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MARCÔNIO MARTINS RODRIGUES FITOMASSA E COMPORTAMENTO DE CABRAS ANGLO- NUBIANA EM PASTAGEM NATIVA MELHORADA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS TERESINA 2007

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MARCÔNIO MARTINS RODRIGUES

FITOMASSA E COMPORTAMENTO DE CABRAS ANGLO- NUBIANA EM

PASTAGEM NATIVA MELHORADA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS TERESINA

2007

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MARCÔNIO MARTINS RODRIGUES

FITOMASSA E COMPORTAMENTO DE CABRAS ANGLO- NUBIANA EM

PASTAGEM NATIVA MELHORADA

Trabalho apresentado ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Piauí como parte dos requisitos exigidos para obtenção da graduação em Engenharia Agronômica.

ORIENTADORA: Drª. Maria Elizabete de Oliveira

TERESINA 2007

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FITOMASSA E COMPORTAMENTO DE CABRAS ANGLO- NUBIANA EM

PASTAGEM NATIVA MELHORADA

MARCÔNIO MARTINS RODRIGUES

Trabalho apresentado a BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ M.Sc.: ANTÔNIO DE SOUSA JUNIOR UFPI _____________________________________________ Profa. Dra. DANIELLE MARIA MACHADO RIBEIRO AZEVÊDO EMBRAPA MEIO-NORTE _____________________________________________ ORIENTADORA: Profa. Dra. MARIA ELIZABETE DE OLIVEIRA

UFPI

Teresina, 27 de Julho de 2007

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AGRADECIMENTOS

Agradeço principalmente a Deus por ter me dado saúde, perseverança

e iluminação nos momentos de dificuldades, dando-me forças para que eu

conseguisse vencer mais uma batalha.

Ao meu pai em (in memoriam), José Evandro Rodrigues Martins, que

está sempre vivo em meu coração.

À minha mãe Ana Martins Rodrigues que é minha fonte de inspiração

por seu exemplo de humildade, seriedade, responsabilidade, honestidade e pelo seu

apoio incondicional de estar sempre me ensinando a lutar sempre pelos sonhos.

À professora, mestre e amiga Maria Elizabete de Oliveira, que, com

sua dedicação incondicional, na vastidão dos seus conhecimentos, foi fundamental,

orientando-me devidamente como pessoa humana que é.

Às minhas irmãs Rosiane e Lidiane, pela amizade e pelo carinho que

elas sempre me proporcionaram.

Aos meus familiares: tios, tias, primas, primos, avôs, avós e padrinhos

pelo apoio constante para essa conquista.

Aos professores do curso de Engenharia Agronômica pelos seus

conhecimentos transmitidos, em especial à professora Maria Elizabete de Oliveira,

pelo exemplo de educadora.

Aos amigos agradeço pela dedicação, apoio e acima de tudo

confiança proporcionando por eles junto a minha pessoa, principalmente: Antônio de

Almeida de Araújo Neto, André Silva Nascimento, Miguel Arcanjo Moreira Filho,

Cléia Amaral Rodrigues e Lidiane Martins Rodrigues.

Aos funcionários da Universidade Federal do Piauí, em especial

Gilberto Alves Texeira, Sr. Narciso e Manuel que sempre estão ali para nos ajudar,

auxiliando para que tudo acabe em sucesso.

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SUMÁRIO

RESUMO....................................................................................................................5

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................6

2 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................9

2 1 Disponibilidade e composição botânica

do extrato herbáceo de espécies lenhosas rebrotadas..............................................11

2 2 Comportamento animal.................................................................................................12

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................14

3 1 Disponibilidade e composição botânica

do extrato herbáceo de espécies lenhosas rebrotadas..............................................14

3 2 Comportamento animal.................................................................................................19

4 CONCLUSÕES......................................................................................................22

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................23

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RESUMO

Foram avaliados a disponibilidade de fitomassa, a composição botânica

do extrato herbáceo, as freqüência de espécies lenhosas e o comportamento de

cabras Anglo-nubianas em pastagem nativa melhorada. O experimento foi realizado

no período seco (outubro e novembro) no município de Teresina, PI. Na área

experimental de 1,1 ha, foram coletadas 20 amostras para determinar a fitomassa

herbácea e a freqüência de espécies lenhosas. Para determinação da freqüência de

espécies lenhosas e disponibilidade de fitomassa total utilizaram-se áreas de 16 e

0,50 m², respectivamente. No período seco a percentagem de gramíneas na

composição botânica do experimento é sempre superior em relação às ervas. A

percentagem de matéria seca foi superior para as gramíneas no período avaliado

em outubro e novembro. A disponibilidade de forragem em pastagem nativa

melhorada permitiu a produção de caprinos no período seco. A temperatura

ambiente não influenciou os períodos de pastejo de caprinos que se constitui na

atividade predominante dos animais em pastagem nativa melhorada.

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1 INTRODUÇÃO

Pastagens nativas são áreas que por razões de limitações, tais como,

aridez, ocorrência de rochas superficiais, solos rasos, topografia acidentada entre

outros fatores, são inapropriadas para o cultivo, tornando-se uma fonte de forragem

para os animais domésticos e silvestres, bem como área de produção de águas,

madeira e vida selvagem (STODDART et al., 1975).

A pastagem nativa tem como vantagem a manutenção da diversidade do

componente florístico nativo, reposição natural da fertilidde do solo e tem como

limitação a baixa capacidade de suporte e as mudanças na composição botânica e

produção de biomassa devido às flutuações anuais na precipitação pluviométrica

(ARAÚJO, 1980 ; PRIMAVESI, 1986).

A pastagem nativa melhorada consiste na introdução de forrageiras

exóticas adaptadas, não com a substituição da flora nativa, mas como o seu

enriquecimento buscando uma maior produtividade de forragem e um melhor

desempenho animal (OLIVEIRA et al., 2001). O enriquecimento garante a presença

da forragem em maior quantidade durante a época seca. Com isso, a capacidade

de suporte aumenta consideravelmente (CAVALCANTE e CÂNDIDO, 2003).

Oliveira et al. (2001) trabalhando com capoeira manipulada para fins pastoris no

períodoseco

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observaram um aumento de 1000 kg de MS/ha com a introdução do capim

andropogon.

O capim Andropogon gayanus utilizado como uma das espécies exóticas

para melhoramento de pastagem nativa, é uma planta perene, de origem africana,

com touceiras eretas, colmos variando de 1,50 a 2,50 m de altura, às vezes

atingindo até 3 m. As lâminas das folhas são lineares, com 30-60 cm de

comprimento, 4-20 mm de largura, estreitadas na base, retas ou involutas, pilosas,

acuminadas (NASCIMENTO e RENVOIZE, 2001).

O capim Andropogon gayanus resiste bem a seca devido a seu sistema

radicular profundo. Prefere solos bem drenados e vegeta bem em regiões pobres de

pH ácido. Como característica negativa ocorre o fácil acamamento e a dificuldade de

produção de sementes. Produz em torno de 12 t de matéria seca/ha, prestando-se

para pastejo e fenação. O rendimento de matéria seca dessa gramínea com

intervalos de corte de 60 dias no período seco e 35 dias no chuvoso, foram 3.118 e

8.747 kg/ha, respectivamente (BOTREL et al.,1999).

Diferentes espécies têm diferentes características que se refletem nas

respostas dos animais, em particular no padrão de comportamento de pastejo, na

busca de sombra, descanso e ruminação. Do ponto de vista bioclimático, apesar

dos caprinos serem considerados rústicos, a associação entre elevada temperatura

e alta umidade do ar e radiação solar direta pode acarretar alterações

comportamentais, diminuição da ingestão de alimentos e redução do nível de

produção (LU, 1989). Damasceno et al. (1998) avaliando respostas produtivas de

vacas holandesas com acesso à sombra observou aumento na produção de leite

para os animais mantidos em abrigos com proteção.

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No estado do Piauí cerca de 92% da área pastoril é constituída de

pastagem nativa (IBGE,1985), sendo estas pastagens, em geral, a principal fonte de

alimentação dos caprinos. O caprino é classificado como animal selecionador

intermediário, consumindo uma ampla variedade de forragens, selecionando a parte

mais nutritiva de uma planta (VAN SOST, 1994). Uma outra estratégia de

alimentação dos caprinos é a flexibilidade na alimentação, podendo ocorrer uma

variação estacional da dieta da estação chuvosa para a seca, aumentando o

percentual de dicotiledôneas herbáceas e brotos, além de folhas de arbustos e

árvores e reduzindo o percentual de gramíneas (MESQUITA, 1982).

O objetivo deste trabalho foi estimar a disponibilidade de fitomassa,

composição botânica do extrato herbáceo e freqüência de espécies lenhosas

rebrotadas e o comportamento em pastejo de cabras Anglo-Nubiana em pastagem

nativa melhorada no período seco em Teresina, Piauí.

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2 MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado em uma área de pastagem nativa melhorada

localizada no Departamento de Zootecnia (DZO) do Centro de Ciências Agrárias

(CCA) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Teresina, Piauí (latitude

05°05’21”S, longitude 42º48’07” W) (Figura 1). O clima do município é de transição

sub-úmido, distinguindo-se duas estações – chuvosa e seca. A precipitação

pluviométrica é concentrada em mais de 70% nos meses de janeiro a maio. Esse

comportamento mostra a deficiência hídrica na maior parte do ano, tendo os meses

de outubro e novembro precipitação pluviométrica média anual respectivamente de

20 e 52 mm (BASTOS e ANDRADE JÚNIOR, 2000).

Na época do experimento em outubro e novembro registraram-se

precipitações pluviométricas de 23 e 59 mm (Figura 2).

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0

10

20

30

40

50

60

70

Out Nov

Meses

Chuva

(m

m)

Figura 2- Precipitação pluviométrica no período experimental em área de pastagem nativa melhorada no período seco no município de Teresina, região sub-úmida

A vegetação nativa é classificada como matas de babaçu. Na área

ocorrem as espécies arbóreas: pau d`arco (Tabebuia sp), Caneleiro (Cenostigma

gardnerianum), Jatobá (Hymenaea sp), Jacarandá (Swartzia sp), Sapucaia (Lecythis

pisonis), Xixá (Sterculia striata) (EMBRAPA, 1984).

A pastagem nativa melhorada é formada pelo capim-andropogon

associado à vegetação nativa, predominantemente lenhosa. A formação dessa

pastagem ocorreu em 1988, com o semeio do capim andropogon associado a

culturas de grãos no modelo de agricultura de broca e queima. Posteriormente a

cada ano é realizado roço manual da vegetação lenhosa, a uma altura de 30 cm do

solo, preservando árvores remanescentes do período de formação da pastagem.

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Figura 1- Área experimental de pastagem nativa melhorada com capim Andropogon gayanus, Teresina, PI

No período seco de 2006 foram realizados dois experimentos nessa área:

1. Avaliação da disponibilidade e composição botânica do extrato herbáceo e

freqüência de espécies lenhosas rebrotadas; 2. Comportamento de caprinos.

2.1 DISPONIBILIDADE E COMPOSIÇÃO BOTÂNICA DO EXTRATO HERBÁCEO

E FREQUÊNCIA DE ESPÉCIES LENHOSAS REBROTADAS

A lotação utilizada foi de 10 cabras/ha em sistemas de lotação

rotacionada, uma vez que o capim estava seco, “feno em pé”, os animais

permaneceram em cada piquete até uma altura média do resíduo de cerca de 20

cm.

Na área experimental de 1,1 ha, nos meses de outubro e novembro, antes

da entrada dos animais no pasto, foram coletadas 20 amostras da fitomassa

herbácea, cortadas a uma altura de 10 cm do solo, utilizando um quadro de 0,5 m x

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1,0 m. Em cada amostra foi registrada a altura do capim-andropogon utilizando uma

régua graduada. No laboratório as amostras foram pesadas e depois divididas, em

gramíneas e ervas. Essas amostras foram levadas à estufa para secarem a 60ºC por

72 horas.

A freqüência de espécies lenhosas rebrotadas foi determinada nos meses

de outubro e novembro. Foram coletadas 20 amostras distribuídas ao acaso, sendo

percorrido toda a área, utilizando quadro com área de 4m x 4m. A densidade de

árvores adultas foi realizada pela contagem de todos os indivíduos presentes na

área experimental. A identificação das espécies foi realizada a partir de consultas ao

herbário Graziela Barroso da UFPI e em bibliografias especializadas.

Foram determinadas as médias e o desvio padrão dos dados de

disponibilidade de fitomassa do extrato herbáceo, altura do capim andropogon e do

comportamento de cabras.

2.2 COMPORTAMENTO ANIMAL

Para observar o comportamento em pastejo de caprinos foi utilizado um

lote uniforme quanto ao peso vivo, idade e estado fisiológico, de fêmeas da raça

caprina Anglo-nubiana (n=dez) em novembro. Os animais tinham à disposição água

a vontade, livre acesso à sombra natural e sal mineral no cocho nas instalações do

aprisco.

Os animais ficaram 15 dias na pastagem das 7 às 18 horas para

adaptação. Após esse período, coletaram-se dados sobre o comportamento das

cabras durante três dias consecutivos através de observações diretas, instantâneas,

a cada meia hora e anotados em quadros etogramas. Também foram registrados os

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períodos de ingestão de água. Os parâmetros observados foram pastejo, ruminação,

deslocamento e ócio.

No período de coleta dos dados foram anotadas a cada duas horas a

temperatura ambiente (TA) e umidade relativa do ar (UR) na pastagem utilizando

termo-higrômetro analógico.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 DISPONIBILIDADE E COMPOSIÇÃO BOTÂNICA DO EXTRATO HERBÁCEO

E FREQUÊNCIA DE ESPÉCIES LENHOSAS REBROTADAS

Na tabela 1 estão registrados os dados de altura do capim-andropogon e

disponibilidade de fitomassa do extrato herbáceo. No mês de outubro tivemos a

maior média de altura e a maior disponibilidade de fitomassa. A altura média do

capim foi 74 cm. Essa altura do capim representa o crescimento no final do período

chuvoso, quando os animais foram retirados do pasto, portanto, a maioria dos

perfilhos não entrou na fase de florescimento, em virtude da escassez de chuvas

que contribuiu para retardar a rebrota. No manejo dessa pastagem as cabras são

retiradas do piquete quando o capim atinge uma altura entre 10 e 20 cm. Nessa

gramínea, de acordo com Nascimento e Renvoize (2001) na fase de florescimento

ocorre um alongamento do colmo, cuja altura média ultrapassa 2,0 m ou mais.

A disponibilidade de fitomassa variou de 1.619 a 1.482 kg de matéria

seca/ha entre os meses de outubro e novembro no final do período seco. Essa

fitomassa permite alimentar dez cabras com peso vivo médio de 45 kg em um

hectare por 60 dias.

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Tabela 1 - Altura e disponibilidade de forragem em área de pastagem nativa

melhorada no período seco em Teresina, região sub-úmida

Meses Altura ( cm ) Disponibilidade (Kg)

Outubro 75 ± 16,06 1.619,82 ± 912,72

Novembro 73,4 ± 16,30 1.482,21 ± 979,65

A composição botânica da pastagem indica a dieta disponível aos animais,

no extrato herbáceo verificou-se alta predominância de gramíneas, a participação do

componente gramíneas na composição botânica foi acima de 80% em outubro e

novembro, e ervas entre 11 e 16% (Tabela 2). Oliveira et al. (2001) trabalhando com

capoeira enriquecida obtiveram resultados semelhantes com composição inferior a

50% na participação das dicotiledôneas herbáceas. Rezende et al. (1995)

trabalhando com melhoramento de pastagens nativas por meio de introdução das

gramíneas exóticas braquiarão (Brachiaria brizantha cv. Marandu) e andropogon

(Andropogon gayanus) observaram maior participação das espécies introduzidas em

relação às espécies nativas nas duas épocas de corte com que trabalharam durante

o período chuvoso.

Tabela 2 - Composição botânica em área de pastagem nativa no período seco em Teresina, região sub-úmida

Composição Botânica (%)

Meses Gramínea Ervas

Outubro 84 16

Novembro 89 11

15

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A gramínea foi utilizada como feno em pé, o que pode ser observado pelo

teor de MS que nos meses de outubro e novembro foi em média de 80%. A

percentagem de MS do capim-andropogon é elevada, devido a precipitação

pluviométrica para estes meses não serem suficientes para a ocorrência de

rebrotações (Tabela 3).

Tabela 3 - Percentagem de matéria seca em área de pastagem nativa melhorada no período seco em Teresina, região sub úmida

% de Matéria Seca

Meses Fitomassa Total Gramíneas Ervas

Outubro 78,67 84,83 76,42

Novembro 65,73 77,04 49,46

A média histórica de precipitação pluviométrica nos meses de outubro e

novembro são 20 e 52 mm respectivamente (BASTOS e ANDRADE JÚNIOR, 2000).

No período de realização do experimento foram registradas na área durante os

meses de leitura (outubro e novembro) precipitações pluviométricas de 23 e 59 mm,

respectivamente. Não ocorreu a rebrota do capim o que pode ser observado pela

alta percentagem de matéria seca.

Todas as espécies lenhosas mostradas na tabela 4 são rebrotas, uma vez

que anualmente são submetidas a roço. Essa prática visa reduzir o sombreamento

do estrato herbáceo. As espécies lenhosas rebrotadas contribuem para a dieta dos

animais. Oliveira e Oliveira (1992) trabalhando com dieta de caprinos em pastagem

nativa melhorada verificaram que 20 espécies participaram da dieta dos caprinos,

que correspondeu a 45% dos arbustos presentes na área. Contudo neste trabalho o

consumo dessas espécies pelos caprinos restringe-se às folhas tenras, que

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correspondem aos pontos de crescimento e folhas novas. Deste modo grande parte

da massa verde produzida contribui para deposição de matéria orgânica para o solo

quando submetidas a podas.

As espécies predominantes nas amostras da área com freqüências

superiores a 50% foram: caneleiro, jitó, sipaúba, araçá bravo e pau darquinho. As

leguminosas espinheiro preto e o pau ferro, estão entre as mais palatáveis, contudo

suas freqüências são baixas nesta pastagem e os caprinos consomem brotos e

folhas jovens de outras espécies menos palatáveis, tais como a sipaúba, babaçu e

mofumbo (Tabela 4).

Tabela 4 - Freqüência de espécies em área de pastagem nativa melhorada em Teresina, região sub-úmida.

Família Nome vulgar Nome científico Freqüência

(%) Combretaceae Sipaúba Thiloa glaucocarpa (Mart.) Eichler 80,0

Caesalpinaceae Caneleiro Cenostigma gardnerianum Tul. 60,0

Mirtaceae Araçá bravo Psidium cattleianum Sabine 57,0

Bignoniaceae Pau darquinho Tabebuia sp 55,0

Sapindaceae Jitó Sapinduns sp 52,5

Combretaceae Mofumbo Combretum leproseum Mart. 42,0

Flacourtiaceae Folha de carne Casearia sp 32,0

Palmaceae Babaçu Orbignia martiniana Barb.Rodr. 32,0

Borraginaceae Grão de galo Cordia piauhiensis Fresen 25,0

Bignoniaceae Cipó de chapada Arrabideae sp. 25,0

Combretaceae Farinha seca Combretum sp. 17,5

Bignoniaceae Pau d´arco Tabebuia serratifolia (Vahl) Nichols 17,5

Solaneaceae Jurubebinha Solanum crinitum Lam. 15,0

Borragináceae Maria preta Cordia sp 15,0

Esterculiaceae Sacatrapa Helicteres heptranda L. B. Sm. 10,0

Papilionoideae Quebra Machado Mascherium sp 10,0

17

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Caesalpinaceae Pau ferro Caesalpinea ferrea Mart. 7,5

Desconhecido 01 Cipó de catitu 7,5

Mirtaceae Guabiraba Campomanesia sp 5,0 Olacaceae Ameixa de raposa Ximenia americana L. 2,5

Rutaceae Limãozinho Fagara sp 2,5

Caesalpinoideae Jatobá Hymenaea sp 2,5

Erythronxilaceae Rompe gibão Erytronxilum sp 2,5

Desconhecido 02 Cabo de baladeira 2,5

Mimosoideae Espinheiro preto Piptadenia flava (Spreng. ex DC.)

Benth

2,5

Caesalpinoideae Jacarandá do

cerrado

Swartizia flaemingii Raddi var. 2,5

A densidade absoluta de árvores adultas na área foi de 83 indivíduos por

ha, com predominância de caneleiro (Tabela 5). A presença destas árvores na

pastagem visa à conservação dos recursos naturais, tais como solo e água e

também melhoria das condições ambientais para os animais.

Tabela 5 - Densidade de árvores e palmeiras adultas em área de pastagem nativa melhorada em Teresina, região sub-úmida

Família Espécie lenhosa Nome científico (Nº de ind./ha)

Caesalpinaceae Caneleiro Cenostigma gardnerianum 42

Bignoniaceae Pau d‘arco Tabebuia serratifolia 28

Palmaceae Tucum Bactris marajua 12

Palmaceae Babaçu Orbignia martiniana 4

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3.2 COMPORTAMENTO ANIMAL

Na estação seca, as temperaturas médias mínimas e máximas nos três

dias de observação foram 32 e 40,5°C, respectivamente. Os valores para umidade

relativa média, mínima e máxima, foram 47 e 70%, respectivamente. A maior

temperatura e menor umidade relativa foram registradas às 14 horas.

Os animais despenderam 8,85 horas do tempo em pastejo e 1,33 horas

em ócio (Tabela 6). Esse maior tempo de pastejo indica que no período seco devido

à qualidade da dieta disponível (89% da composição botânica do estrato herbáceo

foi do capim andropogon e o seu teor de MS era de 65%) os animais consomem

menos forragem por bocado. Esse comportamento está de acordo com o hábito

seletivo dos caprinos, que reduzem a quantidade consumida no bocado,

provavelmente para consumir uma dieta de melhor qualidade (VAN SOST, 1994).

Isto pode ser visualizado na figura abaixo onde se observa que o consumo de

palmeiras jovens de babaçu, é restritas à apenas partes da folha (Figura 3).

Figura 3: Palmeira de babaçu consumida por caprinos em área de pastagem nativa melhorada.

Partes da

folha

consumida

por

caprinos

19

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Oliveira e Oliveira (1992) trabalhando com comportamento de cabras SRD

em pastagem nativa no período seco obtiveram tempo de pastejo de 4,4 horas e

2,7 horas de ócio. Contudo a pastagem é descrita como capoeira de primeiro ano,

após corte e queima, com elevada presença de leguminosas, tais como sabiá e

espinheiro. Rodrigues et al. (2006) avaliando o comportamento de cabras Anglo-

Nubiana em pastagem cultivada de Brachiaria brizantha no período chuvoso

obtiveram 4,45 horas de pastejo, próximo ao obtido por Oliveira e Oliveira (2001).

Nos dois trabalhos citados o tempo de pastejo foi 50% menor do que o encontrado

neste experimento.

Tabela 6 - Comportamento de cabras Anglo-nubiana em pastagem nativa melhorada no período seco em região sub-úmida

Atividades Tempo Despendido (Horas) Desvio Padrão

Pastejo 8,85 0,75

Ócio 1,33 0,49

Ruminação 0,35 0,40

Deslocamento 0,48 0,24

O comportamento em pastejo das cabras entre 7 e 18 horas pode ser

observado na Figura 4. A percentagem de cabras em pastejo foi superior a 90% na

maior parte do dia. As cabras iniciaram o pastejo às 7 horas e terminaram às 17

horas, ficando até o final das leituras às 18 horas em ócio. O menor número de

animais em pastejo foram observados às 9 e 12:30 horas. No horário de maior

temperatura e menor umidade (14 horas) não houve uma redução significativa no

tempo de pastejo, este fato pode ter sido propiciado pelas sombras das árvores que

estavam distribuídas pela pastagem amenizando a temperatura no ambiente, pois a

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diferença entre as temperaturas a sombra e ao sol foram de 2 a 3°C. Santos et al.

(2004) avaliando a influência do sol e do ambiente parcialmente sombreado sobre o

número de períodos discretos de ruminação, ócio e pastejo de cabras em pastejo de

Tifton (Cynodon Dactylon), observaram que os animais com ou sem acesso à

sombra gastaram mais tempo pastejando em relação as outras atividades. O horário

de maior de consumo de água pelas cabras foi registrado entre 9 e 12 horas.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

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Figura 4 - Porcentagem de cabras em pastejo em pastagem nativa melhorada no município deTeresina, região sub-úmida.

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4 CONCLUSÕES

A disponibilidade de forragem em pastagem nativa melhorada permitiu a

produção de caprinos no período seco. Na rebrota do extrato lenhoso predomina as

espécies sipáuba, caneleiro e jitó.

A temperatura ambiente não influenciou os períodos de pastejo de

caprinos que se constitui na atividade predominante dos animais em pastagem

nativa melhorada.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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