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arrastão de textosFicção de Verdade(s)
outras obras do autor
Memórias da liberdadeRio de Janeiro, Achiamé, 1985
O clube dos feios & outras histórias extraordináriasRio de Janeiro, Artes&Contos, 1994 (2. ed. 7Letras, 2013)
La legenda dell’uomo letteratoLecce, L’immaginazione, trad. de Adelina Aletti, 1995
La associación de indivíduos de apellido CheongHouston, The Americas Review, trad. de Lauro Flores, 1996
O livro dos ciúmesRio de Janeiro, Record, 1999
O livro dos desmandamentosRio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2004
At Home with the ColonelAmherst/Northampton, Metamorphoses, trad. de Clay Resnick, 2008
Memórias da liberdadeRio de Janeiro, Espaço Jurídico, 2a ed. revista, 2008
Confissões de um anjo da guardaRio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2008
O “jeito” brasileiro: um fenômeno culturalChapel Hill, Romance Notes, 2009
Ilações sobre a criatividade latina e ladina do “jeito”Buenos Aires, DeSignis 14 – Gusto Latino, 2009
Libido aos pedaçosRio de Janeiro, Record, 2011
Meu brechó de textosRio de Janeiro, Imprimatur, 2012
Mierdamorfose ou O semeador da radical honestidadeRio de Janeiro, 7Letras, 2014
Histórias tipo assim: Whats-au-au-APPRio de Janeiro, Imprimatur, 2016
Carlos Trigueiro
IMPRIMATUR
arrastão de textosFicção de Verdade(s)
2018Viveiros de Castro Editora Ltda.Rua Visconde de Pirajá, 580/ sl. 320 – IpanemaRio de Janeiro | rj | cep 22410-902Tel. (21) [email protected] | www.7letras.com.br
© 2018 Carlos Trigueiro
Este livro segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, adotado no Brasil em 2009.
Produção editorialIsadora BertholdoIsadora TravassosJoão SaboyaJulia RoveriRodrigo Fontoura
catalogação na publicação
t828a
Trigueiro, Carlos, 1943- Arrastão de textos / Carlos Trigueiro. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Imprimatur, 2018. 128 p.
isbn 978-85-60439-58-4
1. Crônicas. I. Título.
cdd: b869.8 cdu: 82-9
Sumário
Arrastão de epígrafes 7
Meu arrastão de incentivadores literários 9
Prefácio 11
1. Arrastão de orelhas – ficção de verdade 13
2. Orelhas arrastadas de repente 16
3. Orelhas de avós 18
4. Orelhas de anjo da guarda – ficção de verdade 19
5. Orelhas ciumentas – ficção de verdade 21
6. Orelhas moucas – ficção de verdade 22
7. Orelhas libidinosas – ficção de verdade 24
8. Orelhas feias – ficção de verdade 26
9. Orelhas memoriais 28
10. Metamorfose de orelhas – ficção de verdade 30
11. Orelhas de cão 31
12. Arrastão de memórias amazonenses 37
13. Arrastão de lembranças paraenses 39
14. Arrastão de marcas cearenses 41
15. Arrastão de origens potiguares 43
16. Arrastão de raízes paraibanas 45
17. Arrastão de vestígios de além-mar 47
18. Arrastão de anotações cariocas 52
19. O mundo através da janela 55
20. Tentações telefônicas 56
21. Linhas proféticas – ficção de verdade 57
22. Memórias de garra 59
23. Museu do depois-de-amanhã em 07.06.2194 – Ficção de verdade 61
24. Era uma vez... 62
25. A idade da sabedoria 65
26. Arrastão de manual – ficção de verdade 67
27. Rescaldos natalinos – ficção de verdade 68
28. “Sôbolas fronteiras” 70
29. “Comédia humana” – ficção de verdade 76
30. Desmandamentos – ficção de verdade 80
31. Negócio nas cavernas – ficção de verdade 82
32. Conversa de amigos em funeral – ficção de verdade 86
33. Entrada proibida a pessoas com os pés no chão – ficção de verdade 89
34. Museu do depois-de-amanhã em 07.06.2294 – Ficção de verdade 95
35. Encontro familiar 96
36. Os números no meu caminho 98
37. Consultório para pré-adolescentes – ficção de verdade 106
38. “Retrato do brasil” – ficção de verdade 108
39. Um cearense de coração 110
40. Consultório de psicanalista famoso – ficção de verdade 113
41. O livro como anjo da guarda do aprendizado 115
42. Carlos Trigueiro lança seu brechó 116
43. Grande espelho dos olhos alheios – ficção de verdade 117
44. Museu do depois-de-amanhã em 07.06.2394 – Ficção de verdade 120
45. Nota fiscal eletrônica – imposto genérico – arrastão digital – ficção de verdade 121
46. Saber falar poemas 122
47. Amantes – ficção de verdade 124
48. Arrastão de epílogos – ficção de verdade 126
7
arrastão de epígrafes
Para o bem e para o mal, o verdadeiro escritor escreve sobre a realidade que sofreu e de que se alimentou.
(Ernesto Sábato, 1911-2011)
O meu ofício é escrever histórias, coisas inventadas ou coisas que recordo de minha vida...
(Natalia Ginzburg, 1916-1991)
A alma é memória; o corpo, esquecimento. (José Bergamín, 1895-1983)
Que em mim se me vem buscar, não poderá mais achar que a forma do que fui já.
(Luís de Camões, 1524-1580)
Você tem de cometer erros para descobrir aquilo que não é. (Margareth Thatcher, 1925-2013)
Eu moro em mim mesmo. (Mario Quintana, 1906-1994)
Os homens não alcançam compreender os livros enquanto não chegam a ter certa dose de experiência de vida.
(Ezra Pound, 1885-1972)
O que eu ouço, esqueço. O que eu vejo, lembro. O que eu faço, aprendo. (Confúcio, 551 a.C – 479 a.C)
Proibida a entrada a quem não esteja espantado de existir. (José Gomes Ferreira, 1900-1985)
Sei que a pintura induz à mobilidade do olho, enquanto a escritura ao voo cego.
(Carlos Trigueiro)
9
meu arrastão de incentivadores literários
Adolfo MartinsAffonso Romano de Sant’annaAraújo Neto (i.m.)Belvedere BrunoBranca FerrariCarlos Willian Leite e Karen CuriCarmo VasconcelosCarol CastroCelso JapiassuChico LopesCida SepulvedaEliakim Araújo (i.m.)Esdras Nascimento (i.m.)Fabrício Brandão e Leila de AndradeFlávio ParanhosFrancisco SimõesGaleno AmorimGlauco CortezHilton ValerianoIrene Serra e Luiz Guedes Ivo BarrosoJair Ferreira dos SantosJoão Gomes AndréJorge Viveiros de CastroJosé Luiz Tuffani de Carvalho
Leandro WirzLuciana Villas-BoasLuís Antônio GironLuiz Berto FilhoMarcos Caldeira MendonçaMarcos PascheMarcus PenchelMariza Lourenço e Silvana GuimarãesMaura Voltarelli Mauro RossoMonica RectorNaumim Aizen (i.m.)Nelson PatriotaNilto Maciel (i.m.)Oleg AlmeidaPaulo Bentancur (i.m.)Pedro SalgueiroPedro e Tânia Du BoisRogério PereiraRonaldo WerneckRosemary AlvesRubem VenâncioSoares FeitosaVictor Giudice (i.m.)W.J.Solha
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prefácio
“Antigamente os que assistiam ao lado dos príncipes chamavam-se laterones. E depois, corrompendo-se este vocábulo, como afirma Marco Varro (116 a.C – 27 a.C), chamaram-se latrones.
E que seria se assim como se corrompeu o vocábulo, se corrompes-sem também os que o mesmo vocábulo significa?
O que só digo e sei, por teologia certa, é que em qualquer parte do mundo se pode verificar o que Isaías diz dos príncipes de Jerusalém: Prin-cipes tui socii rurum (os teus príncipes são companheiros dos ladrões).
E por quê? São companheiros dos ladrões, porque os dissimulam; são compa-
nheiros dos ladrões, porque os consentem; são companheiros dos ladrões, porque lhes dão os postos e poderes; são companheiros dos ladrões, por-que talvez os defendem; e são finalmente seus companheiros, porque os acompanham e hão de acompanhar ao inferno, onde os mesmos ladrões os levam consigo.” (Padre Antônio Vieira, 1608 – 1697)
Face ao notável discurso do Padre Antônio Vieira em 1655, qualquer ilação com a atualidade brasileira do século XXI seria ficção ou coincidên-cia? E diante deste ARRASTÃO DE TEXTOS – Ficção de Verdade(s), que poderia dizer mais o autor ao leitor? Visto que, no Brasil, ficção e realidade se misturam, amalgamam e coincidem em quaisquer quadrantes, foros e circunstâncias sociais, morais, políticas, jurídicas e econômicas, o leitor destas páginas, seja agnóstico ou religioso, tenha ou não fé nisso e naquilo, poderá, talvez, refugiar-se no ceticismo de José Saramago: “Enfim, Deus saberá.”
J.L.F.F. – Um dos fantasmas que coabitam e arrastam o autor.
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1. arrastão de orelhas – ficção de verdade(Texto arrastado da Revista eletrônica Rio total/Coojornal, em 01.03.2018, editada por Irene Serra e Luiz Guedes, antecipando este Arrastão de textos)
Contratei o autor brasileiro C.P.D. para escrever as orelhas (aliás, bada-nas, como se diz em Portugal) deste meu livro. Embora o extraordinário historiador, ensaísta e ficcionista continue apontado por seus milhares de leitores e admiradores nas redes sociais para ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, o cearense pai d’égua permanece desconhecido, preterido ou ignorado – entra ano e sai ano – pelos patrocinadores daquela suprema distinção literária.
Quanto ao nosso contrato particular sucedeu algo impensável. Finda a incumbência de escrever as orelhas, e tendo-as revisadas e prontas para enviar-me por e-mail particular, C.P.D. verificou embasbacado que, de repente, o texto desapareceu por completo dos arquivos e tela do seu com-putador. Pior: também constatou, incrédulo e desapontado, o sumiço das respectivas cópias de segurança efetuadas por aplicativos de última gera-ção considerados infalíveis por seus fabricantes. Ainda atônito, concluiu ter sido alvo de hackers dedicados aos terrenos da Literatura e nuvens da Cibernética. Tristemente, compreendeu ter sido mais uma vítima irrepa-rável do crime pós-moderno que assola todos os quadrantes do planeta: o arrastão tecnológico.
Diante disso, C.P.D. comunicou-me por telefone celular (ou telefone móvel, como se diz em Portugal), a inesperada invasão criminosa e, em consequência, pra lá de aperreado e enfastiado, sua renúncia contra-tual para apresentar este “ARRASTÃO DE TEXTOS” nas orelhas de praxe. Porém, cabra pai d’égua não vai pra tipoia (rede de dormir, como se diz no Ceará), depois de entregar o ouro ao bandido. Pensou, pensou, repensou, e, finalmente, tratou de me repassar sua ideia sem rodeios nem presepada.