FJN-artigo - josé maria junior (atualizado)
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1
FACULDADE DE JUAZEIRO DO NORTE - FJN
ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DE ENSINO EM GEOGRAFIA
JOSÉ MARIA TAVARES DE CASTRO JÚNIOR
O ESTUDO DE CAMPO
COMO MÉTODO DA GEOGRAFIA ESCOLAR
NO 1º ANO DA E.E.M. DONA ANTÔNIA LINDALVA DE MORAIS
MILAGRES -CE
JUAZEIRO DO NORTE – CE
2012
2
JOSÉ MARIA TAVARES DE CASTRO JÚNIOR
O ESTUDO DE CAMPO COMO MÉTODO DA GEOGRAFIA ESCOLAR
NO 1º ANO DA E.E.M. DONA ANTÔNIA LINDALVA DE MORAIS
MILAGRES-CE.
Trabalho de conclusão de curso apresentado à
faculdade de Juazeiro do Norte - FJN, como parte
dos requisitos para obtenção do título de
especialista em ensino de geografia.
Orientador: Profa. Ms. Lucíola da Silva Freitas
JUAZEIRO DO NORTE - CE
2012
3
AVALIAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Juazeiro do Norte –
FJN, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Ensino
de Geografia.
BANCA EXAMINADORA:
___________________________
Examinador 01
___________________________
Examinador 02
____________________________
Examinador 03
________________________
Local e Data
4
O ESTUDO DE CAMPO COMO MÉTODO DA GEOGRAFIA ESCOLAR NO 1º ANO
DA E.E.M. DONA ANTÔNIA LINDALVA DE MORAIS MILAGRES-CE.
CASTRO JÚNIOR, José Maria Tavares¹
Prof.(a). Lucíola da Silva Freitas²
RESUMO: O Estudo de campo em geografia é uma oportunidade do aluno refinar seus esquemas mentais como explicitado por Piaget, passando para um novo estágio de desenvolvimento mental que permita desenvolver o pensamento cientifico, construindo conceitos abstratos, possibilitando alcançar as habilidade e competências definidas nos Parâmetros Curriculares nacionais. Tem-se como objetivo deste artigo demonstrar como o estudo de campo mostra-se como um método capaz de trabalhar o cognitivo, social e o afetivo, necessários para o mundo do trabalho e o autoconhecimento necessário para sua plena formação como cidadão. O estudo de campo deve ser compreendido como um processo didático sob uma perspectiva relacional, trabalhando as dimensões de ensino, aprendizagem, pesquisa e avaliação. O estudo de campo utilizou-se de uma leitura fenomenológica amparada por autores como Moreira, Tuan, Oliveira, Vesentini dentre outros, diferenciando-se como um método da geografia capaz de ser aplicado no universo escolar.
Palavras-chaves: Estudo de campo, Ensino, Geografia, Metodologias.
ABSTRACT:
The Field Study in Geography is an opportunity for students to refine their mental maps as explained by Piaget, moving to a new developmental stage that allows to develop scientific thinking, building abstract concepts, making it possible to achieve the skills and competencies defined in the National Curriculum . It has the objective of this article demonstrate how the field study is shown as a method capable of working the cognitive, social and affective, necessary for the world of work and self-knowledge necessary for his training as a full citizen. The field study must be understood as a learning process in a relational perspective, the working dimensions of teaching, learning, research and evaluation. The field study used a phenomenological reading is supported by authors such as Moreira, Tuan, Oliveira, Vesentini among others, distinguished as a method of geography can be applied in the school universe.
Key words: Field Study, Teaching, Geography, Methodologies.
_________________ ¹Professor efetivo do Estado na E.E.M. Dona Antônia Lindalva de Morais, graduado em geografia – UECE, pós-graduado em Planejamento e Gestão Ambiental – UECE. Email: [email protected]
²Professora Mestre em Geografia, orientadora dos cursos de pós-graduação da Faculdade de Juazeiro do Norte.
5
INTRODUÇÃO
A proposta de desenvolver o estudo de campo como método da geografia
escolar, surgiu da necessidade em buscar uma perspectiva de ação docente dentro
das dimensões de ensino, aprendizagem, pesquisa e avaliação, buscando
estabelecer uma relação entre as diretrizes nacionais em educação, as orientações
curriculares para o ensino de geografia, orientações filosóficas da educação que
norteiam o projeto político pedagógico da escola, e desenvolvendo as habilidades e
competências da disciplina com uso das categorias de análise da geografia,
utilizando a cartografia, a fotografia e o sensoriamento remoto como ferramentas de
apoio.
Com relação ao ensino, o professor estabelece o momento pedagógico, a
motivação, os objetivos. Na aprendizagem o professor apreende a experiência e
refina seu método, aplicando novamente o que considerou positivo e descartando ou
reciclando o procedimento que considerar insatisfatório. Já os alunos, a
aprendizagem é estabelecida com a experiência, pois há um refinamento dos
conhecimentos pré-existentes que sofrem a interferência do professor, conduzindo o
processo do senso comum ao conhecimento científico, além de permitir as ligações
sociais e afetivas entre alunos e desses com os professores.
A pesquisa se desenvolve a partir do momento em que os alunos
desenvolvem a curiosidade científica, obtida pelo momento, pela condição criada
pelo professor que avalia os alunos a cada momento que compartilha com eles as
experiências. A avaliação reconduz o professor em sala de aula permitindo a
conexão com o próximo momento de aprendizagem, tornando o processo contínuo.
Esse artigo também busca chamar atenção para falta de instrumentais
práticos, administrativos que permitam o desenvolvimento do estudo de campo
dentro da escola pública, sem recursos materiais e financeiros, onde a comunidade
é carente, com dificuldades na realização da atividade com recursos próprios.
Ainda é objetivo desse artigo estabelecer um caráter científico nas práticas de
campo, que possam ser percebidas pelos alunos, professores, gestores e pais como
um método de aprendizagem eficiente, levando os estudantes a desenvolver
conceitos abstratos e o pensamento científico.
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Por fim, as práticas de campo são apresentadas como a verdadeira sala de
aula da geografia, levando o estudante a compreender o objeto de estudo da
geografia, necessário a leitura de mundo, a partir de uma leitura fenomenológica,
construindo sua identidade, formando sua consciência para as transformações da
natureza através do trabalho, desenvolvendo uma cidadania ativa.
1 PROPÓSITOS DA GEOGRAFIA ESCOLAR
O sistema escolar moderno, surgido a partir do final do século XVIII e início do
XIX, nasce para servir aos interesses do Estado. Ao se analisar a própria história da
geografia, de modo consciente ou não, a geografia sempre serviu a esse propósito,
diferenciando-se a geografia do Estado da geografia dos professores. Vesentini ao
citar Lacoste (2005) diz que “A geografia surgiu especialmente para servir como discurso
ideológico de mistificação do espaço, de "cortina de fumaça" para escamotear a importância
estratégica de saber pensar o espaço e nele se organizar”.
Afinal para que serve a geografia? E nesse contexto a geografia escolar?
Com a evolução do capitalismo e a afirmação da burguesia como classe
hegemônica através das revoluções industriais, estabelecendo como diz Max, uma
luta de classes, requer uma geografia em um primeiro momento para validar seus
discursos ideológicos, como os ideais nacionalistas.
Apesar de que a geografia no currículo escolar brasileiro surge a partir de
1837 quando o Decreto de 2 de dezembro daquele ano, expedido pela Regência
Interina, criava o Imperial Colégio de Pedro II, localizado no Rio de Janeiro. A
geografia brasileira copiava o modelo de ensino Francês, mas não se via naquele
momento um discurso patriótico brasileiro.
No entanto, a escola na sociedade moderna, segundo o professor Vesentini
(1999), é “indispensável para a reprodução do sistema, mas é também um
instrumento de libertação”, não sendo possível estabelecer uma fronteira entre as
duas dimensões.
Assim também nos diz o professor Moreira (2006), onde “a geografia que
aliena é a mesma que denuncia a alienação”.
As lutas de classes, o conflito, vão definindo à quais dimensões a geografia e
a escola vão servindo, surgindo com a própria revolução técnica a necessidade de
7
maior escolarização para que o sistema possa continuar a evoluir, cabe nesse
momento, ao professor de geografia ter a consciência do seu papel e da geografia
como formadores para o mercado de trabalho e para uma “cidadania ativa”, que leva
a uma participação democrática, não uma mera representação do voto, sem controle
dos representantes eleitos. (VESENTINI,1999)
O ensino de geografia, portanto, acaba assumindo as duas dimensões, mas é
sua obrigação realizá-lo de forma consciente através do papel do professor em sala
de aula, que munido de instrumentos teóricos da geografia, deve conduzir seus
educandos a uma dimensão cada vez mais libertadora.
A geografia escolar deve deixar claro, caso se assuma como ciência, as
características do seu objeto de estudo e pressupostos teórico metodológicos,
realizando de modo cuidadoso a transposição didática, sem perder a essência
enquanto ciência, levando o conhecimento ao ensino médio, mais próximo à vida
dos alunos, da vida de todos nós, sem empobrecer a geografia escolar, sobretudo,
organizada através dos livros didáticos na forma de textos jornalísticos, deixando a
linguagem acadêmica, teórico e abstrata de lado.
Como afirma Oliva (1999: 43-44):
“Pedagogizar”, não significa tirar a complexidade e substituir a linguagem científica, que não tem igual valor autônomo, como a jornalística ou pedagógica, mas que indissoluvelmente associada aos seus conteúdos nos oferece uma leitura de mundo que é esclarecedora e por isso constitui um patrimônio para construirmos nosso próprio destino. Portanto, não há que ter medo e evitar a linguagem científica no ensino médio, porque assim procedem as outras disciplinas sem causar qualquer trauma ou lesão cerebral em qualquer aluno. Pelo contrário, é a linguagem rigorosa que educa nossa mente e aperfeiçoa a comunicação.
Sendo assim, a geografia escolar deve levar o aluno a compreender o objeto
de estudo da geografia, o espaço geográfico, não somente através de diferentes
conceitos explicitados por diferentes autores, e desconectados do método ou
corrente de pensamento ao qual pertencem, mas permitir diferentes abordagens que
se aplicam melhor a temas específicos, se apropriando das categorias de análise
para realizar as etapas do método científico, compreendendo os problemas
relacionados a seu processo histórico de situar-se entre as ciências naturais e
humanas.
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As práticas de ensino da geografia devem permitir ao professor e alunos,
aprenderem com o processo, sem a necessidade de somente memorizar os
conteúdos selecionados nos livros didáticos. É claro que o professor deve realizar
esse procedimento dentro das orientações curriculares para o ensino médio,
estipuladas para a geografia, dentro de uma lógica que é capitalista, mas não
impede que a desenvolva de forma mais criativa e crítica.
As orientações que o professor deve seguir estão incluídas: O projeto político
pedagógico da escola, as competências e habilidades da disciplina para cada ano
de ensino, os descritores de outras áreas fundamentais ao desenvolvimento da
geografia, como em língua portuguesa e matemática, desenvolvendo o indivíduo em
suas dimensões, cognitivas, afetivas e sociais, dentre outras orientações e
dimensões.
No entanto, é senso comum que a escola pública é carente de investimentos,
que não se resumem a questão econômica, e estão ligadas aos mesmos interesses
de dominação e libertação, onde os resultados dessa carência podem ser
identificados nos próprios números oficiais, nos próprios modelos de avaliação da
educação, onde o Estado se recusa a tomar uma ação efetiva para solução desses
problemas.
Assumindo a parte da responsabilidade que lhe cabe, o professor que adota
uma postura libertária, sobretudo o professor de geografia, que busca fazer a leitura
do espaço geográfico, deve usar de suas ferramentas metodológicas para se
conduzir e a seus educandos a uma compreensão cada vez maior de suas
realidades, contudo, sem transformar a geografia em um movimento revolucionário,
mas libertador de práticas alienantes.
2 O LUGAR DA PRÁXIS
Na escola de ensino médio Dona Antônia Lindalva de Morais, foi realizado no
ano de 2011, um estudo com as turmas de 1º ano, objetivando desenvolver práticas
que levassem os estudantes às experiências além da sala de aula, despertando as
qualidades de um pesquisador, compreendendo o objeto de estudo da geografia e
seus principais conceitos. Para isso faz uso das categorias de análise da geografia
no estudo do espaço geográfico, dentro de uma perspectiva fenomenológica,
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realizando a alfabetização cartográfica necessária a compreensão do método
geográfico, refinando seus esquemas mentais necessários ao seu desenvolvimento,
cognitivo, afetivo e social.
A escola pertence ao sistema estadual de ensino do Ceará e no ano de 2011
contava com 787 alunos matriculados, sendo aproximadamente 300 alunos somente
do 1º ano do ensino médio. As práticas foram realizadas somente com metade
desse efetivo, correspondendo aos alunos do turno da tarde, 1º ano E, F, G, H, I que
foram concentrados em um prédio anexo, Antenor Lins. Os alunos matriculados em
2011 são em sua quase totalidade, vindos da escola pública municipal, maioria
moradora da zona rural, pais agricultores, mães donas de casa, baixa renda, como
mostra o levantamento realizado pelos professores diretores de turma, que na sua
maioria possuem escolaridade média no máximo com fundamental incompleto.
A importância de levantar esse perfil, explica-se pela influência dos fatores
tanto econômicos como culturais no desempenho escolar, observados ao longo do
ano, somados aos problemas estruturais e pedagógicos já existentes na própria
escola. Através do diagnóstico realizado com as turmas, o professor busca
desenvolver o plano estratégico para alcançar os melhores resultados, sendo
proposto o estudo de campo como método nas aulas com os alunos do primeiro ano
do ensino médio da tarde.
Algumas escolas ou mesmo trabalhos científicos compreendem o estudo de
campo como somente passeio, constatação de conteúdos, levantamentos de dados
para aplicação em métodos quantitativos e qualitativos sobre um tema, atribuindo ao
estudo uma visão homogênea, como se houvesse os mesmos olhares em campo
dentro de qualquer disciplina, variando apenas os conteúdos específicos de cada
uma.
Segundo Oliveira (2009: 155):
A Aula em Campo é uma aula que não tem como ser separada da sensação de lazer e ansiedade, de angústias e novidades, porém, é aula, e por isso os docentes e discentes devem se preocupar com o objetivo de estar em “campo”, com as etapas que o constroem como pedagógico e o legitimam como processo de formação humana dos alunos e dos próprios professores na escola. A Aula em Campo não é um simples passeio, um dia de ócio fora da escola, o momento de alívio e brincadeiras, um caminhar para relaxar as mentes “bagunçadas” das crianças e jovens do mundo moderno. Mesmo que se tenha construído e concebido isso na escola.
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Além disso, enfrenta-se o problema da burocracia, ou mesmo a ausência
dela, onde deveria haver um meio termo que desse mais segurança a professores e
alunos para realização das atividades. Problemas como indisciplina, exposição à
violência das ruas, podem surgir, mas não devem ser encarados como obstáculos a
realização do estudo de campo. A compreensão do estudo de campo em geografia
vem da própria compreensão de seu objeto de estudo e suas categorias de análise,
sobretudo, o estudo da paisagem e do lugar, região e território. Realizar um estudo
de campo é vivenciar seu objeto, percebendo e desenvolvendo os conceitos de
forma direta, como nos primórdios do desenvolvimento da geografia, nas descrições
da terra, e ao longo de sua história com a compressão de seus princípios clássicos
como princípio da extensão, analogia, conexidade, causalidade.
As habilidades necessárias ao desenvolvimento das competências para o 1º
ano do ensino médio devem ser forjadas no confronto da observação direta do
espaço geográfico e suas diferentes formas de representação. Além disso, a prática
do estudo de campo converge com as teorias que norteiam o desenvolvimento
cognitivo, afetivo e social da qual a escola é responsável.
3 O ESTUDO DE CAMPO NO DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM
Segundo Piaget o ser humano diferencia-se dos demais animais devido a
capacidade de ter um pensamento simbólico e abstrato. Piaget ainda nos diz que o
comportamento é controlado através de organizações mentais denominadas
“esquemas”, que o indivíduo utiliza para representar o mundo e para designar as
ações. Não se trata aqui de discorrer sobre as teorias da aprendizagem de Piaget e
outros, mas mostrar a importância das aulas de campo em geografia e como seus
conceitos: Paisagem, lugar, território, região, dentre outros, vão adquirindo
significado à medida que os alunos vão reconstruindo seus esquemas metais
através dos processos de “assimilação” e “acomodação” discutidos por ele.
A observação em campo da paisagem é fundamental nesses dois processos,
construindo novos esquemas, símbolos e representações levadas para sala de aula,
desenvolvendo a linguagem não verbal dos mapas e imagens utilizados durante
todo o conteúdo, onde os alunos constroem suas habilidade e competências.
Segundo Piaget, possuímos estágios de desenvolvimento, dois deles na faixa etária
11
dos alunos de 1º ano do ensino médio, sendo um o estágio operatório-concreto, não
fazendo ainda abstrações e o estágio operatório-formal, fase em que o adolescente
constrói o pensamento abstrato, conceptual, conseguindo ter em conta as hipóteses
possíveis, os diferentes pontos de vista e sendo capaz de pensar cientificamente.
Devido à deficiência na aprendizagem dos alunos que ingressam no 1º ano do
ensino médio, vindos de escolas públicas do município, muitos ainda se encontram
no estágio operatório-concreto e as aulas de campo servem como uma experiência
capaz de acelerá-los para o estágio posterior. Colaborando com as ideias de Piaget,
Vygotsky, que olhou mais para a interação social como fonte primária da cognição e
do comportamento, desenvolveu a teoria sociocultural do desenvolvimento cognitivo.
Ele propôs que o desenvolvimento não precede a socialização. Ao invés, as
estruturas sociais e as relações sociais levam ao desenvolvimento das funções
mentais. Ele acreditava que a aprendizagem na criança podia ocorrer através do
jogo, da brincadeira, da instrução formal ou do trabalho entre um aprendiz e um
aprendiz mais experiente. Vygostky via o desenvolvimento cognitivo como
dependendo mais das interações com as pessoas.
Outro a contribuir na defesa das aulas de campo como instrumento eficiente
de aprendizagem é Wallon, pois acreditava que “o indivíduo é social não como
resultado de circunstâncias externas, mas em virtude de uma necessidade interna”,
tendo a escola o dever de proporcionar a formação integral (intelectual, afetiva e
social) à criança. Wallon foi o primeiro a levar não só o corpo da criança, mas
também suas emoções para dentro da sala de aula. Fundamentou suas ideias em
quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o
movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Em uma viagem, aula
de campo, os alunos são submetidos a diferentes imagens, paisagens, constroem
relações mais profundas com os colegas e professores, dividindo curiosidades,
alegrias, compartilhando experiência e emoções necessárias na convivência dentro
da sala de aula e na escola como um todo, combatendo a indisciplina e motivando-
os nos estudos de todas as disciplinas.
O estudo de campo permite ao estudante observar o espaço geográfico a
partir de sua própria realidade, podendo até mesmo intervir nela. A observação parte
de uma imagem construída a partir da percepção de uma realidade, fruto de suas
percepções construídas no lugar e concretizadas na paisagem.
12
Moreira (2006: 25):
A própria prática espacial vai também estimulando comparações, ensejando ao homem atos de sistematização do quadro de experiências, extraindo aos poucos níveis de generalização do aprendizado em forma de conhecimentos abstratos, as práticas espaciais assim se transformando em saberes espaciais. Devolvidos às práticas espaciais de onde vêm e nas quais mantêm fincados suas raízes os saberes espaciais aumentam sua eficiência, práticas e saberes se unindo e se ampliando dialeticamente numa práxis.
O estudo de campo utilizando-se de métodos fenomenológicos e também
dialéticos permitem no 1º ano do ensino médio uma abordagem subjetiva que
aproveita melhor as experiências e valores individuais de cada aluno.
De acordo com Oliveira (2009: 50):
A leitura fenomenológica é uma descrição infinita do fenômeno, de maneira a contemplar seus mais diversos ângulos. A descrição é um procedimento por demais conhecido no universo dos estudos Geográficos. Mas, ao contrário da recomendação fenomenológica, ela costuma ser feita, exclusivamente, na direção objeto => sujeito, conforme a herança positivista. Encaminhar tal leitura não é abandonar ou repudiar a descrição, por sua tradição positivista. É, ao contrário, situar-se nela, interrogando o fenômeno de forma muito mais intensa do que o positivismo tem feito e, em contrapartida, acreditar bem menos em suas respostas. Só assim o sentido pode multiplicar sentidos, deixando ao momento da interpretação o papel de selecioná-los.
Enquanto algumas disciplinas possuem laboratórios para suas práticas, como
as disciplinas de natureza, ou mesmo a educação física, que era trabalhada apenas
como recreação; evoluiu para práticas mais pedagógicas e hoje é contemplada com
carga horária obrigatória com teoria em sala de aula. A geografia que é uma
disciplina que nasce da observação e descrição das paisagens é confinada em sala
de aula, sendo o estudo de campo a verdadeira sala de aula da geografia. O ensino
de geografia deveria ser contemplado com carga horária especifica para as
atividades de campo, recebendo recursos para essa finalidade como recebem as
áreas de natureza nos laboratórios. Além disso, há uma ausência de mapas,
bússolas, telescópios, espaço para práticas de laboratório com estudo de solos,
rochas e minerais com uso de reagentes e microscópio, aumentando a
interdisciplinaridade.
4 DO PLANEJAMENTO AO MÉTODO
13
Para cada conjunto de competências e habilidades seria importante uma
prática, reunindo o momento em campo todas as condições ideais para sua
aprendizagem. A compreensão da importância do estudo de campo precisa ser
acompanhada de planejamento para que possa surgir como real método para
ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. O estudo de campo possui fases de
preparação, não somente para sua logística, mas para correta correlação de outros
métodos que o complementam. Por isso, deve ser entendido como o ápice das
atividades desenvolvidas durante as aulas de geografia, onde o professor pode na
sala de aula, através de uma aula expositiva, deixar clara a importância da
disciplina, seus objetivos e métodos, estabelecendo um contrato social com os
alunos, motivando-os a um comprometimento com todas as atividades realizadas,
pois estas são essenciais na preparação e conclusão dos estudos realizados em
campo.
5 DO LUGAR À PAISAGEM, DA PAISAGEM AO LUGAR.
Ao iniciar os trabalhos com as turmas de 1º ano da escola Dona Antônia
Lindalva de Morais, na fase de diagnóstico, buscou-se identificar as habilidades de
leitura e compreensão de texto, capacidade de correlacionar conceitos, fazer
abstrações, habilidades matemáticas e verificação da alfabetização cartográfica.
Ainda foi necessário realizar uma palestra sobre liderança, buscando tornar a todos
responsáveis por sua aprendizagem.
Na continuação do processo, devido às deficiências identificadas, foi
trabalhada a alfabetização cartográfica, sendo o primeiro momento em campo a
própria escola e seu entorno, permitindo ao aluno compreender um conceito muito
importante em geografia. O conceito de escala. Através da observação de objetos
em sala de aula, suas próprias dimensões, o aluno pode observar as proporções,
usar cores, símbolos e usar todos os seus sentidos na realização da atividade, que
constituía em realizar o mapa de sala, dentro de uma escala adequada, percebendo
as diferenças na representação do espaço a medida que as escalas eram
modificadas, pois para cada uma, novos detalhes surgem, e pode-se compreender
14
que dependendo dos objetivos, uma escala torna-se mais apropriada do que outra.
Os conhecimentos de cartografia sempre são essenciais para auxiliar em qualquer
atividade da geografia, e no estudo de campo há uma oportunidade impar para
utiliza-las e vivenciá-las.
Em outra aula os alunos realizaram uma caminhada no entorno da escola,
onde lhes foi pedido que observassem o trajeto estipulado pelo professor, fazendo
uso de seus sentidos, visão, audição, paladar, tato etc. ou mesmo associando a
memórias e a partir dessa observação construir uma descrição , questionando-lhes o
que compreendiam por paisagem, construindo seus significados, aos poucos
introduzindo o pensamento geográfico e seus conceitos. Ao provocar seus sentidos,
também lhes foi pedido que registrassem através de fotografia todo o percurso
questionando-os sobre os aspectos da paisagem que consideravam negativos e
positivos, observassem suas emoções. É importante salientar que cada aluno possui
seu próprio jeito de encarar a atividade e descrever suas observações, possibilitando
a identificação dos aspectos cognitivos, afetivos e sociais, sua linguagem e emoções
ao descrever o momento. Muitos se referiam a atividade apenas como um momento
para quebrar a rotina das aulas e poder caminhar e conversar com os amigos
durante o percurso, alguns trocavam conhecimentos de momentos vividos nos
lugares por onde passavam, identificando casa de amigos, namorados, familiares.
Fica aqui implícito o conceito de lugar. Durante o roteiro foi preciso atravessar um
riacho que corre atrás da escola e o único aspecto compartilhado por todos foi a
observação da existência de lixo e esgoto, nenhuma palavra mencionada sobre leis,
políticas públicas, mas a percepção indicava seus sentimentos mais primitivos,
traduzidos em sua linguagem simples, fruto da observação empírica e do senso
comum: Sujo, feio, fedorento, ruim etc. Os alunos ao entrevistarem moradores
vizinhos do cemitério da cidade puderam compreender problemas ambientais que
não podem perceber a partir da simples observação, mas da interação com as
pessoas, fazendo parte de um estudo de campo, estabelecendo a forte relação
entre paisagem e lugar.
Em outra aula, as fotos foram compartilhadas e novos questionamentos foram
realizados, exigindo dos alunos uma análise dos pontos observados, a percepção
era socializada, os meios; os alunos tinham a oportunidade de realizar a
problematização e estabelecer hipóteses. Foi sugerido uma pesquisa na internet,
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alguns livros selecionados na biblioteca para ampliar a discussão, como a aprovação
da nova lei das áreas de preservação permanente – APP, áreas verdes, reciclagem
de lixo, saneamento, poluição visual, poluição sonora e eletromagnética, dentre
outras.
As leituras permitiram o choque com a experiência de campo e a ampliação
do vocabulário, algumas hipóteses foram reformuladas e a provocação e estimulo a
pesquisa era ampliada com a ida ao laboratório de informática para uso do Google
earth, observando as imagens de satélite e identificando os pontos de referência e
os pontos de registro fotográfico no percurso do entorno da escola. A diversificação
de recursos era fundamental para manter a motivação dos alunos e desenvolver
habilidades como pesquisador, sendo a curiosidade científica fundamental. A
percepção dos alunos sobre as atividades de campo aos poucos se transformavam
de meros momentos de lazer em suas mentes, para a compreensão por parte deles
que, mesmo de forma inconsciente, os momentos compartilhados em campo
desenvolviam suas habilidades de observação e descrição, fundamentais em
qualquer atividade cientifica. Ficou claro para os alunos e professor que a
alternância de momentos em sala de aula e campo permitia, além do cognitivo,
desenvolver as relações entre os colegas, e entre alunos e professores,
aproximando-os, permitindo maior disciplina em sala de aula, pois os objetivos dos
conteúdos estudados estavam evidentes, conectados com sua realidade, e aos
poucos introduzindo o pensamento cientifico.
Ao longo do bimestre, em cada aula, a construção e compreensão do
significado de espaço geográfico, paisagem, lugar, região, território eram refinados,
sobretudo, os dois primeiros conceitos em um primeiro momento.
A paisagem vai tornando-se lugar, quanto mais observada, experimentada e
compartilhada com outros indivíduos. Nesse processo estabelecemos múltiplas
territorialidades, que surgem do que a paisagem tem a nos oferecer, que está
diretamente ligado ao conhecimento que possuímos para perceber essa oferta.
Todas as atividades de campo foram pensadas para desenvolver as
competências para o primeiro ano do ensino médio, seguindo o plano de curso e
trabalhando de acordo com o projeto político pedagógico da escola com orientação
construtivista.
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6 VIVENDO AS COMPETÊNCIAS
A última atividade de campo desenvolvida com os alunos foi a visita ao museu
Paleontológico do Cariri, objetivando compreender a formação e evolução do
território cearense, Conhecendo a formação da crosta terrestre que sustenta toda a
vida existente no planeta, compreendendo através do estudo das rochas e fosseis
como se formou o território cearense, brasileiro e mundial. Partiu-se do estudo do
principal sítio arqueológico do cretáceo que sofreu e sofre transformações a partir do
deslocamento das placas tectônicas ao longo de milhares de anos e expondo o
nosso território a condições ambientais diferentes, dando formas a suas paisagens e
permitindo seu uso pelas populações que hoje se expandem através das cidades.
O estudo de campo foi realizado no dia 19 de Novembro de 2011, com a
concentração dos 109 alunos presentes na atividade às 7h na escola Lindalva de
Morais para informes e organização das turmas com os 6 professores responsáveis,
sendo 2 em cada um dos 3 ônibus que foram cedidos pela prefeitura da cidade a
pedido dos próprios alunos que participaram de todas as etapas de planejamento.
Os alunos foram esclarecidos sobre os procedimentos a serem seguidos
durante toda a atividade, observando a pontualidade, o cumprimento ao regimento
escolar quanto ao uso do fardamento, respeito aos professores, núcleo gestor e
motorista, distribuindo o lanche para consumo nos ônibus, a água e sacolas
plásticas para o lixo, comprados com recursos dos próprios alunos, obtidos através
de rifas e outros atividades.
As 7h e 30 min. – Saída para o Museu Paleontológico do Cariri em Santana
do Cariri, com duração de 2h e 30 min. Em toda a viagem foi observado nas atitudes
dos alunos à educação ambiental, não sendo permitido jogar lixo no piso do veículo
e nem pela janela, trabalhando a interação social como na teoria de Vigotsky, com
música, brincadeiras, aumentando a interação dos alunos com os professores, o que
melhorou o relacionamento da turma, observado logo na semana seguinte de aula.
Duas alunas passaram mal, mas o problema poderia ter sido evitado caso
tivessem tomado café da manhã como recomendado em comunicado escolar aos
pais antes do estudo de campo.
O grupo chegou a Santana do Cariri às 10h, onde foram recepcionados pelos
guias do Museu e aguardaram no auditório até que todos os alunos pudessem
17
assinar o livro de ponto, organizados em fila, respeitando os colegas e as normas do
museu. A visita levou em torno de 1h. Ao término da visitação os alunos pararam
para um lanche e aguardaram na praça em frente a casa centenária de um coronel
famoso na cidade, onde a maioria também foi conhecer sua historia. Em seguida o
grupo se organizou para conhecer um dos nove sítios do geopark Araripe, o Pontal
no alto da escarpa sedimentar integrante do complexo de formações que estão
presentes nos estados do Ceará, Pernambuco, Piauí e Paraíba.
Saída para o Pontal às 12h, realizou-se a observação da paisagem,
percorreu-se a trilha, com vista da cidade de Santana do Cariri, conhecendo os
mitos e lendas que compõe o lugar, como a história da cruz colocada para abençoar.
O grupo almoçou em Nova Olinda às 13h na fundação casa grande
previamente agenda com a Meirivan, responsável pelo local e que aguardava a
todos para a visita. Além da atividade cultural, trabalhou-se com os alunos a
educação a mesa, combate ao desperdício de alimentos e tratamento do lixo
orgânico, além de conhecer o trabalho realizado com as crianças pela fundação,
servindo de guia para nossos alunos no conhecimento do universo cultural
preservado pela fundação.
O retorno às 15h para escola Lindalva de Morais com duração da viagem
mais 2h e 30 min., aproximadamente, compartilhou-se com alegria as novas
experiências, idealizando novos projetos, fortalecendo laços que frutificaram
convívio escolar e tornarão cada vez mais agradável a missão de apreender e
ensinar.
Por fim, na chegada à escola, aproximadamente às 17h e 30 minutos, alguns
alunos tiveram que ser levados em casa, pois não havia mais transporte da escola
aos sítios, reforçando a dificuldade encontrada ao realizar o evento na escola.
Nos primeiros estudos em campo, os alunos construíram a compreensão dos
conceitos geográficos e métodos da geografia para estudar o espaço geográfico,
fazendo uso da observação, descrição, análise e interpretação dos elementos da
paisagem, fazendo uso de imagens de satélite, mapas, fotografias. Os alunos vão se
apropriando do lugar construindo o pensamento científico e abstrato, percebendo o
estudo de campo como um instrumento histórico de análise na geografia. Para
Castellar (2010 : 7)
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O trabalho de campo é um momento especial para o aluno na medida em que o professor pode articular os aspectos teóricos do conteúdo desenvolvidos em sala de aula com a observação dos fenômenos e objetos do lugar em questão. Assim, o trabalho de campo não será uma mera observação, mas um aprofundamento dos conceitos científicos. Por isso, é importante que o professor, antes de levar os seus alunos, faça um reconhecimento das potencialidades deles e elabore um roteiro de estudo.
O estudo de campo pode ser compreendido como sendo uma prática de
observação do espaço geográfico de forma direta ou indireta, ou seja, utilizando-se
ou não de instrumentos de observação que ampliem o alcance dos sentidos
humanos, como as técnicas de sensoriamento remoto. Portanto, uma busca na fonte
primária, em loco, no lugar, na vivência, na experiência, mesmo com uso da
tecnologia necessitará da experiência do pesquisador, que dará ao produto, ou
resultado das observações indiretas o seu ponto de vista. Portanto, difere-se do livro
didático, de outras fontes bibliográficas ou secundárias, pois não é resultado da
interpretação de outro ser humano, o estudante pode perceber de forma direta as
experiências e realizar as indagações com ou sem o auxílio do professor, que
deverá auxiliá-lo nas problematizações, questionamentos, que permitam ao aluno
refinar suas percepções na busca de soluções. Para efetivação do método,
utilizaram-se as categorias de análise da geografia, paisagem e lugar, por considerá-
las fundamentais para a compreensão do espaço geográfico e a compreensão de
outras categorias de cunho da ciência geográfica.
O estudo de campo deve ser compreendido aqui como método para
apreensão das habilidades necessárias ao desenvolvimento das competências em
geografia. Para um geógrafo a leitura do espaço pode ser feita muitas vezes de
forma indireta através das representações do espaço geográfico: mapas, cartas,
com uso das geotecnologias e outros. No entanto, para o estudante do 1º ano do
ensino médio sem a alfabetização cartográfica, sem uma experiência de mundo,
essa possibilidade é limitada. A experiência de campo permite ao estudante ser
alfabetizado cartograficamente, reconhecendo as categorias de análise da geografia,
refinando suas habilidades necessárias para uma leitura do espaço geográfico.
A observação da paisagem não é exclusiva da ciência geografia, mas esta a
toma de forma consciente, buscando a compreensão da interação dos elementos
que a compõe. A descrição da paisagem é uma habilidade que pode ser realizada
por qualquer pessoa, mas possui naqueles que se apropriam da geografia a
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possibilidade de desenvolver uma metadescrição, ou uma meta-habilidade de
descrição da paisagem, pois necessita refinar a percepção para a compreensão dos
elementos que a compõe. Um artista, ao construir sua obra refinou todos seus
sentidos ao longo do tempo para através de sua linguagem, própria de sua arte,
expressar seus sentimentos para que outros possam ter a oportunidade de
experimentar as emoções fruto de sua intencionalidade.
Nas artes marciais, o artista marcial através da repetição da forma, sente o
movimento através da repetição, desenvolve uma meta habilidade, capacidade de
realizar o mesmo movimento que outras pessoas com atributos melhorados,
refinados. Força, sensibilidade, percepção, precisão. Então, não se pode dizer que a
descrição na geografia é algo simples, comum. Toda experiência necessita de uma
observação e descrição mais apuradas e quanto mais sensível for a percepção do
fenômeno, mais detalhes poderão ser observados.
O conceito de percepção, no sentido mais amplo, é caracterizado por um
processo de cognição em que os procedimentos mentais se realizam mediante o
interesse ou a necessidade de estruturar a nossa interface com a realidade e o
mundo, selecionando as informações percebidas, armazenando-as e conferindo-lhes
significado. (RIO, V. ; OLIVEIRA, L. 1996).
O professor TUAN (1974), em seus estudos sobre percepção da paisagem
descrevem situações em que tribos esquimós atribuem dezenas de nomes para se
referir ao branco, gelo, na tentativa de orientação no inverno rigoroso. Pigmeus que
viviam em áreas de floresta densa, fechada, ao entrarem em contato pela primeira
vez com áreas abertas, não tinham a noção de distância para reconhecimento dos
objetos, e animais de grande porte como búfalos a grandes distancias, pois para
esses indivíduos, os animais pareciam insetos, permanecendo incrédulos mesmo
quando explicado o motivo para sua confusão.
Para Stefanello (2009: 44), “na ciência geográfica, sob a ótica da percepção,
a categoria da paisagem adquire relevância à medida que é percebida, na geografia
escolar é a partir dessa percepção, subjetiva e significativa para o aluno, que o
processo de aprendizagem será construído. Daí a importância das aulas de campo”
Por fim, somente com o refinamento da percepção através dos estudos de
campo será possível apreender as habilidades e competências da geografia,
colocando-as em prática, vivenciando-as, ampliando suas experiências, tornando os
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estudantes mais aptos ao mundo do trabalho, pois é através dele que o espaço
geográfico surge transformando a natureza, e que exige do homem cada vez mais o
exercício da cidadania ativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo de campo tem sua importância percebida através das diretrizes da
educação, dos argumentos de autores de diferentes áreas de estudo, mas
concretiza-se como um método da ciência geográfica pela aplicação direta das
categorias de análise da geografia, fundamental para a compreensão do espaço
geográfico. Se as orientações curriculares para o ensino de geografia estabelecem
para todo o período do ensino médio habilidades e competências a serem
desenvolvidas, estas se efetivam com maior eficiência quando permitem ao
estudante estabelecer a sua própria práxis.
A escola deve compreender a importância da geografia como uma disciplina
interdisciplinar por essência, mas que possui seu próprio olhar sobre o mundo,
sendo o estudo de campo a verdadeira sala de aula da geografia, deve está contido
no projeto político pedagógico da escola, nos planos anuais, projetos
interdisciplinares, com recursos materiais e financeiros destinados aos propósitos da
prática de campo. O núcleo gestor da escola deve está comprometido com a
aplicação eficiente da metodologia, auxiliando nos comunicados aos pais e
instituições responsáveis pela segurança dos alunos de modos geral.
Um dado importante, não comentado, foi à constatação na organização do
estudo de campo ao museu que mais de 90% dos alunos não sabiam seu tipo
sanguíneo e nem possuíam documentos de identidade, importantes para a
segurança, mas fundamentais na construção de sua cidadania.
Infelizmente não foi possível realizar na escola um mutirão para retirada dos
documentos e do tipo sanguíneo no ano de 2011, deixando para 2012 a realização
com todos os alunos da escola em parceria com os órgãos públicos.
O plano de curso para o 1º ano do ensino médio está cheio de possibilidades
para inclusão de práticas além da sala de aula; que envolvem o próprio espaço
interno, entorno da escola, utilizando materiais que permitem ao estudante usar seus
sentidos, como tato, audição, paladar, visão etc. Muitas atividades foram realizadas
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ao longo do ano, tentando desenvolver práticas ligadas a teoria e aos conteúdos do
livro didático e as habilidades e competências exigidas. Como exemplo, nos estudos
do tempo e do clima, utilizaram-se materiais recicláveis para a montagem de uma
estação meteorológica, auxiliando na compreensão e fixação dos conteúdos
abordados, sendo os resultados apresentados na feira cultural da escola. Como
projeto, pode-se criar um clube de astronomia, participar da olimpíada brasileira de
astronomia, auxiliando nos estudos sobre o meio ambiente. Projetos
interdisciplinares, como com a educação física, podem ser realizados. Uma “corrida
de orientação” coloca-se em prática os conhecimentos de cartografia e os benefícios
da atividade física. Para cada tema, há inúmeras possibilidades, mas os professores
acabam trabalhando além do tempo que possuem para seu planejamento, sem
remuneração, apoio, reconhecimento, por ser considerada muitas vezes apenas
como lazer.
O estudo de campo, quando realizado em lugares mais distantes e com
número maior de alunos esbarra na falta de apoio e na dificuldade de registrar o
tempo do estudo como hora-aula, sendo a lei clara, em que todo momento
planejado, em que ocorram atividades entre alunos e professores, onde o fim resulte
na aprendizagem, deve ser registrado como atividade pedagógica, portanto, como
hora-aula, reforçado por parecer do conselho estadual de educação.
Por fim, A maior alfabetização que a geografia pode realizar com seus
estudantes é a leitura do espaço geográfico, a importância de cada um na relação
com próximo e com a natureza, compreendendo-se como natureza, mas
transformando-se através do trabalho. A geografia permite ao estudante pensar
globalmente e agir localmente, ampliando a compreensão de si mesmo, seus
valores, sua relação com o lugar, construindo sua identidade.
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