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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Claudia Santos COSTA Maria Erilene de ALENCAR APRENDIZAGEM E DISLEXIA: CONTRIBUIÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR NO INCENTIVO À LEITURA São Paulo 2010

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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Claudia Santos COSTA Maria Erilene de ALENCAR

APRENDIZAGEM E DISLEXIA: CONTRIBUIÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR NO

INCENTIVO À LEITURA

São Paulo

2010

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Claudia Santos COSTA

Maria Erilene de ALENCAR

APRENDIZAGEM E DISLEXIA: CONTRIBUIÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR NO

INCENTIVO À LEITURA

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo como requisito para obtenção do título de bacharel em biblioteconomia.

Orientadora: Profª Msa. Andréia Gonçalves da Silva

São Paulo

2010

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C837a

Costa, Claudia Santos Aprendizagem e dislexia: contribuição da biblioteca escolar no

incentivo à leitura / Claudia Santos Costa, Maria Erilene de Alencar – 2010.

85 f.; 30 cm.

Orientação: Andréia Gonçalves da Silva. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado) - Faculdade de

Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 2010.

Inclui bibliografia, apêndice e anexos.

1. Biblioteca escolar. 2. Bibliotecário escolar. 3. Dislexia. 4.Incentivo à leitura. 5. Distúrbio de aprendizagem. I. Alencar, Maria Erilene de. III. Silva, Andréia Gonçalves da, orient.

CDD 027.8

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FOLHA DE APROVAÇÃO Claudia Santos Costa Maria Erilene de Alencar APRENDIZAGEM E DISLEXIA: CONTRIBUIÇÃO DA BIBLIOTECA ESCOLAR NO INCENTIVO À LEITURA Conceito:

Banca Examinadora

Profª Liani Fernandes de Moraes

Assinatura: _____________________________________________________

Profª Anna Silvia Rosal de Rosal

Assinatura: _____________________________________________________

Profª Maria Ignês Carlos Magno

Assinatura: _____________________________________________________

Data de aprovação: ____/____/____

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DEDICATÓRIA

A Deus, Senhor de nossas vidas, por ter nos concedido determinação e

força para alcançarmos essa vitória.

Aos nossos pais, Deraldino e Jeseni, e Antônio (in memorian) e Helena,

pelo exemplo de vida e de integridade.

Às nossas irmãs bibliotecárias, Noadia e Maria, pelo incentivo na escolha

do curso, e às nossas irmãs educadoras, Adna e Euzeline, pela influência na

escolha do tema do trabalho.

Aos nossos irmãos, Natanael, Joel e Daniel, pela amizade e torcida.

Aos sobrinhos e demais familiares, por fazerem parte da nossa história.

Ao Antônio, esposo, e ao Henrique, namorado, pelo companheirismo,

paciência e apoio incondicionais.

À Bianca, filha querida, que mesmo tão pequena, sempre demonstrou

paciência e companheirismo e soube suportar e entender os momentos de

ausência.

A todos os nossos amigos e familiares, muito obrigado pelo apoio e por

terem sido pacientes e compreensivos nos momentos de estresse durante todos

esses meses de estudos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus e a todos que contribuíram direta ou indiretamente para o

desenvolvimento deste trabalho.

À nossa orientadora, professora Andréia Gonçalves da Silva, pela

dedicação, motivação e sugestões tanto em relação à bibliografia e à redação do

texto, quanto no incentivo à busca contínua pela excelência.

À professora Maria Ignês Carlos Magno, pelo incentivo e motivação

durante todos esses meses.

À professora Telma de Carvalho, que nos auxiliou e incentivou no

desenvolvimento do projeto de TCC e na escolha do título.

À professora Maria Amélia Manzione, pelas primeiras orientações, que

muito contribuíram para o enriquecimento deste trabalho.

À bibliotecária Ednamar Silva Brugger, que prontamente nos atendeu,

fornecendo informações valiosíssimas sobre a atuação do bibliotecário no

atendimento a alunos disléxicos.

A todos que generosamente contribuíram lendo o trabalho, oferecendo

sugestões, emprestando materiais e indicando bibliografias.

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RESUMO

Este trabalho discorre sobre os problemas da dislexia no âmbito da biblioteca

escolar e ressalta a importância da biblioteca e do bibliotecário no processo de

ensino-aprendizagem, bem como no desenvolvimento de ações para auxiliar as

crianças disléxicas na fase da alfabetização e na prática da leitura. Apresenta

conceitos de leitura, dislexia e biblioteca escolar e destaca a importância do

fornecimento de materiais que facilitem o acesso dos alunos disléxicos à leitura.

Adota como exemplo prático a experiência da Biblioteca do Colégio Ofélia

Fonseca no atendimento a alunos portadores desse distúrbio.

Palavras-chave: Biblioteca escolar. Bibliotecário escolar. Dislexia. Incentivo à

leitura. Distúrbio de aprendizagem.

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ABSTRACT

This work discusses the problems of dyslexia in the school library and emphasizes

the importance of libraries and librarians in the teaching-learning process as well

as actions to help dyslexic children at the stage of literacy and reading practice.

Introduces concepts of reading, dyslexia and school library and highlights the

importance of providing materials that facilitate access to the reading of dyslexic

students. As practical example presents the experience of the Colégio Ofelia

Fonseca’s Library in serving students with this disorder.

Key words: School library. School librarian. Dyslexia. Reading encourage. Learning disabilities.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 11 2 JUSTIFICATIVA ....................................................................................... 13 3 OBJETIVOS ............................................................................................ 15 3.1 Objetivo geral ......................................................................................... 15 3.2 Objetivos específicos ............................................................................ 15 4 METODOLOGIA ...................................................................................... 16 5 PROCESSAMENTO DA LEITURA ......................................................... 18 5.1 Processamento da leitura e dislexia .................................................... 20 6 DISLEXIA ................................................................................................ 23 6.1 Abordagem histórica ............................................................................. 24 6.2 Tipos e subtipos .................................................................................... 25 6.3 Sintomas mais comuns ......................................................................... 27 6.4 Diagnóstico e tratamento ...................................................................... 28 7 BIBLIOTECA ESCOLAR E DISLEXIA .................................................... 30 7.1 Biblioteca escolar: conceito, missão, objetivos e funções ................ 31 7.2 O acervo da biblioteca escolar ............................................................. 33 7.3 O acervo da biblioteca escolar para crianças disléxicas ................... 35 7.4 Atividades de incentivo à leitura no ambiente da biblioteca ............. 41 7.5 A participação dos pais ......................................................................... 49 8 BIBLIOTECÁRIO ESCOLAR .................................................................. 52 8.1 Tarefas e funções do bibliotecário escolar .......................................... 54 8.2 Importância do bibliotecário escolar no processo pedagógico ........ 56 9 BIBLIOTECA ESCOLAR versus DISLEXIA: UMA VISÃO PRÁTICA ... 60 9.1 O Colégio Ofélia Fonseca e a Biblioteca Carlos Drummond de Andrade: passado e presente ........................................................................................ 60

9.2 Análise da entrevista ............................................................................. 68 10 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 73 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 75 APÊNDICE ....................................................................................................... 79 ANEXOS .......................................................................................................... 82

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Livro João, preste atenção ................................................................. 36

Figura 2 Gibis ................................................................................................... 37

Figura 3 DVDs .................................................................................................. 37

Figura 4 Jogo Educativo Pluck no Planeta dos Sons ....................................... 38

Figura 5 Delta Talk 2.0 ...................................................................................... 39

Figura 6 Jogo de Réguas para Leitura ............................................................. 39

Figura 7 Hora do conto ..................................................................................... 43

Figura 8 Avental para contar histórias .............................................................. 44

Figura 9 Flanelógrafo para contar histórias ...................................................... 45

Figura 10 Fantoches para contar histórias ....................................................... 45

Figura 11 Marionetes para contar histórias ...................................................... 45

Figura 12 Roda de leitura ................................................................................. 46

Figura 13 Encontro com o autor ....................................................................... 47

Figura 14 Feira/Exposição de livros ................................................................. 48

Figura 15 Acervo infantil ................................................................................... 61

Figura 16 Cesta com gibis ................................................................................ 62

Figura 17 Coleção de Gibis .............................................................................. 63

Figura 18 Mostruário de livros infantis .............................................................. 63

Figura 19 Coleção de DVDs ............................................................................. 64

Figura 20 Acervo .............................................................................................. 64

Figura 21 Encontro com o autor Maurício de Souza ........................................ 65

Figura 22 Primeira atividade de criança disléxica - J., 7 anos .......................... 66

Figura 23 Segunda atividade de criança disléxica - I., 7 anos.......................... 67

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Figura 24 Terceira atividade de criança disléxica - M., 7 anos ......................... 68

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1 INTRODUÇÃO

O Manifesto da IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar defende a ideia de

que os serviços das bibliotecas escolares devem ser oferecidos de forma

democrática a todos os membros da comunidade escolar, de modo a capacitar os

estudantes para a aprendizagem, oferecendo serviços e materiais específicos aos

alunos impossibilitados de utilizar eficazmente os recursos da biblioteca.

Assim como a escola, a biblioteca escolar tem papel importante no

processo de ensino-aprendizagem, devendo atuar no sentido de estimular não

apenas o gosto pela leitura, como também o aprendizado contínuo e o

desenvolvimento do indivíduo.

Um dos problemas mais frequentes relacionados à aprendizagem e à

prática da leitura é a dislexia. Um distúrbio que compromete seriamente o

processo de ensino-aprendizagem, tornando-se um inimigo silencioso e

destrutivo.

Sendo a biblioteca parte integrante do processo educativo, ela deve

dedicar especial atenção aos alunos portadores de dislexia, fornecendo materiais

especiais e desenvolvendo atividades que os auxiliem no processo de ensino-

aprendizagem e prática da leitura.

Este trabalho tem como objetivo discorrer a respeito da dislexia no âmbito

escolar e sobre o papel da biblioteca e do bibliotecário como participantes no

processo de ensino-aprendizagem, bem como no desenvolvimento de ações para

auxiliar as crianças disléxicas no processo de alfabetização e na prática da leitura.

Para tanto, no capítulo 5 é abordada a questão do processamento da

leitura e como ele ocorre com as crianças portadoras de dislexia. Já no capítulo 6,

é apresentado o conceito de dislexia, seus tipos, subtipos, sintomas e tratamento

e diagnóstico, além de uma breve contextualização histórica. No capítulo 7, são

discutidos o papel e os objetivos da biblioteca escolar à luz do Manifesto

IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar, sua participação no processo pedagógico,

os modos pelos quais ela pode fornecer produtos e serviços que facilitem o

processo de aprendizagem e a prática da leitura dos alunos disléxicos. No

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capítulo 8, ressalta-se o papel do bibliotecário e a importância da participação da

biblioteca no planejamento pedagógico, de forma que suas ações, desde a

formação do acervo até o atendimento, estejam de acordo com as necessidades

dos alunos e com a proposta educacional da escola. Para finalizar, o trabalho

contextualiza a dislexia na prática, ao apresentar a experiência da biblioteca do

Colégio Ofélia Fonseca, localizada no bairro de Higienópolis.

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2 JUSTIFICATIVA

A idealização deste trabalho se deu durante as aulas da disciplina

“Métodos e Técnicas de Pesquisa”, ministradas pela professora Telma de

Carvalho, quando foi proposto o desenvolvimento de um projeto para trabalho de

conclusão de curso. A partir de discussões visando à definição do tema, surgiu o

interesse pela dislexia e, em decorrência desse interesse, alguns

questionamentos: Como a biblioteca escolar atua em relação a alunos portadores

de dislexia? Qual a contribuição do bibliotecário para o desenvolvimento da

aprendizagem e de hábitos de leitura por esses alunos? Quais atividades e

materiais especiais deveriam ser oferecidos a alunos com dificuldades tão

específicas?

A dislexia afeta cerca de 15% da população mundial, o que significa uma

média de três a quatro crianças disléxicas em uma sala de aula de 25 alunos. No

Brasil, um número em torno de 30 a 40% dos alunos dos primeiros anos

escolares apresentam algum tipo de dificuldade de aprendizagem.

Tendo em vista esses números, percebe-se que há a necessidade de que

sejam tomadas iniciativas no sentido de auxiliar essas crianças no processo de

aprendizagem e desenvolvimento de hábitos de leitura, dando-lhes a

possibilidade de serem incluídas efetivamente no sistema educacional, além de

se desenvolverem intelectual e socialmente.

Paralelamente aos problemas de aprendizagem e às deficiências

existentes no sistema educacional brasileiro, há também o problema da falta de

bibliotecas escolares e, no caso de sua existência, a inadequação aos padrões

estabelecidos pelo Manifesto da IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar.

Os problemas do sistema educacional brasileiro, a questão da inclusão de

alunos intelectual, física ou socialmente desfavorecidos e a carência de

bibliotecas escolares equipadas e eficientes, já são temas amplamente abordados

na literatura nas áreas de Educação e de Biblioteconomia. Todavia, a efetiva

inclusão do aluno disléxico, seja na sala de aula, seja na biblioteca, de forma a

facilitar-lhe o acesso ao aprendizado e o desenvolvimento de hábitos de leitura,

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pouco tem sido discutida, principalmente na área de Biblioteconomia e Ciência da

Informação.

Além da falta de literatura sobre o assunto, a biblioteca escolar tem

dificuldade para desenvolver ações voltadas ao auxílio, ensino e prática da leitura

para esses alunos.

Diante desse contexto, a proposta deste trabalho é contribuir para a criação

de literatura sobre o assunto. Pretende-se sensibilizar o bibliotecário sobre a

importância de sua atuação no auxílio a alunos disléxicos no processo de

aquisição da leitura, bem como ressaltar o papel pedagógico da biblioteca escolar

e sua relevância na formação de leitores, de forma democrática, como destaca o

Manifesto da IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar.

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3 OBJETIVOS

Tendo em vista o papel essencial da biblioteca na formação de leitores e no

desenvolvimento de práticas de leitura, pretende-se apresentar a biblioteca

escolar como parte essencial no processo de ensino-aprendizagem e no

desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita de alunos disléxicos.

3.1 Objetivo geral

Apresentar a importância da biblioteca escolar no processo de ensino e

prática de leitura em crianças portadoras de dislexia.

3.2 Objetivos específicos

Apresentar os conceitos de dislexia, leitura e biblioteca escolar.

Discorrer a respeito da importância da atuação das bibliotecas escolares

em relação à dislexia e ao atendimento às crianças portadoras desse

distúrbio.

Verificar quais são os tipos de ações e de materiais essenciais ao acervo

da biblioteca escolar que atende alunos disléxicos.

Apresentar o bibliotecário como importante agente no processo pedagógico

e no desenvolvimento de ações voltadas ao ensino, à prática da leitura e

ao desenvolvimento escolar de alunos disléxicos.

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4 METODOLOGIA

O procedimento metodológico para a realização deste trabalho é de

natureza qualitativa e está dividido em duas partes: levantamento bibliográfico e

apresentação de exemplo prático.

A idealização e as discussões sobre o tema tiveram início no primeiro

semestre de 2009, durante as aulas da disciplina “Métodos e Técnicas de

Pesquisa”.

A fundamentação do trabalho iniciou-se com um levantamento bibliográfico

a respeito do tema escolhido, realizado por meio da leitura de autores

especializados. Nessa etapa, foram levantadas as primeiras informações

relacionadas às definições, histórico, sintomas e tipos de dislexia, que serviram

como embasamento para a construção do primeiro capítulo.

Para a coleta dessas informações e acesso a outros materiais, foram

realizadas também pesquisas on-line, por meio de ferramentas de busca, que

permitiram o acesso a sítios como o da Associação Brasileira de Dislexia

(http://www.dislexia.org.br/) e ao Repositório Acadêmico da Escola Superior de

Educação de Paula Frassinetti, de Portugal (http://repositorio.esepf.pt/), no qual

foram localizadas monografias recentes e muito relevantes para a pesquisa. Para

a recuperação da informação, foram utilizadas as seguintes palavras-chave:

Dislexia; Distúrbios de aprendizagem; Dislexia sintomas.

No início de dezembro de 2009, a proposta de trabalho foi apresentada no

1º Seminário de Iniciação Científica da FESPSP que, como pré-requisito para

participação exigia a elaboração de um paper, o qual foi entregue em 25 de

novembro do mesmo ano. O tema teve boa aceitação por parte da banca e

suscitou comentários, críticas e sugestões muito pertinentes e importantes para o

direcionamento do trabalho.

Posteriormente, pesquisou-se na literatura de Biblioteconomia e Ciência da

Informação estudos sobre os temas biblioteca escolar, bibliotecário escolar, e

incentivo à leitura, com base no Manifesto IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar.

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Um dos questionamentos que surgiram desde então estava relacionado à

pretensão inicial de pesquisar bibliotecas escolares, públicas e particulares, nas

regiões norte, sul, leste e oeste da cidade de São Paulo. Esta empreitada

demonstrou-se inviável, tanto pelo tempo disponível quanto pela constatação de

que um grande número de escolas públicas nem ao menos possuem bibliotecas,

apenas salas de leitura. Outro problema estava relacionado à falta de preparo e

de estrutura das escolas para atender de forma diferenciada alunos portadores de

dislexia, além da constante ausência de diagnóstico.

Sendo assim, optou-se pela apresentação do exemplo prático de uma

biblioteca que tivesse em seu corpo discente, alunos com diagnóstico de dislexia,

a fim de se verificar como se dá o atendimento a esses alunos. Após algumas

pesquisas e tentativas de contato com várias escolas, foi escolhida a biblioteca do

Colégio Ofélia Fonseca, localizado na região de Higienópolis,

O roteiro para a entrevista (APÊNDICE A) foi elaborado logo nas primeiras

etapas de desenvolvimento do trabalho, e contém três perguntas abertas e

dezessete fechadas. Das dezessete perguntas fechadas, seis são de múltipla

escolha e onze dicotômicas. Dessas últimas, seis são complementadas por

perguntas de aprofundamento, ou seja, perguntas que possibilitam um maior

detalhamento das informações fornecidas pelo entrevistado.

Até chegar a versão final, o roteiro passou por diversas alterações, visando

à apreensão de um maior número de informações relevantes para a compreensão

da atuação do bibliotecário escolar em relação à dislexia na prática. A bibliotecária

teve acesso a uma das versões do formulário antes da realização da entrevista e

respondeu antecipadamente algumas questões.

Após a realização da entrevista, as respostas da bibliotecária foram

comentadas e comparadas com as constatações do grupo, alicerçadas na

literatura estudada.

Vale ressaltar que o grupo tem plena consciência de que um único exemplo

prático é insuficiente para chegar a conclusões contundentes. Todavia, como

existe carência de literatura neste assunto, será um passo inicial para futuros

estudos e discussões.

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5 PROCESSAMENTO DA LEITURA

O ato da leitura é um dos pilares mais importantes no universo da

biblioteca. O acesso e o incentivo à leitura, independente de qual seja o suporte

de informação, é o que move a biblioteca, especialmente a biblioteca escolar, que

tem papel de extrema importância na formação do leitor e no desenvolvimento de

hábitos de leitura duradouros.

A leitura tem papel de muita importância para o desenvolvimento do

indivíduo e da sociedade. É uma forma exemplar de aprendizagem e um dos

meios mais eficazes de desenvolvimento sistemático da linguagem e da

personalidade, que favorece também a capacidade de aprendizagem global

(BAMBERGER, 2002, p.10).

O ato de ler proporciona a inserção do indivíduo no meio social e o

capacita a tornar-se um cidadão participante (CARDOSO, PELOZO, 2007, p.1)

Considerando-se que as dificuldades de leitura e escrita, entre elas as

ocasionadas pela dislexia, são um problema constante no âmbito escolar, refletir

sobre o que seja a leitura, como se dá o seu processamento e os aspectos que a

envolvem, é bastante relevante para o trabalho do bibliotecário escolar. Essa

reflexão poderá auxiliá-lo na compreensão das dificuldades de leitura de seus

usuários para uma atuação mais efetiva no sentido de facilitar-lhes o acesso à

leitura.

O presente capítulo não tem o objetivo de abordar profundamente todos os

aspectos relacionados ao processamento da leitura e as diversas teorias a ele

relacionadas, mas destacar alguns pontos importantes para a compreensão das

dificuldades de leitura, com o intuito de auxiliar o bibliotecário escolar no convívio

com os portadores de dislexia.

A leitura é parte de um processo linguístico complexo de desenvolvimento

da linguagem, o qual é composto por diferentes etapas, sendo a leitura e a escrita

as etapas superiores desse processo (DROUET, 1995, p.126).

Do ponto de vista cognitivo, os processos psicológicos que compõem a

leitura são geralmente agrupados em processos de baixo nível, que dizem

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respeito ao reconhecimento das palavras, e processos de alto nível, relacionados

à compreensão de frases e textos. Os processos de reconhecimento traduzem a

escrita para a linguagem falada, enquanto os de compreensão auxiliam a captar

as informações expressas nos textos (CITOLER; SANZ,1993 apud FERREIRA,

2008, p.22).

O processo de transformação de símbolos gráficos em conceitos

intelectuais exige grande atividade do cérebro e coloca em funcionamento uma

grande quantidade de células cerebrais durante o processo de armazenagem da

leitura. A combinação de unidades de pensamento em sentenças e em estruturas

mais complexas de linguagem é, ao mesmo tempo, um processo cognitivo e um

processo de linguagem (BAMBERGER, 2002, p. 10).

De acordo com Ignácio (2004, p. 5), decodificar os sinais gráficos,

reproduzindo os sons que eles representam, formando palavras, é apenas uma

etapa do processo e não basta para que ocorra a leitura em sua plenitude, pois,

ler é estabelecer as relações de significado entre as palavras, que no conjunto,

formam uma unidade significativa que é o texto.

É importante ressaltar que a compreensão da leitura e a atribuição de

significados ao texto estão relacionadas ao que Paulo Freire (1984, p. 11) chama

de “leitura de mundo”, que segundo ele, antecede à leitura da palavra.

Nesse sentido, Ignácio (2004, p. 7) afirma que, em princípio, há dois

grandes tipos ou processos de leitura: a leitura do mundo, feita pela percepção

dos órgãos dos sentidos e pela interpretação dos fenômenos e dos sinais

naturais, e a leitura do texto escrito.

O aprendizado pode ser considerado como a modificação do conhecimento

já adquirido pelo indivíduo, como resultado de sua interação com o mundo à sua

volta (SMITH, 2003, p. 21).

A leitura quando é apresentada à criança deve ser trabalhada de forma que

venha a facilitar a compreensão, pois, muitas vezes, apesar de ter contato com a

palavra, a criança não a compreende imediatamente. A apresentação de objetos

e imagens que representem as palavras pode facilitar a compreensão, de modo

que a busca pelo mundo da leitura e da escrita seja estimulada (FREIRE, 1982

apud CARDOSO, PELOZO, 2007, p. 3).

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Silva (1981 apud SANDRONI; MACHADO, 1991 p. 9) lista alguns

componentes necessários à compreensão da leitura, dos quais se destacam:

Conhecimento das palavras.

Raciocínio na leitura (inclusive capacidade de inferência e de relacionar

várias proposições).

Capacidade para focalizar a atenção nas proposições do autor.

Capacidade para identificar as intenções e pontos de vista do autor.

Capacidade para atribuir novos significados a partir do contexto.

A visão dos autores citados converge com a moderna concepção de leitura

como muito mais do que a simples decodificação de palavras: para que o

indivíduo seja um leitor competente, é necessário que esteja apto a atribuir

significado às palavras e a relacioná-las ao contexto, a fim de que possa de fato

compreender o que lê.

5.1 Processamento da leitura e dislexia

A leitura é uma atividade complexa, seja o indivíduo disléxico ou não. Ela

envolve diversos aspectos, tais como, cognitivos, linguísticos, fonológicos,

socioculturais, entre outros. Seu processamento pode ocorrer de forma

diferenciada com cada indivíduo, sendo que, fatores genéticos, psicológicos e

sociais podem tornar esse processo mais difícil e mais lento para algumas

pessoas. É o que ocorre com a criança disléxica, uma vez que o processamento

da leitura ocorre de forma diferenciada nas crianças que não sofrem deste

problema.

A criança disléxica não tem a mesma facilidade de leitura que as outras

crianças, apesar de possuir inteligência dentro da média, boa saúde e órgãos

sensoriais saudáveis, e as mesmas oportunidades de instrução (COSTA, 2010,

p.2).

O processo de assimilação da linguagem, segundo Drouet (1995, p. 126),

geralmente ocorre da seguinte forma: os primeiros estímulos que a criança recebe

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são sensoriais, pois envolvem a audição, visão, tato, olfato e paladar, sendo que,

a partir da assimilação dos sons do ambiente e dos símbolos verbais que ouve

dos adultos, a criança desenvolve a linguagem receptiva ou auditiva e a

linguagem expressiva ou verbal. Quando atinge a idade escolar (entre 6 e 7

anos), a criança aprende a ler por meio de símbolos verbais e visuais, que se

juntam à linguagem auditiva já desenvolvida.

Segundo Teles (2009 apud COSTA, 2010, p. 9), a competência leitora

ocorre a partir do desenvolvimento de uma boa consciência fonológica, que é a

consciência de que a linguagem é formada por palavras, as palavras por sílabas,

as sílabas por fonemas, representados pelos caracteres do alfabeto. No caso das

crianças disléxicas, embora utilizem as palavras, as sílabas e os fonemas durante

a fala, normalmente não têm consciência destas unidades linguísticas, ou seja,

apresentam déficit na consciência fonológica.

O disléxico possui uma leitura oral lenta, difícil e penosa. Tem dificuldades

para se expressar claramente pela fala ou pela escrita, cometendo erros como

inversões de letras, de sílabas, dentre outros (COSTA, 2010, p. 11).

Apesar disso, é interessante ressaltar que, segundo Vicente Martins

([2008], p.2), o processamento da leitura tanto nos cérebros de leitores

proficientes quanto de disléxicos pode ser dividido em quatro módulos cognitivos

de leitura:

Perceptivo: relacionado à percepção, especialmente a visual, que é um

importante fator de dificuldade de leitura.

Léxico: refere-se, por exemplo, à memorização dos grafemas e ao traçado

das letras.

Sintático: relacionado à organização da estruturação da frase, sendo que a

criança, normalmente apresenta dificuldades para compreender como as

palavras de relacionam na estrutura da frase.

Semântico: diz respeito ao significado das palavras e morfemas (prefixos,

sufixos, etc.).

Ainda segundo Vicente Martins ([2008], p. 4), para a compreensão de como

ocorre o processamento da leitura em crianças disléxicas, é fundamental observar

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em qual desses módulos o processamento da informação falha durante a leitura,

e fazer um recorte das dificuldades que a criança apresenta, pois a dislexia não é

uma dificuldade que envolve todos os módulos do processamento da leitura.

Assim, é importante que todos aqueles que participam do processo de

formação e de aquisição da leitura das crianças disléxicas, inclusive o

bibliotecário escolar, compreendam como ocorre o processamento da leitura e

quais as dificuldades que o envolvem quando uma criança apresenta esse

distúrbio.

Para uma melhor compreensão do problema, o capítulo a seguir, apresenta

conceitos de dislexia e alguns sintomas e dificuldades que a caracterizam.

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6 DISLEXIA

A dislexia é um distúrbio específico de aprendizagem que afeta crianças e

adultos e que se manifesta principalmente nos primeiros anos da vida escolar,

dificultando a aprendizagem da leitura e da escrita.

De acordo com Ianhez e Nico (2002, p.21) a primeira definição do termo

dislexia (DIS= distúrbio; dificuldade + LEXIA= leitura (latim); linguagem (grego)) é

do neurologista americano Samuel T. Orton, em 1925. Segundo ele, dislexia é

uma dificuldade no processo de leitura, escrita, soletração e ortografia. Não é uma

doença, mas um distúrbio, que se torna evidente na época da alfabetização,

embora alguns de seus sintomas já se manifestem antes dessa fase.

Uma das definições mais aceitas atualmente é da International Dislexia

Association, elaborada em 1994 com base em definições anteriores:

A dislexia é um dos muitos distúrbios de aprendizagem. É um distúrbio específico de linguagem, de origem constitucional, caracterizado pela dificuldade em decodificar palavras simples. Mostra uma insuficiência no processo fonológico. Essas dificuldades na decodificação de palavras simples não são esperadas em relação à idade. Apesar de instrução convencional, adequada inteligência, oportunidade sociocultural e ausência de distúrbios cognitivos e sensoriais fundamentais, a criança falha no processo da aquisição da linguagem com frequência, incluídos aí os problemas de leitura, aquisição e capacidade de escrever e soletrar (IANHEZ; NICO, 2002, p. 23; NICO et al., 2000, p. 12).

A dislexia se manifesta na dificuldade de distinção ou memorização de

letras, e na ordenação, ritmo e estruturação de frases, prejudicando tanto a leitura

quanto a escrita (TORRES; FERNÁNDEZ, 2002 apud FERREIRA, 2008, p. 22).

Seguindo a mesma linha da International Dislexia Association, Ianhez e

Nico (2002, p. 30) reforçam que, embora a dislexia seja um distúrbio de leitura e

escrita, nem todo distúrbio de leitura e escrita pode ser considerado dislexia.

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6.1 Abordagem histórica

As primeiras referências à dislexia começaram a surgir a partir da segunda

metade do século XIX. Segundo Ianhez e Nico (2002 p. 35), o problema foi citado

em 1872, por Rudolf Berlin, em 1896, por Morgan e Hinshelwood, e, em 1897, por

James Kerr. No âmbito da medicina, o primeiro trabalho seria de Morgan, em

1896, descrevendo o caso de um jovem que, apesar de possuir inteligência

normal, apresentava incapacidade em relação à escrita, o que o autor denominou

de “cegueira verbal”. (RIBEIRO, 2008, p. 26).

No início do século XX, psicólogos e educadores pouco se ativeram ao

problema dos distúrbios específicos de linguagem. Ao mesmo tempo, a classe

médica não considerava em seus estudos o problema da sala de aula, o que

contribuiu para uma significante lacuna na recuperação das crianças (IANHEZ;

NICO, 2002, p. 36).

Rueda (1995 apud Ribeiro, 2008, p. 28) divide a evolução do conceito de

dislexia em três períodos históricos:

Período de fundamentação – abrange os estudos realizados no final do

século XIX baseados na medicina e principalmente na neuropatologia.

Período de transição – entre as décadas de 40 e 50, em que aparecem

testes e programas de recuperação nas áreas da psicologia e da

educação.

Período de integração – nos anos 60 e 70, quando são propostos vários

fatores que influenciam as dificuldades de aprendizagem, passando-se a

considerar que as causas da dislexia podem ser múltiplas e estar

relacionadas a problemas no processamento da informação linguística.

Os estudos mais recentes estão concentrados principalmente no campo

psiconeurológico, neuroanatômico, neurobiológico e neuroquímico (IANHEZ;

NICO, 2002, p. 37).

No Brasil, desde 1983, a Associação Brasileira de Dislexia (ABD) atua

realizando pesquisas, divulgando o problema e promovendo o diagnóstico e o

acompanhamento a portadores do distúrbio.

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Atualmente, no âmbito escolar, ainda são encontradas diversas

dificuldades concernentes ao diagnóstico e ao acompanhamento de crianças

disléxicas. A proporção de crianças com o problema, em sala de aula, seria de

aproximadamente de três a quatro para cada 25 alunos (IANHEZ; NICO, 2002, p.

15). Isso ressalta a importância da divulgação dos conhecimentos sobre o

problema nas escolas e do esforço conjunto entre os profissionais que

acompanham o aluno, entre eles o bibliotecário, que é também um importante

agente no processo de ensino-aprendizagem e incentivo à leitura.

6.2 Tipos e subtipos

Segundo Boder e Myklebust (1971 apud IANHEZ; NICO, 2002, p. 38-40), a

dislexia possui a seguinte classificação:

1- Dislexia disfonética - dificuldades de percepção auditiva na análise e

síntese de fonemas, dificuldades temporais, e nas percepções da sucessão e da

duração.

Exemplos:

Troca de fonemas (sons) e grafemas (letras) diferentes.

Moto - modo

Dificuldades no reconhecimento e na leitura de lagatomas (palavras que

não têm significado).

Duepo - pebade

Alterações na ordem das letras e sílabas.

Azedo - adezo

Omissões e acréscimos.

Escola – ecola; Nem - neim

Maior dificuldade na escrita do que na leitura.

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Substituições de palavras por sinônimos ou por outras de grafia e som

semelhantes.

Infâmia – infância

2- Dislexia diseidética - dificuldade na percepção visual, na percepção

gestáltica, na análise e síntese de fonemas.

Exemplos:

Leitura silábica, sem conseguir a síntese das palavras.

Comigo - com-migo

Aglutinações e fragmentações de palavras.

Fazer isso – fazerisso, Enquanto - em quanto

Troca por equivalentes fonéticos.

Vaca - faca, Pato - bato

Maior dificuldade para a leitura do que para a escrita.

3- Dislexia visual - deficiência na percepção visual e na coordenação

visuomotora (não visualiza cognitivamente o fonema).

m-n; q-b; a-e

4- Dislexia auditiva - deficiência na percepção auditiva, na memória

auditiva (não audiabiliza cognitivamente o fonema).

Pato - bato, Gato - cata

5- Dislexia mista - combinação de mais de um tipo de dislexia.

Já para Bannantyne (1966 apud IANHEZ; NICO, 2002, p. 37), a dislexia é

classificada em dois tipos:

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Dislexia genética - dificuldades em discriminação auditiva, sequenciação

auditiva e associação fonema-grafema.

Dislexia por disfunção cerebral mínima - dificuldades visuoespaciais,

cinestésico-motoras, táteis e de conceitos.

6.3 Sintomas mais comuns

Segundo Ianhez e Nico (2002, p. 26, 27) os sintomas mais comuns da

dislexia são:

Desempenho inconstante.

Demora na aquisição da leitura e da escrita.

Lentidão nas tarefas de leitura e escrita, mas não orais.

Escrita incorreta, com trocas, omissões, junções e aglutinações de

fonemas.

Discrepância entre as realizações acadêmicas, as habilidades linguísticas e

o potencial cognitivo.

Desconforto ao tomar notas e/ou relutância em escrever.

Persistência no mesmo erro, embora conte com ajuda profissional.

Dificuldades em: nomear objetos e tarefas; organizar-se com o tempo

(hora), no espaço (antes e depois), e direção (direita e esquerda);

memorizar números de telefone, mensagens, fazer anotações, ou efetuar

alguma tarefa que sobrecarregue a memória imediata; organizar suas

tarefas e fazer cálculos mentais; fazer associações como, por exemplo, dos

rótulos aos seus produtos; organização sequencial, por exemplo, as letras

do alfabeto, os meses do ano, tabuada etc.; dificuldade com os sons das

palavras e, consequentemente, com a soletração; problema em associar o

som ao símbolo; com a rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração

(sons iguais no início das palavras).

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Ianhez e Nico (2002, p. 27) ressaltam que os sintomas citados podem se

apresentar de forma diferente em cada indivíduo, manifestando-se de forma

isolada ou combinada ou se combinarem de formas diferentes em cada disléxico.

Para Drouet (1995, p. 155) os sintomas da dislexia são:

Orientação espacial.

Dificuldade de leitura e escrita.

Atraso na maturação neurológica.

Problemas de diferenciação dos dedos (esquema corporal).

Disfunção neurológica de um modo geral.

Falta de memória.

Ansiedade e indefinição da dominância lateral (uso de uma das mãos).

Com todas essas dificuldades que a dislexia causa aos seus portadores,

principalmente em relação à leitura e à memorização, é evidente que alunos

disléxicos tenham aversão a livros e, consequentemente à biblioteca, além de ter

dificuldades para participar de atividades de incentivo à leitura como a hora do

conto. Daí a necessidade do bibliotecário observar o comportamento dos alunos e

estar bem informado, podendo dessa forma até mesmo identificar possíveis sinais

do problema.

6.4 Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da dislexia é fundamental para que o portador receba o

encaminhamento e o acompanhamento adequados. Quanto mais cedo o

problema for detectado, mais rapidamente poderão ser tomadas iniciativas que

visem minimizar os sintomas e facilitar o desenvolvimento da linguagem e da

escrita.

O diagnóstico é de exclusão e deve ser feito por uma equipe

multidisciplinar, composta por psicopedagogo, psicólogo e fonoaudiólogo, além de

outros profissionais como o neurologista e o oftalmologista, para determinar se

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existem outros fatores comprometendo o processo de aprendizagem, ou mesmo,

coexistindo com a dislexia (IANHEZ; NICO, 2002, p. 29).

A avaliação emocional, perceptual e intelectual é conduzida por um

psicólogo, enquanto a avaliação acadêmica é feita pelo pedagogo. A avaliação

audiométrica, que visa verificar a existência de problemas auditivos, é conduzida

pelo fonoaudiólogo, enquanto o exame de acuidade visual é feito pelo

oftalmologista. O neurologista também deve realizar exames, a fim de que seja

afastada a possibilidade de problemas neurológicos (PESTUN; CIASCA;

GONÇALVES, 2002, p. 329).

Para se chegar a um diagnóstico final, os resultados da avaliação de cada

profissional são analisados e discutidos (IANHEZ; NICO, 2002, p. 33).

Ianhez e Nico (2002, p. 30) ressaltam que nem todo distúrbio de leitura e

escrita é dislexia, por isso, não se pode diagnosticar como disléxica qualquer

pessoa que escreva de modo espelhado ou troque letras, que confunda direita e

esquerda ou tenha algum atraso na aquisição da linguagem, já que essas

características também são decorrentes de outros tipos de dificuldades.

O caminho do disléxico rumo à aquisição da leitura é árduo, seja por causa

da quantidade de dificuldades causadas pelo problema, seja pela complexidade

do diagnóstico e pela falta de conhecimento, que levam até mesmo à rotulação

prematura de outros distúrbios de leitura como sendo dislexia.

Com tudo isso, é evidente que são grandes as dificuldades para o

bibliotecário escolar trabalhar com incentivo à leitura, de forma a incluir também

os alunos disléxicos, mas é preciso que ele esteja consciente de que a promoção

do acesso de todos os membros da comunidade escolar ao mundo da leitura é

parte fundamental de sua missão.

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7 BIBLIOTECA ESCOLAR E DISLEXIA

A biblioteca escolar tem papel de extrema relevância no processo

pedagógico, no desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita, bem como de

hábitos de leitura duradouros. É de sua responsabilidade oferecer produtos e

serviços que atendam democraticamente às necessidades e aos desejos de

informação de seus usuários, e que contribuam para o desenvolvimento

educacional de todos os membros da comunidade escolar, especialmente

daqueles que apresentam dificuldades de leitura e de aprendizagem, como, por

exemplo, os portadores de dislexia.

Atualmente, um grande número de bibliotecas no país ainda não funciona

de acordo com as Diretrizes da IFLA/UNESCO para bibliotecas escolares, mas

nota-se um esforço crescente para essa adequação. Um exemplo disso é a

recente aprovação da Lei nº 12.244 de 24 de maio de 2010 (ANEXO A), que

dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do país,

regulamentando a obrigatoriedade de toda biblioteca escolar possuir um

profissional bibliotecário no prazo máximo de dez anos a partir da publicação da

lei.

Apesar da regulamentação da Lei 12.244 e do tema biblioteca escolar ser

frequentemente abordado em pesquisas, ainda há muito a ser discutido,

principalmente por ela ser a base para a formação de leitores.

É importante incluir nessas discussões questões mais específicas, como o

papel da biblioteca escolar no processo pedagógico e na disseminação de

informações relevantes ao processo de ensino e aprendizagem, tais como, o

problema da dislexia e outros distúrbios de aprendizagem. O objetivo deve ser a

criação de um ambiente favorável à detecção de problemas dessa natureza e à

elaboração de atividades que melhorem as condições do desenvolvimento escolar

e da aquisição da leitura por alunos portadores desses distúrbios.

Em relação à dislexia, ainda não há uma legislação específica no Brasil no

âmbito educacional. No entanto, há leis que prevêem ações que podem beneficiar

os disléxicos, como o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei de Diretrizes e

Bases e o Plano Nacional de Educação.

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Atualmente, está em tramitação no Senado um projeto de lei (PLS 402/08),

(ANEXO B) que dispõe sobre o diagnóstico e o tratamento da dislexia e do

Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) na educação básica.

O PLS prevê que as escolas de educação básica assegurem às crianças e aos

adolescentes com dislexia e TDAH o acesso aos recursos didáticos adequados

ao desenvolvimento da aprendizagem.

A seguir, serão abordados aspectos relacionados à missão, aos objetivos e

às funções da biblioteca escolar, bem como à formação do acervo, ao espaço

físico e às atividades voltadas ao incentivo à leitura. Ademais, serão apresentadas

recomendações que devem ser observadas por uma biblioteca que visa atender

de forma democrática e satisfatória a todos os seus usuários, disléxicos ou não-

disléxicos.

7.1 Biblioteca escolar: conceito, missão, objetivos e funções

A biblioteca escolar é um departamento complementar da escola que

auxilia na instrução do aluno e que tem função de agente educacional, pois

promove o enriquecimento cultural do aluno e proporciona oportunidade para o

seu desenvolvimento social e intelectual, além de momentos de lazer por meio da

leitura recreativa (PRADO, 1979, p 10).

A biblioteca escolar é também conceituada como o “centro dinâmico de

informação da escola”, que interpõe-se ao seu contexto e ao processo de ensino-

aprendizagem, e interage com a sala de aula (ANTUNES, 1998 apud MACEDO,

2005, p. 169).

A missão da biblioteca escolar, de acordo com o Manifesto IFLA/UNESCO

para Biblioteca Escolar (1999, p.1), é oferecer serviços de apoio à aprendizagem

e livros aos integrantes da comunidade escolar, contribuindo para a formação de

pensadores críticos e usuários efetivos da informação em todos os meios e

formatos.

A biblioteca escolar, como parte integral do processo educativo, tem os

seguintes objetivos:

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Apoiar e dar ênfase aos objetivos educacionais da escola.

Fomentar e cultivar nos alunos o hábito e o prazer da leitura e da

aprendizagem, bem como o acesso e uso de recursos informacionais ao

longo da vida.

Proporcionar oportunidades de vivências voltadas à produção e uso da

informação objetivando o conhecimento, a compreensão, a imaginação e a

recreação.

Auxiliar os alunos na aprendizagem e no desenvolvimento de habilidades

para avaliação e utilização da informação, em seus diversos suportes,

formatos e meios.

Organizar atividades que incentivem à conscientização cultural e social.

Trabalhar em parceria com os estudantes, com o corpo pedagógico e com

os pais, visando o alcance da missão e dos objetivos da escola.

Promover a leitura e oferecer recursos e serviços à comunidade escolar e

ao seu derredor (IFLA/UNESCO, 1999, p. 2-3).

Eco (1998 apud MENDES, 2008, p. 28) concorda que a biblioteca é um

espaço vital no âmbito escolar e ressalta que sua principal função recobre-se de

finalidades informativas, educativas, recreativas e culturais.

É função da biblioteca escolar desempenhar os seguintes papéis:

Educativo: apoio ao desenvolvimento das atividades curriculares.

Político: possibilitar a todos os alunos de forma democrática o acesso aos

livros.

Cultural: depositária de conteúdos da cultura.

Social: funcionar como centro de lazer da comunidade escolar. (STUMPF,

1987 apud CALDIN, 2003, p. 9-10).

Tendo em vista a missão, os objetivos e o papel da biblioteca escolar,

defendidos pela IFLA/UNESCO e enfatizados de forma unânime na literatura, é

prudente que as bibliotecas escolares observem as recomendações o quanto

antes, para atenderem de forma satisfatória a toda a comunidade escolar.

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É fundamental que a biblioteca escolar forneça atendimento especializado,

materiais especiais e específicos e todos os recursos que estiverem ao seu

alcance, buscando propiciar o acesso dos alunos disléxicos ao mundo da leitura,

tornando o processo de aprendizagem menos doloroso.

7.2 O acervo da biblioteca escolar

O acervo de uma biblioteca escolar deve ser composto de acordo com as

necessidades de seus usuários e deve conter informações nos mais diversos

suportes: desde livros, periódicos, enciclopédias, dicionários, atlas e mapas, até

filmes e jogos educativos.

Para constituir um recurso didático eficiente, o acervo da biblioteca escolar

deve ser formado e desenvolvido com critério, em sintonia com o projeto

pedagógico da escola e o contexto no qual está inserida (ABREU, 2002, p. 30).

Com base nos materiais e nas temáticas sugeridas nos Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN)1

Essa característica envolve a existência de equipamentos e influencia

vários aspectos do planejamento da biblioteca, inclusive o layout, que deve conter

espaços diversificados, de acordo com as necessidades de uso dos materiais

disponíveis (CAMPELLO, et al., 2001, p. 84).

, Campello, et al. (2001, passim) ressaltam que, em

relação aos materiais que servirão como base para a aprendizagem, a

característica mais evidente do acervo da biblioteca escolar é a diversidade de

textos e de suportes.

É importante ressaltar que, como afirma Bortolin (2006, p. 70), diversidade

não significa quantidade e que só a qualidade do acervo pode propiciar múltiplas

leituras.

De acordo com Macedo, (2005, p. 317), a tipologia dos materiais de

biblioteca pode ser caracterizada da seguinte maneira:

1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) são diretrizes para a reestruturação curricular das escolas de educação infantil e de ensino fundamental no Brasil.

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Obras de referência: subdivididas em: fontes com informação direta -

dicionários, enciclopédias, revisões guias e outros; e fontes com

informação indireta, para consultas em caráter referencial - bibliografias,

resumos e catálogos.

Coleção geral: inclui livros de diversos assuntos, obras literárias, manuais,

textos metodológicos e didáticos, entre outros.

Publicações de caráter periódico: revistas, jornais, boletins, anais de

congressos, entre outros.

Obras especiais: incluem livros raros e folhetos.

Multimeios: CDs, fitas, filmes e vídeos, CD-ROM, mapas, etc.

Romani e Borszcz (2006, p. 27) caracterizam os materiais de biblioteca de

modo bastante semelhante, dividindo a coleção da biblioteca escolar da seguinte

maneira:

Coleção de referência: formada por obras que dão suporte informacional à

pesquisa - anuários, atlas, bibliografias, resumos, biografias, dicionários,

enciclopédias, entre outros.

Coleção didática: composta por obras consideradas obrigatórias para o

aprendizado do conteúdo da grade curricular. Deve incluir: livros-texto,

manuais, apostilas, entre outros.

Coleção informativa de consulta e estudo: formada por materiais correntes

e atualizados, fundamenta a pesquisa e o ensino e normalmente inclui:

livros, normas técnicas, materiais audiovisuais, periódicos, entre outros.

Coleção de lazer: formada por obras literárias, recreativas, com a finalidade

de proporcionar entretenimento, tais como livros, periódicos e audiovisuais,

entre outros.

Coleção institucional: composta por materiais relacionados à memória da

instituição, pode ser constituída por: material didático, fotografias, vídeos,

obras raras, etc.

O incentivo ao uso de recursos hipertextuais e interativos, também é

recomendado pela literatura. A influência da biblioteca na utilização da internet

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pode ocorrer principalmente na seleção e divulgação de sites adequados aos

conteúdos e aos estágios de desenvolvimento dos alunos. Caso a biblioteca

possua computadores, mas não tenha acesso à internet, os CD-ROMs educativos

são apontados como uma boa opção (CAMPELLO, et al., 2001, p. 84, 86).

O domínio que cada aluno tem dos equipamentos e dos softwares deve ser

levado em consideração. A utilização dos recursos de informática precisa ser bem

planejada, observando-se que as habilidades no que diz respeito à utilização do

computador variam de pessoa para pessoa. (KUHLTHAU, 2002, p. 23).

O planejamento adequado e o conhecimento das necessidades de

informação e de aprendizagem dos usuários, o alinhamento com os conteúdos

aplicados em sala de aula, além da constante atualização, são fundamentais para

o desenvolvimento de um acervo rico e de boa qualidade. Dessa forma, a

despeito da realidade local e dos recursos disponíveis, o acervo da biblioteca

escolar poderá ser de fato um recurso pedagógico eficiente e útil para o incentivo

de práticas de leitura de todos os alunos, mesmo daqueles que apresentam

dificuldades de aprendizagem.

7.3 O acervo da biblioteca escolar para crianças disléxicas

O Manifesto da IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar (1999, p. 2)

recomenda que serviços e materiais específicos sejam disponibilizados a pessoas

não aptas ao uso dos materiais comuns da biblioteca. Neste grupo certamente

estão incluídos os alunos com dificuldades de aprendizagem, que necessitam ter

acesso a outros recursos, além do livro impresso, para auxiliá-los no

desenvolvimento das habilidades de leitura e de escrita.

Considerando-se que o estímulo aos vários sentidos funciona de forma

positiva para a aprendizagem dos disléxicos e, convém lembrar, também para os

não-disléxicos, o acesso a materiais que estimulam o aprendizado

multissensorial, que trabalham simultaneamente com o uso dos olhos, ouvidos,

órgãos da fala, dedos e músculos, é essencial para que a criança disléxica

desenvolva a leitura, a escrita e a soletração (IANHEZ; NICO, 2002, p. 78, 88).

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A utilização de materiais audiovisuais, de jogos educativos que estimulam a

memorização, e o uso do computador com processadores de palavras com

verificação ortográfica, são altamente recomendáveis para facilitar a

aprendizagem do aluno disléxico (IANHEZ; NICO, 2002, p. 78-83).

Assim, tendo em vista as inúmeras dificuldades apresentadas pelos

disléxicos e a recomendação da utilização de estímulos multissensoriais, sugere-

se que o acervo de uma biblioteca que pretende atender a alunos portadores de

dislexia, tenha os seguintes materiais:

Livros ilustrados e com linguagem fácil

Como o disléxico tem dificuldade na decodificação de palavras, quanto

mais claro for o texto, maiores as possibilidades de que ele consiga absorver ao

menos parte do conteúdo. As imagens e ilustrações o ajudarão a fazer

associações que facilitarão a memorização.

Figura 1 - Livro João, preste atenção Fonte: http://www.dislexia.org.br/

Histórias em quadrinhos

Da mesma forma que os livros que contém imagens e ilustrações, as

histórias em quadrinhos exploram amplamente o uso da imagem, estimulando a

atenção do leitor. Além disso, o texto simples, em forma de diálogos facilita a

compreensão.

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Figura 2 - Gibis Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

DVDs

Como o estímulo aos sentidos facilita a aprendizagem e memorização

por parte do disléxico, é importante a presença de recursos audiovisuais, como

vídeos e filmes, no acervo da biblioteca escolar.

Figura 3 - DVDs Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

CDs e Audiolivros

A gravação dos conteúdos das aulas facilita a compreensão e a

memorização, por isso, recomenda-se a adoção desse recurso, além dos CDs de

música que proporcionarão momentos lúdicos ao disléxico frequentador da

biblioteca. Da mesma forma, os audiolivros também ajudam a contornar a

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dificuldade de leitura e podem servir de atrativo, juntamente com os CDs, DVDs e

jogos, para atrair o disléxico para o ambiente da biblioteca.

Jogos educativos convencionais e eletrônicos

Os jogos educativos, principalmente os que oferecem maior interação,

visam auxiliar a aprendizagem e a estimular a memória da criança disléxica. Já

existem no mercado jogos interativos e outros programas desenvolvidos por

pesquisadores com essa finalidade. Um deles é o CD educativo Pluck no Planeta

dos Sons, que tem como objetivo o desenvolvimento de habilidades auditivas e de

leitura e escrita para crianças com idade entre 6 e 12 anos.

Figura 4 - Jogo Educativo Pluck no Planeta dos Sons Fonte: http://www.dislexia.org.br/

Softwares que facilitam a leitura e/ou que aliem som e imagem

Já existem softwares, como o Delta Talk 2.0, que facilitam a interação do

usuário disléxico com o computador. Esses programas podem ler os textos

escritos na tela com voz bastante semelhante à voz humana, convertendo

números, datas, horas, abreviações e medidas em fonemas.

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Figura 5 - Delta Talk 2.0

Fonte: http://www.dislexia.org.br/

Outros recursos, como o jogo de cinco réguas para leitura, desenvolvido

pela Associação Brasileira de Dislexia, também podem ser disponibilizados pela

biblioteca. Cada uma dessas réguas possui diferentes funções: uma é usada para

medir e para a tabuada, outra auxilia na leitura palavra a palavra, outra auxilia na

leitura de cada linha, etc. A finalidade é auxiliar na fixação ocular tanto no espaço

quanto na sequência visual, ajudando na manutenção do movimento ocular

durante a leitura e no desenvolvimento das estratégias de leitura.

Figura 6 - Jogo de Réguas para Leitura Fonte: http://www.dislexia.org.br/

7.4 O espaço físico da biblioteca escolar

O espaço físico da biblioteca é um fator de grande importância na

promoção de experiências de leitura, especialmente para o leitor iniciante.

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Os espaços não são neutros: são partes importantes no estudo do

comportamento humano e mediam as inúmeras ações que desenvolvemos

(MARTINS, E., 2006, p. 59).

Por isso, a imagem da escola e da biblioteca, como de qualquer outro

espaço de formação de leitores, deve se pensada de forma cuidadosa,

possibilitando a simpatia e o respeito por sua função e pelo trabalho dos

profissionais que nelas atuam (MARTINS, E., 2006, p. 59).

A criação de espaços favoráveis à leitura e à construção do conhecimento

possui grande relevância dentro da proposta pedagógica da escola, já que a

biblioteca escolar propicia “trocas efetivas/afetivas entre leitor/espaço/mediador”

(SCORSI, 2001 apud MARTINS, E., 2006, p. 59).

Segundo Bortolin (2006, p. 70), as condições que permitem um espaço

agradável, conforto físico e conforto visual incluem: iluminação, ventilação,

temperatura, mobiliário, decoração, comunicação visual e cores das paredes e

piso.

Assim, os lugares de educação e leitura devem ser ambientes agradáveis

que transmitam e estabeleçam por meio de seu arranjo e das informações que os

compõem, sensações favoráveis ao processo de mediação, ou seja, todo o

espaço, desde os móveis, as cores, os objetos, entre outros, são fatores que tem

o potencial de interferir nesse processo (MARTINS, E., 2006, p. 58-59).

Essa preocupação em oferecer um ambiente acolhedor, de forma a

contribuir no incentivo à leitura, já tem levado a criação de bibliotecas escolares

com espaços aconchegantes, contendo tapetes, almofadas, móveis coloridos,

decoração alegre e exposição dos materiais de forma atraente aos novos leitores

(CALDEIRA, 2002, p. 48).

As Diretrizes da IFLA/UNESCO para Bibliotecas Escolares (2002, p. 8),

declaram que apesar de não haver um padrão universal para as instalações da

biblioteca escolar, é importante seguir algumas recomendações, de forma que a

biblioteca atenda efetivamente às necessidades da escola. Devem ser

considerados os seguintes pontos:

Acessibilidade e proximidade às áreas de ensino.

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Eliminação de ruído exterior em pelo menos algumas partes da biblioteca.

Iluminação adequada e suficiente, seja por janelas ou por fontes artificiais.

Temperatura ambiente apropriada.

Adequação do espaço para o atendimento aos usuários portadores de

necessidades especiais.

Dimensões que comportem de maneira adequada o espaço para o acervo,

para áreas de estudo e de leitura, espaço para trabalho interno e para

atendimento aos usuários.

O acervo de livros infantis deve ser disposto de forma acessível,

possibilitando uma boa visibilidade e a utilização autônoma pelas crianças. A

organização deve permitir que os critérios de ordenação sejam facilmente

identificados, pois isso pode ser determinante no acesso das crianças à coleção

(KUHLTHAU, 2002, p. 33).

No entanto, é preciso lembrar que nem todos os alunos, especialmente os

disléxicos, terão facilidade no acesso e utilização do acervo.

Os portadores de dislexia, conforme mencionado no capítulo 5, geralmente

apresentam dificuldades de orientação espacial e de codificação e memorização

de palavras e números. Por isso, a utilização de cores e outros recursos visuais e

táteis, aliados aos sistemas de classificação tradicionais e a uma boa

comunicação visual, podem ser uma alternativa para facilitar a localização dos

materiais nas estantes.

Desse modo, o ambiente da biblioteca pode tornar-se menos intimidador

para esses alunos, o que certamente facilitará seu acesso à leitura e os

estimulará a permanecerem mais tempo na biblioteca.

7.4 Atividades de incentivo à leitura no ambiente da biblioteca

A biblioteca escolar, além de ter um acervo adequado e espaço agradável,

deve desenvolver atividades de incentivo à leitura bem planejadas e estruturadas,

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visando o alcance dos diferentes grupos de alunos, independente da faixa etária e

do nível de aprendizado. Isto deve ser feito de forma criteriosa e contínua.

Nesse sentido, as Diretrizes da IFLA/UNESCO para Bibliotecas Escolares

(2002, p. 19-20) sugerem que a biblioteca deve organizar atividades que

estimulem o interesse pela leitura e que desenvolvam o gosto pela literatura.

Essas atividades envolvem aspectos culturais e de aprendizagem, por isso, a

abordagem precisa ser pragmática e flexível, respeitando-se sempre as

preferências e os direitos individuais dos leitores. A leitura de obras que

correspondam às suas necessidades e ao seu nível de aprendizagem pode

estimular os alunos no processo de socialização e no desenvolvimento de sua

identidade.

Ferraz (2008, p. 46) observa que não é necessário que o aluno saiba ler

para começar a frequentar a biblioteca da escola.

Considerando-se esta afirmação, é necessário ressaltar que mesmo que o

aluno possua dificuldades de aprendizagem que retardem a alfabetização, como

no caso dos portadores de dislexia, é fundamental que ele seja estimulado a

frequentar a biblioteca e a se apropriar do seu espaço e do seu acervo. A

organização de atividades no ambiente da biblioteca que levem em consideração

suas dificuldades e que não exponham suas limitações aos demais colegas, é

importante no auxílio ao aluno disléxico no processo de apropriação da leitura e

do espaço da biblioteca.

As atividades desenvolvidas na biblioteca escolar podem mostrar aos

alunos os diferentes textos e suportes que podem ser encontrados em seu acervo

e as diferentes necessidades que podem suprir (FERRAZ, 2008, p. 46). Também

podem mostrar que uma mesma história pode estar disponível em diferentes

suportes (livro, DVD, audiolivro) e que pode ser lida de maneiras diferentes.

Tendo em vista que, conforme citado no item 7.3, o estímulo aos sentidos

apresenta aspectos positivos para o desenvolvimento da aprendizagem dos

disléxicos e também dos não-disléxicos, a utilização de sons, imagens, aromas e

objetos pode ser introduzida no desenvolvimento das atividades, especialmente

na hora do conto. O estímulo multissensorial, ajudará a manter a atenção das

crianças e também a compreensão, a apropriação e a memorização da história.

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Kuhlthau (2002, p. 29-30) ressalta que é importante evitar atividades e

histórias muito subjetivas ou longas, pois a atenção muito concentrada e a

realização de atividades que exigem muita energia, logo resultam em cansaço. A

autora se refere a uma faixa etária específica, por volta dos cinco anos, mas é

importante aplicar essas recomendações também na realização de atividades

para as crianças que já estão na fase de alfabetização e, também, para as

crianças disléxicas, que possuem dificuldades específicas em relação à atenção,

compreensão e memorização.

Há diversas possibilidades de atividades de incentivo à leitura que podem

ser desenvolvidas no ambiente da biblioteca, dentre as quais se destacam as

seguintes:

Hora do conto

Figura 7 - Hora do conto Fonte:

http://websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/montecristo/adriana/2009/A14biblio.html

É uma atividade na qual são narrados ou lidos contos ou histórias para as

crianças. Pode ser considerada uma das principais atividades de incentivo à

leitura, podendo ser desenvolvida periodicamente tanto na biblioteca quanto na

sala de aula.

Essa atividade geralmente é desenvolvida com o objetivo de promover o

incentivo à leitura e pode ser uma ação cativante e envolvente, além de provocar

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nas crianças a curiosidade, instigando-as a descobrir o livro utilizado para a

narração da história (DUARTE, 2007, p. 38, 48).

Além disso, como ouvir é mais fácil do que ler e como a voz e a expressão

facial do leitor ajudam o ouvinte a compreender o significado e o caráter do texto,

é possível encantar até mesmo aqueles que não gostam de ler ou que possuem

dificuldades de leitura (BAMBERGER, 2002, p. 79).

Ler uma história e interromper em um trecho emocionante, de modo a

despertar a expectativa da criança em relação ao desfecho, fazendo-a querer

continuar lendo por conta própria, é um método que pode ser utilizado com êxito

(BAMBERGER, 2002, p. 80).

A hora do conto pode ser desenvolvida de diversas maneiras e com

modalidades diferenciadas: a narração simples ou com a utilização de adereços;

a leitura diretamente no livro com a utilização, ou não, das ilustrações, etc.

(DUARTE, 2007, p. 38).

Os recursos a serem utilizados são os mais diversos: gravuras, desenhos,

canções, cartazes, flanelógrafo, retroprojetor, aventais, fantoches, marionetes,

cordões de histórias, lenços coloridos, etc. Eles podem auxiliar as crianças,

inclusive as disléxicas, a manterem a atenção e a compreenderem e

memorizarem a história. A seguir, quatro dos recursos citados:

Figura 8 - Avental para contar histórias Fonte: http://bonequeiras.blogspot.com/2008/10/avental-o-sapo-e-flor.html

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Figura 9 - Flanelógrafo para contar histórias Fonte: http://tiasissi.blogspot.com/

Figura 10 - Fantoches para contar histórias Fonte: http://www.infoescola.com/artes-cenicas/teatro-de-fantoches/

Figura 11 - Marionetes para contar histórias Fonte: http://alagoinhaipaumirim.blogspot.com/2008/07/vota-ip.html

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A atividade deve ser preparada antecipadamente, inclusive com a criação

de um ambiente agradável e favorável à concentração das crianças. Pode ser

complementada com a abertura de um período para as crianças comentarem a

história, recontarem à sua maneira e se expressarem por meio de desenhos ou

da escrita.

Roda de leitura

Figura 12 - Roda de leitura Fonte: http://escoladavila.wordpress.com/2010/03/18/voce-adivinhou-eu-adorei-o-livro-

que-me-indicou/blog57/

É uma atividade na qual, como o próprio nome sugere, os participantes

sentam-se em roda, de forma que haja contato visual entre todos, não havendo

diferenças hierárquicas. As leituras dos textos (histórias, poemas, letras de

músicas) são feitas com a mediação de um leitor-guia, que faz a leitura em voz

alta, enquanto os demais acompanham. Ele também faz a mediação do diálogo

com o público, sempre levando em consideração o nível cultural dos participantes,

suas preferências e as dificuldades de leitura e compreensão que possam

apresentar.

O mediador dá oportunidade aos participantes para expor suas opiniões,

suas dúvidas e suas próprias interpretações do texto trabalhado, sem que seja

feito nenhum tipo de cobrança, especialmente no caso de haver crianças

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portadoras de dislexia no grupo. Essas crianças devem ser estimuladas - mas não

cobradas - a participar do diálogo, de modo que se sintam à vontade para fazê-lo.

As rodas de leitura são organizadas com o objetivo de proporcionar o

contato das crianças com a leitura de forma agradável. Elas possibilitam que as

crianças tenham momentos de interação com o texto e com os colegas, criando

um ambiente de integração e espontaneidade.

Encontro com o autor

Figura 13 - Encontro com o autor Fonte: http://fontainhasbe.blogspot.com/2010/02/encontro-com-o-autor-vasco-de-sousa.html

Apesar de não ser uma atividade que possa ser feita com a mesma

frequência da hora do conto e das rodas de leitura, a leitura e apresentação do

livro pelo próprio autor, e por vezes pelo ilustrador, pode estimular o interesse das

crianças para adquirirem os livros e também para pedi-los emprestados à

biblioteca.

O contato pessoal com o autor estimula o interesse pela leitura de livros

que a criança ainda não leu, e por assuntos com os quais ainda não teve contato.

Com isso, incentiva-se o gosto pela leitura e o interesse pelos livros e pela

literatura.

Esse tipo de atividade necessita ser planejada com antecedência e deve

fazer parte de um projeto de caráter mais amplo, cujos objetivos, definidos de

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forma criteriosa, estejam relacionados com a educação linguística e literária e

com a promoção do livro e da leitura. Isso necessariamente implica trabalho e

recursos (GOMES, 2007, p. 1).

Como todas as demais atividades desenvolvidas pela biblioteca, deve ser

feita em parceria com toda a comunidade escolar e em consonância com o projeto

pedagógico.

Feiras e exposições de livros

Figura 14 - Feira/Exposição de livros Fonte: Biblioteca do Colégio Santo Américo

As feiras e exposições de livros também podem ser incluídas no roteiro de

atividades de incentivo à leitura, pois além de educativas, elas têm uma função

cultural muito significativa.

O principal objetivo das feiras é colocar ao alcance dos olhos e das mãos

desses pequenos leitores em potencial a maior quantidade possível de livros de

diversas editoras, de modo que eles percebam a variedade de títulos existente e

tenham a oportunidade de descobrir um ou outro livro que os agrade, quer seja

pela capa, pelo tema, pelas ilustrações ou qualquer outro aspecto,

proporcionando-lhes a oportunidade de escolha individual (SANDRONI;

MACHADO, 1991, p. 62).

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Bamberger (2002, p. 81-82) afirma que as melhores exposições são

aquelas que são combinadas com outras ações, como encontros com autores, e

que, além das tradicionais feiras e exposições de livros, realizadas durante a

Semana do Livro e a Semana do Livro Infantil, é recomendável a organização de

exposições menores, pois quanto menor for o grupo a que se destina, maiores as

possibilidades de se adequar a oferta de livros aos interesses dos visitantes.

As feiras de livros são também excelentes oportunidades para que os pais

visitem a escola e a biblioteca, contribuindo para o incentivo à leitura de seus

filhos. Propiciam também a oportunidade de diálogo com os pais a respeito de

temas relevantes para aprendizagem das crianças.

Por meio da promoção dessas e de outras atividades, a biblioteca pode

alcançar um lugar de destaque na escola e contribuir para a formação de novos

leitores, que poderão se familiarizar gradativamente com a leitura e com o livro,

mesmo que apresentem dificuldades de leitura, como aquelas causadas pela

dislexia.

7.5 A participação dos pais

A participação dos pais nas atividades de leitura e no desenvolvimento da

aprendizagem das crianças é fundamental, sendo inclusive recomendada pelas

Diretrizes da IFLA/UNESCO para Bibliotecas Escolares (2002, p. 20).

Além de participar de atividades na escola e na biblioteca, os pais também

poderão ajudar os seus filhos lendo para eles todos os dias e encorajando-os a

lerem todo tipo de texto, desde notas na geladeira até livros engraçados ou

páginas de esportes no jornal (IANHEZ; NICO, 2002, p. 93). Sua ajuda continua a

ser de extrema importância mesmo depois que a criança tenha aprendido a ler, de

forma que ela sinta o interesse dos pais pelo que está lendo. É importante que

esse interesse não seja expresso em forma de cobrança, interrogatórios e testes

a respeito daquilo que foi lido (BAMBERGER, 2002, p. 71).

Além disso, se a mãe e o pai lerem os livros dos filhos com certa

frequência, isso tanto os incentivará a ler como também possibilitará o diálogo

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entre eles. Também tornará possível aos pais compreenderem melhor seus filhos

e a importância dos livros para o seu desenvolvimento (BAMBERGER, 2002, p.

71).

O papel dos pais como modelos é fundamental, pois, quando eles mesmos

têm o hábito de ler regularmente, podem incentivar com mais facilidade que os

filhos também o façam (BAMBERGER, 2002, p. 72).

A paciência, o encorajamento e o hábito de reservar um momento para a

leitura em família e para o diálogo sobre a leitura é muito importante,

especialmente no caso das crianças disléxicas. No entanto, recomenda-se evitar

pressioná-las a lerem em voz alta na frente de outras pessoas e também evitar

comparações com outros membros da família. A realização de visitas a

bibliotecas, museus, teatros e cinemas, juntamente com toda a família, também é

importante para o desenvolvimento da criança.

A participação dos pais nas atividades de incentivo à leitura e a

comunicação com a escola e com a biblioteca, certamente trarão grandes

benefícios para a formação desses pequenos leitores, possibilitando que muitas

dificuldades sejam amenizadas. Essa integração é especialmente importante no

caso de crianças disléxicas ou que apresentem qualquer outro tipo de distúrbio de

aprendizagem. A realidade dessas crianças ainda é muito difícil, pois, na maioria

das vezes, nem a escola, e muito menos a biblioteca, estão preparadas para

atendê-las de forma adequada.

Apesar disso, aparentemente, a mudança do atual quadro está a caminho.

A informação e a adoção de novas posturas por parte dos profissionais, da escola

e dos órgãos governamentais certamente podem acelerar esse processo,

trazendo grandes benefícios não apenas aos alunos disléxicos, mas a toda a

comunidade escolar e à sociedade em geral.

O bibliotecário tem papel relevante nesse processo, pois pode atuar de

forma conjunta com o corpo pedagógico, desenvolvendo atividades de incentivo à

leitura, além de preparar o acervo e o espaço da biblioteca para atender às

necessidades e dificuldades de informação dos alunos, cooperando assim para

sua formação escolar.

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O próximo capítulo é dedicado a abordagem de diversos aspectos

relacionados à atuação desse profissional no âmbito escolar.

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8 BIBLIOTECÁRIO ESCOLAR

O Manifesto IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar (1999, p. 3) define o

bibliotecário como o profissional responsável pelo planejamento e administração

da biblioteca escolar.

O bibliotecário que atua na escola é também um agente escolar que pode

mediar às informações necessárias para a formação do sujeito (SALES, 2004,

p.15).

A biblioteca é parte integrante e fundamental de uma escola, e o

bibliotecário é um componente importantíssimo para o seu bom funcionamento. É

por meio dele e do seu trabalho que a biblioteca pode existir, porque ela depende

dos seus conhecimentos e da sua ação para atender às necessidades da

comunidade escolar (TAVARES, 1973, p. 27).

Segundo Fragoso (2002, p. 128), de nada servirá uma esplêndida

biblioteca escolar, com excelente espaço físico e acervo adequados às

necessidades escolares se, para desempenhar as funções e cumprir seus reais

objetivos não estiver em seu comando um profissional consciente, com

sensibilidade e habilitações básicas para manter esse espaço de cultura e

informação bem aceito e atraente para seu público.

O perfil da biblioteca escolar está intimamente ligado à comunidade

escolar, por isso, o profissional que se dispõe a trabalhar nesse tipo de unidade

de informação precisa estar consciente do papel que deve desempenhar e

explorá-lo ao máximo.

Cabe ao bibliotecário a grande tarefa de tornar a biblioteca escolar um

espaço, além de agradável, também dinâmico, onde predomine um ambiente de

harmonia entre ele e o usuário, independente da faixa etária ou posição deste na

hierarquia da escola. (FRAGOSO, 2002, p. 129). É preciso que ele esteja

realmente disposto a trazer o público para o ambiente da biblioteca, seja por meio

das atividades ou até mesmo de simples gestos, como sempre demonstrar

atenção no momento em que os usuários entrarem na biblioteca, colocando-se à

disposição para auxiliá-los no que for preciso, seja para a realização de trabalhos

escolares ou para a indicação de obras voltadas ao entretenimento.

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Para tanto, é importante que ele saiba ouvir os usuários a respeito dos

seus interesses, sentimentos ou vontades (ELY, 2003 apud COSTA, 2009, p. 11).

Dessa forma, ele poderá detectar possíveis problemas e auxiliá-los em suas

dificuldades, seja nos casos de portadores de dislexia ou de qualquer outra

dificuldade de aprendizagem. Apesar de não ser necessário que o bibliotecário

seja um especialista nesse tipo de problema, se ele estiver bem informado e

atento às dificuldades das crianças, poderá até mesmo identificar os indícios de

possíveis anomalias. Nesse caso, é importante que haja uma comunicação direta

e franca com os professores e com a família, a fim de que, se necessário, a

criança seja encaminhada para o diagnóstico e tratamento.

É também muito importante que o bibliotecário entenda que a biblioteca é

um espaço de todos os que estão a sua volta e que esteja sempre aberto a

sugestões, ideias e atividades propostas por qualquer parte da comunidade

escolar. Agindo dessa forma, a biblioteca além de manter interação com a

comunidade escolar, também irá suprir os objetivos de todos os perfis de

usuários, proporcionando também apoio aos professores (SILVA, 2003, p. 76).

O bibliotecário deve ser humano, participativo e comunicativo com os

alunos, fazendo com que tenham mais prazer em ler e frequentar a biblioteca

(LITTON, 1974 apud CORRÊA, et al., 2002, p. 116). É necessário que ele

compreenda as crianças, saiba conquistá-las, tenha espírito de curiosidade,

animação, tato, entusiasmo, energia e saiba lidar com adultos tanto quanto com

crianças. (DOUGLAS, 1971 apud CORRÊA, et al., 2002, p. 116).

O bibliotecário escolar deve ser também, acima de tudo, um leitor e ter a

competência, para desenvolver atividades adequadas e específicas para o público

que atende, de modo que possa promover o interesse de seus usuários pela

biblioteca (COSTA, 2009, p. 11; FRAGOSO, 2002, p. 128-129). Ele deve conhecer

os livros que compõem o acervo da biblioteca na qual atua e repassar os

conteúdos para seus pequenos usuários, quer seja por meio da hora do conto,

das visitas orientadas, ou do atendimento do dia-a-dia (KIESER; FACHIN, [2000],

p. 6).

Além de ser um leitor nato, gostar realmente de ler, e possuir formação

superior, o bibliotecário deve ter algumas qualidades que são de extrema

importância para atuar em biblioteca escolar: gostar de interpretar, saber inovar,

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ter energia, imaginação, ambição, criatividade, saber adaptar as convenções e

técnicas bibliotecárias, ter responsabilidade profissional, competência, coragem,

facilidade de escrever e de se expressar, ser agradável, gostar de servir e ter

sempre em mente que precisa ser útil e paciente (TAVARES, 1973, p. 27;

PINHEIRO, 1987 apud KIESER; FACHIN, [2000], p. 7). A paciência é uma

característica fundamental quando se trabalha com crianças, especialmente com

aquelas que apresentam problemas de aprendizagem.

A interação do usuário portador de dislexia com a biblioteca é mais difícil do

que com os não portadores. Por isso, é necessário que o bibliotecário observe

com bastante atenção se o conteúdo das atividades desenvolvidas está de fato

sendo compreendido por essas crianças.

É a partir desse instante, no repasse do saber que se iniciará a verdadeira

interação do usuário com a biblioteca, ou seja, é nesse momento que o

bibliotecário irá promover a completa conquista do usuário (KIESER; FACHIN,

[2000], p. 6), de modo que, cada aluno, especialmente os que apresentam mais

dificuldades, como os disléxicos, tenha a possibilidade de perceber a biblioteca

como um espaço de fato acolhedor, e o bibliotecário como alguém que busca

entendê-los e auxiliá-los em seu árduo caminho rumo à aquisição da leitura.

8.1 Tarefas e funções do bibliotecário escolar

No âmbito técnico-administrativo, cabe ao bibliotecário a responsabilidade

de realizar a catalogação, a classificação e a organização dos materiais para a

pronta recuperação e promoção do acesso à informação existente na biblioteca

(SALES, 2004, p. 55). É também sua responsabilidade selecionar o acervo e

oferecê-lo de maneira acessível ao usuário, arrumar a mobília da biblioteca

sempre de acordo com a faixa etária atendida para proporcionar maior conforto e

praticidade, e estar à frente do programa de aquisição (CORRÊA, et al., 2002, p.

116). Essas tarefas são muito importantes para o bom funcionamento da

biblioteca, mas é importante que o profissional esteja consciente de que é

necessário dedicar grande parte do seu tempo para estar mais próximo dos

usuários, dedicando-se a atendê-los com atenção e dedicação.

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A partir desse contato com os usuários, o bibliotecário poderá se atentar

aos gostos e preferências de cada um deles, o que possibilitará a indicação de

livros ou de qualquer outro material que esteja realmente de acordo com suas

necessidades de informação, com sua faixa etária e com seu modo de processar

a leitura. Também poderá notar se algum dos usuários apresenta algum tipo de

dificuldade que possa caracterizar um quadro de dislexia. Isso é importantíssimo

para essas crianças, pois o bibliotecário poderá indicar para elas livros que

tenham uma linguagem mais fácil e que tenham também ilustrações, o que

facilitará a compreensão dessas crianças, visto que, como citado no item 7.3 do

capítulo 7, uma das dificuldades apresentadas por elas está na decodificação de

palavras. Ao apresentar os diversos tipos de materiais que o acervo possui, o

bibliotecário mostrará que a biblioteca é um espaço reservado, também, para

elas.

Já no âmbito pedagógico, cabe ao bibliotecário escolar estimular o uso da

biblioteca pelos professores, participar das reuniões pedagógicas e de

planejamento, participar de forma efetiva na elaboração e manutenção do projeto

político pedagógico, elaborar atividades que estimulem a crítica a partir, por

exemplo, da leitura, e, principalmente, ter consciência de que sua atuação tem

grande importância no processo de despertamento do senso crítico dos alunos

(SALES, 2004, p. 55). Ter um espaço para informar sobre os assuntos da

biblioteca e participar das reuniões de professores é uma rotina a ser vivenciada

pelo bibliotecário escolar (ELY, 2003 apud COSTA, 2009, p. 11).

Silva (1995 apud CORRÊA, et al., 2002, p. 118) afirma que:

Ao bibliotecário escolar, visto como educador, cabe dedicar- se menos às atividades mecanizadas e muito mais a programas de incentivo à leitura, junto aos alunos, com o apoio dos outros educadores da escola, como os professores e os especialistas.

É também função do bibliotecário escolar disponibilizar os materiais de

acordo com os objetivos propostos pelo curso que o aluno frequenta, estar

sempre disposto a auxiliar e servir os alunos com atenção, dedicação e paciência,

e fornecer a informação de forma rápida e de acordo com o que o aluno

realmente busca. (TAVARES, 1973, p. 27).

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Sales (2004, p. 54) destaca que, no tocante ao oferecimento dos recursos

informacionais, é importante para o bibliotecário escolar:

Conhecer seus usuários e suas necessidades de informação.

Perceber a possibilidade que dá ao aluno de construir conhecimento a

partir do contato com a informação.

Organizar o acervo de modo que consiga recuperar a informação desejada

em tempo hábil.

Dominar técnicas e tecnologias de acesso a informação.

Interagir com o corpo docente e com os alunos.

Com isso, o bibliotecário terá condições de mostrar ao usuário todas as

possibilidades informativas e culturais que a biblioteca pode lhe oferecer,

ensinando-o a utilizar de forma correta as fontes de informação e proporcionando

atividades na biblioteca que estimulem a geração de novos conhecimentos e que

contribuam para seu desenvolvimento cognitivo e intelectual (SALES, 2004, p.

55).

As habilidades adquiridas a partir dessa vivência podem trazer benefícios

ao desenvolvimento do indivíduo ao longo da vida, contribuindo para sua

participação na sociedade como cidadão atuante, o que é especialmente

importante no caso dos disléxicos, que devido às suas dificuldades no domínio da

leitura e da escrita, muitas vezes podem encontrar obstáculos para ingressarem

no mercado de trabalho e para atuarem de forma efetiva na sociedade. O

bibliotecário, em parceria como o corpo pedagógico, certamente pode ser um

importante agente no processo de inclusão do disléxico no mundo das letras e na

sociedade. A importância desse profissional no processo pedagógico é destacada

a seguir.

8.2 Importância do bibliotecário escolar no processo pedagógico

A participação do bibliotecário no processo pedagógico é muito importante.

De acordo com o Manifesto IFLA/UNESCO (1999, p. 2), bibliotecários e

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professores, ao trabalharem em parceria, podem influenciar o desempenho dos

alunos para o alcance de maior nível de literacia na leitura e escrita, para a

aprendizagem, resolução de problemas, utilização da informação e das

tecnologias de comunicação e informação. Para isso, é necessário que o

bibliotecário participe da vida escolar de seus usuários e se envolva no

desenvolvimento do programa educativo. Estando ciente desse programa, o

bibliotecário tomará conhecimento dos conteúdos explorados em sala de aula e

poderá orientar com maior objetividade e eficácia a inserção da biblioteca no

processo de ensino/aprendizagem (SILVA, 2003, p. 77; CORRÊA, et al., 2002, p.

118).

Apesar da extrema importância de que haja interação entre professor e

bibliotecário, ainda existe uma grande barreira a ser vencida no convívio desses

dois profissionais no âmbito escolar. Alguns bibliotecários, por não estarem bem

entrosados com o ambiente educacional, muitas vezes se fecham apenas no seu

universo, se isolando do ambiente à sua volta e tornando-se apenas meros

entregadores de livros (FRAGOSO, 2002, p. 129).

Na maioria das vezes lhes são atribuídas funções técnicas e até

burocráticas que os distanciam do fazer pedagógico e de sua aceitação como

bibliotecários escolares. O que acontece com frequência é que, devido a certas

funções exigidas pelo estabelecimento de ensino e até mesmo à falta de

consciência do próprio profissional em relação ao seu papel pedagógico, muitas

vezes a sua atenção se volta praticamente toda para a demanda de serviços

simples, como a organização de estantes e o empréstimo de livros. Com isso,

restam apenas poucos momentos para atividades pedagógicas de interação com

os estudantes e demais membros da comunidade escolar (SALES, 2004, p. 54).

Muitas vezes, cria-se uma concepção errada no que diz respeito a uma de

suas funções dentro da escola: o apoio às atividades dos professores por meio do

oferecimento de recursos informacionais. Essa função muitas vezes é entendida

como um simples repasse de livros ou documentos (SALES, 2004, p. 54). Embora

muitos educadores já tenham consciência de que é necessário desenvolver um

trabalho em conjunto com a biblioteca escolar e com o bibliotecário, infelizmente

ainda, para alguns professores, o bibliotecário não passa de alguém que está na

biblioteca apenas para emprestar e guardar livros, ou o que cuida de garotos que

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por vezes são levados à biblioteca para cumprir castigos (KIESER; FACHIN,

[2000], p. 11).

Para que seja possível a remoção dessa barreira existente entre esses dois

profissionais que são de extrema importância para a comunidade escolar é

necessário frisar a importância de haver cooperação de ambas as partes.

Ao bibliotecário cabe estabelecer uma relação mais próxima com o

professor, possibilitando assim que o mesmo tome conhecimento do que a

biblioteca pode oferecer tanto em materiais quanto em atividades para somar no

processo de aprendizagem dos alunos.

Já ao professor cabe permitir o envolvimento do bibliotecário em seu

planejamento pedagógico, e ao mesmo tempo, se envolver no processo de

formação do acervo da biblioteca, de modo que esteja em consonância com o

conteúdo explorado em sala de aula.

É essencial que tanto o bibliotecário quanto os professores dominem a

tipologia e funções dos materiais didáticos e de leitura, cultura e lazer. Esses

conhecimentos são importantes para a adequada composição do acervo e para a

constante atualização e pertinência na aquisição de materiais que atendam às

diversas disciplinas do currículo escolar (MACEDO, 2005, p. 315).

Agindo dessa forma, será possível a interação e o diálogo entre professor e

bibliotecário, de forma que os alunos também serão contemplados, tendo a

oportunidade de desfrutar de conhecimentos mais amplos, à medida que forem

superando suas dificuldades de leitura.

Para que o bibliotecário tenha uma ação pedagógica concreta no âmbito

escolar, fica também sob a sua responsabilidade estimular os professores quanto

ao uso da biblioteca, ter iniciativa e reivindicar a sua participação em reuniões

pedagógicas e de planejamento, como também participar da elaboração e

manutenção do projeto político-pedagógico e da elaboração de atividades que

estimulem a crítica a partir, por exemplo, da leitura, e, especialmente, ter

consciência de que sua atuação é importante no processo de despertar o senso

crítico dos alunos (SALES, 2004, p. 55).

Cabe ao bibliotecário escolar orientar o professor para que auxilie os

alunos a tirarem o máximo de aproveitamento da biblioteca e, mesmo se o

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professor já estimule os alunos a frequentá-la e utilizá-la, é papel do bibliotecário

orientar os alunos, ajudá-los a realizar pesquisas e a fazer o levantamento da

bibliografia indicada pelo professor, auxiliar na consulta dos materiais e até

mesmo em trabalhos (TAVARES, 1973, p. 27).

Segundo Moura ([1998], p. 192-193):

O papel do bibliotecário escolar na sociedade da informação não é apenas prover uma gama de recursos aos seus usuários, mas também colaborar com professores e educadores no processo de aprendizagem destas fontes de informação. Ele surge como um elemento catalisador das diversas disciplinas, atuando como agente redutor das diferenças de linguagem e metodologias das disciplinas, principalmente onde as instâncias inter e multidisciplinares se fazem presente.

Dessa forma, o bibliotecário escolar deve assumir de fato o papel de

educador que lhe é atribuído pela literatura, elevando a importância da biblioteca

no âmbito escolar.

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9 BIBLIOTECA ESCOLAR versus DISLEXIA: UMA VISÃO PRÁTICA

Nos capítulos anteriores, foi exposto, com base na literatura, o problema da

dislexia no âmbito escolar e os sintomas e dificuldades decorrentes dela. Foi

abordada a importância da leitura para o desenvolvimento do indivíduo, bem

como de que forma ocorre o seu processamento. Foi ressaltado também o papel

da biblioteca e do bibliotecário no incentivo à leitura para crianças portadoras

desse distúrbio.

A fim de observar na prática como a biblioteca atende os alunos portadores

de dislexia, realizou-se, no dia 7 de outubro de 2010, uma visita à biblioteca

Carlos Drummond de Andrade, do Colégio Ofélia Fonseca, atualmente sob a

responsabilidade da bibliotecária Ednamar Silva Brugger, que concedeu ao grupo

uma entrevista (APÊNDICE A), contando como a Biblioteca do Colégio atua em

relação à dislexia.

Na entrevista, cujos detalhes serão expostos a seguir, a bibliotecária falou

de sua experiência no Colégio, abordando questões, tais como: se ela tinha

conhecimento prévio sobre a dislexia, se a biblioteca está apta para reconhecer

possíveis comportamentos que denotam o problema, qual a faixa etária das

crianças afetadas, qual a frequência delas à biblioteca, se são oferecidos

materiais, produtos, serviços e atividades especiais para elas, se os alunos

disléxicos conseguem acompanhar as atividades desenvolvidas, se a biblioteca

possui materiais específicos sobre o assunto e se existe diálogo com o corpo

pedagógico e com os pais.

9.1 O Colégio Ofélia Fonseca e a Biblioteca Carlos Drummond de Andrade: passado e presente

O Colégio Ofélia Fonseca, fundado em 7 de junho de 1921 por Ofélia

Fonseca de Almeida, é um colégio particular, localizado no bairro de Higienópolis,

que atende alunos desde a Pré-escola até o Ensino Médio. Inicialmente, oferecia

apenas o curso primário, depois foi implantado também o ginásio. No ano de

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1971, após um processo de renovação pedagógica, a escola passou a aceitar

rapazes, antes disso aceitava apenas meninas. Oito anos depois, em 1979, foi

criado o segundo grau.

Em 1979, por meio de uma homenagem feita pelos alunos do Colégio

Ofélia Fonseca ao poeta Carlos Drummond de Andrade, a biblioteca passou a

levar o seu nome.

A biblioteca está localizada ao lado do pátio da escola, o que possibilita um

melhor acesso por parte das crianças. Tem como público alvo, os alunos, dentre

os quais, seis são portadores de dislexia, professores, coordenador e orientador

pedagógico.

Embora o ambiente da biblioteca não seja amplo, houve uma preocupação

em relação a ter um espaço infantil destinado aos pequenos leitores. O ambiente

além de agradável é também aconchegante para a realização de leitura. As

estantes possuem tamanho proporcional às crianças, o que possibilita que elas

tenham livre acesso para escolher os materiais de sua preferência. Os livros

estão organizados dentro de suportes na cor azul, onde levam sinalização com as

letras do alfabeto de A a Z, como demonstra a figura 15.

Figura 15 - Acervo infantil Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

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O espaço infantil ainda conta com cestas ao lado do acervo para as

crianças do Jardim de Infância e da Pré-Escola. Os materiais que compõem as

cestas são gibis que não fazem parte do acervo infantil da biblioteca (Figura 16).

Isto porque as crianças com essa faixa etária não têm noção do cuidado que

devem ter com os materiais da biblioteca. Esse recurso foi adotado para que as

crianças possam criar, desde cedo, o hábito de frequentar a biblioteca e com isso

o hábito pela leitura.

Figura 16 - Cesta com gibis Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

O ambiente da biblioteca também conta com um espaço destinado ao

público em geral. O espaço possui mesas para a realização de trabalhos e

leituras, coleção de gibis (Figura 17), mostruários de livros infantis (Figura 18) e a

coleção de DVDs (Figura 19). O acervo de 15 mil volumes (Figura 20) é composto

de obras literárias, científicas, de referência, coleção de periódicos e materiais

audiovisuais.

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Figura 17 - Coleção de Gibis Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

Figura 18 - Mostruário de livros infantis Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

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Figura 19 - Coleção de DVDs Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

Figura 20 - Acervo Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

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Na Biblioteca do Colégio Ofélia são oferecidos os seguintes serviços:

acesso à internet, levantamento bibliográfico, visitas orientadas à biblioteca,

consulta a bases de dados, orientação à pesquisa, cópias de textos, empréstimo,

reserva de materiais, consulta local, projetos literários (Ciranda, Baú de

surpresas, O autor sou eu).

São também desenvolvidas pela bibliotecária as seguintes atividades de

incentivo à leitura: encontro com o autor, roda de leitura, hora do conto e oficina

de ilustração.

Umas das atividades desenvolvidas recentemente na biblioteca foi o

encontro com o autor Maurício de Souza (Figura 21). O encontro aconteceu em

forma de entrevista, onde os alunos do 2º ano como em todos os encontros

fizeram perguntas do que queriam saber e à medida que a entrevista foi

avançando, outras curiosidades foram surgindo, dando possibilidade ao autor de

esclarecer as dúvidas das crianças

. Foi uma conversa na qual o escritor falou

sobre a sua profissão, criação de personagens e histórias.

Figura 21 - Encontro com o autor Maurício de Souza Fonte: http://www.ofelia.com.br/2010/albuns_geral_2010/index_mauricio.html

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A bibliotecária também desenvolve, em parceria com os professores, a

atividade “Apreciação crítica de um livro”. Nessa atividade as crianças relatam o

que mais gostaram no livro em que leram e também podem desenhar algo que

represente o mesmo. Recentemente a atividade foi realizada pela bibliotecária

com os alunos do 2º ano, dentre os quais três eram portadores de dislexia.

Abaixo, três atividades das crianças portadoras de dislexia para uma melhor

visualização de umas das dificuldades apresentadas por elas, a escrita.

Figura 22 - Primeira atividade de criança disléxica - J., 7 anos Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

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Figura 23 - Segunda atividade de criança disléxica - I., 7 anos Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

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Figura 24 - Terceira atividade de criança disléxica - M., 7 anos Fonte: Biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca

9.2 Análise da entrevista

A entrevista teve início com uma pergunta relacionada à formação da

responsável pela biblioteca, Ednamar Silva Brugger, que é graduada em

Biblioteconomia pela Faculdade de Biblioteconomia e Ciência da Informação da

FESPSP.

A formação em biblioteconomia é considerada um pré-requisito

fundamental para a atuação na administração de bibliotecas e é defendida,

conforme citado nos capítulos 7 e 8, pelo Manifesto e pelas Diretrizes da

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IFLA/UNESCO para Bibliotecas Escolares, pela recém-aprovada Lei 12.244 de 24

de maio de 2010, além dos diversos autores que escrevem sobre o assunto.

Na segunda questão, que tinha como foco mensurar o conhecimento sobre

o problema da dislexia, a bibliotecária Ednamar respondeu que considera seus

conhecimentos insuficientes.

Isto denota que a formação do bibliotecário não o prepara especificamente

para atuar com esse tipo de problema e nem é esta a intenção. Como as

possibilidades de atuação do bibliotecário são amplas, é necessário que o

profissional alie novos conhecimentos àqueles adquiridos durante as aulas do

curso de graduação, buscando atuar de acordo com as necessidades da

comunidade usuária que visa atender. Conforme comentado no capítulo 8, não é

de fato necessário que o bibliotecário escolar seja um especialista em dislexia,

mas é importante que esteja bem informado e atento às dificuldades de leitura

das crianças, podendo dessa forma até mesmo identificar possíveis sinais do

problema.

A resposta da bibliotecária, quando indagada se considerava que a

biblioteca está apta a auxiliar na detecção de sinais de possíveis comportamentos

de dislexia, ratifica essa afirmação. Apesar de considerar seus conhecimentos

sobre dislexia insuficientes, ela considera que a biblioteca pode sim auxiliar nesse

sentido, e afirma que normalmente percebe quando algum aluno tem dificuldade

para ler, se nega a manusear os livros, busca livros voltados às crianças menores

ou dá preferência aos DVDs. Ela relatou que houve casos em que, a partir da

observação na biblioteca e, posteriormente, do diálogo com os professores e do

contato com os pais, a escola obteve a confirmação que de fato a criança era

disléxica. Houve também casos que, a partir dessa observação, a criança foi

encaminhada para acompanhamento médico.

Durante a entrevista, a bibliotecária informou que tem conhecimento de

seis casos de dislexia no Colégio, sendo que, a maior parte das crianças afetadas

pelo problema está na faixa etária entre os 6 e 8 anos de idade. As demais têm

entre 9 e 11 anos.

A questão 6 abordou a frequência das visitas das crianças portadoras de

dislexia à biblioteca. A bibliotecária informou que normalmente as turmas são

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levadas uma vez por semana à biblioteca pelos professores e que todos os

alunos, inclusive os disléxicos, participam dessa atividade. Ela afirmou que as

crianças disléxicas pouco frequentam a biblioteca por iniciativa própria, e que, por

falta de tempo, não tem tomado nenhuma iniciativa para mudar essa realidade,

mas que pretende fazer algo a respeito. Vale ressaltar que, tornar a biblioteca um

espaço acolhedor para essas crianças, ofertando materiais atraentes e

adequados às suas dificuldades, desenvolvendo atividades de incentivo à leitura e

mantendo um bom relacionamento com os usuários, conforme comentado nos

capítulos 7 e 8, são atitudes a serem tomadas pelo bibliotecário escolar.

As questões 8 e 9 eram relacionadas ao modo como a profissional tomou

conhecimento dos casos de dislexia na instituição e se os professores costumam

solicitar atenção especial a esses alunos. Conforme informou ao responder a

questão 3, a bibliotecária teve conhecimento desses casos a partir da observação

e de sua iniciativa em dialogar com os professores, pois estes não têm o hábito

de informá-la sobre quais crianças apresentam o problema e não solicitam

qualquer tipo de atenção especial a esses alunos.

A atuação do bibliotecário em parceria com o corpo pedagógico no

incentivo à leitura aos alunos portadores de dislexia, tema da questão 10, é

considerada importante pela profissional, pois, segundo ela, isso pode “[...] ajudar

na inclusão desse aluno, para ele perceber que pode fazer parte da sociedade

leitora”. A bibliotecária informou que, vem tentando, gradativamente, melhorar a

relação da biblioteca com o corpo pedagógico e a sua participação no

planejamento escolar. A atuação conjunta do bibliotecário com o corpo

pedagógico é recomendada pela literatura, conforme evidenciado no item 8.2

deste trabalho. A parceria desses dois profissionais é considerada muito

importante para o desenvolvimento escolar e para a criação de hábitos de leitura,

tanto nas crianças disléxicas quanto nas não-disléxicas.

A biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca não oferece nenhum produto,

serviço ou atividade específica aos alunos portadores de dislexia, nem oferece

atendimento diferenciado, conforme as respostas da bibliotecária às perguntas 11,

12 e 13. São desenvolvidas atividades de incentivo à leitura, aos alunos de uma

forma geral, de acordo com a faixa etária de cada turma. Após algumas dessas

atividades, é solicitado aos alunos que façam desenhos, fichas de leitura ou

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comentários, a fim de que se possa verificar se de fato compreenderam o seu

conteúdo. Segundo informou a bibliotecária, os alunos disléxicos conseguem

acompanhar as atividades, mas eles têm dificuldades para manter a atenção e

para participarem de atividades que envolvam a escrita. Essas informações, que

foram obtidas a partir da aplicação das questões 14 a 17, refletem a necessidade

de ações mais específicas no tocante à inclusão dos alunos disléxicos e ao seu

acesso à leitura. Suas dificuldades necessitam ser levadas sempre em

consideração, seja em atividades em grupo ou no atendimento individual.

Além da participação dos pais nas atividades e da comunicação com os

professores, o acervo também foi abordado durante a entrevista. A biblioteca

possui em sua coleção materiais relacionados ao tema dislexia, o que contribui

para um maior conhecimento do problema. Há também alguns materiais que

favorecem a interação da criança disléxica com a leitura, como livros ilustrados e

com linguagem fácil, histórias em quadrinhos e audiolivros.

Em relação ao envolvimento dos pais com a biblioteca e à sua participação

nas atividades de incentivo à leitura, a bibliotecária informou que dois sábados por

mês há uma atividade chamada “Manhã de Convivência”, cujo intuito é a

interação com a família, mas que poucos pais participam. Ela também relatou que

há pais que reclamam da quantidade de páginas dos livros que as crianças levam

para casa, provavelmente porque em geral é preciso que eles contem a história

ou participem da leitura.

A participação dos pais em atividades de leitura com seus filhos, conforme

enfatizado no item 7.5, é extremamente importante para o desenvolvimento

escolar, para a aprendizagem e para a criação de hábitos de leitura duradouros. O

interesse, a paciência, o encorajamento e o exemplo dos pais são muito

importantes no processo de formação do leitor, especialmente quando este

apresenta problemas de leitura como os decorrentes da dislexia.

O bibliotecário, em parceria com os professores, pode desenvolver

estratégias visando à sensibilização dos pais em relação à importância de sua

participação nas atividades de incentivo à leitura promovidas pela escola e pela

biblioteca, além da criação do hábito de separar um tempo para a leitura com os

filhos em casa.

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Para isso, é preciso que o bibliotecário tenha uma visão ampla dos

problemas que envolvem a leitura e a dislexia e que esteja aberto ao diálogo com

os professores, com os pais, e com toda a comunidade escolar, a fim de que

possa contribuir de modo eficaz na promoção do acesso à leitura para todos.

A experiência da biblioteca do Colégio Ofélia Fonseca demonstra que,

apesar das dificuldades do cotidiano da biblioteca escolar e das múltiplas tarefas

atribuídas ao bibliotecário, é possível que ele seja um importante agente na

promoção do acesso à leitura pelos alunos disléxicos.

A atitude da bibliotecária evidencia que, se o profissional, apesar de todas

as suas ocupações, se mostrar disponível para auxiliar os usuários, buscando

atendê-los em suas necessidades de informação, observando suas dificuldades e

desenvolvendo estratégias para minimizá-las, poderá inclusive detectar possíveis

sinais que caracterizem a presença da dislexia e que ainda não tenham sido

observados pelos professores e pela família.

Vale ressaltar que, para uma melhor compreensão das dificuldades de

leitura de seus usuários, o bibliotecário pode recorrer tanto à literatura, embora

ainda seja escassa, quanto às experiências de outros profissionais.

Dessa forma, terá condições para desempenhar de forma eficaz o papel de

educador que lhe é atribuído pela literatura e para tornar a biblioteca um lugar

agradável, capaz de proporcionar o acesso à leitura, à literacia e à cidadania para

todos, contribuindo para o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade.

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10 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dislexia é um problema extremamente frequente no âmbito escolar,

embora muitas vezes não seja diagnosticada imediatamente. É um problema que

compromete seriamente o processo de ensino-aprendizagem e a criação de

hábitos de leitura. Por isso, é fundamental que os profissionais que atuam nesse

processo conheçam o problema e estejam aptos para auxiliar a criança disléxica a

lidar com suas dificuldades.

Levando em consideração a escassez de literatura sobre o tema Biblioteca

e Dislexia, e as dificuldades das bibliotecas escolares para trabalharem em

concordância com o Manifesto da IFLA/UNESCO para Biblioteca Escolar, este

trabalho pretende colaborar para o surgimento de novos estudos e discussões

sobre o assunto, que possibilitarão que o bibliotecário escolar se conscientize e

se prepare cada vez mais para atender de forma adequada os alunos portadores

de dislexia, pois, na maioria das vezes, nem a escola, e muito menos a biblioteca,

estão preparadas para auxiliá-los em suas dificuldades, embora, aparentemente,

a mudança do atual quadro esteja a caminho.

Foram apresentados neste trabalho alguns aspectos relacionados ao

processamento da leitura, bem como as dificuldades que afetam os portadores de

dislexia, tais como: demora na aquisição da leitura e da escrita, lentidão nas

tarefas de leitura e escrita, dificuldade de atenção e de associação dos sons das

palavras, entre outras.

Partindo do pressuposto de que a biblioteca escolar deve ser um

complemento da sala de aula, atuando em sintonia com o plano pedagógico e

fornecendo materiais que estimulem o aprendizado, é recomendado que sejam

feitos todos os esforços possíveis para torná-la um ambiente agradável e

favorável ao desenvolvimento do hábito de leitura. Nesse sentido, é sugerido o

desenvolvimento de atividades de incentivo à leitura que envolvam toda a

comunidade escolar, inclusive os familiares.

O bibliotecário, em parceria com os professores e coordenadores

pedagógicos, deve atuar no sentido de estimular não apenas o gosto pela leitura,

como também o aprendizado contínuo e o desenvolvimento do indivíduo.

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Cabe ao bibliotecário estabelecer uma relação mais próxima com o

professor, assumindo de fato o papel de educador que lhe é atribuído pela

literatura. Mostrando o que a biblioteca pode oferecer tanto em materiais quanto

em atividades para somar no processo de aprendizagem de todos os alunos,

independente das dificuldades que eles apresentem, certamente elevará a

importância da biblioteca no âmbito escolar.

Conforme foi apresentado, o estímulo aos vários sentidos funciona de

forma positiva para a aprendizagem dos disléxicos e também dos não-disléxicos.

Assim, ressalta-se a importância da biblioteca fornecer o acesso a diversos tipos

de materiais que estimulam os sentidos, tais como, materiais audiovisuais, jogos

educativos, réguas para leitura, histórias em quadrinhos e livros ilustrados e com

linguagem fácil.

Constatou-se a importância desses materiais por meio da visita à Biblioteca

do Colégio Ofélia Fonseca, bem como do estudo da literatura, pois, oferecer

materiais especiais, desenvolver atividades que permitam que os alunos

disléxicos alcancem o mesmo entendimento que as outras crianças, tornar o

ambiente da biblioteca acolhedor e manter um bom relacionamento com os

alunos, professores e pais, são ações importantes para que o disléxico tenha a

oportunidade de ser efetivamente incluído na sociedade.

Em suma, a adoção de novas posturas por parte do bibliotecário escolar,

da escola e dos pais contribuirá para o crescimento pessoal e intelectual dos

alunos portadores da dislexia e trará grandes benefícios, não apenas aos alunos

disléxicos, mas a toda a comunidade escolar e à sociedade em geral.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICE A - Questionário direcionado aos bibliotecários

1) Qual a sua formação?

( ) Biblioteconomia ( ) Letras ( ) Pedagogia ( ) Outros

2) Você considera seus conhecimentos sobre dislexia:

( ) Suficientes ( ) Insuficientes ( ) Não conheço

3) Você considera que a biblioteca esteja apta a auxiliar na detecção de sinais

que podem caracterizar um possível quadro de dislexia?

( ) Sim ( ) Não

Se sim como? ___________________________________________________

4) Você tem conhecimento sobre a existência de alunos disléxicos nesta

instituição?

( ) Sim ( ) Não

5) Qual a faixa etária desses alunos?

( ) De 6 a 8 anos ( ) De 9 a 11 anos ( ) Acima de 11 anos

6) Esses alunos costumam frequentar à biblioteca?

( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

7) Em relação à questão anterior, se esses alunos não frequentam ou

frequentam apenas às vezes, o que a biblioteca faz para mudar essa

realidade?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

8) Como você tomou conhecimento de casos de dislexia nesta instituição?

( ) Informado pelos professores e/ou coordenação pedagógica

( ) Informado pelos pais

( ) Por outros meios. Quais? ____________________________________

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9) Os professores costumam solicitar atenção especial em relação aos alunos

disléxicos?

( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

10) Você considera importante a atuação do bibliotecário em parceria com o

corpo pedagógico no incentivo à leitura aos alunos portadores de dislexia?

( ) Sim. Por quê?

( ) Não. Por quê? ________________________________________________

11) Quais os serviços e produtos oferecidos pela biblioteca?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

12) A biblioteca oferece produtos e/ou serviços específicos aos alunos

portadores de dislexia?

( ) Sim ( ) Não

Se sim, quais? __________________________________________________

13) Em relação ao atendimento aos alunos disléxicos, como a biblioteca

procede?

( ) O atendimento é diferenciado

( ) Não há atendimento diferenciado

( ) Não há procura pela biblioteca

14) A biblioteca desenvolve atividades de incentivo à leitura aos alunos em

geral?

( ) Sim ( ) Não

Se sim, quais? __________________________________________________

15) Os alunos disléxicos conseguem acompanhar essas atividades?

( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes

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16) Após as atividades de incentivo à leitura, é feito algum trabalho para

verificar se as crianças disléxicas de fato acompanharam e

compreenderam o conteúdo das atividades?

( ) Sim. Qual? ________________________________________________

( ) Não ( ) Não há atividades de incentivo à leitura

17) A biblioteca desenvolve atividades específicas de incentivo à leitura

voltadas aos alunos disléxicos?

( ) Sim ( ) Não

Se sim, quais? ________________________________________________

18) A biblioteca possui em seu acervo materiais relacionados ao tema

dislexia?

( ) Sim ( ) Não

19) Quais os tipos de materiais e equipamentos especiais que a biblioteca

oferece aos alunos disléxicos?

( ) Livros ilustrados e com linguagem fácil

( ) Gibis

( ) Áudio-livro

( ) Filmes

( ) Jogos educativos

( ) Réguas para leitura e memorização de tabuada

( ) Outros

( ) Não há materiais ou equipamentos especiais

20) Como é a relação dos pais desses alunos com a biblioteca? Há

envolvimento nas atividades? Há retorno dos pais em relação às atividades

e ao desenvolvimento de hábitos de leitura dessas crianças?

_______________________________________________________________

_______________________________________________________________

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ANEXO A – Lei 12.244 de 24 de maio de 2010

Presidência da República Casa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

LEI Nº 12.244 DE 24 DE MAIO DE 2010.

Dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino do País.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Faço saber que o Congresso Nacional decreta

e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1o As instituições de ensino públicas e privadas de todos os sistemas de

ensino do País contarão com bibliotecas, nos termos desta Lei.

Art. 2o Para os fins desta Lei, considera-se biblioteca escolar a coleção de livros,

materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados

a consulta, pesquisa, estudo ou leitura.

Parágrafo único. Será obrigatório um acervo de livros na biblioteca de, no

mínimo, um título para cada aluno matriculado, cabendo ao respectivo sistema de

ensino determinar a ampliação deste acervo conforme sua realidade, bem como

divulgar orientações de guarda, preservação, organização e funcionamento das

bibliotecas escolares.

Art. 3o Os sistemas de ensino do País deverão desenvolver esforços progressivos

para que a universalização das bibliotecas escolares, nos termos previstos nesta

Lei, seja efetivada num prazo máximo de dez anos, respeitada a profissão de

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Bibliotecário, disciplinada pelas Leis nos 4.084, de 30 de junho de 1962, e 9.674,

de 25 de junho de 1998.

Art. 4o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 24 de maio de 2010; 189º da Independência e 122º da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Fernando Haddad

Carlos Lupi

Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12244.htm. Acesso

em: 21 nov. 2010.

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ANEXO B – Projeto de Lei do Senado nº 402, de 2008

SENADO FEDERAL

COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, CULTURA E ESPORTE

SECRETARIA DA COMISSÃO

TEXTO FINAL

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 402, DE 2008

Dispõe sobre o diagnóstico e o tratamento da dislexia e

do Transtorno do Déficit de Atenção com

Hiperatividade na educação básica.

O CONGRESSO NACIONAL decreta:

Art. 1º O Poder Público deve manter programa de diagnóstico e tratamento

de estudantes da educação básica com dislexia e Transtorno do Déficit de

Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Art. 2º O diagnóstico e o tratamento de que trata o art. 1º devem ocorrer

por meio de equipe multidisciplinar, da qual participarão, entre outros,

educadores, psicólogos, psicopedagogos, médicos e fonoaudiólogos.

Art. 3º As escolas de educação básica devem assegurar às crianças e aos

adolescentes com dislexia e TDAH o acesso aos recursos didáticos adequados

ao desenvolvimento de sua aprendizagem.

Art. 4º Os sistemas de ensino devem garantir aos professores da educação

básica cursos sobre o diagnóstico e o tratamento da dislexia e do TDAH, de forma

a facilitar o trabalho da equipe multidisciplinar de que trata o art. 2º.

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Art. 5º Esta Lei entra em vigor no dia 1º de janeiro do ano subsequente ao

da sua publicação.

Sala da Comissão, em 02 de março de 2010.

Senador Flávio Arns, Presidente Eventual

Senadora Marisa Serrano, Relatora

Fonte: http://legis.senado.gov.br/mate-pdf/74157.pdf. Acesso em: 21 nov. 2010.