FLUÊNCIA NA LEITURA ORAL E A SUA RELAÇÃO COM O...

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA FLUÊNCIA NA LEITURA ORAL E A SUA RELAÇÃO COM O CONHECIMENTO DO VOCABULÁRIO EM LEITORES ADOLESCENTES Graça Cristina Correia Gomes Teixeira Simões MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa) 2012

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

FLUÊNCIA NA LEITURA ORAL E A SUA RELAÇÃO COM O

CONHECIMENTO DO VOCABULÁRIO EM LEITORES

ADOLESCENTES

Graça Cristina Correia Gomes Teixeira Simões

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/

Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa)

2012

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

FLUÊNCIA NA LEITURA ORAL E A SUA RELAÇÃO COM O

CONHECIMENTO DO VOCABULÁRIO EM LEITORES

ADOLESCENTES

Graça Cristina Correia Gomes Teixeira Simões

Dissertação Orientada pela Profª. Doutora Arlette Verhaeghe

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/

Núcleo de Psicoterapia Cognitiva-Comportamental e Integrativa)

2012

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Agradecimentos

Agradecimentos

Todo o percurso que levou ao culminar desta dissertação, foi acompanhado de

empenho e dedicação por parte de muitas pessoas que estiveram ao meu lado e que

ajudaram a tornar possível este meu sonho.

Agradeço à Professora Doutora Arlette Verhaeghe a orientação que me deu, tanto

ao nível pessoal como científico. A sua sabedoria, serenidade e apoio incondicional não me

deixaram desistir, mesmo nos momentos mais difíceis por que passei durante uma situação

delicada da minha vida pessoal.

À Mestre Sandra Fernandes e ao Dr. Luís Querido por todo o apoio, incentivo e

conhecimento científico que me deram.

Um obrigada muito sentido às minhas colegas Edite Moita, Isabel Silva, Paula

Oliveira e Sara Taborda, que comigo iniciaram esta caminhada e por terem contribuído

para que este percurso universitário fosse percorrido da melhor forma possível.

Um agradecimento à minha colega de trabalho Liliana Dantas com quem partilhei

momentos difíceis da dissertação.

Ao meu marido e filha, por terem tornado este meu sonho possível. Obrigada pela

compreensão nos momentos de maior ausência e pela força incondicional e coragem que

me deram ao longo de toda esta caminhada. Obrigada a estes dois grandes amores da

minha vida por terem confiado sempre em mim e por me terem feito acreditar que eu seria

capaz. Minha querida filha Diana, serás sempre a minha inspiração.

À minha linda mãe, mulher de grande coragem, que sempre me acompanhou em

todos os momentos da minha vida.

À minha querida tia Luísa, minha segunda mãe, por todo o amor, coragem e apoio

incondicional que me deu nos momentos mais difíceis da minha vida.

Por fim queria dedicar este trabalho a quem todos os dias recordo com eterna

saudade, a minha avó Benvinda, com quem vivi os primeiros anos da minha vida.

Obrigada, meu anjo da guarda, pela inteligência que sempre utilizaste em tornar fácil tudo

aquilo que parecia difícil e pelo testemunho que me deixaste de justiça, humildade e

respeito para com os outros.

Obrigada a todos vós, por terem ajudado a tornar este meu sonho realidade.

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Resumo

Resumo

Este estudo incide sobre medidas de fluência na leitura oral para o português

europeu, numa amostra heterogénea de 58 alunos do 8º e 10º ano de escolaridade, de

duas escolas de Lisboa. Foi avaliado o número de palavras lidas corretamente por

minuto para duas medidas de fluência (fluência na leitura de texto e fluência na leitura

de palavras isoladas). Foi alvo de estudo, a forma como estas variáveis se relacionaram

entre si e a relação que estas tiveram com outras variáveis envolvidas no processo, tais

como o conhecimento do vocabulário e o efeito do contexto (definido como um preditor

da fluência na leitura oral de textos, sugerindo que, nestes níveis de escolaridade, a

melhoria da fluência de leitura oral já não estaria tão dependente dos processos de

descodificação e de reconhecimento automático das palavras mas estaria mais

relacionada com efeitos de contexto, nomeadamente o processamento de informação

semântica e sintática presente nos textos).

Analisou-se também de que forma os dois níveis de escolaridade e as duas áreas

curriculares do 10º ano (humanidades e ciências) enquanto variáveis independentes,

influenciaram diferencialmente as variáveis dependentes em estudo (duas medidas de

fluência; vocabulário e contexto), avaliando-se a sua inter-relação. Incidindo sobre

adolescentes que em termos do desenvolvimento, já se encontram numa fase em que os

processos de aquisição da leitura já se encontram estabelecidos, o estudo sugeriu

evolução ao nível da fluência na leitura oral entre o 8º e o 10º ano. A interação

significativa entre as duas medidas de fluência e os anos de escolaridade mostra que o

aumento da fluência na leitura oral entre o 8º e o 10º ano é superior para a medida de

fluência de texto em comparação com a medida de fluência de palavras isoladas, o que

indicia influência do contexto nos resultados obtidos. Esse efeito revelou-se superior

para o 10º ano de escolaridade. Relativamente ao vocabulário e ao efeito das duas áreas

curriculares (humanidades e ciências), o estudo não revelou influência significativa para

os resultados diferenciais ao nível da fluência na leitura oral.

Palavras Chave

Fluência de leitura; fluência de texto; fluência de palavras isoladas; leitura oral;

vocabulário.

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Abstrat

Abstrat

This study focuses on measures of oral reading fluency for European Portuguese

in a heterogeneous sample of 58 students of 8th and 10th grade, in two schools of

Lisbon. We evaluated the number of words read correctly per minute for two measures

of fluency (fluency in reading text and fluency in word reading). Was the target of

study, how these variables were related to each other and the relationship they had with

other variables involved in the process, such as knowledge of vocabulary and the effect

of context (defined as a predictor of fluency in oral reading of texts, suggesting that

these levels of education, the improvement of oral reading fluency would no longer be

so dependent processes of automatic recognition and decoding of words but would be

more related to context effects, in particular the processing of semantic and syntactic

information).

It was also analyzed how the two levels of schooling and the two curriculum

areas for the 10th year (humanities and sciences) as independent variables influenced

differentially dependent variables in the study (two measures of fluency, vocabulary and

context), evaluating their interrelationship. Focusing on adolescents in terms of

development, already in a phase in which the processes of reading acquisition are

already established, the study suggested changes to the level of fluency in oral reading

between the 8th and 10th grade. A significant interaction between the two measures of

fluency and years of schooling shows that increased fluency in oral reading between the

8th and 10th grade is superior to the measure of fluency of text compared with the

measured creep of single words, the which indicates the influence of context on the

results. This effect was greater for the 10 th grade. For the vocabulary and the effect of

the two curriculum areas (humanities and sciences), the study revealed no significant

influence for the differential results in terms of fluency in oral reading.

Keywords

Reading fluency ; fluency text ; word fluency ; oral reading ; vocabulary

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Índice Geral

Página

1. Introdução…………………………………………………………………………..1

2. Enquadramento Teórico………………………………………………………… ....4

2.1 A Importância da Leitura……………………………………………………….4

2.2 Concetualização da Fluência na Leitura Oral…………………………………..6

2.2.1 Fluência de Texto e Fluência de Palavras Isoladas……………………...13

2.3 Avaliação da Fluência na Leitura Oral em Portugal…………………………..14

2.4 A Importância do Vocabulário para uma Leitura Fluente…………………….16

3. Metodologia………………………………………………………………………..18

3.1 Perspetiva Global……………………………………………………………...18

3.2 Participantes…………………………………………………………………...21

3.3 Estratégia Metodológica para Recolha de Dados……………………………..22

3.4 Instrumentos…………………………………………………………………..22

3.4.1 Fluência Oral na Leitura de Texto……………………………………....22

3.4.2 Fluência Oral na Leitura de Palavras em Lista………………………….23

3.4.3 Conhecimento do Vocabulário………………………………………….23

3.5 Procedimentos de Recolha de Dados…………………………………………25

4. Resultados………………………………………………………………………....25

4.1 Fluência na Leitura Oral: Fluência na Leitura Oral de Texto e de Palavras

Isoladas……………………………………………………………………………….25

4.1.1 Fluência na Leitura Oral de Texto e de Palavras Isoladas em Função

do Ano de Escolaridade……………………………………………………………....25

4.1.2 Fluência na Leitura Oral de Texto e de Palavras Isoladas em Função

das duas Áreas de Estudo para o 10º Ano de Escolaridade (humanidades e ciências).27

4.2 Correlação entre dois Tipos de Fluência de Leitura Oral (Texto e Palavras

Isoladas)……………………………………………………………………………....28

4.3 Correlação entre os dois tipos de Fluência de Leitura Oral e o Contexto…….29

4.4 Nível de Vocabulário em Função do Ano de Escolaridade…………………...30

4.4.1 Correlação entre os dois Tipos de Fluência de Leitura Oral e o

Vocabulário…………………………………………………………………………..30

5. Discussão de Resultados e Conclusão……………………………………………..31

Referências Bibliográficas…………………………………………………………....39

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Índice de Tabelas

Página

Tabela 1……………………………………………………………………………..21

Tabela 2……………………………………………………………………………..25

Tabela 3……………………………………………………………………………..28

Tabela 4……………………………………………………………………………..29

Tabela 5……………………………………………………………………………..30

Tabela 6……………………………………………………………………………..30

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Índice de Figuras

Página

Figura 1…………………………………………………………………………………..27

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Anexos

Anexo I – Carta de Consentimento Informado

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Introdução e Enquadramento Teórico

1. Introdução

A leitura é uma aprendizagem básica, uma aptidão específica do ser humano e,

no entanto, distintamente não natural (Shaywitz, 2008).

Contrariamente à linguagem, a leitura não se constitui como uma das

capacidades humanas naturais. Segundo Brito-Mendes (1989), a leitura necessita de

uma instrução formal. O sucesso escolar, o sucesso profissional, a liberdade e a

ascensão social, bem como a autonomia do cidadão, dependem, em grande parte, da

capacidade de leitura (Borges, 1998). Desta forma, ler fluentemente na sociedade atual é

uma necessidade básica para nela se poder viver, ser aceite e participar nos recursos que

a mesma disponibiliza (Sousa, 1999). É precisamente nesta linha de citações de alguns

autores, que surge a preocupação com as dificuldades inerentes ao processo de uma

leitura fluente.

De acordo com Sim-Sim e Viana (2007), apesar do estudo científico e

sistemático das perturbações de leitura ser considerado um assunto de elevada

relevância social, são escassos os indicadores nacionais que permitam a definição de

marcos de referência no desempenho da leitura. No entanto, estas autoras focam na

literatura os resultados do PISA 20031, no qual é possível identificar na população

escolar portuguesa correspondente aos 15 anos de idade, que 48% dos alunos apenas

possuem conhecimentos básicos de leitura que lhes permitem no máximo localizar uma

peça de informação no texto ou identificar o tema principal daquilo que leram. Por outro

lado, 22% são considerados maus leitores, o que nos coloca abaixo da média europeia

que corresponde a 19,4%.

No mesmo sentido, fora do âmbito europeu, pesquisas relativamente recentes

nos Estados Unidos indicam que mais de 5 milhões de adolescentes não são capazes de

ler ou compreender adequadamente os livros didáticos, materiais de ensino, ou

designações utilizadas em contexto académico (Perie, Grigg, & Donahue, 2005). De

acordo com Perie et al. (2005), 26% dos estudantes do ensino médio revelaram

dificuldade no entendimento de tarefas curtas de literacia (e.g., seguir por escrito um

1 Programa Internacional de Avaliação de Alunos – pretende avaliar as competências dos alunos ao nível

da leitura, matemática e das ciências, objetivando principalmente produzir indicadores que contribuam

para a discussão da qualidade da educação ministrada nos países participantes.

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determinado evento ou um horário publicado). Outro estudo revelou que cerca de 10%

dos adolescentes abandonam a escola básica como não leitores (Curtis, 2002).

Tendo em conta que as dificuldades na aprendizagem da leitura constituem nas

atuais sociedades do conhecimento, um fator restritivo do desenvolvimento académico,

profissional e social dos indivíduos, torna-se imprescindível o estudo do envolvimento e

da relação existente entre possíveis variáveis que lhe poderão estar subjacentes, mesmo

para níveis de escolaridade para as quais o processo de aquisição de leitura já se

encontra estabelecido.

Desta forma, a presente investigação objetiva estudar, em alunos do 8º e 10º ano

de escolaridade, o nível de duas medidas de fluência na leitura oral (fluência de texto e

fluência de palavras isoladas), a forma como estas variáveis se relacionam entre si e a

relação destas com outras possíveis variáveis envolvidas no processo, tais como o

conhecimento do vocabulário e o efeito do contexto, definido como a informação

semântica e sintática contida num texto. Por outro lado, pretende-se analisar de que

forma os dois níveis de escolaridade e as duas áreas curriculares do 10º ano

(humanidades e ciências) enquanto variáveis independentes, influenciam

diferencialmente as variáveis dependentes em estudo (duas medidas de fluência;

vocabulário e contexto) e, como estas se relacionam entre si. A escolha de duas áreas

curriculares (ciências e humanidades) do 10º ano de escolaridade visou observar a

existência ou não de significância diferencial ao nível da avaliação da fluência de leitura

oral, para estas duas variáveis.

Assim sendo, o presente estudo incidirá de forma transversal, sobre uma amostra

de alunos que integram o 8º e 10º ano de escolaridade de duas escolas da área urbana de

Lisboa, numa fase em que os processos de aprendizagem de leitura já se encontram

estabelecidos. É de referir que, de acordo com o nosso conhecimento, não existem

dados relativos às habilidades de fluência na leitura oral para os alunos em estudo, ao

nível do português europeu. Neste sentido, a revisão teórica da literatura sobre os

processos de aprendizagem e desenvolvimento de uma leitura fluente, levaram-me a

algumas questões, ainda não exploradas no âmbito do português europeu, para as quais

o presente estudo poderá vir a possibilitar resposta: “Quais os valores de referência

para o português europeu, correspondentes à fluência de leitura oral nestes níveis de

desenvolvimento escolar?”; “ Poderá ainda existir evolução ao nível da fluência de

leitura oral entre o 8º e o 10º ano de escolaridade?”; “Como se relacionam as variáveis

envolvidas no processo de fluência de leitura oral, entre si e com outras variáveis, tais

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como o vocabulário e o efeito do contexto? Haverá diferenças na fluência de leitura

oral entre alunos do 10º ano que frequentam áreas de estudo diferenciadas, tais como

humanidades e ciências?

Neste âmbito, surge a problemática da evolução dos processos inerentes à

leitura. No Currículo Nacional do Ensino Básico, um dos princípios indicadores para

alcançar o objetivo delineado para a língua portuguesa é o aluno desenvolver um

conhecimento da língua que lhe permita ser um leitor fluente e crítico. No final do 3º

ciclo espera-se que o aluno tenha desenvolvido a fluência da leitura, seja capaz de

selecionar estratégias de modo a alcançar esse objetivo e compreenda o que lê. Espera-

se que o aluno, nesta fase, tenha a capacidade de reconstruir mentalmente o significado

de um texto (literário e não literário). No entanto, alguns alunos, em fases em que os

processos de aprendizagem da leitura já se deveriam encontrar estabelecidos, ainda

assim, não revelam uma leitura fluente. Poder-se-á dizer, que se torna evidente que não

chega proceder-se a uma caraterização de eventuais perturbações tipo, na leitura. Pode-

se inferir também que, previamente a esta identificação, dever-se-á aprofundar o

conhecimento sobre os processos cognitivos envolvidos nas diferentes fases de

aprendizagem da leitura e sobre os fatores que melhor predizem esta competência em

cada uma das etapas do seu desenvolvimento. A literatura tem demonstrado interesse

sobre esta problemática em idades nas quais ainda decorre este processo de

aprendizagem. No entanto, para estádios mais avançados em que o processo de

aprendizagem da leitura já deveria estar bem estabelecido, ainda não se encontra muito

explorada a questão de saber como poderá ser a melhor forma de ensinar adolescentes

leitores com dificuldades, no sentido de melhorar a sua leitura. Para o português

europeu, existe pouca investigação neste domínio. É precisamente esta a fase que

corresponde ao foco de interesse do nosso estudo em questão.

A participação de estudantes destes níveis escolares tornou-se, desta forma,

importante no presente estudo da fluência em leitura oral, para anos de escolaridade nos

quais os processos de aprendizagem da leitura já se encontram estabelecidos.

O estudo, como mencionado, possuirá uma natureza transversal incluindo dois

níveis de escolaridade (8º e 10º ano).

O facto de se tratar de um domínio de investigação ainda não explorado,

particularmente em Portugal, denota a relevância do estudo, que poderá contribuir para

colmatar a pouca investigação que existe neste domínio, numa língua com um grau de

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transparência intermédio2, como trará implicações ao nível educacional, no sentido de

que ficarão disponíveis dados de referência para os anos em estudo no que respeita a

estas habilidades.

2. Enquadramento Teórico

2.1 A importância da leitura

Vários investigadores nacionais e internacionais (Morais, 1997; National

Reading Panel, 2000; Shaywitz, 2003 & Sim-Sim, 1997) referem a leitura como uma

competência básica na sociedade atual.

De forma contrária à linguagem, a leitura não representa uma capacidade

humana natural. Segundo Brito-Mendes (1989), a leitura necessita de uma instrução

formal. Desta forma, aprende-se a ler nos primeiros anos de escolaridade, para que

posteriormente se possa aprender através da leitura. É através da leitura que obtemos a

maioria das informações consideradas indispensáveis, tanto nas mais simples e variadas

tarefas do nosso dia-a-dia, como no cumprimento das funções profissionais e sociais. É

através da leitura que somos confrontados com ideias e mundividências que enriquecem

o nosso património cultural e nos ajudam a refletir e a consolidar opiniões. De igual

forma, é no ato de ler, que por vezes, encontramos um espaço lúdico e de evasão, que

abre as portas a uma dimensão tão importante, no homem, como é a da imaginação e

criatividade (Santos, 2000).

Dada a sua relevante importância, como via de acesso à informação, à partilha e

à gestão de conhecimento, a literatura tem demonstrado alguns dos riscos associados a

uma leitura não proficiente. Neste âmbito, tem-se comprovado que crianças com

perturbações de leitura não diagnosticadas e tratadas na altura certa, são representativas

de uma população em risco de não completar os estudos e de desenvolver problemas

emocionais e sociais. Muitos destes problemas, na sua grande maioria associados ao

insucesso escolar, com repercussão posterior a outros níveis. Esta população em risco,

que tal como mencionado no ponto 1 do presente estudo constitui uma percentagem

considerável da nossa sociedade, quando em idade adulta, torna-se muitas vezes

representativa da taxa de desemprego com os consequentes problemas psicológicos,

2 O código ortográfico do português europeu é muito menos opaco do que o inglês e menos transparente

do que os do espanhol, do alemão ou do finlandês.

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sociais e económicos que dela advêm e que acabam por a definir. Desta forma, qualquer

défice que surja ao nível das competências na leitura poderá comprometer o sucesso

académico, profissional, social e pessoal de cada indivíduo e até da própria comunidade

onde ele se encontra inserido, pois a leitura é uma questão pública e um ato social

(Lyon, 2003; Morais, 1997).

Estudos realizados por Stahl, Heubach e Holcomb (2005), Rasinski e Padak

(1998), Meisinger, Bloom e Hynd (2010) e Kuhn (2005) demonstraram que o nível da

fluência na leitura é um fator preditivo de dificuldades na leitura, tendo contribuído para

a conclusão de que a fluência de leitura constitui um importante indicador na definição

de bons e maus leitores, bem como na definição de estratégias de intervenção adequadas

aos problemas detetados.

A pertinência do constructo de fluência de leitura é também salientada pelo

Currículo Nacional que a define como uma das competências essenciais da língua

portuguesa (Ministério da Educação, 2006/2007) “ser um leitor fluente e crítico” (meta

número 3, p.31), sendo a expressão “fluente” ou “fluência” referida de forma

repetitiva.

A importância da leitura pode ser analisada, tanto em função dos processos

psicológicos acionados pelo sujeito, como em função das utilizações que são

possibilitadas por si mesma, enquanto instrumento indispensável para as práticas

culturais e intelectuais de uma sociedade (Giasson, 1993). A importância da conjugação

destas dimensões é realçada quando analisamos o que um leitor fluente tem

possibilidades de fazer. Um leitor fluente consegue, entre outras coisas, compreender o

conteúdo essencial do texto, distinguindo o acessório do fundamental; relaciona as

diferentes partes do texto em esquemas de sequência causa e efeito e aprofunda a sua

compreensão através do estabelecimento de relações com conhecimentos anteriores.

Outra das vantagens que acompanham um leitor fluente corresponde à sua capacidade

de adaptar e flexibilizar a sua atitude de leitor tendo em conta o suporte, a estrutura do

texto (narrativa, descritiva, argumentativa, etc.) e os objetivos que pretende atingir com

o seu exercício de leitura. Assim sendo, consegue orientar o seu procedimento para uma

leitura mais integral, mais seletiva, mais na diagonal, mais atenta ou mais superficial.

Assim, o domínio da leitura é considerado por muitos (e.g., Cruz, 2007) como

sendo uma habilidade académica fundamental para todas as aprendizagens escolares,

profissionais e sociais. A leitura ocupa um lugar indispensável, dotado de particular

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relevância e pertinência, motivo pelo qual foi, é, e será um tema capital da escola,

criando dúvidas e expectativas a pais, professores e à sociedade em geral (Cruz, 2007).

Sem dúvida que saber ler funciona como o meio principal para uma

aprendizagem multidisciplinar.

2.2 Concetualização da fluência na leitura oral

A leitura é um processo complexo que envolve múltiplos desafios linguísticos e

cognitivos, processando-se de forma interativa entre o leitor e o texto, no qual o

primeiro reconstrói o significado do segundo. Para Fuchs, Fuchs, Hosp e Jenkins

(2001), ler é considerada uma tarefa complexa que requer a coordenação de múltiplas

competências.

De acordo com Samuels (2006) podemos considerar a fluência na leitura como

uma medida da habilidade para decifrar e compreender um texto (Samuels, 2006 citado

por Penner-Wilger, 2008).

Aprofundando o conceito de fluência na leitura, podemos dizer que se trata de

um constructo multidimensional que inclui diversas competências. Considera-se fluente

um leitor que possui um conjunto de competências que lhe possibilitem um

processamento eficaz do texto escrito. São estas as competências que lhe possibilitam a

compreensão daquilo que lê. Ler de forma fluente envolve mais do que a rapidez e

precisão na leitura. Segundo Walker, Mokhtari e Sargent (2006) inclui também a

expressividade e a naturalidade com que se lê. Fatores que, segundo estes autores, são,

também eles, necessários para a compreensão do que é lido. Podemos dizer que a

fluência na leitura refere-se desta forma, ao grau de facilidade em, simultaneamente

descodificar e compreender um texto com pouco esforço.

Ainda nesta linha definidora, Rasinski (2004) define a fluência na leitura oral

como a capacidade de descodificar palavras escritas com precisão e sem esforço, dando-

lhes sentido através de uma expressão oral adequada.

No que concerne a uma leitura fluente, Walker et al. (2006) traçaram um modelo

representativo do desenvolvimento de uma leitura fluente, no qual evidenciam três

atributos fundamentais: atributos de desempenho; atributos de competência e atributos

disposicionais. Os atributos de desempenho dizem respeito à precisão, à velocidade e à

expressividade da leitura. Por “precisão” entende-se a capacidade para descodificar

corretamente as palavras e requer que o participante tenha desenvolvido a consciência

fonológica, sendo capaz de identificar a correspondência letra-som. A “velocidade”,

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define-se pela capacidade em ler rapidamente e com pouco esforço, sílabas e palavras

frequentes. A “expressividade” refere-se à qualidade da leitura oral, considerando o

respeito pela pontuação e desenvolvendo uma entoação que respeita o significado do

que se lê, favorecendo a sua compreensão. Os atributos de competência incluem a

consciência fonológica e morfológica, o conhecimento de sintaxe, conhecimento da

estrutura do discurso e as competências metacognitivas relativas à leitura. Por fim, os

atributos disposicionais referem-se às atitudes relativamente à leitura (e.g., auto

perceção enquanto leitor e hábitos de leitura).

A investigação neste âmbito considera a fluência como um dos elementos

fundamentais que distingue um bom leitor. A reduzida fluência ao nível da leitura oral

torna-se uma caraterística comum dos alunos com dificuldade na aquisição e

desenvolvimento das competências de leitura. Neste sentido, a investigação

internacional tem vindo a mostrar que uma reduzida fluência na leitura é considerada

também como um preditor fiável de dificuldades ao nível da compreensão daquilo que

se lê (Fuchs & Fuchs, 1992; Fuchs et al., 2001; Rasinski, 2004).

O desenvolvimento da leitura implica desta forma, a aquisição de um conjunto

de processos cognitivos específicos dessa mesma capacidade.

De acordo com Good, Simmons e Kame´enui (2001), os processos de

aprendizagem de leitura iniciam-se através das competências que se lhe encontram

subjacentes, ou seja, processos que implicam uma consciência fonética, bem como o

princípio alfabético, a ser desenvolvido durante o ensino pré-escolar e o primeiro ano de

escolaridade. A partir desta fase, durante o segundo ano de escolaridade, o aluno já

deverá ter adquirido os processos sublexicais, altura em que darão início à

descodificação. Recorrendo à prática de leitura de pequenos textos e repetição de

palavras, acabarão por adquirir as habilidades necessárias à descodificação rápida e

automática das palavras. Associada à descodificação automática de palavras, a fluência

na leitura oral torna-se representativa de um processo que deverá evoluir durante os

anos de escolaridade subsequentes.

Como referencial teórico, existe um conjunto de modelos que possibilitam a

compreensão do desenvolvimento das capacidades de leitura. Os modelos que têm sido

mais utilizados nesse sentido, são os modelos de desenvolvimento em estádios (e.g.,

Marsh, Friedman, Welch, & Desserg, 1981; Seymour & MacGregor, 1984; e Frith,

1986). Segundo alguns autores (Sprenger-Charolles, Siegel, & Béchennec, 1998), estes

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modelos são até ao momento considerados aqueles que melhor permitem a compreensão

da aquisição da leitura e os que detêm um maior número de argumentos favoráveis.

Neste contexto, Ehri (1992) apresentou um modelo de aprendizagem da leitura,

considerando que em cada fase do desenvolvimento da leitura predominam diferentes

tipos de conexões que se formam entre a palavra escrita e a informação fonológica que

um determinado sujeito tem sobre essa palavra. No entanto, a autora defende a

existência de limites menos claros entre os diferentes estádios do desenvolvimento da

leitura, assumindo a existência de alguma sobreposição entre eles. Cada fase do

desenvolvimento da leitura, é, no entanto, caraterizada pelo predomínio de um tipo de

conexões que liga a palavra escrita às suas outras identidades retidas na memória.

Segundo esta autora, a aprendizagem da leitura ocorre ao longo de quatro fases: Pré-

alfabética; Alfabética Parcial; Alfabética e a Alfabética Consolidada. O nome de cada

uma destas fases reflete a predominância relativamente ao tipo de conexões que ligam a

forma escrita das palavras à sua pronúncia e aos significados que existem na memória.

A fase Pré-Alfabética, corresponde a uma fase na qual a leitura é feita por

associação visual. A aprendizagem da configuração visual das palavras começa por um

processo não alfabético que envolve a memória de conexões entre determinadas pistas

visuais e as palavras. Nesta fase ainda não se encontram estabelecidas as relações letra-

som.

Na fase Alfabética Parcial as crianças começam a estabelecer relações

alfabéticas parciais entre algumas letras das palavras e os seus sons. Nesta fase, os

leitores ainda não possuem informação sobre todo o conhecimento ortográfico e não

conseguem, como tal, segmentar ainda a fala em fonemas que coincidam com os

diversos grafemas.

A fase seguinte, designada de fase Alfabética, corresponde a uma fase do

desenvolvimento na qual a leitura é efetuada com recurso a conexões grafo fonémicas

completas. Nesta fase as crianças já adquiriram conhecimento grafo fonémico e

utilizam-no para ler palavras. Os leitores já conhecem o sistema ortográfico

convencional. Já se encontram capazes de identificar os fonemas simbolizados pelos

grafemas. Nesta fase, o leitor já consegue estabelecer uma ligação direta entre a

ortografia da palavra e a sua pronúncia na memória, tornando a leitura muito mais

correta. É uma fase na qual as crianças adquirem como estratégias a capacidade de

descodificar palavras e de ler palavras por analogia. A capacidade de descodificação,

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associada à memória completa das palavras, nesta fase, vem permitir o aparecimento da

estratégia de leitura por analogia.

A quarta-fase do modelo de Ehri, designada por fase Alfabética Consolidada, é

representativa de uma fase na qual os leitores já se encontram capazes de descodificar

palavras transformando os grafemas em fonemas, conseguindo retê-las visualmente, de

forma a relacionar a sua ortografia com a pronúncia. Os alunos já aprenderam a utilizar

unidades maiores do que grafema para ler palavras. Nesta fase as letras já são

associadas a unidades sonoras maiores (morfemas; sílabas; etc.), de forma a que o seu

uso possibilitará a descodificação de novas palavras e de as reter na memória visual

ortográfica.

A leitura de palavras não familiares torna-se possível sobretudo a partir da fase

Alfabética.

Estas teorias do desenvolvimento da leitura surgem a partir dos modelos de

dupla via, como por exemplo o modelo de Humphreys e Evett (1985) e o modelo de

acesso ao léxico de Coltheart (2001). Os modelos de reconhecimento da palavra de

dupla via fazem a distinção entre dois tipos de processamento para leitores fluentes: um

procedimento fonológico designado de via fonológica ou via indireta e um

procedimento de acesso ortográfico direto denominado de via ortográfica ou via direta.

De forma mais consistente alguns investigadores (e.g., Perfetti & Bell, 1991; Van

Orden, 1987) defendem que a ativação fonológica se carateriza como um processo

rápido, automático e geral. No entanto, outros investigadores (e.g., Paap & Noel, 1991,

cit. por Booth, MacWhinney, & Perfetti, 1999) defendem que a ativação fonológica

pode ser tardia, estratégica e baseada em regras. Neste sentido postulam modelos de

reconhecimento visual da palavra com múltiplos mecanismos (e.g., Paap & Noel, 1991,

cit. por Booth et al., 1999).

Os que defendem a ativação fonológica como um processo rápido, automático e

geral, defendem a existência de um mecanismo único para o reconhecimento visual da

palavra (Plaut, McClelland, Seidenberg, & Patterson, 1996; Seidenberg & MacClelland,

1989).

A investigação realizada por Both et al. (1999) com crianças a frequentar o 2º, 4º

e 5º ano de escolaridade, objetivou estudar o papel da ativação ortográfica e fonológica

na aquisição da capacidade de leitura. Foi por estes autores aplicado o paradigma de

“identificação de palavras com apresentação breve”. Esta investigação com crianças

demonstrou que tornar-se um leitor hábil requer o desenvolvimento de processos

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ortográficos e fonológicos rápidos e automáticos na identificação de palavras escritas.

Sugeriu inclusive que a informação fonológica é ativada inicialmente no processo de

reconhecimento visual da palavra e que ocorre em série com a ativação ortográfica. Os

resultados da aplicação deste paradigma a adultos sugeriram que os processos

fonológicos são rápidos, automáticos e gerais. No entanto, os modelos de

desenvolvimento baseados na abordagem de dupla via assumem que os dois tipos de

procedimento são adquiridos sucessivamente, sendo que as crianças se apoiarão

primeiro no procedimento fonológico, substituindo-o posteriormente pelo uso de um

procedimento ortográfico.

Os leitores hábeis possuem correspondências entre letras individuais e as

pronúncias das palavras mas também parecem ter correspondências de ordem superior

entre a ortografia e a fonologia. Segundo Both et al. (1999) a capacidade de flexibilizar

e utilizar rapidamente as representações ortográficas e fonológicas interligadas no

reconhecimento da palavra, carateriza a passagem para uma leitura hábil.

Desta forma, os modelos de desenvolvimento baseados na abordagem de dupla

via assumem, de um modo geral, que o procedimento fonológico e o procedimento

ortográfico são adquiridos sucessivamente, sendo que as crianças se apoiarão primeiro

no procedimento fonológico substituindo-o posteriormente pelo procedimento

ortográfico.

No entanto, o estudo de Fernandes, Morais, Querido e Ventura (2008), a partir

do efeito lexical encontrado na ortografia, veio sugerir que até ao final do 1º ano de

escolaridade os alunos já tinham começado a construir um léxico ortográfico. O que

vem demonstrar que existe um desenvolvimento na leitura oral que não é efetuado de

forma sucessiva para o português; e que ainda durante o desenvolvimento da

descodificação já existe acesso ortográfico (ver também Reis, Faísca, Castro, &

Petersson, 2010).

Desta forma, Sim-Sim e Viana (2007) classificam como leitor hábil e fluente,

aquele que consegue dominar as habilidades referentes à decifração, à aprendizagem da

associação entre grafema e fonema e aos processos de descodificação automática das

palavras.

Tal como já foi referido anteriormente, normalmente no final do 2º ciclo um

leitor hábil deverá ler de forma autónoma, veloz e com compreensão do significado

daquilo que se encontra a ler. No entanto, para a maioria dos leitores a fluência de

leitura é adquirida ao longo do tempo e através de uma extensa prática (Biemiller, 1977-

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1978 in Osborn, et al., 2003). Além disso, o nível de fluência de leitura altera-se,

dependendo da familiaridade que o leitor tem das palavras e do conhecimento do

contexto. Até mesmo para um leitor qualificado por vezes é difícil uma leitura fluente,

quando os textos contêm vocabulário altamente técnico ou são sobre temas dos quais

têm pouco conhecimento (Armbruster et al., 2001 in Osborn, et al., 2003).

De qualquer forma, segundo Rasinski (2009), a fluência de leitura oral é

considerada como a ligação entre as competências iniciais necessárias à aprendizagem

da leitura e a compreensão.

Apesar de existir um crescente interesse na fluência na leitura, não existe, no

entanto, nenhuma definição que obtenha concordância entre autores. Por exemplo

(LaBerge & Samuels, 1974; Stanovich, 1991; Samuels, 2002) ao definirem fluência na

leitura oral, salientam o papel da precisão e da automatização no reconhecimento de

palavras. No Literacy Dictionary a fluência é definida como a “capacidade de

reconhecimento de palavras que leva à compreensão” (Harris & Hodges, 1995, p. 85).

Meyer e Felton (1999, p. 284) definem-na como a habilidade para ler um texto "rápida,

suavemente, sem esforço e automaticamente, despendendo pouca atenção na mecânica

necessária à descodificação". Outros autores salientam o uso apropriado de uma leitura

oral expressiva como importante fator para uma leitura fluente (Allington, 1983 in

Osborn et al, 2003; Dowhower, 1987 in Osborn et al, 2003; Schreiber, 1987 in Osborn

et al, 2003). Já o National Reading Panel (2000), ao fornecer algumas pistas para

definir fluência, considera-a como mais do que um processo inerente ao reconhecimento

das palavras de forma rápida, um processo que se segue à aprendizagem das sub-

competências da leitura, o qual se estende para além do conhecimento das palavras no

texto, até aos processos de compreensão.

Outros ainda, tal como (Jenkins, Fuchs, Van den Broek, Espin, & Deno, 2003;

Fuchs et al., 2001) definem fluência na leitura como a capacidade de ler palavras

isoladas com rapidez e precisão, tanto dentro como fora de um contexto. Esta

concetualização de fluência na leitura indica que a fluência na leitura de palavras

isoladas e a fluência na leitura de texto se encontram altamente correlacionadas.

Para Armbruster, Lehr e Osborn (2001, p. 22), a fluência é a capacidade de ler

um texto com precisão e rapidamente.

De acordo com os estudos de Berninger, Abbott e Vermeulen (2002); Russel,

(2002); Torgesen et al. (2001); Wolf e Cohen (2001) existem quatro fatores

principalmente envolvidos no estabelecimento da fluência de leitura oral: precisão;

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velocidade; memória de trabalho e compreensão. O leitor poderá desta forma, utilizar

vários métodos para ler corretamente as palavras (e.g., podem transformar letras de uma

palavra em sons e mistura-los para obter um pronúncia; identificar palavras por analogia

às palavras conhecidas ou utilizar o contexto para aceder ao significado das palavras).

No entanto a utilização destes métodos exige o conhecimento do princípio alfabético

(e.g., conversão de grafemas em fonemas); a capacidade de se misturar sons para se

obter a pronúncia da palavra, a capacidade de armazenar e recuperar um grande número

de palavras da memória e a capacidade de usar o contexto do texto para facilitar o

reconhecimento da palavra (Ehri & McCormick, 1998; Torgesen & Hudson, 2006;

Tunmer & Chapman, 1996). O segundo fator, a velocidade de nomeação, implica a

rápida nomeação de estímulos apresentados, como cores, desenhos de objetos, letras,

grafemas, etc. (Misra, Katzir, & Wolf, 2004). No entanto pouco se sabe sobre relação

entre a velocidade de nomeação e a fluência de leitura oral em adolescentes. O terceiro

fator refere-se à memória de trabalho. A capacidade de memória de trabalho dos

leitores ou a capacidade de simultaneamente armazenar e manipular informações

durante tarefas complexas influencia a fluência na leitura oral (Baddeley, 2000). Isto é,

uma tarefa só pode ser realizada se a demanda cognitiva necessária não excede os

recursos disponíveis para o indivíduo. No caso da leitura, LaBerge e Samuels (1974)

propõem que quando as pronúncias e significados de palavras são reconhecidas

automaticamente, menos esforço de recursos cognitivos são usados para decodificar

palavras e mais recursos cognitivos podem ser utilizados para a compreensão do texto.

Nestes casos a descodificação e a compreensão são simultaneamente executados. No

que respeita ao quarto fator, ou seja, a compreensão da linguagem, este refere-se à

capacidade dos leitores para a construção do significado. Em pesquisas anteriores a

respeito da relação entre a fluência de leitura e a compreensão da linguagem, foram

encontradas pequenas mas significativas contribuições para a fluência em adolescentes,

independentes das existentes em leitores principiantes (Geva & Zadeh, 2006; Torgesen

et al., 2001). Pode ser que para leitores de níveis de escolaridade mais avançados, a

compreensão da linguagem possa explicar a maior parte da variação na fluência na

leitura, uma vez que a maioria dos leitores lê através do significado, em vez de aprender

a ler. Assim parece provável que a compreensão da linguagem tenha um papel

importante na fluência de leitura oral entre os leitores adolescentes.

A diversidade de definições descritas por diversos autores para a fluência na

leitura oral, convergem para um acordo comum, de que esta capacidade que implica o

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ser-se um leitor hábil e fluente, resulta de um processo de desenvolvimento e evolução

que vai decorrendo ao longo de diversas etapas, a partir do momento em que a criança

inicia o contacto com o alfabeto.

De acordo com a diversidade de autores que definem a fluência na leitura oral,

penso que não podemos isolar o reconhecimento das palavras da sua compreensão, ao

falarmos de fluência. Desta forma, leitores fluentes que são capazes de identificar

palavras com precisão e automaticamente podem concentrar a maior parte da sua

atenção na compreensão. Os leitores menos fluentes necessitam de concentrar grande

parte da sua atenção no reconhecimento de palavras, não conseguem fazê-lo

rapidamente, lendo palavra por palavra, fazendo repetições ou até mesmo saltando a

leitura de palavras. Frequentemente agrupam palavras de forma diferente do discurso

natural, tornando instável o ritmo da leitura (Dowhower, 1987, citado por Hudson,

Lane, & Pullen, 2005). De acordo com o National Reading Panel (2000), os leitores

menos fluentes acabam por ter maior dificuldade na compreensão dos textos porque

possuem uma menor atenção disponível, uma vez que despendem grande parte da sua

concentração no reconhecimento das palavras.

2.2.1 Fluência de Texto e Fluência de Palavras Isoladas

A medida de fluência na leitura de um texto, corresponde à leitura de textos ou

excertos de textos selecionados de acordo com o nível de escolaridade dos alunos.

A avaliação de fluência oral com base na leitura de um texto é um procedimento

que se foca em dois elementos da fluência (velocidade de leitura e precisão) (Hasbrouck

& Tindal, 2006). No presente estudo, centrar-nos-emos na variável que corresponderá

ao número de palavras lidas corretamente por minuto.

De acordo com Deno (2003), este tipo de avaliação é tecnicamente adequada;

permite uma avaliação estandardizada; é eficiente e fácil de aplicar; permite uma

avaliação com acesso rápido a dados referentes aos participantes; constitui uma técnica

de cariz económico e pode ser aplicada por vários tipos de experimentadores por se

ensinar com facilidade. É uma técnica que constitui quer para educadores e/ou outros

investigadores/avaliadores, uma forma eficaz de avaliar e monitorizar os progressos dos

participantes/alunos, possibilitando informações precisas e significativas a respeito da

situação e evolução de cada aluno (Deno, Fuchs, Martson, & Shin 2001; Fuchs et al.,

2001).

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De acordo com dados mais recentes, Gonçalves (2011) sugere com base em

dados obtidos nos últimos anos, que a avaliação da fluência com base no currículo

(leitura de textos adaptados ao desenvolvimento dos alunos) permite a distinção entre

bons e maus leitores, concluindo que este é um procedimento que facilita a

caraterização das dificuldades dos alunos e facilita a orientação de linhas de intervenção

mais adequadas a cada aluno.

No nosso estudo em particular, esta técnica de avaliação do número de palavras

lidas de forma correta por minuto permitir-nos-á fornecer uma medida de fluência na

leitura oral de texto, para cada um dos 58 participantes. A mesma técnica será aplicada à

leitura de palavras isoladas apresentadas em listas. Neste teste de fluência de leitura de

palavras, as palavras isoladas presentes nas listas, foram retiradas do texto utilizado

como medida de fluência de texto, tendo sido pseudoaleatoriamente distribuídas,

evitando relações contextuais e/ou semânticas, na sequência da sua apresentação nas

listas. A comparação entre estas duas medidas de fluência (texto e palavras isoladas)

permitir-nos-á pôr em evidência o efeito do contexto na fluência oral de leitura de

textos.

De acordo com Jenkins et al. (2003) e Stanovich (1980) as palavras são lidas

mais rapidamente quando inseridas num contexto do que isoladamente. Os estudos de

Perfetti, Goldman e Hogaboam (1979); Stanovich e West (1981) revelaram que os

leitores dependem muitas vezes do contexto como forma de auxílio na identificação das

palavras de um texto (Perfetti, Goldman, & Hogaboam, 1979; Stanovich & West, 1981).

Por outro lado, Jenkins et al. (2003) encontraram em crianças americanas que

frequentavam o 4º ano de escolaridade, uma relação preditiva da fluência de leitura de

palavras isoladas sobre o nível de fluência de leitura de texto.

2.3 Avaliação da fluência na leitura oral em Portugal

No âmbito do português europeu os estudos de Carvalho e Pereira (2008)

visaram a avaliação da fluência na leitura oral em crianças entre o 2º e o 6º ano de

escolaridade, possibilitando a apreciação do desempenho na leitura de um texto em voz

alta. Os estudos destes autores sobre a fluência na leitura oral com base no currículo,

permitiram a obtenção de valores de referência, no que respeita à média do índice de

fluência até ao 6º ano de escolaridade para o português europeu. Revelaram uma curva

de crescimento que traduz uma melhoria progressiva no desempenho, sem efeitos de

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teto, até ao 6.º ano de escolaridade. Os resultados do referido estudo inferiram que até

ao 5.º ano há uma progressão no domínio da leitura, com aquisição crescente de cada

vez mais e melhores competências, após o que estabiliza, reduzindo a curva de

crescimento. No entanto esta estabilidade evolutiva, não significa cessação evolutiva.

Os estudos de Tristão (2009) sobre a avaliação da fluência na leitura oral em

alunos do 2º ano de uma escola pública portuguesa, também contribuíram com valores

de referência para este nível de escolaridade no âmbito do português europeu.

Ainda no âmbito do português europeu o estudo de Castanheira e Gonçalves

(2011) teve por objetivo a identificação e a tipificação de alunos com dificuldades, para

definir estratégias de intervenção adequadas, recorrendo à fluência na leitura oral de

texto (velocidade e precisão) com base no currículo. Forneceu desta forma, valores de

referência ao nível da fluência de texto para alunos do 5º ano de escolaridade. Estes

estudos realizados no âmbito do português europeu, utilizaram no entanto, apenas uma

medida de fluência de leitura (fluência de texto).

No quadro do estudo psicolinguístico “Estabelecimento de níveis de referência

do desenvolvimento da leitura e da escrita do 1º ao 6º ano de escolaridade” do Plano

Nacional de Leitura, podemos citar o estudo de Fernandes (2012) para o português

europeu 3 que incidiu sobre os componentes da fluência na leitura oral de alunos do 1º

ao 6º ano de escolaridade. No que diz respeito à fluência na leitura de texto, os

resultados deste estudo apresentam um padrão muito semelhante ao apresentado pelos

estudos de Hasbrouck e Tindal (2006) para leitores dos E.U.A. até ao 8º ano de

escolaridade. Estes últimos denotaram uma evolução até ao 6º ano, para depois entre o

6º, 7º e 8º ano se observar a existência de um teto aparente, de valores estáveis, sem

aumento nos valores resultantes da avaliação da fluência na leitura oral de texto ao nível

destes anos de escolaridade.

Dado que os valores de referência para o português europeu não vão além do 6º

ano de escolaridade, como forma de orientação, existe a possibilidade de consulta das

normas dos EUA (Hasbrouck & Tindal, 2006; Rasinski, 2004), apesar de não se

encontrarem adaptadas ao contexto português. Ainda assim, as normas referenciadas por

estes autores estrangeiros apresentam valores apenas até ao 8º ano de escolaridade

(Hasbrouck & Tindal, 2006; Rasinski, 2004), não existindo qualquer tipo de valor

3 II Simpósio de investigação em psicologia (comunicação oral), FPUL.

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referencial que nos permita analisar uma possível evolução ao nível da fluência na

leitura oral após este nível de escolaridade.

Segundo as autoras Sim-Sim & Viana (2007), mesmo para idades iniciais do

desenvolvimento do processo de aprendizagem de uma leitura que se objetiva fluente,

ainda assim, existe escassez de indicadores nacionais que possibilitem uma definição de

marcos de referência no desempenho da leitura. Existe desta forma, pouca investigação

neste domínio para o português europeu em fases iniciais do desenvolvimento da

aprendizagem da leitura e inexistentes para fases cujos processos de aprendizagem já se

encontram estabelecidos, como é o caso do presente estudo. Não se encontram registos

de dados de referência para os níveis de escolaridade em análise (8º e 10º ano de

escolaridade) no que respeita à relação existente entre as duas medidas de fluência

(fluência de texto e fluência de palavras isoladas) e a relação destas com outras

variáveis como o vocabulário e o efeito do contexto. Não existem normas nacionais,

nem valores de referência relativamente ao esperado para estes anos de escolaridade.

No entanto esta inexistente informação para o português europeu a respeito da

temática em foco, toma ainda maior relevância quando confrontada com a eminente

necessidade interventiva no âmbito do desempenho da leitura. Esta necessidade

interventiva torna-se eminente ao tomarmos conhecimento dos resultados do PISA

2003, no qual é possível identificar, tal como já havia descrito anteriormente, na

população escolar portuguesa de 15 anos, que 48% dos alunos apenas possuem

conhecimentos básicos de leitura que lhes permitem no máximo localizar uma peça de

informação no texto ou identificar o tema principal do que leram e que 22% são

considerados maus leitores, o que nos coloca abaixo da média europeia, que é de 19,4%.

2.4 A importância do vocabulário para uma leitura fluente

A relação existente entre o vocabulário e a leitura apresenta dois aspetos a serem

considerados, ou seja, a importância do conhecimento lexical para a leitura e o valor da

leitura como meio de expandir esse conhecimento lexical. As considerações feitas a

seguir, sobre a importância do vocabulário por exemplo, para a compreensão da leitura,

são altamente relevantes na medida em que a aquisição do vocabulário por intermédio

da leitura não poderá ocorrer, de acordo com a convicção geral, sem que haja a

compreensão da leitura. Portanto, a relação existente entre o vocabulário e a leitura,

sendo causal e recíproca não nos permite considerar a importância de um,

desconsiderando a do outro.

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O conhecimento do vocabulário tem vindo a ser reconhecido, como possuindo

uma forte relação com a habilidade de leitura. De acordo com Laufer (1997), não é

possível compreendermos um texto sem que sejamos capazes de compreender o

vocabulário inserido nesse texto. No mesmo sentido, investigadores (e.g., Perfetti,

Goldman, & Hogaboam, 1979; Stanovich & West, 1981; Baumann, Kame´enui, & Ash,

2003) afirmaram que uma das descobertas mais persistentes na investigação da fluência

de leitura oral mostrou que o grau de conhecimento de vocabulário dos alunos se

relaciona fortemente com a compreensão daquilo que é lido.

Por outro lado, o conhecimento lexical do leitor facilita o reconhecimento

automático das palavras, cujas formas e significados são reconhecidas automaticamente.

É esse vocabulário com reconhecimento automático que libertará os recursos cognitivos

do leitor para que ele possa (i) deduzir o significado de palavras desconhecidas ou

levemente conhecidas e (ii) interpretar o significado global do texto. Se o leitor

despende de um esforço cognitivo muito elevado para decifrar informações ao nível da

frase (e.g., ao tentar deduzir o significado de um grande número de palavras

desconhecidas), ele irá demonstrar dificuldades em identificar as relações existentes

entre os parágrafos. Desse modo, quando atingir o final do segundo parágrafo, já terá

esquecido as informações contidas no primeiro e ficará impossibilitado de fazer as

devidas conexões entre os dois, por exemplo.

Perfetti e Lesgold (1977), citados por Coady (1993), argumentam que o leitor

eficiente tem controlo suficiente sobre a linguagem escrita, de modo que as palavras são

reconhecidas automaticamente e dessa forma a sua atenção pode ser redirecionada para

interpretar as frases e ideias do texto (esse processo de identificação envolve a interação

entre fontes de informação ascendentes e descendentes). Por outro lado, os leitores

fracos, não possuem um conhecimento suficiente do vocabulário de uso automático, que

seja altamente eficiente. Essa é a razão pela qual a identificação de palavras é o

componente central no modelo interativo4 de leitura.

Outros estudos, como os de Scaramucci (1995) investigaram a relação entre a

compreensão da leitura e o conhecimento lexical e este autor concluiu que uma

competência lexical bem desenvolvida é um fator determinante na leitura. A sua

pesquisa revelou que os aspetos qualitativos dessa competência extrapolam o nível

4 Os modelos interativos da leitura sugerem que a leitura engloba, simultaneamente, processos de baixo

para cima, pelo tratamento da informação relativa aos estímulos, i.e., às palavras escritas, e de cima para

baixo, pelo tratamento da informação a partir de estruturas superiores – ortografia, semântica, sintaxe.

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lexical, envolvendo a capacidade de uso desse conhecimento em outros níveis, tais

como semântico, sintático, morfológico e pragmático-discursivo, permitindo não apenas

a inferência de palavras mas, principalmente, a construção de um sentido para o texto. A

análise dos resultados da pesquisa de Scaramucci (1995) toma como evidente que

resultados baixos ao nível da leitura correspondem a resultados baixos ao nível do

conhecimento lexical.

O conhecimento lexical é, desta forma, considerado como estando fortemente

relacionado com a compreensão do texto, mais fortemente do que qualquer outro

componente da leitura. Laufer (1997) comenta citando as pesquisas de Beck, Perfetti e

Mckeown (1982), Kame’enui, Carnine e Freschi (1982) e Stahl (1983), que o

desenvolvimento da compreensão da leitura pode ser atribuído a um aumento do

conhecimento lexical.

No âmbito do português europeu, um estudo realizado por Reis, Faísca, Castro e

Petersson (2010), com alunos do 1º ciclo do ensino básico, veio demonstrar que, à

medida que a escolaridade aumenta, o contributo da consciência fonológica para a

explicação da velocidade de leitura diminui e aumenta o contributo de outras variáveis

mais associadas ao automatismo e reconhecimento lexical, tais como a nomeação rápida

e o vocabulário.

Os estudos de Anthony, Barth e Catts (2009), sobre os componentes subjacentes

à fluência de leitura em leitores adolescentes vieram reforçar estes princípios ao

sugerirem que a fluência na leitura oral também é influenciada pela capacidade de

processar significado linguístico. Ao ensinar estratégias de compreensão capazes de

ajudar os alunos a ter uma compreensão de palavras (vocabulário), o aluno será capaz

de compreender melhor um determinado texto e lê-lo fluentemente. Os estudos

referenciados denotam a importância para a leitura do conhecimento do vocabulário e,

por outro lado, do valor da leitura como meio de adquirir vocabulário (Grabe & Stoller,

1997).

3.Metodologia

3.1 Perspetiva Global

O presente estudo assenta num domínio sobre o qual existe pouca investigação,

particularmente inexistente em Portugal. Possibilitará a disponibilidade de dados de

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referência para os anos em estudo, contribuindo desta forma, para estudos futuros ao

nível educacional, no âmbito destas capacidades.

Assim, atendendo ao facto de as normas de fluência na leitura oral para os

E.U.A. denotarem uma evolução até ao 6º ano de escolaridade para depois

manifestarem aparentemente a existência de um teto entre o 6º, 7º e 8º ano, mantendo-se

com valores estáveis, sem aumento significativo, será que o mesmo se passa para o

português europeu ou poderá ainda assim existir evolução entre o 8º e o 10º ano de

escolaridade? Se existir uma evolução na fluência de leitura oral, que outros aspetos

poderão estar envolvidos ao nível do desenvolvimento desta habilidade, entre o 8º e o

10º ano de escolaridade?

Assim sendo, a presente investigação poderá constituir um contributo no âmbito

da avaliação das evidências da população representativa da amostra em estudo (8º e 10º

ano de escolaridade), no que respeita à forma como se relacionam as duas medidas de

fluência na leitura oral (texto e palavras isoladas), bem como à forma como estas se

relacionam com outras variáveis possíveis de se encontrarem subjacentes ao mecanismo

de fluência, nomeadamente o vocabulário e o efeito do contexto.

Tendo em conta que o tipo de instrução que os alunos recebem desempenha um

papel importante no tornarem-se leitores fluentes (Menon & Hieber, 2003; Torgesen,

Rashotte, Alexander, Alexander, & McFee, 2002) poderá haver diferenças significativas

ao nível do 10º ano de escolaridade entre a área curricular de ciências e a de

humanidades no que diz respeito às duas medidas de fluência de leitura e ao

vocabulário?

Assim, o presente estudo possui como objetivos centrais, estudar a relação entre

a fluência na leitura oral, considerando duas medidas de fluência (fluência de texto e

fluência de palavras isoladas) e outras variáveis, como o vocabulário e o efeito do

contexto. Avalia de forma transversal, dois níveis de escolaridade (8º e 10º anos),

considerando para o 10º ano de escolaridade a possibilidade de diferenciação de

resultados entre a área curricular de ciências e a de humanidades.

De forma concreta, definem-se como objetivos específicos do estudo:

i) Estudar a relação entre duas medidas da fluência na leitura (fluência de texto e

fluência de palavras isoladas) em leitores adolescentes de dois níveis de

escolaridade

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ii) Investigar a relação destas duas medidas de fluência na leitura com outras

variáveis, nomeadamente o vocabulário e o efeito do contexto para os níveis

de escolaridade em estudo.

iii) Estabelecer uma possível relação diferencial entre as duas áreas curriculares em

estudo (humanidades e ciências), no que concerne às duas medidas de

fluência (texto e palavras isoladas) e ao vocabulário.

iv) Recolher dados de referência para os 8º e 10º anos de escolaridade nestas

habilidades de fluência de leitura.

A primeira etapa do presente estudo consistiu numa revisão de literatura sobre a

temática da fluência na leitura oral, no âmbito dos mecanismos subjacentes a esta

habilidade e da relação desta com outras possíveis variáveis, em leitores adolescentes.

A segunda etapa do estudo consistiu em encontrar duas escolas que aceitassem

participar no estudo, o que envolveu vários contactos (telefone, reuniões presenciais e

cartas de consentimento informado – Anexo I) e esclarecimentos com diversos técnicos

responsáveis pela tomada deste tipo de decisões. Após os técnicos responsáveis das

respetivas escolas terem aceite a realização do estudo, também se obteve o

consentimento informado dos diretores de turmas e professores das unidades

curriculares envolvidas, dos encarregados de educação dos alunos e dos próprios

participantes.

A escolha das escolas foi aleatória, mas representativa da cidade de Lisboa.

Esta etapa revelou-se menos problemática do que inicialmente se antecipara,

com pronta aceitação por parte dos técnicos responsáveis pelos estabelecimentos de

ensino, encarregados de educação e participantes. Foi muito facilitadora a cedência de

espaços para aplicação dos testes necessários.

A terceira etapa consistiu na aplicação dos instrumentos aos participantes

envolvidos no estudo (alunos de 3 turmas do 8º ano de escolaridade e 2 turmas do 10º

ano).

Após a recolha de dados, que envolveu várias semanas, dada a natureza

individual da aplicação das provas, na etapa da análise de dados, as leituras (texto e

listas de palavras isoladas) foram repetidamente analisadas relativamente a um conjunto

de parâmetros.

A metodologia adotada para o desenvolvimento do presente estudo assentou

numa revisão de literatura sobre fluência de leitura.

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3.2 Participantes

Neste estudo participou uma amostra de alunos representativa dos 8º e 10º anos

de escolaridade da Escola BI/JI Vasco da Gama e da Escola Secundária António

Damásio, respetivamente. As escolas são representativas da cidade de Lisboa.

A amostra total é composta por 58 alunos (Tabela 1), sendo 30 do 8º ano e 28 do

10º ano. Dos 30 alunos que compõem a amostra do 8º ano, 14 são do sexo feminino e

16 do sexo masculino, tendo idades compreendidas entre os 13 e os 14 anos. A média

de idades dos alunos do 8º ano é semelhante para ambos os sexos.

A amostra de alunos do 10º ano encontra-se dividida por duas áreas curriculares

(humanidades e ciências). Dos 28 alunos que representam a amostra total do 10º ano, 14

são da área de humanidades, dos quais 8 são do sexo feminino e 6 do sexo masculino.

Os restantes 14 alunos, da amostra total de 28 alunos do 10º ano, são representativos da

área de ciências, sendo 9 do sexo feminino e 5 do sexo masculino. A média de idades

dos alunos do 10º ano é semelhante para ambos os sexos, sendo que as suas idades se

encontram compreendidas entre os 15 e os 16 anos.

Participaram no presente estudo apenas os alunos que possuíssem como língua

materna o português europeu continental, não sendo bilingues; alunos sem problemas

auditivos e/ou visuais; sem dificuldades articulatórias (e.g., gaguez); que não tivessem

sido identificados como tendo dificuldades específicas de aprendizagem, défice de

atenção e concentração ou hiperatividade; alunos não repetentes e os alunos que

possuíssem a autorização de participação no estudo devidamente assinada por um dos

pais ou encarregado de educação.

Tabela 1. Distribuição da amostra em função das variáveis sexo e idade (média / desvio-padrão)

Nº de participantes Idade cronológica

Total Raparigas Rapazes ( média/desvio-padrão)

(meses)

8º Ano 30 14 16 163,33 / 3,60

10º Ano Humanidades 14 8 6 189,00 / 4,69

10º Ano Ciências 14 9 5 188,71 / 3,73

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3.3Estratégia metodológica para recolha de dados

A recolha de dados do presente estudo baseou-se na utilização de três

instrumentos desenvolvidos para levar a cabo os objetivos anteriormente descritos:

fluência na leitura oral de texto; fluência na leitura oral de palavras e teste de

conhecimento de vocabulário na modalidade imagem Peabody adaptado da versão

espanhola (Dunn, 1986) por Fernandes (2008).

No presente estudo, o texto utilizado para medir a fluência na leitura é

apresentado sem imagens. Esta opção vai ao encontro dos dados recolhidos por alguns

estudos, nomeadamente os estudos de Barth, Catts e Anthony (2008), segundo os quais,

utilizar a apresentação de um texto com imagem inserida, poderá ter efeitos ao nível da

velocidade na leitura. De acordo com Beymer, Orton e Russell (2007) verifica-se uma

desaceleração da leitura, condicionada por um aumento da fixação ao nível da imagem.

Os autores atribuíram estes resultados ao esforço extra que o leitor faz para relacionar as

imagens com o texto ou o texto com as imagens. Ocorre um esforço cognitivo no

sentido de relacionar a imagem com o texto, resultando num abrandamento da

velocidade de leitura. Esta poderá ser uma das explicações, para as diferenças ao nível

de alguns resultados encontrados para estudos que utilizam a imagem inserida no texto,

quando comparados com resultados de estudos que utilizam a apresentação de um texto

sem inserção de imagem.

No que respeita às tarefas, estas foram aplicadas no estabelecimento de ensino

dos alunos que integraram o presente estudo, em locais designados previamente pela

respetiva direção de cada um dos estabelecimentos de ensino.

As aplicações foram repartidas em duas sessões para cada um dos participantes

com uma semana de intervalo, objetivando evitar um efeito de memória, tendo em conta

que as palavras contidas na lista para a avaliação de leitura oral de palavras isoladas,

foram retiradas do texto utilizado para a medida de fluência oral em texto.

Descrevem-se em seguida os instrumentos aplicados.

3.4 Instrumentos

3.4.1 Fluência oral na leitura de texto

No teste de fluência oral na leitura de texto, de aplicação individual, apresenta-se

um texto com 589 palavras para ser lido em voz alta pelos adolescentes. É solicitado aos

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participantes que o leiam o mais rápido que conseguirem e o melhor que souberem. É-

lhes dito que caso não consigam ler alguma palavra, que não se preocupem e passem à

palavra seguinte, tentando ler o melhor que conseguirem, sem se enganarem e sem

interromperem a leitura. O texto apresentado (não publicado) foi utilizado na avaliação

da fluência na leitura oral dos alunos do 6º ano de escolaridade, no quadro do estudo

psicolinguístico "Estabelecimento de níveis de referência do desenvolvimento da leitura

e da escrita do 1º ao 6º ano de escolaridade" do Plano Nacional de Leitura.

A leitura do adolescente foi gravada para posterior análise da precisão, e foi

medido o tempo total de leitura.

3.4.2 Fluência oral na leitura de palavras em lista

No teste de fluência oral na leitura de palavras isoladas, de aplicação individual,

apresentam-se listas com a totalidade das palavras (“pseudoaleatoriamente” distribuídas

- evitando relações contextuais/semânticas na sequência de apresentação das palavras

nas listas) retiradas do texto que foi apresentado para medida de fluência em texto,

pedindo-se ao adolescente que as leia em voz alta. Ao participante é solicitado que as

leia em coluna, da esquerda para a direita, o mais rápido que conseguir e o melhor que

souber. É-lhe dito que caso não consiga ler alguma palavra, que não se preocupe e passe

à palavra seguinte, tentando ler o melhor que conseguir, sem se enganar e sem

interromper a leitura.

A leitura efetuada pelo adolescente foi gravada para posterior análise da

precisão, e foi medido o tempo total de leitura das palavras isoladas apresentadas em

listas.

3.4.3 Conhecimento de vocabulário

Teste de conhecimento de vocabulário na modalidade imagem, de aplicação

individual - Teste por Imagens Peabody adaptado da versão espanhola (Dunn, 1986) por

Fernandes (2008, não publicado) no quadro do estudo psicolinguístico

“Estabelecimento de níveis de referência do desenvolvimento da leitura e da escrita do

1º ao 6º ano de escolaridade” do Plano Nacional de Leitura.

Neste teste o adolescente é confrontado visualmente com um conjunto de quatro

imagens, das quais terá de selecionar uma em função do vocabulário associado. Ao

adolescente são mostradas quatro imagens numa página, indicando que cada uma possui

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um número. É-lhe dita uma determinada palavra para que o adolescente diga ou aponte

o número da imagem que melhor corresponderá ao significado da palavra dita. Caso o

participante não saiba o significado da palavra apresentada. É-lhe solicitado que ainda

assim olhe para todas as imagens de forma cuidada e que escolha a que considerar mais

correta.

Nesta prova não é contabilizado o tempo de execução da mesma.

3.5 Procedimentos de recolha de dados

A recolha de dados teve início no começo do 3º período letivo dos participantes.

As sessões de aplicação das tarefas foram enquadradas no horário de turma, após

combinação efetuada com os respetivos diretores de turma e professores, por forma a

evitar a perturbação da aprendizagem dos conteúdos programáticos dos alunos

envolvidos no estudo.

Numa primeira sessão, foi aplicada a prova de leitura de texto e logo a seguir foi

feita a aplicação individual do teste de conhecimento de vocabulário na modalidade

imagem – Peabody.

Após uma semana de intervalo de modo a evitar um efeito de memória, foi aplicada

a prova de leitura de listas de palavras isoladas.

Antes das leituras, os objetivos do estudo foram novamente explicados, agora de

forma individual, aos alunos, assim como os procedimentos.

As leituras dos adolescentes foram gravadas para posterior análise da precisão,

tendo sido medido quer para a medida de fluência de texto, quer para a medida de

fluência de palavras isoladas, o respetivo tempo total de leitura. Tal foi efetuado

garantindo a confidencialidade dos dados e o conforto dos participantes.

As condições de confidencialidade foram garantidas registando a informação

identificativa dos participantes exclusivamente para estabelecer a correspondência com

o número codificado que será utilizado para o emparelhamento de tarefas e tratamento

de dados. Posteriormente esta identificação foi anulada e mantida em código, tendo-se

atribuído um número sob a forma de código na altura do tratamento de dados.

Para além da gravação das leituras, durante as mesmas, foram registados pela

avaliadora, todos os aspetos da avaliação numa folha auxiliar de cotação.

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Após a obtenção dos dados, foram novamente ouvidas as gravações dos testes de

fluência oral na leitura de texto e de palavras isoladas, no sentido de verificar e corrigir

possíveis erros de avaliação, objetivando a consolidação da exatidão dos dados obtidos.

O teste de conhecimento de vocabulário Peabody, adaptado da versão espanhola

(Dunn, 1986), foi cotado apenas posteriormente à sua aplicação, por forma a garantir a

sua precisão.

Após cotação das variáveis, a análise estatística dos dados foi efetuada

recorrendo à utilização do software SPSS (Statistical Package for the Social Sciences).

Para obter as correlações dos dados relativos à relação existente entre as

variáveis consideradas no estudo, recorreu-se ao coeficiente de correlação de Pearson.

Como forma de analisar as diferenças entre as médias das diferentes variáveis,

recorreu-se ao teste-t e ao teste ANOVA.

4. Resultados

4.1 Fluência na leitura oral: fluência na leitura de texto e de palavras isoladas

A fluência na leitura oral, de texto e de listas de palavras isoladas foi medida

calculando para cada participante o número de palavras lidas correctamente por minuto.

4.1.1 Fluência na leitura oral de texto e de palavras isoladas em função do ano de

escolaridade

A Tabela 2 apresenta os desempenhos, médias e desvios-padrão, nos dois tipos

de fluência em função do ano de escolaridade, i.e. para os alunos do 8º e 10º ano de

escolaridade e para a totalidade da amostra.

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Tabela 2 – Média e desvio-padrão na F.T. e F.P.I. em função do ano de escolaridade e

para a totalidade da amostra

8º Ano 10º Ano Total

(N=30) (N=28) (N=58)

Fluência de Texto 156.62 (média) 181.35 (média) 168.56 (média)

(PC/M*) 23.65 (dp) 27.26 (dp) 28.14 (dp)

Fluência de Palavras 107.27 (média) 120.28 (média) 113.55 (média)

(PC/M*) 12.18 (dp) 19.68 (dp) 17.38 (dp)

* PC/M: palavras corretas por minuto.

Foi realizada uma análise de variância sobre o número de palavras lidas

corretamente por minuto considerando o tipo de fluência (texto vs. palavras isoladas)

como factor intra-sujeito e o nível de escolaridade (8º vs. 10º ano de escolaridade) como

factor inter-sujeito.

No que respeita ao tipo de fluência na leitura oral, os resultados para as duas

medidas de fluência, independentemente dos níveis de escolaridade em estudo (N = 58),

revelaram-se significativamente diferentes [ F (1-56) = 547.91, p < .001]. Verificou-se

deste modo um melhor desempenho, de forma independente do nível de escolaridade (N

= 58), na prova de Fluência de Texto (média = 168.56), comparativamente com a prova

de Fluência de Palavras Isoladas (média = 113.55). Na prova de Fluência de Palavras

Isoladas, os resultados obtidos refletem uma média menor de aproximadamente 55

palavras lidas por minuto.

A análise estatística descritiva dos dados permite-nos constatar uma média de

150.81 para o 10º ano de escolaridade e uma média de 131.94 para o 8º ano. Manifesta-

se desta forma, um efeito principal significativo para o factor ano de escolaridade [F (1-

56) = 13.74, p < .001].

Torna-se evidente que o 10º ano de escolaridade atinge uma média mais alta

para a fluência de leitura oral, independentemente da medida de fluência em análise,

comparativamente com o 8º ano. Estes resultados manifestam-se reveladores de uma

evolução ao nível desta variável entre o 8º e o 10º ano.

A análise de variância revelou ainda uma interação significativa entre o factor

intra-sujeito, tipo de fluência e o factor inter-sujeito, ano de escolaridade [F (1-56) =

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6.17, p < .025]. Assim, considerando as duas medidas de fluência (texto e palavras) para

os dois níveis de escolaridade em estudo, a análise de resultados do 8º ano evidencia

uma média de 107.27 palavras lidas por minuto (dp=12.18) para a medida de fluência

de palavras e uma média de 156.62 palavras lidas por minuto (dp=23.65) para a medida

de fluência de texto. Esta diferença com benefício para o texto é maior para o 10º ano de

escolaridade, com uma média de 181.35 (dp=27.26), comparada com a medida de

fluência de palavras isoladas, onde a média é de 120.28 (dp=19.68).

A interação significativa entre o tipo de fluência e o nível de escolaridade reflete

uma evolução, entre o 8º e o 10º ano, mais acentuada na fluência de leitura de texto em

comparação com a fluência de leitura de palavras em listas, tal como se pode observar

através da Figura 1.

No mesmo sentido, o efeito de contexto medido pela diferença nos desempenhos

na fluência de leitura de texto e de palavras em listas foi superior no 10º ano (média de

61.07 e desvio-padrão de 17.64) em relação ao 8º ano de escolaridade (média de 49.35 e

desvio-padrão de 18.24), sendo esta diferença significativa [t (56) = - 2.48, p < .025].

Figura 1 – Média de palavras lidas corretamente por minuto em texto e em lista em

função do ano de escolaridade

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4.1.2 Fluência na leitura oral de texto e de palavras isoladas em função das duas

áreas de estudo para o 10º ano de escolaridade (humanidades e ciências)

Relativamente aos resultados referentes à fluência na leitura oral para ambas as

áreas curriculares do 10º ano (humanidades e ciências), tal como se pode observar

através da análise da Tabela 3, registam-se valores que revelam um melhor desempenho

para os alunos que integram a área de humanidades do 10º ano, comparativamente com

os alunos da área de ciências do mesmo ano letivo.

Tabela 3 – Média e desvio padrão na F.T. e F.P.I em função das duas áreas curriculares

do 10º ano (humanidades e ciências)

Área Curricular N Medida de Fluência Média Desvio-Padrão

Humanidades 14 F. Texto 187.41 29.75

(PC/M*) F. Palavras 122.68 22.23

Ciências 14 F. Texto 175.28 24.06

(PC/M*) F. Palavras 117.88 17.26

* PC/M: palavras corretas por minuto.

Estas diferenças com benefício para a área de humanidades, ainda assim, não são

estatisticamente significativas. Com efeito, a análise de variância sobre o número de

palavras lidas corretamente por minuto considerando o tipo de fluência (texto vs.

palavras isoladas) como factor intra-sujeito e a área de estudo do 10º ano (humanidades

vs. ciências) como factor inter-sujeito mostrou apenas um efeito significativo do tipo de

fluência [F (1-26) = 338.16, p < .001]. Os desempenhos na fluência de leitura não foram

significativamente diferentes entre as duas áreas de estudo [F (1-26) = 1.03, NS], nem a

interação entre os factores tipo de fluência e áreas de estudo [F (1-26) = 1.22, NS].

4.2 Correlação entre os dois tipos de fluência de leitura oral (texto e palavras

isoladas)

Na Tabela 4 apresenta-se a matriz de correlações obtida através do cálculo da

correlação de Pearson. Procurou-se obter a medida de associação entre as variáveis

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fluência de leitura oral, considerando as duas medidas de fluência (texto e palavras

isoladas), na amostra total e por ano de escolaridade.

De forma independente ao ano de escolaridade, ou seja, para a amostra total,

observa-se uma associação positiva e forte entre as duas medidas de fluência (r = .759, p

< .001).

Considerando os dois níveis de escolaridade em estudo, os resultados obtidos

revelam uma associação positiva e forte para o 8º ano de escolaridade entre as variáveis

fluência de texto e fluência de palavras isoladas (r =.651, p < .001).

Para o 10º ano de escolaridade tornou-se igualmente evidente a correlação

existente entre as variáveis fluência de texto e fluência de palavras isoladas. A análise

dos resultados revelou uma correlação positiva e forte, considerando este ano de

escolaridade (r = .763, p < .001).

Tabela 4 – Correlação entre a fluência de leitura oral e o ano de escolaridade

Total 8º Ano 10º Ano

(N=58) (N=30) (N=28)

Variável F. T. F. P. F. T. F. P. F.T. F.P.

F.T. 1 1 1

F.P. .759** 1 .651** 1 .763** 1

** Correlação significativa ao nível de 0.01

4.3 Correlação entre os dois tipos de fluência de leitura oral e o contexto

A Tabela 5 apresenta os resultados inerentes ao grau de associação entre a

fluência de leitura oral, tendo em conta as duas medidas de fluência (texto e palavras

isoladas) e o contexto, operacionalizado pela diferença de desempenho nas fluências de

leitura de texto e de palavras isoladas. Foram considerados os dois níveis de

escolaridade em estudo (8º e 10º ano).

De forma independente do nível de escolaridade, ou seja para a amostra total

(N=58), os resultados revelam uma correlação positiva e forte entre as variáveis fluência

de texto e o efeito do contexto (r = .798, p < .01).

Relativamente à correlação entre as duas medidas de fluência e o contexto para o

8º ano de escolaridade, os resultados obtidos apontam para uma associação positiva e

forte entre a variável fluência de texto e o contexto (r = .862, p < 0.01). Por outro lado a

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correlação entre as variáveis fluência de palavras isoladas e o contexto revelou uma

associação muito fraca. Como tal, sem significância associativa.

Considerando apenas o 10º ano de escolaridade, observou-se uma associação

positiva e forte entre a variável fluência de texto e o contexto (r = .694, p < 0.01). Esta

associação entre o contexto e a fluência de leitura oral, revelou-se apenas significativa

para a medida de fluência de texto.

Tabela 5 – Correlação entre a fluência de leitura oral e o efeito do contexto

Total 8º Ano 10º Ano

(N=58) (N=30) (N=28)

Variável E.C. F.T. F.P. E.C. F.T. F.P. E.C. F.T. F.P.

E.C. 1 1 1

F.T. .798** 1 .862** 1 .694** 1

F.P. .213 __ 1 .177 __ 1 .064 __ 1

** Correlação significativa ao nível de 0.01

4.4 Nível de vocabulário em função do ano de escolaridade

Para a variável vocabulário, apesar de se verificar um desempenho superior no

10º ano (média=118.12 e Dp=5.39) em comparação com o 8º ano (média=114.18 e

Dp=6.28), a análise estatística mostrou que essa diferença não é significativa [t (51) = -

2.44, p > .05].

4.4.1 Correlação entre os dois tipos de fluência de leitura oral e o vocabulário

Na Tabela 6 apresenta-se a matriz de correlações obtidas através do cálculo da

correlação de Pearson.

Tabela 6 – Correlação entre fluência de leitura oral e o vocabulário

Total 8º Ano 10º Ano

(N=58) (N=30) (N=28)

Variável Voc.(PD) F. T. F. P. Voc.(PD) F. T. F. P. Voc.(PD) F.T. F.P.

Voc.(PD) 1 1 1

F.T. .078 1 -.029 1 -.157 1 ___

F.P. .078 __ 1 -.216 __ 1 .042 __ 1

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Procurou-se obter a medida de associação entre as duas medidas de fluência e o

vocabulário independentemente do ano de escolaridade, ou seja para a amostra total, e

para ambos os anos de escolaridade.

Como se pode observar na Tabela 6, a variável vocabulário não está

significativamente associada a qualquer um dos dois tipos de fluência (texto e palavras

isoladas) quer para a amostra total, quer para os anos de escolaridade considerados

separadamente.

5.Discussão de Resultados e Conclusão

Em Portugal, ainda são inexistentes quer normas, quer valores de referência, no

que respeita à fluência de leitura oral, para os níveis de escolaridade em estudo. Existem

como forma de orientação, normas dos EUA até ao 8º ano de escolaridade. Estas

normas americanas não se encontram, no entanto, adaptadas ao contexto português. No

âmbito do português europeu, os estudos proporcionam valores de referência até ao 6º

ano para a medida de fluência de texto.

Estudos de Carvalho & Pereira (2008), sobre a fluência de leitura oral com base

no currículo, permitiram a obtenção de valores de referência, no que respeita à média do

índice de fluência até ao 6º ano de escolaridade para o português europeu. Estes estudos

revelaram uma curva de crescimento que traduz uma melhoria progressiva no

desempenho, sem efeitos de teto, até ao 6.º ano de escolaridade. A diferença de médias

entre os vários anos de escolaridade (avaliada com recurso ao teste de Anova) mostrou-

se estatisticamente significativa (p < 0.001), exceto entre o 5.º e o 6.º ano. Os autores do

referido estudo inferiram que até ao 5.º ano há uma progressão no domínio da leitura,

com aquisição crescente de cada vez mais e melhores competências, após o que

estabiliza, reduzindo a curva de crescimento. No entanto esta estabilidade evolutiva, não

significa cessação evolutiva. De forma comparada, os estudos de Fernandes (2012)

vieram, também eles, demonstrar a existência de uma evolução ao nível da fluência na

leitura oral até ao 6º ano de escolaridade. Os resultados deste estudo de forma

comparada com os descritos nos estudos de Hasbrouck e Tindal (2006) para leitores dos

E.U.A. mostraram um padrão de leitura de texto muito semelhante. De acordo com os

resultados apresentados pelos leitores dos E.U.A. até ao 8º ano, essa evolução atinge

aparentemente o seu teto entre o 6º, 7º e o 8º ano de escolaridade, altura em que os

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valores se manifestam de forma constante sem indiciar aumento. Após o 8º ano de

escolaridade, não existe qualquer tipo de referência no que respeita aos níveis de

escolaridade seguintes, no sentido de se poder avaliar se continua a existir ou não

evolução ao nível destas medidas de avaliação (fluência de texto e fluência de palavras

isoladas).

Os resultados obtidos através da presente investigação vêm comprovar a

existência de uma evolução significativa no que respeita à fluência de leitura oral após o

6º ano e ainda entre o 8º e o 10º ano de escolaridade. Estes últimos valores de referência

serão, no entanto, alvo de análise e discussão mais à frente.

Ainda para o 8º ano, de salientar que as normas estabelecidas por Rasinski

(2004), são atualmente consideradas como uma referência internacional para a

categorização da fluência da leitura oral obtida através da avaliação baseada no

currículo. Estes valores estipulam como parâmetros para o final do 8º ano entre 140 e

180 palavras lidas corretamente por minuto. Em Portugal, tal como referido

anteriormente, ainda não haviam sido realizados estudos neste âmbito, para o ano em

questão. Dada a ausência de estudos após o 6º ano de escolaridade no âmbito do

português europeu e após o 8º ano para os E.U.A., o presente estudo vem possibilitar a

obtenção desses valores de referência.

Para o 8º ano, os resultados do presente estudo apontam para valores similares

ao esperado pelas normas americanas (Rasinski, 2004). Obtivemos como resultado uma

média de 156.62 palavras lidas corretamente por minuto para a medida de fluência de

texto, valor congruente com o intervalo apresentado pelos estudos de Rasinski (2004) e

aproximado do apresentado pelo estudo de Hasbrouck e Tindal (2006), no qual leitores

dos E.U.A. apresentaram resultados médios de 149.9 palavras lidas corretamente por

minuto. Um outro estudo americano realizado com alunos do 8º ano de escolaridade

(Anthony, Barth, & Catts, 2008), obteve resultados um pouco abaixo da média quando

comparados com os resultados obtidos pelo nosso estudo para a mesma variável.

Considerando a variável fluência de leitura oral de texto, o referido estudo apresentou

como resultados uma média de 136.6 palavras lidas corretamente por minuto, com um

desvio-padrão de 41.4. No entanto, estes valores, apesar de inferiores aos obtidos pelo

nosso estudo, ainda assim, encontram-se aproximados do intervalo de médias obtidas

pelo estudo de Rasinski (2004).

Por outro lado, apesar dos estudos existentes para o português europeu até ao 6º

ano de escolaridade e até ao 8º ano através das normas americanas, serem considerados

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indicadores de referência no que respeita à média do índice de fluência de leitura oral

para esses anos em estudo, surge a lacuna resultante da pouca investigação ao nível da

análise comparativa das duas medidas de fluência (fluência de texto e fluência de

palavras isoladas). Existem para esses anos dados de referência para a fluência de texto,

mas não para a fluência de palavras isoladas. Neste sentido torna-se difícil percecionar o

efeito de outras variáveis que possam estar envolvidas ao nível do desenvolvimento da

variável fluência, como é por exemplo o caso do possível efeito do contexto. O presente

estudo possibilitou uma melhor compreensão dos processos cognitivos subjacentes ao

mecanismo da fluência de leitura oral em adolescentes, para uma fase do

desenvolvimento em que os processos de aquisição de leitura já se encontram

estabelecidos.

De forma independente do tipo de prova de fluência aplicada, o presente estudo

possibilitou apresentar resultados que revelaram diferenças significativas para os dois

níveis de escolaridade (8º e 10º ano). A análise estatística descritiva dos dados revelou

uma média de 131.94 palavras lidas corretamente por minuto para o 8º ano de

escolaridade e uma média de 150.81 para o 10º ano. Manifesta-se desta forma, um

efeito principal para a variável ano de escolaridade, tal como já havia sido referido nos

resultados do presente estudo. Fica desta forma claro que o 10º ano de escolaridade

atinge uma média mais alta para a fluência de leitura oral, independentemente da

medida de fluência em análise, comparativamente com o 8º ano de escolaridade. Estes

resultados manifestam-se reveladores de uma evolução significativa desta competência

entre o 8º e o 10º ano.

Até à presente data sabia-se, através das normas americanas (Rasinski, 2004)

que até ao 6º ano de escolaridade continuava a haver uma evolução da fluência na

leitura oral. Entre o 6º, 7º e 8º ano não existe aumento, existe aparentemente um teto

que se mantem com valores estáveis ao nível destes anos. No entanto, a partir do 8º ano,

tal como já mencionado, a informação tornava-se inexistente. Neste momento, o

presente estudo, vem demonstrar, que se o desenvolvimento desta competência tivesse

cessado no 8º ano, não se manifestaria evolução significativa entre o 8º e o 10º ano, tal

como se verificou. Os resultados aqui apresentados vêm provar que entre o 8º ano e o

10º ano de escolaridade, continua a haver evolução da fluência de leitura oral, o que

pode ser indicador de uma possível existência de outros aspetos a desenvolverem-se

durante este período.

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No que concerne às duas medidas de fluência em estudo, os resultados

denotaram diferenças significativas para as medidas de fluência de texto e palavras

isoladas. A análise de variância sobre os desempenhos em ambas as provas aplicadas no

que respeita à variável fluência de leitura oral, independentemente dos níveis de

escolaridade em estudo (N = 58), mostrou uma diferença significativa, revelando-se

como um dos efeitos principais.

De forma independente ao nível de escolaridade (N = 58), observou-se um

melhor desempenho para a prova de Fluência de Texto (média = 168.56),

comparativamente com a prova de Fluência de Palavras Isoladas (média = 113.55), em

que se verificou uma média menor de aproximadamente 55 palavras lidas por minuto

(dp = 17.38).

Na comparação entre médias das duas medidas de fluência em função do ano

escolar, a análise de variância revelou uma interação significativa indicando uma

evolução mais acentuada, do 8º ano para o 10º ano, da fluência de leitura de texto em

comparação com a fluência de leitura de palavras em listas. Tal resultado poderá ser

explicado pelo facto de que, nestes níveis de escolaridade, os processos básicos de

aprendizagem da leitura já se encontram estabelecidos, havendo uma evolução menor da

fluência na leitura de palavras isoladas em comparação com a fluência de leitura de

texto, relacionada com processos mais elaborados de tratamento da informação

semântica e sintática do contexto. Com efeito, a análise dos resultados em termos da

diferença de desempenho nas fluências de leitura de texto e de palavras em listas

revelou um efeito do contexto em função do nível de escolaridade. Mais

especificamente, o benefício do contexto para a medida de fluência de texto revelou-se

superior para o 10º ano em comparação com o 8º ano.

Através do cálculo do coeficiente de correlação de Pearson, procurou-se obter a

medida de associação entre as variáveis fluência de leitura oral, considerando as duas

medidas de fluência (texto e palavras isoladas). Para a amostra total mas também para

cada nível de escolaridade, observou-se uma associação positiva e forte entre as duas

medidas de fluência (r =.651, p < .001 e r = .763, p < .001, respetivamente para o 8º ano

e o 10º ano de escolaridade).

Neste sentido, quer para o 8º ano, quer para o 10º ano de escolaridade, quando

uma das medidas de fluência aumenta, a outra aumenta também. No entanto esta

medida de correlação não nos permite determinar a direção desta associação, ou seja,

determinar qual das fluências influência a outra. Dados da literatura referentes a níveis

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de escolaridade em que a aprendizagem da leitura ainda não se encontra completamente

estabelecida (Jenkins et al., 2003) têm mostrado uma relação preditiva da fluência de

leitura de palavras isoladas sobre o nível de fluência de leitura de texto.

Os resultados do estudo denotaram um possível efeito do contexto, com

benefício para o 10º ano de escolaridade. De forma independente do nível de

escolaridade, os resultados revelam uma correlação positiva e forte entre as variáveis

fluência de texto e o efeito do contexto. Relativamente à correlação entre as duas

medidas de fluência e o contexto para o 8º ano de escolaridade, os resultados obtidos

apontam para uma associação positiva e forte entre a variável fluência de texto e o

contexto. Por outro lado, a correlação entre as variáveis fluência de palavras isoladas e

contexto revelou uma associação muito fraca. Como tal, sem significância associativa.

Considerando apenas o 10º ano de escolaridade, observou-se uma associação positiva e

forte entre a variável fluência de texto e o contexto. Esta associação entre o contexto e a

fluência de leitura oral, revelou-se apenas significativa para a medida de fluência de

texto.

No que diz respeito ao conhecimento de vocabulário, não se verificou nenhum

aumento significativo do 8º para o 10º ano (média de 114.18 e desvio-padrão de 6.28

para o 8º ano e média de 118.12 e desvio-padrão de 5.39 para o 10º ano).

Não houve correlação significativa entre o vocabulário e cada um dos dois níveis

de fluência considerados nem para a amostra global nem para cada nível de

escolaridade. Contrariamente ao que foi encontrado no presente estudo, Anthony, Barth

e Catts (2008) demonstraram a existência de uma correlação positiva embora moderada

entre a medida de fluência de leitura de texto e o vocabulário para alunos de língua

inglesa frequentando o 8º ano de escolaridade (r = .57, p < .01).

De acordo com o estudo de Reis, Faísca, Castro, e Peterson (2010), para alunos

do 1º ciclo do ensino básico português, apesar da consciência fonológica permanecer

como o preditor mais importante da exatidão e fluência da leitura, os resultados

mostraram que, à medida que a escolaridade aumenta, o seu peso decresce e

simultaneamente aumenta o contributo de outras variáveis mais associadas ao

automatismo e reconhecimento lexical, tais como a nomeação rápida e o vocabulário.

Considerando também os resultados de Fernandes (em preparação, comunicação

pessoal) que mostraram uma influência do vocabulário na fluência de leitura de texto

até o 6º ano no português europeu, podemos colocar a hipótese de que a discrepância

entre os resultados do presente estudo e os de Anthony et al., 2008) poderia estar

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relacionada com a diferença em termos de transparência/opacidade das ortografias do

português e do inglês. Sendo o inglês uma língua mais opaca em que os processos de

descodificação são adquiridos até mais tarde do que em línguas transparentes (Seymour,

1986), a influência do vocabulário sobre a fluência na leitura poderia verificar-se até um

nível de escolaridade mais avançado do que o observado em línguas mais transparentes.

Desta forma, o presente estudo não tornou claro a forma como o vocabulário se

poderá associar ao desenvolvimento da fluência na leitura oral nesta fase que inclui o 8º

e o 10º ano de escolaridade. No entanto, apesar do presente estudo não ter clarificado a

forma como o vocabulário se associa à fluência na leitura, é importante referir Kirby et

al., (2008) que procuraram sistematizar três mecanismos através dos quais esta

associação pode ocorrer: 1) quanto mais extenso o vocabulário melhor a compreensão

do que é lido; 2) quanto mais extenso o vocabulário melhor a leitura de palavras novas;

3) através da inteligência verbal, na medida em que o vocabulário é uma medida de

inteligência verbal e esta está muitas vezes associada à competência de leitura.

Por outro lado, o conhecimento lexical do leitor facilita o reconhecimento

automático das palavras, cujas formas e significados são reconhecidas automaticamente.

É esse vocabulário automático de reconhecimento que libertará os recursos

cognitivos do leitor para que ele possa (i) deduzir o significado de palavras

desconhecidas ou levemente conhecidas e (ii) interpretar o significado global do texto.

Se o leitor despende de um esforço cognitivo muito elevado para decifrar informações

ao nível da frase (ao tentar deduzir o significado de um grande número de palavras

desconhecidas, por exemplo), ele irá demonstrar dificuldades em identificar as relações

existentes entre os parágrafos.

Os estudos referenciados denotam a importância para a leitura do conhecimento

do vocabulário e, por outro lado, do valor da leitura como meio de adquirir vocabulário

(Grabe & Stoller, 1997).

Os estudos de Biemiller e Boote (2006) documentaram uma correlação positiva

existente entre o vocabulário e a aquisição de leitura. Estes estudos vieram demonstrar

que as competências linguísticas das crianças, nomeadamente as operacionalizadas pela

avaliação do vocabulário, constituem um fator importante para o desenvolvimento da

leitura.

Os estudos de Fernandes (comunicação pessoal) do 1º ao 6º ano de escolaridade

demonstraram a existência de correlações entre o vocabulário e a variável fluência de

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leitura oral. Segundo os estudos desta autora, o vocabulário é preditor da fluência de

leitura de texto.

O presente estudo para o período entre o 8º e o 10º ano de escolaridade não

revelou efeito de correlação que permitisse explorar o efeito preditor do vocabulário

sobre a fluência de leitura oral. Possivelmente será uma fase de leitura na qual o

vocabulário deixa de ter influência. Fica no entanto, a sugestão de novos estudos que

possibilitem testar esta hipótese.

Relativamente à fluência de leitura oral para ambas as áreas curriculares do 10º

ano (humanidades e ciências), registaram-se valores que revelaram um melhor

desempenho para os alunos da área de humanidades do 10º ano, comparativamente com

os alunos da área de ciências do mesmo ano letivo. No entanto, estas diferenças com

benefício para a área de humanidades para ambas as medidas de fluência não foram

estatisticamente significativas.

Estas diferenças nas fluências de leitura oral entre as áreas do 10º ano de

escolaridade a favor da área de humanidades, apesar de não significativas, podem levar

a considerar a influência de uma maior estimulação ao nível da língua portuguesa,

subjacente aos resultados obtidos. O facto de as aplicações terem começado no início do

3º período letivo, leva-nos a colocar a hipótese da já existente influência do próprio

plano curricular dos participantes integrados na área de humanidades de forma

comparada com os da área de ciências. A análise do plano curricular da área de

humanidades revela que é muito mais indutor de estimulação para a língua portuguesa,

comparativamente com o de ciências. A própria opção do aluno, ao ingressar numa área

curricular que assenta essencialmente em unidades curriculares de caráter linguístico,

denota também, por si só, interesse e aptidão ao nível linguístico. No entanto, estas

diferenças em termos de resultados brutos não foram significativas possivelmente pelo

facto das aplicações terem sido realizadas no 1º ano opcional da área em questão, não

possibilitando ainda um efeito mais marcado do currículo da referida área sobre os

resultados das medidas de fluência.

Em síntese, os resultados obtidos permitiram pôr em evidência a continuidade ao

nível da evolução da fluência de leitura oral no português europeu, mesmo entre níveis

de escolaridade onde a aquisição das competências de leitura já se encontram

estabelecidas. Permitiram verificar que esta evolução na fluência na leitura oral é mais

moderada a nível da fluência de leitura de palavras do que a nível da fluência de leitura

de texto, sugerindo que, nestes níveis de escolaridade, a melhoria da fluência de leitura

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oral já não estaria tão dependente dos processos de descodificação e de reconhecimento

automático das palavras mas estaria mais relacionada com efeitos de contexto,

nomeadamente o processamento de informação semântica e sintática presente nos

textos.

Parece-nos que as limitações do presente estudo, se referem à avaliação da

fluência na leitura oral para as duas áreas curriculares em estudo (humanidades e

ciências), tendo em conta que a escolha das mesmas se inicia no 10º ano de

escolaridade. De forma a estudar a possível diferenciação para estas duas áreas

curriculares seria pertinente dar continuidade ao âmbito do presente estudo até ao 12º

ano, uma vez que a presente avaliação teve apenas em consideração o período inicial da

escolha de uma das referidas áreas (10º ano de escolaridade).

Por outro lado, tendo em conta o facto de a literatura demonstrar que o

conhecimento do vocabulário tem vindo a ser reconhecido, como possuindo uma forte

relação com a habilidade de leitura, outra proposta futura seria a de realizar um estudo

para verificar a relação existente entre vocabulário e a compreensão de textos. Uma vez

que de acordo com Laufer (1997), não é possível compreendermos um texto sem que

sejamos capazes de compreender o vocabulário inserido nesse texto e, uma vez que os

resultados do presente estudo não possibilitaram predizer a forma como o vocabulário

se associa ao desenvolvimento da leitura para estes níveis de escolaridade nos quais os

processos de aquisição de leitura já se encontram estabelecidos, seria pertinente a

realização de um estudo que colocasse em evidência a relação existente entre o

vocabulário e a compreensão de textos.

Ainda de salientar a pertinente inclusão de uma terceira medida de fluência de

leitura oral ao nível de pseudopalavras em futuros estudos. Desta forma possibilitará,

em estudos futuros, correlacionar as estratégias de descodificação adequadas dos

leitores com a eficácia ao nível dos resultados de uma leitura fluente. Esta medida de

fluência não foi aplicada no presente estudo dada a limitação de tempo sentida durante

as aplicações.

Os resultados obtidos podem considerar-se relevantes, no sentido de que

contribuirão para colmatar a escassez de dados neste domínio para os níveis de

escolaridade considerados, numa língua com um grau de transparência intermédio,

como é o caso do português europeu. Trarão por outro lado implicações ao nível

educacional, no sentido em que possibilitarão disponibilizar dados de referência para os

anos apresentados em estudo, no que diz respeito a estas capacidades.

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Anexos

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ANEXO I

Carta de Consentimento Informado

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Exmo(a). Sr(a). Diretor(a) da Escola _______________________

Dr(a). _________________________________________

Exmos. Pais e encarregados de Educação

Vimos por este meio, solicitar a vossa colaboração na investigação a decorrer no âmbito

de um projeto de monografia do Mestrado Integrado em Psicologia da Faculdade de Psicologia

da Universidade de Lisboa.

É nosso objetivo com a presente investigação, estudar os processos envolvidos na

aquisição da capacidade de leitura, no português europeu. Mais especificamente, pretendemos

estudar o desenvolvimento da fluência em leitura dos alunos do 8º e do 10º ano de escolaridade.

Será importante a participação de estudantes destes níveis escolares para ser possível estudar a

fluência em leitura em anos de escolaridade nos quais os processos de aprendizagem da leitura

estão já estabelecidos.

Para levar a cabo estes objetivos, serão propostas 3 tarefas de leitura (de um texto, de

listas de palavras e de itens sem significado) e uma tarefa de conhecimento de vocabulário

através de imagens. As sessões de realização das tarefas serão enquadradas no horário de turma

( após combinação prévia com o diretor de turma e com os professores de disciplina) de modo a

que não seja perturbada a aprendizagem dos conteúdos programáticos. Estima-se que cada

tarefa referida anteriormente tenha uma duração de 5 a 20 minutos para cada participante

(embora dependa da rapidez das respostas de cada um).

No que se refere à calendarização da investigação, estamos prontos a iniciar logo que

tenhamos a vossa resposta favorável.

De acordo com o regulamento da Comissão de Deontologia do Conselho Científico da

Faculdade de Psicologia, da Universidade de Lisboa, os dados pessoais recolhidos serão apenas

os estritamente necessários à realização da investigação e os mesmos são mantidos

confidenciais. A informação que identifica os participantes é mantida apenas enquanto for

necessária, tornando-se o mais rapidamente possível em dados anónimos. Para efeitos de

tratamento de dados será atribuído um nº a cada participante com as seguintes características: nº

da escola (a atribuir pelo experimentador) nº do ano a que pertence (8º ou10º), nº da turma (1 ou

2) e nº do aluno ( a atribuir pelo experimentador).

Para participar na investigação, o participante terá que preencher os seguintes requisitos:

a) ter como língua materna o Português Europeu Continental e não ser bilingue; b) não ter

problemas auditivos e/ou visuais; c) não ter dificuldades articulatórias (ex., gaguez); não ter sido

identificado como tendo dificuldades específicas de aprendizagem, défice de atenção e

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concentração ou hiperactividade; d) não ser aluno repetente; e) ter autorização de participação

devidamente assinada por um dos pais ou encarregado de educação. Se o educando não cumprir

qualquer destas condições, agradecemos a atenção dispensada, mas não deverá ser preenchido o

destacável (ver abaixo, p.f.) que autoriza a participação. Caso contrário, agradecemos o seu

preenchimento e entrega ao diretor de turma por parte do encarregado de educação.

A investigação supracitada foi aprovada pela Comissão de Deontologia do Conselho

Científico da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa.

Agradecemos, desde já, a atenção e a disponibilidade dispensadas, certas do vosso

interesse.

Lisboa, 2 de Dezembro de 2011

Com os melhores cumprimentos,

____________________________________

Investigadora Proponente

(Aluna Graça Cristina Correia Gomes Teixeira Simões)

_______________________________________

Supervisora

(Professora Doutora Arlette Verhaeghe)

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Consentimento informado

Eu, ___________________________________________, pai/mãe/ encarregado de educação

do/a ________________________________________ autorizo a participação do meu educando

no estudo do qual fui informado (a) permitindo que os dados obtidos sejam utilizados na

investigação referida.

Lisboa, _________________________________________________

________________________________________________________

----------------------------------------------------------------------------------------------------------