fluxos migratórios
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PODER SULISTA Costumes gaúchosmarcam o oeste do país por causa damigração dos anos 1970. Foto: RonaldoKotscho
Os fluxos migratórios no BrasilPara conhecer o fenômeno da migração interna em terrasbrasileiras, a turma precisa aprender sobre o perfil da população eas interações culturais
Amanda Polato
A todo momento, pessoas deixam sua cidade deorigem rumo a outras para ficarpermanentemente ou só morar por um tempo(determinado ou não). São os migrantes, queaqui, no Brasil, representam 40% da população,segundo dados da Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílios (Pnad) de 2007, feitapelo Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE). Embora os fluxosmigratórios tenham sido mais intensos nasdécadas de 1960 e 70, a circulação ainda égrande: recentemente, 10 milhões de brasileiros(5,4% da população) se mudaram para outro
lugar.
Você provavelmente já recebeu alunos com esse perfil. Como abordou o assunto? Os livrosdidáticos geralmente resumem o conteúdo, apegando-se a estatísticas e aos destinos queficaram famosos no passado. Mas isso não é suficiente para abordar as transformações queocorrem na sociedade. "É uma pena, mas muitas vezes as características da migração,principalmente no âmbito cultural, são tratadas de forma improvisada na sala de aula",analisa Sueli Furlan, geógrafa da Universidade de São Paulo (USP) e selecionadora doPrêmio Victor Civita - Educador Nota 10.
Retorno e perfis solitários caracterizam o migrante atual
Revisitando o histórico dos fluxos migratórios, é possível compreender que eles se esgotamcom o tempo. A marcha para o oeste do país, nos anos 1970, era formada sobretudo porsulistas em busca de fronteiras agrícolas e a fim de colonizar estados como Rondônia, masperdeu força gradualmente. "E, com a concentração de terras e a organização de pastagens,estados como Mato Grosso deixaram de representar boas oportunidades depois dos anos
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MARCAS DO SUDESTE Estabelecimentocomercial em Rondônia mostra quemparticipou da colonização do estado. Foto:Irmo Celso
Clique para ampliar Principais fluxosmigratórios por grandes regiões do Brasil,de 1999 a 2004*. Ilustração: Sattu
1980", conta José Marcos da Cunha, demógrafoda Universidade Estadual de Campinas(Unicamp). O volume de ida para o estado deSão Paulo também diminuiu consideravelmenteentre 1995 e 2000: os imigrantes (assimdenominados os que chegam) eram 1,2 milhão e,entre 1999 e 2004, passaram a somar 870 mil,segundo dados obtidos na Pnad. Mas muitaspessoas também fizeram o caminho inverso nomesmo período: foram 105 mil emigrantes(assim denominados os que saem) a mais queimigrantes.
Conforme explica Fausto de Brito, demógrafo da Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG), o movimento de pessoas faz parte da dinâmica das sociedades. É normal,portanto, surgirem novos fluxos (veja o mapa abaixo). Atualmente, o movimento que maischama a atenção é o de volta aos locais de origem. Muita gente, por exemplo, está deixandoo Sudeste e voltando para o Nordeste: o crescimento do volume de migrantes nesse fluxofoi de 19% entre os períodos de 1995-2000 e 1999-2004. "É um retorno expressivo, nuncavisto antes", diz Cunha. As hipóteses apresentadas para justificar esse movimento estãorelacionadas à redução e terceirização do emprego na indústria no Sudeste, aos novos focosde crescimento econômico no Nordeste e aos programas de transferência de renda dogoverno federal.
A lista de novidades inclui movimentos que ocorremdentro de alguns estados, como o Paraná: sua atratividadeestá concentrada na área metropolitana de Curitiba. E,quanto aos deslocamentos interestaduais, vale destacar oPará, o único na região Norte que mantém um volumecrescente de imigrantes originários do Nordeste e deestados nortistas.
Outra mudança é a do perfil de quem sai. Brito explica queantes a família toda migrava. Agora, quem deixa sua terratende a ir sozinho. "Problemas de moradia, oferta deemprego e violência contribuem para isso", comenta. E as
intenções também mudaram: o emigrante de agora almeja ficar fora o tempo suficiente paraganhar um bom dinheiro.
Em classe, você pode abordar essas questões a fim de que os alunos percebam como e porque tais mudanças ocorrem. A conversa pode ser fomentada por histórias de pessoas quemigraram dentro do país (no passado e recentemente). Quando e de quais fluxosparticiparam? E o que as motivou a sair em busca de novas moradas?
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SABORES DO NORTE No Sudeste, umadas marcas dos nordestinos é a casa donorte, que vende carne seca. Foto: Lalo deAlmeida
*Fonte: FIBGE, PNAD 2004. Tabulações especiais NEPO/UNICAMP
Como ocorrem as interações culturais
Quem muda de cidade leva um pouco de si nabagagem: o jeito de falar e de se vestir, gostosculinários e musicais... E, se retorna, não é maiso mesmo: traz de volta um pouco do lugar ondeviveu. "Assim, ocorre uma reconstrução culturalcom os elementos de origem e os novos", explicaSueli Furlan. Este é um ponto interessante paraser debatido em sala: como grupos diferentes serelacionam e se, de fato, mantêm contato (veja oprojeto didático).
O choque entre culturas muito diferentes podeimplicar o isolamento dos migrantes, que se
fecham em guetos, para se manter firmes em sua identidade ou se proteger de preconceitos.
Além de ajudar os alunos a identificar e compreender essas interações, é importantepromover reflexões sobre discriminação. Questione os estudantes a respeito do própriocomportamento: eles têm amigos vindos de outros lugares? E os que são migrantes? Comose relacionam com a população local?
Outro ponto a ser trabalhado é a capacidade do migrante de imprimir transformações aondechega. Os gaúchos são famosos pelo poder de 'reterritorializar', reproduzindo a paisagemdo Rio Grande do Sul por onde passam. Nortistas e nordestinos se notabilizam porinstalarem as casas do norte, lojas que vendem produtos típicos de suas regiões. "Essepoder se deve a muitos fatores, como a classe social, a força dos laços de identidade e otipo de participação política", explica Rogério Haesbaert, da Universidade FederalFluminense (UFF).
Migração não é sinônimo de problema social
O senso comum diz que o movimento de pessoas em busca de novas oportunidades semprecausa desemprego e violência. Estudo realizado por José Marcos da Cunha e CláudioDedecca, que compara a relação entre migração e trabalho, mostra que não é bem assim.Nos anos 1960 e 70, os imigrantes garantiram a força de trabalho para a expansão da regiãometropolitana de São Paulo. Quando as taxas de desemprego começaram a subir em razãode crises econômicas, muita gente julgou que eram eles que tomavam as vagas dospaulistanos. Porém, a partir dos anos 1990, começou a redução do fluxo migratório e era ocrescimento natural da população que aumentava a oferta de trabalhadores. Ideias como
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SABORES DO SUL Na Bahia, a venda deerva-mate revela a presença de migrantessulistas. Foto: Liane Neves
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essas distorcem a imagem dos migrantes, genteque faz parte da construção da economia e dacultura do nosso país.
Quer saber mais?CONTATOS Fausto de BritoRoberto GiansantiSueli Furlan
BIBLIOGRAFIA Geoatlas, Maria Elena Simielli, 168 págs., Ed. Ática, tel. 0800-115-152, 51,90 reais. O Mito da Desterritorialização, Rogério Haesbaert, 400 págs., Ed. Bertrand Brasil, tel. (21) 2516-5401, 53 reais.
INTERNET Resultados das últimas Pnads, com dados sobre migração.
Publicado em NOVA ESCOLAEdição 224, Agosto 2009, com o título Gente que chega,gente que sai