Fotografia de crianças e seus personagens midiáticos_contribuições para pensarmos as práticas...

download Fotografia de crianças e seus personagens midiáticos_contribuições para pensarmos as práticas educomunicativas no contexto educacional contemporâneo

of 15

Transcript of Fotografia de crianças e seus personagens midiáticos_contribuições para pensarmos as práticas...

  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    1/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    Fotografia de crianas e seus personagens miditicos: contribuies para pensarmosas prticas educomunicativas no contexto educacional contemporneo1

    Ademilde Silveira SARTORI2

    Kamila Regina de SOUZA

    3

    Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC, Florianpolis, SC.

    RESUMO

    O presente artigo expe reflexes sobre a presena de personagens miditicos na culturainfantil por meio da anlise de seis fotografias de diferentes pocas de acervos de famliaque trazem crianas vestidas com fantasias dos personagens miditicos Jeanie umGnio, Jaspion, Homem Aranha, Harry Potter, Batman e Batgirl. Percebeu-sepelas fotografias que os personagens miditicos fazem parte da construo e reconstruo

    sociocultural da criana contempornea. Uma vez que as referncias miditicas vmdesafiando a escola a lidar com um mundo de informaes que ultrapassam seus muros, ocontato com os acervos fotogrficos de famlia revelaram possibilidades para se pensar nodesenvolvimento de prticas educomunicativas no contexto educacional contemporneo.

    PALAVRAS-CHAVE: mdias; fotografias; prticas educomunicativas; personagensmiditicos.

    1. As crianas e os personagens miditicos

    [...] A TV, como os videojogos, e, emcerta medida, os computadores,favorecem um novo tipo de compreensoe de comunicao baseada nas

    propriedades da imagem [...].Elza Dias Pacheco

    As descobertas e invenes tecnolgicas tm transformado visivelmente a sociedade

    ao longo dos sculos, em especial nas ltimas dcadas, em que h uma forte presena das

    mdias nas prticas sociais e culturais cotidianas. Com isso as possibilidades de informaoe comunicao so ampliadas e surgem novas referncias na vida das pessoas e, portanto,

    na sua constituio sociocultural.

    Assim, os contextos familiares e escolares so alvo da invaso das mdias, sendo

    que, dentre elas destaca-se a televiso e seu significativo papel como provocadora de

    fantasias. Diante da consolidada cultura televisiva em que nossa sociedade se encontra, o

    1Trabalho apresentado no GP Comunicao e Educao, do XII Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicao,evento componente do XXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao.2Doutora em Comunicao pela USP, professora da disciplina Educao e Comunicao do Programa dePs-Graduao em Educao PPGE/UDESC, e-mail: [email protected], mestranda em Educao PPGE/UDESC, e-mail: [email protected]

    1

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    2/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    que configura a televiso como uma importante referncia cultural das crianas, possvel

    perceber as influncias de sua programao no cotidiano desses sujeitos.

    Ao interagir com as imagens, com as mdias e com pessoas de diferentes idades e

    realidades e assim vivenciar as mais variadas experincias sociais e culturais em seucotidiano, as crianas constroem seus conhecimentos e valores prprios. De acordo com

    Salgado, Pereira e Jobim e Souza (2005, p. 13), atribuir sentidos s imagens buscando

    nelas ou atribuindo a elas uma histria tambm cultivar a possibilidade de contar nossa

    prpria histria, recuperando a narrativa e a ateno, sem abdicar da nossa relao com as

    imagens signos da cultura contempornea. Desta forma, as referncias a que o sujeito

    contemporneo tem acesso atuam na sua constituio, na sua forma de ver, sentir e agir as

    (e nas) coisas do mundo.De acordo com Silva (2004, p.109), o contato com os Meios de Comunicao de

    Massa (MCM) desafia, desde muito cedo, as crianas a lerem as linguagens imagticas. Ao

    observarmos produo cultural destinada ao pblico infantil em especial a programao

    televisiva, por sua popularidade percebemos que suas narrativas renem elementos como

    imagem, som, movimento, fala, escrita, enfim, linguagens que possibilitam que as crianas

    se identifiquem com suas histrias e personagens. Para Citelli (2004, p. 23), este encontro

    de diferentes signos num mesmo campo de representao faz da televiso um meio centradofundamentalmente na linguagem complexa.

    Walter Benjamim (1992, p.80) afirma que as transformaes na percepo sensorial

    e cognitiva humana que ocorrem em diferentes momentos histricos faz com que as pessoas

    desenvolvam novas sensibilidades na sua representao de mundo. E, em termos de

    atualidade, marcada pelo desafio de ler as imagens imagticas centradas na linguagem

    complexa da mdia televisiva, compreende-se que esse novo sensorium desenvolvido cada

    vez mais cedo pelas pessoas, que desde crianas entram em contato com suas linguagens e

    produtos e os integram sua cultura.

    Percebe-se a presena de personagens de programas de televiso, filmes, desenhos

    animados, revistas em quadrinhos, livros, entre outros, nas prticas sociais e culturais

    cotidianas das crianas e, porque no dizer, dos adultos. Para nos aproximarmos s culturas

    infantis nosso foco diante da realidade desta sociedade marcada por profunda influncia

    dos avanos tecnolgicos, miditicos e comunicacionais, precisamos entender que a

    televiso representa significativo papel na constituio do sujeito, assim como os contextos

    da escola, da famlia e da religio, estes tidos como referncias formais.

    2

  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    3/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    A TV disponibiliza imaginao da criana todo um mundo de fantasia (por mais

    real e verdadeira que possa ser uma notcia veiculada, um programa de telejornal etc.) que,

    por sua vez, se reflete nas construes e reconstrues de seu prprio faz de conta.

    Girardello (1999, p.02) fala de uma sensibilidade especial da imaginao infantil:

    A infncia a grande fonte da nossa vitalidade imaginria. bemverdade que a imaginao uma faculdade que se desenvolve em umcontnuo, ao longo de toda a nossa vida. Mas tambm verdade, que aimaginao na infncia tem uma sensibilidade especial, que as crianastendem a se entregar mais livremente fantasia, e que da plenitude daexperincia imaginria na infncia depende em boa parte a sadepsicolgica na idade adulta. O poder especfico da imaginao da crianatem muitas razes: uma das mais singelas o fato de a imaginao se

    nutrir de imagens novas, e para a criana o mundo est cheio de imagensnovas. (grifos da autora)

    A brincadeira, um dos elementos de expresso das culturas infantis, d s crianas a

    chance de criar e recriar inmeras situaes aliando a imaginao e os inmeros outros

    elementos com os quais ela interage em seu dia-a-dia. Com isso, elas constroem e

    reconstroem seu entendimento sobre essas interaes e produzem seu modo de ser e de

    estar no mundo. Assim, ao observarmos as falas das crianas muito possivelmente

    perceberemos elementos que evidenciam o quanto elas constroem seus conhecimentos e

    perspectivas sociais e culturais a partir de diversos contextos, entre eles o universo da

    produo cultural para as crianas. Para Barbosa (2007, p.1069), o fato que:

    [...] As crianas se misturam, assimilam e produzem culturas que provmda socializao tanto da cultura dos videogames, das princesas, das redes,dos CDs, como tambm da cultura dos amigos, do futebol, dos laos deafeto, da vida em grupo na escola e na famlia, tudo em um mesmoespao e tempo social e pessoal [...].

    E as fotografias? O que nos dizem sobre as referncias culturais das infnciascontemporneas? Como as crianas se relacionam com essas novas referncias culturais?

    Como isso se reflete na educao escolar hoje? Entendendo a fotografia como uma

    representao que no neutra uma vez que o universo das representaes est diretamente

    ligado cultura, este artigo se prope a refletir sobre a presena da mdia e seus

    personagens na vida das crianas por meio das fotografias de obtidas de acervos de famlia.

    3

  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    4/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    Para tanto, foram analisadas seis fotografias4 de diferentes pocas que retratam crianas

    vestidas com fantasias de personagens da mdia.

    O intuito deste artigo no impor interpretaes pessoais sobre as fotografias aqui

    expostas, mas apresentar a anlise das mesmas por meio da articulao da leitura dessasimagens e dos relatos dos familiares e/ou dos prprios fotografados com a inteno de

    promover interpretaes que ampliem a compreenso sobre a forma com a qual as crianas

    se relacionam com os personagens miditicos nos contextos familiares contemporneos e

    como isso se reflete nas escolas.

    2. Ascrianas e seus personagens miditicos: fotografias e seus relatos

    Agora eu era o heri/ e o meu cavalo sfalava ingls.

    Chico Buarque/ Sivuca

    Neste artigo sero apresentados a contextualizao das narrativas dos personagens

    com os quais as crianas fotografadas esto caracterizadas, os relatos das pessoas

    fotografadas ou dos seus familiares, bem como a anlise das fotografias. Ressaltamos,

    porm, que no pretendemos realizar um estudo aprofundado quanto aos personagens

    miditicos em si, tampouco sobre as questes que dizem respeito ao campo da fotografia,

    mas um reconhecimento de que seria necessrio recorrer a uma busca por informaes

    sobre os personagens de modo a facilitar o entendimento da relao das crianas com os

    mesmos com vistas a pensar proposies para uma prtica pedaggica educomunicativa. As

    fotografias disponibilizadas para o presente estudo mostram crianas vestidas

    respectivamente com fantasias dos seguintes personagens miditicos: Jeanie um Gnio,

    Jaspion, Homem Aranha, Harry Potter, Batman e Batgirl.

    O seriado Jeannie um Gnio5fez um grande sucesso no Brasil onde foi exibido

    primeiramente na dcada de 1960 pela TV Paulista que na poca fazia parte da Rede Globo

    e, nas dcadas seguintes, foi reprisada em vrias emissoras brasileiras.

    De acordo com o relato da prpria Ta., fotografada enquanto ainda era uma menina,

    a fotografia abaixo foi feita no Carnaval de 1981 em Santos/SP, cidade onde morava: Eu

    estava vindo de uma matin... s olhar como eu estava descabelada, diz rindo. Ela afirma

    4As fotografias foram cedidas por pessoas que fazem parte de nosso quadro de referncia pessoal e que souberam de

    nosso interesse de pesquisa. Todas as fotografias, bem como os relatos descritivos das mesmas foram utilizadas comautorizao por escrito das pessoas fotografadas e/ou de seus pais ou responsveis.5Informaes disponveis em Acesso em ago. 2011.

    4

    http://pt.wikipedia.org/wiki/I_Dream_of_Jeanniehttp://pt.wikipedia.org/wiki/I_Dream_of_Jeannie
  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    5/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    ainda que adorava o seriado Jeanie um Gnio que contava a histria de um astronauta

    americano que conhece uma feiticeira, se apaixona e se casa com ela.

    Fotografia 1: Ta. (Jeanie um Gnio).Fonte: Acervo da famlia Machado, 1981.

    Percebe-se que Ta. foi fotografada num espao amplo e aberto e no em um estdio

    fotogrfico. A procura por esses estdios era muito comum naquela poca, pois, ter uma

    cmera fotogrfica em casa era algo caro e, portanto, raro. Atualmente, continua-se indo

    aos estdios fotogrficos, no tanto pela dificuldade em se ter uma cmera fotogrfica que

    esto vindo at mesmo acopladas aos celulares, por exemplo mas, por se querer a

    qualidade de uma fotografia feita por um profissional e/ou os recursos e efeitos que o

    estdio pode trazer fotografia. Sobre o controle dos meios tcnicos de produo cultural,

    Mauad (2004, p.23) afirma que at por volta da dcada de 1950, foi privilgio da classe

    dominante ou fraes desta. Outro aspecto que se pode destacar nesta fotografia o fato de

    que, embora expresse um largo sorriso, Ta. no est fazendo pose, no h encenao, assim

    ela parece muito vontade com a situao.

    J a fotografia abaixo na qual Ti. est vestido com a roupa do protagonista da

    srie, Jaspion foi feita num estdio fotogrfico e, embora o menino esteja sorrindo, ele

    no olha em direo cmera. possvel perceber tambm que a parede de fundo do

    estdio est coberta por um papel de parede com motivos de paisagem, o que parece ser

    proposital, uma vez que remete a uma certa neutralidade. A me de Ti. relata que a

    5

  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    6/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    fotografia foi feita no ano de 1989, quando o menino tinha quatro anos de idade, num

    estdio fotogrfico localizado no municpio de So Jos/SC, cidade onde moram at hoje. A

    opo pelo estdio foi em funo da famlia no ter condies financeiras para adquirir uma

    cmera fotogrfica na poca.

    Fotografia 2: Ti. (Jaspion).Fonte: Acervo da famlia Melo, 1989.

    De acordo com a me de Ti., ele gostava muito do personagem do Jaspion, por isso

    quis ir com a fantasia: Ele assistia todos os dias o seriado na televiso e imitava o

    personagem, s tirava a fantasia para dormir e tomar banho. Ele usou a fantasia at rasgar!.

    Ela conta que a fantasia foi comprada no Mercado Pblico de Florianpolis/SC e que a

    roupa vinha acompanhada de mscara e espada. A me relata ainda que ele brincava com a

    espada quando usava a fantasia, mas como ela no gostava da brincadeira, escondia aespada dele. Ela finaliza seu relato explicando que nesta fotografia ele no est com a

    fantasia completa, mas que tinha outra fotografia em que ele est tambm a com a mscara,

    porm, esta foi rasgada acidentalmente por um dos seus netos, filho de Ti.

    A srie Jaspion6foi transmitida no Brasil inicialmente pela Rede Manchete a partir

    de 1988 e posteriormente passou a ser exibida por outras emissoras, mantendo sempre

    elevados ndices de audincia. O seriado narra as aventuras do super-heri Jaspion, que foi

    encontrado ainda criana pelo profeta Edim aps um acidente espacial em que seus pais

    6Informaes disponveis em: . Acesso em ago. 2011.

    6

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Jaspionhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jaspion
  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    7/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    morreram. Jaspion cresce convivendo com animais e com a vida selvagem e, quando

    adulto, alertado por Edim da ameaa de Satan Goss sobre o universo, ameaa esta prevista

    na bblia galctica. Para livrar-se de Satan Goss, Jaspion parte pelo espao at chegar

    Terra. A srie obteve muito sucesso entre as produes do gnero de super-heris japonesese se tornou muito popular.

    Falando em popularidade, o Homem Aranha7 desde a dcada de 1960 um dos

    mais populares super-heris dentre as mais variadas mdias: histrias em quadrinhos,

    desenhos animados, filmes, jogos etc. A histria do Homem Aranha tem incio quando a

    personagem Peter Parker, rfo criado desde criana pelos tios, j adolescente picado por

    uma aranha que provoca mutaes no seu organismo. Peter descobre que ao ser picado pela

    aranha ganhou poderes e passa a utiliz-los para combater o crime em Nova York.

    Fotografia 3: Fre. (Homem Aranha).Fonte: Acervo da famlia Bach, 2001.

    A fotografia acima foi feita na festa de aniversrio de oito anos do primo de Fre., em

    Novo Hamburgo/RS. O menino fotografado tinha dois anos e seis meses de idade e,

    segundo, relato de sua me, j adorava a personagem Homem Aranha. Ela conta ainda que

    para fazer a fotografia foi usada uma cmera fotogrfica profissional, mas operada por um

    amador. possvel perceber que o tema da decorao do salo de festas no qual ocorreu o

    aniversrio de super-heris, o que fica evidente nas personagens de decorao dispostas

    sobre a mesa principal. O menino faz pose e sorri em direo cmera, o que indica que

    7Informaes disponveis em: Acesso em ago. 2011.

    7

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Homem-Aranhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Homem-Aranha
  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    8/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    embora o ambiente estivesse preparado para a festa de seu primo, servia tambm como

    pano de fundo para a fotografia dos convidados.

    Outra srie de grande sucesso entre as crianas Harry Potter8, a qual teve sua

    origem em livros, sendo o primeiro volume publicado em 1997. O sucesso e a crescentepopularidade das obras estenderam-se para outras mdias, como filmes e jogos. A histria

    comea com a morte dos pais de Harry Potter por Lord Voldemort, que vive aterrorizando o

    mundo dos bruxos. Harry fica conhecido nesse mundo como o menino que sobreviveu,

    ficando apenas com uma cicatriz em forma de raio em sua testa. rfo, ele criado pelos

    tios (que no so bruxos), mas aos onze anos ele recebe cartas da Escola de Magia e

    Bruxaria de Hogwarts, informado que um bruxo, vai para essa escola e l vive vrias

    aventuras aprendendo a controlar a magia e a enfrentar Lord Valdemort.

    Fotografia 4: A. F. (Harry Potter).Fonte: Acervo da famlia Torres (2010).

    Segundo relato da me de A. F., a fotografia acima foi feita no carnaval do ano de

    2010 na instituio educacional da qual ele aluno. O menino tinha cinco anos de idade e

    escolheu a fantasia do personagem Harry Potter por adorar todos os filmes da srie. A me

    conta que ele assistiu aos filmes vrias vezes e que conhece muito bem os detalhes das

    histrias. A fantasia foi feita pela av do menino, que costureira e a caracterizao foi

    feita pela me. Percebe-se que o local escolhido para fazer a fotografia no foi preparado

    para tal, isto , no est decorado com motivos carnavalescos conforme indica a situao

    8Informaes disponveis em: Acesso em ago. 2011.

    8

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Magia_e_Bruxaria_de_Hogwartshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Magia_e_Bruxaria_de_Hogwartshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Harry_Potter_(s%C3%A9rie)http://pt.wikipedia.org/wiki/Harry_Potter_(s%C3%A9rie)http://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Magia_e_Bruxaria_de_Hogwartshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Magia_e_Bruxaria_de_Hogwarts
  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    9/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    em que a fotografia foi feita. O menino parece fazer uma pose empunhando a varinha da

    personagem e olha, sorrindo, em direo cmera fotogrfica.

    Outro super-heri muito popular Batman9, que teve sua primeira apario em

    histrias em quadrinhos em 1932. Desde ento, alguns elementos de sua histria passarampor mudanas como suas roupas, sua personalidade e parceiros, mas a sede de justia

    permanece. Hoje suas narrativas podem ser encontras em diversas mdias. Os enredos

    contam as aventuras de Bruce Wayne, empresrio e filantropo bilionrio que v seus pais

    serem assassinados quando criana. Por ter averso a arma de fogo ele aprende vrias

    tcnicas de luta e combate, buscando a perfeio fsica e intelectual. Como ele no possui

    poderes sobre-humanos, ele cria um uniforme inspirado nos morcegos e apetrechos

    tecnolgicos para lutar contra o crime.J Batgirl10 surgiu a partir do sucesso da srie de TV de Batman exibida na dcada

    de 1960. Batgirl era uma bibliotecria e auxiliou Batman e Robin na luta contra o crime,

    mas aps ser baleada pelo vilo Coringa ela perde o movimento das pernas e adota o nome

    Orculo, se tornando especialista em sistemas de informao e passando a auxiliar todos

    os super-heris fornecendo informaes pela Internet.

    Fotografia 5: Be. e Ni. (Batman e Batgirl)Fonte: Acervo da famlia Rangel, 2011.

    A fotografia acima foi feita em Florianpolis/SC, no ano de 2011, na casa dos tios e

    padrinhos de Be. onde acontecia um encontro de familiares durante as frias de vero. De

    9Informaes disponveis em Acesso em ago. 2011.10Informaes disponveis em Acesso em ago. 2011.

    9

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Batmanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Batgirlhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Batgirlhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Batmanhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Batgirl
  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    10/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    acordo com a madrinha e tia do menino, as crianas gostam do Batman e de se vestir de

    super-heris. Ela relata ainda que Be., de dois anos de idade, sempre usa capa, seja a da

    fantasia ou uma fralda amarrada no pescoo. Ni., de cinco anos de idade, tambm adora se

    vestir de Batman: Quem a chama de Batgirl so os adultos, para ela isso parece serirrelevante, o que importa vestir a roupa de super-herona e brincar com o irmo e os

    primos, conta a tia da menina. Nesta fotografia interessante perceber que no h

    preocupao com poses ou preparao do ambiente, parece que a inteno foi flagrar um

    momento espontneo de brincadeira das crianas, que, naquele instante estavam voando,

    segundo a tia.

    A fotografia abaixo, feita no mesmo dia e local da fotografia anterior, percebemos

    que o menino sabe da presena da cmera, mas no h preocupao com a preparao deambiente, ou fundo para a fotografia. Conforme o relato da tia, Ed., de quatro anos de

    idade, ama se vestir de Batman. Sente-se o prprio com todos esses apetrechos, que faz

    questo de us-los todos, pronto pra salvar Gottam City!.

    Fotografia 6: Ed. (Batman).Fonte: Acervo da famlia Dyck, 2011.

    Ao utilizar um brinquedo ou uma fantasia, as crianas tm em mos um aliado na

    construo de suas narrativas e, so justamente essas narrativas, que contribuem para uma

    melhor compreenso das culturas infantis pelo adulto. Ou seja, [...] o brinquedo no

    condiciona a ao da criana: ele lhe oferece um suporte determinado, mas que ganharnovos significados atravs da brincadeira (BROUGRE, 2008, p.09).

    10

  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    11/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    Por isso, um olhar atento e livre de preconceitos pode contribuir para uma melhor

    compreenso das relaes que as crianas estabelecem com as narrativas e personagens de

    filmes, desenhos animados, livros, revistas etc. a possibilidade de materializar as

    narrativas que assistem na televiso e de interagir de acordo com o sentido que a imagemdos objetos indica ao enredo da brincadeira que faz com que as crianas atribuam ainda

    mais sentido as suas prprias narrativas e aos personagens que assumem. E, brincando,

    negocia-se regras, constri-se e reconstri-se valores, conceitos, enfim, conhecimentos

    sobre as coisas do mundo.

    3. A fotografia e as prticas educomunicativas

    Educomunicao essencialmenteprxis social [...].

    Ismar Soares

    O exerccio de analisar as fotografias de modo fidedigno foi possvel graas s

    informaes relatadas pelas pessoas que as disponibilizaram. Assim, nossas anlises

    consideraram uma das premissas apresentadas por Mauad (2004, p.20) para o tratamento

    crtico das imagens fotogrficas, qual seja o princpio da intertextualidade, isto [...] uma

    fotografia, para ser interpretada como texto (suporte de relaes sociais), demanda oconhecimento de outros textos que a precedem ou que com ela concorrem para a produo

    da textualidade de uma poca. [...]. Em outras palavras, a anlise foi possibilitada pela

    relao de nossas impresses sobre as imagens com os relatos pessoais e pela aproximao

    s narrativas vividas pelos personagens miditicos referidos pelas crianas fotografadas.

    Como podemos perceber por meio dos relatos das pessoas que nos cederam as

    fotografias, h um grande envolvimento destas com as fotografias, uma relao mesmo de

    afetividade com essas imagens, com as pessoas e lugares, com um momento vivido, comuma lembrana. Por isso, entendemos que tais relatos podem contribuir para uma melhor

    interpretao das imagens.

    Diante disso, tomados os devidos cuidados no tocante interpretao das

    fotografias, reconhecemos que estas podem ser utilizadas como recurso para compreender a

    realidade vivida pelas crianas contemporneas fora do contexto escolar e, a partir da, se

    pensar em prticas pedaggicas que abarquem as expectativas e necessidades das escolas,

    das famlias e das crianas que vivem em meio s referncias miditicas.

    11

  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    12/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    Numa contemporaneidade de consolidada cultura televisiva Brougre (2008, p. 54)

    explica:

    O grande valor da televiso para a infncia oferecer s crianas, quepertencem a ambientes diferentes, uma linguagem comum, refernciasnicas. Basta lembrar um heri de desenho animado para que as crianasentrem na brincadeira em p de igualdade, ajustando seu comportamentoao dos outros a partir daquilo que conhecem do seriado lembrado. Numasociedade que fragmenta os contextos culturais, a televiso oferece umareferncia comum, um suporte de comunicao.

    Os desenhos animados, filmes, histrias em quadrinhos, seriados etc. que so

    referidos pelas crianas em suas brincadeirascostumam possuir narrativas que envolvem a

    luta do bem contra o mal, efeitos sonoros que conotam suspense e ao, efeitos visuais quedeixam os enredos mais atraentes, o que parece fazer com que as crianas se identifiquem

    com os personagens e as suas histrias, assim, compreensvel que as crianas tambm

    queiram se transformar nos personagens e viver suas aventuras. Conforme Girardello (1999,

    p.04):

    Os heris, heronas e aventuras da TV so usados como matria-prima davida de fantasia das crianas. As narrativas da TV funcionam como uma

    espcie de pr-roteiro para a brincadeira imaginativa das crianas. Issoacontece inclusive durante a prpria experincia, j que as crianasbrincam e devaneiam com freqncia enquanto assistem televiso. (grifoda autora)

    Uma vez que as mdias possuem recursos capazes de captar a ateno das crianas,

    as quais se apropriam tambm de valores, princpios e conceitos propagados por ela,

    ampliar o entendimento do papel desempenhado por essas importantes referncias culturais

    contemporneas na vida das crianas uma necessidade, sobretudo quando a comunidade

    escolar j no se configura mais como nico espao de formao e de construo ereconstruo de conhecimentos. Pensando nisso, nos parece pertinente a contribuio da

    rea da Educomunicao no que se refere inter-relao das reas da Educao e da

    Comunicao. A Educomunicao definida por Soares (2002, p.24) como:

    [...] conjunto de aes inerentes ao planejamento, implementao eavaliao de processos, programas e produtos destinados a criar e afortalecer ecossistemas comunicativos em espaos educativos presenciaisou virtuais, assim como a melhorar o coeficiente comunicativo das aes

    educativas, incluindo as relacionadas ao uso dos recursos de informaono processo de aprendizagem.

    12

  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    13/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    Por ecossistema comunicativo, o autor (2011, p.44) entende um ideal de relaes,

    construdo coletivamente em dado espao, em decorrncia de uma deciso estratgica de

    favorecer o dilogo social, levando em conta, inclusive, as potencialidades dos meios decomunicao e de suas tecnologias.

    O conceito de Educomunicao e o entendimento de ecossistema comunicativo

    trazido por Soares, contriburam para que pensssemos aqui nas prticas educomunicativas

    como possibilidade para a prtica pedaggica realizada no interior das escolas de hoje. Em

    nosso entendimento, as prticas educomunicativas esto preocupadas com a ampliao dos

    ecossistemas comunicativos, isto , mais do que se preocuparem com a utilizao dos

    recursos tecnolgicos no qu fazer pedaggico estas se preocupam com a ampliao dos

    ndices comunicativos estabelecidos entre os sujeitos que participam do processo

    educativo: comunidade escolar, crianas, famlia, sociedade. Nesse sentido, as fotografias,

    mais do que fruto do desenvolvimento tecnolgico, participam do surgimento de novas

    sensibilidades nos sujeitos contemporneos e, utilizadas a favor do estabelecimento de

    ecossistemas comunicativos podem favorecer o entendimento dos adultos (pais,

    professores etc.) quanto a participao das referncias miditicas no entendimento de

    mundo do sujeito-criana.

    CONCLUSO

    Com o presente estudo percebeu-se que o acesso s mdias tem permitido s crianas

    o contato com diferentes referncias, sendo possvel perceber, por meio de fotografias de

    acervos de famlia que os personagens de programas de televiso, filmes, desenhos

    animados, revistas em quadrinhos, livros etc. fazem parte da cultura infantil, participando

    das suas brincadeiras e em consequncia, da sua construo e reconstruo de seus

    conhecimentos e de suas culturas prprias.

    Da a necessidade de se promover a aproximao das culturas infantis

    contemporneas, de modo que tenhamos condies reais de propor experincias

    enriquecedoras e esclarecedoras sobre os aspectos que envolvem as mdias, importantes

    referncias para as infncias dos dias de hoje. Neste sentido, entendemos que os

    pesquisadores devem fazer com que as fotografias ultrapassem o carter de mera ilustrao

    e se configurem como elementos de anlise das relaes entre as crianas e suas refernciasculturais. Desta forma, vemos que as prticas educomunicativas - porque preocupadas com

    13

  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    14/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    a ampliao dos ndices comunicativos no qu fazer pedaggico - revelam importantes

    contribuies no que se refere s novas demandas da escola nesta contemporaneidade

    marcada pela forte presena das referncias miditicas.

    REFERNCIAS

    AUMONT, J. A parte do espectador.In: ______. A imagem. So Paulo: Papirus, 1993.

    BARBOSA, M. C. S. Culturas escolares, culturas de infncia e culturas familiares: as socializaese a escolarizao no entretecer destas culturas. Revista Educao & Sociedade. Campinas, v. 28,n 100. Especial, p.1059-1083, out. 2007.

    BENJAMIN, W. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade tcnica.In: ______. Sobre Arte,Tcnica, Linguagem e Poltica. Antropos, 1992.

    BUARQUE, C. Sivuca. Joo e Maria.In: CD Perfil Chico Buarque. Universal Music, 1989.

    BROUGRE, G. Brinquedo e cultura. 7 ed. So Paulo: Cortez, 2008.

    CITELLI, A. Educao e mudanas: novos modos de conhecer. In: ______ (Org.). Outraslinguagens na escola: publicidade, cinema e TV, rdio, jogos, informtica. 4 Ed. So Paulo:Cortez, 2004.

    GIRARDELLO, G. A Imaginao Infantil e as Histrias da TV. 1 Jornada de Debates sobreMdia e Imaginrio Infantil, 1999. Disponvel em < http://www.nica.ufsc.br/wp-content/uploads/2010/01/A-imaginacao-da-infantil-e-as-historias-da-tv.pdf >Acesso em05/07/2012.

    KOSSOY, B. Iconologia: Caminhos da Interpretao.In. ______. Fotografia & Histria. 2 Ed.

    So Paulo, Ateli Editorial, 2001.

    LEITE, M. M. Retratos de famlia: Leitura da fotografia histrica. 3 Ed. So Paulo: Editora daUniversidade de So Paulo, 2001.

    MAUAD, A. M. Fotografia e Histria possibilidades de anlise. In: CIAVATTA, Maria; ALVES,Nilda. A leitura de imagens na pesquisa social: histria, comunicao e educao. So Paulo:Cortez, 2004.

    PACHECO, E. D. Televiso, Criana e Imaginrio e Educao: Dilemas e Dilogos.In:Seminrio Nacional de Literatura Infantil e Juvenil. So Paulo, 1999. Disponvel em

    14

  • 7/31/2019 Fotografia de crianas e seus personagens miditicos_contribuies para pensarmos as prticas educomunicativas

    15/15

    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicaoXXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

    Acesso em 10/07/2011.

    SALGADO, R. G. PEREIRA, R. M. R. , SOUZA, S. J. e. Pela tela, pela janela: questes tericas eprticas sobre infncia e televiso. Cadernos Cedes, Campinas, vol. 25, n. 65, p. 9-24, jan./abr.

    2005.

    SILVA, S. T. A. Desenho animado e educao.In: Citelli, Adilson (Org.). Outras linguagens naescola: publicidade, cinema e TV, rdio, jogos, informtica. 4 Ed. So Paulo: Cortez, 2004.

    SOARES, I. O. Educomunicao: o conceito, o profissional, a aplicao: contribuies para areforma do ensino mdio. So Paulo: Paulinas, 2011.

    ______. Gesto Comunicativa e Educao: caminhos da educomunicao. Revista Comunicao& Educao. So Paulo, n.23: jan./abr. 2002.