Fofoca

2

Click here to load reader

Transcript of Fofoca

Page 1: Fofoca

A fofoca é definida pelo Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa como mexerico, intriga e bisbilhotice. Fofocas são histórias que geralmente criam dano por serem inverídicas ou prejudiciais à pessoa objeto do fuxico. Diríamos ainda que a fofoca, uma das práticas mais antigas do mundo, é irmã gêmea do boato e da maledicência e parece ser inerente àraça humana.

Não é por acaso que a indústria da fofoca é uma das mais rentáveis em nossos dias. Uma simples visita a qualquer banca de jornal é suficiente para se constatar a enorme quantidade de revistas e periódicos especializados em fofoca. Isso sem falar nos portais de internet, programas e atémesmo canais de televisão cuja finalidade exclusiva é falar da vida alheia.

As pessoas se deleitam em conhecer detalhes da vida de seus semelhantes e transmiti-los aos demais com uma velocidade incalculável. Quem nunca foi tentado a ouvir de alguém o que se seguiu à pergunta: “Você sabe da última?”ou mesmo a fazê-la? Parece que os olhos brilham diante dessa pergunta e dos comentários que se seguem.

No mundo sem Deus a fofoca é prática exercida sem qualquer pudor, remorso ou mesmo arrependimento, ainda que as conseqüências sejam desastrosas para a “vítima” dos comentários. A fofoca ataca amigos e inimigos, ricos e pobres, crianças, jovens e adultos.

A fofoca uma vez divulgada transforma-se muitas vezes em uma bola de neve extrapolando os limites imaginados por quem a propalou. Alguém certa vez a definiu como tendo as forças do vento e o poder destrutivo do terremoto.

A cultura da fofoca é tão intrigante que obras famosas foram escritas para demonstrar, de maneira até mesmo poética, sua prática. Uma dessas famosas obras é “Otelo”, deWilliam Shakespeare, em cuja peça o personagem Iagoespalha que a mulher de Otelo, Desdêmona, é adúltera. O boato origina um banho de sangue que termina com a morte dos três personagens principais.

Outro exemplo é o clássico da comédia “O Barbeiro deSevilha”, do escritor francês Pierre Beaumarchais, que criou um personagem cuja especialidade era espalhar boatos, Don Bartolo. O sucesso da peça foi tamanho que ocasionou uma continuação, “As Bodas de Fígaro”, em que quase todos os personagens são boateiros. A primeira peça inspirou uma ópera de Rossini, na qual há até uma ária dedicada ao boato, La Calunnia è un Venticello (A Calúnia é uma Brisa), e a segunda, uma das melhores óperas de Mozart. Assumia assim a fofoca forma musical.

�������� �� � �� ������� � � � �

������������������� ������������ � ���������

����������� � ���

01 ������ ����������� �������������� � ���� �����!�������"�#��������� �����"�� �!$����%�� &��

�� �� ��

Muito tempo antes dos grandes escritores e compositores tratarem do tema, a fofoca já era comum nos antigos impérios e reinos, que a utilizavam como arma contra inimigos e desafetos políticos. Têm-se registros da Roma antiga apontando que o imperador Julio César pagava altas somas de dinheiro a algumas pessoas para divulgar que determinado senador estaria participando de conspiração contra Roma. A pena para conspiração era a morte, assim eliminando o imperador o seu desafeto.

Grandes estadistas e ditadores também fizeram uso da fofoca para ludibriar adversários e conseguir seus objetivos, mesmo que se resumissem a iniciar uma guerra.

Mesmo no meio empresarial as fofocas já causaram grandes prejuízos a determinados empresários e lucros altos a especuladores que as espalharam, causando a valorização ou desvalorização de determinadas empresas, a alta ou queda de ações das bolsas de valores.

���������� � � ���

O que tem Deus a dizer sobre a fofoca? A Bíblia estárepleta de conselhos divinos acerca deste mal que às vezes aflige a igreja causando intrigas, dissensões, ódio, enfraquecimento da fé, e, não raro, apostasia.

Deus ordenou ao povo de Israel, por meio de Moisés: “Não andarás como mexeriqueiro entre o teu povo.” Lev. 19:16. A fim de preservar a nação eleita dos graves resultados da fofoca, instituiu Deus esta lei, pois Ele mesmo fora vítima de fofoca espalhada no Céu pelo seu anjo mais importante.

O rei Salomão alertou em seus Provérbios que “o mexeriqueiro descobre o segredo” alheio e o propaga (Prov. 11:13), e “separa os maiores amigos” (16:28). Também apontou Salomão o motivo da atração causada pela fofoca, quando esclarece que “as palavras do mexeriqueiro são como doces bocados” (18:8 e 26:22), e que “não havendo mexeriqueiro cessa a contenda” (26:22). Em outra citação, menciona seis coisas que o Senhor aborrece, sendo uma delas a “língua mentirosa”, e enfatiza que a sétima, “o que semeia contenda entre os irmãos”, é a mais abominável a Deus (6:16-19).

Page 2: Fofoca

������������������� ������������ � ���������

02

�� �� ��Encontramos na Bíblia um triste relato da destruição de

toda a cidade israelita de Nobe, incluindo seus oitenta e cinco sacerdotes, resultado da fofoca de um homem chamadoDoegue. A história está relatada em I Samuel 21 e 22. Davi, fugindo da fúria assassina do rei Saul passou pela cidade deNobe, local do santuário, e pediu auxílio ao sumo sacerdoteAimeleque sem, contudo, dizer que fugia de Saul. O sumo sacerdote, num ato de bondade, deu a Davi os pães da proposição e a espada de Golias que ficava guardada no santuário desde a vitória contra os filisteus.

A fim de receber os presentes do rei Saul, prometidos a quem fornecesse pistas sobre o ajudador de Davi na fuga,Doegue, funcionário do rei, contou sobre o episódio de tal maneira que transmitiu a idéia de que o sumo sacerdote era um traidor. Como resultado, Saul assassinou os oitenta e cinco sacerdotes e todos os moradores e animais daquela cidade, somente sobrevivendo o sacerdote Abiatar, que fugira da matança.

Os rabinos ensinavam que havia três pecados capazes de remover um homem deste mundo e o privar do mundo vindouro – idolatria, incesto e assassinato – mas que a difamação (fofoca/mexerico) era pior do que aqueles pecados porque mata três pessoas de uma só vez: o caluniador/mexeriqueiro, o caluniado, e aquele que ouve. Ensinavam os rabinos que a fofoca era mais eficaz em destruir do que uma espada com dois gumes.

Jesus ensinou aos seus discípulos: “Se teu irmão pecar, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir ganhaste a teu irmão.” Mat. 18:15. Somente na terceira tentativa de exortação é que aparece o comunicado à igreja do erro cometido, mas sempre com vistas ao arrependimento do cristão faltoso, sem o intuito de fofocar.

O apóstolo Tiago, em sua carta à igreja, alertou que “a língua também é fogo, mundo de iniqüidade situada entre os nossos membros. Ela contamina todo o corpo, inflama o curso da natureza, e é por sua vez inflamada pelo inferno...nenhum homem a pode domar. É mal contido, está cheia de peçonha mortal.” Tiago 3: 3-12.

É o próprio Tiago quem nos aconselha: “Se alguém supõe ser religioso, deixando de refrear a língua, antes, enganando o próprio coração, a sua religião é vã.” Tiago 1:26. E mais adiante insiste: “Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Quem fala mal de um irmão, e julga seu irmão, fala mal da lei, e julga a lei. Ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz. Há só um legislador e juiz, aquele que pode salvar e destruir. Tu, porém, quem és, que julgas ao próximo?” (4:11-12)

Igualmente, o apóstolo Paulo, em sua carta a Tito, pediu-lhe que exortasse a igreja: “Lembra-lhes que não difamem a ninguém...”. Tito 3:1-2. Em outra carta, desta vez endereçada a seu amigo Timóteo, Paulo repete o que já havia escrito na primeira carta (6:20) enfatizando: “Evita os falatórios inúteis, porque produzirão maior impiedade.” II Tim. 2:16.

Através do salmista Davi falou Deus: “Ao que às ocultas calunia o próximo, a esse destruirei...” Salmos 101:5.

Na Revelação ao apóstolo João, isolado na ilha dePatmos, o Senhor Jesus mencionou os que hão de estar na Jerusalém celestial, e curiosamente não incluiu a tribo de Dã(Apocalipse 7). Ao proferir Jacó a bênção sobre cada filho e antever suas condutas de caráter, falou: “Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os calcanhares do cavalo, e faz cair o seu cavaleiro por detrás.”Gen. 49:17.

A fofoca, o mexerico, o boato e maledicência têm o mesmo efeito mortal de uma serpente atacando pelas costas de sua vítima. A tribo de Dã, que recebera a missão de julgar seu povo, ficou fora da Nova Terra por seu apego àmaledicência e à idolatria (Juizes 18).

Sobre o tema, escreveu Ellen G. White: “Os rumores circulados são frequentemente os destruidores da unidade entre os irmãos. Há alguns que vigiam com a mente e os ouvidos abertos para captar os escândalos que estão no ar. Reúnem pequenos incidentes que em si mesmos são sem importância, e que são repetidos e exagerados até que um homem é considerado um ofensor por uma palavra. Seu moto parece ser: “Conte e nós o contaremos.” Esses mexeriqueiros fazem a obra de Satanás com surpreendente fidelidade, pouco sabendo quão ofensivo a Deus é seu procedimento... Deve a porta do espírito ser fechada contra: “Dizem”, ou “Ouvi”. Por que não devemos nós, em vez de permitir que o ciúme ou as más suspeitas entrem em nosso coração, ir ao nosso irmão, e, depois, com franqueza, mas de maneira bondosa apresentar-lhe as coisas que ouvimos e que vêm em detrimento de seu caráter e de sua influência, orar com ele e por ele? Embora não possamos associar-nos com os que são inimigos acérrimos de Cristo, devemos cultivar o espírito de mansidão e de amor que caracterizou o nosso Mestre – o amor que não pensa mal, e que não se deixa facilmente provocar.” Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 504/505.

Encontramos ainda da mesma escritora o conselho: “Intimamente ligada ao mexerico está a insinuação encoberta, esquiva, pela qual o coração impuro procura insinuar o mal que não ousa exprimir abertamente. Os jovens devem ser ensinados a evitar toda a aproximação de tal pratica como evitariam a lepra...Em um momento, pela língua precipitada, apaixonada, descuidosa, pode-se cometer um mal que o arrependimento de uma vida toda não poderá desfazer.”Educação, p. 236/237.

O Senhor Jesus alertou: "Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo." S. Mat. 12:36.

O salmista Davi, certa ocasião perguntou: “Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?” E o próprio salmista responde inspirado por Deus: “...aquele que não difama com a língua, nem faz mal ao seu próximo...”

Que Deus nos ajude a evitarmos a fofoca e o mexerico, a fim de que sejamos aptos a morar no Seu santo monte e habitar em Seu tabernáculo.

������ ����������� �������������� � ���� �����!�������"�#��������� �����"�� �!$����%�� &��