Frederic Jameson Cap. 8

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    i E C O N O M I Ai 8. O ps-modernismo e o mercado

    ling~istic;~etil i i i > i exqiietna Iusta nte til, qiie infelizmente falta an-lisc iclcoigic;~: lc nos permite marcar lima determinada palavra como sen-A do "palavra" ou "idia", atravs da alternncia d e sinais grficos. Assim, a pa-lavra mercado, com suas diferentes pronncias e m diferentes dialetos, qu etem sua origem etimolgica no latim -comrc io ou mercadoria -, eleve sergrafada /mercaclo/: por sua vez, o conceito, conforme foi teorizado por filo-sofos e idelogos de vrias pocas, d e Aristteies a Milton Friedt-ilan, deveri aser grafad o . Por um moment o imaginamos co mo isso solucio-naria muitos dos prol,lemas qu e temos ao lidar com um assunto desse tipo,qu e a uin s tempo uma ideologia e cim conjunto de problemas prticosinstitiicionais, mas logo nos lembramos d o movimento de emboscada da pri-meira parte dos Grundrisse, em q ue Marx desfaz as esperanas e desejos d esimplificao dos adeptos d e Proiidhon, que pensavam qu e se livrariam d etodos os problemas do dinheiro abolindo-o, sem perceber que so as pr-prias contraclies dos sistemas d e troca qu e esto objetivadas e expressasno dinhei ro propriamente dito, e continuam a se objetivar e a se expressarem qual quer um d e seus substitutivos mais simples, com o os cupons d e tem-po trabalhado. Estes, observa Marx secamente, sob o sistema capitalista vi-gente, simplesmente voltariam a ser dinheiro, c todas as contradies ante-riores voltariam com fora total.

    O mesmo se d com as tentativas de separar a ideologia e a realidade:a ideologia do mercado no , infelizmente, iim luxo suplement ar de idiasou d e representao, iim enfeite qiie pode ser removido d o problema eco-nmico e depois levado a um necrotrio cultural ou superestrutural para s erdissecado por seus especialistas. Ela gerada pela coisa em si, como suaimagem final objetivamente necessria; de algum mod o, as dua s dimensestm que ser registradas juntas, em sua identidade assim como em sua dife-rend. Elas silo, para usarmos uma linguagem c onte mpornea, mas j fora

    de moda, semi-autonomas; o que signific~i,ch ( l i i i . ~ . I : : I I I ~ I I I . I ~ ~ : I I I I I . II I I . - , . I ,qu e elas no s o realmente autonomas e inclcpc~ri(lc~iiic~~.1 1 i i . 1 I 1 . 1 1 I I I I 1 . 1 . 1 1 1 . 1 . .tampouco so idnticas. O conceito de Marx clc iclc~olcy;i,t.I . I I 1 1 11 . 1 I I , . I ~l ideu respeitar, encenar e dobrar o paradoxo da riicbi.:i , S ( ~ I I I I . I I I I I l i i r , 1 1 1 1 I I I1 Iconceito ideolgico, por exen~plo, s ideologias do mc~rc,;itl I. 1 . 1 1 1 I , I . I S 1 1 1 . Icoisa em si- u, n o noss o caso, os problemas clo mcrc;itlc 1. 1 li I 1 1 1 I I 11 . ! .Imento no capitalismo tardio e tambm no s pases socialist:is. b1;i i 1 1 1 1 1 I , Ito clssico d e Marx (inclusive a prpria palavra ideologiu, em si 11 I C ~ S I1.1 .i I! icom o a ideologia da coisa, em oposico sua realidade) muitas VCY(.S k s ~ .garava precisamente nesse aspecto, tornando-se totalmente auti~ticI I I ~, 1 .depois vag ando como mero "epifen6men on no m undo das superestruilii..i'..enquanto a realidade continuava l embaixo a tarefa da vida real elos c a c . c )nomistas profissionais.

    H, claro, muitos modelos profissionais de ideologia no prprioMarx. O apresentado nos Gnlndrisse, que s e desenvolve em torno das ilu-ses dos seguiclores de Proudhon, tem sido menos notado e estudado, mas - muito rico e sugestivo. Marx est aqui discutindo uma caracterstica centralde nosso assunto corrente, ou seja, a relao entre as idias e valores de li-berdade e igualdade com o sistema de troca; e ele argumenta, co mo MiltonFriedman, qu e esses conceitos e valores so reais e objetivos, so organic:i-mente gerado s pelo prprio sistema rle mercado, e dialcticamente so inclis-soluvelmente ligados a ele. Ele vai alm - u ia dizer, agora, ao colztrzriode Milton Friedman, nu s uma pausa para reflexzo me permite letnhrar cliicmesmo ess as conseqiincias clesagradveis tambm so reconhecidas, e ;iiCelogiadas, pelos neoliberais -, para acrescentar que, na prtica, essa lilx-i--dade e igualdade acabam se revelando priso e desig~ialdade.Mas trata-sc.d o problema cla atitude clos prouclhonianos em relao a essa revrrsiio c t l c -sua incapacidade de entender a dim enso ideolgica d o sistema d e troc,;i('como essa ideologia funciona, sendo a o mesmo t emp o verdaeleira c Iiils;~,objetiva e ilusria, o que costumvamos tentar exprimir com a exprcssiio l i ( .geliana "aparncia objetiva":

    O valor de troca, ou, mais precisamente, o sistema monetrio, i li . 1 . 1 i 0 I I , . i 3 .tema da lil,crdade e da igualdade, e o que perturba [os proi i~l li~ ~ii i.i iii~~.l1. 1evolu3o mais recente do sistema so perturl->ac6esrnanciii(->\ o i ~ . i ~ ~ i i i . i .11seja, a prpria realizao de igualdade e l iberda~l~,luc . I ~ . ; I ~ I : I I I I.( .i11 Ir I I I I . * . Igualdade e falta de liherdade. fi uma aspiracrio ta o pic~lo5:iI I I : I I I I I I ( . ~ . I I I I I I ~.1desejar que o valor de troca no v se converter c.iii ( . ; i1>11 .11 . i 111 1 1 1 ' . t 1 1 1 . 1 1 1. 1lho que produz o valor de troca no v se convcrtcr I I : I I I : I I ~ I I I i ~ . ~ . i l . i i i . i i I ~ ~ .O que distingue esses cavalheiros [em outr:is ~>:iI; i \~ i . : is .14 I 111 I I I I I I I ~ i i i . i i i i . 15 .ou, como poderamos dizer hoje, os soci:il-tlc.iiio(~i;~i:i~I11 14 . i l u I~II!:I\I.I' .U I I .gueses , por um lado, sua conscincia d~ is.( ) i i i s : i t l i ~ ~ l I I I C . I I . I I I ~ . \ .i ( ) I ~ I C . I I I ; Ie, por outro, o utopisrno, manifesto eiu s~ i;i i i i l x ) ~ ~ i l ) i l i l l : ~ i I i ~li . ~ I ~ I ~ ' I ~ ~ I L < I .I (li-ferena inevitvel entre a forma icleale : I < i i i i i ; i i-c*;iI I :i ~ i . i i ~ t l ; i i l l ,~rii.gii(.s:i,.

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    Economia

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    Y ,rJ. g?.r 'O3":c -,2 ='zm 2,-. 22 s6cu 33 g>T ?- ":C? 3- :4 ,g g9.-..2 1- n& "i s

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    h ic - * f i r rs 'nvn iq . .qn E c o n om i aI h:

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    sn iAr ; -F ! rns~nr~ ;q~ -m I ? EconomiaI e . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . .

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    9 ..- : lderes governamentais- o agora compreensveis (digamos, nos termos5 de um Verstehendiltlieyano), a despeito cio que possamos pensar deles. Seo :h ; um tal conceito imensamente expandido da Razo tem algum sentido nor-i mativo (Hal3ermas ainda acha que sim), em uma sitiiao em q ue seu opos-to, o irracional, diminuili at cheg ar a uma virtual no-existncia, Lima ou-

    tra questo, e das mais interessantes. Mas os clculos de Becker (e essai palavra para ele n o implica d e forma alguma um homo cconomictis, mas to-

    cios os tipos de comportament o irrefletido, cotidiano, pr-consciente) s o: parte daquel a corrente hegemonica; na verdade, esse sistema me faz pensar

    mais do qu e em qualquer oiitra coisa na liberdade sartriana, uma vez qu eI implica uma responsabilidade por tu do qu e fazemos- escolha sartrianai (a qual, claro, tambm s e cl no nvel comportame ntal cotidiano, n o auto-: consciente) significa a cada rnonlento uma produo individual ou coletivai das "mercadorias" de Ueckcr (qu e no precis:im ser hedonistas em nenhum: senticlo estrito; o altnismo, por exemp lo, seria Lima mercadoria desse tipo,

    2 7 6 oii o prazer). As consequncias para a represen tao d e Lima viso com o es-- :i nos IC\~:IIII ;I pronunc iar pela primeira vez, e j com atraso, a palavra ps-1 ~ 1 r i c l c ~ i 1 ~ i ~ 1 ~ 7 0 .oniente os romances d e Sartre (e eles siio amostras, enormesfiagiiicntos intcrn1in:iclos) pocleriam nos clar Lima iinagem aproximada doqu e seria iiiii:i rcprcscnl~iciiola vicia que interpretasse to dos os ato s e gestosl-iumanos, clcseios c clcciscs ern terinos elo rnoclelo de maxiinizao de Bec-ker. Uma represenl:iclio clcsse tipo nos reveliiria iiin munclo peculia rmentesem transcendncia e sem perspectiva (a morte, por exemplo, seria aquiapenas mais lima questo d e maximizao dos bens), e sem nenhu m enre dono se ntido tradicional, uma vez qu e todas as escolhas seriam equidistantes epostas n o mesino nvel. A analogia com Sartre, no entanto, suger e qiie essetipo de leitura -que deveria ser um encontro desmistificador, frente a fren-te com a vida cotidiana, sem nenhum enfeite -pode talvez no ser ps-mo-derno nos sentidos mais fantasiosos dessa esttica. Becker parece ter cleixa-do d e lado as formas mais desenfreadas d e consumo clisponveis nops-modern o, que e m outras instrincias parecem capazes d e encenar um vir-tual delrio do consunlo da prpria idia ele consumo: no ps-moderno, naverdade, a prpria idia do mercado consumida com a mais prodigiosa dasgratificaes; como se fosse lima espcie ele bonus ou excedente do proces-so d e produo d e mercadorias. Os clciilos sbrios de Becker no chegama tanto, e isso no necessariamente porque o ps-modernismo 6 inconsis-tente o u incompatvel com o conservadorismo poltico, mas sim basicamen-te porque seu modelo um modelo de produo e no de consumo, comoj: sugerimos acima. Meras sombras da grande introduo aos Grz~ndrisse,em qu e a prodiio se torna consutno e distribuio, e depois volta sua for-ma produtiva bsica (na categoria sistmica mais abrangente de produoqu e Marx que r colocar no lugar da categoria temtica ou analtica)! Na vcr-dade, parece possvel reclamar que o s atuais apologistas d o mercado- sconservadores tericos- o mostram muito prazer ou jouissance (como

    veremos a seguir, seu inerc;itl() c . i ~ ~ c .> i i i i c ~ i l > ; i l i i i c ~ ~ i ~ ( ~1 ~ I I I ~I I I I I !>cl i c . i : i l c.iij:ifuno impedir Stalin ele cn1r;Ii. c, , : l i i i c I ; i 1 1 o v ( io~ii, ~ 1 1 1 1 - \ 1 1 \ 1 > c * i l ; 1 1 , ( I I I L *Stlin acaba send o apenas um cligo I>:II':I I( ( N ~ * \ . ( * I I .

    Assim, como descrio, o moclclo clc Ilcc.lic.i. i i c S ) . i i i . i i . I I I I ~ i.i . I \ . 1 1 . l ,.I,,tante fiel aos fatos da vida como ns os conlicc~ciiich; 1 1 I . I I I ( l i I . . , * . I . I I 11 11li I( I ,i htorna prescritivo nos defrontamos, claro, coin :is li)riii;ih 1 1 . i i ~ ~I I - , I ( 11 1 l , . . ~ , ~ I ( .reao (as minhas duas conscqhncias prticas prefericl:is s:lc , (* i11 1 ) I I I I I ~ . I I I 1 1 Igar, a d e que a s minorias oprimidas apena s pioram sua [xx')pri:i i i i i . i < .I ( I i ( I 1. 1zer reivindicaes e lutar po r seus direitos; e, em segun do, a clc ( IW ' I "1 11 1 K 11tividade do lar", no sentido especial que Becker a emprega Ivc-i. i i . i i i i . i l .diminui drasticamente qiiando a esposa te m um empreg o). Mas tacil v c ~)( )Ique isso se d. O nlodelo tle Becker t. ps-moderno em sua estrutura cltic3 cbiiia forma de urna tnnscodificao: dois sistemas explanatrios diferentes s:iocombinad os aqui atraves da assero de uma identidade fundamental (sohre aqual sempre se diz, com veemncia, que no se tratade uma ~netcvora,erta-mente u m elos sinais mais claros cfe lima inteno d e metaforirar): o compor-tamento humano (em especial a famlia ou oikos), e um lado, e a firma ou aempresa, de outro. Ganha-se muito, ein fora e em clareza, ao se reescreverfenomenos como o t empo livre e os traos de personalidade em terrnos dematria-prima potencial. No se segue, no entanto, que o enquadramento fi-gural pode ento ser removido, conlo se remove triunfalmente um vu quecobria uma esttiia, permitindo-nos ento refletir sobre os assuntos domsti-cos em terrnos de dinheiro e de economia. Mas exatamente assim qu e Bec-ker vai "cleduzindo" siias concluses prtico-polticas. Ainda aqui, ele noconsegue ser totalmente ps-modemo, uma vez que o processo de transcodi-ficaro tem como conseqiincia a sus pensi o de tud o que costumava ser con-siderado "literal". Becker quer utilizar o equipamento da metfora e da identi-ficao fig~i ral penas para, no momento final, voltar ao literal (o qual , ness:ialtura d o capitalisn~oardio, evaporou-se por baixo d e seus ps).

    Por que ser que n o acho todas essas colocaes particularmente cs-candalosas, e qual poderia s er seu "uso apropriado"? Como em Sartrc, :i cbs-colha ele Becker se d em um ambiente pr-dado, q ue Sartre teoriz:~ cIc8 ochama de "situao"), mas q ue Becker deixa d e lado. Em ambos tciiios i i i i i ; ~reduo oportuna d o antigo sujeito (ou indivduo, ou ego), qu e agoi-;ii. I> ( ] L Ico mais do que um po nto d e conscincia dirigido ao estoque rlc. iii:iicbi.i:iisdisponveis no mundo exterior, tomando decises baseado ciii ii il rc')l>~'ic)~iiiiitloexterior e qu e agora po de verdadeira mente ser cli;iiri:iclo rlc I lisi(')i-i;)..) c.on-

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    cei to sar t r iano de s i tuao u m a m a n e i ra n o v a d e p e n sa r a h i st ri a c o m o t al ;B e c k e r e v it a q u a lq u e r m o v im e n to n e sse se n t i d o , e t e m to d a a r a z o e m f a z -10. Su g e r i q u e m e s m o n o so c i al i sm o ( as s im c o m o n o s m o d o s d e p r o d u oa n te rio r es ) p o d e m o s m u i to b e m im a g in a r a s p e sso a s o p e r a n d o se g u n d o Om o d e l o d e B e c k er . O q u e se r ia d i f e r e n t e a p r pr i a s i t u a ~ o : n a tu r ez a d o"lar", o es toque d e matr ias-pr imas; enf im, a p rpr ia fo rma e c o n to r n o d a s"mercador ias" a serem produzidas a . O m e r c a d o d e R e c k e r a c ab a s e r e ve -l a n d o n o c o m o m a i s u m a a p o lo g i a d o s i s te m a d e m e r c a do , m a s s i m c o m oLim red irec iona mento d e nossa a te no para a p rpr ia h is t r ia e para a var ie-d a d e d e s i tu a e s q u e e l a n o s o f e r e ce .

    Devem os desconf iar , por tan to . de q ue defesas essencia lis tas do merca-d o envolvem na rea l idade ou tros temas e que stes be m d iferen tes: os p razeresd o c o n su m o s o p o u c o m a i s d o q u e c o n se q n c i a s id e o l g ic a s d e u m a f an ta -sia d isponvel para os consum idores ideolg icos q ue comp ram um a teor ia d em e r c a d o d a q u a l e l e s m e sm o s n o s o p a r t e . De f a to , u m a d a s g r a n d e s c r i se scI;i iiov:~ c\lolii( .o ciil tii~ il onserv;iclora- , p e los m e sm o s m o t iv o s , u m a d esii:is gr,inclvs contci(lic;es interrxis- o r n o u- se e v id e n t e q u a n d o e s sa s m e s -rn:is iclcologi:is coniccirrirn a demon.Strar um certo nerv osismo d iante da faci-l i da d e c o m q u e a Amrica consumista havia superado a etica protestante e ti-n h a s i d o c a p a z d e d e sp e rd i ar su a s e c o n o m ia s (e at sua renda f i i tu ra) noexerc c io de sua nova natureza d e compradores p rof issionais em t em po in te-g r al . M a s o b v ia m e n te n o se p o d e t e r t u d o : n o possvel te r um mercado f lo -rescen te e em expanso , cu jos consumid ores se jam todos calv in is tas e tn d i-c ionalis tas di l igen tes , que sab em muito be m q uanto vale o dinheiro .

    A p a ix o p e lo m e r ca c lo se m p r e f o i u m a p a ix o p o l ti c a, c o m o n o s c n -s in o u o g r a n d e l i vr o d e A lb e rt O. Hir sc h m a n , T h e p a ss io n s and tbe interests.O m e r c a d o , c o m o " id e o log i a d e m e r c a d o " , t e m m e n o s a v e r c o m o c o n s u m od o q u e c o m a i n t e r ve n o d o s g o v e rn o s e c o m os per igos da l iberdade e dap r p r ia n a tu r e z a h u m a n a . Um a d e sc r i o r e p re se n ta t i va d o f a m o so "m e c a -n i sm o " d o m e r c a d o ciada por Barry:

    Com processo natural, Smith queria dizer o que ocorreria, ou que padrode acontecimentos surgiria, a partir da interao individual, na ausnciade iiina interveno humana especfica, seja de cu nho poltico, seja um ato cfeviolncia.O comportamento do mercado o exemplo bvio de um fenmeno naturaldesse tip o As propriedades auto-reguladoras do sistema de mercado no s oproduto de uma mente planificadora, mas um resultado espont neo do meca-nismo de preos. Ora, a partir de certas constncias na natureza h uma na, in-cluindo, claro, o desejo natural de "melhorar", pode-s e deduzir o qu e ocorre-r quando o governo perturba esse processo auto-regulador. Assim, Smithdemonstra com o as leis cios aprendizes, as limitaes ao comrcio internacio-nal, os privilgios das corporaes, e assim por diante, rompem , mas no con-seguem suprimir inteiramente, as tendncias econmicas naturais.A ordem es-pontnea do mercado se da arraves da interdependncia de suas par tes

    constitutivas, e qiiaiquer tipo cle intc~nf~.ii~. . i ,I I,..:. C t t , I. I I I t t 1 t 8 (fadada ao insucesso: "Nenh~ im;~eg~il:iiiiciii;ici, I t I, I G U I I , I , I , . 1 ,a quantidade de trabalho em qualquer setor t l ~ i I ( , I < ~ , .1 , I a 11 ' 1 1 1 , ipital possa manter. Ela pode apenas impor a iiri1:i p ;~ r i< .I # B t 1 1 "Iqu e ele no tomaria sem ela". Com a expresso "lil )crc l;i~l ~~I . I I I I I t t ~ t t ~ ~t 8 Idesignar o sistema no qual cada homem , desde que n:io \ I , I I , . . I . Ir I 1 I , , ,, ) Ivas) da justia, fica inteirame nte livre para servir seu s prtlprio\ I I I I ~I # I , I rprpria maneira e colocar sua capacidade de trabalho e scci ( . : l ~ ) i i . i I 1 . 1 1 1 8 51 1 t 1 ,.tio com os de qua lquer outro liomem8.I A f o rc a d o c o n c e i t o d e m e r c a d o e s t , p o i s , e m s u a e s t r u tu r a " i o i ; i l i / . i i i

    t e " , c o m o se d i z h o j e e m d i a , o u se j a. e m su a c a p a c i c ia d e d e n o s o f e r e c ~ c ~ i11 Imo delo da to ta l idade socia l . Ela nos p roporciona um a maneira d i feren iedeslocar o mo delo d e Marx : d i feren te ela j b em c onhec ida mud ana w cl)v-

    I r ia n a e p s - we b e r i a n a d o e c o n b m ic o p a r a o p o l t i co , e d a p r o d u o p a r a op o d e r e a clominao. Mas o d e s l o c am e n t o d a p r o d u o p a r a a circu lao1 n o m e n o s p r o f u n d o o u i d e o l g i c o , e t e m a v a n t a g e m d e su b s t i tu i r a s r e -p r e se n t a e s a n t e d i l u v i a n a s d a Fa n ta si a q u e a c o m p a n h a v a o m o d e lo d e "d o -

    ' 7 5 u m t a n -in a o " , de 1984 e Despot ismo or ie n ta l a t Foucau l t- arrati\. .t o c o m i a s n a n o v a e r a p s -m o d e r n a -, p o r r e p re s e n ta e s d e o r d e mc o m p le t a m e n te d if e r en t e . ( Ad ia n t e, p r e t e n d o d e m o n s t r a r q u e e s t a s n o s o ,b a s i c a m e n te , r ep r e se n t a es d e c o n su m o . )

    M as o q u e p r e c i so e n t e n d e r e m p r im e i r o l u g a r s o a s c o n d i o e s c l epossib i l idade desse concei to a l ternat ivo de to ta l idade socia l . Marx sugere( n o s Gndndrisse,n o v a m e n t e) q u e o m o d e l o d e c i r cu l a o o u d e m e r c a d ovai p receder , h ist r ica e ep istemolo g icamente , ou tras fo rmas d e nape amen -to e v a i n o s d a r u m a p r im ei r a r e p r e se n t a o a t r a v s d a q u a l a to ta l idade so-c ia l p o d e se r c o m p r e e n d id a :

    A circulao o ~iiovimento o qual a alienado geral aparece como apropri:i-o geral, e a apropriao geral como alienao geral. Ainda que a totalicl:iclcdesse m ovimento possa muito bem aparecer como um processo social e :iiixl:ique os elementos individuais desse m ovimento s e originem na vontaclc. c.( 1115ciente e nos propsitos particulares dos indivduos, mesmo assim 3 tot:ili(l;ic c.do processo aparece co mo uma relao objetiva que ocorre espont:inciiiic*ilI~I;uma relao que resulta da interao de indivduos conscientes. iii:is (1111' I I L ' I I I parte de suas conscincias nem , com o um todo. subsurnicl:i por ~ I : I \ .I . I \colises do lugar a um poder social estranho, qiie est :iciiii:i < I ( ~ ; I \ . h 1 . 1prpria interao [aparece] como iim processo e uma forc;i in rlc ~~ (~ ri~ I(. iii t~les. Porque a circulao a totalidade do processo social, el:~ ; i i i i l ) < ~ i i i . i I 11 Imeira forma na qual r i o s a relao social aparece como :ilgo i r i t l ~ ~ ~ ) t ~ ~ i ( l i ~ i i i i ~dos indivduos, como, digamos, uma moeda o11 iiin v:ilor < I ( * I I - o ( . , I , i i i : 1 5 I .bm todo o m ovimento social em si niesni09.O m a is n o t v el n o m o v im e n to d e ssa s r e f l e x c s . ( ~ t i c ~%I:i.;> ; I K Y ' U ~ ~

    iden ti f icar duas co isas q ue , co m o concei tos , qu ase scbi iip rc . oi. ; i i l i coiisiclc.i;i-

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    das bem di feren tes en t re s i: o "hellum ovzniunz cont ra omnes" de Hohbes ea "m o invisvel" de Adani Smith (qu e aparec e aqui so b o disfarce d o "ardilda razo" de Hegel). Eu diria q ue o c onceito d e hlarx de "socieclade civil" similar ao q ue acontece qua ndo esses dois concei tos (corno matria e anti-matria) s o combinados d e forma inesperada. Aqui , no en tan to , o s ignifica-tivo q u e o q u e H o b b es teme , num certo sen t ido , o que d segurana aSmith (a natureza mais profiinda d o terror l iol.>besiano, d e q u a l q u e r mo d o , ,particularmente iluminada pela complacncia d a definiro do sen hor MiltonFriedman: "Um liberal, fi indam entalme nte, tem e o poder concentrado"l0). Aidia de uma violncia feroz inerente natureza hum ana e manifesta na Re-voluo In glesa, a partir cle ond e ela teorizada ("coni muito medo") porHol->bes, 5o .modificada ou m elhorada pela " douce ur &L c ~ m m e r c e " ~ ~eHirsch-man; e per man ece rigorosam ente idntica (em M:irx) concorrnciad o mercado co mo ta l . A d i ferena no poltico-ideol6gic:i mas histrica:Mol>l>cs recisa clo pod er clo Estad o p;ira clornesticar e controlar a violnciat l : i n:itlii.c.z:i lii~rn:iii:ic) :i c.onc.orii.nci:i; erii Aclum Stnith (e em Hegel, num( )ii ir() > I : i t i o iic.t:il'isic.o),o sisleiii:~ l:i concorrncia ,o mercado, executa sozi-r ilio : clotiic~stic.:iq:io o conlrolc, sem m ais precisar para isso do Estado ab-soluto. Mas o qu e fica claro cm toda a tradio conse rvadora q u e e l a m o-t ivada por um sent imento de m edo e de angst ia nos quais a guerra c ivi l oua criminalidade urbana so em si mesmas meras figuras da luta de classes.Ento , o m ercado Leviat com pele d e cordei ro : sua f i ino no encora-jar e perpe tuar a l iberdade (e muito me nos a l iherdade em su a verso polti-ca) , mas s im reprimi-la; e , quanto s ta is v ises, podemos mui to bem ressus-citar os slog ans dos a nos existencialistas - me do da l iberdade, a fuga dal iberdade. A ideologia d o mercad o assegura q ue todos o s seres humanos sedo m al qua ndo ten tam cont ro lar seus prprios dest inos ("o socia li smo im -possvel"), e q ue temos sorte em po der contar com esse mecanismo impes-soal- mercad o- ue pod e tomar o lugar da huhris e d o p l ane j ament ohumano s, e subst itu i r de vez a capacidade d e deciso dos homens. S preci-samos manter esse mecanismo bem azei tado e l impo, e e le- o mo o mo -narca h unto s sculos- omar conta de ns e manter-nos- na linha.

    Por qu e tal substituto confortante da divin dade seria to universalnien-te a t raente em nossos d ias , no en tan to , um ou t ro t ipo de q uesto h is trica .Atribuir a nova adeso l iberdade de mercad o ao m edo c lo s ta lin ismo e d eStalin tocante , mas um p ouc o deslocado no tempo, a inda que se ja certoque a Indst r ia d o Gulag tenha s ido i im c ompone nte crucial da " leg i tima-co" dessas representaes ideolgicas (assim com o a Indstr ia d o Holo-causto , cuja re lao pecul iar com a re trica d o Gulag ex ige um estudo cu l tu-ral e ideolgico mais detalhado) .

    A cr tica m ais in te ligente qu e recebi sobre u ma longa anl i se dos ano s60 qu e publiquei12 h algum tempo fo i a de Wlad Godzich , qu e demonst ra-va seu espa nto socr t ico d ian te da ausncia . em me u m odelo g lobal , do Se-giincto Mund o e , em especia l , da U nio Sovit ica . A experincia da peres-

    troika nos rev elou dim ens es da histria soviti

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    Horkheimer e Adorno perceberam, h muito tempo, na era d o rdio, apeculiaridade da estrutura cle uma "indstria cultural" comercial na qual osprodutos eram de livre escolhal3. A analogia entre a mdia e o mercado ficade fato cimentada por este mecanismo: nrio porque a mdia semelhanteaomercado que as duas coisas so comparveis; na verdade, e porque o merca-do rido se assemelha a seu "conceito" (ou idia platonica), d o mesmo modoque a mdia no se assemelha a seli prprio conceito, que as duas coisas po-dem ser comparadas.A mclia nos apresenta Lima livre seleo de programas- consumidor, entretanto, no escolhe nem o contedo dos programasnem seu agnipamento- essa seleo rebatizada de "livre escolha".

    E claro que n o processo d o desaparecitnento gradual d o espao fsicodo mercado, e da identifica@o gradual da mercadoria com sua imagem (oumarca, o11 logotipo), d-se uma outra simbiose, mais ntima, entre o mercadoe a mdia. Nessa simbiose, as fronteiras ficam submersas e (de formas pro-fundamente caractersticas do p6s-moderno) a indiferenciao de nveis gra-rlu:ilrnentc toma o lugar da separao anterior entre a coisa e seu conceito( 011 , n;i \,vi-tl:iclc, economia e cul tura, base e superestrutura) . Para comear ,os ~xocliito s ve11cl:i no mercado transformam-se no prpr io cont edo da si~iirigensI:i incli:~, le t:iI forma que, em certo sentido, o mesmo referente pa-rece s e mkinter nos clois tlomnios. Isso 6 algo bem diferente de uma situaomais priniitiva nri qual a urna s-rie cle signos de informao (notcias, folhe-tins, artigos) em acicionaclo iim outro elemento, q ue tentava aliciar consu-midores para um pr oduto comercial que n o tinha nada a ver com esses sig-nos. Hoje os produtos esto, digamos, difusos no tempo e no espao dossegmentos de enterninment (ou mesmo nos d o noticirio), como parte d ocontedo, d e tal forma que em alguns casos bem conl-iecidos (mais explici-tamente em seriados como Dii?astiu)l", s vezes no fica claro quando osegment o narrativo termina e comeam os comerciais (uma vez que os mes-mos atores tambm trabalhani no segmento comercial).

    Essa interpenetrao atravs do contedo ent o intensificada de for-ma um tanto diferente pela prpria natureza dos produtos: a impresso quese tem, especialmente quando estarnos tratando com estrangeiros cheios deentusiasmo pelo consumismo americano, que os prodiitos organizam-seem uma espcie de hierarquia cujo ponto mais alto precisamente a tecno-logia de reproduo, que agora, claro, ultrapassou em muito o clssicoaparelho de TV , e acabou por sintetizar a nova tecnologia computacional oude informao do terceiro estgio do capitalismo. Temos, ento, q ue d arconta tambm de um outro tipo de consumo:o consumo d o prprio proces-so de consumo, muito alm d o de seu contedo e dos produtos comerciaismais imediatos. preciso falar de uma espcie d e bnus tecnolgico de pra-zer, proporcionado por essas novas mquinas e, digamos, simbolicamenteencenado e ritualmente devor ado em cada sesso de consumo da mdia. Defato, no acidental que a retrica conservadora, que costumava vir juntocom a retrica do mercado em questo aqui (mas, na minha opinio. aquela

    representava uma estratgia um tanto diferente, l t e (lc...l(.!:~tI I I . I , . I , 1 I . 4 - . I ! \ 0 aL . L . I .relacionada com o fim das classes sociais - iiii:~ O I I ~ 1 1 s . 1 1 1 5 . t , ~ ~ ~ l l ~ t .1 4 .monstrada e "provada" pela presena da TV nas c:is:is t l t . 1 1 . i l ~ . i l l i . i (1 11 I -. h1 1 1to da euforia do ps-modernismo deriva dessa a pologi:~lc ) I U I 1 11 11 I I 1 1 K I . . .so da informatizao high-tech (o predomnio em nossos e l i ; i \ I 1,. ti 1 . 1 , . 1. 1comunicao, da linguagem ou dos signos so o prolorig~iriic~iir~I( 11 .I 111 I::I, Idessa "viso de mundo" mais generalizada). Esse , ento, coiiio tlii 1. 1 11.11.um segundo momen to no qual (como o "capital em geral" em opohi( II I ( 1. ."vrios capitais") a mdia "em geral", como um processo unificaclo, sc.1 ;! I Ilocada em primeiro plano e percebida (em oposio ao contedo d:is IX.'

    II 0es individuais da mdia); e parece que seria essa "totalizao" que nos I ~ ~ Ii mitiria estabelecer urna ponte entre as imagens da fantasia d o "mercaclo c111geral" ou "do mercado co mo um processo unificado".O terceiro componente desse grupo complexo de analogias entre a ni-dia e o mercado, que refora a retrica atual deste, pode assim ser encontra-do na prpria forma. a partir da que temos que voltar teoria da imagem,recolocando a notvel deriva io terica de Guy Debord (a imagem como afoima final da reificao da mercadoria)'5. Nesse ponto , o processo se rever-te, e no so o s produtos comerciais do mercado que s e tomam imagens napropaganda, mas sim os prprios processos d e diverso e de narrativa da te-leviso comercial que s o, por sua vez, reificados e transformados em merca-dorias: a narrativa serializada, com seus segmen tos rgidos e quebras tempo-rais reduzidos a frmulas, a a o das tomadas da cmera sobre o espao, ahistria, as personagens e as modas, incluindo tambm a o novo processo deproduo de celebridades e de estrelas que parece diferente da experinciahistrica mais familiar que tnhamos dessas questes, e acaba por convergircom os fenmenos at agora "seculares" da antiga esfera pblica (pessoas e

    I eventos reais nos telejornais dirios, a transformao de nomes em algo comologotipos da notcia etc.). Muitas anlises demonstraram que os telejornaisI so estniturados exatamente como seriados; ao mesmo tempo, alguns elens, nos domnios da cultiira oficial, ou da "alta" cultura, temos tentaclo dcx-i monsrnr o enfraquecimento e a obsolesc@nciade categorias como "licqso"(no sentido de algo que s e ope a o "literal" ou ao "factual"). Mas penso cliicbI aqui preciso armar uma teoria das modificaes profundas da esfera ~>l >li-i ca: o aparecimento de um novo domnio da realidade das imagens, rluchC :ium s tempo ficcional (narrativo) e factual (at as personagens elos scbi-i;itlosso percebidas com o estrelas reais, com "nomes prprios" e com liisic')ii;is hs-

    ternas que precisamos conhecer), e que agora- omo a antigzi "c.sIi*i-;iI;icultura"- oma-se semi-autnoma, e paira acima da realitlatlc~, . O I I ~ ;i seb-guinte diferena histrica fundamental: n o perodo clssico, :I rc.:ili(l:itlt- pc-r-I sistia, independentemente da "esfera cultural" sentiment:il c rorii:iriiic.;i, cbn-quanto hoje parece ter perdido essa modalidade de existi.nci;i c.rii sc.lxiirirlo.Hoje a cultura tem um tal impacto na realidade que torn:i 1>rol>lc.r115tic:i1ii;iI-I quer forma de realidade no-cultural ou extracultiiral (numa espCcic de prin-

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    m cpio de Heisenherg cla cii ltura d e massa, qu e intervm entre nossos o lhos5 e as coisas em si), de tal mod o qu e, no fim das contas, os tericos unamo"

    L suas vozes na nova dxa qu e diz qu e o "referente" no existe mais.De qualq uer maneira, nesse terceiro mom ento os conteclos da pr-pria mdia se t ransformaram em mercadorias , que s o en to Ianadas eml ima verso mais ampl iada d o mercado a que s e incorporam d e tal formaqu e as du as coisas se tornam impossveis de distingiiir. Aqui, ento, a m-d ia , como aqui lo qu e o mercado fan tasiava , vol ta agora ao mercado e , a ose tornar parte dele , sela e certifica a identificao antes metafrica o u an a-

    lgica co mo s en do um a realiclacle "literal".O q ue temos, finalmente, qu e adicionar a essas cliscusses abstratas

    : sohre o m ercado uma restrio pragmtica, uma fiincionalidade secretacle tal ordem que lance uma luz totalmente nova - ncidindo em uma al-tiira mediana- ue ilumine plenamente o prOprio discurso ostensivo. E is-so o qu e Barry, na conclus o de seu livro to til, acaba deixando escapar28 4 - por des esper o ou por ex asperao; a saber. qiie a prova filosfica das v-- ias teorias neoliherais somente pod e ser aplicada em uma nica situaofundament:il, qu e ns podem os cham ar (no sem ironia) de "transio d osocialismo para o cap italismo"l~. m outras palavras, as teorias d o mercad ocont inuam utpicas , na medida e m qu e no podem ser ap l icadas a esseprocesso fundamental de "desregulao" sistmica. O prprio Rarry j ti-

    nh:i i lustrado o significado desse veredicto em um captulo anterior em( I U C ' , t l iscutin(lo as pessoas que fazem escolhas racionais, chama nossa; i i c * i i c . ; i o I>:ir:i o frito de q ue a situao ideal do mercado continua se ndo pa-i . : ~ c~l:is :I O iii0pic;i c, in~possvelde ser real izada nas con dies de hoje( ~ i i : i i i i o , I>" ;I c~s(~uc~rcl:ilc. hoje, a revoluo oii transfor mao socialistai]( )sI > : I ~ ~ ~ slcb i~:i~~ii:ilisiiioiv:iiic;iclo. Resta acr esce ntar qi ie o referente aquii. tliil-Ao: i i ; i o si5 r;it:i iiic.r:tiiientc cios process os do s vrios pases d o Lestecliic, t h n sitio cntcnclit los co mo cima tentativa d e restabelecer o mercado d ei im modo ou d e out ro , mas tambm daqueles esforos no Ocidente , em es-pecial sob Reagan e Thatcher, de acabar com as "regulamentaes" do Es-tado d o bem-estar e voltar a uma forma mais pura d e condies de m erca-do . Temos que levar em conta qu e ambos os esforos podem fracassar porrazes estmturais, mas tambm temos q ue ressaltar incansavelmente o fatobastan te in teressante de que o "mercado" acaba send o to u tpico quantosem pre foi considerado o socialismo. Nessas circunstncias, nada se ga nhaao substituir uma estnitura inerte (o planefamento burocrtico) por outraestrutura institucional inerte (a saber, o prprio mercado). O q u e necess-rio um grand e projeto coletivo do qual uma m aioria ativa da pop ula opartic ipe , com o algo qu e lhe pertence e q u e const ru do com suas pr-prias energias. A definio de prioridades sociais- ambm conhecida naliteratura socialista como planejamento - eria que se r parte desse pro je tocoletivo. Deve ficar claro, no entanto, qu e virtualmente, por definio, omercad o jamais po de vir a ser um projeto.

    C I N E M A

    9. A nostalgia pelo presente

    H um romance de Phil ip K. Dick publicado em 1959 q u e ev o ca o s an o s -85ce que fo, esse liviI 1 I

    li ontem",-o poderi:

    o u a i n d1 ser um

    1 um vdcbom con-

    I Street, Uias cadeiarogramas

    50: o errame d o presidente Eisenhower, a Main .S.A., Marilyn Mon-roe, um m und o d e vizinhos e cle PTAs* , peqiie r is d e lojas varejistas(os produtos t razidos d e fora em caminh6es), p preferidos de te le- -viso, flertes inconseqentes com a vizinha d o lado, game shozus e conciir-sos , sputn iks vagando n o espao , pequena s luzes bri lhando no f i rmamento , -difceis de clistinguir d e aero plano s ou de discos voadores. Se estivssemos vinteressados em construir uma cpsula d o tempo, o11 uma srie do tipo "pa - , ,rei 20 documentrio nost lg ico dos an os ;50 ieo: a ele poderPamos acrescentar oscaneios nem curtos , o come o a o roca nnd roll,as saias mais longas, e assimpor diante. No se trata d e uma lista de fatos ou d e realidades histricas (ain-da que o s i tens dessa lista no sejam inve nes e sejam, em um c erto senti-do , "au tn t icos"), mas s im d e uma l is ta de estere tipos, de idias de fa tos o ide realidades histricas. Ela nos suger e uma srie d e queste s fundamentai?

    Para comear, ser q ue aque le "perodo" se via assim? Seri qu e a l i tcsra tura d o perodo t ra tava desse t ipo d e v ida de c idadezinha americrin :~co mo u ma d e su a s p reo cu p a es cen t ra i s, e , s e n o , p o r q u ? Q u e o u t ro st ipos de pr eocupao pareciam mais importan tes? certo que, em rcstros-pecto , os anos 50 , do ponto de v is ta cu l tura l , foram sin te t izados c o m o iiiii:isrie de pro testos contra o s prprios an os 50: contra a era Eisenhowcr c. sii:icomplac ncia, contra o fe cham ento d a cidadezinha americana (I>r:inc.:i cs tlchclasse mdia) satisfeita cons igo mesm a, contra o conformismo c o cbtnoc.cLn-t r ismo de uns Estados Unidos prsperos e ce nt ra do s na vida f:iiiiili:ir, Liprc'n-dendo a consumir em seu primeiro boom aps o s rac ionarncntos c, privii-

    * Parent-Teacher Association - ssociao de Pais e Mestres (N.T.)