FÓRUM DE LEITURA -...

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Ler é sonhar pela mão de outrem. Fernando Pessoa, Livro do Desassossego FÓRUM DE LEITURA O Fórum de Leitura constitui um espaço aberto à edição de experiências de leitura de alunos, funcionários, professores e encarregados de educação. A divulgação da descrição e crítica de obras de autores nacionais e estrangeiros, lidas em contexto escolar ou familiar, é o objectivo de uma secção que tem nas actividades «O Livro dos Livros», «A Companhia dos Livros» e «Viajar com Livros» os expoentes de um esforço colectivo de motivação à leitura individual e sobretudo à aquisição de hábitos de leitura, dentro e fora da sala de aula. O registo das leituras individuais do aluno constará da Ficha de Leitor Individual, a preencher ao longo do ano, conforme indicações do professor(a) de Português. A publicação de impressões de leitura de uma obra, de um conto, de um artigo… poderá funcionar como momento de reflexão de um primeiro leitor e momento de motivação de muitos segundos leitores. Afinal, o escritor só existe em simbiose com o leitor, numa relação mútua de enriquecimento pessoal e cultural. Mesmo que o escritor se distancie no horizonte intransponível do fingimento da palavra, para sempre gravada no tempo. Retomando o poeta, cabe ao leitor todo um sentir múltiplo, eu-ele, pois «Sentir? Sinta quem lê» (Fernando Pessoa, Autopsicografia).

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Ler é sonhar pela mão de outrem.

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

FÓRUM DE LEITURA

O Fórum de Leitura constitui um espaço aberto à edição de experiências de

leitura de alunos, funcionários, professores e encarregados de educação.

A divulgação da descrição e crítica de obras de autores nacionais e estrangeiros,

lidas em contexto escolar ou familiar, é o objectivo de uma secção que tem nas

actividades «O Livro dos Livros», «A Companhia dos Livros» e «Viajar com

Livros» os expoentes de um esforço colectivo de motivação à leitura individual e

sobretudo à aquisição de hábitos de leitura, dentro e fora da sala de aula.

O registo das leituras individuais do aluno constará da Ficha de Leitor Individual,

a preencher ao longo do ano, conforme indicações do professor(a) de Português.

A publicação de impressões de leitura de uma obra, de um conto, de um artigo…

poderá funcionar como momento de reflexão de um primeiro leitor e momento de

motivação de muitos segundos leitores. Afinal, o escritor só existe em simbiose

com o leitor, numa relação mútua de enriquecimento pessoal e cultural. Mesmo que

o escritor se distancie no horizonte intransponível do fingimento da palavra, para

sempre gravada no tempo. Retomando o poeta, cabe ao leitor todo um sentir

múltiplo, eu-ele, pois «Sentir? Sinta quem lê» (Fernando Pessoa, Autopsicografia).

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LIVRO DOS LIVROS 1: A MORTE DE IVAN ILITCH de Lev Tolstói Contrato de leitura escrito: Joana Catarina Lopes, nº13, 12º A Professora: Margarida Lino, Português Data de edição: Janeiro 2009

BIBLIOGRAFIA

Lev Tolstoi, nasceu a 9 de Setembro de 1828, na Rússia. Durante a juventude, o sentimento de vazio existencial levou-o a alistar-se no exército da Rússia (o que contribuiria para que, mais tarde, se tornasse pacifista). Em 1862, casou-se com Sónia Andreievna Bers, com quem teve 13 filhos e, durante 15 anos, dedicou-se intensamente à vida familiar. Embora extremamente bem-sucedido como escritor e famoso mundialmente, Tolstoi atormentava-se com questões sobre o sentido da vida e, após desistir de encontrar respostas na filosofia, na teologia e na ciência, deixou-se guiar pelo exemplo dos camponeses, e a sua vida simples. Recusou a autoridade de qualquer governo organizado e de qualquer igreja. Criticou também o direito à propriedade privada e os tribunais. Baseou-se nos Evangelhos para pregar o conceito de não-violência. Após se ter "convertido", Tolstoi procurou uma vida de comunhão com a natureza. Devido às suas acções em defesa de algumas comunidades rurais, começou a ser vigiado pela polícia do czar, e só não foi preso porque era reconhecido em todo o mundo como um dos maiores nomes da arte do seu tempo. Morreu aos 81 anos, de pneumonia, durante uma fuga de sua casa, enquanto procurava viver uma vida simples.

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OBRAS PUBLICADAS

• Infância (1852) • Adolescência (1854) • Juventude (1856) • A felicidade conjugal (1858) • Guerra e Paz (1865-1869) • Anna Karenina (1875-1877) • Confissão (1882) • A morte de Ivan Ilitch (1889)

A OBRA

A morte de Ivan Ilitch retrata a vida e a morte de um advogado que sempre levou uma vida simples, vulgar, fácil e como deve ser. É uma critica muito forte à burguesia russa do séc. XX, que sempre se preocupou mais em mostrar aos outros que estava a viver uma bela vida, do que em vivê-la verdadeiramente.

Logo no primeiro capítulo, somos informados que Ivan Ilitch faleceu e somos apresentados à hipocrisia que reinava naquele meio: “Por isso, ao ouvir falar da morte de Ivan Ilitch, o primeiro pensamento de cada um daqueles senhores reunidos no gabinete foi sobre a importância que essa morte poderia ter na mudança ou na promoção deles próprios ou seus conhecidos.” Estes senhores, que se preocuparam mais com o subir na carreira do que com a perda de alguém querido, eram as pessoas que Ivan Ilicth considerava suas amigas, com as quais partilhava a maior alegria da sua vida, o jogo de vint, (um jogo de cartas). Também a sua mulher parece ultrapassar bastante bem a sua morte, preocupando-se em contactar imediatamente um advogado, para saber como pode lucrar ao máximo com a morte do marido.

Ao longo do livro, o autor descreve-nos a vida deste burguês. Fala-nos de uma infância bem vivida e de uma juventude alegre. Explica-nos que é a partir da Faculdade que Ivan Ilitch se começa a sentir atraído pelas pessoas que ocupam altos cargos, a sua visão da vida, o seu modo de a viver, e começa a criar relações com elas. Logo após ter terminado a Faculdade, encontra colocação num Ministério, graças ao estatuto do seu pai. Com a chegada da reforma a estas instituições, foram necessários homens novos. Ivan era um desses homens novos e foi-lhe entregue o cargo de Juiz de Instrução. Um Juiz de Instrução como deve ser! Foi então que conheceu Prasóvia que viria a tornar-se sua mulher, não só por ser um favor que fazia a si próprio, mas também por ser aquilo que as pessoas da alta sociedade consideravam correcto. Depois da euforia inicial e com a chegada do primeiro filho, o casamento acabou por se mostrar muito difícil e aborrecido, devido aos caprichos de Prasóvia. Ivan Ilitch optou por fugir desta vida, em vez de a encarar. Assim, dedicou-se cada vez mais ao trabalho, refugiando-se nele, parecendo um homem sério, com um bom casamento, e uma grande dedicação ao trabalho, que levava a vida com grande decência. Entretanto, nasceu a segunda filha. A mudança de cidade e de casa abrira os horizontes para uma vida melhor. Desta forma, Ivan Ilitch começou por dedicar-se por inteiro à remodelação e decoração da nova casa, com o intuito de impressionar a família. Resultou. Mas era só uma casa igual a tantas outras “com tudo aquilo que as pessoas de uma certa categoria fazem para serem parecidas com todas as pessoas dessa categoria”. É então que começa a tragédia de Ivan Ilitch. Durante o adorno da nova casa, este teve um pequeno acidente que resultou naquilo que parecia um insignificante hematoma na zona do rim, mas que comprometeu toda a vida do advogado, levando-o a uma morte lenta e dolorosa. A dor apareceu, primeiro esporadicamente e, depois, durante cada vez mais tempo, até se alojar

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no seu corpo até ao fim dos seus dias, todos os dias. Os últimos meses da vida de Ivan Ilitch são passados assim, na cama a gemer de dores. São as dores que o fazem colocar tudo em causa. Porque uma pessoa não pode ser condenada a tamanho sofrimento sem que tenha feito tudo mal durante a vida. Só pode ter feito tudo ao contrário do que se deve fazer. Que outra razão pode justificar tamanho castigo? Contudo, não é esta dor o que mais lhe custa. É a indiferença demonstrada pelos médicos, a atitude da mulher que afirma “que é só um capricho do marido”. Durante as infindáveis horas que passa sozinho, Ivan Ilitch apercebe-se que a sua vida decente e vivida como deve ser é vazia de sentido e de felicidades verdadeiras. Só se recorda de as ter vivido na infância. O que antes lhe parecia bom e agradável revelava-se agora uma farsa. Chegou à conclusão que “enquanto na opinião pública subia a montanha, a vida fugia debaixo dele na mesma proporção”. Foram estes pensamentos que juntamente com a tristeza, a angústia e a desilusão ocuparam a sua mente nos últimos tempos. Morreu, mas antes ainda se despediu da família.

Antes de morrer, Ivan Ilitch apercebeu-se que poderia fazer alguma coisa pela vida, dele e dos outros. Assim, tenta deixar uma advertência a todos os que ficaram, mas como que a rir-se deles, por acharem que estão a viver a vida da forma mais correcta. É esta a expressão que todos encontram na cara do defunto, apesar de não a compreenderem…

PORQUÊ A MORTE DE IVAN ILITCH?

Não há uma só razão pela qual tenha optado por este livro, aliás, há várias! Primeiro, o meu melhor amigo, sempre a insistir que eu iria gostar, para além de ser um autor da humanidade de leitura obrigatória, pelo seu brilhantismo. Depois, o evento cultural que é a “Festa do Avante!” que na sua feira do livro fazia uma grande publicidade a este escritor, o que aumentou a minha curiosidade. E, após ter lido O Lado Selvagem, que faz várias alusões às obras de Tolstoi, decidi que tinha, definitivamente, que o ler. Finalmente, encontrei este livro numa livraria com uma grande promoção, e ao ver o seu reduzido número de páginas, decidi que seria este o escolhido!

Valeu a pena! A Morte de Ivan Ilitch é um livro genial, muito simples e directo, mas com uma mensagem muito profunda. Porque retrata a morte, que é uma questão bastante complexa, tem que ser um livro complexo. Tolstoi critica a forma como as pessoas se preocupam em levar uma vida decente, sem sequer saberem em que é que consiste essa vida decente. Na verdade, estas pessoas só se preocupam em viver conforme os padrões aprovados pela sociedade, sem perguntar se este é realmente o caminho certo. Podemos encontrar as personagens deste livro à nossa volta, a sua hipocrisia e materialismo estão constantemente presentes neste nosso mundo. É isso que me agrada neste livro, a sua intemporalidade e a forma como Tolstoi, através da ironia, diz aquilo que tem de ser dito e que precisamos de ouvir para nos apercebermos da inutilidade e futilidade com que às vezes levamos da vida. Por isso, é um livro incomodativo, pois todas as páginas são espelhos. Ivan Ilitch é o retrato da morte e o retrato da morte não pode ser uma coisa bela e agradável de se ter em casa ou como colega de trabalho.

O excerto que escolhi pertence ao capítulo IX, (mais exactamente à página 96), altura em que Ivan Ilitch já sofre terrivelmente de dores insuportáveis, e questiona todo o sentido da sua vida. Escolhi-o porque acho que sintetiza, de forma bastante clara, a ideia que o autor nos tenta transmitir: o sucesso profissional e o dinheiro nem sempre são sinónimos de concretização e felicidade. E eu não podia estar mais de acordo!

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“O casamento… tão acidental, e o desencanto, e o cheiro da boca da mulher, e a sensualidade, e a hipocrisia! Aquele emprego obscuro, aquelas preocupações com o dinheiro, e assim um ano, dois, dez, e vinte – e sempre a mesma coisa. E quanto mais por adiante, mais mortal. Era como se descesse uma montanha imaginando que a subia. “E foi realmente assim. Na opinião pública eu subia a montanha, e a vida fugia debaixo de mim na mesma proporção… E agora está tudo pronto, morre!””

LIVRO DOS LIVROS 2: CAFFÈ AMORE de Nicky Pellegrino Contrato de leitura escrito: Ana Catarina Biltes Gonçalves, nº 1, 10º G Professora: Margarida Lino, Português Data de edição: Janeiro 2009

BIOBIBLIOGRAFIA

Nicky Pellegrino nasceu a 1964, em Inglaterra e tem descendência italiana. Em criança, passou muitos dos seus verões em Itália. Casou com um Nova-Zelandêz e agora vive na Nova-Zelândia.

A sua primeira obra foi "Delicious", (Caffé Amore), que foi editado em 2005. A sua segunda publicação foi em 2008, "Summer At The Villa Rosa" (A Filha Do Pescador). Trabalha actualmente como editora da New Zealand Woman’s Weekly.

SÍNTESE

Caffé Amore, não é apenas mais um livro de histórias de amor em Itália. Caffé Amore está cheio de paladares, amores, cheiros, ódios e simplicidade.

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Estamos em 1964 quando começa a nossa história. Maria Domenica é uma jovem italiana que habita com os seus pais e irmãos numa pequena aldeia de Itália, San Giulio. Maria tem 16 anos, é a primogénita da família, tem uns longos cabelos pretos e uns bonitos olhos carinhos.

Cansada de todas as manhãs de madrugar com a mãe, cozer pão e tratar da casa, Maria Domenica começa a trabalhar no Caffé Angeli. Um café cheio de Frescos nas paredes, uma jukebox com antigas músicas italianas e um senhor, Franco, dono do café, que limpava diária e cuidadosamente a sua velha Gaggia.

Maria Domenica não quer esta vida para sempre e por isso parte à aventura para Roma. Um ano mais tarde volta para San Giulio, grávida de 8 meses. Ninguém, excluindo ela, sabe quem é o pai. No entanto, espera-a um casamento de fachada com um homem que não a ama e que nem ela ama.

Chiara nasce e Maria sente vontade de voltar a trabalhar com os seus velhos amigos: Franco e Giovanni, filho de Franco, no Caffé Angeli, mesmo contra a vontade do marido, Marco. Após alguns meses foge da sua vida de fachada, com a ajuda de Giovanni, e parte à exploração de Inglaterra com a filha.

À chegada não conhece ninguém. Aluga um pequeno quarto numa casa de um senhor que mora com o filho, um pouco mais novo que Maria, Alex, arranja um emprego e vai construindo, pouco a pouco, a sua nova vida. Sente-se feliz.

Os meses vão passando e Maria e Alex vão-se aproximando. Alex pede-a em casamento e ela aceita. Os anos voam, Maria Domenica envelhece e Chiara cresce.

Estamos agora no ano 2000, em Londres. Chiara é uma famosa escritora de receitas e vive com a sua melhor amiga, Harriet.

Após a morte da mãe, Chiara começa a investigar o seu passado, pois a mãe nunca se referia à sua vida anterior a Londres. Quer saber qual é a terra natal da mãe, como são os seus avós, quem é o seu verdadeiro pai...Encontra uma carta, escrita pela mãe, que nunca tinha sido enviada e estava dirigida a Pepina e Erminio Carroza para San Giulio. Apercebe-se que a carta está escrita em italiano e apressa-se a procurar um tradutor, tendo ficado emocionada quando descobre o seu conteúdo.

Chiara não pensa mais... mete-se num avião para Itália, com destino a San Giulio. É agora que a sua vida e aventura começam. Muito mais ainda lhe falta descobrir. Como irão reagir os seus familiares? Como lhes dizer que é Chiara, filha de Maria, e que esta morrera? Tantas dúvidas, tantas questões... A segunda parte do livro começa agora mesmo, quando os cheiros, os paladares e o sol de Itália estão cada vez mais fortes.

OPINIÃO

Foi um dos melhores livros que já li. Escolhi-o pelo título e pelo resumo da contracapa. Achei que seria um livro super engraçado e divertido e não me enganei, acertei em cheio!!!

Na minha opinião este livro está bem escrito, não é enfadonho e a sua história é envolvente e contagiante. A autora faz um perfeito retrato da sociedade dos anos 60 e mostra como em pleno Séc. XXI, onde não devia existir ódio, vingança e inveja, as pessoas ainda se deixam afectar por estes sentimentos. É impressionante ver como as pessoas são manipuladoras e não se importam com os meios, desde que atinjam os fins e o fim seja aquilo que pretendem.

O livro, pela maneira como está escrito e estruturado, dá-nos as visões de cada personagem e transmite-nos diferentes lições. Aprendi que em algumas situações é difícil pensar com a cabeça fria, que as pessoas nem sempre são aquilo que aparentam, que às vezes

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pode amar-se apenas uma única vez na vida e que com esforço e dedicação conseguimos quilo que queremos.

Uma das passagens do livro que mais me emocionou retrata o momento em que Maria procura a protecção e o carinho da mãe depois de ter sido maltratada pelo marido:

“Maria Domenica sentiu uma onda de alívio. Mergulhou no conforto dos braços de Pepina, macios e familiares. - O Marco bateu-me - sussurou, e só depois as lágrimas começaram a deslizar pela face magoada. Não conseguia parar de chorar. O seu corpo estremecia com os soluços e as lágrimas salgadas provocavam-lhe ardor nos cortes do rosto. Tentou falar, mas só foi capaz de repetir estupidamente: «O Marco bateu-me.»

Pepina examinou-lhe o rosto por momentos e, depois, desviou o olhar para um canto. - Eu sei - disse pesarosamente. - Eu sei de tudo o que se passou.

- O que é que ele vos contou? Pepina afagou o cabelo da filha e limpou levemente a sua face inchada com um lenço de

Erminio. - Mamma? - Os soluços da Maria Domenica estavam a abrandar e os olhos a arregalar-

se com indignação. - O que é que o Marco vos disse que eu fiz? Não pode acreditar nele. Não é verdade, o que quer que ele vos tenha dito (…)

Os ombros de Pepina descaíram bruscamente. Ainda não conseguia olhar a filha nos olhos. - Tenho de admitir que não contava ver-te assim neste estado. Ele disse que te deu apenas um estalo e que tu o merceste.

- O quê!? - Acalma-te, Maria Domenica. Não és a primeira mulher a levar um ou dois tabefes do

marido - garantiu Pepina num tom neutro. (…) - Não, Mamma, por favor, deixa-me ficar aqui. Não me obrigues a voltar. Por favor... - As

duas mulheres agarraram-se uma à outra, ambas a chorar. Maria Domenica sentiu o corpo da mãe a contorcer-se com os soluços e a humidade do rosto pressionando contra o seu.

- Eu lamento, figlia, lamento muito. Pepina estava a empurrá-la para fora da cozinha rumo ao pátio poeirento. Colocou o saco nas mãos da filha e virou o carrinho de Chiara, apontando-o na direcção da quinta dos Manzoni. - Não me atrevo a desobedecer ao teu pai. Tens de ir para casa. Mas eu ou a Rosaria iremos ver-te todos os dias para saber como estás. E não deixaremos que ele te bata novamente, prometo-te.

Maria Domenica sentiu o último aperto de mão da mãe e, quando a porta se fechou na sua cara, encheu os pulmões do aroma adocicado que vinha da cozinha quente uma última vez. Depois virou-se e, lentamente, começou a caminhar através do frio de uma noite clara de Outono. Nem sequer dissera adeus." Sinceramente, escolhi este momento, porque não podia escolher o livro todo. Mesmo assim, penso que foi bem escolhido, pois mostra o comportamento da sociedade, o amor de uma mãe por uma filha, de uma mulher pelo marido, mostra-nos o quão manipuladoras as pessoas podem ser, e o desejo desesperado de uma vida melhor, mais calma, mais feliz, com mais amor. Em suma, penso que é um bom livro e para mim foi uma óptima transição da leitura de livros juvenis para romances de maior fôlego. Estou satisfeita, de barriga cheia, mas quero mais.

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LIVRO DOS LIVROS 3: COMO ÁGUA PARA CHOCOLATE de Laura Esquivel Contrato de leitura escrito: Maria João Moreira, nº 17, 10º G Professora: Margarida Lino, Português Data de edição: Janeiro 2009

BIOBIBLIOGRAFIA

Laura Esquivel nasceu na Cidade do México a 30 de Setembro de 1950. Começou por ser professora e escreveu peças de teatro infantis. Revela-se como guionista de cinema com “Guido Guán” e “Tacos de Oro” (1985), este último nomeado pela Academia de Ciências e Artes Cinematográficas para o Prémio Ariel.

Algumas das suas obras são Como água para chocolate, A Lei do Amor, Íntimas Suculências, A Pequena Estrela-do-mar, O Livro das Emoções, Tão veloz como o desejo.

RESUMO DA OBRA O livro Como Água para Chocolate é um romance de amor passado no México rural no início do século XX. Relata a história do amor sofrido e profundo entre Pedro Muzquiz e Tita de la Garza. Tita, a protagonista, é impossibilitada de ter uma relação com Pedro por causa da tradição familiar, que a obriga, ao ser a mais nova das irmãs, a manter-se solteira para poder cuidar da sua mãe viúva até à hora da morte.

A mãe de Tita (Elena) oferece a mão de Rosaura (sua filha mais velha) a Pedro que, frustrado com a situação, acaba por se casar com ela para ficar perto de Tita. Esta, perante o seu azar, desabafa com a criada índia (Nacha) que lhe ensina receitas e a aconselha.

Nacha morre e Tita é convertida na cozinheira familiar. A sua reprimida paixão por Pedro é sublimada através das artes culinárias, pois é na cozinha, ao manipular temperos e alimentos, na arte de combinar e criar sabores, que Tita usufrui de total liberdade para exprimir o que sente.

À medida que o enredo da história vai avançando vão-nos sendo contadas histórias paralelas como os amores ilegítimos da autoritária e cruel mãe de Tita e a fuga da irmã Gertrudis com um soldado, entre outras peripécias.

O tempo passa e Rosaura, já casada com Pedro, engravida e tem um bebé, que Tita trata como um filho, amamentando-o até, (gozando de uma gravidez imaginária) já que a sua irmã se encontrava muito débil depois do parto.

Um dia, Elena descobre que Pedro mantém uma relação oculta com Tita. Deserda-a e, mandando-a para um curral, fá-la sentir-se culpada pelos seus sentimentos por Pedro e pela relação que ambos mantiveram, às escondidas de Rosaura e de toda a família. Com Tita ausente, o filho de Rosaura acaba por morrer, pois ninguém cuidava dele tão bem como Tita.

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John Brown, o médico da família, ama Tita e acaba por ajudá-la com todos os conflitos que surgiam entre ela e a sua mãe. Leva-a para a sua própria casa, onde cuida dela. Entretanto, Rosaura e Pedro têm outro filho, desta vez uma menina chamada Esperança.

Tita via em John um homem que a ajudava e apoiava e, frágil, acaba por se envolver com ele, apesar de amar Pedro. Passado algum tempo, a mãe de Tita morre, sendo Rosaura a filha que herda tudo. Tita regressa a casa para dar algum apoio, porque apesar de tudo gostava da sua irmã. Rosaura morre de doença e Esperança, já crescida, casa com Alex, filho do médico John.

No final do livro, Tita e Pedro sozinhos, e com a casa só para si, fazem amor. Pedro morre durante o momento e Tita suicida-se para o acompanhar, como prova do seu amor por ele.

TEXTO DE OPINIÃO SOBRE O LIVRO

Interessei-me por este livro porque a minha irmã mo aconselhou. Desde o início que apreciei a leitura do mesmo porque gosto de romances e também pelo facto de cada capítulo começar com uma receita à qual está, de algum modo, associada uma forte carga emocional.

Adorei-o e fiquei ainda mais fascinada pela arte da culinária e pelo facto da autora conseguir misturar a cozinha com a vida e recordações.

Este é um romance construído com base num conflito entre tradição e afectos, o que fez com que aprendesse alguns costumes e também bons conselhos.

Este livro já foi traduzido para vários idiomas e publicado em vários países. Foi também levado ao cinema com excelentes resultados, situando-se entre os 100 melhores filmes do cinema mexicano, o que também demonstra a sua qualidade.

Recomendo este livro a homens e mulheres, independentemente da sua idade, já que Laura Esquível narra uma bonita história de amor que nos leva para o mundo rural, onde a sensualidade se mistura com os ingredientes culinários.

LIVRO DOS LIVROS 4: RIO DAS FLORES de Miguel de Sousa Tavares

Contrato de leitura escrito: Joana Freire, nº 12, 12º A Professora: Margarida Lino, Português Data de edição: Janeiro 2009 BIOBIBLIOGRAFIA

Miguel de Sousa Tavares é filho da poetisa portuguesa Sophia Mello Breyner Andresen, e do advogado Francisco Sousa Tavares.

Nasceu no Porto, dia 25 de Junho de 1952.Começou a sua vida profissional na advocacia, que abandonou a favor do jornalismo, do qual passou para a escrita literária. Actualmente colabora com o jornal Expresso e com a estação de televisão TVI, onde é comentador semanal.

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ALGUMAS OBRAS (por ordem cronológica):

• Anos Perdidos • Não te deixarei morrer, David Crockett • Sul – Viagens • O Segredo do Rio (literatura infantil) • Um nómada no oásis • O dia do prodígio • Rio das Flores

RESUMO

Este é um livro de 608 páginas em que nos são retratados 30 anos da história do século XX e da história de três gerações de uma família alentejana, a família Ribera Flores. Esta família vive no Alentejo, em Estremoz, onde possui uma grande herdade, a Herdade de Valmonte, a qual faculta empregos a muitos habitantes da população. Neste romance assistimos à evolução dos dois rapazes da família, Diogo e Pedro Ribera Flores, das suas ideias e de como dois irmãos sujeitos a um mesmo amor comum à sua terra, seguem caminhos e fazem escolhas de vida tão diferentes, durante uma época em que o país vive uma insegurança política seguida de uma ditadura que marcou para sempre a história da nossa nação.

Este romance começa em 1915, em Sevilha, na abertura de Feria de San Miguel, à qual Manuel Custódio resolve levar o seu filho mais velho e principal personagem da obra, Diogo Ascêncio Cortes Ribera Flores, na altura com 15 anos. Aí, Diogo torna-se um homem. Homem este que vai crescer segundo princípios de liberdade e igualdade, um homem “reservado, senhor da sua solidão e do seu silêncio, reflexivo e quase tão sensível como

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uma rapariga”, “amado e respeitado por quase toda a gente de Valmonte. O outro filho, Pedro, “era sobretudo respeitado”, tratava com ânimo e dedicação os trabalhos da Herdade e gostava de dar ordens aos trabalhadores.

À medida que o tempo passa, os dois irmãos vêem-se cada vez mais separados por políticas e diferenças morais, consequentes da época de fracasso da República e da insegurança e descontentamento que provocou. Estas diferenças começam a tomar graves proporções e a instalação da ditadura vai estimular em Diogo o desejo de liberdade, decidindo viajar para o Brasil para tratar de negócios. Após muitas ‘idas e vindas’ a este novo país, Diogo decide ser feliz e livre e deixa a família em Estremoz, mudando-se de forma definitiva para o Brasil.

Pedro não aceita a decisão do irmão e contrariamente às ideias deste, decide alistar-se no exército e ir combater na Guerra Civil de Espanha, pelos Nacionalistas, o que irá marcá-lo para sempre.

O relato das vidas dos dois irmãos é acompanhado de romances intensos e apaixonantes que enriquecem o livro.

SELECÇÃO DE UMA PASSAGEM DO LIVRO

“Tenho medo que a liberdade se torne um vício, enquanto que agora é apenas uma saudade.” Esta frase é dita por Diogo numa conversa com o irmão Pedro, em que ambos discutem o valor da liberdade aquando da instauração da ditadura em Portugal.

Com esta frase, Diogo quer dizer que com a imensa falta de liberdade que se fazia sentir, e que ele sentia mais do que o irmão, receava que esta se tornasse um vício, algo de absolutamente imprescindível e prejudicial na medida em que não a poderia ter, já que na altura era “apenas uma saudade”.

Eu escolhi esta passagem porque penso que actualmente não damos o valor devido a esta liberdade, e por vezes esquecemos que outros já passaram ou estão a passar por situações em que não a tem, que lhes era/é proibida, sentiram falta, e olharam-na com outros olhos, com a devida importância, que é necessária à felicidade de cada um. Porque a verdade é que a liberdade da qual desfrutamos agora resultou de lutas que, felizmente, já não temos de combater, e talvez por isso não entendamos tão bem a necessidade prioritária na vida de um ser humano.

A liberdade é um dos direitos do Homem. E tal como disse Sartre, "O homem está condenado a ser livre", e eu acrescento, e a ter responsabilidade e o peso das escolhas a que essa liberdade o obriga.

CONCLUSÃO/OPINIÃO

Desde o lançamento deste livro, tive imediatamente curiosidade em lê-lo, já que é de um escritor do qual gosto muito, Miguel Sousa Tavares, e do qual já tinha lido obras.

Aquando da leitura do ‘Rio das Flores’ deparei-me com um romance apaixonante e intenso que nos prende a cada página e nos faz suspirar. No entanto, há uma outra componente deste livro que são os relatos históricos da época, da ditadura, pela qual me interesso muito e que me fez lê-lo com maior atenção.

Um dos pontos que achei mais interessante da história é que esta nos mostra as duas perspectivas de dois irmãos relativamente à política e aos valores que cada um defende. Temos então Diogo, um jovem que luta contra a ditadura e busca a liberdade, encontrando-a num país no outro lado do oceano e Pedro, que é a favor da ordem e disciplina estrita. Vive sempre na Herdade e apenas se interessa pelo seu pedaço de terra, esquecendo o mundo lá fora.

Aconselho vivamente a leitura deste livro, já que nos mostra uma época em que muitos de nós não tínhamos ainda nascido, e assim podemos ter uma noção do que foi a História do nosso país até hoje, conjuntamente com os romances que as personagens (e o leitor) vivem.

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LIVRO DOS LIVROS 5: RATOS E HOMENS de John Steinbeck

Contrato de leitura escrito: Luísa Monteiro, nº 16, 12º D Professora: Margarida Lino, Português Data de edição: Janeiro 2009

BIOBIBLIOGRAFIA

John Steinbeck nasceu a 27 de Fevereiro de 1902, em Salinas, Califórnia e morreu a 20 de Dezembro de 1968, em Nova Iorque.

Terminou o curso secundário no Salinas High School, em 1919. No ano seguinte, ingressou na Universidade de Stanford, mas acabou por não terminar o curso pois não gostava da vida universitária. Em 1929 publicou o seu primeiro livro, “A Taça de Ouro”.

Publicou em seguida “Pastagens do Céu” (1932) e “A Um Deus Desconhecido” (1939). Esses primeiros livros não lhe asseguraram a profissionalização como escritor, que só chegou aquando da publicação, em 1935, de “Tortilla Flat”. Em 1935 firmou-se como autor de prestígio com “Boémios Errantes”, que recebeu a medalha de ouro do Commonwealth Club de São Francisco como melhor livro californiano do ano. Os três mais importantes romances de Steinbeck foram escritos entre 1936 e 1938: “Luta Incerta” (1936), “Ratos e Homens” (1937) e “As Vinhas da Ira” (1939), considerado a sua obra-prima e que recebeu o prémio Pulitzer.

Em 1962, Steinbeck ganhou o Prémio Nobel da Literatura e, em Setembro de 1964, foi – lhe atribuída a United States Medal of Freedom, pelo presidente Lyndon B. Johnson.

Steinbeck teve dezassete das suas obras adaptadas para filme por Hollywood. Alcançou também grande sucesso como escritor para filmes, tendo sido nomeado, em 1944, para o Óscar de Melhor História pelo filme “Um Barco e Nove Destinos “ (no original “Lifeboat”) de Alfred Hitchcock.

RESUMO

George e Lennie são dois amigos bem diferentes entre si. George é baixo e franzino, porém astuto, e Lennie é grandalhão, uma verdadeira fortaleza humana, mas com a inteligência de uma criança, não sabendo distinguir o certo do errado. O que os une é a amizade e a posição de marginalizados pelo sistema, o facto de serem homens sem nada na vida, nem sequer família, que trabalham de fazenda em fazenda, na Califórnia, durante a recessão económica da década de 30, ganhando pouco mais do que comida e moradia.

A maior dificuldade para os dois é a estabilidade de emprego, já que Lennie quase sempre se envolve em confusões nos locais onde eles chegam para trabalhar, sendo a fuga a única solução.

E é numa situação de fuga que George e Lennie se encontram no início da história. Obcecado pela posse da terra e de animais de que pudesse tratar (sobretudo coelhos …), Lennie acaba por contaminar George com o seu entusiasmo e juntos percorrem o país à procura do trabalho que lhes permita juntar o dinheiro necessário para comprarem um pedaço de terra para cultivar e para criar animais. Chegados a um novo trabalho, logo George percebe que têm de se manter afastados da mulher do filho do patrão. E o seu presságio, quanto ao papel que aquela mulher iria exercer nas suas vidas, confirma-se da pior forma possível. Em pânico, assustado, Lennie sufoca a jovem e foge (como era hábito nos momentos maus) para um local previamente combinado com o companheiro de viagem. Assim que George se apercebe do sucedido, dirige-se ao local e mantendo no amigo a ilusão de que tudo está bem, de que nada há a perdoar, fala-lhe suavemente sobre o seu sonho comum e dá-lhe um tiro mantendo essa ideia de felicidade nunca concretizada mas suficiente para Lennie no momento da sua morte.

O gesto de George é um acto de misericórdia, a piedade que só um amigo podia demonstrar. E nunca mais fugiram.

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EXCERTO

“- Dize como é que vamos viver – pediu Lennie. George estivera a escutar os sons distantes. Por um momento, deixou a atitude

sonhadora. - Olha para o outro lado do rio, Lennie, e eu vou contar-te como vai ser… e assim tu

podes quase ver o que estou a contar-te. Lennie voltou a cabeça e olhou, através da laguna, para as encostas dos Gabilans,

que já escureciam. - Vamos comprar um bocado de terra… – continuou George. Meteu a mão num bolso

lateral e tirou a Luger de Carlson; destravou-a e depois a mão e a arma descansaram na terra, atrás de Lennie. George olhou para a nuca do companheiro, no lugar em que se juntavam a coluna vertebral e o crânio.

Uma voz de homem gritou de longe, rio acima, e outra voz respondeu. - Continua – pediu Lennie. George ergueu a pistola, mas a mão tremeu-lhe e ele deixou-a tombar no solo. - Continua – insistiu Lennie – Dize como vai ser. Vamos comprar um bocado de

terra… - Vamos ter uma vaca – prosseguiu o outro – E talvez a gente possa ter um porco e

galinhas… e vamos ter um campo de… luzerna… - Para os coelhos!... - exclamou Lennie. - Para os coelhos. - E eu tenho que cuidar dos coelhos. - E tu tens que cuidar dos coelhos. Lennie riu de felicidade. - E viveremos à tripa-forra. - Sim. Lennie voltou a cabeça. - Não, Lennie. Olha lá para longe, para o outro lado do rio, para poderes ver a nossa

terra. Lennie obedeceu-lhe. George baixou o olhar para a pistola. Ouviam-se agora passos que esmagavam ramos no matagal. George voltou-se e

olhou na direcção deles. - Vamos, George. Quando a compramos? - Logo. - Eu e tu. - Tu… e eu. Vão ser todos bons para ti. Não haverá mais sarilhos. Ninguém fará mal

aos outros, ninguém roubará as pessoas. - Pensei que estavas zangado comigo, George. - Não, não, Lennie. Não estou zangado. Nunca me zanguei, e muito menos agora.

Quero que saibas isso. Os sons aproximavam-se. George ergueu a pistola e escutou as vozes. - Vamos fazer isso agora – suplicou Lennie – Vamos comprar essa terra agora. - Claro, agora mesmo. Tenho de fazer isso. Nós ambos… E George ergueu a pistola, firmou-a e aproximou o cano da nuca de Lennie. A arma

tremeu violentamente, mas o rosto de George endureceu-se e a mão conseguiu firmeza. Puxou o gatilho. O estampido subiu, rolando pelos montes e rolando tornou a descer. Lennie sacudiu-se todo e depois caiu lentamente para a frente, sobre a areia e ali ficou estendido, sem se mexer.

George teve um estremecimento e olhou para a arma e depois atirou-a para longe de si, para perto de margem, junto do montículo de cinzas velhas.” Justificação da escolha deste excerto

Decidi escolher este excerto pois penso que resume muito bem a essência de todo o

livro. George é forçado a tomar uma decisão extremamente difícil, mas não deixa o seu companheiro partir sem lhe falar, mais uma vez, do sonho que tinham em comum e

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tranquiliza-o, dizendo-lhe que nunca se zangou com ele. Demonstra a relação de verdadeira amizade e apreço que existia entre as duas personagens principais, que culmina com um acto de compaixão.

Por que aconselho a leitura deste livro?

É um livro de leitura fácil e agradável. No entanto, traz até ao leitor uma “fábula

sobre a amizade e o sonho americano”, capaz de comover e apaixonar qualquer um. Steinbeck conseguiu criar personagens tão cativantes quanto realistas e, ao contar uma história específica, falar de sentimentos comuns a todos seres humanos, como a solidão e a ânsia por uma vida digna.

LIVRO DOS LIVROS 6: O NÃO-MAGO. AS TORRES DE ROMANDER de W. J. Maryson

Contrato de leitura escrito: Hugo Mendes, nº 13, 10º B Professora: Nazaré Coimbra, Português Data de edição: Janeiro 2009

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BIOGRAFIA

W. J. Maryson, pseudónimo de Wim Stolk, é o autor mais popular de fantasia épica na Holanda, estabelecendo grande parte da sua reputação com a trilogia do Não-Mago. Escreveu mais de 11 romances e vários contos, traduzidos para nove línguas, tendo, em 2004, vencido o Prémio Elf Fantasy Award.

Nascido em 1950, na aldeia de De Lier Westlandse, no sul da Holanda, é um artista multifacetado: pintor, músico, escritor, publicitário e produtor.

Começou por trabalhar para o governo durante algum tempo e posteriormente dedicou-se à pintura de retratos e paisagens. No príncipio dos anos oitenta, fundou a sua própria agência de publicidade e, mais tarde, a sua banda de rock de nome Maryson. Este grupo de rock sinfónico, que Stolk integrou como teclista, editou vários álbuns inspirados nos seus livros. Dedicou-se ainda à produção e organização de festivais e concertos.

Em 1995, publicou A primeira espada - Sperling, o seu primeiro volume da série Mestre Mágico, que foi desde logo um sucesso, tanto junto do público como da imprensa. Esta série completar-se-ia com as obras, A segunda espada - Emaendor, A terceira espada - Vloch, A quarta Espada - Fiander, A quinta espada - Rastoth e o Livro do Conhecimento. A sua segunda série, a triologia do Não-Mago, alcançou um sucesso estrondoso em vários países.

Maryson vive actualmente, com a mulher e três filhos, na aldeia de Zeeland, na Holanda.

BIBLIOGRAFIA

A primeira espada – Sperling (1995 – Mestre Mágico I) A segunda espada – Emaendor (1996 – Mestre Mágico II) A terceira espada - Vloch (1998 – Mestre Mágico III) A estrada para o nirvana (1998 – Trave) Zen, o gato (1999) A quarta espada – Fiander (1999 – Mestre Mágico IV) A quinta espada – Rastoth (2000 – Mestre Mágico V) O Livro do Conhecimento (2001 – Mestre Mágico VI) As Torres de Romander (2002 – O Não-Mago I) Os Abismos de Lan-Gyt (2003 – O Não-Mago II) O Lorde das Profundezas (2004 – O Não-Mago III) O Canto do Imortal (2007 – A Grande Lenda I)

O ESPAÇO

A acção do livro desenrola-se num arquipélago de ilhas cujo centro político se encontra na Ilha de Romander, de onde governa o imperador Desran, na Torre de Cristal. A Torre de Cristal situa-se no coração de Kryst Valaere, tem cerca de trinta metros, oito arcos, sendo necessário subir 1546 escadas para chegar à sala do trono.

Parte da acção desenvolve-se na ilha de Loh, localizada no sul das Ilhas Orientais, com uma fortaleza chamada Stormburg, edifício em granito onde se celebram as mais altas provas de magia. No centro encontra-se a escola de magia: a Instirium.

A norte das Ilhas Ocidentais, onde termina a civilização, estão as ilhas de V’ryn. É nestas ilhas que surge o avanço da magia incolor que ameaça o reino.

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Haramat é a cidade principal das Ilhas Espelho, situadas a noroeste do arquipélago integrando Ostander, Grande Melisa e Pequena Melisa. Aqui, encontra-se a misteriosa Torre de Vento e a seu lado, submersas, ruínas antigas. A sudoeste das Ilhas Espelho temos a pequena Ilha de Quym, uma das únicas onde se mantém a Och Pandaktera. Nesta ilha, a cidade de Quym a norte e a pequena cidade de Tinandel estão em guerra devido à Och Pandaktera.

SÍNTESE

O Reino de Romander foi criado há milhares de anos. Desde esses tempos remotos, o reino sempre se mantivera em equilíbrio e união total devido à aliança do grandioso poder e autoridade do Desran com a magnitude e magnificência das capacidades dos altos-místeres de Loh. No entanto, tal como a excepção confirma a regra, as ideias do reino também foram desautorizadas algumas vezes. O alto-místere Randole de Cerjin, o eremita das duas vozes, desafiando tudo e todos, decidiu estudar a magia incolor, algo expressamente interdito pelo reino. Alguns outros seus seguidores resolveram continuar as suas experiências e provar este fruto proibido, ao longo dos séculos.

Randole descobriu, secretamente, os mais ínfimos detalhes da magia incolor e do seu criador, o Senhor das Sombras do Mar da Noite, o Ser das Trevas, e constatou que o mais heróico e sensato da sua parte seria deixar rastos no tempo, ou seja, pistas difíceis de descodificar, afastando assim a possibilidade do criador desta magia negra conseguir o acesso às mesmas, e de modo a facilitar as acções dos escolhidos para impedir a magia incolor dali a nove mil anos. O ciclo da pulverização teria de parar! O ataque regular da magia incolor de nove em nove mil anos teria de ser travado, no futuro, com o conhecimento que Randole lhes proporcionara através das pistas!

O povo de Loh era “o povo dos mágicos”. Aprendizes, místeres, semi-místeres, altos-místeres,... Esta esplendorosa cidade estava repleta de magia… Todos os que ali viviam detinham uma série de conhecimentos especiais e misteriosos, de uma forma ou de outra, relacionados com a magia, à excepção de um rapaz: Lethe Welmson, o Não-Mago.

Sempre solitário e triste por ser diferente, Lethe foi, a certa altura, surpreendentemente, abordado por Matei, o mais jovem e talentoso dos sete Altos-Místeres do reino, que após se reunir com os restantes para falar das suas descobertas, decidiu e pediu que Lethe partisse com ele numa viagem para as Ilhas Espelho. Partem, assim, numa viagem cheia de perigos e aventuras, no Ágil Machado dos Nove Mares, navio do famoso e experiente capitão Wedgebolt, com o objectivo de travar a magia incolor que já mostrava sinais evidentes de avanço e destruição em algumas ilhas do reino. Consigo, Lethe levava Rax, a espada do seu pai que nunca conhecera, e que mais tarde viria a saber possuir poderes: era a espada que cantava, indicando que havia uma força maligna nas proximidades, a espada do lendário Welm da Ilha dos Gatos.

Durante esta emocionante travessia, em pleno Inverno repleto de abomináveis tempestades e obrigados a ultrapassar por autênticos cemitérios tais como o Golfo de Agbayar e Cabo dos Destroços, foram-se juntando outros membros até formar um grupo de seis elementos que iriam fazer parte desta importante missão: Matei; Lethe; Gaithnard, o mestre de armas de Quym que acabou por enfrentar a Och Pandaktera; Gyndwaene, de nome verdadeiro Asayinda de Haramat, que finalmente encontrou o seu destino ao seguir o Profeta e tornar-se na Senhora da Alvorada, a Alta-Sacerdotisa de Yle em Arvilux, já há muito esperada, e que teria um papel fundamental na destruição da magia incolor, através do seu poder de ver o futuro; Llanfereit de Loh, o mágico amigo de Matei com poderes exuberantes e que estuda a magia incolor há duas décadas; e Pit, a aprendiz de Llanfereit, que apesar de não ser de Loh, tem poderes mágicos, e estabelece uma relação especial com o Lethe.

Em conjunto tentam decifrar as pistas de Randole: os Escritos (manuscritos), as Inscrições (“Paredes das Escrituras” em palácios, templos e torres antigas), as visões e vozes de que o Lethe é vítima, …

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Entretanto, o Desran Xarden Lay Ypergion III, a sua esposa, a Dama Isper, e Thanker, o principal conselheiro de Desran, designados por o Trium, chamam o regulador Dotar para travar Matei nas investigações e matar Lethe. Mais tarde, o Desran soube surpreendentemente, através do seu filho Marakis (que apesar de sempre lhe parecer preso à infância devido às suas atitudes de um rapaz de seis anos, se revelava agora um mestre da intriga com um inteligência e astúcia inexcedíveis) , que este tinha ajudado Matei e que Thanker tinha muito poder e, como tal, conseguira manipular o Desran contra o Lethe, pois o Não-mago era fundamental para a sobrevivência do reino. Desde logo, Ypergion III mandou o seu filho atrás de Dotar para impedi-lo de o fazer.

Disfarçado de mestre de armas, e com um ar amistoso, Dotar infiltra-se no grupo de Matei e, a determinada altura, quando Lethe se encontrava sozinho, tenta matá-lo. Mas, eis que uma águia imperial aparece e o defende, a mesma águia com que ele sonhara várias vezes, de nome Gehandyr, ou seja, Olho de Lámina. Marakis aparece e cancela a missão. Na mente de Lethe, a águia afirma misteriosamente: “Voltaremos a ver-nos. O meu destino está ligado ao teu.” Olho de Lâmina avisara e salvara Lethe. Todos ficaram surpreendidos. Lethe revelara um poder: ele falou com a águia e entrou na sua mente.

Que mais poderes cruciais para o reino possuirá o Não-Mago?! Conseguirá ele salvá-los do Senhor das Trevas?

UM INTERESSE EM PARTICULAR

Do meu ponto de vista, a história “O Não-Mago” de W. J. Maryson, apresenta-se como um livro muito interessante e emocionante, prendendo o leitor do início ao fim, o que me dificultou a escolha de um excerto mais empolgante.

Contudo, um dos aspectos que me despertou mais interesse foi o facto de o autor nos presentear com introduções no início de todos os capítulos. Através destas, conseguimos obter uma explicitação sobre o contexto histórico, temporal e/ou espacial dos acontecimentos e uma melhor compreensão de determinados conteúdos abordados pelo autor. Estes pequenos excertos mesmo sem estarem fortemente ligados à história, em certos capítulos, permitem-nos também deambular no nosso pensamento.

Exemplo de introdução: «Os bons enigmas, os verdadeiros enigmas, têm camadas. Por baixo da solução

primária há uma secundária. E, por baixo dessa, pode estar o verdadeiro enigma. Tanzer de Ynystel era bom a criar e a resolver enigmas. Ele disse uma vez: “Um enigma é uma solução invertida”. E, de facto, ele não se concentrava no enigma propriamente dito, mas em possíveis soluções.»

RECOMENDAÇÃO DA LEITURA

Aconselharia esta obra aos amantes da leitura?

Sim, principalmente aos leitores que procuram obras fantásticas e épicas, com personagens míticas de fácil empatia, batalhas heróicas e mundos imaginários onde predomina o mistério, a magia e a aventura. Esta é sem dúvida uma obra apropriada a um público diverso, onde se encontra também uma linguagem cuidada e ritmada.

O mundo que o autor cria, as personagens, o mistério e a magia, enfim toda a história no seu esplendor, faz com que um sentimento eminente de curiosidade e emoção floresça no nosso interior, tornando a sua leitura um passatempo inigualável.

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LIVRO DOS LIVROS 7: SEXTA-FEIRA OU A VIDA SELVAGEM de Michel Tournier Contrato de leitura escrito: Marco Rodrigues, nº 13, 9º E Professora: Nazaré Coimbra, Língua Portuguesa Data de edição: Janeiro 2009

Sexta-Feira ou a Vida Selvagem de Michel Tournier

O AUTOR

O autor deste livro é Michel Tournier. O escritor francês nasceu em Paris, em 19 de Dezembro de 1924. Estudou em Saint-Germain en Laye e no lycée Pasteur de Neuilly. Decidiu seguir o curso de Filosofia na Sorbonne e na Universidade de Tübingem.

O autor é definido como “contrabandista da filosofia” pois engloba alguns filósofos nos seus contos e histórias, como “Sexta-Feira ou a Vida Selvagem” em que retrata Robinson Crusoe. Ele não se considera como um autor de crianças, mas como sendo um autor com um ideal de brevidade, de clareza e de proximidade ao concreto.Dos vários prémios ganhos é de destacar que venceu o grande prémio de romance da Académie Française em 1967 pelo romance Sexta-Feira ou a Vida Selvagem.

O autor, numa entrevista que deu, destacou que é apaixonado pelas palavras e contador de histórias, algo reflectido nos seus romances. Também foi realçado que as suas obras são uma reprodução da realidade e que as obras são tão claras e tão fáceis de compreender e de interpretar que é como uma imagem simples de entender.

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DIÁRIO DE ROBINSON CRUSOE

Robinson Crusoe, o protagonista da história, viajava por mar com o objectivo de alcançar os portos do Chile, partindo do arquipélago Juan Fernandez. No entanto, a embarcação onde navegava não chegou ao seu O que se aconteceu à embarcação? E aos tripulantes? Para onde terá ido Robinson? Com este trabalho pretendo apresentar a obra autoria de Michel Tournier, o escritor francês que escreveu a ochamava-se, em Francês, “Vendredi ou la Vie Sauvage” Para recontar a história presente no livro será criaRobinson. Com esse pequeno diário,será participante e subjectivo, emitindo a sua opinião. Hoje é dia 29 de Setembro de 1759embarcação pequena mas resistente rumo às costas do Chile.Partimos ao anoitecer do Arquipélago Juan seiscentos quilómetros para chegar ao Chile.Recordo-me como se fosse ontem que parti de York, deixando a minha mulher e dois filhos em busca da fortuna que poderia fazer na América do Sul.Agora, vou para o convés para poder jogar às cartas com o capitão.

Algumas horas depois… Onde estou? Acordei há umas horas atrás no meio de uma praia e não avistei ninguém.Andei um pouco pela praia e vi o Virgínia destruído no meio da areia. Logo me recordei que a embarcação naufragara com a poderosa tempestade que nos atingiu.Procurei, procurei e não encontrei nada setransportava. A partir de hoje terei de viver sozinho, no meio de uma ilha provavelmente desconhecida.

Alguns dias depois… Não posso continuar assim! Durante estes dias simplesmente me deixei afundar horas a fio na lama ou fechei-me no fundo de uma escura caverna.A partir de hoje terei de fazer algo nesta ilha, mas o quê?

No fim do dia… Agora que examinei toda a ilha destaquei algumas actividades que poderia fazer:-construir uma casa; -plantar arrozais; -domesticar animais como as ovelhas e os cabritos;-construir materiais para a caça e a pesca;-construir calendários e relógios solares;-guardar materiais do Virgínia em locais seguros;-construir torres de defesa. São apenas as ideias principaisVou começar as minhas actividades

Seis meses depois… Diário, desculpa não ter escrito,Com o calendário e o relógio solar posso controlar melhor os dias, sabendo há quanto tempo me tornei mais uma vítima dos poderosos oceanos.Agora alimento-me das minhas plredes para a passagem da água nos locais onde mais é necessário.

Num misterioso dia de Verão…Hoje, os meus próprios olhos assistiram a algo assustador. Não sei bem explicar, mas uns índios chegaram à ilha, prepararam

DE ROBINSON CRUSOE

Robinson Crusoe, o protagonista da história, viajava por mar com o objectivo de alcançar os portos do Chile, partindo do arquipélago Juan Fernandez. No entanto, a embarcação onde navegava não chegou ao seu destino.

O que se aconteceu à embarcação? E aos tripulantes? Para onde terá ido Robinson? O que lhe sucedeu? Com este trabalho pretendo apresentar a obra “Sexta-Feira ou a Vida Selvagem”

autoria de Michel Tournier, o escritor francês que escreveu a obra. Originalmente, a obra “Vendredi ou la Vie Sauvage”.

stória presente no livro será criado um diário que retrata a vida de no diário, na primeira pessoa do singular, ou s

subjectivo, emitindo a sua opinião.

Hoje é dia 29 de Setembro de 1759 e eu, Robinson Crusoe, embarco no Virgínia, uma embarcação pequena mas resistente rumo às costas do Chile. Partimos ao anoitecer do Arquipélago Juan Fernandez, com o objectivo de navegar cerca de seiscentos quilómetros para chegar ao Chile.

me como se fosse ontem que parti de York, deixando a minha mulher e dois filhos em busca da fortuna que poderia fazer na América do Sul.

onvés para poder jogar às cartas com o capitão.

Onde estou? Acordei há umas horas atrás no meio de uma praia e não avistei ninguém.Andei um pouco pela praia e vi o Virgínia destruído no meio da areia. Logo me recordei que

embarcação naufragara com a poderosa tempestade que nos atingiu.e não encontrei nada senão os restos da embarcação e os

A partir de hoje terei de viver sozinho, no meio de uma ilha provavelmente desconhecida.

Não posso continuar assim! Durante estes dias simplesmente me deixei afundar horas a fio me no fundo de uma escura caverna.

A partir de hoje terei de fazer algo nesta ilha, mas o quê?

nei toda a ilha destaquei algumas actividades que poderia fazer:

domesticar animais como as ovelhas e os cabritos; construir materiais para a caça e a pesca; construir calendários e relógios solares;

riais do Virgínia em locais seguros;

as as ideias principais, mas chegarão para ter algo para fazer nesta ilha solitária.minhas actividades. Ah, e não me posso esquecer de escrever no

Diário, desculpa não ter escrito, mas tive muito trabalho. Com o calendário e o relógio solar posso controlar melhor os dias, sabendo há quanto tempo me tornei mais uma vítima dos poderosos oceanos.

das minhas plantações, da minha manada e da redes para a passagem da água nos locais onde mais é necessário.

Num misterioso dia de Verão… Hoje, os meus próprios olhos assistiram a algo assustador. Não sei bem explicar, mas uns índios chegaram à ilha, prepararam uma fogueira e prepararam um misterioso ritual.

Robinson Crusoe, o protagonista da história, viajava por mar com o objectivo de alcançar os portos do Chile, partindo do arquipélago Juan Fernandez. No entanto, a

Feira ou a Vida Selvagem” da bra. Originalmente, a obra

que retrata a vida de na primeira pessoa do singular, ou seja, o narrador

e eu, Robinson Crusoe, embarco no Virgínia, uma

Fernandez, com o objectivo de navegar cerca de

me como se fosse ontem que parti de York, deixando a minha mulher e dois filhos

Onde estou? Acordei há umas horas atrás no meio de uma praia e não avistei ninguém. Andei um pouco pela praia e vi o Virgínia destruído no meio da areia. Logo me recordei que

embarcação naufragara com a poderosa tempestade que nos atingiu. não os restos da embarcação e os objectos que

A partir de hoje terei de viver sozinho, no meio de uma ilha provavelmente desconhecida.

Não posso continuar assim! Durante estes dias simplesmente me deixei afundar horas a fio

nei toda a ilha destaquei algumas actividades que poderia fazer:

, mas chegarão para ter algo para fazer nesta ilha solitária. osso esquecer de escrever no diário!

Com o calendário e o relógio solar posso controlar melhor os dias, sabendo há quanto

pesca. Também criei

Hoje, os meus próprios olhos assistiram a algo assustador. Não sei bem explicar, mas uns uma fogueira e prepararam um misterioso ritual.

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No final, a líder do grupo apontou para um dos homens e ele foi atirado na fogueira.Escondido e cauteloso, esperei que eles entrassem nos seus barcos e fossemPenso que eles um dia poderão

Quando esse dia chega… Não sei bem como foi, mas os índios voltaram à ilha e repetiram os seus estranhos rituais. Quando um dos homens estava prestes a ser queimado, como aconteceu da última vez, fugiu e veio ter ao meu encontro. Nessa altura, tinha uma arma de fogo e fiz com que os índios, assustados, fugissem de mim.A partir desse momento teria alguém paraCom a sua chegada, teria de lhe ensinar:-a língua inglesa; -os regulamentos que eu próprio inventara;-como cuidar das vegetações e do rebanho;- a vestir-se, visto que andava com um traje reduzido.Teria de ensinar tudo isto ao índio

Depois de ensinar Sexta-Feira…Demorou, mas consegui ensinar o índio e agora ele trata de todas as minhas construções, embora às vezes goste de fazer as coisas à sua maneira.Sinto-me feliz porque pude conviver e ensinar algum do meu conhecimento a alguém.

Num dia de descuido… Hoje aconteceu uma tragédia em Speranza. Eu voltei à gruta onde me escondo quando estou deprimido. Entretanto, Sextaminhas melhores roupas em cactos. Ao fumar, acto que apenas eu fazia ao Domingoincendiou a pequena aldeia pois houve explosões com a pólvora.A partir daí, todos os meus antigos

Algumas semanas depois…Por um lado, a destruição ocorrida foi boa para mim e para Sextalivres das actividades que ocupavam os nossos dias.Sexta-Feira também me ensinouobjectos que Sexta-Feira criou, como a harpa eólica e uma pequena embarcação, ensinaram-me que nem sempre as coisapara o homem.

A chegada do Whitebird…A partir da explosão, ambos somos livres Numa bela tarde, Sexta-Feira avistou uma grande embarcação, e logo me avisou. Ele reconheceu a bandeira inglesa, e aguardou que o navio chegasse a terra.Assim que o navio chegou a terra, o capitão apresentouacontecido ao longo dos anos.Eu recusei a proposta do capitão de voltar com ele e disse que desejFeira na ilha, sabendo que o índio iria ser um escravo se fosse no navio.

De noite… Quando o navio partiu, eu adormeci na minha rede.Por volta da madrugada, acordei e vi que SextaFiquei entristecido de saber que ficaria sozinho de novo e que o índio teria uma vida de escravo. Procurei, mas ele não estava realmente na ilha!Mas encontrei um pequeno rapaz que me serviu o almoço e me explicou que fugira da embarcação. Logo tive um novo amigo com quem mevisto que era Domingo e que era o dia da alegria e das festas.

No final, a líder do grupo apontou para um dos homens e ele foi atirado na fogueira.Escondido e cauteloso, esperei que eles entrassem nos seus barcos e fossemPenso que eles um dia poderão voltar. Vou preparar-me para nova vinda dos índios.

Não sei bem como foi, mas os índios voltaram à ilha e repetiram os seus estranhos rituais. Quando um dos homens estava prestes a ser queimado, como aconteceu da última vez,

r ao meu encontro. Nessa altura, tinha uma arma de fogo e fiz com que os índios, assustados, fugissem de mim.

to teria alguém para conviver e trabalhar. ChameiCom a sua chegada, teria de lhe ensinar:

os regulamentos que eu próprio inventara; cuidar das vegetações e do rebanho;

se, visto que andava com um traje reduzido. ao índio, que me obedecia como sinal de gratidão por o ter salvo.

Feira… Demorou, mas consegui ensinar o índio e agora ele trata de todas as minhas construções, embora às vezes goste de fazer as coisas à sua maneira.

me feliz porque pude conviver e ensinar algum do meu conhecimento a alguém.

Hoje aconteceu uma tragédia em Speranza. Eu voltei à gruta onde me escondo quando estou deprimido. Entretanto, Sexta-Feira deixou os animais, as plantações, enfiou as minhas melhores roupas em cactos. Ao fumar, acto que apenas eu fazia ao Domingoincendiou a pequena aldeia pois houve explosões com a pólvora. A partir daí, todos os meus antigos sonhos foram apagados e a ilha ficou destruída.

Algumas semanas depois… Por um lado, a destruição ocorrida foi boa para mim e para Sexta-Feira, visto quelivres das actividades que ocupavam os nossos dias.

me ensinou métodos simples e divertidos de viver. Os pequenos Feira criou, como a harpa eólica e uma pequena embarcação,

me que nem sempre as coisas inovadoras e avançadas são as melhores soluções

A chegada do Whitebird… A partir da explosão, ambos somos livres e fazemos o que nos bem apetece.

Feira avistou uma grande embarcação, e logo me avisou. Ele reconheceu a bandeira inglesa, e aguardou que o navio chegasse a terra.Assim que o navio chegou a terra, o capitão apresentou-se e disse-me tudo o que havia acontecido ao longo dos anos. Eu recusei a proposta do capitão de voltar com ele e disse que desejaria ficar com SextaFeira na ilha, sabendo que o índio iria ser um escravo se fosse no navio.

Quando o navio partiu, eu adormeci na minha rede. Por volta da madrugada, acordei e vi que Sexta-Feira não se encontrava na ilha.

de saber que ficaria sozinho de novo e que o índio teria uma vida de

Procurei, mas ele não estava realmente na ilha! Mas encontrei um pequeno rapaz que me serviu o almoço e me explicou que fugira da

Logo tive um novo amigo com quem me divertir e conviver. Eu dei-lhe o nome de Domingo, visto que era Domingo e que era o dia da alegria e das festas.

No final, a líder do grupo apontou para um dos homens e ele foi atirado na fogueira. Escondido e cauteloso, esperei que eles entrassem nos seus barcos e fossem embora.

vinda dos índios.

Não sei bem como foi, mas os índios voltaram à ilha e repetiram os seus estranhos rituais. Quando um dos homens estava prestes a ser queimado, como aconteceu da última vez,

r ao meu encontro. Nessa altura, tinha uma arma de fogo e fiz com que os

er e trabalhar. Chamei-o Sexta-Feira.

gratidão por o ter salvo.

Demorou, mas consegui ensinar o índio e agora ele trata de todas as minhas construções,

me feliz porque pude conviver e ensinar algum do meu conhecimento a alguém.

Hoje aconteceu uma tragédia em Speranza. Eu voltei à gruta onde me escondo quando Feira deixou os animais, as plantações, enfiou as

minhas melhores roupas em cactos. Ao fumar, acto que apenas eu fazia ao Domingo,

e a ilha ficou destruída.

Feira, visto que ficamos

métodos simples e divertidos de viver. Os pequenos Feira criou, como a harpa eólica e uma pequena embarcação,

s inovadoras e avançadas são as melhores soluções

e fazemos o que nos bem apetece. Feira avistou uma grande embarcação, e logo me avisou. Ele

reconheceu a bandeira inglesa, e aguardou que o navio chegasse a terra. me tudo o que havia

aria ficar com Sexta-Feira na ilha, sabendo que o índio iria ser um escravo se fosse no navio.

Feira não se encontrava na ilha. de saber que ficaria sozinho de novo e que o índio teria uma vida de

Mas encontrei um pequeno rapaz que me serviu o almoço e me explicou que fugira da

lhe o nome de Domingo,

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CONCLUSÃO

Eu gostei muito de ler este livro, porque transmite uma ideia de poder, de convicção e de força de vontade.

A personagem Robinson Crusoe, embora tenha sentido dificuldades na adaptação ao seu novo método de vida, vai demonstrando, ao longo do livro, que tem força de vontade para conseguir superar os problemas. Como podemos ver no final do livro, Robinson Crusoe adaptou-se e passou a gostar de viver naquela ilha pacífica, longe de todos os problemas do mundo e da civilização na qual anteriormente habitava.

Podemos confirmar isso, pois Robinson Crusoe recusa-se a voltar no navio que por lá passou. Também de sentiu abandonado, pois Sexta-Feira, ao qual tinha salvado, abandonou-o, pensando que aquele navio seria uma rampa de lançamento para uma vida melhor. Robinson, apesar disso, tentou protegê-lo, sabendo que se tornaria um escravo.

No entanto, o menino ao qual chama de Domingo devolveu-lhe toda a felicidade. Robinson Crusoe é uma personagem que seguiu em frente face aos problemas

superando-os e não desistido. É um exemplo a seguir.

LIVRO DOS LIVROS 8: UMA ABELHA NA CHUVA de Carlos de Oliveira Contrato de leitura escrito: Ana Cláudia Proença, nº 2, 10ºB Professora: Nazaré Coimbra, Português Data de edição: Janeiro 2009

Carlos de Oliveira

O AUTOR E A SUA OBRA

Carlos de Oliveira, filho de emigrantes portugueses, nasceu em Belém do Pará, no Brasil, a 10 de Agosto de 1921, crescendo e vivendo lá durante dois anos. Regressa com os seus pais a Portugal, em 1923, e ficam a viver na aldeia de Febres, na região de Cantanhede, onde o seu pai exercia medicina.

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Em 1933, com o intuito de concluir os estudos liceais e universitários, muda-se para Coimbra, onde permanece durante 15 anos. Em 1941, entra para a Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e nesta estabelece amizade, convívio intelectual e solidariedade ideológica e política com os seus colegas, entre os quais Joaquim Namorado, João Cachofel e Fernando Namora, desenvolvendo a sua personalidade e amadurecendo os seus pontos de vista e ideias perante a sociedade.

A sua Licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas termina em 1947, e, no ano seguinte, instala-se definitivamente em Lisboa, apesar de, periodicamente, se deslocar a Coimbra e à Gândara.

Com 28 anos casa com uma jovem madeirense que conhecera na Faculdade, chamada Ângela, que será, durante a sua vida, a sua companheira e colaboradora.

Em 1953, publica o seu quarto romance, Uma Abelha na Chuva, obra em questão neste contrato de leitura. Esta é unanimemente reconhecida como uma das mais importantes obras da literatura portuguesa. A adaptação cinematográfica foi realizada por Fernando Lopes em 1971. No mesmo ano, publica O Aprendiz de Feiticeiro e Entre Duas Memórias, livro de poemas pelo qual recebe, no ano, seguinte, o Prémio de Imprensa.

O seu último romance, Finisterra, de inspiração gandaresa, foi publicado em 1978, que também lhe proporcionou o Prémio Cidade de Lisboa, no ano seguinte.

Conheceu o seu fim em sua casa, em Lisboa, a 1 de Julho de 1981. Poesia

Turismo (1942); Mãe Pobre (1945); Colheita Perdida (1948); Descida aos Infernos (1949); Terra de Harmonia (1950); Cantata (1960); Micropaisagem (1968, 1969); Sobre o Lado Esquerdo, o Lado do Coração (1968, 1969); Entre Duas Memórias (1971); Pastoral (1977).

Romance

Casa na Duna (1943); Alcateia (1944; 1945); Pequenos Burgueses (1948); Uma Abelha na Chuva (1953); Finisterra: paisagem e povoamento (1978).

Crónicas

O Aprendiz de Feiticeiro (1971, 1979). Antologia(1945-1960) Poesias (1962); Trabalho Poético (1976).

UMA ABELHA NA CHUVA, A HISTÓRIA

Tudo começou numa tarde invernosa de Outubro, quando Álvaro Silvestre se deslocou à redacção do jornal Comarca, de Corgos, com o objectivo de publicar a sua confissão referente aos roubos nas feiras e à venda dos pinhais do irmão sem o conhecimento deste. Contudo, a sua mulher, D. Maria dos Prazeres, impediu-o de tal, depois de o encontrar, no escritório do director, e levou-o de novo para casa.

O casamento entre Álvaro Silvestre, um lavrador e comerciante, de uma família burguesa endinheirada, e D. Maria dos Prazeres fora arranjado, pois a família desta, apesar

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de aristocrática, encontrava-se na miséria. Por esta razão, o relacionamento entre os dois sempre se mostrou conflituoso, facto este que se manifestava na falta de filhos do casal.

Depois do jantar, receberam as visitas do padre Abel, a sua irmã D. Violante, a D. Cláudia e o Dr. Neto para o serão do costume. A conversa entre estes sobre a vida e a morte e a incapacidade dos Homens face à morte acabou por fazer com que Álvaro, já embriagado, visse todas as visitas e a própria mulher a arder no Inferno.

Após a saída das visitas, Álvaro releu a carta do seu irmão, há muito desaparecido em África, em que o informava da sua chegada em breve. Arrependido, desesperado e bêbado, destruiu os retratos da família da mulher e tudo que estava no seu caminho, gritando. Acabou por ter de dormir fora do quarto, expulso.

Quando a manhã começou a nascer, Álvaro levantou-se e foi passear. Ao passar pelo curral, encontra Jacinto, o seu cocheiro, e Clara, a filha de António, um oleiro cego, juntos. Descobriu que eram amantes e que a sua mulher, D. Maria, se sentia atraída por Jacinto, ao escutar a conversa entre os dois.

Movido pela vingança decide, então, denunciar o caso ao oleiro. Este, juntamente com o seu ajudante, Marcelo, assassina Jacinto, à noite, antes deste se encontrar com a filha, e lançam-no ao mar. No entanto, são descobertos por Clara, quando esta acorda de manhã, e, posteriormente, condenados pelo crime.

No dia seguinte, depois da morte de Jacinto, Clara suicida-se num poço, não conseguindo ser salva pelo Dr. Neto.

O TEMPO

O tempo cronológico abrange um período desde as 17h de uma quinta-feira de um mês de Outubro até a manhã de Domingo. Como há muitas analepses, devido ao constante refúgio das personagens no passado, o tempo parece muito mais alargado e rico.

O ESPAÇO

A acção decorre no Montouro, na região de Cantanhede, na zona litoral do distrito de Coimbra. Esta região é bem conhecida pelo autor, pois este viveu aí parte da sua vida. Este facto deve-o ter inspirado a escrever este livro.

Esta história, para além do espaço físico, apresenta um forte espaço social, que se exprime pela diferença entre a moribunda aristocracia da província (representada por D. Maria dos Prazeres e a sua família), a burguesia rural (representada por Álvaro Silvestre e a sua família) e o próprio povo.

Há também um espaço psicológico, evidenciado pelos constantes monólogos interiores das personagens, que revelam conflitos vividos por estas na sua consciência.

AS PERSONAGENS

A personagem principal, na minha opinião, é Álvaro Silvestre, pois é aquele que mais se martiriza e desespera, pelos pecados que cometeu e pela culpa que tem da morte de Jacinto. As personagens secundárias são D. Maria dos Prazeres, Jacinto, Clara, padre Abel, D. Violante, mestre António, Marcelo, D. Cláudia e Dr. Neto.

Há um contraste de personagens, a nível de personalidade, de convicções e até de nomes. Por exemplo, há uma grande diferença entre o pequeno e singelo nome de Álvaro Silvestre e o extenso, aristocrático e arrogante nome de D. Maria dos Prazeres Pessoa de Alva Sancho Silvestre.

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A SIMBOLOGIA

O aspecto que mais me cativou na escolha deste livro foi o seu curioso título. Como não havia resumo da sua história em parte alguma, não tinha qualquer indício sobre o seu tema para além do título. De certeza que o livro não trataria, simplesmente, de uma abelha a voar num dia chuvoso, mas talvez de algo adaptado a nós, seres humanos, com um significado semelhante. Sem necessidade de maior incentivo, comecei a ler o livro e, à medida que ia avançando, fui estabelecendo semelhanças.

As abelhas

As abelhas simbolizam a capacidade trabalhadora e eficiente, assegurando a continuidade da espécie através da produção de mel, vivendo numa colmeia, o lar que as protege.

A personagem Dr. Neto, um amante da vida, que possuía grande afeição pelas abelhas, utilizava-as para comparar as pessoas, os factos e situações da vida. Como por exemplo a ponderação sobre a vida e a morte: “Sabe-se que após a fecundação o destino dos machos é a morte. Ora, como fecundar é criar, pergunto eu…”.

Este referiu-se a Álvaro Silvestre e a D. Maria dos Prazeres como “abelhas cegas, obcecadas”, “todos eles fabricam fel” (pág. 170). Disse também que “ele tinha ajudado, anos e anos, aquela obra de pintar, repintar, a colmeia dos Silvestres, sem atender a que lá dentro o enxame apodrecia” (pág. 177/178). Nenhuma abelha cega é útil para uma colmeia, pois não conseguirá produzir mel, ou seja, Álvaro Silvestre e D. Maria dos Prazeres tinham apenas interesses económicos, estando “cegos” para outros interesses da vida. Isto levou-os a roubar “ao balcão, nas feiras, na soldada dos trabalhadores” (pág. 7) e a vender os pinhais do irmão de Silvestre, o Leopoldino, sem o seu conhecimento.

Deste modo, não eram úteis para a sociedade, pois só produziam “fel”, vivendo apenas da aparência e estatuto social. Para além disso, não conseguiam dar continuidade ao nome, já que o casal não teve filhos e o seu quarto era o mais frio da casa. Assim, este casal e o seu grupo social sem futuro simbolizam uma colmeia apodrecida, que produz fel.

Em contraste, estão o casal Jacinto e Clara que, esperando um filho, olham para o futuro com optimismo e com esperança, evocando uma sensação de doçura. Aliás, Jacinto é nome de flor, e Clara “alimentou-se” dele para produzir mel, ou seja, o filho. Ainda se pode evocar também o facto de um zangão, depois de fecundar, acabar por morrer, e Jacinto teve o mesmo destino.

A chuva

A chuva sempre teve um significado de tristeza, nostalgia e, por vezes, quando é mais forte e agressiva, de opressão, de conflito interior e exterior. Na história, a chuva e a água estão presentes nos momentos mais importantes da acção. À medida que o conflito da acção se acentua, a chuva intensifica-se, como por exemplo, quando o mestre António e o Marcelo assassinaram o Jacinto e o levaram para o mar.

A água estava também presente quando Álvaro Silvestre se recordava da fonte dos seus tempos confortáveis de criança, para fugir ao desconfortável presente.

Uma abelha na chuva não consegue sobreviver, se não sair dela ou encontrar um abrigo. Nesta história, houve duas abelhas: Jacinto, que, depois de “fecundar”, morreu e foi atirado para o mar; e Clara, que se suicidou, atirando-se para o poço. Tal como o Dr. Neto referiu: “A abelha foi apanhada pela chuva: vergastadas, impulsos, fios do aguaceiro a enredá-la, golpes de vento a ferirem-lhe o voo. Deu com as asas em terra e uma bátega mais forte espezinhou-a. Arrastou-se no saibro, debateu-se ainda, mas a voragem acabou por levá-la com as folhas mortas.” P. 180. Este excerto que eu escolhi abrange as três últimas frases do livro que, na minha opinião, se adaptam bem ao título, devido à sua simplicidade e aparente independência em relação ao resto da história.

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Assim, a abelha, a que o excerto se refere, tinha saído da colmeia verde que o Dr. Neto possuía. Esta serve como metáfora para o casal Jacinto e Clara, que tinham esperança (verde) no futuro, mas que foram feridos e mortos pela simples e egoísta necessidade de vingança de Álvaro Silvestre e pela intransigência interesseira do pai de Clara.

Este excerto faz-me pensar no que seria da abelha se não estivesse a chover e se lhe tivesse sido dada a oportunidade de viver e continuar a fazer mel. Faz-me ainda lamentar o facto de ela morrer com a esperança ainda cravada no seu coração.

RECOMENDAÇÃO

Este livro é de fácil leitura, apesar dos frequentes monólogos e analepses, que complicam, por vezes, a identificação da personagem em questão. O livro tem 180 páginas, a letra é grande e os capítulos são pequenos. Deste modo, este livro é adequado para leitores relutantes, que têm necessidade de expansão vocabular, pois este livro contém muitos provérbios e expressões populares.

Ler este livro é, também, uma óptima maneira de exercitar a capacidade de relação, de descodificação de metáforas, começando pelo título.

LIVRO DOS LIVROS 9: O PERFUME. HiSTÓRIA DE UM ASSASSINO, Patrick Süskind

Contrato de leitura escrito: Telmo Leal, nº 25, 9ºE Professora: Nazaré Coimbra, Língua Portuguesa Data de edição: Janeiro 2009

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Biobibliografia

Patrick Süskind nasceu dia 26 de Março de 1949 (59 anos) em Ambach am Starnberger See, Munique, na Alemanha, local onde ainda vive. O seu pai era escritor de jornalista. Süskind estudou História Moderna e Medieval na Universidade de Munique.

É dotado de uma contorversidade inigualável e é visto pelos críticos como um criador de histórias e ambientes fenomenal. A maior parte das suas obras são contos, embora tenha escrito, também, novelas, peças de teatro e ensaios.

Süskind raramente aparece em público ou dá entrevistas, preferindo, assim, levar uma vida isolada. No entanto, toda a gente o conhece devido ao seu best-seller O Perfume. Este livro é considerado um dos melhores livros de sempre e já foi galardoado com o Prémio Novela World Fantasy. Já foi, também, editado um filme sobre este livro por Tom Tykwer, em 2006.

Da sua bibliografia constam, também, obras como O Contrabaixo (1981), uma peça de teatro; Um Combate e Outras Histórias (1981); A Pomba (1987), uma novela; A História do Senhor Sommer (1991), também uma novela; Sobre o Amor e a Morte (2006), um ensaio.

Resumo da obra

Patrick Suskind, neste livro, descreve-nos uma estranha história, passada no século XVIII, século em que nasceu e faleceu a personagem principal do livro, Jean Baptiste. Baptiste nascera no meio dos mais nauseabundos fedores, numa banca de peixe. Nesta época, era de notar a falta de higiene e de saneamento. Iria ser morto pela própria mãe, não fosse o facto de ter libertado um grito bastante profundo, mal nascera. Logo que recolheram a criança, Jean foi entregue a uma senhora que cuidava de crianças, mas que era bastante má e cruel. Desde cedo, as crianças e a mulher, notaram que Jean era um bebé bastante especial. Era sem dúvida dotado de uma enorme sensibilidade ao cheiro.

À medida que Jean é descrito, apercebemo-nos que é uma pessoa totalmente diferente, misteriosa, capaz de reconhecer todos os cheiros, todos os odores, capaz de executar os mais belos perfumes, as mais belas combinações de odores. Era também uma pessoa frustrada, pois sentia que a sociedade não lhe dava valor e que não era reconhecido. Mais tarde apercebeu-se que isso acontecera, em parte, devido ao facto de não possuir qualquer odor.

Jean, desde cedo começou a trabalhar. Um dia, o seu chefe, deixou-o ir à cidade. Foi então que aconteceu o primeiro crime. Jean, sentiu um odor magnífico, e seguindo-o, foi ao encontro de uma jovem. Apoderado pelo perfume, matou-a e cheirou-a de modo a nunca se esquecer aquele perfume. Contudo, Jean, com o passar dos tempos, foi-se esquecendo do cheiro da rapariga.

Foi então que decidiu arranjar uma maneira para guardar o odor de certos materiais, de flores, e até mesmo do odor da pele dos corpos humanos. Juntou-se assim a um perfumista, chamado Baldini que lhe ensinou bastante acerca de perfumes e das variadas maneiras de retirar uma fragrância.

Entretanto, o perfumista faleceu, e Jean, farto da sociedade, do barulho e principalmente dos odores, decidiu refugiar-se numa montanha. Foi lá que se apercebeu que não tinha qualquer odor. Era completamente puro. Inquietado com essa ideia, decide voltar à cidade para criar o melhor perfume de sempre, a fragrância maravilhosa, a beleza absoluta. Tendo em vista este objectivo, Jean matou dezenas de mulheres, retirando-lhes o odor das maneiras mais horrendas e monstruosas.

Contudo, para finalizar o seu perfume, faltava-lhe o odor de uma mulher ruiva bastante bela e com um cheiro absolutamente incrível. No final do livro, Jean consegue matá-la e retirar-lhe o cheiro. Com o último ingrediente adquirido, cria então o perfume absoluto.

Por outro lado, a população revoltada decide encontrar o horrendo criminoso. A personagem principal foge da cidade, e por sua culpa, condenaram à morte um homem inocente.

Passados dias, aperceberam-se de que Jean era o verdadeiro culpado. Quando o iam executar, este lançou o seu poderoso perfume e todas as pessoas que estavam perto ficaram possuídas pelo cheiro, mudando completamente as suas atitudes e envolvendo-se sexualmente uns com os outros.

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Jean saiu de Paris e, passado algum tempo, voltou às ruas da cidade, encontrando um grupo de mulheres que o reconheceram. Jean, nesse momento, despejou o resto de perfume que guardara em si e as mulheres possuídas pelo cheiro devoraram-no.

Excerto da Obra

O excerto que escolhi foi: “O mesmo podia afirmar-se em relação aos dez mil homens, mulheres, crianças e velhos que ali se

encontravam reunidos; todos sentiam uma fraqueza idêntica à da jovem que sucumbe ao fascínio do seu apaixonado. Invadiu-os um enorme sentimento de simpatia, de ternura, de um violento e pueril afecto, sim, Deus o sabe, de amor pelo pequeno facínora; e não podiam nem nada queriam fazer contra isso. Assemelhava-se a um desejo de chorar impossível de reprimir, que se reteve durante muito tempo e sobe do mais íntimo, derretendo milagrosamente todos os obstáculos, e inundando e liquidificando tudo. Esta gente dissolvia-se por completo de corpo e alma, apenas sentia dentro dela o coração, semelhante a uma coisa abandonada, que cada um depositava para o melhor e o pior entre as mãos do homenzinho vestido de casaca azul: amavam-no.”

Opinião acerca da obra

Este livro foi, sem sombra de dúvida, um dos melhores que já li. A história é fascinante. Faz-nos entrar num universo de odores extraordinário. Inicia-nos numa

viagem ao mundo das sensações, começa por nos repugnar com o nascimento da personagem. Contudo, deixa-nos maravilhados pelo perfume que exala da sua escrita, simples e coerente.

O único aspecto menos positivo que encontrei, na leitura da obra, foi a descrição de cenas macabras tais como a captura da essência de cheiro a determinados seres (o humano, por exemplo), que poderá chocar os leitores mais sensíveis.

Süskind fez, efectivamente, um bom trabalho, ao descrever-nos o mundo do ponto de vista de um dos nossos sentidos – o olfacto. É, sem dúvida, um livro muito bem conseguido. Não é, de todo, um livro subtil; é um livro agressivo e quase animal, tal como o comportamento da personagem principal.

O final é, claramente, inesperado. Contudo, agora vejo que é o melhor e o único final possível. Aconselho seriamente a leitura deste livro porque embora seja intenso e profundo, é acessível.

LIVRO DOS LIVROS 10: ÁFRICA ACIMA de Gonçalo Cadilhe Contrato de leitura escrito: Maria João Silva, nº 14, 9ºE Professora: Nazaré Coimbra, Língua Portuguesa Data de edição: Janeiro 2009

O AUTOR

Gonçalo Cadilhe é um escritor e jornalista português. Nasceu na Figueira da Foz, em 1968. Licenciado em Gestão de Empresas, abandonou um futuro promissor nesta área para iniciar uma carreira de escritor repleta de novas experiências e novos saberes.

Nos últimos anos, tem colaborado com o Expresso, onde publica crónicas sobre as suas viagens pelo mundo. Escreveu livros baseados em viagens, descritas nas suas crónicas, como, por exemplo, “A Lua pode esperar” (2006) e “ Planisfério Pessoal” (2005).

Cadilhe vive a sua vida de uma forma muito intensa, uma vez que não usa relógio, aproveitando cada minuto da sua existência. Uma das suas paixões é o surf, que pratica sempre que pode.

Em suma, trata-se de um homem corajoso e aventureiro, que tem a escrita como um guia precioso da sua vida.

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RESUMO DA OBRA

África Acima é um conjunto de crónicas que Gonçalo Cadilhe escreveu durante vários meses. Este livro retrata uma viagem a África com um único objectivo: voltar a casa. Inicia esta aventura na Cidade do Cabo e termina-a no Estreito de Gibraltar.

África é um continente único e imprevisível, pois nunca se sabe os que nos espera. A sua viagem traduz-se pela inexistência do transporte aéreo, uma vez que o sujeito de enunciação prefere os transportes públicos degradados pelo tempo, a boleia e mesmo o próprio pé, pois “ voar não é viajar”.

Durante oito meses, Gonçalo Cadilhe passou por vários países, entre eles África do Sul, Namíbia, Botsuana, Zâmbia e Nigéria. O único contratempo foi a difícil obtenção de vistos. Assim, descobriu novos costumes e tradições, novas pessoas e, acima de tudo, percebeu que África, apesar de considerada violenta e pobre, é acolhedora e hospitaleira.

Na sua opinião, as pessoas de África são feitas de valores universais, solidariedade, bom senso, alegria e amizade. Tudo isto ultrapassa a corrupção, a desonestidade e os preconceitos sociais existentes desde a época dos Descobrimentos.

Este é, sem dúvida, um belo retrato de um continente mágico e deslumbrante. RAZÕES DA ESCOLHA DO LIVRO

Eu escolhi este livro porque gosto de livros de viagens, uma vez que nos ajudam a conhecer novas partes do Mundo, sem necessitarmos de fazer qualquer tipo de deslocação.

Contudo, penso que é um livro um pouco maçudo para a minha idade, pois a linguagem e também os conhecimentos que compõem esta obra são extensos. Fora isso, acho o livro interessante, na maneira como nos descreve os contrastes de valores sociais que predominam em África, e também porque um livro de viagens é sempre óptimo para descobrirmos coisas novas.

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LIVRO DOS LIVROS 11: LEITURAS DA MINHA TIA Autora: Natália Costa Texto recolhido por: Marisa Pinto, nº 13, 10ºA Data de edição: Março 2009

O último livro que eu li…

Em Budapeste, uma mulher conta a uma amiga como descobriu o adultério do seu marido. Por outro lado, um homem confessa a um amigo como abandonou a sua mulher por outra, e uma terceira personagem revela ao seu amante como se casou com um homem endinheirado para sair da pobreza. Três vozes, três pontos de vista, três sensibilidades diferentes desvendam uma história de paixão, mentiras e crueldade.

Sandór Márai, A mulher certa, Prólogo

Chamo-me Natália Costa, sou a tia da Marisa e o último livro que li chama-se “A mulher certa”.

Romance da autoria de Sandór Márai, “A mulher certa” conta-nos a história de Marika, Péter e Judit. Quando comecei a ler este livro sabia que falava da história de três personagens, um homem e duas mulheres, que falavam das suas relações amorosas. Li a primeira história, a de Marika, num ápice, e rapidamente fiquei com vontade de passar à segunda história. Pelo que havia lido no prólogo, sabia que o segundo capítulo dava voz a um homem que, uma vez mais, estava ali para nos falar dos seus amores. Iniciei a leitura da história de Péter quando, de repente, percebi que Péter era o marido de Marika, que a havia abandonado para ficar com a mulher que sempre tinha amado. Rapidamente suspeitei que a terceira história devia ser contada por Judit, o terceiro elemento deste complexo triângulo amoroso. Assim, o terceiro capítulo transmite-nos o ponto de vista de Judit, mulher de origem humilde que sempre foi amada por Péter e com quem veio a casar-se, após a sua separação de Marika.

De uma forma muito resumida, estes são os contornos de “A mulher certa”, uma reflexão sobre o amor, a amizade, o ciúme, o desejo e a solidão, que nos permite ter acesso aos diferentes pontos de vista de cada um dos personagens e à forma como cada um constrói e explica a sua história. É incrível a forma como Sandór Márai articula as três perspectivas e possibilita ao leitor a possibilidade de ter acesso à perspectiva de cada uma das personagens e de criar a sua opinião sobre cada um deles, ao deixá-los defender a sua posição e contar a sua versão de uma mesma história.

Conheci Sandór Márai por intermédio de uma amiga que me falou de “As velas ardem até ao fim”, livro também da autoria de Sandór Márai, que já tinha lido antes de ler “A mulher certa”. Em “As velas ardem até ao fim”, Sandór Márai descreve, uma vez mais, um triângulo amoroso em que descreve a história do general, Konrád e Krisztina. Só à medida que vamos lendo vamos percebendo que o general e Konrád representam dois grandes amigos que um dia se afastam, porque um deles descobre que o outro o engana com a sua mulher, Krisztina. Descoberta a traição, Konrád foge, o general e Krisztina continuam a viver na mesma casa sem falar, até que esta acaba por falecer. Passados 40 anos, Konrád volta a casa do general, com quem fala até as velas arderem até ao fim…

Ler “As velas ardem até ao fim”, um verdadeiro tratado sobre a amizade, foi uma experiência muito enriquecedora e que muito me agradou. Assim, foi com grande expectativa que comecei a ler “A mulher certa” e posso assegurar que Sandór Márai não me desiludiu…

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Entre outros escritores de eleição como António Lobo Antunes e Gabriel Garcia Márquez, gosto muito deste autor húngaro, da dimensão trágica que confere às suas obras e das relações intrincadas que estabelece entre as personagens a que dá vida nas suas obras. Neste momento, estou a ler “A herança de Eszter”, o primeiro livro deste autor traduzido para a língua portuguesa, do qual também estou a gostar bastante. Terminando “A herança de Eszter”, de Sandór Márai, só me fica a faltar ler “Os rebeldes”. Já está na estante, ao lado de tantos outros que continuam em fila de espera… LIVRO DOS LIVROS 12: LEITURAS DA MINHA MÃE Entrevistada: Maria João Monteiro Entrevista realizada por: Sónia Monteiro, nº 22, 10ºA Data de edição: Março 2009

Esta entrevista foi realizada no dia 02/01/2009, pela repórter Sónia Monteiro nº22 do 10ºA, a um familiar (mãe). O tema é a leitura e os seus hábitos. A entrevistada tem 41 anos, vive em Custóias e trabalha na Ordem da Trindade, como secretária do administrador. Sónia – Boa tarde. Gostaria de lhe colocar algumas questões sobre leitura, será possível? Maria João – Sim, com muito gosto. S. - Gosta de ler? Tem hábitos de leitura? M.J – Sim, gosto. Através da leitura obtém-se conhecimento, podemos contactar com mundos e realidades diferentes. Embora não tenha tanto tempo disponível como gostaria. S. – Qual é o género literário que prefere? Qual(is) a(s) sua(s) obra(s) preferida(s)? M.J – Gosto mais de romances, mas penso que todos devemos ler um pouco de tudo. Gosto de muitas obras, por isso não consigo escolher a que mais gosto. No entanto, posso dizer que o meu escritor favorito é Eça de Queiroz. S. – Quanto tempo demora, em média, a ler um livro? E que locais prefere? M.J. – Não tenho tempo médio definido. Depende do tempo que tenho disponível e do número de páginas do livro. Aproveito as deslocações que faço no metro, a caminho do emprego para ler, mas o meu local ideal é um sítio calmo e confortável. S. – O que pensa acerca dos jovens de hoje e dos seus hábitos de leitura? M.J. – Penso que os jovens de hoje têm mais projectos escolares que incentivam a leitura, mas, por outro lado, o avanço da tecnologia (computador, televisão, videojogos …) abre caminho a uma diversidade de opções que a maioria deles prefere. S. – Como mãe, incentiva a sua filha a ler? M.J. – Sim, oferecendo-lhe livros e tentando explicar-lhe a importância da leitura, quer a nível pessoal quer a nível profissional. S. – Acha que, em geral, os portugueses lêem bastante ou pelo contrário há cada vez mais, falta de hábitos de leitura e consequentemente falta de cultura? E o que a leva a pensar dessa forma? M.J. – Acho que as pessoas lêem cada vez menos e, por consequência, têm uma maior falta de cultura. Penso que ao ler desenvolvemos competências, tais como a capacidade de interpretação, conseguindo assim reter mais conhecimento. Mas, tal como acontece com os jovens, a televisão veio ocupar o primeiro lugar, destronando a leitura. As pessoas usufruem da televisão de uma forma errada, a meu ver, pois preferem ver telenovelas do que programas educativos e de aprendizagem constante. S.- Obrigada por ter colaborado. Foi um prazer conversar consigo. M.J. – Obrigada, eu gostei imenso e estarei sempre disponível para colaborar.

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LIVRO DOS LIVROS 13: LEITURAS DA MINHA AVÓ Entrevistada: Fernanda Correia Entrevista realizada por: Raquel Patrício, nº 16, 10ºA Data de edição: Março 2009

Esta entrevista foi realizada no dia 1 de Janeiro de 2009, à Sr.ª Fernanda Correia, minha avó, que tem, actualmente, 62 anos, é reformada e tem uma grande paixão pelos seus livros. Com que regularidade costumas ler? Regularmente, costumo ler todos os dias, livros ou a Bíblia. Que géneros de livros preferes? Romances, mas também gosto de ficção. Quais são os escritores que mais aprecias? Tenho muitos. Em primeiro, Miguel Torga ou Gabriel Garcia Marquez, depois Paulo Coelho, António Lobo Antunes, José Saramago e Alberto Moravia. Há algum livro que te tenha marcado mais? Se sim, qual e porquê? Conto da Montanha e Os Novos Contos da Montanha ambos de Miguel Torga, porque neles eram relatadas situações de pessoas do Douro que viviam nas serranias em más condições, o que me ensinou a gostar mais do Douro. Também Cem Anos de Solidão de Gabriel Garcia Marquez, porque é uma obra de ficção muito boa, acho que foi o melhor livro dele. LIVRO DOS LIVROS 14: LEITURAS DA MINHA MÃE Autora: Mãe de Diogo Ribeiro Texto recolhido por: Diogo Ribeiro, nº 8, 10ºA Data de edição: Março 2009

“Quanto melhor for a qualidade da educação, menos importante será o papel da psiquiatria do terceiro milénio”. Augusto Cury

As leituras que eu normalmente faço são leituras de carácter técnico, relacionadas

com a minha profissão, que é fisioterapeuta. Portanto tudo o que seja relacionado com a saúde, eu leio.

Também gosto de estar actualizada, no que respeita aos temas da educação, uma vez que tenho “dois pequenos tiranos” cá em casa.

Um romance que li já há algum tempo e do qual gostei muito foi “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Marquez. Fala-nos das contrariedades e perturbações de uma família e de como esta as conseguiu resolver através do amor.

O livro que neste momento estou a ler é “Pais brilhantes, professores fascinantes” de Augusto Cury. Dá-nos alguma orientação e alguns conselhos, de como educarmos sem sermos tiranos ou permissivos demais.

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LIVRO DOS LIVROS 15: LEITURAS DO MEU PAI Autor: Pai de Hugo Mendes Texto recolhido por: Hugo Mendes, nº 13, 10ºB Data de edição: Março 2009

A leitura foi um hobby muito importante e interessante. Na minha adolescência, passava horas a ler. Gostava de banda desenhada e recordo-

me dos momentos de prazer que vivi, deliciado com as peripécias do avarento Patinhas, dos desajeitados Pateta e Pluto e os outros cómicos personagens. Devorava também as aventuras do Homem de Ferro, do homem nascido noutro planeta – o Super-homem e as agruras do Homem Aranha e do Hulk.

Além de banda desenhada, lia também com muito agrado livros de aventura, quer os tradicionais como a Ilha do Tesouro ou a Viagem ao Centro da Terra, quer as aventuras do Oeste com cowboys e índios, foragidos e pistoleiros.

Recordo também com saudade “Os Cinco” de Enid Blyton! Actualmente, com a azáfama do dia-a-dia, a leitura resume-se ao fim-de-semana.

Todos os fins-de-semana, sem excepção, percorro as páginas do jornal Expresso, com todos os seus cadernos: a política, a economia, a revista única e a revista das artes e cinema. LIVRO DOS LIVROS 16: LEITURAS DA MINHA AVÓ Entrevistada: Fábia Seguro Pereira Entrevista realizada por: Rita Seguro, nº 24, 10ºB Data de edição: Março 2009

Qual é o primeiro livro que se recorda de ter lido? Que idade tinha? “Os Três Porquinhos”. Tinha sete anos. Lembro-me que o recebi no Natal, foi uma prenda do Menino Jesus. Ainda não sabia ler muito bem, mas mal o recebi, fui para um canto da sala e fiquei lá até acabar de o ler. Lembro-me que não percebia algumas palavras, e demorei muito tempo a acabá-lo, mas mesmo assim li-o com muito prazer. Nunca esquecerei as letras grandes e gordas! Actualmente, lê tanto como lia nos tempos da sua infância e juventude? Não, porque infelizmente estou praticamente cega. Mas gostaria muito de ler mais. Embora já me contentasse com o facto de ouvir ler. Na minha juventude, e mesmo depois de casada, lia muito, mas mesmo muito. A qualquer lugar que fosse, levava sempre um livro comigo. Por vezes, passava noites inteiras a ler um livro, e não dormia enquanto não acabasse de o ler. E havia alturas em que lia durante todo o dia. Ia para o parapeito de uma janela, ou até me sentava no chão e criava o meu mundo de leitura, sem ouvir o que me rodeava. Transmiti esse gosto pela leitura para uma das minhas filhas, a Isabel. O meu genro dizia-me para nunca lhe dar um livro antes do jantar, porque a minha filha, tal como eu, lia até acabar o livro, esquecia-se do mundo que estava à volta e o resto da família ficava sem jantar! Pensa que o valor dado aos livros tem vindo a ser modificado? Porquê? Neste momento, penso que as pessoas estão a deixar de ler. Já aparecem gravações de livros. As pessoas já preferem ouvir ler… Penso que apareceram outras atracções substitutas da leitura. A televisão e o computador, por exemplo.

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Qual o livro que mais lhe agradou? Quais os motivos? (Alguma excitação). Não sei, já li tantos, e livros tão bons, que é difícil escolher um… mas talvez o livro “As Mulheres”, porque retrata a vida de diferentes mulheres e a diferença existente entraeelas. Eu gosto muito de ler livros sobre o modo de vida das pessoas. Mas, sobretudo, sobre personalidades importantes. Lembro-me agora que adorei ler os livros sobre Madame Curie ou sobre Pasteur. É da opinião de que hoje em dia a leitura é como que uma obrigação para as crianças e jovens, ou acha que estes lêem por gosto? Ainda há alguns que lêem por gosto, mas a maior parte lê por obrigação. A televisão substituiu os livros. Agora já poucos são os jovens que dedicam tempo livre à leitura, fazem-no quando obrigados, e isso deixa-me um pouco triste… No tempo da minha juventude, eu e as minhas colegas de escola líamos (e estudávamos!) por gosto. Fazíamo-lo porque sabíamos que iríamos ter vantagens no futuro. Agora, os jovens “têm mais que fazer”. Não que queira criticar o vosso modo de vida, pois eu também cometia certos erros. Apenas acho que a leitura era uma vantagem para nós e agora já não acontece com vocês, jovens de hoje. Obrigada, e boas leituras! LIVRO DOS LIVROS 17: LEITURAS DA MINHA MÃE Autora: Ana Carla Relvas Texto recolhido por: Ana Rita Relvas, nº 5, 10ºB Data de edição: Março 2009

Sempre gostei de ler, mas com a falta de tempo nos últimos anos, tirando as habituais

histórias às filhas, já não lia um livro há muito tempo.

Em 2008, o meu vício pela leitura recomeçou com alguns romances de Nicholas

Sparks. Adorei o primeiro livro que li dele. Em “A Alquimia do Amor” nunca vi uma tão total

transmissão de sentimentos e emoções. Bem, não parei mais, entretanto já li "Um

momento inesquecível”, “Juntos ao Luar” e “ Corações em silêncio". Todos os seus

romances têm por base as suas vivências e as dos seus familiares, talvez seja por este

motivo que as emoções estão presentes de forma tão intensa.

Os Livros de Nicholas Sparks elevam-me a um estado de sonho e a um mundo

espiritual imperioso, algo importante para, por momentos, esquecer a dura

realidade. Simplesmente fantástico, quando começo a ler, seja qual for o livro deste ilustre

homem, perco a noção do tempo, não consigo parar. A delicadeza da escrita, a

simplicidade, o sonho, a magia das palavras... simplesmente fenomenal.

Neste momento estou a ler "O Sorriso das Estrelas". Sei que o seu último romance –

“Um Homem com Sorte” - saiu em Novembro, será com certeza o meu próximo livro a ler.

Sempre gostei de romances, foi sem dúvida uma boa escolha, para voltar aos meus hábitos

de leitura…é muito importante, faz bem ao ser humano.

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LIVRO DOS LIVROS 18: LEITURAS DO MEU PAI Autor: Carlos Vilaça Texto recolhido por: Bruno Vilaça, nº 7, 10ºB Data de edição: Março 2009

Eu, Carlos Vilaça, pai de Bruno Vilaça, não sou uma pessoa que costumo ler. Eu sei

que é muito importante ler e sei que toda a gente devia ler mais do que um livro. Eu só estudei até ao 8º ano de escolaridade, se calhar por causa deste aspecto nunca dei tanta importância a leitura…

Gostava de ler mais, mas, por vezes, não tenho muito tempo para o fazer. No meu dia-a-dia costumo ler o «Jornal de Notícias» e todos os fins-de-semana leio a revista «nova gente»

Os livros que eu mais gostava de ler eram os livros com histórias policiais, e livros de informação, como livros sobre a vida na terra e vida animal. LIVRO DOS LIVROS 19: LEITURAS DA MINHA MÃE Autora: Ângela Mathias Texto recolhido por: Camila Uribe, nº 8, 10ºB Data de edição: Março 2009 A colecção da minha infância

Como a minha filha me pediu para contar qual era o livro que mais marcou a minha

infância, veio à minha memória a colecção “Formiguinha”. Era um conjunto de livrinhos

muito pequeninos (aproximadamente 30), que contavam histórias de vários autores tais

como Esopo, Irmão Grimm, Perrault etc. Eu achava muita graça às ilustrações simples e

divertia-me muito a lê-los.

Lembro-me perfeitamente que aguardava ansiosamente a chegada do próximo

número, o qual não me recordo se era semanal ou mensal. Mas tenho bem presente a

felicidade que sentia quando os recebia das mãos da minha mãe. Esta colecção despertou

em mim o gosto por pertencer a clubes de leitura tais como o “Clube do Rato Mickey”,

“Sandokan” e“Tarzan”, dos quais tinha e recebia cadernetas, revistas e brindes.

Outra das coisas que lembro com saudade é de um quartinho onde o meu pai tinha

várias colecções de livros de Emílio Salgari, Selecções do Reader´s Digest, onde eu entrava

com as minhas irmãs e passávamos lá tardes agradáveis e inesquecíveis.

Ainda hoje sinto o cheiro dos livros antigos aí guardados.

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LIVRO DOS LIVROS 20: LEITURAS DA MINHA MÃE Entrevistada: Sandra Silva Entrevista realizada por: Ricardo Silva Tavares, nº 22, 10ºB Data de edição: Março 2009

Esta entrevista foi feita por mim, Ricardo Alexandre da Silva Tavares à minha mãe, Sandra Maria Pinto da Silva desempregada 39 anos, no ambito das suas leituras. Ricardo: - Olá, mãe, eu gostava de te fazer algumas perguntas sobre as tuas leituras em jovem, pode ser? Sandra: - Sim, com certeza. Ricardo: - Eu lembro-me de tu me dizeres que a leitura é muito importante para estimular a mente e que me ia ser muito útil na escola, não é verdade? Sandra:- Sim, é verdade, ainda hoje te digo isso e tu deves ler mais! Ricardo:- Sim, mãe, lembro-me também que me contaste que gostavas muito de ler, não era assim? Sandra:- Sim, quando eu andava na escola tinha um pouco menos da tua idade e lia muito, gostava principalmente dos policiais, envolviam-me de tal maneira na história que, quando pegava no livro tinha de o ler até ao fim, nem que tivesse que ir para a casa de banho lê-lo, coisa que já aconteceu muitas vezes. Ricardo:- Pois essa já não me lembrava. Sandra:- Nós, na minha escola, costumávamos trocar livros e depois discutir sobre eles. Uma vez, a nossa professora até organizou uma actividade de discussão, lembro-me como se fosse hoje. Ricardo:- É uma história muito interessante, obrigado por ne teres ajudado neste trabalho, mãe. Sandra:- De nada, ainda bem que fui útil. LIVRO DOS LIVROS 21: ATÉ AO FIM de Vergílio Ferreira Contrato de leitura escrito: Ricardo Araújo, nº 23, 10ºB Professora: Nazaré Coimbra, Língua Portuguesa Data de edição: Março 2009 Elementos paratextuais

Na capa é indicado o nome do autor, o título do livro, uma imagem alusiva a este e o símbolo e nome da editora. Na lombada, temos novamente o nome do autor, o título do livro e o símbolo da editora. Na contracapa, não há nada a não ser o código de barras. Biobibliografia Vergílio Ferreira nasceu em Melo, no ano de 1916. Passou a sua infância com os parentes maternos, visto que os pais tinham emigrado para os Estados Unidos. Após a instrução primária, foi internado num seminário, mas abandonou-o mais tarde para frequentar o Liceu de Guarda. De seguida, inscreveu-se na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, para seguir o curso de filologia clássica, que concluiria em 1940.

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Iniciou uma carreira como docente e leccionou em diferentes pontos do país, Lisboa, Évora, Faro e Bragança. É conhecido como romancista, escritor e professor, mas foi na escrita onde mais se destacou, realizando várias obras de ficção e ensaios. As suas obras mais destacadas foram as seguintes: “Manhã Submersa”(1953), “Aparição”(1959), “Alegria Breve”(1965), “Até ao Fim”(1987), “Na tua Face”(1993), entre outras. Foi reconhecido com vários prémios, entre os quais o Grande Prémio de Romance e Novela da APE e o prémio Femina. Acabou por falecer no ano de 1996, em Lisboa. Resumo da Obra

A obra começa com a localização das duas personagens principais, Cláudio e Miguel, pai e filho, respectivamente. Estão numa capela, no litoral de Sintra. A história baseia-se no diálogo entre ambos. Cláudio recorda e revela o seu passado ao seu filho que está morto, na capela. O romance desenrola-se através de saltos temporais, não seguindo uma sequência cronológica.

No início da obra, Cláudio lembra-se de quando regressou a casa, para junto dos seus pais. A sua mãe sempre lhe dizia que Deus não existia. Ele queria seguir jornalismo, entrando em conflito com o seu pai. A seguir a essa memória, numa conversa entre Cláudio e Miguel, este diz-lhe que não é filho de ninguém porque os seus pais não o tinham assumido, no momento em que o criaram. Cláudio volta ao passado e relembra momentos com Flora e a sua gravidez. Recorda também Oriana, uma rapariga que para ele possuía algo de imortal, uma beleza intensa. A estes episódios, seguem-se mais recordações e, à medida que a narração avança, é mostrado um lado cruel da vida, visto que Cláudio vai narrando a morte das diferentes personagens. A certo momento, Cláudio conta a Miguel quando, pelo trabalho, visitou V.F. (personagem que representa o autor, Vergílio Ferreira). Não gostava dele, pois era parecido consigo. Ambos tinham o mesmo feitio e modos. Esse V.F. estava a escrever um livro intitulado, Após este momento, Cláudio relembra ainda a altura em que se zangou com Miguel e este saiu de casa, o que descreve mais uma vez, a relação entre pai e filho, presente no livro. Após todo o reviver destas emoções, Cláudio tem “a vida inteira dentro de si”.

Na obra “Até ao Fim” Vergílio Ferreira criou a personagem de acordo com a realidade e explorou a situação. Escolha de um excerto e sua justificação

“ - Mas tu nunca entendeste a tua mãe. - Entendi como? - Nunca te sentiste jornalista como ela julgava. Era demais para ti. Ser

independente. Cortar com todas as submissões. Ser livre como Deus. - Ouve, meu filho. - Não me trates por filho. - Mas se tu o és. Como queres que te trate? - Não sou filho de ninguém. Assumiste-te como pai quando me fizeste? Quem se

sente como pai? - Eu te criei. Eu, afinal. - Quem se sente como pai? Tudo isto é infantil, não é tempo de ser criança. “

Escolhi este excerto porque acho que é essencial para o decorrer do livro. Ele mostra-nos que, apesar de Miguel ser filho de Cláudio, não sente isso. Não o vê como pai, mas sim como alguém que o originou, mas sem o assumir. Acha que ninguém devia ser

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chamado de pai, se acha que o nascimento de um filho se deve a uma obrigação ou a uma questão fisiológica. Isto é bastante importante para a compreensão da história de ambas as personagens, e da relação que têm uma com a outra, visto que a relação entre os dois é muito importante no desenrolar da história. Apreciação da obra e sua recomendação Na minha opinião, a obra está muito bem escrita. Não é utilizada uma linguagem simples, mas sim complexa, misturando adjectivos e figuras de estilo, o que enriquece e muito a obra. Não é um livro fácil de entender, devido às frequentes mudanças temporais e de histórias. De qualquer das maneiras, penso que é um livro muito bom. Mostra-nos um lado real da vida, as mortes e as relações entre as personagens, mas também um lado irreal quando é feita uma comparação dos homens ao que é imortal, como a beleza de Oriana. Por estas razões, acho que qualquer pessoa que goste (ou não) de ler deve procurar este livro, pois é uma obra que nos dá prazer de ler e conquista a nossa mente desde o início. Recomendo sobretudo a quem gosta de romances.