Funções da linguagem

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FUNÇÕES DA LINGUAGEM Prof. Roberta Scheibe

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FUNÇÕES DA LINGUAGEMProf. Roberta Scheibe

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A teoria da comunicação diz que, para haver um ato comunicativo eficaz, é preciso que seis fatores intervenham: o emissor (aquele que produz a mensagem), o receptor (aquele a quem a mensagem é transmitida), a mensagem (elemento material, por exemplo, um conjunto de sons que veicula um conjunto de informações), o código (sistema linguístico, por exemplo uma língua, ou seja, conjunto de regras que permite produzir uma mensagem), o canal (conjunto de meios sensoriais ou materiais pelos quais a mensagem é transmitida, por exemplo, o canal auditivo, o telefone) e o referente (situação a que a mensagem se remete).

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A cada um desses seis elementos corresponde, no quadro da comunicação estabelecida pela linguagem, uma função lingüística. É a Roman Jakobson que se deve a definição de seis funções vitais para a eficácia do ato comunicativo e singularmente (peculiarmente) utilizadas na (e pela) linguagem jornalística.

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A linguagem estrutura-se em dois planos, segundo Platão e Savioli: o do conteúdo, que compreende os sentidos que transmitem, e o da expressão, que é constituído pelo veículo dos sentidos.

Na linguagem verbal, são os sons que veiculam os significados, que fazem chegar ao ouvinte os conteúdos que o falante quer transmitir. Constituem eles, pois, o plano de expressão.

De acordo com Vanoye, linguagem é um sistema de signos socializado. “socializado” remete claramente à função da comunicação da linguagem. A expressão “sistema de signos” é empregada para definir a linguagem como um conjunto cujos elementos se determinam em suas inter-relações, ou seja, um conjunto no qual nada significa por si, mas tudo significa em função de outros elementos. Em outras palavras, o sentido de um termo, bem como o de um enunciado, é função do contexto em que ele ocorre.

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O signo, por sua vez, constitui-se do significante, significado e referente. A noção de signo é básica na lingüística. Signo é a menor unidade dotada de sentido num código dado. Decompõe-se num elemento material, perceptível, o significante, e num elemento conceptual, não perceptível, o significado. O referente é o objeto real ao qual remete o signo numa instância de enunciação. O signo lingüístico é uma unidade constituída pela união de um conteúdo com uma expressão (de sons) que o veicula. A essa expressão, segundo FIORIN E SAVIOLI, chama-se significante; ao conteúdo, significado.

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Outra definição é a do código/linguagem. Para Vanoye um código é um conjunto de regras que permite a construção e a compreensão de mensagens. É, portanto, um sistema de signos. A linguagem é, por conseguinte, um dentre outros códigos (código marítimo, código rodoviário, código jornalístico, código médico). E a linguagem verbal é o único deles. Esta linguagem pode ser denotada (no sentido do dicionário) e conotada (varia de pessoa para pessoa, de época para época).

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Como foi mencionado anteriormente, para que se efetue a comunicação é necessário haver um código comum. Em termos gerais, como escreve Vanoye, “é preciso falar a mesma língua”. Isto remete aos níveis de linguagem. Os lingüistas admitem que no interior de uma mesma língua falada existe uma língua comum, um conjunto de palavras, expressões e construções usuais, língua tida geralmente como simples, mas correta. A partir desse nível têm-se, em ordem crescente do ponto de vista da elaboração, a linguagem cuidada (ou tensa) e a linguagem oratória. E no sentido contrário, da informalidade, têm-se a linguagem familiar e a linguagem informal ou popular. Para Vanoye, são os critérios sócio-culturais que estabelecem o uso da linguagem cuidada ou popular.

- linguagem coloquial/informal - culta - regional

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- língua escrita e a língua falada. Uma é formal, é horizontal, no sentido da ordem informativa. A fala é cortada por silêncios, mudanças de planos frasais, entre outros critérios. A expressividade (gestões, pontuações, pausa, entonação, fluência)... A expressividade se manifesta na escrita por meio do jornalismo através da entrevista e reportagem observacional.

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EXEMPLO NA REPORTAGEM OBSERVACIONAL

A cidade de Holcomb fica nas planícies do oeste do Kansas, lá onde cresce o trigo, uma área isolada que os demais habitantes do Kansas consideram distante. A uns 110 quilômetros da divisa entre o Kansas e o Colorado, a paisagem, com seu céu muito azul e o límpido ar do deserto, tem uma aparência que está mais para a do Velho Oeste do que para a do Meio-Oeste. O sotaque4 local traz as farpas da pronúncia cortante da pradaria, a nasalidade dos caubóis, e os homens, muitos deles, usam calças apertadas, chapéus Stetson e botas de salto alto com bicos pontudos. A terra é plana, e os panoramas são incrivelmente extensos; cavalos, rebanhos de gado e um aglomerado branco de silos de cereais que se elevam com a graça de templos gregos são visíveis muito tempo antes que o viajante os alcance.

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Holcomb também pode ser vista de muito longe. Não que haja muito para ver – apenas uma congregação desordenada de construções dividida ao meio pelos trilhos da linha principal da Santa Fe Railroad, um vilarejo fortuito delimitado ao sul por um trecho barrento do rio Arkansas, ao norte por uma auto-estrada, a Route 50, e a leste e a oeste pelas pradarias e os campos de trigo.

CAPOTE, Truman – A sangue frio. Companhia das Letras, 2006, p.21

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Por fim, para que se realize o ato comunicativo, a cada um dos elementos corresponde uma função da linguagem, estabelecida por Jakobson; e que desembocam no jornalismo.

As funções são as seguintes: Expressiva (ou emotiva), conativa, referencial, fática, metalingüística, e poética. Cada uma pode ser adornada com figuras de linguagem ou estratégias discursivas.

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FUNÇÃO EXPRESSIVA OU EMOTIVA Atitude do emissor diante da mensagem do destinatário.

Revela emoções e perfil do destinador. Nas mensagens escritas a função emotiva ou expressiva

intervém numa mensagem toda vez que o destinador manifesta seus pensamentos, opiniões, ou reações relativas ao conteúdo desta mensagem.

Há subjetividade na mensagem, que se torna o veículo da expressão pessoal do destinador. Existem diferentes mensagens expressivas:

Mensagem de caráter pessoal: carta A expressão do juízo: a resenha crítica. Há julgamento. Relatório: conduzir uma decisão ou uma ação. As máscaras do Eu. O eu exposto de maneira disfarçada. “a

gente”. É a linguagem dos diários íntimos e blogs, confissões e memórias.

Verbalmente, a função expressiva é a emitida pelo emissor.

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BLOG DE CLARAH AVERBUCK Saturday, October 25, 2008 ADEUS LOUNGE blog é uma merda. se você não escreve no blog, te mandam emails

reclamando do abandono. se está se sentindo mal e escreve no blog, te escrevem reclamando que você reclamou. se você está feliz e escreve no blog, te acusam de só falar de si mesmo. se você cansou de ficar reclamando e ficando feliz publicamente porque causa muito furor e foi trabalhar, dizem que você está negligenciando seus importantíssimos leitores. então você publica um trecho de seu novo livro no blog e ele VIRA UM LIVRO DE BLOG. se você escreveu uma crônica e publicou no blog, ela vira um TEXTO DE BLOG. se você escreve um conto ficcional, ele vira um FATO CUSPIDO E NARRADO EM UM BLOG. depois ainda perguntam por que eu canso. mas aí fico com uma saudadinha de poder publicar a qualquer momento e faço um blog qualquer escondido. leva um tempo até descobrirem e é legal. depois, quando descobrem e começam a achar que o meu email é um SAC, é hora de acabar....

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ano que vem tem livro novo,talvez dois:

eu quero ser eu (cosac naify)

e

o livro dos homens (male mal comecei mas já quero me afundar nele)

tem o email e telefone da flávia, minha assessora, na parte de imprensa pra quem precisar.

vou trabalhar porque a relação custo/benefício nesse negózdi blog tá boa não.

então um beijo,

um abracinho,

dia desses eu volto.

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FUNÇÃO CONATIVA

atitude do destinatário. Geralmente imperativa (saia!).

Se manifesta quando o destinatário está implicado no trâmite. Casos mais simples do envolvimento do destinatário é o uso da segunda pessoa do singular ou plural: tu, vós // você, vocês. Há uso do imperativo e do vocativo. Comum nos textos publicitários e políticos.

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FUNÇÃO REFERENCIAL – refere-se ao referente. Também chamada de denotativa.

Referências situacionais ou textuais. Ex: a linguagem jornalística.

A função referencial é a informação bruta. Está presente nas mensagens escritas centradas num tempo e num espaço. Os elementos referenciais, segundo Vanoye, definem as informações de base da mensagem, e outros elementos definem o trabalho de organização destas informações em função do propósito do autor da mensagem.

Há 2 tipos de mensagens puramente referenciais: O informe – a linguagem jornalística - dados A resenha – reuniões, produtos culturais Desta forma, a função referencial é a que nutre o jornalismo.

Toda a linguagem jornalística é embasada na função referencial. Inclusive no segundo tipo de mensagem, que é a resenha, uma vez que esta, segundo Luiz Beltrão, compõe os gêneros opinativos do jornalismo.

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VIOLENTOS CONFRONTOS SE ESPALHAM PELA SÍRIA; EUA CONDENAM REPRESSÃO 25/03/2011 - 16h54 – Folha de S. Pàulo

A violência se espalhou pelas ruas da Síria nesta sexta-feira, com soldados abrindo fogo contra manifestantes antigoverno em várias cidades do país. As manifestações e a violenta repressão representam uma escalada na revolta popular, inspirada pelos movimentos em outros países árabes --como Egito, Líbia e Tunísia.

Segundo a rede de TV Al Jazeera, ao menos 20 pessoas teriam morrido após disparos da polícia para dispersar a manifestação em Sanamein, perto de Deraa. A Al Jazeera também informou que outro manifestante morreu em Deraa.

De acordo com o grupo de direitos humanos Anistia Internacional , pelo menos 55 pessoas morreram desde o início dos protestos na cidade e redondezas, há uma semana.

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FUNÇÃO FÁTICA É centrada no contato (canal). Mantém a comunicação. Ex: TV,

jornal (diagramação), rádio, revistas, internet.... A função fática nas mensagens escritas é, segundo Vanoye, tudo

que numa mensagem se destina a atrair a atenção para estabelecer contato e mantê-lo. A legibilidade é uma técnica para manter o contato da comunicação, provocá-la ou retomá-la. É um texto de leitura fácil. Os dois fatores que influenciam na legibilidade de um texto: a construção e a (tipo) grafia.

-> A construção do tempo: estratégias de legibilidade; -> escolha das palavras: curtas, antigas, forma simples; -> verbos polissêmicos, como FAZER, DIZER; -> escolha de estruturas de frase; -> para o autor, clichês e redundâncias facilitam a leitura para

determinado tipo de leitor, como os jornais populares; -> a função fática é extremamente importante na diagramação, no

jornalismo escrito. É, juntamente com o texto, a responsável pela questão de atrair ou afastar leitores. Diagramação, infográficos, organogramas, a arte e até a fotografia do jornal.

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FUNÇÃO METALINGUÍSTICA

centrada no código. Explica e precisa o código utilizado. É a linguagem que explica a si mesma.

É a linguagem falando de si mesma. Define e explica. A linguagem fala da própria linguagem. É necessário quando se quer exprimir algo a respeito do código utilizado. Intervém essencialmente nos textos explicativos e didáticos.

- Definição (como no dicionário), análise e explicação do comentário. A análise não julga, apenas exibe idéias e fatos.

No jornalismo pode-se afirmar que esta função é exercida pelo ombudsman, que analisa, critica e comenta edições de jornais.

 

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OMBUDSMAN SUZANA SINGER - [email protected]

www.twitter.com/folha_ombudsmanQuem ri por último

É um engano pensar que cartunista pode tudo, mas é difícil decidir o que pode ser publicado quando se trata de ilustrar tragédias

De toda a cobertura sobre a catástrofe japonesa, o que mais mobilizou os leitores foi a charge publicada no sábado, dia 12. Dezenas de mensagens chegaram ao jornal, quase todas criticando o "mau gosto" da imagem -o que não significa que a maior parte do leitorado se tenha incomodado, porque, geralmente, quem escreve o faz para reclamar.A Folha tentou fazer do limão uma limonada, levando a polêmica à Ilustrada de quinta-feira passada ("Contra a Maré"). De dez entrevistados, oito defenderam João Montanaro, 14, o jovem autor da charge.Ziraldo, Maurício de Souza, Adão, Laerte, Allan Siber, Jal... a lista de artistas que, no jornal ou na internet, elogiaram o desenho é enorme. Do outro lado, parece só haver leigos, "desinformados e politicamente corretos".Primeiro, seria bom desfazer essa unanimidade corporativa. A ilustradora Rosana Urbes, que morou um ano no Japão, ficou com "o estômago torcido" diante da charge."Ela parecia dizer: "Olha que sacada a minha! Peguei um ícone da gravura japonesa e coloquei casinhas flutuando e uma usina'", afirma Rosana, 42, que trabalhou por seis anos nos Estúdios Disney.

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FUNÇÃO POÉTICA centrada na mensagem. Suplementa a mensagem por

uma organização e uma estrutura. Tem sonoridade e ritmo. Muito usado na publicidade. EX: TORÇA PARA O BRASIL. TORÇA COM TOYOTA.

A função poética nas mensagens escritas intervém sempre que a forma e a estrutura da mensagem reforçam ou modificam o conteúdo desta. As manifestações essenciais da função são:

- o ritmo – movimento geral da frase ou do texto. Tem cadência, tempo, cortes, acentos, palavras, sílabas.

- o jogo de sonoridades – onomatopéia, sons das falas. Estreita relação com o ritmo. Podem dar um segundo sentido sugerido nas frases ou textos.

- As imagens – usadas nos discursos políticos publicitários. Utilizadas com metáforas, metonímias, e comparações que adornam o discurso e enriquecem as sugestões.

 

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BIBLIOGRAFIA

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI PLATÃO, Francisco. Lições de Texto: leitura e redação. 4ed. São Paulo: Editora Ática, 2001.

VANOYE, F. Usos da linguagem: problemas e técnicas na produção oral e escrita. São Paulo: Martins Fontes, 1987.