Até ali, para o
interior, só a graça de dois segundos lugares nos campeonatos estaduais. A grande
final de 1929 aconteceu em Florianópolis, no dia 15 de maio de 1930, em jogo que
50
marcou a reinauguração do Campo da Liga. Nessa data o estádio passou a
denominar-se Adolfo Konder, em homenagem ao Governador do Estado, autoridade
que assistiu ao jogo decisivo em local privilegiado das arquibancadas. O jogo
garantiu o título para o Caxias de Joinville e terminou em 7 a 3 para o time do
Caxias. O resultado adverso sofrido pelo Adolfo Konder decepcionou o bom público
de Florianópolis presente no Campo da Liga. Tudo porque se sabia que o
remodelado estádio e o respeitado time da casa levavam o nome do Governador,
que também estava lá prestigiando o evento festivo. Por causa disso, não estava
nos planos um resultado diferente de uma histórica vitória e, muito menos, uma
derrota por 7 gols (MACHADO, 2000, p. 86).
No mesmo ano de 1929, a capital, que já possuía alguns títulos acumulados,
ganharia mais um bom aliado para defender sua bandeira. Nascia a 12 de outubro o
Clube Atlético Catarinense, equipe que adotara em seu uniforme o grená, verde e
branco como cores oficiais e que chegaria ao seu primeiro e único título estadual em
1934. De Avaí e Figueirense, a mais importante notícia do ano foi a goleada
espetacular aplicada pelo “Figueira” no azul e branco 9 a 3. Resultado que
repercutiu bastante em Santa Catarina e principalmente na capital. Em 1930, o
reforço oficial interiorano para o Campeonato Catarinense seria o Clube Náutico
Marcílio Dias, da cidade portuária de Itajaí, uma agremiação já bastante conhecida
dos desportistas barrigas-verdes, fundada em 1919 (MACHADO, 2000, p. 87).
Mesmo com a deflagração da comentadíssima “Revolução de 30”, quando
começava o período ditatorial de Getúlio Vargas e todo o país passou por momentos
de expectativa e tensão, o campeonato estadual não sofreu processo algum de
interrupção, mantendo seus jogos normalmente. Nessa temporada, também,
apareceu para o esporte catarinense o bom futebol do recém-inscrito Marcílio Dias,
que chegou às finais do Estadual, ficando em segundo lugar e perdendo o título para
o já experiente Avaí Futebol Clube, que outra vez provara ser a mais bem-
-estruturada agremiação esportiva de Santa Catarina (MACHADO, 2000, p. 88).
Tornando-se mais um caso atípico dentro das competições promovidas pela
Federação Catarinense de Desportos – FCD, o campeonato de 1931 teve como
marca maior a participação de dois clubes do interior na grande final (MACHADO,
2000, p. 88).
Pela primeira vez, desde a instituição da Liga Santa Catarina de Desportos Terrestres, ficaram de fora os temidos e influentes times da Capital. Foram
51
finalistas da histórica temporada de 1931 o efêmero e pouco conhecido Lauro Müller, de Itajaí, que ficou com o título e o experiente Caxias de Joinville, campeão de 1928, que conquistou o segundo lugar. Mesmo se tratando de finalistas não procedentes da Capital, o jogo final, como de costume, aconteceu em Florianópolis, por exigência e determinação da própria Federação. Alegavam os diretores da FCD que, assim procedendo, teriam maior controle da competição, evitando a realização de jogos importantes em estádios não tão seguros quanto o Adolfo Konder, à época o melhor campo de futebol de Santa Catarina. Nesses tempos difíceis para clubes visitantes, invariavelmente, o dono da casa saía vencedor. Quando não, era sinal de confusão, na certa (MACHADO, 2000, p. 88)
Em 1932, a Federação enfrenta nova crise, dessa vez ainda mais grave,
recebendo críticas de todos os lados, não escapando sequer dos clubes filiados e da
já influente, curiosa e sensacionalista imprensa esportiva. Essa, em tom de blague e
alimentando conversas de esquinas, nos jornais de Florianópolis, passou a
identificar a sigla FCD da Federação Catarinense de Desportos, como “Federação
Caótica Decadente”. Em outras notas, a gente da notícia pedia, ainda, que a
combatida Federação se desvinculasse definitivamente de outras modalidades
esportivas, dedicando-se com exclusividade ao futebol.
Surge, então, a primeira proposta para a criação da tão aguardada
“Federação Catarinense de Futebol”. A maioria dos desportistas achava que, sendo
identificada como Federação Catarinense de Desportos, a entidade não estava
conseguindo administrar seu compromisso maior assumido quando da sua
fundação, que era a organização dos torneios e campeonatos de futebol. Segundo
comentava a época, da forma como vinha sendo administrada a FCD, ela atendia,
sim, a um grande interesse político e promocional de alguns influentes e
oportunistas dirigentes, que se promoviam a toda hora, centralizando e
acompanhando paralelamente outras modalidades. Logo, afora eles, os demais
insistiam no imediato pedido de desvinculação.
Ainda assim, com toda a pressão externa e dos próprios filiados, que gerou as
dificuldades no transcorrer de toda a temporada, a Federação sustentou a situação,
suportou as críticas e manteve em dia o seu calendário de competições. Fez
questão de preservar, principalmente, o tão em moda Torneio Início e o prato
principal, Estadual, que tiveram andamento até o final. Do Estadual a grande
novidade foi a primeira e muito festejada conquista do Figueirense Futebol Clube,
onze anos após sua fundação. Antes, o único título que possuía o alvinegro do
Estreito era de campeão do primeiro Torneio Início organizado pela FCD, realizado
52
em 1924, quando a mesma liga foi fundada. Em segundo lugar, ficou o Brasil, de
Blumenau, que continuava provando ser um dos bons times de Santa Catarina.
2.2.4 Capital Versus Interior: rivalidade em Santa Catarina
Não há relatos de campeonato estadual de futebol de grande porte onde
interior e capital se enfrentem de forma tão equilibrada quanto em Santa Catarina.
Prova disso são os oito títulos estaduais consecutivos do Joinville no final da década
de 1970 e início da década de 1980. Outro fato é a maior glória do futebol
catarinense que pertence ao Criciúma, campeão da Copa do Brasil em 1991 e
também campeão nacional das Séries “B” e “C” do Brasileiro. O Joinville Esporte
Clube, se junta ao Criciúma, obtendo um título nacional. É o atual campeão nacional
da Série “C”, título conquistado em 2011.
Machado (2000, p. 48) afirma que para muita gente na época, só mesmo a
edição de 1927 foi considerada um Estadual de verdade, pois até então
participavam apenas as equipes da capital. As deficiências das estradas que
levavam até Florianópolis limitavam a ideia de que times do interior participassem do
Campeonato Catarinense, embora o futebol já tivesse se difundido por todo o
Estado. A partir de meados da década de 40, o interior catarinense se tornou
hegemônico. Tanto que, no período de 1947-2010, a dupla da capital Figueirense e
Avaí conquistou apenas quinze títulos (nove com o Figueirense e cinco com o Avaí).
Equipes de fora da capital se adequaram mais rapidamente à realidade do
profissionalismo, caso clássico do Metropol, da cidade de Criciúma.
Depois de se levantar os pontos considerados mais relevantes da história do
futebol, percorrendo as suas origens e surgimento, no mundo, Américas, Brasil e
Santa Catarina, finaliza-se o resgate histórico, tendo consciência de ter atingido o
objetivo do capítulo ao levantar os processos pelos quais vários povos
desenvolveram o futebol em paralelo as suas conquistas de desenvolvimento, sendo
elas: econômicas, sociais e políticas.
53
2.3 DESENVOLVIMENTO
2.3.1 O que é Desenvolvimento?
O termo desenvolvimento foi usado pela primeira vez pelo trigésimo terceiro
presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Sr. Harry S. Truman (1945-1953).
Seu destaque ganha força a partir de meados da metade do século XX. Até essa
época, só havia a preocupação com o crescimento econômico.
Parte-se da premissa que, desenvolvimento é o resultado de crescimento
econômico que se atinge em virtude de um dinamismo que se instala na sociedade
quando cada indivíduo se lança na busca desenfreada pela satisfação de seus
interesses materiais egoístas. Modernamente justifica-se essa crença lançando mão
de uma teoria (darwiniana) da evolução, baseada em um modelo variacional da
mudança. Trata-se de uma perspectiva mercadocêntrica, quer dizer, centrada no
mercado e que imagina que a “lógica” e a racionalidade do mercado dão conta de
explicar o funcionamento das outras esferas da realidade social (ou dos outros tipos
de agenciamento), como o Estado e a sociedade civil. Percebe-se um problema
quando a outra teoria, que se contrapõe ao modelo variacional, adota um modelo
transformacional em termos antigos, quer dizer, a interpretação de que uma
transformação social só acontece se houver, além da predisposição (ou das
condições objetivas), um agente organizado para desencadeá-la, um centro
promotor, um sujeito revolucionário (o fator subjetivo, portanto). Então, se a primeira
decalca a “lógica” do mercado, a segunda tenta impor a racionalidade de um ente de
vontade cuja atuação estratégica seria capaz de “puxar o fio” desenrolando a
meada. Com efeito, desenrolar tem o mesmo sentido de desenvolver (FRANCO,
2003, p. 43).
Assim, o modelo variacional, segundo Lewontin (1998), se opõe ao modelo
transformacional da mudança. Richard Lewontin aborda tal diferença da seguinte
maneira:
O termo desenvolvimento é uma metáfora que traz consigo um compromisso anterior quanto à natureza do processo. Desenvolvimento (development em inglês; Entwicklung em alemão; desarollo em espanhol e sviluppo em italiano) é, literalmente, o desdobrar ou o desenrolar de algo
54
que já está presente e em certo sentido pré-formado. Essa mesma palavra é utilizada em inglês para nomear o processo de revelar uma imagem fotográfica. A imagem já está imanente no filme, no interior da câmera, e o processo de revelação – development, em inglês – simplesmente torna visível a imagem latente. É exatamente essa a visão da biologia do desenvolvimento a respeito do desenvolvimento de um organismo. A moderna biologia do desenvolvimento é totalmente concebida em termos de genes e organelas celulares, cabendo ao ambiente apenas fazer às vezes de cenário. Considera-se que os genes no ovo fertilizado determinam o estado final do organismo, enquanto o ambiente em que o desenvolvimento ocorre é tão somente um conjunto de condições propícias a que os genes se expressem, assim como o filme fotográfico, ao ser exposto, produzirá a imagem que nele já está imanente, quando colocado nos líquidos apropriados e na temperatura adequada (LEWONTIN, 1998, p. 78).
Sendo assim, desenvolvimento é uma mudança qualitativa, em que se busca
tornar algo ou uma realidade “melhor do que antes”, ou desenvolvida. E o seu
entendimento pode ser expresso como um processo aberto e evolutivo que expressa
à forma como uma sociedade enfrenta os seus problemas. E devem ser estudado
em confluência interdisciplinar de várias ciências, como, economia, geografia,
sociologia, ciência política, etc.
2.4 TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO
2.4.1 O Pensamento dos Fisiocratas
Segundo Dallabrida (2010, p. 22), para os economistas, historicamente, a
preocupação com o desenvolvimento, na sua dimensão econômica, ou
desenvolvimento econômico como costumam referir-se, começa com os pensadores
fisiocratas. Quando se fala em fisiocratas, está se fazendo referência aos
pensadores de uma corrente teórica da Economia do início do século XVII, chamada
Fisiocracia, a qual teve curtíssima duração e representou uma reação ao
pensamento mercantilista. Fisiocracia significa etimologicamente “governo da
natureza” ou “lei da natureza”. Os fisiocratas, assim foram chamados pelo fato de
que baseavam suas teorias em leis naturais, ou seja, a economia, como outras
ciências, funcionaria segundo leis naturais, seguindo uma ordem providencial,
desejada por Deus para o bem da humanidade. A característica de vinculação à
natureza levava a tomar a agricultura como base econômica, em oposição aos
55
chamados mercantilistas que colocavam ênfase na indústria e no comércio exterior.
A maior contribuição dos fisiocratas à noção moderna de desenvolvimento foi à
noção de fluxo de riqueza, em oposição à noção de estoque de riqueza do Estado,
advogada pelos mercantilistas. Os fisiocratas representavam o pensamento dos
‘proprietários de terra’, duramente criticados pelos mercantilistas. São os fisiocratas,
na defesa dos próprios interesses feudais, que despertam para a percepção de
riqueza da sociedade ao invés de apenas um Estado rico e poderoso. Cabe destacar
o estreito vínculo dos autores fisiocratas com a burguesia senhorial daquele período,
sendo que alguns de seus equívocos teóricos se devem à percepção política dos
mesmos e aos interesses a que defendiam.
Os fisiocratas viam na despesa do consumidor, o principal determinante da
renda. Assim, os produtos agrícolas deveriam ser caros, para estimular o aumento
da produção e da produtividade, ao mesmo tempo em que defendiam a reforma
fiscal, aliviando os contribuintes, a fim de que pudessem aumentar seu consumo.
Outro ponto de defesa era de que o aumento da produção e da produtividade
agrícola aumentaria o excedente a ser destinado ao desenvolvimento do resto da
economia, já que para eles apenas a agricultura produziria excedente
(DALLABRIDA, 2010, p. 23).
François Quesnay, nascido em 1694 e falecido em 1774, economista francês,
foi o líder da escola fisiocrata, considerada a primeira escola de economia política.
Quesnay foi médico na corte francesa. Suas primeiras publicações foram no campo
da medicina. Seu conhecimento da circulação do sangue e sua fé no poder curativo
da natureza levaram-no as suas especulações na área econômica como um preceito
de confiança na natureza, como capaz de reger também a economia por via das
inclinações naturais do homem. Somente depois dos 60 anos de idade publicou seu
primeiro livro no assunto e atraiu um grupo de economistas que o viam como seu
líder. O sistema de Quesnay foi exposto no seu Tableau Économique (Quadro
Econômico), de 1758, que mostrava esquematicamente as relações entre as
diferentes classes econômicas e setores da sociedade e o fluxo de pagamentos
entre elas (DALLABRIDA, 2010, p. 23-24).
56
2.4.2 A Questão do Desenvolvimento Segundo os Economistas Clássicos
A preocupação com a qualidade de vida da população, logo, com o
desenvolvimento e não apenas com o crescimento econômico, evidentemente, não
pode ser considerada algo novo. Tal preocupação pode-se dizer que esteve na
origem da Economia. Assim, a problemática central tratada pelos chamados
“economistas clássicos” (como por exemplo, Adam Smith, Thomas Robert Malthus,
David Ricardo e John Stuart Mill) era como melhorar as condições de vida da
população através de um aumento no acúmulo de riquezas (DALLABRIDA, 2010, p.
24). Assim, pode-se afirmar que o tema central da Economia Clássica, devidamente
traduzido em termos atuais, poderia ser o que se entende como desenvolvimento, o
que indica, por exemplo, o título de uma das principais obras daquele período –
‘Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações’ – de
Adam Smith. Se considerar a implantação do socialismo como uma ‘solução
definitiva’ ao problema do desenvolvimento pode-se considerar o próprio Karl Marx
como um autor da Economia Clássica, na medida em que as suas teorias têm
relações claras com a dos autores deste período (DALLABRIDA, 2010, p. 24).
Smith, em sua obra ‘A riqueza das Nações’ procura identificar as causas do
crescimento econômico nacional. Defende o autor que enquanto houver taxa de
lucro positiva decorrente da ampliação dos mercados e da divisão do trabalho,
haverá poupanças que se transformarão em investimentos, aumentando a demanda
de trabalhadores produtivos. Assim, haverá rendimentos crescentes pela ampliação
contínua da escala das firmas, ao menos enquanto não surgir o chamado ‘estado
estacionário’. Smith era contrário às ideias mercantilistas da época do feudalismo,
com o que defendia a livre iniciativa, fundada na doutrina da harmonia dos
interesses individuais, provocada pela ‘mão invisível’ das forças do mercado e pela
ação do Estado em desempenhar suas funções específicas: defesa, justiça e
manutenção de certas obras públicas (SMITH, 1983, p. 59).
Em resumo, com as ideias de Smith, pode-se afirmar que a riqueza das
nações determina-se, em primeiro lugar, pela produtividade do trabalho útil ou
produtivo, em oposição ao trabalho improdutivo, sendo o primeiro aquele trabalho
que produz um excedente valor sobre seu custo de produção. Em segundo lugar, a
57
riqueza deriva da quantidade de trabalho empregada no processo produtivo, em
relação à população total.
Já David Ricardo, outro clássico, em suas obras preocupou-se tanto com a
distribuição da riqueza nacional, quanto com sua distribuição entre capitalistas,
trabalhadores e proprietários de terras. Segundo o autor, o grande problema do
crescimento econômico estava na agricultura, incapaz de produzir alimentos baratos
para o consumo dos trabalhadores, o que resultava na elevação dos salários e dos
fundos necessários para contratar trabalhadores produtivos em geral. Defendia a
ideia de que os preços das mercadorias deveriam ser proporcionais ao volume de
trabalho incorporado, e a tecnologia, ao afetar a produtividade, faria variar o valor de
um bem. A renda é entendida pelos economistas clássicos como um pagamento de
transferência entre duas classes, dos capitalistas aos senhores de terra, pelo uso
das propriedades naturais, originais e indestrutíveis do solo.
A partir deste entendimento, Ricardo estabeleceu a chamada “Lei da Renda
de Terra”, segundo a qual os produtos das terras férteis são produzidos por um
custo menor e vendidos ao mesmo preço dos demais, o que proporcionaria aos seus
proprietários uma renda fundiária igual à diferença de produção, comparado com o
que se produziria na terra de menor fertilidade (RICARDO, 1982, p. 18).
Os clássicos preocupavam-se com o problema do estado estacionário, ou
seja, a estagnação da economia, referindo-se ao momento em que, esgotadas as
possibilidades de crescimento, a economia atingiria o estado de crescimento zero,
cessando a acumulação de capital, com o que a economia deixaria de crescer. Essa
já era uma preocupação expressa por Smith. Outro clássico, John Stuart Mill, por
sua vez, apresenta uma visão otimista sobre o estado estacionário, pois defendia
que o ritmo de progresso técnico poderia ser sempre superior ao do crescimento
demográfico, contrariando o posicionamento de Ricardo e também de outro clássico,
Thomas Malthus, que defendiam a necessidade de controle do aumento da
população, pois esta, segundo a concepção teórica, aumentaria num ritmo maior do
que a capacidade da economia produzir alimentos. Mill formulou a chamada ‘teoria
geral do progresso técnico’, mais conhecida por ‘teoria da tendência ao estado
estacionário’. Justificava que o progresso técnico poderia ser sempre superior ao do
crescimento demográfico, afirmando que aperfeiçoamentos na produção, no
comércio e nos serviços, decorrentes do uso mais habilidoso do capital,
58
proporcionaria novas oportunidades para aumentar a taxa de acumulação e da
produção nacional.
Um exemplo, deste melhor uso do capital seria o que mais tarde se tornou
recorrente, o surgimento de grandes sociedades anônimas, as associações de
produtores e a criação de cooperativas de produção e consumo. Defendia com isso
o impacto das inovações tecnológicas no processo produtivo, seja na agricultura que
na época predominava, ou em outras atividades produtivas, relativizando o problema
do estado estacionário da economia (DALLABRIDA, 2010, p. 26-27). Mill buscou
uma nova ordem de clareza nas teorias da escola clássica, na qual pode ser assim
resumida: o preço varia na razão direta da procura e inversa da oferta. Mill indicando
ser falha essa formulação substitui a relação de causalidade, entre a oferta e a
procura, de um lado os preços, de outro a relação funcional. Aprendeu Mill, com uma
antecipação de quase cinquenta anos, a noção de equilíbrio que servirá de
fundamento ao desenvolvimento científico da moderna teoria dos preços. Quanto à
teoria do valor, Mill parte da elaboração de Smith e Ricardo, recusando dar
exclusivamente o trabalho como base direta do valor. Deixa claro que o valor
depende de duas causas principais: a utilidade e a dificuldade de aquisição (MILL,
1983, p. 250).
Para Mill, o estado estacionário da economia ocorreria com a maximização do
nível de bem-estar do conjunto da sociedade, ao contrário do que defendiam os
demais economistas clássicos, que ocorreria antes que a sociedade tivesse atingido
o nível de vida suficientemente elevado e que se eliminasse a miséria da grande
maioria da população. Para o autor, o progresso tecnológico se diversificaria
continuamente, deslocando o estado estacionário para o futuro, quando todos teriam
atingido elevado padrão de vida. Para o autor, a acumulação cessaria, mas neste
momento a preocupação da sociedade seria com a cultura, o lazer e a evolução
espiritual, inclusive a preocupação com o meio ambiente. Mill faz uma declaração
que poderia ser considerada revolucionária para a época:
Estou propenso a crer que esta condição estacionária seria, no conjunto, uma enorme melhoria de nossa condição atual. Confesso que não me encanta o ideal de vida defendido por aqueles que pensam que o estado normal dos seres humanos é aquele de sempre lutar para progredir do ponto de vista econômico, que pensam que atropelar e pisar os outros, e dar cotoveladas e em andar sempre no encalço do outro são o destino mais desejável da espécie humana, quando na realidade não são outra coisa senão os sintomas desagradáveis de uma das fases do progresso industrial. (MILL, 1983, p. 252)
59
Assim sendo, para Mill, nos países subdesenvolvidos, a preocupação com o
crescimento da produção continuaria, enquanto nos países mais avançados a maior
atenção estaria com a distribuição e, para isso, seria necessário maior controle do
crescimento demográfico. Defendia ainda a adoção de um sistema tributário
progressivo sobre a renda e a riqueza. O tempo para o lazer aumentaria porque o
progresso técnico evitaria o trabalho cansativo, reduzindo o tempo necessário à
produção de bens. Fazia, com isso, projeções otimistas, as quais nem todas se
concretizaram historicamente (DALLABRIDA, 2010, p. 27).
Outro autor clássico que merece destaque é Thomas Robert Malthus. Sua
fama decorre dos estudos sobre a população. Para ele, o excesso populacional era
a causa de todos os males da sociedade. Segundo Malthus, a população crescia em
progressão geométrica e os alimentos em progressão aritmética. Suas ideias são
sintetizadas em dois livros conhecidos como Primeiro Ensaio e Segundo Ensaio. O
primeiro ensaio apresenta uma crítica ao utopismo, enquanto no segundo ensaio há
uma vasta elaboração de dados materiais e tem como princípio fundamental a
hipótese de que as populações humanas crescem em progressão geométrica.
Malthus estudou possibilidades de restringir esse crescimento. Segundo ele, esse
crescimento populacional é limitado pelo aumento da mortalidade e por todas as
restrições ao nascimento, decorrentes da miséria e do vício (DALLABRIDA, 2010, p.
28). As obras de Malthus exerceram influência em vários campos do pensamento e
forneceram a chave para as teorias evolucionistas de Darwin e Wallace.
Os economistas clássicos como David Ricardo, incorporaram o princípio da
população às suas teorias, supondo que a oferta de força de trabalho era
inexaurível, sendo limitada apenas pelo fundo de salários. Para Malthus, assim
como para seus discípulos, qualquer melhoria no padrão de vida de grande massa
populacional seria temporária, pois ela ocasionaria um inevitável aumento da
população, que acabaria impedindo qualquer possibilidade de melhoria. Foi um dos
primeiros pesquisadores a tentar analisar dados demográficos e econômicos para
justificar sua previsão de incompatibilidade entre o crescimento demográfico e a
disponibilidade de recursos. As ideias de Malthus sobre o crescimento demográfico
influenciaram políticas públicas contemporâneas que defendem o controle da
natalidade (DALLABRIDA, 2010, p. 28).
Em suas obras econômicas, Malthus demonstrou que o nível de atividade em
uma economia capitalista dependeria da demanda efetiva, o que constituía a seus
60
olhos, uma justificativa para os esbanjamentos praticados pelos ricos. A ideia da
importância da demanda efetiva seria depois retomada por Keynes. Thomas
Malthus, para alguns intérpretes contemporâneos, representa o paradigma de uma
visão que ignora ou rebaixa os benefícios da industrialização ou do progresso
tecnológico. Para o autor, a diferença entre as classes sociais seria uma
consequência inevitável, com o que a pobreza e o sofrimento seriam o destino para
a grande maioria das pessoas. Resumindo, no modelo clássico de crescimento, a
mudança econômica dependeria do crescimento demográfico, dos rendimentos
decrescentes da agricultura e do conflito distributivo entre salários, lucros e rendas.
A grande questão do desenvolvimento seria conciliar crescimento com distribuição.
Assim, muitas vezes, questões de eficiência conflitariam com equidade. Por
exemplo, inovações técnicas poderiam representar o desemprego de trabalhadores.
Ainda, a harmonia individual produziria a harmonia social e a eficiência do
crescimento econômico, resultando num círculo virtuoso entre poupança,
acumulação, inovações tecnológicas, crescimento, distribuição e desenvolvimento.
Ao Estado caberia a função de preservar a harmonia e a estabilidade social,
assegurando a liberdade individual e o direito de propriedade, atuando basicamente
em áreas sociais básicas, como segurança pública, saúde e educação
(HEILBRONER, 1996, p. 76).
Por outro lado, outro economista clássico, Karl Marx, confrontou-se com boa
parte das ideias dos outros autores liberais citados anteriormente. Concordava, no
entanto, com a abordagem clássica que a trajetória temporal do crescimento
efetuava-se com o declínio da taxa de lucro e com o conflito distributivo. Para Marx,
o conflito distributivo se realizaria na relação capital e trabalho, com a exploração do
trabalhador pelo capitalista.
O capitalista, no entanto, não estaria imune às crises, podendo incorrer em
perdas e entrar em falência, principalmente nas pequenas empresas. Marx construiu
sua análise com base na teoria valor-trabalho, esboçada por Smith e Ricardo: o
valor de um bem equivaleria à quantidade de trabalho socialmente necessário para a
sua produção. No entanto, Marx diferenciou valor quantitativo do valor qualitativo.
Desse modo a força de trabalho considerada no valor seria homogênea,
expressando a produtividade média da economia. O trabalho expressando o valor
implicaria que as rendas que não derivassem do trabalho seriam condenáveis por
resultarem da ‘exploração da classe operária’. Para Marx, evolução e crescimento
61
seriam fenômenos de desequilíbrio. O progresso técnico traria desequilíbrios e
modificações nas relações de produção. Estas gerariam conflito entre os agentes
econômicos, os quais influenciariam o desempenho futuro da economia. A visão de
longo prazo da economia para Marx era extremamente pessimista, em função, tanto
da tendência de retração da taxa de lucro, como do aumento do número de
trabalhadores desempregados. Para o autor, a taxa de lucro cairia não porque se
exploraria menos o trabalho e sim porque se empregaria menos trabalho em relação
ao capital empregado, com o que o capitalismo tenderia a se autodestruir no longo
prazo. A compreensão de suas ideias exige que se aprofundem outras categorias
conceituais por ele estruturadas. Suas projeções sobre o futuro do capitalismo
sustentavam-se na análise da situação da época, não considerando outras variáveis
que o futuro do capitalismo foi agregando à história do desenvolvimento. Mesmo
assim Marx, por suas ideias revolucionárias, é um dos autores clássicos mais
estudados, pois foi o principal pensador que desenvolveu uma análise crítica
consistente sobre o modo de produção capitalista (MARX, 2003, p. 177-183).
2.4.3 As Teorias Clássicas Espaciais ou da Localização
Vários autores ao elaborarem síntese sobre a evolução das teorias do
desenvolvimento fazem distinção entre teorias espaciais e teorias econômicas.
Assim, as primeiras manifestações sobre o problema do desenvolvimento, seriam
teorias que se restringiam a explicações relativas às diferenças de concentração
territorial ou produtiva, que seriam as teorias espaciais. Segue-se a orientação
metodológica destes autores.
Os autores das chamadas teorias espaciais ou da localização teriam como
propósito geral construir modelos explicativos que ressaltassem elementos que
pudessem indicar as razões das disparidades territoriais ou da concentração das
atividades produtivas. Tais teorias se estruturam na interpretação das decisões
empresariais, em uma economia de mercado, sobre o melhor sítio onde localizar-se,
com o objetivo de minimizar os custos operacionais, essencialmente, de transporte
das matérias-primas e do produto final até o mercado consumidor, ou então,
maximizar o lucro. Apesar de sua lógica, tais teorias não chegam a ser conclusivas,
62
permanecendo como desafio para os planejadores e acadêmicos interessados nos
problemas regionais (FERREIRA, 1989, p. 130-135).
A dimensão do mercado local é importante, mas não crucial, quando as
economias externas são importantes e se o custo de transporte não tiver peso
significativo no preço final do produto. As indústrias se concentram em torno de
vantagens físicas (como clima, solo, minas, pedreiras, portos), acesso à mão de
obra e aos mercados. No passado, algumas aldeias se especializaram na produção
de rodas para carroças, carrocerias, tecidos de lã ou linho, sabão etc. Os flamengos
levaram a indústria para a Inglaterra e os ofícios originaram-se da Arábia e do Egito.
A concentração das empresas facilita a difusão do conhecimento técnico e a
concentração da mão de obra atrai atividades interligadas. A diversificação industrial
reduz o custo da mão de obra e eleva a renda familiar pelo aumento do emprego e
dos salários. Deseconomias externas podem surgir pela elevação dos salários e dos
aluguéis nas aglomerações urbanas. A expansão da demanda de terrenos para
habitação, por parte dos trabalhadores, leva as fábricas a se instalarem nos
“subúrbios das grandes cidades, ou em seus distritos industriais, e nunca nas
próprias cidades” (MARSHALL, 1982, v. 1, p. 235 apud SOUZA, 2009, p. 7).
Na história das ciências econômicas, poucos autores concederam um lugar
importante ao espaço. Segundo Benko (1999) apud Dallabrida (2010, p. 31), apesar
dos homens sempre terem vivido no espaço, os economistas durante muito tempo
ignoraram esta evidência. Segundo o autor, os seus trabalhos se inscreviam numa
espécie de ‘pais das maravilhas, sem dimensão’. Esse negligenciamento parece
proposital, talvez porque a introdução do espaço nas análises econômicas os
obrigaria a ultrapassar certas teorias existentes, em vez de simples generalizações.
Tornaria os modelos mais complexos, aumentando o número de variáveis a serem
consideradas. Para Benko (1999, p. 102), a contribuição teórica de J. Thünen, no
início do século XIX, é considerada o momento de nascimento da primeira
verdadeira teoria econômica espacial.
Assim, Thünen é considerado o fundador da teoria econômica da localização.
Este autor, já em 1826, construiu um modelo para explicar as diferenças regionais,
baseado na renda da terra, na qualidade da mesma e nos custos de transporte. Esta
elaboração teórica foi reformulada por Alonso (1972), por volta de 1960. No entanto,
deixa sem resolver a questão de o porquê surgem as aglomerações urbanas
especializadas em manufaturas e atividades terciárias. Isto é, os fatores de
63
localização não são explicados, senão que assumidos como fatores exógenos
(MATTOS, 1998 apud DALLABRIDA, 2010, p. 31-32).
A partir da década de 1920, multiplicaram-se, nos Estados Unidos da América
(EUA), trabalhos teóricos e empíricos enfatizando o elemento espaço na análise
econômica. A razão foi o rápido crescimento econômico daquela década e a crise
econômica da década seguinte. Os problemas se manifestaram de diferentes
maneiras, tendo em vista a grande dimensão territorial desse país e a rápida
expansão da área de influência das grandes indústrias, que trazia a necessidade de
integração dos mercados. As populações se deslocaram do Leste para o Oeste, em
direção do Oceano Pacífico, em busca de novas terras para serem colonizadas. O
desemprego das grandes cidades, a busca do ouro e o espírito aventureiro
determinaram a ocupação do Oeste americano. As produções agrícolas
demandavam escoamento para os mercados e grandes distâncias precisavam ser
vencidas. O espírito capitalista e o estoque de conhecimentos determinavam o que
produzir, a tecnologia ensinava como produzir, mas onde produzir dependia tanto
das oportunidades oferecidas, como de estudos regionais específicos.
Porém, as questões o que produzir, como produzir e onde produzir estão
intimamente associadas e, portanto, ligadas a uma dada localização, ao estoque de
recursos produtivos e aos custos de produção e de comercialização. Uma atividade
pode ter sucesso em uma região, mas não em outras. Conhecer as razões que
levam uma atividade ao sucesso ou ao fracasso em determinada área é fundamental
para a elaboração de políticas regionais de desenvolvimento. Foi o que estimulou as
pesquisas regionais nos EUA. Em 1927, publicou-se amplo diagnóstico econômico
sobre a região de New York, no qual um tipo de emprego seria básico (mais tarde
identificado como setor exportador), por exercer efeito multiplicador sobre o emprego
não básico (setor de mercado interno) (LANE, 1977, apud SOUZA, 2009, p. 8).
2.4.4 Noções de Espaço e de Região
Uma região forma uma identidade, apresentando características semelhantes,
ela se apresenta como um campo de forças, atraindo unidades econômicas e
organizando todo o território à sua proximidade. Definida provisoriamente como um
64
subespaço do território nacional, a região se relaciona com outras regiões, incluindo
o exterior do país em que está inserida. Existem forças internas explicando a
dinâmica regional e forças externas, tais como afluxos de renda provenientes de
suas exportações, investimentos do exterior, gastos do governo central, dispêndios
de turistas, entre outros aspectos (SOUZA, 2009, p. 13).
Segundo Isard (1956) apud Souza (2009, p. 13), a região não pode ser
estudada apenas do ponto de vista econômico, é preciso englobar também aspectos
demográficos, sociais e tecnológicos. O autor propõe abordar a região sob um
enfoque multidisciplinar (pela Ciência Regional) e por sua base espacial, onde
interagem vários elementos. Para ele, cada região tem “essência própria”, para ser
apreendida, necessita-se de abordagem eclética. Ela não pode ser definida
isoladamente, mas levando-se em conta sua inserção no país e no mundo, além de
sua estrutura interna.
Fica implícita a ideia de hierarquia, polarização, funcionalidade e dinâmica: as
fronteiras regionais mudam com o tempo, ao se alterarem a estrutura interna e a
ordem hierárquica. O conceito de região é o mais flexível possível, dentro de dois
extremos. De um lado, a noção de região desaparece, para ceder lugar à noção de
organização espacial; e, de outro, a região fica definida em termos de um problema
específico a ser tratado, em um dado momento. Como os problemas estão
interligados, a análise precisa considerar o conjunto de regiões, voltando-se à ideia
de hierarquia e de funcionalidade (ISARD, 1956, p. 21 apud SOUZA, 2009, p. 13).
2.4.5 Noção de Espaço
A ideia de espaço se diferencia da noção de região pela restrição de
contiguidade. A região, necessariamente, precisa ser constituída por um território
contínuo, delimitado por uma fronteira. O espaço econômico pode ter
descontinuidades. O espaço econômico de um centro urbano-industrial, por
exemplo, ultrapassa as fronteiras político-administrativas daquilo que se poderia
denominar de região do referido centro. Da mesma forma, o espaço econômico da
metrópole paulistana ultrapassa as fronteiras do Estado de São Paulo, atingindo
outras regiões e países. Esse território apresenta-se descontínuo porque intercala a
65
área de influência de outros polos urbano-industriais, como os do Rio de Janeiro,
Belo Horizonte ou Curitiba (SOUZA, 2009, p. 13).
O espaço como distância tem sido tratado no quadro da teoria da localização
da atividade econômica. No Desenvolvimento Regional, o elemento espaço vem
sendo considerado mais como superfície do que como distância, porque sua
abordagem ultrapassa o aporte da teoria da localização.
A superfície espacial nem sempre se apresenta de forma homogênea e
contínua. Seus elementos constitutivos possuem descontinuidades (terra/água, zona
agrícola/zona imprópria para a agricultura, área urbana/área rural). Desse modo, o
território pode ser concebido também como um conjunto de lugares, ou pontos,
como centros de produção diferenciados, onde se materializam custos e preços.
Como resultado, cada lugar apresentará vantagens locacionais específicas para
determinada atividade. O progresso técnico, a legislação e modificações no estoque
de recursos podem alterar as localizações ótimas em cada ponto do território
(MORAN, in PONSARD, 1996, p. 69, apud SOUZA, 2009, p. 15).
2.4.6 Diferentes Concepções de Região
Os economistas não chegaram a uma definição precisa de região, mas a
noções, centradas na restrição de contiguidade e na existência de um espaço
geográfico básico, que é o território nacional. Boudeville (1979, p. 30, apud SOUZA,
2009, p. 15) estabeleceu as noções de região homogênea, região polarizada e de
região-plano. A região homogênea caracteriza-se pela semelhança de suas
unidades componentes, como topografia, relevo, tipo de solo, clima ou
características econômicas, como uniformidade da renda per capita ou tipo de
atividade econômica predominante. Sua delimitação centra-se também na questão
do tamanho desejado para a unidade de análise.
O território nacional pode, portanto, ser decomposto em uma ou muitas
regiões, segundo sua homogeneidade. A região polarizada determina-se a partir de
um polo urbano-industrial que organiza sua área de influência. Está implícita a noção
de hierarquia entre o polo principal, sede da região, e os centros ou polos
secundários subordinados, de dimensões variadas. Ela constitui “um espaço
66
heterogêneo, cujas diversas partes possuem um caráter complementar e mantém de
maneira principal, com um polo dominante, volume maior de trocas do que com
qualquer outro polo de mesma ordem dominando uma região vizinha”
(BOUDEVILLE, 1972, p. 31, apud SOUZA, 2009, p. 15).
Um tipo particular de região polarizada é o de região metropolitana, com
características e problemas específicos. As atividades industriais tendem a emigrar
para a periferia da região urbana e os serviços especializados concentram-se no
centro urbano tradicional. A acessibilidade declina do centro para a periferia, assim
como o valor dos aluguéis e o preço dos terrenos. Exceções ficam por conta da
degradação do centro urbano tradicional de negócios e do surgimento de centros
secundários de atividades (shopping centers) e de zonas residenciais com elevada
densidade demográfica em determinados bairros. A região metropolitana pode ser
formada, portanto, por núcleos demográficos e econômicos secundários, definindo
subáreas de influência. A região-plano pode ser homogênea ou polarizada e está
afetada a um problema específico, como secas ou nível de pobreza. Como exemplo,
têm-se as regiões: Nordeste, no Brasil, vale do Tennesse, nos EUA, Bretanha, no
oeste da França, e Mezzogiorno, no sul da Itália. A característica fundamental da
região-plano é ser objeto de políticas regionais de desenvolvimento, visando reduzir
a disparidade de sua renda em relação a outras regiões do país, criar novos
empregos, aproveitar melhor a disponibilidade local de recursos naturais, melhorar
os indicadores sociais, atacar diretamente bolsões de pobreza entre outros. Para
atingir esses objetivos, no conjunto do país, o governo pode estabelecer uma política
de regionalização do gasto público, conceder incentivos fiscais e criar mecanismos
de planejamento, financiamento e execução de programas regionais de
desenvolvimento (SOUZA, 2009, p. 16).
2.4.7 Dificuldades do Conceito de Região
A primeira dificuldade do conceito de região reside na delimitação precisa das
fronteiras regionais, que não coincidem, necessariamente, com as fronteiras
administrativas adotadas pelo setor público. Independentemente disso, uma
ambiguidade importante em relação à delimitação de uma região decorre do fato de
67
seu tamanho ser variável de uma zona com um pequeno núcleo populacional,
incluindo sua área de influência, a um vasto território envolvendo vários países no
interior de um mesmo continente. Como exemplo, tem-se a região amazônica
(homogênea por suas características), que engloba vários países, e a região de
Palomas, em Livramento, no Rio Grande do Sul, caracterizada por um microclima
europeu, propício à produção de vinhos finos. Fica claro, em muitos casos, que o
conceito de região depende da escala e do tipo de questão a ser estudada. De outra
parte, o tamanho da região, no interior de um país, vai definir o número de regiões
de estudo ou de planejamento.
Conforme o objetivo pode ser mais conveniente trabalhar com um número
limitado de regiões, em outros casos, há necessidade de diminuir a área, o que
implica o aumento do número de regiões. No Brasil, utilizam-se os conceitos de
macrorregião (Sudeste, Nordeste, Norte, Sul e Centro-Oeste), mesorregião e
microrregião, está composta por certo número de Municípios. Uma mesorregião se
constitui por um conjunto de microrregiões, definidas segundo sua homogeneidade
ou estrutura produtiva. Entre as mesorregiões e as macrorregiões, têm-se as
Unidades da Federação, que são os Estados brasileiros. Uma segunda dificuldade
do conceito de região é a restrição da contiguidade: o território regional deve ser
contínuo e não intercalado pelo território de outras regiões.
Desse modo, seguindo determinadas características homogêneas ou de
subordinação, uma área será alocada a uma dada região desde que seu território
seja contíguo a tal região. Uma terceira dificuldade na determinação das fronteiras
regionais diz respeito à sua dinâmica. As rendas per capita das regiões mudam;
cada território geralmente apresenta crescimento diferenciado; a estrutura urbana e
os meios de transporte modificam-se no processo de desenvolvimento,
enfraquecendo a importância do conceito de região (SOUZA, 2009, p. 16-17).
Segundo Souza (2009, p. 17), por causa dessas dificuldades, a noção de
região vem perdendo importância na literatura; os autores têm preferido a noção
mais neutra de espaço. O espaço econômico de um determinado polo urbano-
-industrial normalmente ultrapassa as fronteiras regionais, constituindo, portanto,
uma noção com uma conotação dinâmica. O território polarizado por determinado
polo varia de extensão em função de sua taxa de crescimento econômico e nível de
desenvolvimento. A redução das distâncias pelo desenvolvimento dos meios de
transporte e de comunicação tende a expandir o espaço econômico das regiões.
68
O aumento da área de influência do polo urbano-industrial uniformiza os
espaços no longo prazo, quando se reduzem as disparidades regionais. Uma força
de expansão regional é a base exportadora que aumentaria a integração entre
áreas, pelas trocas inter-regionais. Nesse sentido, a região pode ser definida em
função de sua base exportação, ou estrutura produtiva característica, que introduz
um elemento de uniformidade para a área em questão. Isso foi proposto por Vining
(1949, p. 90, apud SOUZA, 2009, p. 17), pois “uma comunidade parece ser
organizada em torno de sua indústria de exportação”. Ele sugere que as indústrias
exportadoras determinam tanto a estrutura econômica e demográfica, como o
crescimento regional. A ênfase nessas indústrias baseia-se nas ligações
interindustriais no território, que afetam as estruturas econômicas e as
concentrações demográficas. A economia nacional integra-se espacialmente por
intermédio de um conjunto de empresas interdependentes, que movimentam bens e
serviços no território.
Em suma, toda a região organiza-se em torno de um ou mais artigos que
produz e “exporta” para outras regiões do sistema nacional e para o exterior. Com a
renda gerada, a população gastará suas rendas nos centros urbanos, gerando
emprego e renda nas atividades de mercado local, comércio e serviços. Na ausência
de um produto dinâmico de “exportação”, a região será sem dinamismo e vitalidade,
apresentando um marasmo vegetativo secular (SOUZA, 2009, p. 18).
2.4.8 Noções de Região e o Desenvolvimento Regional
A ideia de região leva, implicitamente, em conta a questão do conteúdo
econômico de seus elementos constitutivos: nível de renda (pobreza versus
riqueza), estrutura produtiva (base agrícola versus base industrial), estrutura urbana
(meio urbano versus meio rural), modos de transporte e dotação de recursos
naturais. Esses conceitos estão na base dos conceitos de acessibilidade, economias
e deseconomias de aglomeração, entre outros. Para muitos autores, a região não
passa de um conceito abstrato, pois a subdivisão de um país em unidades menores
é muitas vezes, arbitrária. Suas fronteiras nem sempre têm conteúdo econômico,
mas obedecem seguidamente a critérios político-administrativos, culturais, naturais e
69
geográficos. Afirmar que “a Economia Regional pode ser considerada como a
economia de regiões” (AYDALOT, 1985, p. 104), implicitamente está dando um
conteúdo vago à disciplina Economia Regional. Além disso, a abordagem do
Desenvolvimento Regional não exigiria mais do que a realização de estudos
empíricos, a fim de identificar problemas específicos e diferenciados, exigindo
soluções, portanto, únicas.
De modo geral, os estudos regionais têm sido efetuados em termos
comparativos com outras regiões e em relação à economia nacional. O desempenho
do conjunto das regiões é um parâmetro fundamental de comparação para cada
região em estudo. Obviamente, o tamanho da região, sua constituição e
desempenho de cada elemento que a compõe influenciarão sua performance em
relação à média nacional. Desse modo, não importa a definição de região ou onde
são colocadas suas fronteiras: ela terá um dinamismo próprio em função de seus
elementos constitutivos. Seguidamente, portanto, a região tem se definido por sua
estrutura econômica; ele se caracterizaria pelo maior ou menor dinamismo de
crescimento.
Áreas dinâmicas tendem a atrair fatores de produção e a crescer ainda mais
rapidamente, enquanto regiões com problemas estruturais perdem populações e
capitais. As disparidades regionais se agravam com o crescimento desigual,
independente do local onde o analista coloca as fronteiras regionais. Desse modo,
definir com precisão cada região apresenta-se como um problema menor.
Determinar os mecanismos que causam e aceleram as disparidades espaciais torna-
-se de fundamental importância na análise regional (SOUZA, 2009, p. 21).
2.5 FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL
Formação socioespacial é uma categoria marxista que, segundo Milton
Santos (1977, p. 81-84) apud GOULARTI FILHO (2007, p. 37), “diz respeito à
evolução diferencial das sociedades, no seu quadro próprio e em relação com as
forças externas de onde mais frequentemente lhes provém o impulso”. Como toda
história não se escreve fora do espaço, “o espaço, ele mesmo, é social”. A mesma
base de explicação da formação socioespacial é a produção, ou seja, “o trabalho do
70
homem para transformar [...], o espaço com o qual o grupo se confronta”. O autor
segue relatando a necessidade de entender que a categoria formação socioespacial
não se aplica a uma “sociedade em geral”, mas a uma “sociedade dada”. Segundo
SANTOS (1977, p. 84) apud GOULARTI FILHO (2007, p. 37-38):
O interesse dos estudos sobre as formações econômicas e sociais está na possibilidade que eles oferecem de permitir o conhecimento de uma sociedade na sua totalidade e nas suas frações, mas sempre um conhecimento específico, apreendido num dado de sua evolução. [...] É preciso definir o que a distingue das outras, e, no interior da formação sócio--econômica, a apreensão do particular como uma cisão do todo, um momento do todo, assim como o todo reproduzido numa das frações.
2.5.1 Origem e Crescimento do Capital Industrial
Para que se possa entender o desenrolar da economia em Santa Catarina e
consequentemente o futebol em todas as regiões é preciso voltar aos primórdios e
resgatar a origem e o crescimento do capital industrial. Segundo Goularti Filho
(2007, p. 69), mesmo não havendo uma interação comercial e produtiva
intrarregional em Santa Catarina até o início dos anos 1960, pode-se tomar o Estado
na sua totalidade a partir de 1880 e iremos constatar que havia características que o
unificavam.
A vinda de novos imigrantes para as lavouras de café e para o Brasil
meridional tornou-se uma política econômica deliberada pelo governo imperial
somente a partir do último quartel do século XIX. Com a chegada de novos e de
mais imigrantes a Santa Catarina, a ocupação e a fundação de novos núcleos-
colônias começaram a se dispersar, saindo do eixo Norte-Vale, chegando até o sul
da província, já haviam sido fundados os municípios de Laguna, em 1682; de
Tubarão, em 1836, e elevado à categoria de município em 1870; de Araranguá, em
1848, e elevado à categoria de município em 1880; de Jaguaruna, em 1876, e
elevado à categoria de município em 1891; e outras pequenas localidades. Tanto
Araranguá como Jaguaruna e as outras localidades no litoral foram, colonizadas
basicamente por açorianos, que praticavam as atividades de pesca, artesanatos
afins, e agricultura de subsistência (GOULARTI FILHO, 2007, p. 69-70).
71
A ocupação pelos imigrantes, primeiro os italianos, seguidos dos poloneses e
alemães, no sul da província, iniciou-se em 1877. Eles desembarcavam em Desterro
e desciam até Laguna e Tubarão, estabelecendo-se próximos aos rios, onde
fundaram os primeiros núcleos coloniais: Azambuja (1877), Urussanga (1878),
Criciúma (1880), Cocal (1885), Nova Veneza (1890), Nova Belluno (1891) e outras
(DALL’ALBA, 1982 apud GOULARTI FILHO, 2007). Mesmo com a presença de
alguns municípios e vilas, ao longo do litoral sul e núcleos-colônias mais no interior,
a região passou a ter mais destaque econômico com o início das atividades
carboníferas e com o início da construção da ferrovia pós 1880 (GOULARTI FILHO,
2007, p. 70).
O oeste da província foi definitivamente demarcado após o conflito
diplomático entre Brasil e Argentina, conhecido como a Questão do Palmas,
encerrado em 1895. Em 1850, o governo imperial já havia determinado a criação de
uma colônia militar na região de Palmas, no entanto, com o agravamento do conflito
diplomático é que foi apressada a ocupação na região, e em 1882 foi fundada a
Colônia Militar Chapecó. Um ano após a assinatura do Tratado, começam as
negociações entre o governo e os agentes privados para a conclusão da construção
da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande (EFSPRG), que cortava todo o oeste
no sentido norte – sul (HEINSFELD, 1996 apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 70).
Com a inauguração do trecho ferroviário, em 1910, e com a colonização da região
por imigrantes ítalos e teuto-brasileiros, provenientes do Rio Grande do Sul. Pós
1916, é que a região efetivamente passa a ter um destaque econômico mais
expressivo, devido à exploração da madeira, da erva-mate e de pequenas atividades
agropecuárias. Na realidade, a região oeste integrou-se definitivamente ao território
catarinense após a assinatura do Acordo de Limites com o Paraná, em 1916
(GOULARTI FILHO, 2007, p. 70).
2.5.2 Colonização e Mudanças Sociais
Segundo Goularti Filho (2007, p. 72) durante o período de 1880 a 1945, pode-
-se dizer que se originam e crescem em Santa Catarina as indústrias madeireira,
alimentar, carbonífera e têxtil. A metal-mecânica e a moveleira também nascem
72
nesse período, porém iniciaram um crescimento mais acelerado somente nos anos
posteriores. Nesse período, ocorreram duas grandes mudanças sociais-
-demográficas em Santa Catarina: a primeira com a entrada dos imigrantes
europeus, de 1875 a 1900, no Vale do Itajaí, no norte e no sul, e que se estende em
ritmo desacelerado até o início dos anos 1920; e a segunda com o movimento,
migratório de imigrantes e descendentes provenientes do Rio Grande do Sul, a partir
de 1917, em direção ao oeste catarinense, estendendo-se até os anos 1950, e que
fazia parte das frentes pioneiras de colonização capitalista (fronteira agrícola).
2.5.3 Apogeu da Indústria Tradicional e Ascensão da Indústria Dinâmica (1914-1969)
A Primeira Guerra e, logo em seguida, os anos vinte, tem particular
importância para a evolução econômica de Santa Catarina, em termos, sobretudo,
de substituição de importações, contribuindo para a inserção da economia do Estado
no mercado nacional. Além disso, deve-se destacar que foi de 1912 a 1916 que se
desenrolou, com mais agudeza, a questão do Contestado, tendo aí o seu desfecho,
do qual resultarão também consequências de natureza econômica. Em 1918, por
outro lado, dar-se-á a Reforma Tributária no Estado e, até 1924, tem-se a conjuntura
administrativa “hercilista”. Na faixa média desse período ficam os anos 30 e a
Segunda Guerra, importantes também do ponto de vista econômico, em especial
quanto à substituição de importações, inserção no mercado nacional e a posição
periférica de Santa Catarina, bem como, alterações no primário e terciário. Em torno
de 1960, definir-se-á melhor a ascensão dos ramos “dinâmicos”, em especial o
metal-mecânico, em Joinville, suplantado a hegemonia dos “tradicionais”, liderados
pelos têxteis do Vale do Itajaí. Seria o esboço de mudança estrutural (Santa
Catarina, 1980, p. 103).
Isso colocou a guisa de justificativa desse esquema de periodização e que
não é, nem poderia ser rígido. Ele procura pontos de convergência na transição de
processos, saltos qualitativos, mudanças estruturais de certo vulto e condicionadas
por fatores tanto de nível estadual, quanto nacional e internacional (Santa Catarina,
1980, p. 104).
73
Ao contrário de alguns intelectuais paulistas ou cariocas, formados pelos
cursos da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), nos anos
1950 e 1960, que atualmente lecionam na UNICAMP e UFRJ, os
desenvolvimentistas catarinenses assumiram uma postura conservadora. Segundo o
Estudio econômico de la América Latina (1949), escritos por Raul Prebisch apud
Goularti Filho (2007, p. 41), os países periféricos tinham bases produtivas diferentes
em relação aos do centro, porque a inserção da periferia na Primeira e na Segunda
Revolução Industrial deu-se de forma atrasada, tornando-a dependente e reflexa.
O centro tinha estrutura industrial homogênea e diversificada, e a periferia,
heterogênea e descontinuada, com um setor moderno e outro atrasado, e
especializada em produtos primários voltados para a exportação. O setor moderno
era alicerçado nas exportações e comportava-se conforme a demanda externa. O
setor atrasado era composto pela agricultura que abastecia os centros urbanos e
pela agricultura de subsistência. Não havia uma relação articulada entre os dois
setores, ao contrário, o atrasado tornou-se um entrave ao livre desenvolvimento do
moderno. A única maneira de romper com esta economia dual seria a
industrialização e a reforma agrária. Com as demandas sociais aumentavam
exponencialmente e havia uma inércia empresarial para fazer os vultosos
investimentos necessários para o país sair de sua condição de periferia, o Estado
constituía-se no agente capaz de alavancar o desenvolvimento econômico
(GOULARTI FILHO, 2007, p. 41).
Os desenvolvimentistas catarinenses eram conservadores porque não
analisavam criticamente as questões sociais, a concentração fundiária e aliavam-se
às oligarquias catarinenses. Além disso, faziam uma leitura um pouco diferenciada
da CEPAL, transportavam a análise cepalina utilizada para entender a deterioração
das relações de trocas entre nações para compreender o atraso da economia
catarinense (GOULARTI FILHO, 2007, p. 41).
Os três ramos de maiores destaques em Santa Catarina, em relação ao seu
produto industrial, em 1949, eram: madeira, com 27,4%; têxtil, com 21,5%; e
produtos alimentares, com 20,1%. Em 1962, a base industrial pouco tinha se
alterado: madeira, com 26,8%; têxtil, com 20,8%; e produtos alimentares, com
14,6% do produto industrial. No conjunto, o setor tradicional em 1949 representava
80,6% do produto industrial, caindo, em 1962, para 73,3%; o dinâmico representava
19,4%, subindo para 26,7%, respectivamente.
74
2.5.4 As Indústrias Originárias
O Brasil chega ao final do século XIX com uma forte base agrária-mercantil e
com uma fraca base industrial. Na região cafeeira, as indústrias que mais se
destacavam eram as ligadas ao complexo cafeeiro exportador e as de bens
assalariados. Nas economias regionais, fora do complexo cafeeiro, predominavam
basicamente dois setores: o extrativismo e o alimentar. A indústria têxtil era forte
apenas nas capitais. A expansão da renda do complexo exportador pós 1918
estimulava o surgimento, no entremeio dos setores tradicionais, segmentos mais
dinâmicos, que se estendem até 1933, quando começa efetivamente a ser pensado
um projeto “nacional” de industrialização (GOULARTI FILHO, 2007, p. 83).
Em Santa Catarina, a indústria originária está no segmento extrativo – erva-
-mate, madeira e carvão –, no alimentício – farinha, açúcar e derivados de suínos –
e no têxtil. Além desses setores manufatureiros, também se destacava a pecuária
extensiva nos Campos de Lages. Perceba como esses segmentos surgiram
(GOULARTI FILHO, 2007, p. 83).
2.5.4.1 Extrativismo
Segundo Goularti Filho (2007, p. 83), dentro da indústria extrativista em Santa
Catarina, inicialmente destacavam-se a ervateira, a carbonífera e a madeireira.
2.5.4.2 Erva-mate
A erva-mate cobria o Brasil meridional e Mato Grosso, a província de
Misiones, na Argentina, e o Paraguai. Em Santa Catarina, a erva-mate concentrava-
-se no Alto Vale do Rio Uruguai e no planalto norte – desde o atual município de
Campo Alegre até Xanxerê –, onde a extração teve início no último quartel do século
XIX (GOULARTI FILHO, 2007, p. 83).
75
A produção, consumo e exportação da erva-mate em Santa Catarina sempre esteve ligada à produção do vizinho Estado do Paraná, por interesses comerciais, por fontes de produção, por similaridades de tipos de produto exportado e ainda por colheita da matéria-prima na região do “Contestado”, Rio Negro e Rio Preto (ALMEIDA, 1979, p. 10).
A erva-mate foi responsável, em boa medida, pela fixação inicial dos
imigrantes de Joinville e de São Bento do Sul e pela construção da Estrada Dona
Francisca e ramal ferroviário da Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande
(EFSPRG) ligando Porto União ao Porto de São Francisco do Sul. Segundo Almeida
(1979, p. 14), “da exportação ao engenho para a industrialização do mate foi um
passo rápido e Joinville tornou-se um centro de comercialização, industrialização e
exportação de mate”. Formou-se um corredor do mate entre São Bento do Sul e
Joinville, ambas as cidades subordinadas à praça de Curitiba, que gerenciava parte
dos negócios nessa região. A região era uma extensão da economia ervateira do
Paraná. A produção teve uma ascensão nos anos 1910, iniciando com 5.761 t em
1910, passando para 19.852 t em 1920. A produção se estabilizou nos 1920 e 1930
e começou a declinar nas décadas seguintes. Basicamente, 80% da produção
exportada eram destinadas ao mercado exterior, tendo Chile e a Argentina como
grandes consumidores. Com a crise nos anos 1930, a Argentina acelera o cultivo e a
produção da erva-mate para atender a seu próprio mercado, gerando uma queda na
produção e nas exportações catarinenses, caindo para 2,1% em 1943 (GOULARTI
FILHO, 2007, p. 84).
2.5.4.3 Carvão
A descoberta do carvão mineral em território catarinense deu-se no início do
século XIX, “dizem que forma descobertas as jazidas pelos tropeiros, quando por
esse leito (córrego do Barro Branco) passava uma estrada de Lages à Laguna”
(CAMPOS; MESSEDER; REGO, 1890, p. 49 apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 85).
Em fevereiro de 1861, foi aprovado o Decreto nº 2.737, que fez concessão ao
Visconde de Barbacena para explorar e minerar o carvão catarinense nas margens
do Passa Dois. No ano de 1874, o contrato foi robustecido “pela concessão de um
caminho de ferro para servir as minas, garantindo-se o juro de 7% em ouro sobre o
76
capital empregado” (CAMPOS; MESSEDER; REGO, 1890, p. 49 apud GOULARTI
FILHO, 2007, p. 85). Por dez vezes a concessão para minerar foi prorrogada, sendo
a última em 19 de junho de 1876. Em 4 de dezembro de 1880, Barbacena obteve
nova permissão para explorar as suas concessões. Tratava-se de um contrato de
duplo alcance: “o da venda de terras por parte do governo e o de concessão do
privilégio de lavrar na área vendida” (CAMPOS; MESSEDER; REGO, 1890, p. 49
apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 85).
No final do século, o carvão despertou interesse dos ingleses que, por
intermédio do Visconde de Barbacena, organizaram, em 1876, a The Donna
Thereza Christina Railway Company Limited, para construir a ferrovia, e, em 1883, a
The Tubarão Brazilian Coal Mining Company Limited, para explorar o carvão. Ambas
tiveram vida curta: a primeira foi dissolvida em 1903 e, a segunda abandonada em
1887 (GOULARTI FILHO, 2007, p. 85).
Com o abandono da área pelos ingleses, a concessão das terras foi
transferida à firma carioca Lage & Irmãos e a ferrovia encampada pelo governo
federal e repassada à Cia. EFSPRG e em seguida para a Companhia Brasileira
Carbonífera Araranguá (CBCA). Até 1914, a exploração seguiu de forma artesanal
por pequenas iniciativas locais.
Somente com os adventos da Primeira Guerra, devido à queda nas
importações, foi que efetivamente começaram as atividades carboníferas de uma
forma mais racional. Entre 1917 e 1922, foram fundadas cinco companhias
carboníferas: a CBCA, a companhia Carbonífera Urussanga S.A. (CCU), a
Companhia Carbonífera Próspera S.A., a Companhia Ítalo-Brasileira Ltda. e a
Companhia Nacional Mineração Barro Branco. Apenas a Companhia Carbonífera
Próspera S.A. e a Ítalo-Brasileira Ltda. tinham sede em Criciúma, as demais no Rio
de Janeiro (GOULARTI FILHO, 2007, p. 85).
2.5.4.4 Madeira
Para entender a origem do complexo madeireiro em Santa Catarina, sua
formação e desdobramento, a premissa maior encontra-se na disponibilidade
abundante de recursos florestais, com destaque para a araucária. A extração da
77
madeira constituía-se, na época, a fonte mais rápida, fácil e disponível de
acumulação capitalista (GOULARTI FILHO, 2007, p. 88).
Segundo Klein et al. (1979, p. 247-248), em traços gerais:
[...] o pinheiro (araucária) se encontra formando agrupamentos densos, principalmente na parte leste e central do planalto meridional do Brasil, abrangendo os Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, ocorrendo ainda, como manchas esparsas, também no sul do Estado de São Paulo e na Serra da Mantiqueira, internando-se até o sul de Minas Gerais e Rio de Janeiro [...] atravessa para a província argentina de Misiones.
No início do século XX, a reserva brasileira de pinheiro era de
aproximadamente a 200.000 km² de superfície. Em 1955, Santa Catarina
representava 12,2% da área total de floresta araucária (1.350.000 ha). Segundo
Lago (1968, p. 70 apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 88) “a quantia estimada de
pinheirais (1955) seria de 27 milhões de indivíduos com diâmetro superior a 40 cm,
enquanto, na mesma época, o Paraná deveria possuir 128 milhões e o Rio Grande
do Sul apenas 6 milhões”. Além do pinheiro, também era explorada, em menor
proporção, a imbuia e a canela. Inicialmente, a exploração da madeira ocorreu nas
colônias do Vale do Itajaí e litoral (GOULARTI FILHO, 2007, p. 88).
Bellani (1991, p. 249) conclui que “houve uma intensa destruição da floresta
nativa, apesar de ter sido, por muitas décadas, a única opção de vida e
sobrevivência da região [...] e incrementou mudanças ímpares na vida regional”. Do
ponto de vista comercial, a madeireira foi o elemento integrador da região ao
mercado nacional. Na região oeste, a atividade madeireira basicamente esgotou-se
no início dos anos 1950. Ao contrário do planalto norte e serrano, a região oeste não
partiu para o reflorestamento. A diversificação para o setor alimentício manteve a
expansão da renda, evitando uma regressão econômica, porém exigia novas
relações de trabalho e novos espaços para a sua contínua ampliação (GOULARTI
FILHO, 2007, p. 90-91).
No planalto norte e Alto Vale do Rio do Peixe, tendo Canoinhas e Caçador
como municípios-polos, a madeira ainda é a principal atividade industrial na região.
Parte dessa região também é conhecida como a Região do Contestado. A
colonização teve início com a construção da EFSPRG e do Ramal Porto União–São
Francisco do Sul. Após a Guerra do Contestado e do Acordo de Limites, as
78
companhias colonizadoras intensificaram a colonização na região (GOULARTI
FILHO, 2007, p. 91).
2.5.4.5 Têxtil
A indústria têxtil em Santa Catarina está basicamente circunscrita ao Vale do
Itajaí, centrada nas cidades de Blumenau e Brusque, e ao norte, em Joinville e
Jaraguá do Sul, e data do final do século XIX (GOULARTI FILHO, 2007, p. 92).
No período que vai de 1850 a 1880, a colônia de Blumenau dedicou-se quase
que exclusivamente à produção de produtos agrícolas (fumo, café, mamona, raízes
de plantas úteis, laranja, cana-de-açúcar, pêssego e goiaba), alimentos (farinha de
mandioca, manteiga, queijo, banha e salame), bebida (vinho, cerveja, aguardente)
madeira e tijolos. A produção era destinada ao mercado local e regional
(HILLESHEIM, 1979 apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 92). Num primeiro momento,
a indústria têxtil surgiu somente com a chegada de novos imigrantes pós 1875, que
eram provenientes da Saxônia, uma região industrial na Alemanha recém-unificada.
Em 1880 é fundada a Gebrüder Hering, pelos irmãos Hermann Hering (mestre
tecelão) e Bruno Hering, base da atual Cia. Hering. Em 1882, Johann Karsten
comprou seis teares alemães e montou uma pequena tecelagem, surgindo a
Karsten. Em seguida, 1884 foi fundada a Garcia. Todas ficavam em Blumenau
(MAMIGONIAN, 1966 apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 92).
Em Brusque, surgiu a Buettner em 1875 e a Renaux em 1892. Sobre a origem
da Renaux e da Buettner, Hering (1987) faz o seguinte relato: Eduardo Von Buettner
se instalou em Brusque no ano de 1875, explorando inicialmente madeira, plantando
café e cana-de-açúcar. Em seguida abriu uma loja de fazenda, secos e molhados e
armarinhos. Muitos dos produtos vendidos na sua loja eram produzidos por ele
mesmo; por exemplo, os bordados, aventais e toalhas. Em 1898, Buettner colocou
uma fábrica de bordados com técnicas alemãs, trazidas pelo filho que fora estudar
na Alemanha, e matéria-prima inglesa. A Renaux iniciou com uma casa comercial
em Blumenau e Brusque durante dez anos (1882-1892). Em seguida, Carlos
Renaux, juntamente com outros sócios e contando com mão de obra especializada,
montou uma fábrica de tecidos em Brusque (GOULARTI FILHO, 2007, p. 92-93).
79
Em Joinville, em 1881, surge a Döhler, fundada por Karl G. Döhler, um mestre
tecelão, que trouxe da Saxônia alguns fios e começou a fabricar tecidos num
pequeno tear de madeira feito por ele mesmo. Portanto, antes da virada do século,
já estavam estabelecidas a Hering, Karsten, Garcia, Renaux, Döhler e Buettner.
Excluindo a Garcia, que foi adquirida pela Artex em 1973, as demais marcas ainda
permanecem no mercado e representam parte significativa da indústria têxtil
catarinense (GOULARTI FILHO, 2007, p. 92).
2.5.4.6 Alimentos
Inicialmente, a produção de alimentos em Santa Catarina estava ligada às
atividades agrícolas desenvolvidas pelos açorianos, como o cultivo da cana-de-
açúcar, para a fabricação da aguardente e do melado; da mandioca, para a
fabricação da farinha e do polvilho; do arroz, do café e as atividades pesqueiras.
Com a vinda da segunda leva de imigrantes, nos meados do século XIX, começam a
surgir novos produtos alimentícios como a banha, manteiga, queijo e salame. A
explicação dessa diversificação deve ser buscada na tradição dos imigrantes
italianos, que eram pequenos camponeses. Com a vinda da terceira leva de
imigrantes pós 1875, aumentou a diversidade e a oferta de alimentos, como
derivados do suíno e do leite, o fabrico do vinho e também da farinha de mandioca
(GOULARTI FILHO, 2007, p. 96).
Dadas as características da colonização em Santa Catarina, as atividades
agrícolas, que resultavam na produção de alimentos, eram todas praticadas por
pequenos proprietários, que além de produzirem para a sua subsistência,
comercializavam o excedente junto ao mercado local e com os centros comerciais
mais próximos (Laguna, São Francisco do Sul, Joinville, Blumenau e Florianópolis)
(GOULARTI FILHO, 2007, p. 97). Segundo Milanez (1991, p. 29), nos primeiros
tempos da colonização no sul do Estado “exportava-se banha, carne de porco
salgada, feijão e outras mercadorias” até para o Rio de Janeiro. As mercadorias
partiam de Criciúma até Jaguaruna, e seguiam até Florianópolis, de onde eram
embarcadas para Santos, Rio de Janeiro e o Norte. A produção de alimentos no sul
do Estado ficou por longas décadas neste nível, pequenos produtores que
80
comercializavam com algumas praças estaduais e nacionais. O desenvolvimento de
um setor agrícola ativo que desse condições para que se transformasse numa
indústria alimentar dinâmica foi abortado pelas atividades carboníferas que
submeteram e comprometeram várias propriedades rurais com a lavra do carvão.
Muitos colonos vendiam suas propriedades para serem mineradas por uma forma ou
eles próprios às mineravam. Quando a reserva de carvão esgotava, o terreno já
estava todo comprometido com os mananciais hídricos contaminados,
impossibilitando o cultivo da terra.
O mesmo que aconteceu em Criciúma, de certa forma e em menor proporção
aconteceu em Blumenau, onde grande parte da mão de obra, que poderia ser
voltada para as atividades agrícolas, voltou-se para atividades fabris, em especial a
têxtil. Devido à natureza diferenciada das atividades carboníferas e têxteis,
principalmente do ponto de vista ambiental, o setor agrícola em Blumenau avançou
mais do que em Criciúma. Durante o período entre guerras, desenvolveu-se a
indústria de alimentos na região de Blumenau (GOULARTI FILHO, 2007, p. 97).
Essas atividades agrícolas mercantis formaram o primeiro núcleo gerador da
acumulação capitalista. O sistema colônia-venda e a exploração da mão de obra de
expropriados deram condições para a formação de um mercado interno que se
desdobrava e ampliava. Mesmo num regime de pequenos proprietários, surgem
pequenos capitalistas que acumulavam mais e passam a subordinar os mais frágeis.
Essa subordinação ocorreu em virtude da diferenciação social que se desenvolve
dentro da pequena propriedade.
Mesmo com a produção de alimentos no sul, no Vale e no litoral, será com a
colonização do oeste catarinense que o setor terá outros desdobramentos e definirá
os rumos da indústria alimentar em Santa Catarina e, em boa medida, no Brasil, a
partir da consolidação de grandes empresas. A ocupação do oeste catarinense deu-
-se paralelo à construção da ferrovia São Paulo – Rio Grande, por colonos ítalos e
teuto-brasileiros, provenientes do Rio Grande do Sul, estimulados pela abertura de
fronteiras e pela possibilidade de se tornarem capitalistas. Além da pecuária, duas
atividades econômicas desenvolveram-se no oeste: nas proximidades do Rio
Uruguai, a extração da madeira; e na divisa com o Paraná, o cultivo da erva-mate.
No entanto, foram as atividades madeireiras que comandaram o processo de
acumulação capitalista até os anos 1950 (GOULARTI FILHO, 2007, p. 98).
81
2.5.5 Crescimento Articulado
Segundo GOULARTI FILHO (2007, p. 51) Santa Catarina foi se ajustando à
expansão da economia nacional graças à integração do mercado interno, ao
processo de industrialização2 e à urbanização acelerada. Endogenamente, o salto e
a reestruturação da indústria e da agroindústria catarinense devem ser entendidos a
partir de três movimentos:
a) Quando algumas empresas locais começam a se impor no cenário
nacional;
b) Quando o Estado passa a formular políticas industriais para impulsionar
os setores dinâmicos; e
c) Quando a grande e média indústria passa por uma reestruturação
produtiva e patrimonial e o Estado por uma desarticulação política.
Os dois primeiros movimentos iniciaram-se nos anos 1950 e 1960 e estão
dentro de um movimento mais geral que é o da industrialização brasileira; e o último,
no modelo neoliberal em que o Brasil entrou a partir de 1990. Por um lado, a
formação socioespacial, a articulação da economia catarinense na economia
nacional, a especialização regional, a diversificação produtiva, a participação do
Estado e a dinâmica das relações sociais que vão se construindo a partir da
realidade concreta formam um todo que explica a integração e a consolidação da
indústria catarinense. Por outro lado, o regresso ao modelo liberal com a abertura
comercial e financeira e a desregulamentação estatal, despolitizando as relações
econômicas, explicam a reestruturação patrimonial e produtiva da indústria e da
agroindústria catarinense e a desarticulação política do Estado (GOULARTI FILHO,
2007, p. 51).
Analisando os desequilíbrios regionais e a concentração industrial no Brasil,
de 1930 a 1970 (CANO, 1985, p. 191) argumenta que no período de industrialização
restringida e da integração do mercado nacional ditada a partir de São Paulo, as
economias periféricas sofreram efeitos de estímulo, de inibição e de destruição na
sua base comercial e produtiva: “o capital industrial sediado basicamente em São
2 Lembrando que, não existia a “industrialização catarinense” neste período, o que havia era a
indústria em Santa Catarina, o crescimento industrial, o que existia era a industrialização brasileira, que está circunscrita aos marcos do Estado-Nação e que forma um sistema nacional da economia.
82
Paulo, sendo elemento dominante no novo padrão de acumulação, também seria
dominante na propagação desses efeitos”. Esses efeitos poderiam ser amortecidos
pelos gastos públicos ou por meio de investimentos privados regionalmente
direcionados. O efeito de estímulo, para Cano (1985, p. 191) ocorre:
[...] quando a demanda anteriormente satisfeita por importações do exterior e que agora é cativada à indústria nacional; e pela expansão da demanda urbana (regional e/ou nacional) que se dá pela dinâmica do processo de recuperação e crescimento.
O efeito de bloqueio se dá quando bens produzidos na região e que são
comercializados localmente passam a ser substituídos por bens produzidos no
centro (São Paulo). O efeito de destruição atuou tanto no período de industrialização
restringida como no posterior de industrialização pesada e ocorreu quando a
indústria do centro dominou o mercado regional periférico. No entanto, Cano (1985,
p. 207) conclui que:
[...] à medida que algum grau de integração do mercado nacional fosse se desenvolvendo, em todas as regiões poderiam manifestar-se tanto efeitos de destruição como de bloqueio ou de estímulo [...]. Essa manifestação dar-se-á com distintas intensidades em cada uma das regiões impactadas pelo desenvolvimento capitalista da região que lidera o processo de integração. Quer por sua proximidade geográfica, por sua disponibilidade e grau de ocupação de determinados recursos naturais e, principalmente, por sua capacidade em “assimilar e propagar internamente” o desenvolvimento de relações capitalistas de produção mais avançadas emanadas a partir do “pólo”, uma região poderá se beneficiar mais que outra durante o processo de integração.
As áreas mais próximas de São Paulo foram as que mais receberam
“impactos positivos de integração”. As áreas relativamente vazias, como Mato
Grosso, Goiás, Triângulo Mineiro e Paraná, segundo Cano (1985, p. 207),
“praticamente constituíam parte de uma frente avançada do ‘capitalismo paulista’”
via setor agrário. As áreas mais próximas e mais antigas, como Minas Gerais, Santa
Catarina e Rio de Janeiro, “receberam impactos positivos via complementaridade
industrial num sentido amplo, isto é, não apenas pela oferta de bens de produção,
mas também de consumo”.
Para Cano (1985, p. 305), com a integração do mercado nacional, a
industrialização periférica começa a assistir dois movimentos: o antigo e o novo.
83
O antigo, decorrente da manutenção das antigas atividades primárias exportadoras que continuavam a imprimir efeitos dinâmicos sobre o compartimento industrial periférico, sobre sua produção terciária e sobre a construção civil, via urbanização. O novo, determinado pelo movimento de acumulação do centro dominante nacional [...] atuantes no compartimento periférico urbano e rural.
Assim, tornam-se expostos os referenciais teóricos sobre as teorias do
desenvolvimento, desenvolvimento regional, evolução histórica econômica do
Estado de Santa Catarina e formação econômica do Estado de Santa Catarina.
Atinge-se o objetivo de expor como isso foi acontecendo ao longo do tempo, e agora
se pode adentrar no objeto de estudo, com as ideias mais esclarecidas do que
realmente pretende-se objetivar com esta pesquisa.
84
3 O FUTEBOL E AS REALIDADES ECONÔMICAS REGIONAIS EM SANTA CATARINA: DE 1960 A 2010
O processo de desenvolvimento regional comporta um conjunto variado de
reflexos na estrutura socioeconômica envolvente. Implicações que são sentidas, de
modo especial, no nível de vida dos indivíduos e das coletividades. A área
desportiva não é inume a esses reflexos. Sobretudo, os setores econômicos mais
próximos das modalidades suportadas por gastos correntes volumosos ou então
com exigências mais dispendiosas na prossecução de objetivos de sucesso dos
participantes são aqueles mais subordinados aos sinais resultantes do processo de
desenvolvimento da região ao redor. Assim, modalidades mais caras (como é o caso
de equipes de futebol) ou coletividades mais ambiciosas só poderão obter respostas
às suas necessidades em contextos locais e regionais caracterizados por patamares
mais elevados de desenvolvimento.
Se existe esta percepção para a generalidade das modalidades desportivas,
então, se considerar modalidades apoiadas em estruturas de custos mais
volumosos, tenderá a encontrar relações mais significativas que envolvam o nível de
desenvolvimento socioeconômico de determinado espaço com a presença de clubes
ou de associações promotoras da prática dessas atividades. Um exemplo relevante
destas modalidades é o assumido pelo futebol profissional (MOURÃO, 2004, p. 34).
Para que se possa compreender esta temática do futebol com as realidades
econômicas regionais em Santa Catarina, precisa-se definir o que é a
Especialização Regional. Segundo Goularti Filho (2007, p. 342) especialização
regional é caracterizada pela presença de um mesmo setor industrial numa base
territorial microrregional. A presença deste setor na microrregião tem a ver com a
formação econômica local e a forma como ele foi se consolidando e se inserindo no
mercado, assumindo o comando do processo de acumulação capitalista. O setor
líder é formado por poucas e grandes empresas com capacidade de comando e
alavancagem em dinamizar e atrair novos investimentos ou por várias médias e
pequenas empresas que, no conjunto, têm a mesma capacidade de comando e
alavancagem.
Santa Catarina possui esse perfil em seu desenvolvimento econômico
regional.
85
3.1 A DÉCADA DE 1960
Os três primeiros anos da década de 1960 (1960, 1961 e 1962) tiveram como
campeão estadual de futebol profissional o E.C. Metropol da cidade de Criciúma.
Segundo Silva Júnior (1996) apud Carola (2002, p. 157) o futebol foi um tipo de lazer
utilizado pelos proprietários de minas para atenuar os conflitos entre capital e
trabalho. Praticamente, cada mina tinha seu time, no qual os jogadores-mineiros
descarregavam suas tensões, esquecendo temporariamente a brutalidade da
exploração a que estavam sujeitos. Muitas partidas (dentro e fora do campo)
viravam palco de pancadarias, com tiros, paus e pedras “voando para todos os
lados”. As rivalidades aumentavam e as partidas, muitas vezes pareciam arenas
onde se defrontavam gladiadores. Mas nem sempre a violência era a tônica do
futebol. Nos períodos de campeonato, o domingo era dia de futebol e a comunidade
operária, formada por homens, mulheres, velhos e crianças, era espectadora ativa.
Entre as rivalidades, o autor destaca o clássico entre o Metropol, time da Companhia
Metropolitana, e o Comerciário, time pertencente às elites do comércio da cidade.
O Metropol pertencia à Companhia Carbonífera Metropolitana e atuou como
time profissional no período de 1959 a 1969. O time era formado por trabalhadores
mineiros e jogadores profissionais contratados em outros clubes. Vindo do
amadorismo em 1959, a sociedade Freitas – Guglielmi passa a investir no Esporte
Clube Metropol. “[...] A partir desse momento, com o impulso financeiro da
Companhia Carbonífera Metropolitana, começa a história do ‘Metropol rico’ [...]”
(CORRÊA, 2006, p. 100).
Em 1960, tornou-se clube rico e programado para se impor pela diferença na
qualidade técnica de seus jogadores e extrema organização. Acabou parecendo-se,
em muito, guardadas as devidas proporções, com o poderoso Santos Futebol Clube,
à época o melhor time de futebol do mundo. Dele copiou até o impecável uniforme
todo branco que costumava usar em seus jogos principais, trocando apenas a cor de
fundo, o preto, pelo verde. O Metropol foi, também, chamado de “Real Madrid
Catarinense” pela imprensa da Capital, em alusão ao poderoso Real Madrid, da
Espanha, outro dos maiores times do mundo naqueles dias. Em 1962, o clube se fez
presente nos gramados da Europa, trazendo um resultado surpreendente de 13
vitórias, 6 empates e 4 derrotas. Tido como clube moderno, foi campeão estadual
86
cinco vezes na década de 1960 (1960, 1961, 1962, 1967 e 1969), e também quinto
lugar na Taça Brasil (MACHADO, 2000, p. 126). Estranhamente em 1969,
abandonou à realidade do profissionalismo e passou a disputar apenas competições
amadoras, condição que preserva até os dias atuais. A trajetória do Metropol (1959-
1969) retrata em que o poderio econômico de alguns mineradores era marcante.
(SILVA JÚNIOR, 1996 apud CAROLA, 2002, p. 157-158).
Segundo Goularti Filho (2007, p. 139) o complexo carbonífero catarinense
continuou se expandindo durante todo o período da Primeira Guerra. A crise maior
que o setor passou foi imediata após o final da Segunda Guerra, quando o governo
federal parou de garantir a compra de toda a produção. A crise, na verdade, foi de
superprodução, as mineradoras continuaram no mesmo ritmo de produção anterior a
1945. Como forma de pressionar o governo a voltar a garantir a compra de toda a
produção, durante os meses de fevereiro de 1947 e maio e junho de 1949, foi
realizada, na cidade do Rio de Janeiro, uma Mesa-redonda, conhecida como a
Batalha do Carvão, para debater os problemas do carvão nacional. O apelo que
vinha dos empresários e dos políticos que representavam os interesses do setor era
um só: a garantia de compra de toda a produção pela Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN), sem a qual seria impossível a sobrevivência do carvão nacional. No
final da Mesa, foi elaborado um documento que enumerava trinta medidas
necessárias para manter o setor em pleno funcionamento.
A crise pós 1945 só foi amenizada nos meados dos anos 1950, quando foram
criados, em 1953, o Plano Nacional do Carvão e a Comissão Executiva do Plano do
Carvão Nacional (CEPCAN), que tinham por objetivo conjugar as atividades de
produção, beneficiamento, transporte e distribuição do carvão. A solução mais
duradoura não veio apenas com as medidas protecionistas, mas sim, com o
crescimento acelerado da indústria pesada na segunda metade dos anos 1950, com
a construção de grandes siderurgias estatais e com a construção da usina
termelétrica da Sociedade Termelétrica do Capivari (SOTELCA), em Tubarão,
inaugurada em 1965. Como sempre, dependeu basicamente do apoio
governamental, quaisquer mudanças nas políticas regulatórias imediatamente
refletiam nas atividades carboníferas.
De 1945 a 1960, surgiram, na região, aproximadamente quarenta pequenas
mineradoras que atuavam de forma artesanal, todas de proprietários locais. Grande
parte dessas pequenas mineradoras vendia sua produção às mineradoras de maior
87
porte, como a Companhia Brasileira Carbonífera de Araranguá (CBCA), Cia.
Próspera, Barro Branco e Carbonífera Criciúma (GOULARTI FILHO, 2007, p. 140).
Verificam-se dois movimentos de acumulação no setor carbonífero nos anos
1950 e 1960: a subordinação do pequeno ao grande capital e centralização de
capital (GOULARTI FILHO, 2007, p. 140).
Tabela 2 - Área de concessão (em 1945) e produção b ruta de carvão (em 1956) por empresa
Empresas Mineradoras Área de Concessão
(ha)
Produção
bruta (t)
Criciúma
Companhia Siderúrgica Nacional 8.000 198.373
Sociedade Carbonífera Próspera S.A. 2.500 167.526
Companhia Carbonífera Metropolitana 2.570 154.087
Carbonífera Treviso S.A. 96.628
Companhia Brasileira Carbonífera de Araranguá 2.000 95.305
Companhia Carbonífera Catarinense S.A. 943 55.828
Sociedade Carbonífera Boa Vista Ltda. 120 47.856
Carbonífera União Ltda. 1.215 37.298
Companhia Carbonífera São Marcos S.A. 346 36.513
Sociedade Carbonífera Rio Mania Ltda. 31 20.841
Sociedade Carbonífera Monte Negro Ltda. 30,2 11.338
Carbonífera Pinheirinho Ltda. 8.162
Carbonífera Santa Bárbara Ltda. 5.231
Sociedade Brasileira Carbonífera Progresso Ltda. 9,7 4.531
Companhia Carbonífera Brasil Ltda. 1.764
Carbonífera Criciúma 1.000
Fonte: Sindicato Nacional da Indústria de Extração do Carvão (1951 e 1961).
Observando os dados referentes à produção bruta de carvão, pode-se afirmar
que a Companhia Carbonífera Metropolitana era a terceira maior do Estado no final
da década de 1950, o que corrobora a nossa hipótese de pesquisa sobre a realidade
econômica regional do sul do Estado de Santa Catarina e o futebol profissional.
Sendo que na década de 1960, o E.C. Metropol (time desta carbonífera foi o maior
vencedor do Estado). Além dos cinco títulos, obteve um vice-campeonato no ano de
1965. A outra equipe da cidade de Criciúma, o Comerciário E.C. (equipe da elite do
comércio), sagrou-se campeão no ano de 1968, o que segundo Machado (2000, p.
138) mostra que a Capital do Carvão, possuía o maior reduto de clubes profissionais
do Estado. Pois, além das duas equipes mais famosas (E. C. Metropol e Comerciário
88
E. C.) possuía o E. C. Próspera e o Atlético Operário Futebol Clube. Desta forma,
pode-se afirmar que na década de 1960 a realidade econômica regional do carvão
no município de Criciúma oportunizou a formação de clubes de futebol profissional
de renome no Estado.
Pode-se afirmar que, o abandono do E. C. Metropol das atividades
profissionais do futebol no ano de 1969 em Santa Catarina deveu-se, ao fechamento
de minas que existiam na região, ou, sua compra por mineradoras maiores.
Segundo Goularti Filho (2007, p. 226-227):
Das inúmeras minas que existiam na região, muitas fecharam em função do esgotamento das reservas ou foram compradas por mineradoras maiores, que tinham mais recursos técnicos para extrair o mineral. Somente a Cia. Carbonífera Urussanga de 1948 a 1967 comprou onze carboníferas. Santo Guglielmi e Diomício Freitas criaram a Carbonífera Caeté em 1949 e a Criciúma em 1958. Depois adquiriram a Cocal, São Marcos, União, Pinheirinho e Metropolitana. Após uma cisão no final dos anos 1960, a Metropolitana ficou com Guglielmi e a Criciúma com Freitas.
Essa citação “leva a crer” que com o fim da sociedade, a Cia. Carbonífera
Metropolitana, ficando com Guglielmi os investimentos que eram feitos na
manutenção de uma equipe de futebol profissional cessaram, mesmo o carvão
sendo uma realidade econômica regional no Sul do Estado até quase duas décadas
à frente.
A década de 1960 foi à época, também, da ótima fase do Clube Náutico
Marcílio Dias de Itajaí, que durante todo o tempo de auge do milionário time
criciumense do E. C. Metropol soube travar uma rivalidade à altura, fazendo com
este, por um bom tempo, o maior clássico do Estado. Tanto que o C. N. Marcílio
Dias foi vice-campeão nos anos de 1960, 1961 e 1962. No ano seguinte, 1963
sagrou-se campeão estadual de futebol profissional. E voltaria a ser vice-campeão
em 1967. Mas, segundo Machado (2000, p. 131), mesmo o ano de 1963, ser um ano
de grande conquista para o jogador de futebol, que teve oficializado o
reconhecimento de sua atividade profissional, em Santa Catarina muitos atletas não
tiveram grandes motivações para comemorar esse feito. É que foi mais uma
temporada sem um campeão e sem a realização do Campeonato Estadual. O autor
segue afirmando que, segundo a Federação Catarinense, presidida por Osni Mello,
tudo o que aconteceu de errado naquele 1963, ficou por conta do longo campeonato
do ano anterior, quando o calendário dos jogos teve de invadir boa parte do primeiro
89
semestre posterior, não permitindo, assim, que se organizasse a competição
adequadamente.
Como medida consoladora e paliativa, restou à Federação Catarinense de
Futebol promover uma breve competição denominada Luiza Mello (que era esposa
do presidente da FCF Osni Mello); um minicampeonato “caça níquel” que reuniu
apenas alguns clubes filiados e que não contou com a participação dos tradicionais
times sul catarinenses como Metropol, Atlético Clube Operário, Próspera,
Comerciário, Hercílio Luz e Ferroviário. Saiu como campeão do dito torneio o Clube
Náutico Marcílio Dias, ficando em segundo lugar o seu mais ferrenho adversário, o
Clube Náutico Almirante Barroso (MACHADO, 2000, p. 131).
No município de Itajaí, relatos históricos mencionam a importância do Porto
de Itajaí desde o século XIX, não somente no que se refere ao ingresso de
colonizadores estrangeiros, mas também o forte comércio fluvial que acontecia em
Itajaí (SOUZA, 2006, p. 51). A Itajaí do início do Século XX já apresentava, de certo
modo, ares de cidade capitalista. O principal negócio girava em torno da madeira,
que era transportada para o Rio de Janeiro, via trapiches e que, embora de forma
ainda muito rústica, já demonstrava o potencial portuário de Itajaí. A esse respeito
Silva (2004, p. 65), declara que “o ciclo madeireiro modificou o panorama urbano de
Itajaí”, sendo que do final do século XIX até meados do século XX, o porto de Itajaí
era o maior exportador de madeira do Brasil. O porto mobilizava os sujeitos ao redor
do comércio informal, havendo daí a evolução para atividades de exportação e
importação (TAVARES, 2005, p. 36). Segundo Goebel (2002 apud TAVARES, 2005,
p. 88), os portos tiveram três gerações de evolução:
� Os portos da 1.ª geração geralmente têm seus próprios sistemas de
informação, documentação e estatística e não possuem qualquer
consideração quanto à compatibilidade entre os seus sistemas e aqueles dos
usuários do porto (antes de 1960);
� Nos portos de 2.ª geração, os governos, as autoridades portuárias e os
fornecedores dos serviços portuários, têm uma compreensão mais ampla
quanto às funções dos portos marítimos, visualizando-os como centro de
serviços de transporte, industrial e comercial (após os anos de 1960). Nesses
portos, as diferentes atividades tornaram-se mais integradas com o aumento
de volume e da rápida rotatividade da carga através de todo o porto;
90
� Nos portos da 3.ª geração, os agentes econômicos têm uma compreensão e
uma atitude bastante diferente quanto ao gerenciamento e desenvolvimento
de seus portos, pois veem como um nódulo no complexo rede de distribuição
produção internacional, ou seja, participam mais ativamente do comércio
internacional (após os anos de 1980).
Uma questão que é relevante para o estudo é que, nas características da
organização do porto (na 2.ª geração) existia um relacionamento muito próximo com
a municipalidade. O que pode explicar essa boa fase do Clube Náutico Marcílio Dias
na década de 1960 entre os dois primeiros colocados nos anos de 1960, 1961, 1962
e 1967. Segundo Goularti Filho (2007, p. 414), no ano de 1960, a movimentação do
Porto de Itajaí foi de 443 mil toneladas, no ano seguinte de 385 mil toneladas e no
subsequente de 280 mil toneladas. E no ano do título de 298 mil toneladas. No ano
de 1967, onde o clube novamente foi vice-campeão teve uma movimentação de 354
mil toneladas. Possuindo desta forma a segunda maior movimentação estadual,
perdendo apenas para o Porto de Imbituba.
A primeira fábrica de papel em Santa Catarina foi a Cia. Fábrica de Papel
Itajaí, de propriedade de Curt Hering e José Deeke, fundada em Itajaí no ano de
1912. No ano de 1950, a empresa abriu uma unidade em Lages, nas margens do
Rio Canoas, onde comprou uma serraria, duas fazendas para fornecer madeira e a
fábrica Pasta Mecânica de Perimbó. Em março de 1958, a unidade da Papel Itajaí
de Lages foi vendida para o grupo norte-americano Olin, e a empresa passou a se
chamar Olinkraft Celulose e Papel S.A (GOULARTI FILHO, 2007, p. 150).
Tabela 3 - Produção catarinense de celulose (em t) e a participação no mercado nacional (1953-1962)
Empresa 1953 1956 1958 1959 1960 1961 1962
Olinkraft 7.600 10.670 12.600 13.000 26.400
Cia. Itajaí 3.000 3.240 5.000
Celulose Irani 4.000 4.000 4.000
Total do Estado 8.457 16.854 19.600 20.240 35.400
SC/BR em (%) 2,9 4,4 7,7 4,9 6,3
Fonte: Anuário da Indústria de Papel e Celulose (1961). Obs.: Os dados de 1962 foram projetados pela ANFPC.
Em 1960, Santa Catarina já participava com 7,7% da produção nacional de
celulose, destacando-se a Olinkraft, a Irani e a Itajaí, que respectivamente tinham
404, 400 e 350 funcionários. Esse seria o primeiro momento que o setor era
91
formado, sobretudo, por pequenos produtores locais. A partir do final dos anos 1960,
começa a mudar o perfil empresarial do setor em favor de grupos de outros Estados
(GOULARTI FILHO, 2007, p. 152). Com esses incentivos pode-se ter formado um
elenco competitivo para o nível estadual no município de Itajaí. “[...] Vale lembrar
que, o Clube Náutico Marcílio Dias e o Clube Náutico Almirante Barroso tinham
características elitistas [...]” (SOUZA, 2006, p. 59).
3.1.1 O Ano de 1964
O título estadual de 1964 ficou com o Grêmio Esportivo Olímpico, de
Blumenau. O time blumenauense ganhou o Estadual daquele ano, formando uma
equipe à base de jogadores até então pouco conhecidos do futebol barriga-verde,
comparando-se com outros clubes do Estado que já dispunham de atletas
renomados. Em segundo lugar, chegou o colorado, Internacional de Lages
(MACHADO, 2000, p. 132-133).
Na produção de têxteis, o setor já estava consolidado em Santa Catarina,
com grandes e médias empresas e uma produção nacionalizada. A tônica na
indústria têxtil, no período de 1945 a 1962, foi à expansão e verticalização da
produção por meio da ampliação da capacidade instalada e alargamento das bases
comerciais, com abertura de novos centros de distribuição, principalmente nas
maiores capitais. Para ilustrar essa afirmação, observa-se o exemplo da expansão
de algumas empresas em Blumenau (GOULARTI FILHO, 2007, p. 145).
Em Blumenau a Hering importou modernas cardas, maçaroqueiras, fiandeiras
e outras unidades auxiliares, passando para 12.000 fusos, e ampliou a produção na
filial de São Paulo e do GEITEX (Grupo Executivo da Indústria Têxtil) (FIGUEIRA,
1980 apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 145). A Cremer instalou, em São Paulo, um
escritório de vendas e um depósito, ampliou a produção na área de gazes
medicinais, ataduras, fraldas e absorventes higiênicos, comprou teares de
fabricantes brasileiros e entrou na linha de felpudos, produzindo toalhas (CREMER,
1985 apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 145). A Teka montou a sua fiação por meio
da compra de máquinas têxteis usadas, de uma firma paulista, comprou os primeiros
teares para felpudos com maquinetas, entrou na linha de plana, fabricando toalhas
92
de mesa adamascadas, brancas e mercerizadas, e nos anos 1950 investiu no setor
de tinturaria, com aquisição de aparelhos para tingimento e mesas de secagem
(KUEHNRICH, 1995 apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 145). A Garcia chegou em
1950 empregando 1.400 funcionários, constituindo-se na maior fábrica têxtil de
Santa Catarina, ao lado da Hering (GOULARTI FILHO, 2007, p. 145).
Somente em Blumenau, em 1958, a indústria têxtil empregava 66,6% de toda
a mão de obra da cidade, e em Brusque 84,5% (MAMIGONIAM, 1966, p. 435). No
início dos anos 1960, o setor já começa a apresentar características de um
oligopólio competitivo, ultrapassando – em mil toneladas de fio de algodão
processado – velhos centros industriais têxteis, como Rio de Janeiro, Pernambuco,
Bahia, Alagoas, Paraíba, Ceará e Maranhão, colocando Santa Catarina ao lado de
Minas Gerais e perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro (GOULARTI
FILHO, 2007, p. 146).
Os parágrafos acima reportam a influência da atividade econômica têxtil no
Vale do Itajaí na época do título conquistado pelo Grêmio Esportivo Olímpico, mas, o
que explica a conquista do campeonato estadual por parte do Grêmio Esportivo
Olímpico (G.E. Olímpico), já que no mesmo ano (1964), Santos (2004, p. 100) afirma
que, “[...] A.A. Tupy de Joinville investiu uma fortuna na formação da equipe.” O
autor segue relatando que o G.E. Olímpico foi a sensação, e entre as partidas que
realizou na segunda zona de classificação, destacaram-se dois jogos disputados
contra A.A. Tupy de Joinville:
O primeiro confronto ocorreu no turno, em 26 de abril, com vitória da equipe blumenauense por 4 a 2. A segunda partida aconteceu quatro meses depois, valendo pelo returno. Houve nova vitória do Olímpico por 1 a 0, em 2 de agosto, na cidade de Blumenau (SANTOS, 2004, p. 100).
O que foi primordial para a conquista do G.E. Olímpico naquele ano tem haver
com identificação com o clube e o município. Pois segundo Lapolli (2008, p. 60) a
equipe do Olímpico era composta por 70% dos seus jogadores eram atletas de
Blumenau. Seus salários eram pagos por empresários, mas não os grandes
empresários, mas a empresários localizados, donos de comércio e pequenas
indústrias que investiam em alguns jogadores do elenco. Posteriormente começaram
a surgir as grandes indústrias, mas aplicavam muito pouco, como Artex, a Cia.
Hering (LAPOLLI, 2008, p. 78).
93
Também no ano de 1964, pode-se concluir que o título estadual de futebol
profissional foi conquistado com uma mescla do desenvolvimento econômico
regional do Vale do Itajaí e do seu capital social, que segundo Birkner e Mattedi
(2008, p. 02) trata-se de fenômenos como o associativismo, a cooperação, a
solidariedade, a confiança, o interesse do cidadão pela coisa pública, a disposição
dialógica, o consequente destemor de enfrentar o conflito de ideias e de interesses,
além de identidade e autoestima coletivas.
3.1.2 O Ano de 1965
O Internacional de Lages, que no ano de 1964 fizera uma irreparável
campanha, chegando com todos os méritos ao segundo lugar do Estadual, em 1965
viria ainda melhor. De forma heroica e merecidamente, o colorado time serrano
derrotaria, no dia 27 de março de 1966, o sempre temível E.C. Metropol. Dessa
forma, conquistaria, assim, o campeonato catarinense, aquele que seria seu primeiro
e único de sua história (MACHADO, 2000, p. 134).
Durante a década de 1960, a região de Lages foi a maior produtora de
madeira de Santa Catarina e uma das maiores do país, um verdadeiro eldorado. A
extração da araucária foi um “milagre” que tirou a região serrana do abismo, em que
estava mergulhada desde o fim do tropeirismo. No auge da madeira no planalto
serrano, Lages chegou a responder por 12% do ICM arrecado no Estado. Foi uma
euforia que durou pouco. O esgotamento das reservas florestais de araucária e a
proibição do corte fizeram a região serrana mergulhar numa profunda regressão que
até o momento espera por um novo “milagre”. De maior polo atrativo de migrantes
nos anos de 1950 e 1960, a região tornou-se a maior expulsadora nas décadas
seguintes. Sua população, de 1950 a 1960, aumentou 56,4%. Em 1960, era a maior
cidade catarinense com 120.821 habitantes (a única com mais de 100.000
habitantes), 80,9% a mais que Blumenau, 73,4% que Joinville e 23,5% que
Florianópolis. Em compensação, nos anos 1960 a população de Lages aumentou
em apenas 6,5% enquanto que a de Joinville em 80,9% e a de Blumenau em 50,1%
(GOULARTI FILHO, 2007, p. 237).
94
No ano de 1965 existiam em Lages 93 atividades industriais ligadas a
madeireiras. No mesmo período, as exportações em toneladas de madeira em Santa
Catarina foram de 365.178, perfazendo a quinta maior exportação do Estado dentro
do período de 1925-1999 (GOULARTI FILHO, 2007, p. 240 e 434).
Corroborando mais um indício das realidades econômicas regionais em Santa
Catarina com o vice-campeonato em 1964 e o título em 1965 conquistado pelo
Internacional de Lages.
3.1.3 O Ano de 1966
Para que se possa explicar o campeão estadual de futebol profissional de
1966, é necessário retornar ao ano de 1964, que foi marcado pelo surgimento de
mais uma equipe no futebol profissional de Santa Catarina. Foi a vez, então, de
surgir o Grêmio Esportivo e Recreativo Perdigão (G.E.R. Perdigão), de Videira,
numa iniciativa arrojada dos irmãos Ficro e Flávio Brandalise. Para isso, os dois
bem-sucedidos empresários, em 31 de março resolveram tirar do anonimato a
equipe amadora da empresa de produtos frigoríficos que administravam,
transformando-a numa poderosa agremiação, sendo logo, considerada de grande
porte para o futebol de nosso Estado. Tanto era verdade, que dois anos depois, em
1966, com o nome de Sociedade Esportiva Perdigão (S.E. Perdigão) conquistaria
seu primeiro e único título do campeonato catarinense (MACHADO, 2000, p. 132).
Esse título vem graças ao setor de alimentos, que sofreu a expansão
acelerada dos frigoríficos catarinenses em direção ao mercado nacional nos anos de
1950, com a abertura de unidades fora do oeste e com o início do sistema de
integrados, aumentando a subordinação do grande capital à pequena propriedade
(GOULARTI FILHO, 2007, p. 141).
Segundo Graziano da Silva e Kageyama (1998, p. 23), a partir dos anos 1950,
já não é mais possível pensar a agricultura isoladamente, ela torna-se um ramo da
indústria. Começa a industrialização da agricultura com a introdução de novos
tratores, implementos, fertilizantes e defensivos, todos ligados à indústria metal-
-mecânica e química. A industrialização do campo segue “sobre uma base
95
suficientemente ampla, com efeitos qualitativamente mais complexos sobre o
processo de produção agrícola”.
Os anos de 1950 e 1960 representaram para a Sadia e a Perdigão a
conquista do mercado nacional, por meio da inovação nos transportes, novas
técnicas de criação de suínos, construção de plantas fora de Santa Catarina,
abertura de centros de distribuição e a entrada na avicultura (GOULARTI FILHO,
2007, p. 144). A Perdigão, no final dos anos 1950, já apresentava características de
um grupo empresarial:
Além de seus principais empreendimentos, todos inter-relacionados dentro de um sistema produtivo – granja, abatedouro, fábrica de banha e frigorífico, curtume, moinho, fábrica de ração, madeireira, fábrica de caixa, além de entrepostos, depósitos, postos de venda, lojas e filiais em várias cidades na região produtora, em São Paulo (Bauru e Santos) e no Rio de Janeiro (capital) – a empresa foi diversificando ainda mais sua gama de negócios (SCAPIN; TASSARA, 1996, p. 63)
A Perdigão chegou ao final dos anos 1950 com quatrocentos funcionários e
tinha participação societária em duas madeireiras, uma vinícola, uma firma
importadora e uma companhia de força e luz. O complexo agrocomercial em Santa
Catarina começava a se industrializar (GOULARTI FILHO, 2007, p. 144).
Com todo esse poderio econômico, bastaram apenas dois anos de
investimentos para a S.E. Perdigão, do Vale do Rio do Peixe, sair do anonimato para
a glória do título estadual de futebol profissional. Mais uma vez, a realidade
econômica regional demonstra o seu papel preponderante no certame catarinense.
3.2 A DÉCADA DE 1970
Com o fim do rico e diferenciado E.C. Metropol, em 1970 o campeonato
catarinense voltou ao campo da igualdade, com a FCF já presidida pelo joinvilense
José Elias Giuliari, eleito em 25 de janeiro. Tem início, então, um novo ciclo na
competição barriga-verde. Todos sabiam que a partir daquele momento qualquer
time poderia ser campeão, sem precisar pensar que para chegar ao título máximo
ainda teria pela frente um favorito disparado. E, usufruindo dessa condição, quem
melhor se deu no novo Estadual foi o Esporte Clube Ferroviário, o “Ferrinho”, de
96
Tubarão, que conquistou o campeonato daquele ano e o primeiro e único título de
sua história (MACHADO, 2000, p. 143-144).
Mas, o que explica esse título da agremiação de Tubarão? A história começa
com a descoberta de jazidas de carvão no sul do Estado, na região de Tubarão,
atraiu investimentos estrangeiros, e entre 1880 e 1884, foi construída a Ferrovia
Tereza Cristina. O nome é uma homenagem da empresa inglesa responsável pela
construção à esposa do Imperador Dom Pedro II, como forma de agradecimento à
autorização governamental para a realização da obra. A linha tronco foi concluída
com 118.096 metros, ligando o porto de Imbituba às minas. Um ramal de 7.056
metros conectava as estações de Bifurcação e Laguna. As bitolas eram de um metro
e a ferrovia tinha 44 pontes e pontilhões. Ao todo eram sete estações: Imbituba,
Bifurcação, Laguna, Piedade, Pedras Grandes, Orleans e Minas. Em 1917 foi
inaugurado o ramal Tubarão-Araranguá, com 91.850 metros. Outros menores seriam
implantados no decorrer dos anos de existência da ferrovia (Secretaria de Estado da
Infraestrutura [SIE], 2012). Observe o mapa 3.
No Brasil, a vida das associações, clubes e entidades que nascem dentro das
grandes empresas, na maioria das vezes, estão associadas ao esporte, agente de
integração social. Em alguns casos, à prática esportiva não passa de um encontro
de confraternização aos fins de semana. Em outros, torna-se compromisso.
Nas estradas de ferro do país, o futebol e o trem sempre andaram juntos.
Impulsionados pela paixão de diretores e funcionários por esse esporte,
principalmente nas capitais e grandes entroncamentos ferroviários (caso de
Tubarão).
Mapa 3 – Ferrovia Tereza Cristina S.A Fonte: Secretaria de Estado da Infraestrutura (SIE).
97
Surgiram clubes de futebol com estrutura igual ou superior a muitas equipes
profissionais. Inclusive, alguns desses clubes chegaram a se profissionalizar.
Fortalecidos pelo espírito da família ferroviária, esses clubes, quase sempre
denominados ferroviários, construíam enormes estádios, conquistaram títulos
expressivos e contavam em suas equipes com jogadores famosos. Foram dezenas
de clubes Ferroviário Esporte Clube ou Futebol Clube criados ao longo da existência
das estradas de ferro. O dinheiro vinha das contribuições financeiras da Rede e das
mensalidades dos funcionários, organizados em associações e que eram
descontadas em folha de pagamento. A Rede entrava também com o terreno, onde
eram construídas as sedes, muitas vezes com piscinas, sauna, quadras
poliesportivas e até estádios (BACH, 2008, p. 415).
Outra vez, o carvão se mostra uma realidade econômica regional,
influenciando uma equipe ao topo da tabela de colocação no campeonato
catarinense de futebol.
3.2.1 O Ano de 1971
No ano de 1971, treze equipes participaram do campeonato catarinense:
América, Caxias, Próspera, Hercílio Luz, Ferroviário, Avaí, Figueirense, Carlos
Renaux, Paysandu, C.N. Barroso, Internacional, Palmeiras e Juventus de Rio do Sul.
Em sistema de pontos corridos, o campeão após doze jogos foi o América de
Joinville (SANTOS, 2004, p. 115).
Há, basicamente, duas teses sobre a origem da indústria joinvilense: a
primeira defendida por Almeida (1979, p. 14), Ternes (1984) e CEAG/SC (1980) e a
segunda por Rocha (1997), a indústria de Joinville, e por extensão de todo o norte
catarinense, é fruto da expansão das atividades ervateiras. Além de fomentar o
início da indústria, a erva-mate contribuiu para fixar os colonos na região.
Da exportação ao engenho para a industrialização do mate foi um passo rápido e Joinville tornou-se o maior centro de comercialização, industrialização e exportação de mate e desta forma reagiu contra o êxodo dos colonos para o planalto. [...] o mate chegara a ser um produto mola de uma colônia de europeus recém-chegados ao litoral catarinense (ALMEIDA, 1979, p. 14)
98
Além disso, completa Almeida, foram os luso-brasileiros que comandaram a
“industrialização” do mate, utilizando mão de obra teuto-brasileira. Em torno do
beneficiamento da erva surgiram pequenas oficinas de reparos dos carroções (os
sãobentowagen) que transportavam a erva e pequenas serrarias e marcenarias, que
confeccionavam as barricas onde era armazenada a erva. Também surgiram
atividades ligadas à construção e manutenção da Estrada Dona Francisca e, em
seguida, à do ramal ferroviário Porto União-São Francisco do Sul.
Segundo Almeida, pode-se afirmar que a origem da indústria joinvilense é
uma consequência da formação e da expansão do complexo ervateiro. Nesta
mesma linha de raciocínio concordam Ternes (1984) e CEAG/SC (1980). Segundo
Ternes (1984, p. 209-210), “indiscutivelmente, foi a erva-mate [...] o fator
fundamental de formação de capital, que, mais adiante, será aplicado efetivamente
numa industrialização diversificada e altamente produtiva e rentável”. Para
CEAG/SC (1980, p. 88) “a industrialização em Joinville ocorreu paralelamente à
expansão do comércio ervateiro e em simbiose com o mesmo”.
A segunda tese é defendida por Rocha (1997, p. 26), para quem a origem da
indústria joinvilense deve ser buscada em outros elementos: na presença da
pequena produção mercantil. Segundo a autora, em Joinville as atividades
comerciais do século XIX até a primeira década do XX podem ser divididas em duas
fases: a primeira, caracterizada “pelo sistema ‘colônia-venda’; e a segunda, que,
além do comércio de produtos coloniais, cuidou do beneficiamento e exportação da
erva-mate”.
O comércio, desde a fundação da colônia (1851) até a instalação dos primeiros engenhos de erva-mate em Joinville (1877), era, de um modo geral, o mesmo de outros núcleos coloniais da época, ou seja, a venda do produto não produzido pelos agricultores, como sal, ferramentas, tecidos, louças, e outros produtos importados e a aquisição de produtos coloniais como manteiga, banha, açúcar, madeira, etc., colonos (TERNES, 1997, p. 26)
Os municípios de Joinville e Jaraguá do Sul formam o maior polo eletrometal-
-mecânico de Santa Catarina. Enquanto que nos anos 1940 o maior salto
populacional do Estado foi dado por Criciúma (carvão) e nos anos 1950 por Lages
(madeira), nos anos 1960 foi a vez de Joinville, que passou de 69.677 habitantes,
em 1960, para 126.058, em 1970. Em 1980, já era a maior cidade catarinense, a
99
única com mais de duzentos mil habitantes (235.812 habitantes) (GOULARTI FILHO,
2007, p. 247).
Segue o autor relatando que, “a indústria metal-mecânica em Joinville surgiu
nos anos 1920 e 1930 e rapidamente se expandiu na primeira etapa da
industrialização pesada nacional (1955-1962)”. Para entender o desempenho da
indústria dinâmica do litoral norte catarinense pós 1962, necessariamente tem-se
que entender três movimentos: 1) o engajamento que a indústria local teve com o
“projeto nacional de industrialização”; 2) a participação do Estado catarinense no
suprimento de energia, transporte, crédito e telefonia; 3) e o comando exercido pelas
empresas de médio e grande porte (GOULARTI FILHO, 2007, p. 249-250).
Segundo Goularti Filho (2007, p. 250) durante a década de 1960, a Tupy
ampliou sua capacidade produtiva com a inauguração de novas unidades em
Joinville, passando de uma área construída de 42.000/m² para quase 100.000/m²,
com capacidade para 15.000t/ano de ferro fundido. Em 1964, a Tupy já atendia a
60% do mercado nacional de conexões maleáveis. Nos anos 1970 e 1980, a
empresa se internacionalizou, tornando-se a maior fundição privada da América
Latina e a quinta do mundo, aumentando a sua capacidade produtiva de 19.2000
t/ano em 1970 para 80.000 t/ano em 1980.
O título de 1971 pelo América ocorreu devido ao reforço de plantel, pois, em
anos anteriores já tinha alcançado o segundo lugar. Capitaneado pelo presidente
Kurt Meinert, o América Futebol Clube reconquistou a hegemonia do futebol barriga-
-verde, sagrando-se campeão estadual, o último do cartel de memoráveis jornadas,
na fase do profissionalismo. Kurt Meinert, engenheiro civil, empresário do ramo de
automóveis, foi quem capitaneou esse sucesso no América Futebol Clube, devido ao
processo de industrialização que o município passou e consequentemente aumento
da população e consumo de bens duráveis como o automóvel. Segue um relato
interessante encontrado no sítio do Jornal A Notícia, a respeito da rivalidade entre o
América e o Caxias:
As vitórias sobre o Caxias enchiam os bordéis da cidade. A rapaziada da zona Norte se esbaldava até a madrugada de segunda-feira e, quase sempre, a festa terminava nos prostíbulos da periferia. Veio um segundo clássico e chegou ao Ernestão um bilhete anônimo dizendo que o América compraria o árbitro ali na Santos Dumont, próximo à entrada da Univille, por 5 mil (dinheiro de hoje). O bilhete dava o horário, 11 da manhã, e o nome do emissário de Meinert: o gerentão Cláudio Wagner (já falecido). Alfonso Schützler não perdeu tempo. Chamou seu fiel
100
escudeiro José Pereira Sagaz e lhe incumbiu de fazer a segunda oferta. Resultado: Caxias 1 a 0. O árbitro levou os cincões do América e uma caixa com doze calcinhas de mulher da Malharia Princesa. Explicações de Schützler na segunda-feira: "A diferença entre nós é que Meinert vende Fusca e recebe em dólar, e eu vendo calcinhas e recebo em cruzeiro".
Isso corrobora a hipótese de pesquisa de que, uma realidade econômica
regional oferece suporte para a formação de equipes de futebol vitoriosas em
determinada época, tanto é, que Joinville começa a ser chamada de “Manchester
Catarinense”.
Enquanto isso, de forma surpreendente, o segundo lugar acabou ficando com
o Próspera de Criciúma que, com este vice-campeonato, alcançou a sua melhor
colocação de todas as participações em Estaduais. É que ao longo de sua
existência, o modesto time alvirrubro da Companhia Carbonífera Próspera, sempre
sofreu, na própria “Capital do Carvão”, a concorrência do elitista e bem-estruturado
Comerciário, do quase imbatível Metropol e do sempre perigoso e rival mais próximo
Atlético Operário (MACHADO, 2000, p. 145).
3.2.2 O Ano de 1972
No ano de 1972, o campeonato estadual conta com dez equipes: Figueirense,
Avaí, América, Caxias, Hercílio Luz, Próspera, Paysandu, Internacional, Palmeiras e
Juventus de Rio do Sul. O Figueirense, após 30 anos, voltou a conquistar o título
máximo do Estado. O jogo que decidiu o campeonato aconteceu na última rodada
do returno, em 3 de setembro de 1972, com o empate entre Figueirense e Avaí em 0
a 0. Esse resultado deu o título à equipe do Figueirense e o vice-campeonato ao
Avaí (SANTOS, 2004, p. 117).
O início da década de 1970 celebra uma boa sequência de conquistas
alternadas entre a dupla da capital, Figueirense e Avaí. O título conquistado pelo
Figueirense no ano anterior e as provocações sofridas fizeram com que a diretoria
do Avaí investisse na sua equipe para o campeonato de 1973, que contou com mais
nove equipes: Figueirense, Juventus de Rio do Sul, Caxias, América, Palmeiras,
Internacional, Próspera, Hercílio Luz e Paysandu de Brusque. O Campeão foi o Avaí
F.C. O jogo que decidiu o campeonato para a equipe avaiana aconteceu em 17 de
101
dezembro de 1973, com vitória do Avaí sobre o Juventus por 2 a 1(SANTOS, 2007,
p. 119).
3.2.3 O Ano de 1974
Em 1974, onze equipes tomaram parte do campeonato: Figueirense, Avaí,
Internacional, Marcílio Dias, Caxias, América, Palmeiras, Carlos Renaux,
Chapecoense, Guarani, Juventus de Rio do Sul. Com uma equipe forte, o
Figueirense voltou a ser campeão. Seu adversário na final foi o Internacional de
Lages. A primeira partida decisiva foi disputada em 26 de janeiro de 1975 em Lages,
com empate em 0 a 0. A segunda partida entre Figueirense e Internacional
aconteceu em 30 de janeiro, em jogo disputado no Estádio Orlando Scarpelli, com
vitória alvinegra por 2 a 0. O terceiro jogo, decisivo, aconteceu no mesmo estádio no
dia 3 de fevereiro, com vitória do Figueirense sobre o Internacional por 4 a 2, com
gols de Sérgio Lopes, Marcos, Luis Everton e Moacir, descontando para a equipe de
Lages Luis Carlos e Gaspar (SANTOS, 2007, p. 122).
3.2.4 O Ano de 1975
Chega-se ao ano de 1975. Doze equipes participaram do Estadual: Avaí,
Figueirense, Caxias, América, Próspera, Hercílio Luz, Carlos Renaux, Guarani de
São Miguel do Oeste, Juventus de Rio do Sul, Palmeiras, Chapecoense e
Internacional. Novamente o Avaí foi o campeão. Avaí e Figueirense disputaram a
final. O primeiro jogo da decisão aconteceu em 13 de agosto, com vitória do
Figueirense sobre a equipe avaiana por 3 a 2. No jogo de volta, em 15 de agosto, o
Avaí deu o troco vencendo o Figueirense por 3 a 0, resultado que obrigou a FCF a
marcar uma nova partida para desempate. No Estádio Orlando Scarpelli, a partida
realizada em 17 de agosto registrou vitória do Avaí sobre o Figueirense por 1 a 0,
com gol de Juti aos 23 minutos do segundo tempo, conquistando seu décimo
primeiro título (SANTOS, 2007, p. 126). “Assim, termina o vitorioso ‘Ciclo Capital’,
102
com quatro títulos seguidos conquistados em revezamento entre Avaí e Figueirense”
(MACHADO, 2000, p. 151).
Relatos históricos mostram que durante esse período a realidade econômica
regional que mais valor da transformação industrial (em %) segundo os principais
gêneros (1970-1975). Dizem respeito à madeira (Lages) e metalúrgica e mecânica
(Joinville e Jaraguá do Sul). E os maiores vencedores da década são a dupla da
capital, Figueirense Futebol Clube e Avaí Futebol Clube. O que mostra que o
poderio financeiro da diretoria de cada clube (ou os negócios que esses diretores
possuíam) foi utilizado para formar equipes vitoriosas dentro do campeonato
estadual de futebol profissional, e, não a realidade econômica regional. Outra
peculiaridade referente à dupla da capital é que, só a capital tem em toda a história
do futebol a honra de ter, o título máximo e o vice-campeonato estadual
simultaneamente.
Tabela 4. Valor da Transformação Industrial (em %) segundo os principais gêneros
Categoria de Gênero 1970 1975
Madeira 18,36 16,15
Metalúrgica 4,74 6,68
Mecânica 9,13 12,42
Fonte: IBGE, Censos Econômicos (vários anos) adaptada por TAJES JR (2012).
Após o “Ciclo Capital”, com quatro títulos seguidos conquistados em
revezamento entre Avaí e Figueirense; em meados da década de 1970, a cidade de
Joinville, vivia um crescimento vertical de sua economia e da população, mas seus
dois clubes profissionais (América e Caxias) contrastavam com esse quadro
favorável. Estavam à beira da falência. Apenas cumpriam papel de figurante no filme
vitorioso da dupla da capital. A ideia da fusão das duas equipes como alternativa
para se manter o futebol profissional na cidade começou a ganhar força no final de
1975. Com o apoio direto do empresário João Hansen Neto (Tubos e Conexões
Tigre) e da imprensa esportiva da cidade, os dois clubes finalmente aceitaram fundir
os seus departamentos de futebol profissional. Surgiu em 29 de janeiro de 1976,
para orgulho da história do futebol barriga-verde, o Joinville Esporte Clube (JEC), a
agremiação do Norte origina-se da própria memória do futebol joinvilense, nascendo
da bem-sucedida fusão dos departamentos de futebol profissional de América e
Caxias, as duas mais tradicionais agremiações da cidade. E a trajetória vitoriosa do
103
time da “Manchester Catarinense”, começou justamente no ano de sua fundação,
quando disputou as finais com o Juventus, de Rio do Sul, e venceu os dois jogos por
1 a 0, fora e em casa. Com isso, tornou-se o campeão catarinense daquele ano
(MACHADO, 2000, p. 151-152).
O bom desenvolvimento econômico regional de Joinville e o apoio dos
empresários locais fizeram do JEC o campeão de 1976, mais uma vez, a realidade
econômica regional em parceria de sucesso com o futebol profissional.
3.2.5 O Ano de 1977
Dezesseis clubes participaram do campeonato de 1977: Chapecoense, Avaí,
Joinville, Carlos Renaux, Figueirense, Internacional, Marcílio Dias, Palmeiras,
Guarani de São Miguel do Oeste, Joaçaba, Palmitos de Lages, Kindermann de
Caçador, Xanxerense, Juventus de Rio do Sul, Operário de Mafra e Paysandu. A
campeã foi a Chapecoense (SANTOS, 2007, p. 131). Para levantar o Estadual, o
“Verdão”, como é carinhosamente aclamado pela sua torcida, a Chapecoense
precisou ser a campeã de sua chave, enfrentando e vencendo ao Kindermann de
Caçador e ao Joaçaba; disputar um pentagonal com o Avaí, Comerciário, Joinville e
Paysandu e, na grande final, vencer ao time do Avaí por 1 a 0. O gol do título foi de
Jaime (MACHADO, 2000, p. 154).
A Associação Chapecoense de Futebol nasce no momento em que, na cidade
de Chapecó o futebol amador estava adormecido, não havia mais realizações de
campeonatos que movimentavam a cidade. Foi um período que Chapecó e sua
população não contavam mais com as disputas entre os times que existiam na
cidade gravados na memória de muitos: o Atlético Clube Chapecó, o Independente
Futebol Clube, “os sempre rivais” Grêmio Esportivo Comercial, Guairacá Futebol
Clube e Operário, entre outros. Alguns desportistas estavam decididos a reativar o
futebol em Chapecó, fundando um novo clube. Até que no dia 10 de maio de 1973,
na loja de confecção de Heitor Pasqualotto, localizada na Avenida Getúlio Vargas,
ele e mais Alvadir Pelisser e Altair Zanella, torcedores do Independente, e Lorário
Immich e Vicente Delai, fãs do Atlético Chapecó, resolveram propor a fusão dos dois
104
antigos clubes. Assim nasceu a Associação Chapecoense de Futebol (BELLANI,
2007, p. 109).
Nos meados dos anos 1970, havia em Santa Catarina 16 frigoríficos,
aproximadamente, sendo cinco de grande porte, Sadia, Perdigão, Seara, Chapecó e
Saulle Pagnoncelli. Contando também, com unidades no setor de esmagamento de
soja e de armazéns. Perfazendo uma participação (em %) dos principais produtos
exportados em Santa Catarina (1976) (GOULARTI FILHO, 2007, p. 284).
Tabela 5 – Participação (em %) dos principais produ tos exportados em Santa Catarina
Produtos 1976
Farelo de Soja 15,0
Soja em grão 3,2
Carnes e miudezas 7,0
Fonte: CACEX. Adaptada por TAJES JR (2012).
Observando os dados acima, percebe-se que um ano antes da Associação
Chapecoense de Futebol se tornar campeã estadual de futebol profissional, a
realidade econômica regional de Chapecó estava em alta, com produtos oriundos do
município, tendo uma participação em porcentagem alta nas exportações estaduais.
Desta forma, evidenciam-se mais um caso de realidade econômica regional
favorável ao estímulo do futebol profissional.
3.2.6 O Ano de 1978
Chega-se ao ano de 1978, a partir daqui, uma equipe mandaria no futebol de
Santa Catarina durante oito anos: o Joinville Esporte Clube (JEC). O time participou
do campeonato desse ano com mais treze equipes: Chapecoense, Marcílio Dias,
Palmeiras, Operário de Mafra, Joaçaba, Figueirense, Internacional, Caçadorense,
Criciúma (ex-Comerciário), Avaí, Paysandu, Carlos Renaux e Juventus de Jaraguá
(SANTOS, 2007, p. 135).
Mas, a marca maior do Campeonato Estadual de 1978, foi à incrível demora
na homologação oficial do título ao legítimo campeão pela FCF. Toda a confusão
ficou por conta do Avaí, que colocou a Chapecoense e o JEC em conflito.
105
Campeões de 1976 e 1977, respectivamente, JEC e Chapecoense não se
conformaram com um segundo lugar em 78 e levaram ao tapetão (julgamento
extracampo) o discutido primeiro lugar. Pois a diretoria do Avaí, protestando contra a
arbitragem em Santa Catarina, resolveu se retirar do estadual no meio da
competição, deixando em aberto uma grande questão: e os pontos dos jogos já
cumpridos e a cumprir com o time da Capital, com quem ficariam? De um lado o
recém-chegado JEC, querendo firmar-se no futebol catarinense, vindo de uma fusão
bem-sucedida e, de outro, a surpreendente Chapecoense, dando sangue pelo seu
bicampeonato, pensando em ratificar a hegemonia do futebol do oeste no Estado
(MACHADO, 2000, p. 156-157).
Segundo Santos (2007, p. 135), o penúltimo jogo do returno foi disputado em
16 de dezembro de 1978, resultando em empate entre JEC e Chapecoense em 2 a
2, que praticamente deu o título para a equipe joinvilense. No entanto, este só foi
confirmado no Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), porque o Avaí
abandonou a competição, e a Chapecoense, que teria de enfrentar a equipe da
capital na última rodada, entendeu que havia ganhado os pontos, resolvendo
proclamar-se campeã.
Com tanta questão a resolver, a situação foi definida somente depois de
inúmeras idas e vindas de processos e acusações recíprocas das duas diretorias.
Assim, em 22 de janeiro de 1979, finalmente, a FCF “bate o martelo” e proclama o
JEC como campeão estadual de 1978 e Chapecoense como vice (MACHADO,
2000, p. 157).
3.2.7 O Ano de 1979
O ano de 1979 terminou como o anterior, JEC bicampeão catarinense de
futebol profissional. Quatorze equipes participaram do estadual. O jogo que decidiu o
título foi em 16 de setembro, entre Joaçaba e JEC, e não terminou em decorrência
de um pênalti marcado contra o time do Oeste aos 32 minutos do segundo tempo. O
Joaçaba jogando em casa vencia por 1 a 0, quando o árbitro Yolando Rodrigues,
assinalou um pênalti a favor do JEC, era a penúltima rodada. Na hora de o time
joinvilense cobrar a penalidade, um diretor do Joaçaba invadiu o campo, agrediu ao
106
árbitro e recebeu o imediato revide, provocando, assim, um tumulto generalizado. O
árbitro encerrou a partida, por falta de segurança (MACHADO, 2000, p. 160;
SANTOS, 2007, p. 139). Na última rodada o JEC, enfrenta a Chapecoense, em 20
de setembro e empatam em 1 a 1, sagrando-se bicampeão estadual, o Figueirense
é o vice (SANTOS, 2007, p. 139).
3.3 A DÉCADA DE 1980
A década de 1980 se inicia, mas o título continua nas mesmas mãos: o
Joinville Esporte Clube, a agremiação do Norte, conquistou os seis primeiros títulos
da década (1980, 1981, 1982, 1983, 1984 e 1985) somando-se aos dois títulos dos
anos anteriores, conquistou oito títulos seguidos, fato inédito no campeonato
catarinense de futebol profissional. Antes, o máximo de títulos em sequência de que
se tinha notícia em terra barriga-verde eram quatro ganhos pelo Avaí, de 1942 a
1945. Nesta década também, estava reservado o início de uma das mais históricas
rivalidades do futebol catarinense. Começa aqui, a disputa pela hegemonia do
futebol barriga-verde entre o Criciúma, do Sul do Estado, e JEC, do Norte,
representando as cidades que lhes emprestam o nome (MACHADO, 2000, p. 162).
Para que se possa contar essa história, precisa-se voltar ao ano de 1978.
Nasce a ideia no dia 22 de janeiro, na qual, previa a mudança de nome de Esporte
Clube Comerciário para Criciúma Esporte Clube, aprovada no dia 17 de março.
Assim, tem-se como fundado o novo time da “Capital do Carvão”. Contrariando
comentários que dizem ter o clube sulino nascido de uma fusão de times da “Capital
do Carvão”, o Criciúma Esporte Clube, originalmente Comerciário, que apenas
mudou de nome. Surgiu o Criciúma Esporte Clube num momento oportuno em que
começava a cair a identidade futebolística do lugar, antes bastante promovido por ter
sempre quatro clubes disputando o Estadual. Todos os anos lá estavam o
Comerciário, Metropol, Atlético Operário e o Próspera (MACHADO, 2000, p. 158).
107
Tabela 6 – Valor da Transformação Industrial (em %) segundo os principais gêneros (1980 – 1985)
Categoria e gênero 1980 1985
Metalúrgica 6,17 5,55
Produtos de matéria plástica 5,06 5,07
Mecânica 12,31 14,07
Fonte: IBGE, Censos Econômicos (vários anos) adaptada por TAJES JR (2012).
Os dados acima demonstram que, a atividade industrial que a cidade de
Joinville possuía nos anos dos seus oito títulos, corrobora uma verticalização da
economia e, com isso uma realidade econômica regional que, lhe oportunizou essa
sequência de títulos dentro do campeonato estadual de futebol.
Tabela 7 – Produção catarinense de carvão mineral ( 1980-1982)
Ano Carvão bruto
(ROM/t)
SC/BR
(%)
Pré-lavado
(CPL, t)
Energético
(t)
Metalúrgico
(t)
1980 13.167.950 82,3 3.268.498 1.839.826 1.287.609
1981 14.266.134 82,3 3.198.074 2.513.613 1.188.536
1982 15.601.417 81,2 3.523.089 2.990.465 1.171.993
Fonte: Perfil Analítico do Carvão (1973, 1987) adaptada por TAJES JR (2012).
O Criciúma Esporte Clube foi três vezes consecutivo vice-campeão
catarinense de futebol profissional no início da década de 1980 (1980, 1981 e 1982).
Mesmo não sendo mais patrocinado diretamente por proprietários de minas de
carvão (como era o caso do Metropol), mas a realidade econômica regional do
município de Criciúma, o carvão, ainda oportuniza uma economia regional forte para
os donos do comércio investirem em uma equipe de futebol profissional competitiva
a nível estadual.
3.3.1 O Ano de 1986
Bem-vindos ao ano de 1986. Após oito anos o Criciúma interrompe a
sequência de conquistas do JEC. Santa Catarina voltou às origens e retomou o
caminho de revezamento de títulos, como vinha acontecendo até 1978. Surgem
como campeões o Criciúma, que passa a ser a nova sensação do futebol barriga-
-verde e o Marcílio Dias, à época a mais antiga equipe catarinense em atividade.
108
Vale lembrar que o Criciúma conquistou o campeonato por antecipação e levantou
todas as taças disputadas naquele ano (MACHADO, 2000, p. 171).
Tabela 8 – Produção catarinense de carvão mineral ( 1985 – 1987)
Ano Carvão bruto
(ROM/t)
SC/BR
(%)
Pré-lavado
(CPL, t)
Energético
(t)
Metalúrgico
(t)
1985 19.781.089 78,8 4.459.455 3.314.384 1.396.099
1986 17.436.795 76,8 4.003.833 2.906.158 1.007.523
1987 13.425.603 74,1 2.848.533 2.744.622 695.528
Fonte: Perfil Analítico do Carvão (1973, 1987) adaptada por TAJES JR (2012).
Como se pode observar através dos dados, o carvão, continua sendo uma
boa fonte de receita para a região sul do Estado. Mesmo com uma pequena queda
na porcentagem estadual/nacional. Mas, nesta década começa a ganhar força outro
produto industrial nesta região, os revestimentos cerâmicos.
Tabela 9 – Produção anual (em mil/m²) de revestimen tos cerâmicos por empresa (1985-1987) Ano Eliane Cesaca Icisa Cecrisa Portobello Ceusa Itagres SC/BR
(%)
1985 15.800 6.350 4.000 11.773 3.400 730 2.400 37,4
1986 18.350 6.850 4.700 13.070 3.500 1.820 2.400 37,8
1987 19.170 6.558 5.100 16.418 10.000 1.640 3.600 43,6
Fonte: Dados fornecidos pelas empresas. Para a produção nacional dados fornecidos pela Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento). Adaptada por TAJES JR (2012).
Os números esclarecem a importância desse produto industrial para a
realidade econômica regional de Criciúma. As empresas em destaque na tabela são
empresas localizadas em Criciúma. E a empresa com maior destaque, Eliane era a
patrocinadora do Criciúma Esporte Clube.
No ano de 1987, o JEC volta a ser campeão estadual, trazendo em seu
encalço o Criciúma como vice-campeão. As realidades econômicas regionais em
Santa Catarina, não se alteraram.
109
3.3.2 O Ano de 1988
O ano de 1988 contou com doze clubes: Avaí, Blumenau, Joinville, Criciúma,
Figueirense, Próspera, Internacional, Brusque, Hercílio Luz, Chapecoense, Marcílio
Dias e Ferroviário. O título estadual de futebol profissional, volta após treze anos
para a capital, o Avaí é o campeão e o vice-campeão é o recém-criado Blumenau
Esporte Clube, fruto da fusão dos tradicionais Palmeiras e Olímpico (SANTOS, 2007,
p. 171; MACHADO, 2000, p. 174).
Relatos mostram que esse título de 1988 conquistado pelo Avaí F.C., tinha
tudo para não acontecer. O futebol da capital amargava um jejum de treze anos sem
título, no início da temporada de 1988, o elenco do Avaí se apresentou para a
temporada desacreditado por todos e desfalcado, com apenas seis atletas, já que os
jogadores remanescentes do ano de 1987 protestavam por conta de salários
atrasados. O clima era dos piores possíveis. Mas, três jogadores avaianos foram
destaque durante a competição: o goleiro Fossati, o meia Adilson Heleno e o
atacante Marcos Severo, mostrando que o material humano também pode fazer a
diferença e, não só a realidade econômica regional.
Em 1980, um grupo de empresários começou a investir alto no futebol
blumenauense com o intuito de elevar o nome da cidade, polo industrial do Vale do
Itajaí, porém exigiram a mudança de nome do único clube restante da cidade, o
Palmeiras, uma vez que os outros quatro clubes haviam desativado o futebol
profissional em meados da década de 1970. A ideia já havia sido proposta cinco
anos antes pelo então presidente Melchior Barbieri, mas não foi levada a diante para
não mexer com as raízes já firmadas da denominação Palmeiras. Empossado em
março daquele ano com a demissão de Altair Carlos Pimpão, Ivan Carlos Rizetto
buscou apoio de contribuições da comunidade e empresários para que o futebol
continuasse sustentável. Após reuniões longe “dos olhos da imprensa”, um grupo de
30 empresários se reuniram com o presidente do clube, em 19 de julho de 1980,
onde o presidente expôs o seu projeto, que logo foi aprovado, gerando assim, um
suporte financeiro para as pretensões da diretoria investir em grandes contratações
e criar um elenco competitivo, e assim, na mesma ocasião, foi decidido o novo nome
do clube: Blumenau Esporte Clube (LAPOLLI, 2008, p. 57).
110
Com a extinção da rivalidade Olímpico-Palmeiras, criou-se uma expectativa
entusiasmadora sobre o BEC tomando como exemplo o surgimento do futuro rival
JEC em Joinville, que devido ao apoio de sua torcida ganhou nove títulos estaduais
em dez anos. Porém, ao invés de se unirem, as duas facções rivais dos dois antigos
clubes da cidade começaram a boicotar pessoas que fossem ligadas a outra.
Mesmo com este obstáculo, o time conseguiu chegar às semifinais do primeiro
Campeonato Catarinense com a nova denominação e em 1982, conquistou o título
estadual de juniores. Porém, em 1985, foi rebaixado pela primeira vez em sua
história, retornando a elite catarinense dois anos depois após conquistar o título da
segunda divisão em cima do Figueirense. Em 1988, conseguiu um dos principais
êxitos de sua história, o vice-campeonato estadual decidido em uma final histórica
contra o Avaí na Ressacada (LAPOLLI, 2008, p. 57).
Mais uma vez, Blumenau demonstra que o apoio do empresário local foi
determinante para as conquistas do seu futebol profissional, dentro dessa lógica de
realidade econômica regional.
Fechando a década, em 1989, voltam a serem destaque, desta vez
invertendo as posições, Criciúma e JEC, que conquistaram o título e o vice-
-campeonato respectivamente. Sendo no início da década (1980) o contrário, JEC
campeão e Criciúma vice.
3.4 A DÉCADA DE 1990
A década de 1990 começa como terminou a década de 1980. Criciúma
Esporte Clube campeão, JEC vice-campeão, abrindo caminho para novas
conquistas e a fama maior, que viria no ano seguinte, em 1990 o Criciúma chega ao
bicampeonato estadual. O título foi conseguido graças a melhor pontuação
alcançada no quadrangular que disputou com o Ferroviário de Tubarão, JEC e
Chapecoense (MACHADO, 2000, p. 175).
Para melhor compreensão deste sucesso do Criciúma Esporte Clube, tem-se
que, voltar no tempo, mais precisamente ao ano de 1919. Pois segundo Goularti
Filho (2007, p. 147), a primeira cerâmica instalada em Santa Catarina foi em 1919,
quando Henrique lage montou, na cidade de Imbituba, uma fábrica de louças para
111
abastecer os seus próprios navios que faziam a linha Rio de Janeiro-Laguna-Porto
Alegre. Lage era admirador da cerâmica italiana e tinha laços pessoais e afetivos
com a cidade Civita Castellana, famosa por seus trabalhos cerâmicos. Da Itália,
Lage trouxe técnicos para auxiliá-lo no desenvolvimento de novos produtos, entre
eles destacavam-se Francesco Arrigoni, Carlos Fiora e Alfredo Del Priore. Em 1925,
a cerâmica para de produzir louças e começa a fabricar azulejos.
O referido autor prossegue relatando que a segunda cerâmica a surgir em
Santa Catarina foi a Cerâmica Santa Catarina Ltda. (CESACA), fundada em 1946,
que entrou em operação em outubro de 1947. Era uma sociedade formada por 16
sócios. Excluindo Del Priore, todos eram de família tradicional de Criciúma, que
tinham experiências no comércio ou em pequenas fábricas. Entre os sócios
majoritários estavam Júlio Gaidzinski, José Tarquíni Balsani (ambos com 16,1%),
José Pedro Felipe (9,7%), Mansueto Costa e Alfredo Del Priore (ambos com 6,4%).
Os demais tinham apenas 3,2% das cotas. A viabilidade técnica da empresa foi
possível devido à participação de Del Priore, que havia adquirido experiência na
Cerâmica Henrique Lage. Inicialmente, a CESACA produzia apenas louças de mesa,
passando a fabricar azulejos (marca Prior) e louças sanitárias no começo dos anos
1950, quando abandonou a produção de louças de mesa.
A Cerâmica Cocal Ltda. Indústria e Comércio, fundada em março de 1954, foi
a quarta empresa a surgir – futura Cerâmica Eliane. Idealizada pelo técnico italiano
Alfredo Del Priore, juntamente com quatro auxiliares (pequenos comerciantes
locais), a empresa foi constituída a partir de uma cooperativa formada por 215
sócios. Del Priore detinha 15 cotas; Paulo Carneiro, Alfredo Savi Mondo, Cia.
Carbonífera Catarinense, Otavio Búrgio & Cia., R. Lunardi & Cia. Ltda. e Irmão
Manfro detinham dez cotas; e as cotas restantes eram distribuídas aos demais.
Havia sócios de diversas cidades de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e de
Minas Gerais (BÚRGIO, 1988 apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 149). A empresa
estava situada em Cocal, localidade de Urussanga, em função da descoberta de
argila de boa qualidade: caulim, calcário, quartzo, feldspato e talco. Tanto a
Cerâmica Henrique Lage como CESACA utilizavam a matéria-prima minerada em
Cocal, que estava nas terras da Sociedade Colonial de Cocal Ltda. Na época, Cocal
era conhecida na região como a “capital do caolim” (MACHADO, 2000 apud
GOULARTI FILHO, 2007, p. 149). Além de produzir azulejos, a Cerâmica Cocal
também começou a produzir louças de mesa. Logo em seguida, a produção de
112
louça foi abandonada e a empresa dedicou-se apenas à produção de azulejos.
Devido a problemas de ordem financeira e administrativa, em maio de 1959, foi
decretada a insolvência da empresa. Maximiliano Gaidzinski, também sócio da
CESACA, adquire a empresa no mesmo ano e, após um acordo judicial que garantiu
a solvência da empresa, a produção voltou ao normal. Em janeiro de 1960, o nível
de produção foi de 9.000 m²/mês, com 74 funcionários, e, em 1965, a produção já
era de 35.500 m²/mês, representando 3,2% da produção nacional de azulejos,
empregando 209 funcionários (ELIANE, 1999 apud GOULARTI FILHO, 2007, p.
149).
“A exemplo de outros setores da economia catarinense, o cerâmico teve
origem na pequena propriedade. Esse modelo de acumulação pulverizada durou até
meados dos anos 1960” (GOULARTI FILHO, 2007, p. 149).
Os anos 1970 foram marcados pela rápida expansão da produção nas três
maiores cerâmicas sul-catarinenses – Eliane, Cesaca e Cecrisa – e pelo
aparecimento de novas unidades. Desde os anos 1940, Criciúma era conhecida
como a “Capital Nacional do Carvão”. A partir de 1973 passa a ser também
conhecida como a “Cidade dos azulejos”. Ainda nos anos 1960, foram fundadas a
Cerâmica Criciúma S.A. (Cecrisa), em Criciúma, 1966, e a Indústria e Comércio de
Cerâmica S.A. (Incocesa), em Tubarão, 1969, ambas entram em operação na
década seguinte. Numa monografia publicada em 1971, pela Sociedade Amigos de
Criciúma (SAC), sobre o potencial carbonífero da região, já era possível verificar a
emergência da indústria cerâmica como um novo setor em franca expansão. Entre
as novas indústrias de Criciúma, segundo o estudo:
[...] um caso bem significativo é o dos produtos cerâmicos, dinamizados enormente a partir de uma política governamental de incentivo à construção civil, através de financiamento maciço dos bancos estatais. Criciúma, com quatro estabelecimentos do gênero, prepara-se para assumir à curto prazo, posição de destaque no setor, tão logo conclua a fase de expansão ora verificada em todas as empresas ligadas ao ramo (SAC, 1971, p. 21 apud GOULARTI FILHO, 2007, p. 219).
Essas previsões confirmaram-se nos anos seguintes, com a abertura de
novas unidades fabris para atender às demandas da expansão acelerada da
construção civil, financiada pelo Banco Nacional da Habitação (BNH) (GOULARTI
FILHO, 2007, p. 219).
113
Desta forma, explica-se o fenômeno Criciúma Esporte Clube nos gramados
catarinenses e como se poderá perceber a seguir nos gramados nacionais, apoiado
por uma realidade econômica regional muito estruturada e pulsante.
3.4.1 O Ano de 1991
No ano de 1991, o Criciúma Esporte Clube conquista o seu tricampeonato, na
segunda colocação fica a Chapecoense. Mas, o ano de 1991, vai ficar marcado na
história do futebol catarinense. Por que, no dia 2 de junho o Criciúma Esporte Clube
conquista a Copa do Brasil, uma competição organizada e de responsabilidade
direta da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O Criciúma, em sua campanha,
conseguiu em dez jogos, seis vitórias, quatro empates e saiu sem nenhuma derrota,
campeão invicto da competição (MACHADO, 2000,p. 177). Os resultados foram os
seguintes:
� Ubiratan de Dourados (MT) 1 X 1 Criciúma E.C.
� Criciúma E.C. 4 X 1 Ubiratan de Dourados (MT)
� Atlético Mineiro 0 X 1 Criciúma E.C.
� Criciúma E.C. 1 X 0 Atlético Mineiro
� Goiás 0 X 0 Criciúma E.C.
� Criciúma E.C. 3 X 0 Goiás
� Remo (PA) 0 X 1 Criciúma E.C.
� Criciúma E.C. 2 X 0 Remo (PA)
� Grêmio 1 X 1 Criciúma E.C.
� Criciúma E.C. 0 X 0 Grêmio
A seguir será observado como estava a realidade econômica regional de
Criciúma, durante esse período da glória do tricampeonato estadual e o título invicto
e inédito para o futebol barriga-verde conquistado pelo Criciúma E.C.
114
Tabela 10 – Produção anual (em mil/m²) de revestime ntos cerâmicos por empresa (1990-1992)
Ano Eliane Cesaca Icisa Cecrisa Portobello Ceusa Itagres SC/BR
(%)
1990 13.807 4.745 5.080 17.840 9.000 3.276 6.000 40,0
1991 17.359 4.943 4.300 15.633 9.500 1.920 6.000 42,5
1992 18.506 6.174 4.000 18.045 10.912 2.307 8.040 41,8
Fonte: Dados fornecidos pelas empresas. Para a produção nacional dados fornecidos pela Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento). Adaptada TAJES JR (2012).
Tabela 11 – Produção catarinense de carvão mineral (1990-1992)
Ano Carvão bruto
(ROM/t)
SC/BR
(%)
Pré-lavado
(CPL, t)
Energético
(t)
Metalúrgico
(t)
1990 7.484.098 65,0 1.160.225 1.401.625 348.457
1991 6.684.243 64,2 - 1.886.834 -
1992 5.531.404 59,7 - 1.712.990 -
Fonte: Perfil Analítico do Carvão (1973, 1987) adaptada por TAJES JR (2012).
Os dados comprovam que a realidade econômica regional de Criciúma, no
início da década de 1990, era favorável para a formação de uma equipe de futebol
competitiva, como foi o caso do Criciúma E.C. Os revestimentos cerâmicos
totalizando 42,5% da produção brasileira e o carvão totalizando 64,2% da produção
nacional.
Quanto ao vice-campeonato da Associação Chapecoense, explica-se devido
aos indicadores da produção industrial por classes e gêneros em Santa Catarina
1988-2000 (Base: ano anterior = 100), onde os produtos alimentares obtiveram
114,0, no ano de 1991. Ficando abaixo apenas, de material elétrico e comunicação,
com 119,6, (Os dados tiveram como base o índice acumulado em igual período do
ano anterior). (GOULARTI FILHO, 2007, p. 446).
3.4.2 O Ano de 1992
No ano de 1992, o município de Brusque voltou a ser destaque no futebol
catarinense, depois de passar 40 anos sem conquistar um título. O Brusque Futebol
Clube vence o campeonato estadual, depois de derrotar o Avaí (MACHADO, 2000,
p. 179).
115
O Brusque Futebol Clube foi fundado a 12 de outubro de 1987, através da
assembleia de fusão de patrimônios do Clube Esportivo Paysandu e do Clube
Atlético Carlos Renaux. O clube passou a assumir a vaga na primeira divisão do
futebol de Santa Catarina do Alviverde da Rua Pedro Werner, enquanto mandaria os
seus jogos no Estádio Augusto Bauer, na Avenida Lauro Muller. O primeiro
presidente foi Ciro Marcial Roza.
Ninguém poderia imaginar, no início do Campeonato Catarinense, que o título
não acabasse nas mãos dos tradicionais papões – JEC, Criciúma, Avaí e
Figueirense. Muito menos que a taça iria para uma equipe com apenas cinco anos
de vida. No entanto, contrariando todas as previsões, o Brusque, um clube modesto,
de uma cidade de pouco mais de 50 mil habitantes, situada a 100 km de
Florianópolis, acabou conquistando o seu primeiro e único campeonato. Observem o
que o sítio do clube relata sobre esse feito:
O ano de 1992 foi o ano mais importante da história do Brusque. O empresário Amílcar Wehmuth, o Chico, era o presidente que trouxe duas importantes conquistas: no primeiro semestre, a conquista da Copa Santa Catarina, que dava ao campeão um ponto no Campeonato Catarinense daquele ano. Na fase de classificação, o Brusque ficou na segunda colocação. Na fase eliminatória, passou pela Chapecoense, empatando por 3 a 3 no oeste catarinense e vencendo por 2 a 0 no Augusto Bauer (seu estádio). Na fase semifinal, o time bateu o Marcílio Dias de Itajaí por 1 a 0 fora de casa no jogo de ida. Na partida de volta, a derrota pelo mesmo placar levou a decisão para a prorrogação, que terminou em 0 a 0 classificando o Brusque para a final contra o Avaí. No dia 9 de dezembro de 1992, no jogo de ida em Florianópolis, o Avaí venceu por 1 a 0, com um gol marcado nos momentos finais da partida. O Brusque teria que vencer o jogo de volta e empatar na prorrogação para sagrar-se campeão. O jogo mais importante da história do Brusque Futebol Clube aconteceu no dia 13 de dezembro de 1992. Cerca de seis mil pessoas lotaram o Estádio Augusto Bauer e viram o Brusque vencer o Avaí por 2 a 1 no tempo normal, gols de Jair Bala e Washington. Na prorrogação, Cláudio Freitas fez um lindo gol sobre o goleiro Carlão, iniciando a festa em todo o município.
As principais atividades econômicas do município de Brusque no ano de 1992
eram: Têxtil e vestuário e calçados, conforme pode ser observado na tabela a
seguir.
116
Tabela 12 – Indicadores da produção industrial por classes e gênero em Santa Catarina 1992 (Base: ano anterior = 100)
Classe e gênero 1992
Indústria de Transformação 107,6
Minerais não Metálicos 107,8
Metalúrgica 125,9
Mecânica 121,2
Material Elétrico e Comunicação 114,1
Papel e Papelão 109,2
Produtos de Matéria Plástica 99,7
Têxtil 94,3
Vestuário e Calçados 96,7
Produtos alimentares 108,6
Fumo 121,5
Fonte: IBGE/DPE/DEIND. Adaptada por TAJES JR (2012).
A realidade econômica regional neste caso, não foi a maior do Estado durante
esse ano, mas, é um caso que pela citação acima, atreve-se a dizer que, através do
empresário Chico (presidente do clube) os investimentos foram feitos em um grupo
bom de jogadores que obtiveram sucesso apenas neste certame.
3.4.3 O Ano de 1993
No ano de 1993, comemoravam-se os 70 anos de instalação de uma liga
oficial de futebol no Estado de Santa Catarina, o Criciúma sagrou-se campeão e o
Figueirense vice. O jogo que originou o título, ocorreu em Criciúma, no Estádio
Heriberto Hülse em 4 de agosto, com vitória do Criciúma sobre o Figueirense por 2 a
0. O curioso desse 1993, foi o rebaixamento do Avaí Futebol Clube, para a segunda
divisão do campeonato catarinense, por não conseguir os pontos que necessitava
para uma combinação de resultados.
A realidade econômica regional dos revestimentos cerâmicos continuava forte
na região sul do Estado, como se pode observar na tabela 13 a seguir.
117
Tabela 13 – Produção anual (em mil/m²) de revestime ntos cerâmicos por empresa (1993-1995) Ano Eliane Cesaca Icisa Cecrisa Portobello Ceusa Itagres SC/BR
(%)
1993 18.433 7.333 3.450 21.222 12.000 2.680 8.040 39,8
1994 18.835 6.243 4.450 20.089 13.816 3.255 8.040 34,9
1995 19.360 2.639 4.500 19.260 14.500 4.600 8.040 33,0
Fonte: Dados fornecidos pelas empresas. Para a produção nacional dados fornecidos pela Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento). Adaptada por TAJES JR (2012).
3.4.4 O Ano de 1994
No ano de 1994, depois de dezenove anos de espera, o Figueirense, volta a
ser campeão estadual de futebol profissional. O campeonato de 1994 termina muito
parecido com o de 1993, apenas, inverteram-se os papéis, Figueirense campeão e,
Criciúma vice. A ansiedade alvinegra por um título era tão grande, que a torcida não
aguentou esperar o final do jogo decisivo com o Criciúma e acabou por invadir o
campo quando ainda faltavam treze minutos para terminar. Por terem levado as
redes e até as traves, o juiz do jogo Dalmo Bozzano deu por encerada a partida,
passando a responsabilidade do resultado para a Justiça Desportista que mais tarde
confirmou o time do Estreito como legítimo campeão de 1994 (MACHADO, 2000, p.
182).
Pela segundona, no primeiro jogo das finais, dia 12 de novembro, Avaí e
Hercílio Luz empataram em 1 a 1 em Tubarão e, no segundo, em 19 de novembro,
aconteceu a vitória do time da capital por 2 a 1, resultado que lhe valeu o passaporte
de volta à divisão de elite de nosso futebol (MACHADO, 2000, p. 183).
3.4.5 O Ano de 1995
No ano de 1995, o Criciúma voltou a ser campeão estadual. O jogo decisivo,
foi disputado no Estádio Heriberto Hülse em 6 de agosto de, com vitória do Criciúma
no tempo normal sobre a Chapecoense por 1 a 0, com gol de Luiz Carlos Oliveira
118
aos 2 minutos do primeiro tempo, o que forçou uma prorrogação, terminando em 0 a
0, resultado que deu o título à equipe de Criciúma (SANTOS, 2007, p. 195).
A realidade econômica regional do oeste catarinense são os produtos
alimentícios (agroindustrial). Nos anos de 1995 e 1996, essa realidade encontrava-
-se da seguinte maneira:
Tabela 14 – Indicadores da produção industrial por classes e gênero em Santa Catarina 1992 (Base: ano anterior = 100)
Classe e gênero 1995 1996
Indústria de Transformação 105,9 102,6
Minerais não Metálicos 101,0 100,6
Metalúrgica 102,2 99,2
Mecânica 108,4 100,0
Material Elétrico e Comunicação 122,5 90,6
Papel e Papelão 113,9 102,7
Produtos de Matéria Plástica 131,9 107,9
Produtos A limentares 109,0 109,4
Bebidas 156,1 135,1
Fonte: IBGE/DPE/DEIND. Adaptada por TAJES JR (2012).
Os dados da tabela 14 corroboram a boa campanha da equipe do oeste do
Estado. Tendo o quarto melhor desempenho no ano de 1995, culminado com o vice-
-campeonato profissional de futebol daquele ano.
3.4.6 O Ano de 1996
Chega-se ao ano de 1996, onde a Chapecoense ficou com o título após
dezenove anos. Mas, a história desse título é conturbada. Havia um jogo marcado
para 12 de julho, mas este não aconteceu, já que no hotel Bertaso, em Chapecó,
alguns torcedores da Chapecoense tentaram intimidar a delegação do JEC com
vários rojões, que foram disparados durante toda a noite. Cinco meses depois foi
realizada a segunda partida, disputada em Chapecó em 18 de dezembro,
registrando vitória da Chapecoense sobre o JEC no tempo normal por 1 a 0 e, na
prorrogação pelo mesmo placar. Porém o título da equipe de Chapecó somente foi
119
confirmado pelo STJD no ano seguinte, em 9 de maio de 1997, em decorrência de o
JEC ter entrado com um recurso na justiça desportiva (SANTOS, 2007, p. 199).
Observando a tabela 14, nota-se que as principais atividades econômicas da
região de Chapecó (produtos alimentares) e de Joinville (produtos de matéria
plástica) estão respectivamente em, segundo e terceiro lugares, atrás apenas das
bebidas. Comprovando mais uma vez a importância da realidade econômica
regional e os bons resultados nos gramados catarinenses.
3.4.7 Os Anos de 1997 e 1998
No ano de 1997, o Avaí foi o campeão após oito anos de espera. Participaram
dez clubes na edição do estadual de 1997: Avaí, Tubarão, Chapecoense, Joinville,
Figueirense, Blumenau, Marcílio Dias, Criciúma, Atlético Alto Vale e Jaraguá. O
primeiro jogo da final foi realizado no município de Tubarão e ficou no 0 a 0. O jogo
de volta, decisivo, foi disputado no Estádio da Ressacada em 22 de junho, com
vitória do Avaí sobre o Tubarão por 2 a 0, resultado que deu à equipe da capital
mais um título estadual (SANTOS, 2007, p. 202).
O Tubarão Futebol Clube surgiu da dissolução do E.C. Ferroviário, com o
objetivo de criar um time com maior apelo popular e brigar por títulos. Esse processo
teve início no dia 25 de janeiro de 1992, no Clube Recreativo Cidade Luz.
Mantiveram-se os sócios patrimoniais do extinto Ferroviário e teve admissão de
novos sócios patrimoniais ao Tubarão Futebol Clube. O Conselho Deliberativo ficou
formado por cem sócios. Tem-se aqui, outra demonstração de uma iniciativa local
em ascender no futebol profissional, com o empenho de empresários locais, sem as
grandes indústrias.
Em 1998, o título volta para o Criciúma. Dez clubes competiram no estadual
de 1998: Criciúma, Tubarão, Avaí, Brusque, Chapecoense, Joinville, Atlético Alto
Vale, Figueirense, Blumenau e Marcílio Dias (SANTOS, 2007, p. 206). O vice-
-campeão é Tubarão Futebol Clube, novamente.
Após dois anos sem título, o Criciúma volta ao topo, com novo patrocinador
estampado na camisa, a Cecrisa, indústria de revestimentos cerâmicos.
120
Anteriormente, o Criciúma estampava na camisa o patrocínio da Eliane, outra
indústria de revestimentos cerâmicos da região do clube. Veja o porquê:
Tabela 15 – Produção anual (em mil/m²) de revestime ntos cerâmicos por empresa (1998-1999) Ano Eliane Cesaca Icisa Cecrisa Portobello Ceusa Itagres SC/BR
(%)
1998 22.202 - 6.300 25.574 17.300 4.800 8.040 29,0
1999 19.871 - 6.400 24.432 17.500 4.200 8.050 25,8
Fonte: Dados fornecidos pelas empresas. Para a produção nacional dados fornecidos pela Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento). Adaptada por TAJES JR (2012).
Os números da tabela 15 mostram que, a produção cerâmica da indústria
Eliane estava abaixo da Cecrisa, com isto, a Cecrisa visualizou uma oportunidade de
vincular a sua marca a uma equipe de futebol profissional, com chances de alcançar
o título estadual, fato que se tornou realidade.
3.4.8 O Ano de 1999
Chega-se ao ano de 1999, ano este, que ocorreu após vinte e três, uma final
entre os clubes da capital: Figueirense versus Avaí. Confronto este, que só
ocorreram três vezes na história de finais do campeonato catarinense (1972, 1975 e
1999). O campeão foi o Figueirense, desempatando o confronto direto nas finais
(pois em 1972 venceu o Figueirense, em1975 venceu o Avaí).
O primeiro jogo da final foi vencido pelo Avaí (que no ano de 1998 havia se
sagrado campeão da Terceira Divisão do futebol brasileiro), pelo placar de 2 a 0. O
jogo de volta, decisivo, aconteceu no Estádio Orlando Scarpelli em 25 de julho, com
vitória do Figueirense sobre o Avaí no tempo normal por 2 a 1 e empate na
prorrogação em 0 a 0, resultado que deu o título à equipe do Estreito (SANTOS,
2007, p. 211).
Utilizando os dados do Produto Interno Bruto (PIB) dos municípios de Santa
Catarina de 1999-2009 (tabelas 16 e 17, na próxima página) pode-se visualizar
melhor a questão das realidades econômicas regionais em Santa Catarina referente
aos clubes campeões e vice-campeões estaduais de futebol profissional. O PIB de
121
Florianópolis no ano de 1999 era o terceiro maior do Estado, ficando atrás de
Joinville (1.º colocado) e Blumenau (2.º colocado). O JEC foi terceiro colocado no
estadual deste ano e o Blumenau nem participou do certame, mostrando que há
influências das realidades econômicas regionais, mas só isso não basta para uma
equipe ser vitoriosa.
Tabela 16 – Produto Interno Bruto, segundo os munic ípios de Santa Catarina 1999-2004
Fonte: IBGE. Adaptada por TAJES JR (2012).
Tabela 17 - Produto Interno Bruto, segundo os munic ípios de Santa Catarina 2005-2009
Fonte: IBGE. Adaptada por TAJES JR (2012).
3.5 A DÉCADA DE 2000
Chega-se à última década da nossa viagem sobre o futebol e as realidades
econômicas regionais de Santa Catarina. Doze clubes disputaram o campeonato
estadual de 2000: JEC, Marcílio Dias, Figueirense, Atlético Alto Vale, Avaí,
SDR Município 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Estado 37.151.231 43.311.915 48.748.249 55.731.863 66.848.534 77.392.992
23 Joinville 3.915.567 4.700.826 5.255.475 5.722.420 6.635.842 8.005.499
17 Itajaí 1.527.641 1.712.087 2.273.162 3.149.837 3.964.988 5.116.312
18 Florianópolis 2.626.920 2.967.807 3.341.375 4.025.977 4.475.704 5.080.525
04 Chapecó 1.699.404 1.485.168 1.727.412 2.001.215 2.391.271 2.716.483
21 Criciúma 1.061.108 1.221.207 1.350.061 1.497.772 1.688.729 1.956.875
14 Ibirama 87.114,42 104.612,60 111.016,77 111.532,00 127.249,98 147.869,25
15 Blumenau 2.832.864 3.237.546 3.512.937 3.772.223 4.111.992 4.697.761
SDR Município 2005 2006 2007 2008 2009
Estado 85.316.276 93.146.756
104.622.947
123.282.982
129.806.000
23 Joinville 9.071.456 10.697.888 11.474.511 13.220.313 13.345.175
17 Itajaí 6.031.128 6.297.432 7.982.842 10.183.449 10.870.486
18 Florianópolis 6.023.014 6.652.326 7.104.196 8.120.986 8.287.890
04 Chapecó 2.836.979 3.045.669 3.524.611 4.295.173 4.348.898
21 Criciúma 2.119.594 2.381.130 2.543.711 2.791.693 2.543.711
14 Ibirama 153.596,16 162.027,58 173.245,94 193.873,45 -
15 Blumenau 5.254.645
6.075.172
6.682.445
7.391.535
7.678.830
122
Fraiburgo, Tubarão, Criciúma, Chapecoense, Brusque, Kindermann e Lages. Após
treze anos, o JEC voltou a levantar o título estadual. Com o Marcílio Dias na
segunda colocação.
Com base na tabela 16, os números mostram que o campeão estadual é a
equipe da cidade com o maior PIB de todo o Estado. E, o segundo colocado é a
equipe representante da cidade com o quarto maior PIB do Estado.
3.5.1 O Ano de 2001
No ano de 2001, dez equipes participaram do estadual: JEC, Criciúma,
Tubarão, Figueirense, Avaí, Marcílio Dias, Atlético Alto Vale, Internacional,
Kindermann e Chapecoense. Novamente, o JEC fica no lugar mais alto das
colocações, sagrando-se bicampeão estadual. O Criciúma é o vice-campeão.
Baseando-se na tabela 16, os números registram que o time campeão é o
representante da cidade que possui o maior PIB estadual. O vice-campeão é o
representante da cidade que possui o oitavo PIB estadual. Outra vez se depara com
uma situação que pensada dentro dos parâmetros da realidade econômica regional
teria que ser outra equipe na segunda colocação, mas, futebol não são somente
recursos financeiros, necessita-se feeling para a formação de um elenco, mesmo
que sem muitos recursos faça uma boa campanha.
3.5.2 O Ano de 2002
No estadual de 2002, houve doze equipes participantes. Na chave principal
estavam: Avaí, C.A. Hermann Aichinger (ou Atlético de Ibirama), Alto Vale,
Internacional, Marcílio Dias e Kindermann. Na seletiva havia Caxias, Chapecoense,
Águia do Vale, Tiradentes, Fraiburgo e Atlético Chapecó. A primeira fase, disputada
de março a abril, apontou as quatro equipes classificadas para o octogonal final –
Avaí, Marcílio Dias, Atlético de Ibirama e Chapecoense – junto com os clubes
participantes da Sul Minas: Figueirense, Criciúma, JEC e Tubarão. Com uma equipe
123
homogênea, o Figueirense voltou a ser o campeão após dois anos (SANTOS, 2007,
p. 221). O vice-campeonato ficou com o Criciúma novamente.
Conforme a tabela 16 elucida, o campeão estadual é um dos representantes
da capital do Estado que, no ano de 2002 obtém o segundo melhor PIB estadual. O
vice-campeão é o representante da cidade que possui o oitavo PIB do Estado.
3.5.3 O Ano de 2003
Chega-se a 2003, quando o campeonato contando com doze equipes, foi
dividido em duas chaves:
A. Figueirense, Criciúma, Avaí, JEC, Tubarão e Atlético de Ibirama;
B. Caxias, Tiradentes, Chapecoense, Marcílio Dias, Lages e Atlético Alto Vale.
O grupo “A” contou com os melhores colocados do ano anterior e, o “B” os
piores, mais os melhores colocados da Segunda Divisão. Nos grupos, os clubes
jogaram em turno e returno sendo que os 3 melhores do Grupo “A” e o melhor do
grupo “B” se classificaram às semifinais. Nesta, o campeão do “A”, jogou contra o
campeão do “B” e os dois outros colocados do “A” jogaram entre si. Os jogos foram
de ida e volta e os melhores colocados jogaram a segunda partida em casa. Os
vencedores desta se enfrentaram em uma final de ida e volta.
A grande final foi disputada no dia 23 de março de 2003, o Figueirense
derrotou no tempo normal o Caxias, no estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis,
por 2 a 1, levou a decisão para a prorrogação, garantiu o empate por 0 a 0, e
conquistou o bicampeonato do Catarinense.
Com base nos números do PIB do ano de 2003, pode-se observar que as
duas cidades que obtiveram, a primeira colocação no PIB estadual (Joinville) e a
segunda colocação (Florianópolis) tiveram seus representantes fazendo a decisão
do campeonato estadual de futebol profissional, mostrando a relação entre as
realidades econômicas regionais e o futebol em Santa Catarina.
124
3.5.4 O Ano de 2004
O Campeonato Catarinense de Futebol de 2004 foi a 79.ª edição do torneio,
sendo vencido pelo Figueirense. Participaram da disputa 12 clubes que foram
distribuídos em 2 grupos de 6. Em cada grupo, os clubes jogaram entre si em todos
contra todos, com partidas de ida e volta. Os 2 melhores colocados de cada grupo
foram classificados para o quadrangular final. Nessa fase, os 4 restantes formaram
um único grupo, onde jogaram todos contra todos novamente em jogos de ida e
volta. O vencedor destes (o Figueirense) foi declarado bicampeão catarinense em
2004. Vice foi o C.A. Hermann Aichinger (Atlético de Ibirama).
Com base nos números do PIB do ano de 2004, a cidade que obteve a
terceira maior colocação no PIB estadual (Florianópolis) teve o seu representante no
topo do estadual. Mas, o que se torna perplexos é, o fato do município que obteve a
84.ª posição no PIB (Ibirama) teve o seu representante no segundo lugar geral do
campeonato estadual de futebol profissional daquele ano. Buscando entender como
isto era possível, no sítio oficial do Clube, encontram-se esses relatos:
Fiel à tradição esportiva do Clube, e com o firme propósito de disputar e representar digna e efetivamente o Clube, a Cidade de Ibirama e toda a região do Vale Norte em campeonatos, a atual diretoria, encabeçada pelo empresário Genésio Ayres Marchetti, a exemplo do que toda a família Marchetti realizou ao longo dos tempos e da história do Clube Atlético, começou, após um longo período de inatividade, um trabalho de base com jovens atletas locais [...] � Até o ano de 2000 manteve um profissional no Clube que trabalha com as categorias de base, onde dezenas de jovens, entre 12 e 21 anos, estão sendo treinados e preparados para disputar os campeonatos das categorias no decorrer deste ano e visando ainda o retorno ao futebol profissional Catarinense no ano de 2001. � Disputou em 2001 o Campeonato Catarinense de Futebol Profissional da 2ª Divisão, sagrando-se Bi-Campeão, conquistando o 1.º e 2.º turnos do campeonato e o título final. � Em 2002 e 2003 disputou o campeonato da 1.ª divisão, mantendo-se na chave principal dos melhores clubes do Estado.
Esses relatos mostram que, com uma visão de futuro e um projeto em longo
prazo, mesmo sem muitas condições financeiras é possível realizar boas
campanhas no campeonato estadual de futebol profissional. Pois, se o Clube tiver
identificação com as suas raízes regionais e aproveitar os recursos humanos
disponíveis, histórias de sucesso acontecem.
125
3.5.5 O Ano de 2005
O campeonato catarinense de futebol profissional no ano de 2005, contou
com doze equipes: Atlético de Ibirama, Avaí, Chapecoense, Criciúma, Figueirense,
Guarani (Palhoça), JEC, Lages, Marcílio Dias, Metropolitano (Blumenau), Tubarão e
União (Timbó). Após seis anos de espera o campeão desse ano foi o Criciúma. Vice,
o Atlético de Ibirama. O primeiro jogo da decisão ocorreu no dia 10 de abril, no
Estádio Heriberto Hülse, em Criciúma, empate por 1 a 1. O jogo decisivo ocorreu no
dia 17 de abril, no Estádio Hermann Aichinger, em Ibirama, com placar de 1 a 0 para
o Criciúma.
Conforme a tabela 17 elucida, a cidade que obteve o 9.º lugar no PIB estadual
do ano de 2005 (Criciúma) teve o seu representante no futebol, culminando com o
título estadual. Na segunda colocação ficou o representante de Ibirama 87.ª PIB do
Estado. O que pode explicar isso já que o Criciúma venceu o Avaí na semifinal,
sendo o PIB de Florianópolis no ano de 2005 o terceiro maior do Estado, é o fato da
equipe do Criciúma contar com jogadores de mais qualificados tecnicamente.
Exemplo, neste ano atuava pelo Criciúma, o meia Douglas, que foi campeão da
Copa do Brasil com o Corinthians Paulista em 2009, e atuou no Grêmio FBPA, no
campeonato brasileiro de 2011, que saiu da categorias de base do Criciúma. Mais
um caso de capital humano com sucesso. E o mesmo exemplo serve para o Atlético
de Ibirama, que eliminou o JEC, vindo da cidade de maior PIB do Estado. Além de
ter feito a melhor campanha no estadual daquele ano, nos pontos ganhos obteve 40,
contra 31 do Criciúma, 35 do Avaí e 33 do JEC. O Atlético de Ibirama foi também o
melhor ataque da competição, com 36 gols e um saldo de 17 gols.
3.5.6 O Ano de 2006
O campeonato catarinense de futebol profissional de 2006 contou com doze
equipes: Atlético de Ibirama, Avaí, Brusque, Caxias (Joinville), Chapecoense,
Criciúma, Figueirense, Guarani (Palhoça), JEC, Juventus (Jaraguá do Sul), Marcílio
Dias e Metropolitano (Blumenau). O campeão foi o Figueirense. Vice o JEC. O
primeiro jogo da final foi disputado no Estádio Arena Joinville, em Joinville, no dia 2
de abril, com vitória para o JEC pelo placar de 2 a 1. O jogo decisivo ocorreu no dia
126
9 de abril, no Estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis, com vitória para o
Figueirense pelo placar de 3 a 0.
Novamente as duas equipes finalistas do campeonato estadual de futebol
profissional são representantes dos dois maiores PIB do Estado.
3.5.7 O Ano de 2007
O campeonato de 2007, contou com doze equipes: Atlético de Ibirama, Avaí,
Brusque, Chapecoense, Criciúma, Figueirense, Guarani (Palhoça), JEC, Juventus
(Jaraguá do Sul), Marcílio Dias, Metropolitano (Blumenau) e Próspera (Criciúma). O
campeão foi a Chapecoense. Vice o Criciúma. O primeiro jogo da final ocorreu no
dia 29 de abril, no Estádio Índio Condá, em Chapecó, com a vitória pelo placar de 1
a 0 para a Chapecoense. O jogo decisivo ocorreu no dia 6 de maio, no Estádio
Heriberto Hülse, em Criciúma, havendo um empate em 2 a 2. Consagrando a
Chapecoense campeã após 10 anos.
A economia de Chapecó nesse ano de 2007 era 6.ª maior do Estado,
enquanto a de Criciúma era 9.ª, deixando novamente as maiores economias
estaduais para trás na tabela de classificação do futebol profissional. Mas, Chapecó
tem um Valor Adicionado Bruto (VA) na indústria de R$ 1.440.594 bilhão (Instituto
CEPA/SC, 2011). Sendo um dos mais altos do Estado. O que corrobora a hipótese
de realidades econômicas regionais fortes na formação de uma equipe competitiva
em Santa Catarina.
3.5.8 O Ano de 2008
O estadual de 2008, contou com doze equipes: Atlético de Ibirama, Avaí,
Brusque, Cidade Azul (Tubarão), Chapecoense, Criciúma, Figueirense, Guarani
(Palhoça), JEC, Juventus (Jaraguá do Sul), Marcílio Dias e Metropolitano
(Blumenau). O campeão foi o Figueirense. Vice o Criciúma. A competição foi
disputada por 12 clubes que jogaram em turno e returno. Quem somasse mais
pontos em cada turno seria o campeão do mesmo. Caso um mesmo clube vencesse
127
os dois turnos seria o campeão catarinense de 2008. Os campeões do primeiro
turno (Figueirense) e segundo turno (Criciúma) se enfrentaram em jogos de ida e
volta. O primeiro jogo da final aconteceu no dia 27 de abril, no Estádio Orlando
Scarpelli, em Florianópolis, com vitória pelo placar de 1 a 0 para o Figueirense. O
jogo decisivo ocorreu no dia 4 de maio, no Estádio Heriberto Hülse, em Criciúma,
com vitória pelo placar de 3 a 1 para o Criciúma. Como aconteceu igualdade de
pontos ganhos após os dois jogos, houve a prorrogação. Na prorrogação o
Figueirense venceu pelo placar de 1 a 0.
Com base na tabela 17, o número do PIB dos municípios de Santa Catarina
indica que, o PIB de Florianópolis no ano de 2008 era o terceiro maior do Estado. E
o de Criciúma o 9.º, corroborando a hipótese de pesquisa sobre as realidades
econômicas regionais e o futebol em Santa Catarina.
3.5.9 Os Anos de 2009 e 2010
O campeonato catarinense de futebol profissional de 2009, contou com dez
equipes: Atlético de Ibirama, Atlético Tubarão, Avaí, Brusque, Chapecoense,
Criciúma, Figueirense, JEC, Marcílio Dias e Metropolitano (Blumenau). O Avaí foi o
campeão depois de 12 anos. Vice Chapecoense. O primeiro jogo da final aconteceu
no dia 26 de abril, no Estádio Índio Condá, em Chapecó, com vitória pelo placar de 3
a 1 para a Chapecoense. O jogo decisivo ocorreu no dia 3 de maio, no Estádio da
Ressacada, em Florianópolis. O Leão, devido ao placar adverso do primeiro jogo,
precisava vencer no tempo normal e levar o jogo para a prorrogação. E foi que o
aconteceu, vitória no tempo normal por 3 a 1. Na prorrogação, nova vitória pelo
placar de 3 a 0. Final Avaí 6 X 1 Chapecoense.
Com base na tabela 17, a cidade de Florianópolis possuía o 3.º PIB do Estado
no ano de 2009. A cidade de Chapecó possuía no mesmo ano, a 6.ª colocação,
mostrando que além de possuir realidade econômica regional favorável para a
implantação de equipes de futebol de sucesso nos gramados catarinenses, era
preciso tradição no esporte chamado futebol.
Chega-se ao ano de 2010, último dessa investigação sobre as realidades
econômicas regionais e o futebol em Santa Catarina. O estadual desse ano contou
128
com dez equipes: Atlético de Ibirama, Avaí, Brusque, CFZ Imbituba, Chapecoense,
Criciúma, Figueirense, JEC, Juventus (Jaraguá do Sul), Metropolitano (Blumenau). O
Avaí se tornou bicampeão estadual. Vice o JEC. O primeiro jogo da final aconteceu
em 25 de abril, no Estádio Arena Joinville, em Joinville, com vitória pelo placar de 3
a 1 a favor do Avaí. O jogo decisivo ocorreu em 2 de maio, no Estádio da
Ressacada, em Florianópolis, com nova vitória pelo placar de 2 a o a favor do Avaí,
mostrando que o terceiro maior PIB estadual consegue perseverar sobre o maior
PIB do Estado, quando se trata de futebol profissional em Santa Catarina. Pois, não
se pode negligenciar que a cidade de Florianópolis por possuir uma bela paisagem
natural, tem um atrativo maior para angariar bons capitais humanos (jogadores) do
que outras regiões do Estado.
Porém, obriga-se a relatar o que Goularti Filho (2007, p. 359), observa que
dentro da especialização econômica microrregional catarinense caminha em
paralelo um processo de diversificação e integração das estruturas econômicas. Ao
mesmo tempo em que, a indústria metal-mecânica está mais concentrada no norte
do Estado, ela também está espraiada por outras microrregiões como na de
Blumenau, Criciúma, Joaçaba, Rio do Sul, Lages, Chapecó e Caçador. O mesmo
ocorre com a indústria têxtil-vestuário que está concentrada na região de Blumenau
e Brusque e espalhada pela costa litorânea do Estado. A indústria de matérias
plásticas está presente na microrregião de Joinville, Criciúma e Caçador. Os
calçados catarinenses são produzidos em Araranguá, São João Batista e Caçador.
A indústria de revestimento cerâmico concentra-se principalmente no sul do Estado,
porém em Tijucas e Mafra também há presença de cerâmicas que têm importância
significativa. Igualmente acontece com a cerâmica vermelha, que está concentrada
no Morro da Fumaça, Sangão e Jaguaruna, no sul do Estado, e na microrregião de
Tijucas, principalmente em Canelinha. O complexo madeireiro abrange o planalto
catarinense, estendendo-se até o meio-oeste. Braço do Norte e Orleans, no sul do
Estado, também fazem parte deste complexo madeireiro, destacando-se
nacionalmente na produção de molduras. A indústria de papel e celulose concentra-
-se no planalto serrano e norte, porém avança para o meio-oeste e para o Alto Vale
do Itajaí e região de Blumenau. O complexo agroindustrial de carnes começa em
São Miguel do Oeste passa por todas as cidades-polos no oeste catarinense e
chega até Lages, Canoinhas, Rio do Sul, Gaspar e Criciúma. Sendo assim, Santa
Catarina possui uma economia especializada, diversificada e integrada.
129
Com base na literatura revisada, observando no Mapa 2, obtem-se a
conclusão de que as regiões do Estado de Santa de Catarina que concentram o
maior número de títulos e vice-campeonatos são, as regiões do Sul, Grande
Florianópolis, Norte e Vale do Itajaí (3 títulos e 13 vice-campeonatos). Essas regiões
são próximas à faixa litorânea. Mas, a região Oeste (4 títulos e 4 vice-campeonatos),
em títulos está à frente do Vale do Itajaí, enquanto que, os dados das tabelas 16 e
17 elucidam que Blumenau (Vale do Itajaí) tem um PIB sempre superior ao de
Chapecó (Oeste). O que explicaria essa situação? Procurando entender essa
anomalia do porquê Blumenau não consegue se firmar com um time de futebol
profissional entre os grandes do Estado, já que possui um PIB ótimo. Chega-se à
conclusão de que, o município de Blumenau investe pesado nos esportes olímpicos.
Em 51 edições dos Jogos Abertos de Santa Catarina (JASC), Blumenau ficou em 40
edições classificada como campeã geral e, outras 6 vezes com o vice-campeonato,
mostrando uma relação direta com a realidade econômica regional, mas agora com
os esportes olímpicos.
Não se pode passar despercebido que, apesar de Santa Catarina ter um bom
nível de desenvolvimento econômico regional em todas as regiões, as regiões que
ainda dominam a maioria dos títulos de futebol profissional, são as regiões mais
próximas a faixa litorânea, como no resto do país. Devido à forma de colonização de
nosso país, do litoral para o interior.
Após o levantamento dos campeões estaduais de futebol profissionais e a
relação com as realidades econômicas regionais durante os períodos, chega-se ao
final de desse capítulo, tendo consciência que os objetivos foram alcançados devido
à comparação realizada e exposta entre o futebol e as realidades econômicas
regionais em Santa Catarina, no período de 1960 a 2010.
130
4 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO FUTEBOL
No início o futebol era organizado por estudantes que praticavam esse
esporte nas escolas. Pode-se classificar essa organização de amadora, pois, é
realizada sem nenhuma perspectiva de futuro ou de manutenção do que já foi
alcançado. Ela pode ser configurada também, como sendo de uma enorme paixão e
por que não, como uma forma de lazer dos finais de semana, sem muita
preocupação após os jogos. Isso como tudo no início, pode ser considerado normal,
pois, como as competições quase não existiam, na sua grande maioria era
constituída por jogos amistosos. E, quando existiam eram muito rápidas, devido ao
pequeno número de equipes organizadas para participarem das competições.
Para fundar um clube de futebol, nesse período referindo, era necessário
reunir alguns meninos e outros tantos de rapazes. Reuniam algum dinheiro,
comprava o material para jogar (camisas e uma bola), o nome ficava por encargo da
rua (nome da rua, ou bairro), e às vezes, pela data (por exemplo, se fosse o mês de
maio, seria 1.º de Maio Futebol Clube) ou ainda, se tivesse influência de algum
religioso (como os padres) seria o nome de algum santo ou o nome da paróquia.
Num segundo momento, surgem os clubes cidade. Estes são criados com
intuito de representar digna e efetivamente a cidade e ou região. Normalmente tem o
apoio da administração pública, como transporte para os dias de jogos,
infraestrutura para os treinamentos e jogos (campo de jogo do município) e, em
alguns casos alojamento para os jogadores, fornecido pela administração pública. O
nome da equipe, consequentemente é o do município (exemplo, Criciúma, Joinville,
Brusque, Atlético de Ibirama, Chapecoense, etc.). Mas, como só a administração
pública não tem condições de suportar os gastos com um clube de futebol (que
nesses casos já se tornam profissionais) surgem novos integrantes nesse processo.
Aqui, aparecem os empresários locais, que geralmente são pessoas bem-sucedidas
dentro da realidade econômica regional, e que, gostam da modalidade em questão,
o futebol. Muitas vezes, fazem parte da diretoria do clube (geralmente são
empossados presidentes do clube) e fazem investimentos conforme andam os
ganhos de suas empresas.
E, agora se tem o tempo dos clubes-empresa. Pois a administração
desempenha papel importante dentro de qualquer empresa, e no futebol não poderia
131
ser diferente. Pois, essa visão e penetração de uma lógica empresarial na
organização do futebol profissional estão relacionadas com o momento em que se
está vivendo, globalização e questões econômicas relacionadas ao futebol moderno,
tendo como pano de fundo a conversão de esporte-espetáculo em produto da
cultura de consumo de massa (PRONI; ZAIA, 2007, p. 19).
Parte-se do pressuposto de que, na era da globalização, as mudanças na
organização nos principais centros mundiais estiveram diretamente relacionadas à
sua apropriação pela indústria do entretenimento e à expansão do marketing
esportivo. As novas feições assumidas pelo futebol profissional, principalmente, nos
países desenvolvidos, estão associadas, em última instância, com dois processos
estruturais que vêm alterando as relações sociais, políticas e culturais nesses
países, a saber:
A globalização econômica e a liberalização da concorrência, processos indissociáveis que se manifestam claramente na revisão de normas e leis que permitiam um controle público sobre o funcionamento dos mercados. A nova regulamentação esportiva abriu espaço para que agentes privados passassem a controlar a organização dos torneios e a gestão das equipes. Mas, como na concorrência capitalista os mais fortes tendem a absorver os mais fracos, os clubes ou federações que não forem competentes para concorrer no mercado globalizado do esporte-espetáculo correm o risco de ficar cada vez mais marginalizados e podem até desaparecer (PRONI; ZAIA, 2007, p. 19-20).
Refletir sobre essas tendências é fundamental para pensar os rumos do
futebol brasileiro e catarinense dentro deste contexto globalizado.
O clube-empresa, ou, como Proni e Zaia (2007, p. 20) definem como futebol-
empresa, deve ser entendido de uma perspectiva histórica, como um novo modo de
organização esportiva que foi sendo conformado aos poucos em alguns países
centrais, depois se difundiu para outras regiões, que foi se tornando mais complexo
e assumindo diferentes modelos de natureza jurídica e de gestão econômica. Cabe
aqui, esclarecer como aconteceu a infiltração de uma mentalidade empresarial e
apontar algumas consequências deste processo.
Segundo Proni e Zaia (2007, p. 20), o primeiro impulso significativo nesta
direção ocorreu na Itália, na segunda metade da década de 1970, quando o Estado
passou a fiscalizar mais de perto essa atividade e forçou uma gestão menos
deficitária do futebol em razão da dívida dos clubes com a Previdência e das
denúncias de utilização de equipes para “lavagem de dinheiro” pela Máfia. Em
132
compensação, a televisão estatal passou a transmitir partidas selecionadas, uma
vez por semana, pagando aos clubes uma quota por transmissão. Posteriormente, o
escândalo da manipulação de resultados de jogos da loteria italiana e a crescente
comercialização do futebol levaram o Estado a intervir novamente e providenciar
mudanças no ordenamento jurídico das entidades esportivas.
A legislação italiana de esportes profissionais, aprovada em março de 1981,
apresentava apenas 14 artigos e caracterizava-se pelo seu caráter liberal, com
grande autonomia para os clubes, inclusive, permitindo se constituírem como
empresas comerciais (sem fins lucrativos) pertencentes a grupos econômicos
privados e criarem uma liga independente da federação nacional. No que diz
respeito à fiscalização da atividade futebolística profissional, foi criada a Cosicov,
comissão de vigilância designada para auditar os balanços dos times e exigir destes
uma administração mais responsável.
O passo seguinte para entender o que representou a adoção do futebol-
-empresa é olhar para a revolução do futebol inglês, que no início dos anos 1990 se
transformou numa atividade organizada em moldes completamente empresariais,
aprofundando a relação simbiótica com a televisão e conferindo uma nova dimensão
para o conceito de “clube-empresa”. Se a gestão profissional do esporte-espetáculo
já vinha exigindo uma revisão na mentalidade dos dirigentes, agora o que se
impunha era a conversão do time de futebol em empresa capitalista inserida em um
mercado regulado, mas bastante competitivo.
As mudanças implementadas abriram as portas para a capitalização dos
clubes, inclusive por meio de lançamento de ações na Bolsa de Valores de Londres
(que começou em 1991 com o Manchester United). A Liga Inglesa passou a ter seu
desempeno avaliado segundo critérios do mercado financeiro. Sem dúvida, esta
modernização representou uma ruptura com os princípios e instituições que
nortearam o esporte bretão por mais de cem anos (PRONI; ZAIA, 2007, p. 22).
Dessa forma, os executivos dessa área que pretendem ingressar no futebol
precisam aplicar processos administrativos que dominam com o objetivo de criar
uma organização eficiente não apenas fazendo uso da informática como também
procurando aplicar sistemas racionais de trabalho. Um dos conceitos da
administração é a busca de resultados específicos. Cabe ao administrador adaptar o
seu conhecimento às necessidades que surgem frequentemente nos clubes de
futebol. O profissional que nunca teve contato com o esporte nem vivenciou o dia a
133
dia de uma equipe, com os problemas que ali predominam, levará algum tempo para
se adaptar devido às particularidades do trabalho. Por outro lado, os ex-jogadores
(que não se especializaram nessa área) que pretendem desempenhar tal função
precisam contar com o apoio de uma bagagem teórica e prática de administração.
Esse fato é uma das razões do futebol brasileiro ainda não contar com muitos
profissionais dessa área (BRUNORO; AFIF, 1997, p. 47).
Entender a lógica de uma indústria ou qualquer outra atividade humana é imprescindível para participar dela com um mínimo de sucesso. Porém, se o que se quer é liderar e ganhar, estar à frente da concorrência, será necessário reinterpretar a lógica existente no momento, ser capaz de encontrar uma nova compreensão. Será preciso ir às raízes, às fontes, compreender bem a demanda, a oferta, os concorrentes... e repensar tudo (SORIANO, 2010, p. 13)
No futebol observam-se casos típicos de presidentes que tiveram sucesso em
suas atividades empresariais chegarem a um clube de futebol com a ideia de impor
exatamente a mesma lógica que funcionou para eles antes. Quase sempre se
esquecem de que o mundo da bola é muito diferente do mundo corporativo em
geral. Quando não alcançam o sucesso, são os primeiros a dizer “Acontece que isso
aqui do futebol é diferente, não é lógico”. Há uma lógica, sim, mas não é aquela na
qual você acredita e não se deu muito ao trabalho de descobrir (SORIANO, 2010, p.
13).
Outra questão pertinente nesse quesito do clube-empresa, é o fator
Planejamento. Todas as entidades e organizações, e por certo também as
desportivas, veem-se submetidas hoje em dia a uma mudança constante em seu
ambiente, em seus objetivos, em sua forma de atuar, em suas expectativas, na
disponibilidade de recursos.
Por tudo isso, as organizações, e também os indivíduos, veem-se obrigadas,
cada vez com mais frequência, a refletir sobre o caminho a abordar no futuro, sobre
o que fazer, para onde ir. Quer dizer, as entidades, e as pessoas, veem-se
compelidas a planejar (PARÍS ROCHE, 2002, p. 17). Segundo o jesuíta aragonês
Baltasar Gracían (apud PARÍS ROCHE, 2002, p. 17) planejar é “pensar antecipado”.
Quer dizer, depois de uma reflexão, prever e decidir o que você irá fazer. Muitos
autores aventuraram-se a elaborar definições de “planejar” ou de “planejamento”; ou
ainda, como disse Edward Quade (apud PARÍS ROCHE, 2002, p. 17), “o
134
planejamento é algo difícil de definir; existem demasiadas interpretações sobre o
que significa a palavra planejamento”.
Segundo París Roche (2002, p. 18) “planejar é estabelecer um objetivo e,
logo, determinar o curso da ação que se deve seguir para alcançá-lo”.
Sendo assim, um dos principais fatores para uma equipe de futebol
profissional tem para alcançar o seu objetivo, que é o título de um campeonato, é o
planejamento. Todas as empresas organizadas (e os clubes) que adotam posturas
profissionais sabem da importância do planejamento no desenvolvimento de uma
equipe.
As ações passam a ser executadas com mais segurança e,
consequentemente, de forma mais eficiente, pois as pessoas sabem exatamente o
que fazer, como e quando, sem improvisações, mas de maneira planejada. No
aspecto financeiro, o custo do futebol está se tornando cada vez mais elevado, e por
isso mesmo é imprescindível que os clubes comecem a trabalhar dentro de um
orçamento para que se evitem problemas futuros. Esses dados têm de ser
analisados e discutidos com o departamento de futebol com certa antecedência, pois
sem tais informações, o planejamento será pura utopia. Não basta, também, que a
diretoria e a comissão técnica determinem os atletas que poderão ser negociados e
as posições que necessitam de reforços.
É preciso que os clubes adotem uma política salarial, encontrando fórmulas
que não inflacionem a folha de pagamento (BRUNORO; AFIF, 1997, p. 67).
4.1 PLANEJAR E DIRIGIR
O planejamento é um processo inseparável da direção. Evidentemente, não é
o único fator que determina a natureza de um cargo de direção. Porém, certamente,
é o primeiro e um dos mais importantes. Se existe um elemento-chave na direção
das organizações, este é, sem dúvida, o planejamento. Quer dizer, a análise no
ambiente, a previsão, a fixação de objetivos, a escolha de estratégias, a seleção de
projetos e programas. O planejamento, e especialmente o planejamento estratégico,
faz parte do trabalho diário de quem exerce o cargo de direção, porém é difícil
135
diferenciar nesse trabalho diário, quando se está “planejando”, “organizando”,
“coordenando”, “informando”, etc. (PARÍS ROCHE, 2002, p. 19).
Segundo París Roche (2002, p. 19), a existência de um planejamento formal
em uma empresa ou organização, além de auxiliar o diretor na tomada de decisões,
contribui para facilitar outras tarefas ou funções dos mesmos, pois:
� O planejamento constitui um canal fundamental de informação e comunicação em toda a organização; � Em conseqüência, o planejamento formal, se é conhecido pela organização ajuda o trabalho de coordenação do diretor; e � O planejamento é um processo que, ao incorporar mecanismos de controle de avaliação, proporciona uma base para medir a eficácia da entidade e auxilia o diretor a adotar as medidas de correção necessárias (PARÍS ROCHE, 2002, p. 20)
Em suma, nenhum diretor está cumprindo por completo suas
responsabilidades ao descuidar do planejamento estratégico, já que este é função e
responsabilidade de todo diretor em todos os níveis de uma organização (clube).
Sem dúvida, é óbvio que as responsabilidades do planejamento dos diretores variam
de forma importante de acordo com os diferentes tipos de organização e níveis
organizacionais.
4.2 ADMINISTRAÇÃO GERAL DE FUTEBOL
4.2.1 Vice-Presidência e Diretoria de Futebol
Segundo Brunoro e Afif (1997, p. 49), a autoridade máxima de um
departamento de futebol é o vice-presidente da área ou o diretor caso o clube, de
acordo com seus estatutos, não adote a figura do vice-presidente em seus
departamentos. Essa função é delegada pelo presidente do clube, que detém o
poder geral em todas as áreas e a qualquer momento pode substituir os membros
de sua diretoria se julgar necessário, já que essas pessoas não possuem cargos
eletivos. O vice-presidente de futebol, por força estatutária dos clubes, não pode
receber nenhum tipo de remuneração. O mesmo se aplica aos demais dirigentes.
Apesar disso, o vice de futebol ocupa um posto de muita importância dentro da
136
estratégia de futebol das agremiações porque todas as decisões de maior
relevância, que ocorrem na diretoria de futebol, passam por ele. As principais
atribuições são:
� Acompanhamento diário dos trabalhos realizados pelo setor;
� Análise das despesas do departamento;
� Participação no planejamento da diretoria com o diretor executivo e demais
profissionais;
� Definição da política salarial e das premiações do elenco;
� Análise e solução dos problemas pendentes;
� Prestação de contas ao presidente do clube;
� Atendimento a empresários, patrocinadores, imprensa, etc.;
� Contatos com diretores dos demais departamentos do clube;
� Contatos com os diretores de futebol de outros clubes;
� Participação em reuniões e festas do clube;
� Representação do clube em competições internacionais;
� Representação do clube em eventos esportivos ou reuniões no exterior;
� Representação do clube na federação e na Confederação Brasileira de
Futebol (CBF);
� Estudo de novas contratações;
� Renovação de contratos;
� Reuniões com a comissão técnica e o elenco de jogadores;
� Reuniões com o diretor executivo e os demais dirigentes; e
� Reuniões com a assessoria de imprensa.
Os diretores de futebol são as pessoas de confiança do presidente do clube e
do vice de futebol. Além das atribuições políticas, os diretores colaboram com o vice
da área em funções predefinidas para que a diretoria não fique sobrecarregada e
possa desempenhar suas atividades com eficiência e agilidade.
Dessa forma, um diretor pode cuidar de contratos, outro das viagens, um
terceiro dos regulamentos e assim por diante (BRUNORO; AFIF, 1997, p. 50).
A divisão de tarefas e responsabilidades traz benefício enorme para a
harmonia do departamento e dos jogadores. Primeiro, porque permite que todos
possam manter suas atividades profissionais sem prejudicá-las. Segundo, porque os
diretores passam a ser respeitados por sua eficiência. Contudo, para que essas
funções sejam aperfeiçoadas, é necessário que os dirigentes tenham menos paixão
137
e sejam mais racionais para colher melhores resultados. No Brasil, vários fatores
dificultam a atuação de uma diretoria, muitas vezes pelas próprias distorções que
ainda ocorrem tanto internamente quanto nas federações. Para atuar de dirigente no
futebol de forma competente, os dirigentes têm que entender a abrangência do
cargo que ocupam. Para isso, é imprescindível o conhecimento da legislação do
futebol, do funcionamento do departamento e de todos os detalhes que compõem o
dia a dia de uma equipe. Caso contrário, o trabalho executado terá possibilidades de
fracasso.
Em se tratando de um clube de futebol, está se tratando com pessoas. Desta
forma, os dirigentes de futebol deveriam saber ou entender de gestão de pessoas.
Segundo Chiavenato (2004, p. 10) “gestão de pessoas é a função que permite a
colaboração eficaz das pessoas”. Num clube de futebol, dirigentes – comissão
técnica – jogadores – demais funcionários do clube. E essa gestão, passa por saber
que se um clube de futebol ao final de toda temporada se desfaz de mais de 30% de
seu elenco ficará enfraquecido para a próxima temporada. Pois, perderá em unidade
e entrosamento. Exemplo: o que aconteceria com uma empresa que troca
praticamente todos os seus funcionários de um ano para o outro? Provavelmente ela
não cresceria e penderia ao fracasso. E isso, ocorre a todo instante no futebol.
4.2.2 Diretor Executivo
Nos países em que o futebol é mais desenvolvido em sua organização, os
clubes contam com modelos administrativos exemplares e profissionais com funções
específicas. No Brasil, o departamento de futebol dos clubes tem profissionais para
quase todas as funções, raros são os diretores executivos. Por mais que o dirigente
de uma agremiação tente acumular essa atividade com seu trabalho na iniciativa
privada, ele não terá condições de resolver todos os assuntos que, invariavelmente,
aparecem com frequência na rotina do futebol. A presença de um diretor executivo
torna-se necessária porque, além de sua familiaridade com as coisas do esporte, ele
ainda atua no clube em tempo integral e absorve todos os problemas para depois
discuti-los com a diretoria. Inicialmente, a presença de um profissional nessa área
pode causar algum constrangimento junto aos demais diretores de futebol. Por isso
138
mesmo, é muito importante que saiba qual será o papel que esse executivo irá
desempenhar e quais as tarefas que eles terão sob sua responsabilidade. A
presença desse executivo não elimina, necessariamente, a de outros dirigentes, pois
sua função é mais ampla e diferenciada. A admissão de um executivo do futebol
permite o agrupamento de objetivos existentes em outros departamentos, o que
acabará por beneficiar a própria diretoria (BRUNORO; AFIF, 1997, p. 51).
Pois, quanto menor for o número de problemas existentes na comissão
técnica e no elenco de jogadores, maior será a probabilidade de sucesso da equipe
em uma competição. Por isso, o diretor executivo deverá sempre buscar a harmonia
do departamento, criando um relacionamento cordial com todas as pessoas e
procurando eliminar eventuais divergências que venham a acontecer no elenco. O
executivo do futebol precisa criar condições para que o técnico tenha tranquilidade
para implantar seu método de trabalho. Se o diretor técnico é o responsável por tudo
aquilo que acontece dentro de campo, o diretor executivo também tem
responsabilidade semelhante na administração.
Dentro do princípio de modernização administrativa do futebol, a principal
figura é o diretor executivo, que passaria a ter mais poderes. Esse profissional,
especializado em administração esportiva e com vivência no futebol, deve incorporar
à sua função todas as qualidades inerentes ao diretor de uma grande empresa, que
tem sob sua responsabilidade diversos departamentos em que o desempenho é
avaliado e cobrado periodicamente. Cada um deles terá planejamento próprio, com
objetivos traçados para diversas situações de curto, médio e longo prazo.
Entretanto, a figura de um diretor executivo no futebol é um pouco atípica em
relação a um diretor de empresa. É importante que o profissional dessa área tenha
noção dos bastidores do futebol, conhecendo as reações do atleta, que não pode
ser tratado como um produto frio porque um jogador tem reações típicas de qualquer
ser humano. Tudo isso, o diretor executivo terá de saber conduzir e fazer com que
cada departamento sob seu domínio observe essas reações. Caso não traga essa
experiência clubística, deverá trabalhar bastante para aprender tudo àquilo que
ocorre na área e, assim, saber como desenvolver seu projeto (BRUNORO; AFIF,
1997, p. 52).
Os benefícios que um diretor profissional traz ao clube de futebol são
imensos. Primeiro porque é um executivo especializado no segmento esportivo, com
tempo para resolver todos os problemas, cobrar atitudes, estar junto ao elenco de
139
jogadores. Outra vantagem é que a organização que o contratou poderá cobrar o
seu trabalho. Aliás, é importante que clube ou empresa, ao contratar um profissional
para essa função, dê algum tempo para que ele possa diagnosticar todo o
departamento de futebol, conhecer todos os problemas e todas as situações
positivas que o clube apresenta e possa elaborar um grande planejamento e
entregá-lo a quem o contratou. O tempo para esse diagnóstico é importantíssimo
para que o executivo possa conhecer melhor quem são as pessoas que integram o
departamento, como é o esquema de trabalho, qual a área física do clube e o seu
potencial econômico. Tudo isso é necessário para que ele saiba se há necessidade
de criar outros departamentos ou se pode manter e aprimorar os existentes. O prazo
para esse trabalho pode variar de um a três meses.
A partir desse diagnóstico, aí sim, ele poderá fazer o planejamento de todos
os departamentos que compõem sua diretoria. O ideal é que o diretor executivo
tenha autonomia para realizar suas ações e coordenar todos os departamentos
internos que fazem parte da administração geral do futebol. É fundamental saber até
onde vai o poder desse profissional. Quanto mais agilidade os departamentos
tiverem, melhor. Para simplificar, pode-se dizer que o diretor executivo irá criar uma
empresa de futebol, autônoma, dentro do clube (BRUNORO; AFIF, 1997, p. 53).
Segundo Brunoro e Afif (1997, p. 54), após o conhecimento exato de cada
área sob sua responsabilidade, o diretor executivo terá de elaborar um plano de
desenvolvimento, ou aprimoramento, para a diretoria de futebol. Esse planejamento
deverá ter prazo não inferior a três anos, tempo necessário para sua adaptação e
plena funcionalidade. Dessa forma, haverá condições para que o processo de
estabilidade e continuidade não atrapalhe a administração, muito menos a comissão
técnica. Esse plano deverá incluir todos os departamentos a ser criados
exclusivamente para a diretoria de futebol, ou seja:
1. Departamento técnico de futebol (setor de futebol profissional e setor de
futebol amador);
2. Departamento administrativo de futebol;
3. Departamento de marketing de futebol;
4. Departamento de recursos humanos de futebol;
5. Departamento financeiro de futebol; e
6. Departamento de patrimônio de futebol.
140
Cada departamento deverá ter um gerente responsável pela execução do
planejamento criado que observará o cumprimento das metas traçadas. O
departamento técnico de futebol terá dois gerentes: um para o setor do futebol
profissional e outro para o setor do futebol amador (categorias de base). O
departamento de recursos humanos terá um encarregado do futebol porque esse
departamento poderá ser o já existente na própria estrutura dos clubes (BRUNORO
e AFIF, 1997, p. 54).
Figura 2 – Organograma da Diretoria de Futebol Fonte: Brunoro; Afif, 1997, p. 58.
DIRETORIA DE
FUTEBOL
DIRETOR EXECUTIVO
DEPARTAMENTO
TÉCNICO
SETOR DE FUTEBOL
PROFISSIONAL
GERENTE
SETOR DE FUTEBOL
AMADOR
GERENTE
DEPARTAMENTO
ADMINISTRATIVO
GERENTE
DEPARTAMENTO DE
MARKETING
GERENTE
DEPARTAMENTO DE
RECURSOS HUMANOS
ENCARREGADO
DEPARTAMENTO
FINANCEIRO
GERENTE
DEPARTAMENTO DE
PATRIMÔNIO
GERENTE
141
4.2.3 Departamento Técnico de Futebol
Entre os departamentos que compõem a diretoria de futebol, o mais
importante é o técnico por ser aquele que dirige o futebol de forma direta. Por isso,
tal área foi dividida em dois setores, com duas gerências distintas: o setor de futebol
profissional e o setor de futebol amador. As ações desse departamento ocorrem em
duas situações: a primeira, de médio prazo, em que se estabelece a formatação do
trabalho necessário ao desenvolvimento ideal de uma equipe, em que se
determinam a comissão técnica ideal, o número de pessoas compatíveis, a
composição da equipe médica, a relação dessas áreas com o futebol amador, etc.
Ainda nessa primeira etapa, estabelece-se como deverá ser o atendimento
administrativo em função do departamento técnico. No final dessa fase, todos os
departamentos deverão interagir de forma perfeita, passando a contribuir para o
andamento necessário do departamento técnico naturalmente e com eficiência. A
segunda situação já prevê o cumprimento das metas de curto prazo estipuladas para
o departamento técnico, que são os objetivos traçados em relação às competições
da equipe. É bom lembrar que, para cada campeonato ou torneio de que um time
venha a participar, haverá necessidade de um planejamento (BRUNORO; AFIF,
1997, p. 59).
O departamento técnico é subordinado diretamente à diretoria de futebol. No
setor de futebol profissional a figura do gerente é a ligação com a diretoria, cabendo
a ele a responsabilidade do cumprimento das metas do setor e o entrosamento com
o departamento administrativo para que não aconteça nenhum tipo de problema que
possa afetar a equipe. O diretor técnico, que aqui no Brasil é tratado simplesmente
como técnico, é o profissional responsável pelo comando do time. Além de orientar
taticamente os jogadores nos treinos e nas partidas, ele deverá criar um ambiente
favorável ao entrosamento entre os técnicos das categorias de base com o objetivo
de descobrir novos talentos que possam ser aproveitados no time profissional. Os
preparadores físicos, médicos e demais auxiliares respondem diretamente ao seu
comando dentro de uma escala hierárquica (BRUNORO; AFIF, 1997, p. 59).
A organização de futebol de cada equipe deve, no entanto, ser elaborada de
acordo com suas características e, principalmente, com sua condição econômica.
Mesmo que um clube não tenha grandes recursos financeiros, porém, é importante
142
que procure conduzir suas ações com seriedade e profissionalismo. Em algumas
áreas do futebol, como fisiologia e a nutrição, por exemplo, as equipes poderão
contar com esses serviços por meio de uma assessoria, ou, convênios com as
universidades da região, que ganhariam o direito de poder usar os dados obtidos
nos testes, na forma de produção de conhecimento científico. Desta forma,
dispensando a diretoria de investir em equipamentos. Já nas funções
administrativas, o gerenciamento poderá ser centralizado em uma única pessoa.
Pelo que representa o setor do marketing na geração de receita, é imprescindível
que uma equipe sempre tenha um profissional dessa área.
4.2.4 Gerente de Futebol
O gerente de futebol é o profissional de confiança absoluta do diretor
executivo. Ambos deverão ter entrosamento perfeito, pois o diretor deve estar a par
de tudo o que acontece no futebol, o grande produto de um clube. O planejamento
do departamento é executado entre o diretor, o gerente e a comissão técnica. Nessa
situação, o gerente participará, em conjunto com toda a diretoria, da contratação de
profissionais para a formação da comissão técnica e de jogadores para o elenco.
É o gerente de futebol quem irá fazer os contatos com os atletas em vista e
mesmo negociar aqueles que se apresentam em disponibilidade. Além de estar
ligado diretamente ao planejamento da comissão técnica do time principal para
determinado campeonato, ele, ainda deverá ficar em contato permanente com o
gerente de futebol amador para conhecer quais são os jogadores que se destacam,
fazendo com que haja apoio imediato a esses atletas para descobrir se eles
possuem qualidades para integrar o elenco de profissionais.
É o gerente de futebol quem executará o plano estabelecido para o
departamento, ou seja, quem o viabilizará no dia a dia. Todo o planejamento tem
custos, portanto, o gerente deverá estar a par de tudo aquilo que é gasto pelo
departamento por um balancete mensal. As ações de um gerente de futebol são
inúmeras. Cobrar do departamento administrativo a regularização de atletas para a
inscrição na federação, participar das reuniões do departamento técnico e, caso
apareça um problema de maior gravidade, levá-lo ao conhecimento do diretor
143
executivo para as devidas providências, essas são algumas de suas atribuições
(BRUNORO; AFIF, 1997, p. 61).
O setor de futebol amador também terá seu próprio gerente, com
responsabilidades semelhantes às do executivo do setor profissional, apesar de ser
menos cobrado publicamente. O gerente do setor amador deverá conversar muito
com os técnicos, observando os jogadores que mostram boas qualidades nas
equipes de base. Paralelamente, terá de criar uma rede de informantes (“olheiros”,
ou, observadores técnicos), que indicarão os jogadores que se destacam nos outros
clubes nas mais diversas regiões do país e, que possivelmente possam a vir integrar
as categorias de base do clube. O gerente de futebol amador terá papel importante
junto aos atletas que estão iniciando carreira, pois deverá saber como orientar esses
jovens dentro e fora de campo. Para isso, precisará contar com uma equipe
multidisciplinar de apoio a esses jogadores que tenha inclusive psicólogo e
assistente social (BRUNORO; AFIF, 1997, p. 62).
4.2.5 Departamento de Suporte ao Futebol
O futebol não pode ser trabalhado isoladamente. Os clubes devem
reconhecer que uma equipe depende da ação de várias áreas para seu
funcionamento perfeito. Quanto mais organizadas estiverem essas áreas que
servem de suporte ao futebol, mais tranquilidade terá o departamento técnico para
alcançar seus objetivos.
Por isso, a diretoria geral de futebol tem de criar esses departamentos, que
ficarão subordinados a ela, não mantendo nenhuma relação com as demais
atividades de um clube. A criação desses departamentos dará mais agilidade às
coisas do futebol, e a diretoria terá o controle minucioso de todas as áreas, que
também terão mais eficiência porque serão gerenciadas por profissionais em tempo
integral. Todos os departamentos deverão apresentar suas metas dentro do
planejamento de três anos e o quadro funcional necessário para a realização dos
trabalhos. Semanalmente, os gerentes dos departamentos se reunirão com o diretor
executivo para relatar o andamento dos serviços e apresentar eventuais problemas
(BRUNORO; AFIF, 1997, p. 63).
144
4.2.5.1 Administrativo
Todos os assuntos burocráticos do departamento técnico (futebol profissional
e amador) passam pelo departamento administrativo, principalmente a regularização
de transferências de jogadores. Qualquer documentação que diga respeito ao
registro ou à liberação de um atleta deve ser sempre encaminhada à federação de
futebol do estado ao qual o clube pertence, pois é ela que efetua os contatos com a
CBF, que por sua vez mantém intercâmbio com a FIFA. Esse departamento será
comandado por um gerente, que terá dois auxiliares administrativos: um para o
futebol profissional e outro para o futebol amador. Os membros desse departamento
deverão possuir conhecimentos específicos da rotina administrativa do futebol e
estar bem familiarizados com todos os impressos da federação e da CBF, bem
como, com guias de recolhimento dessas instituições e do Fundo Nacional de
Desenvolvimento do Desporto (FUNDESP). Cada vez que ocorre uma transferência
ou aquisição, por empréstimo ou em definitivo, as federações e a CBF cobram taxas
que variam de acordo com o tipo da transação. Além dessas taxas, os clubes
deverão recolher ao FUNDESP o valor correspondente a 1% do montante de luvas e
salários (englobados) conforme determina a Lei Zico (BRUNORO; AFIF, 1997, p.
63).
Esse departamento tem muita importância no futebol do clube, pois se as
inscrições dos jogadores forem demoradas, ou pior, não forem realizadas
corretamente, o jogador não poderá entrar em campo e, isso é prejuízo imediato ao
clube. Pois, cada vez que a equipe entra em campo, o gerente de futebol tem que
entregar as identidades dos jogadores ao representante da federação para a
elaboração da súmula de jogo, se o jogador não estiver inscrito (regularizado), este
fica impossibilitado de atuar.
4.2.5.2 Marketing
Para Melo Neto (2007, p. 17), o esporte brasileiro sofreu uma grande
transformação no final dos anos de 1970 e início dos anos de 1980. Foi nessa época
145
que surgiram empresas que começaram a investir nos esportes para obter retorno
publicitário e de vendas. A partir daí, então, as empresas começaram a utilizar o
esporte como uma forma de marketing institucional e promocional, definindo as
melhores alternativas de promoção e patrocínio esportivo.
Dentro de uma proposta de modernização do futebol, o marketing é uma das
peças fundamentais para o êxito de um clube. Com relação ao futebol, o
departamento de marketing cuidará da comunicação, estendendo sua abrangência à
função de relações públicas. Além de captar recursos, esse departamento terá um
setor de imprensa para a comunicação com o público em geral. O marketing será
liderado por um gerente com grande experiência no mercado empresarial, que por
sua vez, ficará encarregado de formar uma equipe de assessores para o trabalho de
campo, com vistas a elevar e selecionar o número de empresas licenciadas que
fabricarão produtos com a marca do time. Ao assessor de imprensa do
departamento, caberá a função de mostrar a mídia tudo aquilo que o marketing vem
conseguindo para o clube e ainda preparar textos promocionais para envio aos
torcedores que escreverem e-mails e associados do clube.
Esse departamento também ficará encarregado de realizar promoções junto
ao público, no estádio e pelos veículos de comunicação. As escolas de futebol do
clube poderão levar os seus alunos ao estádio em dias de jogos, para que as
crianças possam ter contato com os jogadores em campo (antes do início das
partidas). Na época de Natal, por exemplo, os componentes do departamento
poderão promover uma campanha de arrecadação de brinquedos para doações em
orfanatos. Essas ações trazem recursos para a equipe e, de outro, criam uma
imagem excelente do clube (BRUNORO; AFIF, 1997, p. 64).
Corroborando com isso, Melo Neto (2007, p. 34) define marketing esportivo
como “um tipo de marketing promocional”. Ele diferencia o marketing esportivo do
marketing publicitário tradicional pelos seguintes motivos: dá chance do consumidor
participar ativamente deste mercado; e possibilita uma ótima resposta ao nível de
imagem e de vendas, pois atinge o consumidor de forma mais rápida e direta.
Mesmo que o consumidor não queira, ele tem contato direto com a marca espantada
na camisa do clube que ele é simpatizante.
Também é possível através do esporte a regionalização da mídia e
segmentação de mercado. Ao vincular a marca da empresa ao esporte, ela obtém
alto poder de penetração na mente do consumidor, pois o momento encontra-se
146
disponível para aquela situação. Uma das vantagens do marketing esportivo é sua
capacidade de fixação da marca ou do produto da empresa investidora na mente do
consumidor (MELO NETO, 2007, p. 26 e 27). Os torcedores aficionados pelo futebol
ou o mercado de simpatizantes de um clube são os potenciais consumidores de um
bem (CARDIA, 2004, p. 21). Para Melo Neto (2007, p. 31) “a segmentação é a maior
vantagem do marketing esportivo”. Os atributos e características do marketing
esportivo fazem dele uma ação de baixo custo, de grande eficácia, e o torna
indispensável em qualquer plano estratégico de marketing e comunicação para
empresas que se destacam pela liderança em seus mercados e pela excelência
empresarial (MELO NETO, 2007, p. 35).
Essa regionalização da mídia através de patrocínios dos produtos regionais
nos clubes de futebol de Santa Catarina é evidente.
4.2.5.3 Financeiro
O departamento financeiro controlará o fluxo de caixa do futebol. Os controles
desse departamento serão feitos por relatórios de despesas e receitas, balancetes
mensais e balanços anuais. As atividades desse departamento englobarão as
mesmas que há em qualquer empresa estruturada.
O gerente financeiro será o profissional responsável pelo pagamento dos
atletas e pelo cumprimento das diretrizes determinadas pela diretoria, como por
exemplo, no que diz respeito aos gastos do clube. As equipes de grande potencial
econômico, nesse caso, precisam contar com os serviços de um profissional de alto
nível para gerenciar a área (BRUNORO; AFIF, 1997, p. 64).
4.2.5.4 Recursos humanos (RH)
É o responsável pela vida funcional do departamento técnico, desde a parte
de registros até a criação de um programa de carreira para os funcionários, sempre
de acordo com a política determinada pela diretoria do clube. Conforme os recursos
147
do clube, também poderão ser criados planos de incentivo com o objetivo principal
de premiar os atletas por sua produtividade. Os jogadores que chegarem à seleção
brasileira ou forem promovidos das categorias de base para o elenco de
profissionais também poderão ser contemplados com uma compensação financeira.
A constituição do departamento de RH moderno deverá ser precedida de
estudos de viabilização da melhor política a ser adotada pelo clube, o que não
ocorre atualmente. Nas empresas organizadas, o RH ocupa posição de destaque,
principalmente na motivação e atualização dos funcionários.
Nos clubes de futebol, o RH estará muito ligado ao departamento
administrativo. As agremiações que possuírem um departamento de RH bem-
-estruturado poderão apenas criar uma divisão de futebol, designando um
encarregado com funções exclusivas, voltadas para a vida funcional de todos os
atletas (BRUNORO; AFIF, 1997, p. 65).
4.2.5.5 Patrimônio
Caso o clube ainda não tenha estrutura adequada, o diretor executivo e o
gerente dessa área devem criar um plano-piloto de obras com um cronograma que
determine o prazo de cumprimento de cada etapa dos trabalhos.
Esse plano pode abranger as reformas de que o estádio precise, como
vestiários e locais de treinamento, e ainda a execução de um centro de
treinamentos. Depois de concluídas essas obras vêm à fase de manutenção,
igualmente importante, que deverá ter programação adequada, ou seja, a verificação
de que os campos estão com irrigação adequada, os gramados estão sendo bem
cuidados, com respeito ao descanso do piso, entre outros.
Observam-se as bases teóricas na estrutura organizacional de um clube-
-empresa, a fim de entender melhor as suas transformações levando em conta a,
centralização, coordenação e a complexidade. Expõe-se o quadro elaborado por
Rodrigues e Silva (2009, p. 27) a seguir:
148
Tabela 18 – Definição Operacional de Estrutura
Subc ategorias Indicadores Detalhamento
Complexidade
Divisão do Trabalho
Hierarquia
Departamentalização
É o modo como o trabalho é dividido na organização.
Caracteriza a diferenciação horizontal
Refere-se à distribuição de autoridade em diferentes níveis. Caracteriza a diferenciação vertical. É o agrupamento das atividades em unidades administrativas.
Coordenação
Ajuste Mútuo
Supervisão Direta
Padronização
Formalização
Coordenação do trabalho pelo processo simples da comunicação informal. Atribuição da responsabilidade das atividades de um grupo para apenas um indivíduo. Realiza a coordenação a partir da padronização das habilidades, dos processos e dos produtos. Grau em que são explícitas as regras, as normas, políticas e procedimentos que governam as atividades organizacionais.
Centralização
Tomada de Decisão
Avaliação de
Recursos
Descreve o grau em que a autoridade está concentrada e o nível de participação dos membros. Reflete o grau em que os resultados são avaliados por níveis hierárquicos superiores.
Fonte: Rodrigues e Silva (2009).
Desta forma, pode-se ter a noção de como uma organização empresarial
(clube-empresa) deve ser organizada para ser denominada devidamente como tal. E
através desse relato, considera-se que existe uma desigualdade enorme entre o
planejamento e a administração dos clubes europeus e brasileiros, sintetizando-se
em pouco profissionalismo, salvo raras exceções. Sem esse profissionalismo, não
existe preocupação com os serviços prestados, os poucos produtos dos clubes não
têm preços condizentes com a realidade econômica, deixando assim, caminho livre
para a pirataria. Os estádios são de péssima condição de uso e antigos. Falta
segurança, limpeza e conforto e, os preços das entradas abusivos, o que afasta os
torcedores exigentes e preocupados com essas questões. O que na Europa isso não
acontece, pois todos os clubes de futebol seguem um padrão de administração
como uma empresa, que deve obter lucro, totalmente profissional.
149
4.3 GESTÃO DOS CLUBES DE SANTA CATARINA: FIGUEIRENSE FUTEBOL CLUBE, AVAÍ FUTEBOL CLUBE, CRICIÚMA ESPORTE CLUBE E JOINVILLE ESPORTE CLUBE
Serão abordados neste item do trabalho os aspectos relacionados à forma de
gestão dos quatro clubes catarinenses relacionados acima. Lembrando que, quanto
ao Figueirense Futebol, os dados serão referenciados a partir de um artigo publicado
referente à estrutura empresarial em clubes de futebol. Do Avaí Futebol Clube dados
referenciados a de um artigo com base em análise de gestão de relacionamento e o
seu estatuto. Quanto ao Criciúma Esporte Clube e Joinville Esporte Clube (JEC)
serão abordados dados dos respectivos estatutos.
4.3.1 Figueirense Futebol Clube
O Figueirense Futebol Clube foi fundado em 21 de junho de 1921, e sua
história pode ser dividida em dois momentos:
[...] de acordo com os entrevistados, o primeiro, compreendido entre os anos de 1921 e 1998, e um segundo, inicia em 1999 e se mantém até o presente momento. No primeiro período, de acordo com os entrevistados 3, 6 e 7, o clube sempre teve a mesma forma de administrar as suas atividades. Ou seja, na percepção deles, o modelo de gestão adotado pelo clube era caracterizado pelo amadorismo na gestão, pelo voluntariado da presidência e pela dificuldade em obter recursos e patrocínios. Tais características, segundo eles, impediam o clube de obter resultados dentro e fora de campo e, consequentemente, impossibilitavam-no de estar na elite do futebol brasileiro (RODRIGUES; SILVA, 2009, p. 27).
Os autores seguem relatando que, mais tarde, buscou-se reverter à situação
na qual o clube se encontrava:
Conforme o entrevistado 4, identificando uma oportunidade de mercado, em 1999, quatorze empresários da região realizaram um aporte financeiro e lançaram uma nova proposta de administração do clube: a gestão profissional (quando surge a Figueirense Participações). A importância e a função da Figueirense Participação S/A para o Figueirense podem ser compreendidas a partir da declaração do entrevistado 7: a Figueirense Participações cumpre um papel muito importante na transformação do Figueirense em clube-empresa, constituindo-se como braço do Figueirense, responsável por explorar esse business que é o futebol (RODRIGUES; SILVA, 2009, p. 27)
150
Segundo Rodrigues e Silva (2009, p. 28) mais que isso, apontado pelos
entrevistados como responsável para lançar essa ideia, Paulo Prisco Paraíso, em
uma entrevista à Revista Catarinense do Administrador, esclarece as ações iniciais
dessa nova parceira:
Quando implantamos a gestão profissional em dezembro de 98, encontramos um clube que tinha uma administração informal, não havia procedimentos nem ferramentas administrativas [...] Quando o conselho assumiu, priorizamos quatro ações; a primeira delas foi justamente colocar ordem na casa, ou seja, criar as rotinas administrativas que não existiam; a segunda foi sanear as dívidas através de parcerias e negociações; a terceira ação foi recuperar um patrimônio que estava dilapidado; por fim, fizemos pesados investimentos no Departamento de Futebol Profissional e nas divisões de base, afinal, o “produto” do clube é o seu atleta.
Após todas essas transformações, o Figueirense sofreu profundas
modificações como discorre o entrevistado 5: “o clube mudou completamente,
quando eles assumiram o clube, mudaram completamente a maneira como esse
clube estava organizado, mudando principalmente a parte de como administrar”
(RODRIGUES; SILVA, 2009, p. 29).
A Figueirense Participações S/A, em junho de 2004 tem como competências,
a gestão da marca “Figueirense”, o departamento de futebol e a viabilização de
investimentos. O contrato original previa 10 anos de duração com opção de
renovação por mais 10 anos (por tanto até 2024). Em 22 de setembro de 2009, o
Figueirense Futebol Clube respeitando o prazo contratual de seis meses, para
comunicar a intenção de finalizar o atual modelo de contrato a partir de 21 de março
de 2010. O Conselho Deliberativo do clube monta comissão para tratar com a
Figueirense Participações S/A sobre o contrato de gestão e estudar planos
alternativos. Em 18 de novembro de 2009, alterações contratuais são propostas pela
Figueirense Participações S/A. Em 02 de dezembro de 2009 – Figueirense Futebol
Clube avalia e decide rejeitar a proposta com as alterações contratuais no modelo
de gestão apresentada pela Figueirense Participações S/A.
Em 15 de dezembro de 2009, o Figueirense Futebol Clube entrega
correspondência à Figueirense Participações S/A para oficializar a rejeição da
proposta. Em 21 de dezembro de 2009, a comissão do Conselho Deliberativo emite
nota para comunicar que a partir de 21 de março de 2010 irá assumir o controle da
gestão do clube, e que está aberta para investidores, inclusive a Figueirense
Participações S/A. Em 22 de dezembro de 2009 – A Figueirense Participações S/A
151
anuncia mudanças no modelo de gestão e o presidente da empresa, Paulo Prisco
Paraíso, afirma que o contrato será encerrado em 2024. Em 23 de dezembro de
2009, o Conselho Deliberativo mantém a posição de que o contrato será encerrado
em 21 de março de 2010 (Zero Hora, 23 de dezembro de 2009).
Através desses relatos, pode-se afirmar que o Figueirense Futebol Clube
possui fortes traços empresariais em sua gestão. Nota-se que o clube, privilegiou
três áreas dessa gestão. Marketing, Futebol e Financeira. O Marketing para
desenvolver a imagem e, consequentemente, reter torcedores e, num futuro angariar
mais, atrair patrocinadores e captar recursos de cotas de televisão. A área de
Futebol (equipe de futebol), além de conquistar títulos e visibilidade nacional,
auxiliando na consolidação da imagem do clube, busca, por meio da formação e
comercialização de atletas, obterem resultados financeiros, sendo, a venda dos
jogadores da categoria de base ou, aproveitando-os na equipe profissional, não
precisando gastar tantos recursos financeiros para contratar jogadores caros. A área
Financeira torna-se necessária devido à clara necessidade de controle dessas
ações.
4.3.2 Avaí Futebol Clube
O Avaí Futebol Clube é uma sociedade civil, fundada no dia 1.º de setembro
de 1923. A organização do clube é definida da seguinte maneira no Estatuto do
clube:
� Assembleia Geral;
� Conselho Deliberativo;
� Presidência do Clube;
� Diretoria;
� Conselho Fiscal; e
� Conselho Consultivo.
Segundo o Estatuto do clube no seu art. 39. A Assembleia Geral é o poder
supremo do Clube, soberano em suas decisões, constituindo-se de todos os sócios
Fundadores, Beneméritos, Patrimoniais e Contribuintes, maiores de 18 (dezoito)
152
anos, que se encontrem em gozo de seus direitos estatutários e constem, na data de
convocação, com 1 (um) ano, no mínimo, de filiação ao Avaí F. C.
Art. 41. Compete exclusivamente a Assembléia Geral: a) eleger, por aclamação, seu Presidente e Secretário; b) proceder a eleição dos membros do Conselho Deliberativo; c) julgar, em último recurso, qualquer ato do Conselho Deliberativo; d) resolver sobre a dissolução, fusão ou incorporação do Avaí F. C., bem como sobre a destinação do patrimônio líquido, fixado o "quorum" mínimo de 4/5 (quatro quintos) de sócios habilitados para sua instalação, sendo que suas deliberações serão tomadas pelo voto favorável de pelo menos 2/3 (dois terços) dos presentes; e) Destituir os membros da Presidência do clube, bem com, os demais membros da Diretoria, assegurado o direito de defesa; f) alterar o Estatuto.
No art. 44. O Conselho Deliberativo é o órgão de manifestação coletiva dos
associados, constituído de sócios maiores de 18 (dezoito) anos, devidamente
associados ao Avaí F.C. há, pelo menos, 1 (um) ano, e em pleno gozo de seus
direitos estatutários, eleitos pela Assembleia Geral, para o mandato de 4 (quatro)
anos, e será composto por:
a) membros natos; b) membros eleitos. Art. 45. São membros natos do Conselho Deliberativo os ex-presidentes do Clube, bem como os ex-presidentes do Conselho Deliberativo, desde que tenham exercido qualquer dos cargos em caráter efetivo e que não tenham sofrido as penas estabelecidas na alínea "n" do art. 53, desde Estatuto. Art. 46. O número de Membros Eleitos do Conselho Deliberativo será fixado em, no mínimo 100 (cem), e, no máximo, 300 (trezentos) Conselheiros. § 1º O Edital de Convocação da Assembléia Geral Ordinária para a eleição do Conselho Deliberativo fixará número de membros a serem eleitos, observado o disposto no “caput” deste artigo.
Rege o Estatuto do clube que, compete ao Conselho Deliberativo:
a) eleger seu Presidente, Vice-Presidente e Secretários; b) eleger e empossar, quadrienalmente, até o dia 20 (vinte) do mês de dezembro, o Presidente e o Vice-Presidente do Clube, bem como os membros do Conselho Fiscal; c) homologar os nomes indicados pelo Presidente do Clube, para compor os demais cargos da estrutura daquele colegiado; d) deliberar sobre a concessão de títulos de Sócios Beneméritos e Honorários; e) aplicar as penalidades de sua competência; f) deliberar, em grau de recurso, sobre a aplicação de penalidade, na forma do Estatuto; g) deliberar sobre o Regimento Interno e Regulamento do Clube, por proposta da Diretoria; h) discutir, aprovar o Orçamento Anual elaborado pela Diretoria; i) deliberar sobre o Plano Administrativo Anual proposto pela Diretoria; j) julgar, anualmente, as contas prestadas pela Diretoria, mediante apresentação do Relatório e Balanço acompanhado do parecer do Conselho Fiscal; l) deliberar sobre valor do título patrimonial, das taxas e de outras contribuições pecuniárias que devam ser pagas pelos Sócios, por proposição da Diretoria; m) autorizar operações de crédito solicitadas pela Diretoria, inclusive aquelas em que implicarem no oferecimento da garantia de bens móveis e imóveis, bem como aprovar a Diretoria a constituir ou contratar sociedade comercial para administrar suas atividades profissionais, nos termos do
153
art. 27, III, da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998, com a redação dada pela Lei nº 9.981, de 14 de julho de 2000; n) conhecer a renúncia e suspender o Presidente e/ou o Vice-Presidente do Clube, ou ainda os demais membros da Diretoria, bem como os membros do Conselho Fiscal e do próprio Conselho Deliberativo, pela inobservância das disposições estatutárias, responsabilizando-os, legalmente, por danos morais ou materiais eventualmente causados ao Clube; o) apresentar a Assembléia Geral propostas para alterar o presente Estatuto, no todo ou em parte; p) deliberar sobre a dissolução, fusão ou incorporação do Avaí F. C., bem como sobre a destinação do Patrimônio Líquido, convocando a Assembléia Geral para ratificação ou não de sua decisão, na forma que dispõe a alínea "d" do art. 41; q) administrar o Clube, através de seu Presidente, no caso vacância, suspensão ou de licença superior a 120 (cento e vinte) dias do Presidente e Vice-Presidente do Clube, providenciando, no prazo de 30 (trinta) dias, a respectiva eleição para a devida complementação dos mandatos; r) deliberar sobre os casos omissos e interpretar as disposições estatutárias; s) eleger e empossar membros do Conselho Deliberativo, nos casos a que se referem o parágrafo único do art. 41 e o parágrafo 3° do art. 46, ambos deste Estatuto; t) aprovar a criação de novos Departamentos, ou alterar-lhes a denominação, mediante proposta apresentada pelo Presidente do Clube. § 1º O processo de suspensão terá início com a admissão da denúncia pela maioria simples do Conselho Deliberativo ficando o denunciado suspenso de suas funções, até a decisão final, devendo o mesmo ser notificado por escrito pelo Presidente do Conselho Deliberativo, a fim de apresentar sua defesa querendo, no prazo de 5 (cinco) dias, e, finalmente a tomada de decisão, que poderá ser precedida de inquirição de testemunhas, se requerida com a apresentação de defesa, cabendo a inquirição a uma Comissão constituída pelo Presidente, Vice-Presidente, Secretário e mais 2 (dois) Conselheiros a serem designados pelo próprio Presidente do Conselho Deliberativo. § 2.º A interpretação de disposições estatutárias pelo Conselho, na forma da letra "r" deste artigo, resultará na lavratura de assuntos, que numerados, serão transcritos em livro próprio.
A Presidência do clube, segundo o seu Estatuto, compõe-se do Presidente e
do Vice-Presidente, eleitos pelo Conselho Deliberativo, para o mandato de 4 (quatro)
anos, permitidas reeleições, na forma estabelecida no art. 86 deste Estatuto:
Art. 60. Compete ao Presidente do Clube: a) convocar a Assembléia Geral; b) convocar e presidir as reuniões da Diretoria; c) representar o clube em juízo ou fora dele, podendo delegar poderes e constituir mandatários; d) despachar o expediente; e) rubricar todos os livros oficiais do Clube; f) autorizar, conjuntamente com o Diretor de Administração e Finanças, as despesas previstas no orçamento e ordenar os respectivos pagamentos; g) assinar com o Diretor de Administração e Finanças, os documentos de ordem financeira, inclusive cheques e/ou ordens de pagamento; h) nomear e exonerar ou, contratar e demitir os Diretores de Departamento, observado o disposto no art. 53, "c", deste Estatuto, estipulando-lhes os seus vencimentos, se for o caso, de conformidade com as possibilidades financeiras do Clube; i) efetuar contratos com atletas profissionais de futebol, treinadores e preparadores técnicos especializados, estipulando ordenados, luvas e gratificações, de acordo com a possibilidade financeira do Clube, observado o disposto no art. 37 deste Estatuto; j) resolver sobre a concessão e aquisição de passes dos atletas profissionais, ouvida a Diretoria, na forma do disposto o art. 37 deste Estatuto; k) nomear e exonerar ou contratar e demitir, livremente, os assessores da Presidência e os Chefes de Seções dos Departamentos, quando for o caso; l) resolver "ad
154
referendum" da Diretoria, os assuntos urgentes e inadiáveis de interesses da Administração do Clube; m) assinar contratos e ajustes em que o Clube for parte; n) conceder férias aos empregados administrativos. § 1.º O Presidente poderá criar quantas assessorias entender necessárias para a execução de suas atribuições, podendo os assessores receber a devida remuneração pelos serviços prestados. § 2.º O Presidente poderá delegar poderes aos membros da Diretoria das atribuições que lhe são conferidas, devendo o respectivo ato ser comunicado ao Conselho Deliberativo para homologação.
A Diretoria segundo o Estatuto do Avaí Futebol Clube é constituída por
presidente e vice-presidente do clube, eleitos pelo Conselho Deliberativo, e pelos
Diretores de Departamento, nomeados pelo presidente do clube, observado o
disposto no art. 53, alínea “c”, do Estatuto.
Art. 67. São atribuições da Diretoria: a) dirigir e administrar o Clube, zelando pelos seus bens e interesses; b) executar e fazer cumprir as leis desportivas, o Estatuto, as resoluções da Assembléia Geral, do Conselho Deliberativo e da própria Diretoria; c) elaborar e submeter a apreciação do Conselho Deliberativo o seu Regimento Geral; d) elaborar, anualmente, o orçamento e o programa administrativo do Clube, obedecidos os seguintes prazos: 1 - no primeiro ano do mandato, até 30 (trinta) dias após a sua posse; 2 - no segundo ano do mandato, até o dia 15 (quinze) de novembro. e) apresentar até o dia 28 de fevereiro, ao Conselho Fiscal, o Relatório das Atividades do Clube e o Balanço Anual do exercício anterior, que deverão ser submetidos, posteriormente, ao Conselho Deliberativo; f) impor e tornar efetiva a aplicação das penalidades na forma estabelecida por este Estatuto; g) conceder aos membros da Diretoria, até o prazo de 120 (cento e vinte) dias; h) admitir, licenciar e demitir empregados do Clube, fixando-lhes salários, exceção aos Diretores de Departamento; i) decidir sobre a admissão, demissão e licença de sócios nos termos deste Estatuto; j) promover a filiação do Clube as entidades desportivas especializadas e inscrevê-los nas competições oficiais; k) organizar fontes de receitas além das previstas neste Estatuto e efetuar as despesas necessárias a administração do Clube; l) propor ao Conselho Deliberativo a fixação do valor do título patrimonial, das taxas e de outras contribuições pecuniárias que devam ser pagas pelos sócios; m) efetuar arrendamentos e contratar operações de crédito, inclusive aquelas que implicarem no oferecimento de garantia de bens móveis e imóveis, mediante autorização do Conselho Deliberativo; n) decidir sobre a cessão ou locação das diversas dependências do Clube; o) fazer realizar, por intermédio dos departamentos correspondentes, festas sociais e competições esportivas, determinando o preço dos ingressos quando haja venda dos mesmos ao público ou cobrança aos associados; p) encaminhar ao Conselho Fiscal, até 15 (quinze) dias do mês seguinte ao vencido, os balancetes mensais de sua gestão e as respectivas prestações de contas; q) submeter ao Conselho Deliberativo os casos omissos no Estatuto, para interpretação e deliberação na forma da alínea "r" do Art. 53 deste Estatuto. r) constituir ou contratar, facultativamente, "ad referendum" do Conselho Deliberativo, sociedade comercial para administrar suas atividades profissionais, nos termos do art. 27, III, da Lei n° 9.615, de 24 de março de 1998, c om a redação dada pela Lei n° 9.981, de 14 de julho de 2000.
155
Consta no Estatuto que, a Diretoria descentralizará a administração, sem
prejuízo da competência atribuída ao presidente da entidade, e será composta pelos
seguintes departamentos:
� Departamento de Administração e Finanças; e
� Departamento de Futebol.
Art. 69. Cada Departamento será dirigido por um Diretor, nomeado ou contratado pelo Presidente do Clube, na forma do Art. 60, alínea "h", observado o disposto no Art. 53, alínea "c", ambos deste Estatuto, sendo demitísseis "ad nutum", os nomeados ou contratados. Art. 70. Compete ao Diretor de Administração e Finanças: a) coordenar e supervisionar as atividades da Secretaria do Clube; b) superintender e fiscalizar o funcionamento dos serviços gerais e de pessoal; c) organizar o cadastro de sócios; d) acompanhar e fiscalizar a execução do orçamento; e) coordenar e supervisionar as atividades da tesouraria e promoções financeiras, bem como do serviço de contabilidade; f) determinar o pagamento de despesas autorizadas e assinar juntamente com o Presidente do Clube, os documentos de ordem financeira, inclusive cheques e/ou ordens de pagamento; g) ter sob sua guarda e responsabilidade os valores numerários pertencentes ao Clube; h) orientar a elaboração dos Balancetes Mensais e Balanço Anual, a fim de submetê-los ao Conselho Fiscal, após aprovação da Diretoria; i) organizar e encaminhar mensalmente ao Presidente do Clube a relação dos sócios inadimplentes, para efeito de aplicação de penalidades estatutárias; j) fiscalizar e controlar aquisição de todo o material necessários as atividades do Clube, mediante coleta de preços ou concorrência; k) opinar sobre a remuneração do pessoal, a fim de adequá-la às condições financeiras do Clube; l) zelar pelo patrimônio do Clube; m) inventariar os bens de propriedade do Clube, registrando-se em livro próprio; n) supervisionar o planejamento e a execução das obras do Clube; o) propor a Diretoria a criação de tantas seções quantos entender necessárias para a execução de suas atribuições, cabendo ao Presidente do Clube nomear os seus titulares; p) elaborar, no final do exercício o relatório das atividades do ano, a fim de integrá-lo ao Relatório Geral da Diretoria. Art. 71. Compete ao Diretor de Futebol: a) coordenar, dirigir e superintender todas as atividades de futebol profissional e amador do Clube; b) aplicar penas disciplinares aos atletas; c) indicar, a Diretoria, a contratação de atletas, treinadores e preparadores técnicos especializados; d) dar conhecimento e fazer cumprir as leis e regras desportivas; e) organizar o registro de atletas profissionais e amadores; f) propor a Diretoria a criação de tantos setores quanto entender necessários para a execução de suas atribuições, cabendo ao Presidente do Clube nomear os seus titulares; g) elaborar no final do exercício, o relatório das atividades desenvolvidas no ano, a fim de integrá-lo ao Relatório Geral da Diretoria. Art. 72. O Presidente do Clube poderá a qualquer momento, criar novos Departamentos ou alterá-los a denominação, mediante aprovação do Conselho Deliberativo.
O Conselho Fiscal do clube será constituído por três membros efetivos e três
suplentes. E tem a competência de fiscalizar, principalmente as contas do clube. O
Conselho Consultivo é o órgão de superior consulta do presidente do clube, bem
como, do Conselho Deliberativo e Fiscal e, será composto pelos ex-presidentes do
clube. Compete ao Conselho Consultivo pronunciar-se sobre qualquer assunto de
156
interesse do Clube, devendo opinar, estudar e propor as soluções que entender
necessárias aos problemas da entidade, encaminhando-as ao Presidente do Poder
competente.
Com base no Estatuto do Avaí Futebol Clube, observa-se que as diretorias se
resumem as, Administrativa; Financeira e Futebol. Não sendo, mencionada recursos
humanos, marketing e patrimônio, como já citado que existe num clube-empresa.
Quanto ao marketing, encontra-se relatos referentes à empresa GolStore!. Esta,
segundo Wolowski, Mondo e da Costa (2010, p. 10) foi fundada no ano de 2008 a
partir da construção da loja oficial do Avaí Futebol Clube no estádio Aderbal Ramos
da Silva, na cidade de Florianópolis/SC. Como o objetivo principal era o
desenvolvimento estrutural de seu cliente, a empresa optou por criar um novo
conceito de loja esportiva para melhor atender seus torcedores. Após novas
solicitações, optou-se por expandir sua área de atuação no mercado nacional para a
gestão de marcas oficiais de futebol em três novas frentes: a) gestão de loja oficial
do clube, b) licenciamento de produtos e; c) representação comercial.
O momento da criação da GolStore! era oportuno, o ano era 2008 e o Avaí
Futebol Clube estava com grandes chances de ganhar uma das vagas de acesso à
primeira divisão do futebol brasileiro. “A empresa viu uma grande possibilidade e
decidiu investir (...)”, comenta o Gerente Nacional da GolStore!. Os sócios da
empresa observaram uma necessidade tanto do clube quanto do mercado. O clube
já possuía uma loja onde vendia artigos com a sua marca, porém alguns problemas
de gestão faziam com que o rendimento financeiro deste negócio estivesse longe de
ser considerado satisfatório: a) A estrutura era pequena e precária, assim como os
investimentos administrativos no clube. Isto devido ao foco e a concentração dos
recursos no momento ímpar em que se encontrava o futebol do clube, b) A maioria
dos produtos comercializados na loja do clube vinham apenas do fornecedor de
material esportivo. A gama de produtos era pequena e a dependência da fábrica do
fornecedor era grande, fazendo com que a reposição dos produtos não seguisse um
cronograma razoável, c) os produtos falsificados eram vendidos livremente na porta
do estádio, sem que nenhum percentual fosse revertido ao clube. Assim,
acreditando no sucesso do clube dentro de campo e visualizando um mercado com
um grande potencial, surge a GolStore! que deu seu primeiro passo ganhando a
concessão para explorar e remodelar a loja do Avaí. Este modelo de parceria foi
vantajoso para ambas às partes: para o Avaí, que não precisava mais investir
157
recursos na loja, sobrava mais investimento para o futebol. Para a GolStore! que
pôde focar na melhoria dos produtos oferecidos e em um diferencial que
proporcionasse um ganho financeiro. “Vamos deixar o Avaí pensar apenas no
futebol” (WOLOWSKI; MONDO; COSTA, 2010, p. 12).
Desta forma, baseado nas referências expostas pelo Estatuto do clube,
encontrou-se uma forma tradicional de gerir o futebol. Mas, observando o jornal do
Avaí, de julho de 2009, constata-se que existem outras diretorias, como por
exemplo, diretor de planejamento, diretor social, diretor de patrimônio e manutenção,
diretor de marketing e comercialização, diretor de informática e diretor de esportes
olímpicos. Sendo assim, apesar das discordâncias (Estatuto e jornal) pode-se
constatar que no Avaí Futebol Clube, também possui fortes traços empresariais na
sua estrutura de gestão. E a iniciativa de lançar um jornal de distribuição gratuita no
seu sítio oficial (para manter os seus torcedores e simpatizantes informados do que
acontece no clube é no mínimo interessante).
Os Estatutos do Criciúma Esporte Clube e Joinville Esporte Clube (JEC)
seguem a mesma linha do Avaí Futebol Clube. Com Assembleia Geral; Conselho
Deliberativo; Presidência do Clube; Diretoria; Conselho Fiscal; e Conselho
Consultivo. Essa linha de gestão mostra-se tradicional. Analisando esse quadro dos
referidos clubes catarinenses, obtém-se a conclusão que os clubes estão num forte
processo de empresarização do seu futebol, mas ainda não podem ser
denominados de clubes-empresa.
Pois, o que caracteriza um clube-empresa é a dinamização da gestão,
agilidade na hora de tomar as decisões, facilidade no planejamento de metas e,
principalmente, eliminação dos processos burocráticos, pois não há conselheiros e
os diretores são em número reduzido. Existem apenas aqueles essenciais para cada
diretoria. Esse é um modelo transparente de gestão, entendendo o futebol como o
verdadeiro negócio que ele é.
A gestão do futebol deve ser encarada de duas maneiras: fora de campo,
tem-se a parte administrativa da empresa, tendo que gerir compras e vendas,
planejamento de campeonato, construir um centro de treinamento. Dentro de campo,
o torcedor quer ver o time dele ganhar. Se o ambiente fora de campo é estável (não
que só uma boa gestão profissional e estrutura façam a equipe ganhar títulos), mas,
isso influência para um time ser considerado grande. E isso, atrai bons materiais
humanos para o clube (e isso sim ajuda a ganhar títulos). Em relação ao material
158
humano, precisa-se entender essa relação do departamento de recursos humanos.
Pois, no departamento de recursos humanos de qualquer empresa há critérios para
a contratação dos funcionários.
E quais seriam os critérios em um clube-empresa? São dois critérios básicos:
o homem e o atleta. Não adiante ser um grande jogador se não for grande homem, e
nem o contrário. Se os gestores do clube não tiverem essa filosofia de contratações,
isso pode comprometer todo um planejamento administrativo e futebolístico, pois os
veículos da mídia estão a todo o momento noticiando condutas impróprias de
jogadores, principalmente fora de campo. E, essas condutas impróprias não são
desvinculadas da imagem do clube e, consequentemente de seus patrocinadores.
Outro departamento crucial em um clube-empresa é o departamento de
patrimônio. Um clube que tenha um bom centro de treinamento em Santa Catarina,
mesmo o Estado não sediando nenhum jogo da Copa do Mundo FIFA 2014, pode
ser utilizado para treinamento de alguma seleção durante o mundial dentro de suas
dependências. Devido à colonização existente e o clima do Estado, isto pode ser
explorado.
O clube-empresa por possuir uma característica de impessoalidade
burocrática, da busca pela consecução dos objetivos predefinidos da forma mais
econômica e eficiente possível, se contrapõe ao tradicional caráter amador e de
abnegação na gestão do futebol, em que a paixão pela camisa do clube ou raiva
pelo time adversário pode obscurecer as tomadas de decisão. As mudanças ou
dinâmicas interempresariais são dinâmicas internas à indústria do futebol que
podem ser decorrentes de mudanças horizontais ou verticais.
As mudanças horizontais implicam criação de novas relações
interempresariais que buscam otimizar a participação das organizações em
mercados existentes ou potenciais, principalmente pela complementaridade de
competências, de acordo com suas estratégias a longo prazo: o licenciamento da
marca de um clube para um novo agente tem como finalidade aumentar a
participação da “nova empresa” no mercado de torcedores, criando e agregando
novos conceitos de produtos e serviços ao mercado de torcedores.
As mudanças verticais implicam a criação de novas relações
interempresariais que buscam reestruturar a cadeia ou indústria, tendo em vista
torná-la mais eficiente: como a criação de parcerias com empresas de venda de
ingressos pela internet, que buscam otimizar a distribuição dos ingressos.
159
O negócio ou a lógica microeconômica dos clubes-empresa no contexto da
indústria do futebol representam o terreno onde as dinâmicas do processo de
mudança (ilustradas na figura 3) acontecem.
Figura 3 – Ciclos permanentes de aprendizagem e mud ança para a análise do processo de mudança na gestão de clubes de futebol. Fonte: Leoncini, 2001.
A primeira premissa microeconômica se relaciona à natureza de demanda
pelo produto futebol. Nesse ponto, a análise de Kim (1997), apud Leoncini e Silva
(2005, p. 18), tratando da direção futura da organização do futebol profissional na
área da administração da entrega da qualidade de serviço, se torna útil para a
análise da evolução do produto básico dos clubes: o jogo de futebol. Ele argumenta
que a provisão de serviços de sucesso requer um entendimento das dimensões da
qualidade de entrega do serviço (jogo de futebol) para atender às expectativas do
espectador (consumidor ativo): os fatores associados ao resultado do evento (jogo)
e os fatores de administração do evento.
Enquanto para os clubes individualmente, os fatores associados aos
resultados do evento (principalmente as vitórias do time) sempre foram os principais
fatores relacionados à satisfação e ao aumento (a longo prazo) dos chamados
160
torcedores fiéis, a transformação ou a transição no perfil dos espectadores
esportivos dentro dos estádios tem aumentado a importância dos fatores associados
às condições do estádio, ou seja, ao que os autores chamaram de fatores
associados à administração do evento.
Outra questão fundamental, que complementa o pano de fundo
microeconômico para o clube, é a questão do significado de sucesso nessa indústria
e os fatores que os explicam. Definir o que significa sucesso em uma organização
depende fundamentalmente da opinião e do poder que cada stakeholder (os
principais interessados nos resultados da organização) tem para fazê-lo. Para o
caso dos clubes de futebol, eles são organizações que necessitam administrar um
trade-off fundamental de desempenho: desempenho esportivo (vitórias) versus
desempenho financeiro (lucros/equilíbrio). O Desempenho Esportivo é o
desempenho do time no campeonato ou competição sendo disputada, que pode ser,
de maneira geral, medido pela posição ocupada nesta competição (primeiro lugar,
segundo lugar, etc.). Os fatores internos ao clube que o influenciam se restringem à
competência do seu departamento técnico (treinadores, preparadores físicos,
jogadores, etc.). O Lucro operacional ou desempenho financeiro do clube em
determinado período é a diferença entre a soma das receitas geradas pelo mercado
de torcedores, e a soma de suas despesas com salários de jogadores, estádios,
equipamentos, enfim, com seus recursos fundamentais (LEONCINI; SILVA, 2005, p.
19).
No futebol há existência de correlações significativas e diretamente
proporcionais entre desempenho esportivo e gasto com salários e entre
desempenho esportivo e geração de receitas no mercado de torcedores. Em outras
palavras, isto mostra que nem sempre um time “caro” vencerá um time “barato”, a
longo prazo e a médio, o relacionamento entre gasto com salários e desempenho no
campeonato é bastante significativo. Do mesmo modo, equipes mais vitoriosas a
longo prazo provavelmente atrairão maiores receitas. Tradicionalmente, esta
característica do negócio no futebol tem feito com que a maioria dos dirigentes
invista recursos significativos na montagem de uma boa equipe, para que o
resultado esportivo venha acompanhado do aumento de suas receitas. E o que
aconteceu nos clubes de Santa Catarina no período da referente pesquisa, é que a
única preocupação dos dirigentes sempre foi à montagem desse grande elenco de
jogadores, com despesas (salários) e investimentos (contratações) exorbitantes e
161
pouca preocupação com a geração de receita que as equipes podem gerar no
mercado de torcedores. Logo, o desempenho esportivo, a exploração eficaz do
mercado de torcedores e o controle da folha de pagamento são fatores
fundamentais para explicar a lógica do negócio para um clube de futebol.
Após essas explanações sobre gestão de clubes de futebol chega-se ao fim
do capítulo, deixando clara a maneira de como o futebol profissional é gerido no
mundo e suas diferenças para a gerência que ocorria em alguns clubes de futebol
vitoriosos do Estado de Santa Catarina durante o período levantado pelo estudo.
162
5 FUTEBOL E DESENVOLVIMENTO LOCAL PARA AS REGIÕES
É notório relembrar que, antes da fase de esportivização, os jogos de futebol
eram regulamentados por tradições locais, sendo assim, variáveis suas regras de
um local a outro e se caracterizavam por um alto grau de violência entre seus
jogadores. Portanto, a normatização destes jogos na Inglaterra passou por vários
estágios, até se chegar ao tipo de jogo denominado de esporte. As pesquisas
inglesas afirmam que, existe algo, na estrutura do futebol, que parece ser
independente do nível de desenvolvimento de cada país e da própria estrutura social
deles, pois sua expansão desde sua criação, se deu independentemente das
estruturas e desenvolvimento dos Estados-nações (MURPHY et. al., 1994, p. 2).
Mais recentemente, em finais do século XX, o futebol chegou ao seu auge em
termos de expansão pelo mundo, sendo aceito como um esporte profissional nos
Estados Unidos, na Coreia e no Japão.
Embora o futebol seja uma invenção inglesa de fortes relações com as
mudanças na estrutura política daquele país, principalmente no final do século XIX,
a expansão desse esporte pelo mundo se deu independentemente do
desenvolvimento dos Estados-nações. Essas conclusões são de Murphy et al.
(1994, p. 6), pois para estes:
[...] parece que existe algo na estrutura do futebol que lhe confere uma grande atração no moderno, uma atração que parece ser relativamente independente do nível de desenvolvimento dos países e das características sócio-políticas dos respectivos governos.
Na sociogênese do futebol no século XIX, era praticado apenas entre equipes
de cidades inglesas contíguas, justamente devido às dificuldades de deslocamentos
existentes à época, impostas pela escassez de meios e vias de transportes. Pois as
vias de transportes, assim como os seus meios foram incrementados como
consequência da Revolução Industrial, o que possibilitou a realização de jogos entre
equipes de cidades mais distantes. As primeiras normatizações desse jogo de bola
com os pés foram feitas nas escolas públicas inglesas entre 1845 e 1862 (ELIAS;
DUNNING, 1992, p. 342). Mas, o marco oficial da “criação” do futebol, como um
esporte moderno, é os últimos meses do ano de 1863, quando foi fundada a
Associação de Futebol inglesa (Football Association – FA). Porém, o primeiro clube
163
inglês de futebol surgiu em 1857, quando este jogo de bola com os pés ainda não
havia se tornado um esporte. Na Inglaterra, soma-se a este fato o desenvolvimento
ferroviário, para que ambos sejam considerados fundamentais para a ampliação de
disputas entre regiões, pois até então, os jogos ocorriam apenas em regiões
contíguas. O futebol ao ser esportivizado possibilitou sua disseminação pelo mundo,
porque com regras uniformes e organização própria foi facilmente divulgado por
seus praticantes e fãs. Os estudos de Elias e Dunning diz que o futebol foi aceito
independente das estruturas dos países que aderiram à sua prática e/ou tornaram-
no um espetáculo. Os primeiros países, contaminados por este novo tipo de lazer,
foram os europeus. Estes foram também os primeiros países a constituírem suas
federações de futebol, um marco importante para a compreensão da sociogênese do
esporte moderno (REIS; ESCHER, 2006, p. 4).
Sabe-se que as escolas públicas inglesas sempre foram frequentadas pela
elite inglesa. Porém apesar de serem estes estratos sociais os primeiros praticantes
do futebol, ele não demorou muito para ser disseminado entre os membros da
classe trabalhadora ou mesmo entre os ociosos. Apesar da resistência à sua
profissionalização pelos membros da elite, o gosto pelo jogo foi tanto que, em curto
espaço de tempo, o futebol profissionalizou-se, na Inglaterra, em 1885.
A responsabilidade por essa profissionalização é atribuída à grande
participação de ociosos que dedicavam muito tempo à sua prática, tornando-se mais
habilidosos do que os frequentadores das “Public Schools”. Estes últimos, ao
perceberem os riscos de competirem com os jogadores de futebol que não
pertenciam à sua classe social, negavam-se a participarem de confrontos. A escusa
era de que os dirigentes e os alunos das escolas públicas eram contrários ao ethos
profissional
e, dessa forma, livravam-se dos riscos de serem derrotados nos
confrontos futebolísticos, por uma classe subalterna (REIS; ESCHER, 2006, p. 4).
A expansão do futebol aos países europeus se deu concomitante ao processo
de profissionalização do mesmo. Esta expansão levou consigo os elementos
constitutivos do jogo, sua linguagem, sua forma de organização, seus costumes,
suas vestimentas e, também, o hábito de terem adeptos assistindo aos jogos,
aqueles que, atualmente, denominamos de espectadores ou de torcedores. Pode-se
verificar, então, que a “invenção” do futebol, como espetáculo, data do final do
Século XIX e ocorre também na Inglaterra. Há registros, de que na última década do
Século XIX, na Inglaterra, havia clubes que cobravam ingressos para a assistência
164
em jogos de futebol. Então, é praticamente dessa forma, espetacularizada, que o
futebol se dissemina por praticamente todo o mundo.
Além disso, o crescimento desenfreado da população mundial, o elevado
padrão de consumo globalizado, a constante pressão de ambientalistas quanto aos
problemas ambientais e o fortalecimento da opinião do consumidor, contribuíram
para o surgimento de um debate em nível internacional, a partir da década de 1970,
em torno do desenvolvimento. O crescimento econômico, exclusivamente, não
poderia mais explicar o desenvolvimento. Era preciso considerar outras dimensões
deste processo. Como resultado, surgiu por volta de 1982, em Brundtland, a
proposta do desenvolvimento sustentável, que tinha como premissa básica o
atendimento às necessidades das gerações presentes e futuras.
O desenvolvimento sustentável caracteriza-se por uma visão multidimensional
e de longo prazo do desenvolvimento. Isto é, outras dimensões devem ser
consideradas também importantes além da econômica, a saber, a social, ambiental,
cultural, política e espacial, que se inter-relacionam, interagem e são
interdependentes, isto é, capazes de influenciar e serem influenciadas.
Nesta ótica, o desenvolvimento sustentável é uma proposta que visa à
equidade e justiça social atendendo aos anseios da sociedade, presente e futura. É
um conceito que prioriza o bem-estar e qualidade de vida da sociedade como a
riqueza de um povo e não o progresso econômico em si mesmo. Cabe destacar que,
em consequência deste novo pensamento, vários movimentos começaram a se
desenvolver em todo mundo, e fortemente no Brasil, a partir da década de 1990:
fortalecimento do terceiro setor, crescimento das ações sociais das empresas,
responsabilidade social e investimento social privado, políticas públicas e programas
socioambientais em parcerias com os vários setores.
Começou a formar um consenso de que o governo por si só não é capaz de
solucionar os problemas da sociedade cada vez mais complexos e abrangentes
(CASTANHEIRA; VALLADARES, 2008, p. 2).
Evidencia-se, dessa maneira, a importância do capital social, como recurso
para o desenvolvimento sustentável. Uma sociedade com forte capital social tem
condições de fazer suas melhores escolhas para o desenvolvimento. De fato, em
estudos sobre capital social verificou-se relações diretas entre capital social e níveis
de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e Produto Interno Bruto (PIB).
165
Capital social é percebido enquanto sistemas que permitem às pessoas
cooperar, ajudar-se mutuamente, zelar pelo bem público e promover a prosperidade.
Neste sentido, evidencia-se também uma forte relação do capital social e cultura. Os
valores e crenças da sociedade tendem a influenciar o nível de participação,
cooperação e definição dos objetivos comuns a serem perseguidos em relação ao
desenvolvimento sustentável.
O capital social ganha mais força, em nível local, pois as relações e
interações entre os vários atores sociais ficam mais facilitadas. Assim, ao considerar
o desenvolvimento sustentável como estratégia de desenvolvimento atual, o grande
desafio das sociedades passa a ser a construção do capital social. Ao partir da
premissa de que o capitalismo gera atitudes e comportamentos individualistas e
competitivos, a construção do capital social torna-se um desafio ainda maior, pois
implica numa mudança cultural da sociedade. A questão central passa a ser como
construir uma atitude cooperativa e de equipe, dentro de um ambiente altamente
competitivo (CASTANHEIRA; VALLADARES, 2008, p. 3).
Segundo Franco (2004, p. 235) o conceito de capital social:
De tudo o que se fale ou do que já se falou sobre o tema deve-se reter apenas uma coisa fundamental: capital social é rede social. Redes sociais são, em essência, os múltiplos caminhos existentes entre indivíduos e grupos. Capital social se refere, portanto, à configuração móvel das conexões internas de um corpo coletivo de seres humanos, incluindo não apenas a sua morfologia, mas também o “metabolismo” que lhe parece próprio (ou, pelo menos, possível);ou seja, a democracia. Assim, capital social não é um conceito econômico (como poderia sugerir o termo ‘capital’), nem sociológico (como poderia sugerir o termo ‘social’). É um conceito político, que tem a ver com os padrões de organização e com os modos de regulação praticados por uma sociedade.
O referido autor segue relatando que, do ponto de vista da genealogia do
conceito, capital social é uma noção tocquevilliana, jacobsiana e putniana.
Tocquevilliana porque tem a ver com a sugestão da existência de um nexo
conotativo entre sociedade civil e democracia que aparece, pela primeira vez de
maneira clara, nas observações de Tocqueville sobre a sociedade americana de
meados do século XIX. Jacobsiana porque tem a ver com a sugestão da existência
de um nexo conotativo entre desenvolvimento e rede social que aparece, pela
primeira vez com o sentido que hoje atribuímos ao conceito, nas observações de
Jane Jacobs sobre “morte” e a “vida” das cidades americanas em meados do século
XX. E putniana porque tem a ver com a sugestão da existência de um nexo
166
conotativo entre os graus de associacionismo, confiança e cooperação atingidos por
uma sociedade democrática organizada do ponto de vista cívico e cidadão e a boa
governança e a prosperidade econômica, que aparece – não pela primeira vez,
senão pela primeira vez divulgada de uma maneira mais ampla – nas observações
de Robert Putnam sobre o desenvolvimento das localidades italianas nas últimas
décadas do século XX (FRANCO, 2004, p. 235-236).
Há um fator ou variável na equação do desenvolvimento que, quando se trata
de desenvolvimento local (quer dizer, quando se quer olhar o desenvolvimento como
desenvolvimento local, encarnado, portanto, o fenômeno real que acontece sempre
em uma localidade concreta e não no mundo abstrato da “máquina econômica”
inventada pelos economistas), se distingue dos demais, não pela sua capacidade de
determiná-los (papel que se atribui tradicionalmente ao fator econômico em virtude,
entre outras coisas, da con(fusão) entre crescimento e desenvolvimento) e sim pelo
seu papel “ambiental”, por assim dizer; ou seja: pelo fato de estar implicado na
própria geração daquilo que chamamos de localidade (FRANCO, 2004, p. 256-257).
Franco (2004, p. 257) argumenta que este fator é o capital social, perceba o
que este autor tem para dizer a respeito:
Tal fator é o capital social, ou o “poder social”, ou a capacidade de um coletivo humano estável de se mover, de alterar suas relações internas (compreendendo que, se desenvolvimento implica sempre mudança, tal mudança é também, sempre, uma mudança social, uma vez que o conceito de desenvolvimento se aplica a sociedades humanas e não a quaisquer outros sistemas ou coleções de objetos vivos ou inanimados).
Franco (2004, p. 257) encerra seu pensamento afirmando que: “De certo
modo, o conceito de capital social só pode surgir (e só faz sentido) quando
percebido o desenvolvimento como desenvolvimento local”.
As mesmas dificuldades para compreender o desenvolvimento social
(empregando o termo “social” para designar os sistemas complexos chamados de
sociedade humana) se revelam em relação à compreensão do desenvolvimento
sustentável. Porque a sustentabilidade é uma função de integração, é um
comportamento emergente em um sistema complexo que viabiliza a conservação da
sua adaptação ao meio (FRANCO, 2004, p. 251).
O conceito de desenvolvimento sustentável foi criado pela Comissão Mundial
Sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento em Brundtland, em 1982, e significa
aquele que satisfaz às necessidades das gerações atuais sem comprometer a
167
capacidade das gerações futuras de satisfazer suas próprias necessidades. Esta
proposta propõe uma visão multidimensional. Além da dimensão econômica devem
ser consideradas as dimensões sociais, políticas, ambientais e culturais, que se
inter-relacionam, interagem e são interdependentes:
[...] ambientalmente sustentável no acesso e no uso dos recursos naturais e na preservação da biodiversidade; socialmente sustentável na redução da pobreza e das desigualdades sociais e promotor da justiça e da equidade; culturalmente sustentável na conservação do sistema de valores, práticas e símbolos de identidade que, apesar de sua evolução e sua reatualização permanentes, determinam a integração nacional através dos tempos; politicamente sustentável ao aprofundar a democracia e garantir o acesso e a participação de todos nas decisões de ordem pública (GUIMARÃES, 2001, p. 55).
Antes de abordar a questão relativa ao futebol, abordar-se-á a educação no
sentido mais amplo. Considerada como fator primordial para o processo de
desenvolvimento humano, a educação tem tomado nova concepção, deixando de
lado o paradigma newtoniano/cartesiano, o qual se caracteriza por uma concepção
de vida mecânica e material, racionalista, deixando de lado os sentimentos e os
valores humanos.
Essa nova concepção chamada de educação transdisciplinar prima pela
unidade de pensamento entre os conhecimentos religioso, filosófico e científico, a
partir da compreensão da necessidade de integração de todos os níveis e de todas
as dimensões do Ser Humano (SOARES, 2002, p. 78). Para Soares (2002, p. 84),
pensar em educação transdisciplinar é considerar o indivíduo na sua totalidade. É
considerá-lo como um ser trino, que sente, pensa e age.
A educação transdisciplinar objetiva proporcionar ao indivíduo a possibilidade
de romper com os paradigmas construídos ao longo de sua existência. Paradigmas
que os têm levado a um estado de adestramento e escravidão a valores que são
impostos pela própria sociedade.
O princípio da transdisciplinaridade está pautado na arte de autoconhecer-se,
na arte de buscar descobrir seus verdadeiros valores, sentimentos, emoções, no
sentido de nortear suas ações. Assim sendo, acredita-se que esse deve ser o basilar
para o processo de desenvolvimento humano.
Diante dos novos paradigmas, não há mais espaço para a educação
utilitarista, de só oferecer informações úteis para a competitividade e para obter
resultados. De acordo com Gadotti (2002, p. 34) os desafios desse novo século
168
impõem que se ultrapasse a visão instrumental da educação e evolua para uma
educação fundamentada em valores humanos. O foco agora é o ser humano na
busca de seu desenvolvimento para que ele descubra e desenvolva o potencial que
tem dentro de si. Soares (2002, p. 118) relata que, educação incorreta ou disciplinar
tem como propósito a arte de “desaprender”.
É, portanto, uma educação que fragmenta o ser humano. Educar o indivíduo
através da prática transdisciplinar, seja ele da educação básica ou no futebol, é
possibilitá-lo à busca pela autoconsciência, condição essencial para o processo de
desenvolvimento humano. A autoconsciência fundamenta-se na busca pelo
autoconhecimento, na liberdade de aprender e integrar os sentimentos,
pensamentos e atos, fato que só é possível se pensar quando existir uma educação
correta que oportunize a liberdade da arte de aprender e de estar sempre aberto ao
novo.
É importante que a educação tenha a tarefa de educar integralmente, de
preparar a criança para ser feliz e contribuir para a felicidade das demais. De fato, o
“aprender a ser” revela a preocupação da educação esportiva com o
desenvolvimento pleno do ser humano, isto é, com a possibilidade dele saber sentir,
pensar e agir de forma integrada, sem causar tanto caos e desequilíbrio na
sociedade.
O futebol é capaz de gerar ou fortalecer sentimentos e laços de solidariedade
e orgulho local (regional ou nacional). Isso pode proporcionar efeitos positivos, como
a valorização e manutenção das características culturais locais. Por sua própria
natureza o futebol envolve participação. Envolve também a inclusão e a cidadania. O
futebol une indivíduos e comunidades, destacando os aspectos comuns e servindo
de ponte entre diferenças étnicas e culturais. O futebol oferece um fórum para o
aprendizado de habilidades tais como a disciplina, a confiança e a liderança e ensina
princípios fundamentais, tais como a tolerância, a cooperação e o respeito. O
esporte ensina o valor do esforço e como lidar com a vitória e com a derrota.
Segundo o relatório das Nações Unidas (2003, p. 03), a prática do esporte é
vital ao desenvolvimento holístico dos jovens, promovendo sua saúde física e
emocional e construindo relações sociais valiosas. Oferece oportunidades de lazer e
de autoexpressão que são benéficas, especialmente, para os jovens com poucas
outras oportunidades em suas vidas. O esporte fornece também alternativas
saudáveis às atividades prejudiciais, tais como o uso de drogas e a participação no
169
crime. Dentro das escolas, a educação física é um componente essencial na
educação de qualidade. Os programas de educação física não apenas promovem a
atividade física, mas há evidências de que tais programas têm relação direta com a
melhoria do desempenho acadêmico.
O esporte pode atravessar as barreiras que dividem as sociedades, tornando-
-o assim, uma poderosa ferramenta para apoiar esforços de prevenção de conflitos e
de construção da paz, tanto simbolicamente no nível global, quanto de maneira
bastante prática dentro das comunidades. Quando aplicados eficazmente, os
programas de esportes promovem a integração social e fomentam a tolerância,
ajudando reduzir a tensão e gerar o diálogo. O poder de organização e reunião do
esporte o torna uma ferramenta ainda mais eficaz para a comunicação e a
conscientização.
Para que se possa compreender melhor algumas destas interferências quanto
ao seu papel social, ordenar-se-á a sua importância, em como o futebol pode ser
considerado um veículo importante no auxílio ao desenvolvimento onde iniciativas
tradicionais não obtêm sucesso. A última década presenciou o aumento de
iniciativas que utilizam o esporte como veículo que pode auxiliar a mudança social.
Essas iniciativas, entretanto, não são muito recentes. O que ocorre agora é a
percepção da ineficiência do Estado em direcionar medidas desenvolvimentistas
com sucesso devido à ênfase excessiva nos aspectos econômicos e não no âmago
social do desenvolvimento.
A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou
2005 como o Ano Internacional do Desporto e da Educação Física. O organismo
internacional preconiza a utilização de atividades físicas para promover a educação,
a saúde, o desenvolvimento e a paz, buscando atingir os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio que visam até 2015 a redução das taxas de pobreza e
de fome, a garantia de acesso de todas as crianças ao ensino primário e o combate
ao HIV (Instituto de Desporto de Portugal, 2005).
Os governos, as diversas agências das Nações Unidas e as instituições
ligadas ao esporte são convidados a promover o esporte e a educação física para
todos, incluindo-os como meio para alcançar as metas de desenvolvimento
acordadas internacionalmente. Nesse sentido, devem trabalhar coletivamente para
que as atividades físicas apresentem oportunidades para o exercício da cooperação
e da solidariedade para promover a cultura da paz e da igualdade entre os sexos e
170
social, e defender o diálogo e a harmonia. São convidados a: reconhecer o valor das
contribuições do esporte e da educação física para o desenvolvimento econômico e
social; encorajar a construção e restauração de instalações esportivas; baseado no
levantamento das necessidades locais, promover atividades físicas como uma
ferramenta para o desenvolvimento da saúde, educação, sociedade e cultura;
fortalecer a cooperação e a parceria entre a família, a escola, os clubes, as
comunidades locais, os líderes, os setores público e privado, para assegurar a
complementaridade de esforços e fazer o esporte e a educação física acessível a
todos; e assegurar que os jovens talentos possam desenvolver seu potencial atlético
sem ameaças à sua segurança e integridade física e moral (Nações Unidas, 2003).
Apesar de instrumentos internacionais advogarem o esporte como direito
humano fundamental para todos, portanto, não apenas um meio, mas também um
fim em si mesmo, o direito ao esporte e à brincadeira é frequentemente negado. Isto
ocorre por causa da discriminação e pela negligência política, exemplificada pelo
declínio nos gastos com a educação física e pela falta de espaços apropriados para
o esporte. No plano do indivíduo, a prática esportiva é vital ao seu desenvolvimento
integral promovendo sua saúde física, emocional e social. Essa fornece
oportunidades de lazer e autoexpressão, benéficas a todos e em especial a jovens
desfavorecidos. Fornece alternativa saudável a atividades prejudiciais como o uso
de drogas e a criminalidade. Além de todos esses fatores, a prática de atividades
físicas tem relação direta como à melhoria dos desempenhos acadêmicos de
crianças e jovens. O objetivo das Nações Unidas de utilizar o esporte como aliado
não é a criação de novos campeões ou o desenvolvimento do esporte, mas a
utilização do esporte como facilitador da participação, da inclusão e da cidadania,
inserindo-o em atividades mais abrangentes do desenvolvimento e da construção da
paz (Nações Unidas, 2003).
O futebol é muito mais do que um luxo ou uma forma de entretenimento. O
acesso ao esporte e a prática do esporte constituem um direito humano e essencial
para que indivíduos de todas as idades conduzam uma vida saudável e plena. O
futebol desde a brincadeira e a atividade física até o esporte competitivo organizado
tem um papel importante em todas as sociedades.
O esporte é fundamental para o desenvolvimento de uma criança. Ensina
valores fundamentais, tais como a cooperação e o respeito. Traz melhorias para a
saúde e reduz a probabilidade de doenças. É uma força econômica significativa que
171
gera emprego e que contribui para o desenvolvimento local. Além disso, reúne
indivíduos e comunidades, servindo de ponte entre as diferenças culturais e étnicas.
Outra faceta que pode ser explorada através do futebol é que, não parece ser
pertinente educar simplesmente falando sobre valores. Torna-se fundamental que
isso seja praticado, pois somente desse modo se torna possível criarem
competências sociais e emocionais básicas. O desporto e em particular o futebol,
pelas suas valências afiguram-se como espaços nos quais os jovens podem
vivenciar, fomentar, desenvolver e aprofundar através de práticas (brincadeiras), os
valores que lhes serão fundamentais para a vida e, para o alcance do sucesso.
Por esse motivo, o envolvimento dos jovens na prática desportiva do futebol
pode em parte se explicar, pelo fato de tal adesão, se fundar na convicção
generalizada dos adultos, de que o desporto apresenta potencialidades no que
concerne à aquisição de comportamentos sociais desejáveis (GONÇALVES, 1991
apud MACIEL, 2008, p. 259). Segundo Tenreiro (2007) apud Maciel (2008, p. 59) o
desporto potencializa o capital humano das sociedades, sendo assim, o desporto
(futebol) é um instrumento importante para a construção da cidadania.
No Brasil, o futebol é, sem dúvida, o esporte mais praticado. Segundo Foer
(2005, p. 10), o futebol chega a ser considerado como um modo de vida, ou melhor,
"[...] é uma metáfora da nova ordem mundial, com toda sua complexidade". Esse
aspecto, por exemplo, demonstra o grande poder do futebol, mobilizando centenas
ou milhares de pessoas, ao articular classes sociais e ideologias políticas, que,
frequentemente, inspiram uma devoção algumas vezes mais intensa até do que nas
religiões. O aspecto negativo refere-se à manipulação do uso desse poder, quando
se percebe a existência de dirigentes sem escrúpulos, disputas sangrentas e
corrupção. De acordo com Melo Neto e Froes (1999), o esporte potencialmente pode
atuar como alternativa para a formação e o desenvolvimento da cidadania, em
especial em comunidades carentes, uma vez que chega a lugares e espaços onde o
Estado não consegue alcançar. Sendo assim:
[...] a massificação do esporte facilita os processos de socialização e aculturação, pois a prática desportiva é amplamente disseminada em todas as classes sociais, faixas etárias e comunidades. Há esportes para todos os gostos, preferências, idades, sexos, culturas, raças e localidades [...] o esporte, principalmente o futebol, é tema de papos e de discussões calorosas [...] o esporte é um veículo de educação. A sua prática implica a absorção de valores fundamentais como respeito ao próximo, regras de civilidade e convivência, disciplina e muitos outros. Através do esporte,
172
aprendem-se novas atitudes, adotam-se novos comportamentos e adquire-se senso de responsabilidade. O esporte permite aos seus praticantes a fixação de metas de melhoria e visão de futuro (MELO NETO; FROES, 1999, p.71).
5.1 O OUTRO LADO DA MOEDA
Mas, como tudo, na vida, não são só flores, existem os espinhos. Devido à
falta de atuação por parte do Estado e, a grande ilusão de meninos brasileiros se
tornarem jogadores de futebol profissional, surgem as brechas para a iniciativa
privada.
Atualmente, diversos clubes e empresas fazem o que se pode chamar de
“criação em cativeiro”. Para ganhar mais dinheiro com o futebol, buscam garotos em
todas as partes do país, investem, revelam e depois tentam vender,
preferencialmente como um produto brasileiro de exportação. A Traffic, empresa do
ramo de comunicações, resolveu investir em jogadores de futebol, por conta do
retorno rápido do investimento. A empresa tem por trás um clube (Desportivo Brasil)
e criou um sítio na internet, para ser sua vitrine de atletas. O sítio diz em sua página
inicial: “Esse site é uma ferramenta para encontrar jogadores, com suas fichas
técnicas, estatísticas, vídeos, jogos inteiros em DVD, situação contratual e outras
informações detalhadas” (FAVERO, 2009, p. 75). O centro de treinamento do
Desportivo Brasil fica em Porto Feliz, interior do Estado de São Paulo, custou R$ 18
milhões, e é um dos maiores e mais bem equipados do país. Possui cinco campos
oficiais e mais dois para treinos específicos, sala de musculação, fisioterapia, sala
de jogos, lan house, wi-fi, alojamento para 200 pessoas em apartamentos com TV e
refeitório que serve 800 refeições diárias.
De tão completo, costuma ser alugado por times grandes, como Botafogo e
Figueirense e, algumas seleções sul-africanas já passaram por lá fazendo pré-
-temporadas. O Desportivo Brasil já nasceu, em 2005, especificamente para a
formação de atletas sub-15, sub-17 e sub-20. E o objetivo é claro: ganhar dinheiro
com os que se destacam. O Desportivo Brasil é um clube de futebol gerido como
uma empresa. Não têm conselheiros, não tem eleição para presidente nem
mudança de estratégia cada vez que uma diretoria nova assume. “O Desportivo é
um clube bem agressivo para captar jogadores. Por agressivo entenda-se também
173
praticante de roubar atletas de outros times”. Relata o jornalista Dassler Marques, do
sítio Olheiros.net. Pois, pela lei, um jogador só pode ter contrato a partir dos 16
anos. Exemplo: antes disso, o jogador pode acordar um dia resolvendo que vai jogar
pela equipe da UnC e simplesmente abandonar o clube. É um mercado livre.
“Competições sub-15 são um terror. Tem clubes como o São Paulo e o Cruzeiro,
que se recusam a participar de torneios assim por medo de perder suas promessas”,
relata Marques. O Desportivo Brasil é um dos times mais agressivos. A moeda de
troca é muito dinheiro, luvas (antecipação do salário) para a família ou maior
participação nos direitos econômicos (antigo passe) do atleta. Como o mercado
internacional é, por razões óbvias, o mais ambicionado pelo clube, os jovens
jogadores têm que aprender a falar inglês, a presença nas aulas que acontecem
duas vezes por semana no centro de treinamento é cobrada. Quem não for leva
multa, que é um desconto na ajuda de custo.
Agora faz necessário relatar a existência de aproveitadores que, usando de
um sonho de muitos meninos brasileiros (e consequentemente de muitos pais) usam
da ilusão e da ingenuidade dessas pessoas para angariar recursos através da
exploração infantil.
O processo de busca desses meninos com os observadores técnicos (ou
como alguns denominam “olheiros”), que procuram nas periferias garotos com
talento e, após um primeiro contato, passam as informações para procuradores,
agentes e empresários. Com a promessa de que irão colocar os meninos em
grandes clubes (principalmente do Sudeste e Sul do país). Esses empresários
muitas vezes, separam os meninos de suas famílias, colocando-os em isolamento e,
submetendo-os a treinamentos intensos diários. Tudo para formar um bom jogador
de futebol (ou um bom negócio). Claro que não são todos os empresários que
realizam essa prática, mas a situação descrita é comum. E em um regime de
treinamentos que não fica nem perto do que se pode considerar como aprendizado,
os meninos começam a sentir a pressão por resultados dentro de campo, além de,
conviverem longe dos familiares e com o distanciamento da escola.
Desta forma, o risco de chegar a fase adulta sem uma formação mínima após
os anos nos clubes de futebol precários é muito grande, sem pensar no período da
infância perdido.
Segundo Favero (2009, p. 82), muitos casos chamaram a atenção das
autoridades, principalmente do Ministério Público do Trabalho. Um desses casos foi
174
o do garoto Fábio, de 17 anos, que atua pelo Vila Nova (Minas Gerais): “Parei o
estudo porque não dava para conciliar com o futebol. Eu sinto muito a falta da minha
família, dos amigos. Eu pedi para o meu pai para ir embora, mas ele disse para eu
segurar as pontas aqui.” Em outro relato pode-se compreender melhor a dinâmica
desse negócio, envolvendo seres humanos que vivem em uma situação de extrema
necessidade:
O empresário Alex de Magalhães (Zica) relata que: depois de passar por Alagoinhas, a 110 quilômetros de Salvador. O interior da Bahia reúne características ideais para o surgimento de bons jogadores: baixa instrução escolar, o clima quente e a forte miscigenação (FAVERO, 2009, p. 82).
Esta declaração mostra que, pessoas sem escrúpulos estão envolvidas nesse
processo de detecção e captação de jogadores de futebol. Num país com
dimensões continentais como é o Brasil, essas pessoas chegam a locais distantes e
desprotegidos pelo Estado, aproveitam-se da falta de oportunidades desses
meninos durante a infância e os exploram através de um sonho que é quase
unanimidade do Oiapoque ao Chuí. A função de empresários cresce
vertiginosamente no Brasil, que possui 337 agentes FIFA3 (pessoas credenciadas
pela entidade para negociar jogadores). É o quarto país do mundo em número de
agentes, só fica atrás da Itália (648), Espanha (571) e Inglaterra (480) agentes
respectivamente.
Segundo Soriano (2010, p. 135-136) nos últimos anos, os clubes de futebol
estão contratando jogadores cada vez mais jovens. De fato, pode-se dizer que foi
criado um mercado paralelo de futuros jogadores. Diante da inflação do preço de
transferências de jogadores já consagrados, dedicaram-se muitos esforços a criar
redes de observadores espalhados por todo o mundo com o objetivo de detectar e
captar jovens talentos para depois terminar de formá-los. Esta mudança de
estratégia gera, em muitos sentidos, desafios formidáveis. Se perguntar aos técnicos
de futebol com que idade é possível distinguir um jogador que tem possibilidade de
chegar a ser um jogador profissional, quase sempre se receberá a mesma resposta:
a partir dos 12 anos de idade. Por isso, as partidas de meninos de categorias
inferiores estão cheias de observadores, de pessoas que foram enviadas pelos
3 Dados obtidos no sítio da FIFA em 18 de fevereiro de 2012. Disponível em
http://pt.fifa.com/aboutfifa/organisation/footballgovernance/playeragents/list.html
175
clubes ou por empresas de representação de jogadores. Procuram meninos de
talento e potencial suficientes para que valha a pena investir neles e contratá-
-los. Contratar um menino de 12 anos pode ser um investimento muito lucrativo
pensando em uma futura transferência, especialmente em determinados países. Por
exemplo:
No Brasil. Em Porto Alegre, vi um defensor promissor com um agente que ficava com a metade dos direitos econômicos por toda a sua carreira esportiva em troca de uns poucos reais, uma cesta básica semanal (farinha, arroz, feijão, açúcar e ovos) e a passagem de ônibus para ir treinar. (SORIANO, 2010, p. 136).
Mais um exemplo claro de que, onde a população vive muitas vezes à
margem de um bom desenvolvimento social, econômico, cultural, deixa brechas
para a exploração de crianças e adolescentes que muitas vezes abdicam de suas
prioridades (estudar, se desenvolver com qualidade) para serem a esperança de um
futuro melhor para toda a família, através do futebol.
Na Europa, a realidade é bem mais complicada. Adquirir os direitos de um
jogador menor significa ter a necessidade de contratar advogados muito preparados,
capazes de elaborar esquemas complexos para romper os contratos que unem os
meninos a seus clubes e simular o traslado da família ao país do clube comprador e
transfers de milhões de euros. A fronteira entre o futebol profissional e o futebol
amador está traçada de maneira bastante nítida: até os 16 anos não se pode assinar
contrato profissional com nenhum jogador; dos 16 anos aos 18 anos pode-se assinar
contratos de três anos de duração no máximo, e, a partir dos 18, pode-se assinar
contratos de trabalho normais. Apesar disso, esta fronteira ficou diluída a partir do
momento em que, para conseguir os serviços dos talentos mais jovens, se forçou a
prática amadora até desvirtuá-la. Assim, os clubes que querem contratar um jogador
menor o que fazem, na verdade, é contratar o pai, oferecendo-lhe um emprego na
cidade do time comprador, e este, obrigado a mudar de domicílio, apela ao direito de
reagrupamento familiar para levar seu filho (SORIANO, 2010, p. 136-137).
Em textos clássicos, é frequentemente mencionado que o futebol moderno
teve sua origem ligada ao espaço educacional. O sport criado pela burguesia
inglesa, no século XIX, foi entendido como uma espécie de “escola de caráter”, isto
é, como uma prática que ajuda a formar os jovens dentro de princípios bem
definidos de pensamento “democrático” (embora elitista) e de comportamento
176
“civilizado” preparando-os para competirem entre si (PRONI, 2007, p. 02). E como
explica Foer (2005, p. 165), o futebol é praticado em todos os cantos do globo
respeitando princípios e regras universais; mas em cada país, há uma multiplicidade
de manifestações idiossincráticas, que alimentam a alteridade entre tradições
futebolísticas e expressam especificidades econômicas, políticas e culturais de cada
sociedade, em nível nacional ou mesmo local.
A partir daqui, entrar-se-á em uma seara que a priori precisará explicá-la.
Pode-se argumentar que, ao longo do século passado, foi ocorrendo um
distanciamento progressivo entre a conduta legítima de atletas renomados e a ética
esportiva ensinada na escola. Como esclarece Manoel Tubino (1994, apud PRONI,
2007, p. 07) estabeleceu-se uma diferença fundamental de objetivos e atitudes no
campo esportivo, na segunda metade do século XX, o que levou aquela geração de
ideólogos do esporte a propor uma nova divisão, identificando três tipos de
manifestação esportiva: o esporte-performance (que objetiva o rendimento e precisa
ser organizado de forma institucionalizada), o esporte-participação (que é praticado
voluntariamente e deve visar o bem-estar e a saúde das pessoas) e o esporte-
-educação (que deve se nortear por princípios de socialização e formação da
personalidade de crianças e jovens, preparando para a cidadania e o lazer).
Tendo em vista essa tipologia, é possível constatar algumas divergências
entre os princípios éticos recomendados aos jovens que são iniciados numa
modalidade esportiva, o comportamento híbrido dos “atletas de fim de semana” e a
conduta desejável para os atletas profissionais que participam de torneios exibidos
para o grande público. Por exemplo, espera-se dos professores de Educação Física
que conheçam e ensinem “os valores humanísticos do esporte” (CAGIGAL, 1981,
apud PRONI, 2007, p. 08) como no caso da máxima “o importante não é vencer,
mas competir”, evitando que os futuros esportistas intimidem seus adversários e
manipulem as regras estabelecidas. Por outro lado, exige-se que os técnicos
contratados por equipes federadas adotem as estratégias que forem necessárias
para vencer um torneio e pressionem seus atletas além de seus limites. A ação do
profissional de Educação Física é, muitas vezes, normativa: procura transmitir ou
reproduzir um conjunto de “valores e normas de comportamento desejáveis”
(BRACHAT, 1992, p. 107).
177
Ao ensinar um esporte, por exemplo, está também ajudando o aluno a
conhecer e praticar determinados padrões de conduta, baseados em uma ética que
não é apenas esportiva, mas também social.
Enquanto ação pedagógica, o esporte deve ensinar o jovem a competir dentro
de regras definidas, de maneira limpa e justa; deve ajudar o indivíduo a controlar
seus impulsos agressivos e prepará-lo para o convívio social; e deve mostrar ao
cidadão a necessidade de respeitar uma autoridade superior e de encarar o
resultado do jogo com desprendimento. Em suma, as aulas de Educação Física
devem contribuir tanto para criar uma cultura esportiva saudável, incentivando a
prática esportiva amadora na vida adulta, quanto para preparar futuros cidadãos.
Segundo Proni (2007, p. 09), por outro lado, a atividade do esporte
profissional não segue exatamente os mesmos princípios educacionais imanentes
ao esporte escolar. A responsabilidade do atleta que tem o esporte como profissão é
cumprir seu contrato de trabalho e seguir as normas ditadas pela entidade que rege
o torneio. O comportamento ético corresponde, nesse caso, ao respeito que os
atletas (e os técnicos) demonstram pelos colegas de profissão, pelos árbitros, pelo
público e pela imprensa. Também corresponde a não utilização de meios ilícitos
(drogas, suborno etc.) para vencer uma competição. Mas a necessidade de vitórias
ou a cobrança de resultados, muitas vezes, coloca esses princípios em segundo
plano.
Quanto ao esporte praticado de forma espontânea, como atividade lúdica,
fora de um âmbito controlado ou institucionalizado, é mais difícil precisar um
conjunto de valores e princípios bem definidos, explícitos, cujo descumprimento
cause alguma penalidade. Mas, isto não quer dizer que estejam ausentes. Talvez
seja possível considerar que as referências maleáveis para a conduta esportiva
nessas atividades sejam uma mescla da ética esportiva escolar e da conduta
pregada em competições profissionais. Portanto, as questões éticas no campo
esportivo estão subordinadas às manifestações de naturezas distintas e a
parâmetros de julgamento que podem ser, em algumas situações, divergentes.
Contudo, tais questões compõem um mesmo terreno de estudos, porque há
comunicação e certa interdependência entre as diferentes manifestações esportivas.
E porque, tanto o esporte escolar e o associativo, de um lado, como o esporte
profissional e o de alto rendimento, de outro, estão inseridos no interior da mesma
sociedade.
178
Em consequência, ao ensinar o futebol dentro de um projeto pedagógico,
tanto na escola como em programas de iniciação esportiva, deve-se ter consciência
de que o esporte oferece um espaço privilegiado para vivenciar princípios e valores
que estruturam e organizam a vida social; e deve-se escolher (ou reavaliar) uma
ética condizente com a formação integral do aluno. Como esclarece Freire (2011, p.
10) é tarefa da Educação Física “trazer a cultura futebolística do brasileiro para
dentro da escola”.
As competições esportivas têm sido marcadas por uma influência cada vez
maior de interesses políticos e econômicos, assim como, pela crescente ênfase no
individualismo e no imediatismo que acompanham a instalação de uma sociedade
de massa. E isso tem causado contradições no ensino da ética esportiva e um
aumento na transgressão das normas (PRONI, 2007, p. 11).
Como explica o educador Mauro Betti, a adesão à economia de mercado e a
ênfase no papel do esporte como veículo de patriotismo e de mobilização nacional
instauraram uma contradição entre o fair play, segundo o qual, competir de forma
honesta e leal é o fundamento de uma atitude “esportiva” e a participação em
torneios entre times profissionais ou mesmo entre seleções.
Pode-se inferir que os valores mais nobres do esporte moderno ficam
obscurecidos quando a competição se transforma numa busca de vitória a qualquer
preço. E que a violência, a fraude e o doping não são elementos isolados ou
ocasionais, mas sim uma decorrência da lógica que reproduz o sistema (PRONI,
2007, p. 11).
Os relatos de Betti (1997, p. 13) nos mostram o seguinte:
A vitória é supervalorizada, e o atleta submete-se a uma crescente pressão por força de interesses financeiros e políticos. Em conseqüência das recompensas materiais, da quantidade de esforços despendidos nos treinamentos cada vez mais sofisticados e do gosto pela vitória, os fins tornam-se mais importantes que os meios, e as regras que regem a disputa esportiva tendem a ser violadas.
E o que é mais grave, o lúdico e a criatividade vão perdendo espaço no
futebol jogado no clube ou ensinado nas escolinhas de iniciação esportiva, como
bem sintetizou Melani (1999, p. 88):
Uma criança de 7 anos que participa de uma equipe de futebol em um campeonato interno de um clube ou de uma escola é pressionada a ter um desempenho vitorioso. Quem pressiona? Todos um pouco. O técnico, que
179
tem como critério de seleção e formação da equipe a eficácia dos jogadores; os pais, que não raramente brigam nas arquibancadas; os colegas, que valoram mais ou menos a criança de acordo com o seu desempenho esportivo; e a própria criança, que desde cedo aprende que quem ganha tem o céu, quem perde, o inferno.
Corroboramos com o pensamento de Proni (2007, p. 12) quando este relata:
A adoção desse modelo exageradamente competitivo faz os critérios éticos e morais utilizados na nossa sociedade variarem conforme o desempenho do indivíduo. Quer dizer, “o sucesso abre as portas para um mundo acima do bem e do mal” (Melani 1999: 89), como no caso dos ídolos do futebol nacional, aos quais são permitidos comportamentos normalmente condenáveis. E isto pode distorcer os objetivos de um programa esportivo pautado nas diretrizes éticas “corretas”, ou seja, naquelas que os educadores priorizam. Podemos acrescentar: como ensinar a uma criança o valor da democracia e a importância de um tratamento humano igualitário e solidário, se não há modelos para servir de referência? O que dizer quando seus principais ídolos são julgados semanalmente pela imprensa de acordo com o resultado das partidas e não segundo seu caráter pessoal? Como reagir quando a rivalidade entre dois times da mesma cidade enfraquece ou mesmo anula o sentimento de respeito mútuo? E como explicar o significado de Nação quando a seleção nacional é administrada de forma privada por um grupo que não representa os interesses da coletividade formada pelos torcedores brasileiros?
Após esses relatos, o indivíduo se vê numa situação que inferioriza as
tentativas de mostrar de como o futebol pode ser uma variável para o
desenvolvimento local, devido às influências do futebol profissional. Pois se insiste
no caráter educativo implícito do futebol e, na outra extremidade, transmitido ao vivo
em alta definição pela mídia está às consequências do futebol profissional
fornecendo modelos de conduta social contrárias aos apregoados pelo primeiro. São
brigas entre os jogadores dentro de campo, gols anulados ou validados (que não
ocorreram) e jogadores dando entrevistas e não relatando a verdadeira situação dos
fatos. Outra questão muito pertinente quanto à relação de modelos, é a situação que
vive a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
A CBF é o órgão máximo que regulamenta o futebol dentro do Brasil. Ela é
filiada à Federação das Associações de Futebol (FIFA) que é o órgão máximo que
regulamenta o futebol em nível mundial. A CBF é presidida pelo Sr. Ricardo Teixeira,
mas antes dele era presidida pelo seu ex-sogro, o Sr. João Havelange. Jean Marie
Faustin Godefroid Havelange, esse é o seu verdadeiro nome, ficou mais conhecido
como João. Segundo Simson e Jennings (1992, p. 56), Havelange enfrentou um
obstáculo principal em seu desejo de se tornar o comandante do futebol mundial. A
FIFA já tinha alguém. O presidente em exercício da FIFA era um inglês, Sir Stanley
180
Rous, que não pretendia deixar o cargo. Rous, sexto presidente da FIFA, era
europeu, como os outros cinco. Apaixonado pelo futebol considerava o esporte uma
das coisas mais importantes em sua vida. Havia abandonado a profissão professor,
para se tornar juiz de futebol. Em 1933, Rous já podia ser encontrado nos grandes
centros do futebol mundial, com seus sapatos imensos e calças largas, apitando
jogos internacionais. Dava grande importância ao conceito de jogo limpo.
Havelange possuía um estilo completamente diferente. Seu passado
esportivo estava mais ligado ao polo aquático do que ao futebol. Nos anos de 1930,
quando Stanley Rous apitava jogos internacionais, Havelange nadava pelo Brasil,
nas Olimpíadas de Hitler, em Berlim. Graças ao seu passado no polo aquático, ele
se tornou presidente da federação de natação de São Paulo, e em 1955 conseguiu
entrar para o Comitê Olímpico Brasileiro. Em 1963 passou a participar do grupo de
elite do Comitê Olímpico Internacional. Seu cargo mais importante foi a presidência
da abrangente Confederação Brasileira de Desportos (CBD). O material promocional
do próprio Havelange, na condição de chefe supremo do esporte brasileiro,
tornando-se o “dirigente mais bem-sucedido do futebol brasileiro”, tendo sido “o
arquiteto das vitórias brasileiras nas Copas de 1958, 1962 e 1970”. Embora alguns
pensem que o sucesso do futebol brasileiro tenha mais a ver com a habilidade de
Pelé e Garrincha do que com Havelange, poucos poderiam negar um fato: ele usou
sua posição como alavanca para se lançar na campanha pelo controle da FIFA.
Havelange viu o futuro. Ele sabia que, ao se tornar o próximo presidente da única
federação já possuidora de um campeonato mundial de grande popularidade,
desfrutaria de um imenso poder político e econômico. Havelange lançou sua
campanha para presidência da FIFA em 1970. Escorado nas três vitórias brasileiras
na Copa do Mundo, ele percorreu o mundo, angariando eleitores potenciais. Jamais
houve uma campanha assim para presidência de uma organização esportiva
(SIMSON; JENNINGS, 1992, p. 58).
Havelange desafiou a antiga supremacia europeia na FIFA, e agiu com
sagacidade. Percebera que os países recém-convertidos ao futebol, na Ásia e na
África, ficavam de fora do campeonato mais importante. Em troca de seus votos,
Havelange prometeu aumentar o número de times na Copa do Mundo, de 16 para
24. Prometeu criar um Campeonato Mundial de Júniores (atual Copa do Mundo Sub
20). Prometeu dinheiro para os países construírem estádios, promoverem cursos de
árbitros, médicos e técnicos, além de mais campeonatos interclubes no Terceiro
181
Mundo. Havelange gastou uma fortuna viajando pelo mundo com o time brasileiro,
acompanhado pela mulher, encontrando pessoas, apertando mãos, acompanhado
de pessoas como Pelé e assim, angariou o voto de cada um dos membros da FIFA.
Foi algo inédito. Nenhum presidente de federação esportiva percorrera o mundo
antes, distribuindo abraços e fazendo campanha. A eleição foi para o segundo turno,
e Havelange ganhou por uma margem apertada: dezesseis votos (SIMSON;
JENNINGS, 1992, p. 58-59).
Assim, João Havelange empossa seu genro como presidente da CBF
(Ricardo Teixeira), isso somado em anos, são 50 anos de controle do futebol
brasileiro nas mãos da mesma família. Ricardo Teixeira (se não renunciar ao cargo
de presidente da CBF por esses dias, por pressão) completará em 2014, 25 anos no
comando da CBF. Já foi indiciado por 13 crimes nas CPIs do futebol. Em 2001, foi
condenado por sonegação fiscal pela 22.ª Vara Federal do Rio de Janeiro. O
episódio, conhecido como Voo da Muamba. Após a vitória na Copa de 1994,
Teixeira tentou entrar no território nacional sem passar as bagagens da delegação
brasileira pela alfândega. Os fiscais da Receita encontraram 17 toneladas de
mercadorias importadas, incluindo máquinas de chope para a cervejaria que o
dirigente possuía no Jockey Club do Rio. A imprensa suíça também noticiou que
Teixeira teria recebido propinas da ISL, empresa que negociava os contratos de
marketing e direitos de TV em nome da FIFA até 2001, quando quebrou. O dinheiro,
num total de 2,5 milhões de francos suíços, teria sido depositado na conta Renford
Investments Ltda., que o próprio Teixeira admitiu ser sócio, juntamente com o sogro
João Havelange (até a data dos acontecimentos citados tinham laços familiares)
(MANZO; MARTINS, 2010, p. 27).
Relatos como estes, reforçam a falta de congruência em esferas distintas de
uma mesma modalidade esportiva, o futebol. Se pensado dentro da perspectiva
educacional, tem muito a favorecer o desenvolvimento local, mas em contrapartida
no âmbito profissional, observa-se os modelos contrários. Como a falta de
transparência e ausência de democracia. O país só está crescendo graças ao
sistema democrático, com alternância de poder, mas, na relação do futebol, ele só
cresce na arrecadação de cotas de patrocínio, mas mantém uma dinastia arcaica,
que não pode ser utilizada como relevância para um desenvolvimento local.
182
5.2 O ABISMO PODE SER ESTREITADO COM A AJUDA DAS UNIVERSIDADES
Até o momento pode-se observar que a falta de cultura e conhecimento
parecem ser os grandes entraves para um melhor entendimento de como o futebol
pode ser uma variável para o desenvolvimento local.
Em contrapartida, pessoas com intenções duvidosas, ludibriam os
responsáveis por menores de idade para lhes conceder plenos poderes sobre seus
filhos, deixando-os sem instrução (não frequentando a escola) para correr atrás de
um sonho de ser jogador de futebol. E se, este não der certo na carreira profissional
(o que é muito comum), não terá uma segunda chance, pois não estará preparado
para entrar no mercado de trabalho competitivo dos dias atuais. Surgindo assim,
mais um problema, o da exclusão social.
Dentre algumas das estratégias para enfrentar o grande problema da
exclusão social, do absenteísmo, da solidão e da pobreza estão as que contam com
o desporto como meio. Entretanto, são grandes os desafios para a inclusão de
crianças, jovens, adultos e idosos às diferentes ambiências da prática desportiva,
em virtude das dificuldades de acesso, oportunidades e conscientização para a sua
prática (SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010, p. 14).
O Perfil dos Municípios Brasileiros (IBGE, 2008) mostra como o Brasil está
longe de proporcionar a toda a população o simples acesso ao esporte. Segundo a
pesquisa, 69% das cidades têm ações, programas ou projetos de esporte
(educacional/outros)4. O dado, porém, não leva em conta a eficiência de cada
iniciativa ou a qualidade das instalações e a capacitação dos professores.
Outra estatística (IBGE, 2008), é mais precisa para indicar esse longo
caminho a ser percorrido. Apenas 53% das escolas públicas brasileiras têm área
para quadras esportivas. Essa carência pode, perfeitamente, ser resolvida com o
aproveitamento de espaços direta ou indiretamente ligados ao poder público.
As Universidades Federais, Estaduais e Municipais, que possuem espaços
destinados para essa finalidade, devem, através de algum departamento
competente (muito provável, o de Educação Física) na medida do possível, ofertar
esses espaços, para programas ou atividades esportivas, destinados a comunidade, 4 Por outros, entendemos qualquer atividade esportiva formal (orientada por um Educador Físico) que atenda uma parcela significativa da comunidade local.
183
e assim, ofertando horas de estágios para que seus acadêmicos possam se
defrontar com a realidade da profissão e possibilitando uma empatia com a parcela
da sociedade que se identifica com esses hábitos desde a tenra idade e formando
assim uma cultura esportiva, que possa perdurar por longos anos.
E as universidades que não possuírem ambiências para a prática desportiva,
tem um papel muito importante em “abrir certas portas”, a Associação Atlética Banco
do Brasil (AABB), órgão ligado ao poder público, possui 1.556 unidades espalhadas
pelo país, todas com quadras poliesportivas. O Serviço Social da Indústria (SESI),
entidade ligada à indústria, mas financiada com dinheiro público, possui mais de três
mil áreas esportivas. As Universidades podem contribuir “abrindo certas portas”,
elaborando projetos para execução de atividades de cunho esportivo nessas áreas,
para crianças e jovens em idade escolar.
É difícil imaginar que não existe nestes mais de 4.500 equipamentos
esportivos algum tipo de ociosidade. Desta forma, as universidades (principalmente
as espalhadas pelo interior do Brasil), podem realizar um diagnóstico da situação
esportiva do seu território e atuar efetivamente na sua solução. Além de exercer um
papel preponderante no desenvolvimento regional desportivo e na descentralização
da produção do conhecimento e do saber.
O investimento de esporte na base escolar cria a pré-condição para
desenvolver a cultura esportiva. Com profissionais capacitados, apoiados por uma
universidade (produção do conhecimento e do saber). O passo seguinte, é identificar
talentos ainda dentro da escola. Depois, encaminhá-los há um programa de
desenvolvimento dessa habilidade, também supervisionado por uma universidade.
Mas, não mais como parte da aula de Educação Física, mas como uma atividade
extracurricular, voltada para o alto rendimento.
Estes três passos estão na base dos dois modelos esportivos mais bem-
-sucedidos das Américas: Estados Unidos da América (EUA) e Cuba. Que
construíram sua excelência seguindo modelos similares, com base na valorização
do esporte educacional.
Até a revolução castrista, em 1958, a prática esportiva na ilha era restrita a
sócios de clubes frequentados por ricos. O panorama começou a mudar com a
inclusão da Educação Física no Sistema Nacional de Educação. Da prática massiva
nas escolas eram pinçados possíveis talentos, encaminhados a entidades de
iniciação desportiva, institutos de aperfeiçoamento técnico e, por fim, centros de alto
184
rendimento (todos com algum tipo de amparo da universidade). Nos EUA, o trabalho
de esporte educacional é o ponto de partida de um caminho que começa na escola
primária, passa pelo Ensino Médio e desemboca na universidade. Entre 2008 e
2009, 52% dos estudantes do Ensino Médio participaram de atividades esportivas
em seus colégios (PLATONOV, 2008, p. 833). O EUA, é o único país do mundo
onde os atletas precisam participar de uma Liga Universitária para se tornarem
profissionais. Uma prova do poder da universidade e a cultura esportiva. Observe a
figura 4.
Figura 4: Estrutura do basquetebol dos EUA Fonte: TAJES JR (2012).
A estrutura do basquetebol dos EUA lembra uma grande pirâmide: na base
está o basquetebol das escolas; logo acima, o universitário e as ligas profissionais
de segundo escalão; e, no topo, os clubes profissionais da NBA5.
Não se está querendo uma cópia fiel desses exemplos, muito pelo contrário,
gostaria apenas de fazer um contraponto, do que ocorre em alguns países do
mundo e, do que ocorre no Brasil referente ao esporte e, em especial com o futebol
(um dos temas dessa pesquisa).
O futebol tem um potencial para ajudar no processo de desenvolvimento local
e regional, ainda maior se for atrelado ao ensino formal. Mas, muitas vezes é tratado
e visto como apenas um “jogo” sem muita importância para a sociedade em geral.
5 NBA: National Basketball Association (Associação Nacional de Basquetebol da América do Norte).
185
Ou melhor, o futebol é tratado apenas dentro da visão do espetáculo, pois, se vive
na sociedade do espetáculo.
A Sociedade do Espetáculo, sob o ponto de vista da teoria marxista, em certo
aspecto, representa quase que um aprofundamento da visão de Marx para Capital e
Trabalho, na medida em que ela converte o lazer e entretenimento em mais uma
exploração do capital sobre o trabalho, além de reforçar a mais-valia.
A taxa da mais-valia depende [...] da relação entre a parte do dia de trabalho necessária para renovar o valor da força de trabalho e o trabalho excedente ou tempo empregado em excesso destinado ao capitalista. Depende, por isso, da proporção em que o dia de trabalho se prolongar para além do tempo, durante o qual o operário, trabalhando, se limitará a reproduzir o valor de sua força de trabalho, ou seja, fornecer o equivalente do seu salário (MARX, 2003, p. 39).
Silva; Terra; Votre (2006, p. 07) apresentam uma proposta de formação para
o empreendedorismo social, tendo a atividade física, em suas múltiplas
manifestações, como fator indutor de desenvolvimento e não vindo a reboque dele.
Utilizam o argumento da hélice tríplice para estudar as relações entre universidade-
-indústria-governo no âmbito do desenvolvimento local, com ênfase na
responsabilidade social. Para isso, destacam o papel da universidade e sua forma
de atuação, que deve passar a compreender espaços em contextos mais
abrangentes. Para eles:
O modelo descritivo e explicativo proposto por Etzkowitz e Leydesdorff (1996) apóia-se na concepção de que as regiões são vistas e interpretadas pelas universidades e empresas como espaços de inovação e não apenas como áreas geográficas, geoeducacionais, culturais ou empresariais. Portanto, a interação operada e esperada pela hélice tríplice se caracteriza pela presença das universidades como instituições de ciência e tecnologia com responsabilidade social quanto ao retorno de suas pesquisas, com perfil empreendedor e que atuam em conjunto com parceiros governamentais e empresariais (das indústrias e do comércio) como empreendedores cívicos, com vistas a construir estratégias para o surgimento e crescimento de novos espaços pró-ativos nas regiões em que estão inseridos.
O desenvolvimento, segundo o modelo da hélice tríplice, ocorre em três
espaços mentais não lineares: conhecimento, consenso e inovação.
O espaço de conhecimento provê arranjos estruturais para o saber,
transformando o saber tácito em explícito; o espaço de consenso estimula o fazer,
levando os atores a trabalharem juntos; o espaço de inovação favorece a
organização de novos e/ou velhos elementos de forma criativa, fortalecendo o
186
processo de inovação. Os espaços de consenso e inovação constroem-se
cooperativamente nas parcerias entre os atores do desenvolvimento (ETZKOWITZ,
2005 apud SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010, p. 01).
A abordagem da hélice tríplice, desenvolvida a partir dos trabalhos pioneiros
de Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff (LEYDESDORFF; ETZKOWITZ , 1996, 1998
apud MELLO, 2004, p. 04). Ela se fundamenta no entendimento de que o
conhecimento se desenvolve dinamicamente, fluindo tanto no interior das
organizações como através das fronteiras institucionais e de que a geração de
riqueza pode se dar através do conhecimento produzido por arranjos institucionais
entre “organizadores” do conhecimento, tais como universidades, indústrias e
agências governamentais. Ela assume que a base de conhecimento e o seu papel
na inovação podem ser explicados em termos de mudanças nas relações entre
universidade (universidade e outras instituições produtoras de conhecimento),
indústria e governo (local, regional, nacional e transnacional).
No modelo da hélice tríplice, a interação entre os atores promove uma
infraestrutura de conhecimento que alicerça o desenvolvimento das regiões. As
relações que se processam permitem às instituições exercerem o papel da outra,
produzindo organizações híbridas que emergem das interfaces. Observe a figura 5.
Figura 5: Modelo da hélice tríplice de relações ent re Universidade-Indústria-Governo Fonte: Etzkowitz; Leydesdorff (2000).
A abordagem da hélice tríplice situa a dinâmica da inovação num contexto em
evolução, onde novas e complexas relações se estabelecem entre as três esferas
institucionais (hélices) universidade, indústria e governo. Relações estas derivadas
de transformações internas em cada hélice, das influências de cada hélice sobre as
187
demais, da criação de novas redes surgidas da interação entre as três hélices; e do
efeito recursivo dessas redes tanto nas espirais de onde elas emergem como na
sociedade como um todo (MELLO, 2004, p. 02).
Da interação entre as três hélices surgem novas camadas de organizações e
redes trilaterais. Está se falando, por exemplo, de programas de pesquisa
cooperativos (redes) envolvendo o mundo acadêmico, o mundo industrial e a
governança pública.
A abordagem da hélice tríplice ressalta que, além de sua subordinação as
especificidades locais, o imperativo, por parte dos atores institucionais, de se
adaptarem as situações contingências em curso, de passarem a assumir novos
papéis e novas funções. Na sua dinâmica, esses novos relacionamentos engendram
efeitos retroativos e reflexivos, abrindo espaço para o surgimento de novas camadas
institucionais, de novos atores e de novas relações, numa transição sem fim. Na
medida em que o conhecimento se torna cada vez mais um insumo importantíssimo
para o desenvolvimento socioeconômico é natural que a universidade, enquanto um
espaço institucional de geração e transmissão de conhecimentos seja vista e
analisada como um ator social de destaque (MELLO, 2004, p. 03).
A tese da hélice tríplice é de que a interação universidade-indústria-governo é
a chave para melhorar as condições para inovação numa sociedade baseada no
conhecimento.
O argumento da hélice tríplice introduz a tese de que a universidade tem um
papel preponderante na sociedade baseada em conhecimento (ETZKOWITZ;
LEYDESDORFF, 2000 apud SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010), diferentemente, de
outros modelos, que preconizam as empresas/indústrias como líderes na inovação
(LUNDVALL, 1992; NELSON, 1993 apud SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010, p. 06)
ou o Estado (SÁBATO; MACKENZIE, 1982 apud SILVA; LOPES; CARVALHO,
2010, p. 06).
O modelo das três hélices propõe que as universidades devem preparar
profissionais para promoverem a inovação e o desenvolvimento; os governos devem
criar aperfeiçoar e consolidar políticas públicas e mecanismos de fomento; e as
indústrias, devem integrar o esquema, com base na responsabilidade social, como
parceiras dos dois outros atores (SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010, p. 08).
Conforme Etzkowitz e Leydesdorff (2000) apud (SILVA; LOPES;
CARVALHO, 2010, p. 09), o modelo da hélice tríplice-1 apresenta uma configuração
188
semelhante ao proposto no triângulo de Sábato (1975), em que o governo engloba a
universidade e a indústria, direcionando a relação entre eles. Esse modelo é
considerado estático.
O segundo modelo, a hélice tríplice-2, apresenta um distanciamento entre a
universidade, a indústria e o governo. Configura-se como um modelo laizzez-faire.
As instituições produzem um movimento no desenvolvimento econômico e social,
mas atuam isoladamente (SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010, p. 11).
O terceiro modelo, e o que até o momento vem sendo utilizado com mais
ênfase para explicar a mudança paradigmática da sociedade industrial para a
sociedade do conhecimento é a hélice tríplice-3. Neste caso, a interação entre as
instituições se realiza de forma efetiva, promovendo uma infraestrutura de
conhecimento que alicerça o desenvolvimento das regiões (SILVA; LOPES;
CARVALHO, 2010, p. 11).
A realidade brasileira é muito diferente, falta ao país uma bem articulada
interação universidade-indústria-governo que possa ser verdadeiramente qualificada
como uma hélice tríplice. De qualquer forma, o modelo da hélice tríplice pode ser
usado como um conceito ex ante, uma ferramenta estratégica para abrir caminhos
para um processo de catch up, com um objetivo último de se criar uma sociedade do
conhecimento (ETZKOWITZ; MELLO, 2004, p. 12).
Por falta dessa sociedade do conhecimento, muitas famílias, iludidas com
esta perspectiva de que, se o seu filho for jogador de futebol lhes trará fama,
sucesso e salários altíssimos. Não importando a classe social, se sujeitam a isso:
querer que o filho seja jogador de futebol. Por esse prisma, não importa ter tido uma
boa formação acadêmica, desde que, se tenha dinheiro. Isto faz crer que, o que
importa atualmente, na sociedade atual, é o “ter” e não o “ser”. Faz-se ver um lado
da crise do mundo institucional. Essas famílias, são levadas a crer que, pelos
poucos casos de sucesso nessa profissão passam a ideia de que isso é possível a
qualquer um, sendo preciso apenas, ter capacidade e esforço pessoal. Essas
famílias e meninos que tem este sonho esquecem-se de que, o número de clubes
profissionais de primeiro escalão, que pagam bons salários é restrito. Não tem o
conhecimento de que 92,3% dos jogadores de futebol do Brasil têm ganhos salariais
de até cinco salários mínimos (DAMO, 2005, p. 75). Sendo assim, apenas 7,7%
dessa população recebe acima de cinco salários mínimos. Pode-se até ser
questionados com a argumentação de que: “mas isso é muito dinheiro, cinco
189
salários mínimos…”, sabendo da realidade econômica da maioria das famílias
brasileiras, concorda-se que cinco salários mínimos é um bom dinheiro, porém neste
momento enfatiza-se que se ele conseguisse unir seus cinco salários mínimos a
uma vida onde os estudos proporcionassem a ele uma boa gestão desse dinheiro,
ele com certeza não irá passar dificuldades no futuro, pois terá capacidade de
poupar uma boa parte de seus ganhos, ajudar sua família e ter outra formação
profissional ao término de sua carreira nos gramados.
Para encerar este capítulo retornar-se-á a Franco (2004, p. 251):
Em geral as pessoas confundem desenvolvimento humano com desenvolvimento social porquanto imaginam que o que chamamos de social seja apenas sinônimo para “coletivo de gente”, denominação para um conjunto de elementos humanos (indivíduos) co-presentes sobre um território por longo tempo. Não percebem que o conceito de “social” se aplica a um sistema complexo (a sociedade), que não significa apenas a reunião ou a soma dos indivíduos e cujas funções (que explicam o chamado comportamento social) não podem ser derivadas daquelas que são desempenhadas pelos indivíduos.
Ao procurar mostrar que o futebol oferece um campo de análise privilegiado
para compreender a interação entre desenvolvimento local e outras esferas de
sociabilidade, quis-se também mostrar como os princípios e valores que presidem a
organização da vida em sociedade acabam se manifestando no âmbito esportivo. E
como as condutas e normas observadas em um esporte bastante popular (no caso,
o futebol) acabam servindo como modelo de comportamento social e reforçando
certos discursos políticos.
O futebol pode ser uma variável para o desenvolvimento local e regional,
desde que, pensado dentro de uma lógica de formação do cidadão crítico e sabedor
da realidade onde ele está inserido e também pelo poder que o futebol exerce numa
grande parcela da população brasileira, que para a fim de assistir e se emocionar
com o jogo, não apenas como mercadoria de consumo de processos capitalistas
descartáveis que pegam carona na grandiosidade desse desporto tão admirado por
multidões mundo afora.
Ao final deste capítulo, conseguiu-se relatar as possíveis formas que o futebol
pode ser uma variável para o desenvolvimento local das regiões, por ser um
desporto coletivo jogado e visto por indivíduos e, desta forma, não passar a margem
desse fenômeno complexo chamado, sociedade.
190
CONCLUSÃO
Chega-se ao final da jornada, ao contrário do que muitos pensavam o futebol
sempre esteve ligado ao processo de desenvolvimento brasileiro e
consequentemente ao processo de desenvolvimento catarinense. Pois, o futebol é
uma invenção inglesa, os ingleses vieram para o Brasil a partir da segunda década
do século XIX e até o final da Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido liderou os
investimentos em infraestrutura e bens de capital no continente, acompanhando os
movimentos de independência. Em consequência disso, o pai de Charles Miller
(britânico e funcionário de uma das companhias inglesas em São Paulo) manda o
filho estudar na Inglaterra e no seu retorno ao país ele, traz consigo os
equipamentos e as normas para se praticar o football e, o restante da história se
conhece bem.
Desta forma, de maneira mais detalhada, respondendo as questões
norteadoras da pesquisa, pode-se concluir que, tendo como pano de fundo
estabelecer uma relação entre o dinamismo econômico das regiões e a frequência
de campeões catarinense de futebol profissional nos períodos, os respectivos títulos
e vice-campeonatos de futebol profissional ficaram com as equipes provindas das
regiões mais dinâmicas economicamente durante os períodos estudados.
Isto corrobora na perspectiva de que as realidades econômicas regionais de
Santa Catarina são suficientes na sua maioria das vezes, para a formação de uma
equipe de futebol profissional com condições de disputar o título estadual no período
de sua maior pujança. E quando isso, não está presente explicitamente, como por
exemplo, nos anos de 2004 e 2005, quando o Clube Atlético Hermann Aichinger
(Atlético de Ibirama) chegou a dois vice-campeonatos consecutivos, isso corrobora
outra questão norteadora de pesquisa, o clube teve uma boa administração, que
num primeiro momento trabalhou com categoria de base (meninos mais novos) que
foram ganhando experiência e naqueles anos especificamente, conseguiram chegar
à disputa de dois títulos estaduais, mesmo com o município que obteve a 84.ª
posição no PIB estadual daquele ano. O caso da S.E. Perdigão de Videira no ano de
1966, onde houve uma singularidade entre as Dimensões Externas (o dinamismo
econômico da Perdigão) e Dimensões Internas (empresários locais) querendo tirar a
equipe da empresa do anonimato e fortalecer a imagem da empresa através do
191
futebol. Os clubes da capital levavam vantagem sobre outros clubes do Estado, com
realidades econômicas regionais superiores a capital, devido que a capital leva
vantagem em atrair melhor capital humano em alguns períodos. Devido às
condições de se jogar em um clube de Florianópolis, que pelas suas belezas
naturais não deixa nada a desejar a nenhum grande centro, além de atrair
patrocinadores de fora da sua realidade econômica regional. E outros exemplos que
foram citados no decorrer das explanações no capítulo 2.
E, respondendo a questão sobre, como o futebol pode ser um fator de
desenvolvimento local para as regiões, toma-se como exemplo o caso do G.E.
Olímpico de Blumenau, campeão estadual em 1964. Neste ano, a equipe que mais
investiu foi a A. A. Tupy de Joinville. O Olímpico formou uma equipe com 70% de
jogadores do próprio município de Blumenau. Isto vem ao encontro ao que Franco
(2004, p. 255) observa que, cada localidade é única porquanto apresenta uma
combinação particular de fatores do desenvolvimento, um arranjo próprio de
diversos capitais, o capital físico-financeiro, capital empresarial, a propriedade
produtiva, o capital humano, o capital social e o capital natural. Assim, para
caracterizar um lugar, desse ponto de vista, as configurações particulares dos
fatores de desenvolvimento devem ter a durabilidade necessária para gerar um
padrão capaz de replicar. Ou seja, as variáveis devem flutuar, durante um tempo
suficiente, em torno de certos valores relativos e, portanto, é isso o que caracteriza o
desenvolvimento daquela localidade. E isso ocorreu no âmbito do futebol profissional
em Blumenau no referido ano, mesmo possuindo uma boa realidade econômica
regional, mas que, não investia pesado no futebol.
Desta forma, não seria o processo de desenvolvimento local, um processo
localizado de mudança social constante que tem como finalidade o progresso
permanente da localidade, da comunidade que se encontra nesta, como um todo e
de cada indivíduo que reside ali. E nada melhor que incidir essas ações
educacionais através do esporte, porque assim, haverá melhorias no
desenvolvimento da localidade e posteriormente na região. Por outro lado, não se
pode esquecer que, os princípios e valores que presidem a organização da vida em
sociedade acabam se manifestando no âmbito esportivo. E ainda, como as condutas
e normas observadas em um esporte bastante popular, como é o caso do futebol,
acabam servindo de modelo para o comportamento social, e isso tem que ser
192
repensado por profissionais, principalmente de Educação Física, para que certos
princípios do futebol profissional não interfiram no esporte educacional.
Sendo assim, com relação aos objetivos específicos pode-se afirmar que ao
término do estudo, constatou-se que todos os objetivos específicos foram
alcançados.
Após as conclusões apresentadas, relacionadas especificamente aos
objetivos propostos no início da temática do estudo, se faz necessário realizar
algumas considerações finais, pois as informações compartilhadas e as
interpretações indicam constatações mais amplas, apresentando um panorama mais
completo do problema estudado.
Esta pesquisa proporcionou um olhar pouco comum quando o assunto tratado
é o futebol. Pois, tentou-se explicar o futebol profissional catarinense pelo viés das
realidades econômicas regionais do Estado de Santa Catarina. Realizou-se uma
viagem ao passado, buscando resgatar qual a atividade econômica estava em alta
em cada período desde os anos de 1960 e 2010, relacionando com os dois times
que obtiveram sucesso no futebol profissional do Estado. Pode-se afirmar que se
está diante de uma anomalia dentro do cenário nacional futebolístico. Pois, em
nenhum outro Estado da federação os times do interior enfrentam as equipes da
capital de tal forma como, em Santa Catarina. E mais, em Santa Catarina todas as
microrregiões estão representadas na classificação geral do campeonato
profissional de futebol, durante o período da pesquisa. E isso, parece ser primordial
para um melhor aproveitamento do campeonato catarinense de futebol. Pensando o
campeonato como um produto, Santa Catarina possui uma ótima oportunidade de
alavancar o seu campeonato. Usa-se a lógica do processo produtivo de suas
ofertas: a necessidade de cooperação com os rivais, que leva à necessidade de
equilíbrio competitivo numa certa competição esportiva, sendo, portanto, um fator
relacionado ao resultado do evento. Se quer dizer o que com isso? Que quanto mais
equilibrado o campeonato, mais lucrativo ele será. A força de um campeonato é à
força de seu time menos favorecido financeiramente. Se por vários anos o mesmo
time for campeão sem disputa acirrada, o torcedor perderá o interesse pelo futebol.
Sendo assim, a lógica da concorrência no mercado do futebol é diferente da lógica
de outros mercados. Os rivais são peça fundamental para o sucesso dos clubes
individualmente. E que Estado possui tamanho equilíbrio no campeonato estadual
de futebol profissional no Brasil? Santa Catarina.
193
Desta forma, este estudo proporcionou experiência, no sentido de aprimorar
conhecimento sobre a pesquisa e aprendizado obtido na observação e interpretação
da realidade do Estado de Santa Catarina, nos quesitos referentes ao futebol e as
realidades econômicas regionais e sobre suas consequências dentro do processo de
desenvolvimento regional catarinense.
A continuidade deste estudo está explícita nos próprios resultados obtidos. É
importante salientar que, necessitaria ter realizado entrevistas com presidentes dos
clubes mais vitoriosos do Estado para obter relatos mais qualificados sobre a
questão de gestão dos clubes; presidente da Federação Catarinense de Futebol,
para obter maiores informações sobre a gestão do campeonato. Visitas às cidades
onde os clubes de futebol profissional têm uma maior identidade com a cidade. Para
que desta forma, sejam esgotadas as possibilidades da pesquisa. Isso não foi
possível, devido à falta de tempo para a elaboração e conclusão da Dissertação e
falta de aporte financeiro.
Sugerem-se também propostas baseadas na percepção da realidade
demonstrada pelo presente estudo em relação ao uso do esporte educacional
(futebol) como variável para o desenvolvimento local: Incentivo maior por parte das
Instituições de Ensino Superior (IES), Federal e Estadual em fomentar programas de
desenvolvimento social e humano através do futebol [isto poderia ser efetuado em
parcerias com as IES privadas de cada região]; expansão de projetos de escolas de
futebol dos clubes catarinenses, em outras regiões do Estado que ainda não
possuem esse tipo de serviço (nem público e nem privado), desta forma, o clube
estaria fortalecendo a sua marca, angariando nossos simpatizantes e descobrindo
novos possíveis talentos para o seu elenco. Além de criar uma identidade
futebolística estadual maior.
194
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