FORMAÇÃO HUMANA NO CURRÍCULO UM PROGRAMA ...approach (DGE, 2017b, p. 6) e da atual legislação...
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F O RMA Ç Ã O H UMAN A N O C U R R Í C U L O :
UM P R O G R AMA P A R A F A Z E R À M E D I D A
NUNO ARCHER D E CARVA LHO [email protected]|ColégioPedroArrupe,Lisboa,Portugal
R E S U M O
Entre2010e2018,noColégioPedroArrupe(CPA),foidesenhadoeimplementadoumprogramadeFormaçãoHumana(FH)paratodososalunosdopré-escolarao12ºano.TendocomopontodepartidaolemadocolégioSeraServir,oprogramatemcomomissãoapromoçãodecompetênciasassociadasàrelaçãodecadapessoaconsigomesma, comos outros e comomundo.O artigo apresenta e explicita as referências, objetivos e ametodologiadoprogramadeFH,relacionando-ocomaEstratégiaNacionaldeCidadania(ENEC)eadisciplinaCidadaniaeDesenvolvimento(DL55/2018).Nofinaléfeitaumabreveapresentaçãodasdiferentespropostasdoprograma.
P A L A V R A S - C H A V E
formaçãohumana;cidadaniaedesenvolvimento;competênciaspessoaisesociais;metodologiasativas.
S ISYPHUS
JOURNAL OF EDUCAT ION
VOLUME 7 , I S SUE 02 , 2019, PP .65-91
DOI:https://doi.org/10.25749/sis.17260
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66 NUNOARCHERDECARVALHO
HUMAN D E V E L O PM E N T I N T H E C U R R I C U L UM :
A P R O G R AM T O C U S T OM I Z E
NUNO ARCHER D E CARVA LHO [email protected]|ColégioPedroArrupe,Lisbon,Portugal
A B S T R A C T
Between2010and2018,attheschoolColégioPedroArrupe(CPA),aHumandevelopmentprogramwasdesignedandimplementedforallstudentsfrompre-schooltotheendofsecondaryschool.Thestartingpointwastheschool moto To be by serving (Ser a Servir), and the program was developed aiming the promotion ofcompetencesimportantfortherelationofeachpersonwithoneself,othersandtheworld.Thearticlepresentsandexplainsthereferences,goalsandmethodologiesoftheprogram,aswellastherelationoftheprogramwiththe Nacional Strategy for Citizenship and the Citizenship and Development Course (DL 55/2018). A briefpresentationoftheproposalsforeachyearisincludedintheend.
K E Y W O R D S
humandevelopment;citizenshipanddevelopment;personalandsocialcompetences;activemethodologies.
S ISYPHUS
JOURNAL OF EDUCAT ION
VOLUME 7 , I S SUE 02 , 2019, PP .65-91
DOI:https://doi.org/10.25749/sis.17260
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Otherarticles
FormaçãoHumananoCurrículo:UmProgramaParaFazeràMedidaNunoArcherdeCarvalho
INTRODUÇÃO
Davocaçãoaformarhomensemulheres“comeparaosoutros”(ICAJE,1994,p.64),capazes de se envolverem na construção domundo do século XXI, surge o Plano deFormaçãoHumana (FH) doColégioPedroArrupe (CPA).OPlanode FH fazparte, emconjunto com o Plano de Pastoral, o Plano Académico e o Plano de Atividades deComplementoCurricular,doprojetocurriculardoCPA(CPA,2017).
EsteartigotemcomoprimeiroobjetivoapresentaroplanodeFHimplementadoaolongo dos últimos oito anos no CPA, dando início a um período de reflexão e dereorganização. O segundo objetivo visa enquadrar as opções do Plano de FormaçãoHumana na recente legislação associada ao Projeto de Autonomia e FlexibilidadeCurricular (DL 55/2018), à oportuna ENEC – Estratégia Nacional de Educação para aCidadania(DGE,2017b)eànovadisciplinadeCD–CidadaniaeDesenvolvimento(DGE,2017c,2018).
ApesardeoplanodeFHincluirumadimensãotransversalàvidadaescola,oartigofocaasuadimensãocurricular,queseexpressanumprogramaparafazeràmedida,compropostasqueabrangemtodososalunosdoCPA,desdeopré-escolar(3anos)atéao12ºano (18 anos). Com este objetivo, o texto organiza-se em seis pontos: (1) oenquadramentodaFHnamissãodaescolaenoprojetodoColégioPedroArrupe;(2)asreferências;(3)osobjetivoseasuaoperacionalização;(4)asopçõesmetodológicas;(5)umabreveapresentaçãodaspropostas;(6)algunscomentáriosfinais.
CONTEXTO : A FH NA EDUCAÇÃO E O DESAF IO DO CPA
Estãoapassaros tempos,antecipadospelovelhoAugustoComte,emquea triologiafundamentalseapresentava formuladanocélebre:“saberparapreverparapoder”.Aessatriologiaumaoutraéchamadaasucederquepoderáserdesignada:“formarparaimaginarparaedificar”.Antunes,2008,p.118
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D E F IN I ÇÕES E D E SAF IO S
O principal desígnio da educação, defendemmuitos autores como Reboul (2000) ouSavater(2007),épermitiracadacriançaejovemviveraplenitudedasuahumanidade.Fruto de várias mudanças, a escola assume hoje um papel sem precedentes nestafinalidade.Uma finalidadeque,noRelatórioDelors (1996),na LBSE - LeideBasesdoSistemadeEnsino(1986,art.º3),napropostadaPedagogiaInaciana(ICAJE,1994,p.13)enoProjetoEducativodoCPA(2017,p.3),seconcretizanodesígniodaformaçãointegralda pessoa humana, abrangendo a sua dimensão física, cognitiva, social, afetiva eespiritual(Delors,1996,p.65).
Adiferençaentreodiscursoeapráticanãodeixadegerarcríticas.Algumasvozes,comoadeSavater(2007),alertamparaovaziodefinalidadesdasatividadeseducativas.GertBiesta (e.g.2009)criticao focoexcessivonaaprendizagem,porvezesentendidacomoumfimenãocomoummeio,quedeveserorientadoparafinscompotencialdeapoiare justificaroquê(conteúdos)eoparaquê(direção)doqueseaprende.Nestedebate,emqueaFHpodedarumcontributovalioso,destaca-seamais-valiadorecentePerfildealunoàsaídadaescolaridadeobrigatória(DGE,2017a),enquantoorientaçãoparaasaprendizagensessenciais(Roldão,Peralta,&Martins,2017)easopçõesdecadaescolanoquadrodeumaprogressivaflexibilidadecurricular(DL55/2018).
Outra questão, centra-se no equilíbrio em educação entre: (a) objetivos queprivilegiam a regulação e a integração (incluindo a capacitação e a certificação), queorientaram parte da construção da escola moderna; (b) objetivos que privilegiam odesenvolvimentodapersonalidade,dosdonsedasaptidõesdecadapessoa,tãocarosaosdireitoshumanos(e.g.Craissatti&King,2007).Procurandoesteequilíbrio,eporqueaCidadaniatendeaprivilegiaroprimeirogrupodeobjetivos,optou-sepeladesignaçãodeFHque,tendocomocentroodesenvolvimentohumano,émaisabrangentedopontodevistadaabordagem(incluindoaCidadania)edasreferênciassocioculturais.
Ligar a FH ao desenvolvimento humano é convocar dois olhares sobre odesenvolvimento.Oprimeiroéumolharmaisamplosobreasnaçõeseascomunidades,quetemporbaseosindicadoresdebem-estarhumano(UN,2016)eremeteparaaEducaçãoparaoDesenvolvimentoeaCidadaniaGlobal(Cardoso,Pereira,&Neves,2016).Osegundoolharfocaoprocessodecrescimentodecadapessoaapartirdeforçaspessoaisedeoportunidadesexistentes no contexto, nomeadamente na escola (Carvalho, 2015) e remete para oDesenvolvimento Pessoal e Social. Por sintonia (e não coincidência), estes dois olhares(centraisnaENECevisíveisnotítulodadisciplinadeCD),sãooeixodoprojetoeducativodoCPAcolocadosemevidêncianolemadaescolaSeraServir.Hoje,ainvestigaçãomostraaexistênciadeumarelaçãodemútuainfluênciaentreodesenvolvimentopessoalesocialeocontributonacomunidade (e.g.Benson&Scales,2014;Lerner&Lerner,2013),de formaespecial,diria,quandoessecontributoécomprometido,generosoeinteligente,comopareceexpressar a associação entre indicadores de desenvolvimento positivomais elevados e ovoluntariadoregular(e.g.Carvalho,2015).
Seavidaéumdom(Francisco,2015),sabemosqueumavidaboa,ondesereserviçoseinterligam(Aristóteles,2009;Ryff&Singer,2008),exigeconstrução.Énestaconstrução,comdesafiosespecíficosassociadosàsdiferentesfasesdonossocrescimentoaolongodavida,que Erik Eriksondestacao contributodas relações comosoutros e o valor dos recursos
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(competências)queapessoapodemobilizarpararesponderaosreptosdecadafasedoseuprópriodesenvolvimento(Newman&Newman,2015).
Neste contexto, amissão da FH no CPA é: Apoiar em cada idade e ao longo daescolaridade, a promoção de atitudes, capacidades e conhecimentos (competências),necessáriasàrelaçãoquecadapessoaéchamadaaconstruirconsigomesma,comosoutrosecomomundo.
Nestemundoglobal,plural,interdependenteeemconstanteerápidamudança,sãomuitos os desafios de Ser a Servir. Três questões, com implicações ao nível dascompetênciasedoscontextoseducativos,surgemnaliteraturadeformatransversal.
A primeira questão é a do sentido. Para Bruno Bettelheim (1999), autor de ApsicanálisedosContosdeFadas,osentidoéamaisnecessáriaedifícilrealizaçãohumana.Sãoosporquêsdanossavida,mas tambémabuscadeumpropósitoou ideal,queaorienteeseja,comodizVascoPintoMagalhães,sj(2005,pp.49-50)“forçainteriordeirmaislonge,denãoparar,sintonizadocomodinamismopositivodavidaparaobjectivospossíveis de serviço e de bem”. Por esta razão, Viktor Frankl (2015), psicoterapeutaaustríacosobreviventeaAuschwitz,defendequeabuscadesentidoéagrande forçamotivadora da pessoa humana, sobrepondo-se ao prazer e ao poder. Também ainvestigação no âmbito do bem-estar e da saúde mental valoriza o sentido face avariáveiscomoaausênciadeproblemasouariqueza(e.g.Peterson&Seligman,2004).Daausênciadesentidosurgeaquepoderáseradoençadoséculo:oaborrecimento,odesânimo,aalienaçãoeaapatiadascriançasejovens(e.g.Csikszentmihalyi,1999).
A segunda questão é a da construção da identidade, isto é, de uma imagemprogressivamente mais integrada e estável (mas não fixa), de si mesmo. RodolfoBohoslavsky,clássicoargentinodaorientaçãovocacional,dizque“paraumadolescente,definirofuturonãoésomentedefiniroquefazer,mas,fundamentalmente,definirquemsere,aomesmotempo,definirquemnãoser” (Dantas&Lima,2017).Erikson (1968,1980) mostra como a identidade se forma a partir de compromissos (com valores,princípios ideológicos,perspetivasvocacionaisesexuais)quepermitemnavegarpelasmiríadesdepossibilidades,propostas,valoresepressõessemperderdevistaoque,parasimesmo,émaisimportante.Porestarazão,alémdaformaçãodaidentidade,levanta-se a questão da sua qualidade (Coatsworth & Sharp, 2013). É neste sentido que oautoconhecimentonãochega.Pajares(2006)alertaparaoriscoatualdacurtaviagemque vai da autorreflexão ao autocentramento, à auto-obsessão e ao egoísmo. Umaidentidadeabertaaosoutroseaomundoconvocaarelaçãocomooutro,nolugardequemsoucapazdemecolocar(alteridade).
A terceira questão diz respeito à necessária construção de um projeto de vida(Carvalho,2012),capazde integrarosentidoea identidade,navidadodia-a-dia,nosseusdesafiosconcretosenasdecisõesqueosprojetamnofuturo.
RobertoCarneiro(2001,p.50)sintetizaoquefoidito,defendendoqueaescoladevedarprioridadeaodesenvolvimentoda“pessoatotal,sujeitodeautonomiaedignidade,portadordeumprojetoúnicoeirrepetíveldevida,membroresponsáveleparticipativonassuascomunidadesdepertença”.
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O P LANO DE FH NO CO L ÉG IO P EDRO ARRUPE
FalardoPlanodeFHimplicadistinguirentreaFH,missãocomumdetodososeducadoresetransversalatodasasrealidades,vivênciasedisciplinasdaescola,eoplanodeFHqueé,nestamissãocomum,umcontributocomplementareespecífico.
O primeiro passo do plano de FH em 2009-2010 foi a seleção, formação eacompanhamentodeumcoordenador comamissãode, no espírito dawhole-schoolapproach (DGE, 2017b, p. 6) e da atual legislação (DL 55/2018, Art. 15.º, N.º 2),desenvolver uma estratégia adaptada ao projeto educativo do CPA, com uma áreatransversalàescolaeoutradecaráctercurricular.
AáreatransversaldoplanodeFH,procurandoenvolvertodaaescola,estáorientadaparaprojetoseatividadesdecarátercolaborativo.Dosváriosprojetosdesenvolvidosaolongodos anos, alguns continuam (e.g. formação no âmbito do voluntariado, associativismo ejustiça ou alguns projetos mais transversais de apoio à Associação de estudantes ou àcomunidade),outrosdeixaramdeserealizar(e.g.projetoFórmuladobemouaparticipaçãono Parlamento dos Jovens) e, outros continuam tendo mudado o papel da FH (e.g.organizaçãodasatividadesdeférias,aCampanhadeAdventohojecoordenadapelaequipadaPastoralouoprojetoExplicartehojelideradopelaAssociaçãodeestudantes).
AáreacurriculardoplanodeFHteveasuagéneseemtrêsmomentosanterioresàaberturadoCPA:(a)leiturasexploratóriaseaidentificaçãodeprofissionaiseinstituiçõeschave;(b)visitaseencontrosexploratórios;(c)encontrosdereflexãoetrabalho.AlémdaprimeiraversãodoplanodeFH,nasceunodecorrerdoprocesso,emsintoniacomarecomendaçãoposteriordaENEC,umgrupodeparceirosdiversificado(Tabela1),queacompanhouoprimeiroanodeimplementaçãodoPlanodeFH.Aolongodosúltimosanos,deformamaisoumenosinformal,foramsurgindonovosparceiros,partedosquaisassociadosàFreguesiadoParquedasNações.
OPlanodeFHtemcomopressupostoinicialumtempoletivosemanalnocurrículodecadaano,comumaduraçãoentre60e90minutos (Figura1).OmesmoacontececomaCidadaniaeDesenvolvimento(DL55/2018)no2ºeno3ºciclo(DL55/2018,AnexoIIeIII),masnãono1ºCEB,ondesereferearealizaçãodeumtrabalhotransversal(DL55/2018,AnexoI),nem no Secundário, onde a decisão fica a cargo da escola (DL55/2018, Art. 15, N.º 4),tendendoparaumaáreadetrabalho“desenvolvidacomocontributodetodasasdisciplinasecomponentesdeformação”(DL55/2018,AnexoVI,VIIeVIII).
Tabela1Listainicialdeinstituiçõesparceiras
ACIDI–AltoComissariadoIntegraçãoeDiálogoInterculturalCAMTIL
AssociaçãoARISCOCVX–ComunidadeVidaCristã
EscolaBásicaIntegradadaApelaçãoFamíliaeSociedade
FundaçãoGonçalodaSilveiraGambozinos
IES–InstitutodeEmpreendedorismoSocialInducar–CooperativanoâmbitodaEducaçãoNãoFormalISU–InstitutodeSolidariedadeeCooperaçãoUniversitária
LeigosparaoDesenvolvimento
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Figura1.MinutossemanaisdaFH(2017-18).
Emsetembrode2010éinauguradooCPAecomeleoPlanodeFH.Teminícioaformaçãodeprofessores,aimplementaçãodepropostaseosencontrosdeacompanhamentoedeavaliação.Aolongodosúltimos8anosoplanofoiavaliado,construído,reconstruídoeconcretizaram-se asdiferentespropostasqueabrangem todosos alunos (Tabela 2) eexigemoenvolvimentodeumagrandeequipa(Tabela3).
Tabela2AFHnoprimeiroanodoCPAeem2017
2010-2011 2017-2018
N.ºAlunos 665 1583
N.ºTurmas 29 65
Horassemanais 42.5 75.25
Professores 29 65
Mestresdejogo 8 16
Diasdeatividadesdeano 9 33
Tabela3Recursoshumanosenvolvidos(2017-18)
EquipadecoordenaçãodoPlanodeFH(2)ProfessoresResponsáveisdeTurma(65)
MestresdeJogo(16)Diretoresdecicloeadministração(6)
Coordenaçãopré-escolaredo1ºciclo(2)GabinetePsicopedagogia(3)
EquipadoPlanodePastoral(2)Parceirosexternos
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A S REFERÊNC IAS : OR I ENTAR A M ISSÃO
Masperderosentidodaprópriamissão…ésercomoosalqueperdeuosabor. Istoéclaroparatodosnós.Arrupe,1982,p.97
Em educação não há conteúdos neutros ou inocentes (Pedro, 2002). Educar, comolembraReboul(1992),implicasempreumareferênciaantropológicaevalorativa.Poristoestepequenoponto,normalmenteomisso,éomaisimportante.Afinal,explicitarcomclarezaasreferênciasqueorientamaseleçãoeaorganizaçãodosconteúdosé,alémdeumaquestãodehonestidade,umaquestãoderesponsabilidade.
Quando ummarinheiro à noite procura as estrelas para se orientar, o valor daestrelaéadireçãoespecíficaqueindica.Éoconhecimentodessadireçãoespecíficaquelhedáapossibilidadedeescolherirounãoirnaqueladireção.Numcéucomestrelascujadireçãoédesconhecidaomarinheiroandaráàderivaeodestinoseráaleatório.Numcéucomestrelascujadireçãoévagaomarinheiroandaráinseguro,àmercêdasdificuldades.Pelamesmarazão,osalunoseassuasfamíliastêmodireitodeesperar,emdisciplinascomoaFHeaCD,ocontactocomreferênciasclaraseconsistentes,querespeitemaliberdadeeaautonomiadecadapessoaparaescolher,contrariandoohomemespumadeManuel Antunes (2008, p. 69): “Ele aí vem. Ligeiro, agitado, caprichoso, vão. Semdensidadeesemespessura.Semraízesesempassado.Nasceuhoje.”
OPerfildeAlunos(DGE,2017a)surgeaestenívelcomoumaesperançacapazdeorientaroidealdaENEC,quandosabemosque“formaçãohumanística”(DGE,2017c,p.2) pode ser muitas coisas e que parte delas, são eticamente, historicamente eculturalmentepoucoconsensuais.Masopróprioperfilémuitoabrangenteeaquestão,na nossa sociedade crescentemente mais plural, mantém-se: Como nos orientamosenquanto educadores e comunidades educativas para aprendizagens consistentes noâmbitodaFHoudaCidadaniaeDesenvolvimento?
A resposta parece ser dada pelo Decreto-Lei 55/ 2018, quando aponta para aespecificidadedecadaescola,doseuprojetoeducativoedasuaestratégiadeEducaçãoparaaCidadania (Art.15,N.º2).NocasodoplanodeFHdoCPA,estaespecificidadeexpressa-se,desde logo,nonomedaárea(FormaçãoHumana),enasreferênciasqueconstituemoseupatrimóniomaisvalioso:ohumanismocristãoePedroArrupe.
HUMAN I SMO CR I S TÃO
OhumanismocristãoencontraemJesusdosEvangelhos,nasuavida,atosepalavras,areferênciaconcretadehumanidade,omodeloencarnadodehomemedemulhereumaorientação ética específica (ética do amor), promotora de realização humana (ICAJE,1994,p.14,2000,pp.24-25).ÉajustificaçãodoversículobíblicoqueservedemoteaoprojetodaFH:“EJesuscresciaemsabedoria,emestaturaeemgraça,diantedeDeusedoshomens”(Bíblia,Lc.,2,p.52).
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NoprojetoeducativodoCPAenoprojetodeFH,ohumanismocristãonãoéumaobrigação,masantesumareferênciaconcreta,istoé,umaluzparaolharohomem,asuadignidade, realização e desenvolvimento e, simultaneamente, uma proposta que nosinterpela.Enquantoreferênciaconcretaeconsistenteohumanismocristãopermite:(a)odiálogocomasprincipais correntesdohumanismo; (b)odiálogocomasdiferentesreligiões; (c) aautonomiaprogressivano sentidoda reflexãoedaaçãomoral faceàsdifíceis questões económicas, ambientais e sociais, de carácter mais pessoal oucomunitário,dopresenteedofuturo(ICAJE,1994,p.15).
Tendocomomandamentos indissociáveisoamoraDeuseoamoraopróximo,ohumanismocristãopropõecomoalternativaàautossuficiênciaefechamentodohomemsobresimesmoo idealdaaberturaaosoutroseao transcendentenaqual, comodizHenrideLubacsj(1958),ohomempodeprocurarasuaprofundidade.
Uma nota obrigatória traça uma linha nítida entre o humanismo cristão, quereconhece que a fé não pode ser imposta (ICAJE, 2000, p. 16) e outras intençõesproselitistas.PedroArrupedefendeariquezadohumanismocristãodizendoque:
Educar de acordo com este modelo de homem é evangelizar, no mais puro e ricosignificado da palavra. E que ninguém se assuste. Porque evangelizar não é imporconvicções(…);nãoécoartarliberdades(…);nãoéfazerproselitismo,masoferecerumavisãodapessoahumanaedouniversoqueenchamdesentidoohomem,ocapacitemparaconstruirummundomaishumanoeocomprometamdefactonasuarealização.(Arrupe,1980,p.1)
P EDRO ARRUPE
AreferênciadePedroArrupe,GeraldaCompanhiadeJesusentre1965e1981,remeteemprimeirolugarparaafiliaçãodoCPAedoPlanodeFHàtradiçãohumana,espiritual,religiosaepedagógicadaCompanhiadeJesus(ICAJE,2000,p.9).Comorigemnavidaena espiritualidade de Inácio de Loiola (1491-1556), sobretudo nos seus ExercíciosEspirituais,aCompanhiadeJesuséumsinalindelévelnahistóriadomundoenahistóriadaeducação.
NoprojetoeducativodoCPAenoPlanodeFH,aPedagogiaInaciana(Klein,2014)ea Companhia de Jesus são simultaneamente sinónimos do património inaciano quequeremos aprofundar e honrar e, pelo discernimento permanente, comunitário euniversal,sinónimosdevisãoedemissão,capazdeorientaranossaaçãoeducativa.
Nesta dinâmica de uma fidelidade aberta e responsiva aos desafios de hoje (afidelidadecriativadePedroArrupe),émuitoforteocontributodeArrupe,comumfocomuitoespecíficonocompromissocomajustiçaquedecorredosgrandesmandamentos“amaraDeuseaopróximo”(ICAJE,1994,p.119),queorientapartedasuaaçãoeque,porsuainfluência,integrahojeamissãodaprópriaCompanhiadeJesus.
No que diz respeito à FH, o compromisso com a justiça possui duas implicaçõespedagógicasdedestaque:(a)educarparaumaconsciênciasocialglobal,introduzindodeforma explícita e de forma consistente com a ENEC (DGE, 2017b) as questões do
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desenvolvimento global (Cardoso, Pereira, & Neves, 2016); (b) educar para a ação,procurando evitar uma escolarização da justiça sem raízes no coração e semconsequênciaspráticas.É importantequeaeducaçãoparaa justiçasefaçaação local(completandoomotepensarglobal,agirlocal)e,quandopossível,tambémaçãoglobal!
OS OB JET IVOS : DESENVOLV IMENTO ATRAVÉS DAS
COMPETÊNC IAS
uma formação plena emais profunda da pessoa humana, um processo educativo deformação que procura a excelência – esforço de superação para realizar aspotencialidadesdecadaum–queabrangeo intelectual,oacadémicoe tudooresto.ICAJE,1994,p.13
Talvezpelas1001maneirasdedefinirobjetivosemeducação,estefoiopontomaisdifícildoplanodeFH.ApropostadeENECérestritaaestenível.Asuapropostaconvidaaterno horizonte os valores e áreas de competências do Perfil de Aluno (DGE, 2017a) eapresentaumconjuntodedomíniosouáreastemáticas(organizadosemtrêsgruposcomníveisdeobrigatoriedadediferentenosváriosciclos),cujosreferenciaisvãopermitiracadaescola,noâmbitodasuaautonomia,selecionareadaptarosconteúdosautilizar(DGE,2017b).
NumcaminhodiferentedoseguidopelaENEC,aoperacionalizaçãodaFH(Figura2)concretizou-se na promoção de competências, entendidas desde o início do projetocomoconjuntodeatitudes,capacidadeseconhecimentos(COE,2016;EU,2007).
Figura2.OperacionalizaçãodoPlanodeFH.
ApesardeserestetambémoentendimentodoatualPerfildeAluno(DGE,2017a)este,provavelmente por razões de abrangência e transversalidade, apresenta as áreas decompetênciaseosseusdescritoresoperativossemespecificarasatitudes,capacidadeseconhecimentosimplicados.Estaidentificação,seleçãoeorganizaçãonumamatrizdeatitudes,capacidadeseconhecimentosadesenvolveremcadaidade,tendoemvistaodesenvolvimento das competências transversais (Tabela 4), foi o grande trabalho e agrandeousadiadoPlanodaFHem2010.
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Sem grande surpresa é possível encontrar na matriz apresentada uma parteimportantedosdomíniosouáreastemáticaspropostaspelaENEC(2017b).Étambémpossível perceber a inspiração dos quatro Cs da excelência humana (competência,consciência, compromisso e compaixão), propostos em 1993 pelo sucessor de PedroArrupe,Peter-HansKolvenbach(SJEducatio,2015).
Tabela4Atitudes,capacidadeseconhecimentos
AtitudesCuidadocomosoutros;Equidadeejustiçasocial;Integridade;Honestidade;Responsabilidade;Prossociabilidade;Altruísmo.
Capacidades Conhecimentos
Intrapessoaisoupessoais(Auto-conhecimentoeauto-gestão):• Identidadepositiva• Locusdecontrolointerno• Gestãodeemoçõesestress• Crescimentopessoalesentidopara
avida
Cidadaniaemundoglobal:
• Direitosedeveres• Pluralidadeeinterculturalidade• Interdependência,desigualdadee
desafiosglobais• Democraciaeparticipação
Interpessoaisousociais(relação,comunicaçãoecooperação):• Comunicaçãointerpessoal• Relacionamentointerpessoal
(amizade)• Cooperaçãoetrabalhoemequipa• Liderança• Empatia• Argumentação(advocacy)• Negociação/gestãodeconflitos
(assertividades)
Pazejustiça
• Educaçãoparaajustiça• Educaçãoparaapaz
Empreendedorismoeconómico/social:
• Planeamentoeprojeto• Economiaegestão• Inovaçãoeiniciativa• Esforço,educaçãoetrabalho• Desenvolvimentovocacional
Autonomia(aprendizagem,iniciativa,reflexão,inovação):• Pensamentocrítico• Criatividadeeinovação• Tomadadedecisãoeresoluçãode
problemas• Iniciativaeauto-mobilização• Literaciainformativaemediática
Saúde:
• Opçõesdevidasaudável• Afetosesexualidade
Ambiente:
• Educaçãoambiental• Estilodevida,consumoeimpacto• Sustentabilidade(dimensão
económica,socialeambiental)
Referências:(a)ProjetoEducativodoCPA;(b)4CsdaExcelênciaHumana(SJEducatio,2015); (c) Life Skills (e.g. Unicef, 2012;WHO, 2009); (d) Partnership for 21st CenturyLearning(e.g.2015);(e)InvestigaçãoBEP-Bem-estarpsicológico(Ryff&Singer,2008);(f)IinvestigaçãoPYD-PositiveYouthDevelopment(Benson&Scales,2014;Lerner&Lerner,2013).
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Emdefesadestaoperacionalizaçãohercúleaepoucoparcimoniosasãoapresentadostrêsargumentos.Oprimeiroéqueascompetênciasnãoseensinam.Comooautorescreveunummanualdeatividadesdegrupo:“talvezsejapossíveltransmitirconhecimentos,masasatitudes(saberser)implicamenvolvimentoetransformaçãopessoal,eascapacidades(saber fazer) implicam oportunidades de treino” (Carvalho, 2017a, p. 13). Esteentendimentodesafia-nosaconvocarnaconstruçãoenaadaptaçãodepropostasestesdiferentes processos. O segundo argumento é a possibilidade de construir para cadaatitude,capacidadeouáreadeconhecimentoumconjuntodeobjetivosespecíficos.Estatarefa,realizadanaconstruçãodoPlanodeFHparaorientaraconstruçãodaspropostas,estáemreorganizaçãoparairaoencontrodasaprendizagensessenciais(AE).Oterceiroargumentodizrespeitoàpossibilidadedetirarpartidodopercursode15anosdosalunosparareforçar,deformacomplementareapropriadaacadaidade,odesenvolvimentodascompetênciastransversais.
A METODOLOG IA : EXPER IÊNC IAS QUE A JUDAMA CRESCER
WhatIhavefoundinmyresearchseemstometospeakinfavorofanactivemethodologyinteaching…thatwhichweallowhimtodiscoverbyhimselfwillremainwithhimvisibleforalltherestofhislifePiaget,1972,citadoemPasaniuc,Seidler,Bosioc,&Nistor,2004,pp.66-67
No que respeita à metodologia, tanto a ENEC como o plano de FH valorizam os“processos vivenciais” (DGE, 2017b, p. 5), as metodologias ativas, a criação de“oportunidadesdedesenvolvimentodecompetênciaspessoaisesociais”(Idem,6)eaintegraçãode“desafiosdavidareal”(DGE,2017b,p.12).Adiferençasurgeaoníveldaexplicitação:Oquesãometodologiasativas?Quaisascondiçõesparaasuautilização?
ParaInáciodeLoiolaaprender,istoé,promoverumamudançananossaformadeconhecer,defazer,deviverjuntosedeser(Delors,1996),éoresultadodeexperimentar,refletireagiracercadaverdade(ICAJE,1994,p.48).ÉforteemInácioaintuiçãosobreopapelcentraldapessoaqueaprende(ICAJE,1994,2000),ovalordodesejonamotivaçãoparaaprender(Lopes,2003)eaimportânciadarelaçãonoprocessodeaprendizagem(ICAJE,1994,2000).UmaintuiçãoqueorientaadefiniçãodastrêsgrandesferramentasdaFHnocurrículo:(a)metodologiasativas;(b)grupo-turma;(c)animação.
SãotrêsferramentasquevalorizamoqueSavater(2007)chamadetraçodistintivode uma aprendizagem humanizadora e que é,mais do que aprender, aprender comoutrossereshumanos,mascujaeficáciaexigequesejamlevadasasério.Exigecombaterumpreconceitoquetendeaacantoná-lasforadotempoletivo,semvaloracadémico,numconjuntoindistintodejogosebrincadeiras,promovidasporeducadorescombaixaformaçãoacadémica.Aformaçãointegraldapessoaque,naexpressãofelizdeJoaquimAzevedo, “mora em cada aluno” (2001, 161), obriga-nos amudar a formadeolhar aaprendizagem,acolocaroalunonocentroeadeixarmosopedestaldaquelequesabeparaaquelequedesafiaeacompanhanaco-construçãodenovossaberes.
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METODOLOG IA S A T I VAS
Asmetodologiasativas,especialmentenoâmbitodaFH,pressupõemduascondições.Aprimeiraéaexistênciadeumcontexto,simultaneamentefísico(espaçoapropriado)erelacional(regraseorganização),quegarantaacoerênciaentreaforma(e.g.sentirquepodedizeroquepensa)eoconteúdo(e.g.liberdadedeexpressão).LuísPinto(2005,p.5)refereque“éhabitualdizer-seque,emeducaçãonão-formal,aformaéconteúdo”,ouseja,queoprocessoconta!Asegundaéopróprioprocesso.Asmetodologiasativas,porquenãosãoumfimemsimesmomasvisamobjetivosdeaprendizagemconcretos,convocam uma pedagogia assente na experiência. Uma pedagogia que encontramossistematizadaemmodeloscomooCiclodeKolbou,nocontextodapedagogiaInaciana,oPPI-ParadigmaPedagógicoInaciano,queatualizaasintuiçõesdeInáciodeLoiolaealonga experiência educativa da Companhia de Jesus (ICAJE, 1994). O PPI parte docontexto e da motivação de cada aluno, para propor uma sequência circular de“experiência–reflexão-ação”(Figura3)queésempreatualizadaporcadaaprendentenoatodeaprender.
Figura3.OPPIeapromoçãodecompetências.
Osdoismodelosenfatizamosvérticesinterdependentesdotriângulodaaprendizagemexperiencial(Trindade,2002):(a)pessoa;(b)experiência;(c)reflexão.
Aoníveldapessoaqueaprendeéevidenteanecessidadedeconsiderarocontexto(realidade e aprendizagens anteriores) e a motivação para se envolver e participar.Porque amotivação não é independente dos conteúdos e dametodologia, pode serestimulada tanto através do desafio, da curiosidade, da imaginação e da autonomia,como pela possibilidade de superação, descoberta e aprendizagens significativas(Palmer,2005).
Noquedizrespeitoàexperiência,InáciodeLoiolavalorizaoenvolvimentocompletoda pessoa, isto é, “mente, coração e vontade”, convocando os “sentidos”, a
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“imaginação”,opassadoeopresente(ICAJE,1994,p.27).Éesteenvolvimentototaleativodapessoanoprocessodeaprendizagemquedefineasmetodologiasativasquetêmcomo objetivo, de forma real ou simulada, colocar a pessoa diante de problemas,desafios ou situações novas (experiências) a partir das quais se podem construiraprendizagens. Destacam-se a este nível as dinâmicas de grupo enquanto atividadescapazes de envolver os alunos emdesafios conjuntos, permitindo-lhes num contextoprotegidoparticipar,experimentar,arriscareaprenderunscomosoutros(e.g.Gomes,2002).
Por último, comoenfatiza aUNESCO (2010), destaca-se a reflexão como vértice-chave,capazdetrazerparacimadamesaoselementosdaexperiência,deosreexaminar,reorganizareconfrontarcomarealidade.Areflexãotemcomoobjetivopromover:(a)oquestionamentocríticodoqueaconteceu(ações,emoções,pensamentoseasrazõesouconsequênciasaelasassociados);(b)aorganizaçãodosvárioselementos;(c)arelaçãocomavidaearealidadedodia-a-dia.
Trêsalertasmerecemmenção.Emprimeirolugarasmetodologiasativasnãosãoumamodaouumantídotoparaafaltademotivaçãooudeparticipação.Oseusucessodependedaescolhadaatividade,dasuaadequaçãoaosobjetivoseaogrupo,dasuapreparaçãoedasuaanimação(Carvalho,2017a).Emsegundolugarsurgeautilizaçãodo lúdicocomoaliado,massemperderdevistaosobjetivosdeaprendizagem,nemficar refémdodivertimento (Gomes,2002)oudanovidade (Palmer,2005).Por fim,umanotapara anecessidadede formaçãoede acompanhamentodosprofessores,garantindomaiorà-vontadenapreparação,animaçãoeconduçãodaspropostasedareflexão(Lopes,2015).
O GRUPO
Éurgentemudaraformadeolharparaogrupo-turma.Porváriasrazões.Aprimeirarazãoé o papel determinante das relações com os outros no nosso desenvolvimentopsicossocial, sendo que estas relações se ampliam como crescimento para incluir osamigose,naadolescência,osgruposdepares(Newman&Newman,2015).Asegundarazão é a intensidade da experiência grupal, com reflexo em todas as dimensões dodesenvolvimento (Slavin, 2002) incluindo o autoconceito, a autoestima e asaprendizagens(Bukowski,2003).Aterceirarazãoprende-secomopotencialdogrupoemgeral,edogrupo-turmaemparticular,enquantocontextosocialprivilegiadoparaoconfronto e a transformação de atitudes, o treino de capacidades e a aquisição deconhecimentos.
O grupo não é uma realidade estática, mas orgânica, que se desenvolve numconjuntodefasescomdesafiosespecíficos(Benson,2010).Ogrupotambémémaisdoque a soma das partes, ou apenas o fruto de uma organização fortuita. Resulta dainteração dos seus membros e da construção de uma realidade específica esupranominal,quemuitasvezesseimpõeatodoseseexpressanumaformaprópriadeagir, de resolver conflitos, de relação e de liderança a que chamamos identidade ouculturadegrupo.
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Asmetodologiasativas,eemespecialasdinâmicasdegrupo,estimulamainteraçãoentreosalunosdaturma,promovemarelaçãoentretodosepermitemoportunidadesdeaprendizagemespecíficas,gerandobenefíciosrecíprocosentreaFHeogrupo-turma(e.g.sentimentodegrupo,confiançaecoesão).
Pelacentralidadedogrupo-turmanaliçãoqueascriançasejovenslevamdaescola,éimportanteinvestirecuidardogrupoeajudarosalunosafazê-lo.Nestecontextoopapel do professor será umas vezes de facilitador (apoiar os processos associados àintegração de novos membros, à definição de regras, à resolução de conflitos, àparticipação, entre outros) e, outras de animador (promover oportunidades eexperiênciasquepermitamoenvolvimentodosmembros).
Oobjetivoéapoiarcadagrupo-turmaparaquepossaserprodutivo(capazdeapoiarcadaumnaprossecuçãodosseusobjetivoseaprendizagens),egratificante(noqualcadaumsesentebemegostadeestar)(Carvalho,2017b;Idáñez,2004),tornando-seumfatordedesenvolvimentopositivoeumvaliosoparpedagógicodoprofessor.
A AN IMAÇÃO
Animarpodetraduzir-sepordaralma.NocontextodaPedagogiaInaciana,amissãoédaralmaaoportunidadesdeprocuradaverdade(ICAJE,1994,48).NocontextodaFHamissãoserádaralmaaoportunidadesdedescobertassobremim,sobreosoutrosesobreomundoondeomeuenvolvimentofazadiferença.Istoimplicaconstruirumambientedelaboratórioondesejapossívelexperimentar,refletireaprender.
Assentenoempenhocomprometidodecadaeducador,aanimaçãonoâmbitodaFHapresentatrêsexigências: (1)envolverosalunosnoprocessodeexperiência-reflexão-ação (Paradigma Pedagógico Inaciano); (2) envolver alunos e convocar a realidade(opiniões,experiênciasevivências);(3)terliberdadeparaadaptaraspropostasàsuavozeàsnecessidadesdogrupo.
Entre várias dificuldades associadas à animação destacam-se duas. A primeirapodeserintroduzidapeloditado“tendemosaensinardaformacomonosensinaram”(Petty,2018),ouseja,aopçãopelomaisconhecidooumaisseguro.AFHobrigaasairdazonadeconfortoe,nessasaída,édeterminanteaformaçãoeoacompanhamentodos professores. A segunda dificuldade é a tentação de orientar o grupo para quedigamoquequeroouvir(Diaz-Aguado,1992).Éprecisodarvozaosalunosacreditandono potencial do processo e do grupo para introduzir e confrontar ideias, refletir echegaraconclusões.
Há, contudo, uma ferramenta de animação infalível. Uma variável-chave noenvolvimento dos alunos na escola, nas aprendizagens em geral e ainda no seudesenvolvimento:arelação.Afinal,comodizumafrasemuitobatida:nãomelembrodoque disseste,mas nuncame esqueci de comome fizeste sentir. A relação educador-aluno, aprofundada no nosso património inaciano como cura personalis, é adisponibilidade para se ser próximo de cada aluno, para ser exemplo, partilhar aexperiênciaeimplicar-sepessoalmentenocrescimentodecadaum(ICAJE,2000,p.19;Klein,2014,p.3),aceitandovincular-se.Osvínculoseducador-alunossão,emsimesmos,experiênciadeFH,bemcomomoteetomparaasrelaçõesentreosmembrosdogrupo.
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O PROGRAMA: PARA FAZER À MED IDA
OPÇÕES OPERAC IONAL I ZAÇÃO
AspropostasdeFH implementadasnosúltimosanostêmcomomissãopromover: (a)contextos positivos de envolvimento e interação; (2) experiências para desenvolvercompetências(construirumsistemapessoaldevaloreseatitudes,treinarcapacidadeseaprofundar conhecimentos); (3) o crescimento do grupo e, através dele, dos seusmembros; (4) referências humanas positivas. Neste sentido algumas opções sãotransversaisatodasaspropostas.
P r o f e s s o r e s R e s p on s á v e i s d e T u rma e a p a r t i c i p a ç ão d e p a r c e i r o s
Desdeoiníciodoprojeto,contrastandocomapropostadeprofessoresespecialistasno2ºeno3ºciclo(DGE,2017b),queoprincipalanimadordaFHemtodososcicloséoPRT–Professor responsáveldeTurma (DiretordeTurma). Sendoumaopçãoexigentedoponto de vista da formação, do acompanhamento e do tempo para preparar osencontros de FH, permite: (a) contrariar a especialização e promover um olharmaistransversaleinterdisciplinarsobreaFH;(b)garantirmaioradaptaçãodaspropostasàsnecessidadesdosalunos/turma;(c)envolveroConselhodeTurma.
OenvolvimentodosPRTnãodeveeclipsaranecessidadedediversidade(olharesevozesdiferentes),atualidadeeprofundidade.Afinal,ninguémsabetudodetudoetodos temos limitesnoquenos sentimos capazesde fazer,bemcomo,no tempoerecursos para aprofundar os temas, identificar e selecionar exemplos atuais erelevanteserefletirsobreamelhorformadeosapresentar.Portudoistoéimportanteincluir,deformaintencionaleparcimoniosa,gratuitamenteouatravésdaprestaçãodeserviços,aparticipaçãodeoutrasvozesinternasouexternasàescola(e.g.jovens,profissionaisouespecialistas).
P r on t o - a - v e s t i r v s . f e i t o à med i d a
InicialmenteaestratégiadeFH,nalinhadosreferenciaistemáticosdaCD(DGE,2017c,2018), assentava na construção de um banco de recursos temáticos que os PRTpudessemutilizar livremente. Várias experiênciasmostraramque esta opção tendepara a realizaçãode atividades dispersas, pouco investidas e pouco valorizadas porprofessores e alunos.Nos EUA,umestudo comparativodeprojetos comcrianças ejovens corrobora esta ideia validando amais-valia deum currículo estruturadoquesirvadereferência(Catalano,Berglund,Ryan,Lonczak,&Hawkins,2004).Aestratégia
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acabou por assentar na construção de um programa com objetivos e atividadesorganizadas ao longo do ano e ao longo dos anos. É uma opção com vantagens –organização, ritmo, planeamento, calendarização, colaboração, valorização dasaprendizagenseumamelhoriadaspropostasaolongodotempo–mastambémlimites– menor flexibilidade, dificuldade em introduzir as questões da direção de turma,propostasmenosfamiliaresparaalgunsprofessores,maiornecessidadedeinvestiremformação,acompanhamentoepreparação.
Operigodeumprogramafechadoeimpressoéatentaçãodeumpronto-a-vestir-tamanho-único.Épreciso lembrarquequalquerreferencialouguiãoé,emsimesmo,geraleabstrato,esóganhavidaquandoadaptadoàrealidadeenecessidadesespecíficasdosalunosoudogrupo.Reforça-seporistooàvontadeporpartedosprofessoresparamexernaspropostase,casosejapossível,mudaremelhoraroqueexiste,paraquesejamcadavezmais,àmedida.
O t o do e a p a r t e
Aconstruçãodaspropostasobedeceuaduaslógicas.Aprimeira,inter-anual,considerouosdesafiosdecadafasedodesenvolvimentoeumconjuntodeaprendizagensparacadaano,comoobjetivodeproporaolongodaescolaridadeumpercursodiversificadodoponto de vista dos objetivos, da estrutura, das atividades, do papel do educador, daparticipaçãodosalunosedaavaliação.Asegundalógica,intra-anual,sobretudoapartirdo2ºciclo,dizrespeitoàadaptaçãodastemáticasedasatividadesaomomentodoanoeaosdesafiosexpectáveisdodesenvolvimentodogrupo-turma(e.g.no iníciodoanoletivoaformaçãodogrupooua integraçãodenovosalunos,oapoioàconstruçãodaidentidade do grupo turma e o desempenho de papéis incluindo a eleição dosrepresentantesdeturma).
Ao contrário da implementação de atividades isoladas, a implementação de umprograma implica a compreensão e a valorização do todo (narrativa, sequência daspropostas,implementaçãodasatividades,reflexãoeavaliaçãodasmesmas,etc…)eumcompromissocomoespíritoealógicadasuaorganização.Talvezporissoosresultadosdo estudo comparativo com projetos juvenis norte-americanos tendem a valorizar afidelidadeeaconsistêncianaimplementaçãodaspropostas(Catalanoetal.,2004).
Poroutrolado,sendoosalunosdesafiadosamergulharemnumapropostaanual,énecessáriogarantirascondições(tempo,acompanhamento,realizaçãodassessões,etc.)paraqueasatividadesaconteçameosalunosseenvolvam.Quandoaimplementaçãoéinconstante,tantodopontodevistadaregularidadecomodametodologia,osalunostendemadesinteressar-seeadesistir.
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Na r r a t i v a s e a t i v i d a d e s d e a no
AdificuldadedeconstruirpropostasparaprogramasdeFHoudeCidadaniadizrespeitoaofactodesetornarem,grandepartedasvezes,experiênciasinconsistentesedispersas,semligaçãoentresi.
Comosabemos,asnarrativastradicionaisnascemdeumdesafioparaoqualoheróisemobiliza. No projeto de FH o objetivo de uma narrativa, comum carátermais oumenos lúdico, é a construção de um contexto que facilite a introdução, acontextualização e a unidade das propostas permitindo: (a) apresentar e justificar osdiferentesdesafiosoutemáticas;(b)mobilizarogrupoparadesafios;(c)enriquecerasexperiências, a reflexão e as aprendizagens; (d) facilitar a avaliação através dareconstrução do percurso feito. Para que sejam úteis as narrativas devem ser bemcompreendidaseintegradaspelosprofessores.
DeformageralaspropostasdeFHnoCPApartemdeumdesafioqueenvolveouculminanumaatividadedeano.Noanoletivo2018-19,comaparticipaçãodadireção,osPRT,osprofessoresdosconselhosdeturma,aequipadaFHeaequipadaPastoral,asatividadesdeanodecorreramao longode38dias,envolvendo1280alunos,180professores e 53 parceiros. Os objetivos destas atividades, sempre associados aodesenvolvimentopessoalesocial,sãosimultaneamentedesíntese(maiorconsciênciado crescimento e das aprendizagens) e de desafio (superação, evidenciandopreparação para avançar), recorrendo frequentemente a atividades ao ar-livre,duranteumoumaisdias.
A a v a l i a ç ão
Tópico de controvérsia, a avaliação da FH começou por incluir em todos os ciclos aatribuição de um nível qualitativo (não satisfaz – satisfaz bem) acompanhado de umcomentário.Estaopçãojustificava-setendoemvistaavalorizaçãodaFHporpartedasfamíliasedosalunos.Contudo,aolongodotempolevantaram-seváriasquestõessobreoâmbitodaavaliaçãoeosignificadodecadanível.UmalunomalcriadocomosauxiliaresdeaçãoeducativasatisfazbememFH?Quemavaliaestasdimensõesexterioresàaula?OquesignificaumalunoternãosatisfazaFH?
O debate reforçou a necessidade de centrar a avaliação nas aprendizagens,garantindo uma maior responsabilização dos alunos pelas mesmas. Caiu o nívelqualitativo(exceçãoparao1ºciclo)edesenhou-seummodeloquealiaàautoavaliaçãoofeedbackdoprofessore,emalgunscasos,doscolegas.Nofinaldoperíodo,cadaalunorevêasaprendizagenseelaboraoseucomentárioidentificandoparaoperíodoseguinteosobjetivospessoaisqueconsideramaisimportanteseosprincipaispassos(pontosdeesforço)paraosatingir.
Comparativamente, a avaliação da disciplina de CD é equiparada às restantesdisciplinas (DL55/2018,Art.28,N.º3),significando:no1ºcicloaatribuiçãodeumnívelqualitativocomumaapreciaçãodescritiva(oqueexisteatualmentenoCPA);no2ºeno3ºciclo,umníveldaescalade1a5;nosecundário,novidadeemrelaçãoàs
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restantesdisciplinas,o registonocertificadodoaluno (DL55/2018,Art.28,N.º4).Contudo,nemnaFH,nemnaCD,oentendimentoem relaçãoàavaliaçãoé claroeexigeummaiordebate.
Outroolharimportanteéaavaliaçãodaeficáciadaspropostasnodesenvolvimentoenascompetênciasdosalunos.Éumtemaqueintegrapartedainvestigaçãodoautor(mestrado e atualmente doutoramento) e que poderá ser útil nas escolas e, emparticular,nasdecisõesemtornodaFHe/oudadisciplinadeCD.
A S D I F ERENTE S PROPOSTAS
Nesteponto,procura-sefazerumabreveapresentaçãodasnovepropostasdaFHqueacompanhamaescolaridadedosalunosdoCPAdos3aos18anos(Tabela5).
Tabela5Atitudes,capacidadeseconhecimentos
Ano Projeto Atividadedeano
Pré-escolar Xaviereosdireitosdacriança Campodeaventuras(2dias)
1ºAnoAsaventurasdoXavier*
OálbumperdidodoPalhinhas(1dia)
2ºAno Umaaventuranaescola(2dias)
3ºAno
AventuranaCidade*
Segredodaamizade(1dia)
4ºAnoMissão“oessencialéinvisívelaosolhos”
(2dias)
5ºAnoEmviagemcomArrupe
1001Surpresas(1dia)
6ºAno Pormareterra(2dias)
7ºAnoEstrelasquebrilham
Umaaventuraexigente(2dias)
8ºAno Liberdadeemcontextoradical(1dia)
9ºAno EscolhercomInácio 24horasdo9ºano(2dias)
10ºAno Justiçaparatodos**Campodescoberta“Quemsomos”(3
dias)
11ºAno Bemcomumemdebate CaminhodeSantiago***(6dias)
12ºAno Anossamarca ComArrupeparaomundo(6dias)
*-ComAssociaçãoARISCO–InstituiçãoparaapromoçãoSocialedaSaúde
**-ComIPAV–InstitutoPadreAntónioVieira
***CoordenadapelaequipadaPastoral
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Xa v i e r e o s D i r e i t o s d a C r i a n ç a ( P r é - e s c o l a r )
OouriçoXavierrecebeuumjogodepresentesobreosdireitosdascrianças.Éomoteparacadacriançadopréescolar,emconjuntocomosamigosdasala,educadoresepais,seenvolvernapesquisaenasgrandesdescobertassobreestesdireitosquetambémsãoosseus.Porquenopré-escolardoCPAassalassãoheterogéneas,istoé,incluemalunosdos3,4e5anos,oprojetoorganiza-senumciclodetrêspropostasanuaisdiferentes.Nofinaldopré-escolarrealiza-seaatividadedeano,queincluidoisdiasemconjuntoparacelebraropercursofeitoecomeçar,comsuavidade,aprepararosgruposparao1ºCEB.
A s a v en t u r a s d o X a v i e r I e I I ( 1 º e 2 º a no )
Estaspropostas,cujoprotagonistaacompanhaosalunosdopré-escolarparaoprimeirociclo, resultam da adaptação do projeto Prevenir em Coleção (Associação ARISCO –InstituiçãoparaapromoçãoSocialedaSaúde).PartindodassituaçõesvividaspeloXaviereosseusamigos,osalunossãodesafiadosaexploraremturma,atravésdedinâmicasdegrupo e várias atividades, diferentes temáticas associadas ao seu crescimento. Paraapoiarodesenvolvimentodoprojetoosalunosvão recebendodoXaviervários sacoscomdiferentesdesafioseoscromosparacompletarumacaderneta.
Aven t u r a n a C i d ad e ( 3 º e 4 º a no )
Com um forte envolvimento por parte dos alunos, a Aventura na Cidade resulta daadaptação ao CPA do projeto da ARISCO que assegura o apoio técnico (formação,acompanhamentoemateriais).AAventuranaCidadeéumjogodepersonagemondecadaaluno é elemesmo (e não umpersonagem fictício) e integra uma equipa de 7 alunos.Mesmosemsairdasala,comumamissãoespecíficaeaajudadeumMestredeJogo,osalunos vão percorrer a cidade e, em cada local, em grupo, enfrentar desafios, tomardecisões,assumirasconsequênciaseconstruirsoluçõesparaserembemsucedidos.
Em v i a g em c om P e r u ( 5 º a no ) e c om o G e r a l ( 6 º a no )
Tendocomoobjetivoapoiaraconstruçãodesentidosereferênciaspositivos,anarrativaéumaviagemnacompanhiadePedroArrupe,permitindoaosalunosconheceremasuavida,relacionarem-secomoseucarismaedeixarem-se interpelarpelassuasatitudes.Em cada paragem da viagem é proposto um desafio (tema), explorado a partir de
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experiênciasconcretas(dinâmicasamaiorpartedasvezesemgrupo),decujareflexãoemergemnovasdescobertaseaprendizagens.
V i d a s q u e b r i l h am ( 7 º e 8 º a no )
AnarrativaVidasquebrilhamutilizano7ºeno8ºanoumconjuntodepersonalidadesreais diversas (do filósofo Sócrates ao alpinista João Garcia), escolhidas porrepresentantes dos departamentos científicos da escola. É em torno destas vidasconcretas(estrelas),cujobrilhocontinuamosapoderver,queseorganizamastemáticas,no7ºanomaisligadasàquestãodamudançae,no8ºano,maisligadasàquestãodaliberdade,exploradasatravésdemetodologiasativassobretudodinâmicasdegrupo.
E s c o l h e r c om I n á c i o ( 9 º a no )
Aspropostasdo9ºano,tendocomobaseaintuiçãoevidadeInáciodeLoiola(mestrena arte do discernimento) e dos seus Exercícios Espirituais, propõem aos alunos umpercurso que integra de forma articulada o discernimento vocacional e a orientaçãoescolareprofissional.Aspropostastêmporbaseotrabalhoconjuntodadireçãodeciclo,dacoordenaçãodaFH,dosPRTsedoGabinetedePsicopedagogia(hojepartedoCAA–CentrodeapoioaoAluno),tendooúltimoumaparticipaçãoecoordenaçãomuitoativa.
J u s t i ç a p a r a t o do s ( 1 0 º a no )
Apassagemdo3ºCiclodoEnsinoBásicoparaoSecundárionãoéautomática.PorestarazãoaspropostasdeFHparao10ºanodividem-seemdoismomentos.Oprimeiroéumcampo de trabalho no início do ano com todos os alunos (CampoDescobertaQuemSomos),commuitasoportunidadesparaaintegração,oconhecimentounsdosoutroseaconstruçãodoqueéseralunodoSecundáriodoCPA.Osegundomomentopropõeaosalunos a participação no projeto Justiça para Todos, coordenado pelo IPAV (InstitutoPadreAntónioVieira)eapoiadopelaAbreuAdvogadosepeloMinistériodaJustiça,eacapacidadedeaprofundarelevarperanteumjuizreal(MockTrial)situações-problemanoâmbitodosdireitoshumanos.
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Bem c omum em d eba t e ( 1 1 º a no )
Valorizando o desenvolvimento do pensamento crítico, criativo e solidário(comprometidocomajustiça),aspropostasdeFHdo11ºanotêmnocentroumtorneiodedebatesinterturmasemqueparticipamtodososalunosdo11ºanoorganizadosemequipas.Alémdasvárias fasesde treino,depreparaçãoede formação (capacitação),destaca-seaexistênciaumregulamentoespecífico,construídoapartirdemodelosmaisadaptados ao secundário (Middle e High School Public Debate Program). A equipavencedoraéconvidadaarepresentaraescolanumTorneioentreescolas(inter-escolas)quetevelugarpelaprimeiraveznoanoletivo2017-2018com4escolasdeLisboa.
A n o s s a ma r c a ( 1 2 º a no )
PorqueolemaSeraservir,maisdoumexercícioteórico,devepôr-se“maisnasobrasdoque nas palavras” (Loiola, 1999), as propostas do 12º ano valorizam a iniciativa e oempreendedorismoassumindocomomoteodesafiode“fazerobem,bemfeito”(reptodeAmadeuPintosj cit.porAPAP,2018)ecomomissão,emparceriacoma JuntadeFreguesiadoParquedasNaçõeseoutrasinstituiçõesdacomunidade,aintervençãoemproblemas específicos de duas áreas geográficas da comunidade com gravesvulnerabilidadessociais.
COMENTÁR IOS F INA I S
Querepercussõespedagógicastemofactodeestabelecermos,comofinalidadedanossaeducação,criarhomensnovos,homensdeserviço?Arrupe,1982,p.199
Osprimeiroscomentáriossãodecaráteravaliativoeevidenciamquatroconvicçõesetrêssinaisdealerta.
A primeira convicção é a importância de um plano que acompanhe o percursoescolardosalunosaolongodaescolaridade,nocasodoCPA,dopré-escolarao12ºano.A existência de um plano deste tipo permite enriquecer o percurso dos alunosidentificando objetivos e oportunidades específicas para cada etapa, organizandointencionalmente os conteúdos e experiências ao longo do tempo (diminuindoredundância e reforçando questões mais importantes), avaliando e melhorando aspropostas ao longo dos anos e envolvendo os professores. Nesta linha destaca-se acrescente tendênciaparaatividadesentrealunosdeciclosdiferentes (e.g.oficinasnopré-escolaranimadasporalunosdo12ºano).
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A segunda convicção é o potencial de complementaridade do projeto e dearticulaçãointerdisciplinardosobjetivos,temáticaseatividadespropostas.
A terceira convicção é a capacidade de concretizar no currículo boas-práticas epráticas inovadoras (e.g. organização da sala, reflexão em plenário, narrativas eintegração das temáticas, estrutura dos encontros com aquecimento, motivação,experiência,reflexãoeavaliação,asexperiênciaspropostaseasuareflexão,opapeldoprofessor,aformadeolharaturma),quetêmemcomumacentralidadedapessoadecadaaluno,aconstruçãoemconjunto(semconteúdosescondidosapriori),orespeitoeaparticipaçãoativadetodos.Oreversoóbviodestaopçãoporpráticasmaisativaséaexigênciadopontodevistadaanimação,aquedevemossomaraexperiênciaque,deanoparaano,osprópriosalunosvãoadquirindoaoníveldametodologia.
A quarta convicção é a riqueza que o projeto introduz na experiência escolar dealunoseprofessores.Éumagranderecompensaouvirosalunosqueestãonaescolahá5,6,7e8anosafalardasexperiênciasedescobertasfeitasnoseupercursonoCPAeperceberque,umaparte,estáassociadaaoPlanodeFH.
Quantoaossinaisdealerta,oprimeirodizrespeitoàduraçãodosencontrosdeFH.Porrazõesmetodológicas(estimularaparticipaçãoegarantiracircularidadeeriquezadareflexão)aduraçãoidealdosencontrosdeFHdeveestarentreos75eos90minutos.Contudo,asopçõesdeorganizaçãodoshoráriostendem,porvezes,aimportemposmaiscurtos que, dessa forma, trazem dificuldades e limitações ao funcionamento e àconcretizaçãodosobjetivos.
Osegundosinaldealertaéadiminuiçãodoinvestimentonaformação,preparaçãoeacompanhamentodosprofessores.Porestarazãonota-seumadiferençaconsiderávelentre:(a)professorescommaisexperiêncianoâmbitodoPlanodeFH–conhecemosobjetivoseastemáticas,percebemasmais-valiasdametodologia,alteramaspropostas,reorganizam-nas e articulam-nas comoutras solicitações; (b) professores commenosexperiência e formação –mais inseguros,menos autónomos,mais frustrados emaistentadosarecorreraestratégiasdeorganizaçãodesalaedegestãodegrupocomquesesentemmaisàvontademasquesão,grandepartedasvezes,menosparticipativas.
Oterceirosinaldealertaéanecessidadedeapoioporpartedasestruturasdiretivas.Um projeto deste tipo exige da escola: (a) flexibilidade para integrar as propostas eatividades num contexto muito sobrecarregado como é o de qualquer escola; (b)planeamentoqueassegureascondiçõesparaarealizaçãodosprojetos;(c)aberturaàcomunidade, estimulando a participação de instituições, especialistas e outrosconsultorescapazesdeimpulsionaraFH.
Em tom de fecho impõem-se dois comentários. O primeiro para sublinhar aimportânciada ENECedadisciplinadeCD, simultaneamenteestímuloe, atravésdosreferenciaisepropostasconcretas,umbomapoio.OsegundocomentárioéumgrandeobrigadoàdireçãodoCPA,aosparceiros,colaboradoreseprofessoresqueajudaramaconstruiroPlanodeFH,eatodososalunosepaisqueacreditamnele.
R EFERÊNC IAS
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*Received:February27,2019
Accepted:May10,2019
Publishedonline:June29,2019