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Uma Significao do Conceito de Funo Baseado em Experincias da
Vida de Alunos do Nono Ano do Ensino Fundamental
Francislene Sales1
GD2 Educao Matemtica nos anos finais do Ensino Fundamental
Resumo do trabalho. Este texto apresenta a fundamentao terica para uma atividade com alunos de uma
escola pblica da cidade de Baro de Cocais, para identificar os significados que estes estudantes atribuem ao
conceito de funo (CARAA, 1998) quando o conceito est abordado em relao s experincias de vida
deles (DEWEY, 2010).
Palavras chave: Experincia. Funo. Significados.
Introduo
A abordagem de um contedo exposto da mesma forma que a utilizada pelo livro didtico,
comumente deixa os alunos desconfortveis, pois apresentam um contexto em geral fora da
realidade deles. Frente a essa situao, estamos procurando desenvolver uma maneira de
abordar a matemtica de forma que desperte nos alunos o interesse de participarem das
aulas de matemtica.
Nosso principal enfoque neste trabalho identificar significados que estudantes atribuem
ao conceito de funo quando o conceito est relacionado s experincias de vida deles.
Abordaremos o ensino de conceito de funo na perspectiva de experincia e educao de
John Dewey (2010, p. 75):
Quando a educao concebida em termos de experincia, uma considerao se
destaca em relao s demais. Tudo o que possa ser considerado como matria
de estudo, seja aritmtica, histria, geografia ou qualquer uma das cincias
naturais, deve derivar de materiais que, originalmente, pertenam ao escopo da
experincia da vida cotidiana.
Conforme ideias de Dewey (2010), pretendemos abordar o conceito de funo a partir de
situaes vividas pelos alunos, problematizadas de modo que o conceito possa ser utilizado
para auxiliar na resoluo das situaes. Desta forma, o uso do conceito de funo na
resoluo fornecer uma oportunidade para que os estudantes atribuam significados ao
conceito; contribuindo ao desenvolvimento de uma compreenso dele. A partir desta
afirmao, queremos investigar como que os estudantes utilizam o conceito de funo
1 Universidade Federal de Ouro Preto, e-mail: [email protected], orientador: Dale Bean
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como instrumento para compreenso de situaes ou para a construo de solues para
inquietudes e assim atriburem significados ao conceito.
Abordaremos o conceito de funo em relao s experincias dos estudantes apoiados nas
ideias de Bento de Jesus Caraa (1998) enquanto a noo de funo. Este autor mostra a
importncia da definio sendo construda passo a passo, relatando a histria do
surgimento dos conceitos matemticos. Caraa (1998) coloca em destaque noes que
fundamentam o conceito, como a interdependncia e a fluncia, que so caractersticas da
realidade do mundo; a noo de isolado, que uma seo da realidade; as noes de
qualidade e quantidade do isolado a ser estudado; e a noo de varivel e suas
particularidades.
Esse entendimento do conceito de funo (CARAA, 1998), junto com as ideias de
experincia de Dewey (2010), nortear a pesquisa de campo numa atividade com alunos do
nono ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Jos Maria de Morais, localizada na
cidade de Baro de Cocais. Essa escola trabalha com alunos do sexto ao nono ano do
Ensino Fundamental e do Ensino Mdio. O convite para comear a criar o ambiente para
que possamos iniciar os trabalhos, partir de um assunto que os alunos queiram tratar.
Nas prximas duas sees, apresentamos nossos aportes principais, Dewey (2010) e
Caraa (1998), para a conceitualizao, elaborao e conduo de uma atividade que
utilize o conceito de funo que se fundamente nas experincias dos estudantes. Em
seguida, com essa base, esboamos o contexto da pesquisa de campo com a turma do nono
ano.
Experincia e Educao
As ideias de John Dewey e a postura de um professor em sala de aula, juntamente com as
experincias vivenciadas como professora-educadora e pesquisadora nas aulas de
matemtica possuem carter fundamental no desenvolvimento da proposta de pesquisa.
Dewey, ao defender uma educao progressiva, mostra uma linha de pensamentos e
atitudes que o professor deve possuir para se tornar reflexivo e perceber o que de novo h
dentro das salas de aulas. O que apresentado so fundamentos de uma filosofia da
experincia e da educao.
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Uma anlise da educao tradicional e da educao progressiva, identifica falhas
fundamentais no processo da educao e seus objetivos, donde se conclui que nenhuma
das duas abordagens suficiente em si. Ambas so essenciais.
Apesar de ter escrito no incio do sculo XX, Dewey se mantm atual ao mostrar,
claramente, a necessidade de modificar os mtodos de ensino diante das transformaes
que ocorrem no mundo. As dificuldades em ensino e aprendizagem da poca de Dewey
no desapareceram com o passar das dcadas, alis os questionamentos levantados so
questes que no se calam diante do problema da ideia da educao tradicional que
envolve a transmisso do passado para as novas geraes. Educao tradicional, para o
autor, o conjunto de informaes, de habilidades e de regras e condutas elaboradas no
passado, para transmiti-los as novas geraes. O autor promove uma filosofia educacional
para melhorar a educao dos alunos, na qual o professor trabalha diante das experincias
vividas por ele e aquelas apresentadas pelos discentes. A definio de experincia, tratada
pelo autor, refere-se ao ato da tentativa de experimentao associado ao passar por alguma
coisa. Aprendemos algo quando experimentamos e, em conseqncia, sofremos com o ato.
Exemplificando, quando uma criana leva o dedo ao fogo, ser experincia quando o
movimento se associa com a dor que ela sofre, em consequncia do ato. Por isso faz -se
sim, necessria uma filosofia educacional que abandone a tradio e os costumes e que
valorize as experincias e valores dos envolvidos no processo de aprendizagem.
Pensando sobre como envolver melhor alunos na sua aprendizagem e como fazer que essa
aprendizagem para eles tivesse significado e conexo com o cotidiano, passamos a refletir
sobre como fomos formados. Refletimos a respeito dos valores e costumes de professores e
pais que participaram da nossa prpria formao e como esses interferem na postura que
assumimos como professor. A ideia fundamental da educao tradicional, definida por
Dewey, a transmisso do passado, s novas geraes. O principal objetivo da educao
tradicional preparar o jovem para suas responsabilidades futuras e para o sucesso na vida,
por meio da aquisio de um conjunto organizado de informaes e de formas
preestabelecidas de habilidades que constituem o material de instruo. Essa base
filosfica chama ateno para o surgimento de uma educao nova ou escolas
progressistas.
Na educao tradicional, a falta de um vnculo entre as experincias da vida de um jovem
estudante e as matrias de estudos impede uma participao mais ativa dele no
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desenvolvimento do que est sendo ensinado. A sociedade considera que o futuro est da
mesma forma que o passado, no aceitando a mudana como uma regra, e sim como uma
exceo.
Aprender aqui significa adquirir o que j esta incorporado aos livros e cabea
das geraes anteriores. mais que isso, o que ensinado considerado como
essencial esttico. ensinado como um produto acabado, sem maior ateno
quanto aos modos como tal produto foi originalmente construdo ou quanto s
mudanas que certamente ocorrer no futuro (DEWEY, 2010, p. 21).
Sobre a ideia de uma Filosofia da Educao, o autor, busca na cultura ocidental a relao
da educao com a filosofia, que sempre se constituiu vinculada a uma inteno
pedaggica e formativa do ser humano. Nesse sentido, a formao filosfica do educador
extremamente relevante e imprescindvel.
Dewey defende a ideia de uma nova educao, mas apresenta junto a ela os problemas que
esta traz consigo, uma vez que as solues so apresentadas diante das experincias. Um
problema apontado pelo autor que nem todas as experincias so educativas. Isto ,
experincia e educao no so equivalentes. Assim como a educao tradicional tambm
proporciona experincias erradas, como associar livros a uma tarefa, onde os alunos ficam
condicionados a uma leitura rpida e ocasional, a educao progressiva tem como o
problema central selecionar as experincias presentes.
A educao progressiva possui uma filosofia que declara ter com base a liberdade do
aluno, o qual a educao tradicional lutava para que esta estivesse no controle do professor.
A liberdade transformada na realidade de uma experincia para sala de aula, traz outra
questo que faz pensar na experincia de cada profissional ligado diretamente com o
processo de aprendizado. O que o papel do professor e dos livros didticos na promoo
do desenvolvimento educacional de jovens alunos? Esta questo levanta uma reflexo
sobre a relao dos problemas do passado com os do presente e do futuro. "Abandonar o
velho no resolve todo e qualquer problema" (DEWEY, p. 26). certo que dificuldades na
educao progressiva iro aparecer a cada relao e comparao com a educao
tradicional. Existe uma conexo orgnica entre experincia e educao, na qual "[...] a
nova Filosofia da Educao est comprometida com algum tipo de filosofia emprica e
experimental" (DEWEY, 2010, p. 26).
Da o cuidado com as experincias, pois aquelas vivenciadas no passado com um
determinado grupo de jovens alunos podem no se repetir com outro grupo. A formao
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de atitudes emocionais e intelectuais envolve nossas sensibilidades bsicas e nossos modos
de receber e responder as condies com as quais nos deparamos na vida. A realidade do
ambiente propcio para a educao composta por jovens estudantes com experincias
diferentes. De acordo com Dewey (2010), neste momento, de utilizar as experincias
passadas, o papel do educador fundamental em apresentar a direo e desafiar o aluno
para caminhar rumo a sua prpria experincia. Para a qualidade dessa experincia, mister
que o princpio da continuidade se aplique, ou seja, buscar situaes que possibilitem fazer
o que querem.
O educador deve apresentar direo e desafio. Por outro lado, se uma experincia
desperta curiosidade, fortalece a iniciativa e d origem a desejos e propsitos
suficientemente intensos para levar a pessoa, no futuro, a lugares alm de seus
limites, a continuidade funciona de uma maneira bastante diferente. Toda
experincia uma fora em movimento (DEWEY, 2010, p. 38).
Cabe o educador e aos pais selecionarem as experincias que conduzam ao sucesso do
processo de aprendizado para que as experincias sejam vlidas e preparar o ambiente
para novas experincias. De acordo com Dewey (2010, p. 50), "preparao significa
ajudar o aluno a experimentar tudo aquilo para o que ele j capaz". Tendo isto como
objetivo, o educador deve ter um planejamento flexvel e com direcionamento claro para
conduzir o contnuo desenvolvimento das capacidades dos alunos. Com um planejamento
flexvel, porm slido, o professor interage com o grupo de seus alunos proporcionando
uma experincia educativa, por meio de uma viso de um processo social contnuo. A
organizao da escola no se transformar em um transtorno desde que as atividades sejam
criadas pelas situaes de interesse do grupo e a postura do professor seja de ocupar a
posio de lder desde grupo.
No uma tarefa fcil para o professor tambm manter a preocupao constante de
considerar uma conectividade com o que j foi alcanado com as experincias de um novo
contedo. O futuro, para o professor, considerar os efeitos do seu trabalho, que da
prpria natureza da sua profisso. De acordo com Dewey (2010, p. 78), ", portanto, tarefa
do educador selecionar coisas que, no mbito das experincias existentes, possua a
potencialidade de apresentar novos problemas que, ao estimular novas formas de
observao e julgamento, ampliaro a rea para experincias futuras".
Dewey distingue a educao baseada na experincia da educao tradicional atravs da
fonte de problemas. A educao progressiva trata o fato de que as condies encontradas
na experincia dos alunos devam ser utilizadas como fonte de problemas. Na escola
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tradicional, a fonte de problema esta fora da experincia dos alunos. Novamente o autor
nos chama a ateno para os professores, no que se refere responsabilidade de avaliar as
condies das experincias sejam coerentes com as capacidades dos alunos e que
despertem neles a necessidade da busca ativa de informaes e de novas ideias.
Conceito de Funo
Baseado em Caraa (1998), fundamentaremos o conceito de funo para a realizao deste
trabalho. Focaremos no conceito de funo para resoluo das situaes que surgem a
partir de problemas vivenciados pelos alunos.
Segundo Caraa (1998), a realidade, independente de nossa vontade, existe e evolui
enquanto a cincia, representada pelo homem, evolui com base na sua vontade para
exemplificar, explicar e utiliz-la de acordo com suas necessidades. Mergulhados na
fluncia universal e tendo necessidade, para fins humanos, de explic-la, lanamos sobre
ela toda uma teia de leis regularidades dos fenmenos tais como se nos revelam
(CARAA, 1998, p. 114). Est no contexto da formulao dessas leis que Caraa explicita
as noes para fundamentar a abordagem do conceito de funo.
De acordo com Caraa (1998), o homem, na sua necessidade de controlar a Natureza para
seu benefcio, foi levado a observar e a estudar os fenmenos, suas causas e seu
encadeamento. Os resultados destes estudos no decorrer de toda a evoluo humana vo
construindo assim os conceitos que o autor chama de Cincia. O objetivo final da Cincia
aproximar-se bastante do real, explicitando este entendimento em um quadro ordenado
dos fenmenos naturais, que o autor denomina fenmenos do mundo fsico e do mundo
humano, individual e social.
De acordo com Caraa (1998), a construo deste quadro explicativo dever satisfazer a
duas exigncias fundamentais: a exigncia de compatibilidade e a exigncia de acordo com
a realidade. A exigncia de compatibilidade a harmonia, o acordo das construes dos
conceitos. Por exemplo, "Toda a teoria matemtica uma construo progressiva feita
custa de conceitos - os seres de que trata a teoria - e de afirmaes feitas sobre esses
conceitos. Em estado nenhum da construo se pode tolerar desacordo" (p. 50). Por sua
vez, a exigncia de acordo com a realidade, aproximar a situao problema o mais
possvel da situao real.
[...] a Cincia no tem, nem pode ter, como objetivo descrever a realidade tal
como ela . Aquilo a que ela aspira construir quadros racionais de
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interpretao e previso; a legitimidade de tais quadros dura enquanto durar o
seu acordo com os resultados da observao e da experimentao (CARAA,
1998, p. 102, destaque do autor).
O autor ainda esclarece seu argumento: Em nenhum momento o homem de cincia pode
dizer que atingiu a essncia ltima da realidade; o mais que pode desejar dar uma
descrio, uma imagem, que satisfaa s duas exigncias fundamentais (p. 102, destaque
do autor).
Caraa (1998) parte ento para a Realidade, afirmando que a inteligncia dos homens se
esfora por compreender o Mundo no seu sentido mais amplo, apresentando duas
caractersticas essenciais:
a de interdependncia, onde todas as coisas esto relacionadas uma com as outras;
Toda essa Realidade em que estamos mergulhados, organismo vivo, uno, cujos
compartimentos comunicam e participam, todos, da vida uns dos outros" (p. 103,
destaque do autor). Por exemplo, uma planta em uma floresta, examinaremos com
cuidado, as coisas de que depende: o solo, quantidade de luz e calor recebida do
sol, espcies de plantas e animais que compartilham a regio, etc. E algo que esta
ligado a um sistema maior, condies climticas da regio, se a ao do homem
esta ligada ou no neste local. Come se v a questo examinada com um pouco a
mais de cuidado, comeam a aparecer as dependncias e a se comunicar com os
problemas.
a fluncia, apoiando-se no filsofo Heraclito de Efeso com sua afirmao
fundamental o Mundo esta em permanente evoluo; todas as coisas, a todo
momento, se transformam, tudo flui, tudo devm (p. 103, destaque do autor). Basta
observar com ateno, onde tudo esta em uma permanente agitao, um exemplo
o leito de um rio, a eroso em uma montanha, em uma dimenso maior, a rota que a
Terra faz em torno do sol.
Como a todo momento as coisas se tornam novas e diante do Mundo em que tudo est se
comunicando e participando da vida uns dos outros, as dificuldades de um estudo de
qualquer fato natural surge com a seguinte questo: "Se tudo depende de tudo, como fixar
a nossa ateno num objeto particular de estudo? temos que estudar tudo ao mesmo
tempo?"(CARAA, 1998, p. 105). Caraa (1998, p. 105, destaque do autor) esclarece que
[...] um isolado , portanto, uma seo da realidade, nela recortada arbitrariamente. Claro
que o ato de isolar um fato j no mais o deixamos igual ao da realidade, j estamos
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passveis ao erro e, mesmo que isolemos tal fato, temos que contar com o inesperado, pois
o Mundo de onde foi recortada a realidade, no para sua evoluo. E neste aparecimento
do inesperado que surge o progresso no conhecimento da realidade.
Nesta relao de interdependncia e fluncia Caraa (1998) se refere ao conceito de
qualidade como o " [...] conjunto de relaes em que um determinado ser se encontra com
os outros seres de um agregado" (p. 106).
Por exemplo, suponhamos que A e B so duas espcies animais, das quais B se
alimenta de A. Nesta relao, o sentido AB implica para o consequente B uma fonte de conservao, e o sentido BA implica para o consequente A uma fonte de destruio. A relao uma, simplesmente os seus dois sentidos tm
significados distintos para os respectivos consequentes. (CARAA, p. 106).
O autor tem ainda o cuidado de chamar de qualidade as caractersticas dos seres
atribudos aos contextos diferentes no conjunto de relaes em que ele se encontra.
Algumas qualidades no admitem quantificao. O exemplo dado por Caraa (1998) de
uma circunferncia. Uma circunferncia no mais circular que a outra, ou ainda duas
retas num plano, em geometria euclidiana, no podem ser mais ou menos paralelas, ou so
paralelas ou concorrentes.
De acordo com Caraa (1998), quantidade um atributo de qualidades e no um objeto.
Existem qualidades que admitem quantificao em termos de fazer juiz de maior que,
maior, menor que e menor, e ainda admitem medio, ou seja, a atribuio de nmero;
como a temperatura do dia em graus Celsius. [...] O poder ou no traduzir-se em nmeros
uma variao de quantidade uma questo que depende, acima de tudo, do grau de
conhecimento momentneo dos homens [...] (p. 109).
Retornando ao conceito de lei, Caraa (1998) apresenta dois tipos: a lei qualitativa, que diz
respeito variao de qualidade; e a lei quantitativa, que diz respeito variao de
quantidade. Um exemplo do qual o autor se vale para explicar a lei qualitativa a trajetria
que cada planeta descreve em torno do Sol, uma elipse, da qual o Sol ocupa um dos focos.
Um exemplo de lei quantitativa que para todo o corpo em queda livre no vcuo, as alturas
de queda so diretamente proporcionais aos quadrados dos tempos de queda (lei da queda
dos graves). Quanto a um exemplo que fornece as duas leis, lei qualitativa-quantitativa a
manuteno da qualidade estado gasoso de um gs que est dependente de variaes
quantitativas de presso e temperatura, o objetivo desta lei acentuar a ligao
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determinando as condies sob as quais a quantidade (de presso) pode transformar em
qualidade nova (estado lquido).
Caraa (1998), em vrios exemplos mostra que os conceitos matemticos surgem da
necessidade de se resolver os "problemas de interesse sejam eles de capital, prtico ou
terico, e mais o nmero natural surgindo da necessidade da contagem, o nmero
racional, da medida, o nmero real, para assegurar a compatibilidade lgica de aquisies
diferentes" (p. 118). Assim acontece o fato de se esperar que se crie um instrumento
prprio para o estudo desta matemtica. A matemtica faz a interveno na histria, de
como j foi mencionado, da necessidade de explicar e previso dos fatos. Mas este
instrumento no fica pronto e acabado, at que seja apresentada outra necessidade na qual
o instrumento no se seja utilizado, da parte seu aprimoramento para satisfazer a resoluo
do novo problema.
Tomando posse de uma ideia fundamental do instrumento a ser criado e que estabelea
uma relao entre altura e intervalos de tempo, Caraa (1998), exemplifica com o
fenmeno de queda livre e apresenta uma tabela com valores de variao de tempo em
segundos e o de espao em metros do seguinte problema:
Suponhamos realizadas as condies fsicas necessrias - o isolado conveniente -
e procuremos a regularidade do fenmeno: a lei quantitativa. Que fazemos?
Medimos as alturas da queda em intervalos de tempos iguais, e estudamos depois
a variao dessas altura de queda. (p. 118, destaque do autor).
tempos (em segundos) 0 1 2 3 [...]
espaos (em metros) 0 4,9 19,6 44,1 [...]
Ao demonstrar a necessidade de que o instrumento matemtico tenha na sua essncia a
correspondncia entre os dois conjuntos numricos, o autor introduz o conceito de
varivel, e o faz da seguinte forma: "Seja E um conjunto qualquer de nmeros, conjunto
finito ou infinito, e convencionemos representar qualquer dos seus elementos por um
smbolo. A este smbolo, representativo qualquer dos elementos do conjunto, chamamos
varivel" (CARAA, 1998, p. 120).
A varivel compreensvel quando satisfaz os valores de um quadro geral de ideias. Possui
um carter contraditrio em que [...] o varivel e no cada um dos elementos do
conjunto [...] (CARAA, 1998, p. 120, destaque do autor). O carcter essencial da
varivel essa sntese de ser ou no ser em um quadro de ideias que tem coerncia com
a Realidade, onde sua caracterstica a fluncia.
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De acordo com Caraa (1998), a varivel o que for determinado pelo conjunto numrico,
ela representa dois casos a sua substncia e o seu domnio. Um dos casos importantes o
domnio do conjunto de nmeros reais compreendidos entre dois nmeros reais, como se
diz o conjunto dos nmeros reais do intervalo, varivel x, a varivel real, e o segundo caso
o domnio de um conjunto infinito dos nmeros naturais, designaremos a varivel n como
a varivel inteira. Este ltimo seu conjunto infinito, porm num intervalo, no
consideraremos todos os nmeros reais, somente um conjunto finito dos nmeros que
chamamos de nmeros naturais.
Finalmente, Caraa (1998) posiciona-se diante de seus conceitos. A varivel ser o que for
determinada pelo conjunto numrico, se cria a relao de correspondncia, varivel
dependente e varivel independente. Uma correspondncia unvoca, voltando ao problema
de tempo (t) para o espao (e) e escreve simbolicamente e = f(t). Assim, o conceito de
funo aparece-nos, no campo matemtico, como o instrumento prprio para o estudo das
leis. (p. 121).
Resumindo Caraa se reporta a seguinte definio do conceito de funo:
Sejam x e y duas variveis representativas de conjuntos de nmeros; diz-se que y
funo de x e escreve-se
y = f(x),
se entre as duas variveis existe um correspondncia unvoca no sentido xy. A x chama-se varivel independente, a y varivel dependente.
A partir da construo de noes bsicas deste conceito, como interdependncia e fluncia,
relacionadas a situaes vivenciadas por alunos esperamos que os alunos estabeleam
significados para essas noes, podendo criar um ambiente favorvel para que haja
aprendizagem. O educador deve estar preparado para ser uma ponte entre as experincias
dos alunos e estas noes bsicas que fundamentam o conceito de funo como
instrumento matemtico.
Pesquisa de Campo
Uma das dificuldades das escolas, ainda hoje em termos das ideias progressivas de Dewey,
a questo da seleo e organizao intelectual de sua matria curricular, pois essa
dinmica no se organiza dentro de um currculo e sim dos caminhos do desenvolvimento
e direcionamento inteligentes para uma educao baseada na experincia.
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A pesquisa de campo dar-se-, primeiramente, com uma situao problema levantada pelos
alunos. A observao do professor fundamental para fazer uma apreciao da situao e
os questionamentos dos estudantes para ver se a situao se abre para abordagem das
noes de funo.
Os participantes desta pesquisa sero os alunos de uma escola estadual da cidade de Baro
de Cocais, onde sou professora do quadro efetivo e tambm irei participar como professora
pesquisadora. Trabalharei com uma turma de nono ano do Ensino Fundamental, de
aproximadamente 40 alunos, durante as aulas regulares, no turno em que estes alunos
estudam.
Nossa expectativa que o convite desta abordagem do conceito de funo envolva os
alunos em um ambiente de liberdade, no qual a professora medeie as interaes na direo
de responder s questes que direcionam este trabalho.
Referncias bibliogrficas
CARAA, B. J. Conceitos Fundamentais da Matemtica. Lisboa: Gradiva Publicaes,
1998. 334 p.
DEWEY, John. Experincia e educao. Traduo de Renata Gaspar. 60 ed. Petrpolis,
RJ: Vozes, 2010. 165 p. (Coleo Textos Fundantes de Educao).