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FOLHETO INFORMATIVO SOBRE CHITA E MABECO EM ANGOLA
Informações Gerais e sobre Conservação de Chita e Mabeco
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Chita – Informações gerais
Características Físicas
A chita é um felino de grande porte, esbelto, com estrutura
esquelética leve, corpo esguio e pernas longas. Possui cabeça
pequena, olhos posicionados na parte superior da face e linhas
lacrimais pretas e distintas, partindo do canto inferior de cada
olho até à boca. O seu pelo é amarelado, salpicado de pontos
negros arredondados.
A chita é o mamífero terrestre mais veloz do Mundo, e o mais
singular e especializado membro da família dos felídeos. Possui
um poder de aceleração espantoso, indo dos 0 aos 96Km/h em
apenas três segundos; em perseguição, pode atingir, por breves
períodos de tempo, velocidades acima dos 100Km/h.
O comprimento total do corpo de um adulto varia de 110 a
150cm e pode pesar entre 35 e 60kg. Ao contrário de outros
membros da família dos felídeos, a chita possui patas estreitas, e
garras semi-retráteis que servem como um par de sapatilhas de
atletismo, provendo tração quando persegue as presas.
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Comportamento e Estrutura social
Em liberdade, a chita pode viver até aos 12 anos de idade. As
fêmeas maturam por volta dos 24 meses, altura em que estão
preparadas para dar à luz a primeira ninhada, tornando-se
solitárias. A época de acasalamento ocorre ao longo do ano,
sendo o período de gestação de 90 a 95 dias e, em média, as
ninhadas podem ter entre 3 e 5 crias (embora já se tenham
registado até 8 crias).
As crias nascem com os pontos negros arredondados
característicos e uma juba prateada que perdem por volta dos 3-4
meses de idade. Durante os primeiros dois meses de vida, a mãe
deixa as crias numa toca quando sai para caçar. As crias de chita
são frequentemente mortas por grandes predadores, tais como,
leão, hiena malhada e leopardo, atingindo taxas de mortalidade
de até 95%. A mãe chita não tem capacidade de defender as crias
destes grandes predadores.
Factos Relevantes - Chita
Classe: Mamífero
Dieta: Carnívoro (consome gazelas entre 15-30kg)
Estado de Conservação: Vulnerável
Tempo médio de vida no estado selvagem: 10 a 12 anos
Comprimento do Adulto: 110 a 150 cm
Peso do Adulto: 35 a 60 kg
Apenas 7,100
chitas existem
no estado
selvagem
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As crias de chita permanecem com a mãe por um período de um
ano e meio até dois anos, após o qual os irmãos formam um
grupo que segue junto por vários meses, até que machos e
fêmeas se separam seguindo o seu próprio caminho.
Os machos de chita são bastante sociáveis (formando grupos que
se denominam por coligações) e ocupam pequenas áreas de
residência, enquanto as fêmeas são solitárias e ocupam
territórios vastos. As fêmeas podem circular pelos vários
territórios dos machos ao longo do ano, sendo altamente
promíscuas, o que pode resultar em ninhadas com crias de
diferentes pais. O sistema social da chita, com fêmeas solitárias e
machos sociáveis, é singular entre os felídeos.
Habitat e Dieta
As chitas são generalistas no que diz respeito ao habitat,
podendo ser encontradas em diferentes biótopos, tais como,
pradaria, mata seca, savana africana, semiárido e mata cerrada. A
escolha do habitat é geralmente determinada pela
disponibilidade de presas e ausência de outros grandes
predadores.
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As chitas são animais diurnos, caçando durante o dia. Os adultos
consomem essencialmente antílopes de porte médio (15-30Kg)
mas pequenos animais, como pássaros e coelhos, formam uma
parte importante da dieta. Contrariamente a outros predadores
africanos, as chitas raramente se alimentam de carcaças e não
permanecem muito tempo com as presas, sendo estas muitas
vezes roubadas por outros carnívoros. As chitas apenas precisam
beber água a cada três ou quatro dias.
Distribuição das Chitas e Estado de Conservação
As chitas desapareceram de vastas áreas que faziam parte da sua
distribuição histórica. Em África, ainda ocorrem em territórios
extensos, mas esparsamente. Presentemente, estima-se que
existam apenas 7100 indivíduos, confinados a apenas 9% do que
foi a sua distribuição histórica (Durant et al 2015).
Distribuição das
Chitas, Africa
Austral, 2017
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A África Austral é o refúgio das chitas, sustentando cerca de 4,300
indivíduos (Durant et al 2015). A espécie é presentemente
reconhecida como ‘vulnerável’ na lista vermelha da IUCN,
embora haja esforços de alterar para ‘em perigo’. Faz parte da
lista do Apêndice I de CITES, Apêndice I da Convenção sobre a
Conservação de Espécies Migratórias, e está protegida por
legislação nacional em practicamente todos os países onde se
encontra.
Grande parte do território angolano é designado como
‘desconhecido’ para área de vivência de chita, no entanto, é
muito provável que áreas significativas do país possam, com a
devida protecção, conter chita.
A maioria do território de existência de chita (78%) ocorre fora de
áreas protegidas, onde a espécie enfrenta muitas ameaças.
Adicionalmente, mais de metade da população ocupa habitats
transfronteiriços, exigindo cooperação internacional para
conservação da mesma.
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Em comparação com outros grandes felídeos, as chitas
apresentam relativa baixa densidade (10-30% das densidades
típicas para leões, leopardos, tigres e jaguar no habitat natural).
Nas planícies do Serengeti, as densidades de chita variam de 0.8-
1.0 por 100 km², mas nas fazendas da Namíbia, onde leões e
hienas foram suprimidos, as chitas ocorrem em baixa densidade
(0.2 por 100 km²). O tamanho de território ocupado e área de
vivência são imensamente variáveis (37-3000km2).
Mabecos – Informações Gerais
Características Físicas
Os mabecos são canídeos de pernas longas e esguias, com
pelagem preta, castanha e branca, e um padrão único para cada
indivíduo.
Ao contrário de outros canídeos que têm cinco dedos na pata
dianteira, os mabecos têm apenas quatro dedos em cada pata.
Possuem orelhas caracteristicamente grandes e arredondadas,
focinho preto e mancha branca na ponta da cauda. Os adultos
medem entre 75 e 110 cm de comprimento e 75cm de altura até
aos ombros. O peso médio varia entre 23 e 26kg.
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Comportamento e Estrutura Social
Os mabecos são canídeos altamente sociáveis e especializados,
que vivem em matilhas de 2 a 40 elementos. A matilha é
geralmente dominada por um par reprodutivo monogâmico; o
macho e fêmea alfa. São criadores cooperativos obrigatórios;
geralmente apenas a fêmea alfa produz uma ninhada de 2 a 21
cachorros (sendo em média de 7 a 10), que nascem numa toca de
onde saem pela primeira vez às 3 semanas de idade. Quando são
desmamados (entre as 5 e 12 semanas de idade), os cachorros
são cuidados por toda a matilha. Qualquer elemento pode
regurgitar carne para os cachorros ou permanecer na toca e
servir de ‘ama’, se não participar nas caçadas.
A época de criação em tocas – quando a matilha está confinada à
toca para cuidar dos cachorros – geralmente dura cerca de três
meses (por norma, entre Abril e Setembro na África Austral). Os
locais de toca são tipicamente covis escavados por porco-
Factos Relevantes – Mabeco
Classe: Mamífero
Dieta: Carnívoro (consome gazelas 15-30kg)
Estado de Conservaçao: Em Perigo
Nome do grupo: Matilha
Longevidade no estado selvagem: Até 11 anos
Comprimento do adulto: 75 a 110 cm
Peso do adulto: 18 a 32kgs
Restam
apenas 660
matilhas de
mabecos
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formigueiro (muitas vezes expandidos por javali ou porco-
espinho), ou covas e fendas em áreas rochosas.
Os mabecos são muito sociáveis, sabe-se que as matilhas
partilham alimentos e dão assistência a membros mais débeis ou
doentes. As interacções sociais são frequentes, e os animais
comunicam por toque, acções e vocalizações. Geralmente caçam
em unidade cooperativa; em corridas de curta distância, os
mabecos podem atingir velocidade superior a 70km/h.
Os mabecos são crepusculares, preferindo caçar ao amanhecer e
ao anoitecer. Não são particularmente activos à noite, excepto
quando se aproxima a lua cheia. São uma espécie que ocupa
extenso território, existindo em baixa densidade, e precisam de
vastas áreas de habitat intacto para sustentar uma população
viável. Uma única matilha pode ocupar mais de 3,000km2, sendo
que em média as áreas de residência compreendem entre 300 e
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800Km2. Durante a época de criação em toca, o território de
residência é severamente limitado, por vezes tão reduzido
quanto 80Km2.
Habitat e Dieta
Os mabecos são quase exclusivamente caçadores, raramente se
alimentam de carcaças. As matilhas caçam tipicamente antílopes,
particularmente impala na África Austral, e podem abordar
presas de porte grande, como gnus, se estiverem a caçar em
matilha. Contrariamente a conceitos populares erróneos, os
mabecos são caçadores rápidos e eficientes, raramente abatendo
mais do que podem consumir.
À medida que as populações humanas se expandem e os
mabecos entram em contacto com gado, podem utilizar cabras e
ovelhas como presas, ou até, ocasionalmente, bezerros. No
entanto, os mabecos facilmente se assustam com as pessoas, por
isso é raro haver danos significativos. Infelizmente, são muitas
vezes caçados e abatidos por fazendeiros mal informados que
receiam pelos seus animais domésticos ou pela sua própria
segurança, embora os mabecos não representem perigo para as
pessoas.
Os mabecos são generalistas no que diz respeito ao habitat e
podem sobreviver em diferentes tipos de meio ambiente.
Actualmente, podem ser tipicamente encontrados a deambular
por pradarias e florestas esparsas da África subsariana.
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Distribuição dos Mabecos e Estado de Conservação
Os mabecos desapareceram de grande parte do que era o seu
território no passado. Presentemente, podem ser encontrados
em apenas 14 países em África, tendo populações viáveis em
somente oito países (Botswana, Quénia, Moçambique, Namíbia,
África do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe).
As densidades populacionais de mabecos variam
consideravelmente, mas, em nenhum caso, podem ser
considerados como espécie de elevada densidade (algumas das
densidades mais elevadas registadas até hoje são de 4 mabecos
por 100 Km2; sendo em média de 2 por 100Km2). Devido ao
tamanho da matilha ser tão variável, é mais significativo falar em
número de matilhas – ou unidades reprodutoras – como unidade
para as populações de mabecos.
Estima-se que actualmente, existam apenas 660 matilhas (ou
fêmeas reprodutoras) no estado selvagem (Woodroffe & Sillero-
Zubiri 2012). Isto representa aproximadamente 6,600 animais
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jovens e adultos, em 39 subpopulações. O tamanho da
população mundial continua em declínio como consequência da
constante fragmentação de habitat, conflito com actividades
antrópicas e doenças infecciosas.
Os mabecos não constam da lista do CITES (por não serem
habitualmente comercializados), embora na CITES CoP de 2016
tenha havido uma moção para que fizessem parte da lista do
Apêndice III. Estão listados no Apêndice II da Convenção sobre a
Conservação de Espécies Migratórias (da sigla em inglês CMS) e
como ‘em perigo’, com tendência para diminuição da população,
na lista vermelha da IUCN.
Distribuição
dos Mabecos,
Africa Austral,
2017
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Ameaças à Chita e Mabeco
A chita e o mabeco enfrentam ameaças semelhantes. A maior
ameaça para ambas espécies é a perda de habitat e isolamento
dos fragmentos de habitat. Por ocorrerem em baixas densidades,
a conservação de populações viáveis exige planificação da gestão
de uso de terra a larga escala, com especial ênfase sobre a
conservação fora de áreas protegidas, uma vez que grande parte
destas áreas protegidas não tem extensão suficiente para
garantir a sobrevivência destas espécies a longo termo.
O declínio de presas de ungulados selvagens é uma preocupação
para a conservação de ambas espécies, particularmente onde a
caça furtiva é desmedida. Em alguns locais, a mortalidade na
estrada pode ser uma ameaça, especialmente quando áreas
protegidas são atravessadas por vias principais.
O conflito com fazendeiros ou produtores locais constitui outra
ameaça séria à chita e mabeco, particularmente na África Astral.
Chita e mabeco são frequentemente abatidos ou perseguidos por
serem entendidos como ameaça para o gado, embora causem
danos relativamente reduzidos. Ambas espécies são muito
vulneráveis a serem apanhadas em armadilhas de laço ou gaiola,
colocadas para outros animais. Podem ainda sofrer perseguição
directa por predação ocasional de gado, e são susceptíveis a
sofrer de epidemias dispersas por animais domésticos,
especialmente raiva e esgana transmitidas por cães domésticos a
mabecos.
Ameaças naturais a chita e mabeco incluem a competição directa
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e indirecta com leões e hiena malhada. Nas pradarias de erva
curta do Serengeti, a mortalidade de chita juvenil pode chegar
aos 95%, maioritariamente por predação por leões. No entanto,
as taxas de mortalidade são inferiores em habitats mais cerrados.
Para o mabeco, a predação directa dos cachorros por leões é
também uma ameaça, assim como a competição por presas, e
roubo de presas capturadas, particularmente por hienas em
habitats de vegetação menos densa.
Por este facto, as densidades de chita e mabeco são mais
reduzidas onde se encontram leões e hienas em número elevado,
e acredita-se que frequentemente se movam para fora de áreas
protegidas – entrando, consequentemente, em conflito com
humanos – ao tentar evitar os leões e hienas.
Limitações à mitigação de ameaças
Existem quarto conjuntos de limitações à mitigação de ameaças
considerando uma escala espacial larga:
Limitações políticas incluem inexistência de gestão do uso de
terra, insegurança e instabilidade política em áreas
ecologicamente importantes, bem como falta de vontade
política para promover a conservação de chita e mabeco.
Limitações económicas compreendem a falta de recursos
financeiros para apoiar a conservação, e ausência de
incentivos à população para a conservação de vida selvagem.
Limitações sociais incluem falsos conceitos sobre chita e
mabeco, falta de capacidade para atingir objectivos de
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conservação, ausência de consciência ambiental, aumento da
população humana, e mudanças sociais que conduzam à
subdivisão de terras e subsequente fragmentação de habitat.
Limitações biológicas, que são características de chita e
mabeco e não podem ser alteradas, incluem a prática de
ocupação de áreas extensas, interacções negativas com
outros grandes carnívoros, e susceptibilidade potencial a
patologias.
Soluções de conservação
Tanto para chita como para mabeco, a intervenção para
conservação mais impactante é a preservação de habitat, por
expansão de áreas de distribuição e criação de áreas de ligação
entre fragmentos de habitat isolados.
Trabalhar no sentido de restringir a comercialização de caça
furtiva é chave essencial para reduzir as mortes de chita e
mabeco por armadilha de laço ou gaiola, e para minimizar o
declínio de espécies que são presas naturais.
Adicionalmente, o envolvimento e educação das comunidades é
importante para abordar conceitos incorrectos e ajudar a
encorajar a tolerância através da redução de perdas de gado e
oferta de benefícios. A promoção de regimes de gestão de gado
que minimizem o conflito com chita e mabeco são uma medida
de conservação importante, incluindo medidas de proteção das
manadas mais intensivas e uso de cães de guarda.
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Referências e Literatura sugerida
Durant, S., Mitchell, N., Ipavec, A. & Groom, R. 2015. Acinonyx
jubatus. The IUCN Red List of Threatened Species 2015:
e.T219A50649567. http://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2015-
4.RLTS.T219A50649567.en.
Durant et al (2017) The global decline of cheetah Acinonyx
jubatus and what it means for conservation PNAS, 114 (3) 528-
533 (DOI: 10.1073/pnas.1611122114)
IUCN/SSC (2015) Review of the Regional Conservation Strategy
for the Cheetah and African Wild Dog in Southern Africa.
IUCN/SSC Gland, Switzerland and Range Wide Conservation
Program for Cheetah and African Wild Dogs,
www.cheetahandwilddog.org
Woodroffe, R. & Sillero-Zubiri, C. 2012. Lycaon pictus. The IUCN
Red List of Threatened Species 2012: e.T12436A16711116.
http://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2012.RLTS.T12436A16711116
.en.
Reconhecimento e Agradecimentos Este folheto informativo foi produzido pela Range Wide
Conservation Program for Cheetah and African Wild Dogs, em
colaboração com o Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas
de Conservação. Agradece-se a Sara Fernandes Elizalde pela
ajuda na tradução.