Fotos/Divulgação popular no universo VIRTUALO projeto está em fase de elabo-ração, com viagens...

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São Luís, 19 e 20 de novembro de 2016. Sábado/ Domingo [email protected] Pesquisador da cultura popular Jandir Gonçalves está participando do projeto de divulgação cultural O grupo de Bumba meu boi Touro Vianense, do povoado Boisiquara, município de Viana, na região dos Lagos, na Baixada Ma- ranhense, mantem, em seus rit- mos, indumentárias e ritos, mani- festações culturais tradicionais que o diferenciam, em vários as- pectos, dos grandes e mais co- nhecidos grupos do Maranhão. Para tentar resolver entraves que estão atrapalhando a preser- vação dessa identidade e para ter acesso a políticas culturais que aju- dem a manter a brincadeira, o Boi Touro Vianense e outros 33 grupos dos municípios de Viana, Cajari, Matinha e Penalva estão se unin- do em rede, por meio de um pro- jeto da Fundação São Sebastião, denominado Rede Cazumba. É um Centro de Referência Me- mória e Comunicação virtual, por meio do qual eles querem trocar informações, abrir canais de guar- da das manifestações e ter acesso a políticas públicas e editais volta- dos para o setor de cultura. A pro- posta é inovadora. É a primeira vez que grupos de bumba meu boi se reúnem para montar uma rede vir- tual independente que abra espa- ço para incrementar as brincadei- ras e ajudar a preservar a memória e as identidades dos grupos. O projeto está em fase de elabo- ração, com viagens de pesquisado- res da cultura popular, educadores pelos municípios da região em bus- ca de consolidar os conteúdos. A pesquisa começou com a cataloga- ção (localização, nome e organiza- dores) dos grupos. É um trabalho amplo, que vai se estender por anos para que se construa um perfil com- pleto e detalhado de cada um dos 33 grupos, suas histórias, toadas, ca- lendário de festas e rituais. O trabalho é realizado por meio de projeto da Fundação São Se- bastião, sediada no município de Viana, com apoio do Prêmio Redes do Brasil (categoria Local), pro- movido pelo Ministério da Cultu- ra, em edital premiado em 2015. O lançamento da Rede Cazumba se- rá no dia 20 de janeiro de 2017, em Viana. A proposta é que seja tam- bém uma fonte de pesquisa sobre os Bois da Baixada para pessoas de todo o mundo. Os 34 grupos que vão integrar a rede têm o sotaque da Baixada. As manifestações deles estão direta- mente ligadas ao cotidiano de suas comunidades de origem, localiza- das nos municípios de Viana, Ca- jari, Matinha, Penalva e Monção, sendo algumas situadas em po- voados que ainda enfrentam isola- mento geográfico e virtual. “O isolamento não vai impedir a comunicação e funcionamento da Rede Cazumba, pois, mesmo com as dificuldades de acesso a li- nhas de internet no interior do Maranhão, os grupos já fincaram um marco dentro da rede virtual para terem acesso quando, for pos- sível, e para reivindicarem esse acesso das autoridades constituí- das, a rede é uma saída para ga- rantir a visibilidade e a continui- dade das festas”, explica o artista visual Claudio Costa, que foi con- vidado pelos brincantes para par- ticipar do projeto. Narciso Barros, amo do grupo Touro Viananense, traduz bem a satisfação com a iniciativa que cria a rede virtual. Ele acha que os gru- pos estão agora tendo oportunida- des de gozar de mais independên- cia e voz, o vai ajudar as brincadei- ras. “O boi da região já merecia há muito tempo, uma organização pa- ra defender seu patrimônio, agora a rede vem cumprir esse papel”. Construção do Centro A Rede Cazumba - Centro de Refe- rência Memória e Comunicação agrega efeitos de um trabalho que começou durante reuniões entre li- deranças do bumba meu boi nas Semanas Cazumba, realizadas de 2010 a 2014, um projeto da Funda- ção São Sebastião com apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Comis- são Maranhense do Folclore. O pro- jeto, incentivou a construção de in- tervenções voltadas para a preser- vação da cultura popular. Convivendo há anos com os brincantes, o artista visual Claudio Costa participa da construção do Centro de Referência Memória e Comunicação. A meta, segundo ele, é instituir estratégias que garantam a continuidade das singularidades das manifestações e proporcionar aos grupos o conhecimento neces- sário para, eles próprios terem aces- so a mecanismos que garantam acesso a políticas públicas e editais voltado para a área de cultura. No Centro de Referência Me- mória e Comunicação haverá es- paço para depoimentos dos amos e demais integrantes das brincan- tes. Serão incluídas imagens de toa- das, rituais, arte de bordados, per- sonagens, máscaras, figurinos e adereços, instrumentos musicais. É uma página somente com faze- dores de boi. Entre os espaços, os de programações, atividades reali- zadas, educação patrimonial, edi- tais culturais abertos etc. “Funcio- nará como antena de comunica- ção de editais, encontros, festivi- dades, datas de rituais, por conta de eles estarem isolados”, explicou Claudio Costa. FESTIVAL DE TEATRO COMEÇA SEGUNDA-FEIRA Evento voltado para o público estudantil será realizado até a próxima sexta-feira. P. 4 Fotos/Divulgação Em uma iniciativa inédita, grupos de bumba meu boi da baixada se unem e criam um portal, por meio do qual estreitam seus laços e instrumentalizam suas atividades VIRTUAL Cultura popular no universo Singularidades Uma das questões em debate entre os grupos envolve o isolamento de alguns grupos em povoados de di- fícil acesso. Pode ser que o isola- mento tenha ajudado os grupos a manterem suas secularidades, mas, ao mesmo tempo, tudo indica que esse mesmo isolamento esteja ameaçando a sobrevivência dessas manifestações culturais, que estão sentindo falta de apoio para se man- ter e serem atrativos suficientes pa- ra chamar a atenção de novas gera- ções que possam garantir a conti- nuidade das atividades. É consenso entre os grupos que o trabalho de educativo é impor- tante para incentivar os jovens a se envolverem com as atividades dos grupos e para preparar crianças e jovens para dar continuidade às brincadeiras. Nesta fase de prepa- ração do Centro de Referência Me- mória e Comunicação, que come- çou em setembro deste ano, foram promovidas oficinas educativas e patrimoniais e viagens de pesquisa para criação de conteúdo. Muitos dos debates que culmina- ram com a ideia de criação foram realizados por meio de outras ativi- dades educativas promovidas pela Fundação São Sebastião e parceiros, o que inclui a realização de oficinas, palestras, treinamentos e cursos. Es- sa formação ajudou os grupos a te- rem autonomia e iniciativa de cria- rem a Rede Cazumba. Essas ativida- des incluíram a participação de pes- quisadores como Jandir Gonçalves, que há anos investiga a cultura po- pular no interior do Maranhão. Rede Cazumba reúne 34 grupos dos municípios de Viana, Cajari, Penalva e Matinha ESTUDO Cláudio Costa e o amo Narciso Barros

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São Luís, 19 e 20 de novembro de 2016. Sábado/ [email protected]

Pesquisador da cultura popular Jandir Gonçalves está participando do projeto de divulgação cultural

Ogrupo de Bumba meuboi Touro Vianense, dopovoado Boisiquara,município de Viana, na

região dos Lagos, na Baixada Ma-ranhense, mantem, em seus rit-mos, indumentárias e ritos, mani-festações culturais tradicionaisque o diferenciam, em vários as-pectos, dos grandes e mais co-nhecidos grupos do Maranhão.

Para tentar resolver entravesque estão atrapalhando a preser-vação dessa identidade e para teracesso a políticas culturais que aju-dem a manter a brincadeira, o BoiTouro Vianense e outros 33 gruposdos municípios de Viana, Cajari,Matinha e Penalva estão se unin-do em rede, por meio de um pro-jeto da Fundação São Sebastião,denominado Rede Cazumba.

É um Centro de Referência Me-mória e Comunicação virtual, pormeio do qual eles querem trocarinformações, abrir canais de guar-da das manifestações e ter acessoa políticas públicas e editais volta-dos para o setor de cultura. A pro-posta é inovadora. É a primeira vezque grupos de bumba meu boi sereúnem para montar uma rede vir-tual independente que abra espa-ço para incrementar as brincadei-ras e ajudar a preservar a memóriae as identidades dos grupos.

O projeto está em fase de elabo-ração, com viagens de pesquisado-res da cultura popular, educadorespelos municípios da região em bus-ca de consolidar os conteúdos. Apesquisa começou com a cataloga-ção (localização, nome e organiza-dores) dos grupos. É um trabalhoamplo, que vai se estender por anospara que se construa um perfil com-pleto e detalhado de cada um dos33 grupos, suas histórias, toadas, ca-lendário de festas e rituais.

O trabalho é realizado por meiode projeto da Fundação São Se-bastião, sediada no município deViana, com apoio do Prêmio Redesdo Brasil (categoria Local), pro-movido pelo Ministério da Cultu-ra, em edital premiado em 2015. Olançamento da Rede Cazumba se-rá no dia 20 de janeiro de 2017, emViana. A proposta é que seja tam-bém uma fonte de pesquisa sobreos Bois da Baixada para pessoas detodo o mundo.

Os 34 grupos que vão integrar arede têm o sotaque da Baixada. Asmanifestações deles estão direta-mente ligadas ao cotidiano de suascomunidades de origem, localiza-das nos municípios de Viana, Ca-jari, Matinha, Penalva e Monção,sendo algumas situadas em po-

voados que ainda enfrentam isola-mento geográfico e virtual.

“O isolamento não vai impedira comunicação e funcionamentoda Rede Cazumba, pois, mesmocom as dificuldades de acesso a li-nhas de internet no interior doMaranhão, os grupos já fincaramum marco dentro da rede virtualpara terem acesso quando, for pos-sível, e para reivindicarem esseacesso das autoridades constituí-das, a rede é uma saída para ga-rantir a visibilidade e a continui-dade das festas”, explica o artistavisual Claudio Costa, que foi con-vidado pelos brincantes para par-ticipar do projeto.

Narciso Barros, amo do grupoTouro Viananense, traduz bem asatisfação com a iniciativa que criaa rede virtual. Ele acha que os gru-pos estão agora tendo oportunida-des de gozar de mais independên-cia e voz, o vai ajudar as brincadei-ras. “O boi da região já merecia hámuito tempo, uma organização pa-ra defender seu patrimônio, agoraa rede vem cumprir esse papel”.

Construção do Centro A Rede Cazumba - Centro de Refe-rência Memória e Comunicaçãoagrega efeitos de um trabalho quecomeçou durante reuniões entre li-deranças do bumba meu boi nasSemanas Cazumba, realizadas de2010 a 2014, um projeto da Funda-

ção São Sebastião com apoio doInstituto do Patrimônio Histórico eArtístico Nacional (Iphan) e Comis-são Maranhense do Folclore. O pro-jeto, incentivou a construção de in-tervenções voltadas para a preser-vação da cultura popular.

Convivendo há anos com osbrincantes, o artista visual ClaudioCosta participa da construção doCentro de Referência Memória eComunicação. A meta, segundo ele,é instituir estratégias que garantama continuidade das singularidadesdas manifestações e proporcionaraos grupos o conhecimento neces-sário para, eles próprios terem aces-so a mecanismos que garantamacesso a políticas públicas e editaisvoltado para a área de cultura.

No Centro de Referência Me-mória e Comunicação haverá es-paço para depoimentos dos amose demais integrantes das brincan-tes. Serão incluídas imagens de toa-das, rituais, arte de bordados, per-sonagens, máscaras, figurinos eadereços, instrumentos musicais.É uma página somente com faze-dores de boi. Entre os espaços, osde programações, atividades reali-zadas, educação patrimonial, edi-tais culturais abertos etc. “Funcio-nará como antena de comunica-ção de editais, encontros, festivi-dades, datas de rituais, por contade eles estarem isolados”, explicouClaudio Costa.

FESTIVAL DE TEATRO COMEÇA SEGUNDA-FEIRAEvento voltado para o públicoestudantil será realizado até apróxima sexta-feira. P. 4

Fotos/Divulgação

Em uma iniciativa inédita, grupos de bumba meu boi da baixada se unem e criam um portal, por meio do qual estreitam seus laços e instrumentalizam suas atividades

VIRTUAL

Cultura popular no universo

Singularidades Uma das questões em debate entreos grupos envolve o isolamento dealguns grupos em povoados de di-fícil acesso. Pode ser que o isola-mento tenha ajudado os grupos amanterem suas secularidades, mas,ao mesmo tempo, tudo indica queesse mesmo isolamento estejaameaçando a sobrevivência dessasmanifestações culturais, que estãosentindo falta de apoio para se man-ter e serem atrativos suficientes pa-ra chamar a atenção de novas gera-ções que possam garantir a conti-nuidade das atividades.

É consenso entre os grupos queo trabalho de educativo é impor-tante para incentivar os jovens a seenvolverem com as atividades dosgrupos e para preparar crianças ejovens para dar continuidade àsbrincadeiras. Nesta fase de prepa-ração do Centro de Referência Me-mória e Comunicação, que come-çou em setembro deste ano, forampromovidas oficinas educativas epatrimoniais e viagens de pesquisapara criação de conteúdo.

Muitos dos debates que culmina-ram com a ideia de criação foramrealizados por meio de outras ativi-dades educativas promovidas pelaFundação São Sebastião e parceiros,o que inclui a realização de oficinas,palestras, treinamentos e cursos. Es-sa formação ajudou os grupos a te-rem autonomia e iniciativa de cria-rem a Rede Cazumba. Essas ativida-des incluíram a participação de pes-quisadores como Jandir Gonçalves,que há anos investiga a cultura po-pular no interior do Maranhão. �

Rede Cazumba reúne 34 grupos dos municípios de Viana,Cajari, Penalva e Matinha

ESTUDOCláudio Costa

e o amo Narciso Barros