Fonologia da língua paresi-haliti: descrição e análise preliminares
Fonologia Da Língua Portuguesa
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Fonologia da Língua Portuguesa
A linguagem é composta de elementos que são significantes, mas ao mesmo tempo não significam nada.
Roman Jakobson1. Fonética, fonologia e fonema
Ao transformar na matéria de que são feitas as palavras, modelando-as e distinguindo-
as, o som vocal migra para o mundo da cultura, que é o verdadeiro mundo dos homens, o
mundo criado pelos homens e no qual o homem se cria.
O estudo fonológico de uma língua engloba duas disciplinas interdependentes: a
Fonética e a Fonologia. As duas estudam a 2ª articulação da linguagem, isto é, o plano da
expressão, o plano sensível da linguagem. Enquanto a 1ª articulação trabalha com as unidades
dotadas de significado – morfemas, palavras e sintagmas – o plano do conteúdo, ou a face
abstrata do sgno linguístico. A 2ª articulação, conforme Martinet, considera as unidades de
valor apenas distintivo: os fonemas que são as menores unidades sonoras que podemos isolar
na cadeia da fala e que servem para distinguir signos. Como os seguimentos fônicos [r] e [t] no
exemplo a seguir, cujos valores distintivos distinguem os signos barata e batata.
ba[r]ata: ba[t]ata
O linguista Courtenay vê o fonema como um som ideal que o falante almeja alcançar
no exercício da fala, na qual realiza sons próximos a esse protótipo idealizado. Em Saussure, o
fonema é uma unidade da língua e sons são unidades da fala. Os sons da fala são ilimitados:
em termos articulatórios e acústicos, podem não ser nunca realizados exatamente iguais, sons
que se diferenciam por meras variações fonéticas (fones ou variantes). Já os fonemas são
poucos e sempre os mesmos. Os sons são variáveis e os fonemas tendem a ser constantes.
Bloomfield definiu o fonema como uma unidade mínima de traço fônico distintivo e
indivisível. Segundo Roman Jakobson, o fonema é a unidade mínima e indivisível da língua,
pois não é suscetível de dissociar-se em unidades menores ou mais simples. Foi ele quem
definiu o fonema como um feixe de traços distintivos, pois são eles unidades opositivas,
relativas e negativas. Finalmente, o fonema é um som que, dentro de um sistema fônico
determinado, tem um valor diferenciador entre dois vocábulos. (Ex.: cela: tela).
Voltando à relação entre Fonética e Fonologia, considera-se que ambas trabalham com
a materialidade acústica do sistema linguístico, entretanto, a realização fônica em si vai
interessar a Fonética, já à Fonologia interessa a oposição dos sons dentro do contexto de uma
língua dada. Enquanto a Fonética estuda os sons como entidades físico-articulatórias isoladas
(fone), a Fonologia irá estudar os sons do ponto de vista funcional como elementos (fonema)
que integram um sistema linguístico determinado. Ou seja, a Fonética é a ciência que trata da
substância da expressão e a fonologia, a forma da expressão.
A Fonologia estuda as diferenças fônicas intencionais e distintivas que se vinculam a
diferenças de significação. Ela procura estabelecer como os fonemas se relacionam entre si,
como elementos de diferenciação, e quais as condições em que se combinam uns com os
outros para formar morfemas, palavras e frases. Assim, o estudo da função linguística do
fonema, isto é, da estruturação dos sons da fala em um sistema de relações opositivas e
combinatórias para a construção dos signos de uma língua compete a Fonologia.
A Fonologia considera as oposições paradigmáticas. (Ex.: pala: bala: mala: fala: vala:
sala: cala: gala etc.) e as combinações sintagmáticas (Ex.: Roma, amor, mora, ramo etc.). Nas
palavras “pata” e “bata”, por exemplo, a diferença entre os segmentos fônicos /p/ e /b/
constitui uma diferença fonológica, pois corresponde a uma diferença no significado das
palavras. Essa função opositiva entre os fonemas é um dos interesses da Fonologia.
Além das funções opositiva e combinatória, os fonemas exercem a função delimitativa
ou demarcativa, isto é, a realização dos traços prosódicos1 da língua, como a intensidade
(tonicidade), os acentos de altura (tom, entonação) e as pausas. Como pode-se ver, por
exemplo, nas palavras: sabiá, sábia e sabia. Aos traços prosódicos dá-se o nome de fonemas
suprassegmentais e às consoantes e vogais, fonemas segmentais.
Sobre a menor unidade do sistema linguístico, é importante considerar:
O fonema não possui um significado em si, mas um valor distintivo e irredutível; A natureza do fonema não permite que ele seja compreendido isoladamente, fora da
cadeia falada ou da cadeia escrita; Há a necessidade de se reconhecer que entre dois ou mais sons há uma relação de
dependência interna; Somente o fato de que hajam dois elementos engendra uma relação e uma regra; A Fonologia circunscreve as possibilidades e fixa as relações constantes dos fonemas
interdependentes.
2. Alfabeto fonológico e Fonemas da Língua Portuguesa
A representação gráfica de um fonema é feita por meio de um alfabeto fonêmico,
como o Alfabeto Fonêmico da IPA (International Phonetics Association), aqui empregado. Um
fonema é apresentado entre barras (/ /). Uma palavra tal qual é pronunciada, portanto um
fone, ou seja, um som é apresentado entre colchetes ([ ]). Entre barras é a representação da
língua e entre colchetes é a representação da fala, da língua como é falada. O sinal ‘ colocado
antes de uma sílaba indica que ela é acentuada.
Há em português, basicamente, duas espécies de fonemas: vogais e consoantes. Esta
distinção baseia-se em dois critérios: o modo de produzir o som (critério articulatório) e a
situação deles na sílaba (critério combinatório).
1 A Prosódia é a parte dos estudos fonológicos que trata do correto conhecimento da sílaba predominante, chamada sílaba tônica.
De acordo com o critério articulatório, chamam-se vogais os fonemas em cuja
produção a onda sonora é modificada na cavidade oral sem que haja obstrução à passagem da
corrente de ar proveniente dos pulmões; e chamam consoantes os fonemas que, ao contrário
das vogais, são produzidos mediante alguma obstrução à passagem da corrente de ar.
Do ponto de vista combinatório, as vogais do português são indispensáveis à existência
da sílaba, podendo constituí-la sem a companhia de consoantes; já as consoantes ‘soam com’
as vogais, só ocorrem na sílaba acompanhando-as. Há ainda em português as semivogais, que
possuem as características articulatórias das vogais (passagem livre de ar) e as características
combinatórias das consoantes (acompanham a vogal na sílaba).
3. Grafemas e Fonemas
É importante não confundirmos o plano sonoro da língua – seus sons, fonemas e
sílabas –, percebidos pelo ouvido, com sua representação na escrita, que inclui sinais gráficos
diversos como letras e traços percebidos pelo olho, os sinais diacríticos (acentos e sinais de
pontuação).2
Acreditar que se possa chegar a um sistema de escrita homogêneo e que reproduza de
forma biunívoca a fala, como solução para problema dos erros ortográficos, é ignorar a
enorme variabilidade do comportamento linguístico e sociocultural.
O ideal seria que cada fonema correspondesse a uma só letra (grafema), e vice-versa,
mas infelizmente não é o que acontece, pois o nosso sistema ortográfico está condicionado à
questões etimológicas, culturais e políticas. Assim, podemos observar na transcrição
fonológica de fonemas portugueses, as seguintes imperfeições:
a) A mesma letra pode representar fonemas diferentes:
exame – ;xale – ; próximo – ; sexo –
cola – ; cela –
b) O mesmo fonema pode ser figurado por letras diferentes:
casa – ; exato – ; cozinha –
c) A letra x pode representar, simultaneamente, dois fonemas, por isso o chamamos de dífano:
taxi –
d) A letra H, às vezes, não representa fonema, mas se mantém em razão da etimologia:
Hotel; Hospital
e) Há pares de letras que representam um único fonema, são os dígrafos.
Consonantais: Chave -; telhado –; exceto –
Vocálicos: Campo -; vento –
4. Comutação
Uma língua comporta um número limitado de fonemas. As relações opositivas e
combinatórias estabelecidas entre os fonemas permitem diferenciar o significado de um
palavra em relação a outra. É pelo método da comutação que se depreendem os fonemas de
uma língua. Basta um traço articulatório diferente para que um som da fala tenha a
potencialidade de modificar uma forma mínima de um vocábulo. As articulações são traços
distintivos de um fonema, e por meio delas se distinguem os fonemas da língua uns dos
outros.
2 Na Gramática Normativa, a parte que trata da correta pronúncia dos fonemas é a Ortoépia ou Ortoepia. A Ortografia, por seu turno, trabalha com grafemas (letras) e com o seu emprego correto – conforme imposições oficiais. A relação entre grafemas e fonemas não é idêntica, por isso os erros ortográficos são frequentes. A escrita não é uma representação fiel da fala, pois, além de questões fonéticas, aspectos etimológicos e culturais contribuem para determinar a maneira como as palavras são grafadas.
A operação de comutação consiste em substituir num vocábulo uma parte fônica por
outra de maneira a obter outro vocábulo da língua. Por exemplo: taba: tapa; fila: vila; faço:
facho. Às essas duplas de palavras dá-se o nome de par mínimo – dois itens lexicais idênticos
que se diferenciam apenas por um elemento da sequência fônica. Quando a diferença de sons
não acontece em função das relações sintagmáticas entre os fonemas vizinhos, dá-se o nome
de par análogo, por exemplo: cinco: zinco; sumir: zunir; sambar: zombar.
5. Alofones
Um fonema pode variar sua realização. Aos vários sons que realizam um mesmo
fonema, damos o nome de variantes ou alofone.
Ao comentarmos as diferenças fonéticas entre ba[r]ata e ba[t]ata, observamos que a
relação entre [r] e [t] é distintiva. No entanto, se compararmos bara[t]a e [t]ia, verificaremos
que a diferença entre o [t] de barata e o [t] de tia não tem o mesmo valor de diferença entre
[r] e [t]. [t] e [t] são unidades diferentes para a Fonética, pois são sons produzidos
diferentemente, mas não corresponde a elemento distintivos no sistema fonológico do
português, porque não estabelecem oposição entre signos. Isto é, em português, [t] é apenas
“outra pronúncia” e, portanto, um alofone do fonema /t/.
6. Arquifonema e Neuralização
Um arquifonema surge como resultado da neutralização da relação distintiva entre
pares de fonemas. O arquifonema resulta da oposição neutralizada. Por exemplo, em porta –
[‘porta] ~ [poRta] há dois fonemas distintos que não interferem no significado da palavra.
Portanto, há a neutralização do arquifonema /R/. Outro exemplo: luz e ás – os fonemas /z/ e
/s/ são neutralizados, prevalecendo o arquifonema /S/.
Deste modo, para representar a neutralização de fonemas, utiliza-se, na transcrição
fonológica, um arquifonema. Um arquifonema é representado com uma letra maiúscula.
/U/ - neutralização entre /o/ e /u/.
/I/ - neutralização entre /i/ e /e/.
/R/ - neutralização entre // e //.
/S/ - neutralização entre /s/, /z/, //, //
/N/ - neutralização entre /M/ e /N/.
/L/ - neutralização entre /L/ e /u/, que, ao acompanhar vogal em sílaba, é
representado por /w/.
7. Processos Fonológicos
A língua não é uniforme em seu uso, pois sobre influências geográficas, sociais,
culturais, econômicas e históricas. Essas variações ocorrem, em destaque, no plano sonoro e
envolvem a realização fonética dos fonemas. As alterações provenientes das relações
sintagmáticas recebem o nome de processos fonológicos.
São basicamente três tipos:
1) Alteração da pronúncia de um fonema por influência do contexto fonológico:
2) Perda de uma unidade fonológica;
3) Surgimento de uma nova unidade fonológica.
7.1. Influência do contexto
a) Harmonização vocálica – O som da vogal tônica se impõe ante as demais.
Processo que torna a altura e timbre das vogais médias /e/ e /o/ pretônicas igual à altura e
timbre da vogal da sílaba tônica: peteca, bodoque.
Ocorre quando a vogal tônica é /u/: costura, coruja, veludo
Vogal tônica é /i/ passa à /i/ ou /u/: crescido, mordida.
b) Vocalização – É a passagem de uma consoante à vogal. Realização do /l/ pós-vocálico como
[w]: papel, lençol, sal
c) Palatalização
7.2. Alterações que consistem na perda de uma unidade fonológica
a) Aférese – Perda de um fonema ou sílaba no início do vocábulo.
Estar, torna-se tá, tô, teve, tava, por está, estou, esteve, estava.
b) Apócope – Queda do fonema no final do vocábulo.
Por exemplo a queda do /R/ em verbos no infinitivo. Olhá, dizê, dá, perde, dormi (por
olhar, dizer, dar perder, dormir).
c) Síncope – Queda de um fonema no interior do vocábulo.
Exemplos: xicra, por xícara; fósfro, por fósforo; abobra, por abóbora.
d) Haplologia – É a supressão de uma sílaba em contato com outra idêntica ou foneticamente
muito parecida. Paralepípedo por paralelepípedo.
Há casos já gramaticalizados como vaidoso (vaidade + oso).
7.3. Alterações que consistem no surgimento de uma unidade fonológica
a) Prótese – É o acréscimo de um poema no início de uma palavra. Por exemplo, as palavras de
origem inglesa sport, por esporte, e snob, por esnobe.
b) Epêntese – É a inserção de um fonema no interior de um vocábulo. Nas palavras advogado,
digno e ritmo, ditas respectivamente como adevogado, diguino, e ritimo.
c) Paragoge – É o acréscimo de um fonema no final da palavra. Por exemplo, o e acrescido ao
final das palavras esnobe e esporte.
d) Metátese – É o deslocamento de fonemas no interior da palavra: tauba, por tábua;
falcudade, por faculdade; vrido, por vidro. A metátese decorre de um perda (síncope)
imediatamente compensada por um acréssimo (epêntese).
Referências
Um fonema pode ser representado por várias letras, assim como uma letra pode representar
vários fonemas.
Fonema /s/ Letra x
Cessão
Seção
Sessão
Essas palavras são homônimas homófonas,
pois têm a mesma pronúncia, mas grafias
diferentes.
Xícara //
Próximo /s/
Exame /z/
Táxi /ks/
Homonímia
Homófona
Homógrafa
Quando formulamos uma regra fonológica, devemos indicar os seguintes elementos: o
que muda (o foco da regra), em que ele se transforma (a mudança estrutural da regra) e em
que situação isso ocorre (o contexto ou descrição estrutural da regra). Podemos ter uma regra
como a seguinte:
A –> B/ C__D. Se a regra se aplica em fronteira de palavra, podemos indicar isso
através da notação #. Exemplo:
Por exemplo [t] –> [ts]/ ___ [i]
Essa regra nos diz que temos dois alofones [t, ts] em distribuição complementar. A
decisãode qual deles é o fonema se baseia na quantidade de contextos de ocorrência. Assim, o
fonema /t/ é realizado como [ts] diante de [i] e como [t] nos demais contextos.
Alteração influenciadas pelo contexto fonológico
c) harmonização vocálica
d) vocalização
e) palatalização
alterações
Relação letra X som
Há casos em que uma letra corresponde a dois sons diferentes