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ESPAO PAIDIA

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Fundamentos de Raciocnio Analtico.

Ronaldo Pimentel- Lic.

Licenciado em Filosofia- UFJF

Mestrando em Filosofia- UFMG

Rodrigo Marcos de Jesus- Lic.

Mestre em Filosofia- UFMG

Flvio Fontenelle Loque- Ms.

Mestre em Filosofia- UFMG

Luciano Lisboa- Ms.

Bacharel em Filosofia- UFMG

Mestrando em Filosofia - UFMGContm questes de exames sobre Raciocnio Analtico presentes em provas recentes do Teste Anpad.

Maro de 2011.

INDICE

1. Do que trata a prova de Raciocnio Analtico do teste ANPAD?. 32. Argumento logicamente vlido e invlido ......................... 43. O termo analtico ................................................ 64. Elaborao de hipteses ......................................... 115. Falcias ............................................................13Bibliografia ...............................................................221. Do que trata a prova de Raciocnio Analtico do teste ANPAD?

Raciocnio Analtico uma disciplina relacionada identificao de argumentos vlidos e invlidos na linguagem informal. Os argumentos invlidos so tambm chamados falcias. A descrio das principais falcias foi feita inicialmente no livro de lgica de Aristteles chamado Refutao dos Sofistas. Atualmente, a Lgica Informal tem sido retomada e ligada pragmtica e retrica. Essa juno visa criar meios mais eficazes de convencimento e de identificao de maus argumentos, o que no nos interessa aqui at porque identificar um argumento como bom ou mau depende da circunstncia em que foi enunciado.

Segundo o site do teste ANPAD, HTTP://www.anpad.org.br/teste.php, esta a seguinte descrio do exame de Raciocnio Analtico:

A prova de Raciocnio Analtico objetiva testar a habilidade do candidato em avaliar uma suposio, inferncia ou argumento. Uma suposio significa um ato ou efeito de supor, estabelecer ou alegar por hiptese ou conjectura. Uma inferncia significa um ato ou efeito de inferir, tirar por concluso ou deduzir por raciocnio. Um argumento significa um raciocnio, indcio ou prova pelo qual se tira uma consequncia ou deduo.

Cada questo consiste em um pequeno enunciado seguido por uma questo com cinco respostas possveis acerca desse enunciado. A tarefa do candidato escolher a melhor dentre essas respostas.

Embora os enunciados abordem diversos temas, estes so auto-suficientes em termos de compreenso do tema, no requerendo do candidato o conhecimento prvio do assunto tratado; portanto, o foco da questo privilegia a anlise do argumento, da suposio ou da inferncia contidos no contexto do enunciado, e no em conhecimentos prvios sobre o tema do enunciado em si.

2. Argumento logicamente vlido e invlidoUm argumento uma estrutura da linguagem lgica que possui um corpo de premissas, uma inferncia e uma proposio denominada concluso:

Exemplo

O exemplo a seguir de um silogismo categrico. Os silogismos so argumentos breves e possuem uma estrutura em que aparecem trs termos categricos distintos. Na inferncia, um dos termos desaparece, restando apenas os termos extremos e o marcador da inferncia no argumento indica essa situao:

Premissas: Todo animal mortal. O mico-leo-dourado um animal.

Inferncia: Portanto...

Concluso: O mico-leo-dourado mortal.

A avaliao de argumentos depende da semntica. A semntica a parte da lgica que estuda o sentido das proposies, o sentido de uma proposio pode ser verdadeiro ou falso. Num argumento lgico vlido, impossvel que as premissas sejam verdadeiras e a concluso seja falsa, uma vez que a concluso segue das premissas. Qualquer outra situao, portanto, com respeito ao argumento torna-o logicamente invlido.No exemplo acima, se for assumido que as premissas do argumento so todas verdadeiras, no h como negar a verdade da concluso. A inferncia imediata. Mas h casos, por exemplo, em que a verdade ou falsidade da concluso no tem como ser sustentada pelas premissas do argumento. Esse um caso de argumento logicamente invlido.

Exemplo

Premissas: Todo brasileiro lusfono. Todo brasileiro cordial.Inferncia: Portanto...

Concluso: Todo lusfono cordial.Observe que, nesse caso, partindo da verdade de todas as premissas, no h como sustentar a verdade da concluso. No h informao suficiente nas premissas que podem indicar que Todo lusfono cordial., o que torna o argumento logicamente invlido, ou falacioso.

Portanto, em argumentos em que a concluso no pode ser sustentada pelas premissas, a sua avaliao como sendo invlido. A situao em que a concluso, apesar de verdadeira, no estar localizada nas premissas ser uma verdade no sustentada pelas premissas no nos interessa aqui. Portanto, no raciocnio analtico, assumimos como verdadeira nica e exclusivamente as premissas do argumento, ou seja, o enunciado do exerccio, e avaliamos a argumentao de acordo com as respostas ou a concluso do argumento.3. O termo analtico

Uma definio negativa do termo analtico dizer que aquilo que no sinttico. Uma vez que o que sinttico aquilo que acrescentado, ou reunido, o que analtico a decomposio ou a simples repetio. O restante da seo deixa a definio de analtico explcita.Vamos descrever agora dois exemplos que se aplicam o termo analtico. Primeiro, em proposies analticas, depois, em um silogismo.

Exemplos de proposies analticas:

(1) x igual a x(2) Todo tringulo tem trs lados.(3) Voc voc.

Exemplo do silogismo:

(1) Todo homem mortal.

(2) Todo grego homem.

(3) Logo, grego mortal.

a) Discusso do exemplo das proposies: Segundo o filsofo Kant, toda proposio analtica quando o sujeito da proposio diz a mesma coisa que o predicado da mesma proposio. No caso (1) x igual a x, o sujeito da proposio, x diz a mesma coisa que o predicado, igual a x, ou seja, no acrescentou nada no nosso conhecimento de x. A mesma coisa acontece em (2), quando afirmo Todo tringulo tem trs lados. No foi acrescentado nada ao conhecimento do tringulo, porque est implcito no conhecimento do tringulo que ele tem trs lados.b) Discusso do exemplo do silogismo: O termo analtico aqui pode ser descrito como tirar uma parte de um todo. Temos o universo dos mortais em que est contido o universo dos homens e que entre os homens h outro universo, o dos gregos. claro que possvel inferir que todo grego mortal nesse caso:

Se fosse dito que Todo grego filsofo, nesse exemplo de silogismo, ento o raciocnio no analtico, porque nesse caso h um acrscimo de conhecimento aos dados do silogismo. Veremos que isso uma falcia de concluso irrelevante.

Assim, ao dizer analtico temos que ter em mente duas coisas:

(1) No h acrscimo de informao.(2) Analisar retirar uma parte do todo (inferir).[ao inferir no h acrscimo de informao]Um exemplo simples:

H muito tempo atrs, num pas distante, havia um velho rei que tinha trs filhas, inteligentssimas e de indescritvel beleza, chamadas Guilhermina, Genoveva e Griselda. Sentindo-se perto de partir desta para melhor, e sem saber qual das filhas designar como sucessora, o velho rei resolveu submet-las a um teste. A vencedora no apenas seria a nova soberana, como ainda receberia a senha da conta secreta do rei (num banco suo), alm de um fim de semana, com despesas pagas, na Disneylndia.(...)

Desse texto, podemos inferir vrias coisas, analisando-o, decompondo em partes, sem acrescentar mais informao do que aquela contida no texto. Podemos inferir que: (1) O rei acredita que vai morrer; (2) A futura rainha ser uma pessoa inteligente; etc.

Exerccio 1: Tente inferir mais coisas desse texto.a. Exemplos de situaes analticas

I. Os argumentos lgicos vlidos p q ora p logo q. No h acrscimo de conhecimento quando realizamos inferncias. Outro exemplo de inferncia tipicamente analtica: p q logo q. No h acrscimo de conhecimento na proposio inicial em relao concluso, por isso os argumentos lgicos vlidos so analticos.

II. As palavras que so sinnimas ou descries definidasO sucessor de zero um nmero inteiro. = 1 um nmero inteiro.

A guerra foi um fracasso. = O combate foi um fracasso.

III. Simples repetioPel mineiro e Lula nordestino, se for inferido que Lula nordestino, h a repetio de parte de um texto anterior. Isso um processo inferencial analtico, e possui a forma de um argumento logicamente vlido.

Ex. 1:(ANPAD 02/2007) Sob uma burocracia de Estado competente e meritocrtica, relativamente imune a presses polticas, capaz de estabelecer um planejamento racional para uma trajetria superdinmica de acumulao produtiva tanto por parte do setor estatal como de seu pujante setor privado emergente , e contando com um sistema bancrio socializado que mobiliza e oferta crdito barato do longo prazo segundo as prioridades estabelecidas, a China vem crescendo nas ltimas duas dcadas e meia a uma taxa mdia de 9,5% ao ano. Desde 1980, sua renda per capita aumentou 300%, universalizou-se a educao bsica e o percentual de jovens que frequentam universidades subiu de 2,2% para 21%, concentrados em engenharias e em carreiras tcnicas. No mesmo perodo, as exportaes chinesas, saindo de 0,9%, alcanaram 6,5% das exportaes mundiais em 2004, e assim a China se transformou no terceiro protagonista do comrcio mundial.

Qual das seguintes alternativas pode ser inferida a partir da leitura do texto acima?

A) O fato de a China apresentar desempenho superior no campo econmico decorrente de um imenso excedente populacional que redunda na disponibilidade perene de mo de obra abundante e barata. (acrscimo de informao)

B) A opo chinesa, que envolve abertura econmica ampla e controle social severo, propiciou as condies polticas indispensveis para aliar desenvolvimento sustentvel e estabilidade. (acrscimo de informao)

C) J que o sistema(hiptese) chins relativamente imune a presses polticas, foi-lhe possvel executar consistentemente um planejamento racional, o que colocou a China na melhor posio do que outras naes. (proposio analtica e hipottica)

D) Outros pases em desenvolvimento no lograram crescimento nos patamares chineses devido existncia de condies polticas desfavorveis que no lhes permitiram adotar estratgias competitivas. (acrscimo de informao)

E) Se outros pases em desenvolvimento adotarem os mesmos fundamentos econmicos escolhidos e implementados pela China, certamente obtero os mesmos resultados de desempenho.

Observe que a letra C praticamente repete o contedo do texto, uma proposio analtica. A terceira proposio em C uma hiptese. Veremos abaixo como funciona uma hiptese.

4. Elaborao de hiptesesUma hiptese uma suposio, um argumento provvel. Elas so provveis concluses de um argumento posto no enunciado da questo. Mesmo assim, uma suposio no deixa de ser errada, mas deve estar coerente com o restante do corpo textual. Raciocnios hipotticos no so evidentes. Vejamos uma descrio de um argumento hipottico:

H argumentos que no tm como demonstrar a verdade de suas concluses como conseqncias necessrias de suas premissas. Ambicionam apenas caracteriz-las como provveis, ou provavelmente verdadeiras (...). Integram o campo das inferncias no demonstrativas.

A segunda proposio de C no exemplo 1 uma hiptese. No enunciado, h a frase (...) e assim a China se transformou no terceiro protagonista do comrcio mundial. O que coerente com, em C: o que colocou a China na melhor posio do que outras naes. Observe que ainda no ouve um acrscimo significativo de conhecimento em relao ao enunciado e a resposta certa, o que no ocorre nas outras alternativas em que o acrscimo de conhecimento evidente. coerente pensar que uma nao est em melhor posio que outras naes quando ela assume a terceira posio no ranking mundial.

Ex. 2: Num dado concurso pblico, verificou-se que o nmero de candidatos por vaga era 200/vaga. Hipoteticamente, algum pode inferir que o concurso era muito concorrido.Ex. 3: Vejamos outro exemplo com elaborao de hipteses; aqui, a coerncia com a idia do texto importante:

ANPAD (02/2007): Sero os combustveis derivados da biomassa, de fato, uma alternativa vivel para equacionar a questo energtica? Essa uma pergunta que desafia seriamente os que se propem compreender os rumos da civilizao. Segundo cientistas das Universidades de Cornell e da Califrnia (Berkeley), a resposta que no h benefcio energtico em utilizar a biomassa das plantas para produzir combustveis lquidos. Eles estudaram as matrizes energticas de inputs para produzir etanol a partir de biomassas de milho, de capim e de madeira, bem como para produzir biodiesel a partir da soja e do girassol. No caso da soja, concluram que a produo de uma unidade de energia gasta 1,27 unidades de energia fssil, ou seja, implica um dficit energtico de 27%. Para o milho, a lacuna aumenta para 29%; para o capim, 45%; para a madeira, 57% e, para o girassol, alarmantes 118%.

A) A deseconomia na produo de combustveis alternativos deixa clara a concluso de que os derivados de petrleo so a nica alternativa energtica vivel. (proposio no coerente idia do enunciado)

B) H relatos freqentes sobre o sucesso de experincias que envolvem o uso do hidrognio como alternativa energtica e, por isso, essa opo deve ser adotada rapidamente. (acrscimo de conhecimento)

C) Apesar do dficit energtico, eventuais programas para produzir combustveis alternativos a partir da biomassa tm sido desenvolvidos por outras motivaes, como a estratgica. (proposio hipottica)

D) Algumas montadoras j lanaram no mercado modelos hbridos, que combinam o uso de gasolina e eletricidade e, se isso expandir, a necessidade de se buscarem combustveis alternativos diminuir. (acrscimo de conhecimento)

E) Como o Brasil tem disponibilidade de reas agricultveis, alm de sol e de gua em abundncia, podemos produzir combustveis de biomassa com maior eficincia energtica do que diz o texto. (proposio no coerente idia do enunciado)

5. Falcias

Temos visto que as alternativas erradas das questes de raciocnio analtico envolvem acrscimo de conhecimento em relao ao enunciado do exerccio, esses acrscimos so contingentes ou falaciosos. As falcias so argumentos invlidos, no h procedimento analtico ou inferencial entre as premissas (enunciado) e a concluso de um argumento (alternativas). Nem a possibilidade de formulao de hipteses coerentes ao texto. Nesse caso, o argumento se torna contingente, no inferencial, acrescido de conhecimento ou de dados irrelevantes. Vamos elencar aqui as principais falcias importantes para o teste ANPAD.

a. Silogismo com termo no-distribudo

Num silogismo vlido, h um fenmeno chamado transitividade entre trs termos distintos. Os termos so o termo menor, o termo maior e o termo mdio. Quando ocorre o silogismo, o termo mdio desaparece. Mas para isso acontecer, o termo deve estar distribudo. No ocorrendo isso, o silogismo um argumento logicamente invlido.

Exemplo

(ANPAD jun/2009) Em uma indstria:

Todos os produtos alimentcios tm data de validade; e

Todos os produtos compostos de plstico tm data de validade.

Portanto, conclui-se que todos os produtos alimentcios so compostos de plstico.

O argumento apresentado acima invlido porque:

a) Apresenta um sofisma, haja vista que, aparentemente, envolve uma descrio ambgua sobre os dois tipos de produtos em foco.b) Considera, erroneamente, que dois tipos diferentes de produtos so equivalentes, quando apenas compartilham de um atributo em comum.

c) baseado em outro argumento, oriundo de outra fonte, e evidentemente sustenta sua concluso em um raciocnio circular.

d) Contm uma analogia entre dois atributos no similares presentes nos dois tipos de produtos da indstria em questo.

e) Est incompleto, ou seja, sua formulao no contempla elementos suficientes para que se possa avali-lo corretamente.

5.2. Concluso irrelevanteQuando a concluso de um argumento extrapola indevidamente as premissas. Neste caso, pode-se afirmar que a concluso no tem nada a ver com o que fora dito.Exemplo

O presidente do Brasil, o Lula, vai promover a igualdade social, garantindo a incluso social das classes mais desfavorecidas. Logo, O presidente Lula vai confiscar os imveis desocupados e os automveis da classe mdia-alta e distribuir aos mais pobres.

5.3. Declive Escorregadio (Slippery Slope)

uma falcia tpica do discurso argumentativo ou da disputa. Ocorre quando uma vez aceita uma premissa, o argumentador leva o oponente a aceitar toda uma srie de concluses absurdas ou que levam gradativamente a um absurdo. Quando a argumentao gradativa, em que h um acrscimo padro sendo iterado, dizemos que estamos diante de um argumento sorites, como no exemplo a seguir.

Exemplo:

Um policial rodovirio mede a velocidade de carros na rodovia com um radar com o objetivo de multar quem est em excesso de velocidade. A velocidade mxima 80KM/h. A margem de tolerncia do policial de 2Km/h. O veculo A passou a 82Km/h. Como o veculo estava na margem de tolerncia, ento o policial no multa esse veculo. O veculo B passa a 84Km/h, ou seja, 2Km/h a mais que o veculo A. O dono do veculo B argumenta com o policial que ele est numa margem de tolerncia de 2Km/h em relao ao veculo A, e que portanto no deveria ser multado. O policial termina por no multar o veculo B. O veculo C passa a 86Km/h, estando 2Km/h alm do veculo B, o policial levado a relevar o veculo C. Utilizando esse raciocnio, o policial levado ao absurdo de no multar nenhum veculo que passe a qualquer velocidade, uma vez que o policial aceitou que o veculo A passasse a 82Km/h.

5.4. Generalizao apressada (Estatstica insuficiente ou tendenciosa)

Quando se concede ao todo atributos especficos de uma parte sem haver uma enumerao suficiente. como uma viso deturpada.

Exemplo

(ANPAD 02/2007) (modificada) As famlias brasileiras fazem 20% de suas compras utilizando cartes de crdito, de dbito e de lojas (...). Logo Atualmente 20% das famlias brasileiras fazem compras com cartes de dbito, de crdito e de lojas.

Exemplo

Algum entra numa granja e nota que todas as galinhas dessa granja so brancas. Portanto, essa pessoa conclui que toda e qualquer galinha branca.5.5. Falsa Causa (Post Hoc) Toma como premissa de uma concluso, uma causa, que no leva efetivamente ao efeito (concluso). Quando uma causa no leva concluso que estamos esperando, dizemos que a causa espria.Exemplo

Mrio foi curado da dor de cabea porque rezou um pai-nosso e dez ave-marias.

Nesse caso, a reza aparece como uma causa espria.

ExemploO exemplo do raio e do trovo bem paradigmtico.

Evento I Evento II Evento III Tempo

Aqui a causa espria ocorre quando consideramos que o raio a causa do trovo. O que no verdade. O que causa o trovo uma descarga eltrica anterior aos dois eventos.

Exemplo: (ANPAD 2005) Os juros altos no explicam totalmente os esplndidos resultados dos grandes bancos brasileiros. Os bancos lideres de mercado formam o setor da economia que mais rpida e eficientemente reagiu s bruscas mudanas de ambiente econmico pelas quais o Brasil passou nos ltimos 10 anos. Quando o Plano Real cortou a jugular da inflao em 1994, os analistas disseram que os bancos sofreriam para sobreviver com estabilidade financeira. Depois, previu-se que seriam engolidos pelos bancos estrangeiros, todos como mais eficientes, modernos e adaptados vida sem inflao. Por ltimo, alguns especialistas estimaram que o lucro dos bancos despencaria na mesma proporo da taxa de juros SELIC. Entre os meses de fevereiro de 2003 e de 2004, a SELIC caiu de 26,5% para 16,5% ao ano, mas mesmo assim, o lucro dos bancos cresceu no mesmo perodo.

Todas as alternativas podem ser inferidas a partir do texto acima, EXCETO.

A) Pelo menos entre fevereiro de 2003 e de 2004, os nmeros indicam que a taxa de juros apresentou uma trajetria descendente.B) O Plano Real provocou diretamente o aumento dos lucros dos bancos, eliminado a inflao e cortando a taxa de juros SELIC.

C) Os analistas erraram flagrantemente ao avaliar o efeito das mudanas econmicas sobre os balanos dos maiores bancos brasileiros.

D) Outras variveis intervenientes, alm de altas taxas de juros, tm influncia sobre os resultados financeiros dos bancos lderes de mercado.

E) O Brasil passou por profundas mudanas econmicas na ltima dcada, provocando resultados dspares em setores diferentes.

5.6. Exemplo com concluso irrelevante e generalizao apressada

(ANPAD 02/2007) Neville Isdell construiu sua reputao na Coca-Cola como diretor de operaes do grupo nas Filipinas, nos anos 80. poca, a empresa detinha 30% do mercado local e era inferior, em todos os aspectos, rival PepsiCo. O executivo irlands sinalizou suas intenes ao comparecer a uma conveno em uniforme de combate e lanar uma garrafa de Pepsi contra a parede. Quando deixou o pas, cinco anos depois, a Coca-Cola duplicara sua fatia de mercado, deixando para traz a Pepsi.

O que se conclui a partir da leitura do texto acima?

A) O mercado das Filipinas reproduzia uma situao mundial. (generalizao apressada)

B) Conquistar 90% do mercado filipino foi um resultado decisivo para a Coca-cola. (generalizao apressada)

C) A PepsiCo, nos anos 80, apresentava melhor desempenho do que a Coca-Cola.(concluso irrelevante)

D) A situao da Coca-Cola s era inferior da PepsiCo nas Filipinas. (generalizao apressada)

E) A disputa pelo mercado filipino foi considerada uma guerra. (note a sinonmia analiticidade com a terceira proposio do texto)5.7. Argumento Consensual

Quando se pressupe que uma opinio adotada pela maioria corresponde verdade pela simples razo de ser sustentada pela maior parte das pessoas. Trata-se de um sofisma porque, evidentemente, nada impede a maioria de incorrer em erro.Exemplo

Num julgamento, algum condenado porque consensualmente os jurados acreditam que o ru considerado culpado de um crime. Mas a inocncia desse ru vem a ser provada anos depois, o que um exemplo de falcia consensual.

5.8. Argumento contra a pessoa (Argumentum ad hominem)

Quando se tenta refutar uma posio atacando a pessoa que a sustenta. Trata-se de um sofisma porque a validade de um argumento ou a verdade de um enunciado impelem do carter da pessoa que os profere como origem social, cor, opo sexual, etc.

Exemplo: Situaes em que uma empresa no contrata uma mulher, um idoso ou um homossexual por conta da imagem e no pela competncia ou experincia no currculo.Falcias de ambigidade

Quando os argumentos contm formulaes (palavras ou frases) ambguas, cujos significados variados se alternam, de forma sutil, ao longo da argumentao. Os tipos de falcias de ambigidade mais comuns so:5.9. Equvoco

Quando se emprega um termo ou uma frase de carter polissmico, dentro de um mesmo contexto, de modo a induzir o interlocutor a uma interpretao ou compreenso errnea da argumentao.

Exemplo

Os advogados defensores de psicopatas assassinos so desumanos. Logo, nenhum homem vem a se tornar um advogado defensor de psicopatas assassinos.

5.10. Anfibolia

Quando se argumenta a partir de premissas cujas formulaes so gramaticalmente mal construdas.

Exemplo

Os ricos sempre adoram um dinheiro. Logo, UM dinheiro adorado por todos os ricos existe.5.11. Composio

Quando se parte das propriedades das partes de um todo para afirmar as propriedades do todo.

Exemplo

Os livros dessa instante custam R$ 30,00. Logo, toda esta instante custa R$ 30,00.

5.12 Diviso

Quando se considera que aquilo que verdade para o todo necessariamente verdade para as partes.

Exemplo

O pacote de balas custa R$5,00. Logo, cada bala custa R$ 5,00.

5.13. nfase

Quando se enfatiza ou se destaca partes de um enunciado alterando ou induzindo um determinado significado.

FIAT STILO 4 PORTAS POR

R$ 259,00

Em 100 prestaes.

Como afirma Copi: As falcias so armadilhas em que qualquer um de ns pode cair, quando raciocina. [...] No existe qualquer mtodo seguro para evitar falcias. Assim, preciso vigilncia constante, ter clareza nos termos-chave de um enunciado e compreenso da flexibilidade da linguagem e da multiplicidade de seus usos. Ainda que o teste ANPAD no exija que se identifiquem os tipos de falcias a classificao acima permite um melhor entendimento dos aspectos envolvidos nesse teste.BIBLIOGRAFIA

DESCARTES, R. Discurso do Mtodo in Os Pensadores, So Paulo: Nova Cultural, 1996MORTARI, C. A. Introduo Lgica, So Paulo: Ed. Unesp, 2001KANT, I. Lgica, Rio de Janeiro, BTU, 2003COPI, I Introduo Lgica, So Paulo, Mestre Jou, 1974

KELLER, V. & BASTOS, C. L. Aprendendo Lgica, Petrpolis, Vozes, 2002

SALMON, W. C. Lgica, Rio de Janeiro, LTC, 2002

AGUIAR, T. Causalidade e Direo do Tempo, Belo Horizonte, Ed. UFMG, 2008

OLIVA, A. Filosofia da Cincia, Rio de Janeiro, Ed. ZAHAR

POPPER, K. Conjecturas e Refutaes, Braslia, Ed. UnBInferncia: Logo, Portanto, etc.

Premissa 1

Premissa 2

...

Premissa n

Concluso

Raio

Trovo

Descarga Eltrica

MORTARI, C. A. Introduo Lgica, So Paulo: Ed. Unesp, 2001

OLIVA, A. Filosofia da Cincia, Col. Passo a Passo, no. 31, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003