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IV Encontro Nacional de Estudos da Imagem I Encontro Internacional de Estudos da Imagem 07 a 10 de maio de 2013 – Londrina-PR 521 FOTOGRAFIAS ESCOLARES DO MUNICÍPIO DE TORRES/RS ENTRE OS ANOS DE 1960 – 1980 Camila Eberhardt 1 RESUMO O presente trabalho realiza a análise de arquivos fotográficos escolares de três instituições de ensino públicas da cidade do município de Torres/RS: o Instituto Estadual de Educação Marcílio Dias, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Professor Justino Alberto Tietboehl e a Escola Estadual Governador Jorge Lacerda. O conjunto de imagens que são analisadas totalizam quatrocentas e quarenta e seis fotografias. Tendo em vista o grande número de fotografias que as escolas possuem, buscou-se por um recorte temporal que abrange os anos de 1960 a 1980. Objetiva-se nesse trabalho, identificar quais os usos e as funções que as fotografias possuem para as instituições de ensino. Para tanto, foram identificadas séries e temáticas visuais que forneceram diversas características dos arquivos fotográficos, demonstrando particularidades, mas também, características semelhantes que permeiam os arquivos das três instituições escolares. Dentre elas, destaca-se a priori, a grande incidência de imagens na categoria temática denominada “eventos cívicos”. O estudo com as fotografias escolares permitem, portanto, a observação das continuidades e das mudanças dessas práticas no meio escolar. Palavras-Chave: Fotografia. Escola. Desfiles Cívicos. RESUMEN En este trabajo se realiza un análisis de fotografías de escuelas de tres instituciones públicas educativas del municipio de la ciudad de Torres/RS: el Instituto de Educación del Estado Marcilio Dias, la Escuela Estatal de Educación Básica Maestro Alberto Justin Tietboehl, la Escuela del Estado el Gobernador Jorge Lacerda. El conjunto de imágenes que se analizan son un total de cuatrocientos cuarenta y seis fotografías. Dado el gran número de fotografías que tienen las escuelas, se buscó un marco de tiempo que abarca los años 1960 a 1980. Su objetivo es trabajar, identificar los usos y funciones que las fotografías tienen para las instituciones educativas. Por lo tanto, hemos identificado una serie temática y nos 1 Licenciada em História pela Ulbra. Especialista em Cultura, Identidade e História pela Ulbra. Mestranda em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bolsista pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

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FOTOGRAFIAS ESCOLARES DO MUNICÍPIO DE TORRES/RS

ENTRE OS ANOS DE 1960 – 1980

Camila Eberhardt1

RESUMO

O presente trabalho realiza a análise de arquivos fotográficos escolares de três instituições de

ensino públicas da cidade do município de Torres/RS: o Instituto Estadual de Educação

Marcílio Dias, a Escola Estadual de Ensino Fundamental Professor Justino Alberto Tietboehl

e a Escola Estadual Governador Jorge Lacerda. O conjunto de imagens que são analisadas

totalizam quatrocentas e quarenta e seis fotografias. Tendo em vista o grande número de

fotografias que as escolas possuem, buscou-se por um recorte temporal que abrange os anos

de 1960 a 1980. Objetiva-se nesse trabalho, identificar quais os usos e as funções que as

fotografias possuem para as instituições de ensino. Para tanto, foram identificadas séries e

temáticas visuais que forneceram diversas características dos arquivos fotográficos,

demonstrando particularidades, mas também, características semelhantes que permeiam os

arquivos das três instituições escolares. Dentre elas, destaca-se a priori, a grande incidência de

imagens na categoria temática denominada “eventos cívicos”. O estudo com as fotografias

escolares permitem, portanto, a observação das continuidades e das mudanças dessas práticas

no meio escolar.

Palavras-Chave: Fotografia. Escola. Desfiles Cívicos.

RESUMEN

En este trabajo se realiza un análisis de fotografías de escuelas de tres instituciones públicas

educativas del municipio de la ciudad de Torres/RS: el Instituto de Educación del Estado

Marcilio Dias, la Escuela Estatal de Educación Básica Maestro Alberto Justin Tietboehl, la

Escuela del Estado el Gobernador Jorge Lacerda. El conjunto de imágenes que se analizan son

un total de cuatrocientos cuarenta y seis fotografías. Dado el gran número de fotografías que

tienen las escuelas, se buscó un marco de tiempo que abarca los años 1960 a 1980. Su

objetivo es trabajar, identificar los usos y funciones que las fotografías tienen para las

instituciones educativas. Por lo tanto, hemos identificado una serie temática y nos

1 Licenciada em História pela Ulbra. Especialista em Cultura, Identidade e História pela Ulbra. Mestranda em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bolsista pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ).

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proporcionaron diversas características visuales de archivos fotográficos, mostrando

particularidades, pero también características similares que impregnan los expedientes de las

tres escuelas. Entre ellos, se destaca a priori, la alta incidencia de las imágenes en tema

categoría llamada "actos cívicos". El estudio de las fotografías que permiten a los estudiantes

tanto, la observación de las continuidades y los cambios de estas prácticas en las escuelas.

Palabras-claves: Fotografía. Escuela. Actos Cívicos.

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo pretende apresentar e analisar um conjunto de imagens fotográficas

de três instituições escolares públicas da cidade do município de Torres, estado do Rio Grande

do Sul. Sendo elas o Instituto Estadual de Educação Marcílio Dias (1922), a Escola Estadual

de Ensino Fundamental Professor Justino Alberto Tietboehl (1960) e a Escola Estadual

Governador Jorge Lacerda (1959). O recorte temporal utilizado compreende os anos de 1960

a 1980, estes períodos foram escolhidos, tendo em vista que, congrega o funcionamento das

escolas. A análise perfaz sobre um total de quatrocentas e quarenta e seis fotografias, que

fazem parte do acervo das instituições escolares e que contemplam o recorte temporal

selecionado.

Assim, objetiva-se identificar nessas imagens fotográficas, quais os usos e funções que

as mesmas possuem para as instituições, e ainda, pensar o porquê do registro fotográfico para

estas escolas. Para tanto, realizou-se para este artigo, a identificação nas fotografias de

padrões e de categorias temático visuais.

Nesse processo, a história da educação dessas escolas será realizada, uma história

constituída por meio de fotografias, mas que utiliza também registros da instituição,

documentos, etc. Uma história por meio de discursos próprios, autônomos que colaboram na

constituição da história das escolas de Torres/RS. Franco Cambi descreve que

A história da educação é, hoje, um repositório de muitas histórias, dialeticamente interligadas e interagentes, reunidas pelo objeto complexo ‘educação’, embora colocado sob óticas diversas e diferenciadas na sua fenomenologia. Não só: também os métodos (as óticas, por assim dizer) têm características preliminarmente diferenciadas, de maneira a dar a casa âmbito de investigação a sua autonomia/especificidade, a reconhecê-lo como um ‘território’ da investigação histórica. (CAMBI, 1999, p.29)

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Partindo dessas preposições, parte-se para reflexões sobre as representações

imagéticas de educação, logo, seguiremos acerca da técnica fotográfica e suas aplicações nas

sociedades, na educação e na escola.

2 REPRESENTAÇÕES DE EDUCAÇÃO

A imagem sempre fora de suma importância aos homens, Régis Debray (1993) relata

que a imagem fora utilizada pelos homens para diversas funções e adquiriram muitos

significados, que mudaram ao longo do tempo. Primeiramente, fora utilizada como um

sentido mágico, e, depois, criou seus próprios estatutos, enquanto considerada como arte, e,

por fim, com o domínio da imagem na esfera visual, onde encontra-se a fotografia.

As representações imagéticas sobre educação são muito antigas, encontramos

representações desde a idade antiga, as imagens percorrem outros tempos e chegam até a

Idade Média, adquirindo características diferenciadas. Nessas, podemos citar as miniaturas

que são encontradas datando do século XV (Figura 1), onde estão representados os atos de

juramentos que eram realizados pelos futuros estudantes no local que iam realizar seus

estudos.

Figura 1 – Miniatura do século XV. Fonte: Museu Europeu do Estudante

Disponível em http://www.archiviostorico.unibo.it/

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De acordo com Philippe Ariès (2006, p.110), é na idade média que as representações

entre imagem e educação tornam-se mais presentes. Nesse período, surge a concepção de

infância, onde ocorrem as primeiras representações sobre educação relacionadas à criança.

Para Philippe Ariès (2006, p.110), a noção de infância passa a fazer parte do cenário

educacional, e as representações imagéticas passam a ser construídas, contribuindo à

afirmação desses espaços educativos.

É nesse momento, que a representação iconográfica e o ensino passam a relacionar-

se, com maior ênfase, conforme destaca “A criança na escola, um tema frequente e antigo,

que remontava ao século XIV e que não mais deixaria de inspirar as cenas de gênero até o

século XX” (ARIÈS, 2006, p.110), destacando, portanto, que “a evolução da instituição

escolar está ligada a uma evolução paralela do sentimento das idades e da infância” (ARIÈS,

2006, p.110). Após esse momento, a educação passa a ser representada com maior ênfase

principalmente por meio da pintura. Franco Cambi, propõe ainda que:

Também a escola, como nós a conhecemos, é um produto da Idade Média. A sua estrutura ligada à presença de um professor que ensina a muitos alunos de diversas procedências e que deve responder pela sua atividade à Igreja ou a outro poder (seja ele ou não); as suas práticas ligadas à lectio e aos auctores, à discussão, ao exercício, ao comentário, à arguição etc.; as suas práxis disciplinares (prêmios e castigos) e avaliativas vêm daquela época e da organização dos estudos nas escolas monásticas e nas catedrais e sobretudo nas universidades. (CAMBI, 1999, p. 146)

Seguindo um pouco no tempo, chegamos ao século XIX onde o surgimento da técnica

fotográfica expande de forma considerável as representações sobre educação. Para tanto as

considerações de Nicholas Mirzoeff (2000, p. 1) são pertinentes, para o referido autor, essas

imagens não fazem apenas parte da vida cotidiana, pois foi à vida cotidiana que passou a ser

mediada pela imagem, portanto, as fotografias fazem parte de um universo visual.

Deste modo, o desenvolvimento da técnica fotográfica responde a demanda advinda da

sociedade sobre a imagem, como, destaca Pierre Francastel (1982, p.84), “nenhuma inovação

é feita de absoluta criação”, e, atualmente, a fotografia adquire um grande espaço nas

interações e vivências das sociedades.

Uma prática que se consolidou no século XIX, com a descoberta da técnica conhecida

como daguerreótipo em 1839, por Nièpce e Daguerre. A técnica tratava-se de permitir o

registro em positivo de uma imagem, a qual possibilitava a fixação de uma imagem latente em

uma superfície sólida. Após diversos desenvolvimentos da técnica, em fins do século XIX, a

fotografia consolida-se como a forma mais exata de representação da realidade (DUBOIS,

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1993). Por ter um custo de produção mais baixo devido aos desenvolvimentos da técnica, as

sociedades passam a utilizar a fotografia, segundo Roland Barthes (1984), como meio de

registro de sua memória, através de álbuns de família (SCHAPOCHNIK, 1999), constituindo

uma memória privada de suas vivências pessoais e familiares.

A fotografia sempre fora um poderoso instrumento para a veiculação das ideias e da

consequente formação e manipulação da opinião pública, particularmente, a partir do

momento em que os avanços tecnológicos da indústria gráfica possibilitaram a multiplicação

massiva de imagens através dos meios de informação e circulação (KOSSOY, 2002). Assim,

diversas instituições públicas passaram a registrar suas atividades por meio da técnica

fotográfica, e dentre essas instituições, destacam-se as de ensino.

A fotografia, portanto, é moderna, pois nasce na modernidade (ANDRADE, 2002),

lembrando que a imagem fotográfica surge junto a outras inovações no século XIX e início do

século XX. Monteiro salienta que:

A partir do século XX, a fotografia vai tomar o seu lugar nesse mundo das imagens, ao qual vem alterar de forma radical no contexto da Revolução Industrial ou Revolução Técnico-Científica. Por um lado, a fotografia veio responder a uma demanda crescente de imagens e de autorrepresentação da burguesia em ascensão, buscando uma forma de fabricar imagens de forma rápida e consideradas fiéis ao seu referente. De outro, o dramático processo de urbanização criou a necessidade de controlar e disciplinar um contingente diversificado de sujeitos em uma sociedade de massas, criando a foto identificação. (MONTEIRO, 2012, p. 11)

Nesse sentido, Kossoy (2005, p. 40) destaca, que as fotografias devem ser analisadas

com metodologias adequadas, pois, a imagem é sempre uma “representação resultante do

processo de criação/construção do fotógrafo” (KOSSOY, 2002, p. 31). E nesse processo de

construção é importante observar que existe na

Assim, podemos destacar diversas instituições de ensino que realizaram registros

fotográficos, onde momentos considerados importantes deveriam ser perenizados para as

futuras gerações. Na Europa, muitas universidades utilizaram a câmera fotográfica para

registrar sua história, tão logo o seu surgimento. Dentre elas, podemos destacar a

Universidade de Salamanca, que ao comemorar o seu VIII centenário de fundação em 1888,

produz um álbum que reúne 21 fotografias que registram o prédio da instituição (Figura 2 e

Figura 3). Nas imagens são priorizadas a arquitetura interna e externa do prédio, os locais

mais importantes para a Universidade, devido a técnica utilizada (daguerreótipo), que

demandava de um maior tempo de exposição, não encontramos pessoas mas fotografias.

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Figura 2 - La Universidad de Salamanca. Biblioteca de la Universidad.

Fonte: http://www.archiviostorico.unibo.it/

Figura 3 - La Universidad de Salamanca. Biblioteca de la Universidad. Fonte: http://www.archiviostorico.unibo.it/

No Brasil a prática de registrar os cenários educacionais também fora

importante, e, portanto, é encontrada em diversas escolas. O Álbum de fotografias da Escola

Normal de São Paulo atesta que o século XX introduz além do registro da arquitetura do

prédio, diversas possibilidades do registro de fotografias escolares (Figuras 4 e 5). Possamai

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(2009) afirma que “as imagens fotográficas, assim, dão visibilidade à educação, considerada

como meio de alcançar uma sociedade moderna, científica e civilizada.”

Figura 4 – Alunos jogando Basquete, 1908. Fonte: Arquivo Público de São Paulo.

Figura 5 – Alunas praticando exercícios físicos, 1908.

Fonte: Arquivo Público de São Paulo.

Ainda, podemos destacar o Colégio Farroupilha na cidade de Porto Alegre/RS, que

possui um estimado acervo fotográfico. Também, encontramos fotografias do Instituto

Estadual de Educação Marcílio Dias (Torres/RS) que datam do ano de 1922, data fundação da

instituição (Figura 6).

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Figura 6 – Alunos do Grupo Escolar de Torres (atual Escola Marcílio Dias).

Ano: 1922. Acervo: Instituição Estadual de Educação Marcílio Dias.

3 ANALISANDO AS IMAGENS FOTOGRÁFICAS DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE

TORRES/RS

Tendo em vista as possibilidades advindas da nova história cultural, com o

alargamento das fontes, o estudo com fotografias torna-se um rico campo de análise da

história e da memória das instituições escolares. As fotografias tornam-se lugares de memória

de acordo com as concepções advindas de Pierre Nora (1985), que propõe distinções entre a

memória e a história. Para o autor, “a memória se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na

imagem, no objeto”, portanto, à história caberia analisar as continuidades temporais e suas

respectivas relações destes espaços do concreto. Assim, diante do sentimento de que não há

mais memória, são criados substitutos que frequentemente podem ser recorridos com o olhar.

Deste modo, as fotografias se tornam depositárias de uma memória escolar, e, “na

medida em que identificadas e analisadas objetivamente e sistematicamente com base em

metodologias adequadas, se constituíram em fontes insubstituíveis para a reconstituição

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histórica dos cenários, das memórias de vida”(KOSSOY, 2005, p.40). Possamai (2005, p.32)

descreve que a utilização da fotografia pelos historiadores “deixaria, assim, de ser considerada

mera duplicação da realidade para ser inserida na construção de sentidos e de significações

sociais”.

As instituições de ensino que são foco de nosso estudo possuem uma imensa

quantidade de fotografias em seus arquivos, em que diversas atividades são registradas. Mas,

observa-se que atualmente o número de registros fotográficos que as mesmas realizam

aumentou significativamente, o que na verdade não significa que esses registros tenham de

fato uma função para as instituições, visto que as imagens são armazenadas em arquivos e

literalmente esquecidas. O que nos leva a questionar o porquê dessa prática, e, se ela se realiza

com cada vez mais intensidade, qual função essas fotografias adquirem para as escolas?

Justino Magalhães propõe que:

O cotidiano de uma instituição educativa é um acúmulo de comunicação, tomada de decisões e de participação, cujas representação e memória apenas em parte ficam vertidas ao escrito, ou traduzidas noutro tipo de registros, mas boa parte das quais se apagam, quer porque se integram em rotinas, que pela sua frequência não constituem um objecto de registro próprio, quer porque se inserem num processo continuado [...] (MAGALHÃES, 1999, p. 69)

As reflexões de Magalhães vão ao encontro dos arquivos das instituições de ensino,

onde estão armazenadas imagens fotográficas que registram eventos e práticas que se inserem

nesse processo continuado, e, que, permanecem sem as reflexões devidas, esquecidas.

Tendo em vistas os usos e funções das imagens fotográficas, Paulo Knauss (2006)

propõe que a imagem conota expressão da diversidade social e da pluralidade humana, o

historiador, portanto, quando na análise de fotografias, deve analisar “seus usos, as suas

apropriações sociais, as técnicas envolvidas na sua manipulação, a sua importância econômica

e a sua necessidade social e cultural.” (BARROS, 2004, p.30)

Para poder responder a essas questões, partimos das concepções de Ana Maria

Mauad (2005, p.139), que acredita que a análise de fotografias, “de forma crítica, não pode

ficar limitada a um simples exemplar”, pois, trabalhar com séries fotográficas e com a criação

de tipologias é imprescindível. Jean-Claude Schmitt (2007,p 41), concebe que nenhuma

imagem encontra-se isolada e a observação delas em série representa a totalidade, pois “o

isolamento de uma imagem será sempre arbitrário e incorreto.” Ainda, para Mirian Leite

(2000, p.36), “uma série de imagens que reunidas ou justapostas podem sugerir aspectos ou

ângulos de uma atmosfera ou de um ambiente.”

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Partindo dessas proposições, realizamos estudos a partir da composição de séries do

material iconográfico encontrado nas três instituições escolares. Desenvolvo análise partindo

das concepções metodológicas propostas por Solange Ferraz de Lima e Vânia Carneiro de

Carvalho (1997), que propõe a identificação de descritores icônicos e formais em fotografias.

Nesse sentido, foram criadas séries que contemplam o que denominamos como os aspectos

formais das fotografias e foram constituídas categorias temáticas.

Portanto, no que concerne a composição de temáticas visuais foram identificadas

diversas temáticas que serão analisadas. Logo, desenvolveremos análise sobre os aspectos

formais, que fornecem informações imprescindíveis à pesquisa. Segundo Maria Lúcia Bastos

Kern (2007, p. 137-148), os componentes formais das imagens são importantes, pois,

fornecem “particularidades próprias da visualidade que permitem o afastamento do caráter

meramente fenomenal da imagem e colaboram e com a observação de outras evidências”, que

contribuem na interpretação das imagens.

É importante salientar que a proposta metodológica utilizada pretende adaptá-la ao

corpus documental da pesquisa, as séries e categorias temático-visuais identificadas e

analisadas são resultantes dos elementos encontrados pelo corpus documental, e, dos

problemas suscitados pelo mesmo.

Partindo para o primeiro ponto de análise das fotografias escolares de Torres/RS,

tendo em vista que entre as fotografias escolares, temáticas visuais foram se construindo e

afirmando ao longo da história, nas fotografias das escolas de Torres/RS procuramos

constituir temáticas visuais de acordo com as fotografias que foram analisadas, e, para tanto,

foram identificadas temáticas distintas entre o seu conjunto expressivo de fotografias entre os

anos de 1960 a 1980.

Primeiramente é importante resgatar que o total de fotografias que serão analisadas

reúnem quatrocentas e quarenta e seis. Destas, cada escola apresentou a seguinte quantidade

de imagens: a Escola Marcílio Dias com um número de duzentas e vinte e quatro fotografias

(50,22%); a Escola Justino Alberto Tietboehl com cento e vinte e cinco fotografias (28,03%);

a Escola Governador Jorge Lacerda com noventa e sete fotografias (21,75%). Nas fotografias

encontramos 14 temáticas recorrentes, que seguem abaixo:

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Escola Marcílio DiasEscola G. Jorge LacerdaEscola J.A. Tietboehl Total

16 4 14 34

17 1 18 36

0 4 1 5

75 58 36 169

33 2 1 36

28 23 15 66

0 3 20 23

20 0 5 25

14 0 1 15

2 0 7 9

8 0 0 8

6 2 1 9

3 0 0 3

2 0 6 8

224 97 125 446

Eventos internos

Refeitório

Jogos de Futebol

Festas internas

Formaturas

Recordação Escolar

Recreio

Soma Total

Apresentação de alunos em eventos

Categorias Temáticas

Aulas Práticas

Passeios

Desfiles Cívicos

Atividades sala de aula

Arquitetura Externa

Arquitetura Interna

A partir da tabela acima, observamos a grande incidência de fotografias que fazem

parte da categoria temática “desfiles cívicos”, em todas as escolas, essa temática é grande

maioria.

As imagens que se enquadraram nessa categoria temática, fazem aproximar o nosso

olhar e a questionarmos quais são os agentes impulsionadores de tal prática. A análise de

imagens deve levar em conta tanto “os motivos iconográficos, (quanto) as relações que

constituem sua estrutura e caracterizam os modos de figuração próprios de certa cultura e de

certa época”(SCHIMTT, 2007, p.34).

Inicialmente, os dados permitiram identificar dois eventos cívicos anuais realizados na

cidade de Torres. Desfiles, que a princípio possuíam as mesmas características, onde todas as

escolas participavam, mas que, no entanto, tinham por objetivo comemorações distintas. O

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primeiro, que é uma prática recorrente no país e no município de Torres, ou seja, o desfile de

7 de Setembro. O outro, um desfile em comemoração a Batalha do Riachuelo, que é

promovido pela escola Marcílio Dias.

Em relação aos eventos de 7 de setembro, é importante lembrar que a realização de

desfiles e comemorações da pátria fazem parte dos calendários escolares desde a instauração

do Estado Novo, em que, por meio das comemorações cívicas, o Estado passou a cultivar,

dentro dos estabelecimentos de ensino, uma memória coletiva nacional. A fotografia passa a

ser utilizada, pelas instituições ensino, como meio de assentar uma memória cívica no

município de Torres.

Desta forma, é importante refletirmos sobre a construção dos eventos cívicos. Veiga

destaca que:

Como durante o governo de Getúlio a educação moral e cívica não se apresentou como matéria obrigatória nem do ensino primário nem no secundário, essa formação deveria se fazer de maneira integral na escola: canto orfeônico, clubes patrióticos, festas e paradas cívicas, hasteamento da bandeira, participação dos escolares nos grandes eventos de comemorações de datas históricas e também no ensino de história. (VEIGA, 2007, p. 265)

As escolas do município de Torres mantem até os dias de hoje a realização de

eventos com o intuito de resgatar a identidade nacional, os registros fotográficas continuam

sendo realizados por meio de câmeras fotográficas digitais.

No que se refere as características formais das fotografias, destacaremos análise

sobre a identificação das fotografias, onde, buscou-se identificar se as mesmas apresentavam

alguma informação, seja por meio de legendas ou informações na própria imagem. Ainda fora

observada a temporalidade, a incidência de imagens por ano.

Primeiramente,os dados apresentaram que mais de um terço das fotografias foram

encontradas sem nenhuma informação ou legenda que pudesse contribuir na identificação das

mesmas. Estas imagens atingiram o percentual de 36% (153 fotografias), resultando em

apenas 64% (274 fotografias) que apresentaram alguma informação.

Para tanto, fora identificada a percentagem de imagens que foram encontradas sem

identificação de acordo com cada instituto de educação da qual provem (Gráfico 1). O

resultado apresentado fora que a Escola Justino Alberto Tietboehl apresentou a maior

incidência de imagens sem identificação, totalizando no geral 57% (88 fotografias), a Escola

Jorge Lacerda com o percentual de 20% (30 fotografias) e a Escola Marcílio Dias com 23%

(35 fotografias).

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Esses dados levam a observar que na Escola Justino Alberto Tietboehl 70,40% de

todas as suas fotografias não possuíam nenhuma identificação, a Escola Jorge Lacerda

apresentou um índice de 30,93% e a Escola Marcílio Dias 15,63%. O que leva a concluir que

a escola que possui uma longa tradição em realizar o registro fotográfico fora a instituição que

apresentou o menor índice de fotografias sem identificação, denotando que a manutenção

dessa prática resultou no cuidado de preservar, ainda que não completamente, um grande

número de informações sobre as suas fotografias.

Gráfico 1 – Percentual de fotografias sem identificação por escola.

Ao analisarmos a temporalidade em que estão inseridas as imagens, a pesquisa

permitiu constatar que a incidência das fotografias de acordo com cada ano (Gráfico 2),

demonstrando que o índice da década de 1960 é extremamente reduzido, apenas trinta e sete

fotografias (12,64%) contemplam esse período, um conjunto de duzentas e cinquenta e seis

fotografias (87,37%) pertencem à década de 1970, as demais contemplavam o conjunto das

imagens sem identificação.

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Gráfico 2

Tendo em vista o grande número de fotografias que não apresentavam nenhuma

identificação iniciou-se a busca dessas informações. Para tanto, o auxílio de professores,

funcionários e alunos que frequentaram as instituições de ensino entre as décadas de 1960 e

1970 fora imprescindível. Os mesmos colaboraram no processo de identificação das

fotografias, pois, a partir do relato de como cada instituição funcionava, das atividades que

realizavam e ainda, muitas vezes, quando identificando-se nas próprias imagens, vieram a

colaborar para a identificação de todas as fotografias, que inicialmente não possuíam

nenhuma identificação, alterando, portanto os quadros apresentados até o momento (Gráfico

3).

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Gráfico 3

Mas apesar das novas informações que produziram novos índices, o significativo

percentual de fotografias na década de 1970 não sofreu profundas alterações. A grande

diferença manteve-se alta: a década de 1960 apresentou o percentual de 3,54% (72

fotografias) e a década de 1970 apresentou o percentual de 96,46% (374 fotografias).

Esses índices acarretam significativas reflexões, no sentido de indagar o porquê de

um número tão reduzido de fotografias na década de 1960 e logo, na década seguinte, um

número extremamente significativo. Para tanto, as preposições de Ulpiano Menezes (2005)

sobre o estudo de três feixes de questões que abordam os aspectos sociais na dimensão visual:

o visual, o visível e a visão, são significativos.

Para Menezes, no âmbito do visual estaria há necessidade de compreensão do que o

autor denomina como iconosfera, que seria “o conjunto de imagens guia de um grupo social

ou de uma sociedade num dado momento e com o qual ela interage”(NOVAES, p.33), ou

seja, a compreensão dos circuitos de produção, circulação e consumo da imagem. Ao que

Menezes denomina como visível, encontra-se o “domínio do poder e do controle, o ver/ser

visto, dar-se/não se dar a ver,” (NOVAES, p.36), os mecanismos que produzem a visibilidade

e a invisibilidade na fotografia. Por fim, quanto à visão, esta compreende o observador com

seus instrumentos e técnicas, o tipo de olhar que é direcionado à imagem. Quanto à primeira

definição, ou seja, o visual, é que deteremo-nos mais precisamente nesse primeiro momento.

Assim, a primeira reflexão decorre a respeito do acesso a câmera fotográfica na

cidade de Torres/RS na década de 1960. Durante a realização da pesquisa nas escolas e em

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entrevistas com antigos professores e alunos, os relatos voltavam-se ao acesso restrito à

câmera fotográfica, decorrente do valor da fotografia e também da oferta desse trabalho na

cidade. Segundo os mesmos, a partir de 1970 alguns professores adquiriram câmeras

fotográficas, e o registro passou a ser mais frequente.

Portanto, se somente a partir de 1970 os professores adquiriram suas próprias

câmeras fotográficas, a quem se destinava a função de realizar esse registro na década

anterior? A pesquisa demonstrou que entre todas as fotografias da década de 1960 somente

cinco não foram realizadas pelo estúdio Feltes.

O estúdio de Ídio K. Feltes, fundado em 1937, fora um importante estúdio

fotográfico na cidade de Torres/RS durante o século XX, que fotografou diversas atividades

da cidade e da região, acompanhando com um olhar mais próximo, por meio da lente de suas

câmeras, as transformações e os desenvolvimentos do município, seja no âmbito turístico, na

construção civil ou no cotidiano da região.

De origem alemã, proveniente da colônia de São Leopoldo onde seus pais fixaram

residência, Ídio K. Feltes veio à cidade de Torres/RS na década de 1920, onde casou e fixou

residência. Adquiriu conhecimentos da fotográfica com o fotógrafo Breno Kleser que já

trabalhava na cidade de Torres/RS. Além da fotografia, Ídio exercia outras atividades, como a

de cinematógrafo, foi a partir dele que a cidade de Torres/RS adquirira seu primeiro cinema.

Possuía um estabelecimento comercial e um estúdio fotográfico (Figura 13), o que

era comum no século XX. Possamai (2005) ao estudar a cidade de Porto Alegre por meio da

fotografia, descreve que estes estabelecimentos não se resumiam somente a venda de

materiais fotográficos. Neste estabelecimento comercial, localizado na Rua Júlio de Castilho

nº 539, vendia-se diversos produtos de ferragem, caça e pesca, inclusive, à prefeitura de

Torres/RS, que durante mais de trinta anos comprou produtos vendidos pelo comércio Feltes,

fornecendo, por exemplo, dinamite (O documento de compra e venda de dinamite entre o

comércio de Ídio k. Feltes e a prefeitura de Torres/RS encontra-se no acervo da casa de

cultura).

A identificação das fotografias escolares provenientes do estúdio Feltes fora possível

por meio de uma legenda de cor branca, inscrita em cima da fotografia, onde era registrado o

local, o mês e o seu respectivo ano. Uma característica singular do estúdio de Ídio K. Feltes.

Além, de muitas fotografias que possuíam um carimbo, com o nome do estúdio, no verso da

imagem.

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Figura 13 – Estúdio Ídio Feltes em 1961. / Acervo: Fernando Feltes.

4 CONCLUINDO Atualmente o estudo com imagens fotográficas constitui uma fonte inesgotável de

possibilidades, tendo em vista o caráter polissêmico das imagens (DEBRAY,1993). A partir

deste trabalho procurou-se esboçar algumas práticas, que revelaram que as instituições

procuraram, durante aos anos de 1960 a 1980, privilegiar determinados momentos, entre eles,

a marcante presença do registro de eventos cívicos. Isso nos leva a pensar que há uma grande

relação entre essas predileções e o momento político pelo qual o país estava envolto, e, ainda,

somam-se características técnicas, em meio à dificuldade de acesso à câmera denotando maior

ênfase a determinados eventos em detrimentos de outros.

Portanto, a objetiva privilegiava o que para as instituições era importante registrar.

Todavia, a pesquisa revela a função que atualmente essas fotografias possuem para as escolas,

em duas das instituições as fotografias estão guardadas, esquecidas pelo tempo, tempo este em

que a imagem persiste em perdurar. Outra escola utiliza as imagens como auxílio meramente

ilustrativo, ou seja, os usos destinados às imagens mudaram.

Deste modo, o trabalho com fotografias escolares, torna-se atualmente de grande

valia, é necessário compreender a grande demanda iconográfica que perpassou pelas

sociedades ao longo do século XX. Da mesma forma, como a sociedade brasileira fez uso

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dessas imagens, em diversos espaços de representação, quanto o seu uso pelas instituições do

estado, conforme observado pelas imagens acima, as quais vêm a atestar o seu caráter

testemunhal, seja percorrendo caminhos políticos ou culturais.

Por fim, é importante destacar que este trabalho faz parte de uma pesquisa que se

compreende muito maior, os dados levantados, as categorias identificadas contempla outros

aspectos que não foram possíveis serem desenvolvidos nesse trabalho.

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