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Revista Forum on-line Julho 2005

FORUM ON-LINEDirector: Jos Manuel Santos

Associao de Professores de Sintra

Editorial

Sumrio

Afonso, Cristovalina

Centro de Formao

Plano de Formao da Cmara Municipal de Sintra

Educao para os ValoresSantos, Jos Manuel

Clarificao de Valores e a

Centro de FormaoCalendarizao do Plano

Baio, Luz

Em Vias de Extino

O FORUM on-lineFrum on-line

Cerimnia da Tomada de Posse Rosa tatuada Conto Antnio Narciso da ADESintraADESintra

o cerbro

TV capaz de reprogramar

Teatro para a infnciaSilva, Elvira

da Sensibilizao Ambiental

Portugal, Isabel

A Crise, o Dfice e a AldrabiceRodrigues, Jos Augusto

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Cristovalina Afonso

EditorialSou, por norma, uma pessoa optimista... Quem me conhece bem sabe que gosto de ver o lado positivo das coisas... Os amigos esto habituados boa disposio e alegria... mas com franqueza, j no sei que vos diga!

Se quisermos falar de futuro, luz dos ltimos acontecimentos, perdemos a capacidade de sorrir em pouco tempo. No s pelas alteraes na carreira, pelos congelamentos, pela notria falta de reconhecimento da funo docente aos olhos da sociedade actual, pela desiluso causada pela actuao de estruturas que existem e que (supostamente!?) deviam defender os interesses da classe, pela falta de noo de classe profissional, que nos divide e enfraquece, pelos ataques que nos desferem aqueles que deviam ser realmente parceiros na educao, pelas dificuldades, pela desmotivao, pela falta e norte e de esperana que nos assola... J no sei que vos diga!

Sei, contudo, que temos lugar no futuro, que fazemos sentido, que ainda sentimos paixo pelo trabalho e, portanto sobreviveremos (s) crise(s) e que, nesse contexto, os professores no se deixaro abater. No ainda. No j. No agora.

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Opinio

Jos Manuel Santos

Clarificao de Valores e a Educao para os Valores

A escola, mesmo nos nossos dias, continua a ser a instituio educativa primordial. A transmisso e a construo do saber e ou de um saber-fazer, principal objectivo da sua aco, deve ser entendida como a aco que permite que o aluno aja sobre o mundo, sobre si prprio e sobre os outros, que modifique o seu destino, que possibilite a progresso de forma consciente, consistente e autnoma. Naturalmente, para atingir tal desiderato, a escola, vista como um universo, cada vez mais multicultural, multiracial, de indivduos com vrios graus de maturidade, de experincias e expectativas de vida, tem de ter em conta a individualidade do aluno.

Neste contexto, o professor desempenha um duplo papel junto dos alunos: por um lado, a transmisso conhecimentos, e de desenvolvimento sensibilidades, de de

perspectivas e, naturalmente, a mobilizao de competncias; por outro lado, a motivao para a apropriao de de atitudes valores e para a

consciencializao considerados.

socialmente

No sentido de melhor cumprir esta dupla responsabilidade, o docente necessita possuir, para alm de uma slida formao cientfica e tcnica, o conhecimento dos processos por que passam os jovens no seu

desenvolvimento cognitivo e moral, devendo centrar todo o processo de ensino-aprendizagem na pessoa do aluno, nos interesses e necessidades 3

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daqueles que tm de construir uma identidade moral, cognoscente e activa na sociedade. Esta uma rea em que os educadores sentem mais dificuldade e, tambm, menos interesse.

A actividade docente essencialmente valorativa. O professor o principal intrprete normativo em sala de aula, ele que gere os conflitos, ele que cria as normas consideradas necessrias ao bom aproveitamento e ao bom comportamento, ele que selecciona, ou exclui, os textos a trabalhar, ele que planifica as actividades e define critrios, ele, em suma, que institui o que importante e o que acessrio, o que deve ser valorizado ou no. O professor , em todos os momentos, um modelo, um exemplo, pela postura que assume em sala de aula ou fora dela e pelas opinies que defende ou contraria, pode influenciar as atitudes morais dos seus alunos. No possvel desempenhar a aco formativa de forma neutra e imparcial.

Parece, assim, a meu ver, desvalorizada a contnua e controversa questo de saber se deve ou no a escola ensinar valores. A escola no s os ensina como o faz da pior maneira, insinua-os. Isto , os valores so transmitidos pelas regras e normas que a escola impe, pela aco e exemplo dos professores, que mantm uma relao assimtrica com os alunos e que estes se habituaram a ver como intrpretes da verdade e no pela reflexo, pela assuno pessoal. Distinta a questo de se saber que valores deve a escola ensinar e como. A clarificao de valores pretende responder a esta questo. Na ptica dos seus autores, Raths, Harmin e Simon (1966), a sociedade actual, complexa, contraditria, em que todos os dias valores idnticos justificam distintas aces, que valoriza o imediato, o fcil, o suprfluo, gera confuso e desinteresse. So estas pessoas, particularmente os jovens, confrontadas com mltiplos dilemas morais, que no tm resposta para a incongruncia do mundo em que vivemos, os mais necessitados de clarificao de valores. Segundo os autores desta teoria, so principais destinatrios: (1) as pessoas apticas, (2) superficiais ou interessadas em mltiplas realidades, embora por pouco tempo, (3) hesitantes ou com dificuldade em tomar decises, (4) inconsistentes ou envolvidas em muitas coisas contraditrias, (5) desorientadas, deriva, sem rumo, (6) super 4

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conformistas, (7) super discordantes ou contestatrias, e (8) representadoras de papis.

Embora esta teoria no se assuma como uma receita universal para todas as pessoas e todas as circunstncias, oferece aos tipos de pessoas anteriormente tipificadas, a possibilidade de assumirem comportamentos diferentes. Para tal, a clarificao de valores assenta a sua metodologia em quatro elementos fulcrais:

1. Centrao na vida, a ateno para os problemas de vida pessoal ou social da pessoa; 2. Aceitao da pessoa tal como ela , aceitam-se as atitudes do outro sem julgamento; 3. Convite para uma reflexo, no sentido de encorajar escolhas ponderadas; 4. Fortalecimento dos poderes pessoais, a reflexo pode conduzir integrao esclarecida e continuada no tempo de valores.

No cabe no mbito deste artigo maior desenvolvimento da teoria na de

apresentao

clarificao de valores, mas to s aquilatar sobre a sua utilidade, ou no, em contexto escolar. neste sentido que organizo as prximas linhas.

A nossa escola , tradicionalmente, prescritiva, quer na imposio dos contedos, das planificaes e actividades propostas, quer no relacionamento, em sala de aula, entre professor e alunos ou entre estes. Muitos dos problemas comportamentais verificados nas escolas decorrem desta realidade.

A persuaso, os conselhos do director de turma, podem atingir alguns resultados, mas, em princpio, no so consequentes e, seguramente, de

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durao efmera. O mesmo sucede com a prescrio. Os regulamentos internos de escola, as regras estabelecidas pelo professor em sala de aula, as faltas, os castigos, podem conseguir um comportamento, mas nunca a aceitao de valor. Alguns professores utilizam estes mtodos porque no conhecem alternativas, outros porque mais fcil e, dizem, mais produtivo, moldar comportamentos dos alunos do que conversar com eles no sentido de lhes permitirem outras escolhas, outros, ainda, defendem a compreenso permissiva, isto , o apelo boa educao, aos bons sentimentos do jovem.

Aparentemente, nenhum destes mtodos, ou variaes possveis, tm dado grande resultado. Basta ter presente os constantes problemas disciplinares de que as nossas escolas so palco e o consequente insucesso, ou mesmo, abandono escolar. Porm, se a escola quiser levar a srio o seu papel de formadora dos alunos e de renovao da sociedade no se pode limitar s metodologias referidas anteriormente. neste contexto que a clarificao de valores parece poder constituir um contributo para minorar os problemas escolares anteriormente mencionados. Saliento, todavia, que, como qualquer teoria, tambm esta envolve controvrsia e divergncia quanto bondade dos seus resultados (Coulson, 2005).

A prtica docente ensinou-me que qualquer aprendizagem tanto mais consistente quanto mais resulta da apropriao do conhecimento pelo aluno. Ou seja, a participao activa, construtiva, do aluno imprescindvel para que um contedo seja interiorizado, passando a fazer parte do seu quadro conceptual. assim claro, que um ensino eminentemente directivo, expositivo, preocupado em transmitir informao em vez de conhecimento est condenado ao insucesso quer no que se refere compreenso dos contedos, quer no que se refere formao pessoal e social dos alunos. Memorizar e aprender so, embora associadas, realidades distintas. A primeira permite o domnio de alguns conhecimentos, a segunda permite a reflexo sobre os conhecimentos, integrando-os num nexo pessoal. O professor tem o dever de contribuir para o crescimento do aluno. Crescimento intelectual e crescimento como pessoa. Este desgnio s possvel se a formao moral estiver presente nas

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preocupaes do professor e for obtida pela participao activa, responsvel e esclarecida do aluno.

A meu ver, a clarificao de valores assenta neste princpio. O aluno, para esta teoria, considerado na sua individualidade, na sua singularidade e no como algum a quem se deve transmitir valores considerados certos, algum a quem se prescreve comportamentos, atitudes. Pelo contrrio, a aquisio de valores entendida como pessoal e livre, gostaria de sublinhar este critrio porque ele a pedra de toque dos critrios de definio de valores. Ela repousa na experincia de vida de cada um e emerge do confronto entre as vrias alternativas possveis e da reflexo desencadeada sobre as

consequncias de cada uma, deve ser apreciado de modo a ser transmitido aos outros, verificar-se, repetidamente, na prtica diria tornando-se numa regra de vida. Em suma, os valores so definidos por trs processos de valorao: (a) escolher, (b) apreciar, e (c) actuar.

A partir de comportamentos registados em sala de aula, o professor pode identificar alunos com deficincia de valores, como anteriormente referi, apticos, inconstantes, inconsistentes, etc... ou, por exemplo, a partir da interpretao de um texto, da realizao de um trabalho ou de atitudes praticadas, identificar indicadores de valores, expresses pessoais que no podendo ser considerados valores, uma vez que no respeitam os critrios considerados essenciais pelos autores desta teoria, podem com eles ser confundidos, mas, tambm, servir sua formao, como, entre outros, sentimentos, crenas, interesses, atitudes, e iniciar estratgias de interveno conducentes a ajudar o aluno a desenvolver o seu juzo moral. Convm realar que a utilizao dos processos para se atingirem os valores adequados ao melhor relacionamento do indivduo consigo prprio e com os outros, desencadeada pelo professor, sob a forma de convite e desenvolvida, por exemplo, pela aplicao de exerccios, em situaes informais ou, ainda, durante a aprendizagem de um contedo e dele decorrendo, mas o aluno o actor principal, ele que, livremente, deve fazer as escolhas e actuar de acordo com elas.

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A principal fraqueza habitualmente apontada clarificao de valores o relativismo tico, isto , a ausncia de valores absolutos. Porm, no basta saber, ou mesmo defender publicamente que no se deve fazer isto ou aquilo, ou que se deve tomar esta ou aquela atitude para que a realidade melhor. Na escola esta situao evidente. Reconhecer o erro no tem levado a que no seja praticado. S, em meu entender, a assuno do valor pelo aluno pode permitir que os comportamentos se alterem.

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Referncias Bibliogrficas:Coulson, W. (2005, Maio 28) Carta Aberta aos Pais Portugueses. Expresso, p.24. Raths, L.,Harmin, M. e Simon, S. B. (1966). Values and Teaching: Working with Values in the Classroom. Columbus, OH: Charles E. Merril.

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Opinio

Luz Baio

Em Vias de Extino

alto o nvel de consensualidade encontrado entre os vrios agentes educativos e os restantes responsveis pela rea da educao, quando se fala da actual crise da instituio social que durante anos parecia estar a cumprir o seu dever adequadamente. Refiro-me escola e aos crescentes parmetros de violncia que nela se instalam, assim como aos muitos e diversos casos de indisciplina que a povoam. Sugiro, talvez, a insatisfao dos alunos. Falo da situao do ensino em geral, que, a mide, recebe crticas por no estar a formar as crianas e os jovens dos nossos dias para o ambiente multicultural, multirracial, multitnico, multirreligioso e multilingue em que vivem. E dirijo-me, em particular, ao Ensino Secundrio, o qual deixou de preparar os jovens, quer para a insero na vida activa, para os modernos postos de trabalho que a sociedade dos nossos dias lhes oferece, quer para o ingresso no Ensino Superior.

A consciencializao sobre este desesperante contexto nacional tem levado tericos e investigadores a devotarem o seu tempo procura de respostas capazes de inverter o estado actual da educao escolar. Surgem propostas conducentes melhoria do ensino, admitindo-se frequentemente que a falha reside nos professores: so teorias e abordagens distintas que visam a mudana nos processos de ensino-aprendizagem; so directrizes que vo ao encontro de novas metodologias e estratgias diferentes; um elenco de tarefas prticas propostas; todo um conjunto de pistas que, no fundo, pretende mostrar aos professores como eles podem estar errados nas suas concepes ou prticas pedaggicas, tentando simultaneamente transmitir uma mensagem de esperana aos alunos e suas famlias.

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Estas aces no so infrutferas, nem so to singulares como se possa crer. A par de um longo perodo de transio em termos de processos sociais e de fenmenos culturais no mundo, as ltimas dcadas do ensino portugus tm assistido grande influncia da agenda educativa

supranacional, com maior expresso dos quadros europeus, nas decises curriculares e at no mbito da formao de professores no espao nacional portugus. Um vasto conjunto de documentos (relatrios, pareceres e recomendaes) de equipas de trabalho ligadas ao Ministrio da Educao, vem reforar a preocupao em alicerar a organizao do sistema educativo numa formao global e equilibrada dos alunos, de acordo com as exigncias da sociedade actual. O objectivo comum promover a realizao pessoal e comunitria de crianas e jovens, por se admitir que a realizao de todos os seres humanos, tendo como referncia a Declarao Universal dos Direitos Humanos, passa por relaes interpessoais saudveis no seio de uma cidadania mundial. Tanto ao nvel do pas, como internacionalmente, vem-se acentuando a vontade de construir uma sociedade mais livre, mais justa, mais tolerante e mais democrtica, com base na promoo dos direitos humanos e no reforo da democracia pluralista. O enfoque de todo o enquadramento legal desta preocupao vai para a necessidade de que a educao escolar contribua para uma formao integral dos alunos, leia-se, o seu

desenvolvimento pessoal e sociocultural.

Respeitando as recomendaes do Conselho da Europa, de que Estado Membro, Portugal assume o desenvolvimento de polticas educativas comuns e subscreve o princpio de preservao da diversidade lingustica e cultural. A experincia do pas em termos quer de emigrao quer de imigrao ensina-lhe que este ser o caminho no encalce de uma sociedade global, mas no globalizada, que aceita, tolera e respeita a diferena; de uma sociedade democrtica em cuja (re)construo todos tm direitos e deveres de interveno (quero dizer, de participao consciente, reflectida e construtiva).

No mbito da implementao de hbitos de aceitao da mencionada diversidade lingustica e cultural, Portugal assume as propostas do Quadro Europeu Comum de Referncia para as Lnguas, projecto europeu que define, 10

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com clareza, objectivos e mtodos de ensino-aprendizagem, constituindo-se como base comum para a concepo de programas e manuais escolares, para a elaborao de exames e para a formao de professores de lnguas.

A Reviso Curricular do Ensino Secundrio, a que directamente me pretendo referir, surge no panorama do ensino portugus, quando as crticas sua eficincia ressoam por todos os cantos do pas, como uma tentativa de resposta insuficiente formao pessoal e social dos jovens, em face da conjuntura socioeconmica e poltico-cultural da vida moderna. Pretendendo resolver os problemas do currculo anterior, que o Ministrio da Educao considerava resultarem da nfase excessiva nos contedos de natureza acadmica em detrimento de tarefas mais significativas nos domnios cognitivo, afectivo, psicomotor, dos valores, do desenvolvimento moral e da educao para a cidadania democrtica, a Reviso Curricular do Ensino Secundrio aponta como princpio a promoo de conhecimentos, capacidades e atitudes fundamentais que permitam aos alunos assumir-se como cidados de pleno direito, crticos e intervenientes, numa sociedade democrtica moderna e desenvolvida (Ministrio da Educao, 2000, pp. 19 e 27). Esta reviso retoma a importncia da interveno do contexto escolar na aprendizagem de uma cidadania livre, responsvel, crtica e disponvel para participar plenamente na vida colectiva das sociedades (Ministrio da Educao, 2000, p. 7).

Analisando a proposta de Reviso Curricular apresentada pelo Ministrio da Educao, o Conselho Nacional de Educao considera que ela no corresponde resposta de qualidade de que carece este nvel de ensino, e avana aspectos fulcrais do que deve caracterizar o Ensino Secundrio. Destes, recordo, aqui, alguns que me merecem especial ateno: planos curriculares que promovam aptides, saberes e atitudes conducentes construo de projectos de vida pessoais, assuno de diferentes papis sociais e ao consequente desenvolvimento da cidadania; oferta de percursos educativos adequada diversidade dos jovens; e sua orientao pessoal, escolar e profissional, face instabilidade do mercado de trabalho (parecer n. 1/2003, de 14 de Maro).

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Porque chamei a esta reflexo os tpicos que anteriormente apresento? Porque eles se tornam cruciais para percebermos que algo errado est a trazer a hegemonia da Lngua Inglesa para os nossos palcos educativos em detrimento da diversidade lingustica anunciada. O que aconteceu ao Francs que durante dcadas animava os planos curriculares do Ensino Secundrio? Perdeu a sua importncia, porque em Bruxelas j s se fala ingls? Quando ter lugar a cerimnia fnebre do Alemo, no qual se apostava em prol do estreitamento das relaes sociais e econmicas com a Alemanha? E j no falo de outras lnguas, que nunca existiram, mas sempre se prometeram. No consigo, porm, assistir inaltervel passagem do estado moribundo ao enterro da lngua alem.

Assistindo quilo que me parece poder apelidar de uma lngua em vias de extino nos currculos reais do Ensino Secundrio (a disciplina de Alemo, que durante 20 anos leccionei quase ininterruptamente e que, num futuro prximo, no sei se voltarei a leccionar), limito-me a, de algum modo, manifestar a minha incompreenso e o meu pesar, numa atitude to expectante quo angustiante.

E vrias so as dvidas que se me colocam. Em que percurso educativo se integra um jovem que, no querendo seguir um curso de Lnguas e Literaturas, porque persegue uma formao de base distinta, quer aprender outra lngua estrangeira que lhe facilite a mobilidade necessria s novas circunstncias do mercado de trabalho portugus, europeu ou mundial? Que plano curricular convence o jovem que acredita em si como futuro cidado europeu? Que curso lhe garante versatilidade em saberes e competncias, ou lhe confere uma formao sociocultural capaz de o encaminhar no dilogo intercultural ou nas relaes interpessoais inerentes a qualquer tipo de ocupao profissional que o obrigue a contactos sistemticos com empresas ou pessoas singulares estrangeiras? E tambm, considerando o lugar de destaque que o Latim e o Grego ocupam no curso de Lnguas e Literaturas, em que medida estas disciplinas contribuem para a formao do jovem (nos moldes em que esta defendida pela Reviso Curricular) face s inovaes que, em funo dos avanos tecnolgicos e cientficos, aceleradamente 12

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preenchem a vida sociocultural da sociedade contempornea ou face aos desafios decorrentes das sucessivas mudanas a que aquelas obrigam?

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Cerimnia de Tomada de Posse da ADESintra

No passado dia 13 de Julho de 2005, realizou-se a Cerimnia de Tomada de Posse dos Corpos Sociais das ADESintra para o binio 2005/2007. Esta Cerimnia contou com a presena do Sr. Vereador do Desporto e Educao da Cmara Municipal bem como de vrias entidades representativas da comunidade escolar.

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OpinioIsabel Portugal

TV capaz de re-programar o cerbro

A televiso transformou-se nos ltimos anos, no melhor amigo de muitas crianas, a fiel companheira dos que ficam em casa sozinhos ou entretidos sempre que tm algum tempo livre. Para alm desse hbito promover um elevado grau de sedentarismo na criana, leva a que os mais pequenos assistam a uma cascata infinita de anncios, que foram especialmente concebidos para serem devorados e interiorizados por elas. A publicidade a produtos alimentares, representa mais de 90% de toda a publicidade que passa nos intervalos de programas infantis. As agncias de publicidade so formadas por equipas de profissionais que conhecem muito bem o perfil dos mais pequenos, e que, sabem colocar-se na pele da criana, entrar no seu mundo mgico, criando personagens que cumprem muito bem o seu papel. A capacidade que a publicidade de certos produtos tem de criar

comportamentos automatizados nas crianas, ainda mais relevante do que o despertar da vontade de comer. Os jovens vem televiso muitas horas seguidas. Um ritual pouco inofensivo, se tivermos em conta que pode influenciar os jovens ao ponto de alterar os seus hbitos alimentares. Os pais tambm no esto isentos de culpa, pois muitas vezes o pequeno ecr faz de famlia. A televiso uma verdadeira tentao para os pais com falta de tempo. Com uma programao cada vez mais variada e atenta capacidade de recepo das camadas mais jovens, o pequeno ecr um companheiro (quase) ideal.

Um companheiro de todas as horas. Disso sinal a quantidade cada vez maior de televisores que as famlias dispem. Da sala ao quarto, passando pelo quarto dos mais pequenos, onde normalmente tambm est um vdeo. No sendo um bicho papo, a televiso tem contudo, um papel redutor das relaes familiares, j que obriga ao

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silncio e exige a ateno total. Os jovens e os adultos claro, gostam da televiso. Nela vem os seus dolos, passam o tempo, assistem ao evoluir das tendncias. Muitas vezes, so frente a ela colocados pelos pais, a quem falta tempo e tm outras funes a desempenhar. Com tantas horas frente ao televisor, os jovens tornam-se vulnerveis mensagem por esta veiculada. Seguem os modelos, querem ser como eles, vo perdendo o gosto por uma conversa a seguir refeio e pela partilha do conhecimento. A televiso enfeitia as crianas e, bom que seja dito, os adultos. Mas os mais pequenos que comeam desde muito cedo a ver televiso esto sem saber, tal como os seus pais, a correr um risco acrescido de dfice de ateno na idade escolar. Vrios cientistas j alertaram que, passar muitas horas na frente da televiso no benfico para crianas. Mas agora, um novo estudo constatou que a televiso tambm capaz de afectar a capacidade de ateno de crianas de apenas 1 ano. Descobriu-se que, assistir televiso antes dos 3 anos de idade aumenta as possibilidades de as crianas desenvolverem problemas de ateno e concentrao aos 7 anos de idade, afirma Dimitri Christakis (2004) mdio e professor, da Universidade de Washington, em Seattle. No estudo, especialistas estimam que de 4% a 12% das crianas americanas, sofrem de desordem de deficit de ateno, associada hiperactividade. Muitos pais acreditam que seus filhos, simplesmente, nasceram com o problema, mas factores ambientais podem ter um papel fundamental no desenvolvimento da desordem, Christakis. A educao influencia profundamente a natureza. As pessoas nascem com predisposies genticas, mas o meio ambiente molda-as. Temos todas as razes para acreditar que experincias na mais tenra idade possam afectar o crebro. Uma pesquisa divulgada recentemente, revela que 30% das crianas com menos de 2 anos de idade tm uma TV no quarto nos EUA, referindo mais de um tero das famlias (36%), que afirma estar o aparelho fica ligado o tempo todo. O crebro desenvolve-se rapidamente nos primeiros trs anos de vida. nessa fase que conexes importantes so formadas. Estudos feitos com animais, revelaram que a arquitectura do crebro muda de acordo com o tipo de estmulo visual a que eles foram submetidos refere Christakis.

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Entretanto

Frederick

Zimmerman

(2004),

da

Universidade

de

Washington em Seattle, um dos autores da investigao, refere que impossvel estabelecer um nvel "seguro" de TV para crianas entre 1 e 3 anos; cada hora representa um risco adicional, sendo possvel dizer, que no h nvel seguro, j que h um risco pequeno mas crescente". Foram recolhidos dados entre 2,5 mil crianas dessa faixa etria, mostrando que, com 1 ano de idade, elas viam TV por 2,2 horas dirias, e aos 3 passavam para 3,6 horas por dia, em mdia. Algumas delas passavam mais de 12 horas na frente da TV. A idade importante porque marca o desenvolvimento contnuo do crebro, disse o estudo.

"O trabalho sugere que h uma associao importante e significativa entre a exposio precoce televiso e problemas subsequentes de ateno", explicou Dimitri Christakis, que chefiou a pesquisa. Sabe-se pelas estimativas norte-americanas, que as crianas da faixa etria entre 1 e 3 anos vem em mdia de duas a trs horas de TV por dia, e que 30 por cento de todas as crianas tm televiso no quarto. H uma enorme e crescente dependncia da televiso por uma srie de motivos, importando aos pais terem de orientar a limitar o tempo diante da TV de seus filhos pequenos. Nos EUA, o transtorno do deficit de ateno atinge entre 3 e 5% das crianas. As suas caractersticas so: A capacidade reduzida de concentrao; A dificuldade de organizao; O comportamento impulsivo.

Crianas at aos 3 anos de idade que assistem televiso em excesso, tm mais probabilidade de desenvolver problemas de concentrao quando chegam idade escolar, por volta dos 7 anos. Esta a concluso de um estudo publicado na edio de Abril da revista norte-americana especializada em pediatria Pediatrics. O estudo sugere que a TV pode super estimular o crebro em desenvolvimento. Por cada hora em frente da TV por dia, dois grupos de crianas, com idades variando de 1 a 3 anos, tiveram 10% de aumento no risco de ter problemas aos 7 anos. A descoberta confirma uma pesquisa anterior, segundo a qual a televiso diminui a ateno das crianas, 16

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reforando a recomendao da Academia Americana de Pediatria para que crianas com menos 2 anos no assistam televiso.

"Na verdade existem vrias razes para crianas no verem TV. Outros estudos mostraram que isto est associado com a obesidade e a agressividade", disse um dos autores do estudo, Dimitri Christakis, pesquisador do Hospital Infantil e Centro Mdico Regional de Seattle. Os pesquisadores no souberam quais os programas que as crianas viam, mas, Christakis disse que o contedo no o problema. A questo que as imagens fantasiosas tpicas da maioria dos programas de TV, podem alterar o desenvolvimento normal do crebro. "O crebro do recm-nascido desenvolve-se rapidamente entre os primeiros 2 e 3 anos de vida. Ns sabemos, a partir do estudo em ratos recmnascidos, que, se expostos a diferentes nveis de estmulo, a arquitectura do crebro ser diferente", disse o mdico.

Essa estimulao excessiva, pode criar hbitos da mente, que a longo prazo, podem ser prejudiciais, disse Christakis. Se a teoria for verdadeira, as mudanas no crebro podem ser permanentes, mas as crianas com problemas de ateno, podem aprender a compensar as dificuldades.

A Academia Americana de Pediatria alertou em 1999 que, crianas com menos de 2 anos no deveriam assistir televiso por causa dos efeitos na formao do crebro e no desenvolvimento social, emocional e das suas habilidades cognitivas. Como referem no editorial da Pediatrics, importante a longo prazo, acompanhar e perceber melhor, para confirmar e explicar os mecanismos envolvidos.

Rapidez da mudana de imagens afecta o crebro Os cientistas constataram que para cada hora diria gasta em frente TV por crianas pequenas, o risco de desenvolver problemas de ateno aumenta em quase 10%. Isso significa que menores de 3 anos que passam oito horas por dia assistindo televiso, tm o risco de desenvolver problemas de ateno 80% mais elevado do que o de crianas que no assistem TV. De acordo com o estudo, em mdia, crianas de 1 ano so expostas 17

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televiso por duas horas dirias, nmero que aumenta para mais de trs horas aos 3 anos de idade. Christakis afirmou, que a rapidez da mudana de imagens potencialmente danosa para o crebro em formao das crianas. Elas vivenciam eventos acelerados de uma forma surreal, e no dessa forma que a vida se apresenta. O problema no est relacionado apenas a programas no recomendados para crianas; a programao infantil tambm explora a rpida mudana de imagens para prender a ateno das crianas na tela. Pediatra do Hospital Infantil de Seattle, Christakis diz a todos os pais que no devem deixar os seus filhos assistirem televiso durante os primeiros dois anos de vida ,e, depois dessa fase, devem ser extremamente cautelosos com o nmero de horas que os filhos passam em frente TV, e com o contedo da programao que esto vendo. E h diversas razes para

manter as crianas longe do aparelho. Entre os mais velhos, assistir demais TV est associado a agressividade, obesidade e inactividade.

Limitaes Os autores afirmaram porm, que o estudo tem limitaes. Os dados sobre o tempo diante da TV foram fornecidos pelos pais, e podem no ser exactos. Alm disso, impossvel saber se a criana j tinha problemas de ateno antes, problemas que a incentivaram a ver mais televiso.

Tambm possvel que os pais que permitem que os filhos assistam TV por tanto tempo, sejam negligentes e eles mesmos tenham problemas de ateno, o que facilitaria o desenvolvimento do transtorno nas crianas. H um importante factor hereditrio no TDAHI. Para terminar, a pesquisa no levou em conta o tipo de programas a que as crianas assistiam. "Apesar dessas limitaes, os nossos resultados tm implicaes importantes, se replicados em estudos futuros", referiram os autores. "Os nossos resultados, sugerem que providncias preventivas podem ser tomadas".

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Referncias BibliogrficasD. R. Anderson and T. A. Pempek Television and Very Young Children. American Behavioral Scientist, January 1, 2005; 48(5): 505 - 522. http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/story/2004/04/040406_televisaomv.shtml http://www.afajournal.org J. M. Healy Early Television Exposure and Subsequent Attention Problems in Children. Pediatrics, April 1, 2004; 113(4): 917 - 918. K. S. Slack, J. L. Holl, M. McDaniel, J. Yoo, and K. Bolger Understanding the Risks of Child Neglect: An Exploration of Poverty and Parenting Characteristics. Child Maltreat, November 1, 2004; 9(4): 395 - 408. R. L. Bertholf, S. Goodison, D. A. Christakis, and F. J. Zimmerman Television Viewing and Attention Deficits in Children. Pediatrics, August 1, 2004; 114(2): 511 - 512. J. M. Healy Early Television Exposure and Subsequent Attention Problems in Children. Pediatrics, April 1, 2004; 113(4): 917 918

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Centro de Formao

Plano de Desenvolvimento de Recursos Humanos na rea da EducaoI - Fundamentao Na sequncia do protocolo estabelecido entre a Cmara Municipal de Sintra e a Associao de Professores de Sintra, apresenta-se o Plano de Desenvolvimento de Recursos Humanos na rea da Educao que visa fundamentalmente a actualizao dos docentes do Concelho de Sintra em alguns domnios considerados fundamentais para o desenvolvimento

qualitativo das suas competncias, saberes profissionais e capacidade de interveno nas escolas, de modo a dar resposta s necessidades efectivas dos alunos e dos professores no contexto da sua actividade profissional.

Elegeram-se,

assim,

numa

primeira

fase,

quatro

domnios

de

desenvolvimento da cultura profissional: 1. formao para a cidadania numa perspectiva cultural, social e tica; 2. iniciao e aperfeioamento do uso das tecnologias de informao e comunicao aplicadas s prticas educativas; 3. aperfeioamento das competncias de organizao e anlise crtica dos meios documentais de apoio educao; 4. promoo de medidas preventivas de sade e prestao de primeiros socorros que contribuam para uma escola mais segura. O Plano organiza-se em quatro mdulos de formao, que embora independentes, se articulam entre si de forma a constiturem um todo coerente, assente em saberes e prticas especficas. Foi concebido tendo em vista o desenvolvimento de competncias profissionais dos professores e a

consequente mudana qualitativa das prticas e das aces que decorrem nas escolas e comunidades educativas.

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Mdulo I 34 horas presenciais/34 horas de trabalho autnomo (1,36 / 2,7 crditos)

Direitos Humanos e Educao para a Cidadania Oficina de Formao I - FUNDAMENTAO Se, numa nica palavra, quisssemos definir o mundo actual, provavelmente o termo escolhido seria mudana. Um dos resultados deste contnuo e acelerado processo de mudana tem sido a diluio das referncias sociais, morais, religiosas, ticas e culturais que vigoravam h algumas dcadas. As mudanas tecnolgicas determinaram as tendncias na mobilidade de pessoas, bens e servios e no acesso informao. O ritmo a que estes fenmenos se processam hoje na nossa sociedade e as implicaes que deles resultam a todos os nveis tm suscitado diferentes e frequentes reflexes e debates na sociedade em geral e, particularmente, na educao. Estes debates estendem-se Escola onde, aos educadores, tantas vezes faltam as motivaes e o domnio de competncias e tcnicas que permitam encontrar as respostas mais adequadas s solicitaes dos alunos, das famlias e de toda a comunidade educativa em geral e, ainda, s exigncias e desafios definidos pelo prprio Sistema Educativo. At hoje, a Escola foi considerado o espao exclusivo de ensino e de aprendizagem. No entanto, o seu papel tem vindo a ser repensado, tendo em conta as ofertas de aprendizagem que os jovens encontram fora da Escola e a necessidade de acompanhar os processos de mudana que se registam nas sociedades actuais. Neste mbito, as opes polticas que tm sido tomadas para o Sistema Educativo, apontam para a necessidade da Escola desempenhar um papel importante na formao cvica. Por isso, a reorganizao curricular do Ensino Bsico, definiu a Educao para a Cidadania como uma rea transversal curricular e, incluiu na Formao Pessoal e Social a rea curricular no disciplinar da Formao Cvica.

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Neste contexto, ganha pertinncia a criao de um Curso de Formao no mbito de um Programa de Desenvolvimento de Recursos Humanos na rea da Educao no Concelho de Sintra, tendo por finalidade a aquisio de competncias que lhes permitam, na Escola e na Sala de Aula,

intervir/contribuir para o desenvolvimento de competncias docentes para a promoo da formao cvica e do sentido de cidadania nacional, europeia e global dos alunos. Como objectivos gerais podemos definir: a) Reflectir sobre as principais mudanas que tm ocorrido no mundo, neste perodo de transio para o terceiro milnio. b) Investigar sobre as metodologias e prticas pedaggicas adequadas a uma Escola que promova a Educao para a Cidadania. c) Construir modelos de interveno na Escola e na sala de aula no sentido de promover a Educao para a Cidadania e Direitos Humanos.

II - DESTINATRIOS Educadores de Infncia e Professores do 1, 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico a leccionar em escola s do Concelho de Sintra.

III PLANO DE ESTUDOS 1. Cidadania: os Conceitos, os Direitos e os Valores - Sntese dos contedos: Cidadania a evoluo de um conceito: os contextos histricos e as condicionantes sociais. Cidadania e direitos humanos. Do estado-nao criao dos espaos multinacionais. Cidadania enquanto valor tico e poltico. Cidadania e democracia: o exerccio de um direito ou um dever individual. A Constituio da Repblica: os espaos reservados ao exerccio da cidadania. Cidadania, democracia e globalizao. As migraes internacionais. A especificidade da Europa na civilizao Ocidental: a Europa no Mundo ou o Mundo na Europa? A construo da Unio Europeia: as novas cidadanias.

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2. Cidadania, Educao e Diversidade - Sntese dos contedos: Diversidade (social, tnico-cultural, etc), enquanto caracterstica

crescente de cada sociedade e da escola; culturas na escola; diversidade e igualdade de oportunidades em educao; diversidade enquanto varivel de novas cidadanias; diversidade, multiculturalidade e educao multicultural; caracterstica do currculo multicultural; gesto do currculo em perspectiva multicultural.

3. Cidadania, Escola e Comunidade - Sntese dos contedos: Definio de conceitos: o tringulo cidadania-escola-comunidade. Funcionamento da sociedade e paradigmas educacionais: campos

paradigmtico, poltico e organizacional. Os paradigmas educacionais: racional, tecnolgico, humanista, sociointeraccional e inventivo. A modernidade e os velhos paradigmas educacionais. A ps modernidade, novos desafios scioculturais e paradigmas emergentes e alternativos: os grandes desafios do futuro e as novas orientaes da sociedade e do papel do estado. O imperativo da simbiosinergia da heterogeneidade: para uma construo das novas comunidades educativas.

4. A gesto do currculo para a cidadania e direitos humanos - Sntese dos contedos: Educao para a Cidadania e o currculo do Ensino Bsico. Desenvolvimento de competncias: saber ser cidado; o papel do professor; as metodologias participativas. Anlise dos diferentes currculos na perspectiva da Educao para a Cidadania. A Educao para a cidadania na construo de Projectos Educativos de Escola e de Projectos Curriculares de Turma. Acompanhamento cientfico e metodolgico aos trabalhos dos formandos.

IV ORGANIZAO DA OFICINA DE FORMAO 1 momento de formao: 25 horas - Presencial. Trabalho sobre os seguintes temas (1 sesso semanal): 1. Cidadania: os Conceitos, os Direitos e os Valores (2 sesses x 3 horas = 6 horas) 2. Cidadania, Educao e Diversidade (2 sesses x 3 horas = 6 horas) 23

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3. Cidadania, Escola e Comunidade (2 sesses x 3,5 horas = 7 horas) 4. A Gesto do Currculo para a Cidadania e Direitos Humanos (2 sesses x 3 horas = 6 horas) 2 momento de formao: 2 semanas - Trabalho autnomo. 3 momento de formao: 6 horas - Presencial. Trabalho prtico. A Gesto do Currculo para a Cidadania e Direitos Humanos (2 sesses x 3 horas = 6 horas) 4 momento de formao: 2 semanas - Trabalho autnomo. 5 momento: 3 horas - Presencial: Trabalho prtico. A Gesto do Currculo para a Cidadania e Direitos Humanos. Concluso e entrega dos produtos de formao. (1 sesses x 3 horas = 3 horas)

Produto final: O enquadramento terico inicial, previsto para as primeiras vinte e cinco horas, pretende ser o suporte conceptual e metodolgico para que os formandos desenvolvam um trabalho prtico que ter como finalidade a concepo de produtos pedaggicos que possam ser utilizados na sala de aula, pelas diferentes disciplinas e reas disciplinares, no sentido de promover a educao para a cidadania e o respeito pelos direitos humanos. Dependendo da qualidade do trabalho final, estes produtos podero eventualmente ser publicados pela APS/CMS. O 2 e 4 momentos de trabalho autnomo sero os tempos de trabalho autnomo em que os formandos desenvolvero este trabalho, enquanto que a rea de formao A Gesto do Currculo para a Cidadania e Direitos Humanos ter como um dos objectivos orientar e acompanhar a realizao deste trabalho dos formandos.

Formadores: Carlos Cardoso Elizete Gonalves Maria Joo Horta Alfredo Dias

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Mdulo II - 25 horas (1 crdito)

Organizar e Dinamizar uma Biblioteca EscolarSem professor bibliotecrio no h biblioteca escolar. Esse professor deve ter formao especfica afirma a UNESCO no seu programa Linhas Orientadoras para o Planeamento e Organizao de Mediatecas Escolares, Austrlia, 1979.

I FUNDAMENTAO A funo do professor bibliotecrio ainda no reconhecida legalmente em Portugal, esquecendo o nosso pas que a civilizao ocidental criou as suas principais instituies de educao e cultura em torno de bibliotecas. urgente proporcionar aos professores que trabalham em bibliotecas escolares, em todos os graus de ensino, a formao necessria ao desempenho de uma actividade profissional competente.

II DESTINATRIOS DA ACO Professores de todos os Ciclos do Ensino Bsico. Professores do Ensino Secundrio.

III OBJECTIVOS Identificar os problemas concretos que se apresentam aos professores que trabalham em bibliotecas escolares (BEs), no mbito do seu trabalho especfico; Contribuir para a resoluo desses problemas concretos,

disponibilizando informao til e actualizada; Participar na formao de professores bibliotecrios, partilhando experincias de organizao e dinamizao de BEs; Formar professores bibliotecrios conscientes das responsabilidades acrescidas que assumem na Escola, quando desempenham funes nas BEs.

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IV CONTEDOSHoras 2 horas Contedos . Apresentao, metodologias, bibliografia . A situao actual do funcionamento das BEs : legislao e prticas. 10 horas ( componente terica ) . O que uma biblioteca ? Breve resenha histrica. . O que e para que deve servir uma BE? . Organizao fsica, mobilirio e acervo de uma BE. . Pr a funcionar uma BE : quem, como e quando. . Estratgias de animao cultural e de animao para a leitura no espao de uma BE. . Visita de estudo guiada Biblioteca Municipal de Sintra. . Trabalho de Oficina: elaborao de materiais sobre actividades a desenvolver no espao de uma BE.

3 horas 8 horas ( componente prtica )

V AVALIAO DOS FORMANDOS O trabalho dos Formandos ser avaliado por observao directa, atravs da participaes nos debates e Oficinas e pelo trabalho que, realizado em grupo, ser apresentado na sesso final da Aco.

VI - BIBLIOGRAFIA Cabral, Maria Lusa, Bibliotecas Acesso, Sempre, Colibri, 1996 Calixto, A Biblioteca Escolar e a Sociedade de Informao, Caminho, 1996 Canrio, Rui et al., Mediatecas Escolares, Inst. Inovao Educacional, 1994 Duarte, Isabel M., Gavetas de Leitura, Asa, 2001 Eco, Umberto, A Biblioteca, Difel, 1998 Febvre, Lucien, O Aparecimento do Livro, Fundao Calouste Gulbenkian, 2000 Furtunato, Jos Afonso, Os Livros e as Leituras, Ed. Livros e Leituras, 2000 Gascuel, Jacqueline , Como Criar, Animar ou Renovar uma Biblioteca, Publ. Dom Quixote, 1987 Jolibert, Josette, Formar Crianas Leitoras, Asa, 1984 Letria, Jos Jorge, Fazer Leitores...e Escritores, Garrido Editores, 2001 McMurtrie, Douglas C., O Livro, Fundao Calouste Gulbenkian, 1997 Proust, Marcel, O Prazer da Leitura, Teorema, 1997 Rocha, Natrcia, Breve Histria da Literatura para Crianas em Portugal, Caminho, 2000 26

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Sartro, Maria Montserrat, La Animacin a la Lectura, Ediciones SM, Madrid, 1984 Soares, Maria Almira, Como Motivar para a Leitura, Presena, 2003 Usherwood, Bob, A Biblioteca Pblica como Conhecimento Pblico, Caminho, 1999 Formadora: Vespertina Sade

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Mdulo III - 25 horas (tericas: 10h / prticas: 15h) - 1 crdito Prevenir, Alertar e Socorrer I FUNDAMENTAO Este programa pretende dotar os educadores e professores de todos os nveis de ensino na prestao de primeiros socorros dentro ou fora do espao escolar. De referir ainda que no 1 ciclo do E.B. o programa escolar contm tpicos relacionados com primeiros socorros. Ao nvel de actividades inseridas no contexto da rea-Escola, importantssimo reduzir a lacuna existente em dotar o pessoal docente e no docente de conhecimentos de higiene, sade e prestao de primeiros socorros para que todos contribuam para uma escola mais segura. II CONTEDOS 1. PRINCPIOS GERAIS DO SOCORRISMO Preveno Rodoviria Espaos pblicos Escola Lar Alerta Sistema de comunicaes Sistema de informaes Socorro Legislao e limitaes Exame: ao local da vtima (sinais e sintomas) Tipologia: essencial secundrio Evacuao de vtimas 2. ASFIXIA Parcial Total Ritmos: a ventilao a circulao RCP - ressuscitao cardio-pulmonar

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3. CHOQUE Causas vtimas conscientes vtimas inconscientes: prticas de PLS 4. HEMORRAGIAS Externas: arteriais capilares venosas Internas: visveis invisveis 5. ENVENENAMENTOS Por via digestiva Por via ventilatria Por via circulatria Por via cutnea 6. FERIDAS E LESES TRMICAS Feridas e tcnicas de improvisao de pensos e coberturas Queimaduras, geladuras e alteraes trmicas da pele 7. FRACTURAS E TRAUMATISMOS Fracturas e tcnicas de imobilizao Traumatismos craneo-enceflicos Traumatismos espino-medulares (coluna vertebral) 8. TRANSPORTE E EVACUAO DE VTIMAS Imobilizao e rolamento de vtimas Levantamentos 9. LUTA CONTRA INCNCIOS Princpios de evacuao Extintores e extino de incndios III - VISITAS DE ESTUDO Prev-se uma visita de estudo a um corpo de Bombeiros Voluntrios ou a uma instituio que tripule ambulncias do INEM IV - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS E OUTRAS CONSULTAS BONITO, Jorge (2000). Prticas de Primeiros Socorros. Lisboa: Pub. D. Quixote

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LOUREIRO, Isabel (1999). Manual de Primeiros Socorros: Pub. PES - Min. Educao. INTERNET go.to/socorrismo saude.sapo.pt www.inforsaude.pt www.learn-cpr.com Formador: Jaime Santos

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Mdulo IV Iniciao s Tecnologias de Informao e Comunicao na Educao Oficinas de Formao I FUNDAMENTAO Pretende-se envolver os professores atravs da entidade Escola, representada pelos elementos responsveis pela sua gesto, celebrando protocolos de formao entre a APS e as Escolas. Os grupos de professores envolvidos nas actividades de formao (no mnimo 2 de cada escola) iro depois funcionar como elementos desmultiplicadores das competncias tcnico-pedaggicas adquiridas. As actividades de formao dos grupos de professores estaro orientadas para o desenvolvimento de tarefas associadas ao desenvolvimento de projectos educativos multimdia centrados na sua Escola. II DESTINATRIOS Professores do 1 e 2, 3 Ciclos do Ensino Bsico e Ensino Secundrio (de todas as reas) III - OFICINAS Realizar-se-o na modalidade de Oficina, com 25 horas presenciais e 25 horas no presenciais, distribudas por 8 sesses presenciais, sendo 1 sesso de 4h e 7 sesses de 3h. As actividades de cada oficina desenvolvem-se de acordo com o quadro seguinte:Horas 7x3h Sesso presencial Sesso presencial Trabalho autnomo 4h Sesso presencial Trabalho autnomo Sesso inicial. Apresentao e desenvolvimento dos contedos. Trabalho autnomo a realizar na Escola Apoio especfico ao desenvolvimento dos projectos. Trabalho autnomo a realizar na Escola.

IV METODOLOGIAS Realizao de actividades presenciais em sesses terico-prticas, seguidas de desenvolvimento de um projecto de produo de materiais educativos com os alunos e de apresentao e discusso desse mesmo 31

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projecto em grupo de formao. Os melhores projectos de cada mdulo sero apresentados num Encontro Final.

Oficina 1 - 25 horas presenciais / 25 horas no presenciais (de 1 a 2 crditos) O PC na ptica de utilizador. Construo de materiais educativos multimdia a partir de materiais impressos

Objectivos: - Desenvolver nos participantes competncias de operao e gesto da informao com um sistema micro-informtico. Desenvolver competncias na utilizao das ferramentas

fundamentais de produo de materiais para apoio pedaggico Microsoft Word, Microsoft PowerPoint - Desenvolver competncias de captura e edio de imagens em formato digital. - Desenvolver competncias de produo de CD-Roms para distribuio dos materiais produzidos em formato digital.

Contedos a abordar: Princpios de organizao de informao num sistema

microinformtico - Edio electrnica de texto (com o Microsoft Word) - Digitalizao e captura de imagem - Tratamento de imagem digital (com o PaintShop Pro) - Produo de materiais educativos multimdia (com o Microsoft PowerPoint) - Gravao de materiais em CD-ROM

Oficina 2 - 25 horas presenciais / 25 horas no presenciais (de 1 a 2 crditos) Desenvolvimento de mini-projectos para publicao na web.

Objectivos - Desenvolver nos participantes competncias de difuso de informao utilizando a Internet. 32

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- Desenvolver competncias de captura e edio de imagens em formato digital. - Desenvolver competncias na utilizao duma ferramenta de produo de stios para a web Microsoft FrontPage - Desenvolver competncias de publicao dos materiais produzidos em formato digital em suporte em linha

Contedos a abordar - Funcionamento e organizao da internet - A web como ferramenta de comunicao e partilha de informao. - Seleco e recolha de informao produzida em contexto educativo - Digitalizao e captura de imagem - Tratamento de imagem digital (com o PaintShop Pro) - Produo de materiais educativos multimdia para suporte em linha (com o Microsoft FrontPage) - Publicao desses materiais na web

V OBSERVAES O trabalho autnomo a desenvolver pelos formandos de cada oficina, nas 25 horas no presenciais, ser apoiado on-line pela equipa de formadores, sendo para tal implementada uma plataforma e-learning. Ser ainda efectuado pelos formadores a recolha de imagens vdeo do processo (actividades presenciais e nas escolas, com as crianas) para composio de um filme a apresentar no Encontro final.

Formadores: Jorge Damsio, Joo Sousa, Rui Pscoa

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Associao de Professores de Sintra

Plano de FormaoSetembro Dezembro de 2005 Mdulo FormadorAlfredo Dias Carlos Cardoso Elizete Gonalves Maria Joo Horta

Durao

DestinatriosEducadores e Professores do 1, 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico Educadores e Professores do 1, 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico e Ensino Secundrio Educadores de Infncia e Professores do 1, 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico e Ensino Secundrio

HorrioIncio: 26 de Setembro 2 e 4 feira das 18.00h s 21.00h

Local

I - Direitos Humanos e Educao para a Cidadania

34 horas de 1,4 a 2,8 crditos

Associao de Professores de Sintra

II Organizar e Dinamizar uma Biblioteca Escolar

Vespertina Sade

25 horas 1 crdito

Incio: 10 de Outubro 2 e 5 feira das 18.00h s 21.00h

Associao de Professores de Sintra

III Prevenir, Alertar e Socorrer

Jaime Santos

25 horas 1 crdito

Incio: 11 de Outubro 3 e 6 feira das 18.00h s 21.00h

Associao de Professores de Sintra

IV Iniciao s Tecnologias de Informao e ComunicaoOficina 1: O PC na ptica do utilizador, construo de materiais educativos multimdia Joo Sousa Jorge Damsio Jos Pedroso Rui Pscoa Joo Sousa Jorge Damsio Jos Pedroso Rui Pscoa Educadores e Professores do 1, 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico e Ensino Secundrio Educadores e Professores do 1, 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico e Ensino Secundrio Incio: 27 de Outubro 4 feira das 18.30h s 21.30h; sbado das 10.00h s 13.00h Incio: 3 de Novembro 3 e 5 feira das 18.30h s 21.30h

25 horas 1/2 crditos

EB2, 3 Maria Alberta Menres

Oficina 2: Desenvolvimento de mini-projectos para publicao na web

25 horas 1/2 crditos

EB2, 3 Maria Alberta Menres

Formao financiada pela Cmara Municipal de Sintra

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FORUM ON-LINE

Forum on-line Revista da Associao de Professores de Sintra Espao de reflexo e debate de ideias e opinies aberto a todos os professores. A sua colaborao importante. Envie os seus artigos para: Associao de Professores de Sintra Praceta FFrancisco Ramos Costa, 13C Tapada das Mercs 2725-579 Mem Martins Tel. 21 9170461 Fax. 21 9178451 e-mail_ [email protected] Ou: [email protected]

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Conto

Antnio Narciso

Rosa Tatuada

Di-me a cabea. Acordo com a ressaca de uma noite bebida. uma ressaca amnsica: no me lembro de nada. Olho em redor. No reconheo o lugar, mas no sinto receio. Assalta-me uma estranha calma, a de que sabe que tudo possvel. Sinto uma leve comicho no brao e oio vozes longnquas que me interrogam. Observo o meu corpo em queda livre uma Rosa Tatuada. - Ol, tudo bem! Reconheo pela camisa axadrezada, um pescador de pele curtida pelo sol e pelo sal, dentes gastos e cabelo cor de neve. Anuo sem responder. - Que fao aqui? Perguntas tu. Fico mudo a olhar para o teu desembarao. - Onde estou? Articulo a custo. Surpreendo-me com a beleza da minha voz. - Numa praia de areia dourada, umbigo desta pequena aldeia piscatria. tarde. Sou convidado para a modesta casa deste pescador homem. - Jantas connosco! Acabei de pescar umas douradas que ainda vibram com a fria de viver! Mesa posta. Po e vinho. Peixe dourado nas grelhas. Fedelhos sujos, salgados, de cabelo solto, sorridentes e curiosos e uma mulher gasta pelas esperas e pelo dilogo com a morte. Orao. Silncio quebrado com o fascnio que exero sobre eles e que eles exercem sobre mim. Esqueci-me da Rosa Tatuada que no corpo tenho pregada at a ouvir mencionada pela boca de um dos garotos. Olho para eles. Nada dela sei, nem de mim. Pergunto se me conhecem. Dizem-me que sou estrangeiro e falam-me dos seus mundos: de Deus, do fado, da faina, do mar amante, que os acaricia, ora os leva no seu frio e forte abrao.

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Insistem na Rosa tatuada. Digo-lhes que me estranha. Falam-me de um estrangeiro velho, um alemo bbado. - Boa pessoa! Vive sozinho num casebre portas meias com o mar, na praia da Rainha. Instalou-se aqui h muitos anos. Fugiu de uma guerra, ou sabe-se l de qu! Tem muitos desenhos na cabea. Mancha a pele com os seus sonhos. Usa muitos instrumentos e tintas de vrias cores. A tua tatuagem pode ter sido obra dele! noite feia. Adio a viagem. Adormeo numa esteira daquela sala acanhada. O sonho toma conta de mim. Mar, mars, nufragos, deuses sorridentes e um velho de brinco na orelha. Acordo a manh a nascer. Inspiro o ar salgado e descanso o olhar na imensido do mar. Oio gaivotas. Produzem gritos estridentes, celebram a vida. E se eu fosse uma gaivota? Cheira a caf forte. Reentro naquela casa. Agradeo a hospitalidade. Abrao-te, velho marinheiro, e vou com a mar. Pela areia fina, dourada, pejada de pequenos cristais, vou andando, vou parando, dando azo a uma preguia universal. Procuro o alemo das tatuagens. O velho casebre parece um destroo, restos de um naufrgio. Bato porta, chamo por ti, velho alemo, contador de histrias. No est ningum. No caf, dizem-me que foste pescar para a ilha, pedao de terra no horizonte apontado ao cu. a que ests? para a que vou. A viagem no longa. No enjoei. Peguei-me conversa com o pescador que me leva e deixo-me ir ao sabor do vento e das correntes. Flor-delis, o nome do barco que me empurra. Encontrei-te petrificado, com uma cana na mo, ausente de ti. Abris-te um sorriso quando me viste. Convidaste-me a sentar e a escutar. Ficmos algum tempo, em silncio, a ouvir o mundo. - Sabes como tudo comeou? Perguntaste bruscamente. - No! Respondi-te com voz sumida. Um dia, um enorme peixe fanfarro, aborrecido com a vida indolente que levava, decidiu troar de uns seres bpedes, desajeitados, que vivam superfcie numa labuta ininterrupta. Ps a cabea fora de gua e dirigiu-se a um rapaz que se entretinha a apanhar conchas: - Hei, pequeno ser! Chega-te ao p de mim! O rapaz ps-se a olhar 37

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em todas as direces, tentando determinar donde vinha aquela voz profunda. Arregalou os olhos quando percebeu que era um robusto peixe que o estava a interpelar. Abafou um ai. Recomps-se e, como prprio das crianas, perguntou: quem s tu? - Um peixe! - Mas os peixes no falam! - Eu falo! - Ento no s um peixe! - Ai isso que sou! Olha, faamos o seguinte trato: se me conseguires apanhar, conto-te tudo o que sei sobre o mar, os peixes e as razes porque podem falar e fazer muitas outras coisas, se lhes aprouver. O rapaz aceitou o desafio sem hesitao. - Tens at amanh noite! Disse-lhe o estranho peixe. Joo, assim se chamava o nosso pequeno homem, comeou de imediato a congeminar formas de agarrar aquele peixe mgico. Muitas vezes tentou e outras fracassou. O gigante peixe divertia-se sua custa. Estava prestes s desistir e s a custo consegui conter as lgrimas. Olhou-se nos olhos. O espelho do seu quarto devolvia-lhe a imagem do futuro. Repentinamente, deu uma gargalhada sonora. Riu-se de si. Pegou no espelho e correu para a praia. Ao chegar beira da gua que lambia a areia chamou pelo peixe. - Ests a acabar o tempo, vais desistir? - Sabes, no me impressionas, s um peixe muito feio! - Sou? - Queres confirmar! Olha para aqui! - No consigo! - Sobre para esta rocha! No tinha ainda pousado as barbatanas em cima do spero pedao de areia petrificada quando o Joo lhe deitou a mo. Debateu-se em vo, estava preso. - Ora, Ora, venceste! Cheguei a pensar que no era tarefa para ti! Cumpra-se o trato!

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Joo e o peixe passaram longos anos em dilogo. Joo tornou-se pescador e aprendeu a falar com os peixes e a escutar o mar. No morreu sem antes passar o seu testemunho gerao futura. Estive quieto a escutar-te e lembrei-me que outrora algum, que insiste em permanecer escondido, me contou estrias de embalar. Mostrei-te a Rosa Tatuada. Reconheces-te a obra e, j noite dentro, volta de uma fogueira, debaixo de um cu estrelado, contaste-me uma estria que falava do mar dos esquecimentos, onde os homens se banham para se purificarem; de lindas mulheres que os conduzem e lhes revelam o estranho sentido deste percurso. - Sabes rapaz, quem esquece pode perder-se para sempre, mas quem reencontra portador de uma histria, da sua histria, que perdurar gerao aps gerao! Perguntei por ti, pela tua histria. O teu rosto alterou-se: ganhou a forma da dor. Falaste-me de uma guerra; de estranhos campos plantados com seres esqulidos e fertilizados com as suas cinzas; de humilhao, bestializao e morte. Falaste-me, ainda, da tua solido; da iluso de quem pensa e age como um individuo, de quem nunca gerou um filho, de quem nunca amou, da velhice, do corpo enrugado, engelhado, rejeitado, carente de afectos, de toque de pele. Penso na minha famlia: quem sero? Porque esto longe de mim? J ando com o sol a dourar o cu, inundando o mundo com a sua luz, oio pela primeira vez falar de ti quele velho sorridente, louro, louco, de brinco na orelha: morena, olhos profundos, lbios carnudos a cor do sangue, como se os mordesse constantemente. Corpo de mulher madura: seios pequenos, escondidos, mostra numa blusa curta, que deixa entrever um umbigo generosamente talhado. Do teu esprito pouco sei. Dizem-me que o teu corpo e o teu esprito se confundem, no tm fronteiras. Porque me levaste ao alemo louco? Porqu esta Rosa Tatuada? Para te encontrar tenho que deixar esta ilha que h em mim e que em ilha me transforma. Estou na Fnix Dourada, a penso da dona Rosa. Estranho nome, escolhido por acaso por entre o folhear de uma revista deixada na penso por um estrangeiro eu um dia reservou a vida para observar os pssaros. No foi s a revista que ele deixou. Partiu esta manh sem sol para as ilhas, bocados 39

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de terra que, aborrecidos., partiram procura de aventura. Nunca mais foi visto. H quem diga que naufragou e morreu cheio de gua. Outros afirmam que se transformou em gaivota para melhor entender os pssaros. O lugar pitoresco. Prdio velho, carcomido pela voracidade do mar, de cores desbotadas e janelas soalheiras. Ao lado, colada a si como uma craca se cola s baleias, fica a taberna, onde os homens velhos com saudades do mar se afogam lentamente noutras guas. recepo, sempre presente, omnipresente, est a D. Rosa. - O menino procura alojamento? Sou um menino para aquela mulher viva, de seios fartos e rosto corado. O marido era pescador. Morreu em terra: um estranho frio instalou-selhe nos ossos e gelou-o para sempre. A D. Rosa no podia ser viva de um pescador que morre no cais e tornou-se porto de abrigo para os nufragos e para os desorientados. - Procuro uma luz! Disparo queima-roupa. - Morena, esguia, nica! Reforo o discurso. Responde-me que est instalada na penso h j algum tempo, mas tem estado fora. Deixou algum recado! Pergunto com os olhos. Entregou-me um bilhete cheio de letras miudinhas desenhadas como quem traa destinos: Leio: espera por mim, serei o teu farol. Alugo um quarto, uma mansarda com vista para a aldeia, banhada, pela brisa que vem do mar. Ele no est longe, ouo-lhe o respirar, sinto-lhe o hlito fresco e salgado. Subo uma escada larga, encaracolada, de madeira rangente, coroada com uma abbada cristalina que desvela o cu estrelado das noites de Vero. O quarto a medida das minhas aspiraes mundanas. Tem um espelho. Olho para ti que sou eu. Gosto do que vejo e do que sinto. J no sou um mido, embora esteja nessa condio. Adormeo vestido e sonho contigo. Acordo com o trinar dos pssaros e a voz aflita de um galo que anuncia preocupado o nascer de um novo dia. Deso para tomar o pequeno-almoo. mesa, uma multido de asilados observa a minha apario. Um vendedor de gravatas, de olhos tristes; uma professora franzina de nervos esgotados nas lutas que trava com o seu destino, e uma velha senhora de cabelos brancos e olhos ausentes na famlia. 40

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A semana corre para o seu fim. Domingo e chove. As gotas fogem dos beirais com nsia de reencontrar o mar. O salo largo e luminoso, aberto ao mar e aldeia atravs de janelas discretamente veladas com um tecido leve. Estou num canto sentado num sof, em frente a uma televiso morta. Observo a Gertrudes, a cozinheira da penso. Atarefada, cobre uma das mesas com uma toalha de linho, levemente bordada, e casa copos, pratos e talheres. Preparou-nos um repasto capaz de conciliar os mais desavindos inimigos. Sentmo-nos mesa e emudecemos, contivemos palavras que queramos dizer. Fiquei tua frente, Joaquim, e os teus olhos no pararam de procurar cumplicidade. Ao meu lado, tu, Mariana, sempre inquieta e provocadora, falas-te continuamente para esconderes o teu silncio. O cabrito recheado fez a sua apario, por entre os copos de um vinho tinto aveludado e as migalhas de queijo. Inicimos a refeio e o dilogo nasceu. Rimos. Dissemos imensos disparates. Vocs manifestaram surpresa pela dimenso da comunho. Eu estranhei a vossa surpresa. J na pequena sala, roubada quele salo, junto de uma lareira fria, conversmos sobre ti, Joaquim. Choraste como um homem. Quando te vi naquele Domingo no percebi porque estavas longe dos teus. Mostraste-me uma fotografia da tua famlia. Foste transparente. Que posso eu fazer por ti? Ou estars tu a fazer algo por mim? Morreste naquela noite de embriaguez quando embateste numa rvore e enviaste prematuramente um dos teus filhos para o cu. No h outro lugar para os anjos. A tua mulher no te perdoou. Tu tambm no. Perdes-te o emprego, perdes-te o rumo e vives escondido nesta penso, num canto do mundo. - Acreditas em Deus! Perguntaste. No te respondi. Tu continuaste. - A vida tem que ter um sentido. Ningum pode viver sem esperana. Este sentido tem que ser traado e legitimado por um ser superior, isento de defeitos, de mesquinhez! Como seria e Deus no existisse? Que sentido teriam a guerra, a dor, a morte? Como poderia eu entender a morte do meu filho? Soluaste. Apesar do teu discurso. No sabes o que hs-de fazer com a tua existncia. Andas deriva como um cardume. Silenciaste-te com os olhos presos ao infinito. Deixei-te ficar entregue a ti. E tu Mariana, porqu os olhos trocistas?

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A porta do salo abriu repentinamente para deixar entrar dois fedelhos sardentos e barulhentos. O rosto da dona Esmeralda iluminou-se. Largou o crochet e abraou aqueles fogosos rapazes. Cobriu-os de beijos, beliscou-os, apalpou-os. - Av, Onde tens os rebuados? - Aguardem que j vos dou todas as guloseimas do mundo. So os meus netos! Proferiste esta frase como se falasses para o mundo. O filho e a nora no entraram. De vez em quando trazem os filhos para ver a av. Zangaram-se um dia por tudo e por nada. Foi num tempo em que viviam todos numa casinha cor-de-rosa. Depois vieram os cimes, os queixumes e as acusaes: A tua me mete-se na nossa vida, mima demasiado os midos, nunca podemos estar ss! O marido fez-lhe a vontade e exilou a me. Esmeralda partiu e envelheceu. Sentes o peso da solido? Mas o pior, Esmeralda, esse teu corpo enrugado que causa repugnncia aos outros, que os afasta. H quanto tempo no sentes o corpo do outro corpo? H quanto tempo no fundes o teu com o de outra pessoa? Outrora foste bonita, querida por muitos homens, amada e amante de um s. E agora? Sempre soubeste que a beleza do teu corpo no ia durar, mas ningum te disse que a beleza da alma no conta porque no chega aos olhos. Acham que ests senil, as tuas opinies no prestam, a tua existncia dispensvel, deixas-te de ser til. - Av vens passar o Natal connosco? Av porque que o pap est zangado contigo? Porque no vens dormir para o nosso quarto? Grossas lgrimas rolaram pelo teu rosto, seguiram os sulcos nele traados. Voltaste a abra-los e contaste-lhes uma histria: era uma vez uma velhinha que vivia na floresta, longe da aldeia. Todos os aldees a temiam porque pensavam que ela era uma bruxa enviada pelo demo. Um dia, uma criana perdeu-se na floresta. Vagueou dias e dias sem comer, at que, exausta, desmaiou. A velha bruxa encontrou-a quase sem vida. Levou-a para a sua cabana e cuidou dela como se fosse sua filha. A criana recuperou rapidamente a sade de outrora ns sabemos como as crianas so resistentes. Ao princpio teve medo da velha senhora. E tinha razes para isso: o seu aspecto era tenebroso, as suas roupas estavam num farrapo, e a casa, nem vos digo! Era to escura e triste

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que os mveis e os demais utenslios pareciam chorar. Tocou a campainha da porta da penso. Os gmeos tinham que ir embora. - Agora no, no ouvimos o fim da estria, no sabemos o que vai acontecer velhinha e criana! - Vo embora filhos, no faam esperar os vossos pais! Amanh contovos o resto, prometo! - Deprimente no ! Ouvi um murmrio da tua voz, Mariana, Prendi em ti o olhar. Recebi no rosto o fumo do teu cigarro. - por isto que no dou o meu amor a ningum! Iniciaste a tua dissertao, tinha chegado a tua oportunidade. - certo que no amo mas tambm no sofro. As pessoas so todas iguais, mesquinhas, viciosas, ms! Morrem por uma boa intriga! Gostam de ver sangue! So incapazes de estabelecer relaes duradouras! E os homens? Meu Deus! Como so ignorantes. As crianas? Por favor! S nos romances de cordel e nos filmes baratos parecem anjos, porque na realidade so uns monstros at quando no o so. Porque nos tolhem a vida, nos impedem de desabrochar, porque nos ocupam a vida toda: se no a infncia e os problemas de sade a adolescncia conturbada por desarranjos hormonais. E no ficam por aqui, pois muitos deles no nos largam at morte. Os outros, os que conseguem uma certa independncia, do-nos um pontap no c quando o nosso corpo murcha e enfiam-nos num asilo. - No acreditas no amor? Retorqui sem ardor. - Amor! Deste uma gargalhada sonora Mais um romntico. Olha ingnuo, eu podia convidar-te agora para o meu quarto e fazer-te juras de amor, podia fingir tudo s para satisfazer alguma necessidade fisiolgica ou conseguir que me pagasses a renda. - s feliz? Perguntei. - Felicidade? Mais uma inveno dos poderosos! Liberdade, Felicidade, Amor, Fraternidade, palavras e mais palavras, conceitos vazios, arreios para conduzir as massas, para as manter sob as rdeas da esperana! Deixa-me contar-te uma estria: conheci um homem que queria ser bom. Dedicou toda a sua vida a servir os outros. Era mdico. Sabes como morreu? S, vilipendiado e apedrejado por aqueles a quem tinha servido. As razes? No interessam, so demasiado mesquinhas. E sabes que mais? No foi para o cu. Tem os 43

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ossos guardados numa caixa, por falta de verba, sejam depositados numa vala comum. A beleza da existncia? No me faas rir! Onde que tens a tua nave espacial estacionada? Olha ao teu redor, que vs? Morte, lixo, destruio, pobreza, degradao. - Porque no te suicidas, tens medo de morrer Mariana? - A minha morte justifica a minha vida, so gmeas siamesas! E depois tanto faz! Nada espero, nada me desilude, no preciso de fugir de coisa nenhuma! E tu, qual a tua histria? - No sei, sofro de amnsia. - Que conveniente! - Sofreste algum acidente? - No me recordo! - No sabes mesmo nada? - No! - E sobre os outros e o Mundo? - Estou a aprender! - Achas te irs lembrar de alguma coisa? - Tenho esperana, algum h-de ser o meu farol! Parou de chover. Vou passear pela areia fina, ouvir o mar e respirar o ar salgado. Vejo no cho um bzio, escuto-o. Aprisionou o mar dentro de si. Oio a tua voz: Serei o teu farol! Cruzo-me com uma famlia: pai, me e filha. A criana loura e sofre de vivacidade. Vinhas aos pulos. Saltavas frente dos teus pais e repetias, incessantemente, que tinhas visto um anjo. O teu pai explicava-te que os anjos no existem. Mas ele est enganado, um anjo um homem na sua plena potncia. Pediste-me cumplicidade com esses olhos cheios de gua do mar. Eu cedi, anu com a cabea e devolvi-lhe o sorriso. Aninhado na areia sinto a viso a fugir, oclusa por um tacto sedoso com um cheiro a canela. Seguro os teus pulsos. Sobressalto-me. Olho para o teu rosto. A tua beleza to grande que me magoa, traz-me recordaes do futuro. Fico com a impresso de que sempre te conheci. - Ento, esse abrao! - Eu estava to embaraado que no te ouvi. - Abraaste-me e beijaste-me como se me conhecesses desde sempre. 44

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- Sabe a saudade! Como tens vivido? - Bem, e tu? - ptima! - Quem somos? Perguntei timidamente. -Impuseste-me silncio. Pegaste-me na mo e deambulmos pela praia. Comemos uma refeio beira da gua. Depois do caf tornaste-te mais viva: Os Teus olhos chispavam. - Sabes, sou tua irm! Engoli em seco, no queria que o fosses. Riste-te com satisfao. - E tua me e filha e av! Sou mulher, mulher farosl, mulher, prazer, maternidade, amizade, mulher-contigo-inteira. - Porque me marcas-te com uma rosa? - Porque me pertences e porque a rosa um smbolo daquilo que belo e efmero: como ns! - Quem sou eu e qual a minha histria? - Hs de recuper-la aos poucos! - E se eu no gostar dela? - Comeaste tudo de novo, o que fizeres daqui em diante da tua exclusiva responsabilidade! - Que queres tu da vida? - Ser feliz!? - Isso o que todos queremos, mas que significa isso? - Ao certo no sei! Ausncia de dor? - No pode ser s isso! A felicidade no apatia uma inquietude que nos empurra, que nos obriga a esgotar as possibilidades da existncia, uma vontade de possuir segredos do universo, uma paixo pela vida e pelos outros, um permanente assombro! Fala-te dos Joaquins, das Marianas e das esmeraldas. Sorriste amargurada. - Ningum disse que fcil viver! A vida no um pronto-a-vestir, feita medida de cada um dos homens! Contradies? Somos feitos delas! No adianta distorcer as realidades fixando-lhes uma forma e mutilando tudo aquilo que nelas no encaixar! Mas chega de palavras, d-me um beijo, leva-me para o quarto e vamos envelhecer juntos. 45

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Opinio

Elvira Silva

Teatro para a infncia de Sensibilizao Ambiental

O espao do Teatroesfera em Monte Abrao, no concelho de Sintra, j nos habituou h muito, a bons espectculos, porm esta ltima pea sem dvida um presente redobrado de imaginao e que merece a meu ver um destaque para falar dela.

A nuvem avariada um espectculo para todas as idades que assenta numa dramatizao que apela preferencialmente mmica, num tipo de arte circense, com gags hilariantes sobre um assunto muito srio. Assim a brincar, a brincar, a aborda-se algum do desrespeito e a falta de bom senso dos homens na sua relao nem sempre muito pacfica com o meio ambiente.

Uma das competncias do ser humano, provavelmente a mais primitiva indicao de uma mente pensante, observvel mesmo no recm-nascido, refere-se ressonncia espontnea de estar em relao que se traduz num estado de mutualidade em que cada indivduo, implicitamente se define pelo outro e se compara. Este processo, inconsciente e automtico, pode ser tornado mais deliberado quando se reflecte sobre os sentidos implcitos dos relacionamentos, neste caso num relacionamento simbitico que deve suceder numa relao unssona Homem/Natureza, onde tudo funciona numa espcie de cadeia em que os seres que fazem parte dela dependem uns dos outros para sobreviver, como se de um domin gigante se tratasse, colocado com as suas peas em p, se cai uma pea, acabam por cair muitas peas mais! S quando o homem se colocar no lugar do outro, ficar subjacente a motivao e a crena de um lugar a respeitar e a compartilhar por todos. Noo de equidade, justia e essencialmente bom senso.

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Mesmo as crianas muito novas revelam-se precocemente capazes de se preocupar com o que est em seu redor. So sensveis ao sofrimento ou alegria dos outros. Ressoam aos valores de verdade e de bem-estar, ao seu nvel de compreenso da realidade que as rodeia, surpreendem-se com o inesperado e deixam-se fascinar pelo belo da natureza, a cor, a luz, a msica, a magia da vida...Tudo se tornaria mais fcil se cada um se colocasse no lugar do outro e se o Homem respeitasse a Natureza!

Esta pea de teatro para infncia (sem limite de idades, pois a infncia um estado de esprito e no uma razo cronolgica), constitui assim um desafio capacidade de encontrar formas de viver em sintonia com o que nos rodeia, para midos e grados onde a imaginao habita e a esperana por um mundo capaz de se tornar melhor, uma constante.

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Jos Augusto Rodrigues

Opinio

A Crise, o Dfice e a Aldrabice

1. do conhecimento pblico que o sistema capitalista evolui de forma no linear, conhecendo grandes oscilaes ao longo da sua evoluo, atravs dum movimento ondulatrio, cclico - as designadas crises cclicas -, alternando perodos de prosperidade e euforia econmicas com perodos de depresso e recesso, isto , estamos na presena de um sistema manaco-depressivo!

Este tipo de evoluo est perfeitamente caracterizado pela cincia econmica (e pela psiquiatria tambm...) pelo menos desde o incio do sculo XX , atravs das relevantes pesquisas do eminente economista austraco Joseph Schumpeter. Todavia, se o diagnstico estava feito,

faltava a terapia, aparecendo esta com John Maynard Keynes, na ressaca da Grande Depresso de 1929, a maior crise da histria do capitalismo.

John Keynes constatando a ineficincia das teorias clssicas baseadas na clebre lei de Say (Jean-Baptiste) segundo a qual a oferta cria sempre a sua prpria procura, vem revolucionar toda a teoria econmica, propondo uma nova abordagem macroeconmica baseada num novo sistema de contabilidade nacional, sendo apologista duma forte interveno do Estado na esfera econmica, sobretudo em pocas de crise profunda, como aquela que se atravessava ento. Tais ideais viriam a materializarse no New Deal do presidente Roosevelt, estando na gnese do WalfareState europeu, valendo-lhe o epteto de comunista por parte das foras mais conservadoras.

2. Partindo da frmula: PIB = C + I + X M onde C o consumo (privado e pblico), I o investimento (privado e pblico), X representa as

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exportaes (procura externa) e M as importaes, Keynes considerou que para aumentar o valor da produo, PIB (produto interno bruto), o Estado teria de funcionar como locomotiva arrastando o sector privado, dinamizando toda a economia, pois em poca de crise as empresas lgica e racionalmente no investem, pois sabem que no vale a pena aumentar a produo porque no h consumo que permita escoar os bens fabricados.

E se a crise for generalizada e afectar todo o mundo, assumindo um carcter global, como quase sempre acontece, ento tambm dificilmente poderemos contar com as exportaes para absorver esse hipottico aumento da produo. Ento excluindo-se numa fase inicial de arranque o consumo e investimento privados e as exportaes para fazer subir o produto, resta-nos o sector pblico, atravs dum programa de proteco social e de investimentos pblicos, capaz de dinamizar e pr em marcha toda a sociedade civil, mobilizando as famlias, incentivando as empresas e estimulando a economia.

3. Porm, para aumentar a despesa pblica, as autoridades governamentais tero de o fazer sem agravar o famigerado dfice oramental. Afastando a hiptese de reduo da despesa pblica, dada a sua rigidez, pois teria de ser feita custa de despedimentos de elevado nmero de funcionrios e ou degradao dos servios j de si de to baixa qualidade, o que s viria agravar a crise (crise social, via aumentado do desemprego; crise econmica, via reduo da procura; e crise poltica fazendo perder as eleies ao partido no Governo), e no havendo margem de manobra para aumentar os impostos, s nos resta como soluo o combate corajoso, efectivo e sem trguas ao flagelo da evaso fiscal, que por a graa e pulula como cogumelos num Inverno chuvoso.

4. Com efeito, o problema da fuga ao fisco assume em Portugal propores escandalosas, fazendo dos nossos empresrios pssimos gestores ou ento grandes aldrabes, pois mais de sessenta por cento das empresas nacionais declaram prejuzos para efeitos tributrios, no pagando um 49

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euro de IRC. Alm do mais, pesquisas efectuadas por instncias internacionais idneas calculam em cerca de 22% a dimenso da economia paralela, que foge ao fisco.

E o que nos deixa a todos ns, pacatos e alegres cidados-contribuintes, bastante perplexos e sem respostas para muitas interrogaes, sabermos de antemo e com toda a certeza que assim , pois todos ns conhecemos um empresrio da construo civil, um advogado, um contabilista, um agricultor, um futebolista, um rbitro, um artista, um mecnico, um gestor, um comerciante, que ganham um pouco mais do que o ordenado mnimo nacional, que no chega a 400 euros mensais, mas vo de frias s Carabas, tm apartamentos no Algarve, andam de Mercedes, e arrotam nos restaurantes de luxo sem pedir licena...

5. Face a este cenrio surrealista, resta-nos a tnue esperana da poltica educativa eleger como prioridade das prioridades a formao cvica dos nossos jovens cidados, a par da formao cientfica e tecnolgica, pois s atravs duma sempre difcil mudana de mentalidades a favor das causas e cousas pblicas possvel alcanar o to almejado equilbrio oramental, dado que para se obter servios pblicos eficientes que contribuam para o bem-estar de todos necessrio tambm que todos contribuam proporcionalmente s suas capacidades contributivas, de forma a obtermos uma sociedade mais justa, livre e solidria, um Portugal com coeso social, um Portugal democrtico.

Por tudo isto, tem a palavra a Ministra da Educao...

A Associao de Professores de Sintra e a Revista Forum on-line desejam a todos os associados e professores do concelho; Umas felizes e retemperadoras frias!

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