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FORMAÇÃO PERMANENTE: ACREDITAMOS REALMENTE?

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FORMAÇÃO PERMANENTE: ACREDITAMOS REALMENTE?

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AcreditAmos reAlmente?

Amedeo Cencini

Formaçao

permanente

-

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Título do originalFormazione permanente: ci crediamo davvero?ISBN do original 978-88-10-50847-3

© 2011 Centro Editoriale Dehoniano, Bolonha Edição brasileira intermediada pela Agência Literária Eulama

Tradução Pe. José Bortolini

Direção editorialZolferino Tonon

Produção editorialAGWM produções editoriais

Impressão e acabamentoPAULUS

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cencini, Amedeo Formação permanente : acreditamos realmente?Amedeo Cencini ; tradução José Bortolini. — São Paulo : Paulus, 2012.

Título original: Formazione permanente: ci crediamo davvero?

ISBN 978-85-349-3362-9

1. Orientação vocacional 2. Sacerdotes católicos – Formação3. Vocação I. Título. II. Série.

12-05016 CDD-253.2

Índices para catálogo sistemático:

1. Sacerdotes católicos : Formação 253.2

© PAULUS – 2012Rua Francisco Cruz, 22904117-091 – São Paulo (Brasil)Tel.: (11) 5087-3700 – Fax: (11) [email protected]

ISBN 978-85-349-3362-9

1ª- edição, 2012

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Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

Capítulo 1

Rumo a uma cultura da formação permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

1. Cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

1.1. Mentalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

1.2. Sensibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

1.3. Praxe e método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

2. Hoje não há uma cultura da FP . . . . . . . . . . . . . 24

3. Formação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.1. Imitação (de um modelo) . . . . . . . . . . . . . . . 26

3.2. Sequela (numa relação) . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.3. Identificação (com os sentimentos) . . . . . 27

Sumário

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Capítulo 2

Mentalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

1. Teses (e antíteses) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

2. Como uma síntese . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50

Capítulo 3

Sensibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

1. Docibilitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

1.1. Docilitas e docibilitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

1.2. Elementos constitutivos . . . . . . . . . . . . . . . . 57

2. Papel da formação inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

2.1. Objetivo final: a formação à docibilitas . . . 87

2.2. Objetivos intermediários: os elementos constitutivos da docibilitas . . . . . . . . . . . . . 88

Capítulo 4

Praxe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

1. As duas almas da formação contínua: FP ordinária e extraordinária . . . . . . . . . . . . . . . 94

1.1. Agente responsável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

1.2. Referência temporal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96

1.3. Finalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

1.4. Âmbito formativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

1.5. Postura intrapsíquica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

1.6. Conteúdo formativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98

1.7. Mediação humana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100

1.8. Lugar e espaço formativo . . . . . . . . . . . . . . 101

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2. Da FP extraordinária à FP ordinária (e retorno) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

2.1. Criar mentalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106

2.2. Atenção à formação inicial . . . . . . . . . . . . . 107

2.3. Complementaridade entre as duas formações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

2.4. A contribuição específica da FP extraordinária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

3. Algumas indicações operacionais . . . . . . . . . . 110

3.1. Iniciativas habituais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110

3.2. Atividades inovadoras . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

4. Uma experiência concreta . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114

4.1. Contexto bíblico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

4.2. Natureza do tempo sabático . . . . . . . . . . . . 115

4.3. Sentido de uma opção . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

4.4. Características “externas” do projeto . . . 116

4.5. Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

4.6. Método . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

4.7. Conteúdos e experiência . . . . . . . . . . . . . . . 118

4.8. Instrumentos e modalidades várias . . . . . 120

4.9. Alguns testemunhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

5. A comissão para a FP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

5.1. Competências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126

5.2. Passagem histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128

Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

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Este é um daqueles livros – infelizmente bastante raros! – que fazem estremecer. Uma “boa” sacudida em presbíteros,

religiosos(as), leigos consagrados, mas também em nós bispos, rei-tores, pais espirituais, formadores de seminários e noviciados. Em primeiro lugar, por causa da questão capital que enfrenta: a fé. Existe uma res mais urgente e obrigatória nestes nossos tempos nebulosos e resignados, nos quais arriscamos querer caminhar “em baixa voltagem” ou deslizar preguiçosamente em posição stand-by? Não há. Todavia, a fé em questão não é tanto a dos batizados em geral, quanto sobretudo a daqueles “fiéis” chamados por ministé-rio ou pela consagração a ocupar a vanguarda profética do povo de Deus e a ser, em vista da sua “profissão” religiosa, os “profissionais” da própria fé.

A sacudida salutar deste livro vem de longe. Parte do campo da alta tensão, criado por Jesus de Nazaré. Veio acender o fogo da fé

Prefácio

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Formação permanente: acreditamos realmente?

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sobre a terra, mas um dia viu-se obrigado a fazer em voz alta a per-gunta mais desconcertante de todo o Evangelho, a única que perma-nece suspensa no grande vento da história: “Mas o Filho do Homem, quando vier, irá encontrar a fé sobre a terra?” (Lc 18,8).

A ligação entre a fé de sacerdotes e a sua formação permanente (FP) foi expressa com linguagem lúcida e decidida pela Pastores Dabo Vobis (1992), na qual se fala de FP como “contínua conversão” e é indicado o objetivo irrenunciável: “Fazer com que o padre seja um crente e o seja sempre mais: que se veja sempre na sua verdade, com os olhos de Cristo”. Na Itália, por ocasião do jubileu do clero, foi publicada uma carta da CEI sobre a FP dos presbíteros nas nossas Igrejas particulares (2000), na qual se oferecia uma reflexão atualiza-da sobre o tema e se apresentava um projeto orgânico de FP. Mais de dez anos depois podemos perguntar-nos: acaso não é verdade que em muitas partes estamos ainda no ano zero da FP?

Amedeo Cencini não é estreante neste tema. Basta recordar que lhe dedicou pelo menos três estudos, publicados pela editora San Paolo: Il respiro della vita (2002); L’albero della vita (2005); La verità della vita (2007). Porém, este novo livro não tem nada a ver com um compêndio atualizado dos anteriores, nem é um receituá-rio pronto para uso.

Vamos percorrer o traçado. Parte-se da pergunta de fundo: o que se deve entender por FP? A esse respeito, o autor propõe treze teses, todas estruturadas de forma binária, com uma rigorosa pars destruens – inevitavelmente amarga, porém eficaz e benéfica, pois se presta a eliminar equívocos, ilusões, curtos-circuitos – e com uma promissora, porém empenhada pars construens. Por exemplo: a FP não é definida pela extensão no tempo, mas pela intensidade e pro-fundidade de impostação, de intervenções e de recursos utilizados. Não é aquilo que vem depois, mas aquilo que vem antes. Não é a “rodagem” da fase jovem, mas se realiza eventualmente na fase final. Não visa à atualização pastoral, mas à constante revitalização da pes-soa por inteiro. Padre Amedeo ajusta a estocada final na síntese con-clusiva do capítulo, em que talvez poderíamos esperar uma fórmula do tipo: “FP ou deformação permanente”, que, além disso, resultaria

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Prefácio

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no mínimo inócua, por ser um dado de fato óbvio. Em vez disso, Cencini conclui acertando na mosca: ou formação permanente ou frustração permanente! São suas palavras textuais: “Se a existência do padre ou do consagrado não expressa uma vontade constante e efe-tiva de conformação progressiva com a personalidade do Filho, isso cria uma contradição de fundo que quebra a unidade e a harmonia interior do ser humano. E o faz entrar em conflito consigo mesmo, nervoso e furioso, ou deprimido e entediado. De fato, quando o homem se contradiz não pode ser feliz, mas sentirá dentro de si, mais ou menos pesada, uma sensação de desfalecimento pessoal, de falta de clareza naquilo que faz, de ineficácia no seu ministério, de incapacidade em chegar ao coração das pessoas, de tristeza e de sutil depressão. Em síntese, se não se pratica a formação contínua, a vida será contínua frustração”.

É imprescindível criar uma cultura da FP a fim de podermos praticar séria e incisiva FP. Com efeito, tal cultura não existe, como se deduz de dois sinais preocupantes: há quem fica satisfeito com o fato de que já se fale muito e quem, pelo contrário, garante que não só não existe, como nem sequer deva existir, pelo simples motivo de que não há necessidade de modo algum. São dois extremos, é verdade, mas o autor os define sem cerimônias “esplêndido exemplo de anticultura da FP ou de grosseira e petulante ignorância do assun-to”. Uma verdadeira cultura da FP se caracteriza por três dimensões essenciais e integradas: uma dimensão intelectual-cognoscitiva (a FP como mentalidade), uma dimensão emotivo-afetiva (a FP como sen-sibilidade), uma dimensão existencial-metodológica (a FP como praxe concreta ou habitual estilo de vida).

Interessante e amplamente compartilhada a ênfase na docibili-tas, que é “a plena determinação do espírito, típica de quem não fica à espera de ordens que caiam do alto, mas é ele próprio quem toma a iniciativa de sondar na realidade aquela valência e oportunidade formativa de que a própria realidade está sempre repleta, e da qual tem necessidade para seu crescimento”.

Os elementos constitutivos dessa docilidade são assim percorri-dos. Em primeiro lugar, uma responsabilidade pessoal de adulto, de

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quem diz a si mesmo: Eu sou o primeiro responsável por meu cres-cimento, por minha caminhada de formação. Sou chamado a sair do infantilismo e da dependência para tornar-me “adulto”. Trata-se de uma responsabilidade que aceita responder ao amor de Deus na li-berdade de se doar, sem a pretensão da perfeição. Em segundo lugar, a integração da própria vivência. A minha história – do modo como se desenvolveu e como vai se desdobrando, com o bem e o mal, com as feridas do passado e o fardo do presente, sem medo dos possíveis fracassos futuros, porém sabendo aprender da vida, integrando tam-bém as “injustiças” sofridas – esta minha história extremamente pes-soal e ímpar, se vivida na fé, se torna “história sagrada”, sinal e ins-trumento de graça, para purificar as minhas motivações e tornar a minha vocação mais autêntica. Trata-se de uma operação fatigante, porém indispensável, pois aquilo que não é integrado se torna desinte-grador. Outro importante componente da docibilitas é uma boa base educacional-formativa. Trata-se de sensibilidade interior mediante a qual a pessoa se dá conta de que Deus fala mediante aquilo que acontece. É possível aprender a reconhecer a presença do Senhor em qualquer acontecimento, também nos fatos mais tristes e dolorosos, que podem se tornar preciosa “palavra de Deus”, apelo e convite à conversão. Finalmente, elemento fundamental para compreender o conceito de docibilitas é a capacidade de relação com a alteridade. Se aprendemos a vida da vida por toda a vida, então podemos aprender com os outros, com qualquer “outro”. Tanto as situações quanto as relações, lidas e vividas à luz da fé, se tornam “lugar teológico” me-diante o qual acontece o meu crescimento, e eu, perdendo-me evan-gelicamente, me realizo, isto é, me salvo evangelicamente. Assim como padre Milani segredava a um professor: “Quando tiveres per-dido a vida, como eu a perdi atrás de algumas dezenas de criaturas, encontrarás Deus”. Eis o milagre da fé: acreditar que em qualquer situação – até mesmo e sobretudo aquela que me atinge inesperada-mente ou mesmo de maneira hostil, ou que de alguma forma abso-lutamente não me parece a melhor – Deus me fala, me provoca, “me abate e suscita, me angustia e me consola”, me faz crescer “até a es-tatura perfeita”, com a condição de que eu caminhe diante dele, pois

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é ele o “Radicalmente Outro” que vem ao meu encontro, embora quase sempre oculto.

Tudo bem, dirá alguém, mas, em síntese, concretamente, o que devemos/podemos fazer? Nem sequer neste ponto Cencini frustra a mais que legítima expectativa de concretude; todavia, sempre recor-dando que – como repetia com frequência padre Lonergan, citando K. Lewin – “nada há de mais prático do que uma boa teoria”. Motivo pelo qual a concretude do último capítulo só é captada e acolhida se não pularmos os anteriores. A conclusão final do livro é ao mesmo tempo coerente e confiante: a FP é hoje tão urgente quanto o foi a criação dos seminários após o Concílio de Trento.

Antes de deixar ao leitor o prazer (e a “sacudida”!) da surpresa, desejo indicar os três méritos que, em minha opinião, tornam o livro apreciável e amplamente útil. A clareza com a qual consegue diluir os bancos de neblina que neste momento circulam entre nós sobre a ideia de FP. A determinação, compacta e sempre bem argumentada, ao propor um modelo de FP válido, teologicamente fundado e peda-gogicamente sólido. Uma justa dosagem de realismo e de esperança: a severidade do diagnóstico é diretamente proporcional à seriedade da análise e à concreta praticidade da proposta formativa, que se apresenta sustentável e promissora.

Em síntese, o sinal lançado pelo padre Cencini convence: a FP é honesta, mais ainda: generosa. Se a tratarmos bem por aquilo que é, ela nos dará muito mais de quanto nos pede.

Considero que havia necessidade urgente de um livro assim. Tenho certeza de que será útil para muitos. Espero e desejo que dê fruto, muitos frutos.

Francesco Lambiasi Presidente da Comissão Episcopal CEI para o clero

e a vida consagrada

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Normalmente os livros com título em forma de pergunta susci-tam reação ambígua naqueles que os veem nas prateleiras das

livrarias: por um lado, reação de defesa, determinada pela sensação de intromissão indevida na própria vida, por parte de outra pessoa (o escritor), que – dirigindo-se diretamente ao leitor (normalmente sem pedir licença) – dá a impressão de pretender que responda. Por outro, o próprio ponto de interrogação agregado ao título poderia também provocar aceitação diferenciada, e pelo mesmo motivo, justamente porque estimula o leitor a se comprometer e a tomar posição quanto à problemática levantada. É uma espécie de apelo (talvez em primeiro lugar a adquirir o livro), apelo em todo caso muito pessoal, ao qual cada um percebe ter de dar uma resposta igualmente pessoal, não copiada dos outros. Aquele que ele está vendo é um livro para ser lido, mas que o obriga a responder-lhe e talvez também a escrever.

introdução

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Formação permanente: acreditamos realmente?

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Este livro desejaria, obviamente, solicitar sobretudo a segunda reação por parte de cada leitor e, se possível, não somente do leitor individualmente, mas também de realidades comunitárias ou enti-dades ampliadas; ou também somente uma resposta em termos es-senciais, afirmativa ou negativa (melhor ainda se motivada, natural-mente), para nos dizer com clareza se acreditamos ou não na Formação Permanente (FP). E tudo isso a respeito de um tema de importância central como o do crescimento e amadurecimento na vida, seja qual for o próprio estado vocacional, para que seja confor-me ao desígnio estabelecido pelo Eterno a respeito de cada um de nós, na verdade e liberdade.

De fato, a pergunta que serve de subtítulo a este escrito é cumu-lativa e subentende vários outros: em que consiste a FP? Estamos vivendo-a de alguma forma? Simplesmente nos interessa ou a perce-bemos como indispensável? Consideramos que seja possível nas cir-cunstâncias atuais? É possível crescer por toda a vida? Acreditamos nisso como indivíduos e como instituição?1

Em torno dessas perguntas surgem algumas dúvidas que estão na origem da presente reflexão. Não pretendo abordá-las todas e menos ainda tenho a presunção de solucioná-las, mas ao menos im-plicitamente tocaremos todas elas, esperando com isso provocar al-guma resposta ou, antes ainda, alguma dúvida e a seguir, talvez, alguma decisiva resolução. Também para a FP é verdade aquilo que se poderia dizer por outros aspectos da vida de fé neste momento histórico tão crítico e incerto: o que preocupa não é tanto a contração numérica dos efetivos e talvez nem a transgressão de alguém, por mais odiosa e lamentável que possa ser, mas o estilo indiferente de muitos, talvez a maioria, ou aquela alegre mediocridade que dá a im-pressão de ter-se tornado uma espécie de regra comum, de ordo uni-versalis, onde tudo parece sem relevo e sem vida, excessivamente “em ordem” e tranquilo, talvez sem paixões (?), sem dúvida sem paixão (!).

1. Cf. P. Belderraín. ¿Nos interesa de verdad la formación permanente? Madri, 2010. Os dois títulos (o nosso e esse) parecem muito semelhantes, mas na realidade o “acreditamos” – numa realidade como a FP – é muito diferente do fato de sentir interesse por ela, como vere-mos. Substancialmente, todos consideram a FP interessante, mas nem todos acreditam nela.

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Introdução

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Por isso podemos perguntar-nos: acreditamos de fato na FP? Ou é simplesmente uma fórmula a mais para explicar as crises dos pres-bíteros ou dos consagrados de hoje, motivo pelo qual, se tempos atrás se dizia que a culpa era da formação inicial, hoje se tende a dizer que a responsabilidade das crises é da (não) FP? Sentimos a FP como “sério dever moral”, em que está em jogo a fidelidade à vocação para cada um de nós? Ou é apenas – no melhor dos casos – um possível “bom hábito” que de alguma forma deveríamos aprender?2

Estas páginas desejariam, portanto, expor o verdadeiro sentido da FP, a sua razão de ser e função essencial, pois a sensação, hoje, é de estarmos ainda longe de haver compreendido tudo isso. Em ou-tros livros meus analisei e descrevi possíveis aplicações do conceito,3 mas em seguida percebi mais nitidamente, nos vários contatos com o mundo presbiteral e consagrado, também fora da Itália, como a ideia de FP era, e ainda é, vaga e nebulosa, pobre e ambígua, parcial e superficial, associada mais à sociologia do que à teologia... Eis tal-vez a razão pela qual o fato tenha dificuldade em decolar e tornar-se praxe habitual e universal, por mais que se fale. Evidentemente não me iludo que sejam suficientes quatro ideias “claras e distintas” para que isso ocorra, mas me convenço sempre mais da bondade da in-tuição de K. Lewin, com frequência retomada por B. Lonergan, se-gundo o qual não há nada mais prático que uma boa teoria.

Não tenho pretensão nenhuma de construir uma (boa) teoria da FP; quando muito, gostaria de tentar oferecer uma simples con-tribuição para seu esclarecimento na mente e no coração de quem decidiu seguir o Mestre num caminho que jamais se acaba.

2. As expressões entre aspas são de dom Gardin, que numa palestra sobre o tema para reli-giosos (na Argentina) se perguntava – entre outras coisas – se por acaso existe alguém que “se confesse” (também em sentido sacramental) de não cuidar suficientemente da própria formação contínua. Deve-se recordar que dom Gardin, atual bispo de Treviso, foi ministro-geral da sua Ordem (Franciscanos Conventuais) e sobretudo secretário da Congregação para os institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica. Portanto, está falando com notável conhecimento da situação.

3. Cf. A. Cencini. Il respiro della vita. La grazia della formazione permanente. 2ª- ed. Cinisello Balsamo, 2002; idem. L’albero della vita. Verso un modello di formazione iniziale e permanente. 2ª- ed. Cinisello Balsamo, 2005; idem. La verità della vita. Formazione continua della mente del credente. Cinisello Balsamo, 2007.