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Os artigos publicados na Revista da FAE são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não representam, necessariamente, pontos de vista da FAE Centro Universitário.

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Revista da FAE, n. 1/2, jan./dez. 1998 – Curitiba, 1998 – v. ilust. 28cm.

Semestral

ISSN 1516-1234 Substitui ADECON: Revista da Faculdade CatólicaAdministração e Economia

1. Abordagem interdisciplinar do conhecimento.I.FAE Centro Universitário. Núcleo de Pesquisa Acadêmica.

CDD – 001

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Editor Frei Nelson José Hillesheim, ofm

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Lima, Me. (Uninter); Lafaiete Santos Neves, Dr. (FAE); Márcio Jacometti, Dr. (UTFPR); Marison Luiz Soares, Dr. (UFES); Olindina Xavier Cunha, Dra. (FFCC) ; Raimundo Nonato

Rodrigues Dr. (UFPE); Romilda Teodora Ens, Dr. (PUCPR); Ubiradir Mendes Pinto, Esp. (UTFPR).

Associação Franciscana de Ensino Senhor Bom Jesus

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F A E C e n t r o U n i v e r s i t á r i o

Sumário Summary

06

24

42

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96

110

126

144

162

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Organizações, relações de trabalho e informatização: controle cronológico ou domínios de Kairos?

Jonas Cardoso

Governança corporativa: análise em uma cooperativa de crédito rural com interação solidária

Gilmar Ribeiro de Mello, Silvania Pizzatto Schiavini

Portais de transparência fiscal: uma crítica aos municípios com população entre 50 e 100 mil habitantes

Abimael de Jesus Barros Costa, Deivid Bruno Araújo Leite, Edmilson Soares Campos

Valores organizacionais sob a ótica dos colaboradores de uma Instituição de Ensino Superior

Aleksander Roncon, Denise Del Prá Netto Machado, Marcia Regina Santiago Scarpin, Luciano Castro de Carvalho

As contribuições e o pensamento de John Stuart Mill no campo da economia

Eduardo H. Martins L. Scoville, Gilson Batista de Oliveira

Economia ecológica, economia solidária e o pensamento econômico de E. F. Schumacher

Lucas Barbosa e Souza, Rogério Ferreira Teixeira

Adoção de plataforma estratégica de tecnologia de informação e comunicação: análise baseada no modelo

UTAUT Fernando de Souza Meirelles, Luci Longo

Método de estudo de caso como estratégia construtivista de ensino: proposta de aplicação nos cursos de Administração e

Contabilidade de CustosGeorgia Fabiana da Silva, Mariano Yoshitake,

Suely Morais de França, Yumara Lúcia Vasconcelos

Atratividade do comércio popular: fatores que motivam os clientes a comprar no comércio popular

Fernando César Lenzi

Originale Cucina – um estudo de caso de posicionamento estratégico no segmento gastronômico de Curitiba

Ricardo Teixeira Miranda, Richard Schwarz

Valor do cliente – estudo do mercado de operadoras de telefonia

Eliane Cristine Francisco-Maffezzolli, Paulo de Paula Baptista, Richard Schwarz, Wesley Vieira da Silva

A distribuição espacial do emprego formal na produção algodoeira e têxtil no Estado do Paraná no período

de 1997 a 2007Katia Fabiane Rodrigues, Jandir Ferrera de Lima,

Lucir Reinaldo Alves, Ricardo Rippel

Organizations, labor relations and information technology: chronological control or Kairos domains?Jonas Cardoso

Corporate governance: analysis in a rural credit cooperative with partnership interactionGilmar Ribeiro de Mello, Silvania Pizzatto Schiavini

Fiscal Transparency Portals: a critique of cities with populations between 50 and 100 thousand peopleAbimael de Jesus Barros CostaDeivid Bruno Araújo Leite, Edmilson Soares Campos

Organizational values under the perspective of employees of an Institution of Higher EducationAleksander Roncon, Denise Del Prá Netto Machado, Marcia Regina Santiago Scarpin, Luciano Castro de Carvalho

The contributions of the John Stuart Mill’s thoughts about economyEduardo H. Martins L. Scoville, Gilson Batista de Oliveira

Ecological economy, economy solidarity, and E. F. Schumacher’s economic thoughtLucas Barbosa e Souza, Rogério Ferreira Teixeira

Adoption of the strategic platform for information and communication technology: analysis based on the UTAUT modelFernando de Souza Meirelles, Luci Longo

Case study method as constructivist teaching strategy: proposed application courses in Management and Cost AccountingGeorgia Fabiana da Silva, Mariano Yoshitake, Suely Morais de França, Yumara Lúcia Vasconcelos

Attractiveness of popular trade: factors that motivate customers to buy in popular tradeFernando César Lenzi

Originale Cucina – a strategic positioning case study in the Curitiba’s gastronomic segmentRicardo Teixeira Miranda, Richard Schwarz

Customer value – market study of telephone operatorsEliane Cristine Francisco-Maffezzolli, Paulo de Paula Baptista, Richard Schwarz, Wesley Vieira da Silva

The location of the employment in the cotton production and textile industries in Paraná State the period 1997 to 2007Katia Fabiane Rodrigues, Jandir Ferrera de Lima, Lucir Reinaldo Alves, Ricardo Rippel

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Apresentação

Prezados leitores,

Temos a alegria e a satisfação de disponibilizar à comunidade acadêmica e à

sociedade em geral mais uma edição inédita da Revista da FAE. Assim, esperamos

contribuir mais uma vez com as reflexões e o pensamento acadêmico, através dos

estudos compartilhados.

Por se tratar de uma publicação multidisciplinar, a elaboração deste volume contou

com autores representantes de várias áreas do conhecimento, cujos conteúdos serão

agora brevemente descritos.

Começamos a leitura com uma análise das transformações nas organizações a

partir da percepção do tempo, considerando a informação e as relações de trabalho.

Na sequência, um estudo sobre governança corporativa nas cooperativas de crédito

rural, com foco nas boas práticas de governança com a finalidade de cumprir com

as responsabilidades perante o quadro social. Ainda no campo da Administração, um

estudo sobre a importância dos portais de transparência fiscal, como instrumento de

informação para a sociedade, a partir de investigação em alguns municípios selecionados.

O quarto artigo desta edição analisa a percepção dos valores organizacionais sob a ótica

dos colaboradores em uma Instituição de Ensino Superior.

Permeando os estudos na área de Economia, apresentamos um artigo a respeito das

contribuições de John Stuart Mill para a evolução do pensamento econômico. Também,

um estudo sobre a visão econômica de E. F. Schumacher à luz da economia ecológica

e solidária.

Na sequência, um estudo sobre a adoção da tecnologia de informação em ambiente

universitário, com foco nos processos educacionais. Ainda voltando-se para o ambiente

educacional, contamos com um artigo que propõe a aplicação do método de estudo de

caso como estratégia de ensino.

Contemplando as contribuições na área de Marketing, encontraremos uma pesquisa

que identifica quais são os fatores motivadores que levam os consumidores a frequentar

e comprar no comércio popular. Também, um estudo de caso sobre o reposicionamento

estratégico no segmento gastronômico de Curitiba. E, ainda, um estudo do mercado de

operadoras de telefonia, com foco no valor real do cliente.

Concluímos esta edição com uma análise do padrão de localização do emprego

formal no cultivo do algodão e na indústria têxtil no Paraná.

Esperamos que a Revista da FAE atinja o seu propósito de difusão e compartilha-

mento de reflexões, ideias e pesquisas, como contribuição ao indivíduo e à sociedade.

Boa leitura!

Paz e Bem!Frei Nelson José Hillesheim, ofm

Editor

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Organizações, relações de trabalho e informatização: controle cronológico ou domínios de Kairos?

Organizations, labor relations and information technology:

chronological control or Kairos domains?

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Organizações, relações de trabalho e informatização: controle cronológico ou domínios de Kairos?Organizations, labor relations and information technology: chronological control or Kairos domains?

Jonas Cardoso1

Resumo

Este artigo analisa as transformações nas organizações a partir da percepção

do tempo. A análise é realizada considerando a questão da informatização e

as relações de trabalho nas organizações. A partir de pesquisa bibliográfica,

foram analisados livros e artigos sobre o uso do tempo pelas organizações

e sua relação com a informatização e consequências para as relações

de trabalho. A partir dessa análise, percebe-se que o tempo tornou-se

estratégico para as organizações contemporâneas, que dele se apropria

quando da utilização do trabalho para realização do lucro. O avanço da

informatização funciona como um catalisador, aumentando o controle e o

tempo dedicado ao trabalho.

Palavras-chave: Relações de Trabalho. Organizações. Informatização. Tempo.

Abstract

This article analyzes the organizations changes that derive for time

perception. The point of departure is the advancement of information

technology and its consequences in labor relations. From literature, were

analyzed books and articles about the use of time for organizations, the

advancement of information technology and changes in labor relations.

This analysis pointed that a time perception has become strategic for

contemporary organizations, which utilizes time working and non work for

the realization of profit. The advance of information technology acts as a

catalyst, increasing control and time devoted to work.

Keywords: Labor Relations. Organizations. Information Technology. Time.

1 Doutor em Administração na UFRGS. Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal de Rondônia. Tutor do Programa de Educação Tutorial do curso de Ciên cias Econômicas. E-mail: [email protected].

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Introdução

Na mitologia grega, Cronos é a per so-

nificação do tempo, mas há também um outro

deus, Kairos, que é o próprio tempo – enquanto

Cronos é comparado a uma medida de tempo

em intervalos mecânicos, Kairos está em todos os

tempos, presente em alguns momentos e distante

em outros (CZARNIAWSKA, 2001).

Até 1980, o tempo era abordado nos estu-

dos das organizações como variável externa, pas-

sível de ser medido e independente dos processos

organizacionais. O tempo era determinado como

absoluto e linear. A partir de 1980, os estudos or-

ganizacionais foram influenciados sobremaneira

por áreas como Antropologia (CZARNIWASKA,

2009) e Sociologia (BURRELL, 2003; FOUCAULT,

1997; LEE; LIEBENAU, 1999), que levaram a uma

nova percepção sobre o tempo, que se transfor-

mou em um componente importante da cultura or-

ganizacional. O tempo se tornou relativo do ponto

de vista da teoria das organizações, portanto, pas-

sível de ser relido conforme o momento, assumindo

aspectos com diferentes significados em cada con-

texto (TONELLI, 2002; VERGARA; VIEIRA, 2005).

A interação entre trabalho e tempo torna-

-se sinônimo de cumprimento de tarefas por metas,

as quais independem do espaço e tempo em que

são cumpridas. O que importa é o prazo. Ficou

para trás o tempo entendido na produção fordista,

cujos trabalhadores se baseavam numa jornada

de trabalho fixa e com trabalhos repetitivos. Com

as novas tecnologias e estruturas organizacionais

baseadas em processos mais flexíveis, o tempo é

refém da velocidade ditada pela informatização

(GRISCI, 1999; 2008). Aliado a isso, conforme

destacado por Mello e Tonelli (2002), deve-se

levar em conta o estilo de gestão, que investe

cada vez mais em uma cultura organizacional que

se preocupa mais com resultados de curto prazo,

utilizando nessa nova visão de todo o tempo que

o trabalhador dispõe, seja no trabalho ou fora dele.

Este artigo procura trazer elementos que

pontuem a forma como está configurada a orga-

nização contemporânea no que concerne às rela-

ções de trabalho, ao aumento da informatização e

a influência do tempo nos processos de produção.

O ensaio é composto de cinco tópicos,

que além desta introdução e das considerações

finais, conta com o primeiro tópico que discute

a dinâmica temporal, o qual procura trazer ele-

mentos que auxiliem no entendimento do uso do

tempo e suas transformações, conforme o desen-

volvimento das organizações. O tópico seguinte

relaciona organizações, tempo e relações de tra-

balho, analisando como estas foram influenciadas

conforme se processava o uso do tempo pelas

organizações. O terceiro tópico, além de abordar

organizações e tempo, traz outro elemento impor-

tante: a informatização.

O objetivo foi inserir na discussão as trans-

formações na concepção do tempo por que pas-

saram as organizações com o avanço tecnológico

da informatização e seus desdobramentos nas re-

lações de trabalho.

Na mitologia grega, Cronos é a personificação do tempo, mas há também um outro deus, Kairos, que é o próprio tempo – enquanto Cronos é comparado a uma medida de tempo em intervalos mecânicos, Kairos está em todos os tempos, presente em alguns momentos e distante em outros.

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1 Dinâmica Temporal e Organizações

Hassan (2003) observou que a cada perío-

do histórico há uma forma diferente de com-

preensão do tempo. O conceito de tempo tem

um relacionamento próximo com as formas de

pro dução e reprodução da sociedade. Assim, o

período pré-industrial foi caracterizado por ter uma

produção essencialmente artesanal feita em casa

e por usar suas próprias ferramentas, realizar seu

trabalho sem regularidade temporal, com taxa de

produção e tempo de forma diferente, depen dendo

do dia e das estações do ano.

Além disso, algumas culturas não se impor-

tavam muito com o fluxo do tempo. Gregos pos-

suíam relógios de sol e de areia (dispostos, por

exemplo, em parlamentos para limitar o tempo de

fala), mas isso não era de uso comum (BAUMAN,

2001). Na verdade, como alguns pesquisadores

apresentam (CZARNIAWSKA, 2001), relógios de

sol e de areia foram usados por gregos não ne-

cessariamente para medir o tempo, mas principal-

mente para representações cosmológicas, símbo-

los do universo.

Similarmente, na Idade Média, viajantes cau-

saram agitação na China quando ofereceram relógios

como presente. Porém, os chineses não estavam

interessados na invenção em si, mas curiosos com

aquele brinquedo estranho e inútil (LE GOFF, 1960).

A ideia básica da medição exata do tempo pode ser

percebida como obsessão excêntrica.

A Era Industrial inaugurou o tempo associa do

com o ritmo das fábricas com uma produção marcada

por situações de copresença e sincronização tem-

poral. Em consonância com essa compreensão do

tempo, produção e serviços seguem um sistema

dominado pelas horas, minutos e segundos.

Na História, o tempo não pertence a nin-

guém (WIJK, 2006). O tempo sempre foi entendido

como possessão de Deus. Como Santo Agostinho

escreveu, tentando refutar o entendimento aristo-

télico, o segredo do tempo ficou inexplicável. O

raciocínio ficou embasado no seguinte argumento:

apesar do movimento dos corpos astrais entre

outros instrumentos relacionados com o tempo, ele

não depende disso. Josué pediu para Deus parar

o sol para finalizar a batalha no mesmo dia, o sol

parou, mas o tempo continuou.

Contudo, o tempo não deve ser entendido

como um movimento de coisas, embora coisas se

movam no tempo (LE GOFF, 1960). O tempo era

percebido como alguma coisa pertencente a nada

mais do que o domínio divino, alguma coisa inde-

pendente do movimento regular das coisas, prova-

velmente um dos atributos de Deus. Consequen-

temente, como apontado por Adam (2001), na

Idade Média um dos principais argumentos contra

a usura foi que mercadores davam créditos e os

usurários tentavam vender uma mercadoria que

não pertencia a eles: o tempo.

O monge Dominicano Etiene de Bourbon,

na Tabula Exemplorum (LE GOFF, 1960), construiu

o argumento de que toda noção de crédito foi

fundamentalmente má e corrupta, principalmente

por que resultava de negociação nos domínios de

Deus; contudo, mercadores e usurários ousaram o

suficiente para prolongar o pagamento do débito

por dado preço, sendo condenados à maldição.

Com o passar dos séculos a percepção do

tempo mudou. A mensuração e o controle exato

do tempo transformaram-se em domínios das

organizações e, gradualmente, tornaram-se dessa-

cralizados. Por exemplo, segundo Le Goff (1960),

em 1355, o rei governador em Artois permitiu a

construção de uma torre a fim de anunciar as horas

para os negócios e as transações, assim como

para regular a jornada de trabalho nas fábricas.

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Rapidamente, a Igreja se rendeu à tradicional

ocu pação – a mais exata torre de relógio laica

massivamente integrou a realidade social. Toda

torre para ser reconhecida como tal deveria estar

junto a uma igreja e ter um prédio com relógio.

De acordo com Bauman (2001), esse

processo de ganho de poder por meio da

usurpação do controle sobre e por meio dos

estabelecimentos de horários foi determinante

na transição da época pré-moderna para a

moderna. O controle simétrico dos movimentos

foi substituído pelo controle simétrico opressivo

baseado em prazos “impessoais”. Não é apenas

o tempo de controle que muda de localização

hierárquica, ele é transformado em processo

objetivado, relacionado com a maquinaria externa.

volvimento histórico constante (ELIADE, 1992). O

planejamento, baseado no tempo, abriu as portas

para a burocracia e para internalização do controle

organizacional (FOUCAULT, 1997).

Ainda, mesmo no século XIX, segundo

Zerubavel (1993), trabalhadores se atentaram para a

falta de liberdade e se rebelaram ante a possibilidade

de um longo confinamento e produção estável.

A presença era irregular, trabalhadores podiam

não comparecer no serviço por dias e receber

seu salário no final de cada semana conforme

os dias trabalhados. Foram as organizações

capitalistas que procuraram mudar os hábitos dos

trabalhadores, tentando forçá-los a uma rotina

diária. A contenda entre trabalhadores e patrões

foi violenta e demorada, e somente após muitas

restrições severas, incluindo multas de até metade

do salário, é que foi obtida uma vitória parcial para

os patrões, que puderam, enfim, aplicar horários de

trabalho mais rígidos (ZERUBAVEL, 1993).

Segundo Morgan (1996), a luta em relação à

linearização do tempo de trabalho foi o encontro da

metáfora máquina-organização, então expandida

entre os gerentes até os dias de hoje. De forma al-

guma, a ideia de fixar um horário de trabalho regular

foi “natural”, nem pertenceu à cultura monocrômica

por muito tempo (MORGAN, 1996). Embora essa

questão seja pouco debatida no mainstream da

ciência organizacional, o abismo entre tempos de

trabalho e de não trabalho tem aumentado a partir

da diferenciação entre os que obedecem e os que

mandam nos horários fixados, e como tal, é dado

pela definição que reforça a visão de tempo linear,

escamoteando tempos definidos por prazos e me-

tas cada vez mais complexos.

Com a multiplicidade do tempo, a questão

da linearidade é ainda muito mais filosófica e

controversa (ADAM, 2001), especialmente nos

estudos organizacionais, nos quais pode ser útil

considerar o contexto histórico das mudanças

discutidas. Antes de tudo, o relacionamento com

Mas essa mudança não aconteceu sem pro-

testos, pois qualquer rebelião contra a marcação

do tempo de trabalho estritamente linear era per-

seguida e sancionada com penalidades, variando

de multas até sentença de morte (LE GOFF, 1960).

De fato, a Idade Média e seu crescimento orientado

para a produção teve seu auge no século XVII de

forma linear e percepção progressiva do desen-

O relacionamento com o

tempo é, algumas vezes,

percebido como a base

em que se constitui a

humanidade.

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o tempo é, algumas vezes, percebido como a base

em que se constitui a humanidade (ADAM, 2006).

Além disso, é importante também olhar as práticas

organizacionais na definição do tempo numa

análise retrospectiva.

A Revolução Industrial é marcadamente

o princípio para a inserção científica do tempo

nos modos de produção, ele se torna o principal

instrumento de controle utilizado para aumen-

tar a produtividade dos trabalhadores. O tempo

de trabalho homogêneo, objetivo, mensurável

quantitativamente e mais preciso torna as tare-

fas mais padronizadas, resultando também na

padronização das relações sociais e hegemoni-

zação dos outros tempos (GASPARINI, 1996;

HASSARD, 2001).

É a partir de 1970, porém, que uma nova

organização do trabalho começa a se configurar, as

mudanças são consequências de transformações

nos cenários socioeconômicos e políticos, e tam-

bém devido à expansão do setor tecnológico, prin-

cipalmente no que concerne ao uso intensivo da

tecnologia da informação. A percepção do tem-

po passa por mudanças, tornando-se resposta à

velocidade da informação, o tempo toma forma con-

forme a demanda que, por sua vez, tem caráter de

simultaneidade e instantaneidade (GIDDENS, 1991).

Para Vergara e Vieira (2005, p. 111),

as organizações globais transpuseram os limites de

tempo impostos pelas distâncias e pelas tecnologias

da informação disponíveis na era da industrialização

mecânica. A revolução da microeletrônica, a partir de

1970, cuja rápida evolução chegou aos anos 90 como

alta tecnologia, mudou as noções de tempo-espaço na

nova economia.

Bauman (2001) sugere que o intenso e

profundo contato com atores não humanos

(computadores) contribui para a quebra da

linearidade temporal. De acordo com esse autor,

a utilização do tempo de um processador ajuda

a restabelecer a época do “tempo físico real”,

entendido como medida de um relógio mecânico

e promovido por gerentes e seus equivalentes

desde a Idade Média. Para muitos trabalhadores,

a participação em uma organização é uma forma

de alcançar a imortalidade, para isso, deve aceitar

a obsessão terrestre por cronogramas, o qual só

parece natural se as pessoas são reduzidas a meros

agentes, elementos do sistema eterno ou produtos

do trabalho (PAGÈS et al., 1990).

2 Organizações Produtivas, Tempo e Relações de Trabalho

Embora o tempo tenha acelerado, o processo

burocrático não sofreu grandes mudanças. Se

por um lado há novos métodos persuasivos nas

relações de trabalho, por outro há a busca por

padronizações ditadas pela aplicação de normas

e procedimentos visando a chamada qualidade

total (WOOD, 1995). Exemplifica-se pela busca

da certificação ISO 9000, cujas normas rígidas

implantadas possuem semelhança aos métodos

de racionalização clássicos.

A ideia de que a vida está em constante

aceleração é muito recente. No ano de 1936,

Charlie Chaplin, em sua famosa comédia Tempos

Modernos, mostrou como o local de trabalho

podia se transformar num pesadelo na vida do

trabalhador. O objetivo do aumento do tempo de

trabalho não parece ser tão óbvio, se as pessoas

se mantêm trabalhando mais a produtividade

deveria ser muito alta, mesmo se todos os

esforços se tornassem menos intensivo, porém,

economicamente não é o caso (JACOBS; GERSON,

2001), muitos trabalhadores enfrentam sérios

desafios para atender as demandas advindas

do trabalho e da família (OLTRAMARI; WEBER;

GRISCI, 2009).

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12

As organizações pós-modernas precisaram

se adaptar ao novo trabalhador, que se

apresenta não mais com sua mão de obra material, mas traz também todo um aparato de conhecimento

de difícil mensuração de seu valor.

O que predomina é a percepção de que o

agravamento da demanda de tempo passa por

uma geral aceleração temporal (GIDDENS, 1991).

Jacobs e Gerson (1998) demonstraram que a

translação da percepção ocorre, em parte, devido

às mudanças na distribuição de trabalho dentro das

famílias (o provedor não é mais apenas o homem,

rendas compartilhadas são comuns, pais solteiros

formam uma parte significante da população etc.).

Para Lazzarato e Negri (2001), as organi-

zações pós-modernas precisaram se adaptar ao

novo trabalhador, que se apresenta não mais com

sua mão de obra material, mas traz também todo

um aparato de conhecimento de difícil mensuração

de seu valor. Se na Modernidade os trabalhadores

eram apenas um componente na produção, agora

eles são a principal fonte de lucro das organizações.

A composição orgânica do capital se modificou, o

capitalista não precisa de mais máquinas para au-

mentar sua produtividade, o trabalhador já tem suas

“ferramentas” que, diferente da época pré-moder-

na, não são utilizadas para a cristalização de valor

nas mercadorias unitariamente, mas são ferramen-

tas potencializadas, que aliadas ao conhecimento e

criatividade do trabalhador produz demanda base-

ada no modismo e fidelização dos clientes.

Na visão de Vergara e Vieira (2005, p. 113),

a transição do sistema de produção fordista para o de

flexibilidade produtiva quebra a rigidez sistêmica das

estruturas organizacionais. A complexidade burocrá-

tica, vertical e densamente hierarquizada, vai ceden-

do lugar à movimentação dos fluxos de demandas e

decisões no sentido horizontal e mais desburocratiza-

do das ações digitais.

Também mudou o relacionamento do traba-

lhador com a organização, agora ele apa rentemente

não quer apenas um emprego, ele está em busca

de desafios e de reconhecimento, ele quer trabalhar

em uma organização que tenha objetivos e regras

claras, e não se importa de ser “explorado” desde

que seja “recompensado” por isso. As palavras

entre aspas possuem significados que podem

ser explicados em parte por Pagès et al. (1990),

que analisam de forma clara a relação “maternal”

entre a organização e o trabalhador, a exploração

é reconhecida pelo trabalhador (angústia), mas ao

mesmo tempo ele se sente “feliz” de fazer parte de

um grupo seleto, que lhe “criou” desde o estágio e

lhe mostrou novos desafios e conquistas.

As funções assumidas, ainda segundo os es-

tudos de Pagés et al. (2001), são dinâmicas, evitando-

-se, assim, relacionamentos que possam levar a uma

associação com objetivos de reivindicação. Aliás, o

esvaziamento dos movimentos reivindicatórios são

resultados de políticas que procuram se antecipar às

reivindicações. Além disso, há também a mudança

no padrão de cobrança de resultados. O trabalhador

passa a ter metas, independente de como irá cum-

pri-las, ou seja, o tempo dedicado ao trabalho não

possui mais amarras, o trabalhador está “livre” para

trabalhar no horário que quiser (SENNET, 1999).

A principal função das organizações em-

presariais ainda é maximizar o lucro, a burocracia

ainda permeia os processos, o que muda é a forma

de controle (FARIA, 2004). Para desempenhar

este papel, existem os executivos que buscam

estabelecer e executar as normas necessárias para o

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regulamento do comportamento dos trabalhadores

e manutenção do lucro. Eles são responsáveis por

estabelecer a harmonia na organização, assegu-

rando a produtividade e diluindo as tensões que

venham interferir no processo, para isso, utilizam-

-se dos instrumentos de controle disponíveis

(TRAGTENBERG, 1974; FARIA, 2004).

A organização burocrática, na sua forma

clássica, centralizada, hierárquica e autoritária,

foi substituída pelo ideal da organização pós-

moderna (CLEGG; HARDY, 1996), formatada

pela descentralização, utilização das tecnologias

de informação para formação de redes e pela

mediação, assim descrita por Pagès et al. (1990).

O trabalho é fruto da cooperação e as escalas

hierárquicas são camufladas pela decisão em

equipes conforme as regras implícitas. Os conflitos

presentes na produção fordista dão lugar à

harmonia total oriunda do papel da organização

dita pós-burocrática. Uma análise mais aprofun-

dada mostra a verdadeira face dessa nova confi-

guração, a burocracia remodelou a hierarquia e

escamoteou os mecanismos utilizados no controle,

o trabalhador se encontra preso voluntariamente,

sem possibilidade de se emancipar desta nova

gaiola de ferro (WEBER, 1999).

Novas formas de controle operacionaliza-

das, por meio do aporte em tecnologia da infor-

mação, são utilizadas para fortalecer os sistemas

burocráticos de supervisão (REED, 1996), os

quais são desenvolvidos a partir da necessidade

de possibilitar o acompanhamento do trabalha-

dor, que agora tem mais controle sobre suas ativi-

dades devido à aceleração dos processos de pro-

dução. A burocracia se adapta conforme as mais

diferentes circunstâncias.

Neste sentido, Vergara e Vieira (2005, p. 113)

destacam que,

a tecnologia, então, passa a expressar-se nos novos formatos

organizacionais, nos fluxos de tarefas e na exigência de

novas competências por parte dos empregados. Para as

organizações globais a reestruturação foi um imperativo

de produtividade e competitividade.

Para Virilio (1999), o avanço das TIs significa

que o tempo tecnológico está, cada vez mais,

invadindo o tempo e espaço tanto na dimensão

profissional como na vida particular, criando novos

ritmos, experiências e modos de interação que estão

transformando a sociedade. Os exemplos dessa

nova configuração estão presentes de várias formas.

Por exemplo, o mito da contínua melhoria ba-

seada em apenas um caminho e o desenvolvimento

ou a metáfora do trabalho como forma de galgar no-

vos postos da carreira estão inseridos nessa forma

de pensamento. A crença em constante progresso

e a ideia do ciclo de vida da organização são resul-

tados tangíveis desse processo. Além disso, a popu-

laridade dos conceitos, tal como gerenciamento de

tempo e produção just in time, mostram uma fixa-

ção intensiva na percepção de tempo linear entre as

organizações. Nesse sentido, torna-se muito claro

porque a pontualidade, atendimento e conformação

com horários são fatores tão importantes na avalia-

ção do desempenho dos trabalhadores.

A ampliação dos mercados e a competição

aumentam as demandas de clientes ou consu-

midores voláteis, mas bem informados. Esse

con tex to coloca o trabalho em primeiro lugar e

aumenta carga sobre os trabalhadores. Além disso,

a flexibilidade imposta aumenta a responsabilidade

e consequentemente aumenta o problema relativo

ao inchaço de horas despendidas no trabalho. A

intensificação da produção tornou-se um padrão

usual, resultando em pressão não somente no local

de trabalho, como também no planejamento fora

dele (OLTRAMARI; WEBER; GRISCI, 2009). Para

enfrentar a forte competição, muitas empresas

necessitam ser mais flexíveis, o que é feito com a

imposição de horários flexíveis e de delegação de

maiores responsabilidades para os trabalhadores.

Nesse sentido, as empresas requerem mais e mais

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14

comprometimento de seus empregados, ao tempo

que os empregos tornam-se cada vez menos

seguros (MALENFANT; FOUCHER, 2006).

O tempo de trabalho mais flexível surgiu

como a possibilidade de realizar um trabalho

com maior equilíbrio entre a vida e trabalho, em

detrimento do caso em que horas de trabalho são

fixas sem referência à realidade dos trabalhadores

(WEBSTER, 2004). Blair e Wharton (2004) desco-

briram que mesmo quando os trabalhadores dizem

estar satisfeitos com a introdução do horário flexível,

isso ainda não possibilita totalmente a recon-

ciliação entre as responsabilidades profissionais e

familiares. Mesmo quando os trabalhadores usam

a jornada de trabalho flexível, eles não conse-

guem aproveitar como deveriam devido às metas

de produção e às regras informais no local de

trabalho, que reduz essa flexibilidade. A cultura

organizacional também deve ser levada em conta,

pois ela usualmente contribui para a valoração do

comprometimento com o trabalho, disponibilidade

e eficácia, características do trabalhador padrão

(PAGÈS et al., 1990).

As pessoas gastam mais e mais tempo com

o trabalho. Para os trabalhadores do conhecimento,

a expectativa temporal não é limitada à média de

oito horas por dia, diferentemente dos demais

trabalhadores tradicionais, ela é muito maior.

Tempo de trabalho sem definição baseada em

horários predeterminados são particularmente

observadas em certas ocupações e setores, por

exemplo, para funções gerenciais (OLTRAMARI;

WEBER; GRISCI, 2009) e profissões na área de

engenharia e tecnologia da informação (ADAM,

2006; WIJK, 2006; ZERUBAVEL, 1993).

Para esses profissionais, o problema é a

grande carga de trabalho devido à demanda dos

clientes. Porém, o problema também acontece em

outras áreas do trabalho como os profissionais que

atuam no setor público, tais como professores,

profissionais da saúde e assistentes sociais.

Já com os operários de fábricas, onde há cada

vez mais pressão para maximizar a utilização

de bens de capital, também relatam tempos de

trabalho maiores do que o de não trabalho e,

consequentemente, fadiga extrema (RUBERY et

al., 2000). A necessidade de maior renda também

faz que com os trabalhadores alonguem seu

tempo de trabalho.

Profissionais de certas áreas têm aumentado

suas jornadas de trabalho com compromissos que

fogem do seu horário de trabalho, como para

atender clientes ou para concluir um trabalho em

casa. Nesse caso, o processo de autoexploração

(self-exploration) seja talvez mais atuante do

que a exploração externa. Isso transparece mais

claramente nos profissionais da área de TI, na

qual eles possuem uma considerável autonomia

quanto à jornada de trabalho e, ao mesmo tempo,

sentem pressão para cumprimento de metas, o

que Lehndorff (1997, p. 23) chama de “flexibilidade

ativa por meio da auto-organização”.

Para Sennett (1999), o trabalho flexível no

ambiente da corporação capitalista corrói o caráter

pessoal e também as relações de confiança e de

comprometimento que são necessárias na maioria

das interações sociais. Estudos sobre a dinâmica

do emprego nas organizações contemporâneas

na Europa, privada e pública, apontam para

problemas, como insegurança, estresse físico e

mental, relacionamento pessoal interrompido

e corrompido e relações sociais e familiares

fragmentadas (WEBSTER, 2004). Segundo Castel

(1998), a mudança nas relações de trabalho trouxe

mais angústia para um número cada vez maior de

trabalhadores, e está associada principalmente

com o medo de perder o emprego.

Trabalhadores altamente especializados

são mais vulneráveis à crescente pressão por

performance e inovação na forma de tempo de

trabalho excessivo, além disso, esses profissionais

encontram dificuldades em controlar o limite que

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separa o trabalho da vida pessoal. Essa situação

tem contribuído para o aumento do estresse na

última década do século XX nos países da OCDE

(ALASOINI, 2001).

Os aumentos da carga e da acumulação

de trabalho são apontados como as principais

razões para o aumento das horas trabalhadas,

principalmente naquelas áreas em que os traba-

lhadores não exercem qualquer controle sobre

o tempo (HOGARTH et al., 2000). Outra razão

para o aumento da jornada de trabalho informal

(não paga) é a necessidade de cumprir prazos, a

qual demonstra mais uma vez a falta de controle

do tempo por parte dos trabalhadores (HYMAN;

SUMMERS, 2004). Na pesquisa desenvolvida por

Hogarth et al. (2000), os resultados mostraram

que entre os trabalhadores em tempo integral, um

em cada nove trabalha até 60 horas semanais.

Conforme Fracalanza (2003) e Dal Rosso

(1997), para uma dada tecnologia e duração da

jornada de trabalho há um grau de intensidade do

trabalho considerado normal. Ocorre que quando o

alongamento extensivo da jornada de trabalho pas-

sa a ser vedado pelo Estado, os trabalhadores são

solicitados a trabalhar de forma mais intensiva, em

um ritmo mais acelerado do que aquele socialmente

habitual, com o que o número de bens produzidos

amplia-se para a mesma duração da jornada de

trabalho. O processo de intensificação do trabalho

é resultante do aperfeiçoamento tecnológico, e o

trabalhador precisa desenvolver um novo ritmo de

produção. A tecnologia desloca o valor do trabalho

humano em direção a uma produção tecnológica

automatizada, o sujeito se torna um mero disposi-

tivo que utiliza seu corpo a funcionalidades requeri-

das no sistema tecnológico (VIRILIO, 1999).

Gorz (2005) contribui para o entendimento

de como o processo de alongamento do tempo de

trabalho toma forma: o autor defende que é cada

vez mais difícil mensurar o desempenho individual

e utilizar técnicas baseadas no taylorismo para au-

mentar a produção, por isso a organização se utiliza

da artimanha conhecida como gestão por objeti-

vos, ou seja, são fixados objetivos que devem ser

cumpridos pelos trabalhadores em determinado

período. O autor também afirma que as organiza-

ções procuram desenvolver estratégias como ofe-

recer stock-options na tentativa de transformar

a relação assalariada em relação de associação. É

uma forma de demonstrar a importância da partici-

pação dos trabalhadores nos objetivos da empresa,

promovendo um maior comprometimento e, conse-

quentemente, uma maior carga de trabalho. Nesse

sentido, Gorz (2005, p, 23) destaca que “a pessoa

deve, para si mesma, tornar-se uma empresa; ela

deve se tornar, como força de trabalho, um capi-

tal fixo que exige ser continuamente reproduzido,

modernizado, alargado, valorizado.”

Castel (1998) destaca que neste novo con-

texto, o trabalho assalariado com tempo prede-

terminado não pode ser mais considerado uma

forma de integração, as organizações estão exigin-

do uma maior fidelidade e consequentemente

maior disponibilidade no que tange à carga horária

dedicada ao trabalho. O emprego passa a ser visto

como a própria vida para uma grande massa de

trabalhadores, e eles fazem uma simbiose entre

sua vida e a organização, criando um forte laço

de dependência do viver para com o trabalho

(GAULEJAC, 2007).

Como forma de resistência, muitos profissio-

nais de setores que exigem produtos com alta

intensidade de conhecimento, como os produtores

de trabalho imaterial, estão tendo problemas com

seus superiores no que tange ao gerenciamento do

tempo (ADAM, 2006). O conflito entre executivos e

profissionais sobre prazos e mensuração da qualidade

do produto é bastante presente em muitos negócios

e campos (JACOBS; GERSON, 2001). Se horários são

entendidos como a principal ferramenta simbólica

(mais do que funcional) de controle, torna-se claro

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por que os horários muitas vezes não são suficientes

para atenderem prazos e metas estabelecidas de

cima pra baixo, mas que nem por isso deixam de

ser seguidos. É também quase entendido o porquê

de os horários serem tão rejeitados. A dominação

gerencial ainda resiste, formal ou informalmente, em

muitas ocupações (PRASAD; PRASAD, 2000).

A literatura gerencial tradicional e sua visão

sobre organizações trazem fortes conotações de

linearidade (BURRELL, 2003). Esta é uma percepção

do mundo que reforça a hierarquia tradicional e

mantém a hegemonia do gerencialismo.

3 Organizações, Tempo e Informatização

Enquanto Cronos é o deus do tempo con-

tínuo, Kairos é o deus do tempo oportuno. As or-

ganizações estão fadadas a se adaptar às circuns-

tâncias, fruto das estripulias de Kairos, e ninguém

escapa a essas adaptações; quem comanda é

quem tem domínio sobre o capital, principalmente

o capital acumulado, que precisa achar meios de

se reproduzir avidamente. Os trabalhadores se en-

contram como fantoches, que devem se adaptar,

não devido a Kairos, mas devido à necessidade de

atender o capital, que está à mercê das oportu-

nidades. A informatização aumenta a velocidade

das transações e da quantidade de tarefas a serem

cumpridas, os prazos se tornam ferramentas de

controle simbólico. O tempo passa a ser relativo,

aleatório, fruto das condições dadas pela capaci-

dade intelectual e uso da informatização.

Na era da internet, as atividades rotineiras

estão se tornando mais e mais multitarefa. Muitas

coisas são feitas simultaneamente, enviar um e-

mail, participar de fóruns, bate-papos, tuitar e, oca-

sionalmente, fazer um trabalho acadêmico. Porém,

enquanto a tarefa diária no local de trabalho pode

de fato ser multivariada, o outro lado da moeda é

o enfoque organizacional/gerencial que pode ser

extremamente controlador. Nesse sentido,

os procedimentos informatizados podem também se

tornar cruéis, imprimindo sobre os indivíduos formas

de controle menos visíveis e, portanto, de grande

caráter manipulador e coercitivo, a maior parte dessas

formas, sem dúvida, proporcionada pelas tecnologias da

informação, ferramentas-chaves das realidades virtuais

(VERGARA; VIEIRA, 2005, p. 113).

Com o enfraquecimento do modelo de

produção baseado nas premissas taylorista/fordista,

caracterizado, em grande parte, pelo equilíbrio entre

a intensificação do trabalho, produ tividade e rentabi-

lidade, fortalece-se o mo delo ba seado na produção

flexível que é singularizado pela dependência do tra-

balho vivo principalmente aos ditames da organiza-

ção do trabalho, da comunicação e da integração.

Segundo Vergara e Vieira (2005, p. 113), “o

tempo é uma variável fundamental na mudança

de um estilo industrial de produção clássico para

outro de flexibilidade produtiva”.

Para Thompson (1998), a introdução de

novos meios de comunicação possibilitou novas

formas de ação e interação, aliadas aos novos

tipos de relacionamentos sociais. Nesse sentido,

o avanço da informatização traz consigo tanto

novos objetos (ciberespaço, realidade virtual etc.)

como novos modos de percepção e representação

(geometria fractal, representações da realidade via

computador etc.), que por si só requerem novos

modos de pensamento e cognição (VIRILIO, 1999).

A informatização e seu consequente es praia-

mento oferece novas configurações na vida pessoal

e nas formas de produção. Para Virilio (1999), o

avanço das TIs significa que o tempo tecnológico

está, cada vez mais, invadindo o tempo e espaço na

dimensão profissional e na vida particular, criando

novos ritmos, experiências e modos de interação

que estão transformando a sociedade.

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Castells (1999, p. 51) destaca que as novas

tecnologias da informação são continuamente

aperfeiçoadas devido ao seu uso generalizado, por

isso o autor entende que “as novas tecnologias da

informação não são simplesmente ferramentas a

serem aplicadas, mas processos a serem desen-

volvidos”. O avanço da TI permite uma acele ração

na troca e acesso de informações que antes es-

tavam apenas em seu campo de abrangência. O

autor conclui que a atual revolução tecnológica

não é devido à centralidade de conhecimento e

informação, mas da aplicação para a geração de

novos conhecimentos, resultando em um ciclo que

se realimenta cumulativamente pela inovação e

utilização (CASTELLS, 1999).

A capacidade intelectual passa a ser uma

ferramenta essencial da força de trabalho aplicada

à produção. Segundo Srour (1998), a Revolução

Digital é responsável por mudanças nos aspectos

relativos ao trabalho manual e repetitivo, como

também no trabalho profissional e qualificado,

responsável pela execução de rotinas padronizadas

e até no trabalho intelectual que lida com a

concepção criativa. Dessa forma, “a qualificação

do trabalho passa a ser generalizada, atingindo

todos os trabalhadores envolvidos em processos

informatizados” (SROUR, 1998, p. 19).

No contexto atual de trabalho, para atingir

o pleno potencial de produtividade, o trabalhador

deve ter certa autonomia. Uma condição que se

reconhece, portanto, é a de que “a tecnologia da

informação exige maior liberdade para trabalhadores

mais esclarecidos atingirem o pleno potencial da

produtividade prometida” (CASTELLS, 1999, p. 63).

Destaque-se que Rodrigues y Rodrigues

(2002), quando caracteriza a vantagem compe-

titiva, demonstra que o tempo é variável mais

importante na organização produtiva atual. Tempo

o qual é fundamental para constante atualização

tecnológica, fruto das transformações impostas

pela nova economia. Segundo Wijk (2006), a

informatização contribuiu para o fortalecimento

da estrutura temporal pela disponibilização da

informação na infraestrutura. O acesso rápido à

informação auxilia na redução do tempo ocioso,

aumentando o tempo de reação do sistema.

Também contribui para facilitar a coordenação

pelo fornecimento de uma plataforma sofisticada

do sistema de controle.

Nos modelos pós-fordistas predomina a fle-

xibilidade organizacional, aliada ao avanço da TI, no

qual a abordagem gerencial passou a ser orientada

de forma diferenciada quanto ao que torna as or-

ganizações mais eficazes. Surge, dessa forma, um

enfoque orientado para o envolvimento, destacan-

do a motivação intrínseca e a capacidade de au-

togerenciamento e controle dos trabalhadores e o

entendimento de que as pessoas têm ideias impor-

tantes sobre como os processos devem funcionar

(CALDWELL, 2005; BOWDITCH; BUONO, 2004).

A organização do trabalho passa por transforma-

ções; se antes era sustentada em cargos isolados,

agora passa a ser feita em atividades baseadas em

processos, com grupos multifuncionais responsabi-

lizando-se por segmentos ou por processos inteiros

e assumindo algumas funções de controle (REED,

1996). Como resultado, há a descentralização do

processo, a maior agregação do conhecimento dos

trabalhadores, o que viabiliza a participação em de-

cisões técnicas e no gerenciamento (SROUR, 1998).

Neste contexto, a hierarquia tradicional dá

lugar a estruturas mais equilibradas e horizon-

tais e o papel gerencial será motivar o compro-

metimento e o envolvimento dos trabalhadores

(FARIA, 2004), voltando-se mais para questões

relativas ao seu desenvolvimento, interação e

cooperação, receptividade a mudanças e inova-

ções. Os avanços em TIs possibilitaram a criação

de redes entre organizações produtivas concor-

rentes, que se aliam em caráter temporário para

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fazer frente a alguma circunstância favorável às

partes (CASTELLS, 1999). O efeito conjunto des-

sas trocas tem permitido melhor flexibilidade

para responder às demandas. Mas esse processo

repercute nas características do trabalho.

Em muitos mercados, as regras da com-

petência têm evoluído no mesmo sentido em que

varia as vantagens competitivas. O tempo de reação

às demandas precisa ser o mais rápido possível, as

empresas vivem a necessidade contínua de inovação

(BARBOSA; ZILBER; TOLEDO, 2009). Essa nova

configuração afeta a criatividade dos trabalhadores,

os conhecimentos e a capacidade de se qualificar,

que se convertem em ativos estratégicos. O trabalho

mental substitui a força física e aumenta o valor

agregado, fortalecendo-se a completa utilização

do trabalho humano nas empresas. As relações de

trabalho passam a ser mais flexíveis, influenciadas

pela capacitação técnica, pelo nível de produtividade

e pela capacidade de agregar valor de cada

trabalhador (SROUR, 1998).

Para Gorz (2005), a informatização trouxe

nova valoração para as formas de saber como a

experiência, o discernimento, a capacidade de

coordenação, de auto-organização e de comu-

ni cação. Dal Rosso (2008) defende que essa

transição traz novas implicações. O uso de

tecnologias de informação como computadores

e telefones, fixos ou portáteis, que cada vez mais

trazem novas possibilidades de interação, tendem

a modificar o padrão dos tempos de trabalho e de

não trabalho. Como afirma Gorz (2005, p. 21), “o

computador aparece como o instrumento universal,

universalmente acessível, por meio do qual todos os

saberes e todas as atividades podem, em princípio,

ser partilhados.” Outra implicação explanada por Dal

Rosso (2008) refere-se à porosidade do trabalho,

que diminui conforme a utilização de TIs. A gestão

baseada em um fluxo contínuo de informações

é consequência da informatização da indústria,

na qual o trabalhador deve estar atento para esse

fluxo, tendo de assumir sua condição como sujeito

do processo. “A comunicação e a cooperação são

partes integrantes da natureza do trabalho” (GORZ,

2005, p. 17), que por meio de uma rede sincroniza-

se com os demais em tempo integral para tornar o

resultado individual parte do coletivo. Esse processo

potencializa os resultados para a organização

em detrimento do resultado para a vida social do

trabalhador, que perde a noção de tempo e de

espaço dedicado ao lazer e o tempo dedicado à

realização das metas impostas pela organização.

Como afirma Gorz (2005, p. 22), “doravante, não nos

é mais possível saber a partir de quando estamos

‘do lado de fora’ do trabalho que somos chamados

a realizar”. Para Vasapollo (2003), a informatização

controla e desenvolve meios de potencializar a

acumulação flexível, um desses meios é a submissão

da subjetividade social aos avanços da TI e de

comunicação, que dominam o cenário atual para um

cenário que transgride o tempo de trabalho direto,

atingindo o tempo do viver social.

Neste sentido, Lazzarato e Negri (2001, p.

74) afirmam que

atividades ‘culturais, relacionais, informacionais, cog-

nitivas, educativas, ambientais’ e o ‘tempo liberado de

trabalho’ que se tornam os ‘objetos’ e os ‘sujeitos’ das

novas relações de exploração e de acumulação que a

revolução da informação organiza.

A informatização resulta em maior ganho

de lucratividade e aumento da competitividade

das organizações produtivas, mas, por outro

lado, traz efeitos nefastos para os trabalhadores,

como a desumanização, os impactos psicológicos

(depressão, solidão), a redução do nível de

emprego, a ansiedade da informação, o estresse,

as lesões por esforços repetitivos e a exclusão

digital (TURBAN; McLEAN; WETHERBE, 2004).

Em decorrência, encontram-se muitas reações

contrárias à tecnologia, inclusive rejeição, seja

explícita ou não.

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Considerações Finais

Este artigo teve como objetivo analisar o

comportamento organizacional com o avanço da

informatização, utilizando como elemento principal

o tempo.

As organizações passaram por transforma-

ções conforme a necessidade de sobrevivência e

de acumulação de capital. O tempo entra como

uma importante variável para mostrar a lógica de

reprodução e manutenção do sistema em que as

organizações se proliferam.

O trabalhador, enquanto instrumento utili-

zado na produção de valor, surge como apêndice,

refém dos prazos cada vez mais curtos para a

realização das tarefas. Cada segundo deve ser

dedicado ao trabalho, pois caso contrário não

haverá trabalho, ou seja, devido ao medo de

perder o emprego ou a promoção, o trabalhador

se dedica totalmente aos ditames do tempo

controlado pelas organizações.

A informatização acelerada a partir do

final do século XX foi fruto das necessidades de

adaptação às demandas de mercado. Sua utili-

zação foi generalizada para todos os processos

organizacionais, tornando-se imprescindível para

a manutenção da competitividade. O tempo pas-

sa a ser mais acelerado, decisões são tomadas

instantaneamente e afetam todos os envolvidos que

precisam se adaptar para sobreviver ao trabalho.

O tempo cronológico e linear é substituído

por momentos kairóticos, no qual há diversas

situações acontecendo e afetando o mesmo

evento o tempo todo. Não há mais uma divisão

clara de horários preestabelecidos entre trabalho

e não trabalho. As organizações atuam sem tempo

de descanso, é preciso vencer todas as etapas a

todo o momento.

Ao trabalhador sobra cada vez menos tempo

de não trabalho, cada minuto é dedicado a resolver

ou criar, conforme a demanda da organização.

O tempo organizacional está multifacetado, a

sobrevivência depende da destruição paulatina

do trabalhador, que sem tempo para viver, vira

autômato, refém do sistema informatizado.

• Recebido em: 16/08/2012

• Aprovado em: 01/07/2013

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Governança corporativa: análise em uma cooperativa de crédito rural com interação solidáriaCorporate governance: analysis in a rural credit cooperative with

partnership interaction

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Governança corporativa: análise em uma cooperativa de crédito rural com interação solidáriaCorporate governance: analysis in a rural credit cooperative with partnership interaction

Gilmar Ribeiro de Mello1

Silvania Pizzatto Schiavini2

Resumo

Este estudo tem como tema a Governança Corporativa nas cooperativas de crédito

rural, delimitado na atuação dos Conselhos Administrativos, Fiscal, Diretoria

Executiva e Colaboradores quanto ao desempenho de suas funções por meio das

boas práticas de Governança. Questiona se os diretores, colaboradores e conselheiros

fiscais, da Cresol Coronel Vivida, Paraná, detêm suficiente conhecimento sobre as

boas práticas de governança a fim de cumprir com suas responsabilidades perante

o quadro social e investiga o seu nível de conhecimento. A pesquisa foi feita com

vinte e três funcionários da cooperativa, com entrevistas individuais, em março

de 2012. Os resultados indicam um nível de conhecimento das funções a serem

desempenhadas em cada setor da cooperativa de 52,38%, por parte dos diretores;

de 51,00%, pelos conselheiros e de 38,93%, por parte dos funcionários.

Palavras-chave: Governança Corporativa. Conselho Administrativo. Cresol.

Abstract

This study is subject to Corporate Governance in rural credit cooperatives, bounded

in the performance of Boards of Directors, Fiscal Executive Directors and employees

regarding the performance of its functions through good governance practices.

Questions whether the directors, employees and Fiscal Council of Cresol Coronel

Vivida, Paraná, hold enough knowledge on good governance practices in order

to fulfill their responsibilities to the social context and investigates their level of

knowledge. Displays field research with twenty three employees of the cooperative,

with individual interviews in March 2012. The results indicate a level of knowledge of

the functions to be performed in each sector of the cooperative of 52.38% by the

directors; 51.00%, the counselors, and 38.93%, for the employees.

Keywords: Corporate Governance. Board. Cresol.

1 Doutor em Ciências Contábeis pela FEA/USP. Professor Adjunto do Centro de Ciências So ciais Aplicadas e do Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, Campus de Francisco Beltrão. E-mail: [email protected].

2 Especialista em Gestão do Cooperativismo Solidário, da Univer si da de Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste, Campus de Francisco Beltrão.

E-mail: [email protected].

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Introdução

Na história da sociedade, a economia sempre

configurou como seria a estrutura da sociedade,

seja feudal, manufatura ou o capitalismo, de base

de trocas ou de compra. Assim, entende-se que a

sociedade está sempre regida pela organização

de base estrutural econômica e de relações

interpessoais (MARTINEZ FANDIÑO et al., 2007).

O sistema financeiro é um dos segmentos

mais globalizados no mundo e as cooperativas

de crédito fazem parte desse sistema capitalista,

em que a mais valia é meta principal para tantas

instituições. Os sistemas de crédito com economia

solidária fazem parte de um cenário nacional

desde 1980 e, atualmente, apresentam um acele-

rado crescimento devido a sua atuação social

diante das populações de menor poder aquisitivo,

empreendedores de pequeno porte e agricultores

familiares. Este último, objeto da pesquisa e que tem

como necessidade superar problemas de acesso

ao crédito, serviços bancários e microfinanças

(PRAXEDES, 2009).

Com um grande potencial na comer cia lização

de produtos e prestação de serviços, as cooperativas

de crédito rural atuam como agentes financeiros

locais que buscam desenvolvimento sustentável e a

permanência do agricultor no campo com qualidade

de vida e sustentabilidade financeira.

Nesse contexto, apresenta-se o tema Go-

ver nança Corporativa nas cooperativas de crédito

rural e, diante da necessidade de aprimorar o

conhecimento, o estudo é direcionado a um en-

foque específico, seja a atuação dos Conselhos

Administrativos, Fiscal, Diretoria Executiva e Cola-

boradores quanto ao desempenho de suas funções

por meio das boas práticas de governança.

A instituição de melhores práticas de Go-

vernança Corporativa pelo Instituto Brasileiro

Governança Corporativa (IBGC) e pelo Banco

Central do Brasil (BCB), objetiva proteger os

sócios das corporações dos malefícios que alguns

administradores podem causar, tais como a falta

de ética, a conivência e a irresponsabilidade.

Tendo como base este propósito, é ques-

tionado se os diretores, os funcionários e os con-

selheiros fiscais detêm suficiente conhecimento

sobre as boas práticas de governança a fim de

cumprir com suas responsabilidades perante o

quadro social.

Buscando respostas a isso, este artigo pre-

tende verificar o nível de conhecimento dos diretores,

funcionários e conselheiros fiscais da cooperativa

sobre as funções do Conselho Administrativo, da

Diretoria Executiva e do Con selho Fiscal.

De modo específico, apresentam-se descri-

ções sobre as funções dos setores da cooperativa

e investiga-se o conhecimento das mesmas por

parte dos funcionários.

Os sistemas de crédito

com economia solidária

apresentam um acelerado

crescimento devido a sua

atuação social diante das

populações de menor poder

aquisitivo, empreendedores

de pequeno porte e

agricultores familiares.

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Ps Dimensão Conceito

P1 PropriedadeRefere-se à pulverização da propriedade e a proliferação de sociedades anônimas

negociadas em bolsas de valores.

P2 PrincípiosBase da ética da governança, são universais e estão presentes nos códigos de

boas práticas.

P3 Propósitos Auxiliam a contribuir para o máximo retorno total dos investidores.

P4 PoderA estrutura de poder é definida pelos proprietários, separando em funções e

responsabilidades dos Conselhos e Executivos.

P5 ProcessosDefinem relações funcionais entre Conselhos de Administração, Direção Executiva e

sistema de auditoria, homologando e monitorando as estratégias corporativas.

P6 PráticasReferem-se à gestão do conflito de agência, riscos de desvio de conduta a idoneidade

dos gestores.

P7 PerenidadeDefine o que é a continuidade do negócio e sua permanência saudável na cadeia de

negócios.

QUADRO 1 – Conceito das dimensões de governança corporativa

FONTE: Andrade (2007)

1 Revisão de Literatura

1.1 Conceitos Sobre Governança Corporativa

O tema Governança Corporativa traz conceitos sobre o papel da Governança no interior das organiza-

ções, demonstrando que por meio de princípios e boas práticas é possível criar um ambiente participativo, des-

centralizado, com atuação horizontal, garantindo a viabilidade eco nômica e financeira da cooperativa.

Várias são as definições sobre o tema Go-vernança Corporativa. Segundo publicação do IBGC, entende-

-se que:

Governança Corporativa é o sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas,

envolvendo os relacionamentos entre proprietários, Conselho de Administração, Diretoria e órgãos de controle.

As boas práticas de Governança Corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando

interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso a recursos e

contribuindo para sua longevidade (IBGC, 2009, p. 19).

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM, 2002, p. 1) define o termo como “o conjunto de práticas que tem

por finalidade otimizar o desempenho de uma companhia ao proteger todas as partes interessadas, tais como

investidores, empregados e credores, facilitando o acesso ao capital”.

Andrade (2007) conceitua as diversas dimensões da Governança Corporativa, sintetizando-as em 7 Ps,

conforme dados no QUADRO 1.

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1.2 Modelos de Governança Corporativa

Segundo Andrade (2007), a literatura aca-

dêmica identifica quatro modelos de Governança

Corporativa:

— modelo financeiro, focado no retorno

financeiro dos investidores;

— modelo dos públicos relevantes

(stakeholders), que preconiza a res-

pon sabilidade social;

— modelo político, cuja ênfase é a

questão institucional;

— modelo de procuradoria, que valoriza

o poder de os gerentes gerarem

valores tangíveis e intangíveis.

Cada um desses modelos enfatiza com

maior rigor algumas características da Governança

Corporativa, sem, contudo, deixar de lado variáveis

destacadas nos outros. No caso deste estudo o

foco é no modelo dos públicos relevantes.

Segundo Steinberg (2003, p. 18 apud

MACEDO; MELLO; TAVARES FILHO, 2006, p. 4),

ao se referir à redução de riscos e aumento na

transparência da gestão:

É um engano imaginar que praticar boa governança

implica quase somente acatar regulamentos. Governança

tem tudo a ver também com qualidade da atitude e

escala de valores no mais puro sentido humano. Daí

alguns considerarem que a boa governança depende de

alinhar o pensamento entre acionistas, controladores e

stakeholders.

Além disso, afirmam Macedo, Mello e Tavares

Filho (2006, p. 4), que:

A governança corporativa, ao buscar atingir seus obje-

tivos, tendo como princípios basilares: a transparência

(disclosure); a equidade (fairness); a prestação de contas

(accountability); o cumprimento das leis (compliance); e

a ética (ethics), proporcionará ao investidor uma maior

segurança, a qual repercutirá na garantia de retornos

aos investimentos efetuados e uma menor percepção de

risco, tendo em vista que a incerteza atrelada ao investi-

mento figura-se menor.

Os sistemas de cooperativas de crédito

Cresol não são diferentes dos conceitos anterior-

mente citados: também devem cumprir normas e

segmentos elaborados pelo BC, onde os princípios

basilares, como transparência, equidade e ética,

serão os principais pilares para se desenvolver as

melhores práticas de Governança. Contudo, deve-se

pensar na construção de diretrizes de boas práti-

cas de Governança para qualquer setor ou grupo

de organizações, observando suas características

próprias, nas suas forças e fraquezas, nas relações

entre cooperados e diretores e funcionários.

1.3 Governança Corporativa em

Cooperativas de Crédito

Observando a crise ocorrida nos grandes

mercados mundiais, verifica-se o agravamento

como consequência da fragilidade na construção de

processos e procedimentos de análises e avaliações

de riscos e a tomada de decisões. Também

podem ser identificados fatores que mostram

problemas na condução da boa governança, como

pouca participação efetiva dos conselheiros no

monitoramento da gestão financeira e demais ações.

A percepção deste quadro pelo Banco Cen-

tral do Brasil promoveu a instituição do projeto

Governança Cooperativa, cujo objetivo foi “estimu-

lar e induzir as cooperativas de crédito brasileiras

a adotarem boas práticas de governança”, desen-

volvendo-se paralelo ao incentivo acerca da temáti-

ca governança aplicada ao campo corporativo

(VENTURA; FONTES FILHO; SOARES, 2009, p. 11).

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Dar formação cooperativista ao quadro

social contribui para preparar futuros administradores

e conselheiros ficais qualificados para planejar

corretamente, buscar o autodesenvolvimento e

dar continuidade às ações institucionais.

Segundo Pinheiro (2008, p. 7), as coopera-

tivas de crédito,

São instituições financeiras constituídas sob a forma de

sociedade cooperativa, tendo por objeto a prestação de

serviços financeiros aos associados, como concessão de

crédito, captação de depósitos à vista e a prazo, cheques,

prestação de serviços de cobrança, de custódia, de

recebimentos e pagamentos por conta de terceiros

sob convênio com instituições financeiras públicas e

privadas e de correspondente no País, além de outras

operações específicas e atribuições estabelecidas na

legislação em vigor.

Grande parte das cooperativas atuais foi cons-

tituída na década de 1990, em razão da estabilidade

vivida pela economia nacional e com o respaldo

do marco legal. A redução nas taxas inflacionárias

e a queda das receitas com flutuação permitiu a

reestruturação do modelo de negócios das insti-

tuições bancárias, número de profissionais ideal,

otimização da quantidade e localização geográfica

de seus pontos de atendimento, com abertura ampla

de espaço para crescimento das cooperativas de

crédito (SOARES; BALLIANA, 2009).

Em sua atuação, no ano de 2006, o coope-

rativismo de crédito no Brasil respondia por 2,26%

das operações de crédito realizadas no âmbito

da área bancária do Sistema Financeiro Nacional,

atendendo a mais de três milhões de pessoas

(PINHEIRO, 2008).

As instituições que compõem os sistemas

financeiros nacionais têm a recomendação do

Comitê de Supervisão Bancária da Basileia, órgão

que congrega autoridades de supervisão bancária

e presidentes dos bancos centrais de países

desenvolvidos, de utilizar princípios essenciais para

uma supervisão bancária eficaz (BRASIL, 2009).

Além disso, a complexidade das relações

contratuais entre os agentes que compõe uma so-

ciedade cooperativa, seja do quadro de associa-

dos, do Conselho de Administração, do Conselho

Fiscal ou do quadro de administradores, sugere a

dificuldade de convergências diante das diferentes

percepções e pontos de vista.

Soares e Balliana (2009, p. 28) indicam

a utilização das práticas de governança como

elemento de controle organizacional e a necessidade

de que todos os atores envolvidos participem de

modo efetivo na fiscalização e no acompanhamento

dos atos de gestão dos dirigentes executivos. Os

autores referem que, de janeiro de 2005 a março de

2008, “dos 38 processos administrativos punitivos

instaurados pelo Banco Central contra cooperativas

de crédito, todos continham a ‘má gestão’ como

item de acusação”.

Para tanto, a adoção de padrões de gover-

nança corporativa pelas cooperativas de crédito

se torna primordial, considerando a perspectiva

de expansão deste setor no país e entendendo a

complexidade das relações contratuais existentes

neste ambiente institucional. Esses padrões de

governança viriam ao encontro das necessidades

de estabelecimento de regras e valores norteadores

das ações organizacionais, para minimizar o

efeito dos conflitos existentes entre os interesses

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individuais – originários da atividade exercida

por cada cooperado (associado/cotista) – e os

interesses da organização (OLIVEIRA, 2004).

A educação é peça chave nesse contexto, em

que dar formação cooperativista ao quadro social

contribui para preparar futuros administradores

e conselheiros ficais qualificados para planejar

corretamente, buscar o autodesenvolvimento e

dar continuidade as ações institucionais. É de

suma importância a renovação dos membros dos

Conselhos de Administração e Fiscal estimulando

a criação de novas lideranças.

Na FIG. 1, a seguir, pode-se observar como o

Banco Central apresenta a estrutura de gestão nas

cooperativas de crédito.

eficácia possível, garantindo a competitividade da

organização e a segurança dos proprietários.

1.4 Atribuições dos Conselhos Administrativo,

Fiscal e Diretoria Executiva

1.4.1 Funções do Conselho Administrativo

Definindo-se, primeiramente, o Conselho

Administrativo, segundo o IBGC (2009, p. 29), trata-

se do “Guardião do objeto social e do sistema de

governança. É ele que decide os rumos do negócio,

conforme o melhor interesse da organização”.

Ao Conselho de Administração é delegada a

missão de proteger e valorizar a organização, pro-

movendo a otimização do retorno do investimento

no longo prazo e de equilibrar os anseios das par-

tes interessadas, quais sejam, aqueles que detêm

ações ou quotas de determinada organização e

demais pessoas, entidades ou sistemas que afetam

ou são afetados pelas atividades de determinada

organização (IBGC, 2009).

A competência do Conselho de Adminis-

tração da Governança Corporativa é determinada

pelo conteúdo do art. 142, da Lei nº 6.404, de 15 de

dezembro de 1976, na íntegra:

Art. 142. Compete ao Conselho de Administração:

I – fixar a orientação geral dos negócios da companhia;

II – eleger e destituir os diretores da companhia e fixar-lhes as

atribuições, observado o que a respeito dispuser o estatuto;

III – fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer

tempo, os livros e papéis da companhia, solicitar

informações sobre contratos celebrados ou em via de

celebração, e quaisquer outros atos;

IV – convocar a assembleia-geral quando julgar conveni-

ente, ou no caso do artigo 132;

FIGURA 1 – Governança das organizações

Na FIG. 1, pode-se observar como a dire toria

executiva está interligando as estruturas operacionais

e administrativas. O corpo executivo é peça-chave;

ele implementa as ações que os cooperados

tomaram em assembleia com a maior eficiência e

Conselho de

Admistração

Áreas funcionais

e operações

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V – manifestar-se sobre o relatório da administração e as

contas da diretoria;

VI – manifestar-se previamente sobre atos ou contratos,

quando o estatuto assim o exigir;

VII – deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a

emissão de ações ou de bônus de subscrição;

VIII – autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a

alienação de bens do ativo não circulante, a constituição de

ônus reais e a prestação de garantias a obrigações de terceiros;

IX – escolher e destituir os auditores independentes, se

houver.

§ 1º Serão arquivadas no registro do comércio e

publicadas as atas das reuniões do Conselho de

Administração que contiverem deliberação destinada a

produzir efeitos perante terceiros. 

§ 2º A escolha e a destituição do auditor independente

ficará sujeita a veto, devidamente fundamentado, dos

conselheiros eleitos na forma do art. 141, § 4º, se houver

(BRASIL, 1976).

Citada pelo Banco Central (BRASIL, 2009,

p. 44), a avaliação realizada por Hung (1998) sobre

quais papéis cabe ao Conselho de Administração

desempenhar, sintetizando-os em seis papéis

distintos: ligação, coordenação, controle, estra-

tégia, conformidade e apoio.

Com base na avaliação e sugestões de Hung

(1998), Cornforth (2004) analisou os paradoxos

da utilização desses papéis e seu desempenho

pelo Conselho de Administração na Governança

Corporativa, afirmando a presença de uma pers-

pectiva democrática no papel e nas práticas de

tais conselhos, considerando que os seus membros

são eleitos pelos associados (BRASIL, 2009).

1.4.2 Funções da Diretoria Executiva

Para explicitar as funções da diretoria

exe cutiva, Brasil (2009, p. 50) informa sobre

a convergência a qual chegaram estudos

realizados por diferentes organizações no Brasil

e no mundo – Organização para a Cooperação

e Desenvolvimento Econômico (OCDE); o Bank

for International Settlementes (BIS); o Instituto

Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC); e

a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), sobre

modelos e códigos de melhores práticas de gover-

nança – com o objetivo de identificar tendências

em diferentes contextos, para servir de fundamento

para análise nas cooperativas.

De acordo com o Banco Central do Brasil, as

recomendações são as seguintes:

— o IBGC recomenda que as atribuições

do presidente do conselho de adminis-

tração sejam diversas daquelas do ex-

ecutivo principal, evitando a concen-

tração de poder em prejuízo da

supervisão adequada da gestão;

— a CVM recomenda que o Conselho de

Administração atue na proteção do

patrimônio da companhia, buscando

a consecução de seu objeto social e

oriente a Diretoria, de modo a maxi-

mizar o retorno do investimento e

agregando valor ao empreendimento;

— o BIS recomenda que o Conselho de

Adminis tração aprove a estratégia geral do

banco, supervisione a Diretoria Executiva

na implementação das estratégias e avalie

o desempenho da gestão;

— a OCDE recomenda que a Governança

Corporativa das sociedades assegure

a gestão estratégica da empresa, o

acompanhamento e a fiscalização efi-

cazes da gestão, via órgão de adminis-

tração, bem como a responsabiliza di-

ante da empresa e de seus acionistas.

(BRASIL, 2009)

A intenção comum é que Conselho de

Administração e Diretoria Executiva exerçam dife-

rentes atribuições, cabendo-lhe composição e

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32

funções específicas, a fim de minimizar conflitos de

interesse e que sejam atribuídas responsabilidades

singulares para a condução dos negócios corpo-

rativos (BRASIL, 2009).

Na Lei nº 6.404/1974, Seção IV, Deveres

e Responsabilidades, os artigos 153 a 158 com-

preendem as funções da Diretoria Executiva, des-

tacando-se dever de diligência; finalidade das

atribuições e desvio de poder; dever de lealdade;

conflito de interesses; dever de infor mar; respon-

sabilidade dos administradores (BRASIL, 1976).

Segundo o IBGC (2009), compete ao

diretor-presidente garantir que sejam prestadas aos

stakeholders as informações de seu interesse, bem

como daquelas obrigatórias por lei ou regulamento,

tão logo estejam disponíveis. A comunicação deve

primar pela clareza, prevalecendo a substância sobre

a forma, mediante busca pela Diretoria de uma

linguagem acessível ao público-alvo em questão.

1.4.3 Funções do Conselho Fiscal

De acordo com Tosini e Bastos (2009), o

Conselho Fiscal é subordinado apenas à Assembleia

Geral e é totalmente independente do Conselho

Administrativo e Diretoria Executiva, não sendo um

órgão que se atém somente a assuntos de natureza

contábil, como balanços e demonstrações.

É função do Conselho Fiscal: “fiscalizar os

atos dos administradores e verificar o cumprimen-

to de seus deveres legais e estatutários”. São com-

preendidos como atos dos administradores todos

os atos de gestão praticados pelo administrador,

delegação de autoridade e de qualquer emprega-

do da cooperativa (TOSINI; BASTOS, 2009, p. 163).

As funções do Conselho Fiscal da Gover-

nança Corporativa constam na Lei nº 6.404/1976,

art. 163, com o seguinte teor:

Art. 163. Compete ao Conselho Fiscal:

I - fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos

administradores e verificar o cumprimento dos seus

deveres legais e estatutários (Redação dada pela Lei nº

10.303, de 2001);

II - opinar sobre o relatório anual da administração, fa-

zendo constar do seu parecer às informações comple-

mentares que julgar necessárias ou úteis à deliberação

da Assembleia Geral;

III - opinar sobre as propostas dos órgãos da adminis-

tração, a serem submetidas à Assembleia Geral, relativas

a modificação do capital social, emissão de debêntures

ou bônus de subscrição, planos de investimento ou orça-

mentos de capital, distribuição de dividendos, transfor-

mação, incorporação, fusão ou cisão;

IV - denunciar, por qualquer de seus membros, aos

órgãos de administração e, se estes não tomarem as

providências necessárias para a proteção dos interesses

da companhia, à Assembleia Geral, os erros, fraudes ou

crimes que descobrirem, e sugerir providências úteis à

companhia (Redação dada pela Lei nº 10.303, de 2001);

V - convocar a Assembleia Geral ordinária, se os órgãos

da administração retardarem por mais de 1 (um) mês essa

convocação, e a extraordinária, sempre que ocorrerem

motivos graves ou urgentes, incluindo na agenda das as-

sembleias as matérias que considerarem necessárias;

VI - analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e

demais demonstrações financeiras elaboradas periodi-

camente pela companhia;

VII - examinar as demonstrações financeiras do exercício

social e sobre elas opinar;

VIII - exercer essas atribuições, durante a liquidação,

tendo em vista as disposições especiais que a regulam

(BRASIL, 1976).

Constam no Código das melhores práticas

de Governança Corporativa os mesmos itens do

artigo citado, em que o Conselho Fiscal deve ser

visto como um controle independente para os

sócios com o propósito de agregar valor para

a organização, salientando que os conselheiros

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fiscais possuem poder de atuação individual,

mesmo o órgão sendo colegiado (IBGC, 2009).

Quanto maior for o campo de fiscalização

do Conselho Fiscal, melhor atenderá às responsa-

bilidades legais que lhe são impostas, que responde

em caso de má conduta, conforme disposto no Art.

1.070 do Código Civil: “As atribuições e poderes

conferidos pela lei ao Conselho Fiscal não podem

ser outorgados a outro órgão da sociedade, e a res-

ponsabilidade de seus membros obedece à regra

que define a dos administradores” (BRASIL, 2002).

1.5 Cresol: Características e Evolução

As cooperativas foram criadas a partir do

Fundo de Crédito Rotativo (FCR), financiado pela

cooperação internacional (Misereor), na década de

1980 e início de 1990, no Sudoeste do Paraná, por

um conselho de entidades populares da região.

O Sistema Cresol de Cooperativas de Crédito

Rural com Interação Solidária advém da luta

dos agricultores familiares por acesso ao crédito

e por uma vida digna e sustentável no campo.

Atua mediante estruturas descentralizadas, com

forma de rede e unidades pequenas, articuladas

entre si e com a comunidade local e sob a forma

de interação solidária, de modo que mesmo

sendo independentes e possuindo suas próprias

regras de conduta, as cooperativas são solidárias

entre si, auxiliando-se mutuamente, com apoio

financeiro, técnico e social, confirmando a ideia de

responsabilidade compartilhada entre cooperados

e dirigentes, que devem acompanhar e ter controle

sobre seu funcionamento (CRESOL, 2012).

A Cresol define como missão “promover a

inclusão social da Agricultura Familiar por meio do

acesso ao crédito, da poupança e da apropriação do

conhecimento, visando o desenvolvimento local e a

sustentabilidade institucional” (CRESOL, 2012, p. 1).

A visão consiste em “Crescer juntamente

com nosso quadro social para que possamos

atender o maior número de famílias agriculto-

ras, oferecendo crédito e acesso a serviços fi-

nanceiros na busca do desenvolvimento social”

(CRESOL, 2012, p. 1).

Quanto aos valores, define-os na exce lên-

cia, ética, honestidade, transparência e responsa-

bilidade social. Seus princípios incluem a interação

solidária, formação, capacitação e organização

dos associados, descentralização das decisões,

crescimento horizontal, democratização e profis-

sio nalização do crédito, desenvolvimento social e

sustentabilidade (CRESOL, 2012, p. 1).

1.5.1 Histórico da Cresol Coronel Vivida

A Cresol Coronel Vivida foi constituída em

27 de julho de 1997. Por meio de encontros, debates

coordenados pelo Sindicato dos Trabalhadores

Rurais e a Secretaria Municipal de Agricultura,

alguns agricultores se reuniram para discutir a

criação de uma cooperativa de crédito.

Somente após a aprovação do Banco Central,

iniciou suas atividades em 2 de janeiro de 1998,

com 20 associados fundadores e destes já foram

escolhidos para representarem a primeira chapa do

conselho de administração, que foram eleitos para os

três primeiros anos, tendo como principal objetivo:

Propiciar, através da mutualidade, assistência financeira

aos associados em suas necessidades pessoais e

atividades específicas, com finalidade de melhoria

de condições de vida sua e de sua família e fomentar

a produção e a produtividade rural, bem como sua

circulação e industrialização (CRESOL, 2005, p. 1).

Conforme o primeiro Regimento Interno,

redigido em 1998, para exercer cargo de admi-

nistração na cooperativa é preciso ser agricultor

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ou filho de agricultor, cumprir as normas estatu-

tárias e regimentares. Ela será administrada por

um presidente, um vice-presidente, um secretário

e por três conselheiros, que poderão permanecer

durante três anos, sendo obrigatória a renovação

de no mínimo um terço de seus componentes a

cada eleição, não podendo ser parentes entre si

até segundo grau em linha direta ou colateral.

Segundo o Regimento Interno de 2008 da

cooperativa, Cap. IV, Art. 10 - A Cresol não terá

executivos contratados ou mandatários por pro-

curação, sendo esta uma atribuição dos diretores

eleitos em assembleias, portanto, autorizados a

responder pela cooperativa dentro do que deter-

mina a lei, o estatuto e este regimento.

O Art. 11 - Os diretores executivos liberados

podem ser: o presidente, o vice-presidente, o se-

cretário, ou outro membro eleito na assembleia

para compor o conselho de administração.

O Art. 12 - Cabe ao conselho de Administração

aprovar a liberação dos diretores executivos, bem

como definir detalhadamente um plano de metas e

responsabilidades de cada diretor executivo liberado.

Os primeiros dois mandatos do conselho de

administração foram eleitos por meio de chapas

pré-definidas, em 2003 foram escolhidos 20

nomes que se adequavam às exigências estatu-

tárias e os mais votados, de ordem do maior para

o menor, preencheram os cargos de presidente,

vice-presidente, secretário e demais conselheiros.

De 2003 em diante, as chapas foram montadas

previamente por meio das pré-assembleias realizadas

nas comunidades do interior, pois a sucessão de car-

gos se faz necessária para a preparação dos mem-

bros que irão participar do conselho.

A atual presidente da cooperativa está no

cargo a dois mandatos, é formada no curso de

Bacharel em Administração Rural e Especialização

em Desenvolvimento Rural, administra a coope-

rativa de Coronel Vivida e os Postos de Atendimento

de Pato Branco e Mariópolis com 1.850 associados

no total, e um patrimônio de quatro milhões de reais.

2 Metodologia

Como procedimento metodológico, definiu-

-se a pesquisa exploratória, que tem como objetivo,

“desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e

ideias, tendo em vista a formulação de problemas

mais precisos ou hipóteses mais pesquisáveis para

estudos posteriores” (GIL, 1999, p. 43).

Com a sua realização, a pesquisa exploratória

permite ao pesquisador conhecer novas fontes

de informação, que podem ser encontradas por

meio de levantamento bibliográfico e entrevistas

com profissionais que atuam na área do estudo

(SANTOS, 2000).

Foi realizada pesquisa de campo junto aos

vinte e três funcionários da Cresol Coronel Vivida,

sendo 3 diretores, 9 conselheiros e 11 funcionários.

Como instrumento de coleta de dados foi

utilizado um questionário de perguntas fechadas

de múltipla escolha, extraídas da Lei nº 6.404/1976,

do BC (2009, p. 50) e do IBGC (2009), os quais

regulamentam as funções dos Conselhos e

Diretoria Executiva, com coleta de dados realizada

em março de 2012. Os dados coletados foram

ordenados e processados e são apresentados em

forma de gráficos e tabelas, com consequente

interpretação dos resultados.

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Cargos Quantidade

Diretor presidente 1

Diretor secretário 1

Vice-presidente 1

Conselheiros 9

Analista de crédito 4

Técnico agrícola 1

Caixa 3

Caixa de PAC 1

Caixa operacional 1

Analista de produtos e serviços 1

TABELA 1 – Cargo dos entrevistados

Sexo Quantidade

Feminino 13

Masculino 10

TABELA 3 – Características dos entrevistados quanto

ao sexo

Estado civil Quantidade

Casado 16

Solteiro 5

Sem resposta 2

TABELA 5 – Características dos entrevistados quanto ao

estado civil

3 Apresentação e Análise dos Resultados

Quanto aos cargos dos entrevistados, são

citados na TAB. 1.

Cargos Tempo (média em anos)

Diretoria 8,6

Conselheiros 5,2

Funcionários 3,5

TABELA 2 – Tempo médio de cargo dos entrevistados

Conforme os dados da TAB. 1, são 3 os

cargos de direção, 9 os cargos de conselheiros e

11 os cargos de funcionários, sendo que 4 deles

atuam como analistas de crédito, 1 técnico agrícola,

3 caixas, 1 caixa de PAC, 1 caixa operacional e 1

analista de produtos e serviços.

O tempo médio de atuação dos entrevis-

tados é apresentado na TAB. 2.

Na TAB. 3, destacam-se as características

dos entrevistados quanto ao sexo, sendo 13 femi-

ninos e 10 masculinos.

Com maior incidência para a faixa etária

entre 36 a 45 anos (11), seguida de 26 a 35 anos (6)

e dentre 18 e 25 anos (5).

Faixa Etária Quantidade

De 18 a 25 anos 5

De 26 a 35 anos 6

De 36 a 45 anos 11

De 46 a 55 anos 1

TABELA 4 – Características dos entrevistados quanto à

faixa etária

O estado civil dos entrevistados é apresentado

em sua incidência na TAB. 5, sendo que a maioria

dos entrevistados é casada, com 16 respostas; 5 são

solteiros; 2 não responderam à questão.

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36

Formação Escolar Quantidade

Ensino Médio 6

Superior 7

Pós-graduado 3

Sem resposta 7

TABELA 6 – Características dos entrevistados quanto à formação

Das diversas funções elencadas no ques tionário, buscou-se saber dos entrevistados quais são as

competências de cada setor da cooperativa de crédito. Na apresentação dos resultados, relacionam-se as

funções específicas de cada setor e as incidências das respostas obtidas. Assim, para as funções do Conselho

Administrativo, os dados são mostrados na TAB. 7.

Funções do Conselho AdministrativoRespostas dos

diretoresRespostas dos conselheiros

Respostas dos funcionários

Autorizar a prestação de garantias a obrigações de terceiros.  2 7 3

Manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria.

2 5 6

Proteger e valorizar a cooperativa. 3 8 8

Autorizar a alienação de bens do ativo não circulante. 1 6 1

Promover a otimização do retorno do investimento no longo prazo.

1 4 1

Equilibrar os anseios das partes interessadas. 1 2 1

Escolher e destituir os auditores independentes. 0 3 3

Fixar a orientação geral dos negócios da cooperativa. 1 6 0

Fiscalizar a gestão dos diretores. 0 0 5

Eleger e destituir os diretores da cooperativa e fixar-lhes as atribuições.

2 3 6

Examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da cooperativa. 0 4 3

Autorizar a constituição de ônus reais. 2 1 0

Deliberar, sobre a emissão de ações ou de bônus de subscrição. 1 2 3

Manifestar-se previamente sobre atos ou contratos. 1 2 1

Convocar a assembleia geral quando conveniente. 1 2 7

Solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração.

2 2 2

Exercer os papéis de ligação, coordenação, controle, estratégia, conformidade e apoio.

0 3 7

Total de respostas 20 60 57

TABELA 7 – Respostas sobre a função do Conselho Administrativo

Quanto à formação (TAB. 6), a maioria dos entrevistados é graduada, embora ainda tenha um número

significativo de respostas citando o ensino médio; do total de entrevistas, 7 não responderam a questão.

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TABELA 8 – Respostas sobre a função da Diretoria Executiva

Funções da Diretoria ExecutivaRespostas dos

diretoresRespostas dos conselheiros

Respostas dos funcionários

Dever de diligência. 1 5 2

Dever de finalidade das atribuições. 2 7 7

Responsabilidade quanto ao desvio de poder. 0 3 5

Dever de lealdade. 1 8 4

Conflito de interesses. 2 1 2

Dever de informar. 2 8 5

Prestar informações obrigatórias por lei ou regulamento. 3 5 7

Responsabilidade dos administradores. 1 6 5

Prestar aos stakeholders as informações de seu interesse. 2 8 4

Total de respostas 14 51 41

Para a análise dos resultados, retoma-se o objetivo do estudo de verificar o nível de conhecimento dos

diretores, funcionários e conselheiros fiscais da cooperativa sobre as funções do Conselho Administrativo, da

Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal, dispostas no Art. 142 da Lei nº 6.404/1976 as funções do Conselho

Administrativo.

Dos diretores a questão recebeu 37 respostas assinaladas, sendo 20 respostas corretas e 17 respostas

incorretas. Evidencia-se, portanto, um nível de conhecimento de 54,05%. Dos conselheiros a questão recebeu 132

respostas assinaladas, sendo 60 respostas corretas e 72 incorretas; o nível de conhecimento situa-se em 45,45%.

Dos funcionários a questão recebeu 128 respostas, sendo 57 respostas corretas e 71 incorretas, de modo que o

nível de conhecimento situa-se em 44,53%.

Para as funções da Diretoria Executiva, os dados obtidos são mostrados na TAB. 8.

Dos diretores a questão recebeu 36 res postas assinaladas, sendo 14 respostas corretas e 22 respostas

incorretas. Evidencia-se, portanto, um nível de conhecimento de 38,89%. Dos conselheiros a questão recebeu

134 respostas assinaladas, sendo 51 respostas corretas e 83 incorretas; o nível de conhecimento situa-se em

38,05%. Dos funcionários a questão recebeu 163 respostas sendo 41 respostas corretas e 122 incorretas, de

modo que o nível de conhecimento situa-se em 25,15%.

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38

Dos diretores a questão recebeu 32 respostas assinaladas, sendo 21 respostas corretas e 11 respostas in-

corretas. Evidencia-se, portanto, um nível de conhecimento de 65,62%. Dos conselheiros a questão recebeu 131

respostas assinaladas, sendo 66 respostas corretas e 65 incorretas; o nível de conhecimento situa-se em 50,38%.

Dos funcionários a questão recebeu 102 respostas. sendo 55 respostas corretas e 47 incorretas, de modo que o

nível de conhecimento situa-se em 53,92%.

É possível identificar o nível de conhecimento de cada grupo de entrevistados, a partir do total de

respostas recebidas, mostrado no GRÁF. 1.

TABELA 9 – Respostas sobre a função do Conselho Fiscal

Funções do Conselho FiscalRespostas

dos diretores

Respostas dos

conselheiros

Respostas dos

funcionários

Sugerir providências úteis à cooperativa quanto aos erros, fraudes e

crimes descobertos.3 8 6

Denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem. 3 7 9

Opinar sobre as propostas dos órgãos da administração. 1 3 1

Fiscalizar os atos dos administradores. 3 8 11

Verificar o cumprimento de deveres legais e estatutários dos

administradores.1 6 5

Convocar a assembleia geral ordinária, na ocorrência de motivos

graves ou urgentes.3 7 2

Analisar o balancete. 1 5 3

Examinar as demonstrações financeiras do exercício social e sobre

elas opinar.3 6 8

Exercer atribuições, durante a liquidação. 1 3 0

Opinar sobre o relatório anual da administração. 1 8 6

Analisar as demonstrações financeiras elaboradas periodicamente

pela cooperativa.1 5 4

Total de respostas 21 66 55

Por fim, foi investigado o nível de conhe cimento acerca das funções do Conselho Fiscal, com dados

coletados mostrados na TAB. 9.

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Analisando estes resultados, indica-se que o

Sistema Cresol possui o Instituto de Formação do

Cooperativismo Solidário (Infocos), de modo que

nos cursos de formação para diretores possam ser

apresentados os dados coletados neste trabalho, e

seja aprofundado como conteúdo nos treinamentos

do Sistema, como também a sugestão a estes

conselheiros de retomarem seus estudos buscando

cursar o ensino superior.

Em uma visão geral, verifica-se que os entre-

vistados conhecem de modo mais amplo as questões

de gestão, como produtos e servi ços, assuntos ope-

racionais, contratações, Pronaf, Proagro e demais

atividades. Quanto ao conheci mento das funções de

cada setor, por exemplo, os entrevistados não detêm

o mesmo conhecimento. Além disso, verificou-se

que os maiores percentuais apresentaram-se pelos

GRÁFICO 1 – Nível de conhecimento dos entrevistados

55 177 153

50 220 240

105 347 393

52,38% 51,00% 38,93%

Respostas corretas

Respostas incorretas

Total de respostas

Nível de conhecimento

Diretores Conselheiros Funcionários

diretores que possuem maior tempo de atuação

dentro da cooperativa, dos quais apenas um possui

ensino superior e pós-graduação, evidenciando que

a experiência no cargo contribui para o melhor co-

nhecimento do assunto estudado.

É possível que durante os treinamentos rea-

lizados na admissão dos funcionários, a ênfase dos

conteúdos resida nas atividades operacionais que

a cooperativa realiza durante o seu exercício, de

forma que as indicações sobre as funções específi-

cas de cada setor sejam um pouco negligenciadas

no cotidiano em detrimento das responsabilidades

do trabalho.

Apresentados os dados coletados na pesquisa

de campo e interpretados os seus resultados, tem-se

as considerações finais do estudo.

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40

Considerações Finais

O presente estudo teve como objetivo

verificar o nível de conhecimento dos diretores,

funcionários e conselheiros fiscais da cooperativa

sobre as funções do Conselho Administrativo, da

Diretoria Executiva e do Conselho Fiscal.

Ao longo do estudo foram descritas as fun-

ções de cada um destes setores da cooperativa de

acordo com o estabelecido na Lei nº 6.404/1976, a

qual regulamenta as funções de cada setor. Assim,

constata-se que o nível de conhecimento por parte

dos entrevistados deixa a desejar, porquanto são

funções regidas por Lei e, por isso, de conhecimento

acessível a todos os interessados.

De modo específico, é preciso que todos os

envolvidos com a Cresol aprimorem o conhecimento

sobre as funções atribuídas a cada setor, de modo a

dominar de modo adequado as responsabilidades

que assumem no exercício delas.

Sugere-se ao Infocos para que utilize o

tema pesquisado nos cursos de aperfeiçoamento

a diretores e funcionários, pois se julga de suma

importância o conhecimento das atribuições do

corpo diretivo da cooperativa.

Também, que seja disponibilizado um mate-

rial específico contendo as funções de cada setor

a todos os funcionários, para que o conhecimento

fique mais acessível e, aos poucos, as funções indi-

viduais sejam inteiramente assimiladas.

Ressalva-se que não se tem a pretensão de

concluir definitivamente sobre o tema investigado,

porquanto sua relevância declina ao interesse para

a realização de novos estudos e pesquisas que

possam trazer outras informações e novos dados.

• Recebido em: 04/01/2013

• Aprovado em: 05/06/2013

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Portais de transparência fiscal: uma crítica aos municípios com população entre 50 e 100 mil habitantesFiscal Transparency Portals: a critique of cities with populations

between 50 and 100 thousand people

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Abimael de Jesus Barros Costa1

Deivid Bruno Araújo Leite2

Edmilson Soares Campos3

Resumo

O desejo da população de manter-se informada sobre as realizações do governo torna os instrumentos

de transparência fiscal meios completos para que essa expectativa seja satisfeita. Como os cidadãos

dispõem de recursos próprios que são administrados em seu favor por agentes governamentais, é

necessária ampla transparência na utilização desses recursos, de modo que o agente faça uso deles

sempre visando a uma situação ótima do ponto de vista do principal, a sociedade. A Teoria da Agência

foi utilizada como suporte teórico para a pesquisa e o objetivo principal da investigação foi ranquear os

portais de transparência dos municípios analisados. Este artigo, tendo como base a análise dos portais

de um grupo selecionado de municípios com população entre 50 e 100 mil habitantes, criou um ranking,

resultado da implementação de um índice para medir a transparência desses portais. Para tal análise,

foram escolhidos, de maneira amostral não probabilística, 28 municípios das cinco regiões brasileiras. Os

instrumentos de transparência fiscal mais divulgados são relatório resumido da execução orçamentária,

relatório de gestão fiscal e relatórios de execução da receita e despesa. A partir dos resultados podemos

inferir que o nível de transparência atual é divergente do ideal, pois poucos municípios observam as

exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e, entre os que a observam, não há preocupação com

a qualidade da informação disponibilizada ao usuário.

Palavras-chave: Teoria da Agência. Transparência. Gestão Fiscal. Municípios.

Abstract

The desire of the population to keep informed about the achievements of the government makes the

instruments of fiscal transparency to complete this expectation is fulfilled means. As citizens have their

own resources that are administered on their behalf by government agents, wide transparency in the use

of these resources is necessary , so that the agent makes use of them always seeking a great situation

from the point of view of the main society. The Agency Theory was used as theoretical support for

the research and the main objective of the investigation was to rank the portals of transparency of the

municipalities analyzed. This article, based on the analysis of a selected portals of municipalities with

populations between 50 and 100 thousand group created a ranking result of the implementation of

an index to measure the transparency of these portals. For this analysis, were chosen, in non-probability

sampling manner, 28 municipalities in the five Brazilian regions. The instruments of fiscal transparency are

more widespread summarized report on budget execution, fiscal management report and progress reports

of income and expense. From the results we can conclude that the current level of transparency is diverging

from ideal, because few municipalities comply with the requirements of the Fiscal Responsibility Law (LRF),

and those who observe it, there is concern about the quality of information available to the user.

Keywords: Agency Theory. Transparency. Fiscal Management. Municipalities.

1 Professor Mestre da Universidade de Brasília – UnB, Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais. E-mail: [email protected]. 2 Bacharel em Ciências Contábeis pela Universidade de Brasília – UnB. E-mail: [email protected] Professor Mestre da Universidade de Brasília – UnB. Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais. E-mail: [email protected].

Portais de transparência fiscal: uma crítica aos municípios com população entre 50 e 100 mil habitantesFiscal Transparency Portals: a critique of cities with populations between 50 and 100 thousand people

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44

Introdução

A administração pública voltada para o

cidadão é base do desmembramento da adminis-

tração pública gerencial (COUTINHO, 2000).

Com esse fim, foram constituídos conjuntos de

instrumentos de gestão, fundados no contexto

democrático, que pretendem tornar a adminis-

tração pública mais eficiente e voltada para o

cidadão (PEREIRA, 1999). Em um contexto mais

específico, a ação do governo nos municípios é

essencialmente via orçamento público, prestando

serviços variados e utilizando os recursos dispo-

níveis de maneira otimizada para o usuário

(MEIRELLES, 1996). Conforme esse entendimento,

a boa administração pública deve emanar dos

dispositivos da Constituição Federal (1988), refe-

rentes à obrigatoriedade dos agentes públicos

prestarem contas dos seus atos à sociedade.

A Constituição Federal (1988), em seu artigo

30, inciso III, obriga os municípios a arrecadarem “os

tributos de sua competência, bem como aplicar suas

rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar

contas e publicar balancetes nos prazos fixados

em lei”. Assim, a Lei de Responsabilidade Fiscal

(LRF), a partir da publicação da Lei Complementar

nº 131/2009, tornou obrigatória a publicação, em

tempo real, de informações pormenorizadas, em

meio eletrônico, por parte da administração pública

brasileira, para assegurar a transparência das ações

do Estado diante do cidadão.

A Lei Complementar nº 131/2009 foi precisa

ao definir prazos para a implementação de portais

de transparência, nos quais devem ser divulgados

dados econômico-financeiros dos entes públi-

cos, bem como os relatórios necessários ao pleno

acom panhamento das contas públicas pela socie-

dade. Foi delimitado o prazo de um ano para a

União, os estados, o Distrito Federal e os muni-

cípios com mais de cem mil habitantes; o prazo

de dois anos para os municípios que tenham entre

cinquenta mil e cem mil habitantes; e o prazo de

quatro anos para os municípios que tenham até

cinquenta mil habitantes. Cabe ressaltar que esses

prazos são contados da data da publicação da Lei

Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009.

Neste trabalho, analisam-se, empiricamen-

te, os níveis de transparência dos portais eletrô-

nicos de um grupo de municípios, selecionados

a partir de amostragem dos munícipios citados

no art. 73-B, inciso II, da Lei de Responsabilida-

de Fiscal (nº 101/2000), artigo incluído pela Lei

Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009. O

propósito é destacar a frequência das formas uti-

lizadas pelos municípios para divulgar as informa-

ções necessárias a que os princípios relativos à

governança coorporativa sejam satisfeitos. Assim,

este artigo pretende mostrar quais são os instru-

mentos de transparência fiscal mais divulgados

eletronicamente pelos municípios com população

entre 50 e 100 mil habitantes.

O interesse pelo desenvolvimento do estu-

do está relacionado ao constante crescimento

do acesso à internet pelos brasileiros (JAEGER,

2005). Com custo menor e de acesso fácil, esse

meio de comunicação deve ser utilizado pelo go-

verno como forma de disponibilização de infor-

mações relevantes para a sociedade (FANG, 2002).

A governança eletrônica aparece como forte ten-

dência para inovar a maneira de a administração

pública trabalhar (GHOSH, 2005).

Para que isso aconteça, é preciso que os

gestores evoluam na divulgação dos instrumen-

tos fiscais (BERTOT; JAEGER, 2008). Com a in-

serção desses dispositivos de transparência fis-

cal na LRF, fortalece-se o controle social, ou seja,

facilita-se à obtenção de informações relativas à

execução orçamentária e financeira. Ademais, a

LRF apresenta o prazo de dois anos para que tais

gestores divulguem as informações financeiras de

seus municípios em meios eletrônicos de amplo

acesso. Considerando a data de sua publicação,

conclui-se que o prazo para esses municípios im-

plantarem suas ferramentas eletrônicas de divul-

gação encontra-se encerrado. Esse fato justifica a

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realização desta pesquisa que representa oportu-

nidade ímpar de verificação se o prazo estabele-

cido pela LRF foi cumprido pelos municípios.

A pesquisa é ainda importante para a so-

cie dade no aspecto participativo. Os cidadãos

terão conhecimento sobre o cumprimento da prin-

cipal lei de transparência em vigor no Brasil. O

resultado dessa pesquisa enfatizará a adoção dos

dispositivos legais por parte dos gestores públicos,

além de convidar a população brasileira a fiscalizar

e acompanhar o uso dos recursos por parte de

seu maior agente. Este artigo traz contribuição

fundamental aos profissionais que realizarão a

divulgação dos orçamentos nos portais eletrônicos

dos municípios.

1 Teoria da Agência

O funcionamento das entidades brasileiras,

públicas e privadas, é semelhante em relação à

estrutura de utilização dos recursos de terceiros.

As organizações modernas costumam funcionar

de maneira centralizadora, com pessoas dispostas

a investir seus recursos em fundos específicos, que

serão utilizados por um único gestor, tendo este a

atribuição de obter os melhores resultados possíveis

de acordo com a visão da população investidora.

É notável a existência da relação de agên-

cia, que pode existir de maneira parecida entre

governo e sociedade, ou entre empresa e acionista,

uma vez que, em ambos os casos, há um contrato

sob o qual uma ou mais pessoas, denominadas

principais, engajam outras pessoas, agentes, para

desempenhar os serviços que envolvam delegação

de decisão aos agentes (JENSEN; MECKLING,

1976). Ainda de acordo com Jensen e Meckling

(1976), existe uma boa razão para se acreditar

que o agente nem sempre agirá de acordo com

os melhores interesses do principal. Essa estrutura

acontece sempre que uma das partes é admitida por

outra para tomar decisões de gestão que afetam

os retornos que serão obtidos por esta última.

A Teoria da Agência se sustenta ao analisar

o relacionamento dos membros de uma instituição,

tendo em vista o fato de serem motivados por seus

interesses pessoais. Está relacionada à existência

de um contrato, em que o principal delega o

agente para tomar decisões acerca da utilização

dos recursos em nome do principal (KASSAI;

KASSAI; NOSSA, 2000).

Os administradores devem ter pleno co-

nhecimento de suas atribuições, pois têm de estar

capacitados a administrar os recursos recolhidos

pela população (HITT, 1999). Entretanto, as estru-

turas de agência podem apresentar diversos

problemas econômicos e organizacionais. Um pro-

blema de agência ocorre quando os objetivos dos

agentes e dos principais passam a não convergir

da maneira esperada pelos principais. A relação

principal-agente pode levar ao oportunismo ad-

minis trativo, direcionamento os gestores a agir com

base em interesses de cunho pessoal (HITT, 1999).

Assim, a Teoria da Agência passa a considerar

inexistente o agente perfeito ou a elaboração de

contratos completos, que não permitam desvio de

conduta por parte dos agentes (MELLO, 2009).

É possível ainda estabelecer ligação entre as

esferas públicas e a Teoria da Agência, pois estão

satisfeitas as condições necessárias elencadas por

Slomski (1999): (I) O agente possui diversos com-

portamentos a serem adotados; (II) A ação do

agente afeta os resultados para ambas as par-

tes; e (III) A ação do agente dificilmente está

sendo observada pelo principal, o que resulta em

assimetria informacional, que ocorre quando a

capacidade de o principal monitorar o agente fica

interrompida por motivos conhecidos somente pelo

agente, de acordo com Akdere e Azevedo (2006).

Segundo Mello (2009), assume-se que, com a exis-

tência da assimetria informacional, a dificuldade

está em aceitar que o agente (gestor público)

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46

tomará as decisões certas para atingir os interesses

do principal (sociedade) (SLOMSKI, 2009).

Assim, considerando as ideias de Slomski

(1999), tem-se que a Teoria da Agência relacionada

ao Setor Público engloba a existência de contrato

sob o qual a sociedade (principal) engaja o governo

(agente) para desempenhar funções, de modo

a atingir o resultado esperado pelos cidadãos

(principal). Como a relação entre sociedade e

governo envolve a aceitação de diversos contra-

tos com alto grau de complexidade, faz-se ne-

cessária a elaboração de mecanismos capazes

de permitir ao cidadão acesso à fiscalização do

uso de recursos públicos por parte dos gestores

(SLOMSKI, 2003). Conclui-se, então, que a adoção

de medidas transparentes de gestão permite à

sociedade o acompanhamento mais detalhado

das realizações do Estado. A divulgação eficaz de

informações é, portanto, essencial para garantir

que os cidadãos compreendam, de maneira mais

relevante, o desempenho dos gestores públicos

(MELLO, 2009; MOON, 2002).

As ações alinhadas à Governança Corporati-

va são soluções consideráveis para os problemas

de agência, já que estão envolvidas diretamente

em solucionar harmonicamente as diferenças entre

as partes envolvidas (HOPE, 2002). Baseando-

-se em Carvalho (2002), é possível concluir que

a Governança Corporativa é um conjunto de

princípios que impõem a maneira de realização do

processo decisório dentro de uma organização.

Basicamente, são regras necessárias à diminuição

da incidência dos problemas de agência aliada

a uma boa política de divulgação de informação

sobre a execução dos recursos utilizados.

O principal pode limitar a divergência de

interesses, estabelecendo incentivos ao agente,

como o reconhecimento de uma boa execução do

trabalho planejado. Todavia, é improvável que o

agente sempre se disponha a tomar decisões ótimas

do ponto de vista do principal. Logo, é necessário

que a parte do principal fiscalize a gestão do

agente, para que não haja desvio de planejamento

na consecução das metas (EISENHARDT, 1989).

Os mecanismos de Governança Corporati-

va são capazes de reduzir drasticamente os confli-

tos de agência (GOSWANI, 2002). Entre eles, cabe

maior atenção para a ampla divulgação de rela tó-

rios e informações contábeis que possam tra du zir

o desempenho obtido relativamente às atribuições

do agente (CABRI; FERRARI; LEONARDI, 2005).

Os princípios de Governança Corporativa exigem

que haja transparência em todo o processo deci-

sório, assim como na avaliação dos objetivos con-

quistados (CHOUDRIE; GHINEA; WEERAKKODY,

2004). Dessa maneira, a sociedade será capaz de

estabelecer raciocínios críticos sobre os resultados

obtidos e sobre a gestão de seus recursos por parte

dos agentes.

2 Instrumentos de Transparência Fiscal

A Lei de Responsabilidade Fiscal determina

que relatórios de gestão sejam disponibilizados ao

A Teoria da Agência

relacionada ao Setor Público

engloba a existência de

contrato sob o qual a

sociedade engaja o governo

para desempenhar funções,

de modo a atingir o resultado

esperado pelos cidadãos.

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controle público, com o fim de que a arrecadação

e execução dos recursos públicos sejam avaliadas

pela população. A Lei de Responsabilidade Fiscal

disponibilizou, em seu artigo 48, os instru men tos

necessários à transparência dos atos da admi-

nistração pública, entenda-se essa transparência

como ativa. A Controladoria Geral da União (CGU)

conceitua transparência ativa “como aquela que

a administração pública tem um custo para divul-

gar as informações e milhares de pessoas podem

aces sar as informações disponibilizadas” (2012).

Os instrumentos exigidos são os planos, os orça-

mentos e a lei de diretrizes orçamentárias, além

dos relatórios Resumidos da Execução Orçamen-

tária e de Gestão Fiscal, inclusive as versões simpli-

ficadas desses instrumentos.

O Plano Plurianual é uma lei de iniciativa do

Chefe do Poder Executivo e um instrumento de

ação do governo de médio prazo. Deve estabelecer,

de maneira regionalizada, as diretrizes, objetivos e

metas do governo para despesa de capital e para

as relativas aos programas de duração continuada

(ANDRADE, 2002). Tem sua utilidade para um

período de quatro anos, a fim de que o governo

execute seus projetos para a consecução dos

objetivos e metas fiscais. É importante destacar

que o plano plurianual é uma tendência das ações

do governo. Sendo assim, a Lei Orçamentária

Anual e a Lei de Diretrizes Orçamentárias deverão

estar em consonância com as propostas oferecidas

pelo Plano Plurianual (GATTRINGER, 2004;

GIACOMONI, 2005).

A Lei de Diretrizes Orçamentárias tem a

função de estabelecer metas e prioridades da

admi nistração pública federal. Deve incluir des-

pesas de capital e orientar a elaboração da Lei

Orçamentária Anual, contemplando os aspectos

da legislação tributária (CF, 1988, art. 165, § 2º).

De acordo com Silva (2004), a Lei de Diretrizes

Orçamentárias é utilizada como instrumento de

planejamento operacional do governo, uma vez

que a Lei de Responsabilidade Fiscal atribuiu

à Lei de Diretrizes Orçamentárias funções de

planejamento operacional voltadas ao equilíbrio

entre receitas e despesas (SANTANA JUNIOR;

LIBONATI; VASCONCELOS, 2009).

Seguindo as orientações impostas pela Lei

de Diretrizes Orçamentárias, a Lei Orçamentária

Anual deve estar atrelada à política econômico-

-financeira e à execução do planejamento de tra-

balho do governo, que deve ser prestada pelos

órgãos diretos e indiretos da Administração

(SANTANA JUNIOR; REIS, 2001). Giacomoni

(2005) afirma que a Lei Orçamentária Anual é

instrumento de curto prazo, que operacionaliza

os programas governamentais de médio prazo, os

quais são responsáveis por atingir o planejamento

imposto pelos planos nacionais, em que estão

definidas as metas, os objetivos e as políticas

básicas. Além disso, a Lei nº 4.320/1964 determina

que a organização da Lei Orçamentária Anual

deve seguir orientações de orçamento-programa,

definindo programas, subprogramas, projetos

de execução da ação do governo por categorias

econômicas, por funções e por unidades orçamen-

tárias (MILESKI, 2003).

O instrumento de

transparência fiscal

denominado Prestação de

Contas é um documento

em que o administrador

público demonstrará sua

situação organizacional

para a sociedade.

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48

O instrumento de transparência fiscal deno-

minado Prestação de Contas é um documento

em que o administrador público demonstrará sua

situação organizacional para a sociedade. A pres-

tação de contas realizada para a população deveria

ser a mesma informada pelos municípios aos

Tribunais de Contas, entretanto, os municípios di-

vul gam apenas os aspectos que julgam relevantes

(CRUZ, 2006; SANTANA JUNIOR; LIBONATI;

VASCONCELOS, 2009).

O Relatório Resumido de Execução Orça-

mentária tem de ser publicado até trinta dias

após o encerramento de cada bimestre, de

acordo com a Constituição Federal de 1988 (art.

165, § 3º) e deve abranger todos os Poderes da

Administração Pública. Nesse sentido, o relatório

pretende demonstrar o comparativo de execução

das receitas de acordo com sua previsão. Segundo

Gattringer (2004), o Relatório Resumido de Exe-

cução Orçamentária deve ser publicado com

periodicidade, permitindo ao cidadão o controle,

o conhecimento, a análise e o acompanhamento

da execução orçamentária dos governos. Dessa

maneira, o cidadão tem a oportunidade de acom-

panhar, de modo transparente, a execução do

planejamento orçamentário do governo (SANTANA

JUNIOR; LIBONATI; VASCONCELOS, 2009).

O Relatório de Gestão Fiscal tem perio-

dicidade quadrimestral. Foi incluído pela Lei de

Responsabilidade Fiscal, devendo ser emitido com

o intuito de fiscalizar todos que são dependentes

dos recursos do governo, no sentido de sempre

atingir o equilíbrio das contas públicas (SANTANA

JUNIOR; LIBONATI; VASCONCELOS, 2009). O

relatório deve abranger o comportamento da rea-

lização da receita e da execução da despesa, e o

detalhamento do alcance das metas e resultados,

como também o acompanhamento e evolução da

dívida pública (GATTRINGER, 2004). O relatório

deve conter, ainda, os níveis máximos de gastos

com pessoal, dívidas consolidada e mobiliária,

concessão de garantias e operações de crédito.

Se esses limites forem ultrapassados, a Lei de

Responsabilidade Fiscal determina que medidas

corretivas sejam tomadas imediatamente (CULAU;

FORTIS, 2006).

A Lei de Responsabilidade Fiscal ainda

elenca duas modalidades de divulgação neces-

sárias pelas entidades públicas: os Relatórios de

Execução da Receita e Despesa e os Relatórios

Relativos a Contratos e Convênios. Os Relatórios

de Execução da Receita e Despesa representa a

programação financeira e o cronograma de exe-

cução mensal de desembolso. Já os Relatórios

Relativos a Contratos e Convênios devem abranger

detalhadamente as relações contratuais do Poder

Público com entidades privadas.

Da análise do art. 48 da Lei de Respon-

sabilidade Fiscal, que dispõe que os instrumentos

de transparência fiscal devem ser divulgados

tam bém em versões simplificadas, percebe-se a

preocupação do legislador com a acessibilidade

da informação, ou seja, a redução das dificuldades

de entendimento por parte do cidadão. Nesse

sentido, a transparência de que fala a LRF é mais

do que simplesmente a publicidade dos dados

(GATTRINGER, 2004). A LRF determina que a

trans parência deve ser assegurada, entre outras

maneiras, pelo incentivo à participação popular

e realização de audiências públicas durante a

apreciação e elaboração de estratégias, da Lei de

Diretrizes Orçamentárias e da Lei Orçamentária

Anual (CULAU; FORTIS, 2006).

3 Procedimentos Metodológicos

Neste artigo, foi utilizado o método indutivo,

enfatizando-se a comprovação empírica do estudo,

com procedimento de análise dos dados coletados

em amostragem investigativa acessando-se os

portais de transparência dos municípios.

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R e v . F A E , C u r i t i b a , v. 17, n. 1, p. 42 - 61, jan./jun. 201449

O estudo pode ser considerado exploratório,

já que mede os níveis de qualidade dos sites dos

municípios analisados quanto ao cumprimento das

orientações dispostas pela Lei de Responsabilidade

Fiscal. As técnicas de observação foram essenciais

para o procedimento de coleta de dados, já que

foi requerido exame detalhado das informações

encontradas nos portais dos municípios. Foram

utilizadas informações referentes à quantidade

de habitantes por município, tendo como fonte o

censo demográfico do IBGE do ano de 2000.

Foram identificados 299 municípios dentro

da faixa populacional de 50 e 100 mil habitantes.

Assim, para que os sites dos municípios fossem

analisados de maneira qualitativa, fez-se neces sária

a delimitação de uma amostra dos muni cí pios com

essa população. A seleção de amostragem envolveu

o trabalho desenvolvido por Biderman e Puttomatti,

pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas, que

desenvolveram estudo para a Associação Contas

Abertas, (http://indicedetransparencia.com), que

trata da criação de um índice que mede a transpa-

rência aplicado aos sites de estados brasileiros.

De acordo com a metodologia abordada por

Biderman e Puttomatti, o índice é calculado de

acordo com três considerações: (1) o conteúdo

disponível no site, que corresponde a 60% do total;

(2) a disponibilização de séries históricas, entre um

e cinco anos, e a frequência da atualização, que

correspondem a 7% do total; (3) A usabilidade do

portal, que representa 33% do total, em um total

geral de 100%.

Com base na criação do Índice de Trans-

parência Estadual, pesquisadores da Associação

Contas Abertas desenvolveram um ranking, envol-

vendo todos os estados da Federação, ordenados

de acordo com a nota obtida por seu portal de

transparência. Assim, a amostragem escolhida

neste trabalho foi selecionada a partir do ranking

disponibilizado pela Associação Contas Abertas,

sendo escolhidos apenas os municípios dos es-

ta dos que obtiveram as notas mais baixas em

relação as suas respectivas regiões. Ou seja, um

estado de cada região brasileira foi selecionado,

sendo estes por obterem a nota mais baixa dentre

os outros de suas respectivas regiões. Foi formada

assim uma amostra de 28 municípios, sendo um

do estado do Acre (Região Norte), três do estado

do Piauí (Região Nordeste), quatro do estado

do Mato Grosso (Região Centro-Oeste), onze

do estado do Rio de Janeiro (Região Sudeste) e

nove do estado de Santa Catarina (Região Sul).

Quanto ao tipo de amostragem, essa investigação

utiliza o não probabilístico, visto que a escolha dos

elementos da amostra foi realizada de forma não

aleatória, existindo um procedimento de seleção

dos elementos da população segundo critérios

preestabelecidos no referido ranking (CORRAR;

THEÓPHILO, 2008).

O presente estudo, portanto, teve a cons-

trução de um índice próprio de transparência, em

que os critérios utilizados para a avaliação dos sites

de transparência dos municípios analisados foram

construídos com base no trabalho desenvolvido

por Santana Junior, Libonati e Vasconcelos

(2009), juntamente com o mencionado tra balho

da Asso cia ção Contas Abertas. O índice foi com-

pos to com os critérios relativos à usabilidade dos

sites, correspondendo a 30% do índice; com a

comprovação da divulgação dos instrumentos

de transparência fiscal propostos pela Lei de

Responsabilidade Fiscal, correspondendo a 60%

do índice; e, por fim, com a constatação de séries

históricas dos dados e pela frequência de sua atua li-

zação, correspondendo a 10% do índice (APÊNDICE

A). Os aspectos de pontuação utilizados para

a construção de cada categoria podem ser

encontrados nas descrições do QUADRO 1, bem

como no Apêndice A.

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50

Assim, o total de pontos que os municípios

podem alcançar é 19, correspondendo à nota 10

no ranking de transparência municipal, a nota

máxima, conforme aplicação da fórmula elaborada

exclusivamente para este estudo:

FONTE: Bardin (2011); Geraldes (2006); Santana Júnior, Libonati e Vasconcelos (2009)

Categoria Itens de Investigação Pontos

Asp

ecto

s d

o P

ort

al

30

%

O site do Portal apresenta a ferramenta de “Mapa do Sítio” ou “Busca” para facilitar a busca

de informações por parte do usuário1

O site apresenta glossário dos termos técnicos. 1

O glossário, se existir, facilita a compreensão das informações disponibilizadas 1

Há uma área com perguntas e respostas frequentes 1

O site do Portal divulga um e-mail ou formulário de contato institucional 1

O site do Portal divulga o contato com o Tribunal de Contas, o Ministério Público ou Câmara

Federal para incentivar denúncias1

As informações apresentadas possibilitam interatividade (chat) 1

Existe possibilidade de download dos dados 1

Inst

rum

en

tos

de

Tra

nsp

arê

ncia

Fis

cal

60

%

Plano Plurianual 1

Lei de Diretrizes Orçamentárias 1

Lei de Orçamento Anual 1

Prestação de Contas 1

Relatórios Resumidos da Execução Orçamentária 1

Relatório de Gestão Fiscal 1

Relatórios da Execução da Receita/Despesa 1

Relatórios Relativos a Contratos/Convênios 1

Fre

qu

ên

cia

de

Atu

alização

10%

Dados em tempo real 1

Disponibilização de séries históricas de dados orçamentários e financeiros 1

Periodicidade de disponibilização de dados (diário, semanal, mensal e anual) 1

Total 19

QUADRO 1 – Categorias de análise dos portais de transparência dos municípios

7,5IT =

ΣA1x3 + ΣA2x6 + ΣA3

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R e v . F A E , C u r i t i b a , v. 17, n. 1, p. 42 - 61, jan./jun. 201451

Região Estado Município Nº Portal Analisado

Norte Acre Cruzeiro do Sul 1 www.cruzeirodosul.ac.gov.br/transparencia

Nordeste Piauí

Floriano 2 www.floriano.pi.gov.br

Picos 3 www.picos.pi.gov.br

Piriri 4 www.piripiri.pi.gov.br/novo/

Centro-Oeste Mato Grosso

Barra do Garças 5 www.barradogarcas.com/2010

Cáceres 6 www.caceres.mt.gov.br

Sinop 7 www.sinop.mt.gov.br

Tangará da Serra 8 www.tangaradaserra.mt.gov.br

QUADRO 2 – Relação de municípios analisados

Na fórmula, IT significa o índice de trans-

parência obtido do município; A1 significa os

pontos obtidos no critério “Aspectos do Portal”;

A2 significa os pontos obtidos no critério “Instru-

mentos de Transparência Fiscal”; e A3 significa

os pontos obtidos no critério “Frequência de

Atualização”. Assim, a soma de pontos de cada

critério multiplicado por seus respectivos pesos é

dividida pelo número 7,5, a fim de criar uma escala

que obtenha como nota máxima o número 10.

Para uma análise mais robusta dos dados

encontrados, pretende-se analisar a mediana dos

índices de transparência encontrados, pois esta

medida representa o valor situado de tal forma

no conjunto, que o separa em dois subconjuntos

de mesmo número de elementos (CIENFUEGOS,

2005). Assim, será possível separar a metade da

amostra que teve desempenho superior da metade

da amostra que teve desempenho inferior. Seguindo

a análise estatística, pretende-se analisar o desvio-

padrão das notas obtidas pelos municípios, uma vez

que esta medida indica a dispersão dos elementos

em relação à média.

Por fim, pretende-se analisar a correlação

entre os instrumentos de planejamento (Lei

Orçamentária Anual, Lei de Diretrizes Orçamen tárias

e Plano Plurianual) e os instrumentos de gestão

(Relatórios Resumidos de Gestão Orça mentária,

Relatório de Gestão Fiscal e Relatórios de Execução

da Receita e Despesa). A técnica estatística de

correlação é utilizada para analisar a relação entre

as diversas variáveis existentes, ou seja, é uma

métrica que mede o relacionamento matemático de

duas variáveis. Os resultados obtidos podem indicar

correlação positiva, nega tiva ou nula. A correlação

positiva apresenta uma relação direta entre as

variáveis, enquanto a correlação negativa apresenta

uma relação inver sa. A correlação nula indica que

as variáveis não estão relacionadas linearmente,

sendo o valor da correlação bastante próximo de

zero (CORRAR; THEÓPHILO, 2008). Desse modo,

poderá ser verificada a possibilidade de o cidadão

conseguir relacionar o planejamento e a execução

por meio da análise dos instrumentos.

4 Portais de Transparência Fiscal

Seguindo as informações divulgadas pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), com base nos relatos emitidos previamente

ao Censo 2010, constata-se que o Brasil possui

atualmente 5.565 municípios dispostos em cinco

regiões. Entre esses municípios, vinte e oito

foram selecionados para que seus portais fossem

analisados, conforme QUADRO 2.

Continua

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52

Região Estado Município Nº Portal Analisado

SudesteRio De

Janeiro

Araruama 9www.araruama.rj.gov.br/index.php/portal-da-

transparencia

Barra do Piraí 10 www.pmbp.rj.gov.br

Itaguaí 11 www.prefeituraitaguai.com.br

Itaperuna 12 www.itaperuna.rj.gov.br

Japeri 13 www.japeri.rj.gov.br

Maricá 14 www.marica.rj.gov.br/transparencia/

São Pedro da Aldeia 15 www.cogemspa.com.br

Saquarema 16 www.transparencia.saquarema.rj.gov.br/pronimtb

Seropédica 17 www.seropedica.rj.gov.br

Três Rios 18www.tresrios.rj.gov.br/v2007/n/info_

transparencia.php

Valença 19 www.valenca.rj.gov.br

SulSanta

Catarina

Araranguá 20 www.ararangua.net/?acao=home

Balneário Camboriú 21 www.balneariocamboriu.sc.gov.br

Brusque 22 www.brusque.sc.gov.br/web/

Caçador 23 www.cacador.sc.gov.br/portal

Canoinhas 24 www.pmc.sc.gov.br

Concórdia 25 www.concordia.sc.gov.br

Rios do Sul 26 www.riodosul.sc.gov.br

São Bento do Sul 27 www.saobentodosul.sc.gov.br/novo

Tubarão 28 www.tubarao.sc.gov.br

Nas regiões Norte e Nordeste, foram ana-

lisados quatro municípios, pertencentes aos es-

ta dos do Acre e Piauí. Essas regiões mantêm,

juntas, 2.243 municípios, com aproximadamente

69 milhões de habitantes no total. A densidade

demográfica é de 4,12 habitantes por quilômetro

quadrado na região Norte, e de 34,15 habitantes

por quilômetro quadrado na região Nordeste.

Na Região Centro-Oeste, foram analisados

quatro municípios do estado do Mato Grosso.

Essa região possui 466 municípios, com o total

aproximado de 14 milhões de habitantes e densi-

dade demográfica na faixa de 8,75 habitantes por

quilômetro quadrado.

Nas regiões Sul e Sudeste, foram analisados

vinte municípios, situados nos estados de Santa

Catarina e Rio de Janeiro. Juntas, essas regiões

têm população estimada em 100 milhões de habi-

tantes, dividida em um total de 2.786 municípios.

Apesar de ocuparem território menor que o das

regiões Norte e Nordeste, apresentam população

numericamente superior. Assim, a densidade de-

mográfica da Região Sul é de 48,58 habitantes por

quilômetro quadrado, e a densidade demográfica

da Região Sudeste é de 86,92 habitantes por qui-

lômetro quadrado.

FONTE: Os autores (2014)

QUADRO 2 – Relação de municípios analisados Conclusão

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GRÁFICO 1 – Aspectos do Portal

Campo de busca

Glossário

Glossário facilita entendimento

Perguntas frequentes

Contato institucuinal

Contato com MP Tribunal de Contas

Chat

Download de dados

0 20 40 60 80 100

FONTE: Os autores (2014)

5 Análise dos Portais de Transparência Fiscal

Os portais de transparência fiscal dos 28 municípios analisados apresentam algumas falhas em comum

em relação à usabilidade. Por exemplo, conforme GRÁF. 1, em nenhum dos sites foi possí vel identificar

elementos como glossário de termos técnicos ou área em que estivessem postadas perguntas frequentes

feitas pelos usuários. Em nenhuma das páginas eletrônicas existe a pos sibilidade de conversação por meio de

chat e apenas 39,29% dos sites fornecem links de contato que incentivam denúncias de irregularidades, co mo

os links do Tribunal de Contas, do Ministério Público ou da Câmara Federal.

Conclusão

Seguindo na análise do acesso aos portais pelos usuários, destacam-se os pontos positivos encontrados.

Por exemplo, a possibilidade de download dos dados disponíveis está presente em 60,71% dos sites, bem como

a divulgação de formulário de contato institucional e a presença de campo de busca que facilite a pesquisa no

percentual de 78,57% e 67,86% respectivamente, conforme disposições do GRAF. 1.

Nesse quesito da análise, cabe ressaltar o ponto negativo ao acesso ao portal de transparência do

município de Itaperuna/RJ. O site apresenta um link denominado “Contas Públicas”, entretanto, ao se acessar

o referido link, não é possível visualizar nenhuma informação, pois nenhuma das opções apresentadas funciona

corretamente. Cabe ressaltar também que o portal de transparência de Itaperuna recebeu destaque por ser um

dos três municípios a não somar nenhum ponto na análise dos portais, sendo considerado o pior na consolidação

do ranking dos municípios analisados. Os outros portais que não somaram pontos na análise foram os dos

municípios de Caçador e de Rio do Sul, ambos no estado de Santa Catarina, conforme TAB. 1.

A maior parte da composição do índice de transparência é dada pela divulgação dos instrumentos

de transparência fiscal citados pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Na análise dos portais, nenhum dos

componentes deste quesito foi encontrado em percentual superior a 50% (GRÁF. 2). Por exemplo, em apenas

28,57% dos sites foi possível encontrar dados referentes ao Plano Plurianual e à Lei de Diretrizes Orçamentárias.

O maior fator negativo do conjunto que representa a amostra do estudo é o fato de que não existe, em nenhum

dos portais analisados, divulgação do instrumento de transparência fiscal denominado Prestação de Contas.

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54

O GRÁF. 2 aponta os per centuais de divulgação dos instrumentos de transparência fiscal pelos municípios.

GRÁFICO 3 – Frequência de atualização

FONTE: Os autores (2014)

GRÁFICO 2 – Instrumentos de transparência fiscal

Plano Plurianual

Lei de Diretrizes Orçamentárias

Lei de Orçamento Anual

Rel. Res. Execução Orçamentária

Relatório de Gestão Fiscal

Rel. Ex. da Receita/Despesa

Rel. Rel. a Contratos/Convênios

0 20 40 60 80 100

Nesse quesito de análise, é importante destacar que a porcentagem obtida pelos sites dos munícipios

foi bastante baixa. Os instrumentos denominados Relatórios Resumidos da Execução Orçamentária, Relatórios

de Gestão Fiscal e Relatórios da Execução da Receita e Despesa são encontrados em apenas 42,86% dos

sites. A Lei Orçamentária Anual é apresentada em 32,14% dos portais, enquanto os Relatórios Relativos a

Contratos e Convênios são encontrados em 35,71%.

Os aspectos abordados nesse quesito são os portais de transparência dos municípios de Picos/PI, Piriri/

PI, Itaperuna/RJ, Saquarema/RJ, Seropédica/RJ, Valença/RJ, Caçador/SC e Rio do Sul/SC. Em todos eles não

há nenhuma divulgação de instrumentos de transparência fiscal (APÊNDICE A). Outro ponto importante

a destacar foi verificado no portal de transparência de Balneário Camboriú. Excluindo-se o instrumento

Prestação de Contas, este portal disponibiliza todos os outros instrumentos de transparência fiscal abordados

neste estudo e previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal. O portal de transparência de Balneário Camboriú

foi considerado pelo estudo o melhor dos portais, liderando o ranking proposto, conforme TAB. 1.

Quanto à frequência de atualização dos portais, nenhum dos municípios analisados dis po nibiliza suas

informações em tempo real (GRÁF. 3), contrariando o que define a Lei de Res ponsabilidade Fiscal em seu

art. 48, parágrafo único, inciso II, em que são descritas maneiras de disponibilização dos dados financeiros do

Poder Público, quando estabelece a “liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em

tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos

de acesso público”.

FONTE: Os autores (2014)

Tempo Real

Séries Históricas

Periodicidade

0 20 40 60 80 100

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Os outros componentes do quesito atin giram percentual próximo a 50%. Por exemplo, 46,43%

dos portais analisados disponibilizam séries históricas dos dados, considerando o mínimo de cinco anos

anteriores, ou seja, pelo menos a partir de 2007. Quanto à periodicidade de disponibilização dos dados,

diária, semanal, mensal ou anual, 57,14% dos municípios apresentam periodicidade correspondente a pelo

menos uma dessas frequências.

Entre os municípios que divulgam seus instrumentos de transparência fiscal, apenas dois não conseguiram

somar pontos neste quesito, Floriano/PI e São Pedro da Aldeia/RJ. Assim, de acordo com os critérios adotados

para a construção do índice de transparência e sua posterior aplicação aos sites dos municípios analisados, o

ranking de transparência adotado neste trabalho é disposto na TAB. 1.

Clas. Uf Região Município Índice Clas. Uf Região Município Índice

1º SC Sul Balneário Camboriú 7,07 15º SC Sul Brusque 3,33

2º MT Centro-Oeste Tangará da Serra 6,67 16º RJ Sudeste Araruama 3,20

3º PI Nordeste Floriano 5,60 17º AC Norte Cruzeiro do Sul 2,93

4º MT Centro-Oeste Cáceres 5,47 18º MT Centro-Oeste Barra do Garças 2,27

5º SC Sul Tubarão 5,47 19º RJ Sudeste Japeri 2,13

6º MT Centro-Oeste Sinop 5,07 20º RJ Sudeste Três Rios 1,73

7º SC Sul Araranguá 5,07 21º RJ Sudeste Valença 1,20

8º RJ Sudeste Maricá 4,53 22º PI Nordeste Picos 0,80

9º SC Sul Concórdia 4,27 23º PI Nordeste Piriri 0,80

10º RJ Sudeste São Pedro da Aldeia 4,00 24º RJ Sudeste Saquarema 0,80

11º RJ Sudeste Itaguaí 3,87 25º RJ Sudeste Seropédica 0,80

12 SC Sul Canoinhas 3,87 26º RJ Sudeste Itaperuna 0,00

13º SC Sul São Bento do Sul 3,87 27º SC Sul Caçador 0,00

14º RJ Sudeste Barra do Piraí 3,47 28º SC Sul Rio do Sul 0,00

FONTE: Os autores (2014)

TABELA 1 – Ranking geral dos municípios analisados

As notas obtidas pelos municípios estão bastante abaixo do esperado pelas atribuições da Lei de

Responsabilidade Fiscal. A mediana en contrada pelo estudo foi de 3,4, separando-se a metade da amostra com

resultados superiores da metade da amostra que apresenta resultados mais baixos, ou seja, entre os municípios

de Barra do Piraí/RJ e Brusque/SC. O desvio-padrão encon trado foi de 2,08, que simboliza a dispersão dos

valores em relação à média, que, no caso, é de 3,15. O desvio-padrão é alto quando comparado com a média,

esse fato comprova que existe grande diferença entre os níveis de transparência dos municípios.

No intuito de investigar a existência da relação entre a divulgação dos instrumentos de planejamento

e a divulgação de informações de gestão, foi utilizada a técnica estatística de correlação linear. O resultado

encontrado foi a correlação de 0,067, ou seja, valor bastante próximo de zero, o que significa que não existe

relação direta ou indireta entre a divulgação de instrumentos de planejamento e a divulgação de instrumentos

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56

de gestão. De acordo com a métrica utilizada

pelo estudo, não há padrão na divulgação de tais

instrumentos fiscais. Diante da amostra analisada,

é possível concluir que, na maioria dos municípios

que divulgam informações fiscais, pode ser que o

cidadão tenha dificuldade em extrair conclusões

significativas a respeito da comparação entre o

planejamento de governo e a gestão estatal.

Considerações Finais

O estudo realizado permite perceber que

os gestores municipais, na totalidade da amostra,

demonstram preocupação em manter disponível

um portal de transparência fiscal. Verifica-se

que o cumprimento da LRF não está sendo ga-

rantido na maioria dos municípios pesquisados.

A qualidade da disponibilização dos dados

encontra-se comprometida, porque na maioria

dos municípios estudados existe baixo percentual

de transparência.

É possível afirmar que os usuários que não

estão habituados à linguagem técnica ou que

não têm conhecimento suficiente dos termos

empregados nos planos e leis orçamentárias não

conseguem chegar a conclusões completamente

acertadas quanto aos dados disponibilizados. Por

exemplo, o fato de não existir nenhum glossário

ou área de perguntas frequentes nos 28 sites

investigados evidencia a possível dificuldade de

análise de pessoas leigas no assunto. Acresça-

se a isso o fato de que a disponibilização dos

relatórios não está completa, conforme exige a

LRF e alguns portais não divulgam nenhum dos

instrumentos de transparência fiscal. Outro ponto

que contraria a LRF é que nenhum dos municípios

divulga suas informações em tempo real. Quanto

a esse quesito, pode-se afirmar que os preceitos

estabelecidos em lei não estão sendo cumpridos.

É possível, pois, concluir que os gestores

• Recebido em: 27/05/2013

• Aprovado em: 01/07/2013

municipais estão cumprindo apenas em parte suas

obrigações legais, pois disponibilizam nos portais

de transparência de seus municípios apenas

alguns instrumentos de transparência fiscal. Não

existe preocupação de que o usuário entenda os

dados divulgados, ou seja, não há predisposição

dos gestores em divulgar informações fiscais de

maneira clara e conclusiva para a sociedade. É

possível perceber que nos portais faltam avaliações

de desemprenho, não havendo nenhum controle

superior capaz de avaliar e discutir tais questões

com os gestores dos sites.

Este estudo sugere que os portais sejam

avaliados e que o feedback seja dado pelos prin-

cipais na relação de agência, uma vez que são eles

os maiores beneficiários da disponibilização eficaz

das informações prestadas pelos municípios.

Cabe ressaltar ainda o papel da contabilidade

governamental como sistema de informações, de

modo a tornar possível a instauração de gestão

pública remodelada, participativa, acessível e que

assegure os melhores níveis de transparência

governamental.

A realização do trabalho foi limitada à aná-

lise de parte dos municípios com população na

faixa entre 50 e 100 mil habitantes. Diante disso,

podemos inferir que o resultado final do estudo

poderia ser diferente, caso fosse analisada toda a

população de municípios que se encaixam nesta

faixa populacional.

Assim, torna-se necessário a realização de

pesquisas futuras relacionadas aos assuntos tra-

tados. Além disso, considera-se relevante reaplicar

o estudo de modo a observar a evolução dos

portais de transparência dos municípios, pois al-

guns podem estar em fase de adaptação, já que a

obrigação legal é bastante recente.

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Referências

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O site do portal apresenta a ferramenta “Mapa do Sítio” ou

“Busca” para facilitar a busca de informações doo usuário1 1 1 1 1 0 1 1 1 0 0 0 1 1 1 0 1 1 0 1 1 1 1 0 0 0 0 1 1

O site apresenta glossário dos termos 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

O glossário, se existir, facilita a compreensão das

informações disponibilizadas1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Há uma área com perguntas e respostas frequentes 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

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institucional1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 0 1 0 1 1

O site portal divulga o contato com o Tribunal de contas,

o Ministério Público ou Câmara Federeal para incentivar

denúncias

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As informações apresentadas possibilitam interatividade

(chat)1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Existe possibilidade de download de dados 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 1 1 0 0 1 1 0 0 1 0 1 1 1 0 1 1 0 1 1

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Plano plurianual 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1

Lei de diretrizes orçamentárias 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1

Lei do orçamento anual 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 1

Prestação de contas 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Relatórios resumidos da execução orçamentária 1 1 1 0 0 1 1 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 0 0 0

Relatório de gestão fiscal 1 1 1 0 0 1 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 0 1 0

Relatórios de execução da receita/despesa 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 1 0 1 1 0 0 0 1 0 1 1 0 0 1 1 0 1 1

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Dados em tempo real 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Disponibilização de séries históricas de dados

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Periodicidade de disponibilização de dados (diário,

semanal e anual)1 1 0 0 0 1 1 1 1 0 1 1 0 1 1 0 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 0 1 1

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Apêndice – A

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O glossário, se existir, facilita a compreensão das

informações disponibilizadas1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

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o Ministério Público ou Câmara Federeal para incentivar

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(chat)1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

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Plano plurianual 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1

Lei de diretrizes orçamentárias 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 1

Lei do orçamento anual 1 0 1 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 0 1 0 0 1

Prestação de contas 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Relatórios resumidos da execução orçamentária 1 1 1 0 0 1 1 0 1 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 0 0 0

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Relatórios de execução da receita/despesa 1 0 0 0 0 0 0 1 0 0 1 1 0 1 1 0 0 0 1 0 1 1 0 0 1 1 0 1 1

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Periodicidade de disponibilização de dados (diário,

semanal e anual)1 1 0 0 0 1 1 1 1 0 1 1 0 1 1 0 0 0 0 0 1 1 1 0 1 1 0 1 1

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10 2,93 5,6 0,8 0,8 2,27 5,47 5,07 6,67 3,2 3,47 3,87 0 2,13 4,53 4 0,8 0,8 1,73 1,2 5,07 7,07 3,33 0 3,87 4,27 0 3,87 5,47

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Valores organizacionais sob a ótica dos colaboradores de uma Instituição de Ensino SuperiorOrganizational values under the perspective of employees of an

Institution of Higher Education

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Valores organizacionais sob a ótica dos colaboradores de uma Instituição de Ensino Superior

Organizational values under the perspective of employees of an Institution of Higher Education

Aleksander Roncon1 Denise Del Prá Netto Machado2

Luciano Castro de Carvalho3

Marcia Regina Santiago Scarpin4

Resumo

O objetivo deste artigo é analisar a percepção dos valores organizacionais

sob a ótica dos colaboradores em uma instituição de ensino superior (IES).

Para tanto, foi realizada uma pesquisa quantitativa, descritiva, transversal,

com levantamento de dados primários, com a aplicação de questionário.

Os dados foram analisados por meio de médias e desvios padrões, além

da análise discriminante múltipla. Como principais resultados foi possível

identificar que o valor organizacional conformidade foi considerado o mais

importante pelos funcionários da IES, indicando respeito pelas regras e

normas da instituição e manutenção do status quo.

Palavras-chave: Valores Organizacionais. Valores Pessoais. Instituição de

Ensino Superior.

Abstract

The purpose of this paper is to analyze organizational values perception

from an employee’s outlook in a Higher Education Institution (HEI). Was

performed a quantitative, descriptive, transverse research with primary

data collection through survey application. Data was analyzed using means

and standard deviations, as well as multiple discriminant analysis. As main

results, was found compliance to be considered the most important

organizational value by HEI’s employees, indicating respect for rules and

regulations of the institution and maintenance of the status quo.

Keywords: Organizational Values. Personal Values. Higher Education Institution.

1 Mestre em Administração pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Coordenador do Curso de Administração da Faculdade Arthur Thomas – Londrina/PR. E-mail: [email protected].

2 Pós-Doutorado em Administração (PPGA) – Universidade de Brasília (UnB), Doutora em Administração - EAESP/FGV-SP, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Administração – PPGAd - Universidade Regional de Blumenau – FURB. E-mail: [email protected].

3 Doutorando em Administração de Empresas – EAESP/FGV-SP. Bolsista FAPESP. E-mail: [email protected].

4 Doutoranda em Administração de Empresas – EAESP/FGV-SP. Bolsista CAPES. E-mail: [email protected].

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IntroduçãoIntrodução

Atualmente, experimenta-se um ambiente

organizacional repleto de profundas e constantes

mudanças. Nesse cenário, para sobreviverem e

se manterem competitivas, as organizações en-

frentam desafios, como alterações do ambiente

de trabalho, novos modelos de estrutura, ou ainda,

práticas e políticas de gestão fundamentadas no

relacionamento interpessoal e no desenvolvimento

do potencial humano.

Como resultado, inovações são geradas por

grupos e implementadas de forma a se posicionar

diferentemente sobre velhos problemas, integrando

os colaboradores nas decisões organizacionais.

Estas ações deliberadas e aplicadas exigem estru-

turas descentralizadas, ágeis e flexíveis, com prin-

cípios e visões compartilhadas, para que assim os

objetivos propostos sejam alcançados.

É da qualidade do capital humano, da capa-

cidade de uma equipe em criar, inovar, acelerar, agir

primeiro e melhor, que surge a vantagem daquelas

que conseguem manter seu espaço e seus valores

em tempos de crise. À medida que as organizações

se esforçam para tentar realizar seus projetos cor-

porativos, produzem e transmitem valores que se

transformam em elementos expres sivos da cultura

organizacional. Conhecer esses valores significa ter

formas de acesso a aspectos subjetivos da vida or-

ganizacional, condicionadores da cultura.

Portanto, compreender o modo como os

valores atribuem significado para o êxito organi-

zacional tornou-se altamente relevante frente às

necessidades apresentadas pelo mundo contem-

porâneo (TAMAYO; GONDIM, 1996). Já que para

alcançar seus objetivos, as organizações precisam

se constituir de pessoas capazes de reconhecer

estes valores, cumprir a missão organizacional,

atingir sua visão e administrar seus recursos para

superar metas.

Os valores apresentam-se como direcio-

nadores nas decisões dos indivíduos, responsáveis

por definir o que é desejável entre todas as opções

disponíveis para determinado contexto. Eles for-

necem um senso de direção comum a todos os

empregados e um guia para o comportamento

humano diário (BILSKY; SCHWARTZ, 1994;

TAMAYO, 1998; SANTOS; ROSSO, 2004; TAMAYO;

PORTO, 2005; PEREIRA, 2006). Tornando-se um

poderoso instrumento para explicar o com porta-

mento das organizações e seus membros. Diante

desse cenário, observa-se que os valores são

partes constituintes fundamentais na composição

da cultura organizacional e são reconhecidos por

meio da percepção que os colaboradores têm de

uma organização no momento em que o assumem

como elementos representativos dela.

Com isso, este estudo justifica-se pelo fato

dos indivíduos constituírem o meio pelo qual se in-

troduz a inteligência nos negócios e a racionalidade

nas decisões. Os valores percebidos e internaliza-

dos pelos colaboradores de uma organização atri-

buem significado ao modo de agir das pessoas em

determinadas situações, tornando-se indispensável

para a obtenção de êxito organizacional.

À medida que as

organizações se esforçam

para tentar realizar seus

projetos corporativos,

produzem e transmitem

valores que se transformam

em elementos expres sivos da

cultura organizacional.

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Nesta perspectiva, este estudo tem como

objetivo analisar a percepção dos valores orga-

nizacionais sob a ótica dos colaboradores em uma

instituição de ensino superior (IES).

1 Referencial Teórico

1.1 Valores

Os valores são considerados um dos

elementos constitutivos da cultura organizacional,

que por sua vez, representa um conjunto de

símbolos, cerimônias e mitos que transmitem os

valores e crenças subjacentes da organização

a seus colaboradores (OUCHI, 1982). Com base

nestes pressupostos, Schein (1984) desenvolveu

um esquema que analisa a cultura organizacional

por meio de seus componentes, explicando que

cada cultura se apresenta em três níveis distintos:

os artefatos, os valores compartilhados e os

pressupostos básicos.

Os valores são componentes fundamentais

da cultura organizacional, exercendo sobre ela uma

função de integração organizacional. Segundo

Schein (1987), eles formam o núcleo da cultura

e são percebidos facilmente pelos membros da

organização, que os reconhecem e os assumem

como característicos dela. O conceito de valores

surge das reflexões sobre os significados que

os valores pessoais apresentam no sentido de

direcionar o comportamento dos indivíduos, o

âmbito organizacional e suas respectivas culturas, e

revelam que o ser humano não é indiferente diante

da realidade em que vive (SCHWARTZ; BILSKY,

1987). Eles ainda atribuem significado à cultura

existente em cada organização. São representações

das metas humanas que coordenam seu com-

portamento, além de direcionar a forma como as

pessoas se comunicam. Os valores pessoais são

representações cognitivas das necessidades dos

indivíduos, enquanto os valores organizacionais

representam as necessidades das organizações,

que orientam o funcionamento e a vida desta

(TAMAYO, 1998; PEREIRA, 2006; TEIXEIRA,

2008). Nesse sentido, os valores se tornam um

instrumento capaz de explicar o comportamento

das organizações e seus membros.

Como consequência, as organizações pro -

curam selecionar novos funcionários que apresen-

tam modelos mentais mais próximos a seus valo-

res, de modo a facilitar sua socialização (O’REILLY

et al., 1991). Modelos mentais diferentes provocam,

inevitavelmente, percepções diferentes da orga-

nização, do comportamento e da forma como as

tarefas profissionais devem ser executadas (ROS;

GOUVEA, 2006).

1.2 A Teoria de Valores de Schwartz

Na teoria de valores de Schwartz, os valores

pessoais encontram maior relação com os estudos

organizacionais, no sentido em que avança em

direção à hierarquia de valores (ROS; GOUVEA,

As organizações

procuram selecionar

novos funcionários que

apresentam modelos

mentais mais próximos

a seus valores, de

modo a facilitar sua

socialização.

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66

2006) e busca identificar o significado do trabalho

na vida das pessoas, bem como o modo que este

significado influência a prioridade dos valores

culturais (SCHWARTZ, 1999).

Um sistema de valores pode ser percebido

por meio de uma estrutura bidimensional e bipolar,

contendo dez tipos motivacionais representados

por meio de uma apresentação gráfica circular

que demonstra as diferenças e semelhanças entre

os tipos motivacionais (SCHWARTZ, 1992). Ilustra-

-se esta estrutura por meio da FIG. 1.

FIGURA 1 – Valores Pessoais: modelo teórico das rela-ções entre os tipos motivacionais, tipos de valores de ordem superior e dimensões de valores bipolares

FONTE: Schwartz (1992, adaptado)

A estrutura de valores de Schwartz (1992)

apresenta quatro grandes ordens, formando duas

dimensões conceituais básicas: abertura à mu-

dança versus conservação e autopromoção versus

autotranscendência, que representam as relações

de conflito entre os tipos motivacionais específicos

de valores.

Segundo Teixeira (2008, p. 82):

O eixo da dimensão Abertura à Mudança versus Conser-

vação enfatiza o contraste entre a motivação para seguir

o interesse próprio em direções imprevistas e incertas,

com o desejo de manter o status quo e a segurança em

relacionamentos com o próximo, com as instituições e

as tradições. No outro eixo, a dimensão Autopromoção

versus Autotranscendência, mostra o conflito entre uma

orientação voltada para os interesses próprios em contraste

com uma orientação para considerar os interesses dos

outros, quer sejam indivíduos ou coletividades.

Schwartz (1999) propôs ainda uma teoria

composta por três dimensões bipolares: a natu-

reza das relações entre indivíduo e o grupo; o

comportamento responsável que vise preservar a

sociedade e a relação da humanidade ao mundo

natural e social. E, por sete tipos de valores pelos quais

as culturas possam ser comparadas: a harmonia, o

igualitarismo, a autonomia intelectual, a autonomia

efetiva, o domínio, hierarquia e o conservadorismo,

que definem a estrutura dos valores organizacionais

sob a ótica dos empregados.

Esse conjunto de postulados não implica

que os valores sejam os mesmos em todas as

organizações, mas sim, que eles se organizam

em torno dessas três dimensões (ROS; GOUVEA,

2006). A FIG. 2 apresenta a estrutura teórica dos

sete tipos de valores.

FIGURA 2 – Estrutura teórica dos tipos de valores

FONTE: Schwartz (1999, adaptado)

A primeira dimensão refere-se à definição da

natureza das relações entre o indivíduo e o grupo.

Aborda a polaridade entre o valor “conservadoris-

mo”, enfatiza aspectos culturais da manutenção da

posição social dentro da organização e a “autono-

mia” representada pelas culturas. Nestas, as pes-

soas são vistas como autônomas e encontram sen-

HarmoniaIgualitarismo

Domínio

Conservadorismo

Hierarquia

Ab

ert

ura

Co

nse

rvação

Universalism

o Ben

evolê

nci

a

Conform

idade

Tra

diç

ão

SegurançaPoder

Rea

lizaç

ão

Hedonismo

Estimulação

Autodeterminação

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tido em sua individualidade. Este valor subdivide-se

em “autonomia intelectual”, e se refere à indepen-

dência das ideias e “autonomia efetiva”, que busca

a independência individual e aspiração de experiên-

cias positivas (SCHWARTZ, 1999; SOARES, 2006).

Conforme Schwartz (1999) e Soares (2006),

garantir um comportamento responsável que

vise preservar a sociedade refere-se à segunda

dimensão, composta pelo valor “hierarquia”, que

trata da legitimação da distribuição desigual do

poder, regras e recursos e pelo valor “igualitarismo”,

que visa à transcendência dos interesses próprios

em prol do bem-estar dos outros.

A terceira dimensão representa a relação

entre a humanidade e o mundo natural e social e é

dividido pelo valor “domínio”, enfatizando valores

pessoais como ambição, sucesso e ousadia e o valor

“harmonia” que identifica o ajuste harmônico com

o meio ambiente, com destaque para a integração

com a natureza e proteção ao meio ambiente

(SCHWARTZ, 1999; SOARES, 2006).

A análise das três dimensões bipolares e

seus respectivos valores possibilita a cada empre-

gado identificar quais deles predominam em sua

organização, bem como, detectar diferenças entre

os valores internos e os de outras empresas

(TAMAYO et al., 2000).

Os valores adotados pelas organizações

para referenciar suas práticas refletem o que seu

corpo diretivo realmente acredita ser a realidade de

sua organização, ou o que eles gostariam que as

partes interessadas acreditassem ser a organização

(KABANOFF; DALY, 2002). Con side rando que as

prioridades dos valores cul turais são compartilha-

das, os gestores das instituições podem selecionar

comportamentos socialmente adequados e justifi-

car suas escolhas comportamentais aos demais.

Essas considerações permitem estudar os

valores organizacionais a partir da representação

mental dos empregados em relação ao sistema

axiológico da empresa. Ros e Gouvea (2006)

explicam que a verdadeira realidade organizacional

não é objetiva, mas representada e construída.

Cada ator organizacional assume um papel ativo na

construção dessa realidade por meio de diversos

esquemas interpretativos descritos na cultura de

uma organização.

Schwartz (1999) considera a dimensão cul-

tural de valores mais adequada, comparada à

dimensão individual, para o entendimento do sig-

nificado do trabalho, visto que a primeira, por ser

constituída pela sociedade ou grupo cultural, não

sofre o impacto das diferenças de prioridade de

valores pessoais (SOARES, 2006).

1.3 Abordagem Fundamentada em

Valores Pessoais

Os valores pessoais são considerados indi-

cadores das motivações das pessoas, em que as

prioridades axiológicas dos membros da orga-

ni zação podem determinar a quantidade de

esforço individualmente despendido para realizar

um determinado comportamento, bem como a

persistência em sua execução (OLIVEIRA; TAMAYO,

2004). Berger (2004) aponta que as regras de

comportamento estabelecidas por meio de acordos

entre as pessoas de um grupo, determinam as

situações sociais que produzem pressões com

a intenção de garantir que as pessoas deem as

respostas esperadas e adotadas pela sociedade.

A organização hierárquica dos valores indi-

ca o grau de preferência por determinados com-

portamentos, metas ou estratégias. Dessa forma,

as prioridades axiológicas distinguem uma organi-

zação da outra, conforme a escala de importância

dos valores, atribuída pelo corpo funcional de cada

organização (OLIVEIRA; TAMAYO, 2004).

A função dos valores é auxiliar na construção

de modelos que servem de orientação para as ne-

cessidades humanas, abordadas tanto sob as formas

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de expressar as necessidades humanas, tanto quan-

to um guia padrão de atividades no sentido de solu-

cionar conflitos e tomar decisões (SOARES, 2006).

Eles criam comportamentos e atitudes semelhantes

entre os empregados que, associados ao funciona-

mento e missão da organização, auxiliam na cons-

trução de uma identidade organizacional.

Os indivíduos transportam seus valores

pessoais para dentro das organizações assim que

são contratados e os valores organizacionais são

formados a partir de seus valores pessoais. Existe,

portanto, uma similaridade motivacional entre

os valores pessoais e os valores organizacionais.

A coexistência cotidiana entre eles no ambiente

organizacional constituiu um elemento suficiente

para justificar que Oliveira e Tamayo (2004) utili-

zassem o sistema motivacional de valores pessoais

proposto por Schwartz (1992) e assim, construir

e validar uma escala de medida de valores

organizacionais, o Inventário de Perfis de Valores

Organizacionais (IPVO), constituído pelos valores:

(i) realização: a valorização da competência pa-

ra o alcance do sucesso da organização e dos

empregados; (ii) conformidade: valorização do res-

peito às regras e modelos de comportamento no

ambiente de trabalho e no relacionamento com outras

organizações; (iii) domínio: valorização do poder,

tendo como meta a obtenção de status, controle

sobre pessoas, recursos e mercado; (iv) bem-estar:

valorização da satisfação dos empregados mediante

a qualidade de vida no trabalho; (v) tradição:

valorização dos costumes e práticas consagradas;

(vi) prestígio: valorização do prestígio organizacional

na sociedade, mediante a qualidade de produtos;

(vii) autonomia: valorização de desafios, a busca

de aperfeiçoamento constante, a curiosidade, a

variedade de experiências e a definição de objetivos

profissionais dos empre gados; (viii) preocupação

com a coletividade: valorização do relacionamento

com pessoas que estão próximas da comunidade.

Sob o ponto de vista conceitual, os valores

pessoais e os organizacionais apresentam compo-

nentes motivacionais, cognitivos, hierárquicos e

sociais semelhantes (OLIVEIRA; TAMAYO, 2004)

e guiam a vida das pessoas e das organizações,

cada qual sob seu respectivo valor.

2 Procedimentos Metodológicos

O principal objetivo deste estudo foi analisar

a percepção dos valores organizacionais sob a ótica

dos colaboradores em uma instituição de ensino

superior (IES). Para tanto, realizou-se a pesquisa

quantitativa, descritiva, transversal, por meio de

levantamento de dados primários, com a aplicação

de questionário. Richardson (1989) afirma que o

método quantitativo, como o próprio nome indica,

caracteriza-se pelo emprego da quantificação

tanto nas modalidades de coleta de informações,

quanto no tratamento dessas, por meio de técnicas

estatísticas, desde as mais simples, como percentual,

média, desvio-padrão, às mais complexas, como

análise discriminante, correlação canônica etc. Hair

Jr. et al. (2005) ex plicam que a pesquisa descritiva

têm seus planos estruturados e especificamente

criados para medir as características descritas em

uma questão de pesquisa.

Os indivíduos

transportam seus valores

pessoais para dentro das

organizações assim que

são contratados e os

valores organizacionais

são formados a

partir de seus valores

pessoais.

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A técnica utilizada foi survey, com escala lirket de seis pontos, que se baseia no questionamento aos

participantes com perguntas fechadas. O instrumento de pesquisa utilizado foi o questionário, já consolidado,

elaborado e praticado por Oliveira e Tamayo (2004) e Tamayo et al. (2000), que deram origem ao Inventário

de Perfis de Valores Organizacionais (IPVO).

Oliveira e Tamayo (2004) desenvolveram o IPVO em quatro etapas, que resultou em um dos questionários

utilizados por este estudo, contendo 48 itens em uma escala não numérica, distribuídos em oito fatores

(QUADRO 1).

QUADRO 1 – Fatores motivacionais do inventário de perfis de valores organizacionais

Fator/Valor Aspectos

1 Realização Competência e sucesso da organização e dos empregados.

2 Conformidade Respeito às regras e modelos de comportamento no ambiente.

3 Domínio Valorização do poder, status, controle sobre pessoas, recursos e mercado.

4 Bem-estar Satisfação dos empregados mediante a qualidade de vida no trabalho.

5 Tradição Valorização dos costumes e práticas consagradas.

6 Prestígio Valorização do prestígio organizacional.

7 Autonomia Desafios, aperfeiçoamento constante e curiosidade.

8 Preocupação com a coletividade Valorização do relacionamento com pessoas.

FONTE: Tamayo (2004)

O objeto para a aplicação desta pesquisa

foi uma IES escolhida por seu tempo de existência,

crescimento e representatividade na Região Norte

do Paraná. Suas atividades tiveram início em 2002,

com realização de cursos de Pós-Graduação Lato

Sensu inéditos na região. Em 2007 vieram os cur-

sos de graduação, e, em 2008, a consolidação do

grupo com a construção de seu campus institucio-

nal. Atualmente a IES funciona com os cursos de

Graduação em Administração e Direito, com apro-

ximadamente 1.000 discentes.

A amostra constitui-se de diretores, coorde-

nadores, professores e colaboradores da IES. Dos

70 colaboradores que compõem o quadro de fun-

cionários da organização, 62 responderam os ques-

tionários, perfazendo uma amostra consolidada de

respondentes de 88,60%, com erro amostral de 4%.

Em relação à análise dos dados, pode-se

afirmar que os recursos utilizados estão basea-

dos na estatística multivariada e sua apresenta-

ção foi disponibilizada em tabelas e textos des-

critivos. Apresentou-se uma tabela com o perfil

dos respondentes para melhor caracterização da

amostra estudada e analise das relações de pro-

porcionalidade entre grupos (tempo de trabalho,

cargos e gênero).

Dados descritivos foram apresentados das

percepções dos funcionários a respeito dos valo-

res organizacionais por meio das médias e des-

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70

vios -padrões, indicando maior ou menor percep-

ção dos valores e a amplitude da divergência de

percepções entre os funcionários.

A fim de verificar diferenças de percepções

de valores, estabeleceram-se grupos de análises.

Desta forma, foram criados grupos em relação

ao perfil dos respondentes, tais como tempo de

trabalho (grupo 1: menos de 6 meses trabalho;

grupo 2: mais de 6 meses de trabalho), cargos

(grupo 1: acadêmicos; grupo 2: diretor, coordenador;

grupo 3: administrativo; grupo 4: outros) e gênero

(grupo 1: feminino; grupo 2: masculino).

Foram verificadas as diferenças de percep-

ções por teste de igualdade das médias, levando

em consideração o coeficiente Wilks’ Lambda (es-

tatística U) e o teste F-ANOVA. O coeficiente Wilks’

Lambda implica na análise univariados, neste caso

cada um dos valores organizacionais, indicando a

habilidade discriminante de cada um deles entre

grupos. O teste F-ANOVA auxilia no entendimento

e análise do coeficiente Wilks’ Lambda por apre-

sentar o nível de significância de cada variável, que

pode indicar diferenças relevantes entre grupos.

Os critérios da interpretação destes testes

indicam que quanto menor o coeficiente Wilks’

TABELA 1 – Perfil dos respondentes

CargosMenos de 6 meses Mais de 6 meses Total %

Fem Masc Fem Masc Fem Masc Total F M

Acadêmico 10 10 8 7 18 17 35 51 49

Administrativo 4 2 4 1 8 3 11 73 27

Diretor/

Coordenador1 1 3 2 4 3 7 57 43

Outros 4 1 2 2 6 3 9 67 33

Subtotal 19 14 17 12 36 26 62 58 42

Total 33 (53%) 29 (47%) 62 (100%)

FONTE: Os autores (2012)

Lambda e quanto menor o F-ANOVA (desejável

ser menor que 0,05), mais discriminante será a

variável (HAIR JR. et al., 2005).

Dentre as limitações da pesquisa, destaca-se

que foi aplicada em um grupo restrito de indivíduos,

não sendo assim passível de generalizações; e sua

aplicação se deu em uma única IES, impossibilitando

estender seus resultados para outras instituições.

3 Análise de Dados

Inicialmente, levantou-se a caracterização do

perfil dos respondentes na organização pesquisada.

No total foram 62 funcionários, envolvendo cargos

acadêmicos, administrativos, diretoria/coordenação

e outros. Verificou-se dentre os pesquisados que

58% são do gênero feminino e 42% do gênero

masculino. Embora haja diferença de 16% entre

o número de homens e mulheres, não se pode

evidenciar tal discrepância na função acadêmica

em que 51% são mulheres e 49% são homens.

Nos demais cargos há predominância feminina,

conforme TAB. 1.

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TABELA 2 - Média total da amostra por fator motivacional (IPVO) e dimensão de Schwartz

Fator motivacional (IPVO) Dimensão de Schwartz (1992) Média Desvio Padrão

Conformidade Conservação 3,93 1,22

Realização Autopromoção 3,78 1,40

Preocupação com a coletividade (sociedade) Autotranscendência 3,77 1,39

Prestígio Autopromoção 3,52 1,27

Autonomia Abertura 3,50 1,38

Domínio Autopromoção 3,35 1,36

Tradição Conservação 2,45 1,36

Bem-estar Abertura 2,08 1,57

FONTE: Os autores (2012)

análise das assertivas que compõem este fator, ob-

serva-se que a maior similaridade encontrada pela

amostra de funcionários pesquisada está na honesti-

dade das pessoas em dizer a verdade como parte do

princípio da organização e o valor empregado ao re-

lacionamento com seus stakeholders (SCHWARTZ,

1999; OLIVEIRA; TAMAYO, 2004).

O fator motivacional prestígio, com mé-

dia 3,52, aponta aspectos relativos à influência e

prestígio da organização que, por meio do aperfei-

çoamento constante, busca admiração, reconheci-

mento e respeito da sociedade pela qualidade de

seus produtos e serviços prestados (SCHWARTZ,

1999; OLIVEIRA; TAMAYO, 2004). O fator motiva-

cional autonomia tem como meta oferecer desa-

fios e variedade no trabalho, além de estimular a

criatividade e a inovação. Essa dimensão foi apre-

sentada com média 3,50, o que demonstra que os

funcionários percebem um grau de abertura para

Conforme TAB. 3, a conformidade é o fator

motivacional de maior importância para a amostra

de funcionários da IES, com a maior média 3,93.

Este fator motivacional descreve o modo pelo qual

os indivíduos agem, considerando as expectativas

sociais e tendo como meta promover o status

quo. Ele se traduz em cortesia e boas maneiras

no trabalho e respeito às normas da instituição.

(SCHWARTZ, 1999; OLIVEIRA; TAMAYO, 2004).

Com média geral de 3,78, o fator motivacional

realização ficou com a segunda posição. Para este

fator, o principal destaque está na valorização profis-

sional dos funcionários que compõem a organização.

Nesta dimensão, eles acreditam que é importante

ser competente, demonstrando suas habilidades

e co nhecimentos (SCHWARTZ, 1999; OLIVEIRA;

TAMAYO, 2004). Próximo a este fator, ocupando a

terceira posição, tem-se o da preocupação com a

coletividade (sociedade) com média geral 3,77. Na

Destaca-se ainda que, no momento da pesquisa, grande número de funcionários (53%) ainda não havia

completado um semestre letivo de trabalho na instituição de ensino, sendo que 60% destes são professores

(acadêmicos). Desta forma, pode-se apresentar que a instituição de ensino pesquisada possui quadro de

funcionários que se divide homogeneamente em dois grupos: o primeiro com menos de 6 meses de trabalho

(grupo 1) e o outro com mais de 6 meses de trabalho (grupo 2).

Para alcançar o objetivo deste estudo, que é analisar a percepção dos valores organizacionais sob a

ótica dos colaboradores em uma IES, foram realizadas as médias dos respondentes, considerando a ferramenta

do IPVO de Oliveira e Tamayo (2004), apresentada na TAB. 2.

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72

TABELA 3 – Testes de igualdades das médias dos grupos – Tempo de trabalho

Fatores IPVO Wilks' Lambda F df1 df2 F-ANOVA

1 REALIZAÇÃO ,966 2,099 1 60 ,153

2 CONFORME ,997 ,153 1 60 ,697

3 DOMÍNIO ,986 ,872 1 60 ,354

4 BEM-ESTAR ,941 3,738 1 60 ,058

5 TRADIÇÃO ,997 ,161 1 60 ,690

6 PRESTÍGIO ,984 ,978 1 60 ,327

7 AUTONOMIA ,995 ,316 1 60 ,576

8 COLETIVIDADE ,979 1,315 1 60 ,256

FONTE: Dados da pesquisa (2012)

expor suas ideias e um incentivo quanto ao aper-

feiçoamento de suas competências (SCHWARTZ,

1999; OLIVEIRA; TAMAYO, 2004).

O fator motivacional domínio, com meta 3,35,

congrega itens relativos ao poder, cuja meta central

é a obtenção de status, controle sobre pessoas

e recursos, bem como à busca de uma posição

dominante no mercado (OLIVEIRA; TAMAYO,

2004). Ele também é associado à segurança dos

negócios e ao estímulo dos clientes na aquisição de

novos produtos ou serviços, atribuindo um aspecto

de preocupação com o domínio do mercado.

Tem como meta obter lucros, ser competitivo e

dominar o mercado, denotando importância para

o sucesso organizacional e satisfação dos clientes

(SCHWARTZ, 1999; OLIVEIRA; TAMAYO, 2004).

Apresentado na forma de ritos, crenças e

normas de comportamento, o fator motivacional

tradição geralmente ressalta a hierarquia e a

aceitação de regras, que preservam práticas

tradicionais e protegem a estabilidade, sua média

geral ficou em 2,45. Essa nota pode ser atribuída

ao fato da instituição atuar há pouco no mercado.

Com isso, seus funcionários não vivenciaram

momentos críticos, de transição, de inovação,

de celebração, entre outros, que fizessem com

que internalizassem “o jeito de fazer as coisas”

da organização, explicando o porquê deste fator

motivacional ter ficado em penúltimo lugar (TIDD;

BESSANT; PAVITT, 1997, p. 100; SCHWARTZ, 1999;

ROHAN, 2000; OLIVEIRA; TAMAYO, 2004).

E finalmente o fator motivacional bem-estar

que simboliza a compreensão, agradecimento, tole-

rância e proteção do bem-estar de todas as pessoas

e natureza. Seus valores são derivados das necessi-

dades de sobrevivência dos grupos e indivíduos. O

bem-estar tem como meta promover a satisfação e a

qualidade de vida no trabalho. A média de 2,08, pode

estar relacionada ao fato da organização não possuir

implementada práticas destinadas a satisfação pes-

soal de seus empregados, bem como projeto sociais

que contribuam para o seu bem-estar (SCHWARTZ,

1999; OLIVEIRA; TAMAYO, 2004).

Após essa primeira análise, buscou-se verificar

se a percepção dos valores organizacionais, medida

pelo inventário de Perfil dos Valores Organizacionais

(IPVO), possui comportamento heterogêneo entre

os grupos devido a diferença de tempo de trabalho

entre eles (grupo 1 < 6 meses e grupo 2 > que 6

meses). Para esta constatação, utilizou-se testes

de igualdades das médias dos grupos, conforme a

TAB. 3, os quais examinam a existência de diferenças

de percepções entre grupos e verifica se estas

diferenças são relevantes ao ponto de discriminá-los.

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TABELA 4 – Testes de igualdades das médias dos grupos – Cargos

Fatores IPVO Wilks' Lambda F df1 df2 F-ANOVA

1 REALIZAÇÃO ,986 ,280 3 58 ,840

2 CONFORME ,957 ,873 3 58 ,460

3 DOMÍNIO ,932 1,403 3 58 ,251

4 BEM-ESTAR ,895 2,261 3 58 ,091

5 TRADIÇÃO ,989 ,216 3 58 ,885

6 PRESTÍGIO ,957 ,868 3 58 ,463

7 AUTONOMIA ,955 ,913 3 58 ,441

8 COLETIVIDADE ,975 ,505 3 58 ,680

FONTE: Dados da pesquisa (2012)

De forma semelhante à análise realizada com

o tempo de trabalho, o cargo ocupado também

apresenta altas estatísticas para Wilks’Lambda e al-

tos valores de significância no teste F-ANOVA. Para

esta unidade de análise, a variável bem-estar tam-

bém apresentou as menores estatísticas, mas não

o suficiente para exercer função discriminante. Em

suma, os testes comprovam a igualdade das médi-

as dos grupos que, em termos práticos, refere-se à

ausência de diferenças significantes de percepções

Os resultados apontaram por meio do Wilks’Lambda (estatística U) que as variáveis em estudo, carac-

terizadas pelas altas estatísticas (todas próximas a 1), possuem baixo ou nenhum valor discriminatório para

os grupos de funcionários, indicando que as variáveis possuem semelhanças de médias entre os grupos.

Para esta análise, estatísticas próximas a zero são desejadas para inferir poder discriminatório às variáveis.

Buscando auxiliar a interpretação e avaliação da estatística U, realizou-se o teste F-ANOVA, apresentando

o nível de significância de cada variável, em que valores menores que 0,05 indicam diferenças significantes entre

as médias dos grupos (MARIO, 2009). Sendo assim, constata-se que o teste F-ANOVA confirma os resultados

da estatística U, uma vez que as variáveis em estudo possuem níveis de significância maiores que 0,05, e, por sua

vez, aponta para a homogeneidade entre as médias dos grupos. Nesta análise, verifica-se que, embora a variável

bem-estar possua o menor nível de significância e a menor estatística U (0,941) dentre as variáveis analisadas,

evidencia-se que seus valores ainda são altos perante os valores desejados. Portanto, as percepções de valores,

operacionalizadas pelas variáveis do IPVO não apresentam diferenças significantes que possam identificar os

funcionários por tempo de trabalho.

Nessa mesma lógica de análise, verificou-se também se o cargo ocupado pelo funcionário pode influen-

ciar na percepção dos valores organizacionais. Cada cargo foi considerado um grupo e esses foram codificados

por: Acadêmicos (grupo 1), Diretor/Coordenador (grupo 2), administrativo (grupo 3) e outros (grupo 4). Assim,

fez-se uso, de acordo com a análise anterior, da estatística U e do teste F-ANOVA, demonstrados na TAB. 4.

de valores organizacionais que possa caracterizar

os diferentes cargos ocupados pelos funcionários.

A última análise refere-se ao gênero dos

funcionários. As variáveis do IPVO foram ana-

lisadas a fim de identificar maiores ou menores

percepções de valores organizacionais entre o

gênero feminino (grupo1) e o gênero masculino

(grupo 2). Os testes das igualdades dos grupos

são apresentados na TAB. 5.

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74

TABELA 6 – Matriz de correlação entre as variáveis do IPVO

Realiz

ação

Co

nfo

rme

Do

mín

io

Be

m-e

star

Tra

diç

ão

Pre

stíg

io

Au

ton

om

iaREALIZAÇÃO -

CONFORME ,669**

DOMÍNIO ,141 ,329**

BEM-ESTAR ,608** ,350** ,052

TRADIÇÃO ,358** ,446** ,161 ,493**

PRESTÍGIO ,710** ,664** ,224 ,437** ,490**

AUTONOMIA ,839** ,701** ,270* ,617** ,372** ,719**

COLETIVIDADE ,855** ,689** ,107 ,659** ,383** ,693** ,815**

FONTE: Os autores (2012)* Correlação é significante ao nível de 0,01.** Correlação é significante ao nível de 0,05.

TABELA 5 – Testes de igualdades das médias dos grupos – Gênero

Fatores IPVO Wilks' Lambda F df1 df2 F-ANOVA

1 REALIZAÇÃO ,900 6,677 1 60 ,012

2 CONFORME ,993 ,426 1 60 ,516

3 DOMÍNIO ,941 3,772 1 60 ,057

4 BEM-ESTAR ,894 7,090 1 60 ,010

5 TRADIÇÃO ,999 ,047 1 60 ,829

6 PRESTÍGIO ,936 4,078 1 60 ,048

7 AUTONOMIA ,924 4,914 1 60 ,030

8 COLETIVIDADE ,891 7,369 1 60 ,009

FONTE: Os autores (2012)

Diferente das análises anteriores, o teste

de igualdade das médias dos grupos possibilitou

identificar variáveis que podem ter poder discri-

minante entre os gêneros. Verifica-se que todas as

variáveis possuem estatística U com valores eleva-

dos e algumas com níveis de significância satisfa-

tórios (bem-estar, prestígio, autonomia e coletivi-

dade), sendo assim, fazem-se necessárias análises

complementares para que se possa identificar va-

riáveis que tenham igualdade de médias refutadas

entre os grupos.

Para complementar o processo de análise,

apresentou-se uma matriz de correlação com as va-

riáveis do IPVO, a fim de verificar possíveis casos de

multicolinearidade e identificar variáveis que, mesmo

com bons níveis de significância, podem comprome-

ter o método stepwise, e assim, deixar de compor a

função discriminante. Destacado na TAB. 6.

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Com base na matriz demonstrada na TAB. 6, percebe-se que sete das oito variáveis em estudo possuem

correlações significantes ao nível de 0,05, e que apenas a variável domínio possui comportamento diferenciado das

demais por apresentar correlações não significantes ao nível de 0,01 e 0,05. Desta forma, foi realizado o teste final

para verificação da quebra ou não da premissa da igualdade das médias dos grupos por meio do teste Box’s M.

TABELA 7 – Teste Box’s M

Box's M 4,223

F

Approx. 1,355

df1 3

df2 244605,745

Sig. ,255

FONTE: Os autores (2012)

Nesse teste (TAB. 7), pode-se constatar que as médias dos grupos das variáveis em estudo quebram a

premissa da igualdade de médias entre grupos por apresentar nível de significância de 0,255, ou seja, maior

do que o valor desejado de 0,05. Isso significa que existem variáveis com poder discriminante, uma vez que as

médias entre grupos (feminino e masculino) são diferentes. Sendo assim, por meio dos coeficientes da função

discriminante canônica, identificaram-se as variáveis que representam a desigualdade das médias dos grupos e

que representam diferenças de percepção de valores organizacionais entre os gêneros.

TABELA 8 – Função discriminante canônica e função discriminante linear de Fisher

Função Gênero

1 Feminino Masculino Tolerância

COLETIVIDADE ,764 2,664 3,398 ,958

DOMÍNIO -,738 4,525 3,817 ,958

(Constant) -,378 -17,209 -17,646

FONTE: Os autores (2012)

A leitura da equação canônica, dada pela

Função 1 na TAB. 8, indica que as variáveis coletivi-

dade e domínio compõem a função discriminante,

carac terizadas por altos pesos com sinais invertidos,

dada a ausência de multicolinearidade entre elas.

A ausência da multicolinearidade afeta também o

poder de explicação das variáveis, já que ambas

não oferecem explicações redundantes quanto às

diferenças de percepções entre gêneros (0,958

constante na coluna Tolerância).

As análises do coeficiente de Fisher (colunas

Gênero) sugerem que as mulheres têm maior per-

cepção no fator motivacional domínio, que pos-

suem prevalência no eixo autopromoção (FIG. 1),

indicando uma orientação voltada para valoriza-

ção do poder, com tendência sobre a competi-

tividade da organização e domínio de mercado.

Os homens se destacam no fator motivacional

coletividade (sociedade), enquadrando-se no eixo

autotranscendência (FIG. 1), com preocupações

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De acordo com a TAB. 9, as variáveis coletividade e domínio possuem poder discriminante para o

gênero feminino em torno de 66,7%, enquanto para o gênero masculino 73,1%. De uma forma geral, pode-se

afirmar que a validade discriminante das variáveis em epígrafe é de 69,9%.

voltadas ao relacionamento com seus stakeholders. Com isso, são mais perceptivos aos tratamentos iguali-

tários, justos e honestos, atentos à satisfação dos seus pares.

Para finalizar, buscou-se compreender a eficiência da discriminação entre homens e mulheres baseada na

análise da coletividade e domínio. Para isso, a Função 1 foi executada e seus resultados são apresentados na TAB. 9.

TABELA 9 – Classificação de gêneros

GêneroPredições

TotalFeminino Masculino

ContagemFeminino 24 12 36

Masculino 7 19 26

%Feminino 66,7 33,3 100,0

Masculino 26,9 73,1 100,0

FONTE: Os autores (2012)

Considerações Finais

As empresas buscam competitividade no

mercado, desenvolvendo estratégias que as possi-

bilitem alcançarem seus objetivos. Porém, as metas

organizacionais devem estar alinhadas aos seus va-

lores, visto que os resultados obtidos terão grande

influência daqueles que executam as tarefas cotidi-

anas. Os valores organizacionais atuam como guias,

orientando o comportamento de pessoas e orga-

nizações. Efetivamente, eles norteiam as ações de

cada indivíduo que integra uma instituição e, portan-

to, fazem parte do núcleo da cultura organizacional.

Identificar quais valores organizacionais

norteiam as decisões dos funcionários de uma or-

ganização, pode ajudá-la a entender sua posição

no mercado. Nesse sentido, este estudo teve por

objetivo analisar a percepção dos valores orga-

nizacionais sob a ótica dos colaboradores em uma

instituição de ensino superior.

Como resultado, foi possível identificar que

o valor organizacional conformidade foi consi-

derado o mais importante pelos funcionários da

IES, indicando respeito pelas regras e normas da

instituição e manutenção do status quo. Em seguida,

o valor realização, representando a percepção

dos funcionários quanto à valorização de suas

competências, habilidades e conhecimentos por

parte da empresa. Em terceiro lugar, destaca-se o

valor coletividade, demonstrando a preocupação

dos funcionários com o relacionamento de seus

stakeholders. O valor prestígio segue em quarto

lugar, e representa a importância da empresa pelo

reconhecimento e respeito da sociedade pela

qualidade de seus serviços. No quinto lugar está o

valor autonomia, sugerindo abertura dos funcionários

em expor suas ideias e identificando a capacidade

da IES em promover um ambiente desafiador para

se trabalhar. Em sexto lugar, encontra-se o valor

domínio, mostrando que a liderança do mercado

não é percebida como primordial. O penúltimo lugar

é representado pelo valor tradição, com pouca

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representatividade devido aos poucos anos de

existência da organização, evidenciando uma cultura

em formação. E por último, o valor bem-estar, com

a menor média, comprovando não ser percebido

pelos funcionários da IES questões relacionadas à

qualidade de vida e projetos sociais.

Os resultados demonstram que os valores

organizacionais da instituição pesquisada são

condizentes com o seu porte e tempo de existência.

Uma vez que a pouca idade da instituição não

lhe permite, ainda, possuir valores relacionados à

tradição, característica esta que leva tempo para

ser desenvolvida e internalizada pelos funcionários.

Dominação, atributo este que inicialmente precisa

passar pela estabilização no mercado em que

atuam. E por fim, o valor bem-estar que foi o último

na relação de importância, pois está relacionado

com a maturidade e o planejamento da instituição

em atender esta que é uma demanda cada vez mais

requerida pelos funcionários.

Além da classificação dos valores, foi realizada

análise discriminante múltipla com o objetivo de

determinar a existência ou não de diferenças entre

grupos no que se refere a percepção dos valores

organizacionais. Para os grupos “tempo de trabalho”

e “cargos” não houve diferenças entre os valores

organizacionais. No entanto, entre o grupo “gênero”

ocorreu diferença entre os fatores motivacionais,

coletividade e domínio, evidenciando que mulheres

tendem para o valor domínio, indicando uma busca

por prestígio, associado à sua posição na empresa e

propensão a controlar os diversos recursos existentes

na organização. Enquanto o homem enfatiza o

valor coletividade, sugerindo maior atenção no

relacionamento com seus stakeholders. Neste caso,

a preocupação é com o tratamento e treinamento

oferecido aos funcionários, e a boa convivência com

os clientes e os fornecedores.

Este é um achado interessante, uma vez

que de forma polarizada, o que se tem é o homem

desempenhando o papel de “dominador” e a mulher

atuando como “dominada”, o que demonstra que as

relações de poder entre homens e mulheres, altera-

se também a configuração das relações sociais

entre esses sujeitos no âmbito organizacional

(CAPPELLE, et al. 2004) Os resultados evidenciam

que este ambiente está em permanente modificação

nos hábitos e condições de vida, permeadas por

inovações tecnológicas e pelo desenvolvimento

sociocultural. E, por mais que se busque a igualdade

entre gêneros, é preciso considerar as diferenças

existentes e utilizá-las a favor da empresa, na busca

de melhores resultados.

O tema deste estudo é amplo e relevante

para o entendimento do cotidiano organizacional,

cabe indagar se novas pesquisas poderiam

proporcionar resultados parecidos, bem como se

seria interessante a realização de novos estudos

aplicados em outras instituições privadas, públicas,

ou ainda, relacionando valores organizacionais

entre instituições públicas e privadas.

Adotando as considerações de Tamayo (1998),

em que os valores organizacionais correspondem

aos valores percebidos como característicos de

uma organização e que são importantes na própria

construção da identidade de uma organização,

cabe questionar se a forma como as organizações

são reconhecidas no mercado podem ter relação

com os valores percebidos e praticados por seus

colaboradores.

De qualquer modo, este trabalho representa

um passo no sentido de mensurar a percepção dos

colaboradores em identificar os valores organizacio-

nais compartilhados pela instituição pesquisada. As-

sim, entende-se que as organizações precisam em-

preender os maiores e melhores esforços no sentido

de identificar quais valores representam o comporta-

mento de seus colaboradores e, consequentemente,

verificar de que maneira esses valores contribuem

para o êxito organizacional.

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As contribuições e o pensamento de John Stuart Mill no campo da economiaThe contributions of the John Stuart Mill’s thoughts about economy

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R e v . F A E , C u r i t i b a , v. 17, n. 1, p. 80 - 95, jan./jun. 201481

Eduardo H. Martins L. Scoville1

Gilson Batista de Oliveira2

Resumo

O objetivo desse artigo é apresentar a contribuição de John Stuart Mill para a

evolução do pensamento econômico. Alguns aspectos teóricos levantados por

ele são incoerentes e contraditórios e outros extremamente intrigantes dentro

do debate econômico. Sobre Mill, pode-se dizer que poucos economistas

tiveram uma obra tão vasta e aberta para discussões realmente relevantes

para o progresso da Economia Política.

Palavras-chave: Economia política. Utilitarismo. Estado Estacionário.

Abstract

The aim of this paper is to present the contribution of John Stuart Mill to the

evolution of economic approach. Some theoretical issues raised by him are

inconsistent and contradictory and the extremely intriguing in the economic

debate. About Mill, one can say that few economists had a work so vast and

truly open for discussions relevant to the advancement of political economy.

Keywords: Political economy. Utilitarianism. Steady State.

1 Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Professor da FAE Centro Universitário/Curitiba-PR. E-mail: [email protected].

2 Doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA).

E-mail: [email protected].

As contribuições e o pensamento de John Stuart Mill no campo da economiaThe contributions of the John Stuart Mill’s thoughts about economy

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82

Introdução

Presentemente, é percebido pela maioria

dos pesquisadores do pensamento econômico,

que a maioria das formulações teóricas que

aparecem em “Uma investigação sobre as causas

da riqueza das nações” (1776), do célebre filósofo e

economista escocês, Adam Smith (1723-1790), não

são inteiramente originárias do autor. Adam Smith

abordou questões como a Teoria do Valor-Trabalho,

que já aparecera nos escritos de William Petty (1623-

-1687), ou do liberalismo econômico, das obras de

seu grande mestre, David Hume (1711-1776), de forma

elegante, vigorosa e essencialmente acadêmica, por

meio de uma combinação dos métodos dedutivos

e históricos indutivos. Smith organizou um ideário

previamente elaborado, averiguou as fontes do

crescimento econômico e ofereceu notáveis consi-

derações pessoais. Mesmo assim, a sua obra mais

conhecida não perdeu em qualidade, tornando-se

um paradigma teórico no final do século XVIII e a

pedra angular da Economia Política.

“Princípios de economia política” (1848),

de John Stuart Mill (1806-1873), também não foi

marcado pela integral originalidade das ideias

expostas. Todavia, a obra apresenta o principal do

corolário teórico da Economia Política Clássica, com

um importante pormenor: o autor não se limitou a

reproduzir os pressupostos clássicos. Mill, de forma

airosa e clara, expôs as principais ideias de Jean

Baptiste Say (1767-1832) e David Ricardo (1772-

1823), revitalizando-as, completando-as, mas não

as vulgarizando de forma doutrinária. Apresentou

considerações que, em muitos casos, acabavam por

destoar de muitas das premissas básicas, como nos

casos da Teoria do Valor-Utilidade, da distribuição

da riqueza e do intervencionismo do Estado.

O ecletismo intelectual de Mill, um ponto

coincidente com Smith, vindo da educação que seu

pai (o renomado economista James Mill, 1773-1836)

impôs desde os 5 anos de idade, contribuiu para

que a sua obra não se encerrasse em uma postura

totalmente rígida em relação aos economistas

clássicos e tampouco à Economia Política. Aos 12

anos, Mill já possuía um grande conhecimento em

história, lógica, filosofia clássica, poesia, álgebra

e geometria, além do total domínio do latim e do

grego. A tutela de David Ricardo e as lições diárias

de seu pai, que enfatizavam o pensamento de

seu tutor, de T. R. Malthus (1766-1834) e Jeremy

Bentham (1748-1832) despertaram o interesse pela

economia e, principalmente, pelo utilitarismo do

último autor. O aprendiz, diariamente, apresentava

resumos que, mais tarde, serviram de base para a

obra de seu pai, “Elementos de economia política”

(1821), apesar dele não fazer menção à contribuição

do filho.

Até os 20 anos, Mill estava totalmente

imerso na Economia Clássica e no utilitarismo

Bentham3 Depois de uma grave depressão, revê

suas considerações e crenças, e neste período

as mais variadas áreas da atividade intelectual,

como a poesia romântica de William Wordsworth,

alteraram muitas das suas antigas convicções.

O romancista Charles Dickens (1812-1870), um

dos melhores relatores dos efeitos da Revolução

Industrial sobre a população pobre inglesa,

descritos em obras como “Oliver Twist” (1837),

“Christmas Carol” (1843) e “Hard Times” (1854), e

o cartista inglês Thomas Carlyle (1795-1881), que

chamou a Economia Política de ciência lúgubre,

contribuíram também nas novas concepções de

Mill. Questões como o sufrágio universal, reformas

econômicas, o governo representativo, o voto

feminino, abolicionismo, dentre outros, passam

a permear as suas preocupações cotidianas. No

entanto, seria a jovem Harriet Taylor (1808-1858),

quem Mill desposaria em 1853, a maior influência.

Segundo Mill (1986, p. 8), em sua autobiografia,

3 A convicção de Mill no utilitarismo de Bentham e na Teoria da População de Malthus era visível. Aos 17 anos, plenamente absorvido pela Teoria da População de Malthus, Mill foi preso por distribuir panfletos defendendo o controle da natalidade e da contracepção.

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publicada em 1873, Harriet Taylor “foi a autora do

que há de melhor em minha obra”.

Após 5 anos da publicação de “Sistema de

lógica” (1843), trabalho influenciado pelo positivismo

de Auguste Comte (1798-1857), Mill publica a sua

contribuição máxima para a Economia, “Princípios

de economia política”. Tal obra teria uma grande

influência e se tornaria o livro-texto da cadeira de

Economia Política da maioria das universidades

inglesas na segunda metade do século XIX. Uma

geração de economistas ingleses, notadamente

Alfred Marshall (1842-1924), foram extremamente

influenciados pelas ideias contidas no livro. O

historiador do pensamento econômico, HUNT (1981,

p. 202), chegou a afirmar corretamente que Mill foi

o precursor da escola neoclássica de Marshall.

Sendo apontado por muitos como o filó-

sofo do liberalismo clássico e do utilitarismo, a

obra “Princípios de economia política” confirma

tal posição, Mill, por outro lado, se inclinava nas

ponderações de reformadores sociais como Henri

Saint-Simon (1760-1825) e C. L. S. Sismondi (1773-

1842), verificando as dificuldades no processo de

distribuição da riqueza e o emprego do utilitarismo

como meio para fins estreitos, por exemplo.

Não considerava que o estado mínimo, a livre

concorrência na iniciativa privada e a propriedade

privada representassem o estágio mais evoluído da

economia. Acreditava que o sistema cooperativo

de produção seria o último estágio, se aproximando

muito do socialismo utópico. Estas questões foram

abordadas mais claramente em seus escritos de

ciência política tais como “O utilitarismo” (1863),

“Sobre a liberdade” (1859), “Considerações sobre

o governo representativo” (1860).

Tal posicionamento fez com que Karl Marx

(1818-1883), em suas obras “Contribuição pa ra

a crítica da economia política” (1859) e “O capi-

tal” (1867), levasse a sério Mill como oponente

intelectual. Mesmo assim, o filósofo/economista/

sociólogo alemão desferiu uma severa crítica a

obra “Princípios...”, acerca da separação da pro-

dução e a distribuição, pois as duas estavam in ti-

mamente ligadas.

John Stuart Mill permanece como uma

figura ímpar na Economia Política. A sua obra

econômica vem à luz quando a Economia Clássica

(basicamente as ideias de David Ricardo) estavam

sendo postas à prova. A materialização de algumas

ideias de Ricardo, tais como o lastro da libra com

o ouro, que levou a uma crise sem precedentes na

Inglaterra em meados do século XIX, por exemplo,

atirou os esquemas e os modelos interpretativos

clássicos em uma vala de dúvidas e suspeitas. Mill,

e possuía uma enorme capacidade, para tanto,

buscou recuperar as premissas dos seus mestres,

mesmo que mais tarde chegasse a conclusões por

vezes díspares deles.

Mill apresentou influentes teorias como a

do valor, da distribuição, dos salários e do inter-

vencionismo do Estado. O propósito da pre sente

pesquisa é apresentar alguns aspectos de seus

pensamentos na área econômica. Alguns são

incoerentes e contraditórios e outros extremamente

intrigantes dentro do debate econômico. Poucos

economistas – e o fato de também ser um filósofo

é cabal para tal constatação – tiveram uma obra

tão vasta e aberta para discussões realmente

relevantes para o progresso da Economia Política.

1 A Questão do Valor: um Utilitarismo Revisto

Um discípulo de Bentham e Ricardo. Assim

Mill se definia. Porém, o autor se afastou tanto de

alguns pressupostos básicos apontados pelos seus

mestres que acabou moldando uma concepção

de valor que não recaia nem no utilitarismo de

certa forma puro e tampouco na Teoria do Valor-

-Trabalho.

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O filósofo inglês Jeremy Bentham, no final do

século XVIII, apresentou premissas que embasavam o

pensamento utilitarista. Primeiramente, afirmou que

todos os motivos humanos podem ser reduzidos à

busca incessante do prazer e de evitar a dor, baseada

única e exclusivamente no interesse próprio. Assim,

para Bentham, os dois princípios soberanos que a

natureza depositou e que governam a humanidade

eram a dor e o prazer. Destarte, estes princípios

determinarão a utilidade, que pode ser quantificada,

tornando-se também a medida invariável do valor

de troca de qualquer objeto. Portanto, a utilidade é

a propriedade de um determinado bem de produzir

algum benefício ou evitar danos (HUNT, 1981, p. 147).

Desta maneira, Bentham aponta para a

utilidade como medida invariável e quantificável,

apesar de utilizá-la basicamente na ética e moral.

O autor refutou a quantidade de trabalho como

medida de valor, ao contrário das proposições de

Adam Smith, e criticou o exemplo da água e do

diamante4. O trabalho é realizado somente se há

a promessa de produzir prazer ou de evitar a dor,

e normalmente é considerado penoso, gerando

aversão nos indivíduos. Portanto, as pessoas não

o concebem como uma medida que determina o

valor de bens ou ações (BENTHAM, 1984).

Todo indivíduo é único e possui o livre

arbítrio de seus próprios prazeres e dores,

pressupôs Jeremy Bentham. Por isso é inconcebível

a comparação de prazeres entre os indivíduos. Tal

pressuposto pode ser interpretado da seguinte

forma: se a quantidade de satisfação for a mesma,

limpar uma janela seria igualmente prazeroso do

que pintar quadros (HUNT, 1981, p. 203).

Ao adotar parcialmente as suposições de

Bentham e verificar certas incoerências, Mill aporta

em um utilitarismo diferente do daquele que sempre

professou, como o seu mestre. Inicialmente, aceita

que a riqueza provém da utilidade gerada pelo

trabalho. Porém, afirma que o motivo maximizador

da utilidade e a atuação unicamente em interesse

próprio seriam visíveis somente em indivíduos

cuja personalidade fosse modelada dentro de uma

lógica de mercado puramente concorrencial –

capitalista, ou seja, o interesse próprio não é o único

elemento que condiciona as motivações humanas

(HUNT, 1981, p. 204). A redução das motivações

humanas a interesses próprios que sempre buscam

a maximização da utilidade servem unicamente

como artifício para a análise da Economia Política.

Ao construir o conceito de homem econô-

mico, Mill apresenta um elemento fundamental

para a construção dos modelos econômicos. A

Economia Política deveria, segundo o autor, se

voltar para as atividades puramente econômicas,

tornando alheia qualquer conduta que não seja

voltada para a acumulação material5. Isto é, deve-se

isolar os comportamentos puramente pecuniários,

orientados para a obtenção de riquezas, e dar

como certa a aversão ao trabalho. Assim, o homem

econômico é um ser fictício, pois são abstraídos dele

todas as paixões e motivos humanos que não sejam

a procura incessante pela renda monetária e pela

reprodução de sua própria espécie6. A humanidade

não se comporta necessariamente assim, mas

tal padronização de comportamento facilita a

construção de modelos econômicos capazes de

apresentar previsões de curto e longo prazo.

4 Bentham critica o exemplo do diamante e da água de Adam Smith, pois o filósofo escocês determina uma relação inversa entre valor de uso e valor de troca. Maiores informações ver: Bentham (1984) e Smith (1986).

5 Neste ponto, deve-se ressaltar que Mill parte das concepções de David Ricardo sobre a análise da Economia Política. Ricardo verifica que a análise da economia deveria recair na estrutura e não no indivíduo, pois a primeira condiciona o segundo. Ao construir um comportamento padrão para trabalhadores, capitalistas e proprietários de terras, Ricardo acaba por moldar um modelo explicativo utilizando as ações puramente econômicas. Este modelo abstrato buscava cunhar previsões e não tendências históricas inalteráveis. Tal modelo influenciou muito Mill, que tentou salvá-lo após as inúmeras críticas feitas as previsões de Ricardo. Maiores detalhes ver Ricardo (1982) e Meek (1971, p. 99).

6 Esta última consideração provém da aceitação de Mill à Teoria da População de Malthus, que buscou averiguar as causas e os efeitos do crescimento demográfico desordenado. Para Malthus, a população crescia em progressão geométrica devido à ânsia de reprodução das camadas menos favorecidas, que são desprovidas do que o autor denominou de contenção moral. Maiores detalhes ver Malthus (1996).

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Como visto anteriormente, Bentham não

comparava negativamente prazeres qualita tiva-

mente diferentes. Contudo, Mill discorda des-

ta suposição e destaca a valoração moral de

prazeres. Alguns prazeres são muito mais dese-

já veis e valiosos que outros, pois envolvem

julgamentos morais. Ou seja, limpar uma janela

possui um princípio moral menos elevado do que

pintar quadros. Portanto, pintar quadros é muito

mais desejado do que o de limpar uma janela,

independentemente da quantidade de prazer

envolvida. Segundo o historiador do pensamento

econômico Hunt (1981), tal posicionamento de

Mill o afasta dos princípios básicos do utilitarismo,

apesar de se declarar um utilitarista.

O prazer, segundo este enfoque, não é o normativo

final. Mill não tinha dúvida alguma de que era melhor ser

um Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito. Isto

destrói por completo a base sobre a qual os economistas

utilitaristas construíram as suas economias normativas

e procuraram mostrar a vantagem universal da troca.

[...] e apesar do fato de que o utilitarismo influenciou

significativamente suas ideias, ele não era, com certeza,

um utilitarista convicto (HUNT, 1981, p. 204).

Mill também se afasta de seu outro mestre,

David Ricardo, no tocante da determinação do

valor. David Ricardo pressupunha que todo bem

possui uma utilidade, ou seja, um valor de uso.

Porém, a utilidade é um elemento condicionante

para o bem ser produzido. Assim, David Ricardo

proferiu que havendo utilidade, todo bem terá

seu valor de troca determinado pela escassez ou

pela quantidade de trabalho incorporado. Mas

Ricardo não se preocupou com bens escassos,

que ele exemplificou em vinhos e quadros raros,

por exemplo, pois estes não são reproduzíveis e

seus valores de troca são altos devido à dificul-

dade em adquiri-los. Além disso, não afetam o

processo de distribuição dos fatores de produção

e não contribuem para acumulação de capital,

que é essencial para o bem-estar do país. Bens

reproduzíveis e, industrializados são fruto do

trabalho humano, e estes são os que realmente

importam para o crescimento da economia nacional.

Portanto, o valor de troca é determinado pela

quantidade de trabalho humano, tanto o aplicado

diretamente na confecção de uma mercadoria

como também o depositado nas máquinas e equi-

pamentos (RICARDO, 1982, p. 43-63).

Ao verificar mercadorias com a mesma

quantidade de trabalho humano, mas com preços

diferentes, Ricardo, ao contrário de Smith, que

conseguiu somente visualizar a Teoria do Valor-

-Trabalho nas sociedades primitivas, constatou

que a medida trabalho não variava, mas sim os

preços, compostos por salários e lucros. O que

alterava a medida preço eram os lucros, que eram

afetados pela quantidade, qualidade e durabilidade

do capital fixo (máquinas, instalações e outros)

(RICARDO, 1982, p. 43-63).

Mill inicialmente afiança que o valor de uma

mercadoria depende da quantidade de trabalho

necessário para a sua produção. Assegura também

que os instrumentos de produção foram produzidos

pelo trabalho e pelo capital, que podem ser medidos

por trabalho. Porém, logo adverte que o trabalho é

o mais importante elemento na determinação do

valor, mas não é o único (MILL, 1983, p. 50-59).

A quantidade de trabalho determinaria o valor

de um bem se as proporções de capital e trabalho

fossem idênticas em todas as indústrias. Neste

caso, os custos de produção de uma mercadoria

(somatório do preço do capital, do trabalho e da

terra) seriam equivalentes ao trabalho incorporado

em todos os elementos necessários à produção

(máquinas, prédios etc), porém, isso não acontecia

em todas as indústrias (MILL, 1983, p. 50-59).

Nesse ponto, há uma discordância com

Ricardo, e Mill acaba determinando que o trabalho

não estava por trás do valor de troca. O valor não

é nada mais que o valor de troca ou preço relativo

e que era inútil tentar verificar o trabalho como

medida invariável (MILL, 1983b, p. 4). Além disso,

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o processo de ajustamento do mercado causava

variações tanto na renda quanto no preço relativo.

O trabalho é o agente da produção de

utilidades. A utilidade expressa a aptidão de alguma

coisa em satisfazer as necessidades. Alguma coisa

somente terá valor se for útil. Portanto, a utilidade

determinará o preço máximo que o indivíduo

estará disposto a pagar (MILL, 1983b, p. 9-10).

Quanto à questão do custo de produção,

ele reaparece conjugado com a utilidade. No livro

Princípios..., o autor busca desvendar os elementos

determinantes do valor de troca. Neste trabalho,

Mill apresenta a relação entre a oferta e a demanda

com o valor e conclui: O valor de troca dependerá

da utilidade e da dificuldade de aquisição de um

determinado bem.

Para que uma coisa tenha algum valor de troca, são

necessárias duas condições. A coisa deve ter alguma

utilidade, isto é (como já explicamos), deve servir para

alguma finalidade, atender algum desejo. Ninguém

pagará um preço, ou se desfará de alguma coisa que

serve a algum de seus objetivos, para adquirir uma coisa

que não atenda a nenhuma de suas finalidades. Em

segundo lugar, a coisa não deve ter somente alguma

utilidade, mas também deve haver alguma dificuldade

para consegui-la (MILL, 1983b, p. 9).

Ele retoma a questão dos bens reproduzíveis,

assim como Ricardo, e verifica que a dificuldade de

aquisição está intimamente ligada aos custos de

produção de um determinado bem. Se houver al-

guém disposto a cobrir os preços de custos, então

este bem será produzido. Não havendo nenhum

produtor disposto a custear tal bem, ele não será

disponibilizado ao mercado (MILL, 1983b, p. 17-18).

Conclui-se, portanto, que o custo de produção re-

gu lará a disponibilidade de bens no mercado7.

Quando a produção de um artigo resulta do trabalho e

dos gastos feitos, seja o artigo suscetível de multiplicação

ilimitada ou não, há um valor mínimo que representa a

condição essencial para que ele seja permanentemente

produzido. O valor, em qualquer momento determinado,

é resultado da oferta e da procura, sendo isso sempre

necessário para criar um mercado para a oferta

existente. Entretanto, se tal valor não for suficiente

para compensar o custo de produção, e, além disso,

para assegurar o lucro normal que se espera, não se

continuará a produzir a mercadoria (MILL, 1983b, p. 17).

A teoria do valor de Mill, baseada em custos

de produção e utilidade, obviamente se refere à es-

fera da troca. O autor adota a Teoria de Preços e

afirma que o preço de mercado seria ajustado pela

oferta e pela demanda, mas este sempre se aproxi-

maria do preço natural8 - preços habitualmente

praticados (MILL, 1983b, p. 101). Tal processo de

ajuste faz com que a renda e os preços se modi-

fiquem, mas impedem uma perene superprodução

de mercadorias. Neste ponto, há uma inversão feita

por Mill à “lei de Say”, pois o filósofo/economista in-

glês verificava que era possível uma superprodução

geral de mercadorias, porém chegou à conclusão

que essa também seria temporária (MILL, 1983b,

p. 107). No entanto, verificou também que toda

crise levava muitos à pauperização9.

7 O economista inglês, Alfred Marshall, recorre a essa formulação de valor. Porém, o analisa por meio da combinação entre utilidade marginal (o valor é determinado pela utilidade da unidade adicional consumida) e custos de produção. Maiores informações ver Silva (1997, p. 149 – 156).

8 A teoria de preços referida é a de Adam Smith. Há dois preços: o natural (salários, lucros e renda da terra em seus níveis habituais) e o de mercado (regulado pela oferta e demanda). Para Smith, o preço de mercado sempre se aproximaria do preço natural devido aos ajustes naturais do mercado. Maiores informações em SMITH (1986 p. 47-52).

9 A lei de Say, que na verdade foi desenvolvida por James Mill, pai de John Stuart Mill, e não pelo economista francês Jean Baptiste Say, foi derivada da Teoria de Preços de Adam Smith e tornou-se a pedra angular de toda a teoria clássica e neoclássica. Segundo a lei de Say, toda oferta gera uma demanda de mesma magnitude a pleno emprego de fatores de produção. Tal lei também propunha que poderia haver uma superprodução de mercadorias, mas esta não seria geral. As faltas e os excessos se cancelariam e a superprodução seria temporária. Maiores informações ver Say (1986).

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2 A Questão da Distribuição: em Direção do Socialismo

Ao verificar o processo de distribuição, os

salários e os lucros mereceram, por parte de Mill, uma

atenção muito especial. Voltando-se para a esfera

da troca, Mill concluiu que os lucros eram gerados

pela permuta de mercadorias e não na produção.

Seguindo a premissa do também economista inglês

Nassau William Senior (1790-1864), concluiu que

o lucro é preço da abstinência, uma recompensa

que o industrial deseja por deixar de consumir o

capital para o seu próprio uso e por permitir que

os trabalhadores o utilizem para gerarem utilidades

que os beneficiar. A taxa mínima ou natural do

lucro é aquela que remunera o risco, a abstinência,

o esforço e a habilidade de supervisionar do ca-

pitalista (MILL, 1983a, p. 333-334).

Ao verificar os salários, Mill conclui, assim

como a maioria da escola clássica (Smith, Ricardo,

Malthus e Sênior), que ele era determinado pela

divisão do fundo para o pagamento de salários

pelo número de trabalhadores que vão o dividir.

Porém, Mill não considerava o fundo salarial

como o capital total, como Smith defendia nem

o fundo de subsistência como arguiu Malthus ou

somente o capital circulante, posição defendida

por Ricardo10. Mill apresentou outra definição

de fundo salarial: é apenas uma parte do capital

circulante empregada para a compra de mão-

de-obra direta. Portanto, os salários dependiam,

sobretudo, da oferta e da procura de trabalho, ou

mais precisamente, da porção do capital constante

destinada ao pagamento dos trabalhadores

assalariados (trabalhadores produtivos geradores

de utilidades) e do número destes.

[...] os salários dependem sobretudo da procura e da

oferta mão de obra, ou então, como se diz com frequência,

da proporção existente entre a população e o capital.

Por população entende-se aqui somente o número de

trabalhadores, ou melhor , daqueles que trabalham como

assalariados, e por capital, somente o capital circulante, e

nem sequer este em sua totalidade dele, se não apenas

a parte gasta no pagamento direto de mão-de-obra. A

isso porém, deve-se acrescentar que todos os fundos que,

se forem capital, são pagos tais como os vencimentos

dos soldados, criados domésticos e todos os outros

trabalhadores improdutivos (MILL, 1983a, p. 287).

A teoria dos fundos salariais de Mill

tornou-o ainda mais notório. Curiosamente, o

autor acabou a repudiando muitos anos depois,

segundo Hunt (1981, p. 208). Mill acabou por

reverter a teoria, afirmando que os salários eram

determinados pelos lucros totais almejados pelos

capitalistas menos os que eles necessitavam para

a sua própria sobrevivência. Se o capitalista tiver

que pagar a mais pelo trabalho, a sua renda será

diminuída. Conclui-se, portanto que, os salários

seriam determinados pela concorrência entre os

capitalistas e os trabalhadores.

A característica mais marcante da obra

Princípios... é a clara distinção que o autor faz dos

processos de produção e distribuição. A produção e

a distribuição são fenômenos totalmente díspares,

pois são regulados por princípios diferentes e por

isso deveriam ser analisados separadamente.

No início de sua obra Princípios..., Mill afir-

ma que as leis que regulam a produção não são

as mesmas que regulam a distribuição. Segundo

o autor, a produção de riquezas não provém de

leis arbitrárias e sim de condições materiais de

produção. As condições físicas determinavam

as leis produtivas, supunha o autor. A poupança,

a disponibilidade de matéria-prima, avanço da

técnica e a divisão do trabalho, por exemplo,

regulam totalmente o processo produtivo de

qualquer sociedade humana.

10 Para maiores informações ver: Smith (1986, p. 52-86) e Ricardo (1982, p. 81–89).

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Obviamente, a produção de riqueza e a extração dos

meios de subsistência e prazer a partir das matérias-

-primas existentes no globo não constituem uma coisa

arbitrária. Tudo isso tem as suas condições necessárias.

Destas, algumas são físicas, dependendo então das

propriedades da matéria, e da soma de conhecimento

sobre essas propriedades possuídas no lugar e no

momento específico (MILL, 1983a, p. 39).

A produção depende de dois quesitos fun -

damentais: trabalho e objetos materiais que pos-

sam ser transformados pela ação humana. A na-

tu reza disponibiliza a matéria e os meios de sua

transformação e o homem simplesmente as organiza

e as movimenta (MILL, 1983a, p. 43-44). A essência

do trabalho humano, portanto, é a transformação

dos objetos. Dessa forma, os princípios reguladores

da produção provêm das leis naturais, fugindo

totalmente do controle e da intervenção dos

homens.

Desigualmente a produção, as leis de distri-

buição, na visão do autor, são concebidas por in-

stituições humanas. Em cada sociedade os homens

estabelecem regras que determinam como a rique-

za será distribuída, porém essas normas mudam

de acordo com a sociedade e com a história, elas

mudaram no passado e, provavelmente, mudarão

no futuro.

Diversamente do que ocorre com as leis da produção,

as que regem a distribuição da mesma são em parte

de instituição humana, já que a maneira de se distribuir

a riqueza em qualquer sociedade específica depende

das leis ou usos nela vigentes. Ora, embora os governos

ou nações tenham o poder de decidir que instituições

existirão, não tem a possibilidade de determinar

arbitrariamente como tais instituições funcionarão. As

condições de que depende o poder que os governos

e as nações têm sobre a distribuição de riqueza, bem

como a forma como é efetuada essa distribuição, através

de vários modos de conduta que a sociedade possa

considerar oportuno adotar, constituem matéria de

investigação científica, tanto quanto qualquer uma das

leis físicas da natureza (MILL, 1983a, p.39).

A questão da distribuição tornou-se um

dos pontos em que Mill se afasta dramaticamente

de Malthus, Ricardo e Bentham, autores os quais

jurou ser discípulo. O processo de troca não é o

elemento determinante da distribuição de riqueza

e tampouco o mais justo, a troca simplesmente é

mais um elemento utilizado em tal processo.

O processo de distribuição não é deter mina-

do pela simples troca no mercado, e a propriedade

privada e a sua distribuição não é natural. A proprie-

dade, segundo o autor, é uma instituição humana e não

“sagrada”, como outros autores da Economia Política

proferiram. A pro priedade fundiária, por exem plo, foi

instituída para facilitar as relações entre os indivíduos.

Mas quando ela não é conveniente, simplesmente se

torna injusta (MILL, 1983b, p. 203).

O direito à propriedade é justificado por Mill

apenas em dois casos: se houve trabalho do próprio

indivíduo para produzir ou se foi concedido de forma

espontânea (MILL, 1983b, p. 195). Porém, para o

autor, a propriedade privada dos meios de produção

não é fruto do comportamento abstêmio e frugal

de pessoas moralmente virtuosas que, no passado,

acumularam por livre e espontânea iniciativa, en-

quanto os desprovidos de tais virtudes meramente

esbanjavam e perdiam tudo que possuíam (MILL,

1983b, p. 194). Ao examinar a história da Europa

ocidental, concluiu que a força e as leis arbitrárias dos

homens ordenaram a distribuição da propriedade

privada (MILL, 1983b, p. 182)11.

11 Marx considerou Mill um oponente de respeito por tal constatação, pois o autor inglês verificou o processo histórico de formação da propriedade da privada. Porém, Mill esteve muito longe de fazer uma análise mais acurada que Marx fez. Marx, ao verificar o processo histórico de formação de classes e do capital, construiu o que ele denominou de “acumulação primitiva”. Maiores Informações ver: Marx (1994, p. 828 – 882).

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A propriedade privada, como instituição, não deveu sua

origem a nenhuma daquelas considerações de utilidade

que militam pela manutenção dela, uma vez estabelecida.

Sabe-se bastante sobre épocas primitivas, tanto da

história passada quanto de estados análogos à sociedade

em nossos dias, para mostrar que os tribunais (que sempre

precedem leis) foram originalmente fundados, não para

determinar direitos, mas para reprimir a violência e dirimir

disputas (MILL, 1983b, p. 182).

Além da força, o padrão de como a

distribuição é feita, que varia de sociedade para

sociedade, também gera inúmeras dificuldades

e foge do que seria do ponto de vista da moral

e ética como sendo justo. O direito de posse

de terras e propriedade afeta a distribuição de

renda. Ao analisar a pobreza dos agricultores

irlandeses no século XIX, chegou à conclusão

que a forma como as terras foram distribuídas

determinou tal condição e não as leis naturais

(MILL, 1983, p. 203).

Avaliando a concentração de riquezas e

dos meios de produção na sociedade capitalista,

Mill concluiu que uma classe composta por um

diminuto número de indivíduos não deveria

usufruir com exclusividade as benesses da

riqueza produzida, enquanto a maioria estava

condenada à pobreza. Em seguida faz uma dura

crítica à estrutura de classes “hereditárias” de sua

época: empregadores que não fazem o trabalho

necessário para a manutenção da vida humana

e os empregados que trabalham (MILL, 1983b, p.

255). Asseverou que a instituição da propriedade

privada acarretava em uma relação inversa entre

trabalho e o produto do trabalho, ou seja, a

propriedade privada garantiria que o produto do

trabalho fosse para quem praticamente nunca

trabalhou. A remuneração caminharia em direção

oposta ao aumento da dificuldade e da brusquidão

do trabalho (MILL, 1983, p. 201).

A divisão de classes não se manteria por

muito o tempo, acreditava Mill. Para ele a estrutura

de classes do capitalismo, onde uma pequena

parcela da população vivia luxuosamente sem

qualquer ligação com a atividade produtiva,

não era justa, necessária e tampouco eterna

duradoura nas relações sociais (MILL, 1983, p.

255). Criticava duramente o que ele definiu como

teoria da dependência, em que o “estado das

coisas” é determinado para os pobres e não por

eles. Uma classe privilegiada (os ricos) conduziria

autoritariamente os despojados e os refrearia

quando fosse necessário (MILL, 1983, p. 256).

Porém, tal dependência não seria mais aceita

pelos trabalhadores, pois estes, por meio do que

Mill definiu como aprimoramento intelectual,

buscarão o seu próprio destino, fundado na justiça

e no autogoverno (MILL, 1983, p. 258).

[...] os trabalhadores aceitarão ainda menos do que hoje

ser guiados e governados – e dirigidos para o caminho

que devem trilhar – pela simples autoridade e prestígio

dos superiores. Se atualmente os trabalhadores não tem

nenhum sentimento de deferência ou princípio religioso

de obediência que os mantenha mentalmente sujeitos a

uma classe acima deles, muito menos o terão daqui em

diante. A teoria da dependência e da proteção será cada

vez mais intolerável para eles, e exigirão que sua conduta

e sua condição sejam basicamente governadas por eles

mesmos. Ao mesmo tempo, é perfeitamente possível que

em muitos casos exijam a intervenção de legisladores

em seus problemas, bem como que a lei regulamente

várias coisas que não lhes dizem respeito, aliás, muitas

vezes baseadas em conceitos equívocos em relação a

seus interesses. Mesmo que assim fosse, o que exigem é

que se atenda a vontade deles, ás suas próprias ideias e

sugestões, e não a normas estabelecidas para eles, mas

por outras pessoas. Coaduna-se perfeitamente com isso

o respeito que sentem pela superioridade de inteligência

de qualquer assunto, daqueles que consideram bem

versados na matéria. Tal deferência está profundamente

enraizada na natureza humana; o que querem, porém, é

julgar eles próprios acerca das pessoas que merecem ou

não esse acatamento (MILL, 1983b, p. 259).

O estágio que a sociedade capitalista

havia atingido no século XIX não era o mais

elevado, segundo o autor. Ele tenderia a evoluir

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para alguma forma de sociedade socialista, que

considerava um estágio muito mais satisfatório e

desejável. Todavia, o filósofo inglês acreditava que

o socialismo somente seria possível se as pessoas

atingissem um estado moral e ético satisfatório,

o aprimoramento intelectual: educação, amor à

independência e à liberdade do bom senso, que

refletirá em condutas preventivas que permitirão o

decréscimo das taxas demográficas em relação ao

capital e emprego (MILL, 1983, p. 259). Além disso,

todos que executam o serviço devem se identificar

com o espírito de prosperidade do empreendimento

e, principalmente, o de concorrência (MILL, 1983,

p. 277-278). Caso contrário, a luta individual e

concorrencial por riqueza será a única solução.

Tais considerações afastam Mill totalmente das

premissas comunistas e revolucionárias de Engels

e Marx e parcialmente do reformismo social do

industrial Robert Owen (1771–1858) e do socialismo

utópico de Charles Fourier (1772–1837).

Concordo, portanto, com a concepção que os autores

socialistas têm sobre a forma que o mundo industrial

tende a assumir, á medida que o progresso avança

[...] Mas, ao mesmo tempo que concordo e solidarizo...

discordo totalmente da parte mais relevante e veemente

do seu ensinamento, a saber, das suas catilinária contra

a concorrência. [...] É erro comum dos socialistas não

levarem em conta a indolência natural da humanidade,

a sua tendência à passividade, a permanecer escrava

do hábito [...] Se deixarmos que a humanidade uma

vez atinja algum estado de existência que considere

tolerável, o perigo a ser temido é que a partir daí ela

estagnará, não se empenhará no sentido de melhorar

e, deixando enferrujar suas faculdades, perderá até sua

energia necessária para preservá-lo de deterioramento.

A concorrência pode não ser o melhor estímulo

concebível, mas no momento é um estímulo necessário,

e ninguém é capaz de prever o dia em que ela não será

mais dispensável ao progresso (MILL, 1983b, p. 278-279).

Todavia, de modo incisivo e coincidente

a Fourier, Mill profere à favor das cooperativas

produtivas. Verificando a prosperidade de uma

série de associações em Paris e, sobretudo as

inglesas (“Leeds Flour Mill’ e “Rochdale Society of

Equitable Pioneers”), Mill sugere a experimentação

com as cooperativas, pois elas mostrariam a

deficiência das relações capital e trabalho. Desta

forma, a tendência é a relação capitalista e

trabalhador desaparecer com o tempo.

Todavia, a forma de associação que, se a humanidade

continuar a se aperfeiçoar, como se espera, não é aquela

que pode existir entre um capitalista, que funciona

como chefe, e trabalhadores destituídos de voz na

administração, mas sim a associação dos próprios

trabalhadores entre si, em termos de igualdade,

possuindo eles, coletivamente, a propriedade do capital

com o qual operam, e trabalhando sob o comando de

administradores eleitos e substituídos por eles mesmos

(MILL, 1983b, p. 266).

Em uma estrutura industrial capitalista, o

trabalhador é observado pelas vistas precavidas

do empregador e sua remuneração é baixa. Além

disso, o tipo de trabalho que executa não estimula

a sua produção. Em um sistema cooperativo há o

estímulo à produção, pois o espírito público reside

no trabalhador. A própria comunidade o cobra e

vigia, e as distribuições das tarefas seriam mais

justas e adequadas às aptidões. Além disso, a

produtividade global tenderia a aumentar (MILL,

1983, p. 276-278).

Com base no avanço crescente do movimento

cooperativista, pode-se esperar grande aumento até

da produtividade global do trabalho. As fontes desse

aumento são duas. Em primeiro lugar, reduzir-se-á a

dimensões menores a classe dos distribuidores, que

não são os produtores mais simples da produção, e cujo

número exorbitante, muito mais do que os ganhos dos

capitalistas, representam a causa que explica por que tão

grande da riqueza não atinge os produtores. [...] A outra

maneira de o sistema de cooperação tender, ainda mais

eficazmente, a aumentar a produtividade do trabalho

consiste no grande estímulo dado ás energias produtivas,

colocando os trabalhadores, como massa, em uma

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relação tal com seu serviço, que faria com que o princípio

e o interesse deles – já que atualmente isso não ocorre –

seja fazer o máximo possível e, e não o mínimo possível,

em troca da remuneração que recebem. Dificilmente se

pode exagerar esse benefício substancial, que no entanto

não é nada em comparação com a revolução moral da

sociedade que o acompanharia: acura deste mal que é

a hostilidade constante entre o capital e o trabalho, a

transformação da vida humana, de um conflito de classes

que se batem por interesses opostos, em uma rivalidade

amiga na busca de um bem comum a todos, a elevação da

dignidade do trabalho, um novo sentimento de segurança

e de independência na classe trabalhadora, e a conversão

da ocupação diária de cada ser humano em uma escola

em que se aprende a solidariedade social e a inteligência

prática (MILL, 1983b, p. 276-277).

Outro ponto marcante na obra de Mill é a

questão da intervenção do governo. Primeiramente

advoga a favor do princípio do laissez-faire,

afirmando que deveria ser a prática geral (MILL,

1983b, p. 401). Acredita que o protecionismo e

as interferências nos contratos, por exemplo, são

extremamente danosos à economia (MILL, 1983b,

377-387). Contudo, adiante em “Princípios...”, o

autor aponta para a necessidade de intervenção

do governo, salientando que há aspectos bons e

ruins na intervenção.

Ele considerava inadmissível que o governo

apenas atuasse na proteção das pessoas e suas

propriedades. A sociedade, se achar que é prejudicial

ao bem comum, tem o direito de alterar qualquer

direito à propriedade e o estado deve a representar.

A questão da pobreza é amplamente

discutida por Mill. A maioria da população pobre

não tem condições adequadas para julgar o que

seria melhor para o seu destino (MILL, 1986, p. 406).

A interferência do governo na educação básica

é justificada pelo autor, pois esta modificaria as

condutas e o julgamento dos pobres, tornado-se

melhores árbitros e percebendo o que seria melhor

para os seus interesses (MILL, 1986, p. 407-408).

O governo deveria promover a caridade

pública, porém caberia à caridade privada definir o

que é mais necessário e quem realmente necessita

(MILL, 1986, p. 414). Todavia, o governo deveria

reservar uma parte do orçamento para promover

colônias agrárias em terras comuns. Tais colônias

seriam ocupadas por famílias jovens pobres, e

que o resultado das terras sempre deveriam ser

revertidos para as camadas carentes da população

(MILL, 1986, p. 414–418).

O governo deveria intervir para alterar os

efeitos maléficos do livre mercado capitalista, que

desembocava naturalmente em uma concentração

de renda sem precedentes. A maioria trabalhava

e pouco usufruía do produto de seu trabalho,

estando condenada desde o seu nascimento

à pobreza, enquanto isso, uma minoria gozava

de todas as vantagens da produção de riquezas

sem ter o direito a elas, pois não foi fruto de seus

próprios esforços. Mill chegou a sugerir uma

mudança nos direitos de herança, estas deveriam

instituir rigorosos limites aos direitos de sucessão

causas mortis (MILL, 1983, p. 196-197).

A questão do monopólio é também re-

vista por Mill. Alguns empreendimentos são tão

dispendiosos e necessitam tanto de capital que

poucos conseguem entrar em tais negócios. Tal

restrição permitiria uma taxa de lucro elevadíssima

ou por conluio dos poucos capitalistas neste

negócio ou pela própria posição monopolista.

Para obter altas taxas de lucros, os preços fixados

pelo monopolista estariam acima do que os

consumidores estariam dispostos ou aptos a pagar.

Nesse caso, cabe a intervenção do governo para

que a formação dos monopólios não prejudique a

comunidade (MILL, 1986, p. 409 - 410).

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3 O Estado Estacionário na Visão de Mill

Ao discutir a “Condição estacionária” da

economia, no capítulo VI do livro quarto dos

Princípios de Economia Política, Mill chama atenção

para o estado de inércia, por que não dizer de

estagnação, que caminha a economia capitalista.

A pergunta central desse polêmico capítulo paira

sobre a condição final da humanidade quando

cessar o progresso industrial, posto que “o aumento

da riqueza não é ilimitado; que ao final daquilo que

denominam condição progressista está a condição

estacionária [...]” (MILL, 1996, p.325).

John Stuart Mill deduz que cada passo a

caminho do progresso, por que não dizer desen-

volvimento industrial, é um passo na direção da

inércia, do que ele chama de estado estacionário12.

Quando um país durante muito tempo possui uma

produção grande, e uma renda líquida grande da qual

pode fazer poupanças, e quando, por conseguinte,

durante muito tempo existiram os recursos para aumentar

anualmente muito o capital (na hipótese de o país não

dispor, como na América, de uma grande reserva de terra

fértil ainda não utilizada), uma das características de tal

país é a taxa de lucro situada a uma distância pequena

do mínimo, e portanto o país está a poucos passos da

condição estacionária [...] (MILL, 1996, p. 310-311).

Mill chega a essa conclusão ao examinar a

tendência do lucro e dos salários nas sociedades

capitalistas. Se o lucro, a mola propulsora do

sistema, apresentar tendência de baixa, devido ao

progresso industrial e à concorrência crescente,

inerentes do capitalismo, haverá a eliminação

da prosperidade e a riqueza ficará em condição

estacionária. Isso se dará em condição na qual a taxa

de retorno esperada de cada unidade monetária

aplicada na concretização dos investimentos

produtivos apresente um valor mínimo13, com

efeito nulo ao estímulo de acumular. Em relação

aos salários, acréscimos populacionais, e demais

variáveis constantes, podem induzir a queda dos

salários reais e, por conseguinte, da qualidade de

vida da classe trabalhadora. Isso, na visão de Mill,

tende a levar a “uma interrupção na expansão da

produção e, por via de consequência, também no

crescimento da população. Cessará o progresso

econômico, mantendo-se certo equilíbrio: será os

‘estado estacionário’” (HUGON, 1984, p. 137).

Na interpretação dos economistas políticos

da velha escola14, conforme a denominação de

Mill, esse estado estacionário combinado com o

aumento populacional conduziria a sociedade

para uma situação de miséria. Por isso, assim como

Malthus, propõe a adoção de medidas de controle

populacional.

Mesmo em uma condição de progresso do capital, em

países velhos [entenda desenvolvidos], é indispensável

um controle consciencioso ou prudente da população,

para impedir que o aumento de habitantes supere o do

capital, bem como impedir que se deteriore a condição

das classes que estão da sociedade. Onde não existe,

no povo, ou em alguma percentagem muito grande

dele, uma resistência resoluta a esse deterioramento –

uma determinação de preservar um padrão de conforto

estabelecido –, piora a condição da classe mais pobre,

mesmo em uma condição de progresso, até o ponto

mais baixo que ela consentir em suportar (MILL, 1996,

p. 326).

12 Conforme Bell (1976, p. 248), “estado estacionário significa o estado em que se encontra um país no qual aquela taxa atingiu o mínimo e ‘não pode ocorrer no momento qualquer aumento de capital’”.

13 Essa visão converge com o tratado por Ricardo em relação à tendência decrescente da taxa de lucro. Maiores detalhes ver Hugon (1984).14 Mill se refere aos economistas da escola clássica que, na sua maioria, contribuíram para sua formação e inspiraram seu trabalho, tais como

Ricardo Smith e outros.

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Ao contrário dos demais economistas

políticos, Mill vê com bons olhos essa condição

estacionária para qual caminha os países

avançados, pois não lhe agradava a constante luta

entre as classes sociais.

Confesso que não me encanta o ideal de vida defendido

por aqueles que pensam que o atropelar e pisar os

outros, o dar cotoveladas, e um andar sempre ao encalço

do outro (características da vida social de hoje) são o

destino mais desejável da espécie humana, quando

na realidade não são outra coisa senão os sintomas

desagradáveis de uma das fases do progresso industrial

(MILL, 1996, p. 327).

Na visão de Mill, quando a economia atingir

um estado estacionário a questão distributiva

ganhará maior relevância15. Questões ligadas

ao aumento da produção são importantes nos

países atrasados. Nos países mais avançados,

cuja incidência da condição estacionária pode ser

atingida com certa facilidade, as instituições e os

agentes devem empreender esforços no sentido

de melhorar e elevar a sorte de todos16.

Considerações Finais

Graças às lições do pai, que o ensinou e o

instigou para o mundo do pensamento filosófico

e científico, Mill se apropriava de tudo aquilo que

considerava o melhor no campo intelectual de sua

época para poder tecer suas próprias ideias, seus

próprios argumentos. Na concepção moderna ele

aplicava o método científico.

15 Mill chega a sugerir que o governo adote “um conjunto de legislação que favoreça a igualdade das fortunas, na medida em que isso for conciliável com o justo direito do homem ou da mulher aos frutos, grandes ou pequenos, do seu próprio trabalho” (1996, p. 328).

16 Conforme Hugon (1984, p. 137), a noção de Mill de estado estacionário “ganha de novo, hoje, surpreendente atualidade. Assiste-se, com efeito, em numerosos meios, a uma coordenação de crescimento econômico como finalidade e como ideal de vida, assim como a apologia ao crescimento zero”.

No campo da economia, Mill tentava

apre sentar a Economia Política como parte de

Ciência Social completa e racional. Na definição

dele Economia Política é “a ciência que esboça

as leis dos fenômenos sociais que surgem das

operações combinadas da humanidade para a

produção da riqueza, enquanto esses fenômenos

não são modificados pela busca qualquer de outro

objetivo” (MILL apud BELL, 1976, p. 235).

É inegável que os trabalhos de John

Stuart Mill no campo da filosofia e da economia

política são de grande significância para os

estudiosos contemporâneos. Mesmo que suas

contribuições econômicas originais não superem a

de seus mestres, conforme aponta Bell (1976), seu

trabalho, Princípios de Economia Política, devido

ao refinamento teórico e sistematização de sua

exposição, torna-se por vários anos o livro didático

padrão para quem desejava estudar economia.

Trata-se de “uma síntese do melhor que havia

sobre Economia clássica, apresentado em arranjo

ordenado e científico e com garantia da inteireza”

(BELL, 1976, p. 232).

Mill é antes de qualquer coisa um visionário

que sonhava com um mundo melhor e mais

justo para a sociedade. Na sua obra é premente

a preocupação com a distribuição dos frutos do

progresso, sem a qual não há sentido para a busca

desenfreada do crescimento econômico.

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Referências

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pensadores).

HUGON, P. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Atlas, 1984.

HUNT, E. K. História do pensamento econômico. Rio de Janeiro: Campus, 1981.

MALTHUS, T. R. Ensaio sobre o princípio da população. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Os pensadores).

MARX, K. O capital. São Paulo: Bertrand Brasil, 1994. Livro I, v. 2.

MEEK, R. Economia e ideologia. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1971.

MILL, J. S. Autobiografia. Madrid: Alianza, 1986.

______. On Liberty. In: LINSCOTT, R. (Org.). Man and the state: the political philosophers. New York: Linscott

& Commins, 1954.

______. Utilitarismo. São Paulo: Iluminuras, 2000.

______. Princípios de economia política: com algumas de suas aplicações à filosofia social. São Paulo: Abril

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• Recebido em: 26/02/2013

• Aprovado em: 26/06/2013

MILL, J. S. Princípios de economia política: com algumas de suas aplicações à filosofia social. São Paulo:

Abril Cultural, 1983b. (Os pensadores). v. 2.

______. Princípios de economia política: com algumas de suas aplicações à filosofia social. São Paulo: Nova

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______. Princípios da economia política. São Paulo: Nova cultural, 1996, v. 2.

______. Utilitarismo. São Paulo: Iluminuras, 2000.

RICARDO, D. Princípios de economia política e tributação. São Paulo: Abril Cultural, 1982. (Os pensadores).

SAY, J. B. Tratado de economia política. São Paulo: Nova Cultural, 1986. (Os pensadores).

SILVA, A. L. G. Marshall e o equilíbrio parcial. In: CARNEIRO, R. (Org.) Os clássicos da economia. São Paulo:

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SMITH, A. Uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. Rio de Janeiro:

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Economia ecológica, economia solidária e o pensamento econômico de E. F. Schumacher

Ecological economy, economy solidarity and E. F. Schumacher’s

economic thought

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Lucas Barbosa e Souza1

Rogério Ferreira Teixeira2

Resumo

O objetivo do presente ensaio é realizar uma abordagem sobre a visão econômica de

E. F. Schumacher à luz do pensamento da economia ecológica e da economia solidária.

Para tanto, serão apresentados alguns autores que exploram essas duas vertentes

do pensamento econômico, alguns pioneiros e outros que deram continuidade a

essa agenda de pesquisa, e em seguida será observada a perspectiva proposta por

Schumacher para a análise dos fenômenos econômicos. A busca principal será pelo

enfoque comparativo da visão do referido autor com os principais conceitos trabalhados

pela economia ecológica e pela economia solidária, realçando as semelhanças e ao

mesmo tempo salientando os aspectos originais, a contemporaneidade e o caráter

interdisciplinar do seu pensamento. A abordagem estará centrada, sobretudo, na obra

O negócio é ser pequeno: um estudo de economia que leva em conta as pessoas,

publicada por Schumacher em 1973, na sua primeira edição.

Palavras-chave: Economia Ecológica. Economia Solidária. Sustentabilidade.

Abstract

The aim of this paper is to conduct on the economic vision of E. F. Schumacher thought

in the light of ecological economics and the economy solidarity. To do so, we introduce

some authors that explore these two strands of economic thought, a few pioneers and

others who continued this research agenda, and then will be observed perspective

proposed by Schumacher for the analysis of economic phenomena. The main quest is

by comparing the sight of that author with the main exploreds concepts by ecological

economics and economy solidarity, highlightining the similarities and at the same time

showing the unique aspects, the contemporary and interdisciplinary character of his

thought. The approach will focus mainly in the book “Small is beautiful: a study of

economics that takes into account people”, published by Schumacher in 1973, in its

first edition.

Keywords: Ecological Economics. Economic solidarity. Sustainability.

1 Doutor em Geografia, Professor da Universidade Federal do Tocantins no Programa de Mestrado em Ciências do Ambiente, no Programa de Mestrado em Geografia e no Curso de Geografia.

E-mail: [email protected]. 2 Mestre em Ciências do Ambiente pela Universidade Federal do Tocantins, Fundador e Gestor da Comunidade

Residencial Sustentável Ecológica Espiritual Morada da Paz – CoMPaz/RS. E-mail: [email protected].

Economia ecológica, economia solidária e o pensamento econômico de E. F. SchumacherEcological economy, economy solidarity and E. F. Schumacher’s economic thought

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Introdução

E. F. Schumacher é um economista frequen-

temente esquecido quando se trata da realização

de estudos que se referem às searas da economia

ecológica e da economia solidária, o que é

inexplicável, dadas as suas preciosas contribuições

para o avanço da compreensão sobre as complexas

interações entre as sociedades humanas e o meio

ambiente.

Seu livro mais famoso é O negócio é ser

pequeno: um estudo da economia que leva em

conta as pessoas, publicado em 1973, a partir de

uma série de palestras e conferências realizadas

pelo autor em anos anteriores, em vários países,

sobre a temática anteriormente referida. Nesta

obra, o autor alerta para a necessidade de um uso

racional dos recursos disponíveis no planeta, dada

a finitude de uma parcela considerável destes e

também para a urgência de novos métodos de

produção e gestão.

Inicialmente, neste artigo serão abordados

aspectos teóricos da economia solidária e da

economia ecológica, para em seguida ser apresen-

tado o pensamento econômico de Schumacher,

buscando-se as correlações existentes entre eles.

O objetivo principal do artigo será demonstrar

a atua li dade do pensamento econômico de

Schumacher e sua possível aplicabilidade na resolu-

ção de questões sociais, ambientais e econômicas

contemporâneas.

1 Economia Solidária

Na economia solidária, dada a sua natureza

cooperativa, prevalece, na maioria das suas ações,

uma atitude de respeito que se traduz em ações

em prol do bem-estar social e da conservação

ambiental. As suas atividades orientam-se por

parâmetros distintos de empresas de mercado,

como a busca pelo lucro, pela produtividade e a

competição desenfreada com outras concorrentes,

de acordo com Pinto (2006). Este autor aponta

que o reaproveitamento de materiais e o uso de

fontes renováveis de energia são muito frequentes

em empreendimentos solidários. A economia soli-

dária tem suas análises voltadas às áreas da gestão

social, processos autogestionários, redes solidárias

e empreendimentos solidários.

Razeto (1993, p. 40) esclarece conceituando

economia solidária como

uma formulação teórica de nível científico elaborada

a partir e para dar conta de conjuntos significativos

de experiências econômicas que compartilham alguns

traços constitutivos e essenciais de solidariedade,

mutualismo, cooperação e autogestão comunitária, que

definem uma racionalidade especial, diferente de outras

racionalidades econômicas.

França Filho (2007), adicionalmente, traz

contribuições muito significativas para a concei-

tuação da economia solidária, esclarecendo ao

público que não tem familiaridade com a área.

O autor chama atenção para as questões rela-

tivas à sustentabilidade e à viabilidade dos

empreendimentos da economia popular e soli-

dária, sendo necessária uma compreensão que

extrapole a lógica do mercado, baseada no lucro e

A noção de riqueza na

economia solidária difere

da economia mercantil,

pois a primeira valoriza os

benefícios sociais gerados

pelo trabalho coletivo em

patamares mais elevados

do que a segunda.

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na competição. Por outro lado, a participação e o

engajamento coletivo nos projetos desenvolvidos

devem ser considerados e valorizados.

A noção de riqueza na economia solidária

difere da economia mercantil, pois a primeira

valoriza os benefícios sociais gerados pelo trabalho

coletivo em patamares mais elevados do que a

segunda, conforme Pinto (2006).

O conceito de economia solidária é rela-

tivamente recente no Brasil, e nessa área atuam

cooperativas e associações (formais e informais)

denominadas Empreendimentos Solidários (ES),

redes e fóruns de economia solidária, feiras de

trocas solidárias, comércio justo e solidário, além

de Entidades de Apoio a Fomento (EAF), como

as Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas

Populares (ITCPs) ligadas às universidades.

França Filho (2007, p. 172) explica que:

As práticas de economia popular e solidária no

Brasil ganharam em complexidade nos últimos anos,

afirmando-se como um campo de atores que inventam

alternativas econômicas e políticas inovadoras para a

resolução dos problemas cotidianos enfrentados em

seus respectivos territórios, decorrentes dos processos

de exclusão social.

Sobre os ES, França Filho (2007) afirma

que eles representam a forma predominante de

auto-organização socioeconômica. Existem ES em

diferentes segmentos, como bancos populares,

que trabalham com microcrédito, clubes de

trocas, associações de moradores e cooperativas

populares constituem a sua maioria.

Os ES atuam com intensidade no seio da

sociedade civil em diferentes países, promovendo

ações em áreas como educação, saúde, meio ambiente

e direitos humanos. São também reconhecidos

pela sua capacidade de geração de trabalho e pelo

impacto social das atividades que desempenham em

nível local, expressando a mobilização dos cidadãos

para transformarem a realidade em que vivem. São

além de espaços de produção (de bens, serviços,

empregos), espaços de socialização, de reflexão e

ação política, considera Andion (2005).

No Brasil, a partir do início do governo Lula,

em 2003, houve a criação da Secretaria Nacional

de Economia Solidária (Senaes), dirigida desde

então pelo professor Paul Singer, fomentando e

articulando ações nesta área. A Senaes, de acordo

com o Atlas da Economia Solidária no Brasil (2006),

destaca quatro características importantes para

a economia solidária: cooperação, autogestão,

viabilidade econômica e solidariedade.

Cançado e Cançado (2009) consideram

a autogestão, isto é, a autonomia do trabalhador

enquanto gestor do seu empreendimento, como

um traço essencial dos empreendedorismo so-

cial, embora não seja o único. O contrário da

autogestão é a heterogestão, modelo hegemônico

na sociedade capitalista, na qual a autonomia do

trabalhador desaparece, em decorrência de uma

hierarquia burocrática e funcional institucionalizada

nas organizações.

A economia solidária tem procurado o

fortalecimento e a união de seus atores através de

Autogestão é a

autonomia do trabalhador

enquanto gestor do seu

empreendimento, como

um traço essencial dos

empreendedorismo social.

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redes. Este tipo de organização reduz a dependência

do sistema hegemônico por meio da troca e do

compartilhamento de produtos, saberes e serviços.

Neste sentido, Mance (2008, p. 1) considera que:

As Redes de Colaboração Solidária são fundamentadas

em um sistema de produção onde não pode haver

exploração nem dominação dos trabalhadores,

com equilíbrio nos processos, com uso de insumos

produzidos de forma ecologicamente correta, e com

partilha dos excedentes, havendo reinvestimento e

formação de novas redes.

A economia solidária experimentou neste

início do século XXI um crescimento extraordinário

no Brasil e no mundo, em que os atores sociais, por

meio de um processo de autogestão democrática,

buscam com criatividade formas de inserção

social, política e econômica e de conservação

ambiental, construindo alternativas sustentáveis

frente à ordem hegemônica capitalista vigente.

Complementando sobre a economia solidá-

ria, Pinto (2006, p. 16) refere que:

Não se trata, portanto, apenas de se alcançar trabalho

e renda, por meio de saídas cooperativas. Assiste-se

também como possibilidade a emergência, a partir de

relações mediadas pelo trabalho associado, de novos

significados compartilhados, novas solidariedades, que

requalificam os sentidos do trabalho, da produção, do

consumo e das trocas. A realização desses vínculos

implica, também, na produção de novas identidades

pessoais, modos distintos de autopercepção.

Os ES privilegiam o desenvolvimento segun-

do a perspectiva local, promovendo a geração e a

circulação de renda, serviços e saberes junto aos

atores que estão envolvidos diretamente em seu

contexto de atuação socioprodutiva, fomentando,

dessa forma, a sustentabilidade econômica e

ambiental de suas atividades. O desenvolvimento

local tem sido pensado e discutido no meio

acadêmico e possui muitos defensores, como

Fernández Durán (2001, p. 25), que expõe sua

perspectiva sobre esta temática:

Todas as experiências de transformações alternativas da

sociedade a margem do mercado e da lógica patriarcal

dominante tem um grande valor como sementes e

pontos de referência do que pode chegar a ser uma

transformação em maior escala. A reconstrução

das estruturas comunitárias, das novas áreas da

comunidade, deve ser produzida principalmente a partir

do local. O local, que foi submetido e desarticulado pelo

capitalismo global, é necessário em grande medida

restaurá-lo novamente (tradução nossa).

Segundo Tenório (2007), o desenvolvimento

local é uma abordagem que procura reforçar

a potencialidade do território mediante ações

endógenas, articuladas pelos seus diferentes atores

(sociedade civil, poder público e o mercado).

De acordo com o autor, o desenvolvimento

local pressupõe a reciprocidade, a cooperação

e a solidariedade em benefício do bem-estar

socioeconômico, político, cultural e ambiental

do local, podendo assumir três vertentes: (1)

econômica, guiada por parâmetros de mercado;

(2) social, orientada pela cooperação; e (3)

solidariedade ou híbrido, em que há orientação

econômica e cooperativa, estimulando o fomento

de capital social.

Para Baquero (2007), o capital social nasce

de interações cotidianas, não de legislações.

Promove a participação coletiva e o engajamento

das pessoas em projetos de desenvolvimento

comunitário e sustentável. Gera empoderamento

dos atores sociais, o que possibilita bem-estar e

qualidade de vida.

Conforme Vasconcelos (2007), a economia

solidária desenvolve princípios e valores em seus

movimentos, como a reciprocidade e a confiança que

acabam contribuindo na construção do capital social.

Pequenas ações solidárias dentro de um ES podem

ser responsáveis pela construção de um grande

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capital social capaz de permitir o enfrentamento de

crises, pondera Vasconcelos (2007).

Assim, de acordo com os autores men-

cionados, percebe-se que a essência dos ES en-

contra-se pulsante na força coletiva dos processos

que desencadeiam, na integração dos sujeitos em

torno da unidade de princípios e na crença em

um projeto comunitário capaz de garantir aos

sujeitos que o impulsionam condições para uma

vida digna e ética.

2 Economia Ecológica

A partir da preocupação de alguns econo-

mistas com o meio ambiente e a sustentabilidade das

atividades humanas em longo prazo – como Nicolas

Georgescu-Roegen, Keneth Boulding e Herman

Daly –, a dimensão ambiental foi sendo incorporada

na construção dos modelos e teorias da ciência

econômica, nascendo, então, a econo mia ecológica.

A economia ecológica apresenta inovações

significativas na forma de abordar as interações

do homem com o meio ambiente, propondo

estratégias que minimizem nossa alta produção

de entropia e garantam a sustentabilidade da vida,

conforme Mueller (2007).

Pela segunda lei da entropia, é impossível

um sistema fechado prosseguir seu crescimento

indefinidamente, captando energia de baixa

entro pia e liberando resíduos de alta entropia no

ecossistema, pois há um limite para a absorção e

a reciclagem destes resíduos. Tal fato é ignorado

pela teoria econômica convencional (neoclássica).

Assim sendo, os impactos ambientais podem

acabar restringindo o crescimento econômico, na

opinião de Cechin e Veiga (2009).

A economia ecológica preocupa-se com os

processos de reciclagem de insumos e a minimiza-

ção de impactos ambientais3. Para Martinez-Alíer

3 A Resolução nº 001 de 23 de janeiro de 1986 do Conama (Código Nacional de Meio Ambiente), em seu art. 1º define impacto ambiental como “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetem: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais”.

O desenvolvimento

local pressupõe a

reciprocidade, a cooperação

e a solidariedade em

benefício do bem-estar

socioeconômico, político,

cultural e ambiental

do local.

A economia ecológica

preocupa-se com os

processos de reciclagem

de insumos e a

minimização de impactos

ambientais.

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(1998, p. 268), um dos precursores da economia

ecológica, ela pode ser definida como

uma economia que usa os recursos renováveis (água,

pesca, lenha e madeira, produção agrícola) com um

ritmo que não exceda sua taxa de renovação, e que usa

os recursos esgotáveis (petróleo, por exemplo) com um

ritmo não superior ao de sua substituição por recursos

renováveis (energia fotovoltaica, por exemplo).

Georgescu-Roegen (1971) aponta que os

principais postulados da economia ecológica

são a utilização de processos de reciclagem, a

minimização do uso de energia e de materiais,

a consideração do custo ambiental decorrente

de todo o processo de extração, produção e

consumo e a minimização da produção de dejetos

e da poluição. Segundo sua análise, a entropia

(aumento da desordem no sistema) coloca limites

para a expansão contínua das atividades, dada a

finitude dos recursos naturais do planeta.

O fundamento central da economia eco-

lógica é a escala em que o sistema econômico

opera em relação ao ecossistema. Além de uma

escala ótima, o seu crescimento pode acarretar

mais prejuízos do que benefícios à humanidade, na

concepção de Cechin e Veiga (2009).

Daly (1984) propôs a economia do estado-

-estável, que consistiria em suprimir a obstinação

pelo crescimento econômico ilimitado. Em sua

opinião, um nível de crescimento com estabilidade

é necessário para gerenciar as relações econômi-

cas minimizando a pressão antrópica sobre o meio

ambiente. A ênfase para a política econômica, se-

gundo o autor, estaria deste momento em diante,

em gerenciar o estoque de recursos existentes e

não mais o fluxo econômico. Apesar de contribuir

para uma mudança de paradigma, as sugestões do

autor têm muitas limitações na sua exequibilidade,

sendo a principal delas quanto à determinação

do nível desejável para estabilizar o crescimento

econômico4. Como definir um nível de consenso

com tantas disparidades entre países desenvolvi-

dos e subdesenvolvidos, por exemplo?

A grande questão que permanece sem

resposta ainda nos dias de hoje é qual seria a

“escala ótima” em que o volume de bens e serviços

produzidos pelo sistema econômico se tornará

compatível com a capacidade do planeta em

absorver os resíduos de alta entropia gerados. Não

é prudente acreditarmos, como alguns teóricos da

economia convencional, que poderemos substituir

produtos e serviços ambientais por recursos

tecnológicos para manter a curva exponencial de

crescimento econômico por tempo indeterminado,

considera Mueller (2007).

Martine (2007) propõe que uma estratégia

prática para minimizar impactos ambientais se-

ria estudar a distribuição populacional em um

território, focando no seu uso sustentável de

acordo com os recursos disponíveis, a população,

o potencial econômico e o contexto atual de

desenvolvimento para atingir índices toleráveis

de crescimento econômico e social, embora isso

também se constitua em uma tarefa complexa.

A economia convencional (neoclássica) não

desconta dos índices de mensuração da riqueza

econômica como o PIB (Produto Interno Bruto) o

somatório das externalidades econômicas, como

propõe a economia ecológica, nem considera a

alocação inter-geracional de recursos não reno-

váveis, sendo um indicador impreciso da realidade

4 Convém ressaltar que uma das premissas básicas do comportamento do consumidor, segundo a teoria microeconômica é a de que uma quantidade maior de bens normais é sempre preferível, mesmo tratando-se de uma quantidade não significativa. Esse axioma também é conhecido como o da não saciedade (PINDYCK; RUBINFELD, 2005).

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econômica e ambiental de um país (MARTÍNEZ-

ALÍER, 1998).

Tolmasquim (1998) caracteriza as exter-

na lidades como efeitos positivos ou negativos

resultantes da definição imprecisa do direito de

propriedade, de caráter incidental, involuntário,

sem um controle direto sobre as fontes dos efeitos

externos. A poluição atmosférica causada por uma

fábrica é um exemplo de externalidade (negativa,

neste caso), porque afeta o ar, que é um bem

público (pertencente à coletividade) e tem caráter

involuntário, já que a finalidade do dono da fábrica

é teoricamente a produção, e não a poluição.

M’Gonigle (1999) distingue duas correntes

na economia ecológica: uma associada a uma

análise baseada em formalismos técnicos (de

ver ten te econômica neoclássica), na qual o meio

ambiente é analisado como mais um recurso para

finalidades econômicas, e outra de abordagem

mais ampla, que engloba um olhar profundo sobre

os contextos institucionais, em que são analisadas

as interações da sociedade, da política, da cultura

e do meio ambiente com a ciência econômica. O

autor considera que elas não são excludentes, mas

acabam complementando-se.

Söderbaum (1999), por seu turno, comple-

menta sobre a economia ecológica, afirmando que

seus recursos chaves são: (1) trabalhar para uma

sociedade sustentável com um senso ecológico, (2)

prontidão para encaminhar as questões fundamentais

de quadros conceituais e de valores, (3) interação

com acadêmicos de outras disciplinas e (4) observar

os imperativos essenciais da democracia. O autor

refere ainda que a economia ecológica tem uma

natureza interdisciplinar, podendo interagir com

várias áreas do conhecimento.

Para Melo (2006), a análise dos fluxos físi-

cos de energia e de materiais é um pressuposto

importante da economia ecológica, além da con-

sideração dos preços de mercado com o devido

rigor em suas análises, uma vez que estes podem

esconder relações ecologicamente desiguais.

Ressalta que a economia ecológica advoga uma

participação política ativa dos ambientalistas, a

fim de pressionar a sociedade para que o meio

ambiente receba a atenção adequada dos gestores

públicos na elaboração de projetos e formulação

de políticas específicas para as suas demandas.

M’Gonigle (1999) esclarece que a economia

ecológica aponta caminhos para a sustentabilidade

por meio de processos mais estáveis associados

com comunidades territoriais, que são formas

de organização participativa existentes dentro

de sistemas naturais. As comunidades, no seu

ponto de vista, podem constituir, portanto,

uma base apropriada para a construção de

políticas econômicas que garantam o êxito e

a sustentabilidade de projetos em um amplo

horizonte de tempo, desde que seja observado um

adequado planejamento territorial.

Teixeira (2009) demonstra as possibilidades

de integração entre comunidade, ética e economia

ecológica, a partir da construção de redes soli-

dárias, práticas de autogestão, técnicas de reci-

clagem de resíduos e reaproveitamento de mate-

riais, abordando a experiência da Comunidade

Sus tentável Morada da Paz desde 2003.

O planejamento territorial, de acordo com

M’Gonigle (1999), envolve seleção de territórios

restritos, socialização da riqueza produtiva do ter-

ritório, equalização de acesso à base de forças soci-

ais e econômicas e o fortalecimento de economias

territoriais através do reforço da autossuficiência e

o desenvolvimento de mercados controlados re-

gionalmente. O autor salienta ainda que o metabo-

lismo circular de estado-estável que está embutido

na comunidade social (com todos os processos ins-

titucionais e culturais que isto implica) é a essência

do modelo territorial.

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3 O Pensamento Econômico de Schumacher

A tentativa de analisar as interações entre a

economia e diferentes correntes espiritualistas não

é algo inédito. Muitos autores já buscaram esse

caminho no passado e na contemporaneidade.

Neste artigo, limitaremos-nos à análise de E.

F. Schumacher, buscando dialogar com outros

economistas ecológicos e solidários na busca por

opiniões compartilhadas quanto às possibilidades

para um novo sistema socioambiental.

E. F. Schumacher nasceu na Alemanha e

estudou na Inglaterra nos anos 1930, quando se

tornou discípulo de John Maynard Keynes, um

dos expoentes do pensamento macroeconômico.

Também publicou artigos na companhia de

outros importantes economistas da época, entre

eles o polonês Kalecki. Auxiliou na reconstrução

da Alemanha no pós-guerra e realizou diversos

trabalhos de consultoria econômica, um deles na

Birmânia, em 1955, onde se inspirou para escrever sob

a economia na perspectiva budista. Propôs, assim,

uma base mais humanista para a ciência econômica.

Seu principal livro, O negócio é ser pequeno, um

estudo de economia que leva em conta as pessoas,

de 1973, é o resultado da compilação de uma série de

palestras realizadas e artigos publicados na década

de 1960 e início da década de 1970. Em duas obras

posteriores, aprofundou temas referidos no livro

inicial, como observaram Moraes e Serra (2005).

Schumacher (1983) tece críticas severas ao

processo de globalização, afirmando que ele poderia

provocar o desarranjo de estruturas produtivas

locais. No seu ponto de vista, o caminho mais ló-

gico para organizar o processo produtivo seria em

pequenas unidades, utilizando recursos disponíveis

no local (ou na região), tanto recursos naturais,

como mão de obra. Isso geraria benefícios às

economias locais, em sua concepção. Nesse sentido,

seu pensamento aproxima-se do pensamento de

muitos teóricos do desenvolvimento local, como

Tenório e Durán (2007).

O autor também critica a tendência de

grandes unidades fabris como padrões para a

produção e advoga que pequenas unidades fabris,

em que os trabalhadores produzem em equipa-

mentos que realcem o aspecto humano (criativo)

do trabalho, podem trazer viabilidade econômica e

eficiência técnica-produtiva.

Schumacher (1983) critica a economia con-

vencional, de vertente neoclássica, que ignora os

custos ambientais (externalidades) do processo

produtivo, operando dentro de uma lógica restrita que

considera apenas a questão de custo e benefício para

a alocação dos fatores e despreza a necessidade de

reciclagem e reutilização dos recursos. Assim, a visão

de Schumacher do sis tema econômico aproxima-se

do modo de pen sar dos fundadores da economia

ecológica, como Georgescu-Roegen, Martinez-Alíer

e Daly. Segundo a economia convencional, todos os

bens são tratados pelo mercado como mercadorias.

O autor considera que o mercado, ao atribuir preços

a bens e serviços, acaba retirando a sacralidade da

vida, uma vez que nada pode haver de sagrado em

alguma coisa precificada.

A economia, na visão de Schumacher

(1983), encerra a análise de questões éticas (níveis de

pobreza e riqueza, por exemplo), morais, ambientais,

políticas, culturais e institucionais. Nessa perspectiva,

a visão do autor é muito semelhante a de outros

economistas heterodoxos referidos neste artigo,

como Sen (1999), Söderbaum (1999), Cechin e Veiga

(2010) e Melo (2010). Percebe-se, dessa forma,

que a sua maneira de analisar o sistema econômico

leva em consideração aspectos interdisciplinares e o

pensamento complexo, que é exatamente o oposto da

visão reducionista-mecanicista de mundo difundida

por Descartes, Bacon e Hobbes, no século XIX.

A ciência econômica, ao ser equiparada à

física newtoniana na construção de suas teorias

e modelos, tornou-se abstrata demais para a

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compreensão da realidade dos fenômenos eco-

nômicos, dessa forma acabou limitando-se.

Schumacher (1983) reflete que a economia está

muito mais direcionada a analisar problemas de

uma forma quantitativa do que aprofundar a

análise qualitativa. Em sua opinião, os pressupostos

econômicos, ao suprimirem as diferenças quali-

tativas, tornam estéreis as teorias econômicas. A

análise econômica (econométrica) não leva em

consideração se o crescimento é benéfico ou não.

Entretanto, o autor pondera que é mais fácil lidar

com variáveis quantitativas do que manipular

informações qualitativas.

Schumacher (1983) defende a construção de

uma ciência econômica sobre outras bases e valores,

em que haja a consideração de diferenças qualitativas

entre bens e serviços pelo mercado. Para isso,

lança a proposição de uma economia baseada em

princípios e valores do budismo. Nessa perspectiva,

faz uma série de considerações para uma verdadeira

reprogramação da economia, como o princípio da

subsistência correta, com a redução do consumo às

necessidades básicas, a eliminação dos supérfluos e,

consequentemente, a busca por uma forma de vida

com mais simplicidade, liberdade e criatividade, em

pequenas unidades. Na atualidade, esse modo de vida

proposto por Schumacher tem sido experimentado

em inúmeras ecovilas e comunidades sustentáveis

espalhadas pelo mun do, como Findhorn (Escócia),

Lebensgarten (Alemanha), Cristal Waters (Austrália)

e Morada da Paz (Brasil), como referem Santos Jr.

(2006), Dornelles (2008) e Teixeira (2009).

Schumacher (1983) defende uma forma

de gestão participativa nas organizações, em

que os trabalhadores estejam engajados nos pro-

cessos de tomadas de decisões e sintam-se satis-

feitos com aquilo que realizam. Nesse aspecto, o

pensamento do autor aproxima-se de Cançado

e Cançado (2009), França Filho (2007) e Pinto

(2006), que destacam a autogestão como traço

característico dos empreendimentos solidários.

O trabalho desenvolvido de forma mecânica, na

opinião de Schumacher (1983), é maçante e noci-

vo espiritualmente ao trabalhador. Na visão da

economia budista, segundo o autor, o trabalho deve

conduzir à superação do ego, além de simplesmente

prover as necessidades básicas dos trabalhadores.

Quanto ao mercado, Schumacher (1983)

acre dita que ele é a institucionalização do indivi-

dualismo e da não responsabilidade, numa postura

claramente crítica à sua lógica de funcionamento.

Nesse ponto, o autor compartilha a mesma opinião

de Polanyi (2000), para quem o mercado representa

apenas uma dentre tantas outras formas de intera-

ções econômicas existentes na sociedade. Em sua

obra, Polanyi (2000) aponta a domesticidade, na

qual predomina a produção para o autoconsumo, a

reciprocidade, em que existe o processo de dar, rece-

ber e retribuir os bens (fortalecendo os la ços sociais,

dessa forma) e a troca, havendo uma organização

hierárquica que coordena a redis tribuição dos frutos

do trabalho coletivo, como os mutirões, por exemplo.

A sabedoria, conforme Schumacher (1983),

leva à paz e à permanência. Hoje poderíamos

traduzir estes termos como sustentabilidade,

ou desenvolvimento sustentável, conceitos que

ain da não haviam se disseminado na época de

Schumacher. A antítese da sabedoria são os con-

flitos e os tensionamentos, para o autor. Em suas

palavras, Schumacher (1983, p. 32) complementa:

O cultivo e a expansão das necessidades é a antítese

da sabedoria. É igualmente a antítese da liberdade e da

paz. Cada aumento de necessidades tende a agravar a

dependência de uma pessoa de forças externas sobre

as quais não pode exercer controle, e, portanto, agrava o

medo existencial. Só com uma redução de necessidades

pode-se promover uma genuína redução naquelas tensões

que são as causas fundamentais da discórdia e da guerra.

O problema não é acumular riquezas, des-

taca Schumacher (1983), mas segundo ele, na visão

budista, o problema consiste no apego à riqueza,

que impede as pessoas de enxergarem além

dos seus próprios interesses, contribuindo para

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a construção de um pensamento autocentrado.

Esse aspecto nefasto do mundo contemporâneo

também é referido por Samten e Caruso Jr. (2004),

ao dialogarem sobre os problemas causados pela

atitude autointeressada do ser humano na interação

econômica e seu reflexo na degradação ambiental.

É preciso a sabedoria acumulada ao longo

da história, segundo Schumacher (1983), para o

ser humano continuar a trilhar o seu caminho de

evolução na Terra e esse caminho, segundo o au-

tor, deve ser preferencialmente o caminho do meio,

como idealiza a tradição budista.

Schumacher (1983) chegou a cunhar o termo

metaeconomia, o qual envolveria o estudo do

homem em seu meio ambiente. Esse segmento da

economia teria como foco a inferência de metas e

objetivos a partir do estudo do homem, tendo como

metodologia a observação da natureza. Segundo o

autor, a dependência do homem (e da economia)

com relação à natureza é ignorada pela economia

convencional (neoclássica), assim como também

constata a economia ecológica e seus principais

teóricos. Schumacher (1983) pondera que a análise

econômica convencional atribui maior valor ao

curto-prazo, não considerando os custos ambientais

(externalidades) que geram distorções nas análises

econômicas. Nesse ponto seu pensamento se

correlaciona com a análise de Tolmasquim (1998).

Schumacher (1983) afirma que toda a análise

econômica desconsiderou a base (meio ambiente)

em que se desenvolviam as atividades econômicas,

porque no momento de sua formulação ela parecia

inesgotável. A partir das provas de sua deterioração

ambiental, o autor reflete que as perspectivas e a

metodologia econômica passam a ser contestáveis.

Capra (2006) demonstra ter sido profun-

damente influenciado por Schumacher quando

se refere à necessidade do ser humano aprender

com os processos naturais, além de também

defender a importância da economia buscar um

perfil mais humanista.

Finalmente, Schumacher (1983) considera

a necessidade de um estudo da economia em

bases mais amplas (metaeconômicas), para que se

alcancem discernimentos válidos na construção de

políticas e projetos econômicos e que esses sejam

exitosos no alcance de suas metas e objetivos.

Considerações Finais

A economia ecológica e a economia soli dária

são dois ramos recentes do pensamento econômi-

co, sendo que suas abordagens encon tram muitos

pontos em comum, como a preo cupação com a

sustentabilidade ambiental nas atividades econômi-

cas. Tal fato tem fomentado o desenvolvimento de

novas pesquisas tanto empíricas quanto teóricas

utilizando essas duas áreas da ciência econômica.

Como foi possível verificar ao longo desse

ensaio, Schumacher apresenta opiniões que se

filiam tanto à economia ecológica como à econo-

mia solidária. Talvez por esse motivo, qual seja a

abrangência de seus pontos de vista, e a dificuldade

em enquadrá-lo em alguma vertente de pensamen-

to, ele tenha ficado à margem das próprias áreas

heterodoxas da economia e carente de uma leitura

mais aprofundada e de maiores comentários na li-

teratura econômica corrente.

Contudo, em um período de intensas crises

ambientais, sociais e econômicas, co mo vivencia-

mos na atualidade, as quais de man dam alterna-

tivas sustentáveis e ações efica zes para os seus

enfrentamentos, a (re)leitura de Schumacher pode

trazer inspirações interessantes aos cientistas que

pesquisam sobre a sustentabilidade socioambi-

ental na construção de projetos direcionados ao

bem-estar e a qualidade de vida das populações.

Nesse sentido, ressalta-se o caráter original, con-

temporâneo e interdisciplinar deste autor, cuja

contribuição continua viva, conforme se buscou

demonstrar no presente artigo.

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• Recebido em: 20/12/2012

• Aprovado em: 04/06/2013

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Adoção de plataforma estratégica de tecnologia de informação e comunicação: análise baseada no modelo UTAUTAdoption of the strategic platform for information and communication

technology: analysis based on the UTAUT model

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Fernando de Souza Meirelles1

Luci Longo2

Resumo

Este artigo apresenta um estudo desenvolvido em ambiente universitário e tem como foco a adoção

de tecnologia de informação por parte do corpo docente da Instituição nos processos educacionais. A

pesquisa se justifica em razão da pouca informação sobre as dificuldades de aceitação e intenções de

uso por parte dos professores e foi baseada no modelo UTAUT (Unified Theory of Acceptance and Use of Technology visando analisar o sistema e-learning para apoio de atividades educacional denominado

Moodle – Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment, da Universidade Estadual do Centro-

-Oeste do Paraná (Unicentro). A metodologia adotada foi qualiquantitativa e dividida em duas etapas. A

primeira serviu como diagnóstico, constatando que a Universidade tem diferentes estágios de adoção de

tecnologia e que o Ensino a Distância (EAD), implantado há pouco menos de três anos, já atingiu 42,5%

dos alunos. Na segunda etapa, foi realizada uma survey encaminhada aos docentes cadastrados para

uso dos recursos do sistema de tecnologia de informação e comunicação destinada à educação (TIC)

dos três campi universitários, totalizando 650 professores, equivalente a 86,4% do total dos docentes,

para testar se os elementos apontados no modelo teórico são comprovados empiricamente para a

adoção das TIC. A apresentação dos resultados possibilitou evidenciar a abrangência da teoria utilizada,

apesar do baixo índice de participação dos professores na pesquisa, mostrando a necessidade de novas

pesquisas para aprofundar o estudo no ambiente acadêmico e de medidas para tornar mais efetivo o

uso das TICs educacionais.

Palavras-chave: Adoção de Tecnologia de Informação. Tecnologia de Informação e Comunicação destinada

à Educação (TIC). Modelo Unificado de Aceitação de Tecnologia. Aspectos Sociais da TI.

Abstract

This paper presents a study developed in a university environment and which is focused on the adoption of

information technology by the teaching staff institution in the educational process. The research is justified

because there is few information about the difficulties of acceptance and usage intentions of professors

and it was based on the UTAUT (Unified Theory of Acceptance and Use of Technology) in order to analyze

the e-learning system for support of educational activities called Moodle – Modular Object Oriented

Dynamic Learning Environment, of the Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro). The

methodology was qualitative and quantitative and was divided into two stages. The first one was used as a

diagnosis, noting that the university has different stages of adoption of technology, and distance education

(e-learning), implanted just under three years, has reached 42.5% of students. In the second step, we

conducted a survey sent to teachers registered for use of system resources for Information Technology and

Communication to Education (ICT) of the three university campuses, a total of 650 teachers, representing

86.4% of all teachers; the survey research was conducted to test whether the elements highlighted in the

theoretical model are confirmed in empirical research of ITC adoption. The presentation of the results

allowed to highlight the scope of the theory used, despite the low level of teacher participation in research,

showing the need for further research to further study in the academic environment and measures to make

more effective use of ICT in education.

Keywords: Adoption of Information Technology. Information and Communication Technology for Education

(ICT). Unified Theory of Acceptance and Use of Technology (UTAUT). Social Aspects of IT.

1 Doutor em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas FGV-EAESP, Professor Titular da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (EAESP). E-mail: [email protected].

2 Doutora em administração pela Fundação Getulio Vargas FGV-EAESP, Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná. E-mail: [email protected].

Adoção de plataforma estratégica de tecnologia de informação e comunicação: análise baseada no modelo UTAUTAdoption of the strategic platform for information and communication technology: analysis based on the UTAUT model

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112

A Tecnologia de Informação (TI) tem sido

abordada sob diferentes enfoques, destacando sua

importância no ambiente empresarial, sua contínua

evolução e seus impactos para os indivíduos e para a

sociedade. A educação é uma das áreas que merece

destaque. Os estudos relacionados à educação

e evolução da TI já era destacada por Dertouzos

(1997), enfatizando que a Tecnologia de Informação

e Comunicação (TIC) podia ajudar a melhorar o

aprendizado, graças a sua capacidade de tratar

certas restrições existentes, tais como o tempo e o

espaço, para seus participantes e componentes.

Com este estudo, foi possível acompanhar

a evolução da TIC junto à Instituição de Ensino

Superior estudada. Um dos pontos centrais da

investigação foi verificar o funcionamento do

Moodle, o sistema de e-learning da Universidade,

bem como seu efetivo uso por parte dos docentes.

O sistema Moodle foi implementado inicial-

mente para o Ensino a Distância (EAD), devido à

parceria da Universidade e o Governo Federal, no

Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB).

Estes esforços alavancaram a infraestrutura de TI.

A plataforma Moodle foi disponibilizada também

aos docentes do ensino presencial. Decorridos

mais de dois anos, não estava claro a participação

dos docentes e quais os principais motivadores do

uso do sistema.

O objetivo desta pesquisa, portanto, foi

estudar a adoção e intenção do uso de tecnologia

de informação por professores nos processos

educacionais, utilizando o modelo unificado de

aceitação de TI, Unified Theory of Acceptance

and Use of Technology – UTAUT (VENKATESH;

MORRIS; DAVIS, 2003).

A metodologia procurou formas para com-

preender algumas questões, como por exemplo, se

o gênero, idade, experiência e voluntariedade no uso

presentes no modelo teórico UTAUT são diagnosti-

cados na pesquisa empírica, interferindo na intenção

do indivíduo e também na frequência de uso.

O modelo de pesquisa adotado serviu de

base para orientar a pesquisa junto aos docentes

da Universidade Estadual do Centro Oeste do

Paraná, quanto à aceitação da plataforma Moodle

para o apoio às atividades educacionais da

Entidade dos cursos presenciais de Graduação e

Pós-Graduação.

1 Uso de Tecnologia de Informação e Comunicação

1.1 Tecnologia da Informação e Comunicação para Educação (TIC)

Damásio (2007) discorre sobre a utilização

da tecnologia no contexto educativo, e enfatiza que

o seu uso deve ser introduzido mediante reais ne-

cessidades dos sujeitos envolvidos e não somente

pelo fato de utilizar a tecnologia por ela mesma.

A TIC pode ser utilizada no contexto edu-

cacional, para apoiar atividades administrativas,

de gestão educacional, de aprendizagem, entre

outras. Nesta pesquisa, analisou-se a adoção

da TIC pelo corpo docente como ferramenta de

apoio às atividades de ensino e aprendizagem, ou

seja, como um sistema de gestão do aprendizado.

Este tipo de sistema agrega grande quantidade

de recursos que podem ser utilizados para

Introdução

A TIC pode ser utilizada

no contexto educacional,

para apoiar atividades

administrativas, de

gestão educacional, de

aprendizagem, entre

outras.

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disponibilização de materiais tais como artigos e

vídeos, construção individual do conhecimento

por meio de tarefas, construção colaborativa de

conhecimento por wikis e fóruns de discussão,

comunicação entre professor-aluno e aluno-aluno

via mensagens, fóruns de notícias e fóruns de

discussão em geral e avaliação do aprendizado do

aluno com a utilização de testes eletrônicos.

Estas tecnologias podem ser utilizadas

tanto para ensinar o aluno determinado conteú-

do, como para promover o desenvolvimento do

conhecimento e, neste contexto, o aprendizado

acontece pelo fato do indivíduo estar executando

determinada tarefa por intermédio da tecnologia

(VALENTE, 1993a).

Segundo Albertin (2010), estas tarefas po-

dem ser pesquisa de dados, elaboração de textos,

resolução de diversos domínios do conhecimento

e representação desta resolução, controle de

processos em tempo real, comunicação e uso de

redes de computadores, entre outras.

1.2 Adoção de Tecnologia

A adoção de tecnologia tem sido foco

de pesquisa de muitos autores. Um dos artigos

mais conhecidos sobre o tema é de Venkatesh,

Morris, Davis e Davis (2003), que divulgaram o

modelo utilizado nesta pesquisa o Unified Theory

of Acceptance and Use of Technology (UTAUT),

cuja tradução é Teoria Unificada de Aceitação e

Uso da Tecnologia.

Salienta Albertin (2010) que o processo

de aceitação e efetiva adoção de determinada

tecnologia é um ponto chave para o sucesso desta,

seja um sistema de informação, um processo ou

produto no ambiente digital (ALBERTIN, 2010).

A UTAUT é oriunda da consolidação das cons-

truções de oito modelos de pesquisas antecessoras:

(1) Teoria da ação racional (TRA); (2) Aceitação

do modelo de tecnologia (TAM); (3) Modelo

motivacional; (4) Teoria do comportamento

planejado (TCP); (5) Uma teoria combinada de TCP

e TAM (TAM2); (6) Modelo do uso do computador

pessoal (CP); (7) Difusão de inovações e (8) Teoria

social (cognitiva).

Visando compreender melhor a origem do

UTAUT, apresenta-se um dos modelos mais co-

nhecidos que o antecedeu, o Modelo de Aceita-

ção Tecnológica (TAM) – Technology Acceptan-

ce Model, que se refere ao momento quando os

usuários são apresentados a uma nova tecnolo-

gia, pois há fatores que influenciam na decisão de

usá-lo, quais sejam: percepção de utilidade e da

facilidade, ou seja, grau de percepção que uma

pessoa ao utilizar um determinado sistema, esta-

ria livre de esforço (DAVIS, 1989).

O UTAUT visa explicar também as intenções

do usuário para usar um sistema e comportamen-

to posterior. A teoria sustenta as quatro principais

construções: expectativa de desempenho, a expec-

tativa de esforço, influência social e condições de

facilidade. Além disso, os determinantes da intenção

de uso são os seguintes elementos: gênero, idade,

experiência e voluntariedade de uso (VENKATESH

et al., 2003).

O processo de aceitação

e efetiva adoção de

determinada tecnologia

é um ponto-chave para

o sucesso desta, seja um

sistema de informação, um

processo ou produto no

ambiente digital.

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114

O modelo UTAUT, na FIG. 1, foi validado com sucesso em um estudo longitudinal, obtendo 70% da

variação na intenção de uso.

Intenção de

Uso

Comportamento

de Uso

Gênero Idade Experiência Voluntariedade

no Uso

Expectativa de

Desempenho

Expectativa de

Esforço

Influência

Social

Condições

Facilitadoras

FIGURA 1 – Modelo da Teoria Unificada de Aceitação da Tecnologia (UTAUT)

FONTE: Venkatesh et al. (2003)

2 Aspectos Metodológicos

2.1 Escolha da Empresa

A entidade escolhida para esta pesquisa é

uma das mais jovens Universidades do Estado do

Paraná, que surgiu da fusão de duas faculdades

dos municípios de Guarapuava e de Irati. A partir

do ano de 1997, depois de concluído seu processo

de reconhecimento, a Instituição iniciou seu

processo de expansão, implantando novos cursos

em diversas áreas do conhecimento. Atualmente,

conta com 59 ofertas de cursos.

Instalada na região central do estado, a

Unicentro conta com mais de cinquenta municípios

em sua região de abrangência, compreendendo

uma população de mais de 1 milhão de habitantes,

para os quais oferece uma variada gama de

serviços que propiciam maior desenvolvimento

regional. Conta com cursos de Formação Superior

de Graduação, Pós-Graduação e Ensino a Distância

(EAD), em parceria com o Governo Federal por

meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB).

No ano em que foi desenvolvida a pesquisa a

universidade tinha 9.108 acadêmicos no ensino

presencial e 3.874 no EAD.

O processo de consolidação da Instituição

vem ocorrendo pelo reconhecimento da

comunidade e dos órgãos oficiais encarregados

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da gestão das políticas de Ensino Superior no país. Ressalta-se a implantação, no ano de 2006, dos quatro

primeiros programas de Pós-Graduação stricto sensu da Universidade, os mestrados nas áreas de Química,

Engenharia Florestal, Agronomia e Biologia.

2.2 Modelo Conceitual de Pesquisa

Com o objetivo de compreender melhor o atual estágio de adoção de TI, pelos docentes, nas atividades

educacionais de Graduação e Pós-Graduação dos cursos presenciais na Unicentro, aplicamos o modelo UTAUT,

com algumas adaptações, conforme a FIG. 2.

Esta abordagem possui apenas uma diferenciação em relação ao modelo original, ou seja, a proposição

ao modelo aponta que os elementos de gênero, idade, experiência e voluntariedade do uso podem interferir

na intenção do indivíduo e também na frequência da utilização do recurso tecnológico.

Intenção de Uso

Comportamento de Uso

PlataformaMoodle

(TIC para suporte das tarefas educacionais)

Gênero Experiência Voluntariedade no Uso

Expectativa de Desempenho

Expectativa de Esforço

InfluênciaSocial

CondiçõesFacilitadoras

DOCENTES - ENSINO SUPERIOR

Idade

FONTE: Os autores (2011)

FIGURA 2 – Modelo de Pesquisa baseado no UTAUT

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116

2.3 População e Coleta de Informações

A pesquisa, para atender aos seus objetivos,

foi dividida em duas fases: (a) diagnóstico do uso de

TI pela Entidade (utilizando dados secundários dos

usuários ativos do Moodle) e (b) coleta de dados

junto aos docentes da entidade, por meio de uma

survey com questionário estruturado (opção digital

ou manual/físico), focado no objetivo da pesquisa.

Os professores dos três campi universitários

totalizam 752 indivíduos, entretanto, a pesquisa foi

encaminhada para aqueles que tinham seus cadas-

tros junto ao sistema, totalizando 650 professores.

A Unicentro, no ano de 2009, iniciou um programa

de treinamento para os professores, apresentando

o Moodle, sendo que nesta ocasião os professores

foram orientados a fazer seus cadastros e acessos

para a utilização básica do sistema.

Dos questionários que retornaram, pouco

mais de 100, muitos estavam com informações in-

completas, portanto, puderam ser aproveitados 56.

2.4 Procedimentos Adotados para Análise dos Dados

O tipo de pesquisa foi qualiquantitativo pa ra

alcançar a verificação empírica do assunto estuda-

do. Para responder ao objetivo proposto e para uma

efetiva triangulação das informações foram utiliza-

das diversas técnicas para a coleta de dados (DUBÉ;

PARÉ, 2003; EISENHARDT, 1989; YIN, 2001).

Na fase de diagnóstico, adotou-se fazer

inicialmente a coleta junto ao site da Universidade,

bem como a análise de documentos e entrevistas

semiestruturadas com o Coordenador da TIC, cuja,

sua equipe atende os três campi. Paralelo a isto, foi

feito entrevista com a Coordenadora do Programa

de Ensino a Distância, para compreender a atual

situação do EAD. Por último, foram obtidas

também informações, junto aos Departamentos,

Financeiro, da Reitoria e dos Recursos Humanos.

Para os testes, processamento dos dados

amostrais e validação do modelo proposto, uti-

lizou-se o software MINITAB versão 15.

Optou-se pela técnica de análise discri-

minante devido à variável resposta de natureza

binária. Foi construído um modelo de Regressão

Logística para encontrar os motivadores do uso

do sistema. A análise discriminante assume a se-

guinte forma:

Z= f(X1, X2, ..., Xp)

Z= a0 + a1 X1 + a2 X2+...+ap Xp

Onde:

Z = escore discriminante

a = intercepto

Xi = variável independente i

Regra de Decisão (Zo: é o ponto de corte

para classificação dos grupos):

Z > Z0 = G1 (usuários)

Z < Z0 = G2 (Não Usuários)

Para mensurar se o modelo ajusta-se aos

dados, foram feitos alguns testes de validação,

como o teste de Hosmer-Lemeshow. Também foi

analisada a significância do modelo e a hipótese

nula foi rejeitada: Ho: (b1=0, b2=0,.... bp = 0). As

variáveis mais ajustadas ao modelo, quanto ao uso

do sistema foram: Intenção e Frequência, sendo

G = 21,176, DF = 2, P-Value = 0,000.

3 Apresentação e Análise dos Resultados

3.1 Descrição da Plataforma Moodle/Unicentro

O Moodle – Modular Object-Oriented

Dynamic Learning Environment – é um ambiente

virtual de aprendizagem (AVA), também conhecido

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como LMS – Learning Management System, que

tem destaque no mercado digital, devido às suas

diversas possibilidades. Muitas instituições utilizam

essa ferramenta em cursos on-line, blended ou

como apoio a cursos presenciais, todas elas com

o intuito de dar suporte ao aluno por meio da

atuação de professores e/ou tutores (CTAE, 2011).

Tecnicamente, o Moodle é um software

de Open Source, o que significa que é livre para

carregar, usar, modificar e até mesmo distribuir (sob

a condição do GNU). Funciona sem necessidade de

modificação em Unix, Linux, Windows, Mac OS X,

Netware e em qualquer outro sistema que suporte

a linguagem PHP, podendo, portanto, ser incluído

na maioria dos provedores de hospedagem. Os

dados são armazenados em um único banco de

dados e de maneira mais eficiente com MySQL e

PostgreSQL, porém também pode ser utilizado

com Oracle, Access, Interbase, ODBC, entre outros.

O Moodle é um projeto de desenvolvimento

contínuo projetado para apoiar o sócio cons-

trutivismo educacional. Conjuga um sistema de

administração de atividades educacionais com

um pacote de software desenhado para ajudar os

educadores a obter alto padrão de qualidade em

atividades educacionais no ambiente on-line.

Este sistema gera informações e relatórios

referentes a sua utilização. Para evidenciar a adoção

dos usuários ativos, apresentam-se algumas

informações geradas para a Coordenação de TI da

Universidade. No que se refere à situação atual do

EAD, há 10 cursos em funcionamento, 3.874 alunos

e 550 tutores externos ligados ao programa.

Indicando o volume movimentado pelos

usuários, em números totais, houve 21.892 visi-

tantes, 52.807 visitas, ou seja, 2,41 acessos por

visitantes. Mensurando o volume de informação, as

visitas equivalem a 54,21 GB ou 1076,3 KB por visita.

Verificando as informações do último trimestre de

2010, conforme a TAB. 1, é possível ter noção do

fluxo dos usuários do sistema e da utilização do

Moodle e o tempo médio destas.

TABELA 1 – Duração das visitas no Moodle

Tempo médio das

visitas

Número de

visitasPor cento

0s-30s 8.376 15.8 %

30s-2min 7.844 14.8 %

2min-5min 7.827 14.8 %

5min-15min 9.303 17.6 %

15min-30min 5.650 10.6 %

30min-1h 6.231 11.7 %

1h+ 7.440 14%

Desconhecido 163 0.3 %

FONTE: Coordenação de TI/UNICENTRO (2010)

O Moodle conjuga um

sistema de administração

de atividades educacionais

com um pacote de software

desenhado para ajudar os

educadores a obter alto

padrão de qualidade em

atividades educacionais

no ambiente on-line.

O GRÁF. 1 ilustra os Cursos Ativos de Ensino

a Distância (EAD) com maior participação no uso

da plataforma Moodle, desde a implantação do

sistema em 2009:

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118

190, 000

152, 000

114,000

76,000

38,000

0

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AtividadeAtividade

GRÁFICO 1 – Uso do Moodle nos Programas de EAD

FONTE: Coordenação de TI/UNICENTRO (2010)

Analisando apenas um curso e as movi-

mentações do EAD, tomando-se como exemplo

o curso de Gestão Escolar, que completou seu

ciclo na fase final de conclusão de curso, verifica-

se a participação de três agentes (usuários do

sistema) que utiliza a nomenclatura distinta, con-

forme segue:

a) Estudantes – não há diferença de

nomenclatura;

b) Assistentes – que dão suporte aos

estudantes, denominados operadores

ou tutores;

c) Professor – também recebe a

denominação de tutor.

Destaca-se algumas características que são

ine rentes à funcionalidade do EAD na entidade

estudada, os assistentes que dão suporte no dia

a dia e os professores são chamados de tutores.

A responsabilidade e organização do conteúdo

é atribuição do professor, assim como programa

da disciplina, material, exercício e atividades de-

senvolvidas, mas em geral o professor não está

permanentemente em contato virtual com o aluno

do EAD, pois a equipe de assitentes é que oferece

o suporte para estes alunos e também é o elo de

informação junto ao professor.

Verifica-se que em um semestre de atividades

aproximadamente, há picos de acessos dos

usuários de forma diferenciada. As participações

do estudante e do tutor assemelham-se às

demandas de um curso de orientação presencial.

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R e v . F A E , C u r i t i b a , v. 17, n. 1, p. 110 - 125, jan./jun. 2014119

FONTE: Coordenação de TI/UNICENTRO (2010)

GRÁFICO 2 – Acesso na disciplina TCC Gestão Escolar

Estudante

Tutor

Moderador

21/08/24

25/11/21

01/03/19

04/06/16

08/09/13

13/12/10

18/03/08

22/06/05

26/09/02

00/01/00

17/05/2010 17/06/2010 17/07/2010 17/08/2010 17/09/2010 17/10/2010

3.2 Análise e Validação do Modelo para a

Amostra Obtida na Pesquisa Uso do

Moodle-Unicentro

Alguns pontos da análise são destacados, conforme mostra a primeira parte da TAB. 2, com o resumo

da variável de saída (binária), sendo o uso da TIC, 1 para sim e 0 para não.

Do conjunto de variáveis previsoras (inde pendentes) do modelo UTAUT, as variáveis SIDADE, EXPER,

destacadas na TAB. 2, possuem parâmetros não significantes para o modelo em 10%. Dessa forma, foram

retiradas estas variáveis para compor o modelo final.

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120

Testes Estatísticos de Ajustes (Goodness-of-Fit )

Método Chi - Quadrado DF P

Pearson 74,7335 34 0,000

Deviance 39,6591 34 0,232

Hosmer-Lemeshow 8,4488 8 0,391

Medidas de Associação: Entre a Variável e os Preditores

Número de Pares Percent Medidas Resumo

Concordante 688 88,8 D de Somers 0,78

Discordante 83 10,7 Goodman-Kruskal Gamma 0,78

Ties 4 0,5 Kendall’s Tau-a 0,39

Total 850 100

TABELA 3 – Testes estatísticos de ajustes e associação

FONTE: Os autores (2011)

Previsores Coef SE Coef Z PRelação de

ProbalidadeMínimo Máximo

Constante - 7,670 2, 555 - 3,000 0,003

SIDADE 0,425 0,722 0,590 0,556 1,530 0,370 6,300

SGÊNERO 2,286 0,875 2,610 0,009 9,830 1,770 54,640

EXPER - 0,240 0,355 - 0,680 0,498 0,790 0,390 1,580

INTENÇÃO 2,480 1,191 2,080 0,037 11,940 1,160 123,130

Log-Probalidade = - 23,465

Teste (slopes = zero): G= 30,058 DF = 5,0 P-Value = 0,000

Variável Dependente (Binária) Valor Quant.

USO 1 25

0 31

TOTAL 56

Intervalo de

Confiança95%

TABELA 2 – Regressão logística: uso de TI x variáveis previsoras

FONTE: Os autores (2011)

No teste de significância, conforme TAB. 3, pelo valor de P, pode ser rejeitada a hipótese nula. Entretanto,

a estatística e o teste de Hosmer Lemeshow mostram que o modelo não se ajusta aos dados, mesmo com o

índice D de Somers mostrando uma concordância de 78%.

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R e v . F A E , C u r i t i b a , v. 17, n. 1, p. 110 - 125, jan./jun. 2014121

Intervalo de

Confiança95%

Previsores Coef SE Coef Z PRelação de

ProbalidadeMínimo Máximo

Constante - 3,39572 1,1833 -2,87 0,004

INTENÇÃO 2,64870 1,1292 2,35 0,019 14,14 1,55 129,28

FREQUÊNCIA 1,09526 0,4893 2,24 0,025 2,99 1,15 7,80

Log-Probalidade = -27,906

Teste (slopes = zero): G=21,176 DF = 2,0 P-Value = 0,000

TABELA 4 – Regressão logística: uso x previsoras intenção e frequência

FONTE: Os autores (2011)

Testes Estatísticos de Ajustes (Goodness-of-Fit )

Método Chi - Quadrado DF P

Pearson 26,522 5 0,00

Deviance 13,4358 5 0,02

Hosmer-Lemeshow 20,9454 3 0,00

Medidas de Associação: Entre a Variável e os Preditores

Número de Pares Percent Medidas Resumo

Concordante 587 75,7 D de Somers 0,69

Discordante 50 6,5 Goodman-Kruskal Gamma 0,84

Ties 138 17,8 Kendall’s Tau-a 0,35

Total 775 100

Na sequência, os cálculos foram processados novamente, considerando apenas as variáveis Intenção e

Frequência. Os resultados encontram-se na TAB. 4.

Na TAB. 4, os testes estatísticos indicam um

bom nível de concordância quanto à associação

entre a Variável resposta “Z” e as variáveis pre-

visoras (Intenção e Frequência).

O teste de significância, pelo valor de P

indica que a hipótese nula pode ser rejeitada, ou

seja, pelos menos um dos b é diferente de zero. O

modelo se ajusta aos dados pelo teste estatístico

de Hosmer Lemeshow e o teste D de Somers

mostra uma concordância de 69%.

Neste modelo (TAB. 4), todas as estimativas

dos parâmetros das variáveis são significantes em

0.10. O valor de P é zero. Dessa forma, a equação

da regressão logística para o escore do modelo é:

Z = -3,39572 + 2,64870*INTENÇÃO + 1,09526*FREQUÊNCIA

Indicando quanto aumenta “Z” a cada aumento de uma unidade de X. Então, o uso da TIC triplica para

cada aumento de uma unidade de intenção de uso e o aumento de frequência em uma unidade significa

aumento de “Z” em 1,09526.

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122

3.3 Outras Informações da Pesquisa

Os docentes envolvidos nos cursos de

ensino a distância são necessariamente usuários

do Moodle. Mas o interesse foi destinar a pesquisa

a todos os docentes que fazem parte do quadro

de professores ativos da entidade. Os resultados

dos questionários que retornaram e válidos,

envolvendo os usuários e não usuários, quanto ao

gênero são 39% mulheres e 61% homens.

O GRÁF. 3 evidencia a idade dos docentes

envolvidos na pesquisa, segundo o modelo UTAUT,

verifica-se que há uma predominância da faixa

etária dos 25 aos 40 anos com 57%.

GRÁFICO 3 – Idade dos participantes

FONTE: Os autores (2011)

Do total dos respondentes da pesquisa,

apenas 45% utilizam o Moodle, conforme apre-

sentado na TAB. 5. Quanto à intenção de uso do

sistema, grande parte dos professores, que não

usam, afirmaram iniciar no próximo período letivo,

ou seja, ainda no ano de 2011, uma vez que a pesquisa

foi desenvolvida entre final de 2010 e início de 2011.

TABELA 5 – Detalhamento dos usuários

Utilização do Moodle Respondentes

Usam

(frequência do uso Mensal e Bimestral)45%

Perspectiva Respondentes

Intenção de uso em 2011

Não têm intenção de usar

73%

27%

FONTE: Autores (2011)

Mais de 60

anos 2% Até

25 anos 5%

Mais de 25 anos até

40 anos 57%

Mais de 40

anos até 60

anos 36%

Entre os usuários do sistema Moodle da

amostra, o que representa pouco menos da metade,

em relação à motivação de uso, destacam-se as

condições de facilidade 32% e expectativa de

melhoria de desempenho 29%. Outras informações

aparecem ainda na TAB. 6.

O tempo de experiência de docência é um

dos elementos do modelo e nos resultados não

houve um grupo predominante.

O tempo de experiência de docência é um

dos elementos do modelo e nos resultados não

houve um grupo predominante.

No GRÁF. 4, apresenta-se o tempo de expe-

riência dos professores, representado em número

de anos de docência. Ocorre uma divisão bastante

semelhante em termos percentuais para os grupos,

sendo o grupo mais numeroso dos usuários do

instrumento de TIC foram professores com pouca

experiência (0-3 anos) e os professores que menos

utilizam do sistema Moodle são os docentes com

mais de 20 anos de experiência.

TABELA 6 – Motivação para o uso

Motivador de Uso Respondentes

Por expectativa melhoria de

desemprenho29%

Por expectativa melhoria de esforço 4%

Por influência dos colegas (social) 4%

Por condição de facilidade 32%

Não responderam 32%

100%

FONTE: Autores (2011)

Mais de 10 anos até

20 anos

24%

0 até 3

anos 28%

Mais de 6 anos até

10 anos 20%

Mais de 3 anos até

6 anos

24%

Mais de 20

anos 4%

GRÁFICO 4 – Experiência dos docentes

FONTE: Os autores (2011)

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Estes dados parecem lógicos, também

evidenciam a utilidade do modelo teórico UTAUT,

na análise empírica para o mapeamento dos

usuários, visto que professores com maior tempo

de experiência utilizam menos o sistema Moodle

e de forma esporádica, já os professores com

menos tempo de docência utilizam o sistema com

mais frequência (diariamente, semanalmente ou

mensalmente de forma regular).

Conclusões

A Instituição de Ensino estudada teve

muitas mudanças, em pouco mais de uma década,

no seu processo de evolução da TI/TIC. Segundo

a entrevista com o Coordenador da TIC, o site

foi implementado no ano de 1997. Em 1999, deu-

-se início ao sistema de secretaria e em 2002 os

acadêmicos passaram a ter acesso para consultar

suas notas on-line. Também a partir do ano de 2002

foram disponibilizadas as grades de cursos e outras

informações sobre os Programas da Universidade.

Naquele ano iniciaram-se as inscrições para o

vestibular on-line. Atualmente possui inúmeros

cursos ofertados em parceria com a Universidade

Aberta do Brasil e utiliza a plataforma Moodle

para suporte destes cursos, bem como para as

atividades de ensino presenciais na Graduação,

Pós-Graduação e Extensão.

Esta pesquisa evidenciou a abrangência

do modelo UTAUT, confirmando sua validade

para explicar o uso e aceitação de tecnologia pe-

los docentes analisados. A variável ”Intenção de

Uso” de TI do modelo UTAUT recebe inúmeros

estímulos de variáveis relacionadas ao compor-

tamento do indivíduo, consequentemente impli-

cará em uso e frequência de uso da tecnologia

de informação disponível.

Quanto às implicações práticas, verifica-

-se que a aceitação de tecnologia de informação

somente ocorre quando da pré-disposição do

professor para uma determinada tecnologia,

o Moodle, no caso específico desta pesquisa.

Portanto, o êxito está atrelado ao convencimento

da utilidade e de facilidade do uso. Estas questões

podem ser utilizadas para melhorar as ações por

parte da gestão e para aumentar a utilização das

plataformas de apoio à docência.

Uma das limitações da pesquisa foi o

baixo número de questionários que retornaram

com todas as questões respondidas, mas este

fator não impediu a evidenciação dos problemas

relacionados à aceitação e uso de tecnologia por

seus professores. No ambiente acadêmico atual, os

docentes enfrentam o desafio de adaptação aos

novos instrumentos de trabalho, uma vez que o

aluno, de modo geral, já tem bastante familiaridade

com a tecnologia disponível.

A busca acelerada por novas tecnologias

vem ocorrendo na maioria das Instituições de En-

sino Superior no Brasil. A entidade estadual públi-

ca, não está isenta da pressão dos concorrentes,

como as instituições da iniciativa privada que in-

vestem fortemente em TIC e em melhoria da in-

fraestrutura educacional.

É fundamental que novas pesquisas inves-

tiguem mais detalhadamente os docentes que

não utilizam a plataforma Moodle, ou outro sis-

tema de apoio de ensino, a fim de mapear as

intenções de uso e, dessa forma, promover ações

direcionadoras para o corpo docente, visando

ampliar a compreensão dos instrumentos que são

disponibilizados, por meio de treinamentos, grupos

de usuários multiplicadores entre outras ações.

• Recebido em:23/04/2012

• Aprovado em: 04/06/2013

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124

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Método de estudo de caso como estratégia construtivista de ensino: proposta de aplicação nos cursos de Administração e Contabilidade de CustosCase study method as constructivist teaching strategy: proposed

application courses in Management and Cost Accounting

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Método de estudo de caso como estratégia construtivista de ensino: proposta de aplicação nos cursos de Administração e Contabilidade de CustosCase study method as constructivist teaching strategy: proposed application courses in Management and Cost Accounting

Resumo

Este artigo objetiva apresentar uma proposta de aplicação do método de estudo de

caso, consagrado na área de pesquisa, como estratégia de ensino. A culminância

deste trabalho, a partir da pesquisa bibliográfica, foi a elaboração do protocolo

de estudo de caso. A abordagem do estudo de caso como estratégia didático-

pedagógica tem referencial construtivista. A complementaridade das características

do método e as demandas da área de Administração o qualificam à condição de

estratégia de ensino. Os argumentos concatenados convergiram para a viabilidade

de aplicação do método como estratégia de ensino, mas aponta para a necessidade

de se repensar aspectos relacionados às condições de aplicação em razão das

limitações mapeadas nesse estudo.

Palavras-chave: Construtivismo. Estudo de Caso. Estratégia de Ensino. Método do

Caso. Pesquisa. Imersão.

Abstract

This article presents a proposal of application of case study method, enshrined in

research, as a teaching strategy. The culmination of this work, from the literature, was

the preparation of the case study protocol. The case study approach as didactic-

pedagogic strategy has the Constructive. The complementarity of the features of the

method and the demands of the Administration area qualify for the status of teaching

strategy. The arguments concatenated converged on the feasibility of applying the

method as a teaching strategy, but points to the need to rethink aspects related to the

conditions of application because of limitations in this study mapped.

Keywords: Constructivism. Case Study. A Teaching Strategy. Case Method. Search.

Immersion.

Georgia Fabiana da Silva1

Mariano Yoshitake2

Suely Morais de França3

Yumara Lúcia Vasconcelos4

1 Egressa do curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE. E-mail: [email protected] Mestre em Administração das Faculdades Alves Faria – ALFA. E-mail: [email protected] Mestranda em Gestão e Tecnologia em Educação a Distância da Universidade Federal Rural de Pernambuco –

UFRPE. E-mail: [email protected] Doutora em Administração pela Universidade Federal da Bahia. Professora da Universidade Federal Rural de

Pernambuco - UFRPE. E-mail: [email protected].

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128

Introdução

O estudo de caso define-se como méto-

do de exploração de realidades, denominadas de

unidades-caso, apresentando cunho investigativo

(analítico). Sua operacionalização pode ser norteada

por uma ou mais provocações, as quais podem sur-

gir ao longo da experiência de imersão, suscitando

novos recortes e análises. A proposta enunciada

neste trabalho destaca a importância do estudo de

caso e sua abordagem construtivista e o referencial

pedagógico adequado à aplicação didática da es-

tratégia. O emprego do método como estratégia de

ensino, entretanto, não o faz perder sua identidade

de investigação empírica (usualmente referenciada

nos trabalhos de pesquisa). O caso, como parte de

uma estratégia pedagógica, é tratado como cul-

minância de um processo de vivência do aluno, que

se envolve com a realidade investigada, interpre-

tando-a, atribuindo significado e elaborando con-

clusões a partir dessas observações (participação

ativa do discente: da gênese do caso aos produtos

propriamente ditos, que correspondem à análise

crítica e intervenção).

[...] um caso é a descrição de uma situação administrativa

recente, comumente envolvendo uma decisão ou um

problema. Ele normalmente é escrito sob o ponto

de vista daquele que está envolvido com a decisão e

permite aos estudantes acompanhar os passos de quem

tomou a decisão e analisar o processo, decidindo se o

analisaria sob enfoques diferentes ou se enveredaria por

outros caminhos no processo de tomada de decisão

(ERSKINE et al, apud CESAR, 2006, p. 10).

Na composição do case, nesse formato

de aplicação, o aluno é livre para formular seus

métodos de trabalho, aportar diferentes ferramentas

de análise e conteúdos. Essa plasticidade de

abordagem e liberdade de criação é que conferem

identidade construtivista à prática. O discente

pode, ainda, assumir o propósito de intervir na

realidade investigada ou situação-problema, mas

posteriormente a elaboração do estudo, o qual

viabilizará a sugestão de pontos para intervenção.

As recomendações advindas dos estudos de caso

(nessa abordagem de aplicação) são, desta forma,

produtos de convergência.

O estudo de caso como estratégia pedagógi-

ca tem potencial de intervenção na realidade investi-

gada, visando dentre outros propósitos, desenvolver

no discente a capacidade de análise (interpretação,

julgamento), síntese e planejamento de intervenção

(função proativa).

É a formação de pontes ou canais entre análise

e decisão (ou conclusão) que revela o referencial

pedagógico subjacente à prática.

O método, nesta proposta, exige que o fenô-

meno ou realidade seja recortado em dimensões

de análise para facilitar o processo de exploração.

Reclama-se que essas dimensões reflitam uma

plataforma teórica como base de sustentação.

O tema reveste-se de inequívoca impor-

tância posto que a prática docente nas áreas de

A estratégia de estudo de caso ressalta o valor do ensino experiencial,

promovendo um enquadramento social

importante, pois o ensino não pode ser baseado

exclusivamente em abstrações ouconsiderações

ideais.

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Administração e Contabilidade ainda se ressente

de uma abordagem pragmática, contextualizada e

inserida nas demandas de mercado. Vislumbra-se,

nesta proposta, uma possibilidade real de aplicação

do método na consecução dessa lacuna.

Acredita-se que o método, já consagrado em

pesquisas, pode se apresentar eficaz como estraté-

gia de ensino (especialmente na Administração de

Custos), se conduzida como resultado da imersão

do aluno no ambiente profissional. Assim, este

trabalho objetiva discutir o estudo de caso sob a

perspectiva instrumental, facilitadora da aprendiza-

gem, culminando numa proposta de aplicação.

A estratégia de estudo de caso ressalta o

valor do ensino experiencial, promovendo um

enquadramento social importante. O ensino não

pode ser baseado exclusivamente em abstrações

ou considerações ideais. É importante que o aluno

seja apresentado às limitações de sua realidade,

nível que é alcançado pela imersão em campo.

Esta foi a principal justificativa à modelagem da

estratégia apresentada.

Dentro desse cenário, estabeleceu-se como

problematização deste estudo: o método de

estudo de caso, à luz da orientação teórica cons-

trutivista, amplia suas possibilidades de aplicação

como estratégia de ensino, pesquisa e extensão?

Considerando o eixo de abordagem apresentado,

a pesquisa enquadra-se como qua litativa, de na-

tureza exploratório-descritiva e propositiva.

O objetivo geral é apresentar o método

de estudo de caso, a partir da orientação cons-

trutivista, como estratégia de ensino.

Os objetivos específicos são: identificar

ex periências na elaboração de estudos de casos

descritos nas obras revisadas, especialmente as

dificuldades encontradas; diferenciar o método

de caso (estratégia de ensino) do estudo de

caso (método de pesquisa); recolher e estruturar

argumentos necessários para a adaptação do

método de estudo de caso (formato empregado

nas atividades de pesquisa) à condição de estra-

tégia de ensino.

Utilizou-se de pesquisa qualitativa que,

segundo Tozoni-Reis (2009), tem base o estudo

de pontos de vistas, olhares e experiências

vivenciadas pelos sujeitos da pesquisa que, neste

trabalho, foram os autores revisados, uma vez

que esta pesquisa tem natureza eminentemente

bibliográfica. Exploraram-se, nas leituras dos

trabalhos revisados, alguns fundamentos que

abonam a tese advogada neste trabalho, a qual

ressalta o valor do método de estudo de caso para

qualificação do processo ensino-aprendizagem.

O estudo foi desenvolvido conforme a se-

guinte sequência:

1. realizou-se a composição do eixo meto-

do lógico (elementos estruturantes do

estudo);

2. procedeu-se à revisão de literatura, ex plo-

rando-se as bases de dados Directory of

Open Access Journals (DOAJ) e SciELO

Brazil (Scientific Electronic Library Online);

3. realizou-se a triagem de trabalhos ci-

en tíficos, a partir do recorte definido,

objetivando a concentração da abor-

dagem em torno do eixo problemati-

zante, ini ciando-se em seguida o estudo

sis temático do material selecionado

visan do ao desenvolvimento da linha de

argu mentação.

4. Após o levantamento citado, prosseguiu-

se com a análise de conteúdo (técnica

aplicada ao exame acurado das obras

revisadas sob um olhar crítico e focado,

de modo a ensejar inferências dentro

do recorte investigado.

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130

1 Fundamentos do Estudo

Nesta seção serão apresentados os aspectos

conceituais atinentes ao estudo de caso, ressaltando

suas aplicações e alcance.

De acordo com o protocolo de pesquisas,

a revisão de literatura explorou as bases de dados

Directory of Open Access Journals (DOAJ) e SciELO

Brazil (Scientific Electronic Library Online).

1.1 Estudos de Caso

Gil (2005, apud FAGUNDES 2009, p. 26)

conceitua estudo de caso como “[...] estudo

profundo e exaustivo de um ou poucos objetos,

de maneira que permita seu amplo e detalhado

conhecimento”. O método tem por objeto uma

ou mais unidades-caso, as quais podem ser uma

organização, um projeto, uma situação-problema,

um programa, decisões, um conjunto de processos,

uma perspectiva ou qualquer outro elemento de

análise (incluindo unidades sociais – um indivíduo,

um grupo, uma comunidade, ou mesmo, um país).

Seu enfoque é predominantemente descritivo.

Yin (2005) ressalta que o emprego do

estudo de caso tem o potencial de contribuir para

a compreensão dos fenômenos em nível individual,

característica que amplia seu alcance naquele

raio (unidade-caso), em face da profundidade

na abordagem, orientação compartilhada por

Fagundes (2009). A unidade-caso é a matéria-

-prima e objeto delimitado de investigação. “Vale, no

entanto, lembrar que a totalidade de qualquer objeto

é uma construção mental, pois concretamente não

há limites, se não forem relacionados com o objeto

de estudo da pesquisa no contexto em que será

investigada” (VENTURA, 2007, p. 384).

A aplicação do método enseja o esboço

de respostas a situações reais e complexas, por

meio de uma abordagem de ênfase aplicada na

avaliação dos problemas investigados. O método

pressupõe a decomposição de uma situação-

-problema em instâncias unitárias de análise.

Na própria conceituação de estudo de caso

– exame aprofundado e sistemático de uma instân-

cia – está implícita a necessidade de um contato es-

treito e prolongado do pesquisador com a situação

ou objeto pesquisado (ANDRÉ, 1984, p. 53).

Essa abordagem impõe contornos precisos

aos trabalhos, direcionando a prática para ângulos

de leitura relevantes à exploração dos problemas e

encaminhamento de soluções. De fato, “mediante

um mergulho profundo e exaustivo em um

objeto delimitado, o Estudo de Caso possibilita

a penetração em uma realidade social, não

conseguida plenamente por um levantamento

amostral e avaliação exclusivamente quantitativa”

(MATIAS, 2008, p. 9).

Fagundes (2009) resume o processo em

duas etapas principais: escolha e definição da

unidade-caso e determinação do número de ca sos,

que deve ser suficiente para alcance dos objetivos da

pesquisa. Gil (2002, p. 137) estabelece as seguintes

etapas: formulação do problema; definição da

unidade-caso; determinação do número de casos;

elaboração do protocolo; co leta de dados; avaliação

e análise de dados; e preparação do relatório.

Martins (2008a) ressalta a necessidade

de uma abordagem formal junto à unidade-caso

para obtenção da autorização para acesso do

pesquisador e do aporte de teorias explicativas

(lastro teórico):

Um estudo de caso começa com a permissão para

realizá-lo e um plano incipiente – uma carta de intenções

– que vai se delineando mais claramente à medida que

se desenvolve. Inicialmente, são enunciadas algumas

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O discente, na composição do caso sob tu-

toria do professor, ganha nessa iniciativa a possibi-

lidade de identificar e analisar problemas reais, sob

diferentes perspectivas e recortes, ensejando pro-

fundidade à elaboração do conhecimento. Trata-se

de uma oportunidade singular para confrontar a

teoria: os estudos realizados contra os dados reve-

lados por meio da investigação naquela instância

da realidade. A segregação da realidade em instân-

cias estabelece foco e direcionamento, o que viabi-

liza a especialização na abordagem.

André (1984, p. 52) enfatiza que os estudos

de caso “é assim um “sistema delimitado”, algo

como uma instituição, um currículo, um grupo uma

pessoa, cada qual tratado como uma entidade

única, singular”. Uma mesma unidade-caso tem

o potencial de abrigar diferentes linhas de desen-

volvimento, circunscritas em limites bem definidos.

Significa que uma mesma situação-problema pode

ser avaliada sob perspectivas distintas, o que torna

os casos sempre particulares.

Inexiste consenso na literatura do que se-

ja realmente um estudo de caso. O que seria uma

análise profunda? Quais os parâmetros a serem

utilizados nessa análise? Essas são ques tões

metodológicas fundamentais, porque a confia-

bilidade desses estudos depende do modus como

foi desenvolvido (juízo de validade), assim como

sua contribuição, se assenta na análise crítica

empreendida. Os estudos de caso não devem se

restringir a narrativas, posto que é o componente

crítico que enseja um juízo de valor.

Apesar das diferenças identificadas nas defi-

nições, são elementos recorrentes nas seções dos tra-

balhos científicos que utilizam o método: estudo pro-

fundo; análise de um fenômeno (evento) delimitado

no tempo, espaço, área e/ou atividade; descrição de

uma unidade social e investigação empírica. A deter-

minação dos limites periféricos de um estudo de caso

questões orientadoras e colocados pontos críticos que

serão melhor explicitados e reformulados à medida que

o estudo avança. Nesta primeira etapa são iniciadas

as reflexões e ações para a definição do escopo do

objeto do estudo, e enunciadas proposições – teses

– que compõem uma teoria preliminar sobre o caso,

sendo discutidas e defendidas ao longo do trabalho, na

busca da construção de uma teoria que possa explicar

o fenômeno sob investigação (MARTINS, 2008a, p. 10).

Vasconcelos (2012, p. 1) sugere o desenvolvi-

mento dos trabalhos seguindo a trilha descrita:

Planejamento (definição de objetivos, formulação da

questão principal estruturante e aquelas de natureza

secundária, seleção de técnicas de coleta e de análise de

dados, desenho da sistemática de obtenção dos dados,

estabelecimento do perfil dos sujeitos de pesquisa e da

abordagem a ser adotada junto aos mesmos, organização

do processo de mapeamento de dados, dentre outros

elementos metodológicos); escolha e definição da

unidade-caso (recorte); elaboração e formalização do

protocolo de estudo; imersão na realidade investigada

para observação in loco; coleta de dados; organização dos

dados obtidos; análise e discussão dos resultados, à luz

dos objetivos planejados e problematização formulada;

elaboração das conclusões, a partir do referencial teórico

e resultados obtidos.

Independente do roteiro adotado, o plane-

jamento do estudo assume posição de relevo, fa-

tor determinante para sua qualidade.

A prática do estudo de caso demanda o

aporte de pesquisadores docentes especializados

na área, com sensibilidade apurada o suficiente para

perceber as nuances da realidade investigada, ca-

pacitados à transcrição fidedigna dessa percepção,

e com afirmação aparentemente contraditória frente

à proposta deste trabalho. O estudo de caso como

estratégia de ensino deve ser orquestrado pelo do-

cente experiente, todavia com a participação ativa

do aluno (devidamente preparado) no processo de

construção do conhecimento.

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132

justifica-se pela impossibilidade de o pesquisador

analisar o fenômeno explorando sua totalidade.

Os estudos de caso, quando adotados como

estratégia de pesquisa, variam desde estudos

simples até àqueles complexos e abstratos. Nada

impede que tenham entre si pontos de semelhança,

o que importa é a particularidade da análise. É o

olhar do pesquisador e seu prisma que torna o

caso único (não neutralidade) (VENTURA, 2007).

Vasconcelos (2012) define o estudo de caso

como uma análise em perspectiva. Essa multiplici-

dade de focos temáticos confere ao método notável

potencial aplicativo e sinérgico, característica que

permite ao aluno o livre arbítrio para escolhas das

trajetórias de busca pelo conhecimento; a articu-

lação dos conteúdos apresentados em disciplinas

distintas (relação interdisciplinar); a conexão com a

realidade empresarial; a criticidade na avaliação dos

problemas; além da obtenção de lastro para o pro-

cesso decisório, considerando um universo maior

de variáveis. Um único case pode ensejar ‘n’ aborda-

gens inéditas e igualmente relevantes.

A exploração propiciada pelo estudo de caso

culmina em descobertas e ressignificação dos con-

teúdos principais e transversais no desenvolvimen-

to de questões particulares, ao passo que valoriza

a interpretação pessoal (superando estatísticas, em

face da inserção do componente subjetivo).

O estudante, na observação in loco, é instado

a interpretar aquela realidade, além de transcrevê-la,

o que implica ressaltar o potencial do método para

desenvolvimento da habilidade de comunicação.

A generalização não constitui preocupação

dos atores na condução de um estudo de caso.

As conclusões advindas de seu desenvolvimento

decorrem de processos subjetivos e não de infe-

rências estatísticas, como destaca André (1984).

Os estudos de caso entregam interpretações,

explicações, descrições, comparações, evidências

que contribuem para o esclarecimento de questões

pendentes e provocações temáticas. Sua aplicação

representa um exercício preliminar ao processo de

tomada de decisão, aguçando sua perspectiva

crítica, apurando o aporte das técnicas de gestão,

numa abordagem indutiva.

Casos são relatos sobre situações por meio

dos quais indivíduos ou grupos podem tomar

decisões ou solucionar problemas. Os casos

em Administração são, portanto, descrições, de

situações administrativas reais que envolvem al-

gum tipo de problema para o qual se requer uma

solução (ERSKINE; LEENDERS; MAUFFETTE-

LEENDERS, 1998 apud GIL, 2004, p.8).

São elementos de um estudo de caso como

estratégia de ensino: objetivo de aprendizado;

área e especialidade; proposições orientadoras

do estudo; plataforma teórica de sustentação;

unidade-caso e sua caracterização; descrições

(diário); coleta de dados (instrumentos e técnicas);

análise de dados e discussão.

Ventura (2007, p. 384) tipifica os objetivos

dos estudos de caso numa pesquisa: conforme os

objetivos da investigação, o estudo de caso pode ser

classificado como intrínseco ou particular, quando

A exploração propiciada

pelo estudo de caso

culmina em descobertas e

ressignificação dos conteúdos

principais e transversais no

desenvolvimento de questões

particulares, ao passo que

valoriza a interpretação

pessoal.

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procura compreender melhor um caso particular

em si, em seus aspectos intrínsecos; instrumental,

ao contrário, quando se examina um caso para

se compreender melhor outra questão, algo mais

amplo, orientar estudos ou ser instrumento para

pesquisas posteriores; e coletivo, quando estende o

estudo a outros casos instrumentais conexos com o

objetivo de ampliar a compreensão ou a teorização

sobre um conjunto ainda maior de casos.

Entende-se que, quando aplicado como

estratégia de aprendizagem, o caráter particular e

instrumental são marcos distintivos dos objetivos

dos estudos.

O valor pedagógico do estudo de caso

decorre da exploração da realidade, que é inves-

tigado em profundidade, do estímulo ao debate,

da compreensão do status dessa realidade, dos

fatores determinantes e consequentes, bem como

de seu contexto, da identificação das rotinas e das

práticas da unidade-caso (apreensão das técnicas

utilizadas no mercado de trabalho).

Os cases são exploratórios por natureza

porque não resultam em generalizações, mas po-

dem servir de embrião para trabalhos empíricos

de maior alcance.

Pode-se dizer que os estudos de caso têm

algumas características em comum: são descrições

complexas e holísticas de uma realidade, que en-

volvem um grande conjunto de dados; os dados

são obtidos basicamente por observação pessoal; o

estilo de relato é informal, narrativo e traz ilustrações,

alusões e metáforas; as comparações feitas são mais

implícitas do que explicitas; os temas e hipóteses são

importantes, mas são subordinados à compreensão

do caso. Para Stake, citado por Denzin e Lincoln

(2001, p. 135 apud CESAR, 2006, p. 6), um estudo de

caso é mais indicado para aumentar a compreensão

de um fenômeno do que para delimitá-lo, é mais

idiossincrático do que pervasivo; e apesar de ser

usado na construção de teorias, pode não ser o

melhor método para isto.

A literatura aborda e ressalta o método de caso

como estratégia de ensino exclusivamente e o estudo

de caso como método de pesquisa sem qualquer

vislumbre de outra aplicação (GIL, 2009; MARTINS,

2007; RODRIGO, 2008; GIL, 2004; VENTURA, 2007;

FAGUNDES, 2009; IKEDA, VELUDO-DE-OLIVEIRA,

CAMPOMAR, 2005; BOAVENTURA, 2004; CESAR,

2006).

O estudo de caso é uma técnica de pesquisa

qualitativa, que volta às atenções do pesquisador

para o diagnóstico de um “caso”. O método do caso,

por sua vez, apresenta finalidades pedagógicas

e serve, sobretudo, para ilustrar conceitos e

desenvolver habilidades nos estudantes, podendo

inclusive ser elaborado a partir de um estudo

de caso. A grosso modo, enquanto o estudo de

caso refere-se à pesquisa científica, o método do

caso refere-se ao ensino (IKEDA; VELUDO-DE-

OLIVEIRA; CAMPOMAR, 2005, p. 142).

De fato, o estudo de caso, nos moldes de

um método de pesquisa, não se confunde com

estratégia de ensino (na orientação apresentada),

posto que nesta última condição requer envolvi-

mento e imersão integral na realidade investiga-

da ou explorada. Também não corresponde

ao mé todo de caso, em que as situações reais

são apresentadas aos alunos para análise e dis-

cussões, sem flexibilidade de intervenção na

realidade ou mesmo, possibilidade de percepção

in loco. De fato, o método é implementado em

sala de aula.

O método do caso consiste em uma estra-

tégia educacional cujo intuito é levar os estudantes

a refletirem sobre situações apresentadas no

caso, podendo envolver a tomada de decisões

sobre o episódio estudado. O objetivo da técnica

basicamente é apresentar um problema aos

alunos, fazendo com que o analisem e reflitam

sobre o assunto (IKEDA, VELUDO-DE-OLIVEIRA,

CAMPOMAR, 2005, p. 142).

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134

QUADRO 1 – Analogia entre os métodos

Características

Estudo de caso como método de pesquisaEstudo de caso como

estratégia de ensinoMétodo do caso

Visa à descoberta, resposta às questões da

pesquisa.

Investigam objetos bem específicos e delimitados,

contextualizados nas dimensões temporal e espacial.

Objetiva o aprendizado e

amadurecimento profissional, bem

como a compreensão da prática

laboral.

Tem o propósito de preparar para

a avaliação de situações complexas

(perspectiva profissional) e tomada de

decisão a partir do quadro desenhado.

Níveis cognitivos explorados: análise, síntese e avaliação.

Ressaltam a interpretação contextualizada.

Métodos ecléticos quanto ao aporte de técnicas e instrumentos (de coleta e análise): entrevistas, questionários, observação

participante ou não, levantamento documental, análise de conteúdo, análise de discurso, dentre outras.

As evidencias são diversas: de documentos institucionais (relatórios, pareceres, cartas), anotações em diários a gravações e

fotografias.

O aluno pesquisador é copartícipe do processo de

planejamento e concepção do estudo na maioria

das vezes, mas em alguns casos sua autonomia

é relativizada pelas intervenções frequentes do

professor ou imposição de um modelo rígido.

O aluno tem autonomia no

processo de planejamento e

concepção do estudo. O docente

tem o papel de orientar e mediar

o processo de comparação e

contraste de realidades

(delimitação de papéis).

O protocolo advém do processo

de discussão e negociação.

O docente apresenta a descrição da

situação (retrato detalhado da realidade),

geralmente vivenciada por ele. O aluno

restringe-se a avaliação dos elementos

apresentados, orientados por questões

ou pontos estabelecidos pelo professor,

não obstante esse direcionamento seja

uma regra.

Exige conhecimento profundo da unidade-caso, mas

não necessariamente, uma imersão completa.

Pressupõe integração profunda

com a unidade-caso. Imersão

completa naquela realidade

para observação sistemática e

prolongada.

Não requer integração com a unidade-

-caso investigada.

Muitas vezes, aspectos relevantes da

unidade-caso não são contemplados nas

descrições.

Contempla múltiplas dimensões de analise,

delimitadas conforme projeto.

Abriga diferentes perspectivas

de análise, delimitadas conforme

protocolo e orientações

(diretrizes) do plano pedagógico.

Os casos podem ser avaliados por

diferentes pontos de vistas, conforme

plano de ensino.

Elevado rigor metodológico (exigência que confere respaldo ao trabalho).

Exigência de um quadro teórico como referencia para discussão das questões orientadoras do estudo.

Demanda por criatividade.

Plasticidade analítica em níveis distintos.

Uso de vocabulário científico.Uso do vocabulário empresarial (coloquial) no retrato ou caracterização da

unidade-caso.

FONTE: Os autores (2012)

Sobre o método de caso, Gil (2004, p. 8) destaca:

Os professores utilizam-nos para ensinar a complexidade dos mais diversos problemas na gestão das orga-

nizações. O que é plenamente justificado, pois o estudo de casos proporciona ao aluno muito mais do que

a memorização ou a compreensão dos fatos administrativos, mas permite que este se coloque no papel de

administrador numa autêntica situação de gestão. Com efeito, os casos possibilitam uma aproximação da

realidade muito maior do que as tradicionais aulas expositivas e leituras. Sem contar que sua eficácia tem sido

verificada em pesquisas no campo da Psicologia da Aprendizagem.

O QUADRO 1 apresenta uma análise comparativa dos métodos, considerando suas aplicações.

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A revisão de literatura empreendida aponta

para a síntese de que os métodos de estudo de

caso em razão de suas características estruturais,

agregam valor à elaboração de conteúdo por

parte do discente, contribuindo significativamente

para seu desenvolvimento cognitivo.

1.2 Construtivismo como Referencial

Pedagógico dos Estudos de Caso

O construtivismo apresenta uma abordagem

pedagógica que ressalta a importância do apren-

dente e sua relação com o mundo na elaboração do

conhecimento. Em razão de suas características, é

considerada emancipadora e libertadora. Discursos

ideológicos a parte, em Administração e Contabili-

dade, as orientações construtivistas convergem as

demandas da prática do processo decisório no am-

biente acadêmico, visto que desenvolve autonomia.

A autonomia é um pré-requisito fundamental ao

processo de tomada de decisão.

O construtivismo convida o aluno a participar

ativa e criticamente do próprio aprendizado, por

meio de experimentações, imersão profissional,

pesquisas de campo e em grupo. A expectativa

dessas práticas é o desenvolvimento do indivíduo

uno. A inserção planejada no mercado de trabalho

e o estímulo a interações sociais proativas, próprias

do estudo de caso potencializam essa formação.

As práticas didático-pedagógicas cons-

trutivistas (e o estudo de caso pode ser considerada

uma delas) aguçam o discernimento do discente no

exercício das escolhas gerenciais (livre arbítrio). O

construtivismo pressupõe interação com o mundo,

dialogicidade presente na condução dos estudos

de caso. Segundo Sanchis e Mahfoud (2010, p. 20)

“Uma ideia fundamental do construtivismo era não

considerar o conhecimento como a reprodução de

uma realidade independente de quem a conhece”.

A abordagem construtivista se assenta na

orientação de que a aprendizagem significativa é

aquela que decorre da interação social. Nesse senti-

do, o processo ganha contornos de fenômeno social,

amplamente disseminado. A aprendizagem, compo-

nente fundamental da socialização, ressalta o papel

do indivíduo como sujeito do mundo, aprendente na

consecução das trocas sociais.

As práticas construtivistas contextualizam

os objetos de aprendizagem, inserindo o indivíduo

numa situação de instrução, sem apelo a tão dis-

seminada abordagem caricatural. O conhecimento

codificado ou traduzido pelo professor corresponde

a uma janela do processo de elaboração. O contexto

histórico-cultural e o próprio conhecimento tácito

são uma fonte fecunda de dados a serem incorpo-

rados ao processo ensino-aprendizagem. A valo-

rização do repertório de experiências, descrições,

explicações e significados constituem um marco do

referencial pedagógico.

Nesta orientação, os estudos de caso podem

assumir diferentes formatos, sendo categorizados

em exploratórios, descritivos e experimentais (tipo-

As práticas didático-

-pedagógicas construtivistas

aguçam o discernimento do

discente no exercício das

escolhas gerenciais, visto que

o construtivismo pressupõe

interação com o mundo,

dialogicidade.

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136

logia básica). Os estudos de cunho experimental são

desenvolvidos com maior frequência nas ciências

naturais, raros nas ciências humanas. A dificuldade na

definição da tipologia reside na identificação e distin-

ção precisa dos estudos descritivos e exploratórios.

Os estudos de caso descritivos podem

apresentar como propósitos a caracterização da

unidade-caso ou fenômeno a ela atrelado, deter-

minação de sua natureza e condições, identifica-

ção dos pontos de vistas e perfil dos sujeitos de

pesquisa, dentre outros aspectos (ZAINAL, 2007).

Os estudos de caso exploratórios têm

finalidade de reconhecimento, visando alcançar

maior familiaridade com o tema, objeto do

recorte. (ZAINAL, 2007). Esses estudos explicitam

abordagens, oferecem caminhos ou alternativas

para desenvolvimento do conteúdo à luz do

construto. Os estudos de caso experimentais visam,

em geral, testar condições ou variáveis atinentes ao

fenômeno-base do case. Cesar (2006, p. 4) destaca

que os “[...] casos também podem ser definidos

temporariamente (eventos que ocorreram num

dado período), ou espacialmente (o estudo de um

fenômeno que ocorre num dado local)”.

Independente da tipologia do trabalho,

esse confronto com a realidade, próprio de sua

característica artesanal, incita mais que a um olhar

meramente apreciativo.

1.3 Restrições ao Método Aplicado à

Atividade de Pesquisa

A utilização de estudos de caso tem sido

ao longo dos tempos, alvo de relativo preconceito.

São apontadas como restrições do método:

possibilidade de manipulação ou interferência do

pesquisador (RODRIGO, 2008; CESAR, 2006);

dificuldades ou impossibilidade de generalização

(RODRIGO, 2008; CESAR, 2006; VENTURA, 2007;

ANDRÉ, 1984; YIN, 2005; MARTINS, 2008; BUFONI,

2002; ALVES-MAZZOTTI, 2006); morosidade na

realização, processo intenso, requerendo tempo

de campo (RODRIGO, 2008; CESAR, 2006;

ANDRÉ, 1984; MARTINS, 2008b); dedicação parcial

dos estudantes dos cursos de Administração

(e Contabilidade), o que exige adaptações à

realidade, comprometendo o alcance da plenitude

dos benefícios advindos da aplicação do método,

características da realidade brasileira (ANDRÉ, 1984;

CESAR, 2006); pouca objetividade (CESAR, 2006);

pouco controle sobre as observações realizadas;

(BUFONI, 2002); falta de rigor metodológico. Sobre

a questão, Yin (1984, p. 21 apud Zainal 2007, p. 5)

destaca que “muitas vezes, o pesquisador do estudo

de caso tem sido descuidado, permitindo leituras

equívocadas ou tendenciosas para influenciar o

rumo dos resultados e conclusões”.

As restrições identificadas se esbarram na

análise da importância do preparo do pesquisador

para condução do estudo de caso.

Entende-se que das limitações citadas, aquela

que trata da impossibilidade de generalização é a

que a torna mais interessante em face da diversidade

inerente às ciências sociais. A atipicidade de situações

é igualmente rica em significados, posto que viabiliza

a exploração daquilo que é singular no objeto

investigado. Os resultados obtidos nos estudos de

caso não encaminham à teorização, mas podem

atender a finalidades explanatórias ou causais, fazê-

lo é incorrer em um erro, superestimando sua função

como método de pesquisa.

Qualquer generalização, sob esse ângulo

de análise, provém da teoria e não do exame

empreendido (YIN, 1994 apud ZAINAL, 2007).

Sendo assim, os argumentos mais comuns dos

críticos dos estudos de caso estão no risco de o

investigador apresentar uma falsa certeza das suas

conclusões e fiar-se demais em falsas evidências.

Em decorrência disso, deixar de verificar a

fidedignidade dos dados, da categorização e da

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análise realizada. A recomendação para eliminar o

viés de estudo é elaborar um plano de estudo de

caso que previna prováveis equívocos subjetivos

(VENTURA, 2007, p. 386).

O estudo de caso, aplicado em pesquisas,

corresponde a um estudo em profundidade e

perspectiva, subjetivo por natureza, não subor-

dinado a qualquer outro. A demanda temporal é

consequência. Portanto, não implica a simplificação

de realidade complexas ou desconsideração de

sua subjetivação inerente. O que se discute como

restrição, no entendimento dos autores, deve ser

considerado como traço inerente ao método.

Cesar (2006) ressalta a necessidade de se dis-

cutir o estudo de caso em três dimensões de análise:

natureza da experiência (como fenômeno investiga-

do), natureza do conhecimento a ser elaborado e a

possibilidade de generalização do estudo.

Nesse trabalho, que considera a utilização do

método como estratégia de ensino, estabeleceram-

-se as seguintes perspectivas: aprendizado – quali-

dade da experiência – produtos e contribuições

– desdobramentos do estudo. Almeja-se que o dis-

cente, sob tutoria/orientação especializada do do-

cente, promova ou facilite a aprendizagem por meio

da imersão e entrega à experiência vivenciada.

É forçoso identificar previamente as neces-

sidades de ensino-aprendizagem e a duração da

imersão. Entende-se que os estudos de caso são

longitudinais por natureza, característica que tem-

poriza a validade de suas conclusões. A experiência

de composição do case converte o conhecimento

tácito (carga de experiência dos atores) em explí-

cito. A ênfase da estratégia está na elaboração do

estudo, nas intenções implícitas e explícitas subja-

centes, aquisição e consolidação da experiência.

Entende-se que as restrições atribuídas ao

estudo de caso apresentadas se agigantam em

decorrência do desalinhamento entre procedi-

mentos e objetivos propostos. Os estudos popu-

lacionais, realizados junto a amostras assintóticas,

paradoxalmente também perdem significado por

conta dos padrões de representatividade.

2 Proposta de Aplicação

A prática do estudo de caso demanda pro-

tocolo e sistematização, bem como parâmetros de

validade, confiabilidade e desempenho. “[...] isto é,

indicadores de que os resultados, as afirmações das

proposições – teses – e outras evidências, de fato,

revelaram o que se pretendia do estudo dentro do

domínio teórico e prático que circunscreveram o

Estudo de Caso” (MARTINS, 2008, p. 3).

São etapas do método, empregado como

estratégia de ensino:

DOCENTE

a) Integração entre os conteúdos curricu-

lares e experiências de mercado por

meio de pesquisa de campo, fase que

com preende desde a identificação das

possibilidades de atuação e expertise

necessária para atuação ao reco nhe-

cimento das expectativas do público-

-alvo (conteúdos de base e transversais).

b) Seleção dos conteúdos pré-requisita-

dos para a experiência.

c) Planejamento relativo à aplicação da

estratégia.

d) Orientação quanto à composição do

protocolo de estudo de caso.

DISCENTE

a) Estudo sistematizado dos conteúdos

de base e aqueles transversais.

b) Composição do referencial teórico de su-

porte aos trabalhos (repertório técnico).

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138

c) Planejamento do estudo à luz da

revisão realizada e orientação do

docente (definição dos procedimentos

e escolha dos instrumentos de coleta).

d) Imersão profissional. Observação e

coleta de dados.

e) Tratamento dos dados obtidos, trian-

gulação e sistematização.

f) Análise e conclusões, por meio da

articulação entre conteúdo e prática

(confronto dirigido).

g) Apresentação dos resultados e obten-

ção de feedback.

h) Composição do caso, que poderá ser

usado como fonte para aplicações do

método do caso, estratégia distinta

desta descrita.

Essas etapas integram o protocolo de estudo

de caso, definido como “[...] conjunto de códigos,

menções e procedimentos suficientes para replicar

o estudo ou aplicá-lo em outro caso que mantém

características semelhantes ao Estudo de Caso

original” (MARTINS, 2008, p. 9).

O uso do método como estratégia de en-

sino independe do tipo de ensino, se presencial ou

a distância.

QUADRO 2 – Protocolo do estudo de caso

Protocolo de Estudo de Caso (Imersão Profissional)

Unidade-caso

Temática de exploração

Tipologia do estudo (exploratória, descritiva ou experimental)

Objetivos de aprendizado

Objetivo geral

Objetivos específicos

Referencial teórico de suporte

Questão estruturante (norteadora) - Principal e complementares

Técnicas de coleta

Procedimentos

Duração prevista

Duração real (tempo efetivo no campo)

Observações

Restrições da análise empreendida

Prognósticos

Resultados

Parâmetros de indexação

Análise de resultados

Conclusões

Avaliação da experiência

Recortes emergentes

Produtos do estudo de caso

FONTE: Os autores (2012)

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O protocolo, tal como estruturado no

QUADRO 2, define o design do estudo e direciona

o trabalho do discente, ensejando direcionamento

às questões norteadoras do estudo, além de

corresponder a um exercício de planejamento e

observação sistemática. Sua utilização orienta a

imersão profissional, parametrizando a abordagem,

evitando que o produto do estudo de caso se limite a

um relato de fatos, desprovido de uma análise crítica,

voltada para a descoberta ou inovação, movida pela

necessidade de compreender a realidade.

A sistematização de dados impõe critério

e organização, compreendendo todo o processo

de transcrição de relatos, observações e opiniões,

estruturados a partir de parâmetros predefinidos de

indexação, previsto no protocolo (MARTINS, 2008).

Essas características credenciam o método

à condição de estratégia de ensino na área de Ad-

ministração sem desprestigiar o reconhecido mé-

todo do caso (ferramenta de aprendizagem am-

plamente empregada na capacitação de gestores),

entendimento compartilhado nesse trabalho.

Ressalte-se que a estratégia de estudo

de casos, tal como apresentada, não comporta

protocolos rígidos, inflexíveis.

O documento em questão é igualmente útil

à elaboração da carta de intenções, que dá start ao

diálogo com o mercado.

Destaque-se que o estudo de caso não cor-

responde a uma atividade de supervisão ou ins-

peção, em razão do seu forte componente crítico

e construtivista, posto que assume função didáti-

ca na condição de instrumento de aprendizagem,

complementando a experiência em sala de aula.

Trata-se de uma oportunidade à elaboração de as-

sociações e dissociações intelectualmente embasa-

das, edificando sentidos e significados.

Esse contato mediado com a realidade pro-

fissional tem o potencial de preparar o discente

para a experiência do estágio, facultando amadu-

recimento. O olhar descomprometido com vínculos

institucionais evita contaminações e influências na

composição de interpretações, em geral decor-

rentes de vínculos laborais, crenças, valores cris-

talizados, impressões e juízos circunstanciais. Na

verdade, produz efeito contrário, amplia a lente de

análise, incitando a reflexões variadas e não predi-

tas sobre o objeto de estudo; especialmente sobre

aspectos de sua composição.

O discente parte de um repertório técnico

de base (adquirido em sala de aula), conhecimento

tácito, em direção à aquisição de novos elementos,

suscitados pela vivência (conhecimento explícito).

A aplicação do método tem o potencial de

ensejar ao aluno o desenvolvimento de capacidade

de resposta em diferentes situações de mercado,

contribuindo efetivamente para o aprimoramento

do repertório profissional por meio de comparações

e contraste.

O uso do método como estratégia de ensino

desloca o controle do processo ensino-aprendizagem

para o discente, forçando-o a planejar e elaborar sua

trilha de aprendizagem, conduzindo o docente à

atuação como orientador e mediador de realidades.

É nesse ponto que os reflexos da experiência diferem

daqueles produzidos pelo método do caso. Almeja-

-se que o caso seja um catalisador da construção e

não exclusivamente de discussão.

Na atividade ou elaboração de casos em-

presariais o êxito da abordagem do estudo

[...] depende da perseverança, criatividade e raciocínio

crítico do investigador para construir descrições, inter-

pretações, enfim, explicações originais que possibilitem

a extração cuidadosa de conclusões e recomendações.

Nesse sentido, o pesquisador deve apresentar encadea-

mentos de evidências e testes de triangulações de

dados que orientaram a busca de resultados alcançados

(MARTINS, 2008, p. 3).

São duas as categorias de informações em

um estudo de caso: aquelas de apoio argumentativo

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140

e as de apoio secundário. As infor mações de apoio

argumentativo compõem o eixo que estrutura o tra-

balho de campo (construto), con ferindo identidade

ao estudo.

Um dos atributos fundamentais a um estudo

de caso é a existência de limites bem definidos,

à luz de um eixo de desenvolvimento teórico e

planejamento elaborado. A robustez analítica, lógi-

ca das conclusões e defesa das proposições sob o

caso, com certeza, não lhe garante suficiência pela

construção de uma teoria que consiga explicar o

recorte da realidade explorado no estudo de caso

(MARTINS, 2008, p. 4).

As informações de apoio secundário são

aquelas relevantes à contextualização ou mesmo à

caracterização da unidade-caso. Seu aporte deve

ser dosado para não ensejar a perda de foco.

São parâmetros de avaliação do estudo de

caso, aplicado como estratégia de ensino: qualidade

das informações de apoio argumentativo; harmonia

(equilíbrio) entre informações de apoio secundário

e argumentativo; lógica na concatenação dos ar-

gumentos, conclusões e recomendações (encadea-

mento de ideias e proposições); fundamento analíti-

co; rigor metodológico; completude; limites bem

definidos; estrutura do arranjo e experiência imersiva.

O desenvolvimento de um estudo de caso

empresarial demanda imersão profissional, não se

confundindo com a realização de poucas visitas,

relato de longas histórias, entrevistas e obtenção

de volumosos dados secundários.

São benefícios potenciais da aplicação do

método de estudo de caso como estratégia de

ensino: estabelecimento de vínculo entre a aca-

demia e as organizações; promoção de inserção

no mercado de trabalho, ensejando o mapeamen-

to de perfis e adequação dos conteúdos disci-

plinares; desenvolvimento de funções cognitivas;

estímulo à aquisição de relacionamentos interpes-

soais fora do âmbito institucional (composição de

network) e negociação de ideias, bem como à tri-

agem eficaz de conteúdo (prática seletiva) e co-

laboração intelectual entre os pares; acomodação

de diferentes conteúdos curriculares simultanea-

mente na prática profissional, característica que o

credencia a condição de atividade interdisciplinar

(adaptabilidade) encurtamento do ciclo de vali-

dade dos estudos, o que força sua recontextua-

lização, renovação e releitura (existência de um

prazo de validade, cuja identificação demanda

uma avaliação subjetiva). Gil (2004) destaca esse

último item como restrição, todavia, entende-se

que a revisão continuada dos estudos decorre

da necessidade de acompanhar as tendências, a

evolução do próprio conhecimento.

A convergência dos benefícios depende da

preparação, disciplina de preparação, transparência

na comunicação e feedback (FIG. 1), componentes

presentes no processo de planejamento.

FIGURA 1 – Requisitos de sucesso da estratégia

FONTE: Os autores (2012)

— Sensibilização sobre a importância do estudo e do rigor metodológico.

— Planejamento.

— Composição do lastro teórico.

— Orientação sistemática.

— Observação.

— Assistência do docente.

— Acompanhamento.

— Transparência.

— Avaliação e comunicação do desempenho, numa perspectiva proativa.

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A eficácia da estratégia é função direta da

qualidade do planejamento e protocolo do estu-

do, do comprometimento, motivação, autonomia

e predisposição do discente a aprendizagem, re-

querendo disciplina, iniciativa e dedicação. A re-

configuração do papel do professor nessa aborda-

gem constitui fator crítico.

O desenvolvimento de estudos de caso se es-

barra em dificuldades ou restrições, especialmente o

tempo demandado para sua elaboração e imersão

propriamente dita, o que afronta a realidade brasilei-

ra, especialmente dos cursos noturnos. Essa carac-

terística não exime a academia do debate sobre as

condições adequadas à aplicação do método no

contexto local, contemplando em análise as limita-

ções aplicativas. A contextualização metodológica é

importante, mas sem perder de vista os parâmetros

de qualidade e demandas estruturais necessárias a

sua consecução, suscitando uma reflexão sobre o es-

tudo de caso nos moldes brasileiros.

Considerações Finais

Neste artigo foi apresentado o estudo

de caso como estratégia didático-pedagógica

com abordagem construtivista, na condição de

experiência de imersão. A complementaridade

das características do método e as demandas da

área de Administração o qualificam.

Advogou-se que o método de estudo de

caso pode ser utilizado como estratégia de ensino,

se conduzido como atividade de imersão orientada

por um docente, tende a ser eficaz aos propósitos

de aprendizagem. Acredita-se que o método de

estudo é mais efetivo do que aquele em que o

caso é apresentado ao aluno como produto.

O estudo de caso como estratégia de

ensino viabiliza a vivência da coleta de dados, sua

• Recebido em: 22/10/2012

• Aprovado em: 01/07/2013

sistematização e dificuldades, colocando o aluno

dentro do contexto onde o fenômeno analisado

acontece ou se expressa.

O arranjo metodológico de um estudo de

caso é complexo e encadeado, conduzido geral-

mente por questões do tipo “como” e “por que”

(este último, componente analítico). No intuito

de responder a essas questões, a realidade é

preservada durante a análise, sem prescindir o

potencial de intervenção do discente.

A proposta resgata o potencial contributivo

do discente na construção de significados a

partir da conexão com a realidade de mercado. O

aluno não é um elemento passivo no processo de

aprendizagem.

Os argumentos concatenados convergiram

para a viabilidade de aplicação do método como

estratégia de ensino, mas aponta para a neces-

sidade de se repensar aspectos relacionados às

condições de aplicação em razão das limitações

mapeadas nesse estudo.

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Atratividade do comércio popular: fatores que motivam os clientes a comprar no comércio popularAttractiveness of popular trade: factors that motivate customers to buy

in popular trade

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Resumo

O comércio popular tem atraído cada vez mais multidões aos seus pontos de vendas. Mercadorias diferenciadas,

estoque cheio e preços baixos são alguns dos atrativos desse segmento de mercado. No entanto, a concorrência

entre as organizações do setor tem aumentado, assim como a concorrência do comércio popular com outros

canais de venda. Diante disso, é relevante descobrir o que leva o consumidor a tais práticas de compras.

O presente artigo tem como objetivo principal identificar quais são os fatores motivadores que levam

os consumidores a frequentar e comprar no comércio popular. Para a realização da pesquisa, utilizou-se o

método descritivo, realizando um questionário estruturado. A amostra foi de 352 pessoas que frequentam

comércio popular. Primeiramente, foi identificado o perfil dos respondentes. Em seguida, foram levantados os

hábitos de consumo com relação às compras em comércio popular e, na sequência, com relação aos canais

de venda alternativos. Foram verificados a frequência de visitas, o valor gasto em cada compra, os produtos

mais procurados e os fatores que influenciam na decisão de compra, sendo estes últimos identificados como

preço e variedade de produtos para o comércio popular, assim como a facilidade de pagamento e descontos

e promoções para os canais de venda alternativos. Entre os quatro produtos mais procurados, observou-se

que três deles são concomitantes aos dois locais mencionados. Enquanto o consumidor de comércio popular

busca preços mais vantajosos e variedade de produtos, o consumidor de locais alternativos procura formas de

pagamento facilitadas, descontos e promoções. A renda familiar mensal do consumidor influencia pouco, pois

se notou que quem possui renda maior prefere efetuar compras de menor valor.

Palavras-chave: Marketing. Comércio Popular. Comportamento do Consumidor.

Abstract

The popular trade has increasingly attracted crowds to their outlets. Differentiated goods, full stock and low

prices are some of the attractions of this market segment. However, competition between organizations in the

sector is increasing, as well as the popular trade competition with other sales channels. In this sense, it is important

to discover what leads consumers to these places. This study aimed to identify the main motivating factors that

lead consumers to attend and buy at popular trade. In order to carry out the research was used the descriptive

method, using a structured questionnaire. The sample comprised 352 people who attend popular trade. First, it

was identified the profile of the respondents. Then, consumer habits related to purchases in popular trade were

collected, following with regards to alternative sales channels. It was checked the frequency of visits, amount

spent on each purchase, the most sought after products and the factors that influence the buying decision, the

latter being identified as price and range of popular products for trade, and ease of payment and discounts and

promotions for alternative sales channels. It was observed that that among the four most popular products, three

are concomitants to the two places mentioned. While consumers trade popular search better prices and variety

of products, the consumer of alternative places search payment methods facilitated, discounts and promotions.

The monthly income of the consumer little influence because it was noticed that those who have higher incomes

prefer to make purchases of less value.

Keywords: Marketing. Popular Trade. Consumer Behavior.

Fernando César Lenzi1

Atratividade do comércio popular: fatores que motivam os clientes a comprar no comércio popularAttractiveness of popular trade: factors that motivate customers to buy in popular trade

1 Doutor em Administração pela FEA/USP. Professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Administração da Univali. Professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Políticas Públicas da Univali. E-mail: [email protected].

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146

Introdução

O consumo, em geral, configura o perfil

de milhões de pessoas espalhadas pelo mundo

afora. Mercadorias de todas as espécies e a

iniciativa de consumir são características do

mercado moderno e não faltam meios de compra.

Em várias ocasiões, depara-se com anúncios e

comerciais incentivando essa tendência, e, cada

vez mais cedo e com mais frequência, as pessoas

estão aderindo à compra. Com a facilidade de

adquirir o produto e parcelar sem sair de casa,

a internet também se tornou uma concorrente e,

ao mesmo tempo, uma forte aliada das empresas.

A concorrência acirrada e a disputa para

conquistar, manter e vender o maior número

de itens possíveis ao consumidor tem deixado

o mercado cada vez mais saturado, devido ao

acesso de novas empresas que surgem já visando

ao resultado desejado. A empresa que consegue

acompanhar o mercado, conhecer tendências

e adaptar-se às inúmeras situações adversas

poderá considerar-se uma empresa vitoriosa.

“Quem souber enxergar oportunidades em meio

às dificuldades e conseguir tirar proveito delas,

estará pelo menos um passo a frente” (BRUNETTI;

BRANDALIZE, 2005, p. 96).

Oferecer produtos mais baratos não gera

uma vantagem competitiva para as empresas, é

preciso que haja uma estratégia consistente, com

uma combinação adequada entre o posicionamento

da empresa e seu mix de marketing para atender

ao público de baixa renda. Ou seja, ao priorizarem

este segmento de mercado, as empresas adotam

um posicionamento que reflete nos preços, nos

produtos, na promoção e no ponto de venda

(SPERS; WRIGHT, 2006).

No âmbito empresarial, identifica-se a

pre o cupação com o desenvolvimento de pro-

dutos, pesquisas e hábitos de preferências e

comportamentos regionais. Assim, analisando

isoladamente o setor do comércio do estado de

Santa Catarina em quantidade de empresas e

vínculos empregatícios, segundo dados do Sebrae/

SC (2008), Santa Catarina possuía um total de

374.629 empresas formalmente estabelecida. As

microempresas representam 94% e as pequenas

empresas representam 5,1% dos estabelecimentos

do Estado. Juntas, geram 892.208 empregos, o

equivalente a 50,2% dos postos de trabalho. A

renda média de salários, em 2008, no estado de

Santa Catarina era de R$ 765,78.

A importância das micro e pequenas empresas

brasileiras (MPEs) para o desenvolvimento econômico

e geração de empregos não tem encontrado paralelo,

no que tange à produção de teorias no campo da

estratégia, consideradas as limitações da capacidade

de ação das MPME e das idiossincrasias de seus

líderes (FONTES; NUNES, 2010).

No segmento de comércio popular, que

naturalmente são pequenas empresas, é desafiante

se manter ativo e em contínuo crescimento diante da

evolução de opções de compras para o consumidor.

Oferecer produtos mais baratos não gera uma

vantagem competitiva para as empresas, é preciso

que haja uma estratégia consistente, com uma

combinação adequada entre o posicionamento da empresa

e seu mix de marketing para atender ao público de baixa

renda.

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Por isso, questionar como esse segmento de

comércio consegue competir com organizações

que realizam investimentos tanto no campo de

pesquisa, treinamento de pessoal, atendimento ao

cliente quanto no espaço físico da empresa, o que

parece relevante, pois empresas de médio e grande

porte também exploram este mercado.

Tendo em vista o contexto do comércio

popular e da ampliação do consumo de produtos

dessa natureza, o objetivo deste artigo é deter-

minar quais os fatores motivadores que levam os

consumidores a frequentar e comprar no comércio

popular de pequeno porte.

Este estudo contribui no sentido de trazer

à tona os motivos que estão relacionados à

motivação de compra por parte dos consumidores

do comércio popular, preenchendo uma lacuna de

investigação que leve a novas formas de gestão de

pequenas empresas.

1 Fundamentação Teórica

1.1 Varejo

A loja de varejo como se conhece até

hoje, conforme explica Gonçalves (2005), foi

inventada no Japão ao final do século XVII. Pouco

depois, surgiu na Europa Ocidental baseada em

três hipóteses: a compra oferecida ao cliente,

especialmente à dona de casa, oferecendo a única

saída da rotina de cuidar das crianças, ir à igreja,

cozinhar etc.; a tomada de decisão, uma forma

de conquistar o poder da escolha, algum tipo de

poder; e oportunizar o acesso a outras pessoas e

outras fontes de informação.

Apesar de existirem dois tipos de varejo

(loja física e virtual), a loja física consegue chamar

a atenção dos clientes e despertar maior desejo

para efetuar a compra. A concorrência é uma

realidade que deve ser administrada para que dela

se tirem os maiores e melhores proveitos possíveis

(STADLER, 2000).

O varejo, conforme conceituam Levy e Weitz

(2000, p. 27), “é um conjunto de atividades de

negócios que adiciona valor a produtos e serviços

vendidos a consumidores para seu uso pessoal ou

familiar [...]”. Enquanto os atacadistas satisfazem

as necessidades dos varejistas, estes direcionam

seus esforços para satisfazer as necessidades dos

consumidores finais.

No varejo, ao avaliar os benefícios, Parente

(2000) salienta que o consumidor considera

aspectos como variedade, qualidade, apresentação

e ambientação, na avaliação dos custos, ele leva

em conta os preços e as ofertas apresentadas pela

loja. O varejo deve ser sempre o mais acessível

possível ao seu público, buscando atrair o maior

número de clientes.

No varejo, o consumidor

considera aspectos

como variedade,

qualidade, apresentação

e ambientação, na

avaliação dos custos, ele

leva em conta os preços

e as ofertas apresentadas

pela loja.

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148

No entendimento de Engel, Blackwell e

Miniard (1995), o ambiente de varejo também

influencia a busca do consumidor, uma vez que a

distância entre os varejistas concorrentes pode

determinar o número de lojas que os consumidores

visitam durante a tomada de decisão. Nesse sentido,

quanto maior a distância menos lojas são visitadas.

1.2 Comércio Popular

Dentro do comércio varejista destaca-

se o comércio popular, personalizado pelos

camelódromos. Conforme explica Pagnussat

(2003, p. 93), o “camelódromo faz parte do

comércio varejista”. O autor argumenta ainda que

há camelódromos que modificaram o comércio

varejista, pela mudança do perfil de consumidor e

do público-alvo das lojas, as quais já não vendem

como antigamente. Muitos itens que os camelôs

vendem são iguais aos das lojas nas proximidades.

O camelódromo de Balneário Camboriú

(SC) é o mais organizado que existe no Sul do

País. As tendas (ou lojas) do camelódromo têm

qualidade e variedade de produtos maiores que

algumas lojas da cidade (PAGNUSSAT, 2003).

A ideia do comércio popular é exatamente

incentivar o cliente a comprar, impressionar e

preencher a visão dos clientes com quantidade,

oferecendo variedade de marcas, tipos e tamanhos,

criando um conceito de potência. O segredo é

“encher” os olhos dos clientes.

Para os autores Spers e Wright (2006), a

ideia de que as empresas atuantes no mercado de

bens populares possuem um posicionamento de

preços baixos para a maioria de seus produtos em

relação aos concorrentes, considerada como um

importante fator de competitividade. O ambiente

de compra, ou seja, a atmosfera do ponto de venda

é uma variável a ser gerenciada e um instrumento

muito importante de diferenciação do varejo.

A venda no varejo proporciona um aspecto de

reforço dos vínculos com o cliente.

Há uma infinidade de lojas de pequeno

porte nas ruas centrais, nas galerias e nos shopping

centers, as quais possuem clientes exclusivos pela

utilização do produto. São lojas que não necessitam

de ponto comercial em zona específica, pois se

instalam em calçadas das ruas centrais, como

também em galerias ou shopping center. Possuem

público especial: aquele que compra o produto

para uso próprio ou para presentear alguém

(PAGNUSSAT, 2003).

Spers e Wright (2006) sustentam que,

quanto às características do produto, os bens e

serviços são padronizados e simples, sendo que

a empresa não precisa de tantos esforços em

termos de amplitude da linha de produtos como

no caso de empresas que atuam junto às classes

A e B, que apresentam uma maior variedade de

produtos, com uma maior amplitude de suas

linhas. Além de mais padronizados, as mercadorias

populares são mais simples, tendo pouco custo

em produto e processos.

1.3 O Comportamento do Consumidor

O campo do comportamento do consu-

midor estuda como as pessoas, os grupos e as

organizações selecionam, compram, usam e

descartam artigos, serviços, ideias ou experiências

para satisfazer suas necessidades e desejos.

Estudar o cliente ajuda a melhorar ou lançar

produtos e serviços, determinar preços, projetar

canais, elaborar mensagens e desenvolver outras

atividades de marketing.

Assim, analisar o comportamento do

consumidor tem por objetivo descobrir o que

cada um busca no mercado para satisfazer suas

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necessidades. “Ser consumidor é ser humano. Ser

consumidor é alimentar-se, vestir-se, divertir-se... é

viver” (KARSAKLIAN, 2000, p. 11).

Como todo cidadão tem comportamentos

distintos diante de cada situação, também apre-

senta atitudes distintas diante de ofertas que estão

a sua volta. No ato da compra de um produto

ou serviço existem influências que interferem

na decisão no momento de sua aquisição. Se os

consumidores são diferentes uns dos outros, são

as suas diferenças que vão determinar seus atos

de compra e seus comportamentos em relação as

outras pessoas no mercado de consumo.

Complementa Cobra (1997, p. 59) ao des-

tacar que “cada consumidor reage de forma dife-

rente sob estímulos iguais, e isso ocorre porque

cada um possui uma ‘caixa preta’ diferente”. Cor-

roborando com o autor, Engel; Blackwell e Miniard

(1995) descrevem que se todos os seres humanos

fossem idênticos em suas preferências e compor-

tamentos, não haveria necessidade de segmenta-

ção de mercado e todos os produtos seriam iguais.

Como as pessoas diferem em suas motivações,

necessidades e processos decisórios, o comporta-

mento de compra também é distinto.

1.4 Fatores que Influenciam o

Comportamento do Consumidor

O consumidor é influenciado por vários

fatores que podem determinar o seu poder de

compra, como as classes sociais a que pertence, as

variáveis sociais, variáveis econômicas e culturais.

Para Karsaklian (2004, p. 321), “comprar já

traz satisfação, sentimento que é prolongado pelo

consumo do produto em si. Assim, a compra e o

consumo servirão de atividades que possibilitarão

a experimentação de novas sensações”.

Os fatores sociais influenciam no compor-

tamento do consumidor, uma vez que os grupos de

referência, a família, os amigos etc. têm forte poder

de apelo no momento de decisão da compra. Na

concepção trazida por Kotler e Armstrong (1993,

p. 83) afirma-se que “cada classe social apresenta

preferências distintas por produtos e marcas

levando em consideração o valor dos produtos”.

No tocante aos fatores econômicos, Kotler

(1999) salienta que uma população não constitui,

por si só, um mercado. É preciso haver pessoas

dispostas e capazes de comprar, sendo o poder

aquisitivo quase sempre distribuído desigualmente,

seja entre consumidores ou entre empresas

compradoras.

Segundo Cobra (1997, p. 62), “a noção essen-

cial do comportamento do consumidor diz que ele

é influenciado pelas perspectivas econômicas”,

ou seja, as mudanças no valor líquido (o que

entra menos o que sai) é que influenciarão na

predisposição de consumir, porque tais mudanças

modificam o estado de espírito das pessoas. “De

todas as variáveis do marketing mix, a decisão

Se os consumidores são

diferentes uns dos outros,

são as suas diferenças

que vão determinar seus

atos de compra e seus

comportamentos em

relação às outras pessoas no

mercado de consumo.

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150

de preço é aquela que mais rapidamente afeta a

competitividade, o volume de vendas, as margens

e a lucratividade das empresas varejistas.”

(PARENTE, 2000, p. 160).

De forma sucinta, Schiffman e Kanuk (1997)

salientam que apesar da renda ser a muito tempo

uma variável importante para diferenciar segmentos

de mercado, essa indica apenas a capacidade ou

incapacidade de se pagar por um produto.

Tendo como base de estudo e pesquisa a

cidade de Itapema/SC, a caracterização de renda

da população foi avaliada segundo informações

do Sebrae/SC (2008), em R$ 907,15 (novecentos

e sete reais e quinze centavos) segundo os valores

médios dos salários pagos em 2008 no município.

A caracterização do porte empresarial de Itapema

é de 3.763 empresas formais que geram 8.681

empregos. Os fatores culturais envolvem um

complexo de valores, ideias e atitudes que permitem

as pessoas comunicarem-se e avaliarem-se como

membros da sociedade por meio dos fatores

culturais, na forma de agir no mercado e na sua

interação com o ambiente (ENGEL; BLACKWEEL;

MINIARD, 2005).

1.5 Fatores que Motivam os Clientes

Com relação aos fatores motivadores

dos clientes, Stadler (2000, p. 119) salienta que

“as pessoas, em geral, refletem uma motivação

equilibrada. Elas analisam uma oferta, a fim de se

satisfazerem com ela. Porém, também a examinam

de uma forma a evitar situações desagradáveis

que possam prejudicar sua situação [...]”.

Discordando com o autor acima, Costa

e Láran (2006) ressaltam a questão da compra

por impulso, argumentando que os esforços em

busca de modelos explicativos do comportamento

de compra por impulso são recentes e requerem

questionamentos, aperfeiçoamentos e validações

empíricas.

Impulso é considerável uma necessidade

forte, às vezes, irresistível, com a inclinação de

agir sem deliberação ou planejamento. Hoch e

Loewenstein (1991 apud COSTA; LÁRAN, 2003)

explicam que a compra impulsiva trata do resultado

da luta entre forças psicológicas dos desejos e

da força de vontade, ou seja, entre a vontade de

comprar e o autocontrole, prevalecendo o desejo.

Para Dias (2004), as compras planejadas

são realizadas por consumidores que saem de

suas casas tendo em mente o que vão adquirir.

No entanto, muitas mercadorias são compradas

impulsivamente e isso ocorre quando o indivíduo

é atingido por algum estímulo forte que o leva

a comprar no momento em que não resiste à

exposição do produto. “Uma pessoa motivada

está pronta para agir. Como ela realmente age

é influenciado por sua percepção da situação”

(KOTLER, 1998, p.173).

Consumidores passeiam pela loja como uma

forma de entretenimento e prazer, vivenciando

sentimentos positivos como contentamento

(BABIN; DARDEN; GRIFFIN, 1994 apud COSTA;

LÁRAN, 2006). Estudos anteriores apontam que

os indivíduos que “circulam” mais tendem a realizar

mais compras não planejadas do que aqueles que

passeiam menos (JARBOE; MCDANIEL, 1987 apud

COSTA; LÁRAN, 2006).

Para Las Casas (1997), a força interna que

dirige o comportamento dos consumidores é a

motivação. Os indivíduos sentem-se motivados

à compra, em grande parte impulsionada pela

proteção de si própria. Essa força interna que

leva as pessoas a comprarem produtos e serviços

poderá ser de ordem psicológica ou fisiológica.

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1.6 Mix de Marketing

A teoria dos quatro Ps – produto, preço,

praça e promoção –, de Jerome McCarthy, precede

significativa relevância nas ações do varejo popu-

lar. Esses quatro elementos interagem constante-

mente na busca de resultados efetivos em cada

empresa (GONÇALVES, 2005).

Para Kotler (1999), da mesma forma que

os economistas usam os conceitos demanda e

oferta para estrutura de análise, o profissional

de marketing sustenta o conceito dos quatro Ps

como uma “caixa de ferramentas” para orientá-lo

no planejamento de marketing.

O primeiro “P” vem de produto. Nesse

sentido, ressalta Kotler (1999, p. 126), que “a base

de qualquer negócio é um produto ou serviço”. O

objetivo, nesse sentido, é oferecer algo de maneira

diferente e melhor aos clientes.

A praça, segundo Gonçalves (2005), é a

alma do varejo tradicional. Consumidores sempre

se agrupam onde há maior variedade de lojistas

ofertando produtos. No mercado consumidor

há uma intensa batalha entre pequenos, médios

e grandes varejistas. Para Kotler (1999), os

consumidores, hoje, conseguem comprar produtos

a partir de sua própria casa, evitando transtornos,

como tirar o carro da garagem, enfrentar trânsito,

calor, chuva e filas em lojas. Em tais pontos de

venda, não há grandes investimentos em serviços

diferenciados como no mercado de luxo e de alta

renda, nos quais a diferenciação é um importante

fator de competitividade. No varejo, as empresas

oferecem a seus clientes um atendimento básico

(SPERS, WRIGHT, 2006).

O terceiro “P” é o preço, que, para Gonçalves

(2005), geralmente é constituído baseando-se nos

custos. No entanto, essa prática tem-se revelado

ineficiente quando se deseja competir, pois a

concorrência está atenta e disposta a cortar seus

preços. O preço, diferentemente dos outros três

mix de marketing, tem o poder de gerar a receita.

As empresas tentam elevar seus preços até onde

o nível de diferenciação permite (KOTLER, 1999).

No entendimento de Pancrazio (2000), o preço

básico é definido pela equação: preço = custo + lucro,

mas também pode ser definido pela concorrência

que varia em função da marca e no critério de quanto

o consumidor está disposto a pagar.

Promoção de vendas é o conjunto de mé-

todos e formas utilizadas para aumentar a venda

de um produto ou serviço durante um período

determinado (LEGRAIN; MAGAIN, 1992).

2 Metodologia

Para o desenvolvimento deste artigo, optou-

-se por uma pesquisa descritiva, que, como salientam

Collis e Hussey (2005), é usada para identificar e

obter informações sobre as características de um

determinado problema ou questão.

O preço básico é definido

pela equação: preço =

custo + lucro, mas também

pode ser definido pela

concorrência que varia em

função da marca e no critério

de quanto o consumidor está

disposto a pagar.

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152

Os procedimentos metodológicos para

sustentar este estudo foram de abordagem

quantitativa que, segundo Collis e Hussey (2005),

tendem a produzir dados específicos e precisos,

de confiabilidade considerada alta.

Na abordagem da pesquisa utilizou-se o

ques tionário autopreenchível, buscando a opinião

do entrevistado em relação aos fatores expostos,

demonstrando a sua interação com a decisão de

compra.

O sujeito deste estudo abrange o público

frequentador do comércio popular de Itapema/

SC, constituindo uma amostra não probabilística e

aleatória simples, pois pretende atingir da mesma

forma toda a população pesquisada, escolhendo

aleatoriamente os respondentes (LAKATOS;

MARKONI, 1992).

“A amostragem aleatória simples carac-

teriza-se pelo fato de cada elemento da população

ter probabilidade conhecida, diferente de zero,

idêntica a dos outros elementos, de ser selecionado

para fazer parte da amostra” (MATTAR, 1996, p. 275).

Com base no erro amostral tolerável es ta-

belecido (5%), uma primeira aproximação para

o tamanho da amostra aleatória (n0) a ser re ti-

ra da pela equação N0= 1/ (E

0)2 é de 352 pessoas,

representando 11,73% da população que frequentam

mensalmente o camelódromo da Meia Praia nesta

época do ano (setembro).

O instrumento de coleta de dados utilizado

no estudo foi um questionário estruturado com

uma sequência de perguntas fechadas orga-

nizadas após a realização de pré-teste, tendo em

vista que o objetivo é extrair respostas confiáveis

da amostra escolhida e descobrir o que um grupo

selecionado de participante pensa ou sente

(COLLIS; HUSSEY, 2005).

As perguntas foram elaboradas visando

obter informações sobre a qualidade do atendi-

mento, os motivos que levam a esta escolha e os

atrativos vistos pelos clientes neste segmento de

comércio. Além disso, o instrumento de pesquisa

possibilitou investigar a percepção dos clientes em

relação ao comércio popular identificando qual

a atratividade que este segmento de comércio

desperta nos clientes e as principais características

destes consumidores.

O levantamento de informações inclui fontes

de dados primários, que, para Mattar (1996), são

aqueles que não foram coletados anteriormente,

estando ainda em posse dos pesquisados e que são

coletadas com o propósito de atender as necessi-

dades específicas da pesquisa em andamento.

Ocorreu aplicação de pré-teste mediante

pesquisa aleatória, sendo readaptadas algumas

questões que haviam ficado confusas para o

entendimento dos respondentes.

Após aplicado o questionário e coletados

os dados, estes foram tabulados e lançados

no programa Excel, cujos resultados foram

apresentados por meio de gráficos para facilitar a

compreensão das respostas.

Os fatores limitantes resumem-se ao preen-

chimento incompleto e/ou incorreto de alguns

questionários, acarretando realização de novas co-

le tas. Ressalta-se também que um único local de

coleta de dados também é um fator limitante, visto

a abrangência do tema comércio popular.

3 Resultados

3.1 Perfil dos Respondentes

Nesta etapa do estudo são apresentados

os resultados obtidos após a realização da

pesquisa de campo e posterior análise. Aborda-se

primeiramente o perfil do público participante da

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pesquisa; em seguida, é feita uma análise do setor

de camelódromos e, por fim, uma análise dos canais

de venda que concorrem com os camelódromos.

No tocante ao perfil dos respondentes,

observa-se que a maioria da amostra pesquisada

de 352 frequentadores do comércio popular,

foi composta por integrantes do sexo feminino,

representando 64% do total, enquanto que os

respondentes do sexo masculino totalizaram 36%.

Com relação à faixa etária, verifica-se que a amostra

é composta predominantemente de jovens na faixa

de 17 a 24 anos, representando 63% do total. Ainda,

30% dos respondentes encontram-se na faixa de 25

a 34 anos; e 7%, de 35 a 50 anos. Verifica-se também

que a maioria dos respondentes tem renda familiar

mensal média acima de R$ 3.001, representando

48% do total da amostra; 23% possuem renda

familiar de R$ 2.001 a R$ 3.000; 21%, de 1.001 a R$

2.000; e 8%, até R$ 1.000.

3.2 Compras em Comércio Popular

Após a análise do perfil dos respondentes da

pesquisa, verificaram-se os aspectos relacionados

às compras realizadas em comércio popular pelo

público pesquisado, identificando frequência de

visitas, valor gasto em cada compra, os produtos

mais procurados e os fatores que influenciam nessa

decisão. Identificou-se que 69% dos respondentes

raramente costumam frequentar camelódromos.

Esse número permite supor que a maioria apenas

desloca-se ao comércio popular quando sente

necessidade de adquirir um produto que é mais

facilmente encontrado neste local ou está disponível

apenas em comércio popular. Constatou-se que 23%

dirigem-se ao mencionado local uma vez por mês,

enquanto apenas 5% frequentam o comércio popular

uma vez por semana e 3% dos respondentes nunca

frequentam o comércio popular. Ao frequentar o

comércio popular, 51% dos respondentes afirmam

que se dirigem direto à loja relacionada ao produto

desejado, enquanto 49% costumam passar por todas

as lojas na ocasião, a fim de conferir as novidades.

Com relação ao valor gasto em cada compra,

verificou-se que 38% dos respondentes gastam entre

R$ 51 e R$ 100 em cada compra realizada; enquanto

37% gastam menos de R$ 50; 22% gastam entre R$

101 e R$ 200; e apenas 3% dos respondentes gastam

acima de R$ 200. O valor gasto geralmente é

desembolsado em apenas uma loja, correspondendo

a 56% dos respondentes da pesquisa; enquanto 44%

gastam esse valor em várias lojas.

Traçando uma correlação entre a renda do

respondente e o valor gasto na compra, percebe-

-se que 56% dos que gastam menos de R$ 50 no

comércio popular possuem renda mensal familiar

acima de R$ 3.001. Entre os que gastam de R$ 51

a R$ 100, também predomina a renda acima de R$

3.001, porém com uma diminuição de percentual

para 46%. Na faixa de valor gasto entre R$ 101 e R$

200 há uma aproximação das rendas, sendo 36%

acima de R$ 3.001,00, 21% de R$ 2.001 a R$ 3.000,

29% de R$ 1.001 a R$ 2.000 e quem tem renda

familiar até R$ 1.000 representa 14%. Nos gastos

acima de R$ 200, a renda predominante passa a

ser de R$ 1.001 a R$ 2.000.

Nesse sentido, denota-se que quem possui

renda mensal familiar acima de R$ 3.001 costuma

efetuar compras de menor valor, enquanto quem

possui renda na faixa de R$ 1.001 a R$ 2.000 gasta

um valor maior, conforme gráfico a seguir.

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No tocante aos produtos mais procurados, os respondentes priorizaram oito categorias. Eletrônicos e

acessórios para computadores constituem a categoria de produtos. O segundo produto mais visado são CDs

e DVDs. Cosméticos, maquiagem e perfumes representam o terceiro item em ordem de prioridade.

Por meio da correlação entre os produtos mais procurados no comércio popular e o gênero de quem

compra esses produtos, verifica-se que nos produtos eletrônicos e acessórios para computadores a distribuição

entre sexo masculino e feminino está bem equilibrada com 46% e 54%, respectivamente. O mesmo equilíbrio

ocorre com relação a CD e DVD, havendo 53% de compradores do sexo masculino e 47% do sexo feminino, sendo

o único produto com maioria masculina. Nos demais produtos, há predominância de determinado gênero, uma

vez que o produto pode ser mais direcionado para aquele público-alvo. Produtos como bolsas, malas e mochilas;

cosméticos, maquiagem e perfumes; bijuterias e brinquedos houve predominância do gênero feminino (89%).

Para os produtos bebidas, a totalidade é composta por homens, com renda familiar mensal superior a R$ 3.001,

que possuem o hábito de realizar compras em shoppings e lojas de grifes. Nos produtos roupas e calçados, a

totalidade dos compradores é composta por homens, os quais foram identificados com renda familiar mensal

entre R$ 1.001 a R$ 2.000, que costumam efetuar compras para toda a família em valores entre R$ 101 e R$ 200

e acima de R$ 200.

TABELA 1 – Produtos mais procurados no comércio popular

Produto Prioridade Percentual de preferência

Eletrônicos e acessórios para computadores 1 32,88%

CD e DVD 2 24,66%

Cosméticos, maquiagem, perfumes 3 16,44%

Bolsas, malas e mochilas 4 13,70%

Bijuterias 5 4,11%

Brinquedos 6 4,11%

Bebidas 7 2,74%

Roupas e calçados 8 1,37%

8%16%

20%56%

Gasto acima de R$ 200,00 Acima de R$ 3.001,00

R$ 2.001,00 a R$ 3.00,00

R$ 1.001,00 a R$ 2.00,00

Até R$ 1.00,00

Gasto entre R$ 101,00 e R$ 200,00

Gasto entre R$ 51,00 e R$ 100,00

Gasto abaixo de R$ 50,00

8%19%

27%46%

14%29%

21%36%

14%

14%29%

43%

GRÁFICO 1 – Renda x valor gasto no comércio popular

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Considerando que os produtos mais pro curados no comércio popular são eletrônicos e acessórios para

computador, importante detalhar o perfil de quem procura tais produtos. Nesse sentido, observa-se que 44%

dos respondentes que procuram os produtos mencionados anteriormente possuem renda familiar mensal

acima de R$ 3.001, e 26% possuem renda de R$ 2.001 a R$ 3.000. Quem possui renda familiar de R$ 1.001 a R$

2.000 representa 17%. Os respondentes com renda familiar até R$ 1.000 constituem 13%.

Com relação à faixa etária dos consumidores de eletrônicos e acessórios para computadores, verifica-

se que 63% dos respondentes possuem de 17 a 24 anos de idade; 33% possuem de 25 a 34 anos; e apenas 4%

possuem de 35 a 50 anos.

Em resumo, o perfil predominante de quem procura eletrônicos e acessórios para computador no comércio

popular é constituído por mulheres, com idade de 17 a 24 anos e com renda familiar mensal acima de R$ 3.001.

Quando da identificação dos fatores que influenciam na decisão de compra do consumidor que

frequenta comércio popular, foi questionado ao público-alvo da pesquisa entre sete fatores se estes influenciam

muito, influenciam pouco, ou se não influenciam em sua decisão de compra. Verificou-se que o fator que mais

influencia é o preço do produto comercializado, tendo como resultado o seguinte: 66% dos respondentes

afirmaram que influencia muito, 32% que influencia pouco e apenas 3% afirmaram que o fator preço não

influencia. O segundo fator que gera mais influência sobre a decisão de compra é a variedade dos produtos,

seguida da disponibilidade de produtos similares aos originais. O fator que menos influencia na decisão de

compra, de acordo com os respondentes, é o público frequentador de comércio popular: 57% afirmaram que

tal fator não influencia; 29% que influencia pouco; e 13% afirmaram que influencia muito. O segundo fator que

menos influencia é o ambiente, observando--se, portanto, que o público pesquisado dirige--se ao comércio

popular apenas quando surge a necessidade de um produto disponível neste local.

GRÁFICO 2 – Fatores que influenciam na decisão de compras no comércio popular

FONTE: O autor (2012)

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156

3.3 Canais de Venda Alternativos

Nesta etapa são analisados os dados relativos aos canais de venda que são alternativos ao comércio

popular, os quais se configuram como concorrentes a este tipo de comércio. Questionou-se aos respondentes

qual outro local eles costumam frequentar. A maioria dos respondentes frequenta shoppings, representando

32% do total; enquanto 23% frequentam lojas de rua/avenida; 19% utilizam a internet; 12% frequentam

boutiques/lojas de grife; 9% visitam lojas de departamento; e 5% utilizam catálogos/vendedoras ambulantes

para realizar suas compras.

Identificados os locais/formas de compra mais utilizados pelos respondentes, parte-se para a

identificação dos produtos mais procurados nesses locais, listados na TAB. 2.

Produto Prioridade Percentual de Preferência

Roupas e calçados 1 52,11%

Eletrônicos e acessórios para computadores 2 21,13%

Bolsas, malas e mochilas 3 12,68%

Cosméticos, maquiagem, perfumes 4 5,63%

CD e DVD 5 4,23%

Bijuterias 6 1,41%

Brinquedos 7 1,41%

Bebidas 8 1,41%

TABELA 2 – Produtos mais procurados em locais alternativos

FONTE: O autor (2012)

Analisando a tabela, percebe-se que os pro-

dutos mais procurados em comércios alternativos

são roupas e calçados, seguido de eletrônicos e

acessórios para computadores. O terceiro item mais

procurado são bolsas, malas e mochilas. Cosméti-

cos, maquiagem e perfumes são o quarto item mais

visado. Bijuterias, brinquedos e bebidas são os tipos

de produtos menos procurados nesses locais.

Ao se verificar o gênero predominante dos

produtos em locais alternativos, denota-se que a

maioria dos que procuram roupas e calçados são

do sexo feminino (76%). Com relação a eletrônicos

e acessórios para computadores, o sexo masculino

constitui a maioria, representando 60% dos respon-

dentes, assim como bolsas, malas e mochilas são

mais procurados por mulheres (78%). A totalidade

dos respondentes que procuram cosméticos, maqui-

agem e perfumes em locais alternativos é do sexo

feminino. Houve também resultados inusitados, isto

é, 100% das pessoas do gênero masculino procuram

bijuterias e 100% do gênero feminino procuram bebi-

das; porém é um dado sem muita relevância devido

ao baixo índice de preferência apresentado anterior-

mente na TAB. 2.

Roupas e calçados constituíram os produtos

mais procurados nos locais alternativos de compra.

Com isso, é importante identificar o perfil predominante

de quem procura por esses produtos. Observa-se

que quem possui renda familiar mensal de R$ 2.001

a R$ 3.000 representa 44% dos respondentes que

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procuram os produtos mencionados anteriormente;

36% possuem renda familiar acima de R$ 3.001; e 21%

de R$ 1.001 a R$ 2.000.

Quanto à faixa etária dos consumidores

que procuram roupas e calçados em locais

alternativos (shopping, lojas de grife, internet,

lojas de departamento etc.), verifica-se que 67%

possuem idade entre 17 e 24 anos; 27% possuem

entre 25 e 34 anos; e apenas 6% tem de 35 a 50

anos de idade. Em suma, percebe-se que o perfil

predominante dos respondentes que procuram

roupas e calçados em locais alternativos ao

comércio popular é composto de mulheres com

idade entre 17 e 24 anos, com renda familiar mensal

de R$ 2.001 a R$ 3.000.

Com relação aos fatores que influenciam

na decisão de compra quando os respondentes

frequentam os locais mencionados, o fator que mais

influencia é a forma de pagamento facilitado, a qual

para 73% dos respondentes é fator que influencia

muito; 16% consideram que influencia pouco; e

8% afirmaram que não influencia. Descontos e

promoções vêm em seguida como segundo fator de

maior influência. Os fatores que menos influenciam

são o ambiente que envolve diversão/compras

passeio; 32% afirmaram que influencia muito; 45%

influencia pouco; e 22% que não influencia; além do

ambiente sofisticado, sendo considerado também

um fator de pouca influência.

Influencia muito Influencia pouco Não influencia Não sei dizer/ não lembro

73

53

35

16

31

40

45

22

31

8

14

26

22

5

30

3 3 1 1 34

70

3332

Forma de pagamento facilitado

Atendimento personalizado

Ambiente sofisticado

Ambiente que envolve/ diversão/compras/passeio

Descontos e promoções

Facilidade de compra sem sair de casa

FONTE: O autor (2012)

GRÁFICO 3 – Fatores de influência na decisão de compra em locais alternativos

Mediante a análise dos dados apresentados, pode-se traçar um comparativo entre os consumidores

de comércio popular e consumidores de locais alternativos. Enquanto os primeiros estão em busca de preço

baixo e ampla variedade de produtos, os segundos procuram formas de pagamento facilitadas e descontos

e promoções. Percebe-se, assim, que um preço atrativo é fator motivador para ambos os tipos de comércio.

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158

Comparando os produtos mais procurados

no comércio popular com os produtos mais

visados em locais alternativos, percebe-se que

entre os quatro produtos mais procurados, três

são comuns a dois pontos de venda: eletrônicos

e acessórios para computadores; cosméticos,

maquiagem, perfumes; e bolsas, malas e mochilas.

CDs e DVDs são mais procurados no comércio

popular, porém, os itens roupas e calçados são os

mais procurados nos locais alternativos.

Ressalta-se ainda que se verificou, por meio

da correlação da renda familiar mensal com as

preferências de consumo, que consumidores de

maior poder aquisitivo costumam, proporcional-

mente, realizar compras de menor valor, enquanto

os respondentes que possuem renda familiar um

pouco menor costumam gastar mais em suas visi-

tas ao comércio popular.

Bolsas, malas e mochilas, que constituem

o mix de produtos da organização em estudo,

são o quarto item mais procurado no comércio

popular e o terceiro item mais procurado em

locais alternativos. Nesse sentido, ressalta-se a

necessidade da empresa focar nos fatores que,

de fato, influenciam o consumidor na decisão

de compra com relação ao comércio popular:

preço e variedade dos produtos. Cabe salientar o

entendimento de Parente (2000, p. 160) de que

“de todas as variáveis do marketing mix, a decisão

de preço é aquela que mais rapidamente afeta a

competitividade, o volume de vendas, as margens

e a lucratividade das empresas varejistas”.

O estudo, de forma geral, acabou confir-

mando o entendimento empírico de que o con-

sumidor que frequenta comércio popular está

em busca de produtos baratos. Além disso, no

comércio popular ele encontra uma variedade de

produtos que dificilmente encontra-se em outros

canais, constituindo um fator de influência na

decisão de compra tão importante quanto o preço.

Considerações Finais

O objetivo deste estudo foi identificar quais

os principais fatores motivadores que levam os

consumidores a frequentar e a comprar no co-

mércio popular. Nesse sentido, foram identificados

quais são os produtos mais procurados pelos con-

sumidores e os principais hábitos de consumo. Foi

ainda levantada a frequência de retorno às com-

pras por parte dos clientes do comércio popular;

além de identificada a média de valor gasto em

cada compra.

Num primeiro momento, tratou-se da iden-

tificação dos produtos mais procurados pelos

consumidores e os principais hábitos de consumo,

cujos produtos mais visados na ocasião de uma

visita ao comércio popular são eletrônicos e jogos

para computador. Os produtos menos procurados

são roupas e calçados. Com relação à quantidade

de itens e a diversidade dos segmentos comprados

em cada visita ao comércio, verificou-se que a

maioria dos respondentes gasta o valor da compra

em apenas uma loja de comércio popular. Foi

realizada também uma análise dos locais/formas

alternativas de compra.

Na sequência, identificou-se que o público

pesquisado raramente dirige-se ao comércio po-

pular, fazendo-o apenas quando surge a neces-

sidade de se adquirir um produto que está associado

a estes locais, seja pela facilidade de encontrar ou

pela exclusividade de venda (quando o produto é

encontrado apenas no comércio popular).

Por último, abordou-se a identificação da

média de valor gasto em cada compra, perce-

bendo-se que a maioria dos respondentes gasta

entre R$ 51 e R$ 100. Todavia, é importante ressaltar

que boa parte dos respondentes gasta até R$ 50

em cada compra. Essa média de gasto corrobora

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com o entendimento de que o consumidor de

comércio popular busca preços módicos.

Os resultados do estudo se mostraram

de grande relevância às empresas que atuam

ou pretendem atuar no comércio popular. Num

primeiro momento, ressalta-se a identificação dos

produtos mais procurados no comércio popular,

assim como em outros locais, o que permitiu

observar que entre os quatro produtos mais

procurados, três são concomitantes aos dois locais

mencionados. Destarte, é notável a competição

na preferência do consumidor em procurar no

comércio popular ou em locais alternativos os

produtos que ele necessita, muito embora os

fatores de influência na compra identificados sejam

distintos: enquanto o consumidor de comércio

popular busca preços mais vantajosos e variedade

de produtos, o consumidor de locais alternativos

procura formas de pagamento facilitadas,

descontos e promoções. Ressalta-se, ainda, que

a renda familiar mensal do consumidor influencia

pouco, visto que quem possui renda maior prefere

efetuar compras de menor valor.

Demonstradas as principais contribuições do

estudo, ressalta-se que futuros trabalhos poderão

complementar esta pesquisa, principalmente

no tocante à facilidade de pagamento como

motivador de compra em comércio popular, bem

como aos fatores de atratividade do camelódromo

de Itapema.

• Recebido em: 21/01/2013

• Aprovado em: 19/06/2013

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160

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Originale Cucina – um estudo de caso de posicionamento estratégico no segmento gastronômico de CuritibaOriginale Cucina – a strategic positioning case study in Curitiba’s

gastronomic segment

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Ricardo Teixeira Miranda 1

Richard Schwarz2

Resumo

O panorama da gastronomia no Brasil, do início do século XXI, está passando por profundas transformações.

O aumento de renda e o fortalecimento do poder de compra de classes que antes não possuíam acesso a

certas condições de consumo, aliados ao crescente incremento no empreendedorismo do segmento voltado

à alimentação, vêm se refletindo em uma expansão do setor e em um inevitável acirramento da concorrência.

Especificamente em Curitiba, certas regiões estão se tornando conhecidos polos gastronômicos, sendo um

deles localizado no bairro Cabral, onde se encontra a Originale Cucina e Pizzeria, presente no mercado

local há 12 anos. Para enfrentar este contexto de impactantes mudanças, a Originale optou por realizar um

completo reposicionamento estratégico de sua atuação e marca, buscando elevar seu patamar de qualidade

e atendimento, porém sem abdicar dos pontos críticos de sua essência, que garantiram sua longevidade. O

objetivo deste artigo é analisar, por meio de um estudo de caso, como este processo dinâmico vem ocorrendo

no empreendimento e quais suas formas, dificuldades e impactos, no sentido de agregar informações sobre

o peculiar setor de gastronomia curitibano, ao contrastar a atuação e evolução de um player tradicional e

estabelecido, em relação a um contexto de fortes mudanças em seu cenário competitivo de atuação.

Palavras-chave: Marketing. Empreendedorismo. Estratégia. Concorrência. Gastronomia. Curitiba.

Abstract

The food segment scenery in Brazil at the beginning of the XXI century is undergoing profound changes. The

growth of income and the strengthening of the purchasing power of classes that previously had no access

to certain conditions of consume, added to the raise in the entrepreneurship on the food segment have

reflected in an expansion of the sector and an unavoidable increase in competition. Specifically in Curitiba,

some regions are becoming known gastronomic poles, as the Cabral neighborhood, where Originale Cucina

and Pizzeria is located, for the last 12 years. To confront this strongly changing context, Originale has chosen to

conduct a complete strategic repositioning of its operations and brand, seeking to raise its level of quality and

service, but without sacrificing the essence of the critical points that ensured its longevity. The purpose of this

article is to examine through a case study how this dynamic process is occurring in the enterprise and which

forms, difficulties and impacts are, in order to gather information about the peculiar food sector in Curitiba,

by contrasting the performance and evolution of a traditional and established “player” against a backdrop of

major changes in its competitive landscape of business.

Keywords: Marketing. Entrepreneurship. Strategy. Competition. Food. Curitiba.

1 Mestre em Administração pela PUC-PR. Professor do ISAE/FGV da disciplina Geomarketing e professor auxiliar da PUCPR no curso de Administração. E-mail: [email protected].

2 Mestre em Administração pela PUC-PR. Consultor empresarial especializado em Marketing, Comunicação, Planejamento Estratégico e Desenvolvimento de Negócios. E-mail: [email protected].

Originale Cucina – um estudo de caso de posicionamento estratégico no segmento gastronômico de CuritibaOriginale Cucina – a strategic positioning case study in Curitiba’s gastronomic segment

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164

Introdução

Na década de 2000, o Brasil passou por um

dos maiores processos de crescimento econômico

de sua história. Essa expansão proporcionou um

ambiente de estabilização econômica e ampliação

das condições de oferta de crédito e empregos, o

que, por sua vez, permitiu que 60 milhões de cida-

dãos, oriundos principalmente das classes C e D,

ampliassem seu acesso ao mercado de consumo.

De acordo com o DIEESE (Departamento Intersin-

dical de Estatística e Estudos Socioeconômicos),

cerca de 130 milhões de brasileiros compõem es-

tas faixas, que contam com renda mensal entre 2 e

4 salários mínimos. Para o Portal Alimentação Fora

do Lar (2013), além desse cenário, outros princi-

pais fatores de expansão do mercado de alimen-

tação fora do domicílio são a falta de tempo para

preparação da comida em casa, a busca por maior

conveniência e a diminuição do número médio de

habitantes por residência.

1 Perfil Brasileiro do Consumo de Alimentação Fora do Domicílio

Segundo a ABRASEL (2012), o aumento do

poder de consumo, relacionado em grande parte ao

aumento da renda per capita, levou os brasileiros,

em geral, a alterar também seus hábitos alimentares.

Houve, com isso, um aumento significativo na

demanda por serviços de alimentação fora do

domicílio, sendo que, no Brasil, 31% das pessoas

consomem alimentos na rua semanalmente,

percentual que deverá atingir 50% em 2020. A

classe com renda mensal de até R$ 400,00 gasta

12% do valor com alimentação na rua, quando essa

renda passa a ser de R$ 1.000,00 a R$ 1.200,00

essa fatia também cresce, passa a 21%, e quando o

trabalhador recebe mais de R$ 4.000,00 chega a

37%. Ou seja, a ampliação da classe média no país

teria um impacto direto no costume de comer fora

do domicílio (ABRASEL, 2012).

Apesar dos gastos com alimentação com-

prometerem uma fatia menor da renda das famílias

brasileiras, esses ainda representam uma grande

parcela do orçamento familiar, quase um quinto de

seu consumo total. De acordo com a Pesquisa de

Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, elaborada

em 1974/1975, as despesas com alimentos corres-

pondiam a 33,9% dos gastos das famílias. Na

última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF3)

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE), esse comprometimento recuou 14 pontos

percentuais, totalizando 19,8% (IBGE, 2009), e

grande parte destes gastos são realizados fora

do domicílio. Segundo o Portal Alimentação Fora

do Lar (2013), mais de 25% das refeições no Brasil

atualmente são consumidas fora de casa, sen-

do que, nos grandes centros urbanos, esse índice

chega a ultrapassar 33%. Ou seja, o potencial de

crescimento desse mercado parece promissor

quando comparado aos Estados Unidos, onde este

setor responde atualmente por mais de 60% das

refeições das pessoas.

O aumento do poder de

consumo, relacionado em

grande parte ao aumento

da renda per capita, levou

os brasileiros, em geral,

a alterar também seus

hábitos alimentares.

3 A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) é uma pesquisa domiciliar que tem como principal objetivo a obtenção de informações sobre a estrutura de orçamentos das famílias, ou seja, quanto ganham e qual a destinação de seu dinheiro.

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a cidade como a 4ª maior economia do Brasil (ver

TAB. 1), apesar de ocupar apenas a 8ª colocação em

população, conforme demonstrado no GRÁF. 1. Em

2010, a renda média dos responsáveis por domicílios

curitibanos foi de aproximadamente R$ 7.904 por

mês (TAB. 2), o que, comparado à renda média dos

domicílios brasileiros, chega a ultrapassar a renda

nacional em 273%. Em relação à distribuição de

renda segundo as classes sociais, observa-se que

15,2% correspondem à classe A, 29% à classe B,

18,4% à classe C, 25,3% à classe D e apenas 5,94%

pertencem à classe E.

TABELA 1 - Ranking das 10 cidades com maior

participação no PIB Nacional

Capital Estado2009

Ranking Part. %

São Paulo SP 1º 12,02

Rio de Janeiro RJ 2º 5,43

Brasília DF 3º 4,06

Curitiba PR 4º 1,41

Belo Horizonte MG 5º 1,38

Manaus AM 6º 1,25

Porto Alegre RS 7º 1,17

Duque de Caxias RJ 8º 1,01

Garulhos SP 9º 1,00

Osasco SP 10º 0,98

FONTE: Agência Curitiba de Desenvolvimento (2012)

Para o segmento de alimentação fora do

domicílio, segundo Bezerra e Sichieri (2010), a

frequência de consumo brasileira foi de 35%, sendo

maior na região Sudeste (38,8%), seguida da Sul

(34,8%) e menor na região Norte (28,1%). A frequência

foi maior entre os indivíduos de 20 a 40 anos (42%),

do sexo masculino (39%), com maior nível de renda

(52%) e maior escolaridade (61%). Os alimentos

mais frequentemente consumidos fora do domicílio

foram: refrigerantes (12%), refeições (11,5%), doces

(9,5%), salgados fritos e assados (9,2%) e fast foods

(7,2%). Os pesquisadores também identificaram

maiores regularidades entre os indivíduos residentes

em domicílios situados na área urbana, no município

da capital e com menos de quatro moradores. Esses

aspectos, juntamente com a escolaridade, são

importantes marcadores do nível socioeconômico

dos indivíduos, confirmando a importância da

renda como um dos principais determinantes do

consumo de alimentos.

1.1 Curitiba e o Setor de Alimentação Fora

do Domicílio

Curitiba vem se desenvolvendo em um

ritmo cada vez maior, fato demonstrado pelos

seus indicadores socioeconômicos que mostram

12

10

8

6

4

2

0São Paulo Rio de

JaneiroFortaleza Belo

HorizonteManaus Curitiba Recife Porto

AlegreBrasíliaSalvador

11,24

6,32

2,68 2,56 2,45 2,381,8 1,75 1,54 1,41

GRÁFICO 1 - População das maiores cidades brasileiras (milhões)

FONTE: Agência Curitiba de Desenvolvimento (2012)

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166

Em relação à renda dos bairros de Curitiba, vê-se na TAB. 2 que o bairro do Batel lidera o ranking com

um rendimento médio de R$ 10.340,00 e o Cabral, bairro onde se localiza a empresa foco deste estudo de

caso, apresenta-se como 3º colocado, com um valor médio 274% maior que a média do município.

1.2 O Bairro Cabral

O bairro, a 3,3 km de distância do Marco

Zero do Centro de Curitiba, seguiu a mesma linha

de desenvolvimento do bairro Juvevê: a partir da

implantação da Estrutural Norte e dos eixos de

transporte urbano na década de 70. Abrigando

um dos grandes terminais de transporte público

da cidade, o terminal Cabral, suas vias principais

atraem empreendimentos residenciais de porte,

comércio e serviços de todos os gêneros.

Medio5 Mediano6

Valor (R$) Ranking Valor (R$) Ranking

Batel 10,340 1º 7,068 1º

Jardim Social 9,302 2º 6,058 2º

Cabral 7,904 3º 6,058 3º

Bigorrilho 7,659 4º 5,250 4º

Juvevê 6,937 5º 5,048 5º

Água Verde 6,730 6º 4,241 7º

Alto da Glória 6,590 7º 4,443 6º

Seminário 6,483 8º 4,039 8º

Hugo Lange 6,300 9º 4,039 9º

Mossungê 5,988 10º 2,264 26º

Curitiba 2,890 - 1,141 -

TABELA 2 - Rendimento médio e mediano dos responsáveis por domicílios, por bairros – 2010

FONTE: IBGE (2000), IPPUC/Banco de Dados e Agência Curitiba de Desenvolvimento (2012)456

4 Estimativa para 2010 pela UTFPR, com base no IPCA.5 Média ponderada é calculada através do quociente da soma dos produtos entre o ponto médio da classe de rendimento e o número de

observações desta classe pelo número total de observações.6 Mediana é a realização que ocupa a posição central da série de observações quando estas estão ordenadas segundo suas grandezas.

A denominação “Cabral” surgiu no século XIX. Segundo o

próprio historiador Ermelino de Leão, o nome do bairro é

uma homenagem à influente família Cabral, que residia na

região e, em meados do século passado, doou o terreno

onde se ergueu a pequena capela consagrada ao Bom

Jesus, hoje conhecida como Igreja do Cabral. Os primeiros

moradores chegaram no início do século XVIII, conseguindo

seus lotes de terra mediante concessão da Câmara de

Curitiba. Muitos desses sítios compõem hoje o Graciosa

Country Club, alguns trechos da Av. João Gualberto, da

Anita Garibaldi e da Munhoz da Rocha (IPPUC, 2013).

O bairro Cabral, com 2,04 km de área total

(TAB. 3), possui uma população média de 13 mil

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pessoas. Seus moradores são bem servidos: há 370

pontos de comércio e outros 685 de serviços, três

praças, além de supermercados e escolas; também

possui edifícios residenciais de bom padrão e

muitas residências.

TABELA 3 - Dados do bairro Cabral

Área (Km2) 432

População Total 13, 060

Comércio 370

Insdústrias 116

Serviços 685

Distância do bairro ao Centro (Marco Zero) (Km) 3, 32

Hospitais 1

Jardinetes 3

Praças 2

FONTE: Os autores (2013)

Dados do Instituto de Pesquisa e Planeja-

mento Urbano de Curitiba (IPPUC, 2013) mostram

que o setor de alimentação possui 1.480 estabele-

cimentos comerciais em atividade no bairro, sendo

que o setor de alimentação responde por 10,3%

deste total com 152 estabelecimentos de refeições

prontas para consumo no local. Devido à alta densi-

dade demográfica da região (TAB 4), o setor de ser-

viços coloca-se como importante setor econômico.

TABELA 4 – Cabral: população, área e densidade

demográfica

Total de

HabitantesÁrea

(Km2)

Densidade

Demográfica

(hab/km2)

Absoluto % Valor (R$)

Cabral 13,060 0,75% 2,04 6,402

Curitiba 1.751,907 100 432 4,054

A TAB. 5 traz dados referentes às classes

de rendimentos das famílias residentes no bairro

Cabral, demonstrando uma população com maior

poder aquisitivo que a média do município, em

que 31,26% ganham acima de 30 salários mínimos,

contra 9,34% da média da cidade.

Famílias residentes

Bairro Cabral Curitiba

Até 0,50 salário mínimo 18 0,38% 1.183 0,24%

+ de 0,5 até 1 SM 28 0,59% 16.163 3,26%

+ De 1 até 2 SM 45 0,96% 38.223 7,72%

+ De 2 até 3 SM 7 0,15% 41.313 8,34%

Até 3 SM 98 2,08% 96.882 19,56%

+ de 3 até 5 SM 165 3,51% 83.015 16,76%

+ de 5 até 10 SM 515 10,94% 128.264 25,90

+ de 10 até 15 SM 496 10,54% 54.841 11,07%

+ de 15 até 20 SM 507 10,77% 34.642 6,99%

+ de 20 até 30 SM 564 11,98% 33.836 6,83%

+ de 30 SM 1.471 31,26% 46.277 9,34%

+ de 3 SM 3.718 79,01% 380.875 76,90%

Sem Rendimento 890 18,91% 17.553 3,54%

Totais 4.706 100,00% 495,310 100,00%

TABELA 5 - Famílias residentes, por classes de rendimento nominal familiar – 2000

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168

2 Fundamentação Teórico-Empírica

Curitiba é uma cidade em que apenas 3% dos

moradores residem sozinhos e o padrão familiar

mais comum é o de um casal com dois filhos,

com uma valorização expressa da manutenção

da família, haja vista que o lazer preferido do

curitibano é passar seu tempo livre com a família

(RETRATO..., 2001). Desta forma, a identificação

dos hábitos alimentares é de grande valia para

entender um pouco mais sobre este consumidor,

que mantém a tradição, mas, ao mesmo tempo,

encontra-se na vanguarda do desenvolvimento

econômico e cultural do país.

Segundo Strobel et al. (2005), cerca de

70% dos curitibanos têm o hábito de almoçar

em restaurantes pelo menos um final de semana

por mês, com destaque para 12% que frequentam

restaurantes todos os finais de semana (sábados

e domingos). Os restaurantes preferidos são as

churrascarias (56%) e os italianos (22%). Ainda,

conforme os estudiosos, a preocupação com a

alimentação é algo que faz parte do cotidiano

das pessoas, que costumam fazer, em geral, três

refeições por dia: café da manhã, almoço e jantar,

sendo que a maioria não tem o hábito de comer

entre essas refeições.

2.1 Polos de Atividades: Conceitos e

Considerações

A busca pela aproximação geográfica

entre empresas do mesmo ramo de atividade traz

benefícios já bastante estudados desde o século

XIX. Quando Marshall (1920) estabeleceu a relação

entre aglomeração geográfica de empresas e

desempenho, observou que firmas concentradas

desfrutavam de vantagens em relação àquelas

fora dessas aglomerações. Essas vantagens eram

derivadas da maior capacidade de inovação e das

economias geradas em equipamentos e mão de

obra. A partir daquele momento, as aglomerações

passaram a ser caracterizadas pelo grande fluxo

de conhecimento, intensa especialização de mão

de obra e existência de uma rede de indústrias

subsidiárias e de maquinário especializado

(MARSHALL, 1920).

No século XX, Porter (1998) vai além e

passa a apontar os benefícios das aglomerações,

enfatizando o potencial de aumento da produ-

tividade e a taxa de inovação das firmas nelas

instaladas, levando à expansão e à formação

de novas empresas que reforçam a inovação

e ampliam o aglomerado (PORTER, 1998). Na

mesma obra, o autor definiu os aglomerados como

um agrupamento geograficamente concentrado

de empresas inter-relacionadas e instituições

correlatas numa determinada área, vinculadas

por elementos comuns e complementares, o

autor incluiu ainda, em sua definição, empresas

de produtos ou serviços finais, fornecedores

e empresas clientes na cadeia de produção,

conforme o grau de sofisticação e profundidade

A preocupação com a alimentação é algo que

faz parte do cotidiano das pessoas, que costumam

fazer, em geral, três refeições por dia: café da manhã, almoço e jantar, sendo que a maioria não tem

o hábito de comer entre essas refeições.

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do aglomerado. No entanto, a importância de se

estudar a economia por meio deste enfoque é

devido ao fato de que os aglomerados se alinham

melhor com a natureza da competição e com as

fontes da vantagem competitiva. Assim, enquanto

Marshall enfatizava como principal benefício da

aglomeração o aumento da produtividade, Porter

acrescenta ainda a inovação e o crescimento al-

can çado pelo intercâmbio, cooperação, com-

partilhamento de infraestruturas e apoio institu-

cional entre empresas dos aglomerados.

Imbuzeiro e Lustosa (2010) afirmam que

o diferencial competitivo é construído ao longo

de cadeias produtivas, que são integradas tanto

setorialmente como espacialmente e que podem

ser denominadas de diversas formas (arranjos

produtivos locais, clusters, aglomerados produtivos,

distritos industriais), porém expressando o mes mo

fenômeno. Para os autores, não há mais sentido em

se desvincular localidades de setores produtivos e

dividi-los, de forma estanque, em industrial, agrícola

e comercial. E que, apesar da globalização, não

existem evidências do declínio de identidades locais,

o que favoreceria o surgimento de novos polos.

Em Curitiba, verifica-se a consolidação de

várias aglomerações, a partir daqui denominadas

Arranjos Produtivos Locais (APLs), como o co-

mércio de veículos na Avenida Mário Tourinho nos

bairros Batel e Campina do Siqueira e também na

Avenida Marechal Floriano Peixoto, no bairro Vila

Hauer; comércio de tecidos, no bairro Vila Hauer;

sapatos na Rua Teffé, no bairro Centro Cívico; móveis

na Al. Dr. Carlos de Carvalho, no bairro Batel, entre

outros. Uma forte característica desses APLs, é o

surgimento deles por meio da casualidade, onde,

após a instalação das primeiras empresas comuns

ao setor, ocorre uma simples imitação da estratégia

das pioneiras pelas outras empresas, que vêm a se

instalarem nas proximidades. Diferentemente de

APLs, que são estimulados pelo poder público,

essa geração espontânea se dá em função das

vantagens que se pode obter da aglomeração.

Pode-se justificar o processo de desenvolvimento

dos aglomerados por meio dos estudos de Porter

(1998), que comenta ser mais facilmente previsível

seu desenvolvimento do que a determinação dos

fatores do seu surgimento, pois se assemelha a uma

reação em cadeia, induzida pela rivalidade saudável

e das iniciativas empreendedoras. Ou seja, é

importante compreender que o APL se desenvolve

dentro de um contexto dinâmico de cooperação

em contraste com a competição. Por exemplo, no

caso da Originale Cucina, ao mesmo tempo em que

um empreendimento se beneficia do movimento

de pessoas gerado pelos concorrentes vizinhos,

também se estabelece a luta pela conquista da

preferência destes potenciais clientes.

2.2 Estratégias de Competição

O acirramento da concorrência e a com-

petição por um espaço no mercado têm forçado

as organizações a definirem estratégias com

vistas a capacitarem-se para suportar, ou mesmo

superar, as novas e crescentes demandas do

ambiente em que estão inseridas. Neste sentido,

a essência da formulação estratégica consiste em

enfrentar a competição em que, segundo Porter

(1998), cinco forças básicas compõem o estado

de competição em um setor. Neste estudo, dadas

as características observadas na aglomeração

onde se situa a Originale Cucina, serão focadas as

ameaças de novos entrantes e as manobras pelo

posicionamento entre os atuais concorrentes.

Devido ao seu relativo baixo custo de

instalação e exigência de capital, necessidade

de escala de produção mediana, fácil acesso a

fornecedores e canais de distribuição e facilidade

em se estabelecer estratégias de diferenciação

de produtos, o setor gastronômico apresentaria

uma fraca barreira a novos entrantes. Apenas

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exigências legais, como alvarás, aprovação de

projetos pela prefeitura, corpo de bombeiros e

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)

são fatores operacionais dificultantes à entrada de

novos concorrentes.

A disputa entre concorrentes, por meio de

campanhas publicitárias, competição por preços e

diferenciação por produtos e serviços é uniformi-

zada mediante nivelamento entre os concorrentes,

verificado no aglomerado gastronômico do bairro

Cabral. A instalação de alguns restaurantes dife-

renciados, como o restaurante Madero Burger &

Grill e a Pizzaria Mercearia Bresser, trouxe à região

um novo padrão de cardápio e atendimento, até

então predominantemente dominado por pizza-

-rias, lanchonetes e serviços de entrega rápida.

Dentro deste cenário, a vantagem com-

petitiva pela visão baseada em recursos examina

a ligação entre as características internas da

empresa e seu desempenho (BARNEY, 1991).

Segundo esse pesquisador, a empresa apresenta

vantagem competitiva ao adotar uma estratégia de

criação de valor que não está sendo implementada

simultaneamente pelos seus concorrentes atuais

ou potenciais. Por ser facilmente duplicada, essa

não é uma vantagem competitiva sustentada,

mas tão somente uma estratégia de imitação ou

substituibilidade, pois concorrentes ou poten-

ciais entrantes podem programar as mesmas

estratégias, mas de uma maneira diferente ao

utilizar diferentes recursos.

Também, na abordagem das capaci dades

dinâmicas, cujos estudos conduzidos por Teece;

Pisano; Schuen (1997) indicam a replicabilidade

e imitabilidade de um processo organizacional,

somente serão comportados como vantagem

competitiva se essas estiverem formadas por um

conjunto de rotinas, capacidades e ativos com-

plementares difíceis de imitar. Entende-se aqui

replicabilidade e imitabilidade como fenômenos

que determinam o quão rapidamente uma compe-

tência ou uma capacidade pode ser copiada pelos

competidores (TEECE; PISANO; SCHUEN, 1997).

2.3 A Gastronomia Local em Curitiba

Curitiba caracteriza-se por apresentar duas

grandes concentrações de estabelecimentos de

alimentação: uma situada na Avenida Comenda-

dor Franco (mais conhecida como “Avenida das

Torres”), que interliga a cidade ao município de

São José dos Pinhais (localização do aeroporto

internacional Afonso Pena), onde se localizam di-

versas churrascarias que servem rodízio de carnes

e também massas. Outra localidade gastronômica

de Curitiba é o famoso bairro de Santa Felicida-

de, que, por sua vez, concentra a culinária italia-

na. Além dessas duas rotas gastronômicas, preva-

lecem os pequenos e médios nichos culinários

es palhados pela cidade, como as imediações da

Praça Espanha, os bairros Cabral, Juvevê e Batel, o

Largo da Ordem e a Avenida Batel, com seus bares,

A empresa apresenta

vantagem competitiva ao

adotar uma estratégia de

criação de valor que não

está sendo implementada

simultaneamente pelos

seus concorrentes atuais ou

potenciais.

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e os shoppings centers, que, além de suas praças

de alimentação, agora também oferecem espaços

diferenciados e a presença de “grifes” gastronômi-

cas locais, tais como Madero, Bistrô do Victor e La

Pasta Gialla, entre outras.

2.4 O Bairro Cabral: um Novo

Polo Gastronômico?

Abrigo do foco deste estudo de caso, o

bairro Cabral vem apresentando um expressivo

crescimento no número de estabelecimentos deste

setor, o que levou os proprietários a reposicionarem

estrategicamente seu negócio de acordo com

as novas características da concorrência e dos

consumidores que frequentam a região, que passou

a atrair não apenas os moradores locais, mas

também clientes de outras localidades da cidade

e inclusive dos municípios-satélite que compõem

a região da grande Curitiba, tais como Colombo,

Almirante Tamandaré e Araucária, entre outros.

Exemplo claro deste crescimento é a diversificação

de casas que se estabeleceram no bairro tais como

Subway e Au Au (sanduíches), Mercearia Bresser

e Atolinni (pizzarias), Madero (hamburgueria),

Wikimaki e Saikoo (comida japonesa), Yogufast e

Freddo (iogurteria e sorveteria) etc.

Além disso, a abertura de diversos esta-

belecimentos voltados à alimentação em bairros

contíguos ao Cabral também influem na atração de

clientes para esta região da cidade, anteriormente

não tão associada à gastronomia curitibana. Como

exemplo, pode-se citar também os bairros do Alto

da XV, Alto da Glória e Juvevê, com casas como

Beto Batata, Cantina do Délio, Baggio, Abaré,

Vindouro, Mangiare Felice, Yoguland, Fornão,

Jacobina, Capitu, Paraguassu, Menina Zen e Cana

Benta, entre outros O principal desafio, então, para

um player já estabelecido e posicionado na região, é

como continuar sendo competitivo e crescer (tanto

em faturamento como em imagem) dentro deste

contexto de uma forte concorrência e das mudanças

do cenário macroeconômico sobre os hábitos de

consumo alimentares da população curitibana,

sempre tão tradicionalista, crítica e exigente.

2.5 Perfil do Empreendedor

Para entender a evolução do desen-

volvimento da Originale Cucina e Pizzeria, é

necessário compreender um pouco da trajetória

do seu empreendedor, Luiz Ricardo Iwersen.

Após concluir seu Bacharelado em Administração

de Empresas em 1998, Iwersen começa a atuar

como Gerente de Negócios Corporativos em

uma instituição bancária em Curitiba, atendendo

o mercado de pequenas e médias empresas.

Por meio desta experiência, fez contatos com

empresários de diversos segmentos, como varejo,

automobilístico e farmacêutico. Em função do

porte dessas organizações, o profissional começa

a entender a dinâmica de um negócio deste porte,

muitas vezes regional e até familiar, principalmente

devido ao contato com os proprietários, o que lhe

proporciona uma visão geral dos empreendimentos.

Em função desse conhecimento, sai do banco

e começa a atuar na empresa de transportes de

valores de sua família, trabalhando na transferência

de uma nova tecnologia norte-americana para

confecção de coletes à prova constituídos por

uma malha de kevlar trançado. Assim, iniciou um

intercâmbio de informações com empresas dos

Estados Unidos que resultou em uma estadia de

um ano estudando na Universidade da Califórnia,

em San Diego, para consolidar seu conhecimento

do idioma inglês e também da cultura de negócios

americana. Nesse período, é feita uma proposta

de um grupo para a aquisição da empresa de sua

família, que é aceita. Ao retornar ao Brasil, Iwersen

é contatado por um possível parceiro para analisar

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172

em conjunto a viabilidade da abertura de um

novo empreendimento, desta vez no segmento de

alimentação.

2.6 Originale Cucina e Pizzeria: um Pouco

de História

A Originale Cucina e Pizzeria, citada a

partir deste momento como somente Originale,

foi inaugurada em 2002 como uma nova unidade

da Pizzaria Di Piu, pelos empresários Luiz

Ricardo Iwersen e Mário Niclevicz, a partir de

uma análise geográfica de regiões com potencial

de absorver serviços de alimentação. O grupo

Di Piu já possuía duas outras unidades nas ruas

Padre Anchieta e Princesa Isabel, e procurava há

mais de um ano um local para abrir uma unidade

na região do Cabral, já antecipando o possível

forte potencial de consumo para alimentação do

bairro. Porém, não havia disponibilidade de bons

imóveis comerciais para aluguel ou compra. Nesta

época, os poucos e principais estabelecimentos

do segmento estabelecidos na região eram

McDonald’s, Pizza Hut e Di Frango. O ponto que

finalmente surgiu e foi escolhido, se trata de uma

casa na Avenida Munhoz da Rocha, 665, tendo

como fortes diferenciais iniciais de atuação o

ambiente discreto e introspectivo, a capacidade

original para atender 70 pessoas sentadas em

quatro salas e possuir estacionamento interno

para cerca de 10 veículos. Em 2006, ocorre uma

divisão amigável da sociedade, apenas em função

de divergências conceituais sobre a estratégia de

atuação do negócio, sendo que a partir daí Mário

Niclevicz prossegue com o nome e com as demais

unidades Di Piu (que também ainda se encontram

em atividade) e Luiz Iwersen fica com a direção

da unidade Cabral, que é então rebatizada com o

nome de Originale Cucina e Pizzeria.

3 Metodologia de Pesquisa

3.1 Caracterização da Pesquisa

Pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a

descrição das características de determinada população

ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações

entre variáveis. Algumas pesquisas descritivas vão além

da simples identificação da existência de relações entre

as variáveis, e pretendem determinar a natureza dessa

relação. Nesse caso, tem-se uma pesquisa descritiva

que se aproxima da explicativa. Há, porém, pesquisas

que, embora definidas como descritivas com base em

seus objetivos, acabam servindo mais para proporcionar

uma nova visão do problema, o que as aproxima das

pesquisas exploratórias (GIL, 2002, p. 42).

Este estudo caracteriza-se como uma

pesquisa qualitativa, cuja estratégia é de estudo

de caso único de natureza descritivo-analítica

(YIN, 2005). A proposta é investigar as estratégias

de reposicionamento de uma empresa do setor

gastronômico do bairro Cabral de Curitiba, pa ra

fazer frente ao crescente incremento no empreen-

dedorismo do segmento, à expansão do setor e ao

acirramento da concorrência.

3.2 População e Amostra

A população seria, de modo geral, a totalidade

de restaurantes e casas voltadas para o segmento de

alimentação da cidade de Curitiba. Para uma maior

delimitação, poderia se dizer que seria o grupo de

restaurantes franco-italianos e pizzarias da cidade.

A amostra escolhida foi o restaurante Originale, que

possui uma única unidade, no bairro do Cabral. A

amostra foi escolhida de forma não probabilística

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e por meio do critério de conveniência, por possuir

o perfil ideal para a análise e por fornecer de forma

ampla e irrestrita o acesso às informações relativas à

sua atuação, mesmo aquelas consideradas de cunho

mais sigiloso e estratégico.

3.3 Coleta e Tratamento de Dados

Os dados para a elaboração do estudo foram

coletados por meio de três métodos complementa-

res: observação, documentação e entrevista.

A observação, segundo Gil (2009, p. 72), no

contexto do presente estudo, pode ser classificada

como espontânea, informal e não planificada, ao

se combinar os teores exploratório e descritivo do

tema. Este formato se mostra de grande utilidade

ao promover a aproximação dos pesquisadores

com o fenômeno pesquisado, permitindo que

eles obtenham uma compreensão mais precisa

do problema e de suas implicações. Procurou-se

aqui se atentar aos sujeitos (quem e quais são os

participantes e como se relacionam entre si), ao

cenário (onde tudo se situa e suas características)

e ao comportamento social (papéis e condutas

desempenhados). Esta observação aconteceu na

forma de visitas à Originale e ao acompanhamento

de seu funcionamento durante um período de

aproximadamente uma semana.

Já a análise de documentação foi de grande

importância para aumentar o grau de conhecimento

sobre a empresa, seus métodos, processos,

estrutura, atuação e características, além da forma

como se deu o seu efetivo reposicionamento e

quais foram seus impactos. A documentação da

Originale também ajudou na complementação das

informações obtidas mediante as outras formas

de coleta de dados, auxiliando a corroborar fatos

e a suscitar novas ideias e conceitos no processo

analítico. Os tipos de documentos analisados foram

cardápios, cartas de vinhos, anúncios publicitários,

folders, embalagens de viagem e o site da empresa.

Finalizando as formas de coleta de dados,

chegou-se às entrevistas, que são, de acordo com

Gil (2009, p. 63), a mais importante técnica no

sentido de obter informações acerca do que os su-

jeitos da investigação sabem, acreditam, esperam,

imaginam, planejam, agem ou intencionam. Sendo

bem conduzida, a entrevista pode até desvendar

aspectos inconscientes determinantes do compor-

tamento humano. No presente estudo, optou-se

por realizar duas entrevistas em profundidade e

semiestruturadas com o proprietário da empresa,

Luiz Ricardo Iwersen, com tempo total de cerca de

quatro horas de duração.

4 Análise: Reposicionamento da Originale Cucina e Pizzeria

4.1 Reposicionamento Estratégico

O reposicionamento estratégico da Origi-

nale, iniciado com a separação da sociedade do

Grupo Di Piu, em 2006, e que se encontra em an-

damento até o presente momento, envolveu basi-

camente os seguintes grandes itens relacionados

à atuação do estabelecimento: comunicação, es-

trutura, atendimento, cardápio e precificação, além

de outros diferenciais menores, que serão devida e

especificamente abordados a seguir.

4.2 Comunicação

A reformulação da comunicação da Originale

teve origem a partir da própria constituição no novo

nome. A opção por Originale para suceder Di Piu

deve-se a uma questão anterior de disputa do nome

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174

Di Piu e que havia feito o grupo começar a assinar

suas casas como “Di Piu. La Originale”, para evitar

confusões associativas. Com a cisão societária, a

unidade Cabral adotou apenas o nome “Originale”,

que acabaria posteriormente sendo adaptado e

expandido para “Originale Cucina e Pizzeria”.

Para manter a sinergia e essência do trabalho

de construção de marca e identidade que a Di Piu

já havia realizado no Cabral durante os quatro

anos de atuação, optou-se por conservar as cores

verde e vermelho na constituição da nova marca e

na comunicação da nova casa Originale, de forma

que o apelo aos clientes tradicionais da casa fosse

mantido, ao mesmo tempo que apontava uma

nova direção em sua atuação.

Com relação à comunicação interna, foi re-

elaborada toda a parte visual de cardápios e uma

nova carta de vinhos, além de parcerias com forne-

cedores e demais empresas para apoio à produção

de embalagens de pizza e jogos americanos des-

cartáveis das mesas. Buscou-se uma comunicação

mais leve, sutil e refinada, já que o principal públi-

co é um que espera passar momentos agradáveis

enquanto saboreia um bom prato e degusta uma

excelente bebida, por exemplo, casais das classes

A-, B e C+.

Já para a comunicação externa, iniciou-se

com anúncios em revistas regionais e nacionais

especializadas em gastronomia e entretenimento,

além de anúncios com chamadas em rádios locais e

da colocação de backlight e sinalização exterior no

imóvel. Ultimamente, o foco neste tipo de comuni-

cação não tem sido muito forte, até porque os no-

vos e fortes concorrentes que chegaram ao bairro,

tais como Madero e Bresser, tendem a investir pesa-

damente em mídia, atraindo tal demanda de clien-

tes que, por vezes, não conseguem absorver e que

acabam conhecendo a Originale, por não poderem

ir aonde originalmente pretendiam. Apesar disso,

um dos focos de comunicação da casa é tornar seu

nome cada vez mais forte e reconhecido na região,

como se verá a seguir.

Com relação a essa concorrência, o aspecto

de polo gastronômico privilegia sobremaneira

a Originale, ao atrair clientes que tenderiam

originalmente a se dirigir a outras regiões como

Batel e Santa Felicidade e, ao mesmo tempo, o

posicionamento da casa é não conflitar com esta

nova concorrência, o que será comentado em mais

detalhes no item “Cardápio e Precificação”.

A internet também se mostrou um impor-

tante aspecto de ajuda ao reposicionamento da

Originale, por constituir um site refinado, direto e

agradável e com inovações, como a possibilidade

de se realizar o pedido on-line.

Por fim, a respeito da comunicação, é muito

interessante salientar que o principal veículo de

comunicação da Originale é a recomendação pes-

soal, o popular “boca a boca”, fato que ocorre até

pela limitação física imposta por dispor de apenas

uma unidade.

4.3 Estrutura

A estrutura física da Originale era inicialmente

constituída de 70 lugares (sentados) para aten-

dimento em mesas dispostas em quatro salas. O

aumento da demanda e da busca por se jantar

fora de casa no novo polo gastronômico do Cabral

impulsionou o investimento para a construção

de uma nova sala com mais 20 lugares, para

aproveitar o ganho em escala, além do aumento

do ticket médio por cliente7. O salão (conjunto das

salas) é considerado como o “cartão de visitas” da

Originale, sendo que quem conhece os produtos na

7 Total do faturamento com refeições e bebidas, dividido pela quantidade de clientes, mensal. Representa o gasto unitário médio de cada cliente.

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casa acaba posteriormente também pedindo pelo

delivery. A decoração foi realizada com paredes

de vidro e placas decorativas de bebidas, criando

um clima simultaneamente intimista, acolhedor e

nostálgico. Uma parede viva (paisagismo vertical)

foi elaborada junto à nova área (inspirada na

arquitetura do restaurante paulistano Kaa), para

trazer um toque de natureza, rusticidade e beleza

ao novo espaço. Aquecedores a gás e iluminação

incidental ajudaram a complementar a expansão.

Ambientações especiais também são planejadas

e elaboradas pela casa em datas especiais, como

balões vermelhos em forma de coração no Dia dos

Namorados, por exemplo.

4.4 Atendimento

O atendimento da Originale é dividido em

basicamente quatro canais diferentes: balcão

(para pedidos no local), delivery (entrega em

domicílio), salão (conjunto das quatro salas) e site.

Balcão e delivery não tiveram grandes alterações

estruturais e de funcionamento em relação ao

início das atividades do restaurante, e as inovações

relativas ao site já foram comentadas. No canal

salão, além das mudanças físicas já citadas, há

também a qualidade técnica dos garçons, pois eles

são estimulados a realizar cursos e treinamentos

de capacitação e desenvolvimento, como vinhos,

águas especiais e barman, por exemplo.

Outro ponto forte de diferenciação da

Originale em relação à concorrência é o seu foco

na constituição de equipes qualificadas e com

longevidade, sendo que o pagamento de salários

acima da média de mercado atrai e retém bons

profissionais, bastando citar que, atualmente, o

funcionário mais recente foi admitido há dois anos.

O reposicionamento da Originale fez que a equipe

da casa aumentasse em 30%, principalmente

devido ao almoço à la carte que foi instituído,

necessitando de praticamente uma nova equipe

de atendimento e uma de cozinha.

4.5 Cardápio e Precificação

A Originale realizou seu reposi ciona mento

neste aspecto ao migrar da posição de ser uma

simples provedora de fast food (basicamente pizzaria

com entregas em domicílio) para rumar a ser um

restaurante e cantina de teor franco-italiano. A origem

da Di Piu, que iniciou suas atividades anteriormente

ao governo do Presidente Lula, enxergava na

competição de preço um forte elemento de seu

posicionamento, apesar de não ter ofertado um preço

de entrada no mercado, e sim, ter tentado se colocar

como uma empresa de qualidade ligeiramente

superior aos demais concorrentes, focado em

vários pontos de vendas e ganhos de escala. Essa

foi a principal razão da separação da sociedade e o

motor do reposicionamento da Originale, buscando

se posicionar mais como restaurante, e com um

subsequente valor maior de ticket médio por cliente.

O boom dos cursos de chef de cozinha e o interesse

pelo tema gastronomia também funcionaram para

dar propulsão à busca deste objetivo. Surge uma

visão de busca pela perenidade no exigente mercado

curitibano, ao se pretender seguir o modelo de casas

altamente tradicionais da cidade como Scavollo,

Pamphylia e Spaghetto, por meio da oferta da

maior qualidade pelo menor preço possível (melhor

custo-benefício). Outro benchmark importante a ser

citado é o Restaurante Ráscal, de São Paulo, que

busca proporcionar a aproximação entre a cozinha

e o cliente para uma maior integração e satisfação

gastronômica.

O cardápio evoluiu para abranger pratos tais

como carnes, aves e peixes, além de massas mais

elaboradas do que as simples pizzas, lasanhas e

nhoques anteriormente ofertados. Foi estabelecida

uma nova metodologia de busca de padronização e

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excelência dos pratos ofertados, e foram elaboradas

pesquisas de satisfação do consumidor para apoiar

na consolidação deste processo. Outro ponto

decisivo para a escolha dessa oferta de pratos mais

elaborados foi pautada no fato da casa utilizar

garçons em vez de atendentes, que possuem mais

técnica ao servir, o que poderia ser explorado ao se

buscar ofertar mais opções ao cliente Originale e,

simultaneamente, obter um maior ticket médio por

cliente. O posicionamento mais elaborado também

exigiu sacrifícios, como a extinção de panfletagens

locais e também de promoções antigas de pontos

cumulativos (para troca por pizzas ou refrigerantes

gratuitos) e de indicações de porteiros de prédios da

região, sendo que as únicas promoções que ocorrem

são mais refinadas, como a de segunda-feira, com

vinho à luz de velas (focando casais) e de terça-feira,

com pedido especial de pizza (uma gigante ou duas

grandes) dando direito a uma sobremesa gratuita,

visando fortalecer o movimento nestes dias. O fator

preço foi outro que se beneficiou da vinda dos novos

concorrentes à região, uma vez que o alto nível deles

valorizou a importância do produto da Originale, que

pode ser considerado relativamente mais barato do

que os dos concorrentes como Bresser, Abaré, Baggio

e até mesmo da Di Piu, apesar de não apresentar

uma qualidade inferior a eles em termos de opções,

ingredientes e sabor. A inserção de pratos à la

carte se mostrou uma decisão acertada, já que hoje

responde por 30% do faturamento total da empresa,

contra 70% da pizzaria, que ainda permanece sendo

o carro-chefe do empreendimento.

4.6 Demais Diferenciais

Um dos pilares da estratégia de reposicio-

namento da Originale está, de certa forma, pauta-

da no seu próprio nome: a busca em ser original

para impressionar o seu cliente. Além dos pontos

já citados nos outros itens, certos aspectos tam-

bém merecem ser destacados. O primeiro deles

é a completa reelaboração da carta de vinhos da

casa, a partir da adoção e oferta de vinhos espe-

ciais nacionais. A ideia surgiu a partir de uma visi-

ta dos proprietários a vinícolas da Serra Gaúcha,

onde constataram a altíssima qualidade de certos

produtores, cujos vinhos de tipo exportação são

praticamente desconhecidos em Curitiba. Isto au-

xilia na criação de cultura gastronômica no clien-

te e no ganho de imagem da empresa, pois seria

mais fácil e lucrativo apostar em vinhos chilenos e

argentinos populares, mas a Originale optou por

até sacrificar parte de sua receita em nome do seu

posicionamento desejado. O fato de a expansão

de cardápio também apresentar carnes, aves e

massas diferenciadas também auxiliou nesta con-

solidação do vinho nacional de qualidade como

diferencial de pioneirismo no segmento na cidade.

Outro diferencial desenvolvido foi a criação

do cardápio vegan (completamente vegetariano,

sem a utilização de nenhuma substância animal, tais

como ovos e leite), tendência de mercado em busca

de vida mais saudável e da redução do consumo de

carne. Os cinco pratos desenvolvidos neste sistema

atraíram uma clientela específica de pessoas volta-

das para o consumo vegetariano, e chegou a con-

templar uma menção em uma conceituada revista

de gastronomia como referência nesta área, sendo

o único restaurante franco-italiano a apresentar tal

tipo de opção para seus clientes na cidade.

Prosseguindo na busca de diferenciais criati-

vos, a Originale também desenvolveu uma oferta de

diversas cervejas especiais, tais como Paulaner, Er-

dinger e Murphy’s, entre outras (mais uma tendência

atual do mercado gourmet) para harmonizar com

seus pratos, e está iniciando também a comercializa-

ção de águas minerais premium, tais como San Pel-

legrino, Acqua Panna e Perrier, outra nova tendência.

Café expresso e biscoitos artesanais também são

ofertados aos clientes após as refeições.

E, finalizando o desenvolvimento de dife-

renciais originais, no momento, está se institucio-

nalizando a disponibilização para seu público de

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um de drinks especiais como Manhattan, Sex On

The Beach etc., no lugar de bebidas tradicionais,

também focando no aumento do valor médio con-

sumido na casa.

Considerações Finais, Limitações e Recomendações

O presente sucesso da Originale e sua longe-

vidade em um mercado onde o índice de mortali-

dade de novas empresas é tão alto são indicativos

do acerto na sua política de reposicionamento. As

divergências de visões que originaram a separação

societária que implicou na criação da Originale refle-

tem a primeira constatação e recomendação oriunda

do presente estudo: em certo momento, houve uma

bifurcação de caminhos empresariais, em que um

lado optou pelo posicionamento original mais volta-

do à atuação como fast food e pizzaria, orientada

ao atendimento de massa via delivery, com vistas ao

ganho em escala (Di Piu) e o outro lado, por sua vez,

optou por desenvolver um novo posicionamento

mais elaborado, rumando para uma atuação mais di-

versificada, como um restaurante com mais opções

de pratos e com vistas a um ganho incremental so-

bre o consumo de cada cliente (Originale).

A recomendação aqui seria para novos es-

tudos que pudessem apontar os benefícios e as

desvantagens de cada opção dentro do mercado

curitibano, por exemplo, o que poderia resultar em

interessantes análises. Outro ponto conclusivo do

estudo foi que a Originale soube muito bem admi-

nistrar a questão da mudança proporcionada pela

economia nos últimos governos, bem como a ocor-

rida localmente em seu reduto de atuação, fazendo

a casa focar em novos clientes de crescente poder

aquisitivo, mas que valorizam seu dinheiro e estão

sempre em busca da melhor relação custo-benefício,

ao mesmo tempo em que, às vezes, não se sentem

tão à vontade em estabelecimentos considerados

mais sofisticados.

Desta maneira, a Originale busca obter os be-

nefícios de sua refinada concorrência, sem incorrer

no erro de querer disputar posição, o que poderia ar-

ranhar sua imagem e performance. Ao absorver a de-

manda não trabalhada por seus vizinhos, a Originale

também começa a criar novos clientes, atualmente

de todas as partes da grande Curitiba. E também

cria clientes cativos, ao prestar atenção a detalhes,

por exemplo, e trabalhar para desenvolver diferen-

ciais únicos e criativos. A busca por um aumento do

ticket médio por cliente (em função de suas limita-

ções físicas) impulsionou a imagem da empresa, ao

também demandar mudanças significativas em pro-

cessos e produtos, assim a percepção dos clientes

acompanhou a evolução do novo posi cionamento,

fato que, também a título de recomendação, poderia

se buscar comprovar via pesquisas.

Ao investir cada vez menos em mídias

tradicionais, a Originale parece estar na contramão

de seu principal objetivo no momento, que é tornar

seu nome cada vez mais forte e reconhecido na

região. Para isto, o que poderia ser uma boa opção

seria a abertura de uma nova casa ou a criação de

um sistema de franquias, por exemplo. Porém, ao

optar por permanecer como a empresa que capta

os clientes excedentes do polo que se desenvolveu

ao seu redor, além de contar com as indicações de

seus habitués, aumentar sua clientela não é difícil,

ao ofertar bom preço, combinado a qualidade. A

visão da empresa é que o mercado é dinâmico,

devendo-se acompanhá-lo, especialmente se já se

sabe qual é a posição pretendida no mesmo e se

deseja consolidá-la.

Fechando estas conclusões, vê-se como prin-

cipal limitação deste estudo de caso a sua dificulda-

de de validação externa deste estudo de caso, em

função das especificidades da empresa, do contexto

e do momento histórico, apesar de que as constata-

ções e ideias aqui aventadas e discutidas possam ser

de grande utilidade para estabelecimentos similares

em Curitiba ou outros lugares que também desejem

reorientar seu posicionamento estratégico.

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• Recebido em: 04/04/2013

• Aprovado em: 15/06/2013

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Valor do cliente – estudo do mercado de operadoras de telefoniaCustomer value – market study of telephone operators

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Eliane Cristine Francisco-Maffezzolli1

Paulo de Paula Baptista2

Richard Schwarz3

Wesley Vieira da Silva4

Resumo

Qual o valor real de um cliente? Apesar de existirem divergências com relação à própria conceituação

da expressão “valor do cliente”, o conhecimento de quanto cada um deles efetivamente vale para uma

empresa pode ser uma poderosa ferramenta na definição das estratégias empresariais. A relevante

importância social e o acelerado crescimento do segmento de telefonia celular no Brasil nos últimos

anos o elegem como importante campo de estudos para este tema. Para isto, o que se procurou neste

estudo foi investigar se haveria uma correlação estatística entre o aumento da base total de assinantes

de duas das maiores operadoras do país, Vivo e TIM, e seus respectivos valores acionários e de mercado,

no período compreendido entre 2006 e 2010. Também se procurou criar índices preditivos a partir

das possíveis correlações, através de cálculos de regressão linear. As correlações foram verificadas,

porém de forma intensa e positiva para a Vivo, enquanto que de forma mais suave e negativa para a

TIM, o que leva à conclusão de que efetivamente existe relação entre as variáveis, mas outros fatores

estratégicos também contribuem de forma significativa para aumentar o valor de uma operadora, além

do crescimento de sua base de clientes.

Palavras-chave: Marketing. Valor. Cliente. Telefonia Celular.

Abstract

What is the real value of a customer? Although there are even divergences about the real concept of

“customer value”, the knowledge of how much each one is worth for a company may be a powerful

tool in the definition of organization strategies. The relevant social importance and the fast growth

of the cellular telephony segment in Brazil during the last years elect it as the perfect field study for

this theme. For this, what this study wanted was to investigate if there would be a statistic correlation

between the raise of the total customer basis of two of the country´s largest operators, Vivo and TIM,

and their respective actions and market values, during the period comprehended between 2006 and

2010. It was also the intent here to try to create predictive indices from these possible correlations,

through linear regression analysis techniques. The correlations were verified, but in an intense and

positive form for Vivo, while in a negative and softer way for TIM, which leads to the conclusion that,

although there are effective relations between the variables, other strategic factors also contribute in a

significant way to raise the value of a telephony company, besides the growth of its base of customers.

Keywords: Marketing. Value. Customer. Mobile Telephony.

1 Doutora em Administração pela UFPR. Professora adjunta do PPAD – PUCPR. E-mail: [email protected] Doutor em Administração pela USP. Professor adjunto do PPAD – PUCPR. E-mail: [email protected] Mestre em Administração pela PUCPR. Consultor empresarial especializado em Marketing, Comunicação,

Planejamento Estratégico e Desenvolvimento de Negócios. E-mail: [email protected] Doutor em Engenharia de Produção pela UFSC. Professor titular do PPAD – PUCPR. E-mail: [email protected].

Valor do cliente – estudo do mercado de operadoras de telefoniaCustomer value – market study of telephone operators

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Introdução

Clancy e Shulman (1994) iniciam seu livro

Mitos do marketing que estão matando seus ne-

gócios com um divertido cartum em que um men-

digo, em um banco de praça, diz a outro que “ia

muito bem – um bom escritório, carro da empre-

sa, sala de refeições executiva – quando eles atre-

laram meu salário ao retorno que eu conseguiria

para o orçamento de marketing”. Os autores con-

cluem sua obra afirmando que mais da metade

dos gerentes indagados por pesquisas recentes

não acreditam que a maioria dos programas de

marketing produza retorno sobre investimentos.

Os motivos seriam a errada opção por mitos, pal-

pites e esperanças, porque o marketing é muito

mais ciência do que arte, existindo atualmente

cada vez mais dados e instrumentos que possibili-

tam aumentar drasticamente a taxa de sucesso de

uma empresa. E um dos mistérios relativos a este

sucesso seria: quanto realmente vale um cliente?

Esta deve ser uma das perguntas mais importantes

do marketing e, simultaneamente, também uma

das mais difíceis de responder, pois este conhe-

cimento pode representar toda a diferença entre

perdurar ou perecer para uma empresa. Mesmo

assim, as organizações operam com diferentes in-

dicadores, avaliações e índices, muitas vezes até

sem qualquer cientificidade ou critério racional,

tentando sempre estimar o potencial valor de um

cliente para sua operação, para poder estabelecer

suas estratégias.

O mercado brasileiro de telefonia celular

constitui um excelente campo de estudos para

este tema. A forte competitividade, que se

traduz na busca dos clientes, tem se acentuado

cada vez mais a partir da formação de grandes

grupos de telecomunicações móveis, com bases

consolidadas de milhões de clientes. Além disso,

recentemente, o Brasil rompeu a barreira de 100%

de penetração de telefonia celular (mais de um

aparelho celular por habitante, com 107 telefones

para cada grupo de 100 habitantes), superando

até mesmo os Estados Unidos (com 102 celulares

para cada 100 habitantes), de acordo com os

dados da consultoria internacional Wireless

Intelligence (divulgados pelo portal especializado

em telecomunicações IDG Now!), demonstrando

que o país é efetivamente um dos maiores (e mais

desejados) mercados mundiais do setor.

Tais fatos demonstram que esta ferrenha

competição apenas tenderá a se acirrar, pois as

operadoras agora terão que tirar clientes de suas

concorrentes, já que o mercado está se tornando

cada vez mais escasso e disputado.

Diferentemente de outras conceituações

que definem o valor do cliente como a soma

do que ele pode gastar com uma empresa, esta

análise procura relacionar diretamente, e de

forma estatística, o quanto a entrada de um novo

cliente afeta o valor de mercado percebido desta

empresa, bem como quais seriam as tendências

estatísticas de crescimento ou redução das bases

de clientes e valores de mercado das principais

operadoras do país para os próximos períodos.

Em busca destas respostas, foram analisadas as

evoluções das bases de clientes e dos resultados

na Bolsa de Valores e de valor de mercado das

operadoras Vivo e TIM, no período compreendido

entre 2006 e 2010.

Em termos teóricos, a mensuração é um dos

grandes aliados dos administradores na mo derna

tomada de decisão. Farris et al. (2007) enfatizam

que, provavelmente, nenhuma métrica é perfeita,

recomendando que os profissionais de marketing

utilizem “painéis” de métricas combinadas, poden-

do visualizar de forma mais ampla as dinâmicas de

mercado e utilizando uma medição para verificar as

outras, minimizando os possíveis erros cometidos e

maximizando a precisão de seu conhecimento. Por-

tanto, quanto mais apurada for a métrica com que

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uma empresa consiga avaliar a representatividade

real de um cliente frente ao seu empreendimento,

mais confortável, segura e embasada tenderá a ser

a tomada de decisão de seus administradores.

Um dos maiores problemas em uma sociedade moderna

resulta do fato de que muitos dos conceitos que medem

o estado de assuntos importantes ou são conceitos inven-

tados e longe da intuição ou são tratados por ferramentas

estatísticas complexas e igualmente discrepantes da intui-

ção e do senso comum. (CASTRO, 2006, p. 118)

Em termos práticos, o aumento da base de

clientes é essencial para o desenvolvimento das

operadoras por permitir o aumento de suas receitas

totais e ganhos de escala na manutenção de suas

bases (ao dividir os custos de atendimento, por

exemplo). Também por reforçar o apelo publicitário

e de comunicação, pois atua na percepção de

qualidade dos seus prospects e pode influenciá-

los, ao divulgar quantas pessoas estão optando

pelos seus serviços, por exemplo. Acrescida a

estas possibilidades, a criação de um indicador

que relacionasse o quanto a entrada de um novo

cliente reflete diretamente no valor de mercado

da empresa se mostra interessante por simplificar

e facilitar as análises gerenciais sobre o retorno de

seus investimentos.

Constata-se também que a telefonia celu-

lar é extremamente importante para o Brasil por

ser a principal responsável pelo desenvolvimento

das telecomunicações na última década, princi-

palmente em função da forte concorrência que

se estabeleceu no segmento. Em quinze anos de

presença no Brasil, a partir do início da década de

1990, o número de telefones celulares ultrapas-

sou o de telefones fixos, representando uma das

mais altas taxas de crescimento no mundo. Se-

gundo a Pesquisa Nacional de Amostra de Domi-

cílios (IBGE – PNAD, 2009), divulgada no site es-

pecializado Teleco, 31% dos domicílios brasileiros

possuíam telefone celular e 51% tinham telefone

fixo em 2001. Este quadro se inverteu a partir de

2004, sendo que, em 2009, 78,5% dos domicílios

possuíam aparelho celular, contra apenas 43,1%

com telefone fixo. Além disso, não podemos es-

quecer o enorme benefício que o telefone celular

pode representar às camadas menos favorecidas

da população, pois, em 2009, entre os domicílios

com renda inferior a dez salários mínimos, 76,6%

possuíam telefone celular e somente 38,3%, te-

lefones fixos. Este fator se deve provavelmente

à atratividade do sistema pré-pago da telefonia

celular para as famílias de menor renda, além dos

incomensuráveis benefícios agregados ao servi-

ço como mobilidade, serviços de dados, internet

móvel e recursos dos aparelhos (fotografias, ví-

deo, música, music players etc.).

Analisando o quadro competitivo das ope-

radoras celulares no Brasil, fica ainda mais evidente

a importância de se conhecer o valor de seu clien-

te, em função da distribuição do marketshare no

final de 2010, pois 99,7% (202.230.517 usuários)

do mercado atual estavam em poder de apenas

quatro operadoras, e com uma distribuição relati-

vamente equilibrada: Vivo (29,7%), Claro (25,4%),

TIM (25,2%) e Oi (19,4%), de acordo com os dados

O aumento da base de

clientes é essencial para

o desenvolvimento das

operadoras por permitir o

aumento de suas receitas

totais e ganhos de escala

na manutenção de

suas bases.

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184

destas colocações, feitas por uma das maiores

referências mundiais no assunto, verifica-se que é

muito importante para a organização de sucesso

estabelecer parâmetros válidos para avaliar o valor

de seu cliente.

2 Valor do Cliente

Rust, Zeithaml e Lemon (2001, p. 16) definem

valor do cliente de uma empresa como o total dos

valores de consumo do cliente ao longo de seu ciclo

de consumo, naquela empresa. Os autores pontuam

que este valor, embora não represente o valor

total da empresa (que também compreende seus

ativos físicos, suas competências e propriedade

intelectual), é o componente mais importante

do seu valor total. Isto ocorre porque os clientes

existentes são simplesmente a fonte mais certa e

confiável de receitas futuras e a administração de

seus valores é vital para a tomada de decisões,

podendo resultar em significativa vantagem

competitiva em seu segmento. Esta é uma era em

que profundas mudanças estão acontecendo, de

forma cada vez mais rápida e irreversível e com o

acelerado desenvolvimento tecnológico, produtos

vêm e vão, mas os clientes permanecem. Por

isso, a gerência está historicamente mudando seu

foco do valor de marca para o valor do cliente

(RUST et al., 2001). Isto é importante também

para compreender o momento de crescimento

econômico do Brasil, pois as classes econômicas

de menor poder aquisitivo estão tendo acesso a

bens que, anteriormente, encontravam-se fora de

seu alcance de consumo. E as empresas brasileiras

terão que entender e se adaptar rapidamente a

esta nova realidade, especialmente aquelas de um

mercado tão dinâmico e competitivo quanto o

das telecomunicações móveis, em que cada novo

cliente é altamente valioso e, justamente por isso,

extremamente disputado.

oficiais do site da Agência Nacional de Telecomu-

nicações (Anatel). E com a penetração superando

100%, todas disputam praticamente os mesmos

clientes (variando apenas em função de sua atu-

ação geográfica). Desta forma, em um cenário

que tende a se tornar cada vez mais competitivo

e difícil, quanto mais informações sobre o valor do

cliente se tiver em mãos, mais facilmente os gesto-

res poderão tomar suas decisões estratégicas.

1 Organizações e Resultados

Segundo Kotler (2009), o marketing reali-

zado com qualidade demanda pesquisa cuidadosa

sobre a oportunidade no mercado e a preparação

de estimativas financeiras baseadas na estratégia

proposta que indiquem se os retornos atenderiam

os objetivos financeiros da empresa. O autor

aponta que os mercados se caracterizariam por

abundância de fornecedores e marcas, existindo

uma escassez de clientes, e não de produtos, e

afirma que, devido ao esforço de aquisição de

novos clientes, as empresas precisam analisar se

o Custo de Aquisição do Cliente (CAC), ou seja, o

investimento realizado para a conversão daquele

cliente será coberto pelos “Lucros no Ciclo de

Vida do Cliente” (LCVC), ou seja, o lucro total que

aquele mesmo cliente proporcionará à companhia.

Outro dado importante citado por Kotler, a partir

de uma pesquisa do Technical Assistance Research

Program (TARP), é que o custo incorrido para

atrair um novo cliente é cinco vezes maior que o

custo para manter um cliente fidelizado, e destaca

que é necessário para as empresas estimar o custo

da perda dos clientes (KOTLER, 2009). O autor

acredita que uma empresa não vale mais do que

o valor vitalício de seus clientes, e que o ideal do

marketing é conhecer tão bem seu cliente-alvo

que as barreiras para sua conversão deixassem

de existir, a ponto de até se poder dispensar o

seu esforço de vendas (KOTLER, 2003). A partir

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Rust et al. (2001) estabelecem que, neste

momento de transição destas tendências, o valor

do cliente é dinâmico e para competir no futuro, as

empresas precisam cada vez mais focar em seus

clientes, devendo, em conjunto, observar se seus

principais concorrentes também buscam fazer o

mesmo. Este mesmo raciocínio de que o foco das

empresas deve passar do interno para o externo

é colocado por Day (2011), pois, em uma era tão

turbulenta e competitiva, somente as organizações

com qualificações superiores para compreender,

atrair e reter clientes poderão criar estratégias

para oferecer mais valor aos seus consumidores

e, desta maneira, alinhar-se com as mutáveis

exigências do mercado. O autor também assinala

que estas empresas são as capazes de identificar

e alimentar seus clientes valiosos e que não têm

medo de desencorajar os clientes que drenam

seus lucros, por sua inconstância e por ser caro

demais atendê-los. Estas tendências vêm cada vez

mais se confirmando, com o aumento do número

de promoções diferenciadas pelas operadoras,

especialmente voltadas aos clientes de maior

consumo de telefonia e serviços móveis agregados

(os chamados heavy users), inclusive chegando a

realizar ofertas de aparelhos celulares gratuitos,

desde que condicionados à permanência do cliente

na base da operadora por um determinado período.

3 Valor do Cliente versus Valor para o Cliente

Day (2011) afirma que, de cadeias de valor

(fluxo de processos unilateral passando das

empresas para os clientes), atualmente se passa

a ciclos de valor (processo bilateral de reforço

contínuo, com as empresas interagindo com os

clientes, definindo, desenvolvendo e entregando

valor e recebendo seus feedbacks, em uma

construção contínua). Colocações como esta

ajudam a compreender a relação entre o valor do

cliente (o que ele representa para a empresa) e

o valor percebido pelo cliente (o que a empresa

representa para o cliente), conceitos distintos,

porém profundamente interligados e dependentes.

A empresa somente perdura se os clientes

acreditarem na proposta de valor da mesma e

consumirem seus produtos e serviços em vez dos

da concorrência e eles (os clientes), por sua vez,

acabam se constituindo no principal valor (ativo)

para a organização.

Gale (1996) define valor do cliente como a

qualidade percebida pelo mercado ajustada pelo

preço relativo de seu produto, conceituação que

se aproxima daquela do valor percebido pelo

cliente, de Day (2011). Esta distinção (e possível

confusão) também foi abordada por Leão e Mello

FONTE: Rust et al. (2001)

QUADRO 1 – Tendências a longo prazo

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186

(2008), que enunciam três conceitos de valor

associados a clientes: o primeiro é relacionado

ao custo e benefício, ou seja, a diferença entre

os valores que o cliente obtém (benefícios

funcionais e subjetivos) comprando e usando

um produto e os custos (dinheiro, esforço, custo

físico ou psíquico) de que ele dispõe para obter

este produto. O segundo, relativo às métricas de

marketing, refere-se ao valor que um indivíduo

tem para uma organização, durante toda a sua

vida útil enquanto cliente. E o terceiro, baseado

na psicologia social, aborda o aspecto do valor

relativo à existência humana em suas relações

sociais, assumindo que as pessoas alcançam seus

valores pessoais por meio de ações específicas,

dentre elas, o consumo. Os problemas relativos

à definição destes conceitos começam pela

própria terminologia adotada, na tradução dos

originais para a língua portuguesa. Em inglês,

enquanto o segundo conceito é chamado de

customer equity ou lifetime customer value, o

primeiro e o terceiro são ambos chamados de

customer value. Se o primeiro conceito aparece

agora como valor para o cliente (até mesmo nos

manuais de marketing), é a vez de os outros dois

serem apresentados com um mesmo nome: valor

do cliente. A terminologia de “valor do cliente”,

relativa ao segundo conceito, surgiu na tradução

do livro de Rust, Zeitham e Lemon (2001). Por sua

vez, a terminologia de “valor do cliente”, relativa

ao terceiro conceito, foi sugerida por Leão e Mello

(2008, p. 39), sob o argumento de “que se se

discutem os valores relativos aos próprios clientes,

então estes só podem ser do cliente”. Resumindo

e esclarecendo, temos as seguintes definições: (1)

“Valor para o cliente” – valor(es) da empresa para

o cliente; (2) “Valor do cliente” – valor do cliente

para a empresa e (3) “Valor do cliente” – valores

pessoais e íntimos do cliente. Cada definição

tem sua área, momento e contexto próprios de

aplicação. O item abordado no presente estudo,

neste caso, refere-se então ao segundo conceito

apresentado por estes autores.

O marketing é uma arte sutil, que demanda

sensibilidade para avaliar sua efetividade. Clancy

e Shulman (1994) afirmam que não se dispõe de

instrumentos para se medir o marketing, como

os que possuímos para medir a velocidade de

um furacão ou a intensidade de um terremoto.

Farris et al. (2007) dizem que o marketing, apesar

de sua importância, é uma das funções menos

compreendidas e mensuráveis das empresas,

chegando a representar, somado aos custos da

área de vendas, 10% ou mais dos orçamentos

operacionais, em uma imensa quantidade de

organizações. Por isso, eles sugerem a utilização

de diferentes formas de mensuração em conjunto,

para aumentar a precisão e o conhecimento a

respeito de seus mercados. Farris (2007, p. 164),

inclusive, define Valor de Duração do Cliente (VDC)

como o “valor atual de fluxos de caixa futuros

atribuídos ao relacionamento com o cliente”,

alinhado com o conceito já anteriormente citado

de Kotler (2009), de Lucros no Ciclo de Vida do

Cliente (LCVC). Um dos principais usos do valor de

duração do cliente seria subsidiar decisões sobre

a prospecção, segundo os autores, pois somente

com uma completa compreensão de como se

dará seu relacionamento financeiro com o cliente

recém-adquirido é que a empresa poderá tomar

uma decisão embasada, econômica e realista

quanto aos custos totais que serão necessários

para promover sua aquisição.

O marketing é

uma arte sutil, que

demanda sensibilidade

para avaliar sua

efetividade.

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R e v . F A E , C u r i t i b a , v. 17, n. 1, p. 180 - 197, jan./jun. 2014187

4 Metodologia de Pesquisa

4.1 Caracterização da Pesquisa

Apesar de este artigo demonstrar possíveis

pontos de relação com a pesquisa descritiva e

explicativa, trata-se de, fundamentalmente, de um

estudo exploratório (de acordo com seu objetivo)

e documental/não experimental (de acordo com a

sua coleta de dados), de teor quantitativo (na busca

de representatividade estatística) e longitudinal

(de acordo com a classificação temporal). Também

apresentou uma pequena fase bibliográfica (apenas

para a sua contextualização e para a elaboração de

seu referencial teórico).

As unidades de análise serão as operadoras

de telefonia celular do mercado brasileiro. Como

o seu valor de mercado também pode ser

influenciado por outras variáveis que não somente

o aumento de clientes, o foco do presente estudo

será apenas verificar se existe correlação estatística

especificamente entre a variação/crescimento

destas duas variáveis. O método científico utilizado

para esta investigação será o hipotético-dedutivo,

definido por Lakatos e Marconi (2001, p. 106)

como aquele “que se inicia pela percepção de uma

lacuna nos conhecimentos, acerca da qual formula

hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva,

testa a predição da ocorrência de fenômenos

abrangidos pela hipótese”.

4.2 População e Amostra

A amostra selecionada é composta por duas

das principais operadoras atuantes no Brasil: a Vivo

(controlada pela espanhola Telefónica e composta

pelas subsidiárias Telesp, Tele Sudeste, Tele Leste e

CRT) e a TIM (controlada pela italiana Telecom Itália

Móbile e composta pelas subsidiárias TIM Sul, TIM

Maxitel e TIM Nordeste). A população considerada

seria o conjunto de todas as operadoras celulares

do Brasil até 2010, que são, além destas, a Claro

(controlada pelo grupo mexicano América Móvil

e composta pelas subsidiárias Americel, ATL, BCP

Nordeste, Claro Digital e Tess), a Oi (controlada

pela portuguesa Portugal Telecom com outros

sócios e que agora engloba as antigas Telemar,

Brasil Telecom e Amazônia Celular) e as menores

CTBC, Sercomtel e Unicel (Aeiou).

Estas duas empresas (Vivo e TIM) foram

escolhidas por seu tamanho e relevância no país e

no segmento, pois somadas representam mais de

55% do mercado, em termos de número atual de

clientes. E a tendência de crescimento de todos estes

grandes players ainda deverá impactar e intensificar

a absorção de operadoras menores pelas maiores.

Optou-se apenas por excluir as duas outras maiores

operadoras (Claro e Oi) do estudo por limitações

que serão descritas a seguir, e as operadoras

menores também não foram consideradas para a

análise, pois apresentam maiores flutuações em

suas bases, além de operarem em reduzidas áreas

geográficas e possuírem menor capacidade de

investimentos e impacto sobre o mercado como um

todo, o que muda (e muito) seu perfil de atuação.

Como a tendência das menores é que sejam

gradualmente absorvidas pelos grandes grupos em

função de sinergias e ganhos de escala, o que já foi

citado anteriormente, optou-se por focar o estudo

apenas nos grupos.

Como foi calculadamente selecionada, de

acordo com critérios previamente estabelecidos para

a busca da otimização dos resultados esperados,

a classificação da amostra é não probabilística

e intencional (ou de seleção racional), que é

definida, de acordo com Richardson (1999, p. 161),

como aquela em que “os elementos que formam a

amostra relacionam-se intencionalmente de acordo

com certas características estabelecidas no plano

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188

e nas hipóteses formuladas pelo pesquisador”. A

hipótese, no caso, é a de que o aumento da base

de clientes de um grupo de telefonia aumentaria

proporcionalmente o valor de sua ação.

4.3 Coleta e Tratamento de Dados

A coleta de dados das bases históricas das

operadoras foi efetuada via a fonte oficial gover-

namental de informações sobre telecomunicações,

o site da Agência Nacional de Telecomunicações

(Anatel). A coleta de dados dos valores históricos

mensais das operadoras se deu via informações do

site oficial ligado ao mercado de ações da Bolsa de

Valores de São Paulo, a Bovespa, extraídos por meio

da utilização da ferramenta eletrônica Economáti-

ca. Ambos os dados são considerados secundários,

devido a sua prévia disponibilização nestas fontes.

O seu tratamento estatístico e analítico foi então

procedido com o auxílio da ferramenta de software

SPSS 17.0, onde se determinou a melhor forma de

se avaliar os dados. Também se utilizou as planilhas

Excel, do Microsoft Office para auxiliar nos cálculos

e análises da hipótese proposta para este artigo. Fo-

ram levantados os dados das variáveis relativos ao

período de 5 anos compreendido entre os anos de

2006 e 2010, pois foi a partir de quando os mesmos

começaram a ser compilados e divulgados oficial-

mente pelo Governo Federal, e com a quantidade de

dados acumulados em 60 meses de evolução já se

possuía volume e relevância para suportar aceitáveis

verificações estatísticas.

Em seguida, foram procedidas análises com

base na estatística descritiva, com a realização de

cálculos de correlação e regressão linear simples. A

modalidade de análise foi a definida por Gil (2008,

p. 163) como bivariada, pois é o caso daquelas

pesquisas que, “mesmo sem definir relações de

dependência procuram verificar em que medida as

variáveis estão relacionadas entre si”. Após a co-

leta, os dados foram devidamente trabalhados, na

sequência de operações que sugerem Lakatos e

Marconi (2001, p. 166): “seleção, codificação e ta-

bulação”, para a posterior análise e interpretação,

cuja eficácia, segundo as autoras, é que “determi-

nará o valor da pesquisa” (LAKATOS, MARCONI,

2001, p. 169). Utilizou-se de Coeficientes de Cor-

relação, como o de Pearson (paramétrico) ou de

Spearman (não paramétrico), que, de acordo com

Vieira (2003), são medidas do grau de associação

ou dependência entre duas variáveis.

4.4 Definição das Variáveis

Com base no referencial teórico buscou-

se responder o seguinte questionamento: existe

uma relação direta entre o crescimento da base

de clientes de uma operadora de telefonia mó-

vel e seu valor de mercado? A hipótese H0

(nula)

era de que não existe uma correlação estatística

entre o crescimento da base de clientes de uma

operadora de telefonia móvel e seus correspon-

dentes valores de mercado e acionário. A hipóte-

se H1 era de que exis te uma correlação estatística

entre o crescimento da base de clientes de uma

operadora de telefonia móvel e seus correspon-

dentes valores de mercado e acionário. Caso H1

fosse comprovada, a intenção complementar do

estudo seria a elaboração de índices de valores

de clientes e de possíveis modelos preditivos de

crescimento para as operadoras.

De acordo com Selltiz (1987, p. 1, grifo do

autor), “construtos são as abstrações que os cientistas

sociais consideram nas suas teorias. Para medir um

construto, precisamos primeiramente identificar uma

variável que represente, de manei ra mais concreta,

abstração”. Partindo desta definição, os principais

elementos considerados no escopo deste projeto (e

que melhor representam estas abstrações) são:

— Construto: o valor do cliente das ope-

radoras de telefonia celular.

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— Variável independente: o número de

cli entes da base das operadoras.

— Variáveis dependentes: o valor das

ações das operadoras na bolsa de

valores e o valor total de mercado da

operadora, segundo o Economática.

— Variável interveniente: a influência do

tamanho da base de clientes no valor

acionário (e no valor de mercado) da

operadora.

4.4.1 Base de clientes

— Definição constitutiva: a base de clientes

é a soma do número total de assinantes

de uma operadora de telefonia móvel,

tanto de clientes de planos pós-pagos

como de pré-pagos. No caso de um

indivíduo possuir dois aparelhos celulares

ou chips de duas empresas, ele será

contado como dois clientes diferentes,

um de cada operadora, pois cada cliente

equivale a uma linha de telefone móvel.

— Definição operacional: a base de clien-

tes de cada operadora celular foi me-

dida através do número total de assi-

nantes (dados secundários) extraídos

da fonte oficial do governo de informa-

ções sobre o setor, a Anatel.

4.4.2 Valor de ação

— Definição constitutiva: o valor da ação é

o valor de transação estipulado para as

cotas das operadoras estudadas e lan-

çadas nas bolsas de valores, de acordo

com a regulamentação, leis e diretrizes

do mercado financeiro nacional. Ação,

segundo definição do site da Bovespa

(2011), seção de Perguntas Frequen-

tes, 2 – Mercado de Ações, é “um título

nominativo negociável que representa,

para quem a possui, uma fração do ca-

pital social de uma empresa, significan-

do que este indivíduo é um dos sócios”.

— Definição operacional: o valor das ações

utilizado para a consecução deste estu-

do foram números (dados secundários)

extraídos da Bovespa, sendo escolhidas

para análise as ações do tipo PN, deno-

minadas “Preferencial Nominal” e que

priorizam o foco de seu proprietário no

retorno sobre o seu investimento.

4.4.3 Valor de mercado

— Definição constitutiva: o valor de mer-

cado de cada operadora é o valor total

em reais estipulado para cada empre-

sa, em função de todos seus ativos,

operações e patrimônios.

— Definição operacional: o valor de merca-

do das operadoras estudadas é a conso-

lidação de seu total patrimonial, calcula-

do e compilado pela área de Indicadores

de Mercado do software Economática.

Foi agregado à análise do valor da ação

de cada empresa no sentido de buscar

enriquecer as análises deste estudo.

5 Apresentação e Análise de Dados

A análise se inicia com os dados da

operadora Vivo. Após a obtenção da sequência

de 60 meses (5 anos) da evolução da base de

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clientes da operadora a partir do site da Anatel, extraiu-se também da base do Economática as suas ações de

classificação PN 4, com fechamento mensal na Bolsa de Valores de São Paulo. Também se procedeu a análise

de um dos Indicadores de Mercado do software Economática denominado “Valor de mercado” consolidado,

que será tratado neste artigo como “preço”, nas tabelas em que vier a constar. Ambos são medidos em

moeda nacional brasileira Real (R$), enquanto que a base de clientes é contabilizada pelo número total de

assinantes. De janeiro de 2006 a dezembro de 2010, o valor da ação PN4 da Vivo subiu de R$ 35,87 para R$

48,45, e o número de clientes subiu de 30.005.229 para 60.292.511, dobrando de tamanho e consolidando sua

posição como líder de mercado no Brasil. Isto resultou no seu valor de mercado total (“preço”) praticamente

quadruplicado (!) de R$ 6,98 bilhões para R$ 28,72 bilhões no mesmo período, segundo dados do Economática.

Analisou-se, então, a normalidade de ambas as curvas de dados para a determinação de utilização de testes

paramétricos ou não paramétricos, por meio do software estatístico SPSS Statistics 17.0.

Clientes Ação Preço

rho de

Spearman

Clientes

Coeficiente de Correlação 1,000 ,745** ,629**

Sig. (bicaudal) . ,000 ,000

N 60 60 60

Ação

Coeficiente de Correlação ,745** 1,000 ,890**

Sig. (bicaudal) ,000 . ,000

N 60 60 60

Preço

Coeficiente de Correlação ,629** ,890** 1,000

Sig. (bicaudal) ,000 ,000 .

N 60 60 60

** Correlação é significante ao nível de 0.01 (bicaudal).

FONTE: Os autores (2011)

TABELA 2 – Resultado de testes de correlação para dados da operadora Vivo

Kolmogorov-Smirnova Shapiro-Wilk

Estatística DF Sig. Estatística DF Sig.

Clientes ,177 60 ,000 ,884 60 ,000

Ação ,079 60 ,200* ,979 60 ,404

Preço ,181 60 ,000 ,921 60 ,001

a. Correção de Significância Lilliefors

* Este é um limite inferior da significância real.

FONTE: Os autores (2011)

TABELA 1 – Resultado de testes de normalidade para dados da operadora Vivo

Analisando os resultados da TAB. 1, percebe-se que somente a sequência de dados relacionada

ao valor de “ações” teria uma distribuição normal, com nível de significância acima de 0,05 (0,2 e 0,404,

respectivamente), sendo as demais distribuições não normais. Dessa forma, optou-se por uma posterior

avaliação de teor não paramétrico, utilizando-se para isto o Coeficiente de Correlação de Spearman, conforme

se pode verificar na TAB. 2.

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Usando a fórmula, verifica-se que, para chegar ao valor patrimonial total de R$ 30 bilhões, a Vivo

deveria atingir o total de 82.055.699 clientes. Também se calcula que, ao atingir a marca de 100 milhões de

clientes, seu valor patrimonial estimado seria aproximadamente de R$ 35.854.400.000.

ModeloCoeficientes Não Padronizados Coeficientes Padronizados

T Sig.B Erro Padrão Beta

1(Constante) 11,471 2,888 3,972 ,000

Clientes 5,377E-7 ,000 ,717 7,823 ,000

a. Variável Dependente: ação.

TABELA 3 – Resultado de Testes de Regressão Linear para Operadora Vivo

FONTE: Os autores (2011)

Valor da Ação Vivo = 11,471 + 5,377E-7 x (Número de Clientes Vivo)

Valor do Preço Vivo = 3,229E9 + 326,254 x (Número de Clientes Vivo)

Estudando-se os resultados obtidos após o

teste de Correlação de Spearman e expostos na

TAB. 2, rejeita-se a hipótese nula de não correlação

e se percebe que existe correlação entre os dados

devido ao valor calculado para os Sig. (todos

zero) para um nível de significância de 0,01. Desta

forma, verifica-se que o nível de correlação entre

o número de clientes e o valor da ação da Vivo é

positivo e intenso, com o valor de 0,745, ou seja,

74,5% de influência do crescimento do número de

clientes sobre o aumento do valor final da ação.

Também é positiva a correlação entre a base de

assinantes e o valor patrimonial da empresa, apesar

de apresentar menor intensidade, com índice de

0,629, significando 62,9% de influência do aumento

do número de clientes sobre o crescimento do

valor de mercado indicado da empresa.

A partir destes resultados, e comprovada,

como se desejava, a correlação entre as variáveis,

buscou-se então, por meio de um modelo de

regressão linear, estabelecer uma fórmula preditiva

integrada para a evolução da base de assinantes

e o crescimento do valor da ação da operadora

Vivo. Procedendo-se a esta construção também

no software estatístico SPSS, chegou-se aos

resultados elencados na TAB. 3.

Utilizando os dados aqui obtidos, a fórmula preditiva integrada entre valor de ação e número de clientes

para a operadora Vivo se constitui, então, na seguinte:

Aplicando a fórmula, é possível gerar interessantes visualizações: por exemplo, para chegar ao valor de

R$ 50,00 cada ação, a Vivo deveria amealhar 71.655.198 clientes, aproximadamente 19% a mais do que possuía

em dezembro de 2010. Também se calcularia que, ao atingir a marca de 100 milhões de clientes, sua ação

deveria estar cotada a R$ 65,24, sendo que, em dezembro de 2010, cada ação sua valia R$ 48,45, segundo a

Bovespa.

A fórmula para a previsão do valor de mercado (“preço”) seria:

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192

Com relação à operadora TIM, um fato de início já chama a atenção: diferentemente da Vivo, o valor da sua

ação PN TCSL 4 caiu no período investigado, apesar de sua base de clientes ter aumentado consideravelmente.

Em resumo, as ações desceram de R$ 7,00 a R$ 5,35, ao passo que o número total de clientes mais que dobrou,

passando de 20.512.073 a 51.027.625, representando 25,14% do total de usuários de celulares do país no final de

2010. Isso gera uma disputa, palmo a palmo, da vice-liderança nacional com a Claro, que possui, por sua vez,

51.637.685 clientes, 25,44% do total do Brasil, no mesmo período. Porém, segundo o indicador de mercado do

Economática, o seu valor de mercado total (“preço”) praticamente dobrou no intervalo estudado, de R$ 7,2

bilhões para R$ 14,7 bilhões. Procedendo-se, a seguir, com a análise da normalidade das curvas de dados para

a operadora TIM, tem-se como resultado os números que são apresentados na TAB. 4.

Kolmogorov-Smirnova Shapiro-Wilk

Estatística DF Sig. Estatística DF Sig.

Clientes ,078 60 ,200* ,970 60 ,141

Ação ,074 60 ,200* ,973 60 ,215

Preço ,109 60 ,073 ,967 60 ,103

a. Correção de Significância Lilliefors.

* Este é um limite inferior da significância real.

TABELA 4 – Resultado de testes de normalidade para dados da operadora TIM

FONTE: Os autores (2011)

Correlações

Clientes Ação Preço

Clientes

Correlação de Pearson 1 -,501** -,382**

Sig. bicaudal ,000 ,003

N 60 60 60

Ação

Correlação de Pearson -,501** 1 ,743**

Sig. bicaudal ,000 ,000

N 60 60 60

Preço

Correlação de Pearson -,382** ,743** 1

Sig. bicaudal ,003 ,000

N 60 60 60

** Correlação é significante ao nível de 0.01 (bicaudal).

TABELA 5 – Resultado de testes de correlação para dados da operadora TIM

FONTE: Os autores (2011)

Observando os resultados da TAB. 4, percebe-se que todas as sequências de dados apresentam

distribuições normais, com níveis de significância acima de 0,05 (0,2; 0,2; 0,073; 0,141; 0,215 e 0,103). Optou-se,

então, por uma posterior avaliação de teor paramétrico, utilizando-se o Coeficiente de Correlação de Pearson,

conforme se pode verificar na TAB. 5.

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ModeloCoeficientes Não Padronizados Coeficientes Padronizados

T Sig.B Erro Padrão Beta

1(Constant) 7,500 ,587 12,782 ,000

Clientes -7,472E-8 ,000 -,501 -4,408 ,000

a. Variável Dependente: ação.

FONTE: Os autores (2011)

TABELA 6 – Resultado de testes de regressão linear para operadora TIM

Valor da Ação TIM = 7,5 - 7,472E-8 x (Número de Clientes TIM)

Valor do Preço TIM = 2,052E10 – 175,656 x (Número de Clientes TIM)

Utilizando a fórmula, pode-se também realizar curiosos exercícios: por exemplo, ao amealhar 71.655.198

clientes (quantidade que a Vivo deveria ter para cada ação sua valer R$ 50,00, como simulado anteriormente),

a TIM teria o valor de cada ação cotado a R$ 2,15, quase vinte e cinco vezes menor. Também utilizando a

fórmula, calcula-se que, ao atingir a marca de 100.374.733 clientes, a ação da TIM valeria zero (!) reais.

Já a fórmula para a previsão do valor de mercado (“preço”) da operadora é:

Por meio da fórmula, verifica-se, surpreendentemente, que quando a TIM atingisse a marca de 116.819.238

clientes, seu valor patrimonial estimado seria de zero (!) reais. Sabe-se que, tanto este valor, como o da ação

acima, de zero reais, não são factíveis, porém apenas uma tendência apontada pela correlação. Estudos mais

aprofundados devem ser feitos a partir destas constatações, como será visto no próximo item.

Estudando os resultados obtidos após o teste de Correlação de Pearson e expostos na TAB. 5, rejeita-se a

hipótese nula de não correlação e se verifica que, de fato, existe correlação entre os dados devido ao valor

calculado para os Sig. (zero e 0,003) para um nível de significância de 0,01. Dessa forma, verifica-se que o

nível de correlação entre o número de clientes e o valor da ação da TIM é, surpreendentemente, negativo e

de média intensidade, com o valor de -0,501, ou seja, 50,1% de influência do aumento do número de clientes

sobre o decréscimo do valor final da ação. Também é negativa a correlação entre a base de assinantes e o valor

patrimonial da empresa, apesar de apresentar menor intensidade, com índice de -0,382, significando 38,2,% de

influência do crescimento do número de clientes sobre a redução do valor de mercado indicado da empresa.

Verificada esta inesperada correlação negativa entre as variáveis, fez-se o exercício, através de um

modelo de regressão linear, de estabelecer uma fórmula preditiva integrada para o aumento da base de

assinantes e a redução (!) do valor da ação da operadora TIM, apenas para efeitos de análise. Procedendo-se

a esta experiência, chegou-se aos resultados exibidos na TAB. 6.

A fórmula preditiva integrada entre o valor de ação e o número total de clientes para a operadora TIM

é a seguinte, então:

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194

Considerações Finais, Limitações e Recomendações

Fica evidente a importância de se salientar

as limitações encontradas no decorrer da

elaboração deste artigo. Inicialmente, este estudo

visava contemplar a análise dos quatro maiores

grupos de telefonia celular do Brasil, Vivo, TIM,

Claro e Oi, responsáveis por mais de 99% dos

clientes do país. A primeira dificuldade foi com a

obtenção dos dados relativos ao crescimento das

operadoras, contornada depois pela obtenção

deles por meio de uma profunda investigação

do site da Anatel, até se conseguir chegar a uma

determinada área de extração de informações

onde se mostrou possível gerar esta evolução para

o período desejado. Porém, outra limitação logo se

apresentou: a aglutinação dos dados da Oi Celular,

englobando as empresas Telemar e Brasil Telecom,

além da não adição dos valores da Amazônia

Celular (adquirida posteriormente) a este grupo;

e da Telemig Celular a Vivo (também adquirida

em seguida). Estes fatores foram corrigidos e

ajustados, de forma a não virem a prejudicar as

posteriores análises, mas então outra dificuldade se

apresentou: as ações de Brasil Telecom e Telemar

se apresentavam separadas na Bovespa, bem

como aglutinadas entre si, no caso da operação

móvel e da operação fixa de cada uma, conjugadas.

Como isto geraria uma distorção nesta análise, por

não englobar operações fixas, apenas as celulares,

optou-se por retirar a Oi da amostra considerada.

Fator semelhante ocorreu com a operadora Claro,

controlada pela América Móvil: suas ações, que

se encontram disponibilizadas apenas na Bolsa

de Valores de Nova York, contemplam operações

de diversos segmentos, incluindo telefonia fixa e

até mesmo negócios do setor de televisão, entre

outros, o que impossibilita a análise direta do

crescimento de seu valor apenas em função da

evolução da base de clientes da marca de telefonia

móvel Claro no Brasil. Desta forma, ficam ambas

como sugestões para possíveis futuros estudos

neste sentido, desde que se torne possível a

obtenção dos dados nos formatos necessários

para atingir tais objetivos.

As principais conclusões a que se chegou a

partir da realização deste estudo foram:

1 - Existe uma correlação entre valor da empresa e

aumento de sua base de clientes.

Apesar de não se desejar correr o risco de

uma possível generalização, e de somente duas

empresas terem sido aqui analisadas, verificou-se

que existe uma forte tendência de ligação entre o

valor da ação de uma empresa e o aumento de seu

número de clientes. Ou seja, não são meros fatores

isolados, aleatórios e independentes. O presente

fato deve ocorrer devido ao acompanhamento da

opinião pública e principalmente dos investidores

sobre o desempenho das operadoras e sua

subsequente busca pelos papéis daquelas que

se apresentam com os melhores prognósticos

de crescimento futuros. Isto ficou mais evidente

no caso da operadora Vivo, cujo crescimento

de base rendeu dividendos aos seus acionistas,

evidenciado a partir de uma forte correlação

estatística verificada. Porém, isto não ocorreu

simplesmente devido ao aumento do número de

seus clientes, mas de uma possível série de fatores

integrados. Mais por menores sobre estes fatores

serão detalhados nos próximos itens conclusivos.

2 - A mera aquisição de clientes não é garantia de

valorização de uma operadora.

Mesmo parecendo contradizer a conclusão

anterior, não é o que acontece. Como se sabia

anteriormente, a partir do estudo da teoria

estatística, a correlação entre duas variáveis não

implica necessariamente em uma relação de

causalidade. Ou seja, apesar do consumidor ser

um ativo estratégico vital para o sucesso de uma

organização, o fato de uma empresa valer mais não

seria decorrente apenas do aumento de sua base

de clientes, pura e simplesmente. Por isso, verificou-

-se que, mesmo a base da operadora TIM tendo

crescido significativamente (cerca de duas vezes

e meia), o valor de suas ações caiu drasticamente

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(quase um terço) no período analisado. E, mesmo

assim, continuou se apresentando um fator

correlacional entre ambas as variáveis, apesar

deste inesperado efeito invertido. Outro ponto

interessante é que, diferentemente da correlação

positiva constatada no caso das ações da Vivo,

que se mostrou forte (coeficiente de 0,745), a

correlação negativa das ações da TIM se apresentou

significativamente mais fraca (coeficiente de

-0,501). O valor de mercado da empresa, segundo o

indicador mercadológico do Economática, porém,

também dobrou, acompanhando relativamente

o grau de crescimento de sua base de clientes.

Estes fatos, surpreendentemente, também podem

ajudar a originar novos estudos quantitativos que

aprofundem a compreensão das razões entre este

relacionamento que se apresenta estatisticamente

real e efetivo, mesmo que de forma inversa ao que,

de início, esperava-se encontrar nesta pesquisa.

3 - A aquisição de clientes faz parte de uma estra-

tégia integrada rumo ao sucesso.

Como visto aqui, a aquisição de clientes

apresentaria correlação com o valor de uma ope-

radora celular, porém nem sempre de forma forte

e positiva. O que isto quer dizer é que a fórmula

de sucesso de uma operadora depende de diver-

sos fatores, tais como suas estratégias de cresci-

mento e fusão/aquisição, expansão para novos

mercados e desenvolvimento de públicos-alvo,

sinergias, comunicação, publicidade e alinhamen-

tos internacionais, entre outros, que devem estar

plenamente integrados e concatenados sob um

mesmo “guarda-chuva” estratégico. Como no caso

da TIM, cujos problemas financeiros da Telecom

Italia em seu país de origem e suas incertezas so-

bre a manutenção das suas operações na América

Latina nos últimos anos podem ter afetado mais

o valor de suas ações do que seu intenso cresci-

mento de base de clientes no Brasil. Conseguirá a

operadora reverter esta tendência? É possível, por-

que, apesar desta queda no valor no período, suas

ações parecem atualmente apontar uma tendência

de crescimento. E, no caso da Vivo, o fato de ter

efetivamente definido sua situação acionária entre

Portugal Telecom e Telefônica, além de apresentar

uma estratégia consistente e integrada para sua

atuação no Brasil (e também na América Latina),

da mesma forma impactou no aumento de seu va-

lor acionário e na sua consolidação na liderança do

segmento, mesmo com o avanço considerável das

demais concorrentes. O futuro do mercado deste

segmento parece ser extremamente excitante em

termos de competição no Brasil.

4 - Novos estudos do tema se mostram necessários

e de possível (e relevante) interesse.

Como estas operadoras estudadas não apre-

sentaram uma tendência uniforme de cres cimento

e uma evolução combinada de clientes-valor, não

foi possível estabelecer um índice de crescimen-

to conjunto ou um efetivo fator preditivo geral do

segmento, que pudesse ajudar a indicar tendências

mais amplas, gerais e impactantes, neste caso. Só foi

possível desenvolvê-los individualmente, por ope-

radora, como foi aqui apresentado. Futuros novos

estudos no contexto do mercado móvel também

poderão ser efetuados a partir destas perspectivas,

como o estabelecimento de valores diferenciados

para clientes de planos pré e pós-pagos, ou formas

de se conquis tar completamente para suas bases

clientes que também possuem celulares de empre-

sas concorrentes, por exemplo. De qualquer forma,

ficam aqui as sugestões para possíveis novas pes-

quisas neste sentido, tanto para o segmento anali-

sado de telecomunicações como para outros, que

possam ajudar a lançar novas luzes sobre a variação

do va lor de uma empresa a partir do seu número de

clientes e também auxiliar a se medir efetivamente

o real “valor de um cliente” para a organização, de

forma simples e precisa, ao menos sob este prisma,

para fornecer melhores, mais assertivos e mais se-

guros subsídios para a tomada de decisão de seus

líderes e gestores.

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196

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• Recebido em: 01/02/2013

• Aprovado em: 12/06/2013

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A distribuição espacial do emprego formal na produção algodoeira e têxtil no estado do Paraná no período de 1997 a 2007

The location of the employment in the cotton production and textile

industries in Paraná state in the period 1997 to 2007

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A distribuição espacial do emprego formal na produção algodoeira e têxtil no estado do Paraná no período de 1997 a 2007The location of the employment in the cotton production and textile industries in Paraná state in the period 1997 to 2007

Jandir Ferrera de Lima1

Katia Fabiane Rodrigues2

Lucir Reinaldo Alves3

Ricardo Rippel4

Resumo

Este artigo analisa o padrão de localização do emprego formal no cultivo

do algodão e na indústria têxtil das mesorregiões do estado do Paraná, no

período de 1997 a 2007. Utilizaram-se métodos de análise regional para

estimar o padrão de localização dessas atividades produtivas. A análise

constatou que ocorreram transformações significativas na distribuição setorial

do emprego principalmente na produção de algodão, mudança que está

vinculada ao processo de reestruturação da agricultura, que caracterizou uma

nova localização geográfica dessa atividade.

Palavras-chave: Localização. Análise Regional. Economia Espacial.

Abstract

This paper examines the location pattern of formal employment in the

cultivation of cotton and textile industry in the region-meso of Paraná state in

Brazil, from 1997 to 2007. We used methods of regional analysis to estimate the

pattern of location of productive activities. The analysis found that there were

significant changes in the sector distribution of employment on the cotton

production, change that is bound linked to the restructuring of agriculture that

characterized a new geographic location of this activity.

Keywords: Regional. Analysis. Spatial Economics.

1 Ph.D. em Desenvolvimento Regional pela Université du Québec (UQAC). Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Professor da Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Toledo. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail: [email protected].

2 Doutoranda em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Toledo. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail: [email protected].

3 Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Professor Assistente do Colegiado de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Toledo. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC) e do Grupo Dinâmicas Socioeconômicas Nacionais e Regionais Comparadas (DISENREC). E-mail: [email protected] ou [email protected].

4 Doutor em Demografia pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Professor da Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Toledo. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agronegócio e Desenvolvimento Regional (GEPEC). E-mail: [email protected].

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200

Introdução

O estado do Paraná passou por transforma-

ções em sua estrutura produtiva no final da déca-

da de 1970, devido ao esgotamento da fronteira

agrícola e à modernização das atividades agrope-

cuárias. Esse fenômeno deu início a um proces-

so de reestruturação da base agrícola do estado,

com o fortalecimento da integração produtor-

-agroindústria em setores específicos. Destaca-se

também, nesse cenário, a migração de algumas

atividades agrícolas e a substituição de cultivos,

principalmente a permutação de culturas perma-

nentes por temporárias.

Entre as culturas temporárias, o algodão

foi a mais significativa. Segundo Rolim (1997), a

produção algodoeira brasileira, que ao longo da

década de 1980 garantia a autossuficiência do

produto na faixa de 860 mil toneladas de pluma,

foi reduzida pela metade na safra de 1994/1995. A

redução das alíquotas de importação da pluma e

a fragilidade financeira do produtor rural em todas

as regiões do Brasil estimularam essa tendência.

Para Traionotti et al. (2003), isso exigiu uma

intensa reestruturação da produção de algodão

nacional, fato que a longo prazo levaria à crise da

cotonicultura e sua migração para outras regiões.

O estado do Paraná, que sustentava um dos

primeiros lugares no cultivo nacional de algodão,

contou com um declínio de sua produção, que

encontrou espaço para expansão da cultura no

Centro-Oeste brasileiro, na segunda metade da

década de 1990. Tal cenário revela um processo

de permutação de culturas, quando se analisa a

introdução da cultura da soja no espaço paranaense.

Assim, impulsionada por esse processo e aliada ao

programa Corredores da Exportação, entre outros

eventos, a soja ganha espaço na produção do estado

do Paraná, tanto que nas últimas décadas aparece

como uma das principais atividades produtivas do

estado, como demonstram os dados a seguir.

Conforme a TAB. 1, houve um aumento

nominal de 1.356% na produção de soja no estado do

Paraná, que passou de 456.710 toneladas em 1970

para 3.264.946 toneladas em 1975, o equivalente

a 25% da produção nacional. Diferentemente da

soja, o algodão diminuiu o montante produzido

depois de uma forte expansão na década de 1980.

TABELA 1 – Produção das principais lavouras no Paraná, em toneladas – 1970-1995

Lavouras 1970 1975 1980 1985 1995

Algodão 399.123 272.923 452.490 846.682 267.433

Café 116.900 1.195.013 367.914 569.186 109.470

Milho 3.550.555 1.953.470 5.466.967 5.803.713 8.988.166

Soja 456.710 3.264.946 5.400.192 4.413.000 5.694.427

Trigo 268.246 443.600 1.350.276 2.639.225 1.033.689

FONTE: Censos Agropecuários – IBGE (1970-1995)

A agricultura paranaense

passou a expandir suas

atividades por meio de

realocações dos recursos

produtivos entre as

culturas, preferencialmente

na expansão de área

daquelas com mercado

mais estáveis e mais

rentáveis.

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Pela TAB. 1, observa-se que o produtor

paranaense mudou sua estrutura de cultivo,

focando as commodities com maior retorno.

Com isso, a agricultura paranaense passou a

expandir suas atividades por meio de realocações

dos recursos produtivos entre as culturas,

preferencialmente na expansão de área daquelas

com mercado mais estáveis e mais rentáveis. Isso

gera mudanças nas explorações agrícolas, havendo

uma seleção de culturas em termos de vantagens

comparativas regionais, com isso, o impacto da

modernização diferencia-se regionalmente e

conforme a conjuntura.

Da mesma forma que a produção de algo-

dão, o setor têxtil também passou por turbulên-

cias, devido à política de inserção do Brasil no mer-

cado internacional nos anos 1990. Isso representou

uma mudança importante nos setores nacional e

paranaense. E todos esses fatores corroboram as

mudanças no padrão de localização das ativida-

des do setor têxtil no espaço geográfico parana-

ense. Como a produção de algodão e a indústria

têxtil, que usa a pluma como matéria-prima, são

empregadores significativos da força de trabalho,

essa análise procura compreender, por meio dos

métodos de análise regional, o comportamento

do emprego formal nesses setores produtivos e

como eles mudam espacialmente em intervalos de

tempo. Assim, o objetivo deste artigo é analisar a

localização do emprego formal da produção de al-

godão e da indústria têxtil no estado do Paraná.

Para isso, foram utilizados os métodos de análise

regional, pelas medidas de localização e associa-

ção geográfica, no período de 1997 a 2007.

Destarte, este artigo encontra-se dividido

em quatro seções, além desta introdução. Na se-

ção seguinte, são abordados o referencial teórico,

os materiais e o método utilizado. Na terceira se-

ção são apresentados os resultados e as discus-

sões relacionadas ao padrão de localização das

atividades produtivas. As conclusões, na quarta

seção, sintetizam esta pesquisa.

1 Elementos Teóricos e Metodológicos

Esta seção apresentará, além do ferramental

metodológico, que abordará medidas de análise

regional, breves conceitos das teorias de localização

industrial e agrícola, de forma a complementar os

métodos de localização regional.

Os fatores de produção estão distribuídos no

espaço, e a ciência econômica estuda esses fato-

res a partir de sua utilidade na geração de riquezas.

Nesse sentido, é importante analisar as mudanças

espaciais dos fatores de produção com as mu-

danças que ocorrem na localização das atividades

produtivas. Assim, a análise econômica espacial in-

troduz a noção de espaço como uma tendência di-

nâmica do sistema produtivo. A economia espacial

estuda a localização das atividades econômicas, ou

seja, questiona os problemas relativos à concentra-

ção e dispersão das atividades e as semelhanças ou

diferenças dos padrões de distribuição geográfica

dessas atividades ao longo do tempo (PONSARD,

1988; FERRERA DE LIMA, 2003; CAROD, 2005).

A localização das

atividades implica

a determinação de

preços, o dinamismo da

produção, a dispersão

dos postos de trabalho

e o desenvolvimento

econômico regional.

Page 203: Frei Guido Moacir Scheidt, ofmFAE Centro Universitário Sumário Summary 06 24 42 62 80 96 110 126 144 162 180 198 4 Organizações, relações de trabalho e informatização: controle

202

Dessa forma, o espaço é elemento funda-

mental para análise da concentração das atividades

produtivas e de regiões polarizadas. A localização

das atividades implica a determinação de preços, o

dinamismo da produção, a dispersão dos postos de

trabalho e o desenvolvimento econômico regional. A

natureza econômica do espaço é causa de todo um

conjunto de decisões que influencia a dinâmica do

sistema de produção (PONSARD, 1988).

A localização da produção dependerá dos

fatores locacionais: mercado consumidor, mão de

obra, disponibilidade de matérias-primas ou condi-

ções especiais para produção, como subsídios, in-

centivos ou acesso a recursos naturais. Os fatores

locacionais são todos os fatores que influenciam na

escolha da localização de uma unidade produtiva,

eles são de natureza econômica e não econômica.

O primeiro grupo está relacionado ao lucro, o segun-

do está relacionado aos fatores que influem em sua

função utilidade, como, por exemplo, o clima e a vida

social. Assim, o fator locacional constitui um ganho,

uma redução de custos, que determinada atividade

econômica obtém quando se localiza em determina-

do ponto no espaço (AZZONI, 1985; FERREIRA, 1989).

No que se refere à atividade agrícola, segun-

do Ferreira (1989), o fator principal do estudo das

áreas de abastecimento é a terra, pois a utilização

desse fator obriga essa atividade a se dispersar no

espaço geográfico, devido a elementos tecnoló-

gicos e econômicos. A tecnologia é o uso da terra

no processo produtivo. Já o elemento econômico

é o preço da terra, cujo valor afeta a sua utilização,

e, além disso, inclui os custos de transporte. Desse

modo, existem dois efeitos, um no sentido da disper-

são relacionada à renda da terra e outro no sentido

da concentração da atividade agrícola, devido aos

custos, em particular dos transportes. Segundo Ma-

tos (1998), os produtos agrícolas chegam ao merca-

do numa situação de concorrência, de modo que a

produtividade, os custos de transporte e a procura

determinam, em conjunto, uma sucessão no espaço

das áreas cultivadas.

Se os produtos agrícolas in natura chegam

ao mercado numa posição mais próxima à

concorrência perfeita, o mesmo não ocorre com os

produtos oriundos de complexos agroindustriais,

cujo perfil transita da concorrência imperfeita ao

oligopólio. O complexo agroindustrial é o conjunto

formado pelos setores produtores de insumos e

máquinas agrícolas, de transformação industrial

dos produtos agropecuários, de distribuição,

de comercialização e também atingindo a área

de financiamentos para custeio da produção. O

complexo industrial compreende a “explosão”

da matéria-prima, que pode ser transformada

em vários outros produtos finais, por meio dos

processos industriais e comerciais. Ou seja, o

complexo industrial está intimamente ligado às

cadeias de produção, cada uma associada a um

produto. O surgimento do complexo agroindustrial

moderno é o resultado da expansão do parque

industrial, que passa a buscar novos campos

de atividades para aumentar seus lucros, e

da expansão da produção agrícola moderna,

assumindo as mesmas características de outros

ramos da produção industrial, com alto grau de

concentração e cartelização (BATALHA, 1997;

SORJ, 1986).

Os produtos agrícolas chegam ao mercado

numa situação de concorrência, de modo que a produtividade, os custos de transporte e a procura determinam, em conjunto, uma sucessão

no espaço das áreas cultivadas.

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R e v . F A E , C u r i t i b a , v. 17, n. 1, p. 198 - 211, jan./jun. 2014203

Nesse ambiente de ideias, as medidas de

localização fundamentam o estudo da dispersão

e da concentração das atividades produtivas no

espaço geográfico. Mediante esse cenário, a seção

a seguir versará sobre as medidas de localização,

de modo a elucidar o objetivo desta pesquisa.

1.1 Os Indicadores do Padrão de Localização

Para contemplar o escopo deste estudo, utili-

zaram-se as medidas de localização, pois permitem

o conhecimento do padrão de localização das

atividades produtivas de uma região. O ponto de

partida para o cálculo das medidas de localização

é uma matriz de informações setorial-espacial de

uma variável base. Neste estudo, utilizar-se-á o

emprego formal como variável base.

Segundo Haddad (1989), a variável emprego é

escolhida com frequência, haja vista a disponibilidade

Eij = Número de empregados no ramo prod. i da mesorregião j; (1)

∑ Eij = Número de empregados no ramo prod. i de todas as mesorregiões;

j

(2)

∑ Eij = Número de empregados em todos os ramos prod. da mesorregião j;

i

(3)

∑∑ Eij = Número de empregados em todos os ramos prod. de todas as mesorregiões.

i j

(4)

Assim, a partir das equações 1, 2, 3 e 4, podem ser representadas, no QUADRO 1, as medidas de

localização e o seu padrão de análise.

de informações desagregadas em nível de setor e

espaço, sua uniformidade para medir e comparar a

distribuição das atividades e setores.

Os dados sobre o emprego formal foram

extraídos da base de dados on-line da Relação Anual

de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE) para os ramos produtivos,

do cultivo de algodão e da indústria têxtil. Os

períodos analisados foram 1997, 2000 e 2007. Como

o foco do estudo são as atividades algodoeiras, tanto

na produção quanto na transformação, elas foram

desagregadas dos seus respectivos setores.

As medidas de localização escolhidas para a

análise foram o Quociente Locacional e o Coeficiente

de Associação Geográfica (Cagik). Essas medidas

são de natureza setorial e se preocupam com a

localização do emprego formal nos ramos produtivos

entre as regiões, além disso, elas identificam padrões

de concentração ou dispersão espacial do emprego.

Desse modo, para a estimativa dessas medidas, têm-

-se as seguintes equações:

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204

O Quociente Locacional (QL) compara

a participação percentual de uma região em

determinado setor com a participação percentual

da mesma região no emprego total do conjunto da

economia, neste caso, o estado do Paraná. Caso

o valor do QL seja maior que a unidade, a região

detém importância no ramo produtivo, no contexto

do estado. Ao contrário, se o QL for menor que a

unidade, então, o setor em questão possui pouca

importância no contexto estadual.

O Coeficiente de Associação Geográfica

(Cagik) compara as distribuições percentuais

de emprego de dois ramos produtivos entre as

regiões. Se os valores se aproximarem da unidade,

significa que a atividade produtiva não está

associada geograficamente com a outra atividade

produtiva. No entanto, se o valor do coeficiente

aproximar-se de 0 (zero), então os setores estão

distribuídos regionalmente da mesma forma,

ou seja, os padrões locacionais dos dois ramos

produtivos estão associados geograficamente.

QUADRO 1 – Descrição das medidas de localização

Indicador Equação Interpretação dos Resultados

Quociente

Locacional (QL)

∑∑∑

i jij

iij

jijij

EE

EE=QL

/

/QL ≥ 1/Localização significativa

0,50 ≤ QL ≤ 0,99/Localização média

QL ≤ 0,49/Localização fraca

Coeficiente de

Associação

Geográfica (Cagik)

2

∑ ∑∑

=j

iij

ij

iij

ij

ik

EE

EE

Cag

0,7745 ≤ (Cagik) = associação fraca

0,5162 ≤ (Cagik) ≤ 0,2582 = associação média

0,2581 ≤ (Cagik) ≤ 0,0001 = associação significativa

FONTE: Haddad (1989)

Setor i Setor k

A seguir, os resultados e discussões forma-

lizam as observações deste método.

2 O Padrão de Localização do Emprego Formal na Cotonicultura Paranaense

Esta seção apresentará os resultados das

medidas de localização. Entretanto, primeiramente,

é interessante analisar a distribuição do emprego

formal entre os setores analisados para as

mesorregiões do Paraná. Nesse sentido, a TAB. 2

apresenta essa distribuição.

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R e v . F A E , C u r i t i b a , v. 17, n. 1, p. 198 - 211, jan./jun. 2014205

TABELA 2 – Distribuição percentual do emprego formal no cultivo de algodão e na indústria têxtil nas mesorregiões do Paraná de 1997, 2000 e 2007

Período 1997 2000 2007 1997 2000 2007

Setores Cultivo de Algodão % Indústria Têxtil %

Noroeste Paranaense 0.05 0.01 0.02 7.74 9.08 12.34

Centro Ocidental Paranaense 0.00 0.02 0.04 4.90 5.08 5.62

Norte Central Paranaense 0.00 0.00 0.02 6.02 7.02 7.47

Norte Pioneiro Paranaense 0.01 0.01 0.07 4.39 5.39 5.86

Centro Oriental Paranaense 0.00 0.00 0.09 1.79 1.51 0.99

Oeste Paranaense 0.01 0.00 0.03 1.49 2.40 3.44

Sudoeste Paranaense 0.00 0.00 0.04 6.75 7.54 8.27

Centro-Sul Paranaense 0.00 0.00 0.12 0.30 0.55 1.27

Sudeste Paranaense 0.00 0.00 0.07 0.78 0.76 1.14

Mesorregião Metropolitana de Curitiba 0.00 0.00 0.01 0.75 0.69 0.65

Estado do Paraná 0.00 0.00 0.03 2.59 3.03 3.55

FONTE: MTE-RAIS (2009)

Nota-se, mediante os dados da TAB. 2, que

a participação do cultivo de algodão foi crescente

no estado do Paraná ao longo do tempo, mas,

nos anos de 1997 e 2000, não representava

significância no estoque de empregos formais

e, no ano de 2007, esse percentual passou para

0,03%. Além disso, o setor ganhou participação

na maioria das mesorregiões. A exceção foi a

mesorregião Noroeste paranaense, que tinha a

maior participação, de 0,05% em 1997, passou

para 0,02% em 2007. Neste ano, a mesorregião

que se destacou foi a Centro-Sul paranaense, que

tinha um percentual de 0,12% de empregados

formais nesse setor. Já a indústria têxtil teve

maior concentração de emprego na mesorregião

Noroeste paranaense, além disso, a região

apresentou um significativo aumento no emprego,

passando dos 7,74% em 1997 para 12,34% em 2007.

Destarte, para além do aumento da parti-

cipação do setor de cultivo de algodão na con-

centração do emprego formal, na maior parte das

mesorregiões, também houve um aumento da par-

ticipação da indústria têxtil. Por exemplo: enquanto

no Noroeste paranaense houve uma diminuição da

participação do setor de cultivo de algodão, o setor

da indústria têxtil mais do que compensou esse de-

clínio. Assim, supõe-se que essa mesorregião está se

especializando mais na industrialização do algodão

do que no plantio da matéria-prima.

Esses resultados ressaltam o fenômeno de

migração da cultura de algodão para outras regiões

dentro ou fora do estado do Paraná. Para corroborar

essa colocação, a série histórica do GRAF. 1 demons-

tra a queda na participação na produção de algodão

do estado do Paraná a partir da década de 1990, per-

durando com oscilações negativas.

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206

O Paraná, a partir de 1980, detinha uma

significativa participação na produção nacional

de algodão, contribuindo para o atendimento do

consumo interno até meados dos anos de 1990.

Somente no ano de 1985, o Paraná (que sempre

produziu quase 100% de toda a produção de

algodão da Região Sul) produzia 39% de todo o

algodão nacional. Segundo o censo agropecuário

de 2006, essa produção era somente de 1%.

Uma hipótese para esse decréscimo é que está

ocorrendo a substituição da produção de pluma

por outras atividades agrícolas no estado.

Nesse sentido, nota-se que houve um

declínio na produção. Esse declínio foi paralelo

ao deslocamento do plantio das Regiões Sul e

Sudeste (Paraná e São Paulo) para as regiões

GRÁFICO 1 – Participação percentual das regiões geográficas na quantidade produzida de algodão – 1970-2006

FONTE: IBGE (2010)

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste

Paraná

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%

Central e Nordeste do Brasil, onde predomina a

cotonicultura mais competitiva, mecanizada e

conduzida empresarialmente em grandes áreas.

Conforme mostra o GRAF. 1, as regiões Centro-

-Oeste e Nordeste foram responsáveis por 61% e

33%, respectivamente, da produção de algodão

em 2006. Essa migração ocorreu principalmente

pelos seguintes fatores: declividade dos solos,

que permite a colheita mecânica, reduzindo

gastos com mão de obra; maior regularidade

climática; e plantio em escala, propiciando maiores

investimentos nas lavouras e, consequentemente,

melhor produtividade (BARBOSA; NOGUEIRA

JUNIOR, 2000; PARANÁ, 2003).

Esse panorama evoluiu de modo acelerado

e contribuiu para o agravamento da crise na

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R e v . F A E , C u r i t i b a , v. 17, n. 1, p. 198 - 211, jan./jun. 2014207

Verifica-se que o segmento de cultivo de al-

godão demonstrou um significativo padrão de lo-

calização do emprego nas mesorregiões Noroeste

paranaense em 1997 e no Centro Ocidental para-

naense em 2000. Já em 2007, o QL apresentou

uma forte queda, e a localização mais expressiva

ocorreu na mesorregião Centro-Sul paranaense.

Por outro lado, é possível notar que a quantidade

de mesorregiões que apresentaram um QL signifi-

cativo nesse setor aumentou.

Quando se analisa o setor da indústria têxtil,

não se observa nenhuma mudança mais significa-

tiva nas mesorregiões. Nos três anos analisados, as

mesorregiões Noroeste paranaense, Centro Oci-

cotonicultura paranaense, refletindo em diversos municípios do interior do estado, pois as perdas com as

receitas municipais, a redução dos estabelecimentos rurais e a eliminação de postos de trabalhos nessa atividade

contribuíram para o êxodo rural e a deslocalização de postos de trabalho nas atividades urbanas. Além disso, a

cultura, por ser explorada por pequenos agricultores no Paraná e por ser a maior geradora de mão de obra, em

comparação com a soja e o milho, também desestimula a agricultura familiar. Assim, as opções por outras culturas

no estado desaceleraram a produção de tal maneira que se produziu somente 27% da demanda das fiações.

E todos esses fatores foram cruciais para que o estado do Paraná passasse de exportador para um

grande importador do produto. Observa-se que as mudanças ocorridas, devido à abertura comercial, foram

exigentes para alguns setores da economia, o que levou muitos setores à reestruturação. Esse processo

envolveu atividade produtiva têxtil, com ênfase maior na cotonicultura (GUILHERME; MICHELLON, 2004).

Assim, a TAB. 3 mostra o padrão de localização nos dois setores de estudos.

TABELA 3 – O padrão de localização (QL) do emprego formal em ramos produtivos selecionados nas mesorregiões do Paraná – 1997-2007

MesorregiõesCultivo de Algodão Indústria Têxtil

1997 2000 2007 1997 2000 2007

Noroeste Paranaense 13.29 4.19 0.77 2.88 3 3.48

Centro Ocidental Paranaense - 11.17 1.59 1.89 1.68 1.58

Norte Central Paranaense 0.42 0.91 0.83 2.32 2.32 2.1

Norte Pioneiro Paranaense 3.38 9.06 2.81 1.69 1.78 1.65

Centro Oriental Paranaense - 0 3.39 0.69 0.5 0.28

Oeste Paranaense 1.77 0 0.96 0.58 0.79 0.97

Sudoeste Paranaense - 0 1.52 2.6 2.49 2.33

Centro-Sul Paranaense - 0 4.7 0.12 0.18 0.36

Sudeste Paranaense - 0 2.57 0.3 0.25 0.32

Metropolitana de Curitiba - 0 0.24 0.29 0.23 0.18

FONTE: Os autores (2010)

dental, Norte Central, Norte Pioneiro e Sudoeste

foram as únicas que apresentaram um padrão de

localização do emprego formal significativo para

esse setor. Destas, a mesorregião Noroeste para-

naense nos períodos analisados obteve os maio-

res valores de QL na indústria têxtil, revelando

que essa mesorregião concentra uma significativa

parte do emprego formal nesse ramo de atividade.

Nota-se também que a mesorregião metropolitana

de Curitiba apresentou a menor concentração de

emprego na indústria têxtil do estado, com valores

entre 0,29 e 0,18.

Dessa forma, a mesorregião Noroeste pa-

ranaense tem a indústria têxtil como um grupo-

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208

QUADRO 2 – Coeficiente de Associação Geográfica (Cagik) do emprego formal no cultivo de algodão e na indústria têxtil no Paraná – 1997-2007

Ramos de AtividadeCultivo do Algodão Indústria Têxtil

1997 2000 2007 1997 2000 2007

Cultivo do Algodão

Indústria Têxtil

FONTE: Os autores (2010)

Nota: níveis de associação geográfica:

Associação significativa

Associação média

-chave da economia regional dessa localidade.

Essa mesorregião constitui um importante polo de

vestuário e confecções, concentra um dos maio-

res números de empresas e mão de obra ocupada

do estado do Paraná. As empresas contam com

cooperativas de vendas por atacado e associação

de shoppings atacadistas, como a da cidade de

Cianorte (Asamoda) (IPARDES, 2004).

O parque industrial do segmento do vestuá-

rio cresceu de 277 confecções, em 1995, para 763,

em 2002, com destaque para as empresas Be Ei-

ght, Morena Rosa, Lúcia Figueiredo Macksonn e For

Boys, de Cianorte; Cortez & Massambani, de Japurá;

Storti, de Altônia; Retook, de Umuarama; Noroeste

e Kollan, de Paraíso do Norte; Willitex, de Tamboara;

Paranacity, de Paranacity; e Sandy, de Paranavaí. A

mesorregião ainda conta com 35 empresas no seg-

mento de malharia, estamparia, texturização e têx-

teis diversos, 14 unidades industriais no segmento

de beneficiamento e fiação de algodão (INSTITUTO

PARANAENSE DE DESENVOLVIMENTO ECONÔ-

MICO E SOCIAL, 2004).

Cabe ressaltar também que, em 2003, o

estado do Paraná já havia conquistado um lugar de

destaque na indústria da moda. Segundo Camara

et al. (2006), o Estado se firmara como o segundo

maior polo industrial de confecção do país, sua

produção era estimada em 150 milhões de peças/

ano, com um faturamento anual de R$ 2,8 bilhões.

Já a mesorregião metropolitana de Curitiba

teve perda relativa de empregos formais na indús-

tria têxtil. Segundo o Ipardes (2004), a indústria

têxtil não tem muito dinamismo nessa mesorregião,

que é caracterizada pelos complexos industriais ele-

tro-metal-mecânico, complexo químico, complexo

agroindustrial e madeireiro e outros complexos de

eletroeletrônicos e bebidas.

Nesse contexto, após abordagem dos resul-

tados do QL, a seguir será realizada a análise dos

resultados do Coeficiente de Associação Geográ-

fica. O QUADRO 2 apresenta as associações con-

forme resultados da pesquisa.

A mesorregião Noroeste

paranaense tem a indústria

têxtil como um grupo-chave

da economia regional e

constitui um importante

polo de vestuário e

confecções, concentra um

dos maiores números de

empresas e mão de obra

ocupada do estado do

Paraná.

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R e v . F A E , C u r i t i b a , v. 17, n. 1, p. 198 - 211, jan./jun. 2014209

Esse coeficiente revela que, de modo geral, os ramos produtivos analisados tiveram forte associação

geográfica, ou seja, o emprego formal nessas atividades está distribuído regionalmente da mesma forma. As

exceções ocorreram no ano de 1997, quando os setores de cultivo de algodão e a indústria têxtil apresentaram

Cagik médios.

Dessa forma, o cultivo de algodão e a indústria têxtil apresentaram rotatividade no período, pois

Cagik passou de médio em 1997 para forte em 2000 e 2007, ou seja, os resultados para os últimos períodos

demonstram que o emprego formal nesses ramos produtivos está geograficamente associado. A TAB. 4, a

seguir, especifica esses resultados quando apresenta o Cagik para as mesorregiões.

TABELA 4 – Coeficiente de Associação Geográfica (Cagik) do emprego formal no cultivo do algodão e na indústria têxtil para as mesorregiões do Paraná nos intervalos de 1997, 2000 e 2007

Mesorregiões

1997 2000 2007

Cultivo do algodão/Indústria têxtil

Cultivo do algodão/Indústria têxtil

Cultivo do algodão/Indústria têxtil

Noroeste Paranaense 0.4914 0.062 0.1532

Centro Ocidental Paranaense 0.0461 0.2217 0.0001

Norte Central Paranaense 0.3544 0.2708 0.2479

Norte Pioneiro Paranaense 0.0686 0.2796 0.0441

Centro Oriental Paranaense 0.0391 0.0281 0.1826

Oeste Paranaense 0.1059 0.0722 0.0008

Sudoeste Paranaense 0.079 0.0745 0.0287

Centro-Sul Paranaense 0.0037 0.0057 0.1314

Sudeste Paranaense 0.0069 0.0061 0.0498

Metropolitana de Curitiba 0.1368 0.1059 0.0227

FONTE: Os autores (2010)

De acordo com os resultados da TAB. 4, no

ano de 1997, somente as mesorregiões Noroeste

e Norte Central obtiveram um Cagik médio para o

emprego formal nas atividades da produção de

algodão e da indústria têxtil. As demais mesorregiões

representaram uma forte associação, sendo a mais

expressiva na mesorregião Centro-Sul paranaense.

Já em 2000, associação média ocorreu nas

mesorregiões Norte Central e Norte Pioneiro e

associação forte novamente na mesorregião Centro-

Sul. No período que sucede, todas as mesorregiões

apresentaram forte associação geográfica do

emprego formal nas atividades do cultivo do

algodão e da indústria têxtil, e a mesorregião Centro

Ocidental obteve a maior associação geográfica.

Esses resultados apontam para hipótese de que a

produção de algodão e a indústria têxtil passaram

por um processo de distribuição espacial do

emprego formal no estado ao longo do período.

Isso posto, cabe ressaltar que no ramo agrí-

cola são visíveis diversas mudanças de localização.

Sobre isso, Souza e Santos (2009) apontam que

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210

Essa atividade apresentou maior participação

na mesorregião Noroeste paranaense, destarte,

essa mesorregião é caracterizada pelas facções e

confecções, que tornam-na conhecida por fazer

parte do corredor da moda da região Norte.

Entretanto, de modo geral, em todas as mesorregiões

verificou-se um aumento da participação dessa

atividade na concentração de emprego formal,

mostrando o espraiamento no espaço paranaense

das indústrias têxteis.

Ao que se refere ao Cagik, com exceção para

o primeiro período, em que o índice apresentou

média associação regional, os demais períodos

apresentaram para os setores forte distribuição

regional. Para os ramos produtivos de cultivo do

algodão e a indústria têxtil, a associação geográfica

foi significativa. Entre essas atividades, a produção de

algodão, em virtude do processo de reestruturação

que ocasionou a migração dessa cultura, apresentou

uma tendência de deslocamento geográfico

relevante ao longo do período.

determinadas culturas migraram do Paraná para

outras regiões do país na década de 1990 a 2005.

Essas culturas foram substituídas por outros culti-

vos, como é o caso do algodão, que diminuiu sig-

nificativamente a produção no estado. Entretanto,

outras culturas, como a cana-de-açúcar, apresen-

taram um crescimento substancial de área planta-

da e de produção no estado. Além disso, outras

lavouras migraram e se concentraram em regiões

específicas dentro do Paraná, como ocorreu com a

do feijão e a do café.

Conclusão

O objetivo deste artigo foi analisar a locali-

zação do emprego formal na produção de algodão

e na indústria têxtil no estado do Paraná e deter-

minar o desempenho setorial do emprego formal

nessas atividades. O estudo abrangeu as mesorre-

giões paranaenses em relação ao Paraná no perí-

odo de 1997 a 2007. Analisou-se, por meio de um

instrumental de análise regional, o desempenho

das 10 mesorregiões do estado.

Nesse sentido, os resultados para o QL

demonstraram mudanças na estrutura do emprego,

principalmente no ramo de produção de algodão.

Essa atividade apresentou mudanças geográficas

quanto à participação desse setor na economia

do estado. Ao longo do período, a participação

mudou da mesorregião Noroeste paranaense, em

1997, para Centro Ocidental paranaense, em 2000,

e em 2007 para o Centro-Sul paranaense.

Além disso, a produção de algodão de-

cresceu significativamente no Paraná devido ao

processo de reestruturação da atividade, que teve

início na década de 1970 e intensificou-se com

abertura comercial da década de 1990, e, por fim,

registrando as menores safras em 2006. Nesse

sentido, essa atividade não possui relevância no

estado do Paraná como na década de 1980.

Já a indústria têxtil possui uma relevância

maior, no Paraná, que a produção de algodão.

• Recebido em: 25/04/2012

• Aprovado em: 01/03/2013

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Orientações aos Colaboradores da Revista da FAE

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Histórico e Missão

A Revista da FAE, existente desde 1998, é um espaço

para divulgação da produção científica e acadêmica de temas

multidisciplinares, que enfoca, principalmente, as áreas de Ad-

ministração, Contabilidade, Economia, Direito, Engenharia, Edu-

cação, Sistemas de Informação, Psicologia e Filosofia, com o

intuito de discutir o posicionamento das organizações e o de-

senvolvimento local.

Por sua missão ser a de fomentar a produção e a dis-

seminação de conhecimento em áreas correlatas à discussão

sobre a gestão de negócios e o posicionamento das orga-

nizações no processo de desenvolvimento local, entre nossos

leitores, encontram-se professores, alunos de graduação e pós-

-graduação, consultores, empresários e profissionais de empre-

sas públicas e privadas.

Já com o tema organizações e desenvolvimento, o ob-

jetivo é analisar o papel e a interação da organização, qualquer

que seja sua origem ou situação societária, no processo de

sustentabilidade econômica, social, ambiental e política.

Além de trabalhos puramente teóricos, serão acei-

tos para apreciação artigos resultantes de estudos de casos

ou pesquisas direcionadas que exemplifiquem ou tragam ex-

periências fundamentadas teoricamente e que contribuam

com o debate estimulado pelo objetivo da revista.

Enfatiza-se a necessidade de os autores respeitarem

as normas estabelecidas nas Notas para Colaboradores,

especialmente as referentes ao limite de tamanho. Os

trabalhos serão publicados de acordo com a ordem de

aprovação, porém será priorizado o conteúdo multidisciplinar

do debate.

Todos os artigos estão disponíveis para download, ex-

ceto a última edição.

Objetivo

O objetivo da Revista da FAE é promover a publicação

de temas relacionados à gestão de negócios e à inserção das

organizações no processo de desenvolvimento local.

A Revista da FAE deseja motivar e instigar os seus

leitores a compreender o papel das organizações no processo

de desenvolvimento local, tendo acesso à discussão de temas

atuais e relevantes para definição estratégica e ope racional das

organizações.

Assim, será dada prioridade à publicação de artigos

que, além de inéditos, nacional e internacionalmente, versem

sobre o papel das organizações no desenvolvimento local e

discutam temas contemporâneos da gestão de negócios.

Orientação Editorial

Os trabalhos selecionados pela Revista da FAE serão

aqueles que abordem temas relacionados ao seu objetivo, ou

seja, que se refiram a ferramentas técnicas e teorias relacio-

nadas à gestão de negócios e à função das organizações no

processo de desenvolvimento local.

Com o tema gestão de negócios, visa-se contri-

buir com o debate sobre sistemas de gestão de produção

e gestão econômica de sistemas produtivos, com o intuito

de discutir o processo de desenvolvimento da organização.

Trata-se de uma visão holística sobre a gestão de negócios, a

partir de uma abordagem multidisciplinar das áreas de Ciên-

cias Sociais Aplicadas (Administração, Contábeis e Econo-

mia), Jurídica (Direito) e Exatas (Engenharias).

Focos

O principal requisito para publicação na Revista da

FAE consiste em que o artigo represente, de fato, uma con-

tribuição científica. Tal requisito pode ser desdobrado nos

seguintes tópicos:

• O tema tratado deve ser relevante e pertinente

ao contexto e ao momento e, preferencialmente,

pertencer à orientação editorial.

• O referencial teórico-conceitual deve refletir o

estado da arte do conhecimento na área.

• O desenvolvimento do artigo deve ser consis-

tente, com princípios de construção científica

do conhecimento.

• A conclusão deve ser clara e concisa e apon-

tar implicações do trabalho para a teoria e/ou

para a prática administrativa.

Espera-se, também, que os artigos publicados na

Revista da FAE desafiem o conhecimento e as práticas esta-

belecidas com perspectivas provocativas e inovadoras.

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Escopo

A Revista da FAE tem interesse na publicação de

artigos de desenvolvimento teórico e trabalhos empíricos.

Os artigos de desenvolvimento teórico devem ser

sustentados por ampla pesquisa bibliográfica e devem

propor novos modelos e interpretações para fenômenos

relevantes com relação à gestão de negócios e à interação

das organizações no desenvolvimento local.

Os trabalhos empíricos devem trazer avanços ao

conhecimento na área, por meio de pesquisas metodologi-

camente bem fundamentadas, criteriosamente conduzida, e

adequadamente analisadas.

referências bibliográficas completas deverão

ser apresentadas em ordem alfabética no final

do texto, de acordo com as normas da ABNT

(NBR-6023).

• Diagramas, quadros, figuras e tabelas devem

ser numerados sequencialmente, apresentar

título e fonte, bem como ser referenciados no

corpo do artigo.

Permuta

A Revista da FAE faz permuta com as principais

faculdades e universidades do País.

Assinatura

Periodicidade: Anual

Valor: R$ 65,00

• Para assinar, favor entrar em contato pelo

telefone (41) 2105-4093 ou [email protected].

Envio de Artigos

Os artigos deverão ser encaminhados para:

FAE Centro Universitário

Núcleo de Pesquisa Acadêmica

Rua 24 de Maio, 135

80230-080 Curitiba/PR

E-mail: [email protected]

Fone: (41) 2105-4093 - Fax (41) 2105-4195

Agradecemos o seu interesse pela Revista da FAE e espera-

mos tê-lo(a) como colaborador(a) frequente.

Notas para Colaboradores

A Revista da FAE está aberta a colaborações

do Brasil e do exterior. A pluralidade de abordagens e

perspectivas é incentivada.

Podem ser publicados artigos de desenvolvimento

teórico e artigos baseados em pesquisas empíricas (de 5 mil

a 8 mil palavras).

A aceitação e publicação dos textos implicam a

transferência de direitos do autor para a Revista. Não são

pagos direitos autorais.

Os textos enviados para publicação são apreciados

por pareceristas pelo sistema blind review.

Os artigos deverão ser encaminhados para o

Núcleo de Pesquisa Acadêmica (NPA) com as seguintes

características:

• Na folha de rosto deverão constar o título

do trabalho, o(s) nome(s) completo(s) do(s)

autor(es), acompanhado(s) de um breve cur-

rículo, relatando experiência profissional e/ou

acadêmica, endereço, números do telefone e

do fax e e-mail.

• A primeira página do artigo deve conter o tí-

tulo (máximo de dez palavras), o resumo em

português (máximo de 250 palavras) e as pa-

lavras-chave (máximo de cinco), assim como

os mesmos tópicos vertidos para o inglês (title,

abstract, keywords).

• A formatação do artigo deve ser: tamanho

A4, editor de texto Word for Windows, mar-

gens 2,5 cm, fonte times new roman 13 e/ou

arial 12 e espaçamento 1,5 linha.

• As referências bibliográficas devem ser citadas

no corpo do texto pelo sistema autor-data. As

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