Fotos: Thiago Prado Neris Entrevista Quais são os maiores ... · PDF fileOs garotos...

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Q uando foi indicada para assumir a direção da escola Reunidas, que um ano depois da- ria lugar ao Centro Educacional Municipal Renascer, Dona Neumar ficou apreensiva. As notícias que corriam sob re a região, em 1999, eram alarmantes. Nenhum familiar ousou subir até o Morro do Pedregal para levá-la em seu primeiro dia de trabalho. Sem receios, foi trabalhar de ônibus e nunca mais deixou de participar do cotidiano escolar. “No co- meço, os funcionários me perguntavam se poderiam vir trabalhar de brinco ou anel”, relembra. Quase dez anos depois, Neumar Bezerra continua a dedicar-se aos 600 alu- nos da 1ª série do ensino fundamental ao supletivo. “Hoje não sei mais se é barulho de tiro, bombinha, de foguete”. Afastada recentemente por nepotismo - duas de suas filhas trabalham na escola -, ela voltou há pouco tempo como assessora administrativa. A diretoria foi assumida pela as- sistente social Milena Fucks, há três anos na instituição. A rotina do Centro Renascer reflete o que acontece além das paredes das salas de aula. Até o ano passado, quando dois grupos rivais trocavam tiros entre si ou com a polícia, a qualquer hora do dia, o colégio era uma garantia para os pais de que os filhos estavam seguros. De acordo com a Central de Polícia de São José, a região do Pedre- gal era comparada às comunidades do Rio de Janeiro e por isso ganhou o apelido de Baixada Fluminense. Não há um levantamento de índices de criminalidade, mas os homicídios são menos recorrentes depois que os líderes dos grupos envolvidos com tráfico de drogas foram presos. As apreensões por porte de arma e drogas continuam sendo constantes. Quando barulhos de tiros próximos às janelas do se- gundo andar desnortearam alunos e professores, em no- vembro de 2007, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) entrou na escola. A psicóloga Gabriella Pereira, que traba- lha como auxiliar de secretaria, anotava um recado no quadro quando ouviu os sons. Em momentos como esse, os professores e funcionários costumam fechar as cortinas das salas e tentam acalmar os estudantes. Para Gabriella, quem trabalha na escola Renascer não tem medo e cria laços de afeto com os alunos. Após esse fato, a prefeitura de São José solicitou à dire- ção do Renascer que o laboratório de ciências deveria ser desativado para dar lugar a um posto policial dentro da escola. A comunidade e os funcionários se posicionaram contra a atitude e a própria prefeitura mudou de idéia em poucos dias. Dona Neumar, da administração, explica que a comunidade quer um posto policial nas proximidades da escola, não dentro. “É complicado misturar educação com coerção”, acrescenta a diretora. Tráfico, polícia e a escola Quando o carro do Bope sobe a região do Morro do Pe- dregal alguns estudantes correm para a janela e cantam a música-tema do filme Tropa de Elite. Uma professora da 4ª série questionou a turma de 32 alunos sobre o que cada um quer ser quando crescer. A resposta foi quase unânime: “quero ser do Bope”. Segundo os professores, os alunos vêem na polícia uma forma de subir na vida porque a profissão dos pais eles sabem que não dá dinheiro e poder. “As crianças que- rem trabalhar na polícia ou ser chefes do morro, porque não sabem que existe médico, advogado, engenheiro”, ob- serva a psicóloga. Dona Neumar completa: “O Brasil pra eles é o Pedregal”. Não só as referências à polícia demonstram a influ- ência da realidade violenta nas atitudes e atividades dos alunos. Os estudantes gostam de mostrar que conhecem os tipos de armas, calibres e as variedades das drogas. A diretora explica que a nova brincadeira de sucesso entre os alunos é amassar giz branco para simular a compra e venda de “pó”. Durante as atividades escolares, os estudantes costu- mam desenhar a própria casa rodeada de policiais, heli- cópteros e armas. A supervisora Denise Schroeder relata que um aluno do período da tarde chegou à escola com o cabelo raspado no formato de um revólver calibre 38. Ele foi encaminhado para que desfizesse o novo “penteado”. Outro estudante, no ano passado, fez as aulas da escola serem interrompidas depois de jogar uma bomba caseira em um canto do colégio. Os professores novos costumam ser testados pelos alunos. Alessandra dos Santos, há dois meses no colégio, conta que já trabalhou em muitas escolas e já está acostu- mada com as novidades. Quando começou no Renascer, um aluno ameaçou mostrar uma pistola depois que ela chamou sua atenção. “Eu respondi que não tinha medo de pistola nenhuma, e pronto. Nunca mais me incomo- dei com nada. Eles querem é testar pra ver se a gente tem medo deles”, completa. Adriana Espíndola, professora da 2ª série, garante que a sensação de insegurança dura pou- cos dias. “A maioria dos alunos respeita a gente, é prazero- so trabalhar com eles”, afirma. No período noturno, quando funciona o ensino mé- dio e o supletivo, a realidade muda. As aulas terminam às 22h15 e os horários dos ônibus da empresa Biguaçu têm que acompanhar o término das aulas, pois os professores se recusam a esperar no ponto. Dona Neumar explica que se o horário da linha é alterado por qualquer motivo, a escola precisa mandar um ofício à empresa de transporte exigindo a volta do antigo horário. Os pais no cotidiano escolar Dona Genoveva é um exemplo de familiar responsável que participa das atividades da escola. Leva o neto, da 1ª série, ao colégio todos os dias. A senhora de rosto marcado, com idade inferior aos 40 anos, representa os moradores da comunidade Renascer que não têm envolvimento com o tráfico e que não pensam em deixar o local. Junto ao ma- rido e aos quatro filhos, Dona Genoveva deixou o trabalho na roça, na cidade de Lages, há 20 anos, para tentar novas oportunidades no Pedregal. Cria o neto, abandonado pela nora, com o salário do marido, funcionário público, e com a venda de doces e roupas íntimas. “Ela não tinha condi- ções de criá-lo, então deixou pra mim”, justifica. Dona Genoveva afirma não ter medo de viver no Pe- dregal. Mesmo nos tempos em que “não tinha hora pra gente se jogar no chão”, por causa dos tiroteios, a senhora garante: “A gente que faz o lugar da gente. Nenhum filho meu está metido com coisa ruim, graças a Deus, mas sem- pre tem uns conhecidos da gente”. Além da violência O papel que o Centro Renascer assume na região do Pedregal vai além de educar e de atuar como abrigo. A pesquisadora Juliane Borsa, da PUC-RS, em sua tese O pa- pel da escola na socialização infantil , define as funções essenciais da instituição. “É na escola que se constrói parte da identidade de ser e pertencer ao mundo; a aquisição dos princípios éticos e morais; onde se depositam as expectati- vas, inseguranças em relação ao futuro”, sustenta. Os moradores das comunidades do Pedregal e da Boa Esperança – ambas próximas à escola Renascer - enfren- tam dificuldades que ultrapassam a necessidade de fugir de um tiroteiro. “A realidade que circula aqui é a da pobreza, da falta de oportunidades, da violência doméstica. O tráfico não é um problema aqui, apenas um mundo paralelo”, garante Gabriella Pereira. Os problemas da comunidade começam na área da higiene sanitária. A maioria das casas não tem banheiro, muito menos rede de esgoto, e são construídas a partir de qualquer tipo de material, até papelão. “A gente precisa en- sinar as crianças a escovar os dentes, por exemplo, a tomar banho”, relata Gabriella. No colégio, os alunos conseguem médico, há merenda – que para alguns é a única refeição do dia – podem usar o banheiro e recebem a atenção dos professores. Os casos de alunos espancados e abusados sexualmen- te dentro de casa são constantes dentro do Centro Renas- cer. Só em 2007, foram quatro casos confirmados e enca- minhados ao Conselho Tutelar. A orientadora educacional Rosilene Renert conta que alguns pais chegam a tirar os filhos da escola quando desconfiam que o colégio está in- vestigando um possível caso de violência sexual. A escola atua em parceria com o Conselho Tutelar para confirmar e resolver os casos de abuso. A diretora Milena Fucks garante que o colégio trabalha com os professores a idéia de que eles precisam dedicar-se aos alunos de maneira diferenciada, além do conteúdo di- dático. “O professor quer passar a matéria, mas a gente ex- plica que o trabalho com o aluno tem que ser completo”. Além das aulas de reforço escolar e das atividades so- ciais que envolvem a escola e a comunidade, existe o pro- jeto Parada Pedagógica. Uma vez por mês, cada escola da rede municipal recebe um consultor pedagógico para trabalhar com os professores as necessidades locais dos alunos. Para a secretária da Educação de São José, Gio- vania Kretzer, é por meio desses projetos que a prefeitura pode contribuir para amenizar as dificuldades de aprendi- zagem e problemas sociais dos alunos. No Centro Renas- cer, Rosilene Renert destaca que a escola também adota um conjunto de políticas para amenizar a agressividade dos estudantes presente nas brincadeiras de chutes, brigas e desentendimentos. O bom desempenho escolar das crianças e adolescen- tes também se torna fruto de um trabalho minucioso. “O avanço deles aqui dentro é mérito deles mesmo, porque o incentivo dentro de casa é quase zero”, observa Dona Neumar. Os professores relatam que muitos demoram a aprender a ler e a escrever, chegam à 1ª série com dificul- dades até de identificar as cores. Projetos paralelos Junto ao colégio, funcionam vários projetos em par- ceria com a prefeitura, como o Bandas e Fanfarras , que há poucas semanas deu à escola Renascer o troféu de pri- meiro lugar no campeonato regional em Otacílio Costa. Nos sábados, a escola abriga as oficinas profissionalizan- tes. Cursos como Corte de Cabelo, Informática, Porcelana Fria e outros estão abertos à comunidade. Em 2007, 400 alunos da rede municipal de São José foram diplomados nos 28 cursos. Júlio, 12 anos, participa das oficinas de Porcelana Fria aos sábados. Junto com os colegas Samuel, 14, Mateus, 11 e Giovani, 11, da 6ª série, costuma vir à escola nas tardes para fazer trabalhos ou participar dos projetos. Os meni- nos, que mantêm um desempenho dentro da média, são considerados exceções na escola. Nenhuma advertência por mau-comportamento, interesse dos pais pelo desem- penho escolar e utensílios como computador e videogame revelam uma realidade na vida deles que não atinge à maioria dos estudantes. Os garotos são unânimes quando afirmam gostar de morar no Morro do Pedregal, mas a mãe de Mateus pensa em se mudar da região. “Não sei, ela diz que não gosta”, justifica o menino. Sobre a violência do local, eles falam com firmeza: “Minha vizinha quase levou um tiro na cabeça outro dia, mas hoje em dia, qualquer lugar é perigoso”, observa Júlio. Juliana Gomes Quando a escola assume outros papéis Mais de 4 mil alunos da rede municipal de São José estudam em regiões violentas, como no Centro Renascer, onde é preciso fazer mais do que ensinar 8 e 9 Especial Florianópolis, junho de 2008 Trabalho duro, pulso firme e contatos na prefeitura fizeram de Seu Valcir a voz representativa da região do Pedregal Estudantes da 1ª série ao supletivo usam o colégio para praticar esportes e participar de projetos fora do período escolar Fotos: Thiago Prado Neris Os conflitos da região interferem no cotidiano escolar, desde os desenhos aos exercícios e debates em sala de aula Entrevista Ele tem pressa ou está ocupado. É simpático, apesar de falar pouco. Tem quatro filhos, quatro netos e torce para o Figueirense. Valcir Antônio Pereira deixou a cidade de Catandu- vas, interior de Santa Catarina, há 16 anos, para viver no morro do Pedregal. Viajou o Brasil trabalhando como vigilante de escolta, mas foi aposentado por invalidez depois de levar um tiro na perna durante assalto. Logo que chegou à comunidade, começou a freqüentar as reuniões da Associação de Moradores. Pouco depois, já tinha sido eleito presidente por três vezes. Também assumiu o cargo de presidente da Associação de Pais e Professores (APP) da escola Renascer e está no terceiro mandato consecutivo. Correu atrás de contatos com a Secretaria de Obras da prefeitura de São José e aí já tinha se tornado o líder da co- munidade do Pedregal e da vizinha, Boa Esperança. Juntas, somam dez mil moradores. “Só não ajudo malandro” ero - Por que chamam o senhor de líder? Valcir: Porque aqui tudo que precisam eles pedem pra mim. Eu levo gente pro hospital, dou um jeito de abrigar quem perdeu casa em enchente. Vou atrás de rede de esgoto. E agora “tô” lutando pela construção de uma área de lazer pras crianças brincarem aqui, com praça, quadra de esportes. Mas a Câmara de Ve- readores de São José não aprova porque diz que há outras prioridades na cidade. Em todas as sessões da Câmara, vou pra pressionar a aprovação do projeto. É uma luta diária. Só não ajudo malandro. Malandro? Aquele que fica sentado o dia todo, ou o mala que é metido com coisa ruim, que bagunça a co- munidade. Mala não tem vez comigo. Nenhum de- les influencia o meu trabalho aqui dentro ou vem me desafiar. Quando me encontram na rua eles dizem: “Oi, seu Valcir”. Eu respondo: “Oi e tchau”. Qual o perfil das comunidades do local? Posso dizer que 99% da população é trabalhadora: pintor, cobrador de ônibus, funcionário público. O senhor considera segura a região? Perigoso não é, mas se tem tiro nós nos abai- xamos (risos). Aqui não existe esse negócio de traficante ficar no meio da rua, circulando pela comunidade como no Morro do Horácio, em Flo- rianópolis. Traficante aqui da região anda a pé ou de bicicleta. “Carrão” só entra aqui quando mau- ricinho lá de baixo vem comprar droga. Algumas pessoas disseram que têm medo de morar aqui. É. Até o passado a coisa tava ruim mesmo. A po- lícia entrava aqui o dia inteiro, mas os dois grupos da droga que ficavam trocando tiro se acertaram, fizeram um acordo e ainda comemoraram com churrasco e 500 foguetes. Quais são os maiores problemas da região? O Centro de Saúde é muito pequeno e aten- de umas oito comunidades aqui da região, é muita gente. Os maiores problemas são de in- fra-estrutura mesmo: esgoto, asfalto, buraco nas ruas. A rede de esgoto está muito precária, eu “tô” lutando pra trocar a tubulação toda. Mas a minha comunidade “tá” devendo mes- mo na questão do lixo. As pessoas continuam com aquela cultura de jogar lixo na casa do vizinho, no meio da rua, acho que essa é a mi- nha principal luta atualmente, resolver essa questão do lixo. O senhor conhece outros representantes de comunidades? Claro. Conheço os das comunidade de Potecas, Morro Dona Eli, Horto Florestal, do Morro do Avaí. A gente faz reuniões com o prefeito pra discutir as neces- sidades dos moradores. Como as pessoas de fora da comunidade vêem o trabalho do senhor? Já me chamaram até de traficante. O pessoal daqui de fora fala isso, mas quem sustenta a droga daqui são os filhos deles. Quem mora aqui não tem dinheiro pra sustentar o vício. O que pode ser feito pra evitar que as crianças sejam influenciadas pelo tráfico? Eu “tô” atrás do projeto da área de lazer por isso. Tem os projetos com a prefeitura, né? Na escola têm vários. E nós temos aqui na co- munidade o Ponte Júnior Esporte Clube, que disputa a liga de futebol de São José na segun- da divisão. Já saiu jogador daqui pra jogar no Figueirense, na Portuguesa e até no Santos. O time mesmo é formado por adultos, mas o treinador também ensina crianças de seis a 14 anos. (J.G.) No Centro Renascer estudam 600 alunos da comunidade do Pedregal e da Boa Esperança, no bairro Ipiranga, em São José

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io d

a lin

ha é

alte

rado

por

qua

lque

r mot

ivo, a

es

cola

prec

isa m

anda

r um

ofíci

o à em

pres

a de t

rans

porte

ex

igind

o a vo

lta do

antig

o hor

ário

.

Os p

ais n

o co

tidia

no es

cola

rDo

na G

enov

eva é

um

exem

plo d

e fam

iliar

resp

onsá

vel

que p

artic

ipa

das a

tivid

ades

da

esco

la. L

eva

o ne

to, d

a 1ª

rie, a

o col

égio

todo

s os d

ias. A

senh

ora d

e ros

to m

arca

do,

com

idad

e inf

erio

r aos

40

anos

, rep

rese

nta

os m

orad

ores

da

com

unid

ade R

enas

cer q

ue n

ão tê

m en

volvi

men

to co

m

o trá

fico e

que n

ão pe

nsam

em de

ixar o

loca

l. Jun

to ao

ma-

rido e

aos q

uatro

filh

os, D

ona G

enov

eva d

eixou

o tra

balh

o na

roça

, na c

idad

e de L

ages

, há 2

0 ano

s, pa

ra te

ntar

nov

as

opor

tuni

dade

s no P

edre

gal. C

ria o

neto

, aba

ndon

ado p

ela

nora

, com

o sa

lário

do m

arid

o, fu

ncio

nário

públ

ico, e

com

a

vend

a de

doc

es e

roup

as ín

timas

. “El

a nã

o tin

ha co

ndi-

ções

de cr

iá-lo

, ent

ão de

ixou

pra m

im”,

justi

fica.

Dona

Gen

ovev

a afi

rma

não

ter m

edo

de vi

ver n

o Pe

-dr

egal

. Mes

mo

nos t

empo

s em

que

“nã

o tin

ha h

ora

pra

gent

e se j

ogar

no c

hão”

, por

caus

a dos

tiro

teios

, a se

nhor

a ga

rant

e: “A

gent

e que

faz o

luga

r da

gent

e. Ne

nhum

filh

o m

eu es

tá m

etido

com

coisa

ruim

, gra

ças a

Deu

s, mas

sem

-pr

e tem

uns

conh

ecid

os da

gent

e”.

Além

da

viol

ênci

a O

pape

l que

o C

entro

Ren

asce

r assu

me n

a re

gião

do

Pedr

egal

vai

além

de

educ

ar e

de

atua

r com

o ab

rigo.

A pe

squi

sado

ra Ju

liane

Bor

sa, d

a PUC

-RS,

em su

a tes

e O p

a-pe

l da

esco

la n

a so

cializ

ação

infa

ntil,

defin

e as f

unçõ

es

esse

ncia

is da

insti

tuiçã

o. “É

na e

scol

a que

se co

nstró

i par

te

da id

entid

ade d

e ser

e pe

rtenc

er ao

mun

do; a

aqui

sição

dos

prin

cípio

s étic

os e

mor

ais;

onde

se de

posit

am as

expe

ctati-

vas,

inse

gura

nças

em re

laçã

o ao f

utur

o”, s

usten

ta.

Os m

orad

ores

das

com

unid

ades

do

Pedr

egal

e da

Boa

Es

pera

nça –

amba

s pró

ximas

à es

cola

Ren

asce

r - e

nfre

n-ta

m di

ficul

dade

s que

ultra

passa

m a

nece

ssida

de de

fugir

de

um ti

rotei

ro. “

A rea

lidad

e que

circ

ula a

qui é

a da

pobr

eza,

da fa

lta de

opor

tuni

dade

s, da v

iolên

cia do

més

tica.

O trá

fico

não

é um

pro

blem

a aq

ui, a

pena

s um

mun

do p

aral

elo”,

gara

nte G

abrie

lla P

ereir

a. Os

pro

blem

as d

a co

mun

idad

e co

meç

am n

a ár

ea d

a hi

giene

sani

tária

. A m

aior

ia d

as ca

sas n

ão te

m b

anhe

iro,

mui

to m

enos

rede

de e

sgot

o, e s

ão co

nstru

ídas

a p

artir

de

qual

quer

tipo d

e mat

eria

l, até

pape

lão.

“A ge

nte p

recis

a en-

sinar

as cr

ianç

as a

esco

var o

s den

tes, p

or ex

empl

o, a t

omar

ba

nho”

, rela

ta G

abrie

lla. N

o col

égio

, os a

luno

s con

segu

em

méd

ico, h

á mer

enda

– qu

e par

a algu

ns é

a úni

ca re

feiçã

o do

dia –

pode

m u

sar o

banh

eiro e

rece

bem

a at

ençã

o dos

pr

ofes

sore

s.Os

caso

s de a

luno

s esp

anca

dos e

abus

ados

sexu

alm

en-

te de

ntro

de c

asa

são

cons

tant

es d

entro

do

Cent

ro R

enas

-ce

r. Só

em 2

007,

fora

m q

uatro

caso

s con

firm

ados

e en

ca-

min

hado

s ao C

onse

lho T

utela

r. A or

ienta

dora

educ

acio

nal

Rosil

ene R

ener

t con

ta q

ue a

lguns

pai

s che

gam

a ti

rar o

s fil

hos d

a esc

ola q

uand

o des

confi

am qu

e o co

légio

está

in-

vesti

gand

o um

pos

sível

caso

de v

iolên

cia se

xual

. A es

cola

at

ua em

parc

eria

com

o Co

nselh

o Tut

elar p

ara c

onfir

mar

e r

esol

ver o

s cas

os de

abus

o.A d

ireto

ra M

ilena

Fuck

s gar

ante

que o

colég

io tr

abal

ha

com

os pr

ofes

sore

s a id

éia de

que e

les pr

ecisa

m de

dica

r-se

aos a

luno

s de m

aneir

a dife

renc

iada

, além

do co

nteú

do di

-dá

tico.

“O pr

ofes

sor q

uer p

assa

r a m

atér

ia, m

as a

gent

e ex-

plica

que o

trab

alho

com

o al

uno t

em qu

e ser

com

pleto

”.

Além

das

aul

as d

e refo

rço

esco

lar e

das

ativ

idad

es so

-cia

is qu

e env

olve

m a

esco

la e

a com

unid

ade,

exist

e o pr

o-jet

o Pa

rada

Ped

agóg

ica. U

ma

vez

por m

ês, c

ada

esco

la

da re

de m

unici

pal r

eceb

e um

cons

ulto

r ped

agóg

ico p

ara

traba

lhar

com

os

prof

esso

res

as n

eces

sidad

es lo

cais

dos

alun

os. P

ara

a se

cretá

ria d

a Ed

ucaç

ão d

e Sã

o Jo

sé, G

io-

vani

a Kr

etzer,

é po

r meio

des

ses p

rojet

os q

ue a

pre

feitu

ra

pode

cont

ribui

r par

a am

eniza

r as d

ificu

ldad

es de

apre

ndi-

zage

m e

prob

lemas

socia

is do

s alu

nos.

No C

entro

Ren

as-

cer,

Rosil

ene

Rene

rt de

staca

que

a e

scol

a ta

mbé

m a

dota

um

conj

unto

de

polít

icas p

ara

amen

izar a

agr

essiv

idad

e do

s estu

dant

es pr

esen

te na

s brin

cade

iras d

e chu

tes, b

rigas

e d

esen

tendi

men

tos.

O bo

m d

esem

penh

o es

cola

r das

cria

nças

e ad

oles

cen-

tes ta

mbé

m se

torn

a fru

to d

e um

trab

alho

min

ucio

so. “

O av

anço

dele

s aqu

i den

tro é

mér

ito d

eles m

esm

o, po

rque

o

ince

ntivo

den

tro d

e ca

sa é

qua

se z

ero”

, obs

erva

Don

a Ne

umar

. Os p

rofes

sore

s rela

tam

que

mui

tos d

emor

am a

ap

rend

er a

ler e

a esc

reve

r, che

gam

à 1ª

série

com

dific

ul-

dade

s até

de id

entifi

car a

s cor

es.

Proj

etos

par

alel

osJu

nto

ao c

olég

io, f

uncio

nam

vár

ios p

rojet

os e

m p

ar-

ceria

com

a pr

efeitu

ra, c

omo o

Ban

das e

Fan

farr

as, q

ue

há po

ucas

sem

anas

deu

à esc

ola R

enas

cer o

trof

éu de

pri-

meir

o lu

gar n

o ca

mpe

onat

o re

giona

l em

Ota

cílio

Cos

ta.

Nos s

ábad

os, a

esco

la a

briga

as o

ficin

as p

rofis

siona

lizan

-tes

. Cur

sos c

omo

Corte

de C

abelo

, Inf

orm

ática

, Por

cela

na

Fria

e ou

tros e

stão

aber

tos à

com

unid

ade.

Em 2

007,

400

alun

os d

a re

de m

unici

pal d

e São

José

fora

m d

iplo

mad

os

nos 2

8 cur

sos.

Júlio

, 12 a

nos,

parti

cipa d

as ofi

cinas

de P

orce

lana

Fria

ao

s sáb

ados

. Junt

o com

os co

legas

Sam

uel, 1

4, M

ateu

s, 11

e G

iova

ni, 1

1, da

6ª s

érie,

costu

ma

vir à

esco

la n

as ta

rdes

pa

ra fa

zer t

raba

lhos

ou

parti

cipar

dos

pro

jetos

. Os m

eni-

nos,

que m

antêm

um

des

empe

nho

dent

ro d

a m

édia

, são

co

nsid

erad

os e

xceç

ões

na e

scol

a. Ne

nhum

a ad

vertê

ncia

po

r mau

-com

porta

men

to, i

nter

esse

dos

pai

s pelo

des

em-

penh

o esc

olar

e ut

ensíl

ios c

omo c

ompu

tado

r e vi

deog

ame

reve

lam

um

a re

alid

ade

na v

ida

deles

que

não

atin

ge à

m

aior

ia do

s estu

dant

es.

Os g

arot

os s

ão u

nâni

mes

qua

ndo

afirm

am g

osta

r de

mor

ar n

o M

orro

do

Pedr

egal

, mas

a m

ãe d

e M

ateu

s pe

nsa

em se

mud

ar d

a re

gião.

“Não

sei,

ela d

iz qu

e nã

o go

sta”,

justi

fica

o m

enin

o. So

bre a

viol

ência

do

loca

l, eles

fa

lam

com

firm

eza:

“Min

ha vi

zinha

qua

se le

vou

um ti

ro

na ca

beça

out

ro d

ia, m

as h

oje e

m d

ia, q

ualq

uer l

ugar

é

perig

oso”

, obs

erva

Júlio

.

Jul

iana

Gom

es

Quan

do a

esco

la a

ssum

e ou

tros p

apéis

Mai

s de

4 m

il al

unos

da

rede

mun

icip

al d

e Sã

o Jo

sé e

stud

am e

m re

giõe

s vi

olen

tas,

com

o no

Cen

tro R

enas

cer,

onde

é p

reci

so fa

zer m

ais

do q

ue e

nsin

ar

8 e

9 Esp

ecia

l Fl

oria

nópo

lis, j

unho

de

2008

Traba

lho d

uro,

pulso

firm

e e co

ntato

s na p

refei

tura

fize

ram

de S

eu V

alcir

a voz

repr

esen

tativ

a da r

egião

do P

edre

gal

Estud

antes

da 1ª

série

ao su

pletiv

o usa

m o c

olégio

para

prati

car e

spor

tes e

parti

cipar

de pr

ojetos

fora

do pe

ríodo

esco

lar

Foto

s: T

hiag

o Pr

ado

Neris

Os co

nflito

s da r

egião

inter

ferem

no c

otidia

no es

colar

, des

de o

s des

enho

s aos

exer

cícios

e de

bates

em sa

la de

aula

Ent

revi

sta

Ele

tem

pre

ssa

ou e

stá

ocup

ado.

É s

impá

tico,

ape

sar d

e fa

lar p

ouco

. Tem

qua

tro fi

lhos

, qu

atro

net

os e

torc

e pa

ra o

Fig

ueire

nse.

Valci

r Ant

ônio

Per

eira

dei

xou

a cid

ade

de C

atan

du-

vas,

inte

rior d

e Sa

nta

Cata

rina,

16 a

nos,

para

vive

r no

mor

ro d

o Pe

dreg

al. V

iajo

u o

Bras

il tra

balh

ando

com

o vig

ilant

e de

esc

olta

, mas

foi a

pose

ntad

o po

r inv

alid

ez d

epoi

s de

leva

r um

tiro

na

pern

a du

rant

e as

salto

. Log

o qu

e ch

egou

à c

omun

idad

e, c

omeç

ou a

freq

üent

ar

as re

uniõ

es d

a As

socia

ção

de M

orad

ores

. Pou

co d

epoi

s, já

tinh

a sid

o el

eito

pre

siden

te p

or

três

veze

s. Ta

mbé

m a

ssum

iu o

car

go d

e pr

esid

ente

da

Asso

ciaçã

o de

Pai

s e

Prof

esso

res

(APP

) da

esco

la R

enas

cer e

est

á no

terc

eiro

man

dato

cons

ecut

ivo. C

orre

u at

rás d

e co

ntat

os

com

a S

ecre

taria

de

Obra

s da

pre

feitu

ra d

e Sã

o Jo

sé e

aí já

tinh

a se

torn

ado

o líd

er d

a co

-m

unid

ade

do P

edre

gal e

da

vizin

ha, B

oa E

sper

ança

. Jun

tas,

som

am d

ez m

il mor

ador

es.

“Só

não

ajudo

mal

andr

o”

ero

- Por

que

cha

mam

o s

enho

r de

líde

r?Va

lcir

: Por

que

aqui

tudo

que

pre

cisa

m e

les p

edem

pr

a m

im. E

u le

vo ge

nte p

ro h

ospi

tal,

dou

um je

ito d

e ab

rigar

quem

perd

eu ca

sa em

ench

ente

. Vou

atrá

s de

rede

de e

sgot

o. E

ago

ra “t

ô” lu

tand

o pe

la co

nstru

ção

de u

ma

área

de l

azer

pra

s cria

nças

brin

care

m a

qui,

com

pra

ça, q

uadr

a de

espo

rtes.

Mas

a C

âmar

a de

Ve-

read

ores

de

São

José

não

apr

ova

porq

ue d

iz qu

e há

ou

tras p

riorid

ades

na

cida

de. E

m to

das a

s ses

sões

da

Câm

ara,

vou

pra

pres

siona

r a a

prov

ação

do

proj

eto.

É

uma

luta

diá

ria. S

ó nã

o aj

udo

mal

andr

o.

Mal

andr

o?Aq

uele

que

fica

sent

ado

o di

a to

do, o

u o

mal

a qu

e é

met

ido

com

coi

sa r

uim

, que

bag

unça

a c

o-m

unid

ade.

Mal

a nã

o te

m ve

z com

igo.

Nen

hum

de-

les i

nflue

ncia

o m

eu tr

abal

ho a

qui d

entro

ou

vem

m

e de

safia

r. Qu

ando

me

enco

ntra

m n

a ru

a el

es

dize

m: “

Oi, s

eu V

alci

r”. E

u re

spon

do: “

Oi e

tcha

u”.

Qua

l o p

erfil

das

com

unid

ades

do

loca

l?Po

sso di

zer q

ue 99

% da

popu

laçã

o é tr

abal

hado

ra:

pint

or, c

obra

dor d

e ôni

bus,

func

ioná

rio p

úblic

o.

O s

enho

r co

nsid

era

segu

ra a

reg

ião?

Perig

oso

não

é, m

as se

tem

tiro

nós

nos

aba

i-xa

mos

(ris

os).

Aqui

não

exi

ste e

sse

negó

cio

de

trafi

cant

e fic

ar n

o m

eio

da r

ua, c

ircul

ando

pel

a co

mun

idad

e co

mo

no M

orro

do

Horá

cio,

em

Flo

-ria

nópo

lis. T

rafic

ante

aqu

i da

regi

ão a

nda

a pé

ou

de b

icic

leta

. “Ca

rrão

” só

ent

ra a

qui q

uand

o m

au-

ricin

ho lá

de

baix

o ve

m co

mpr

ar d

roga

.

Algu

mas

pes

soas

dis

sera

m q

ue t

êm m

edo

de m

orar

aqu

i.É.

Até

o p

assa

do a

coisa

tava

ruim

mes

mo.

A p

o-líc

ia en

trava

aqu

i o d

ia in

teiro

, mas

os d

ois g

rupo

s da

dro

ga q

ue fi

cava

m tr

ocan

do ti

ro se

ace

rtar

am,

fizer

am u

m a

cord

o e

aind

a co

mem

orar

am c

om

chur

rasc

o e 5

00 fo

guet

es.

Quai

s são

os m

aior

es p

robl

emas

da

regi

ão?

O Ce

ntro

de

Saúd

e é

mui

to p

eque

no e

ate

n-de

um

as o

ito c

omun

idad

es a

qui

da r

egiã

o, é

m

uita

gen

te. O

s m

aior

es p

robl

emas

são

de

in-

fra-

estr

utur

a m

esm

o: e

sgot

o, a

sfal

to,

bura

co

nas r

uas.

A re

de d

e es

goto

est

á m

uito

pre

cári

a,

eu “

tô”

luta

ndo

pra

troc

ar a

tub

ulaç

ão t

oda.

M

as a

min

ha c

omun

idad

e “t

á” d

even

do m

es-

mo

na q

uest

ão d

o lix

o. A

s pe

ssoa

s co

ntin

uam

co

m a

quel

a cu

ltura

de

joga

r lix

o na

cas

a do

vi

zinh

o, n

o m

eio

da ru

a, a

cho

que

essa

é a

mi-

nha

prin

cipa

l lu

ta a

tual

men

te,

reso

lver

ess

a qu

estã

o do

lixo

.

O se

nhor

con

hece

out

ros

repr

esen

tant

es d

e co

mun

idad

es?

Clar

o. Co

nheç

o os

das

com

unid

ade

de P

otec

as,

Mor

ro D

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