FL-05967 Caracterização e controle de Phyllachora torrendiella … · pouco estudadas, de origem...

5
I"~ Ministério da Agricultura, ~ pecuária e Abastecimento Macapá, AP Novembro, 2002 Autor Jurema do Socorro Azevedo Dias Eng. Agr., M.Sc. Embrapa Amapá Rodovia Juscelino Kubitschek km 05 CEP:68.903-000 Macapá - AP Gilberto Ken-Iti Yokomizo, Eng. Agr., Dr. Embrapa Amapa Gísele Dias de Souza; Imara Castelo dos Santos; Lana Patrícia S. de Oliveira, Acadêmicas do Curso de Ciências Biológicas, Bolsistas da Embrapa Amapá/ UNIFAP/ FUNDAP 05967 2002 ISSN 1517-4980 FL-05967 Caracterização e controle de Phyllachora torrendiella (Batista) Subileau (lixa-Pequena) em Coqueiros no Estado do Amapá (1\ De acordo com Mariano~ ~ Coqueiro (Cocos nucifera L.) pertence à família Palmae, da classe Monocotyledonae. Possui duas variedades principais, a gigante e a anã, sendo a última dividida em três subvariedades: verde, vermelha e amarela. Além disso, existem vários híbridos, alguns dos quais introduzidos no Brasil, provenientes da Costa do Marfim. Ainda segundo o autor, de acordo com a FAO, o Brasil conseguiu aumentar sua participação na produção mundial de 0,9% (1973-1976) para 1,9% (1990-1991), passando do 14° para o 9° lugar no "ranking" internacional. Em 1997, estimava-se que a área cultivada com coqueiro no Brasil, estaria entre 280 e 300.000 ha. E, que dentre os Estados brasileiros o Pará, no período de 1977-1992, obteve a maior produtividade, chegando naquele último ano a 11.018 frutos/ha. Os Estados do Rio Grande do Norte, Maranhão, Pernambuco, Alagoas e Bahia alcançaram entre 3.000 e 5.000 frutos/ha. Sendo as produtividades mais baixas observadas na Paraíba e em Sergipe (2.000 a 2.700 frutos/ha). É uma cultura que vem aumentando sua contribuição na formação do valor bruto da produção agrícola no Norte e Nordeste. Baixas produtividades da cultura podem ser atribuída a diversos fatores, dentre eles o manejo da cultura, o plantio de variedades inadequadas, distribuição irregular de chuvas e, também ocorrência de pragas e doenças. lqo,., De acordo com Warwick et aI. (1998), a cultura do coqueiro, nas condições brasileiras, é atacada por diversas doenças que variam de importância, de uma região para outra, havendo inclusive, doenças pouco estudadas, de origem desconhecida. Dentre as doenças que afetam o coqueiro no Brasil, as mais importantes são: lixa-pequena, queima-das-folhas, anel vermelho e murcha-de-Phytomonas. Ainda segundo a autora as pesquisas na área de fitopatologia são dificultadas pelo longo período de incubação de certas moléstias, pelas peculiaridades dos agentes etiológicos e, principalmente, pela dificuldade de se trabalhar com uma planta do porte do coqueiro. Caracterização e controle de 2002 FL - 05967 111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111 11958-1

Transcript of FL-05967 Caracterização e controle de Phyllachora torrendiella … · pouco estudadas, de origem...

I"~ Ministério da Agricultura,~ pecuária e Abastecimento

Macapá, APNovembro, 2002

Autor

Jurema doSocorro Azevedo

DiasEng. Agr., M.Sc.Embrapa Amapá

Rodovia JuscelinoKubitschek

km 05CEP:68.903-000

Macapá - AP

Gilberto Ken-ItiYokomizo, Eng.

Agr., Dr. EmbrapaAmapa

Gísele Dias deSouza; ImaraCastelo dos

Santos; LanaPatrícia S. de

Oliveira,Acadêmicas do

Curso de CiênciasBiológicas,

Bolsistas daEmbrapa Amapá/

UNIFAP/ FUNDAP

05967

2002 ISSN 1517-4980

FL-05967

Caracterização e controle de Phyllachoratorrendiella (Batista) Subileau (lixa-Pequena) emCoqueiros no Estado do Amapá

(1\De acordo com Mariano~ ~ Coqueiro (Cocos nucifera L.) pertence àfamília Palmae, da classe Monocotyledonae. Possui duas variedadesprincipais, a gigante e a anã, sendo a última dividida em trêssubvariedades: verde, vermelha e amarela. Além disso, existem várioshíbridos, alguns dos quais introduzidos no Brasil, provenientes da Costado Marfim.

Ainda segundo o autor, de acordo com a FAO, o Brasil conseguiuaumentar sua participação na produção mundial de 0,9% (1973-1976)para 1,9% (1990-1991), passando do 14° para o 9° lugar no "ranking"internacional. Em 1997, estimava-se que a área cultivada com coqueirono Brasil, estaria entre 280 e 300.000 ha. E, que dentre os Estadosbrasileiros o Pará, no período de 1977-1992, obteve a maiorprodutividade, chegando naquele último ano a 11.018 frutos/ha. OsEstados do Rio Grande do Norte, Maranhão, Pernambuco, Alagoas eBahia alcançaram entre 3.000 e 5.000 frutos/ha. Sendo asprodutividades mais baixas observadas na Paraíba e em Sergipe (2.000a 2.700 frutos/ha). É uma cultura que vem aumentando suacontribuição na formação do valor bruto da produção agrícola no Norte eNordeste.

Baixas produtividades da cultura podem ser atribuída a diversos fatores,dentre eles o manejo da cultura, o plantio de variedades inadequadas,distribuição irregular de chuvas e, também ocorrência de pragas edoenças.

lqo,.,De acordo com Warwick et aI. (1998), a cultura do coqueiro, nascondições brasileiras, é atacada por diversas doenças que variam deimportância, de uma região para outra, havendo inclusive, doençaspouco estudadas, de origem desconhecida. Dentre as doenças queafetam o coqueiro no Brasil, as mais importantes são: lixa-pequena,queima-das-folhas, anel vermelho e murcha-de-Phytomonas.

Ainda segundo a autora as pesquisas na área de fitopatologia sãodificultadas pelo longo período de incubação de certas moléstias, pelaspeculiaridades dos agentes etiológicos e, principalmente, peladificuldade de se trabalhar com uma planta do porte do coqueiro.

Caracterização e controle de2002 FL - 05967

11111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111111958-1

ricardo.costa
Rectangle
ricardo.costa
Rectangle
ricardo.costa
Rectangle
ricardo.costa
Rectangle
ricardo.costa
Rectangle

2 j Caracterização e controle de Phyllachora torrendiella {Batistal Subileau (Lixa-Pequenal em Coqueiros no Estado do Amapá

De acordo com Batista (1948) citado porWarwick et alo (1998r~álixa-pequena foirelatada pela primeira vez no Estado dePernambuco, em 1940. Atualmente, éencontrada em quase todas as regiõesonde se cultiva o coqueiro, causandoprejuízos que são variáveis, podendopassar despercebida sem causar danosdurante anos, ou acarretar acentuadaperda na produção, quando a precipitaçãofor alta (Subileau, 1993; citado porWarwick et alo, 1998)~ .

o cultivo do coqueiro (Cocos nucifera l)vem sendo ampliado no Estado do Amapá,como alternativa econômica ao pequenoagricultor do Estado. A reduzida oferta demudas para o plantio, tem levado osprodutores a utilizarem mudas de outrasregiões, o que favorece a introdução denovos patógenos no Estado do Amapá. Omonitoramento constante das doenças queestejam se desenvolvendo nas plantas decoqueiro é importante, visando determinaro controle mais efetivo, evitando com issoque ocorram prejuízos ao agricultor.

Deste modo, este trabalho tem comoobjetivos caracterizar o agente causal daLixa-Pequena na cultura do coqueiro,discorrer quanto aos principais cuidadosquanto à introdução e disseminação dadoença e seu manejo, com vista ao seucontrole no Estado do Amapá.

Caracterização do fungo

Em Julho de 2001, com base emlevantamentos, foram encontradoscoqueiros na Unidade Experimental daEmbrapa Amapá, no município de PortoGrande, apresentando em suas folhaspequenos pontos negros isolados(estromas) (Figura 3), em linhas ou aindana forma de losangos (Figura 4),provocando necrose das folhas inferiores,deixando os cachos completamente semsuporte, prejudicando a produção.

"'eo:~~~~~~~~F-~~~g81o.·fí~f>n~Jl~~~1Iio

"E .~~~~~rãi ••o.fFigura 3. Estromas (sinais) do fungo sobre a folha.

Figura 4. Necrose das tolhas interiores.

Folhas com sintomas da doença, foramlevados ao Laboratório de Fitopatologia daEmbrapa Amapá, para posterior análise(Figuras 1 e 2). Inicialmente este materialfoi prensado para preparo de exsicatas eposterior comparação com as informaçõesencontradas na literatura especializada.

Figura 1. Material coletado no campo

~aracterização e controle de Phyllachora torrendiella (Batista. Subileau (Lixa-Pequena. em Coqueiros no Estado do Amapá I 3

Figura 2. Material coletado no campo.

Cortes à mão livre, foram realizadoscolocando-se uma pequena seção dotecido da planta, com estromas do fungo,em um pequeno pedaço de cortiça. Comuma lâmina, efetuaram-se cortes nosentido transversal da cortiça com o tecidoda planta em seu interior (Fernandez,1993). Finas camadas dos tecidoslesionados foram posteriormentetransferidas para uma lâmina com corante,com o auxílio de uma pinça, depositando-se sobre elas uma lamínula. Após opreparo do material, verificou-se asestruturas do fungo sob microscópioóptico, registrando-o posteriormenteatravés de fotomicrografias, no Laboratóriode Histopatologia do Centro de EnergiaNuclear na Agricultura - CENA, nomunicípio de Piracicaba, Estado de SãoPaulo.

As estruturas do fungo, foram medidasutilizando-se um micrômetro acoplado aomicroscópio ótico e comparadas comliteraturas especializadas (Warwick, D. etaI., 1998; Hanlin & Menezes, 1996;Mariano, 1997).

o fungo foi caracterizado como Phyllachoratorrendiella (= Catacauma torrendiella Batista e

Sphaerodothis torrendiella (Batista) Bezerra}, porapresentar ascos cilindro-clavados, octósporos,

unitunicados, pedicelados, medindo de 75 a 115utt: de comprimento por 17,5 a 27,5 Jlm de largura.

Entre os ascos foram observadas paráfisesfilamentosas, as quais são utilizadas para facilitar a

disseminação dos ascósporos. Os ascósporosobservados foram do tipo fusiformes, hialinos,unicelulares, medindo de 15 pm a 22,5 pm de

comprimento por 7,5 Jlm a 10 Jlm de largura(Figura 7).

De acordo com Mariano, a lixa-pequenatêm sua importância elevada quandoassociada à queima-das-folhas, causadapelo fu ngo Botryosphaeria cocogena(Lasiodiplodía theobromae). Sendo a lixa-pequena mais prejudicial por causar seca equeda das folhas inferiores,impossibilitando a sustentação dos frutose reduzindo a produção. Em Pernambuco,Pará, Alagoas e 8ahia é considerada adoença mais importante da cultura.

No Estado do Amapá, altas incidências deestromas foram observadas após osperíodos das chuvas. Perdas de até 50%das folhas das plantas infectadas podemocorrer, em vista das folhas mais baixasnecrosarem, secarem e caíremprematuramente, deixando os frutos semsuporte, prejudicando assim a suamaturacão com reducão na produtividade. , .dos coqueiros (Figura 5).

Figura 5. Evolução de ressecamento de folíolos decoqueiro causado pela presença de estromas (sinaisdo fungo)

4 Caracterização e controle de Phy/lachora torrendiella (Batista) Subileau (lixa-Pequena) em Coqueiros no Estado do Amapá

o sistema vegetativo do fungo invade ostecidos epidérmicos, estromatizando-os,chegando também aos tecidossubjacentes. Os tecidos circunvizinhos aosque se estromatizam mais tarde atingidos,necrosando e formando lesões ao redordos estromas, semelhantes as descritaspor Franco (1965) (Figura 6).

J-jgura O. Corte à mao livre: seçao ao estromasobre tecido foliar.

Na face inferior das folhas, os tecidosficam também necrosados, seguindo oslimites das lesões da fase superior. Sobcondição de alta umidade relativa atemperaturas baixas, há rompimento dosascos e liberação dos ascósporos, que sãodisseminados pelo vento (Figura 7).

Figura 7. Corte à mão livre: seção do estroma,mostrando os ascos e ascósporos.

Controle

Manejo Fitossanitário

De acordo com Fontes & Ferreira (2000), í)o controle no campo começa como us; ~de sementes limpas e sadias ou de mudaslivres de doenças. O certificado desanidade e barreiras fitossanítárias nasfronteiras estaduais são medidas quedevem ser rigorosamente consideradaspara assegurar que certas doenças nãosejam distribuídas para outras áreas.

Organismos fitopatogênicos e insetosvetores de doenças infecciosas podem sertransportados" via sementes ou mudas.

, '"I 't.'lMachado (1979), salienta que os prejuízoscausados pelo transporte de patógenos,são variáveis em função da natureza decada patógeno, do nível tecnológicoempregado, das condições climáticas e deoutros fatores que podem atuar durante operíodo de cultivo. E, que em termos dediagnóstico, a ocorrência de plantas jovensenfermas, distribuídas ao acaso, em áreasnovas de cultivo, é um importanteindicativo de que a introdução dopatógeno se deu através das mudas.

De acordo com Mariano (1997),principalmente, para a lixa-pequena, ocorte e queima das folhas muito infectadasreduz a quantidade de inóculo. Quandopossível, indica-se o corte parcial dasfolhas parcialmente infectadas. O autortambém recomenda a roça, coroamento ecalagem do solo, bem como adubação eplantio de leguminosas entre os coqueirospara permitir a fixação de nitrogênio.

No Amapá, este tipo de manejo já temsido observado, verificando-se melhoriasnas condições de plantios dos agricultores.

,.Caracterização e controle de Phyllachora torrendieJJa (Batista) Subileau (Lixa-Pequena) em Coqueiros no Estado do Amapá I 5

Controle Genético

o uso de cultivares adaptadas àsdiferentes condições de clima, solo esistema de produção é essencial paraatender os vários segmentos de qualqueratividade agrícola sustentável. Nestesentido, a Embrapa Amapá vemdesenvolvendo um projeto, com o objetivode estudar o potencial de híbridos evariedades de coqueiro de modo aidentificar e selecionar genótipospossuidores de caracteres desejáveis nascondições do Estado. Tais como, AAG xGoa; Gigante; AVEJ x GBrRN; AVG xGBrPF; AAM; AVEJ; AVC e AVG.

Referências Bibliográficas

FERNANDEZ, M.R. Manual para laboratóriode fitopatoloqla. Passo Fundo: EMBRAPA-CNPT, 1993. 128p. (EMBRAPA-CNPT.Documentos, 6).

FRANCO, E. A lixa preta das folhas docoqueiro. Boletim Fitossanitário) Y..6, p.57-65, 1965. .

Circular Exemplares desta edição podem serTécnica, 23 adquiridos na:

Embrapa Amapá

Endereço: Rodovia JuscelinoKubitschek, km 05,CEP-68.903-000,Caixa Postal 10, CEP-68.906-970,Macapá, APFone: (96) 241 -1 551Fax: (96) 241 -1480E-mail: [email protected]

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA.PECUÁRIA E ABASTECIMENTO

IGOVERNO IFEDERAL

T.abalnando em tndo o Brasil,. Edição1a Impressão 2002: tiragem 150exemplares

HANLlN, R.T.; MENEZES, M.ilustrados de ascomicetos. 2Imprensa da Universidade Federalpernambuco.;1996.

GênerosRecife:

Rural de

MACHADO, J. da C. Patologia desementes: significado e atribuições. In:CARVALHO, N.M. de; NAGAGAWA, J.(boord.). Sementes: ciência, tecnologia eprodução. 3. ed. rev ; Campinas: FundaçãoCargill, 1988. P. 371-424.rp.MARIANO, R.L.R. Doençasln: KIMATI, H.~t aI].Fitopatologia. V. 2: DoençasCultivadas. 3 ed. São Paulo:Ceres, 1995-1997. 2v.: il.

do Coqueiro.Manual dedas PlantasAgronômica

WARWICKI, D.R.N.; LEAL, E.C.; RAM, C.Doenças do coqueiro. In: FERREIRA,J.M.S.·

.J: 7

{

WARWICK, D.R.N.; SIQUEIRA, L.gA.. Acultura do coqueiro no Brasil.,,-l 2. !d.Brasüiaror=Embrapa - SPI; Aracaju: Embrapa -CPATC, 1997. p. 274.

Comitê dePublicações

Presidente: Nagib Jorge MelémJúniorSecretária: Solange Maria de OliveiraChaves MouraNormalização: Maria Goretti GurgelPraxedesMembros: Edyr Marinho Batista,Gilberto Ken-Iti Yokomizo, RaimundoPinheiro Lopes Filho, Silas Mochiutti,Valéria Saldanha Bezerra.

Expediente Supervisor Editorial: Nagib JorgeMelém JúniorRevisão de texto: Elisabete da SilvaRamosEditoração Eletrônica: Otto CastroFilho