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    www.sebentadigital.com | Portugus 11 ano Frei Lus de Sousa, de A. Garrett | A profDina Baptista 1

    Escola Bsica 2,3/S de Vale de Cambra Portugus 11 ano (Turmas A, E e F 2008/2009)

    Prof Dina BaptistaUnidade:Frei Lus de Sousa, de Almeida Garrett

    Sistematizao de conhecimentos | I

    1.A Memria ao Conservatrio Real

    Este texto, escrito por Garrett ao Conservatrio Real de Lisboa, antes da apresentaopblica da pea, um texto de reflexo sobre a Literatura, o Teatro e a funo do artista nasociedade, que contribui para entender melhor o pensamento e os objectivos do autor do Frei Lusde Sousa. E neste sentido, importa reter alguns momentos mais ilustrativos deste texto ilustrativos:

    . Preocupao de valorizar a cultura nacional, a sua histria e tradies;

    . Afirmao da independncia e liberdade do criador, perante diferentes tipos de limitaes,desde as classificaes literrias veracidade histrica,

    . Expresso de originalidade, ao afastar-se dos antigos e modernos, ou melhor, ao conciliaro que de melhor encontrava nos clssicos com a actualidade da sua escrita;

    . Defesa da misso pedaggica e cvica do artista.

    2. Classificao da Obra:

    Esta uma verdadeira tragdia - se as pode haver, e como s imagino que as possa haver sobre factos epessoas comparativamente recentes. [...] NO ENTANTO, Contento-me para a minha obra com o ttulomodesto de drama; s peo que a no julguem pelas leis que regem, ou devem reger, essa composio deforma e ndole nova; porque a minha, se na forma desmerece da categoria, pela ndole h-de ficarpertencendo sempre ao antigo gnero trgico. [...]

    Almeida Garrett,Memria ao Conservatrio Real de Lisboa (lida em 6 de Maio de 1843)

    2.1. Quanto ao CONTEDO, uma TRAGDIA:

    . Nmero de PERSONAGENS diminuto: um pai (D. Manuel de Sousa Coutinho) uma me(D. Madalena de Vilhena), uma filha (Maria), um criado (Telmo Pais), um frade (Frei Jorge)e um romeiro que apenas aparece em duas cenas);. O DESAFIO das prepotncias divinas e humanas (a hybris): Madalena casa pela 2 vezsem ter a plena certeza da morte do seu primeiro marido, desafiando assim as leis

    sagradas do matrimnio; Manuel de Sousa incendeia o seu palcio afrontando o poder poltico e o domniofilipino; maria revolta-se contra a deciso final dos pais, contra Deus e as leis do matrimnio.. O CONFLITO (Agon) interior, de conscincia de Madalena e o conflito com outras personagens no caso deTelmo;. A Presena do SOFRIMENTO (o pathos) que se vislumbra logo na primeira cena e que cai gradualmente(climax) sobre Madalena, atingindo todas as restantes personagens. INCAPACIDADE DE LUTAR contra essa fatalidade contra essa fatalidade (se pudessem e assim conseguissemmudar o rumo dos acontecimentos, a pea seria um drama). Os protagonistas limitam-se a aguardar, impotentese cheios de ansiedade, o desfecho que se afigura cada vez mais pavoroso;. A PERIPCIA (sbita mutaodos acontecimentos): alterao provocada pela chegada de D. Manuel com adeciso de incendiar o palcio; alterao provocada pela chegada do Romeiro);. O RECONHECIMENTO (a agnorisis): a identificao do Romeiro;. A CATSTROFE (katastroph) causada pelo regresso de D. Joo de Portugal: desonra = morte moral / mortepsicolgica / morte fsica;. As semelhanas com o CORO GREGO: Telmo, dizendo verdades duras protagonista, e Frei Jorge, tendosempre uma palavra de conforto, parecem o coro grego.

    2.2. Quanto FORMA e presena de DETERMINADAS CARACTERSTICAS prprias do Romantismo umDRAMA ROMNTICO:

    . No em verso, mas em prosa (repugnava-me tambm pr na boca de Frei Lus de Sousa outro ritmo queno fosse o da elegante prosa portuguesa que ele, mais do que ningum, deduziu com tanta harmonia esuavidade.);. No tem cinco actos (mas 3 actos);

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    . No respeita as unidades de tempo e de lugar;

    . No tem assunto antigo;

    . A linguagem adequada realidade quotidiana das personagens: fluente, entrecortada com reticncias,exclamaes, interrogaes, elipses, anacolutos, repeties, aproximando-se do tom coloquial, retratando osmovimentos afectivos das almas e o ritmo dos impulsos da conscincia. E, por isso, to diferente do tom altivo eabstracto da linguagem clssica.

    .Crena no sebastianismo

    (O Mito sebastianismo est espalhado por toda a obra. Logo no incio (I,2),Madalena diz a Telmo: ,mas as tuas palavras misteriosas, as tuas aluses frequentes a esse desgraado D.Sebastio ;. O tema da morte (entendida para os Romnticos como a melhor soluo para os conflitos): Morte psicolgicade Madalena e Manuel e morte fsica, em cena, de Maria;. Crena em agouros, em dias aziagos, em supersties;. As vises de Maria, os seus sonhos e o seu idealismo patritico;. O titanismo de Manuel de Sousa incendiando a casa s para que os Governadores do Reino a noutilizassem;. O Individualismo, acentuado pelo confronto entre o indivduo e a sociedade, entre o cdigo moral estabelecidoe o desejo de ser feliz) e presente na atitude que Maria toma no final da pea ao insurgir-se contra a lei domatrimnio uno e indissolvel, que fora os pais separao e lhos rouba: Amor/Indivduo versusSociedade. O esprito cristo, redentor de uma condenao irremedivel.

    Fonte: http://faroldasletras.no.sapo.pt/frei_luis_de_sousa.htm

    FREI LUIS DE SOUSA: Entre o Clssico e o Moderno:TRAGDIA MODERNA / TRAGDIA de natureza SIMBLICA-PATRITICA

    3. As personagensAs personagens, em nmero reduzido, esto relacionadas umas com as outras de modo surpreendente e

    formam um todo fechado, ou seja, uma famlia. E neste sentido, pode-se dizer que a famlia uma espcie depersonagem do drama. No entanto, para alm de a construo das personagens ter em conta o conceito defamlia, a verdade que estas esto nitidamente orientadas para um acontecimento final que corre para a runaiminente.

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    FREI Jorge Coutinho: irmo de Manuel de Sousa, amigo da famlia e confidente nas horas de angstia. Vaiter um papel importante na identificao do Romeiro.

    Fonte: Guerra, Joo; Vieira, Jos (1998) Manuel Aula Viva, 11 ano - Portugus B. Porto Editora, p. 216.

    4. O Mito SebastianistaLenda ou mito que assenta sobre uma f visionria e messinica:

    crena na vinda de um heri que regenere a nao

    4.1.A Construo do Mito[...] Veio depois a derrota de Alccer Quibir e o desaparecimento do Rei (1578). A nao caiu sob o

    domnio castelhano. A literatura chorou, com a perda de D. Sebastio, o desfazer das esperanas desmedidas, aruna dum povo que, havia pouco, deslumbrara o mundo com os Descobrimentos e a criao de um grandeImprio. [...] Foi ento que surgiu, como instintiva reaco, o sebastianismo. Julgou-se que s a f visionriapoderia salvar-nos. Na primeira metade do sc. XVI vrios pretensos profetas, desafiando os rigores da

    Inquisio, haviam aliciado adeptos, nomeadamente cristos novos. Entre esses profetas contava-se GonaloAnes, de alcunha o Bandarra, sapateiro de Trancoso (Beira Alta), homem cujas trovas, largamente divulgadas,se tornariam o evangelho do sebastianismo. O Bandarra tinha-se inspirado na Bblia para verberar a corrupoda poca e fazer obscuras predies, entre as quais, parece, estavam a da conquista de Marrocos, a da derrotados Turcos e a do Quinto Imprio. [...]. Durante o sc. XIX, o sebastianismo foi passando da esfera poltica para osdomnios literrio e culturolgico. O sonho herico de D. Sebastio, a sua morte na batalha, o mito do seuregresso e a quimera do Quinto Imprio inspiram poetas e prosadores. [...] No Frei Lus de Sousade Garrett, Telmo, o velho criado, quem associa f no retorno do Rei a convico de que D. Joo de Portugal, seu amadoamo, um dia aparecer.

    Outros autores, entre os quais Padre Antnio Vieira (sc. XVII), viram o Encoberto em outros reis, queconstruiriam o Quinto Imprio. uma literatura poltico-messinica, que se fortaleceu ainda no incio do sculoXX com o movimento literrio Saudosismo (liderado por Teixeira de Pascoaes) e depois por Fernando Pessoa,sobretudo na Mensagem. Mesmo na actualidade, o sebastianismo explorado literariamente (ex: Manuel

    Alegre). Fonte: Coelho, Jacinto do Prado, DICIONRIO DE LITERATURA inhttp://faroldasletras.no.sapo.pt/frls_sebastianismo.htm

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    4.2. A Permanncia do MitoO Sebastianismo evoluiu para simples PATRIOTISMO e os Sebastianistas identificaram-se com os

    opositores da Unio Ibrica. O Sebastianismo enraizou-se no esprito nacional como trao caracterstico,poderoso fermento de reaco em momentos agudos de crise.

    Fonte: Jacinto Prado Coelho, Dicionrio de Literatura

    4.3. Frei Lus de Sousae o Mito Sebastianista ou a mensagem Anti-Sebastianista No Frei Lus de Sousa, o mito sebastianista alimenta, desde o incio, o conflito vivido pelaspersonagens, na medida em que a admisso do regresso de D. Sebastio implicava idntica possibilidade davinda de D. Joo de Portugal, que combatera ao lado do rei na batalha de Alccer Quibir, o que, desde logo,colocaria em causa a legitimidade do segundo casamento de D. Madalena. No inocente, nem fruto do acaso,o facto de Garrett ter concebido que Madalena aparecesse em cena justamente a ler Os Lusadas.Efectivamente, tal facto est tambm associado ao mito sebastianista que, deste modo, marca a obra desde oseu incio.

    Quem se encarregar, pois, de dar corpo a tal mito?Telmo Pais, o velho aio de D. Joo e em cuja morteno acredita, e Maria, filha de D. Madalena de Vilhena e de Manuel de Sousa Coutinho, educada por Telmo.

    Fonte: inhttp://faroldasletras.no.sapo.pt/frls_sebastianismo.htm

    PORM,

    No Frei Lus de Sousa, Garrett tambm faz pe em evidencia os seus efeitos catastrficos doSebastianismo, e neste sentido, poder-se- falar numa mensagem anti-sebastianista:

    No Sebastianismo, como ele representado no Frei Lus de Sousa por Telmo e Maria, reside nosomente a crena em que o Rei ao voltar (o Encoberto) conduzir a uma poca de brilho em Portugal.Infiltraram-se nele concepes messinicas mais antigas e relativas ao fim prximo do mundo. [...] O Regressoque se realiza do Frei Lus de Sousa , visto de l, - e temos de o ver assim, segundo a vontade da prpria obra -,um anti-regresso. No leva redeno, mas catstrofe, e no a uma graa, mas sim a uma desgraa. Onimbo messinico volta do mito sebstico paira volta do regresso destruidor de D. Joo de Portugal.

    Fonte: W. Kayser, Anlise e Interpretao da obra literriain Manual Plural, 11 ano, Lisboa Editora, p. 111.

    ABAIXO EL-REI SEBASTIO

    preciso enterrar el-rei Sebastio preciso dizer a toda a genteque o Desejado j no pode vir. preciso quebrar na ideia e na canoa guitarra fantstica e doenteque algum trouxe de Alccer-Quibir.

    Eu digo que est morto.Deixai em paz el-rei Sebastiodeixai-o no desastre e na loucura.Sem precisarmos de sair o portotemos aqui moa terra da aventura.

    Vs que trazeis por dentrode cada gestouma cansada humilhaodeixai falar na vossa voz a voz do ventocantai em tom de grito e de protestomatai dentro de vs el-rei Sebastio.

    Quem vai tocar a rebateos sinos de Portugal?Poeta: tempo de um punhalpor dentro da cano.Que preciso bater em quem nos bate

    preciso enterrar el-rei Sebastio.Manuel Alegre