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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva DAIANNY DE PAULA SANTOS HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA ENTRE MULHERES QUE FAZEM USO DE CRACK NO ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL RECIFE 2016

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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

CENTRO DE PESQUISAS AGGEU MAGALHÃES

Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva

DAIANNY DE PAULA SANTOS

HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA ENTRE MULHERES QUE FAZEM USO DE CRACK

NO ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL

RECIFE

2016

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DAIANNY DE PAULA SANTOS

HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA ENTRE MULHERES QUE FAZEM USO DE CRACK

NO ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL

Monografia apresentada ao curso de

Residência Multiprofissional em Saúde

Coletiva do Departamento de Saúde Coletiva,

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães,

Fundação Oswaldo Cruz para a obtenção do

título de especialista em saúde coletiva.

Orientadora: Drª Naíde Teodósio Valois Santos

RECIFE

2016

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Catalogação na fonte: Biblioteca do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães

S237h

Santos, Daianny de Paula.

Histórico de violência entre mulheres que fazem uso de crack no

estado de Pernambuco, Brasil/ Daianny de Paula Santos. — Recife: [s.

n.], 2016.

75 p.: il.

Monografia (Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva) –

Departamento de Saúde Coletiva, Centro de Pesquisas Aggeu

Magalhães, Fundação Oswaldo Cruz.

Orientadora: Naíde Teodósio Valois Santos.

1. Violência contra a Mulher. 2. Drogas Ilícitas. 3.

Vulnerabilidade em Saúde. I. Santos, Naíde Teodósio Valois. II.

Título.

CDU 343.6-055.2

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DAIANNY DE PAULA SANTOS

HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA ENTRE MULHERES QUE FAZEM USO DE CRACK

NO ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL

Monografia apresentada ao curso de

Residência Multiprofissional em Saúde

Coletiva do Departamento de Saúde Coletiva,

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães,

Fundação Oswaldo Cruz para a obtenção do

título de especialista em saúde coletiva.

Aprovado em: 27 de outubro de 2016

BANCA EXAMINADORA

_________________________________

Prof.ª Dr.ª Naíde Teodósio Valois Santos (Orientadora)

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fiocruz

__________________________________

Prof.ª Msc. Camila Pimentel Lopes de Melo

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fiocruz

__________________________________

Prof.º Dr.º José Arturo Costa Escobar

Faculdade de Ciências Humanas – ESUDA

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Dedico este trabalho a todas as mulheres vítimas de violência, em especial às participantes

deste estudo, as mulheres usuárias de crack que carregam consigo marcas de opressão, dor e

exclusão social.

Até que todas sejam livres!!

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AGRADECIMENTOS

À Deus, “[...] Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem

as fontes da vida.. [...]”

A minha família, pelo amor, companheirismo, e compreensão nos momentos de ausência.

A Naíde Teodósio, pela estima orientação, saberes apreendidos, paciência, disponibilidade,

carinho e a oportunidade de participar das pesquisas e grupos de estudos no campo de drogas

e vulnerabilidade. Minha extrema gratidão.

A Iracema Jacques pela amizade cultivada nesses últimos dois anos de pesquisa, bem como

pela paciência e momentos de orientação e compartilhamento de saberes.

Aos integrantes da equipe da pesquisa “Vulnerabilidade de usuários de crack ao HIV e outras

doenças transmissíveis: estudo sociocomportamental e prevalência no Estado de

Pernambuco”, pelas experiências vivenciadas no campo das drogas. Gratidão, especialmente à

Ana Maria de Brito, Renata Almeida, Alessandro Pinheiro de Brito (O querido Alex),

Rayanne Lidia de M. G. Novaes, Iracema Jacques, Marcio Roberto Pinto Soares, Adriana

Cysneiros, Carla Maria Elias de Souza, Vania Maria de Aguiar e Anadísia Rodrigues de

Oliveira Lima.

A coordenação do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Coletiva do Centro de

Pesquisas Aggeu Magalhães/ Fiocruz, em especial a Domício Sá, Viviane Pimentel, e

Semente pela disponibilidade e atenção nesses últimos dois anos.

Aos camaradas e colegas de turma, especialmente a Camila Tenório, Kelly Diogo, Vanessa

Melo, Paulo Lira, Camille Correia e Mariana Farias.

A toda a equipe da Gerência de Vigilância das Doenças e Agravos Não-Transmissíveis

(GVDANT) da SES-PE, pelas experiências, aprendizados e afetos compartilhados ao longo

do estágio no R2. Meu carinho à Marcella Abath, Marcela Nassar, Sandra Souza, Flávia Reis,

Emanuelle Lemos e Isabela Martins.

As companheiras da militância da Marcha Mundial das Mulheres pelos momentos de

discussão e organização de pautas sobre a luta das mulheres, em especial à Elisa Lucena,

Clarissa Nunes e Elen Taline. Seguiremos em Marcha!

A todos e todas que direta ou indiretamente, contribuíram e/ou apoiaram a realização desse

trabalho.

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“Mãe, não sofras se não volto,

me encontrarás em cada moça do povo

deste povo, daquele, daquele outro

do mais próximo, do mais longínquo

talvez cruze os mares, as montanhas

os cárceres, os céus

mas, Mãe, eu te asseguro,

que, sim, me encontrarás!

No olhar de uma criança feliz

de um jovem que estuda

de um camponês em sua terra

de um operário em sua fábrica

do traidor na forca

do guerrilheiro em seu posto

sempre, sempre me encontrarás!”

(Soledad Barrett – Militante assassinada na ditadura militar)

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HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA ENTRE MULHERES QUE FAZEM USO DE CRACK

NO ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL

History of violence among women who use crack in the state of Pernambuco, Brazil

Daianny de Paula Santos 1,

George Tadeu Nunes Diniz1

Iracema de Jesus Almeida Alves Jacques1

Ana Maria de Brito1

Naíde Teodósio Valois Santos1

(1) Departamento de Saúde pública. Instituto Aggeu Magalhães - IAM / Fundação Oswaldo

Cruz

Artigo a ser publicado na Revista Ciência em Saúde Coletiva

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RESUMO

Introdução: A violência contra a mulher é um problema de saúde pública, sendo

caracterizada como toda e qualquer ação que fere a dignidade ou integridade física ou

psicológica. Têm sido verificada uma maior vulnerabilidade para violência entre mulheres

que fazem uso de crack, por razão dos cenários de exclusão social, comercialização do corpo

e fissura pelo crack. Objetivos: Estimar a prevalência e analisar aspectos sociodemográficos

relacionados a situações de violência entre mulheres que fazem uso de crack. Métodos:

Estudo de corte transversal, de uma amostra de 243 mulheres usuárias de crack atendidas pelo

Programa ATITUDE em Pernambuco, realizado entre 2014 e 2015. Considerou-se por

histórico de violência o relato de agressões sofridas em qualquer momento da vida. As

diferenças entre as proporções foram verificadas por meio do teste qui-quadrado de

proporção, adotando-se um nível de significância estatística de 5%. Resultados: Maioria de

adultas jovens negras (pardas e pretas) com baixa escolaridade e poder aquisitivo, início

precoce da vida sexual e multiplicidade de parceiros, uso compulsivo e frequente de crack,

vivendo em situação de rua e comercializando o corpo como principal fonte de renda e crack.

Quase a totalidade referiu ter vivenciado situações de violência (96,3%). As agressões mais

frequentes foram as psicológicas (84,6%) e físicas por espancamento (83,3%). Metade sofreu

violência sexual (55,4%). Os principais agressores foram pessoas mais próximas, sendo

amigos/conhecidos e companheiros. Conclusão: Mulheres que fazem uso de crack possuem

uma história de vida marcada pela violência. O contexto do uso abusivo de drogas e a

exclusão social mostraram-se como fatores relevantes nas situações de violência vivenciadas.

É necessária reorganização dos serviços sociais e de saúde na oferta de cuidados de acordo

com as necessidades dessa população.

Palavras chaves: Violência contra a mulher. Drogas ilícitas. Vulnerabilidade em saúde.

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ABSTRACT

Introduction: The violence against women is a public health issue and it is characterized as

any action that wounds the integrity in either physical or emotional ways. It has been

observed a greater vulnerability to the violence among women that use crack due to social

exclusion sceneries, prostitution and craving caused by the drug. Objectives: To estimate the

prevalence and to analyze sociodemographic aspects related to situations of violence among

women who use crack. Methodologies: Cross-sectional study of a sample of 243 women

crack users, attended by the ATITUDE program in Pernambuco, carried out between 2014

and 2015. It was considered as violence any report of physical aggression suffered throughout

life. The differences between the proportions were verified by the chi-square test with a 5%

level of statistical significance. Results: Majority of black young female adults (brown and

black) with poor education and low acquisitive power, early onset of sexual activity and

multiple sexual partners, compulsive and frequent crack use, homeless and prostituting

themselves as main income source (including drug source). Almost 100% declared they

suffered violence situations (96.3%). The most frequent aggressions were the psychological

ones (84.6%) and the physical ones (83.3%). Half of them suffered sexual violence (55.4%).

The aggressors were close to them, such as friends/colleagues and partners. Conclusion:

Women crack users has the violence as a mark in theirs lives. The abusive use of drugs and

the social exclusion are shown as relevant factors in the violence situations they have

experienced. It is necessary a reorganization of social and health services to offer assistance

that meets the needs of this population.

Keywords: Violence against women. Illicit drugs. Health vulnerability.

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1 INTRODUÇÃO

A violência é uma questão sociocultural universal, resultante de processos históricos

de dominação entre os sujeitos sociais, podendo ser perpetrada em múltiplos contextos,

principalmente nos cenários de injustiças e discriminações. Estima-se que mundialmente a

violência seja uma das principais causas de morte entre pessoas de 15 a 44 anos, trazendo

impactos de ordem individual, social, econômico e na determinação da saúde dos sujeitos e

comunidades. Diante da elevada magnitude e transcendência social, a violência é reconhecida

pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma questão pertinente à saúde pública, no

qual requer do setor da saúde ações de âmbitos preventivos e assistenciais1,2

.

No campo científico de álcool e outras drogas, a relação entre violência e o consumo

de substâncias psicoativas é algo difícil de ser mensurado, pois não é uma problemática

resultante apenas das condutas individuais, mas uma questão intimamente relacionada a

estrutura social de desigualdades e injustiças que afetam indivíduos e comunidades, cujos

direitos sociais são negados ou minimizados pelo Estado3,4

.

Nesse sentido, as políticas proibicionistas, alinhadas à chamada “guerra às drogas”,

criminalizam o uso do crack e de outras substâncias, estigmatizando, legitimando e

naturalizando práticas de violência contra as pessoas que consumem essa droga4. Segundo o

Anuário Brasileiro de Segurança Pública5, o Brasil lidera no cenário mundial números

absolutos de homicídios por ano, no qual ainda de acordo com esses dados; são mais de 56

mil mortes violentas, sendo estimado que 50% dessas estejam associadas a repressão ao uso

de drogas". O país é também o terceiro maior encarcerador de pessoas no mundo: cerca de

30% das prisões são igualmente relacionadas às drogas. Apesar do perfil carcerário ser

predominantemente masculino, na última década houve um crescimento de 567,4% da

população feminina em presídios, estando a maioria dessas prisões relacionadas ao

envolvimento coadjuvante das mulheres no tráfico de drogas 4,5

.

Nesses contextos de encarceramento e uso de drogas ilícitas, a violência contra a

mulher se faz presente, apresentando marcas de opressão e vulnerabilidade. Assim, a

violência contra a mulher, uma das expressões da desigualdade de gênero, é caracterizada

como toda e qualquer ação que fere a dignidade ou integridade física e psicológica da mulher

6,7. De acordo com a OMS

8, aproximadamente 35% das mulheres no mundo já foram vítimas

de violência física e/ou sexual, em algum momento da vida. No Brasil, estima-se que 19% da

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população feminina com 16 anos ou mais, já sofreu algum tipo de violência (mais de 13

milhões e 500 mil mulheres), e que na última década houve um incremento de 21,0% na taxa

de feminicídio no país9. Tal cenário provavelmente ainda é mais grave, considerando-se a

dificuldade no registro dessas agressões.

Para compreensão da violência contra a mulher, consideramos importante utilizar os

conceitos de vulnerabilidade, vulneração e gênero. Segundo Ayres e colaboradores10

,

vulnerabilidade é a chance de exposição dos sujeitos a ocorrência de agravos, sendo

determinada por fatores individuais, sociais e de acesso a tecnologias sociais (políticas,

programas, serviços, ações). A vulneração diz respeito ao dano concreto, ou seja, uma

situação prejudicial instalada11

. Paralelamente, gênero relaciona-se com a construção

psicossocial do masculino e feminino, e envolve relações sociais e culturais entre homens e

mulheres12,13

.

A relação entre drogas e violência torna-se ainda mais complexa quando se observa as

situações envolvendo relações de gênero e contextos de vulnerabilidade social, nos quais

estão inseridas as mulheres que fazem uso de crack. Essas diferentes interfaces têm resultado

em maior frequência e gravidade das agressões, bem como na naturalização da violência

como consequência do uso de crack. Assim, na historia de vida e no cotidiano dessas

mulheres, são diversos os sujeitos perpetradores das agressões, como parceiros, amigos,

conhecidos, clientes, traficantes, polícia, entre outros 6,13,14,15

.

A Pesquisa Nacional sobre o Uso de Crack no Brasil trouxe aspectos importantes

sobre a vulnerabilidade à violência, envolvendo o uso da droga e as questões de gênero. O

estudo revelou que 46,6% das mulheres que consomem crack em lugares públicos referiram

história de violência sexual, enquanto nos homens esse percentual foi seis vezes menor

(7,5%). A Pesquisa chama ainda atenção para a maior proporção de comercialização do sexo

entre as mulheres (29,9%), resultado 23 vezes maior quando comparada com os homens

(1,3%), o que também implica numa maior exposição as agressões, bem como reflete que a

trajetória de vida é amplamente desfavorável às mulheres16

.

Elevadas proporções de comercialização do sexo para adquirir crack e de violência

sexual entre mulheres usuárias da droga também foram observadas em estudo realizado na

Cidade do Recife17

e no estado de Pernambuco18

(58,6% e 42,5%, respectivamente),

superiores às verificadas na população masculina desse estudo (27,5% e 12,4%,

respectivamente).

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Observa-se que a vulneração à violência entre usuárias de crack envolve, além de questões

relacionadas à criminalização do uso de drogas e de injustiças sociais, as relações de gênero

que fomentam processos de mercantilização do corpo dessas mulheres6. Além disso, tais

estudos trazem a reflexão que a prática comum de comercialização do sexo para obtenção da

droga parece estar relacionada a maior frequência e intensidade de uso da droga entre as

mulheres, quando comparado com o padrão de uso dos homens4,6,15,16,17,18

.

Compreendendo as diversas condições que fragilizam e expõem à mulher que faz uso de

crack a situações de violência, o presente estudo almeja colaborar para um melhor

conhecimento acerca de seu perfil sociodemográfico, vida sexual e uso de drogas, bem como

sobre o histórico de violência, caracterizando-a segundo a natureza e meios de agressão,

frequência, faixa etária da ocorrência e tipo de agressor.

2 MÉTODOS

Estudo transversal de caráter descritivo que utilizou o banco de dados da Pesquisa

“Vulnerabilidade de usuários de crack ao HIV e outras doenças transmissíveis: estudo

sociocomportamental e de prevalência no estado de Pernambuco”, desenvolvida pelo

Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fundação Oswaldo Cruz e financiada pela Secretaria

de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (Edital 20/2013), sendo aprovada pelo

Comitê de Ética em Pesquisa da Fiocruz Pernambuco (Anexo A), sob número CAE

25250413.6.0000.519018

.

A referida pesquisa trata-se de um inquérito epidemiológico realizado com uma amostra

probabilística de usuários de crack atendidos no Programa Atitude - Programa de Atenção

Integral aos Usuários de Drogas e Seus Familiares, da Secretaria Executiva de Políticas sobre

Drogas de Pernambuco, que tem por objetivo responder a situações de risco pessoal e social

em decorrência do uso abusivo de drogas, sem o caráter de tratamento contra a dependência.

O Programa foi implantado em 2011 e possui equipamentos em quatro municípios do estado,

três na Região Metropolitana (Recife, Cabo de Santo Agostinho e Jaboatão dos Guararapes), e

um no Agreste (Caruaru)18

.

O Programa Atitude proporciona aos usuários/as de crack cuidados primários em saúde

(alimentação, banho, lugar para dormir) e encaminhamentos para a rede SUAS (Sistema

Único da Assistência Social) e SUS (Sistema Único de Saúde), além de ofertarem atividades

que visam o fortalecimento da autoestima, autonomia e cidadania dessa população. Para o

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desenvolvimento da pesquisa, considerou-se a realização no Programa Atitude por razão da

oportunidade de acessar os usuários de crack que frequentam cenas abertas de uso de drogas,

e que necessariamente, não estão em processo terapêutico.

A referida pesquisa incluiu 1.062 usuários de crack, sendo 819 do sexo masculino e 243

do sexo feminino com idade maior ou igual a 18 anos, que consumiram crack por mais de 25

dias nos últimos seis meses17

. Os dados foram coletados a partir da realização de questionário

sociocomportamental (anexo B), no período de agosto de 2014 a agosto de 2015. Para o

presente estudo, foram selecionadas todas as mulheres, considerando aquelas que sofreram

algum tipo de violência ou não. Na análise não foram incluídas as mulheres transexuais e

travestis. Contudo, foram inseridas as nove pessoas que referiram ter nascido do sexo

feminino e apresentando identidade de gênero diferente do sexo biológico. Foram levantadas

as seguintes variáveis:

- Sociodemográficas: idade, raça/cor, estado civil, filhos, escolaridade, situação de moradia

nos últimos 30 dias, trabalho e renda, início da vida sexual, e número de parceiros sexuais nos

últimos 12 meses;

- Características relacionadas ao consumo de crack: idade de início do uso, motivo de

iniciação, frequência semanal e forma de uso, meios e locais de obtenção do crack, desejam

de realizar tratamento;

- Relacionadas ao histórico de violência sofrida: tipo/natureza da agressão (psicológica, física

e sexual), principais agressores, faixa etária da vítima no momento da agressão e

periodicidade da violência.

Considerou-se por histórico de violência o relato de agressões psicológicas e/ou físicas

e/ou sexuais sofridas em qualquer momento da vida dessas mulheres. Para identificar a

ocorrência de qualquer violência era necessária resposta afirmativa de pelo menos uma dessas

questões: (1) “Alguma vez na vida você já sofreu violência psicológica, ou seja, já foi

ameaçada, humilhada, chantageada, perseguida, ridicularizada, ou impedida de ver algum

familiar?”; (2) “Alguém já te esbofeteou, deu murros, espancou, queimou ou tentou enforcar

você?”; (3) “Alguém já te feriu com uma faca, estilete, caco de vidro, revólver ou outro

objeto?”(4) “Alguém já forçou você, contra a sua vontade, a ter relações sexuais?”.

As entrevistas ocorreram em um ambiente protegido sem o uso de coerção institucional ou

policial, com a livre escolha da participante para responder cada questão e interromper a

conversa em qualquer instante, caso desejasse. As mulheres apresentavam-se calmas,

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15

solícitas, rememorando fatos marcantes da vida, sendo a entrevista um espaço de escuta

terapêutica. Em alguns casos, no momento da abordagem sobre situações de violência, houve

agitação, tristeza e tentativa de desviar sobre o assunto.

A questão sobre violência fez parte do último bloco de perguntas do questionário para que

se estabelecesse uma relação de confiança entre a entrevistadora e a entrevistada. As

participantes foram informadas sobre os objetivos, procedimentos, riscos, benefícios e caráter

voluntário da pesquisa. As entrevistas foram iniciadas após a assinatura do Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido, sendo garantido o anonimato e confidencialidade das

informações prestadas.

Utilizou-se os softwares “Statistical Package for the Social Scienses” – SPSS, versão

20 e R (R DEVELOPMENT CORE TEAM, 2016) para a descrição e avaliação dos

resultados do estudo. Foram construídas medidas de tendência central para as variáveis

quantitativas contínuas e frequências absolutas e relativas para variáveis categóricas, sendo os

resultados apresentados em gráficos e tabelas.

A presente análise envolveu dados que representa as múltiplas violências sofridas pelo

mesmo indivíduo, assim, o indivíduo pode ter relatado uma, duas, três ou quatro tipos de

violência ou responder negativamente para as quatro tipos de violências ao mesmo tempo.

Para tal, utilizou-se a técnica multiple response categorical variable (MRCVs). As demais

conclusões foram tomadas ao nível de significância de 5%.

3 RESULTADOS

Em relação às características sociodemográficas, a maioria das entrevistadas tinha

entre 18 e 34 anos (85,6%), eram negras (66,3% pardas e 18,1% pretas), solteiras (60,5%) e

com filhos (83,9%). No que se refere à escolaridade, uma pequena proporção referiu nunca ter

estudado (0,4%) e ter ingressado no ensino médio (13,5%), bem como 4,9% afirmaram que

estavam estudando no momento da entrevista (Tabela1).

Conforme apresentado na Tabela 1, nos 30 dias anteriores à entrevista, mais da metade

dormiu ou passou a maior parte do tempo na rua (52,7%) e morou com familiares ou amigos

(22,6%). 47,3% das entrevistadas referiram não estar trabalhando no momento, sendo

relacionado como principais motivos, estar doente ou em tratamento para dependência

(47,8%) e não ter sucesso ao procurar por emprego e/ou atividade remunerada (19,5%).

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16

Tabela 1 - Características sociodemográficas e relacionadas à vida sexual de mulheres que fazem

uso de crack. Programa Atitude, Pernambuco, 2014/2015.

(Conclusão)

.

Continua

(Conclusão)

Variáveis (N=243)

n %

Faixa etária (anos)

18 a 24 98 40,3

25 a 34 110 45,3

35 a 44 31 12,8

45 a 54 4 1,6

Raça/Cor

Parda 161 66,3

Preta 44 18,1

Branca 34 14,0

Amarela 4 1,6

Situação Conjugal

Solteira 147 60,5

Casada ou união estável 72 29,6

Separado, divorciado e viúvo. 24 8,2

Número de Filhos

Não tem 39 16,0

Com filhos 204 83,9

Escolaridade

Ensino superior incompleto 02 0,8

Ensino Médio Completo 20 8,2

Ensino Médio Incompleto 11 4,5

Ensino Fund. II Completo 18 7,4

Ensino Fund. II incompleto 69 28,4

Ensino Fund. I completo 61 25,1

Ensino fund. Incompleto 42 17,3

Alfabetização 19 7,8

Nunca estudou 01 0,4

Estuda atualmente

Sim 12 4,9

Não 231 95,1

Lugar onde viveu a maior parte do tempo nos últimos 30 dias

Rua 128 52,7

Programa ATITUDE ou abrigo 12 5,3

Casa própria ou familiar 54 22,6

Casa alugada ou amigos, ou quarto de hotel/pensão 48 19,8

Prisão/delegacia 01 0,4

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17

Fonte: a autora. Notas: *os valores de referência do salário mínimo para os anos de 2014 e 2015 foram R$724,00 e R$788,00, respectivamente; **a diferença

entre o total das entrevistadas e o total da variável deve-se à possibilidade de múltiplas respostas

Tabela 1 - Características sociodemográficas e relacionadas à vida sexual de mulheres que fazem uso de

crack. Programa Atitude, Pernambuco, 2014/2015.

Conclusão

(Conclusão)

Variáveis (N=243)

n %

Mora com alguém que usa crack

Ssll Sim 86 51,5

Não 81 48,5

Trabalha atualmente

Sim 128 52,7

Não 115 47,3

Motivo de não estar trabalhando

Doença/ tratamento para dependência química 54 47,8

Procura, mas sem sucesso. 22 19,5

Uso de drogas 6 5,3

Renda mensal individual*

< 1 salário mínimo 141 58,0

≥ 1 salário mínimo 102 42,0

Fontes de renda nos últimos 30 dias**

Comercialização de sexo (profissional do sexo/troca de sexo por dinheiro) 95 39,1

Família/parceiros/amigos 45 18,5

Trabalho esporádico/bicos 44 18,1

Atividade ilícita que não o tráfico de drogas (ex. furto, roubo) 38 15,6

Esmolas 33 13,6

Participação na venda ou distribuição de drogas (tráfico) 32 13,2

Trabalho por conta própria 15 6,2

Trabalho regular (com ou sem carteira) 11 4,6

Início da vida sexual

Menos de 10 anos 19 7,8

10 a 14 anos 166 68,3

15 a 18 anos 51 21,0

Mais de 18 anos 07 2,9

Número de parceiros(as) sexuais nos últimos 12 meses

1 37 15,2

2 a 5 58 23,9

6 a 10 12 4,9

10 ou mais 129 53,1

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18

Ainda na Tabela 1, destaca-se que a renda mensal individual para 58% das mulheres

foi menor que um salário mínimo. A comercialização do sexo foi a principal fonte de renda

alguém que utiliza crack (51,5%). Afirmaram não estar trabalhando (39,1%), sendo que

21,4% afirmaram ser profissionais do sexo e 19,8% ter trocado sexo por dinheiro para

comprar drogas (dados não tabulados).

No que se refere às características relacionadas à vida sexual, a maioria das mulheres

teve sua primeira relação antes dos 14 anos de idade, 68,3% na pré-adolescência (entre 10 e

14 anos) e 7,8% na infância (antes dos 10 anos de idade). Nos 12 meses anteriores à

entrevista, mais da metade (53,1%) relatou ter tido 10 ou mais parceiros sexuais (Tabela 1).

As características relacionadas ao consumo de drogas são descritas na Tabela 2.

Observa-se que mais de um terço iniciou o uso de crack ainda na adolescência, 14,1% entre

10 e 15 anos, e 24,9% entre 16 e 18 anos. Entre os motivos principais que levaram ao uso de

crack, o relatado com maior frequência foi a influência e/ou pressão de amigos/colegas

(39,5%), seguido por curiosidade de experimentar a droga (23,9%). Ainda é observado que

46,6% costuma usar crack sozinha (dado não tabulado).

Antes de ingressarem no Programa Atitude, a maioria utilizava a droga todos os dias

da semana (75,7%) e de forma compulsiva (79,4%), ou seja, usava enquanto conseguia a

droga/não decidia a quantidade que usava. A média de pedras consumidas por dia de uso era

de 26,7 (dado não tabulado), sendo a pedra considerada a quantidade que colocam no

cachimbo ou cigarro, não sendo possível determinar precisamente seu tamanho ou

composição (Tabela 2).

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19

Fonte: a autora. Notas: *a diferença entre o total das entrevistadas e o total da variável deve-se à possibilidade de múltiplas respostas.

Verifica-se também na Tabela 2 que a boca de fumo foi indicada como principal local

onde adquirem o crack (78,2%). Entre os meios que utilizaram para obter crack sem envolver

Tabela 2 - Características relacionadas ao consumo de crack por mulheres. Programa Atitude, Pernambuco,

2014/2015.

Variáveis

(N= 243)

n %

Idade de inicio do uso de crack

10 a 15 anos 34 14,1

16 a 18 anos 60 24,9

19 a 25 anos 80 33,2

26 a 39 anos 63 26,1

40 a 54 anos 4 1,7

Principal motivo que levou a usar crack

Influência/pressão de amigos 96 39,5

Curiosidade 58 23,9

Problemas familiares 38 15,6

Perdas afetivas/decepções amorosas 33 13,6

Vida ruim/sem perspectivas 7 2,9

Outros 18 4,5

Com quem costuma usar crack*

Sozinha 134 55,1

Colegas/amigos 108 44,4

Parceiros sexuais 83 34,1

Parentes 10 4,1

Outros 1 0,6

Frequência semanal de uso de crack antes de ingressar no Programa Atitude

Todos os dias 184 75,7

De 04 a 06 dias 17 7,0

Até 03 dias 37 15,2

Menos de 1 dia 5 2,1

Autoavaliação da forma de consumir crack antes de ingressar no Programa

Atitude

Descontrolada/ compulsivamente 193 79,4

Controlada 50 20,6

Locais de obtenção do crack

Boca de fumo 190 78,2

Rua 35 14,4

Entrega no domicílio 14 5,8

Outros 4 1,6

Meios de obter crack sem envolver dinheiro*

Trocar por sexo 99 40,7

Trocar por objetos 60 24,7

Participar de alguma forma do tráfico de drogas 48 19,8

Consertar/limpar coisas, ajudar a fazer um trabalho legal 18 7,4

Participar de trabalho ilegal (roubo etc.) 18 7,4

Trocar por outra droga 18 7,4

Outro 20 8,2

Desejo de realizar tratamento para a dependência

Sim 221 97,1

Não 7 2,9

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20

dinheiro, os mais frequentes foram trocar por sexo (40,7%) e por objetos (24,7%). Se

considerarmos todas as mulheres que de alguma uma forma comercializaram sexo nos últimos

30 dias, ou seja, profissionais do sexo e as que trocaram sexo por dinheiro ou diretamente por

crack, a proporção é de 51,4% (dado não tabulado).

Ainda na Tabela 2, quase a totalidade das entrevistadas referiu ter vontade de fazer

tratamento para diminuir ou parar o uso de drogas (97,1%). Vale ressaltar que após o ingresso

dessas mulheres no Programa Atitude, houve redução do número de pedras consumidas por

dia de uso (dez pedras), bem como menores proporções referiram consumo diário e

compulsivo, 39,9% e 44,0%, respectivamente (dados não tabulados).

Destaca-se que em relação aos motivos pelos quais procuraram o Programa Atitude

(dados não tabulados), pequeno percentual referiu para se tratar da dependência (1,2%), sendo

os mais frequentes cuidar da saúde ou da aparência (67,1%), por orientação da família ou

amigos (22,6%), se proteger, devido à ameaça ou tentativa de homicídio (21,8%) e para

recuperar a guarda dos filhos (12,8%).

No tocante ao histórico de violência (Figura 1), observa-se que quase a totalidade das

entrevistadas relatou ter sido vítima de algum tipo de violência na vida (96,2%; n=231), sendo

as mais frequentes as agressões psicológicas (84,6%; n=203) e por espancamento (83,3%;

n=200).

Figura 1 - Violência sofrida alguma vez na vida por mulheres que fazem uso de crack, segundo natureza da

agressão. Programa Atitude, Pernambuco, 2014/2015.

0 20 40 60 80 100

Arma (Fogo/branca)

Sexual

Espancamentos

Psicológica

Histórico de violência

55,4

55,8

83,3

84,6

96,2

%

Fonte: a autora. Notas: *Violência psicológica: Ameaça, humilhação, chantagem, perseguição, ridicularização

**Violência física: relato de ter sido esbofeteada, murros, tapas, queimaduras e entre outras e por ferimento por

arma de fogo, branca e/ou outro objeto pérfurocortante.

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21

A Figura 2 ilustra o tipo de violência e sua relação com o uso de drogas, de acordo

com a percepção das entrevistadas. As agressões relacionadas com o uso de drogas

sobressaíram-se no histórico de violência psicológica e nas agressões por espancamentos e

armas/objetos, sendo referidas por 60,9% e 55,1% das mulheres, respectivamente.

Diferentemente do observado para os demais tipos de agressões, a proporção de usuárias que

referiu ter sofrido violência sexual sem relacioná-la com o uso de drogas foi superior as que

referiram essa relação.

Observa-se ainda na Figura 2, que a violência física por espancamento (83,1%), ou

seja, relatos de esbofeteamento, murros, tapas, queimaduras e entre outras agressões, foi mais

frequente do que a violência física com o uso de armas ou outros objetos (55,1%).

Figura 2. Tipo de violência sofrida por mulheres que fazem uso de crack, segundo a relação da agressão com o

uso de drogas. Programa Atitude, Pernambuco, 2014/2015.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Psicológica Física

Espancamento

Física

armas/objetos

Sexual

Total 84,6 83,3 55,4 55,8

Relação com o uso de drogas 60,9 55,1 28,8 21,8

Sem relação com o uso de drogas 32,9 32,9 26,7 34,2

Fonte: a autora. Notas: *a relação da agressão com o uso de drogas foi estabelecida pelas entrevistadas; **violência psicológica: ameaça,

humilhação, chantagem, perseguição, ridicularização, impedimento de ver filho e/ou parente; ***violência física por espancamento: relato de ter sido esbofeteada, murros, tapas, queimaduras e entre outras; **** Violência física por objeto: Ferimento por arma de fogo, branca

e/ou outro objeto pérfurocortante.

As características das agressões sofridas pelas mulheres que fazem uso de crack são

apresentadas na Tabela 3. Destaca-se que em todos os tipos de violência, os principais

agressores foram familiares, amigos e companheiros, ou seja, pessoas próximas a vítima. Na

violência psicológica, os principais perpetradores foram amigos ou conhecidos, e traficantes

(38,2% e 35,8%, respectivamente); nas agressões físicas por meio de espancamento, os

companheiros (47,0%) e amigos ou conhecidos (29,7%); e na violência física por meio de

%

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22

armas ou outros objetos, os amigos ou conhecidos e companheiros (35,1% e 34,3%,

respectivamente). Diferentemente das demais agressões, na violência sexual constatou-se a

autoria por meio de pessoas estranhas (46,7%).

Entre as mulheres que sofreram algum tipo de violência, verifica-se que as agressões

ocorrem desde a infância, sendo mais frequente a partir da pré-adolescência (10 anos ou mais)

e aumentando conforme a idade, com exceção da violência sexual, que diminui. Chama

atenção que na infância dessas mulheres a agressão mais frequente foi a sexual (7,4%), com

proporção pelo menos duas vezes maior que as demais agressões relatadas nessa faixa etária

(menos de 10 anos).

Em relação à frequência com que são agredidas, destaca-se que em todos os tipos de

violência as mulheres referiram ser agredidas frequentemente, sendo as violências psicológica

e física por espancamento as mais presentes em seu cotidiano (Tabela 3).

Fonte: a autora. Notas: 1violência psicológica: ameaça, humilhação, chantagem, perseguição, ridicularização, impedimento de ver filho e/ou

parente. 2Violência física por espancamento: relato de ter sido esbofeteada, murros, tapas, queimaduras e entre outras. 3Violência física por

objeto: Ferimento por arma de fogo, branca e/ou outro objeto pérfurocortante; 4a diferença entre o total de mulheres que sofreu violência e o total da variável deve-se à possibilidade de múltiplas respostas; 5as diferenças entre proporções foram verificadas por meio do teste qui-

quadrado de proporção, considerando o nível de significância de 5%.

Tabela 3 - Agressor, faixa etária de ocorrência e frequência de agressões sofridas por mulheres que fazem

uso de crack, segundo natureza da violência. Programa Atitude, Pernambuco, 2014-2015.

Variáveis

Tipo/natureza da agressão

Psicológica1

Física por

espancamento2

Física por

objeto3

Sexual

(N=203) (N=200) (N=133) (N=134)

n % n % n % n %

Agressor4

(Ex)companheiro , amigos,

conhecidos, familiares

173 84,8 170 84,1 105 78,3 76 56,3

Estranho 36 17,7 31 15,4 29 21,6 63 46,7

Traficante 73 35,8 42 20,8 17 12,7 3 2,2

Polícia 27 13,2 20 9,9 7 5,2 3 2,2

p-valor5 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001

Faixa etária da ocorrência

da agressão*

Menos de 10 anos 6 2,9 3 1,5 2 1,5 10 7,4

10 a 19 anos 63 30,9 57 28,2 43 32,1 51 37,8

20 a 24 anos 64 31,4 64 31,7 47 35,1 46 34,1

25 a 59 anos 95 46,6 90 44,6 50 37,3 34 25,2

p-valor5 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001

Frequência das agressões

Raramente 95 46,6 99 49,0 95 70,9 101 74,8

Às vezes 49 24,0 57 28,2 28 20,9 21 15,6

Frequentemente 60 29,4 46 22,8 11 8,2 13 9,6

p-valor5 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001

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23

A tabela 04 apresenta múltiplas comparações entre os tipos de violências analisadas

no presente estudo. Assim, de um total de 243 indivíduos da amostra, foram consideradas as

mulheres que tinham respostas (sim ou não) para os quatro tipos de violências, desta forma, a

análise foi realizada com um total de 240 sujeitos, dos quais nove responderam negativamente

para o histórico de violências. Nas mulheres que foram vitimas de múltiplas agressões,

observou-se uma predominância em 73,3% (n=176) para a violência psicológica

acompanhada da violência física por espancamento ao mesmo tempo (p=0,0031). Também se

observou que em 50,4% (n=121) das situações de violência por espancamento também houve

o envolvimento de agressões com ameaça por arma (p=0,0012), bem como constatou-se

comportamento parecido para a violência sexual com a presença da violência física por

espancamento (49,6%; n=119) ou com o envolvimento da violência psicológica (50,8%;

n=122).

Tabela 4 – Análise das múltiplas comparações entre agressões segundo o tipo de violência sofrida por mulheres

que fazem uso de crack. Programa Atitude, Pernambuco, 2014-2015

Fonte: a autora. Notas: 1violência psicológica: ameaça, humilhação, chantagem, perseguição, ridicularização, impedimento de ver filho

e/ou parente. 2Violência física por espancamento: relato de ter sido esbofeteada, murros, tapas, queimaduras e entre outras. 3Violência física por objeto: Ferimento por arma de fogo, branca e/ou outro objeto pérfurocortante; 4a diferença entre o total de

mulheres que sofreu violência e o total da variável deve-se à possibilidade de múltiplas respostas; 5as diferenças entre proporções

foram verificadas por meio do teste qui-quadrado de proporção, considerando o nível de significância de 5%.

Tipo de Violência

Tipo de Violência

Física Arma Física Espancamento Sexual

Não Sim Não Sim Não Sim

N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%)

Psicológica

Não 23 (9,6) 14 (5,8) 13 (5,4) 24 (10,0) 25 (10,4) 12 (5,0)

Sim 84 (35,0) 119 (49,6) 27 (11,2) 176 (73,3) 81 (33,8) 122 (50,8)

p-valor 0,0580 0,0031 0,0055

Sexual

Não 56 (23,3) 50 (20,8) 25 (10,4) 81 (33,8)

Sim 51 (21,2) 83 (34,6) 15 (6,2) 119 (49,6)

p-valor 0,0668 0,0316

Física Espancamento

Não 28 (11,7) 12 (5,0)

Sim 79 (32,9) 121 (50,4)

p-valor 0,0012

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4 DISCUSSÃO

O consumo de crack, que até a década de 1990 era observado principalmente na

população jovem masculina, recentemente vem sendo identificado como um fenômeno

crescente entre as mulheres, atrelado a grande vulnerabilidade social e desigualdade de gênero

19; 17; 16. O perfil sociodemográfico das mulheres entrevistadas revela esse cenário de exclusão

social, com a maioria de adultas jovens negras (pardas e pretas) com baixa escolaridade e

poder aquisitivo, vivendo em situação de rua e comercializando o corpo como principal forma

de obtenção de renda e crack, características semelhantes às observadas em outros estudos

brasileiros16, 17, 19, 20.

Ao compararmos o perfil da população feminina de Pernambuco, segundo dados do

Censo do IBGE de 201021

com as mulheres usuárias de crack deste respectivo estudo,

observa-se entre as usuárias de crack há uma super-representação, da raça/cor preta (5,9% vs.

18,1 %) em contraste com a raça/cor branca (37,5% vs.14,0%) e, assim como menor

percentual de ingresso no ensino médio (69,2% vs. 13,5%), respectivamente. Diversos autores

afirmam que a exclusão social e a discriminação de classe e raça vêm sendo mascaradas pela

criminalização do uso de drogas, alinhada ao discurso proibicionista, que acabam por

legitimar forte repressão dirigida à população pobre e negra 4.9.

No tocante à moradia, a proporção de usuárias de crack que afirmaram estar em

situação de rua nos 30 dias anteriores à entrevista (52,7%), foi maior do que a encontrada no

perfil nacional de uso de crack em cenas abertas (45,6%) 16. Esse achado pode ser atribuído à

realização do presente estudo em um programa de proteção social, que tem como objetivo

atender indivíduos em situação de grande vulnerabilidade.

A literatura aponta que muitas mulheres que fazem uso de drogas e estão em situação

de rua possuem uma história de vida marcada por violência doméstica, envolvendo parentes e

parceiros. Essas mulheres enxergam as ruas como uma alternativa para se protegerem, ou

seja, um escape para a violência que sofrem no seu contexto familiar. Entretanto, ao estarem

nas ruas, são novamente vulneradas pela violência, com outros moldes de agressão e

perpetradores23, 24; 25,26,27. Nesse contexto, são frequentes as agressões decorrentes da coerção

policial e conflitos entre os próprios moradores de rua, estranhos e usuários de crack, bem

como o envolvimento dessas mulheres com pessoas ou redes que delas se utilizam para

exploração sexual ou para o tráfico de drogas19, 24.

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25

Em relação ao trabalho e fonte de renda, foi observado que uma pequena proporção de

inserção no mercado formal de trabalho (4,6%), e que a principal fonte de renda relatada pelas

entrevistadas foi a comercialização de sexo (39,1%), além de se envolverem com atividades

ilícitas (13,2% tráfico de drogas e 15,6% furto/roubo), aspectos também verificados em

estudos realizados em outras capitais brasileiras17, 19,24. Essa realidade expressa a baixa

escolaridade e a falta de qualificação profissional, e consequentemente a dificuldade de acesso

a melhores condições de trabalho, num cenário de uso nocivo de crack.

A comercialização de sexo consiste em uma relação de mercantilização, no qual o ato

sexual é resultante de uma troca seja ela por presentes, objetos, dinheiro, sendo uma prática

comum de sobrevivência e de obtenção de droga entre a população usuária de crack. Neste

estudo, consideramos como modalidades comerciais de sexo, mulheres que fazem trocas

sexuais por dinheiro ou objetos para conseguir o crack e entrevistadas que se autodeclararam

profissionais do sexo, ou seja, independentemente do uso de crack, desempenham essa

atividade.

A relação simbiótica entre comercialização de sexo e uso compulsivo do crack é

observada em vários estudos nacionais16,17,19,25e internacionais 28,29,30,31,32,33. A fissura pela droga

contribui para as práticas de venda de sexo e exploração sexual, consistindo em um ciclo de

sujeição dessas mulheres a esses cenários de opressão que são intensificados pela exclusão

social e baixa autoestima, além de dificultar o desenvolvimento de estratégias de proteção,

contribuindo para que essas mulheres se submetam a venda do próprio corpo em condições de

extremo risco34,35.

A raiz dessa problemática, bem como as demais situações de vulnerabilidade dessas

mulheres à violência fundamenta-se na estrutura patriarcal regente desde as primeiras

sociedades até a atualidade. O patriarcado consiste em um sistema sociocultural arbitrário de

poder de homens sobre mulheres, ou seja, é um regime de domínio masculino no tocante ao

corpo, sexualidade e trabalho das mulheres, contribuindo nas concepções sociais de

subordinação, diferenciação salarial entre homens e mulheres, e personificação do corpo

feminino como objeto sexual6, 12,36

.

Ceregatti et al36 afirmam que as práticas de comercialização de sexo tem um caráter

patriarcal, ao considerar a ideologia de dominação-exploração do corpo da mulher, concebido

socialmente enquanto mercadoria. Tal aspecto pode ser observado em relatos de homens

usuários de crack entrevistados no estudo de Oliveira & Nappo35 ao afirmarem que

“emprestam” suas companheiras, também usuárias de drogas, a traficantes para terem relações

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26

sexuais como uma moeda de troca para obtenção de crack e quitação de dívidas. A partir

desse fato permite-se inferir que, mesmo entre indivíduos inseridos em contextos sociais

semelhantes, a violência atrelada às desigualdades de gênero expressa-se de forma mais

frequente e perversa para as mulheres, principalmente nas agressões relacionadas a autonomia

do corpo e sexualidade12,19,37

.

O início precoce da vida sexual, antes dos 15 anos (76,1%), e a multiplicidade de

parceiros - 10 ou mais nos últimos 12 meses (53,1%) foram frequentes entre as entrevistadas,

semelhante ao observado entre mulheres usuárias de crack em São Paulo 19,33

e no Canadá32

,

bem como entre adolescentes paulistas em situação de rua26

. Tais proporções foram acima das

verificadas para a população feminina brasileira38 (17,0% e 10,9%, respectivamente),

apontando para uma maior exposição das mulheres que fazem uso de crack a práticas sexuais

desprotegidas e a vitimização por violência sexual, assim como a comercialização do sexo

como meio de subsistência e de aquisição da droga.

O cenário observado neste estudo revela uma questão gritante, porém velada, o fato

que a iniciação sexual tão precoce apresentada por essas mulheres representa mais uma

violência, que de acordo com o Artigo 218 do Código Penal Brasileiro, intitula-se como

“estupro de vulnerável”, ou seja, um fenômeno complexo e multicausal que consiste no

constrangimento e/ou indução de um menor de 14 (catorze) anos de idade para a prática de

conjunção carnal (penetração pênis-vagina) e/ou a satisfação de quaisquer atos libidinosos.

Essa realidade também foi constatada em um estudo realizado com usuárias de crack na

cidade de São Paulo19 no qual 13 das 75 mulheres entrevistadas foram estupradas ainda

virgens, na infância ou pré-adolescência. Dessa forma, a violência tem um peso ainda maior,

pois se mostra como um fator determinante nas histórias de vida dessas mulheres,

influenciando suas práticas sexuais, e constituindo um fator de risco para o abuso e

dependência de drogas na idade adulta19, 34,39

.

Por outro lado, a iniciação precoce da vida sexual também pode apresentar outras

questões socioculturais que permeiam a vida dessas mulheres. Silva et al40 colocam que a

sexualidade em contextos de exclusão social, pode ser vivenciada como uma forma de

reconhecimento afetivo diante da fragilidade dos vínculos familiares, baixa autoestima e

histórico de violência durante a primeira década de vida. Souza et al41

ainda afirmam que em

populações marginalizadas, as mulheres desde a infância e adolescência idealizam o

casamento como um escapismo às situações adversas da pobreza, a estruturação de um lar

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27

próprio, bem como a presença masculina representa o preenchimento das lacunas de afeto e

proteção contra a violência urbana.

Em relação ao padrão de consumo de crack, foi observado início precoce, mais de um

terço antes dos 18 anos (39%), uso diário (75,7%) e descontrolado (79,4%), sendo o consumo

mais recente e intenso quando comparado com os homens18. Essas características também

foram observadas no estudo nacional sobre o uso de crack16 e em jovens em situação de rua

nas cidades de São Paulo e Porto Alegre 27, bem como entre usuários de crack em Nova

York33. Tais diferenças no padrão de uso de crack entre homens e mulheres apontam para a

necessidade de uma melhor compreensão da relação de gênero na cultura de uso drogas, bem

como sobre os fatores sociais imbricados nessa questão.

Apesar do tratamento da dependência de drogas ter sido um dos motivos menos referidos

de procura pelo Programa Atitude (1,2%), a grande maioria das mulheres referiu o desejo de

se tratar (97,1%) e foi observado um impacto favorável do Programa na mudança de padrão

de consumo de crack, com redução do número de pedras consumidas por dia, da frequência

semanal de uso, bem como do percentual que referiu usar de forma descontrolada.

Entre os motivos de procura pelo Programa Atitude, cuidar da saúde e/ou da aparência foi

o mais frequente, achado que converge com o encontrado por Bastos & Bertoni 16

no Brasil e

por Bungay et al32

no Canadá. A busca por cuidado em saúde em um programa de proteção

social reforça a dificuldade de acesso e a desassistência dessa população pelos serviços

públicos de saúde. Além disso, é preciso estar atento ao fato de que o estigma e o preconceito

em relação ao usuário de drogas, muitas vezes presente no cotidiano das instituições de saúde,

dificultam seu acesso a esses serviços, pelo medo de serem maltratados, discriminados ou

mesmo sofrerem punições legais, além de implicarem numa menor percepção de problemas

de saúde 41,42.

É importante salientar, também, outros fatores que motivaram a procura pelo Programa

Atitude. Tais motivos se mostram relacionados ao interesse das entrevistadas em adquirirem

proteção e apoio, visto que essas mulheres sofriam ameaças e tentativas de homicídios

cotidianamente. Dessa forma, são válidas as contribuições trazidas por Silva et al39

, Aguiar25

e

Fertig24

que discutem sobre a necessidade de proteção à vida nas políticas sociais direcionadas

à população usuária de crack, sendo, esse direto, assegurado pelo Art.5º da Constituição

Federal Brasileira43

, à qual, tutela os bens jurídicos: vida, segurança e liberdade.

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28

No tocante a narrativa de agressões sofridas, chama atenção que quase a totalidade das

mulheres entrevistadas referiu ter vivenciado situações de violência, revelando uma história

de vida marcada pela multiplicidade de violências (psicológicas, físicas e sexuais), mesmo

antes de iniciarem o uso de drogas, algumas ainda na infância e adolescência. A presença

marcante de violência nessa população também foi verificada em estudos sobre mulheres

usuárias de drogas em diferentes cidades brasileiras17,19,24,25,44,45,46,47 no Canadá32

e em

adolescentes em situação de rua em São Paulo27.

Entre as participantes deste estudo, foi observado que o contexto do uso abusivo de

drogas mostrou-se um fator relevante sobre as situações de violência vivenciadas. Destaca-se

que em todos os tipos de violência, exceto a sexual, as agressões psicológicas, física por

espancamento e física por objetos (arma branca ou de fogo), foram as mais relatadas pelas

entrevistadas quando estiveram relacionadas ao uso de drogas. No entanto, é importante

ressaltar que a relação entre uso de drogas e violência é muitas vezes mistificada, na qual o

consumo de substâncias psicoativas é colocado erroneamente enquanto fator disparador para

as situações violentas, não levando em consideração os fatores sociais, culturais e políticos

imbricados3,4.

Estudos destacam que mesmo em contextos nos quais há o uso abusivo de drogas por

agressores e/ou vítimas, a raiz da violência fundamenta-se na estrutura sociocultural de

dominação e exploração que incide principalmente sobre a vida das mulheres, sendo expressa

pelo machismo, e acentuada pela exclusão social3,12,25,46,47,48,49,50

. Investigações sobre

violência entre mulheres que fazem uso de crack colocam que os atos violentos estão

subjugados à estruturação do tráfico de drogas, as relações interpessoais entre usuários e

traficantes, bem como as injustiças sociais, características marcantes dessa população4, 5,14, 15.

No tocante à violência sexual, a proporção das mulheres entrevistadas que sofreram essa

agressão alguma vez na vida foi superior cinco vezes a estimada para a população feminina

nas capitais brasileiras41e duas vezes maior que mulheres em cenas abertas de uso de crack no

Brasil16 (96,3%; 46,6%, respectivamente). Apesar de não terem sido tão frequentes quando

comparada as outras violências analisadas, as agressões sexuais foram referidas por metade

das mulheres, chamando a atenção para o fato da precocidade dos abusos que aconteceram

principalmente durante a infância e adolescência. Gutierres & Puymbroeck53 afirmam que

abusos sexuais e físicos ocorridos na infância corroboram em danos psicológicos como a

baixa autoestima, depressão e ansiedade, bem como influenciam na experimentação de

substâncias psicoativas, constituindo um fator de risco para o uso regular de drogas ilícitas40.

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Além disso, algumas características da violência sexual se diferenciaram quando

comparadas com os demais tipos de agressões. A maioria das mulheres vítimas dessa

violência não referiu existir uma relação entre a agressão sexual e uso de drogas. Esse dado

pode estar imbricado com outros fatores, além do consumo de drogas, como as desigualdades

de gênero e a ideologia sociocultural de apropriação e exploração do corpo da mulher12.

Nesse sentido, Saffiotti discute que a violência contra a mulher é decorrente do regime

patriarcal presente historicamente na sociedade, sendo compreendido como uma estrutura

hierárquica, que confere aos homens o direito de dominar as mulheres, independente da figura

humana, e dessa forma, mulheres são concebidas enquanto objeto da satisfação sexual

masculina, e reduzidas socialmente como reprodutoras e prestadoras de serviços sexuais.

Nesse processo, é importante destacar que o gênero, raça/etnicidade e as classes sociais

constituem-se como eixos estruturantes da violência contra a mulher, no qual dependendo das

condições históricas vivenciadas, um desses fatores poderá sobressair em relação aos outros,

no entanto, os demais continuam presentes e podem produzir/reproduzir a violência12, 54.

Converge nesse caminho a reflexão provocada por Nappo19 ao se afirmar que existe uma

associação entre as três condições de vulnerabilidade dessas mulheres em sofrer violência

sexual, sendo: exclusão social, comercialização do sexo e uso abusivo de drogas. Nos EUA,

Pyra et al55 reiteram essa questão ao trazerem no seu estudo que fatores como múltiplos

parceiros sexuais, uso do crack e maconha foram mediadores significativos para a maioria das

formas de abuso sexual. É importante destacar que as questões de gênero, raça/cor e pobreza

são marcadores sociais que influenciam no grau de vulnerabilidade das mulheres a violência,

principalmente àquelas inseridas em cenários de uso abusivo de álcool e outras drogas, e

desigualdade social12,56, 57, 58.

Ainda sobre a violência física, destaca-se que ao compararmos os resultados com outras

populações femininas, as agressões físicas observadas neste estudo foram superiores àquelas

observadas com usuárias de crack paulistas35,

em mulheres vítimas por parceiros íntimos em

Brasília51

e atendidas em emergências do SUS no território nacional52. Nas situações de

espancamentos analisadas, os principais agressores foram indivíduos mais próximos a essas

mulheres, a exemplo dos companheiros, amigos/colegas/conhecidos e traficantes.

Semelhantemente, Mascarenhas et al52

identificaram em seu estudo que, na maior parte das

vezes, o agressor era um membro da família (54,8% vs. 38,1%). Esse dado também foi

encontrado entre mulheres no Distrito Federal51 e mulheres no Rio de Janeiro59.

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A proximidade vítima-agressor observadas neste estudo está alinhada a própria

caracterização da violência contra a mulher que, em sua maioria, se expressa na esfera

privada, e que representa para as mulheres um maior risco à vida, devido à recidiva das

agressões, e ao silenciamento das vítimas por razão das relações de poder presentes nesse

processo12,54,60

. Além disso, Guimarães & Vilella61

trazem um importante debate sobre as

diferenças de gênero e os principais agressores na violência física por espancamento.

Enquanto que na maioria dos casos de violência envolvendo homens como vítimas, os

agressores são pessoas entranhas ou pouco conhecidas, na violência contra a mulher, os

perpetradores são pessoas do convívio familiar59, 61.

Nas agressões físicas por meio de objeto (arma de fogo/branca), o principal agressor

foram os amigos/conhecidos. Entretanto, importante parcela (21,6%) referiu também pessoas

estranhas como perpetradoras. Essa situação pode estar relacionada ao uso de drogas em

espaços públicos como ruas e bocas de fumos que conferem uma maior vulnerabilidade

dessas mulheres a cenários violentos decorrentes do tráfico de drogas e/ou outras atividades

ilícitas que, na maioria das vezes, envolve o uso de armas10, 14, 25, 37.

Outro achado relevante foi a periodicidade da agressão sofrida. Em quase todos os tipos

de violência, as mulheres referiram que as agressões aconteciam raramente e/ou

esporadicamente, fato que causa certo estranhamento, quando levamos em consideração o

grau de vulnerabilidade social dessa população, bem como o elevado percentual que afirmou

ter sido violentada em algum momento da vida. É possível que esse dado pode, na verdade,

mascarar outras características dessa realidade, de que tais mulheres não identificam a

violência de seu cotidiano, pois a mesma apresenta-se de forma simbólica e rotineira, na qual,

na maioria das vezes, a violência é naturalizada pelas vítimas, que apenas a reconhecem

quando há dano físico grave54

.

É importante apontar o que consideramos a principal limitação do estudo, o fato de que

investigações sobre contextos de violência entre mulheres usuárias de crack dependem de

instrumentos e teorias capazes de fazer uma aproximação do universo de significados sobre

violência, tentando responder a questões muito particulares, com um nível de realidade que

não pode ser, na maioria das vezes, quantificado. Logo, é de extrema necessidade a

continuidade do estudo sobre a tríade violência-gênero-drogas por meio de análises

qualitativas que entendam de forma mais aprofundada como as condições de vida, uso

abusivo de drogas e as relações de gênero determinam e/ou condicionam situações de

violência, e de que forma todos esses fatores incidem sobre a vida dessas mulheres.

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Os resultados encontrados, que delineiam o perfil de mulheres usuárias de crack vítimas

de violência, reforçam a gravidade da situação dessa população, e provoca o debate sobre a

estruturação e ampliação do Sistema Único de Saúde, por meio de suas redes de atenção, na

oferta de acolhimento e seguimento desta demanda.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo identificou que mulheres que fazem uso de crack possuem uma

história de vida marcada pela violência que se expressa em múltiplas naturezas de agressão

(psicológica, física e sexual), de forma traumática e persistente no cotidiano. Além disso, tais

mulheres estão inseridas em contextos de maior vulnerabilidade por razão serem mulheres e

das condições sociais desfavoráveis como baixa escolaridade e renda e precarização de

trabalho, bem como por razão do cenário do uso de crack como a experiência de situação de

rua, consumo abusivo e descontrolado e entre outros fatores sociais e individuais. Constata-se

que a trajetória dessas mulheres, caracterizada pela exclusão social, violência, discriminação e

estigmas, torna-se ainda mais precária, no contexto de uso abusivo de crack.

Dentre os tipos de agressão, chama a atenção a precocidade da violência sexual,

ocorrida ainda na infância e adolescência, podendo ser um dos fatores que podem estar

imbricados na iniciação do uso abusivo de drogas ilícitas e da vivência nas ruas. Conhecer um

pouco da história de vida dessas mulheres permitiu identificar alguns significados da

violência, e tais aspectos devem ser considerados no planejamento das ações dos dispositivos

sociais e de saúde de atendimento a essa população. Desse modo, houve possibilidade de se

ampliar o conhecimento sobre a temática, na medida em que se permitiu um novo olhar sobre

a violência contra a mulher, compreendendo as contradições em cenários de uso abusivo de

drogas.

Considera-se o consumo de crack por mulheres um relevante e potencial campo para

novas investigações na área da saúde coletiva, no sentido de evidenciar que, no contexto das

políticas sociais e principalmente no SUS, há necessidade de se problematizar as formas de

organização dos serviços e as concepções de trabalhadores, usuárias e familiares no processo

de cuidado para esta população. Ademais, as práticas de acolhimento e cuidado desenvolvidas

pelo Programa Atitude, inserido no campo da proteção social, podem ser uma importante

contribuição para o atual debate sobre o desafio do SUS em estabelecer redes de atenção

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integral às pessoas que fazem uso de drogas, e que ofertem cuidado humanizado e qualificado

às mulheres. Os achados também apontam para necessidades que transcendem às ofertas que

tradicionalmente, são de responsabilidade do campo da saúde, pois também envolve a atuação

de outros setores da sociedade (educação, trabalho e renda, justiça).

É imprescindível também avançar o debate em torno do antiproibicionismo e a

descriminalização ao uso de drogas, no qual isso poderá incidir na diminuição dos contextos

de violência entre usuários de drogas, principalmente o crack. Este desafio só será superado

por meio de uma mudança de perspectiva, redirecionando o olhar da problemática para a

redução de danos ao invés das intervenções baseadas nos discursos de “guerra às drogas”,

bem como numa compreensão mais ampla e democrática sobre o consumo de drogas na

sociedade.

De modo geral, espera-se que os resultados apresentados e discutidos contribuam no

aprimoramento das políticas públicas direcionadas a população usuária de drogas, bem como

na atenção à saúde de mulheres vítimas de violência.

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Anexo B: Carta de anuência - Secretaria Executiva de Desenvolvimento e Assistência

Social