Fundinho Cultural 26ª edição

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Um Jornal do bairro Fundinho . Uberlândia . MG . Brasil ABRIL 2013 - Nº 26 - ANO XI Um Jornal do bairro Fundinho . Uberlândia . MG . Brasil Dr. Oscar Virgílio Pereira: Cultura e arte sempre correram risco de serem engolidas pelo execrável binômio do ”pão e circo”. "Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho" Mahatma Gandhi

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Jornal Fundinho Cultural 26ª edição

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ABRIL 2013 - Nº 26 - ANO XI

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Dr. Oscar Virgílio Pereira: Cultura e arte sempre correram riscode serem engolidas pelo execrável binômio do ”pão e circo”.

"Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho"Mahatma Gandhi

Page 2: Fundinho Cultural 26ª edição

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Faces do Fundinho

Foto do antigo Theatro São Pedro, onde hoje

se localiza a residência de Helena e Mauro

lidade nos bordados, faço croché egosto das artes culinárias, minha es-pecialidade são as tortas.

“Grande amiga nossa, TerezinhaCupertino Chaves, esposa do RubensChaves que era filho do Hermóge-nes Chaves, famoso farmacêutico deUberlândia, a quem todos recorriamem busca dos receituários.” Helena

“Antigamente tinha os famososbailes do Praia Clube e do Uberlân-dia Clube, e as maravilhosas sere-natas e o Mauro sempre me presen-teava com as serenatas.” Helena

“Uma música inesquecível paranós:“Estrada do Bosque”

versar com os vizinhos. Ago-ra, estamos numa situaçãoque não podemos mais nemabrir a casa por causa da vio-lência. No Fundinho éramosuma grande família. Aqui naesquina morava o pai do se-nhor Edson Garcia Nunes, fi-gura importante para a cida-de.

“Um personagem inte-ressante dos tempos antigosaqui no Fundinho, era o Ber-nardino. Ele foi escravo e erauma pessoa muito humilde,morava debaixo da ponte. Trauma-tizado pelos tempos da escravidãoem que fora vítima de sofrimentosno tronco e alvo dos mosquitos, nin-guém podia dizer a frase “–Bernar-dino olha o mosquito!” Ele dizia pa-lavrões e a criançada da época sedivertia muito com isto.” Mauro

Helena: Os nossos vizinhos maispróximos, o senhor Geraldo Migliorinie o senhor Nelson Cardoso. Nós cria-mos nossos filhos juntos.

As nossas ruas de antigamenteeram calçadas com paralelepípedos. Equando eles estavam colocando o as-falto veio um carroceiro e o cavalo es-corregou no asfalto quente, fiquei mui-to impressionada com esta ocorrênciae com muita pena do cavalo.

"Temos que conviver com oprogresso que nos obriga amanter a casa agora fechada!”Helena

Mauro: Uma lembrança mar-cante, o tempo que existia a igrejaMatriz de Nossa Senhora do Car-mo, uma igreja muito bonita na-quela época. Aquele local abrigoua Estação Rodoviária de Uberlân-dia e hoje é a Biblioteca PúblicaMunicipal.

Sou aposentado pelo Banco doBrasil. Fui jogador de basquete,e tenho como hobby uma oficinaaqui em minha casa, onde con-serto coisas..

Helena: Sou do lar, com habi-

A harmonia de um belocasal do Fundinho

HELENA VIEIRA BRAGA e MAURO BRAGA, um casalsimpaticíssimo, que se prepara para comemorar 60 anosde plena harmonia. Ternos representantes do BairroFundinho, conhecem de cor a história deste lugar feliz e seuspersonagens. No Fundinho constituíram seus laços de fa-mília, elegeram amigos, alguns deles permanecem até hojeno rol de sua saudável convivência. Uma bela e harmonio-sa residência bem no centro do bairro testemunha dias feli-zes deste casal gentil.

“Eu acho que há uma mudança noFundinho, que está virando pontocomercial. Lojas e restaurantes que-rendo estabelecer-se aqui e istomuda um pouquinho... as famíliasnão tem mais liberdade...” Mauro

Helena: Moramos a vida inteira aquino Fundinho e o Fundinho é ótimo.Meuavô, Leandro de Oliveira Marquez, queera fazendeiro, residia na Praça Coro-nel Carneiro, onde nasci. Residi tam-bém na Rua Felisberto Carrejo, na RuaManoel Alves e depois que casei vimmorar definitivamente neste endereçoda Felisberto Carrejo, onde se situouo primeiro Cine Teatro de Uberlândia.Depois do teatro, aqui se tornou umdepósito da firma J.Alves Veríssimo.Compramos este imóvel do professorChafi Ayube. Do lado da nossa casatinha uma máquina de beneficiar arroz.

“Nós somos do tempo que a Casade Saúde Dr. Caio Bardi se situavaonde é a Casa da Cultura.” Helena

Mauro: Nasci em Santa Rita de Cás-sia, mas aos 5 anos vim morar aqui noFundinho, na Rua Manoel Alves. Meupai, Eleazar Avelino Braga, foi sapatei-ro, professor, e alfabetizou quase to-dos os antigos fazendeiros que residi-am aqui no Fundinho. Sou irmão deJoão Pinheiro Braga já entrevistadopelo Fundinho Cultural.

Casamos em 1954 e tivemos quatrofilhos. Os nossos filhos: Gilberto, éengenheiro e reside em Recife. O Ri-cardo, que faleceu há seis anos atrás,era veterinário. O Fernando é empre-sário e proprietário da Suporte. O Hen-rique também é empresário, proprie-tário do Posto Ferrari, aqui em Uber-lândia.

“O trânsito está ficando insupor-tável aqui e são muitas as batidasmemoráveis dos veículos. Vem emcima das grades de nossa casa. Ain-da bem que a nossa casa é muitobem feita senão...” Mauro

Helena: O Fundinho de antigamen-te era tranquilo, não existia televisão.A gente podia sentar na porta e con-

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Capa: A Rua Tiradentes, que antigamente tinha pou-cos comércios, um deles, a Padaria Mecânica, hojeuma rua de intenso comércio, vista pela lente domagistral fotógrafo uberlandense Jorge H. Paul.

Ano XI – nº 26ABRIL 2013

Editor: Hélvio LimaAssessoria:Adélia LimaIsabela LimaDiagramação:Niron FernandesImpressão:

Gráfica Scanner-3212-4342Fotos internas: Acervos particulares,Isabela Lima, Jorge H. Paul e Joabe Romed

Tiragem: 5.000 exemplaresEnd. para correspondência: Rua FelisbertoCarrejo, 204 – Fundinho – Fone: (34) 3234-1369 – Cep. 38400-204 – Uberlândia-MG

“Os artigos assinados são de inteira respon-

sabilidade de seus autores e não refletem a

opinião do jornal”

Não foi o acaso...

Marília e Marlene

Amigos a gente escolhe, como esco-lhe uma jóia rara, a flor mais perfuma-da e colorida, a veste mais bonita paraa grande gala, um canto melodioso quenos toca e emociona, uma estrela den-tre muitas no céu repleto delas. Ami-gos batem de repente no coração dagente, coração que, parece, já os es-perava. Entram sem cerimônia e lá seaninham, como se aquele fosse lugarmarcado. Um calor que nunca arrefe-ce, uma magia que tudo ilumina. Ami-gos deixam a vida mais bonita, o cami-nhar mais fácil, a tristeza mais leve, aalegria mais verdadeira.

Assim são Hélvio e Adélia, que ga-nhamos como um presente da vida, acompensar perdas, acrescentar gan-hos, a compartilhar momentos e distri-buir afeto.

Obrigada, pela porta sempre aber-ta, pelo sorriso franco que nos chegacomo um carinho, pelo abraço que nosaconchega e conforta.

Obrigada por entender nossas fa-lhas, perdoar nossas humanidades efragilidades e por acreditar em nós eem nossa amizade, sem impor condi-ções. Obrigada por serem estes serescompreensivos no meio de nossos mui-tos defeitos, de nossas grandes tem-pestades.

Obrigada pela falta de preconceito,pela nobreza de caráter, pela simplici-dade com que vivem os dias, pelo amorque jorra de seus olhos e estão impres-sos em suas almas.

Obrigada por nos fazer acreditar emdias melhores e nos deixar comparti-lhar da sua mesa e do aconchego dasua família, a quem tanto queremosbem e a quem muito admiramos.

Obrigada, Hélvio e Adélia, pela suaarte, pelo dom divino que receberam eque espalham a mancheias, enrique-cendo o mundo de beleza. Obrigadapor este abrigo de luz, espaço de sen-sibilidade e criatividade onde sentimos,a cada vez que entramos, a presençade algo maior, que circunda quadros eesculturas, que envolve gente, quereporta a paz. Obrigada pela alma quecolocam em seu trabalho e pela disse-minação da arte e da cultura, num tra-balho diuturno e constante.

Obrigada pelo esforço e empenhoem registrar no Fundinho Cultural tra-ços de nossa cidade, de nossa cultura, deixando aos pósteros uma imageminteressante de épocas vividas, narra-das com primor por tantas pessoas in-teressantes.

Obrigada pelo estímulo que semprenos anima, pelo calor de seu afeto nosmomentos difíceis, por compartilhar denossas vidas em acontecimentos feli-zes. Obrigada simplesmente por seremnossos amigos. Não foi o acaso. A mãode Deus proporcionou este encontro.

Marília Alves Cunha

Marlene Alves da cunha

(A quatro mãos)

Saudações da Albânia, Senhor editor Helvio LimaParabéns para sua revista e, especialmente, deixe-me expressar minha felicidade ao

contemplar meu pequeno poema traduzido pela Presidente da WPS, Teresinka Perei-

ra, em uma das páginas de Fundinho Cultural. Na verdade, “Os viralatas” (“o vilão”),os cães, apenas simbolizam os emigrantes no estrangeiro, sua terra natal. As pesso-

as em sua terra natal, são “livres”para vender na rua o fruto de seu trabalho, mas

separadamente não tem dinheiro em seus bolsos, mas circulam entre propriedadesmaravilhosas ao redor de sua cidade. O destino de “o vilão”(os viralatas) está espe-

rando os poetas que fingem para salvar sua auto-suficiência, sua soberania e ir por

sua voiceans, rumo à liberdade, como “Os viralatas”. Essa imagem pertence ao meupaís, mas... talvez... “ Com as considerações de profundidade do “poeta Lavrador”,

Riza Lai, Tirana Albânia

no galope dessa noite

sou fantoche do destino

no seu corpo, geografias

cumpro sinas e peregrinoPoesi

a

amanhecer sei que seus olhos ainda

não posso compreender

mas a leste do seu rosto

alastra-se o amanhecer

Akira Yamasaki - SP

ABRIL 2013 - Nº 26 - ANO XI

26O caminho, pleno de queridas

presenças, preenche as

entrelinhas da vida e nos convidaa seguir em frente.

Grato pelo estimulo, amigas,

Marília, Marlene, Ilzete, Mariú,Carmelita, Terezinha, Cora, Doris

e tantas outras pessoas que nos

ajudam a continuar este projetoque nos abre as portas para a

amizade o carinho e

solidariedade.Neste número 26 do Fundinho

Cultural continua a viagem pela

história, poesia e cultura.

Grato a amigos pelo apoio.

O Editor

CartasRecado de uma amiga

quatro ruas tão simples. Muitas coisastenho em minha memória, mas outrastenho alegria em recordar quando leio ojornal Fundinho Cultural, que é agorapara mim uma das leituras de cabeceira.Obrigada Hélvio! Não tenho palavraspara lhe agradecer!Quanta saudade daquele tempo! O queme comove e encanta é lembrar asconversas entre os vizinhos. Não haviasegredos. Receitas, dúvidas, problemas,tudo era dividido. Era um só coração euma só alma.Criança ainda, me orgulhava de sentir aamizade, o carinho que demonstravam ameus pais.Mais uma vez obrigada!Você é um dom de Deus!

Ilzete Dantas Fonseca . 92 anos

ILZETE DANTAS FONSECA

Uberlândia, março de 2013

Hélvio, querido amigo

Agradeço a Deus por você existir. Sóele poderia lhe inspirar a fundação deum jornalzinho tão lindo, onde gravahistórias da nossa querida e tãosaudosa Uberabinha!Os testemunhos e as lembranças demoradores, do tempo em que melembro, só existiam quatro praças e

Carta de Albânia

[email protected] fundinhocultural

Page 3: Fundinho Cultural 26ª edição

Duas crônicaspublicadas recen-temente pela Fo-lha de S. Paulochamaram minhaatenção para aquase coincidênciados temas aborda-dos: “Meu InfernoMais Intimo” – LuizFelipe Pondé e“Este é o meu cor-po” – João PereiraCoutinho. Os arti-culistas, cada um aseu modo, enfati-zaram a questãodo descaso, ou do“esquec imento”

de que, além do corpo, temos umaalma a cuidar. Coutinho comenta a exa-gerada preocupação que devotamoshoje ao corpo – quase uma idolatria,sendo que, há algum tempo atrás, apreocupação que norteava a condutahumana se voltava para o cultivo daalma. Diz ele: “o corpo tinha a sua im-portância como guardião da alma divi-na. Mas só a alma era eterna; o queconcedia ao corpo um estatuto perecí-vel e secundário”. Assim, conforme talconceituação abria-se “um horizontede eternidade” e isso desviava o olharhumano do lugar histérico que ocupahoje, ou seja, o culto ao corpo. Maisadiante, nessa mesma direção, comple-ta o raciocínio dizendo “trata-se de uma

A ALMA ABANDONADACrônica

conduta que condena o homem a ado-rar um deus falível, sujeito às inclemên-cias da velhice, da doença e da morte.Se existem causas perdidas, o corpo éa primeira delas e, alimentar causasperdidas é um sintoma de demência”.

Por sua vez, Pondé relata duas his-tórias: a primeira mostra um jovemangustiado que consulta um rabinosobre o medo que sentiria quando, di-ante de Deus, tivesse que admitir nãoter conseguido viver segundo os exem-plos de vida de Moisés e Elias. A res-posta do rabino, segundo Pondé,“muda o eixo da questão”, mostrandoque Deus não está preocupado se apessoa não consegue seguir parâme-tros morais exteriores. A preocupaçãode Deus é saber até que ponto a pes-soa consegue ser ela mesma. Com issofica enfatizado que o nosso “EU” é onosso maior desafio. Diz ele: “Enfren-tar-se a si mesmo, reconhecer nossasmazelas, nossas inseguranças e, ain-da, assumir-se é atravessar um infer-no de silêncio e solidão”. Na segundahistória, um justo, ao chegar ao céu,ouve ruídos ensurdecedores vindos deuma sala fechada e pergunta a Deusque lugar era aquele, ao que Deus res-ponde; “É o inferno e lhe recomendaque abra aquela porta. Ao fazê-lo, es-cuta o que os infelizes ali presentesestão a gritar: Eu, Eu, Eu. Então, o cro-nista comenta: “Numa época como anossa, obcecada por essa bobagem deautoestima, a tendência do inferno é

ficar mesmo superlotado, cheio de men-tirosos praticantes do “marketing doeu”.

E, Coutinho, como se complemen-tasse tal pensamento, diz: “É por issoque a nossa obsessão com a carcaçanão se corrige com aulas de imagem eexpressão corporal. Não se corrige commais autoestima. Ironicamente se cor-rige com menos autoestima. Somos póe ao pó retornaremos.”

Sem reduzir esta questão tão com-plexa a simples princípios ou regras decondutas morais, a verdade é que oculto ao corpo tornou-se uma obses-são e, em contrapartida, a alma, paraalguns, ficou de fato relegada ao es-quecimento. O que ninguém ignora, noentanto, é que chegará o dia em que oenvelhecimento virá bater às nossasportas. Veremos, então, que a impor-tância conferida aos recursos das aca-demias, das plásticas corretivas, dosmilagrosos cosméticos passa para umsegundo plano e, no seu lugar, namaioria das vezes, surge o andar trô-pego, o uso das bengalas, das cadei-ras de rodas, dos ajudadores- até parao nosso próprio banho. Então, quandoessa realidade bater à nossa porta e,do nosso corpo, não restar mais nada,e, a essa altura, se a nossa alma caiuno esquecimento, onde encontrar pon-tos de sustentação para o confrontofinal? Para qual direção dirigiremos onosso olhar?

Mariù Cerchi Borges - Educadora

Dança “Em pé, parados, dizendo muito“

Não é todo o dia que os Nova Iorquinos podem ver dois traba-lhos de Steve Paxton, um coreógrafo cujo envolvimento no movi-mento radical da Judson Dance Theatre em Nova York a 50 anosatras, e o criador da técnica física e fluída conhecida como conta-to improvisação, no início dos anos 70, continua a exercer umainfluência indelével na dança pós moderna.

“Vamos agora glorificar famosas pessoas comuns” Jill Johnstonescreveu na sua coluna no Village Voice (Jornal local de NovaYork) em 1967, descrevendo a coreografia “Satisfyin’ Lover”(1967), a primeira das duas danças apresentadas dia 17 de Outu-bro de 2012 no MOMA (Museu de Arte Moderna de Nova York).

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Aqui, 44 anos depois, vieram uma outra leva de famosas pesso-as comuns - 41 deles andando cheios de propósitos e sem efeito,ao longo do único espaço vazio que havia no atrium do museu.

Eles vinham sós em grupos, vestidos com roupas comuns e aomesmo tempo elegantes. Alguns paravam em pé, outros senta-vam por um momento em uma das 3 cadeiras, únicos objetosque ficavam em cena.

O que mais me tocou nas peças “Satisfyin’ Lover” e a segunda,“State” (1968), na qual esse mesmo arranjo de pedestres agoraficavam amontoados, trocando posições algumas vezes em mas-sa, foi a qualidade de calma e a imobilidade: nenhuma multi ação,apenas andar e ficar em pé, gloriosas pequenas ações, que por sisó oferecem incontáveis possibilidades coreográficas.

E essas atividades em todo caso não são tão simples de seremfeitas. Quanto mais as pessoas ficavam em pé em “State”, maisvariações você via - forças vulneráveis e tenção em alguns, aatenção maravilhosamente relaxada em outros, e na maioria,um balanço quase imperceptível de corpos supostamente fixos.O estado de ficar em pé é um organismo como qualquer outro.

Talvez um pouco sutil - essas peças poderiam ser apresenta-das em qualquer outro lugar, apesar de tudo. Foi importante queelas apareceram neste espaço público, do museu de Nova Iorque,em particular, que nos anos recentes apresentou muitasperformances?

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Crítica de Dança de Claudia La Rocco no New York Times, em 18de Outubro de 2012.

Traduzido e oferecido por Raquel Dutra, bailarina das coreografi-as de Steve Paxton realizadas no MOMA, em 17 e 21 de Outubro

de 2012. Nova Yorque - EUA

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Um alpendre onde ficavam duascadeiras brancas. Quem chegava darua subia um degrau e já estava emcasa, ou melhor, sentia-se nela.Quem fosse mais detalhista dirigiaos olhos para cima e logo à esquer-da via um pequeno altar improvisa-do. Sobre um azulejo colorido a féem forma de barro: uma santa paraproteger o lar. A porta de madeirapintada de cinza e o vitrô por ondese avistava quem batia a qualquerhora do dia. Para quem a porta seabria a sala oferecia conforto: duaspoltronas de pés palito e estofadovinho, o sofá seguia o mesmo esti-lo. Uma mesinha com tampo brancoservia como suporte para forrinhosde crochê e bibelôs. A estante ti-nha a TV, um telefone cinza da-queles antigos com disco e não te-clas. Havia espaço para canecas eretratos dos netos. Para uma maiorclaridade outra janelinha que nopequeno parapeito guardava umcasal de pássaros azuis de porcela-na.

Não havia corredor e por isso erapossível espiar os quartos, dois. Cor-tinas de chita barravam a curiosi-dade alheia. Nos aposentos, tudosimples. Cama, penteadeira, guar-da-roupa e um abajur infantil: umelefante de louça com cúpula pre-gueada. Era um mimo para os netosque adoravam dormir, sentindo ocalor da avó. O avô não se impor-tava e com o travesseiro nos lon-gos braços ia para a cama de sol-teiro logo ao lado. Um lar organiza-do com geladeira e armário em tonsde azul claro. Não havia desperdí-cio. O filtro de barro com copos dealumínio para matar a sede. Um ba-nheiro limpo com um cabide paratoalhas bem lavadas para envolvercorpos cansados que se renovavamainda mais na cozinha com a comi-da sobre o fogão de quatro bocas.Arroz branquinho, feijão inteiro, al-môndega de carne, salada de ovo erapadura para sobremesa. Um gos-to de lar, lar doce lar da minha in-fância.

Mônica Cunha

A santinhaA santinhaA santinhaA santinhaA santinhano alpendreno alpendreno alpendreno alpendreno alpendre

Aricy Curvello

A Fundação Biblioteca Nacional, doRio de Janeiro, lançou em janeiro de1993 o primeiro número da revista“Poesia Sempre”, como nos informaesse respectivo verbete em“Revistas Literárias Brasileiras-Século XX”, de Paulo Cezar AlvesCustódio [Brasília: Edição do Autor,2012, p. 110].Como matéria principal trouxe poetasda América Latina, alguns deles pelaprimeira vez publicados em nossopaís. Essa feição internacionalcaracterizou sucessivas edições,voltadas para a poesia de algum paísestrangeiro. Seu nº 2, para a dePortugal. Seu nº 3, para a dosEstados Unidos. E assim por diante.Raras vezes “Poesia Sempre”dedicou-se a um tema ou um autorbrasileiro. O que é de se lamentar,pois circula internacionalmente, emtodo o mundo culto.Assumindo em 2012 a tarefa deeditar a revista, o professor/poeta/crítico Afonso Henriques Neto decidiuconstruí-la com o olhar voltado paraa poesia do Brasil. E pensou deimediato em dar ênfase aos estadosbrasileiros, com o propósito de realizarum retrato o mais abrangentepossível da história da poesia desseslugares. E resolveu principiar pelorico manancial de Minas Gerais, logono primeiro número sob sua direção,ode nº 36 ( Ano 18, referente a 2012).É uma bela edição, sob acoordenação editorial de RaquelFabio, com uma iconografia mineiramuito bem selecionada.Abrindo o volume, o ensaio “MinasGerais e sua poesia”, da professora(UFMG) e escritora Letícia Malard.Traz o cânone da maior parte dapoesia mineira, sistematicamenteordenado em três seções,incorporando os contemporâneos :

- Poetas Clássicos : desde o início eo Arcadismo do século 18 até oParnasianismo [Santa Rita Durão,Basílio da Gama, Cláudio Manuel daCosta, Tomás Antônio Gonzaga, SilvaAlvarenga, Bernardo Guimarães,Augusto de Lima, Alphonsus deGuimaraens, Severiano de Resende,Archangelus de Guimaraens];

- Modernismo: século 20, destacandoDrummond, Emílio Moura, PedroNava, João Alphonsus, AscânioLopes; Rosário Fusco;- Após-Modernismo : séculos 20 e21, com 35 poetas, dez dos quais jáfalecidos [Henriqueta Lisboa, AbgarRenault, Bueno de Rivera, Alphonsusde Guimaraens Filho, etc.] e 25contemporâneos, entre os quaisAdéliaPrado, Affonso Rommanno de Sant’Anna, Carlos Ávila, Ricardo Aleixo,Ronaldo Werneck, Sebastião Nunes,Yeda Prates Bernis, Wilmar Silva e oautor destas mal traçadas.

A revista “Poesia Sempre”, em suaedição nº 36, dedicada inteiramenteà poesia de Minas Gerais, pode seradquirida à Loja do Livro da BibliotecaNacional, no Rio de Janeiro:www.bn.br/lojadolivrotelefone (21) 2220- 1309e-mail: [email protected]

REVISTA “POESIA SEMPRE”, PARA SEMPRE

Destaque

Page 4: Fundinho Cultural 26ª edição

Livros

Música Blavasky- Como diria Blavasky – Jor-ge VercilloMúsica para os florais de Bach –Adriano Grineberg e Edu GomesLive At The Spectrum, Philadelphia– Eric Clapton whit Mark Knopfler DVD20 Músicas para uma nova era - Sé-rie Novo Millenium - Zélia DuncanA Passeio - Porcas Borboletas

Lourdinha Barbosa

Fundinho Cultural recomenda

Te cuida! Dr Cláudio Domênico -Casa da Palavra Editora(Saúde-Qualidade de vida-Bem estar)bentevi, itaim akira yamazaki -poemas com CD ( Poesia) Curas pela química oculta-Realidades suprafísicas na Medicina DrJosé Maria Campos (Clemente) EditoraCultrix/Pensamento (Pesquisa)O Preço da Solidão TeresinhaMachado Guimarães Caixeta EditoraComposer (Contos e Crônicas )O jogo da Liberdade da Alma - MariaGabriela Lhansol - Relógio D’águaEditores – Lisboa (Ficção portuguesa)

MEDITAÇÃO

- O que eu quero me ditar?- Que tempo é este que eu fico me di-zendo no silêncio?- O que eu me falo ou posso me falar?Meditar é ter um princípio e a prova deDeus. Como somos parte d’Ele, pode-mos chegar mais perto do Criador,quando sentirmos a necessidade deoferecer um Amor Maior, diferente detodos os outros amores ou sentimen-tos que conhecemos.Esta manifestação passa por estágiospráticos, travessias, caminhadas reaisno amor humano, no amor cósmico,onde exercitamos o nosso reconheci-mento de Deus em todos os aspectosda Criação.E chega uma hora, que vêm questio-namentos da Fonte que podem sersupridos, quando percebermos que oAmor é a resposta que nos abastece.Naturalmente este Amor traz frutos ci-entíficos, intuitivos, poéticos ou artísti-cos, dinâmicos, evolutivos, de compre-

ensão, de saúde e outros que nostransmitem a Verdade - a Verdade in-clusa neste Amor Maior.Este Amor nos espera, mas há umanecessidade de uma busca contínua eduradoura por Ele.Um aquietamento no silêncio, uma pos-tura do corpo adequada, exercícios deenergização, músicas, afirmativas, con-versas do coração, alguns métodos, umambiente tranquilo facilitam a realiza-ção do ato de meditar.Meios diversos existem para o desen-volvimento desta prática. Linhas e ide-ologias múltiplas podem nortear osbuscadores. Mestres e gurus sãoexemplos para os que querem estarneste Caminho.Há de se informar, co-nhecê-los bem, e, se, identificar com al-gum dos mestres e inúmeros recursos,dedicar-se, então, a este conhecimen-to e educação de auto-consciência quechegam bem próximo de Deus.

Lourdinha Barbosa, escritora

Zem

RelaxAntes de dormir, na sonolência e

logo ao acordar, repita

mentalmente,

"eu sou feliz, saudável, próspero,

obrigado".

"Eu moro onde me sinto melhor,

obrigado", ou outra de sua

preferência. Visualize o seu desejo

realizado.

A luz esta chegando, confie na cura

estelar.

Ivone Vebber

VocalidadesEduardo Humbertto

apontam para o lado [oposto]e esperam a minha reação. Ah! Se ao cessar dos olhoso silêncio fosse pleno.Não foi, não é e nunca será.O que é vivo no coraçãolateja por todos os poros em ondassonoras de esperança.

* Poema finalista do Prêmio SESC dePoesia Carlos Drummond de Andrade,Edição 2011. Brasília-DF.

Blog ESCREVER PARA VIVERwww.eduardohumbertto.blogspot.com

Poesia

As palavras pecampelo excesso de sinceridade.Como um ‘repeat’ quebradoas facetas de uma mesma vozme enlouquecem... As nuances trazema fragilidade como sub-texto,e mais uma vezacredito em tudo,atribuindo um atestado de [confiança]. O tempo, o vento e a vidanão permitem que as palavrasfiquem,

Gente do FundinhoMárcia Fonseca

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O Fundinho, que antigamente eradenominado bairro General Osório,corresponde à área de formação inici-al de Uberlândia onde teve seu inícioem torno da antiga Igreja Matriz deNossa Senhora do Carmo. O bairropossui prédios históricos que caracte-rizam-se, inclusive, pela influência ar-quitetônica do barroco e do neoclassi-cismo, tal como pode-se observar nasestruturas dos Palácio dos Leões, Co-reto, Casa da Cultura, entre outros.

Isso ocorreu devido aos imigrantesde origem européia, que chegaramcom a estrada de ferro da Mogiana, esubstituíram as técnicas rústicas deconstrução e aplicaram novas perspec-tivas sobre os padrões de moradia edo comércio justamente com a inten-ção de acompanhar a velocidade doprocesso de desenvolvimento em queo município passava. Os casarões de-corados, as ruas arborizadas e praçascom jardins deram nova fisionomia àpaisagem do bairro no século XX.

Hoje, as substituições verificadas noFundinho ainda não implicaram em umaverticalização ou alterações em suamalha urbana. Mesmo com as novastécnicas de construção da atualidadee as influências estéticas modernas, obairro revela o seu tom cultural, artís-tico e histórico num compasso orques-trado por abrigar artistas, pessoas einstituições ligadas à cultura, e pelaconsciência da maioria dos moradoresem preservar o que ainda existe de

memória arquitetônica.O governo municipal também se

mostrou preocupado com a questão depreservar o patrimônio histórico e cul-tural do Fundinho em 2002, com a apro-vação da Lei Municipal de Parcelamen-to e Zoneamento de Uso e Ocupaçãodo Solo, em atendimento ao Plano Di-retor elaborado em 1994, delimitou aárea do bairro caracterizando-a comoespaço de revitalização e estabelecen-do índices distintos da área central paraevitar o processo de verticalização.Contudo, o que se percebe é que nãohá uma fiscalização consistente quegaranta o controle da área.

Mesmo com as muitas adversidadesem atestar a conservação dos monu-mentos e outras construções históri-cas, a paisagem do bairro permanececaracterizada por uma mescla de esti-los e técnicas de construção e arquite-tura que marcam a sua identidade. OFundinho merece ter a sua “genética”preservada. Afinal de contas, o históri-co da cidade, de certa forma, é apre-sentado por essas belas construçõesde períodos memoráveis. O bairro é ummuseu a céu aberto.

O risco da extinção desse patrimô-nio permanece, mas o interesse por suapreservação tem se intensificado porparte dos próprios moradores que re-conhecem seu valor e lutam para ga-rantir a memória viva da cidade. Aindabem!

Janaína Naves - jornalista

Fundinho: patrimônio históricoe cultural que merece ser preservado

História

0 Quando Colombo descobriu a Améri-ca, criou uma ciumeira danada nos portu-gueses. Tanto fizeram, eles que não tinhamdescoberto nada por estas bandas, queconseguiram um tal de Tratado de Torde-silhas, onde dividiram o mundo desconhe-cido. Herança possível que receberam deAdão e Eva. O risco que fizeram no mapaamericano e que nunca se transformou emdemarcação física, dividia o futuro Triân-gulo em duas partes. Prá lá era da Espa-nha, pra cá, de Portugal. Esse risco passa-va a oeste do município de Uberlândia –que ainda não existia.

Depois que Cabral descobriu as terrasjá descobertas por Colombo e já divididasentre Portugal e Espanha, uns trinta anosdepois, os portugueses resolveram coloni-zar a terra criando as capitanias hereditá-rias. Eram fatias de terra que começavamno litoral e terminavam na linha, jamaisdemarcada, do Tratado de Tordesilhas.Depois criaram o Governo Geral sem sedesfazer das capitanias. As divisas dessascapitanias praticamente só valiam na bei-ra do mar porque ninguém se aventuravaa furar o sertão. Até que os paulistas re-solveram fazer isso. Foram entrando eempurrando as divisas pra frente. Não res-peitaram nem a linha fictícia do Tratado.Até onde chegavam virava São Paulo. Partedo Rio, parte de Minas, de Goiás, Mato Gros-so, Paraná, e não sei mais onde, tudo fi-cou paulista, incluindo o Triângulo.

Pelas divisas originais das capitanias, oTriângulo ficava dentro do Espírito Santo.Virou paulista.

Quando esses sertanistas malucos des-cobriram ouro em Goiás, os portuguesesentenderam que era preciso administrar evigiar a extração por isso criaram a pro-víncia de Goiás. Na distribuição das terraspara a nova província, o Triângulo virougoiano. Esse Triângulo goiano era o mes-mo de hoje. Acabava ali por Araguari, Con-quista, Uberaba, Uberlândia.

A ganância dos aventureiros do Desem-boque, que ficava nas terras do Sacramen-to e, portanto, fora do Triângulo, mais osinteresses goianos de aumentar sua ex-tração e ficar bem aos olhos dos portu-gueses, fez com que o governo de Goiásenviasse tropas, invadisse o Desemboquee o transformasse em goiano. E ainda ele-vou o Desemboque à categoria de Julgado(uma espécie de primeira instância da Jus-tiça) com jurisdição sobre toda a área doTriângulo. Os fazendeiros do Araxá, queacabou invadido também pelos goianos,representaram ao príncipe d. João que aca-tou sua reivindicação de se libertarem daimposição goiana. Só que d. João assinouum documento que devolvia a Minas Ge-rais não só a vila do Desemboque, mastodo o Julgado do Desemboque, criadopelos próprios goianos. Como o Julgadoincluía todo o Triângulo, este foi na rabeirada ordem real para Minas. E foi assim queo Triângulo ficou mineiro.

Antônio Pereira da Silva

TRIÂNGULO: DA ESPANHAA MINAS GERAIS