Filiado à CUT/FENAJUFE Ano XVII - nº 55 Sindicato dos ... · diadora pronta para abrir, como...
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Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciárioe do Ministério Público da União no DF
Filiado à CUT/FENAJUFE
Ano XVII - nº 55Fevereiro de 2009
2 Revista do Sindjus Fev/2009
A emoção de um afrodescendente no poder máximodos EUA é realmente magnífica. Porém, emoção, sen-timento e retórica cívica e messiânica para um “res-gate de valores” fundamentais da dignidade perdidapodem compor a base inicial do caminho, mas nãogarantem o avanço. Obama vai oscilar entre a caris-mática redenção dos pecados aviltantes de uma na-ção e a ameaça de martírio (caso fracasse ou desafiemuito a “velha ordem”) pela tarefa extraordináriaque contrapõe o indivíduo, em pele e consciência,versus a poderosa armadura do Sistema. Mitologiagrega com BlackBerry.
A contradição maior desses primeiros dias de instala-ção do governo navega entre a sacralização da pes-soa (“chegou o Redentor”) e os recados duros aler-tando que a máquina está intacta. Desmonte? Só noque já está podre. Mesmo o poder mais decrépitoexige podas restauradoras. É tirar o melhor proveitoda “mudança” para exorcizar o desastre anterior. Semdeixar que a medula do modelo continue explícita nasoperações da máquina (de guerra, submissão, contro-le e lucro sobre os mais fracos).
Nesse clima de “virada” emotiva, perder só o que nãoé essencial. Ora Obama será um deus da resistênciapelo seu caráter – ele parece mesmo encarnar, since-ramente, os valores plurais da América fraterna e míti-ca da liberdade – e, ora, será o Obama que terá queceder até perder a aura do herói. Miseráveis do mun-do, emergentes da economia, sobreviventes do caos,o colapso global, a degradação do ambiente e omodo de vida predatório do consumismo aguardammuito desse herói ou mártir no comando, formal, deum Sistema abalado. Talvez, a última chance. Ou vira,ou capota. É ruptura ou sutura?
A últimachanceTT CATALÃO
3Revista do Sindjus Fev 2009
O ano de 2008 ficoupara trás, mas as lutas re-manescentes não morre-ram com ele. Ao contrário,ganharam força. Foi exata-mente isso o que aconte-ceu na luta pelo pagamen-to dos passivos. O Sindjuscomeçou 2009 pressionan-do os tribunais para quequitem essa dívida o maisrápido possível. Afinal, es-ses débitos são direitos re-conhecidos pelos tribunais.Nada mais justo que sejam
pagos o quanto antes. E eu posso dizer que mui-ta coisa já avançou nessa negociação intensivaque o Sindicato vem promovendo.
Do início de fevereiro até agora, já me reunicom a administração do TJDFT, do TSE e do STFpara resolver esse impasse. Os presidentes dos tri-bunais se comprometeram a intensificar as nego-
Roberto PolicarpoCoordenador-geraldo Sindjus
O Sindjus come-çou 2009 pressio-nando os tribu-nais para que qui-tem essa dívida omais rápido possí-vel. Afinal, essesdébitos são direi-tos reconhecidospelos tribunais.Muita coisa jáavançou na nego-ciação intensivaque estamos pro-movendo.
ciações com a Secretaria de Orçamento Federal paraque os recursos necessários sejam liberados o quan-to antes. E quando liberados, atendendo reivindi-cação do Sindjus, o desembargador Nívio Gonçal-ves, presidente do TJDFT, comprometeu-se, por es-crito, a cumprir o direito sem distinção entre ma-gistrados e servidores.
Quintos. Estágio Probatório. Devolução do IRcobrado sobre juros de mora dos 11,98%. A lutapelo pagamento dos passivos será uma das princi-pais frentes lideradas pelo Sindjus neste ano. Porisso, além de conversar com as presidências dostribunais, tenho mantido contato freqüente com aSecretaria de Orçamento Federal, reivindicandoagilidade nessa questão. Muito tem se ponderadoa respeito dos efeitos da crise financeira instalada.No entanto, tenho contra-argumentado sobre anecessidade de investir no serviço público para for-talecer a economia e assegurar o desenvolvimentodo Brasil. E é esse discurso que deve ecoar por to-dos os tribunais. Afinal, a realidade afirma que de-fender os servidores públicos é defender o país.
passivosA batalha pelosAO LEITOR
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Passivos: direito jáfoi reconhecidoaté pelo SupremoTribunal Federal
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CARTAS
CruzeiroCaros colegas, quero agradecer a boaidéia de nos premiar com o cruzeiro. Foiexcelente, com muita alegria, atenção econforto. A agência providenciou tudo efomos muito bem atendidos. Queroaproveitar para desejar um 2009 repletode vitórias, realizações e muita saúde,extensivo a seus familiares.
Maria Cristina Cardoso – TJDFT(Sobre o prêmio às melhores participações no planode lutas aprovado pelo Congresso do Sindjus)
PassivosTenho acompanhado o esforço que oSindicato tem feito para garantir opagamento dos passivos. É uma pena queseja preciso fazer um estardalhaço parareceber um direito que já foi reconhecidoinclusive pelo STF.Jair Monteiro – TSE
InjustiçaEsses tribunais não se emendam mesmo.Onde já se viu cobrar Imposto de Rendade juros? Às vezes eu tenho a impressãode que a Justiça é feita só para o públicoexterno. Quem está dentro do Tribunalsofre as mais profundas injustiças.Fábio Soares – TJDFT
ProfessoresAo produzir um VT sobre o absurdo queestá acontecendo com os professores, oSindjus deu um passo importante àconstrução de uma nova sociedade. OSindicato redimensiona sua luta,engrandecendo sua participação narealidade social.Sônia Lins – TST
Eu dôo talentoDe fato, ajudar o próximo é gratificante.A campanha Eu dôo talento é uma belainiciativa. Eu sou apaixonada por cuidarde crianças e me coloco à disposição para contribuir.Elza Munhoz – MPDFT
Sindicato dos Trabalhadores doPoder Judiciário e do MPU no DF
SDS, Ed. Venâncio V, Bl. R, s. 108 a 114CEP 70393-900 - Brasília-DFPABX (61) 3224-9392www.sindjusdf.org.br
Coordenadores-geraisAna Paula Barbosa Cusinato (MPDFT)Roberto Policarpo Fagundes (TRT)Wilson Batista de Araújo (TRE/DF)
Coordenadores deAdministração e FinançasBerilo José Leão Neto (STJ)Cledo de Oliveira Vieira (TRT)Jailton Mangueira de Assis (TJDF)
Coordenadores de AssuntosJurídicos e TrabalhistasEliza de Souza Santos Ávila (STF)José de Oliveira Silva (TJDF)Newton José Cunha Brum (TST)
Coordenação de Formaçãoe Relações SindicaisCarlos Alberto de Araújo Costa (TJDF)Eliane do Socorro Alves da Silva (TRF)Raimundo Nonato da Silva (STM)
Coordenadores de Comunicação,Cultura e LazerOrlando Noleto Costa (TSE)Sheila Tinoco Oliveira Fonseca (TJDF)Valdir Nunes Ferreira (MPF)
EspeculaçãoAndam dizendo que a crise vai inviabilizaro nosso novo Plano de Carreira. Tudoespeculação. Querem que a gente tire otime de campo para que o investimento quedeve ser feito em nossa carreira beneficieoutra categoria. Só que nós não vamosdeixar, não é?Verônica Santos – JF
Plano de CarreiraÉ difícil equacionar o desejo dos servidoresde aprovar o quanto antes um novo Planode Carreira e os trâmites que o projeto temque enfrentar. Eu sei que a ComissãoInterdisciplinar tem a missão de discutir afundo cada detalhe, mas não dava paraandar um pouco mais rápido?Eduardo Mota – TRT
FoliaAdorei a idéia de transformar a luta pelospassivos em marchinha. Quem sabe assim,o pessoal lá de cima, que adora uma folia,não paga o que é nosso por direito.João Alves – TRF
ConvêniosOs convênios do Sindjus melhoraram aminha realidade. Tenho descontos na minhaacademia, na minha pós-graduação, nocolégio da minha filha e em clubes. E acada semana há novas parcerias sendofirmadas. Eu apóio totalmente essa política.Ana Clara – TST
PARTICIPE!Envie seuscomentários ousugestões depauta [email protected]
Coordenação editorialTT Catalão - Reg. Prof. 685-DFEdiçãoUsha VelascoReportagem e redaçãoDaniel CamposEunice PinheiroFabíola GóisThais AssunçãoRevisãoPatcha ComunicaçãoProjeto gráfico e arteUsha VelascoTiragem12.000 exemplares
Sindjus
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OPINIÃO
José Geraldo deSouza JúniorReitor da Universidade deBrasília, professor da Faculdadede Direito e coordenador doprojeto O Direito Achado na Rua
A comunidadereivindicou umadimensão social aolado das escalasarquitetônica,monumental ebucólica de Brasília;assim estabeleceu,para além de suacondição de urbs ede civitas, umaverdadeira polis,construída pelo pro-tagonismo social.
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a escala humana da capitalVila Telebrasília:
O pró-labore de José Geraldopara este artigo é doadomensalmente à campanha devoluntariado Eu Dôo Talento(veja em www.sindjusdf.org.br)
o final de 2008, às vésperas do Natal, o go-vernador do Distrito Federal, em cerimônia
pública na Vila Telebrasília, outorgou os títulos depropriedade definitivos aos ocupantes históricosdo velho acampamento dos tempos da constru-ção de Brasília. Quase cinquenta anos depois demuita luta, o ato representou o momento culmi-nante de uma história de resistência e perseve-rança de uma comunidade mobilizada pela con-quista do direito de morar.
Não é por acaso que à entrada da Vila, loca-lizada ao final da Avenida das Nações, na AsaSul, à beira de Lago Paranoá e defronte ao setorde embaixadas, se mantenha instalado uma pla-ca com a inscrição singular: “Aqui tem história!”
Não conheço um registro igual de uma co-munidade que se reconheça na identidade de seuprotagonismo histórico, mas como professor ori-entador, em projeto de assessoria jurídica uni-versitária desenvolvido pela Faculdade de Direi-to da UnB, com o apoio da Secretaria de DireitosHumanos (então vinculada ao Ministério da Jus-tiça), acompanhei por vários anos o percursodessa luta, em suas diferentes fases, boa partedela documentada em livro de cuja organizaçãoparticipei (Direito à Memória e à Moradia. Reali-zação de Direitos Humanos pelo ProtagonismoSocial da Comunidade do Acampamento da Te-lebrasília, Universidade de Brasília, 1998).
Este livro põe em relevo as circunstânciascomplexas de diferentes momentos da manifes-tação de uma consciência de direitos, afirmadana ação da comunidade, afinal inscrita na for-mação de uma Associação de Moradores, quesoube conduzir a unidade de um movimento so-cial constituído como sujeito coletivo de direitoe em condições de realizá-lo. Nesse passo, e deforma nítida, pôde-se constatar claramente aação da coletividade em sua subjetividade me-diadora pronta para abrir, como lembra Marile-
na Chauí, “o Direito para a História e, nessa ação,para a política transformadora”.
Foi desse modo, e em ações semelhantes nasperiferias dos espaços urbanos desde os anos1970, que movimentos sociais com crescente le-gitimação forjaram a agenda internacional do di-reito de morar, inscrevendo-o nas declarações dedireitos (conforme a Declaração de Istambul, Ha-bitat II, ou Cúpula das Cidades, 1996), para de-pois projetá-lo nas legislações de zoneamentourbano e, no caso brasileiro, na Constituição Fe-deral, após 1988, por impulso dos movimentossociais por moradia (tratei disso num texto de1982, Fundamentação Teórica do Direito de Mo-radia, Revista Direito e Avesso, Boletim da NovaEscola Jurídica Brasileira, nº 1).
A luta da comunidade da Vila ganhou adensa-mento nesse trânsito, primeiro como ação políti-ca de movimento, depois como construção socialde sentido. Destaca-se aí a vitória obtida com apromulgação da lei distrital 161/91, de autoriado deputado Eurípedes Camargo, inicialmentevetada pelo governador e afinal sancionada coma derrubada do veto, aliás o primeiro veto derru-bado na história da Câmara Distrital.
Mas a principal vitória da comunidade deu-se,a meu ver, no campo simbólico. Refiro-me ao en-frentamento da objeção de fixação da Vila, apoia-da no discurso do tombamento do Plano Pilotocomo forma seletiva de apropriação da cidade.
Foi nessa circunstância que a comunidadeda Vila reivindicou uma dimensão social para con-figurar o Plano de Brasília, ao lado das escalasarquitetônica, monumental e bucólica, estabele-cendo, para além de sua condição de urbs e decivitas, bela, moderna e funcional, concebida nagenialidade do projetista, uma verdadeira polis,construída pelo protagonismo social, inscrito naHistória, dando a Brasília a dimensão que lhe fal-tava, a escala humana.
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CIDADANIA
O direito de ter direitosUsha Velasco
s moradores do antigo Acampamentoda Telebrasília, no extremo sul da Ave-
nida das Nações, à beira do lago Paranoá,podem dormir tranqüilos desde janeiro.Mais de cinqüenta anos após se estabele-cer no local, e depois de duas décadas deuma acirrada luta para não ser removida,a comunidade comemora o recebimentodas escrituras e a urbanização definitivada Vila, com asfalto, posto policial e ou-tras benfeitorias.
Não se trata de uma dádiva do governo.Pelo contrário. Essa conquista é resultado deuma mobilização sem precedentes no DF, tan-to pelo grau de envolvimento e de organiza-ção dos moradores quanto pelo tempo em queeles conseguiram resistir às tentativas de re-moção. “A comunidade não aceitou ser colo-cada à margem da história e do espaço urba-no; ela conseguiu estabelecer uma interlocu-ção com a cidade, com a sociedade brasilien-se”, afirma José Geraldo de Souza Júnior, rei-tor da Universidade de Brasília e professor dafaculdade de Direito, que desde 1988 acom-panha o caso (leia na p. 5).
“Foram vinte anos de luta, mas, para otamanho da vitória, até que não foi tanto tem-po. Dificilmente uma batalha desse porte éfinalizada pela mesma geração que começou”,avalia Antônio José Carvalho, vice-presidenteda Associação de Moradores do Acampamen-to da Telebrasília (AMAT). Foi uma batalha deDavi contra Golias: de um lado, o governadordo DF, a Terracap, o Iphan, a especulação imo-biliária, a imprensa. De outro as famílias hu-mildes, em sua maioria parentes dos pionei-ros que vieram construir Brasília.
Não eram os mesmos pioneiros da VilaPlanalto, tombada como patrimônio históri-co em 1988. “Esses eram privilegiados: lámoravam os engenheiros, aqui morava apiãozada”, conta Antônio, que é pedreiro.“Por isso acho que eles não tiveram tantasdificuldades quanto nós. Não chegaram a so-frer ameaças de retirada”, explica.
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A nova carada Vila: otempo dasruas de terrae dos barracosde madeiraficou para trás
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Cinqüenta anosdepois de seestabelecer no local,moradores da VilaTelebrasília recebemas escrituras de suascasas. Esse é oresultado de vinteanos de luta contraa remoção, numamobilizaçãocomunitária semprecedentes no DF
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Na rua de entrada, uma placa avi-sa: “Aqui tem história”. A Vila surgiuquatro anos antes da inauguração deBrasília, em 1956; chamava-se Acam-pamento Camargo Corrêa. O professorJoão Almeida, presidente da Associa-ção de Moradores, conta que o nomeia mudando conforme a empresa em-pregadora: “Já foi Acampamento DTUI(Departamento de Telefones Urbanose Interurbanos) e Acampamento daCotelb (Companhia Telefônica de Bra-sília), antes de virar Acampamento daTelebrasília, na década de 70.”
Porém, o fato de os moradores te-rem testemunhado a construção da ci-dade e de viverem ali há 34 anos nãoimpediu que, em 1990, o governadorJoaquim Roriz decidisse removê-los.“Ele prometeu regularizar a Vila e ga-rantiu que ficaríamos morando aqui,
mas logo que foi eleito fez exatamen-te o contrário”, lembra João.
Mobilizada desde 1988 em tornoda Associação de Moradores, a comu-nidade reagiu e não aceitou ser retira-da. “Ali emergiu uma consciência his-tórica, um protagonismo social, a no-ção do direito de ter direitos”, afirmaJosé Geraldo de Souza. Ele coordenahá vinte anos o Núcleo de Prática Ju-rídica e Escritório de Direitos Huma-nos e Cidadania, formado por alunose professores da UnB, que apoiou aluta dos moradores em parceria comoutras faculdades.
“O Serviço Social trabalhou o pro-tagonismo social e a consciência his-tórica; a Arquitetura contribuiu com ademarcação das áreas e o projeto ur-banístico; o Direito, com a defesa dalei e do direito à moradia”, conta.
Protagonismo social
João Almeida, presidente daAssociação dos Moradores:
mobilização da comunidadepelo direito de morar
AntônioCarvalho
(esq.), comDona Maura e
Seu Antônio,dois dos
moradoresmais antigos
da Vila
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“Tivemos a ajuda de vários anjos”, diz AntônioCarvalho, lembrando o apoio da Universidade de Bra-sília, do PT e da Ordem dos Advogados do Brasil:“Sem isso, não sei se teríamos conseguido vencer. Osadversários eram fortes demais.”
Antônio cita também a iniciativa do então depu-tado distrital Eurípedes Camargo, que em 1991 apre-sentou o projeto de lei 161, determinando “a fixa-ção definitiva do Acampamento da Telebrasília nopróprio local onde está estabelecida”. Aprovado naCâmara, o projeto foi vetado pelo governador. Po-rém, a mobilização dos moradores garantiu votos sufi-cientes para que os deputados derrubassem o veto.
O governador, porém, ignorou a lei e continuoutentando retirar os moradores. “Todas as pessoas quetinham alguma influência na comunidade foram pres-sionadas, até os padres e pastores. O governo derru-bou nossas três igrejas”, conta Antônio.
“Cada vez que criava uma nova cidade, Roriz ten-tava convencer nossas famílias a se mudar”, lembraele. Algumas aceitavam. Levavam os móveis e mate-riais aproveitáveis; depois, os tratores do governo der-rubavam a casa. “Eles reviravam o terreno e aprovei-tavam para jogar o entulho nas ruas, para atrapalharao máximo a nossa vida”, diz Antônio.
Por ser um líder comunitário, nessa época ele foiespecialmente visado: “Quando meu vizinho se mu-dou, os tratores derrubaram a casa, quebraram a fossae jogaram toda a porcaria na frente da minha casa,bem na porta”, conta. “Você não imagina o cheiro.Tive que abrir uma passagem pelos fundos do lotepara poder sair de casa.”
Segundo José Geraldo de Souza, essas ações fa-ziam parte de uma “estratégia terrorista”: “O go-verno tentou convencer os moradores de que eleseram invasores e, portanto, tinham que se mudar.Tentou descaracterizar a legalidade do acampamen-to, inclusive com derrubada de barracos e ações po-liciais muito agressivas. Por fim, já no último man-dato, entrou com uma ação civil pública para des-qualificar a lei, mas não conseguiu.”
Para ele, a vitória da comunidade foi uma vitó-ria da cidadania: “Eles conquistaram o direito de
permanecer no local emque construíram sua histó-ria e sua identidade; per-maneceram ali como comu-nidade candanga, constru-tora da cidade.”
Vitória candanga
Campo gramado, postopolicial em construção,serviço de limpeza urbanae ruas asfaltadas: conquis-tas recentes, após vinteanos de muita luta
FOTOS: ARTHUR MONTEIRO
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Maria Rosineide Peixoto de Sousaé uma mulher batalhadora. Foi lava-deira, sacoleira e dona de bar; hádez anos montou o Mercado Família,que emprega seis funcionários.Nesse meio tempo, criou três filhose tornou-se líder comunitária. Hádezoito anos integra a Associaçãode Moradores do Acampamentoda Telebrasília (AMAT). Nestedepoimento, dona Neide, como éconhecida, conta como foi a luta dacomunidade pela direito de morar.
“Eu cheguei do Maranhão há 25anos, com meu marido e três filhos pe-quenos. Vim para o Acampamento, comochamávamos na época, por causa de umtio que morava aqui. Ele foi pioneiro naconstrução de Brasília.
Naquela época, nossa preocupaçãoeram as condições precárias desse lu-gar: de dia faltava água, de noite falta-va luz... As ruas todas eram de terra, nãotínhamos esgoto, os barracos eram to-dos de madeira. Ao mesmo tempo, eratambém um lugar muito tranqüilo. Po-díamos dormir com a porta aberta, por-que todo mundo se conhecia. Era comoviver no coração de Brasília e ao mesmotempo morar na roça.
Ainda não tínhamos medo de ser ex-pulsos; isso só aconteceu depois que Ro-riz chegou. Na época da sua primeiracampanha ele veio aqui fazer comício,reconheceu nossa história, o valor dospioneiros, prometeu urbanizar o Acam-pamento. Lembro que ele falou: “Quemtirar vocês daqui não ama Brasília!”
Três ou quatro meses depois de to-mar posse, ele veio aqui de novo. Dessavez, negou tudo o que tinha falado an-tes. Disse que não podíamos mais ficar,que todos iam ter que sair.
Nós criamos a Associação de Mora-dores mais ou menos na época da cam-
panha eleitoral. Tínhamos diálogo como governador, votamos nele, acreditamosnas suas promessas. Mas ele passou anão nos receber mais; de repente, todasas portas se fecharam.
Nessa época ficou tudo muito sofri-do para nós. Os barracos estavam cain-do, mas o governo não deixava a genteconsertar; não podíamos fazer nem umbanheirinho a mais. Você imagina comoé desconfortável um banheiro de madei-ra... Mas vinha fiscal, derrubava a obra,levava embora o material de construção.
A gente não tinha nada, nem uma luzno fim do túnel. Então o deputado Eurí-pedes Camargo fez a Lei 161/91, garan-tindo o nosso direito de viver aqui. Foicomo um galhinho para a gente se segu-rar, no meio da correnteza. A Câmaraaprovou a lei, mas o governador vetou.Então, a Câmara derrubou o veto dele.
O Roriz ficou uma fera. Para ele, eracomo se a lei não existisse. Ele querianos tirar daqui de qualquer maneira, elequeria essa área... Imagina quem não iaquerer uma área nobre como esta!
As maldades que ele fez aqui, isso agente nunca esqueceu. Um dia derruba-ram cinco barracos, deixaram cinco fa-mílias com a roupa do corpo. Levaramtudo, roupas, móveis, até as escovas dedentes. Levaram e trancaram num de-pósito, perto da Rodoviária. Tivemos queentrar na Justiça para eles devolverem.
Durante todo o governo dele, a pres-são foi muito grande, de todos os lados.Era governo, polícia, até a imprensa... Ojornal chamava isso aqui de “invasão daTelebrasília”, quando, na verdade, está-vamos dentro da lei, nunca fomos inva-sores. A revista Veja publicou que o go-vernador tinha removido a última favelade Brasília – a nossa. E ele chegou a fa-lar para nós, pessoalmente, que nós éra-mos “gentinha” e que ele ia “limpar essaárea”, como se nós fôssemos sujeira.
Quando criou o Riacho Fundo, o go-vernador achou que ia conseguir tirartodo mundo daqui. Realmente, nessaépoca, depois de anos de pressão emcima da gente, metade das famílias semudaram. Todos ganharam lotes. Fica-mos sabendo que o governo ofereciamais lotes para quem conseguisse influ-enciar os outros, tirar mais gente daqui.
Você não imagina como a gente sesentia, vendo o Riacho Fundo todo ur-banizado, com asfalto, água, luz, e aqui,nada... Minha família toda foi para lá,todos os meus irmãos; só eu e minhamãe ficamos. Eu resolvi ficar e lutar, por-que foi uma decepção muito grande darmeu voto a um político e ele não cum-prir a sua palavra. Ele tinha que saberque a gente tinha o direito de ficar aqui.
Foi por isso que entrei para a Asso-ciação de Moradores, há dezoito anos.Nunca pensei que eu fosse ser uma lí-der comunitária. Até brigas de casal agente tinha que administrar: marido emulher se separavam e vinham nos pro-curar para saber quem ficava com o lote.Nós éramos consultados sobre tudo. Osmoradores tinham medo até do recen-seamento, não queriam falar com nin-guém antes que a Associação visse doque é que se tratava.
Tivemos também que vigiar a áreacontra invasores. Muita gente tentava seinstalar ao redor, na calada da noite. Tí-nhamos que sair da cama de madruga-da para colocar as pessoas para correr.Até ameaça de morte nós recebemos. Ogoverno não ajudava em nada, achavabom que invadissem, para virar favela ereforçar seus argumentos.
Foram anos de muita tristeza, muitaatribulação. A gente ia dormir sem sa-ber se no dia seguinte a casa ainda es-taria de pé. Tinha que ter muita cora-gem. A gente cansa, sabe? Todo dia erabarraco derrubado, fossa quebrada, su-
DEPOIMENTO • Remando contra a maré
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Ele [o governador] chegou a falar que éramos ‘gentinha’ eque ele ia ‘limpar essa área’, como se nós fôssemos sujeira.‘ ‘
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jeira espalhada... A gente pensava: ai,Deus, será que um dia vamos vencer?
Quando Cristovam se tornou gover-nador, a situação mudou. Ele mandoufazer o EIA-RIMA para começar o pro-cesso de urbanização. Mas esse relató-rio ia, voltava, nunca ficava pronto. Por-que, quando chegava em qualquer re-partição com funcionários do lado doRoriz, a coisa não andava. Eles engave-tavam mesmo. Acho que tinham muitaraiva da gente. Mesmo assim, as coisasacabaram andando. No final dos quatroanos do governo Cristovam, já estáva-mos com o projeto urbanístico pronto,os lotes demarcados, a terraplanagemfeita. As obras de asfaltamento já esta-vam até licitadas. Mas Roriz ganhou aeleição e a perseguição recomeçou.
Nos primeiros quinze dias do novo
governo – imagina só, em duas sema-nas! – ele fez toda uma área nova noRiacho Fundo, dizendo que era para nós.Fomos lá para ver, mas não aceitamossair daqui. Foi uma reunião desastrosa,virou um verdadeiro bate-boca. Lembroque o governador falou: “Vou passar amáquina em cima da casa de vocês.” Pa-recia que era uma coisa pessoal, umateimosia. Naquele dia ele me disse:“Você sabe que eu nunca senti sabor dederrota na vida.”
A última coisa que ele fez contra nósfoi tentar derrubar a lei 161/91 de novo.Nessa ocasião passamos uma semanana Câmara Distrital, pedindo o apoio dosdeputados. Conseguimos. Ele viu quenão ia ganhar e desistiu. Depois disso,sossegou. Não moveu nem uma palhapara melhorar a nossa situação, mas pelo
menos parou de nos perseguir.Ninguém aqui na Vila acreditava que
o Arruda ia fazer alguma coisa, porqueele foi secretário de Obras do governo,naqueles anos difíceis. Mas ele atendeunossas reivindicações: asfaltou, fez maisuma parada de ônibus, o campo de fu-tebol, o posto policial, a praça para ascrianças. E o principal: as escrituras. Claroque não foi fácil; no começo, tivemos quepressionar até para sermos recebidos.Mas conseguimos, finalmente.
Foram vinte anos de luta. Aprende-mos muita coisa; todo dia aprendíamosum pouquinho. Hoje a gente se sentecidadão, com a escritura da nossa casa.Temos prazer de morar aqui. Eu me sin-to muito orgulhosa, porque todo mun-do dizia que estávamos remando contraa maré, que nunca íamos conseguir.”
A gente ia dormir sem saber se no dia seguinte acasa ainda estaria de pé. Tinha que ter muita coragem.‘ ‘
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Dona Neide, lídercomunitária, e seumercado: “Resolvificar e lutar”
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ROTEIRO DAS ARTES
Brasília é um museu acéu aberto. Poucas
cidades no mundo têmesse privilégio. Nas ruas,
nos gramados, nasfachadas, no interior e
no exterior dos prédiosestão expostos trabalhos
dos maiores artistasmodernos brasileiros. Sãotantos que, muitas vezes,
estão ao nosso lado e nemnotamos. A cada edição,
esta seção mostrará otrabalho de um artista.
Este mês você vaiconhecer a obra de
Franz Weissmann.
cidadesDiálogo com as
Franz Weissmann nasceu naÁustria, em 1911, e veio para oBrasil ainda criança. O pai e osquatro filhos (Franz era o se-gundo) trabalharam na lavou-ra de algodão, no interior deSão Paulo. Alguns anos depoisforam para a capital, onde o paimontou uma pequena fábrica
de carrocerias para ônibus em São Paulo.Aos dezesseis anos Franz saiu de casa
e trabalhou em vários “bicos”, até matri-cular-se no curso de arquitetura da EscolaNacional de Belas Artes. Morou em SãoPaulo, no Rio de Janeiro e em Belo Hori-zonte. Abandonou a faculdade para estu-dar pintura e escultura, e pouco depoistornou-se aluno de August Zamoyski, es-cultor polonês radicado no Brasil. Com ele,aproximou-se cada vez mais das tendên-cias geométricas derivadas do cubismo.
Em Belo Horizonte Weissmann parti-cipou da criação da primeira escola mi-neira de arte moderna, em parceria com
Guignard, entre 1944 e 1956. Nessa épo-ca ele passou a trabalhar com metal, quese tornou a marca registrada de suas obras.
Segundo o poeta Ferreira Gullar, fun-dador do movimento neoconcreto, “a arteconcreta encontrou, no campo da escul-tura – ou da construção no espaço real –terreno mais propício para seu desenvol-vimento do que na pintura – espaço bi-dimensional. (...) Weissmann aprofundaessa expressão, encontrando ritmos cadavez mais econômicos e mais diretos. Che-ga enfim a estruturas de grande leveza,ricas de perspectivas que se impunhamao espectador como um milagre de cap-tação dessa coisa impalpável e fugidiaque é o espaço.”
Entre 1970 e 1990, já consagrado, Weis-smann participou de dezenas de exposiçõesnacionais e internacionais, além de ganharvários prêmios. Ele pregava a união entre aarte e a vida cotidiana; por isso, dedicou-sea criar obras monumentais, que dialogamcom os espaços urbanos.
Acima, Grande Flor Tropical (Memorialda América Latina - SP). Ao lado, sem título,
Coluna Neoconcreta nº 1 e Fita Amarela
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Monumento àdemocracia (1990) éuma ampliação daescultura Três pontos(1958). Em açopintado, fica naentrada do Museude Arte de Brasília
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Do alto dos seus 91 anos,o poeta Manoel de Barros
ensina que o ser humanoé incompleto, e que isso nãoé defeito; é qualidade.
Assim como ele, muitas outraspessoas precisam ser Outras.E são. Esta coluna publicará
mensalmente histórias de genteque concilia o serviço públicocom as mais diversas
atividades. São atletas, chefesde cozinha, professores,pintores, mágicos, mecânicos,
músicos... A lista não tem fim.
OUTROS EUS
A maior riqueza do homemé a sua incompletude.Nesse ponto sou abastado.Palavras que me aceitam comosou – eu não aceito.Não agüento ser apenas umsujeito que abreportas, que puxa válvulas,que olha o relógio, quecompra pão às 6 horas da tarde,que vai lá fora,que aponta lápis,que vê a uva etc. etc.PerdoaiMas eu preciso ser Outros.Eu penso renovar o homemusando borboletas.
Manoel de Barros
14 Revista do Sindjus Fev/2009
Brincando com as
palavras
15Revista do Sindjus Fev 2009
om muitos versos e rimas se fez atrajetória do analista judiciário do
STM, Adaglion Aires de Andrade, comoescritor. Há 21 anos ele se dedica cons-tantemente à leitura e a escrever poe-mas com dedicação e carinho.
“Lembro que, quando tinha cator-ze anos de idade, na 8ª série, num co-légio de Goiânia, a professora de re-
dação pediu para a minha turma es-crever um texto. Eu optei por escreverem forma de versos. A professora gos-tou, elogiou bastante; isso me fez acre-ditar que eu tinha competência paratrabalhar a palavra”, conta ele.
Mas Adaglion também recorda queaquela não foi a primeira vez em queele entrou em contato com o mundo
encantado das palavras. Ainda peque-no, com sete ou oito anos, ele escre-veu dois versos, empolgou-se e faloupara a mãe: “Um dia serei poeta.”
Nesses 21 anos, o analista judiciá-rio escreveu dois livros de poesias, ain-da não publicados. “Faltam somentealguns ajustes. Pretendo publicar umdeles ainda este ano”, revela.
Talvez Adaglion tenha herdado ahabilidade de escrever de seu tio, Ai-denor Aires, um “inventor de metáfo-ras” – apelido criado pelo sobrinho.Ele confessa ser um grande admiradorda obra do tio, um poeta com várioslivros publicados.
Além de ser um prazer e uma tera-pia, a poesia transforma a vida e até oambiente de trabalho, segundo o ana-lista judiciário: “Quando escrevo umbom poema, meu sorriso aparece mais,aumenta a empolgação, fico mais dis-posto. Escrever é uma combustão enor-me. Sou movido à poesia”, confessa.
“De certa forma, escrever significapara mim a liberdade de brincar comas palavras, como se eu estivesse medivertindo com uma bola. Escrever fazparte de mim”, afirma o poeta. Masele também faz questão de lembrarque a atividade criativa não é tão fácilquanto muita gente pode pensar: “Liuma frase de Cecília Meireles que ex-plica isso muito bem: ‘Escrever é durocomo quebrar pedras’.”
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Para Adaglion, escrever é uma te-rapia, uma brincadeira e um atode amor, como revelam esses ver-sos do seu poema Inspiração:
Trabalho fiandomeu casulo.Fio por fio amando.
Insuflo essas linhasque, às vezes, costurama boca das palavras.
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Adaglion Aires:“Escrever é uma
combustão enorme”
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18 Revista do Sindjus Fev/2009
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SAÚDE
Praticante deSahaja Yoga,Cynthia (centro)medita duas vezespor dia, sozinha, euma vez porsemana com asamigas Renata eÂngela: “Meuorganismo funcionamuito melhor”
19Revista do Sindjus Fev 2009
Fabíola Góis
écnica alternativa não serve mais para deno-minar as dezenas de terapias não-convencio-
nais, como acupuntura, homeopatia, terapia comflorais e iridologia. Afinal, o que é alternativo emum mundo cada vez mais aberto a práticas não-tradicionais? Na China, por exemplo, muito do queclassificamos como não-convencional é o conven-cional. E os adeptos crescem no Brasil. No Judiciá-rio, a tendência não é diferente. Tribunais e Minis-tério Público se preocupam com a qualidade devida do servidor e oferecem atendimento nos pró-prios órgãos. A promessa éde garantir a prevenção e otratamento de doenças quenem sempre a medicina tra-dicional consegue explicar.
Os adeptos e estudiososdo assunto explicam o por-quê de se reparar o termo“terapias alternativas”. Ci-entista renomado, médico eprofessor titular do Labora-tório de Imunologia Celularda Universidade de Brasília,Carlos Eduardo Tosta expli-ca o erro: “O termo é inadequado porque dá aentender que tais terapias seriam alternativas àsterapias convencionais. Elas não são alternativas;são complementares.”
O professor Tosta afirma que há uma tendên-cia de que essas terapias sejam cada vez mais ado-tadas. Várias secretarias de saúde no Brasil, inclu-sive a do Distrito Federal, já adotam oficialmenterecursos terapêuticos como homeopatia, acupun-tura, fitoterapia, chi kung, automassagem e medi-tação. “Todas essas práticas têm eficácia compro-vada em várias condições clínicas. Essas terapiastêm importante aplicação nos casos de doençascrônicas, onde a medicina ocidental convencionalapresenta eficácia limitada”, afirmou.
Para Tosta, a medicina convencional do ocidentegeralmente se limita a tratar a manifestação dadoença: anti-inflamatório no caso de inflamação,reposição hormonal na falta de hormônio, retiradade um tumor, correção de uma fratura. A diferençaé que as terapias não-convencionais, como home-opatia e aquelas baseadas nas medicinas tradicio-nais indiana e chinesa, atuam sobre as causas dadoença, muitas vezes no nível energético.
Terapias complementaresà medicina tradicional são cada
vez mais utilizadas para garantira saúde do corpo e da alma
EFICÁCIA
“Homeopatia, acupun-tura, fitoterapia, auto-massagem e meditaçãotêm eficácia comprova-da em várias condiçõesclínicas onde a medicinaocidental é limitada.”
Carlos Eduardo Tosta, médicoe professor do Laboratório deImunologia Celular da UnB
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20 Revista do Sindjus Fev/2009
SAÚDE
É diante desse cenário que a técnica ju-diciária do Tribunal de Justiça do Distrito Fe-deral e Territórios (TJDFT) Cynthia Aspesi, 39anos, é adepta da meditação. Todos os dias,às 6h30, antes de trabalhar, a servidora me-dita de 10 a 15 minutos. Repete a práticaantes de dormir. É adepta da Sahaja Yoga,um método para obter a auto-realização deforma espontânea, com a união da consci-ência com o nosso ser interior. Ela acreditaque a Sahaja Yoga é o passo seguinte naevolução da consciência humana. Foi criadapela indiana Shri Mataji Nirmala Devi em1970 e, desde então, espalhou-se por maisde 70 países em redor do mundo.
Cynthia Aspesi conta que encontrou natécnica o equilíbrio espiritual e mental tãoimportante nos dias de hoje. “A meditaçãonão só tranqüiliza, mas também promove oequilíbrio do ser humano como um todo”,afirma. Ela começou a praticar Sahaja Yogahá dois anos, quando buscou tratamentopara tensão pré-menstrual, e não mais pa-rou. Hoje, conta que dorme melhor e nãosofre com doenças. “Praticamente não tomoremédios alopáticos. Se, por acaso, ficar do-ente, tratarei com homeopatia. Assim, o meuorganismo funciona muito melhor”, diz.
A servidora está no caminho certo, comoconfirma o professor Carlos Eduardo Tosta:“Em minha opinião, a meditação é a práticamais poderosa para a manutenção da saú-de e a cura de doenças, por ser uma terapiamultidimensional. Ela atua sobre os quatroníveis onde a doença pode se iniciar e sermantida: físico, psíquico-emocional, interpes-soal e espiritual.”
Tosta coordena um grupo de pesquisa naFaculdade de Medicina da UnB que pesquisao impacto psico-neuro-endocrino-imunológi-co da meditação prânica em indivíduos da co-munidade e em pacientes com câncer demama. A cura prânica estabelece o equilíbrioda vitalidade do organismo, detectando e cor-rigindo desarmonias na sua circulação: defi-ciências, excessos ou bloqueios. Esse é assuntode dois projetos de mestrado e um de douto-rado na Universidade. A perspectiva do pro-fessor é que, em breve, sejam iniciados maisdois projetos sobre o impacto da meditaçãoprânica em outras condições médicas.
Maria CecíliaMorato, tera-peuta floral doTJDFT: mudançade hábitos
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21Revista do Sindjus Fev 2009
O poder das floresEstimativa da Associação Brasilei-
ra de Medicina Complementar indicaque mais de quatro milhões de brasi-leiros utilizam alguma forma de tera-pia não-convencional para tratar do-enças. Profissionais médicos e não-médicos dos tribunais e do MinistérioPúblico convivem com a alta procurade servidores por práticas não-conven-cionais. O TJDFT montou, em 2000, oPrograma de Medicina Preventiva (Pro-mep) para atender os pacientes no pró-prio Tribunal. Uma das três profissio-nais que atua na área é a analista ju-diciária Maria Cecília Morato, forma-da em Serviço Social na área clínica ede saúde mental.
Após fazer o curso de especializa-ção em Terapia Floral, Morato decidiuse dedicar ao trabalho e conquistouadeptos no Tribunal. “Temos uma vi-são mais ampla do ser humano e bus-
camos qualidade de vida para essaspessoas. Os florais ajudam no proces-so de mudança de hábitos e de per-cepção; é um trabalho de autoconhe-cimento”, explica. A essência floral éum preparo natural elaborado a partirde essência de flores, plantas ou ar-bustos, que garante o equilíbrio dasemoções do paciente.
Além da terapeuta Maria CecíliaMorato, o Promep tem uma farmacêu-tica e uma técnica de enfermagem quetrabalham, respectivamente, com aro-materapia (tratamento baseado noefeito que os aromas de plantas pro-vocam no indivíduo) e massoterapia(diversas técnicas holísticas de origemoriental e ocidental, exercidas por meiode massagens).
Ana Lídia Brandão Sodré, 34 anos,analista judiciária do TJDFT, é a pro-va de que os florais dão certo. Ela
conta que desde criança sofria de in-sônia crônica. Eram horas acordadasde madrugada, que provocavamtranstornos físicos e mentais duranteo dia. “Cheguei a tomar remédio detarja preta para conseguir dormir. Osmédicos nunca descobriram a origemdo problema. Nunca tive depressão,problemas cardíacos ou trauma nainfância que pudessem justificar a in-sônia”, conta.
Ela decidiu procurar técnicas não-convencionais no ano passado porquepretendia engravidar, o que a impedi-ria de tomar os remédios controlados.Em maio, Ana Lídia Sodré começou ausar as gotinhas – os florais são admi-nistrados via oral por meio de gotas,numa solução diluída em álcool. E co-meçou a reduzir os medicamentos. “Emsetembro, eu não tomava mais remé-dio tarja preta. Nunca pensei que pu-desse fazer efeito tão rápido”, diz a ser-vidora, hoje grávida de dois meses.
Ana Lídia Sodré:“Nunca penseique pudesse fazerefeito tão rápido”
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22 Revista do Sindjus Fev/2009
Quem lamenta a falta de espaçoe de profissionais para atuar na Pro-curadoria Geral da República (PGR) éo cardiologista Messias Dias de Ara-újo Júnior, secretário do Serviço deSaúde da PGR. Com quarenta anosde profissão, o médico reconhece oavanço da medicina não-convencio-nal e promete lutar para que o órgãotenha um setor que cuide dos servi-dores de forma menos tradicional.“Ainda há resistência no meio médi-co, mas isso será superado. Houveprogresso tecnológico na medicina,
mas não na parteclínica”, reclama.Araújo Júnior reco-nhece a importân-cia da homeopatiae da acupuntura nacura e tratamentode doenças. Elassão as duas únicaspráticas médicasnão-convencionaisreconhecidas peloConselho Federalde Medicina (CFM).
A acupuntura,ramo da medicinatradicional chinesaque usa a aplica-ção de agulhas emdeterminados pon-tos do corpo, é atécnica usada pela
médica pediatra Magda Montalvão deAlbuquerque. Há dez anos ela aban-donou a medicina convencional e pas-sou a se dedicar à prática chinesa. “Foia oportunidade que encontrei para fi-car mais próxima dos meus pacientes.Eles me contam como se sentem, o queacontece em suas vidas e me pedemconselhos. É uma abordagem do serhumano como um todo”, relata.
Formada em Medicina há trintaanos, Magda Montalvão procurou a
Universidade de Brasília para fazeruma pós-graduação na área. “Fiqueiencantada com a acupuntura. Hojeme sinto extremamente feliz com aminha escolha”, afirma. A médicapassou dois meses em Pequim, naChina, durante o curso na UnB, e viude perto como os médicos chinesestratam os doentes. “Acredito que amedicina no Brasil tende a voltar aoque era, com cada vez mais clínicageral e menos especializações. As fa-culdades de medicina no país já co-meçam a perceber a importância detratar o doente e não apenas as do-enças”, opina.
Quanto à resistência dos médicosem orientar os pacientes para a medi-cina não-tradicional, Magda Montal-vão acredita que diminuiu bastante.“Vários colegas encaminham seus pa-cientes para a acupuntura e homeo-patia”, relata. Segundo a médica, asagulhas provocam estímulos na pes-soa e atingem várias partes do corpo,como a neurológica, a ortopédica e aimunológica. “A acupuntura é excelen-te para os quadros de dor. Em uma sósessão pode-se notar uma rápida me-lhora”, exemplifica.
O coordenador de Saúde Ocupaci-onal e Prevenção da Secretaria de Saú-de do Superior Tribunal de Justiça (STJ),o pneumologista Andral Codeço Filho,reconhece e admite o tratamento coma homeopatia e acupuntura, mas nãoaprova técnicas como florais, iridolo-gia ou urinoterapia. No órgão, não háprofissionais que usem essas técnicas,mas no plano de saúde dos servidoreshá convênio com médicos homeopa-tas e acupunturistas.
O STJ atua na prevenção de doen-ças de outra forma: lançando progra-mas específicos para diversas áreas,como o de combate ao tabagismo, ode gerenciamento de estresse e o desaúde mental. “Aqui no Tribunal só
SAÚDE
Mais próximos dos pacientes
aceitamos a medicina especializada eas reconhecidas pelo Conselho Fede-ral de Medicina. Não se pode aceitaroutros métodos”, afirmou.
O médico entende que a preven-ção é o melhor caminho para buscar asaúde, e defende a ampliação de opor-tunidades para os servidores. “O indi-víduo precisa saber escolher e prati-car os hábitos para uma vida saudá-vel”, destacou. A Secretaria de Saúdedo STJ tem dezoito médicos, cinco psi-cólogos, cinco fisioterapeutas, três nu-tricionistas, três assistentes sociais etrês enfermeiras.
Messias Araújo, doServiço de Saúde da PGR:“Ainda há resistênciano meio médico, mas issoserá superado”
Magda Montalvãotrocou a medicinaconvencionalpela acupuntura:“É uma abordagemdo ser humanocomo um todo”
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COMO SELECIONAR A TERAPIA CORRETA
Antes de procurar qualquer métodoalternativo, faça o diagnóstico da do-ença com um médico. Só ele tem con-dições de fazer essa avaliação e dizerqual tratamento deverá ser feito.
Caso procure métodos não-tradi-cionais para tratar a doença, peça aoprofissional para explicar o tratamento:como será feito, quanto tempo vaidemorar, se possui efeitos colaterais eo que você pode esperar dele.
Não se esqueça de verificar a qualifica-ção do profissional: onde ele se formou e aque associações médicas está filiado.
Procure uma clínica com boa reputaçãoe terapeutas diplomados e registrados nosdevidos conselhos profissionais.
Visite a clínica, assegure-se de que vocêaprova a atitude dos profissionais efuncionários e de que o ambiente é limpo,alegre e agradável.
Nos tratamentos novos e muitodiferentes, solicite trabalhos científi-cos ou as estatísticas em poder domédico. Se for um tratamento experi-mental, o profissional deve propor umtermo de responsabilidade que inclua,além dos possíveis efeitos colaterais,a possibilidade de você desistir dotratamento no momento que decidir.
Fonte: Associação Brasileira deMedicina Complementar.
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ENQUETE
F OTOS : ARTHUR MONTE IRO
Tenho cinco filhos enenhum precisa sair de
Taguatinga para sedivertir. Todos adoram
a cidade, porquepodem escolher à
vontade: tem teatro,cinema, comércio,shoppings... Já faz
vinte anos que moro láe não tenho nenhuma
reclamação.
Antônio de Oliveira,técnico do STJ
Vida
Morei na Asa Sul, Águas Claras,Sudoeste e agora no Guará.
Adoro a cidade, não penso emme mudar. A feira é um atrativogastronômico. Outra atração é
a pista de motocross. Osquiosques nas quadras
facilitam a interação entre osmoradores. Passeio com minhafilha e adoro o ar de cidade do
interior; nem parece queestamos em Brasília.
Sheila Messerschnidt,analista do STJ
ao redor de Brasília
Por ser uma cidade nova,o Areal oferece pouca
atividade cultural.Mas já estão sendo
construídas quadras deesportes. Gostamos de
freqüentar o clube Cefis,devido à proximidade.
Acho que a tendência émelhorar, a cidade tem sóseis anos e está crescendo
de forma ordenada.
Reginaldo Alves Araújo,técnico do STM
Vim de São Paulo há19 meses e não tive
dúvidas quanto à cidadeque iria escolher:
Taguatinga. Toda aminha família mora lá,meus amigos também.A cidade oferece muitadiversão; tem teatro,
projetos culturais,shoppings...
Evandro da CunhaMenezes, analista
do STM
Planejadas por Lucio Costa para funcionar de maneira autônoma,independentes do Plano Piloto, as satélites acabaram se
transformando em cidades-dormitório, por conta do desordenadocrescimento populacional do DF. Hoje, porém, algumas delas já
começaram a retomar o caminho da auto-suficiência e oferecem aosmoradores opções de emprego, cultura e lazer. Veja o que alguns
servidores que não moram no Plano pensam de suas cidades.
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O Guará está muitopróximo do centro de
Brasília. Apesar dotrânsito, acredito que seja
uma ótima opção demoradia. Pena que aindatenho que sair de lá para
levar meus filhos ao teatroou cinema. Mas não penso
em me mudar; adorominha cidade e acho que
ela só vai melhorar.
Carlos César Neves deOliveira, técnico do STM
Minha cidade émaravilhosa. Moro no
Riacho Fundo I há 18 anose nem penso em sair. É umpouco distante do trabalho,mas adoro a tranqüilidadee o clima rural. Cultura e
diversão ainda sãoatrativos raros, mas mesmoassim meus filhos adoramo lugar, e acredito que com
o tempo isso vai mudar.
João Batista de Souza,técnico do TSE
Tenho três filhos eescolhi Vicente Pirespela tranqüilidade e
segurança que ocondomínio oferece. Pena
que ainda há poucasáreas de lazer. Mas meusfilhos estão satisfeitos.
Acredito que logo arealidade será modificada;
realmente acredito naminha cidade.
Cláudio Antônio dosSantos, técnico do STM
Amo a minha satélite,moro lá há nove anos enem penso em sair. Tudoque preciso eu encontro:
hipermercado,shoppings, lazer, cinema,
teatro. Só saio deTaguatinga para
trabalhar. A região ondemoro também não sofrecom a violência; eu me
sinto muito seguro.
Willian Gomes Costa,técnico do MPDFT
Moro na zona rural deSobradinho há 36 anos.Adoro o contato com a
natureza e a casaespaçosa. Meus filhospodem brincar com
liberdade. Mas a infra-estrutura não está boa,e estamos distantes dacidade e do Plano, ondehá mais vida cultural.
Jaqueline FariasCaetano, técnica
do MPDFT
Apesar de ser moradora doGama há 19 anos, minhavida está no Plano Piloto,
porque passo grande partedo dia aqui. Por causa dadistância, devo me mudarde lá no final do ano. Voupara Águas Claras. Acho
que vou sentir muita faltados amigos e da família,
mas, no momento, esta é amelhor opção.
Raquel Ribeiro Teles,técnica do TSE
Moro em Planaltina desde1972. Adoro as festas
religiosas, como a do Divino ea Via Sacra, no Morro da
Capelinha. A cidade tem umlado muito bom: as pessoasconversam na porta de casa,são amigas dos vizinhos. A
violência é um problema, masacho que podemos resolverisso se trabalharmos com as
crianças e adolescentes.
Valdimar Pereira da Silva,técnico do MPDFT
Penso em sair do Guarápor causa do trânsito;gasto uma hora até omeu trabalho; às vezesaté mais. Mas minha
família e amigos estãotodos lá, e isso me deixacom dúvidas. O comércio
é meio fraco e não háshoppings, mas a
proximidade do Planoresolve isso.
Bruna Analhys da Silva,técnica do TSE
26 Revista do Sindjus Fev/2009
CIDADES SATÉLITES
A cultura e seusARTHUR MONTE IRO
27Revista do Sindjus Fev 2009
heróis Eunice Pinheiro
riadas para abrigar a população removida das primeiras fa-velas de Brasília, as cidades satélites já nasceram sob o signo
da dependência do Plano Piloto. Inauguradas às pressas, antesmesmo da inauguração da nova capital, em 1961 – Taguatingafoi inaugurada em 1958 – as satélites foram entregues com ainfra-estrutura muito aquém da projetada por Lúcio Costa. Vira-ram cidades-dormitório, dependentes da economia dos mais ricosque habitavam o Plano Piloto. Hoje, essas cidades têm vida pró-pria. Uma vida que muita gente desconhece.
A cultura nas satélites vive. Na verdade, sobrevive aos trancose barrancos, na base da determinação e persistência. Com muitapaixão e praticamente sem apoio financeiro, nem público nemprivado, os heróicos agentes culturais da periferia vão levando.Exemplo disso são os rappers, com seus milhares de fãs, e os re-presentantes de tradições populares centenárias, como o CacuriáFilha Herdeira (foto), o Bumba Meu Boi de Seu Teodoro, o grupoFlor do Cerrado, o Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro e muitos outros.
Pesquisar a produção cultural da periferia de Brasília é verde perto dois mundos diferentes. E como essas diferenças sãograndes. O que se produz no Plano Piloto é completamente dife-rente do que é feito em Ceilândia, Planaltina ou Riacho Fundo,por exemplo. No Plano, a cultura leva à diversão, ao lazer. Nascidades satélites, é um instrumento de inclusão social, de resga-te de valores para a diminuição da violência, de prevenção aouso de drogas e de profissionalização de jovens. Não há comoseparar a cultura das ações sociais.
"No Lago Sul é possível rock de garagem. Na periferia agaragem não existe; cria-se na rua", diz TT Catalão. Após oitomeses como subsecretário de Políticas Culturais, ele pediu demis-são perceber condições objetivas de criar estruturas mais voltadaspara a cultura (processo) que para a arte (eventual). "É a tragédiadas políticas públicas nas regiões carentes. Queria começar pelavalorização das bibliotecas públicas, que são potenciais casas decultura, embora raras na periferia. A exclusão é cruel e mudar araiz da exclusão, dentro do Estado, é muito difícil”, afirma.
As satélites nasceram antes dainauguração de Brasília. Elas estavamprevistas no projeto da capital, masLúcio Costa imaginava criar uma auma, ao longo dos anos, quando oPlano Piloto já estivesse estruturado.
Não se pensou que a construçãode Brasília fosse atrair tanta gente. Em1957, eram 12.700 habitantes. Trêsanos depois, 41.700. Em 1970, 538mil. “Ao lado dos acampamentos dopessoal que trabalhava nas constru-
ções, começaram a surgir favelas. Comoo crescimento era muito rápido, ante-cipou-se a criação das satélites. Essapopulação foi levada para lá”, diz a ar-quiteta Rejane Jung Vianna, mestre emdesenho urbano pela UnB.
Ela conta que o objetivo da cria-ção das satélites era abrigar a popu-lação mais pobre que chegasse aBrasília.“A idéia já era segregacionis-ta; falava-se em proteger o centro”,afirma ela. Anos depois, as cidades,
C
Quando a realidade atropela os planos
que deveriam ser autônomas em tudo,inclusive empregos, viraram pratica-mente dormitórios.
A situação só começou a mudarna década de 80, quando Ceilândia,Taguatinga e, mais tarde, Samambaiacomeçaram a se estruturar. Só agoraelas se aproximam da autonomia ima-ginada por Lúcio Costa. “Não tenhodúvidas de que, no futuro, essas cida-des estarão totalmente independen-tes”, prevê Rejane .
Grupos culturais tornam-seinstrumento de inclusãosocial, resgate de valores,diminuição da violência,prevenção ao uso de drogase profissionalização de jovens
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Enquanto no Plano Piloto e no Lagoos jovens tocam rock, na periferia osrappers arrebanham milhares de fãs. Se-gundo o produtor musical Rafael Santo-ro, são mais de quinhentos grupos, queraramente aparecem nos cadernos decultura dos jornais, mas que chegam avender cinco mil cópias de um único CDnas cidades satélites. X, ex-membro dogrupo Câmbio Negro, hoje ganha a vidacomo segurança. Nos fins de semana,faz shows e já gravou dois CDs solos.“Não quero ganhar a vida com música.
Canto porque quero queas pessoas raciocinem so-bre o que falo. Por isso, im-primo poucas cópias”,conta. Na época do Câm-bio Negro, ele chegou avender oito mil discos.Hoje imprime apenas doismil, mas nunca sobra.
Para ter idéia da influ-ência do rap na cultura doDF, a produção brasilien-se só perde para a de SãoPaulo. A prensagem dos
CDs é feita de forma artesanal, para ba-ratear o produto; com isso, os discos sãovendidos por quatro ou cinco reais. A dis-tribuição é feita mão-a-mão. São gru-pos como o Atitude Feminina, de São Se-bastião, Liberdade Condicional, de So-bradinho, Código Penal, de Planaltina, eVoz sem Medo, de Brazlândia, que to-cam nas ruas das satélites.
Eles não apenas tocam, mas servemde instrumentos para reunir jovens emtorno de projetos sociais. A cultura hiphop possui diversos elementos: dança derua (ou break), grafite, MCs (ou rappers)e DJs. Alguns grupos promovem oficinasde dança, grafite, música e locução.
“O objetivo é prevenir ou retirar oadolescente da marginalidade, mostrarque há outros caminhos. É fazer com queele pense e escolha uma vida digna”,explica Gilmar Cristiano, o Satão, daONG DF Zulu Break, na Ceilândia Sul. Oúnico apoio com que o grupo conta é oda própria comunidade; não há financi-
amento público ou privado. Eles reali-zam oficinas em escolas, igrejas e aténa rua, e compram materiais com dinhei-ro do próprio bolso. “Agora, estamos gra-fitando os muros das escolas da Ceilân-dia. É uma forma de deixá-las mais bo-nitas e dar mais dignidade e orgulho aosalunos”, explica Satão.
O Grupo Atitude também trabalhacom cultura na Ceilância. Promove rodasde leitura, formação para contadores deestórias, oficinas de grafite e esportes. Porsemana, cerca de trezentas crianças eadolescentes passam pelas duas sedes daentidade, na Ceilância Sul e no Setor MNorte. “Temos uma rádioweb comunitá-ria. A programação e a locução são feitaspelos meninos. O objetivo é mantê-losfora de situações de risco e dar a eles umaprofissão”, conta Sérgio de Cássio Sou-sa, presidente do Atitude.
O basquete de rua também é umamanifestação cultural forte nas satélites.A Central Única das Favelas (CUFA)mantém escolinhas gratuitas para as co-munidades. Este ano, incluirá Itapoã eVila Estrutural em projetos com basque-te, dança de rua, percussão e vídeo.
Capital do rap
Populares
A produçãobrasiliense de rapsó perde paraSão Paulo. Aprensagem é feitade forma artesanale a distribuiçãodos CDs é feitamão-a-mão.
Grupos BsB Girls (de vermelho) e Atitude Feminina: mensagens sociais
CIDADES SATÉLITES
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As cidades satélites também conso-mem e produzem cinema. Além da pro-gramação comercial, algumas comuni-dades contam com esquemas alternati-vos. A CUFA criou o Cine Periferia Cria-tiva, que roda as cidades projetando fil-mes brasileiros em telões na rua. No anopassado, cerca de três mil pessoas as-sistiram aos filmes. Paralelamente àsapresentações, numa parceria com oSESC, foram montadas oficinas de dire-ção e vídeo com adolescentes. O resul-tado foi o filme Olhos Verdes, CoraçãoNegro, sobre a rodoviária de Brasília, ea criação da Cara Dura Produções, mon-tada pelos garotos.
Num esquema ainda mais modesto,o Cine Clube Mutirô mobiliza a comu-nidade que vive no Mercado Sul, em Ta-
guatinga Sul. O mercado, que esteveabandonado por muitos anos, agora ser-ve de moradia para cerca de cinquentapessoas. É lá, na loja 3, que elas se reú-nem para produzir vídeos, geralmentecom temas sociais, e assistir filmes.
“Já fizemos documentários sobre ascomunidades de Cavalcante e aldeias deíndios. É uma criação livre, porque acre-ditamos na liberdade do pensamento”,explica André Duarte, diretor do Cine Clu-be. Os vídeos são vendidos, o que gerarecursos para continuar o trabalho. Alémdisso, a comunidade cria móveis e obje-tos de decoração artesanais, utilizandosacos de cimento e papelão como maté-rias-primas. O Mutirô mantém ainda umapequena biblioteca e uma videoteca paraatender à comunidade.
Cine Periferia Criativa
DF Zulu Break:oficinas emescolas, igrejasou na rua, comdinheiro dopróprio bolso
30 Revista do Sindjus Fev/2009
O hip hop é predominante nascomunidades de periferia, mas, pa-ralelo a ele, o folclore permanecemovendo a cultura local. CristianoOlímpio Silva, filho de Dona Elizene,é um dos que trabalham muito paramanter a chama acesa pela mãe. OCacuriá Filha Herdeira foi criado pordona Elizene ainda em São Luiz doMaranhão, há mais de cinquentaanos. É uma mistura de danças ma-ranhenses com canções entoadaspelas lavadeiras de beira de rio equebradeiras de côco babaçu. Encan-tada com tudo aquilo, Elizene trou-xe na memória a paixão pela dança,ao se mudar para Brasília.
Aqui, encontrou Seu Teodoro, emSobradinho, com o grupo de BumbaMeu Boi. Nasceu aí a parceria que du-rou ate´ a morte de Elizene, há setemeses. “Continuo mantendo o que mi-nha mãe plantou. Mas confesso quesó não desisti por causa dela. Tenhoque manter a tradição”, afirma Cristi-ano. Para ele, 2009 será a última apos-ta. Se as coisas não melhorarem, vaivoltar para o Maranhão e levar juntoo Cacuriá Filha Herdeira.
Elizene, a filha herdeira que deunome ao grupo, criou também o gru-po Flor do Cerrado, formado por me-ninas de São Sebastião. As apresen-tações desse grupo, do Cacuriá e dogrupo de Seu Teodoro acontecem du-rante as festas de Brasília. Em 2008,foram mais de cinquenta apresenta-ções. Fora isso, os ensaios tambémsão uma festa. Geralmente aconte-cem às quintas e sábados e reúnemas comunidades de Sobradinho I e II.Mas tudo isso corre o risco de aca-bar, se não houver um apoio mínimo
para a subsistência do grupo.O grupo Seu Estrelo e o Fuá do
Terreiro é outro que leva a arte a du-ras penas. Mas resiste. Juntou tradi-ções culturais de diversos estados ecriou uma manifestação própria deBrasília. O Calango Voador é umadelas. Há cinco anos, o grupo se apre-
Tradiçõespopulares
senta nas praças, feiras e festas po-pulares. Para sobreviver, criam instru-mentos musicais, brinquedos, bonecose os vendem durante as apresentações.“Mas não é fácil. Não temos financia-mento, não temos cachê. É tudo poramor a arte”, explica Danielle Freitas,uma das brincantes do grupo.
Ankomárcio (segundo a dir.):“Investir em arte é muitomais barato que investir emsegurança pública”
CIDADES SATÉLITES
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31Revista do Sindjus Fev 2009
Formar profissionais de circo e atoresde teatro é o trabalho do Artitude CentroCultural, com sede no Riacho Fundo. Anko-márcio Saúde, que dirige o Artitude, leva otrabalho para outras comunidades, comoTaquari, Canegai, Vila Cauy, Varjão, Recan-to das Emas, Santa Maria, Ceilândia e Sa-mambaia. O Artitude se instala em qualquerlugar onde o velho ônibus amarelo da Tru-pe do Circo possa estacionar. Nesses locaissão formados grupos de teatro amador, que
discutem e produzem textos, atuam e ba-talham para manter a arte viva.
Em 2008, com o suporte financeiro doFundo de Arte e Cultura (FAC), o grupo con-seguiu montar a oficina Jogando no Pica-deiro, que mistura a arte circense com acapoeira do Mestre Cobra. Juntos, aten-dem atualmente duzentas crianças. “Nos-so objetivo é escolher os trinta melhoresalunos e transformá-los em multiplicado-res. Com isso, poderemos disseminar ain-
da mais a arte do circo e dar uma ocupa-ção remunerada às pessoas da comuni-dade. As aulas acontecem ao ar livre, naspraças. Mas, quando chove, é necessáriobuscar ginásios e escolas.
“Investir em arte é muito mais bara-to que investir em segurança pública. Asautoridades precisam entender que aprevenção está aqui, com esses meni-nos que montam peças e fazem arte”,afirma Ankomárcio.
Escola de circo forma atores e multiplicadores