Filosofia Da Tecnologia Andrew Feenberg

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Ricardo T. Neder (org.)

Andrew Feenberg: racionalizao democrtica, poder e tecnologia.

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Ficha catalogrfica Neder, Ricardo T. (org.) Andrew Feenberg: racionalizao democrtica, poder e tecnologia. Braslia: Observatrio do Movimento pela Tecnologia Social na Amrica Latina/Centro de Desenvolvimento Sustentvel - CDS. Ciclo de Conferncias Andrew Feenberg. srie Cadernos PRIMEIRA VERSO: CCTS - Construo Crtica da Tecnologia & Sustentabilidade. Vol. 1. Nmero 3. 2010. ISSN 2175.2478.

Este projeto contou com o apoio da - ESCOLA DE ALTOS ESTUDOS da CAPES (auxlio 11/2009) e - FUNDAO BANCO DO BRASIL Projeto PREMIO TECNOLOGIA SOCIAL

UNIVERSIDADE DE BRASLIA UnB CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL CDS OBSERVATORIO DO MOVIMENTO PELA TECNOLOGIA SOCIAL NA AMERICA LATINA

site: http://professores.cds.unb.br/omts

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL CDS FUP - Gesto Agrria, Ambiental, Cincias Naturais e Educao.do campo Universidade de Braslia - UnB Campus Universitrio Darcy Ribeiro Gleba A, Bloco C - Av. L3 Norte, Asa Norte - Braslia-DF, CEP: 70.904-970 Telefones: (61) 3107-5965, 3107-6000, 3107-6001 Fax: 3368-5146 E-mail: [email protected] | Site: www.unbcds.pro.br

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O OBSERVATORIO DO MOVIMENTO PELA TECNOLOGIA SOCIAL um projeto de pesquisa, docncia e extenso (PEAC) sobre construo crtica da tecnologia & sustentabilidade do CDS - Centro de Desenvolvimento Sustentvel da Universidade de Braslia - UnB e do Campus Planaltina da Universidade de Braslia - FUP. Site: http://professores.cds.unb.br/omts.

Trabalhos do artista plstico Miguel Simo da Costa ([email protected]). Foto que precede o captulo 1 Andr Santangelo Foto que precede o captulo 4 Andr Santangelo Foto que precede o captulo 9 Alexandre Brando Outras fotos Miguel Simo da Costa Arte Grfica Tiago Pimentel e Cristina Brites Reviso Ana Cristina S. Moreira

1SUMRIO APRESENTAO (Ricardo T. Neder)......................................................................... PREFCIO (Renato Dagnino)...................................................................................

PARTE 1 1. O que a filosofia da tecnologia?............................................................................. 2. Racionalizao subversiva: tecnologia, poder e democracia.................................... 3. Teoria Crtica da Tecnologia: um panorama........................................................... 4. Da informao comunicao: a experincia francesa com o videotexto............. 5. A fbrica ou a cidade: qual modelo de educao a distncia via web?.................. 6. Questionando o Questionamento da Tecnologia de Feenberg (Tyler Veak) e Ns precisamos de uma Teoria Crtica da Tecnologia (resposta a Tyler Veak)?..........

PARTE 2 7. Do essencialismo ao construtivismo a filosofia da tecnologia em uma encruzilhada................................................................................................................ 8. Marcuse ou Habermas: duas crticas da tecnologia................................................ 9. A tecnologia pode incorporar valores? A resposta de Marcuse para a questo da poca...........................................................................................................................

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APRESENTAO O QUE (NOS) QUER DIZER A TEORIA CRTICA DA TECNOLOGIA?

Ricardo Toledo Neder 1

Uma teoria crtica da tecnologia para as condies contemporneas , hoje, preocupao de uma parte da filosofia e da sociologia das cincias e da tecnologia. Tal preocupao tributria das correntes dos Estudos Sociais de Cincia e Tecnologia que proliferaram a partir dos anos 1980. Tambm chamadas de construtivistas ou socioconstrutivistas suas pesquisas lanam o olhar para captar onde e como esto fincadas as razes sociais do conhecimento e da tecnologia como racionalidade instrumental em seu trnsito no mundo do poder, do mercado e da democracia. Para introduzir a obra do filsofo contemporneo Andrew Feenberg, representada por nove artigos neste volume-coletnea, observo as perspectivas de valores envolvidos e situo vertentes distintas: a instrumentalista, a determinista, a substantivista da tecnologia e a teoria crtica da tecnologia. Destas vertentes, farei uma descrio mais concentrada da quarta e ltima viso, a da teoria crtica da tecnologia, na qual se situa a obra de Feenberg. Ele dialoga e polemiza com as demais perspectivas e assim renova a matriz crtica sobre racionalidade instrumental e tecnologia na tradio da Escola de Frankfurt. O senso comum percebe um sistema tcnico como um suporte instrumental para realizar valores e desejos, e, como tal, parte do poder. Mas os meios tecnolgicos, em si, seriam neutros, pois so vistos como instrumentos deste poder. Este que varia. Os meios tcnicos apesar de todos os desastres, continuam supostamente seguros. Esta vertente foi elaborada

NOTAS DA APRESENTAO Professor doutor adjunto da Universidade de Braslia (UnB) onde atua na ps-graduao do Centro de Desenvolvimento Sustentvel CDS e na graduao do campus da UnB em Planaltina (Agrria, Ambiental, Cincias Naturais/Educao Ambiental e do Campo). Coordena o Observatrio do Movimento pela Tecnologia Social na Amrica Latina. Foi organizador e co-autor de Automao e movimento sindical e operrio no Brasil (NEDER, 1989); Crise socioambiental, estado e sociedade civil no Brasil (NEDER, 2002) e Rede sociotcnica e inovao social para a sustentabilidade das guas urbanas (NEDER, 2008) Emeio: [email protected]

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3pela reflexo filosfica sob a perspectiva do instrumentalismo como relao marcante com o fenmeno tcnico (vamos cham-la de PER1).

Eixo da tecnologia como encadeada (lock-in) 2 Supostamente orientada para a neutralidade e filosoficamente determinada pelo monismo tecnolgico: autnoma, progressiva e dotada de cdigos tcnicos fechados das patentes e direitos de propriedade intelectual associada industrial PER1- INSTRUMENTALISMO PER2- DETERMINISMO Viso moderna otimista da tecnologia baseada no padro da f liberal: trajetria nica de progresso e de conhecimento ascendente; monismo ou unitarismo tecnolgico. A tecnologia ferramenta para realizar necessidades. Modernizao: conhecimento do mundo natural que serve ao homem para adaptar a natureza. Guiado pelo otimismo marxista diante da tecnologia como fora motriz da histria.

A tecnologia-cadeado supostamente orientada para a neutralidade e filosoficamente determinada pelo monismo tecnolgico autnoma, progressiva e dotada de cdigos tcnicos fechados. O eixo tecnologia-cadeado de PER1 e PER2 uma simplificao. Na teoria econmica da inovao chamam a isto de fazer da tecnologia um processo lock-in. Para cada encadeamento no mercado por onde circula a tecnologia, uma parte trancada por direitos de propriedade intelectual (patentes). Um circuito, uma combinatria, um desenho tornam-se (en)cadeados no mercado. Para que esta tecnologia-cadeado seja social e economicamente ratificada necessrio outro componente para o qual sero chamadas as cincias sociais e humanas. preciso construir a convico de que a melhor tecnologia vai ser adotada. Mas qual o modelo do melhor estado da arte? Isto nunca tem sido pacfico. As disputas entre as partes pela inovao sob o capitalismo envolvem algo mais. preciso o instrumentalismo de PER1, mas sem a2 Mais detalhes, ver Critical theory of technology (FEENBERG, 1991)e Neutralidade da cincia e determinismo tecnolgico. (DAGNINO, 2008)

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4convico, f e ideologia determinista (PER2) as coisas no andam. necessrio difundir que a modernizao tecnolgica da sociedade o objetivo central do progresso e vice-versa. A necessidade social de dispormos da melhor tecnologia para construir pontes, ser guiada pelo melhor estado da arte para construir pontes. Uma tecnologia assim deve ser eficaz em qualquer lugar do planeta. Logo, no se coloca para PER1 se h ou no outros valores que no a eficcia. Coloca-se a questo: qual o melhor estado da tcnica de construir pontes? Desta escolha decorre o resto. A razo instrumental subjacente a PER1 adota, portanto, como irrelevante a questo do determinismo tecnolgico. Determinismo (PER2) o modelo de fazer cincia e tecnologia orientadas por valores do mercado. Quem compra uma lmpada, uma telha no quer saber se existem valores de um sistema tcnico por detrs de tais objetos. A maioria apenas exige garantia de que o objeto adquirido v funcionar e no quer ser enrolada ou que lhe advenham prejuzos, se houver problema. Esta breve reflexo acerca da importncia dos cdigos sociotcnicos ocultos na racionalidade funcional um ponto de partida filosfico e sociolgico simples. Mostra como difcil e complicada a ao coletiva das massas diante da tecnologia. As crticas projetivas demonstram isto. So propostas recontextualizantes para unir elos perdidos ou aspectos e dimenses valorativas internalizadas no cdigo diante de valores depreciados atualmente (por exemplo, produtos cujas embalagens sejam totalmente biodegradveis e no apresente ameaa ao ambiente natural). A crtica lana projetivamente aspectos fundamentais que podem alterar dispositivos internos do sistema tcnico. Estes dispositivos cdigos resultam de acordos tcitos entre gestores, trabalhadores e tcnicos, testados ex situ e in situ. Participaram deste processo professores, alunos e pesquisadores, empresrios e o Estado. Ao longo deste trajeto na sociedade a tecnologia vai assimilando (e ocultando) dispositivos no e do cdigo tcnico. Torna-se uma caixa-preta3 e, como tal, ela desconhecida pelo senso comum das pessoas. Elas no tomam como real4 a relatividade do desenho e do3

Esta concepo encontra-se em correntes da sociologia da tecnologia e da cincia ps-1990. Dentre os Cincia em ao.Como seguir cientistas e

autores com trabalhos mais representativos desta corrente, ver

engenheiros sociedade afora (LATOUR, 2000); A esperana de Pandora (LATOUR, 2001:), Amrica by design. Science, technology and the rise of corporate capitalism (NOBLE, 1977) e Ciencia tecnica y capital (CORIAT, 1976).

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5projeto da caixa preta. Esta ocultao passou a ser ativa e est presente hoje tanto em PER1, quanto em PER2, mediante um conjunto de percepes e opinies, valores e posicionamentos. Tem sido chamado de o melhor estado da arte pelos especialistas (state of the art) da tecnologia. A convico e a f na tecnologia industrial do automvel, por exemplo, nunca estiveram dissociadas da poltica e da esfera pblica. Na modernidade dos anos 1950, a empreitada de mudana da capital poltica do Brasil com a construo de Braslia prova isto. O traado urbano, a circulao e acessibilidade, as linhas de fuga da cidade foram projetadas a partir de uma deciso poltica. A mudana e a construo seguiram cdigos concretizados pelos sistemas tcnicos da indstria automobilstica. Esta dimenso pragmtica e ao mesmo tempo simblica pode ser tomada como um princpio geral do determinismo tecnolgico. O determinismo esteve subjacente viso marxista e socialista clssica, diante do fenmeno tcnico e do progresso capitalista. Sendo uma fora motriz da histria, o conhecimento do mundo natural serve ao homem para adaptar a prpria natureza. Desde os anos 1930 do sculo passado que PER1 e PER2 concretizam socialmente uma teia complexa de internalizao da cincia e tecnologia na sociedade mediada ou regulada por quatro regimes:

O regime cognitivo das trocas entre Cincia, Tecnologia e Sociedade (CTS) opera com a regra de excluso de conhecimentos e saberes que no se conformam metafsica matemtica e racionalismo-empirismo. Outros conhecimentos e saberes so reticulados ou4

O psicanalista e ensasta francs Jacques Lacan diz que o real o que no pode ser imaginado. Mais ou

menos o que a palavra real aqui tem como significado...aquilo que o senso comum no pode imaginar, por exemplo o ciberespao (a propsito, ver ZIZEK, 2008).

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6absorvidos seletivamente, o que vale dizer, hierarquizados com essa linha de corte. PER1 e PER2 foram internalizadas no mago das cincias humanas e sociais. O regime de regulao mercatrio ou utilitrio adota a forma histrica do mercado capitalista dominante e assim exclui as demais de base societria ou comunitria. Opera como arena de disputa da melhor tecnologia e elimina todas as tecnologias (sociais) nocapitalistas geradas pelos demais sujeitos de saberes e conhecimento. J no regime das normas tcnicas o aparelho estatal que sanciona a melhor tecnologia ao regulamentar as normas e padres de uso da sociedade. Ao proceder assim, o Estado tal como fazia no passado, ao utilizar a metafsica da Religio, - sanciona o imprimatur nos medicamentos, alimentos, matrias-primas, mquinas e tcnicas.

Mas conhecimentos e saberes no andam sozinhos pela sociedade. Esto encarnados nos pesquisadores. Os sujeitos sociais populares de senso comum sua maneira geram conhecimento interativo e aplicado. Ambos interagem por meio do meu/nosso trnsito na sociedade. Quando atuo em diferentes instituies, movimentos, demandas e exigncias, dialogo com o conhecimento e saberes de senso comum. Este trnsito tem um regime regulamentado cuja linha de corte o cdigo profissional5 que impede a livre troca entre saber popular e conhecimento sancionado pelo imprimatur. Assim, diante de uma tecnologia que passa a ter influncia crescente na dinmica real e contraditria da sociedade, outras duas perspectivas levantam seu olhar. So PER3 e PER4, a seguir detalhadas. A tecnologia como portadora de valores Eixo da tecnologia como substncia e poiesis (Controlada pelo homem, condicionada por valores e geradora de pluralismo tecnolgico)

PER3 SUBSTANTIVISMO Meios e fins so determinados pelo sistema. Predomina o pessimismo da primeira gerao da Escola de Frankfurt.A

PER4 - TEORIA CRTICA Opo que oscila entre o engajamento, ambivalncia e resignao. Reconhece o substantivismo e realiza sua crtica sob o construtivismo sociolgico. Tem uma filosofia

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Abordei as dinmicas destes quatro regimes em Tecnologia social como pluralismo tecnolgico (NEDER, 2008).

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7tecnologia no instrumental. Incorpora valor substantivo. No pode ser usada para propsitos diferentes, sejam individuais, sejam sociais. da tecnologia crtica; otimista quanto ao desenvolvimento das formas de controle. V graus de liberdade. O desafio criar meios nas instituies para o controle. O foco a escolha dos valores que regem os sistemas meios-fins alternativos.

A perspectiva PER3 adota o ponto de vista de que a tecnologia uma negao da essncia humana de cada um e da sociedade. A manipulao de outros sujeitos pela tecnologia aniquila o nosso potencial de criar e elaborar livremente. Este impedimento do sujeito social decorre de a tecnologia estar sempre impregnada de valores. A caracterstica, entretanto, dessa impregnao reside numa qualidade surpreendente da tecnologia moderna: a iluso de neutralidade criada pelos instrumentos e artefatos! Quanto mais complexa a tecnologia maior a iluso de neutralidade. A Jacques Ellul (19121994) Martin Heidegger (1889-1976) filosofia tem substantivista entre6

da mais

tecnologia

seus

destacados precursores no sculo XX Martin Heidegger e Jacques Ellul7.

Heidegger afirma Feenberg nos mostra um jarro grego, 'reunindo' os contextos nos quais foi criado e suas funes (comparando-o com uma moderna hidreltrica, RTN). No h nenhuma razo por que a tecnologia moderna tambm no possa reunir-se com seus mltiplos contextos, embora com um pathos menos romntico8. Ao adotar um valor utilitarista no uso do automvel, por exemplo, tenho que sacrificar outros valores? Isto verdade. Adoto os do automvel e no uso os do nibus ou trem.

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Ver The question concerning technology (HEIDEGGER, 1977). Ver ELLUL (1964). Ver FEENBERG (1991)

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8Cada tipo de tecnologia carrega uma cesta de valores. O problema foi elaborado pela primeira gerao desta abordagem: por que o senso comum toma a tecnologia com a iluso de neutralidade? Esta questo o substrato das correntes da filosofia e sociologia da tecnologia que se seguiram ao longo dos ltimos 30 anos, herdeiras de PER3. Na realidade, todo o eixo essencialista (PER3 x PER4) parte desta pergunta: h uma essncia na tecnologia? Mas PER3 ao tomar a tecnologia como dotada de substncia ou valores, nega que esta seja criao ou poiesis9. Essa diferena bsica entre PER3 e PER4 foi destacada por Feenberg. Se toda tecnologia dotada daquela cesta de valores, ento, ela pode ser enriquecida por outros valores antes reprimidos, tidos como bobagens ou simplesmente esquecidos durante a concepo do cdigo tcnico. Somos todos herdeiros, queiramos ou no, das crticas da tica PER3. A reelaborao de PER3 em PER4 como Teoria Crtica da Tecnologia, contudo, nascer do entrechoque das concepes de Adorno e Horkheimer, alm das de J. Habermas sobre racionalidade instrumental. Mas receber especial impulso com Marcuse sobre o papel da tecnologia no capitalismo do ps-II Guerra.

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Poiesis a qualidade que nos habilita a sermos capazes de criar e fabricar, segundo um modelo ou desenho.

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9Weber ir tomar esta concepo PER2 de Marx e elaborar a teoria das esferas autnomas de racionalizao10. Essas heranas entrelaadas das quatro geraes sero, por sua vez, recriadas na segunda metade do sc. XX, pela teoria dos meios de J. Habermas.

Os fundadores da Escola de Frankfurt viram no fenmeno tcnico tal como Heidegger um destino inexorvel da sociedade contempornea. As contribuies de Adorno e Horkheimer filosofia da tecnologia os situam na corrente PER3. H um pessimismo fundamental na sua Dialtica do Iluminismo, para alm do qual s h respostas na esferaTheodor Adorno (1903-1969) (na frente, direita) e Max Horkheimer (1895-1973) ( esquerda). Jrgen Habermas (1929-) (no fundo, direita). Heidelberg, Alemanha, 1965. Fonte://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Horkheimer

das artes, da msica e da literatura. A vertente PER4 tributria dos formuladores da Escola de Frankfurt, que se basearam nas concepes capitalismo. de Marx sobre o papel fundamental e progressivo da cincia para o

Para Feenberg, com a crtica ambientalista e ecolgica tecnologia, a partir dos anos 1980, associada s contribuies de Herbert Marcuse e M. Foucault (1924-1984), foi possvel abrir caminho para superar a teoria essencialista da tecnologia de Heidegger. Feenberg far tambm a reelaborao da teoria crtica da tecnologia da Escola de Frankfurt buscando superar a concepo crtica de racionalidade de Habermas, autor da teoria dos meios em esferas onde predominam a razo instrumental.

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A concepo weberiana de racionalizao das diferentes esferas da vida social foi matriz justificadora das

teorias adotadas pela maioria das escolas de administrao do trabalho nas empresas modernas. Ela uma verso PER3 essencialista que adotou, porm, um vis realista: diante da tecnologia e da racionalizao s nos resta controlar seus efeitos negativos pela administrao dos positivos.

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10Habermas concebe a razo comunicativa e a ao comunicativa enquanto comunicao livre, racional e crtica nas esferas alternativas fora da teoria dos meios. A ao tcnica tem caractersticas apropriadas a algumas esferas da vida e inadequadas a outras. Feenberg aponta uma ausncia notvel de elaborao das dimenses societrias e polticas da tecnologia na teoria dos meios de Habermas. Coloca em evidncia o fato de que, em sua prpria esfera [para Habermas], a tecnologia neutra. Mas fora desta esfera causa as vrias patologias sociais que so os problemas principais das sociedades modernas. Com isto Habermas oferece uma verso modesta e desmistificada da crtica da tecnologia11. Feenberg, diante disto, desloca conceitualmente o locus da tecnologia para ocupar uma terceira categoria prpria na teoria dos meios universais, com valores do mesmo tipo que atribumos ao dinheiro e ao poder. No se trata mais de uma mera base tcnica orientada para adequar a racionalidade que poderia ser, alm de capitalista, socialista ou comunista. Com isto Feenberg far a crtica apologia da tecnologia sob o socialismo real. Os marxistas estavam imbudos de uma crtica s relaes de poder, destacando mais um ambiente de racionalidade instrumental em geral. Para elaborar perspectiva (PER4), Feenberg postula em sua filosofia que necessrio revelar como esta racionalidade instrumental se faz diariamente presente nos sistemas tcnicos. A obra de Herbert Marcuse ser fundamental para Feenberg tom-lo como precursor das tentativas de construir uma teoria crtica da tecnologia. Marcuse elaborou aspectos da crtica substantivista de Heidegger (seu antigo professor) e de Adorno e Horkheimer. Rejeitou o pessimismo destas duas vertentes de PER3. Buscou a compreenso do problema da iluso gerada pela tecnologia, embora no tenha chegado a elaborar precisamente como isto se d. A resposta coube a Feenberg, que foi aluno de H. Marcuse, na Universidade de Berkeley, na poca das revoltas estudantis contra a Guerra do Vietnam, anos 1960. A obra pstuma de Marcuse - Tecnologia, guerra e fascismo (MARCUSE,1999) - cuja capa da verso brasileira

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Segundo A. Feenberg, a idia de que a tecnologia neutra, mesmo com as limitaes que Habermas

levanta, lembrana do instrumentalismo ingnuo, porque analisa a tecnologia no plano das causas e perde a ao diante das conseqncias. A questo podemos aprender com estes dois pensadores (Heidegger e Habermas), sob o pressuposto de que no somos nem metafsicos nem instrumentalistas, e que rejeitamos tanto uma crtica romntica da cincia quanto a neutralidade da tecnologia?, conforme indaga Feenberg em sua obra Questioning technology (op.cit).

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11 exibida a seguir, foi concebida para reunir, nos Estados Unidos da Amrica, artigos inditos do autor e , entre eles, as cartas que trocou com M. Horkheimer e M. Heidegger. Todos versam direta ou indiretamente sobre as implicaes sociais da tecnologia moderna.

Sua questo central foi interpretar filosoficamente a tecnologia - mais do que como um problema tico ou de validade ou verdade (epistemolgica) cientfica e sim, como encarnao de diferentes formas da vida social (culturas, subjetividades, opes econmicas). Marcuse expe a tese de que, por incorporarmos a tecnologia como parte da nossa realidade cotidiana, tambm poderemos viabilizar modos de liberar a razo instrumental para outros fins que alterem a represso da sociedade de classes, baseada na indstria do consumo de massa.

Tais fins atenderiam s aspiraes e aos interesses construdos em torno de novos modelos sociais e existenciais, de valores estticos, assim como de valores de autonomia e organizao social da educao e da economia tambm renovados. Diante desta herana marcuseana, a obra de Feenberg significativa por duas razes centrais. Com base nos estudos construtivistas contemporneos12

elaborou uma filosofia que tem implicaes com

a ao social e poltica, cultural e poltico-cognitiva numa sociedade dita do conhecimento. Esta filosofia nos convida a sermos capazes de reintegrar valores esquecidos ou desprezados cesta de valores da tecnologia convencional dentre a maioria dos artefatos e sistemas com os quais convivemos ou dependemos. Caso por exemplo, da incorporao da agricultura orgnica e agroecolgica produo de alimentos frescos, capazes de reduzir ou eliminar os agrotxicos e venenos de origem petroqumica que infestam o cardpio da maioria das mesas de consumidores urbanos.12

Estas correntes so pluridisciplinares; elas se constituem de abordagens econmicas, sociolgicas, polticas e

de polticas de gesto sobre os processos envolvidos no trnsito da cincia e tecnologia na sociedade. Esto envolvidas, em sua maioria, com os quatro regimes descritos na seo primeira deste artigo.

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12Para isso, a teoria crtica de Feenberg refora a proposta de que seja aberta a caixa-preta dos cdigos tcnicos. O que equivale a colocar em prtica perguntas como: por que usar agrotxico, se h outra tecnologia melhor?. Se a resposta o preo mais baixo ou a rentabilidade assegurada pelo modelo econmico, ento certamente h bloqueios notecnolgicos mudana do agrotxico para a adubao verde sem qumica, de base agroecolgica. Em outras palavras, trata-se de estabelecer regimes sociais de regulao para democratizar os circuitos complexos entre conhecer os detalhes dos modos operatrios e atuar democraticamente para retificar, superar ou proibir, transformar e revolucionar tecnologias nocivas embora lucrativas. Para tornar esta tarefa mais acessvel ou prtica necessitamos de uma filosofia das formas de subjetivao dos sujeitos. Diante da minha existncia como sujeito sou mediado pela tecnologia no contato com a natureza ou meio ambiente. Esta subjetivao se d hoje por meio das nossas relaes com os objetos e sistemas tcnicos. Essa operao foi chamada de concretizao13 e revela que h elementos deterministas na forma como concebemos as tecnologias ao atribuir-lhes uma mudana tcnica com uma mesma essncia fixa (por exemplo, tomando apenas seus atributos positivos, gerao de lucros ou umtipo fixo de satisfao) ou supostamente funcionais para o dia-a-dia individual, sem considerar efeitos negativos na escala coletiva de uso da tecnologia, seja no caso do automvel, sejo no dos produtos alimentares de consumo massivo produzidos com venenos ou agrotxicos).

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A noo de concretizao provm da obra de outro precursor da filosofia da tecnologia, no sc. XX,

Gilbert Simondon (1924-1989). PER4 deve a Simondon as bases de uma teoria da existncia do objeto tcnico no mundo social, sem a qual no possvel superar a iluso naturalista do objeto tcnico como comparvel a qualquer objeto natural (primeira natureza). (Ver SIMONDON, 2009, e 2007).

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13No interior da crescente e influente

perspectiva PER4 que envolve tambm correntes construtivistas da cincia e da tecnologia, destaca-se a Teoria Crtica da Tecnologia, de Feenberg. Sua caracterstica elaborar as condies cognitivas para uma reforma tecnolgica. Ela vai certamente depender de outras instncias ticas e jurdicas;Andrew Feenberg atualmente professor de Filosofia da Tecnologia na Universidade Simon Fraser, de Vancouver, Canad.

de

novas

sociabilidades

dos

sujeitos na esfera pblica. Mas parece fora de dvidas que ela ocorrer.

A anlise crtica da obra de Feenberg foi realizada em meados da dcada de 2000 por colegas filsofos e pesquisadores nos Estados Unidos, e o resultado encontra-se publicado numa coletnea 14. Feenberg reabre, aps Marcuse, a crtica aos sistemas tcnicos. Concorda que dramtico e irremedivel o sentido da perda (humana e afetiva) inerente racionalizao tcnica. Feenberg tambm ir, noutra vertente, reabrir a crtica aos modos operatrios de concretizao dos sistemas tcnicos. Distingue formas de instrumentalizao primria e secundria, mescladas no mesmo objeto e respectivo sistema tcnico. A primria reducionista e hierrquica: exclui todas as qualidades externas e valores inteis relao meio-fim do objeto, e prioriza apenas as que podem ser reproduzidas materialmente15 . A relao assimtrica entre ator e objeto

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Ver Democratizing technology: Andrew Feenbergs Critical Theory of Technology (VEAK, 2006) As principais obras de Feenberg no foram traduzidas para o portugus (do Brasil ou de Portugal), dentre

elas se destacam cinco: Critical theory of technology. (FEENBERG, 1991), Alternative modernity (FEENBERG,1995; Questioning technology. (FEENBERG,1999): a segunda edio deste ltimo livro apareceu em 2002, sob o ttulo Transforming technology (FEENBERG,2002). Em 2004 lanou Heidegger, Marcuse and technology: the catastrophe and redemption of enlightment. (FEENBERG,2004)

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14Raquel Moraes 16 Ao alertar sobre a natureza essencialmente hierrquica da tecnologia, Feenberg demonstra "a relao assimtrica entre ator e objeto que, quando alcanam grandes espaos das relaes humanas, tendem a criar um sistema distpico17. Diante disso, prope, em contrapartida, seu uso subversivo e democrtico, o que caracteriza sua perspectiva inovadora no campo da cincia, tecnologia e inovao (CT&I) e como relata Harasin (2005), seu pioneirismo no uso educacional da telemtica, pois desde a dcada de 1980 sua proposta utilizar as redes para compartilhar e construir conhecimentos.

Um automvel fruto de uma instrumentalizao primria. Data dos primeiros anos do sculo XX, mas ao longo desta histria o objeto foi sofrendo desvios de implementao. Como se fosse regido por uma tcnica pura aplicada sem outros valores que os do mercado consumidor. Feenberg prope a noo de instrumentalizao secundria (ou societria) para recuperar no somente desvios negativos (poluio, destruio do tecido urbano, imposio de modos de consumo segregadores, entre ricos e pobres), mas tambm dimenses externas positivas esquecidas dos sistemas tcnicos conexos ao objeto. Tambm podemos cham-las de cesta de valores submetidos s dimenses societrias especficas. Essa cesta de valores no comparece no desenho e projeto original do objeto. Contudo, durante a instrumentalizao societria h valores que sero ou incorporados ao objeto, ou destorcidos ou rechaados. A instrumentalizao societria do automvel, por exemplo, ocorreu com base neste processo de sobredeterminao. Ele afeta outros objetos e sistemas tcnicos complexos, originalmente nada vinculados instrumentalizao primria do objeto automvel. Os valores que orientam estes outros sistemas foram esquecidos. Comprova isto o abandono de toda sofisticao para dotar os sistemas coletivos de transporte de massa nos ltimos 50 anos de valores atrativos (usabilidade, acessibilidade, conforto, flexibilidade, viabilidade econmica, entre outros) nas cidades.16

Coordenadora associada do projeto Ciclo Feenberg de Conferncias na UnB; professora doutora adjunta

da Universidade de Braslia, vinculada Faculdade de Educao, onde dirige projetos de pesquisa, ensino e extenso relacionados com as mltiplas relaes entre os sujeitos sociais mediados pelas tecnologias no campo educacional.17

Ver FEENBERG, 2004.

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15O dilogo filosfico de Andrew Feenberg orientado para os sujeitos sociais, autores de crticas projetivas, ou seja, as que buscam respostas s distopias do homem no caos do capitalismo moderno. A teoria crtica de Feenberg no se prope projetiva, mas auxilia os crticos projetivos. Para isto deve ser questionada diante das exigncias da realidade. Contribuiria ela para uma compreenso alargada das dificuldades da ao social e poltica de democratizao dos sistemas tcnicos? Como se situaria diante de valores da reforma urbana e rural, socioambientalista, ecolgica, feminista e de gneros, do trabalho e da produo, das identidades tnicas e da biopoltica do consumo e do corpo? As crticas projetivas buscam preencher esta lacuna dos valores rechaados pelos sistemas tcnicos. Cidades livres de carros ou uma teoria crtica da tecnologia (do transporte)? Uma viagem para o trabalho exigiria acesso ao servio de transporte pblico barato, rpido, seguro e confortvel, com durao de no mximo 25 minutos. o que prope um tanto ingenuamente, o socilogo e urbanista holands J. H. Crawford, em seu site Carfree cities (Cidades livres de carros). A proposta simples e nada tem de ousada: banir o uso de automveis em reas urbanas. Mas este banimento exige (re)construir as cidades e os ambientes construdos tm uma histria de muitas vidas entrelaadas, ao contrrio das propostas colocadas no papel ou na internet. "As naes industrializadas cometeram um terrvel erro ao adotar o carro como principal meio de locomoo nos meios urbanos", diz no portal. (CROWFORD, 2008). Para confirmar esta viso, avalia que "o automvel trouxe para as cidades srios problemas ambientais, sociais e estticos." Da para a prancheta foi um gesto direto e simples: projetou uma cidade modelo sem carros, constitudo por 100 bairros circulares, com ruas estreitas que se dirigem para a via central de transporte, divulgou na internet e, com isto, aumentou o caudal de crticas ao automvel. (LUDD, 2005). A teoria crtica da tecnologia indagaria: quem sero os sujeitos desse desenho tecnolgico? Parece ingnuo, mas significativo o Carfree cities. Trata-se de uma crtica projetiva para uma tecnologia-social-sem-sujeito. As alteraes sobredeterminadas pela cultura do automvel tambm ocorrem no desenho e projeto da maioria das infraestruturas urbanas. Porm, os desvios negativos de criao do objeto no se explicitam no senso comum de milhes de motoristas ao volante18.

Andr Gorz denuncia um paradoxo ligado cultura do automvel: "Ele imprescindvel para escapar do inferno urbano dos carros. A indstria capitalista ganhou assim o jogo: o suprfluo tornou-se necessrio". Outra reflexo levantada por Gorz e pelos textos seguintes, dos grupos Aufheben (alemo) e Mr. Social Control18

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16Para Feenberg a tecnologia um meio pelo qual a coordenao-ao instrumental substitui a compreenso comunicativa mediante objetivos marcados pelo interesse em qualquer esfera social19. Esta coordenao sufoca as possibilidades de sistemas regulares de consulta e democracia entre os senhores dos sistemas tcnicos e a populao. A teoria crtica da tecnologia de Feenberg nos convida a conectar tal compreenso aos esforos de resistncia dos movimentos em favor da abertura das especificaes das tecnologias de informao, farmacuticas, mdicas, miditicas, ambientais, alimentcio-nutricionais, saberes populares e tnicos. Hoje, comenta Feenberg, os senhores dos sistemas tcnicos so responsveis pelas decises que obscurecem, distorcem ou filtram, e mesmo regulam diretamente a aplicao das decises tomadas sob o estado de direito da democracia poltica. Eles teriam prevalecido no houvesse resistncia e, sobretudo, crtica projetiva em dois casos histricos. Um a prpria internet como sistema de comunicao universal e de cdigo aberto - luta na qual Feenberg se engajou nos anos 1980 em diante para demonstrar seu papel na educao interativa. O outro caso foi o das resistncias para tornar o tratamento de pacientes HIV aberto como poltica pblica. A obra de Feenberg oferece a reflexo, clara e direta, acerca da importncia da democratizao de processos internos e ocultos que regem os cdigos sociotcnicos. Chama a isso crtica projetiva recontextualizante,capaz de expor publicamente a relatividade das alternativas tcnicas. Essa reflexo est na base da concepo de pluralismo tecnolgico proposta na teoria crtica da tecnologia. A coletnea de artigos em portugus, aqui apresentada pela primeira vez ao publico universitrio, cumpre este papel do movimento

(tcheco) discute a estruturao do espao urbano. "A verdade que ningum tem opo", lamenta Gorz. "No se livre para ter ou no um carro, uma vez que o universo dos subrbios projetado em funo dele." Os grupos europeus tambm destacam a identidade estabelecida pelo carro e a excluso social por ele provocada. Fonte: Apocalipse motorizado: a tirania do automvel em um planeta poludo (LUDD, 2005). Segundo a mesma fonte, em So Paulo, um estudo da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo (Poli/USP) analisou a reao de usurios de automveis s polticas pblicas para reduzir a demanda por transporte individual. Das pessoas consultadas, 58,5% circulam sozinhas em seus carros e no se consideram responsveis pela poluio do ar da cidade. Apenas 29% dos entrevistados assumiram que seu veculo causa problemas ambientais, e 12,5% no se posicionaram. A pesquisa concluiu que os motoristas da capital paulista s deixariam de usar seus carros se sofressem presses econmicas, como pedgio urbano ou multas.19

Ver Marcuse ou Habermas Duas crticas da tecnologia.(FEENBERG, 1996).

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17pela tecnologia social para abertura da caixa-preta da poltica de cincia e tecnologia na incorporao qualificada das demandas populares da pirmide social na Amrica Latina. Braslia, 10 de outubro de 2009.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS DA APRESENTAO CORIAT, Benjamim - Ciencia tecnica y capital. Madri: H. Blume, 1976 CRAWFORD, J.H. Carfree cities (Cidades livres de carros, em portugus). Pgina na internet: http://cienciahoje.uol.com.br/777 (consulta: 12 dezembro 2008) DAGNINO, Renato. Neutralidade da cincia e determinismo tecnolgico. Campinas: Ed. Unicamp, 2008 ELLUL, Jacques. The technological society. Nova York:Vintage, 1964 (Traduo para o ingls de John Wilkinson). FEENBERG, Andrew - Critical Theory of Technology. Nova York: Oxford University Press, 1991 FEENBERG, Andrew - Alternative Modernity: The Technical Turn in Philosophy and Social Theory. Los Angeles: University of California Press, 1995. FEENBERG, Andrew - Questioning technology. Londres/Nova York: Routledge, 1999 FEENBERG, Andrew - Transforming Technology: A Critical Theory Revisited. Nova York: Oxford, 2002 FEENBERG, Andrew - Heidegger, Marcuse and technology: the catastrophe and redemption of enlightment. Londres/Nova York:Routledge, 2004 FEENBERG, Andrew. Marcuse ou Habermas: duas crticas da tecnologia. Inquiry: an interdisciplinary journal of philosophy, v. 39, 1996. Disponvel em: Instrumentalizao primria Descontextualizao Reduo Autonomia Posicionamento Instrumentalizao secundria Sistematizao Mediao Vocao Iniciativa