Fitossanidade helicoverpa

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Fitossanidade 38 | Agro DBO – novembro 2013 A crise anunciada Desconhecimento, descaso e improviso contribuiram para a disseminação da Helicoverpa armigera por todo o país Ariosto Mesquita Lagarta em soqueira de algodão na região de Costa Rica (MT): alimento é que não falta no campo. Ariosto Mesquita

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Fitossanidade

38 | Agro DBO – novembro 2013

A crise anunciadaDesconhecimento, descaso e improviso contribuiram para a disseminação da Helicoverpa armigera por todo o paísAriosto Mesquita

Lagarta em soqueira de

algodão na região de Costa Rica (MT): alimento é que não

falta no campo.

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“Nós erramos! Te-mos de fazer um mea culpa”. A de-claração feita pe-

la entomologista e professora da UFG – Universidade Federal de Goiás, Cecília Czapek, aponta pa-ra o quadro de equívocos e des-preparo do setor agrícola brasilei-ro frente à Helicoverpa armigera, já considerada a praga da safra. “To-dos nós – governo, pesquisadores e o agronegócio brasileiro – dor-mimos no ponto. Estávamos ven-do faz tempo este inseto no cam-po e ficamos no ‘achismo’, ou se-ja, apontávamos para uma coisa ou outra e não fizemos a devida coleta para identificação. Quando isso fi-nalmente foi feito, a disseminação da lagarta e a dimensão do proble-ma já eram enormes”, revelou.

A declaração foi feita a uma tensa e apoplética plateia de pou-co mais de 350 pessoas – a maioria agrônomos e agricultores – no dia 10 de outubro de 2013 em Chapa-dão do Sul (MS), durante o semi-nário “Helicoverpa – o que sabe-mos e o que precisamos saber”. O evento foi realizado pela Fundação Chapadão no auditório do CTG – Centro de Tradições Gaúchas da cidade, polo de uma das principais regiões produtoras do Centro--Oeste, envolvendo, além do norte do Mato Grosso do Sul, o sul dos estados de Goiás e Mato Grosso.

Cecília Czepak tem crédito de sobra no meio científico, sobretu-do no que se diz respeito à Helico-verpa armigera. É dela – em con-junto com Lúcia Vivan (Fundação MT) e Crébio José Ávila (Embrapa Agropecuária Oeste) – o trabalho a campo de coleta da lagarta nos estados de Mato Grosso, Goiás e Bahia que culminou, em mar-ço deste ano, com a constatação da presença da praga no Brasil, feita pelo taxonomista Vitor Be-cker. A admissão de culpa feita pela estudiosa foi o bastante para desmistificar muito do que vinha sendo dito sobre a praga e ajudar

a revelar ao país o atual ambiente de desinformação, tensão e medo no campo neste início da safra de verão. Já na primeira semana após o início do plantio de soja – no fi-nal de setembro – veio o primeiro alerta da lavoura, a partir de uma propriedade em Campo Novo do Parecis (MT): lagartas em fase ma-dura já atacavam as plântulas.

O fato revelador do descontrole foi a ocorrência de insetos com pelo menos 15 dias de idade predando plantas com cinco dias, ou seja, já havia comida disponível no campo antes mesmo do plantio da olea-ginosa. “A destruição de restos de cultura foi a principal coisa que dei-xamos de fazer a partir da identifica-ção da H. armigera no país. A praga ficou à vontade no campo. Não hou-ve quebra de ciclo. Ela se manteve o tempo todo em diversas regiões do Brasil. Só nos resta agora trabalhar. A primeira coisa é o monitoramento para controlar sua fase inicial. Ain-da é possível reduzir o problema e o prejuízo, mas tem de ser uma ação conjunta, caso contrário não vai funcionar”, aponta Czepak.

Alimentação fartaO desrespeito ao vazio sani-

tário da soja relatado em vários pontos do Centro-Oeste pode, segundo ela, ter agravado o pro-blema. “Além da manutenção de restos de cultura da safra an-terior a antecipação de plantios com certeza ajudou a promover a multiplicação do inseto. E não é

só isso: culturas de inverno onde quase ninguém faz aplicações de inseticidas, como sorgo e milheto, provavelmente alimentaram a pra-ga”, afirma. A entomologista tenta aliviar o peso sobre o produtor e atenuar uma reclamada lentidão por parte do Ministério da Agri-cultura: “o agricultor é o menos culpado nisso tudo, pois a maioria não reconhece a praga no campo. Quando finalmente é identificada, invariavelmente ele revela que há muito tempo o inseto era visto em sua lavoura, mas não sabia do que se tratava”. Muitos proprietários rurais reclamam da falta de acesso às informações objetivas sobre me-didas a serem adotadas. “O Minis-tério da Agricultura providenciou todas as medidas para o combate à zea (Helicoverpa zea, espécie dife-rente, embora do mesmo gênero), mas, quando houve a identificação como armigera teve de mudar todo o foco e hoje temos um enorme problema nas mãos”, completa.

Alface atacadapor lagartas no Rio Grande do Sul: a H. armigera já foi

vista em 12 estados.

Cecília Czepek:“Nós dormimos no ponto. Estávamos

vendo este inseto no campo faz tempo e

ficamos no achismo”.

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A pesquisadora também des-mistifica as insistentes afirmações de que a H. armigera tenha surgido em território baiano durante a safra 2012/13: “A praga não surgiu por lá e nem é recente. É provável que esteja no país há bem mais tempo, não sabemos desde quanto. O epi-sódio da Bahia foi apenas o grito. Outros estados brasileiros, como Goiás e Minas Gerais, já sofriam com infestações, mas pensava-se tratar da H. zea”. Esta última é co-nhecida como a lagarta da espiga do milho; já a H. armigera é polífa-ga (se alimenta de várias plantas) e extremamente voraz. A identifica-ção entre as duas é bastante difícil e só constatada em laboratório. A Embrapa já registrou ataques da ar-migera a diversas culturas no Bra-sil, dentre elas milho, algodão, soja, feijão comum, feijão caupi, milheto e sorgo. Também há relatos de in-festações em plantios de tomate, pimentão, café e frutas cítricas. Em sua apresentação em Chapadão do Sul, Czepak mostrou fotos da lagar-

ta também atacando alface no Rio Grande do Sul, girassol e crotalária no Mato Grosso, trigo no Paraná e melancia em São Paulo. Ao todo são estimadas em 180 as espécies hospedeiras e sujeitas ao ataque da praga, entre plantas cultivadas e na-tivas. A provável presença e ação da armigera há mais tempo no país foi alimentada pela pesquisadora da UFG com registros fotográficos da mariposa Helicoverpa em Palmeiras de Goiás em 29 de março de 2009 e de imagens de lagartas feitas há oito anos. “Eu mesmo recebi uma foto em 2005 e fiquei em dúvida”, con-fessa. “Todo este episódio vai ficar como uma lição de vida para nós agrônomos”, admite.

Mudanças profundasHá um ano, a revista Agro DBO

tomava ciência do surgimento de uma infestação sem precedentes de lagartas em estados do Sudeste e Centro-Oeste. Nos meses de no-vembro e dezembro de 2012, coletou denúncias de agrônomos e produto-res sobre devastação em lavouras. No início de fevereiro, visitou pro-priedades em Goiás, Minas Gerais e Distrito Federal, culminando com a reportagem de capa “O ataque das lagartas” (edição de março de 2013).

As revelações da professora Cecília Czepak encontram eco. No Mato Grosso, o coordenador da Comissão de Defesa Sanitária Ve-getal do Ministério da Agricultura, Wanderlei Dias Guerra, é enfático: “O Brasil todo dormiu no ponto; a praga vinha se disseminando pelo país em meio a uma total desaten-ção do setor, inclusive do próprio governo, para quem eu trabalho”. Ele é fiscal federal agropecuário da Superintendência Federal da Agri-cultura do Mato Grosso.

Guerra critica também o que chama de “agronomia calendariza-da” e afirma que o atual modelo de atendimento ao produtor rural tem de ser revisto: “o agrônomo tem de parar de receber pacotes tecnológi-cos das multinacionais e simples-mente empurrar para o agricultor; está na hora de voltarmos a ter profissionais que não sejam movi-dos a presentes e viagens caras”. O coordenador da comissão do Mapa é um dos líderes de uma frente de controle e monitoramento que se formou no Mato Grosso – prin-cipal produtor de grãos do Brasil – para o combate à H. armigera. Seu trabalho ganhou notoriedade este ano durante o 9º Congresso Brasileiro do Algodão – realizado

Ações propostas pela Embrapa• Estabelecimento de um consórcio para manejo de Helicoverpa – “Consórcio Manejo

Helicoverpa” (profissionais, produtores, instituições públicas e empresas privadas);

• Planejamento da área de cultivo;

• Monitoramento contínuo de pragas;

• Utilização do controle biológico;

• Registro emergencial e uso de inseticidas químicos e biológicos;

• Disseminação de tecnologia de aplicações de agrotóxicos e bioinseticidas.

O detalhamento do direcionamento proposto pela Embrapa pode ser conferido em documento acessível através do link www.embrapa.br/alerta-helicoverpa/Manejo-Helicoverpa.pdf

Nem restos da pluma de algodão

escaparam à voracidade das

lagartas.

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Pesquisador critica a “agenda calendarizada” e defende mudanças no atual modelo de atendimento ao produtor rural brasileiro

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Ações sugeridas pelo Mapa• Uso de cultivares que reduzem a população da praga – baseado

nas opções disponível no mercado e na indicação de empresas de sementes e instituições de pesquisa e extensão rural;

• Determinação da época de plantio e restrição de cultivos subsequentes – semeadura de milho, soja e algodão no menor espaço de tempo possível (janela menor), com o objetivo de reduzir o período de disponibilidade de alimento para a praga;

• Uso de controle biológico – liberação de insetos parasitoides e predadores além de fungos, bactérias e vírus que atacam a Helicoverpa, reduzindo a sua população;

• Adoção de manejo integrado emergencial de pragas – integração de tecnologias para identificação, monitoramento, estudo de fatores climáticos, avaliação do desenvolvimento das plantas e observação de danos;

• Utilização de armadilhas, iscas e outros métodos de controle físico – a utilização de feromônios em armadilhas é a técnica mais recomendada para monitoramento;

• Respeito ao vazio sanitário – observação irrestrita do período sem cultivos hospedeiros no campo, determinado pelos órgãos oficiais de agricultura e de defesa agropecuária dos estados;

• Adoção de áreas de refúgio no plantio – setor de cultivo de plantas não transgênicas de tecnologia BT junto ao plantio de escala comercial BT (obedecendo o percentual recomendado e nunca a mais de 800 metros de distância um do outro ). A medida favorece o cruzamento entre pragas expostas e não expostas à toxina BT (Bacillus thuringiensis) evitando a seleção de lagartas resistentes;

• Utilização de rotação de culturas – destruição de plantas voluntárias e restos culturais.

de 3 a 6 de setembro em Brasília – ao ser premiado pelo seu trabalho “Ocorrência de Archytas (Diptera tachinidae) parasitando lagartas Helicoverpa armigera (Lepidopte-ra noctuidae) em Mato Grosso”. Ele simplesmente descobriu uma mosca que pode se tornar um dos principais aliados para o controle biológico da praga. “Esta mosca do gênero Archytas coloca ovos sobre a lagarta e a larva vai se alimentan-do da Helicoverpa até formarem uma única pupa. Ao final, da pupa nasce outra mosca; eu mesmo levei um susto quando descobri”, garan-te. Guerra afirma que, dependendo da quantidade e da ação da mos-ca, é possível controlar até 40% de uma população de lagartas. “Isso é mais do que muitos produtos quí-micos; é preciso tratar com carinho este predador da lagarta, que exis-te em grande quantidade no Mato Grosso, fazendo dele uma ferra-menta para o manejo integrado de pragas”, defende.

Medo no campoAs Fazendas Reunidas do Gru-

po Schlatter – duas propriedades em Goiás, duas no Mato Grosso e cinco no Mato Grosso do Sul – se preparam para enfrentar a Helico-verpa armigera pela primeira vez. “Estamos com medo, pois quem já passou por isso não consegue esconder o nervosismo e a apreen-são”, admite o agrônomo responsá-vel pelo grupo, André Luis da Silva.

Na verdade, ele já está enfren-tando o problema de perto. Em uma das unidades – Fazenda Nova França, em Costa Rica (MS), na di-visa com o estado de Mato Grosso – a praga já está presente. Em grande parte dos 1,5 mil hectares destina-dos ao plantio de algodão verão, a praga é vista à vontade se delician-do com a comida farta disponibili-zada pelos restos da cultura do al-godão da última safra. “No final de novembro vamos fazer a destruição química das soqueiras para o plan-tio em dezembro”, avisa.

Infestação de lagartas em lavoura de Mato Grosso e

postura de ovos em soja na safra atual

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A Fundação Chapadão está uti-lizando a fazenda como campo de pesquisa. “A propriedade tornou-se parceira e aproveitamos para mon-tar um trabalho de monitoramento para avaliar o comportamento da praga”, explica Denízio Cardoso da Silva, técnico agrícola da instituição mantida por produtores rurais e em-

presas agropecuárias da região dos Chapadões – norte do Mato Grosso do Sul e sul de Goiás. Nos 3,5 mil hectares já semeados com soja, o monitoramento ainda não detectou a lagarta. “Nós limpamos bem para tirar restos do algodão cultivado an-teriormente, mas sei que vai ser di-fícil conter a infestação”, avisou. Um fator agravante, segundo ele, é a de-manda maior por inseticidas do que a oferta existente no mercado: “boa parte das empresas só disponibili-zará produtos a partir de fevereiro; quem não comprou com antecedên-cia terá muito mais problemas”.

Silva classifica o momento como de “despreparo sanitário ve-getal brasileiro”. Da parte do gru-po, houve uma mobilização para um quadro de alta infestação. De um máximo de duas aplicações químicas feitas no último cultivo de verão, a previsão é que o nú-mero suba para cinco neste ciclo 2013/14, tudo em função da la-garta. “Estamos preparados para o pior; a tensão é muito grande”. Na atual safra, as nove fazendas do grupo devem cultivar juntas cerca de 33 mil hectares de soja e cinco mil de algodão.

Medição com feromôniosNa corrida contra o tempo – e

pelo mercado – começam a ser adotadas alternativas para moni-torar com mais eficiência o nível de infestação da Helicoverpa ar-migera nas propriedades rurais. Uma delas são os feromônios específicos para esta praga, cuja importação foi liberada pelo go-verno federal. Estes instrumentos químicos – com aplicação para o inseto na fase adulta (mariposa) – imitam o odor da lagarta fêmea, atraindo machos para uma arma-

dilha. Dessa forma, dependendo da população capturada é possí-vel determinar o nível de aplica-ção de inseticidas na lavoura.

A Embrapa defende o uso dos feromônios como o princi-pal instrumento de facilitação da inspeção sistemática da lavoura dentro do MIP - Manejo Integra-do de Pragas, uma vez que o pro-cesso de atração até a armadilha seleciona apenas a Helicoverpa (ao contrário das armadilhas lu-minosas que atraem diversos ti-

pos de insetos). De acordo com alguns pesquisadores, o início de tratamento – basicamente com aplicação de inseticidas – deve começar após a detecção do ní-vel básico de infestação, que é de três mariposas por metro quadra-do de vôo à noite. As armadilhas são encontradas no mercado. O custo de cada unidade, utilizada como padrão pela Fundação Cha-padão, pode variar entre R$ 30,00 e R$ 40,00 com vida útil de apro-ximadamente um mês.

Já na Fazenda Buritizinho – 700 hectares de cultivo de soja, feijão e milho –, no município de São João da Aliança, nordeste de Goiás, o proprietário José Carlos Maichaki calcula bater recorde de utilização de inseticidas para conter a vora-cidade da praga. “Serão de três a quatro aplicações a mais, em re-lação a 2012. Minha previsão é de até sete na soja, podendo chegar a 12 no feijão”, revela. Até meados de outubro, a situação ainda era “tran-quila” pelo fato de até então não ha-ver plantas novas emergentes. No entanto, Maichaki não se ilude: “A Helicoverpa virá de forma pesada nesta safra e sei que meu custo de produção deverá aumentar em pelo menos 10% em função dela”.

O produtor de Goiás admite que a agricultura brasileira está longe de ter conhecimento pleno sobre a la-garta e critica a ausência de agroquí-micos de controle efetivo: “Vários produtos estão em falta no mercado, alguns tiveram disparada nos preços e outros poucos conseguem agir so-bre a praga. Além disso, o governo federal está demorando muito para registrar o Benzoato de Emamec-tina”. Sua importação já foi autori-

Área de sojada fazenda Nova França, ainda sem lagartas: limpeza dos restos da cultura anterior (no caso, algodão) ajudou no controle dos insetos.

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Cientistas alertam: cruzamento entre as espécies H. armigera e H. zea pode resultar em indivíduos mais agressivos e resistentes.

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zada, mas o registro no país ainda dependia, até o fechamento desta edição, de aprovação conjunta por parte do Mapa, Ibama (Ministério do Meio Ambiente) e Anvisa (Mi-nistério da Saúde).

A H. armigera já foi identifi-cada oficialmente ou relatada em pelo menos 12 estados brasilei-ros – MG, MS, MT, GO, BA, PR, DF, MA, TO, SP, RS, PI. No sul do país, apesar de menos intensas do que os registros na Bahia, Minas Gerais e estados do Centro-Oeste, as infestações incomodam e pre-ocupam. “A gente percebe muita ansiedade entre os produtores neste início de safra”, admite o co-ordenador de Produção de Grãos do Instituto Paranaense de Assis-tência Técnica e Extensão Rural, Nelson Harger. Segundo ele, a Co-amo – uma das maiores coopera-tivas do país – já localizou a praga em buva no sul de Mato Grosso do Sul e em palhadas de trigo em território paranaense, mesmo an-tes do plantio da safra de verão.

Descarte de frutos em cultivo

de tomate em Goianópolis (GO):

mesa farta para a Helicoverpa

“Nosso receio é o produtor resol-ver fazer aplicações indiscrimina-damente”, ressalta. Há três anos, segundo ele, a média de aplica-ções de defensivos em lavouras do Paraná era de 4,6 intervenções. “No atual ciclo deve ultrapassar cinco, no mínimo”, calcula. É qua-se certo que a circulação da la-garta por áreas agrícolas dos dois estados brasileiros (PR e MS) que fazem fronteira com o Paraguai deve ter sido a gota d’água para a praga chegar ao país vizinho. Em outubro, a defesa sanitária vegetal paraguaia anunciou os primeiros registros de infestações em lavou-ras nos departamentos de Canin-deyú, Itapúa, San Pedro e Alto Paraná.

Cruzamento perigosoDentre a sucessão de ‘desco-

bertas’ sobre a Helicoverpa, surgem agora indicativos de que as espécies armigera e zea estão se cruzando e possivelmente gerando indivíduos diferenciados. As suspeitas foram

levantadas quase que ao mesmo tempo pelo pesquisador da Fun-dação Chapadão, Germison Vital Tomquelski e pelo fiscal federal do Mapa em Campo Grande (MS), Ri-cardo Hilman. Mas foi o primeiro (Tomquelski) quem testemunhou situações a campo indicando cru-zamento durante o monitoramento dos insetos nas divisas entre os es-tados do Centro-Oeste. “Os fero-mônios que usamos existem para a atração dos machos armigera, mas também estamos encontrando in-setos semelhantes à zea nas arma-dilhas; o produto pode ainda não estar bem apurado ou estão ocor-rendo cruzamentos”, avalia.

Sobre o perfil e comportamen-to destes possíveis híbridos, o pes-quisador prefere não arriscar uma opinião: “A possibilidade de cruza-mentos existe e podem ser gerados descendentes, mas ainda é difícil mensurar qual será a implicação dis-so; em princípio podemos ter indiví-duos mais suscetíveis às tecnologias quanto insetos mais resistentes”.

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