FINESTRA - Matéria e Entrevista - 10.08

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Transcript of FINESTRA - Matéria e Entrevista - 10.08

ESPECIAL FACHADAS

Fachadas ventiladas

R$ 25,00

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ENTREVISTA Alessandra Araújo I Diretora executiva do GCPArquitetos

Relevos e superfícies de folhas podem inspirardesenhos e soluções de fachadas de edifícios.O mesmo vale para peles de certos animais, cujosesqueletos, com seus reforços pontuais, tambémservem para sugerir a criação de estruturas."Na natureza não há desperdício de matéria,ou seja, uma ave terá uma estrutura óssea nopadrão necessário para ter a leveza de voar.Essa funcionalidade pode ser replicada na arquitetura",observa a bióloga e especialista no assunto AlessandraAraújo, sócia diretora do escritório GCP Arquitetos.A ideia é inovadora justamente por imitar as funçõese padrões que resistiram à evolução natural."É uma aplicação das estratégias de sobrevivênciae reprodução dos seres vivos que representam hoje1% das espécies após aproximadamente 4 bilhõesde anos de existência no planeta. Portanto, sãoadaptações altamente especializa das e testadasao longo da vida na Terra", diz. Em entrevista aGisele Cichinelli, ela conta como o conceito está sedisseminando no Brasil e no mundo e ainda revelaquais são os maiores desafios para a aplicaçãoprática da biomimética em projetos arquitetõnicos.

FINESTRII 2015 I jul-ago

-A LICAO DA.J

NATUREZA PARAA ARQUITETURA

Vertente da arquitetura contemporânea, a biomimética

adapta conceitos da natureza na busca por soluções

sustentáveis que aumentem a eficiência das edificações,

como explica Alessandra Araújo, diretora executiva

do GCP Arquitetos e especialista no assunto.

COMO SURGIU SEU INTERESSE PELA ARQUITETURA

BIOMIMÉTICA?

Fiz muitos cursos na área de arquitetura, urbanismo esustentabilidade. Dentre eles, o do Schumacher College, nointerior da Inglaterra, onde encontrei o arquiteto MichaelPawlyn, hoje conhecido por praticar a arquitetura biomimética.Ele fazia o mesmo curso que eu e me incentivou a estudara biomimética, pois achava que eu tinha o perfil ideal paraa área. Comecei, a partir daí, a seguir o que acontecia pelomundo. Em 2011 fiz um curso de certificação ministradopelo Instituto Biomimicry 3.8, fundado por Janine Benyus eDayna Baumeister, PhDs no assunto. Essas duas estudiosascomeçaram a fazer as correlações sobre como a naturezapode ser mentora para qualquer desafio contemporâneo,seja na arquitetura ou até mesmo na gestão de pessoal.

QUAL O CONCEITO DE BIOMIMÉTICA E COMO SE APLICA

À ARQUITETURA?

A biomimética é uma disciplina que tramita em váriossegmentos e seu objetivo é buscar, através dos quase 4 bilhõesde anos de vida na Terra e dos mecanismos de adaptação-seja para sobreviver, seja reproduzir -, soluções eficazes eambientalmente sustentáveis. Na arquitetura, essas soluções

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visam a eficiência das edificações. Ou seja, uma casaconstruída em um local com alterações de temperatura ouumidade, por exemplo, pode ser pensada na biomiméticaa partir do estudo dos mecanismos da natureza para lidarcom esses aspectos. É preciso, através de um método, fazeruma pesquisa no mundo natural para buscar soluções.Não é apenas uma inspiração aleatória. Não olhamossomente a simplicidade da forma, mas sim a funcionalidadeda adaptação. Através de pesquisas, temos um percursoaté chegar à transcrição dos princípios de projeto, que sebasearão na tradução de como o ser vivo estudado lida,por exemplo, com flutuações de temperatura: por meio deaberturas, de mecanismosinternos de controle deumidade, de processosfísicos ou químicos etc.

É UM PROCESSO

"O GCP é um dos poucos escritóriosde arquitetura brasileiros quepossuem uma bióloga a bordo"~"ifMULTIOISCIPLlNAR?

Sim, a pesquisaé trabalhosa e amultidisciplinaridade se dá nessa etapa de projeto.Fundamentalmente, temos um trabalho que deve serfeito a quatro mãos. Há sempre um arquiteto e umprofissional da área de ciências envolvidos nessesestudos. Teremos então uma pesquisa ampla na qualse envolvem muitos princípios de design que possamter correlação com a demanda inicial. No momentoem que o retorno é dado, as soluções são avaliadaspara identificar se fazem ou não sentido. Por fim,avalia-se se o resultado está de acordo com o que eraesperado, chegando a um produto final satisfatório.

COMO OS ESTUDOS NESSA ÁREA VÊM EVOLUINDO

NO EXTERIOR E NO BRASIL?

Nos Estados Unidos e na Europa, sobretudo naAlemanha, a biomimética está praticamente nomesmo patamar de desenvolvimento. Há umgrupo de profissionais trabalhando para a BMW,por exemplo. Sabemos que algumas empresas dosetor automobilístico estão pesquisando sensoresnaturais, a partir do estudo de cardumes de peixese de aves migratórias. Isso abastece a indústria,que pretende entender como funciona a direçãointeligente. Nos Estados Unidos há um peso maior naspesquisas dentro da academia. No desenvolvimentode produtos, hoje temos exemplos concretos,como o trem japonês, que foi inspirado no pássaro

li.

mergulhão, facilitando a aerodinâmica do veículo.Pawlyn tem alguns exemplos na área de arquitetura.Michael Pearce, por sua vez, construiu o edifícioEastgate, no Zimbábue. Esse partido, inclusive, ébastante questionado pelos arquitetos. Mas nãonecessariamente a aplicação da biomimética resultaem formas incomuns, vale lembrar. A biomiméticaaparecerá nos sistemas de controle de entrada dear e luz, sistemas hidráulicos e na distribuição dosfluxos e dinâmicas internas. E também nas formasestruturais, onde o conceito tem sido aplicado.

QUANTO AOS

MATERIAIS, QUAL

É O PANORAMA

DA SUA APLICAÇÃO?

Vinculados àarquitetura, há muitosmateriais já estudadose desenvolvidos.Um dos exemplos

é uma tinta para revestimento de paredes inspiradanas folhas de lótus. Essa planta fica em lugares degrande precipitação e a parte em contato com o arnão pode sujar, do contrário não há fotossíntese. Parase adaptar, essa folha possui nanopartículas quepermitem que se torne autolimpante. Toda vez quegotas passam por ela, carregam as sujeiras. A tintatambém tem nanopartículas que evitam acúmulo desujeira e o desenvolvimento de fungos, aumentandosua durabilidade. Há ainda estudos com concretobaseados na capacidade de autorrecomposição doscorais. O uso de bactérias em contato com o concretopermite que fique selado e possa ser reconstruídoem casos de fissuras, um dos maiores problemasenvolvendo o material. Também há um tijolo criado apartir de uma mistura de areia e uma solução muitorica em bactérias, composição que confere a elecapacidade de carga superior, além de ser totalmentereciclável. A partir do l.ite's Principle é possíveldesenvolver uma série de soluções na perspectiva dabiomimética. Esse conjunto de valores se pauta naquímica verde e impede, por exemplo, a criação deprodutos tóxicos ao meio ambiente, não recicláveisou que não possam ser construídos em etapas.Esses conceitos podem ser usados na arquitetura,na elaboração de projetos com capacidade deexpansão e uso de materiais eficientes também. »

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ENTREVISTA ALessandra Araújo I Diretora executiva do GCPArquitetos

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A INDÚST~IA ASSIMILOU A BIDMIMÉTICA MAIS

~APIDAMENTE DO QUE A A~QUITETU~A?

No segmento de materiais, a aplicação do conceito estámais consolidada justamente porque eles têm funções maistangíveis. Quando migramos para uma área construídaou para a elaboração de um espaço, pensamos em váriasfunções, tais como proteção ao ambiente e a seu uso e aindaa criação de um local confortável e agradável. Tudo issodeve ser correlacionado com a biomimética, aumentandoa complexidade do projeto. Como se trata de um conceitonovo, há poucos escritórios de arquitetura e profissionaisaptos a pensar esses projetos a partir dele. Por exemplo,a americana HOK e a inglesa Arup possuem equipesde projeto compostas porecólogos, biólogos, sociólogos,arquitetos e engenheiros.É um grupo que parte de umavisão multidisciplinar. O GCPé um dos poucos escritóriosbrasileiros que possuemuma bióloga a bordo.

A aplicação da biomimética é uma quebra deparadigma na arquitetura, pois vai estudar o terreno,as pressões abióticas exercidas sobre ele e as funçõesque a construção deve desempenhar. Toda essapesquisa pode levar até dois meses, e sabemos quea máxima na cabeça do investidor ainda é "tempo édinheiro". Mas precisa haver tempo para que essapesquisa seja feita e, partir daí, se comece a pensar emdesenvolver um projeto de fato inovador e sustentávela quatro mãos. A ideia é dispensar ou minimizaro uso de equipamentos, como ar-condicionado edesumidificadores, por exemplo. Ainda há uma pressãogrande para que os projetos sejam feitos rapidamente,

quando, na verdade, essaetapa deveria ser pensadacom bastante cuidado.':A maior barreira é a do

conhecimento, pois ainda temosde explicar o que é biomimética"

QUAIS os DESAFIOS

PA~A VIABILlZA~

P~OJETOS DESSA

DO ESTUDO À P~ÃTICA, LEVA-SE TEMPO? HÃ

ALGUMA INICIATIVA JÃ DESENVOLVIDA NO B~ASIL?

Uma grande indústria de cosméticos já contratoupesquisas na área pensando em obter embalagens maisinteligentes, Na arquitetura, especificamente, não hánenhuma inciativa - desde a fase de projeto até a obraexecutada - desenvolvida a partir da biomimética.

HÃ ALGUM P~OJETO EM VISTA QUE VISE A

APLICAÇÃO DO CONCEITO NO B~ASIL?

Há um trabalho a ser desenvolvido no sul da Bahia, emlocal que apresenta três pressões abióticas: umidade,salinidade e variações de temperatura. Temos ademanda de elaborar um projeto no segmento dehotelaria nesse terreno, ainda em fase de pesquisae sem previsão para conclusão da sua execução.

COMO CLIENTES E INVESTIDO~ES AVALIAM A

POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DA BIOMIMÉTICA?

O CUSTO DO P~OJETO, PO~ EXEMPLO,

AUMENTA MUITO? E O TEMPO?

FINESTRII 2015 I juL-ago

NATU~EZA?

A capacitação para odesenvolvimento da biomimética ainda é incipienteno Brasil. Há poucos profissionais da área.Não temos um escritório de arquitetura que saibainterpretar e desenvolver engenharia pensando embiomimética, com sua lógica própria de aplicação.Temos alguns biólogos e poucos arquitetos eengenheiros certificados no assunto. Os profissionaisda área de ciências estão saindo na frente, sãoos mais interessados nesse tema inovador.

OS INTE~ESSADOS PODEM ~ECO~~E~ A QUE

TIPO DE FO~MAÇÀO?

Há workshops, cursos e palestras. Mas cursos coma profundidade do Biomimicry 3.8 e do existente naUniversidade Estadual do Arizona, só fora do Brasil.Temos de tomar cuidado para que o conceito não sedesvirtue com a aplicação apenas na forma, e nãona funcionalidade. A inovação deve ir além da forma.O projeto de grande destaque tem a função da formaamplamente estudada, Fazer casinhas no estilo dojoão-de-barro não é biomimética aplicada .•

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MERCADO

SÉRGIO FREITAS É O NOVODIRETOR COMERCIAL DA BELMETALNOVO PROJETO PARA

CENTRO DE EVENTOS EM SÃO PAULO Atuando na Belmetal Alumínios há sete anose meio, Sérgio Freitas assume agora o cargode gerente comercial da empresa. O executivochegou na companhia como gerente de desen-volvimento, em que montou uma nova divisãode produtos, incluindo painéis de ACM, poli-carbonato e silicone, além de trazer parceriascom empresas do setor acrílico e de fitas duplaface. Agora, Freitas tem planos de unificar aatuação das onze filiais da empresa. "A ideia écriar uniformidade de atuação na área da cons-trução civil, prestando serviço melhor para omercado, com um pacote completo de produ-tos", afirma ele.

O espaço para eventos Imi-grantes Exhibition & Con-vention Center, em SãoPaulo, ganhará novo projetode arquitetura, desenvolvidoem conjunto pelo escritóriopaulistano GCP Arquitetos,que coordenou os projetosbásicos executivos, e pelo

estúdio francês Wilmotte & Associés [W&Al. responsável pelacoordenação e compatibilização dos projetos complementares - aconvite da empresa GL Events. Os galpões contarão com pé-direitolivre, de dez e14 metros, com estrutura de cobertura otimizadapara permitir vãos livres de até 72 x 157 metros e pisos de con-creto para receber cargas de três a cinco toneladas.

OO«UIIWL CONCURSO CBCA TEM

Ao todo, os cinco novos pavilhões contíguos do São Paulo Expo -como o espaço será chamado - totalizarão área de 50 mil me-tros quadrados, interligados aos 19 mil já existentes, que serãoreformados. Também será implantado um centro de convençõescom 11 mil metros quadrados, 17 auditórios, salas de conferên-cia, áreas para intervalo, lobbies, lanchonetes e um restauranteprincipal. Os ambientes serão divididos por paredes acústicasmóveis, dando mais flexibilidade ao empreendimento. Ao longoda fachada principal, uma esplanada coberta por marquise ser-virá de acesso do público aos lobbies e também abrigará eventosabertos. Toda a área de exposições e convenções será climatiza-da com sistemas eficientes e inteligentes, e haverá ainda a cap-tação da água de chuva para reúso em descarga dos sanitáriose lavagem de pisos. O projeto de paisagismo prevê o plantio de900 árvores nativas para recomposição da mata. Será construídoum prédio-garagem com capacidade para 4,4 mil carros.

INSCRiÇÕES ABERTAS

O Centro Brasileiro da Construção emAço realizará a oitava edição do Concur-so CBCA, desta vez com o tema CentroEsportivo e Social. Voltado para estu-dantes de arquitetura e com abrangên-cia nacional, o prêmio tem como objetivoestimular o trabalho criativo, revelandoas possibilidades e o conhecimento daspropriedades do aço. O primeiro colo-cado receberá prêmio no valor de 5 milreais - 4 mil para a equipe e mil para oorientador -, além de representar o Bra-sil no 8° Concurso Alacero de Desenhoem Aço para Estudantes de Arquitetu-ra, organizado pela Associação Latino--Americana do Aço [Alacer o]. Nele, osbrasileiros competirão com equipes ven-cedoras dos países membros da asso-ciação, como Argentina, Chile, Colômbia,Equador, México, Peru, República Domi-nicana e Venezuela. As inscrições vão até15 de agosto e podem ser feitas pelo sitewww.cbca-acobrasil.org.br/a rq u itetu ra.

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