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    O VASO GREGO HOJE

    Gilberto da Silva Francisco

    Os estudos sobre a cermica grega, concentradosnos vasos figurados produzidos em Atenas entre ossculos VI e IV a.C., tm bastante influncia emcampos variados. Esses objetos so frequentemen-te apresentados em publicaes de histria, hist-

    ria da arte e arqueologia, e acabaram por compor algo do imaginriosobre a Grcia arcaica e clssica, a qual geralmente situada comoponto original de elementos importantes que teriam sido manti-dos e (ou) desenvolvidos no Ocidente. Dessa forma, desde o sculo

    XVIII, eles foram tratados como objetos de arte e fontes bastanteaptas para a compreenso de estruturas do passado chamado de cls-sico. Entretanto, eles so mais que isso; e, compreender a situao do

    vaso grego atualmente leva-nos a entender no apenas um passadodistante, mas tambm como mobilizamos determinadas informa-es orientadas por selees e como atribumos significados e valoresa esses objetos. Ou seja, o vaso grego explica algo sobre ns mesmos.

    VASO GREGO?Ao falar da situao atual dos vasos gregos em coleese museus, deve-se considerar os vrios processos de disperso queesses objetos sofreram ao longo do tempo e a sua prpria carac-terizao. O vaso grego no existe! De fato, havia a produo devasos de cermica por artesos de cidades variadas que respondiama determinados elementos de articulao aos quais chamamos deGrcia, mundo grego ou pan-helenismo. Se a Grcia, na An-tiguidade, nunca existiu como nao, o vaso grego, surge comodiscurso no contexto em que a prpria ideia de uma Grcia-nao

    se desenvolveu nos sculos XVIII e XIX. Ou seja, o vaso grego uma criao moderna.

    Na Antiguidade, pode-se pensar na produo de vasos em cen-tros variados, dos quais o mais forte parece ter sido Atenas (ou a

    tica), entre os sculos VI e IV a.C. Esses vasos foram encontradosem vrios pontos do Mediterrneo e imediaes (da regio da Ba-bilnia a Portugal, da regio do Mar Negro at Luxor, no Egito),e muito da sua insero atual em colees de museus pblicosresponde a esse cenrio bastante amplo de locais de achado. Entre-tanto, a situao mais complicada. Esses objetos foram consis-tentemente inseridos no mercado de antiguidades e sua projeotornou-se bem mais ampla.

    O VASO GREGO EM MUSEUS E COLEES Esses objetos compemcolees de pases de todos os continentes. Atualmente, a legisla-o grega de proteo s antiguidades (sobretudo, as leis 5.351,de 1932, e 3.028, de 2002) impede a sada de qualquer objetoarqueolgico do solo grego. Entretanto, a ao de alguns potnciaseuropeias e dos EUA, que ocupam vrios stios arqueolgicos gre-gos desde o final do sculo XIX e o constante achado desses objetosem vrios pases do Mediterrneo, coerente com as prticas comer-

    ciais antigas que permitiram uma disperso grande desses vasos,proporcionaram a articulao de uma ampla circulao modernadesses objetos e sua aquisio por instituies e particulares nomundo todo. Claramente, sua concentrao quantitativa situadaem museus europeus e nos EUA, mas eles tambm compem co-

    lees de pases afastados desse eixo Europa-EUA, como o Japo,a Austrlia e mesmo pases da Amrica Latina: h, por exemplo,vasos gregos, e outros objetos relacionados Antiguidade clssica,em Cuba, Uruguai, Argentina e no Brasil.

    A situao da coleo de antiguidades no Museu Nacional de Be-las Artes de Havana, Cuba, indica um pouco da situao de aquisioe manuteno desses vasos em espaos to distantes da sua regio deproduo antiga e da produo do discurso sobre sua contribuiopara a narrativa do Ocidente. Essa coleo, atualmente sob a responsa-bilidade do Museu Nacional de Belas Artes de Havana, foi organizadapor um nobre cubano, o Conde de Lagunillas, que teve sua coleorequisitada no contexto da revoluo cubana, passando, a partir deento, para a custdia do governo revolucionrio. Dessa forma, no

    se tratava de uma poltica pblica de aquisio de antiguidades, comoacontecia em alguns pases europeus e nos EUA, mas da aquisio es-tatal a partir de uma iniciativa privada. Entretanto, a coleo foi prote-gida. Ao ser acusado de ter vendido parte dos vasos que a compunham,Fidel Castro teria dito, conforme publicao do jornal Vanguardiade 31 de maio de 2006, em um discurso: apenas os acostumados avender a sua alma acreditam que uma revoluo, cujo maior princpio a justia, pode vender a alma da cultura da ptria.

    No Brasil, com a vinda da famlia real portuguesa na primeirametade do sculo XIX, vrios elementos relacionados antiguidadeclssica comeavam a se instalar. importante lembrar, nesse sentido,da Misso Francesa que foi composta por alguns arquitetos, comoGrandjean de Montigny, responsveis por projetos de edifcios comclara influncia da arquitetura clssica. nesse contexto que a coleo

    de antiguidades da famlia real chega ao Brasil, composta por vriosobjetos relacionados Grcia continental e colonial, Egito, Etrria,entre outros locais, que compem atualmente o acervo do Museu Na-cional do Rio de Janeiro. Entretanto, essa coleo que inseria o Brasilna lgica do colecionismo de antiguidades no a nica. H outras,mais variadas, tambm compostas por vasos gregos, como algumascolees particulares e outras pblicas, como a do Museu de Arque-ologia e Etnologia da Universidade de So Paulo (MAE/USP) e doMuseu de Arte de So Paulo (Masp).

    Essas colees vm sendo exploradas do ponto de vista cient-fico. Basta lembrar da publicao do catlogo crtico da exposioCermicas antigas da Quinta da Boa Vista, no Museu de Belas

    Artes (1); e do projeto Corpus Vasorum Antiquorum, que visa apublicao de vasos gregos de algumas colees particulares, doMasp e do MAE/USP, totalizando cerca de 200 objetos, proje-to dirigido pela arqueloga Haiganuch Sarian (MAE/USP), quepublicou uma srie de estudos sobre objetos do acervo do MAE,principalmente a cermica grega e de tradio grega, agrupados nasua tese de livre docncia (2).

    Alm disso, importante lembrar que a situao desses objetoscompondo a coleo de museus expressivos no quadro artstico-cul-

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    (Condephaat). No se trata, evidentemente, do vaso grego isolada-mente caracterizado como patrimnio nacional brasileiro, mas a suainsero nessas colees que o situa em um grupo que, por sua deli-mitao a partir de elementos de interesse artstico e cultural variados,foi considerado digno de tombamento. Tem-se, assim, o vaso gregosituado em um processo de disperso que o encaminhou para o Brasil,onde lhe foi atribudo certos valores, inclusive o patrimonial.

    O VASO GREGO E AS RELAES INTERNACIONAISA circulao acima

    indicada deve ser tambm pensada no contexto da atual proteodas antiguidades. Como visto, na Grcia, h uma legislao bas-tante restritiva. J na Itlia, o pas com o maior nmero de vasosgregos encontrados fora da Grcia, a legislao mais flexvel,

    mas mesmo assim h uma srie de aes legais contra pases que,segundo algumas acusaes recentes, adquiriram antiguidadesilegalmente. Por exemplo, h uma srie de repre-sentaes em tribunais internacionais tratando dopedido de devoluo de objetos arqueolgicos queforam deslocados durante o sculo XIX e inciodo sculo XX para alguns pases europeus como aFrana, Inglaterra, Alemanha e tambm os Esta-dos Unidos. A campanha mais sistematicamenteapresentada a da devoluo dos mrmores doPartenon, que se tornou uma causa importantenacionalmente articulada na Grcia atualmente.

    Entretanto, mesmo fora da monumentalidadearquitetural, esse tipo de interesse manifestado.

    Por exemplo, em 18 de janeiro de 2008, o jornal O Estado de S.Paulodava a seguinte notcia: MET devolve vaso roubado de 2.500 anosao governo da Itlia. Tratava-se, efetivamente, do desfecho de umprocesso internacional iniciado pelo ministro da cultura italiano em2005, visando reaver objetos retirados da Itlia ilegalmente e recebi-dos pelo curador do Metropolitan Museum (MET) de Nova Iorque.

    A notcia continua:A cratera de Eufrnio um grande vaso pintado com cenas de

    poemas homricos tido como um dos mais belos exemplos dotipo. O vaso era usado para a diluio de vinho com gua. con-siderado, universalmente, o melhor trabalho do artista, disse o mi-nistro italiano da Cultura, Francesco Rutelli.

    No centro da discusso esto importantes instituies como oMinistrio da Cultura italiano contra o Metropolitan Museum emNova Iorque, em uma campanha da Itlia contra o trfico ilegalde antiguidades. Entretanto, mais que isso, possvel notar, pelacaracterizao que o ministro italiano apresenta, que h uma clarare-significao do objeto: o arteso virou um artista e o vaso sua obrade arte aproximada de uma importante referncia cultural para oOcidente a poesia homrica. Assim, no seio do debate legalista quepromoveu a devoluo desse objeto, aparece uma argumentao fo-

    cada nesses aspectos culturais que responde formulao modernado objeto (o vaso-objeto de arte).

    O VASO GREGO E O MERCADO DE ANTIGUIDADES Em uma narrativasobre a contemporaneidade, no filme O meu melhor amigo(Mon

    meilleur ami, 2006), dirigido por Patrice Leconte, o valor para seaferir o preo de uma amizade em uma aposta o de um vaso gregoavaliado em 20.000. A amizade, o vaso grego e os vinte mil eurosrevelam um tipo de valor alto atribudo a esse objeto como media-dor nas relaes de um meio elitista, destoando, em certa medida,do valor atribudo a esse tipo de objeto na antiguidade, contextoem que, pode-se dizer, no passaria de um objeto banal no erato caro e se caracterizava como um tipo de artesanato de interessemenor, considerando-se a criao escultural e arquitetnica. Entre-tanto, a re-significao atual o situa no plano de objeto/documentoe objeto de arte.

    O valor do vaso no filme citado bastante coerente, mas h valo-res bem maiores. Por exemplo, a casa de leiles Christiesanunciou

    o maior rendimento at ento em seus leiles de antiguidades, apartir das vendas dos dias 12 e 13 de junho de 2000: algo em tornode US$15 milhes, dos quais, apenas dois objetosforam responsveis por quase US$3 milhes. Tra-ta-se de dois vasos ticos de figuras vermelhas: umataa assinada por Douris (por US$1.776.000) e afamosa cratera de Toronto (por US$1.051.000),valores prximos do estimado, que era a partir deUS$1 milho. Essa seo (9448 12 de junho de2000) arrecadou US$ 7.053.906, a partir da ven-da de 151 peas, sendo duas delas os vasos acimacitados: lotes 81 e 111. E, no topo da lista de vasosgregos adquiridos em leiles, localiza-se uma h-dria de Caere, vendida por US$ 3.302.250.

    Vale notar que esses valores, se comparados aos das obras de artecontempornea, so bastante modestos. Por exemplo, o leilo intitu-lado Impressionist and Modern Art, em 3 de novembro de 2004, naChristies, registrou, para grande parte das obras, valores acima de ummilho de dlares, sendo a venda mais expressiva desse dia fixada emUS$ 20.167.000 trata-se do lote 24, a tela Londres, le parlement, effetde soleil dans le brouillard, de Claude Monet. Essa seo (1429) arre-cadou US$ 28.222.150, a partir da venda de 58 obras. Valores dessagrandeza, no que tange aos objetos no comrcio de antiguidades, soepisdicos; como a venda de uma escultura helenstica de rtemis eum cervo, estimada entre cinco e sete milhes de dlares, mas vendidapor US$ 28.600.000, superando todas as expectativas da Sothebys(leilo em 7 de junho de 2007, lote 41).

    O mercado parece distinguir o que objeto de arte e o que anti-guidade, atribuindo a esta um valor menor. Entretanto, esse valor reve-la um interesse consistente que orienta a prpria insero socioculturaldesses vasos atualmente. No so as mesas, despensas e tumbas maisvariadas que eles preenchem, mas as colees particulares e de museusque so potencialmente espaos de dilogo com o pblico e tambminstituies de guarda de bens valiosos. Inserido nessa lgica, o vasogrego tambm um bem de expresso financeira bastante relevante.

    O MERCADO

    PARECE

    DISTINGUIR

    OBJETO DE ARTE

    DE ANTIGUIDADE,

    ATRIBUINDO A

    ESTA VALOR

    MENOR

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    CONCLUSO O potencial cientfico do vaso grego como fonte deinformao de aspectos variados da experincia antiga no algoque est em jogo. Nem mesmo a sua re-significao que permitiucerta transio do campo do artesanato para o objeto de arte, queparece ser legtima, j que esses objetos so ativos na modernida-

    de. justamente sua insero dinmica que permite imputar aovaso grego significados novos no necessariamente incompatveiscom os significados antigos. O que no possvel pensar emuma linha que nos liga diretamente sua experincia passada eque o que somos e como os inserimos na nossa experincia sejaalgo idntico ao passado. O vaso grego hoje objeto de coleo,objeto de arte, fonte de informao, alcana valores relativamentealtos e , inclusive, inserido no campo do patrimnio. mais queo vaso dos gregos. Mas, para pensar nos gregos, a partir do vaso, necessrio despi-lo do que lhe foi atribudo por ns e, assim,exercitar a alteridade.

    Gilberto da Silva Francisco doutor em arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da

    Universidade de So Paulo (MAE/USP)

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    Belas Artes. 1995.

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    na antiguidade clssica. Tese de livre docncia em arqueologia cls-

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    BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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    world: ilegal trafficking in cultural property.New York, Dordrecht, Heidel-

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    Athens: Kapon. 2007.

    ARQUEOLOGIA E COMUNIDADESTRADICIONAIS NA AMAZNIA

    Helena Pinto Lima

    Bruno Moraes

    Tende-se a pensar que a arqueologia uma cinciarestrita ao estudo do passado. Em seus primrdios,at o incio do sculo XX, ela foi um campo do sabervoltado ao estudo dos objetos, principalmente emseus aspectos fsicos e at mesmo estticos, ligados

    s sociedades pretritas. Ao longo das transformaes das cinciashumanas, de um modo geral, levadas a cabo ao longo do sculopassado, a arqueologia ento passou a focar seus estudos na mate-rialidade da cultura em seus mais diversos aspectos com vistasa entender relaes sociais e culturais a partir de uma perspectiva

    diacrnica. Desta forma, encarada enquanto estudo de processosde continuidade e transformao cultural, a disciplina incorpora oestudo da contemporaneidade como parte integrante de seu objeto.

    Diferentes correntes atuais da arqueologia tm pensado emsociedades contemporneas para entender no somente aspectosligados s sociedades do passado, mas tambm para pensar sobreinteraes sociais do presente. Vista deste modo, a arqueologia noapenas uma forma de entender o passado, mas tambm uma prticasocial experienciada no presente, que carrega consigo um dilogoentre a subjetividade do arquelogo e o prprio objeto, entendidocomo um modo de produo material da cultura (1; 2).

    Na Amaznia, a arqueologia tradicionalmente tem sido encara-da enquanto histria indgena (3; 4; 5). Hoje, mais do que isso, elapode e deve ser considerada como uma disciplina vlida para o

    entendimento dos processos culturais relativos s populaes atu-ais: indgenas, grupos sociais urbanos, comunidades rurais ou associedades ribeirinhas estas ltimas alvo do presente artigo. Suapotencialidade se d tambm na forma de embasamento de teorias eprticas, inclusive aquelas que concernem construo de polticaspblicas, com a clara inteno de se pensar no futuro.

    As sociedades ribeirinhas atuais constituem um objeto de estudoprivilegiado para a atuao da arqueologia, ao integrarem ao seumodus vivendielementos do passado e do presente, em uma inter-locuo fascinante com a paisagem, a comear pelos locais ondehabitam, que recorrentemente esto sobre assentamentos de gru-pos pretritos os stios arqueolgicos. Suas (re)significaes sobreo lugar onde vivem e seus componentes espaciais e materiais sopeas-chave para uma compreenso mais holstica das interaesentre os comunitrios e os vestgios, em um processo de formao etransformao contnua do stio arqueolgico.

    Entender como se processa a interao entre esses elementos pro-move a compreenso da maneira como o presente est relacionado aopassado, seja atravs de rupturas ou de continuidades. Na Amaznia, oslocais onde se encontram os stios arqueolgicos, em geral compostospor terras pretas e com a presena de cermicas, so locais recorrente-

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