Final do século XIX. O Simbolismo tem origem na França, no final do séculoXIX, com a publicação...

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Simbolismo Final do século XIX

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SimbolismoFinal do século XIX

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Surgimento• O Simbolismo tem origem na França, no final do séculoXIX, com

a publicação dos poemas As flores do mal, de Charles Baurdelaire. Os poetas dessa corrente literária foram chamados finesseculares ou decandentistas, por desprezarem os valores “positivos” da sociedade burguesa e industrializada em ascensão. O mundo, na verdade, mostrava-se fugaz e fora de controle, a razão e a técnica não conseguiam explicar nem amenizar os medos e as angústias humanas. Os simbolistas se opõem a esse mundo racionalizado. Embora adotem dos parnasianos a preocupação com a forma, buscam um sentido maior para sua produção. E é por meio de uma linguagem indireta que procuram mergulhar num universo mais profundo, para recuperar a união entre partes da sociedade em ebulição e um todo, um sentido original, verdadeiro. Daí o caráter sugestivo e muitas vezes místico de seus poemas.

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Contexto histórico• 1854 – BAUDELAIRE PUBLICA “AS FLORES DO MAL”. • 1884 – VERLAINE PUBLICA “ARTE POÉTICA”, NA FRANÇA. • 1891 – PUBLICAÇÃO, NO JORNAL CARIOCA FOLHA POPULAR,

DE UM MANIFESTO DEFENDENDO OS IDEAIS ESTÉTICOS DO SIMBOLISMO.

• 1893 – CRUZ E SOUSA PUBLICA “MISSAL” E “BROQUÉIS”. • 1900 – SIGMUND FREUD PUBLICA “A INTERPRETAÇÃO DOS

SONHOS” E FUNDA A PSICANÁLISE. • 1905 – EINSTEIN ANUNCIA A “TEORIA DA RELATIVIDADE”.• ECONOMIA CAPITALISTA • ONDA DE PESSIMISMO SE ESPALHA PELA EUROPA • A RAZÃO NÃO É MAIS UM FILTRO PARA A EXPLICAÇÃO DO

MUNDO - CONSIDERA A REALIDADE ENGANADORA

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ImpressionismoQuadros de Monet

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Imagens

Impression du Soleil Levant - 1873 (Museu Marmottan, Paris) 

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Madame Monet de quimono

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Catedral de Rouen

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O lago das Ninfeias

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Monet: Mulheres no jardim de 1866.

Autumn Effect at Argenteuil (1873) by Claude Monet

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Características literárias• Sugestão• Musicalidade: aliterações, assonâncias, ecos, rimas, ritmo.• Sinestesia – ex. perfume doce – olfato e paladar.• Espiritualidade , mistérios, misticismo, esoterismo, sonhos, alucinações.• Preocupavam-se em retratar em seus textos o inconsciente, o irracional, com

sensações e atitudes que a lógica não conseguia explicar. O leitor não deveria tentar entender os textos, mas se deixar levar pelas sensações

• Resgate da subjetividade, dos valores espirituais e afetivos.• Uso de um vocabulário bíblico, litúrgico, esotérico e arcaico.• Gosto pelo vago, pelo indefinido.• Preocupação formal –rigor.• Pesquisa de vocabulário sugestivo.• Metáfora da água – efemeridade da vida – morrer é bom.• Pessimismo – viver é sofrer.• Hermetismo.• Torre de marfim – alienação política e social – volta-se para o egocentrismo e

subjetividade

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Identificação de algumas características a partir do poema Antífona, de Cruz e Sousa,

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Antífona , de Cruz e SousaÓ Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas! Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras

Formas do Amor, constelarmante puras, De Virgens e de Santas vaporosas... Brilhos errantes, mádidas frescuras E dolências de lírios e de rosas ...

Indefiníveis músicas supremas, Harmonias da Cor e do Perfume... Horas do Ocaso, trêmulas, extremas, Réquiem do Sol que a Dor da Luz resume...

Visões, salmos e cânticos serenos, Surdinas de órgãos flébeis, soluçantes... Dormências de volúpicos venenos Sutis e suaves, mórbidos, radiantes ...

infinitos espíritos dispersos, Inefáveis, edênicos, aéreos, Fecundai o Mistério destes versos Com a chama ideal de todos os mistérios.

Do Sonho as mais azuis diafaneidades Que fuljam, que na Estrofe se levantem E as emoções, todas as castidades Da alma do Verso, pelos versos cantem.

Que o pólen de ouro dos mais finos astros Fecunde e inflame a rima clara e ardente... Que brilhe a correção dos alabastros Sonoramente, luminosamente.

Forças originais, essência, graça De carnes de mulher, delicadezas... Todo esse eflúvio que por ondas passa Do Éter nas róseas e áureas correntezas...

Cristais diluídos de clarões alacres, Desejos, vibrações, ânsias, alentos Fulvas vitórias, triunfamentos acres, Os mais estranhos estremecimentos...

Flores negras do tédio e flores vagas De amores vãos, tantálicos, doentios... Fundas vermelhidões de velhas chagas Em sangue, abertas, escorrendo em rios...

Tudo! vivo e nervoso e quente e forte, Nos turbilhões quiméricos do Sonho, Passe, cantando, ante o perfil medonho E o tropel cabalístico da Morte...

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  A sugestão • A sugestão predomina sobre a descrição: as imagens

que tão fartamente aparecem nos poemas simbolistas são vagas, diluídas, suaves. Ocorre um registro impressionista do mundo real: não importa como a realidade é, mas os efeitos que ela causa na sensibilidade do artista.

Ex.:

Ó Formas alvas, brancas, Formas claras De luares, de neves, de neblinas!... Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas... Incensos dos turíbulos das aras..

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Misticismo:• Misticismo: o simbolista mantém uma atitude

mística perante a vida; tenta atingir o inatingível, o oculto e o misterioso para tentar contemplar algum tipo de sentido para sua existência na terra e na transcendências a outro plano.

Ex.:Incensos nos turíbulos das arasDe Virgens e de Santas vaporosas.

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Emprego das maiúsculas•  Inovação no emprego das maiúsculas: o autor

simbolista usa maiúsculas em substantivos comuns para ampliar o sentido desses vocábulos, além de dar maior força emocional a eles.

• Ex.:Ó Formas alvas, brancas, Formas claras Ó Formas vagas, fluidas, cristalinas...

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Musicalidade• Musicalidade: para os simbolistas, há uma relação

fundamental entre música e poesia. Os efeitos sonoros são amplamente explorados, entre os quais podemos destacar o uso das aliterações.A aliteração pode ser vista na estrofe I (/s/). O poema todo apresenta uma certa musialidade, facilmente percebida quando feita a leitura em voz alta

• Ex.: IndefiníveiS músicaS SupremaSHarmoniaS da Cor e do Perfume...

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Hermetismo• Hermetismo: a poesia simbolista é complexa,

fechada, de difícil compreensão integral, exigindo maior sensibilidade, intuição e abstração por parte do leitor.Ex.:O poema como um todo demonstra isso, tanto pelo vocabulário empregado, como pelas construções.

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Emprego de símbolos cósmicos e religiosos• Emprego de símbolos cósmicos e religiosos:

altares, incensos, estrelas, constelações, sinos, turíbulos, nuvens,... São símbolos frequentemente utilizados pelos simbolistas para sugerir os estados da alma humana.

• Ex.:Em praticamente todos os versos temos a presença de símbolos cósmicos-religiosos. De luares, de neves, de neblinas!.... Incensos dos turíbulos das aras...

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Sinestesias• Emprego de sinestesias para tentar dizer o

indizível, pra tentar sugerir, esboçar aquilo que não pode ser descrito objetivamente.Sinestesias: Harmonias (sensação auditiva), Cor (sensação visual), Perfume (sensação olfativa).

• Ex.• Harmonias da Cor e do Perfume...

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• Desejo de transcendência e integração cósmica em oposição aos limites do mundo físico e material, os simbolistas apreciam situações de viagem interior ou cósmica, o extravasamento e a transcendência do mundo real.Em virtude desta postura um tanto escapista, foram chamados pejorativamente de nefelibatas (vivam nas nuvens).

• Ex.:Infinitos espíritos dispersos,

Inefáveis, edênicos, aéreos, Fecundai o mistério destes versos Com a chama ideal de todos os mistérios.

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Interesse pelas zonas profundas da mente e pela loucura• Interesse pelas zonas profundas da mente e pela

loucura: interesse em explorar zonas até então desconhecidas da mente humana (sonhos, alucinações), que começava a ser desvendada pelos estudos sobre a psicanálise, desenvolvidos por Sigmund Freud.Ex.:Do Sonho as mais azuis diafaneidadesQue fuljam, que na Estrofe se levantemE as emoções, todas as castidadesDa alma do Verso, pelos versos cantem

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Atração pela morte• Atração pela morte e por elementos decadentes

da condição humana: exploração de temas macabros e satânicos, ambientes noturnos e misteriosos.

• Ex.: Tudo! vivo e nervoso e quente e forte,Nos turbilhões quiméricos do Sonho,Passe, cantando, ante o perfil medonhoE o tropel cabalístico da Morte..

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Simbolismo em Portugal• Início – 1890 – Oaristos, de Eugênio de Castro

Autores e obras:Eugênio de Castro – OaristosAntônio Nobre – SóCamilo Pessanha - Clepsidra

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Camilo PessanhaNascimento- 7 de Setembro de 1867 -Coimbra, PortugalMorte - 1 de Março de 1926 (58 anos) - Macau

Poesia de musicalidade suave e sugestiva, compõe fragmentos de realidade e memória, plenos de sensações vagas e plurissignificativas. A imagem mais fecunda em sua poesia é a água. Tradicionalmente associada à passagem do tempo, à mutabilidade das coisas, aprofunda-se, na poesia de Pessanha, em resignada sensação de impotência e desalento perante o tempo. Não é à toa que seu único livro chama-se “Clepsidra", nome dado na Grécia antiga aos relógios d'água. Com ele exerceu grande influência, particularmente na geração de Orpheu, que iniciou o Modernismo em Portugal.Considerado um poeta de leitura pouco acessível para o grande público, um criador que inspirou outros criadores, passou grande parte da vida em Macau (China), onde conheceu o ópio e conviveu com a poesia chinesa, de que foi tradutor para o português.Os poemas de Camilo Pessanha caracterizam-se por um forte poder de sugestão e ritmo, apresentando imagens estranhas, insólitas, não lineares, isto é, repletas de rupturas e cores – elementos tipicamente simbolistas.

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Fonógrafo• Vai declamando um cómico defunto.

Uma plateia ri, perdidamente,Do bom jarreta...E há um odor no ambienteA cripta e o pó,- do anacrónico assunto.

Muda o registo, eis uma barcarola:Lírios, lírios, águas do rio, a lua.Ante o Seu corpo o sonho meu flutuaSobre um paul,- extática corola.

Muda outra vez os gorjeios, estribilhosDum clarim de oiro - o cheiro dos junquilhos,Vívido e agro!- tocando a alvorada...

Cessou. E, amorosa, a alma das cornetasQuebra-se agora orvalhada e velada,Primavera. Manhã. Que eflúvio de violetas!

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Viola chinesaAo longo da viola morosaVai adormecendo a parlendaSem que amadornado eu atendaA lengalenga fastidiosa.

Sem que o meu coração se prenda,Enquanto nasal, minuciosa,Ao longo da viola morosa,Vai adormecendo a parlenda.

Mas que cicatriz melindrosaHá nele que essa viola ofendaE faz que as asitas distendaNuma agitação dolorosa?Ao longo da viola, morosa... (PESSANHA, 2009, p. 86)

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PAISAGENS DE INVERNO IIPassou o outono já, já torna o frio...– Outono de seu riso magoado.Álgido inverno! Oblíquo o sol, gelado...– O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio,Fugindo sob o meu olhar cansado,Para onde me levais meu vão cuidado?Aonde vais, meu coração vazio?

Ficai, cabelos dela, flutuando,E, debaixo das águas fugidias,Os seus olhos abertos e cismando...

Onde ides a correr, melancolias?– E, refratadas, longamente ondeando,As suas mãos translúcidas e frias... (PESSANHA, 2009, p. 66)

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AO LONGE OS BARCOS DE FLORESSó, incessante, um som de flauta chora,Viúva, grácil, na escuridão tranquila,– Perdida voz que de entre as mais se exila,– Festões de som dissimulando a hora –

Na orgia, ao longe, que em clarões cintilaE os lábios, branca, do carmim desflora...Só, incessante, um som de flauta chora,Viúva, grácil, na escuridão tranquila.

E a orquestra? E os beijos? Tudo a noite, fora,Cauta, detém. Só modulada trilaA flauta flébil... Quem há de remi la?‐Quem sabe a dor que sem razão deplora?

Só, incessante, um som de flauta chora... (PESSANHA, 2009, p. 87)

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Imagens que passaisImagens que passais pela retinaDos meus olhos, por que não vos fixais?Que passais como a água cristalinaPor uma fonte para nunca mais!...

Ou para o lago escuro onde terminaVosso curso, silente de juncais,E o vago medo angustioso domina,– Por que ides sem mim, não me levais?

Sem vós o que são os meus olhos abertos?– O espelho inútil, meus olhos pagãos!Aridez de sucessivos desertos...

Fica sequer, sombra das minhas mãos,Flexão casual de meus dedos incertos,– Estranha sombra em movimentos vãos. (PESSANHA, 2009, p. 80)

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Cruz e Sousa – O Cisne Negro ou O Dante Negro

• Nasce João da Cruz, em Nossa Senhora1861 do Desterro (hoje Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina), a 24 de Novembro. Filho de Guilherme da Cruz, mestre pedreiro, e Carolina Eva da Conceição, lavadeira, ambos negros e escravos, alforriados por seu senhor, o coronel Guilherme Xavier de Sousa. Do coronel, o menino João recebeu o último sobrenome e a proteção, tendo vivido em seu solar como filho de criação.

• Em 1871Matricula-se no Ateneu Provincial Catarinense, onde estudou até o fim de 1875, tendo aprendido francês, inglês, latim, grego, matemática e ciências naturais. Essa última disciplina fora-lhe ensinada pelo naturalista alemão Fritz Müller, amigo e colaborador de Darwin e Haeckel. Além das palavras do amigo Virgílio Várzea: “Distinguiu-se acima de todos os seus condiscípulos”, Cruz e Sousa mereceu elogios de Fritz Müller, para quem a inteligência do jovem negro era a prova de que suas opiniões antirracistas estavam corretas.

• Em 1898, morre a 19 de março, em Sítio (Estado de Minas Gerais), para onde partira três dias antes, na tentativa de recuperar-se de uma crise de tuberculose. Tinha 37 anos. Seu corpo chega ao Rio de Janeiro num vagão destinado ao transporte de cavalos. José do Patrocínio encarrega-se dos funerais. O enterro realiza-se no Cemitério de S. Francisco Xavier, tendo o amigo fiel, Nestor Vítor, discursado ao túmulo. Publicação de Evocações. Nasce-lhe o filho póstumo, João da Cruz e Sousa Júnior, dia 30 de Agosto, que morreria em1915, aos 17 anos. (Seus outros três filhos morreriam antes de 1901, ano em que morreu sua esposa Gavita). Em 1900, dá-se a publicação de Faróis, coletânea organizada por Nestor Vítor.

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Cruz e Sousa - características A OBSESSÃO PELA COR BRANCA

O EROTISMO SUBLIMADO

O SOFRIMENTO DA CONDIÇÃO NEGRA

O SOFRIMENTO DA CONDIÇÃO HUMANA

ESPIRITUALIZAÇÃO E RELIGIOSIDADE

LINGUAGEM METAFÓRICA E MUSICAL

USO DE INICIAIS MAIÚSCULAS EM SUBSTANTIVOS COMUNS

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Cárcere das almasAh! Toda  alma  num cárcere anda  presaSoluçando nas trevas, entre as gradesDo calabouço olhando imensidades,Mares, estrelas, tardes, natureza.

Tudo se veste de igual grandezaQuando a alma entre grilhões as liberdadesSonha e, sonhando, as imortalidadesRasga no etéreo Espaço da Pureza.

Ó almas presas, mudas e fechadasNas prisões colossais e abandonadasDa Dor no calabouço, atroz, funéreo!

Nesses silêncios solitários, graves,Que chaveiro do Céu possui as chavesPara abrir-nos as portas do Mistério?!

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Violões que choram• Quando os sons dos violões vão soluçando, 

Quando os sons dos violões nas cordas gemem, E vão dilacerando e deliciando, Rasgando as almas que nas sombras tremem. 

Harmonias que pungem, que laceram, Dedos nervosos e ágeis que percorrem Cordas e um mundo de dolências geram, Gemidos, prantos, que no espaço morrem... 

E sons soturnos, suspiradas mágoas, Mágoas amargas e melancolias, No sussurro monótono das águas, Noturnamente, entre remagens frias. 

Vozes veladas, veludosas vozes, Volúpias dos violões, vozes veladas, Vagam nos velhos vórtices velozes Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. 

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Alphonsus de Guimaraens• Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, no dia 24 de julho de

1870. Filho do comerciante português Albino da Costa Guimarães e de Francisca de Paula Guimarães Alvim. Fez os cursos básicos em Minas Gerais e aos 17 anos se apaixona pela prima Constança, filha do escritor Bernardo Guimarães seu tio-avô. Com a morte prematura da prima, em 1888, o poeta se entrega a vida boêmia.

• Em São Paulo estuda Ciências Sociais, terminando o curso em 1895. Vai ao Rio de Janeiro, onde conhece Cruz e Souza, poeta que já admirava e de quem tornou-se amigo. Volta para Minas e é nomeado promotor de Conceição do Serro, hoje Conceição do Mato Dentro, ocupando em seguida o cargo de juiz substituto. Em 1897, casa-se com Zenaide de Oliveira, com quem teve 14 filhos.

• Sua poesia expressa uma atitude melancólica sobre o tema morte. O sentimento resignado, o sofrimento e a desesperança estão presentes em seus versos. O seu espiritualismo é voltado para a religiosidade e o misticismo.

• Temas recorrentes:• * A SUBLIMAÇÃO DA PERDA DA NOIVA POR MEIO DO MISTICISMO RELIGIOSO • * A PAISAGEM FANTASMAGÓRICA DAS CIDADES MINEIRAS • A MORTE , O MISTICISMO E A NOIVA LINGUAGEM DE RICA MUSICALIDADE E, POR VEZES, LITÚRGICA.

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Alphonsus de Guimaraens - obras• Setenário das Dores de Nossa Senhora, poesia

1899Dona Mística, poesia, 1899Câmara Ardente, poesia, 1899Kiriale, poesia, 1902Mendigos, prosa, 1920Pauvre Lyre, poesia, 1921Pastoral aos Crentes do Amor e da Morte, poesia, 1923Poesias (Nova Primavera, Escada de Jacó, Pulvis, poesia, 1938

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A CatedralEntre brumas, ao longe, surge a aurora,O hialino orvalho aos poucos se evapora,Agoniza o arrebol.A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece na paz do céu risonhoToda branca de sol.E o sino canta em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.Uma áurea seta lhe cintila em cadaRefulgente raio de luz.A catedral ebúrnea do meu sonho,Onde os meus olhos tão cansados ponho,Recebe a benção de Jesus.E o sino clama em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lírios e lilases desceA tarde esquiva: amargurada precePõe-se a luz a rezar.A catedral ebúrnea do meu sonhoAparece na paz do céu tristonhoToda branca de luar.E o sino chora em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu e todo trevas: o vento uiva.Do relâmpago a cabeleira ruivaVem acoitar o rosto meu.A catedral ebúrnea do meu sonhoAfunda-se no caos do céu medonhoComo um astro que já morreu.E o sino chora em lúgubres responsos:"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

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IsmáliaQuando Ismália enlouqueceu,Pôs-se na torre a sonhar...Viu uma lua no céu,Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu,Banhou-se toda em luar...Queria subir ao céu,Queria descer ao mar...

E, no desvario seu,Na torre pôs-se a cantar...Estava perto do céu,Estava longe do mar...

E como um anjo pendeuAs asas para voar...Queria a lua do céu,Queria a lua do mar...

As asas que Deus lhe deuRuflaram de par em par...Sua alma subiu ao céu,Seu corpo desceu ao mar...

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Óssea mea• Mãos de finada, aquelas mãos de neve, De tons marfíneos, de ossatura rica, Pairando no ar, num gesto brando e leve, Que parece ordenar mas que suplica.

Erguem-se ao longe como se as eleveAlguém que ante os altares sacrifica:Mãos que consagram, mãos que partem breve, Mas cuja sombra nos meus olhos fica...

Mãos de esperança para as almas loucas, Brumosas mãos que vêm brancas, distantes, Fechar ao mesmo tempo tantas bocas...

Sinto-as agora, ao luar, descendo juntas, Grandes, magoadas, pálidas, tateantes,Cerrando os olhos das visões defuntas...

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Hão de Chorar por Ela os Cinamomos...• Hão de chorar por ela os cinamomos,

Murchando as flores ao tombar do dia.Dos laranjais hão de cair os pomos,Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirão — "Ai! nada somos,Pois ela se morreu silente e fria.. . "E pondo os olhos nela como pomos,Hão de chorar a irmã que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mãe carinhosa,Que a viu nascer e amar, há de envolvê-laEntre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serão defuntos...E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"