Formação da identidade da criança negra

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Considerações sobre o texto: “A formação da identidade da criança negra” Adnilson Vaz Lançamos um olhar tímido para a sala de aula, num exercício rápido de observação. Entre carteiras e lápis de cor, desenhos pelo chão e pinturas a dedo, vemos que nem todas as carinhas estão sorridentes ali. Uma hostilidade sutil permeia as relações, como se guerreiros vikings e caçadores núbios travassem uma batalha inútil por supremacia, enquanto dão as mãos e brincam de roda. A menina negra se vê mergulhada nesse universo eurocêntrico e desde cedo entende que as coisas boas e bonitas não combinam com ela. Desde a boneca branca com a qual não se identifica, passando pelas princesas dos contos de fadas, e chegando às modelos loiras das revistas. De repente, a coisa fica “preta”e ela está na lista “negra” de alguém por que tem o “cabelo ruim”. O menino negro está sempre na diretoria, dizem que ele é agitado demais. Os elogios nunca são pra ele, os apelidos sim, apelidos que fazem rir as outras crianças. Aos poucos percebe que as pessoas se afastam dele na rua, trocam de calçada, andam mais rápido. Por fim, muitas destas crianças crescem acreditando que são inferiores, aceitando passivamente o lugar que lhes fora atribuido. Tudo seria diferente, se em seu primeiro espaço de socialização – a escola, aprendessem a vivenciar a beleza das diferenças, construindo uma identidade que valorizasse a importância de todas as culturas, destruindo os conceitos de

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Considerações sobre o a formação da identidade da criança negra no ambiente escolar

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Considerações sobre o texto: “A formação da identidade da criança negra”

Adnilson Vaz

Lançamos um olhar tímido para a sala de aula, num exercício rápido de observação. Entre carteiras e lápis de cor, desenhos pelo chão e pinturas a dedo, vemos que nem todas as carinhas estão sorridentes ali. Uma hostilidade sutil permeia as relações, como se guerreiros vikings e caçadores núbios travassem uma batalha inútil por supremacia, enquanto dão as mãos e brincam de roda.

A menina negra se vê mergulhada nesse universo eurocêntrico e desde cedo entende que as coisas boas e bonitas não combinam com ela. Desde a boneca branca com a qual não se identifica, passando pelas princesas dos contos de fadas, e chegando às modelos loiras das revistas. De repente, a coisa fica “preta”e ela está na lista “negra” de alguém por que tem o “cabelo ruim”.

O menino negro está sempre na diretoria, dizem que ele é agitado demais. Os elogios nunca são pra ele, os apelidos sim, apelidos que fazem rir as outras crianças. Aos poucos percebe que as pessoas se afastam dele na rua, trocam de calçada, andam mais rápido.

Por fim, muitas destas crianças crescem acreditando que são inferiores, aceitando passivamente o lugar que lhes fora atribuido.

Tudo seria diferente, se em seu primeiro espaço de socialização – a escola, aprendessem a vivenciar a beleza das diferenças, construindo uma identidade que valorizasse a importância de todas as culturas, destruindo os conceitos de intolerância, os mesmos que estiveram presentes e que fomentaram praticamente todas as guerras.