FUNDAMENTOS DA CONSTRUÇÃO MODULAR

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FUNDAMENTOS DA CONSTRUÇÃO MODULAR: PRÉ-CONSTRUÇÃO, FAST-CONSTRUCTION E BIM

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FUNDAMENTOS DA CONSTRUÇÃO MODULAR:

PRÉ-CONSTRUÇÃO, FAST-CONSTRUCTION E BIM

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Sobre o Autor

Engenheiro civil, PMP, consultor, conselheiro e mentor. CEO da ARATAU Construção Modular. Escreve artigos sobre tecnologia, inovação, industrialização da construção e construção modular para o Buildin, Construliga, C3 – Clube da Construção Civil e Linkedin.

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Paulo Oliveira

Contato

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FUNDAMENTOS DA CONSTRUÇÃO MODULAR3

SUMÁRIO

41. INTRODUÇÃO – RELEVÂNCIA DA ESTRATÉGIA MILITAR

2. CONCEPÇÃO, PROJETO E PLANEJAMENTO 6

4. O IMPACTO DA PRÉ-CONSTRUÇÃO NA FAST-CONSTRUCTION

135. A CONSTRUÇÃO MODULAR E A SUA

POTENCIALIZAÇÃO PELO EMPREGO SIMULTÂNEO DA PRÉ CONSTRUÇÃO, DA FAST CONSTRUCTION E DO BIM

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REFERÊNCIAS 25

3. O QUE PRÉ-CONSTRUÇÃO, FAST-CONSTRUCTION E CONSTRUÇÃO MODULAR TÊM EM COMUM? 10

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1. RELEVÂNCIA DA ESTRATÉGIA MILITAR

No século IV a.C., o estrategista e filósofo chinês Sun Tzu es-

creveu um tratado de estratégias militares, composto

por 13 capítulos, denominado “A Arte da Guerra”. Este

livro ainda é um clássico, para os que estudam marketing,

apesar de ter sido escrito há mais de 2.500 anos.

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Há algumas décadas surgiram outras publicações com este mesmo embasamento, como “Marketing de Guerra”, de Jack Trout e Al Ries e Marketing de Guerrilha, de Jay Con-rad Levinson. Na verdade, estratégia é uma palavra derivada do grego “estratego”, o que pode ser interpretado como a “arte do general”.

Embora alguns experts em marketing considerem estes livros ultrapassados, o relevan-te é que a estratégia militar é uma área de estudo abrangente, embasada em planeja-mento de alto nível. Por esta razão, este tema sempre foi estudado, ao longo da história, seja nas academias militares ou nos cursos de marketing e planejamento estratégico.

Na cultura oriental, planejamento tem prioridade absoluta. É pré-requisito para o de-senvolvimento de qualquer atividade, para que a mesma possa ser bem sucedida. Isso também se aplica aos projetos. Há uma lógica clara, simples e coerente por trás disso que, talvez por termos uma história mais recente, ainda não adquiriu raízes na cultura ocidental.

Figura 1 – Livros “A Arte da Guerra” e “Marketing de Guerra”

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2. CONCEPÇÃO, PROJETO E PLANEJAMENTO

Grandes projetos vêm sendo executados ao longo de toda a

história. A Grande Muralha da China, as pirâmides do Egi-

to, o Coliseu e a ida do homem à Lua, são alguns bons

exemplos. Todos estes projetos exigiram grande esforço de

planejamento e gerenciamento. Portanto, o gerenciamen-

to de projetos não é uma nova área de conhecimento.

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Segundo BERNARDO, A. (2017), a evolução da gestão de projeto teve maior expressão no século XIX, durante a pri-meira revolução industrial. Até então, as técnicas de geren-ciamento de projetos evoluíram muito pouco. No século XX, com a necessidade ganhos de produtividade e raciona-lização da produção, Taylor explorou o raciocínio científico, criando uma abordagem fragmentada da produção, através de processos e tarefas, contribuindo para inserir a gestão de projetos em um novo patamar.

Mais adiante, na segunda revolução industrial, com o motor à combustão e a energia elétrica, novas tecnologias de produção em massa foram desen-volvidas. Na terceira revolução indus-trial com a introdução dos computa-dores e nas décadas seguintes, com a criação dos diagramas de rede, Gráfi-cos de PERT (Program Evaluation and Review Technique) e também do mé-todo do Caminho Crítico (Critical Path Method – CPM), introduzidos pelos mi-litares americanos, novos elementos permitiram maior controle dos proje-tos e se expandiram para as diversas indústrias, passando a compor o con-teúdo estratégico das organizações.

No início da década de 60, o geren-ciamento de projetos foi formalizado como ciência e as organizações come-çaram a enxergar o benefício do tra-balho realizado de forma planejada e organizada.

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Ou seja, contratar projeto por preço, abrindo mão do investimento na inteligência de engenharia e na competência de especialistas bem coordenados, não faz sentido e é o maior equívoco que poderia ser cometi-do por um empreendedor. Da mesma forma, forçar os projetistas a desenvolver um projeto em prazo curtíssimo, somente levará a erros e omissões que custarão muito caro, gerarão retrabalhos e atrasos na etapa de produção, corroendo a margem do empreendimento.

Em 1969 foi criado nos EUA o PMI (Project Management Institute), por um grupo de profis-sionais que se reuniram para discutir e organizar as melhores práticas do gerenciamento de projetos.

Mas a verdade é que um conceito fundamental estabelecido pela cultura oriental, é a impor-tância e a ênfase que deve ser dada às fases de concepção, projeto e planejamento. O tem-po, a qualidade e a quantidade de recursos gastos nas atividades envolvidas nestas fases são considerados um investimento necessário para o sucesso do produto ou do empreen-dimento que será posteriormente produzido. Desta forma, a etapa seguinte, a de produção ou de construção, será rápida e terá fluxo contínuo, já que o projeto e o planejamento foram desenvolvidos com o objetivo de garantir a agilidade da execução.

Quando temos um problema cardíaco sério e necessitamos de uma cirurgia invasiva e delicada, não recorremos a um médico ain-da adquirindo experiência para ser o cirur-gião chefe. Por que, então, para um projeto relevante abrimos mão de especialistas ex-perientes, nas diversas áreas, buscando o menor preço de projeto? Vale lembrar que os custos de projeto representam apenas algo entre 3 % a 5% do custo total de cons-trução de um empreendimento. Porém, o projeto influencia diretamente os custos e prazos dos demais 95%!

Com base nos problemas ainda re-correntes no setor de AEC (Arquite-tura, Engenharia e Construção), apa-rentemente ainda falta muito para entendermos a importância deste fundamento oriental. Não são raras as pressões de empreendedores e in-corporadoras para desenvolver pro-jetos em tempo curtíssimo ou ainda, para contratar diversas disciplinas de projeto pelo menor preço.

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Por sua vez, a produção necessitará ser bem gerenciada e deverá ser controlada com ferramen-tas e controles apropriados, corrigindo prontamente eventuais desvios de custo e de prazo.

Em ambas as etapas, para o sucesso de qualquer projeto ou empreendimento, deve-se observar as diretrizes do PMBOK® (Project Management Body of Knowledge), um guia criado pelo PMI, explorando as boas práticas de gerenciamento de projetos. Sua função é padronizar e difundir as práticas mais eficientes, testadas e comprovadas por gerentes de projetos do mundo todo, através de 10 áreas de conhecimento:

Portanto, um projeto bem conduzido segue as diretrizes do PMBOK® e não abre mão das áreas de conhecimento, destacando-se a gestão de riscos, do escopo, da comunicação e da integra-ção, que muitas vezes são relegadas a segundo plano e têm sido a razão do insucesso de proje-tos de grande responsabilidade. Atividades de AEC envolvem grande complexidade e muitas partes interessadas. Sendo assim, um investimento importante para as empresas é certificação de seus colaboradores como PMP (Project Manager Professional), pelo PMI. No Brasil, felizmente há várias empresas que compreenderam que este investimento se reverte em bons resultados muito rapidamente e incentivam a certificação do seu quadro profissional.

Figura 2 – Planejamento com foco no fluxo e na agilidade da produção

Figura 3 – Áreas de Conhecimento do PMI, conforme o PMBOK®

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3. O QUE PRÉ-CONSTRUÇÃO, FAST-CONSTRUCTION E CONSTRUÇÃO MODULAR TÊM EM COMUM?

A verdade é que estes três termos estão viceralmente re-

lacionados, sendo que a Pré-construção é onde está

o embasamento para a Fast Construction e para a

Construção Modular.

O termo Pré-construção tem citações bibliográficas deste

1850. Contudo, ele somente ganhou ênfase na indústria

da construção a partir de 1980, através de iniciativas de

organizações como o Construction Industry Institute.

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Embora este tema sempre gere grande interes-se, somente alguns especialistas o dominam e poucas empresas conhecem a fundo os concei-tos envolvidos. Uma quantidade ainda menor destas empresas tem seus processos desenha-dos e estruturados para praticar a Pré-constru-ção, extraindo os seus máximos benefícios.

A verdade é que a Pré-construção é uma forma inteligente de explorar o máximo conhecimen-to possível de uma equipe multidisciplinar com o objetivo de gerar muito mais do que somente um projeto. Um projeto tradicional é desenvol-vido da forma sequencial e pouco colaborativa. Os serviços de Pré-construção envolvem um amplo trabalho de engenharia, projeto e plane-jamento, antes do início da construção. Na etapa de Pré-construção identifica-se possíveis pro-blemas e riscos envolvidos no projeto. Define--se o escopo, o cronograma, o plano de ataque, a estimativa de custos e a subdivisão dos paco-tes de trabalho, conforme a Estrutura Analítica do Projeto (EAP). É também nesta etapa que se faz o estudo da logística do canteiro e da melhor forma de deslocamento horizontal e vertical dos profissionais e dos materiais e equipamen-tos que serão utilizados, bem como do plano de aquisição e suprimento da obra.

O gerente de projeto deverá trabalhar com a equipe de projeto para preparar o planejamen-to detalhado do trabalho de Pré-construção, estabelecendo um plano de comunicação e uma matriz de responsabilidade para identificar as responsabilidades e as entregas que deverão ser realizadas por todas as partes envolvidas.

O processo de Pré-construção deve começar sempre com uma reunião com o cliente e com as partes inte-ressadas. O principal objetivo é en-tender as necessidades e expectati-vas do cliente. O escopo do projeto, bem como as metas e objetivos são definidos e devem ser confirmados e validados.

Como uma definição coerente e consistente, tenho sugerido que “Pré-construção é o con-junto de atividades e serviços realizados previamente à etapa de Produção (execução da obra), desde a fase de concepção do produto ou projeto, compreendendo o estudo de so-luções de engenharia e das diversas interfaces, bem como o desenvolvimento paralelo de estimativas de custo, o estudo de viabilidade, o planejamento e o orçamento detalhados de um projeto integrado de construção, garantindo a sua eficácia e construtibilidade”.

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A PRÉ-CONSTRUÇÃO TAMBÉM EXPLORA FERRAMENTAS DE APOIO, TAIS COMO:

Lean Construction;

Engenharia Simultânea;

Engenharia e Análise de Valor (EAV);

Target Costing.

A Pré-construção pressupõe um trabalho colaborativo e agrega as competências de espe-cialistas da cadeia de valor: projetistas, consultores, construtora (integradora) e fornece-dores.

Um fato inconteste é que o BIM (Building Information Modeling) engajou o setor de AEC na digitalização, promovendo a colaboração digital e o uso de dados ao longo do ciclo de vida de uma edificação. A Pré-construção tem total sinergia com o BIM, uma vez que também pressupõe um projeto integrado e colaborativo. Portanto, o BIM sempre deve ser utilizado na Pré-construção, uma vez que agrega inteligência de engenharia e agiliza os processos de projeto.

Espera-se, como resultado, o desenvolvimento das melhores soluções de engenharia para cada projeto ou empreendimento, avaliando sempre, paralelamente, as alternativas e os riscos envolvidos.

Fica então claro, que a base da Pré-Construção está no planejamento minucioso do projeto e da construção. Envolve todas as atividades, desde o estudo conceitual, desenvolvimento das diversas etapas do projeto, orçamento, planejamento, suprimento, logística e plano de ataque, observando-se, na sua gestão, as diretrizes do PMBOK®.

Em uma equipe de projeto multidis-ciplinar, competente e bem coor-denada, a combinação do BIM com algumas das ferramentas descritas, selecionadas conforme as necessida-des de cada projeto, empodera a Pré--construção e permite a obtenção de resultados notáveis, desenvolvendo uma mentalidade diferente e uma vi-são holística do processo de projeto e de construção.

Figura 4 – Uso do BIM para análise de interferências e para o estudo virtual da construção

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4. O IMPACTO DA PRÉ-CONSTRUÇÃO NA FAST-CONSTRUCTION

O termo Fast Construction ou Fast-track Construction

tem sido usado há décadas. Contudo, há uma confusão

frequente como se Fast Construction se limitasse ao

emprego de sistemas construtivos industrializados e à tec-

nologia disponível aplicada à construção, para acelerar a

construção de uma edificação ou de um lote de edifica-

ções.

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Esta visão é bastante limitada. Na verdade Fast Construction é mui-to mais do que isso e tem início no estágio de planejamento concei-tual de um projeto ou empreendimento.

Num processo de construção tradicional, as várias etapas ocorrem sequencialmente. No caso de um processo de Fast Construction, uma vez definido o escopo do projeto, os proces-sos são simplificados, as interfaces reduzidas e as etapas são racionalizadas e sobrepostas, desenvolvendo-se as atividades de forma paralela ou simultânea, com grande economia de tempo.

Portanto, Fast Construction compreende a sobreposição de funções e dos está-gios de desenvolvimento de um projeto, para reduzir o tempo necessário para concluí-lo. Desta forma, a construção começa mais cedo e é realizada em um ritmo muito mais rápido.

Uma boa prática é trabalhar primeiro, no planejamento, as tarefas mais longas do Caminho Crítico. Compactando-as teremos a maior redução possível da du-ração do projeto e da construção.

O sistema construtivo e a tecnologia a ser empregada são componentes im-portantes para gerar ganhos de produti-vidade e acelerar a etapa de construção. O “Fast track” costuma ser a maneira mais eficaz de reduzir a duração de um projeto mas, em contrapartida, gera o aumento dos riscos envolvidos. Sendo assim, o mapeamento e gestão de riscos têm importância fundamental. Também são relevantes o estabelecimento de processos ágeis de tomada de decisão e a implantação de um plano de comuni-cação eficaz, comprometendo todas as partes interessadas.

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Uma outra forma de ganhar tempo em Fast Construction é através da utilização de solu-ções de engenharia e projeto já conhecidas e experimentadas, que poderão ser adaptadas e ajustadas ao projeto em questão. A padronização da “biblioteca do cliente” no que tange a móveis e equipamentos, por exemplo, também é de grande utilidade, sobretudo para a expansão, por exemplo, de agências bancárias e de lojas de redes de varejo, em que estes itens são repetidos nas diversas unidades de cada lote de produção ou construção.

A logística e a qualidade do supri-mento também tem grande impor-tância e deve se antecipar, através de pré-contratos com os fornece-dores, alimentando e ajustando as previsões de demandas, para garan-tir um fluxo contínuo e adequado de abastecimento das obras, conforme o conceito just-in-time.

Para o gerenciamento das diversas atividades são utilizados gestores treinados e experientes, que utili-zam softwares e aplicativos mobile que controlam os custos e o avanço físico-financeiro dos projetos, em tempo real.

Figura 5 – Comparação entre processo de projeto e construção tradicional e Fast Construction

EstudoPreliminar daArquitetura

EstudoPreliminar daArquitetura

ProjetoPré-Executivo

ProjetoExecutivo e Projeto deProdução

Construção

Construção

Comission.

Comission.

Operação

Operação

Licitação

Licitação

Suprimento

Suprimento

Anteprojeto

DESENVOLVIMENTO DO PROJETO

COMPACTAÇÃO DO PRAZO

PROJETO FAST-TRACK CONSTRUCTION

PROJETO TRADICIONAL

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EM RESUMO, SÃO RELEVANTES:

Definição clara do escopo;

Logística e suprimento ágeis e eficazes;

Pré-qualificação de fornecedores e de prestadores de serviços;

Padronização dos processos e da “biblioteca do cliente”;

Gestores treinados e experientes, com capacidade de treinar e incutir na equipe a cultura de “Fast Construction”;

Máxima mecanização do trabalho e o emprego de sistemas construtivos e de tecnologia que promovam a aceleração da construção;

Emprego de softwares e aplicativos para planejamento, gerenciamento e controle dos custos e do avanço físico-financeiro.

A construção passa a ser gerida como uma linha de produção industrial em que, por meio de simultaneidade, simplificação e padronização dos processos e repetitivi-dade, o tempo necessário para o projeto e execução passa a ser muito menor do que o que seria consumido em um processo de construção convencional.

Isto posto, fica claro que o emprego da Pré-construção impacta positivamente o trabalho de Fast Construction, contribuin-do para se obter a máxima aceleração do processo de projeto e de construção.

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5. A CONSTRUÇÃO MODULAR E A SUA POTENCIALIZAÇÃO PELO EMPREGO SIMULTÂNEO DA PRÉ CONSTRUÇÃO, DA FAST CONSTRUCTION E DO BIM

Todos os setores da indústria se beneficiaram da digitaliza-

ção, aplicada à inovação, aos processos e à produtividade.

Na construção, lamentavelmente isso não aconteceu.

Desde 1945, a produtividade nos setores de manufatura,

varejo e agricultura nos EUA cresceu 1.500%. Por outro

lado, na indústria da construção, neste mesmo período,

aumentou menos de 1%. Isso é um enorme incômodo e

tem custado muito caro para a economia mundial.

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Por este motivo, consultorias internacionais sérias como a McKinsey, Deloitte e também o Fórum Econômico Mundial, têm batido forte no setor de construção, destacando que es-tamos “empurrando para baixo” a produtividade global. Estas consultorias têm divulgado pesquisas e relatórios consistentes, apontando a Construção Modular como solução para reduzir a desvantagem e o desconforto o setor da construção em relação aos setores mais avançados da indústria.

Com os avanços na impressão 3D, realidades virtual e aumentada, BIM, IoT, automação, robôs e drones autônomos, o modelo tradicional de construção está gradualmente dando lugar a sistemas industrializados e ao subgrupo denominado Construção Modular. Trata--se do processo de conceber, projetar, produzir componentes e módulos de uma casa ou edifício em uma fábrica, sob condições controladas, transportando-os até o local da obra, explorando conceitos e práticas avançadas de logística e integração da cadeia de valor, de forma planejada, controlada, segura, eficaz e muito rápida.

De acordo com a McKinsey, a Construção Modular veio para ficar e ocupará um espaço importante na indústria da construção. Ela também destaca que a percepção dos consumidores sobre moradias pré-fabricadas está mudando, sobretudo devido às novas opções de materiais e componentes, que melhoram o apelo arquitetônico das edificações industrializadas.

Figura 6 – Construção Modular: etapas de fabricação e montagem

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Outra consultoria internacional, especializada em pesquisa de mercado, a Markets & Mar-kets, apurou que a Construção Modular dobrou de tamanho nos últimos 5 anos e deverá ter crescimento médio de 6,9% ao ano, até 2023. A Construção Modular tem potencial para reduzir até 80% dos resíduos que a construção tradicional produz. Há, portanto amplas vantagens para a Construção Modular no combate ao desperdício, à ineficiência na gestão de interfaces e à realização de tarefas que requerem empenho de grande quantidade de mão de obra.

Estas deficiências geram frequentemente atrasos em cronogramas e produzem impacto direto nos custos dos empreendimentos. Isso não somente é comum na construção tradi-cional, como de certa forma se ajusta, inexplicavelmente, dentro de um “padrão” de norma-lidade. A legislação beneficia incorporadoras e construtoras que podem atrasar suas obras em até 6 meses, sem qualquer ônus.

Além de um desrespeito ao cliente, meio ano me parece ser uma tolerância extrema e representa um atraso subs-tancial. Por exemplo, a fa-bricação e montagem de um conjunto de 80 casas, pode-ria acontecer nestes mesmos 6 meses!

Há 15 anos sou dirigente de empresas do setor de enge-nharia, construção e incorpo-ração. Antes disso, atuei por 20 anos dirigindo indústrias de produtos para a constru-ção. Certamente por influên-cia da minha experiência na indústria, sempre refutei ati-vidades como “empilhar” blo-cos ou tijolos e caracterizo a construção convencional, como uma grande operação de “artesanato construtivo”.

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CONSTRUÇÃO TRADICIONAL

Fragmentada / Baixo nível de integração da Cadeia de Valor;

Abordagem pontual: cada novo empreendimento é um “protótipo”;

Dificuldades para a contratação, capacitação e retenção de mão de obra;

Deficiências de engenharia & projeto;

Faltam processos e ferramentas para gestão de projetos e da produção;

Pouco investimento em P&D, Tecnologia & Inovação;

Problemas de qualidade geram:

Retrabalho, atrasos de projetos e de cronogramas de obras;

Aumento dos custos de construção e manutenção.

CONSTRUÇÃO MODULAR

Produção conforme processos padronizados, em ambiente e condições controlados;

Maior controle do projeto e da construção (fabricação e montagem);

Rapidez e previsibilidade: garantia do cumprimento de custos e prazos;

Edificações mais eficazes e Sustentáveis (menor consumo de energia e água);

A evolução das ferramentas digitais:

• Facilitou o projeto dos módulos;

• Otimizou a logística de entrega.

Qualidade e desempenho superiores:

• Redução de riscos, desperdícios e do retrabalho;

• Redução dos custos de operação e manutenção.

Tabela 1 - Algumas características que diferenciam a construção tradicional e a Construção Modular são:

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Embora os relatórios das consultorias mencionadas e as diferenças listadas entre a construção tradicional e a Construção Modular sejam suficientes para justificar a expansão da Construção Modular, destaca-se ainda alguns dos prin-cipais impactos dos problemas decorrentes da construção tradicional:

Estes impactos são um grande incômodo para o setor de engenharia, construção e incorpo-ração e precisam ser superados. E onde, na Construção Modular a Pré-construção se encai-xa? A Pré-construção, como vimos, tem forte embasamento no planejamento e possibilita o desenvolvimento das melhores soluções de engenharia para cada projeto. Nas empresas mais modernas de Construção Modular, as equipes de engenharia aplicam todos os concei-tos e ferramentas utilizados na Pré-construção mencionados, que são combinados com as técnicas e boas práticas de Fast Construction, potencializando os resultados e dando ainda maior velocidade e eficácia aos projetos de Construção Modular.

Figura 7 – Alguns exemplos de produtos da Construção Modular

Afeta a competitividade e a atratividade do setor;

Gera desgastes com os clientes;

Investidores optam por outros negócios e setores que permitem maior segurança na obtenção dos resultados planejados.

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A Modelagem da Informação da Construção (BIM) inseriu o setor da construção no univer-so digital, criando uma metodologia de gestão de projetos integrada e colaborativa, explo-rando as competências multidisciplinares dos profissionais da equipe de projeto. Com o o modelo da edificação em BIM, podemos agregar valor substancial aos projetos. Ganhos de tempo e avanços consideráveis na montagem são obtidos através da simulação, sequencia-mento e visualização de animações em 3D, garantindo que as peças acabadas, componen-tes e módulos tenham dimensões e fabricação precisa e que se encaixem perfeitamente. Muito além da questão espacial, o planejamento e a gestão do tempo (4D), pode incluir in-formações sobre quanto tempo leva para o fornecimento de cada componente, ao longo da cadeia de valor, racionalizando o estoque, bem como o tempo dispendido para fabricar, na sequência exata em que os componentes devem ser instalados e ainda, o tempo necessário para a montagem, também de acordo com a ordem correta dos módulos e painéis.

Com um projeto de fabricação robusto, as áreas de engenharia e Pré-construção de uma indústria de Construção Modular podem testar um modelo, fabricando-o e montando-o virtualmente, entendendo o seu comportamento, antes da sua produção e montagem. O estudo avançado das interfaces e a simulação do sequenciamento da montagem são obti-dos através da visualização e da animação em 3D, garantindo ganhos de tempo e avanços consideráveis e ainda, que as peças acabadas, componentes e módulos tenham dimensões e fabricação precisa e se encaixem perfeitamente.

Isso gera segurança e eficácia muito maiores no planejamento e controle do tempo. Apesar disso, o 4D não elimina a necessidade dos profissionais de planejamento estarem enga-jados e proativos na equipe de projeto, fazendo os devidos controles e ajustes, diante de eventuais desvios.

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Com o 5D é possível extrair informações precisas de custo precisas do mode-lo BIM. Os custos podem estar associados a diversas informações dos compo-nentes, incluindo o custo de aquisição de insumos e o tempo para a sua efetiva instalação, mas não se limitando a isso. Os gestores podem extrair automatica-mente quantidades e custos, derivados de componentes do modelo, para gerar e atualizar o orçamento de um produto ou empreendimento, por exemplo. Fa-zer o rastreamento e a gestão de gastos previstos e realizados também passa a ser uma tarefa muito mais fácil, lembrando que a precisão sempre dependerá da qualidade das informações inseridas no sistema.

O BIM 6D permite a inserção de infor-mações referentes ao ciclo de vida do empreendimento, possibilitando uma gestão racional e eficaz dos ativos. Isso permite o eventual diagnóstico do de-sempenho dos diversos componentes, bem como a sua substituição planejada. Através do BIM 6D faz-se ainda a pro-gramação de atividades de manuten-ção, de forma inteligente, para o bom desempenho da operação ao longo de sua vida útil. A decisão de um retrofit ou modernização do ativo, ou mesmo de sua reposição, quando as intervenções de manutenção forem antieconômicas ou os sistemas existentes se mostra-rem ineficientes também é mais lógica e racional.

Através dos esforços de Pré-constru-ção, Fast Construction e da Modelagem da Informação da Construção (BIM) podemos agregar valor substancial aos projetos. Maiores avanços têm sido ob-tidos através do emprego adequado do IFC (Industry Foundation Classes), que é um formato de arquivo aberto que tem a finalidade de permitir o intercâmbio de informações de um modelo entre di-ferentes aplicativos BIM, desde a con-cepção do projeto.

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AS PRINCIPAIS VANTAGENS DA CONSTRUÇÃO MODULAR SÃO:

Maior controle do projeto e da construção (Fabricação e Montagem);

Rapidez, previsibilidade e segurança da entrega:

• Garantia do cumprimento de custos e prazos.

Concentração de atividades em ambiente industrial (off-site):

• Fabricação em linha de montagem;

• Processos padronizados e controlados;

• Alta produtividade e economia de escala;

• Maior segurança;

• Menor consumo de água e de energia para a produção.

Maior tecnologia e inovação embarcada nos produtos;

Montagem rápida (on-site):

• Compactação do tempo de construção;

• Minimização de atrasos decorrentes de condições climáticas desfavoráveis.

Maior flexibilidade e adaptabilidade às necessidades dos clientes:

• Novos espaços/módulos podem ser facilmente agregados;

Qualidade e desempenho superiores:

• Redução de riscos, desperdícios e do retrabalho;

• Redução dos custos de operação e manutenção.

Edificações mais eficazes e sustentáveis:

• Maior eficiência energética e economia de água;

• Emprego de materiais recicláveis;

• Menor emissão de gases de efeito estufa;

• Menor geração de poeira e resíduos.

Portabilidade:

• Facilidade de desmontar uma edificação modular e de remontá-la em outro local.

Novas perspectivas para o mercado imobiliário.

5.1 VANTAGENS DA CONSTRUÇÃO MODULAR

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A indústria da Construção Modular está em processo de transfor-mação, em escala global, para se adaptar às necessidades das novas gerações e negócios, substituindo com vantagens, os métodos con-vencionais de construção.

Considerando a inteligência de engenharia e as competências prove-nientes da Pré-construção e da Fast Construction, a rapidez, eficácia, a qualidade e o desempenho das edificações modulares são ótimos motivos para que a Construção Modular ocupe uma posição de des-taque no setor de AEC. A redução de prazos de até 50% e de até 20% dos custos em relação à construção tradicional, são fortes razões para justificar maior incentivo e investimento no desenvolvimento da Construção Modular.

Com boa qualidade de design e escala adequada, a Construção Modu-lar, além de maior flexibilidade e adaptabilidade às necessidades dos clientes, é mais sustentável e reduz até 80% do desperdício produzi-do pela construção convencional. No caso de edificações e empreen-dimentos que têm como característica a repetição de unidades, como hotéis, hospitais, escolas e edificações comerciais e residenciais, os ganhos são maximizados, devido à economia de escala.

6. CONCLUSÃO

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Rapidez e garantia do cumprimento de custos e prazos são características mui-to relevantes da Construção Modular que eliminam os impactos negativos da construção tradicional. Isso afeta fortemente a competitividade e a atratividade do setor, uma vez que gera desgastes com os clientes e afasta os investidores do setor de AEC pela falta de previsibilidade na obtenção dos resultados planeja-dos.

Se isso não bastasse, as edificações mo-dulares industrializadas propiciam ga-nhos relevantes ao longo de sua vida útil, devido aos custos menores de manu-tenção e operação. Isso gera economia relevante para os proprietários, já que o custo de uma edificação, ao longo do seu ciclo de vida, pode ser subdivido em apenas 15% para as etapas de projeto e construção e 85% para a etapa de opera-ção.

Ou seja, do ponto de vista financeiro, a economia possível, ao longo da vida útil de uma edificação modular bem proje-tada e construída, é substancial. O custo por metro quadrado, por ano de vida útil dos produtos obtidos através da Cons-trução Modular é significativamente in-ferior ao das edificações tradicionais. Se aplicado em escala, o impacto econômi-co e social gerado pela “sobra de caixa” resultante da mudança de modelo é ele-vado.

Para um país em desenvolvimento, que vem enfrentando crises no âmbito polí-tico e econômico, saber investir e racio-nalizar os recursos disponíveis é uma necessidade essencial. A simples cons-ciência deste fato, aliada ao déficit de moradias, insuficiência do sistema de saúde e de educação deveriam ser bons motivos para nos fazer repensar sobre a urgência e racionalidade de mudança de modelo no setor de AEC.

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